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RELAÇÃO TEORIA/ PRÁTICA: O PROCESSO DE ASSESSORIA/CONSULTORIA E O SERVIÇO SOCIAL · 2010-10-11 · O PROCESSO DE ASSESSORIA/CONSULTORIA E O SERVIÇO SOCIAL1 Ana Maria de Vasconcelos

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RELAÇÃO TEORIA/ PRÁTICA:

O PROCESSO DE ASSESSORIA/CONSULTORIA E O SERVIÇO SOCIAL

Ana Maria de Vasconcelos

Rua Mário Portela, nº 161/apto 2301 Bloco B

Laranjeiras, Rio de Janeiro

CEP: 22 241 000

Telefone: (021) 558 65 65

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RELAÇÃO TEORIA/ PRÁTICA:

O PROCESSO DE ASSESSORIA/CONSULTORIA E O SERVIÇO SOCIAL 1 Ana Maria de Vasconcelos

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A investida neoliberal, acentuada após a última eleição presidencial, advém da

necessidade, para as classes dominantes, da inserção do Brasil no processo de globali-

zação da economia de mercado, buscando garantir vantagens adicionais para o grande

capital, nacional e internacional. Esse processo, maquiado de novas estratégias de ação

para garantir velhos objetivos -criar permanentemente novas formas de acumulação, com

garantia de concentração e acumulação de riqueza cada vez maiores-, não se dá ao aca-

so nem desorganizadamente. O nível, a qualidade e forma de alianças articuladas nesse

busca mostram isso.

Com pena de permanecermos a reboque dos acontecimentos, esta conjuntura im-

põe, aos intelectuais discordantes dessa direção social, a necessidade premente da sua

crítica radical, e ainda, para os assistentes sociais, de projetar sua ação profissional ten-

do em vista uma participação consciente e de qualidade no enfrentamento desse quadro.

Essa tarefa demanda, para os assistentes sociais, no mínimo:

a - conhecer a realidade sobre a qual operam, nas suas particularidades e singu-laridades;

b - desnudar, avaliar, criticar e denunciar a proposta neoliberal no sentido de propor políticas alternativas que excluam qualquer aliança com essa proposta, o que implica que os assistentes sociais aprofundem seu nível de articulação interna (organi-zação profissional) e externa (articulação e alianças com outros profissionais, trabalha-dores e com os diferentes segmentos que demandam a ação profissional);

c - determinar objetivos profissionais exeqüíveis - o que só pode vir como con-seqüência da apreensão do movimento da realidade social - garantindo, ampliando e fa-cilitando o acesso, de crescentes contingentes populacionais, aos direitos sociais;

d - qualificar as práticas operativas, garantindo um padrão mínimo de eficiência do conhecimento técnico operativo.3

Na viabilização de um projeto dessa natureza, diante do quadro da prática e da

formação profissional no Serviço Social, é determinante a articulação entre áreas de prá-

tica (meio profissional) e espaços de formação (academia) na medida em que não há

projeto de formação que prescinda da realidade, assim como não há projeto de profissão

1 Texto publicado na Revista Serviço Social Sociedade nº 56, São Paulo, Cortez Editora, 1998. 2 Assistente Social do INANPS de 1972/1994, professora do departamento de Fundamentos teórico-metodológicos do Serviço Social da Faculdade de serviço

Social da UERJ desde 1979; Coordenadora de Estágio da Faculdade de Serviço Social da UFRJ de 06/1991 a 05/1994; prestadora de Assessoria/Consultoria em Serviço Social, na área do Rio de Janeiro; doutorando em Serviço Social (ESS/UFRJ)

3 Propostas baseadas em conferência proferida por José Paulo Netto no VIII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, Salvador, Bahia, 1995.

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que prescinda da teoria. Um Serviço Social consciente dos seus objetivos e do seu proje-

to de profissão está determinado pela relação teoria/prática. Há, assim, que se restabe-

lecer as bases daquilo que o Serviço Social tem condições de ser, das possibilidades

objetivas contidas, e a serem captadas na realidade.

É diante desse quadro que propomos uma reflexão sobre uma possibilidade con-

creta de articulação entre academia e meio profissional: os processos de Assessori-

a/Consultoria, não sem antes tecer algumas considerações sobre meio profissional/ a-

cademia.

MEIO PROFISSIONAL/ACADEMIA

O que está em jogo, para os assistentes sociais que objetivam uma ação profis-

sional que rompa com o conservadorismo,4 preponderante no domínio da prática, - numa

direção que, "pondo como valor central a liberdade, fundada numa ontologia do ser soci-

al assentada no trabalho, toma como princípios fundamentais a democracia e o pluralis-

mo e, posicionando-se em favor da equidade e da justiça social, opta "por um projeto

profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem

dominação-exploração de classe, etnia e gênero" (Netto, 1996:117), é apropriação de

uma perspectiva teórico-metodológica que colocando referências concretas para a ação

profissional, possibilite a reconstrução permanente do movimento da realidade objeto da

ação profissional, enquanto expressão da totalidade social, gerando condições para um

exercício profissional consciente, crítico, criativo, que só pode ser empreendido na rela-

ção de unidade entre teoria e prática.

A unidade dialética entre teoria e prática não vai ser obtida no Serviço Social ape-

nas a partir das referências teórico-metodológicas, mas tendo como base a qualidade

das conexões que os profissionais - assistentes sociais, pesquisadores, docentes e as-

sessores/consultores - estabeleçam com a realidade objeto da ação profissional, o que

4 Segundo NETTO "a década de oitenta consolidou, no plano ideo-político, a ruptura com o histórico conservadorismo no Serviço Social" Uma ruptura que " não

significa que o conservadorismo (e, com ele o reacionarismo) foi superado no interior da categoria profissional: significa, apenas, que -...- posicionamentos ideológicos e políticos de natureza crítica e/ou contestadora em face da ordem burguesa conquistaram legitimidade para se expressarem abertamente. ...O conservadorismo nos meios profissionais tem raízes profundas e se engana quem o supuser residual. A legitimidade alcançada para a diversidade de posições está longe de eqüivaler à emergência de uma maioria político-profissional radicalmente democrática e progressista que, para ser construída, demanda trabalho de largo prazo e conjuntura sócio-histórica favorável"(NETTO:1996:111,112)

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passa por uma relação consciente entre pensamento e ação, determinada pelo resgate

da unidade academia/meio profissional a partir de uma relação sistemática, projetada,

permanente.

Os assistentes sociais, ainda que portadores de um discurso progressista, pare-

cem, em sua maioria, não mostrar possibilidades de superar uma prática de caráter con-

servador5. Uma prática que consequentemente não caminha na direção proposta na for-

mação e/ou reciclagem profissional6 - em última instância na direção proposta no debate

teórico, hegemônico na profissão "onde foi dominante a produção influenciada pela tradi-

ção marxista7 (nas suas mais diversas vertentes))"(Netto, 1996). Confirmado, esse qua-

dro8 repercute negativamente, no ensino - reproduzindo a dicotomia teoria-prática com

afastamento da realidade trabalhada pelos assistentes sociais, ou seja, separando, no

ensino, teoria de realidade -; na pesquisa - levando à priorização de temas generali-

zantes -; na prática profissional - reproduzindo e legitimando práticas tradicionais9 e

conservadoras, desarticuladas dos interesses e necessidades dos usuários, estimulando

práticas individualizantes e do “aqui/agora” que impossibilitam a busca de novos parâme-

tros e rumos para o fazer profissional e contribuindo para a manutenção do distanciamen-

to entre teoria e realidade - e no mercado de trabalho - reafirmando espaços e de-

mandas ultrapassadas e negligenciando, negando e/ou recusando espaços e demandas

reais e potenciais, novas e tradicionais, dificultando a projeção, implementação, consoli-

dação e realização, pela categoria, de um projeto de profissão que rompa com práticas

conservadoras.

Assim, considerando que:

- os assistentes sociais só podem captar o movimento, o sentido e o significado da prática profissional, buscando-os no movimento histórico da realidade social, do qual o Serviço Social é parte e expressão;

5 Práticas que consciente ou inconscientemente são funcionais à ordem do capital contribuindo para reproduzir e/ou conservar sob antigos e/ou novos

parâmetros a ordem estabelecida. 6 Aqui estamos nos referindo às unidades de ensino que vêm realizando suas reformas curriculares tendo como referência as propostas da ABESS (Serviço

Social e Sociedade nº14:1984 e ABESS/CEDEPS:1995), e não à maioria absoluta das escolas particulares, cuja lógica operada, é a da "pura rentabilidade capitalista"(NETTO:1996)

7 Ainda segundo Netto, "no curso dos anos oitenta, a tradição marxista se colocou no centro da agenda intelectual da profissão: todas as polemicas relevantes (o debate sobre formação profissional e sobre teoria e metodologia, sobre estado e movimentos sociais, sobre democracia e cidadania, sobre políticas sociais e assistência) foram decisivamente marcadas pelo pensamento marxista"(1996:112)

8 Estamos iniciando pesquisa, tendo como objetivo, captar tendências de prática postas no exercício profissional dos assistentes sociais, a partir da análise de inserções profissionais na área da atenção primária em saúde, no Município do Rio de Janeiro..

9 Entende-se por Serviço Social Tradicional “a prática empirista, ,reiterativa, paliativa e burocratizada” dos profissionais, parametrada “por uma ética liberal burguesa” e cuja teleologia “consiste na correção - desde que do ponto de vista claramente funcionalista - de resultados psicossociais considerados negativos ou indesejáveis, sobre o substrato de uma concepção (aberta ou velada) idealista e/ou mecanicista da dinâmica social, sempre pressuposta a ordenação capitalista da vida como um dato factual ineliminável” (Netto,1991:117, nota 5).

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- captar o movimento da prática profissional na sua historicidade, inserindo-a no quadro das relações sociais fundamentais da sociedade - entendendo-a nas relações entre as classes sociais e suas frações e das relações destas com o Estado -, tendo em vista - direta ou indire-tamente - dar respostas às demandas postas ao Serviço Social, que rompam com práticas que reproduzem ou mantêm o status-quo (negação de práticas conservadoras que utilizam conscientemente ou não e/ou privilegiam técnicas de marginalização, de atomização, de con-trole, de exclusão, de punição), supõe uma competência teórica e técnica para o desvendamen-to do movimento da realidade social que explicite tendências, possibilidades e limites da práti-ca na direção pretendida;

- há mais ou menos 10 anos as faculdades de Serviço Social, que fizeram revisão de seus currículos com base nas propostas de currículo da ABESS(Cf. nota5), vêm formando quadros, que apesar das dificuldades, limites e contradições (Cadernos ABESS 4, 1991), obje-tivam e portam possibilidades de ruptura com práticas conservadoras no Serviço Social;

- um contingente de profissionais conscientes de sua ação profissional, ao darem novos rumos à prática profissional, certamente influencia o mercado de trabalho ao imprimir novos rumos na atenção às demandas postas à profissão, parece procedente formular a seguinte hi-pótese: a maioria dos assistentes sociais inseridos no mercado de trabalho têm uma pos-tura política - pelo menos a nível da intenção - favorável aos usuários de seus ser-viços, mas não têm tido condições objetivas - a partir de uma leitura crítica da reali-dade específica com a qual trabalham, enquanto parte e expressão da realidade so-cial - de captar possibilidades de ação contidas nessa realidade, na medida em que não se apropriaram e/ou não estão se apropriando do referencial teórico necessá-rio, com qualidade suficiente para uma análise teórico-crítica da sociedade na sua historicidade, o que vem impossibilitando a previsão, projeção e consequentemen-te a realização de um fazer profissional que rompa com práticas conservadoras. Sem condições de prever, captar e priorizar demandas reais e potenciais, os assis-tentes sociais vêm, freqüentemente, negando e/ou transformando novas e antigas demandas em obstáculos à prática profissional, o que tem como conseqüência, a perda de espaços tradicionais de trabalho e a não ocupação de novos espaços que novas e antigas demandas, deixam explicitados. Mesmo assim, os profissionais inseridos no mercado de trabalho - a partir da formação profissional e/ou do pró-prio contato contínuo com a realidade social trabalhada -, têm demonstrado portar um potencial a ser resgatado e desenvolvido através de Assessoria/Consultoria aos projetos que desenvolvem - considerando a complexidade de investimentos e ações que esse processo envolve. As experiências que caminham na direção de ruptura com práticas conservadoras, mesmo que, geralmente, resumam-se a tenta-tivas isoladas do próprio Serviço Social e/ou do movimento institucional - constitu-indo-se em verdadeiras “ilhas de excelência” que, geralmente, extinguem-se na ausência de seus empreendedores -, dão visibilidade a tendências presentes no co-tidiano da prática profissional.

Quando limitado ao cotidiano da prática, o trabalho do assistente social transfor-

ma-se, freqüentemente, em tarefa burocrática ao se constituir na viabilização de recursos

sociais, resumindo-se numa operação tendo em vista o levantamento de dados para ela-

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boração de perfil sócio-econômico dos usuários, como critério de inclusão de uns e ex-

clusão da maioria, dos parcos recursos sociais. Assume ainda, o papel de aconselha-

dor/orientador, ao repassar, aos cidadãos que buscam viabilizar seus direitos sociais,

conhecimentos e informações acumulados na experiência pessoal e/ou como resultados

de estudos sobre a “clientela”.

É diante desse quadro que um Serviço Social que se pretenda articulado aos inte-

resses e necessidades da população usuária de seus serviços necessita enfrentar a di-

cotomia entre teoria e prática que perpassa formação e exercício profissional, o que im-

põe o rompimento com a divisão de trabalho tradicional na profissão - onde num espaço

se pensa e se forma, e noutro, se faz. Essa divisão do trabalho, que tem como princípio a

fragmentação da realidade, traz, como conseqüência, uma prática fracionada, desagre-

gada, parcializada, desarticulada do movimento social, corroborando uma afirmação fre-

qüente entre os assistentes sociais: "o mundo da teoria é um, o da realidade é outro". As-

sim, o processo de ruptura do Serviço Social com essa divisão do trabalho passa neces-

sariamente por uma relação sistemática, projetada, permanente, consciente, ou seja,

passa pelo resgate da unidade existente entre espaços de formação e espaços de práti-

ca enquanto expressões da totalidade social.

Quanto mais grave e mais complexa a realidade da maioria da população, mais

teremos demandas para profissionais como os assistentes sociais: por parte das institu-

ições, ao solicitarem a presença dos assistentes sociais para operar as políticas sociais

cada vez mais exíguas e/ou para trabalhar os conflitos que surgem tendo em vista a au-

sência das políticas necessárias e fundamentais aos segmentos populares; por parte dos

segmentos populares, ao procurarem ter acesso às políticas sociais existentes e/ou

buscando uma qualidade de inserção no espaço institucional objetivando apoio e instru-

mentos na luta pela qualidade da prestação dos serviços e/ou na luta por pelo empreen-

dimento de novas políticas articuladas aos seus interesses e necessidades. Mas o mer-

cado institucional, que coloca demandas para o Serviço Social, não necessita, quando

não descarta, os assistentes sociais que realmente tenham condições de enfrentamento

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na busca da verdadeira solução à questão social10, assistentes sociais estes, os neces-

sários às lutas empreendidas pelos segmentos populares.

As alternativas de "solução dos problemas" colocadas pelo mercado, levadas re-

almente às suas últimas conseqüências, desembocariam fatalmente numa ruptura com a

sociedade tal qual está organizada, o que mudaria o curso da história. Há que se ter cla-

ro que a questão social é inerente ao sistema capitalista. Dentro dele, não se "solucionam

problemas" gerados e reproduzidos por ele mesmo a não ser colidindo com o sistema;

no limite, rompendo com ele. Na direção de um verdadeiro enfrentamento da questão so-

cial, as ações11 empreendidas quotidianamente junto aos usuários do Serviço Social, só

têm sentido, se desenvolvidas não como um fim em si mesmo, se atendo à singularidade

isolada dos fatos, mas como parte de um alicerce de sustentação para ações cada vez

mais profundas, críticas e radicais a curto, médio e longo prazos, na busca, aí sim, de rup-

tura definitiva com a ordem capitalista.

Dessa forma, a questão que se põe, não é se o Serviço Social está numa crise te-

órica e/ou prática, mas como devemos nos situar nessa realidade na busca de um projeto

e de uma prática profissional, com condições de oferecer uma contribuição efetiva na

mudança de curso de uma crise que refletimos, mas que não é só nossa.

Esse projeto, que só tem sentido articulado a um projeto mais global da parte da

sociedade interessada nesse enfrentamento, demanda uma opção ética e não formal pe-

la transformação; demanda um compromisso com valores democráticos/humanistas, a-

lém de uma preparação teórica, técnica e política profunda e de qualidade para que se

possa captar, no "movimento real do ser social", transpondo a sua aparência, as tendên-

cias e possibilidades de enfrentamento no que compete à ação profissional. Um projeto

que busca, como qualquer outro, hegemonia, a qual não está dada a priori, mas que se

conquista no próprio movimento da categoria profissional. (ABESS/95:7)

10 Entende-se por “'questão social', no sentido universal do termo,..., o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe

operária impôs no mundo no curso da constituição da sociedade capitalista. Assim, a 'questão social' está fundamentalmente vinculada ao conflito entre o capital e o trabalho.” CERQUEIRA FILHO:1982;21.As implicações do desenvolvimento capitalista para os segmentos populares fizeram surgir novos aspectos da quetsão social relacionados à raça, cor, etnia, sexo, idade, etc..

11 Tem-se empregado historicamente, independente da direção social escolhida, o termo intervenção profissional como sinônimo da ação profissional.

Historicamente, as práticas profissionais, que em sua maioria, assumem um caráter conservador, objetivam a mudança do "cliente" e não da realidade, explicitando um caráter interventivo sobre os sujeitos sociais - no sentido de ingerência, interferência. É nesse sentido que, tendo como princípio uma prática articulada aos interesses e necessidades dos segmentos populares e considerando que o exercício profissional no Serviço Social envolv e um ser que é sujeito ainda que objeto a ser conhecido - enquanto ser social - mas, não um objeto a ser manipulado e/ou transformado, postulamos uma AÇÃO PROFISSIONAL - o que deixa história - e não uma INTERVENÇÃO - o que deixa resultados.

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É difícil, não só entre os assistentes sociais, identificar quem referende e aceite a

realidade como está posta. Mas também é difícil encontrar, quem - dentre os assistentes

sociais envolvidos na busca de respostas à complexidade de demandas dirigidas ao

Serviço Social - tenha condições de enfrentar esta realidade: que tenha a dimensão do

por que e do que demanda seu enfrentamento, portando uma suficiente preparação teóri-

ca, técnica e ética, no sentido de romper com o papel tradicionalmente assumido pelos

assistentes sociais - modesto, mas de peso relativo quando pensado enquanto conjunto

de trabalhadores sociais -, de reprodutores e reformadores sociais na direção da manu-

tenção do status quo.

A realidade na sua magnitude e complexidade não se mantém nem se enfrenta

com ignorância tendo como base desejo, boas intenções, partindo e permanecendo nos

seus fragmentos. Enfrentar a força universalizadora do capital no seu movimento global,

totalizante, totalizador e totalitário demanda uma perspectiva de totalidade12.

Basta visualizar na história a importância dada pelas classes dominantes, para seu

projeto de dominação, ao saber e à cultura. Assim, a ruptura com as formas capitalistas

de pensar e agir demanda, por parte das forças interessadas nessa tarefa, um trabalho

árduo, permanente, sistemático, de muitos riscos e poucos ganhos a curto e médio pra-

zos.

Uma perspectiva teórica que dê conta de uma profunda reflexão sobre os proces-

sos sociais fundamentais só pode estar assentada na produção marxiana e marxista, a-

inda que se afirme que ela perdeu o sentido e validade diante das mudanças ocorridas

ao longo da história, principalmente no que se refere à categoria totalidade social. Se não

se parte da noção de totalidade, a ação é sempre uma ação local, focalizada. Na falta de

uma orientação teórica geral, capaz de dar conta do conjunto da processualidade social,

passa-se a responder, apenas e acriticamente, às necessidades imediatas, enquanto fim

em si mesmo. Faz-se necessário à ordem burguesa criar e estimular, permanentemente,

uma cultura que dificulte a apreensão e percepção do movimento do capital e da totalida-

12 Para Marx a realidade social concreta é um complexo de complexos: totalidade de maior complexidade constituída de por totalidades de menor

complexidade, entre as quais existem relações necessárias - nunca totalidades simples na medida em que se trabalha com a ordem social mais desenvolvida que se conhece. Esse elemento de totalidade não está na cabeça do pesquisador mas na natureza mesma do processo do fenômeno social. Assim não existe um fenômeno social que não tenha um caráter de totalidade, ou seja, que não implique relações com outros sistemas mais ou menos complexos, mas nunca simples.(VASCONCELOS, MÍMEO,1995)

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de da vida social. Enquanto isso, colidindo com essa forma de pensar e agir, os capitalis-

tas, seus estrategistas e funcionários pensam e principalmente agem globalmente.

A "retórica pós-modernista, com ênfase na efemeridade, insistindo na impenetrabi-

lidade do outro, com sua concentração antes no texto do que na obra, sua inclinação pela

desconstrução em detrimento da construção, sua preferência pela estética, em vez da é-

tica...evita o enfrentamento das realidades da economia política e das circunstâncias do

poder global", (Harvey,1993:112) o que vem reforçar o status quo e retardar quaisquer

possibilidades de enfrentamento da ordem capitalista. Assim, é na relação teoria/prática,

na perspectiva da Teoria Social de Marx, que estão apontadas as possibilidades efetivas

de ultrapassagem da intenção para uma ruptura concreta com a herança conservadora.

É preciso ter claro aqui, que, a não ser que seja um objeto totalmente original, nu-

ma investigação, nunca se parte do nada; a produção acumulada sobre um objeto funcio-

na, num primeiro momento, como pressuposição que tem que ser verificada. Assim, de

um lado o investigador verifica, checa, nega ou confirma certos conhecimentos que eram

pressupostos, mas ao mesmo tempo, vai se apropriando do objeto de tal forma, que vai

incorporando, reconhecendo, verificando a sua particularidade, explicitando aquilo que

não era conhecido. Isso é o que obriga a uma revisão da massa crítica com a qual se tra-

balha. Se, não se tem enquanto sujeito que investiga, uma rica informação cultural, teórica

- na medida em que qualquer conhecimento capta algum aspecto da realidade -, vai se

extrair pouco do objeto. Uma questão essencial coloca-se aqui: como ser pluralista sem

cair no ecletismo? Um intelectual só pode incorporar conhecimento produzido para além

da teoria que tem como referência, incorporando-o em congruência com seus padrões

teóricos. É a partir da fidelidade aos seus supostos teórico-metodológicos, que ele tem

condições de incorporar outras produções, nesse caso reordenadas, reorientadas na di-

reção dos seus supostos teóricos; o fundamento é o elemento da realidade. Incorporar

um conhecimentos diretamente, sem uma crítica no sentido de superá-lo, é que leva a cair

no ecletismo (VASCONCELOS, mimeo,1995).

A busca de uma ruptura teórico/prática com um fazer profissional tradicional, con-

servador, que contribui prioritariamente na mera e simples reprodução do existente, não

se efetivará sem que espaços de formação e espaços de prática enfrentem a questão

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nevrálgica no Serviço Social - a relação entre teoria/realidade - o que depende do res-

gate da unidade entre academia e meio profissional. Não há projeto de formação profis-

sional, nessa direção, que tenha sustentação, sem enfrentar a questão do fazer profissio-

nal, assim como não é possível um projeto de profissão sem o enfrentamento da relação

teoria/prática.

Frente a esse quadro, pretendo a seguir - a partir da reflexão aqui empreendida,

de maneira breve, sobre a relação entre academia e meio profissional, os problemas que

o caráter dessa relação põe ao projeto de profissão e ao conseqüente projeto de forma-

ção profissional na direção explicitada anteriormente13- pontuar uma alternativa de enfren-

tamento da questão que coloco como determinante nesse processo - a relação teori-

a/prática.

ASSESSORIA/CONSULTORIA COMO ALTERNATIVAS

Dentre as estratégias possíveis para enfrentar a fratura entre pensar e agir no Ser-

viço Social indicamos os processos de Assessoria/Consultoria. Diante da complexidade

das situações vivenciadas pela categoria, consideramos a Assessoria/Consultoria ne-

cessárias, possíveis e viáveis, ainda que reconheçamos que não sejam suficientes, nem

possamos assegurar as reais conseqüências de um processo que envolve unidades for-

madoras e meio profissional, nas suas respectivas complexidades e diferenças, mas an-

tes de tudo na sua unidade.

Aqui não cabe resgatar os possíveis interesse e objetivos por parte da academia e

dos assistentes sociais nesses processos, já explicitados no item anterior, mas cabe um

comentário. Parece que a academia ao recusar essa demanda14, corre o risco de perder

um espaço, onde estão postas as possibilidades de aproximação sistemática com a rea-

lidade, objeto da ação profissional. Na medida em que assistentes sociais e/ou equipes

não estão encontrando eco nas escolas, esta demanda está sendo absorvida por assis-

tentes sociais e/ou professores, sem uma vinculação com a academia, o que pode vir a

13 Conferir aprofundamento dessa questão: "A centralidade da relação teoria prática na formação e no exercício profissional",(Vasconcelos, mimeo, fevereiro,

1996). 14 No momento, além de solicitações feitas por equipes a outros profissionais, conto, no Rio de Janeiro, com duas solicitações de assessoria para equipes de

Serviço Social como um todo que, tendo negadas suas solicitações à escolas de Serviço Social , recorreram ao assistente social, além de solicitações de outros estados.

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acarretar perdas para os dois lados; perdas relacionadas, principalmente, a qualidade

dos processos.

Além da pesquisa, da qual trataremos adiante, entre as estratégias que envolvem

academia e meio profissional que, certamente, acumulam ganhos na projeção, prepara-

ção e realização dos processos e Assessoria/Consultoria, faz-se necessário apontar:

realização pelas unidades formadoras de cursos de especialização stritu e latu senso;

propostas, revisão e avaliação dos currículos mínimo e plenos - objeto da última Confe-

rência Nacional de ABESS - com encaminhamentos tendo em vista, também, a operacio-

nalização dos mesmos; política de estágio que priorize uma relação mais próxima com

campos de estágio e assistentes sociais supervisores, facilitando a aproximação com as

unidades formadoras; investimento na formação e reciclagem do quadro de professores

responsáveis pelo estágio supervisionado, com atenção para uma carga horária que

permita viabilizar uma aproximação de qualidade entre escola/campos de estágio, com

definição de um tempo mínimo de permanência nesse processo; projetos de extensão

envolvendo Universidade e Instituições de Assistência, ONGS, Movimentos Populares

etc., ...

Com relação às atividades destinadas aos profissionais que buscam reciclagem,

atualização, aperfeiçoamento, faz-se necessária a atenção das unidades de ensino para

as condições, demandas, objetivos das atividades e dos próprios interessados - além do

conhecimento da realidade social trabalhada por eles, tendo em vista a projeção e ope-

racionalização daquelas atividades, o que demanda conhecer o movimento profissional

dos participantes - na medida em que estas atividades destinam-se a profissionais inte-

ressados na qualidade da prática realizada e não somente no seu aperfeiçoamento inte-

lectual.

Para discutir os processos de Assessoria/Consultoria, é interessante recuperar

experiências realizadas através das disciplinas de Estágio Supervisionado, por escolas

públicas de Serviço Social da cidade do Rio de Janeiro, a partir das quais surgiram, de

forma mais clara, demandas nessa direção. Estas experiências - entre 1991 e 1994 -, ao

permitirem uma aproximação com os assistentes sociais supervisores, resultaram num

grande número de solicitações dirigidas às Coordenações de Estágio, por parte de as-

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sistentes sociais e/ou equipes, de um acompanhamento sistemático, organizado e a lon-

go prazo, objetivando a elaboração de projetos de prática e/ou acompanhamento e avali-

ação de sua operacionalização.

As unidades de ensino, ao destinarem uma carga horária de no mínimo 10 horas

para a disciplina de estágio supervisionado, possibilitaram um contato dos professores

com os supervisores - no espaço da escola e/ou da instituição - viabilizando um acompa-

nhamento mais próximo e de qualidade, também por parte das escolas, do estágio reali-

zado pelos alunos.

Como problemas e limites dessas experiências, tendo em vista uma aproximação

sistemática e de qualidade entre academia e meio profissional, destacamos que:

- a disciplina que acompanha o estágio - por questões internas dos departamentos

e do movimento das unidades de ensino -, nem sempre permanecendo com o mesmo

professor a cada semestre, provoca solução de continuidade do contato do professor

com o campo de estágio e com os supervisores, dificultando qualquer projeto a médio e

longo prazos, seja de Assessoria, seja de pesquisa;

- a maioria dos professores, desconhecendo e/ou negando as tendências e possi-

bilidades desse espaço para a prática acadêmica, acaba reduzindo-o a encontros sema-

nais com os alunos no espaço da escola e/ou priorizando uma discussão abstrata sobre

a prática realizada nos campos de estágio e/ou sobre políticas sociais, em detrimento do

envolvimento - ainda que limitado nesse espaço - dos profissionais de campo, dos super-

visores e dos alunos no estudo e busca das possibilidades e limites de prática na reali-

dade objeto da ação profissional;

- o contato do professor com o supervisor, via disciplina de estágio, ainda que te-

nha como prioridade a inserção do aluno no campo de estágio, possibilita a explicitação

de questões que permeiam o espaço profissional;

- como as instituições, geralmente, não reconhecem a supervisão como uma ativi-

dade que faça parte da carga horária do assistente social, este não conta com tempo

disponível e suficiente para contato com a unidade de ensino no interior da instituição,

quanto mais na própria unidade de ensino, ainda, que quando esta oportunidade é ofere-

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cida, alguns profissionais mostram-se disponíveis e comparecem às atividades realiza-

das.

Como alguns pontos positivos, destacamos:

- este espaço, apesar das dificuldades, facilita e possibilita a aproximação da es-

cola com os campos de estágio e vice versa;

- a convivência do professor com os supervisores, geralmente, fertiliza idéias de

aperfeiçoamento e/ou reciclagem entre os assistentes sociais, oferecendo condições pa-

ra que os profissionais se iniciem na definição, encaminhamento e realização de projetos

de prática, pesquisas, o que muitas vezes pode gerar um efeito demonstração, via um ú-

nico supervisor, para os outros assistentes sociais da área, quando não, para profissio-

nais de outras categorias;

- os processos de Assessoria/Consultoria, ensejando a aproximação dos assisten-

tes sociais com a academia, facilitam e permitem o conhecimento e a freqüência a seus

programas e eventos;

- por outro lado facilita e possibilita à academia se defrontar com a realidade soci-

al, objeto da ação profissional, nas singularidades e particularidades das áreas objeto da

ação profissional;

- é uma oportunidade que têm professores e supervisores de se iniciarem no co-

nhecimento dos diferentes problemas, visões, objetivos, demandas, que permeiam cada

espaço, etc..

Mesmo assim, os espaços destinados ao ensino da prática, valiosos no envolvi-

mento e aproximação das unidades de ensino e campos de estágio, não são espaços

privilegiados para a realização dos processos de Assessoria/Consultoria.

Assessoria/Consultoria, tendo em vista as características, objetivos e interesses

dos segmentos envolvidos, demandam espaços e tempo específicos. Para que um as-

sessor/consultor - professor ou assistente social -, mantenha um contato sistemático, con-

tínuo e de longa duração com determinada equipe ou assistente social, na construção,

operacionalização e crítica de um projeto de prática - num processo que por suas carac-

terísticas exige a realização e/ou indicação de cursos, levantamentos, pesquisas, etc.-,

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faz-se necessário que os interesses e objetivos recíprocos sejam explicitados com clare-

za, quando estarão postos os limites e possibilidades desses processos.

Há que se esclarecer que se já é patente, nas propostas de currículo da ABESS, a

investigação como substrato indispensável ao ensino - ainda que concretamente restrita

às pós-graduações das unidades de ensino públicas e das PUCs -, não está clara sua

essencialidade no meio profissional. Assim, os processos de Assessoria/Consultoria, na

medida em que objetivam qualidade da prática realizada, ao fomentar o permanente con-

tato dos profissionais com a academia, possibilitam contato com os órgãos de pesquisa,

contribuindo para tornar natural a troca - não simples subordinação - entre estas instân-

cias, incentivando, gerando e possibilitando busca de informações e colocação de ques-

tões pertinentes que passam a demandar investigação, o que contribui para movimentar

um círculo continuo de atualização, aperfeiçoamento e criação de condições concretas de

um fazer profissional pensado, crítico, de qualidade. Se os processos de Assessori-

a/Consultoria exigem investigação por parte dos profissionais interessados na qualidade

de sua ação profissional, por outro lado, requerem investigação por parte dos assessores

e consultores, tanto em relação ao conhecimento produzido sobre a temática trabalhada,

quanto às questões particulares que demandam investigações originais.

Nesses processos, a relação estabelecida entre assessores/consultores e profis-

sionais, longe de repetir o modelo tradicional pautado numa relação hierarquizada e de

subordinação, comum não só na docência mas na prestação de serviços assistenciais,

reclama uma participação efetiva de todos os envolvidos. Mas se este espaço exige um

trato teórico do objeto, não é o espaço privilegiado de "aulas teóricas"; o conhecimento

aqui não é só objeto de apreensão, mas fundamentalmente, instrumento para captar o

movimento da realidade social. É nessa direção que esses processos requerem, antes

de tudo, explicitação dos objetivos, expectativas, avaliação das possibilidades e limites,

por parte dos envolvidos.

Assim, a revelação das possibilidades e limites dos espaços profissionais e dos

assistentes sociais/equipe envolvidos exige, dos assessores/consultores, conhecer, pelo

menos:

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- o estágio da equipe quanto a projeção do espaço profissional: existência ou não

de documento que expresse o projeto da equipe ou do profissional; leituras realizadas;

acesso a dados e informações sobre a temática objeto da ação profissional; levantamen-

tos e pesquisas realizados sobre o espaço profissional (instituição e população usuária);

tipo de leitura acessível à equipe ou profissional em questão;

- os registros da prática: relatórios, estatísticas, artigos, teses, projetos;

- o tipo de relação - sistemática ou eventual - com a academia, dependente ou não

de oferecimento de estágio supervisionado;

- as expectativas da equipe em relação ao processo (o que espera do processo,

do assessor ou consultor, o que espera no final do processo ...);

- o tempo disponível para as atividades que envolvem projetar, sistematizar e ana-

lisar o fazer profissional (leituras, reuniões, registros da prática realizada, elaboração de

documentos, realização de levantamentos e pesquisas ...);

- o número de profissionais existentes na unidade x número de profissionais inte-

ressados na Assessoria/Consultoria; número de projetos;

- a inserção - qualitativa e quantitativa - e o movimento dos profissionais no/s proje-

to/s;

- os recursos institucionais destinados à realização de cursos, pesquisas, levanta-

mentos, aquisição de bibliografia e recursos institucionais destinados à demandas;

A partir do estudo e análise desses dados é que o assessor/consultor terá condi-

ções, a partir da delimitação das necessidades e possibilidades da equipe ou profissio-

nal, trabalhar as expectativas e explicitar um projeto de Assessoria/Consultoria diante das

condições institucionais e profissionais. Explicitadas estas questões o processo estará,

então, determinado pelos limites e possibilidades impostos pela própria equipe ou pro-

fissional e pela qualidade do espaço profissional. Freqüentemente, nos deparamos com

equipes que colocam seus objetivos profissionais, independentes do estudo das possibi-

lidades e limites do espaço profissional e dos próprios recursos humanos, o que leva pro-

fissionais objetivarem práticas críticas, politizantes, em espaços que, com dificuldade,

possibilitam práticas de apoio, alívio de tensão, orientação, encaminhamento.

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Dessa forma, a função principal do assessor/consultor está em pôr instrumentos

que possibilitem o desvelamento do movimento da realidade social, ocultado pelo movi-

mento cotidiano das relações sociais, o que faz parecer inexistentes quaisquer alternati-

vas e possibilidades de ação profissional.

Sufocados pela demanda e sem instrumentos que dêem conta desse movimento,

as equipes ou assistentes sociais limitam-se a lamentar a existência dos fenômenos ex-

ternos que se desenvolvem na superfície dos processos realmente essenciais. As repre-

sentações sociais sobre o movimento institucional, são assim, consideradas a realidade.

Incapazes de distinguir representação, de realidade, ficam impossibilitados de captar as

tendências de prática postas na realidade objeto da ação profissional, de priorizar de-

mandas, de eleger atividades e ações essenciais; de construir uma prática profissional

articulada aos seus objetivos. É aqui que assessores/consultores têm a possibilidade de,

imiscuindo-se no cotidiano da prática profissional, contribuir para o rompimento do círculo

vicioso do "lamento". E é nessa parceria - rompendo com a tradicional divisão social do

trabalho - que assistentes sociais, assessores/consultores movimentando-se para enfren-

tar as necessidades cotidianas da prática, podem possibilitar uma ruptura com as práti-

cas estabelecidas.

Partir do princípio que a realidade na sua complexidade impede qualquer tentativa

de ruptura com práticas conservadoras e burocráticas ou imaginar que a prática profis-

sional pode avançar sem um tratamento teórico da realidade social objeto da ação pro-

fissional, dispensa a necessidade de qualquer investida conservadora na prática profis-

sional, na medida em que mesmo contra o conservantismo, nos tornamos seus legítimos

continuadores. Ou nos exercitamos para que possamos nos tornar herdeiros do pensa-

mento crítico ou, realmente, nada mais nos resta que lamentar, submetidos que estare-

mos, aos mecanismos que a sociedade moderna criou e cria, permanentemente, para

impedir a ruptura com nossas limitações e a satisfação de nossas necessidades (seja na

vida pessoal, coletiva e/ou profissional).

Ainda que imbricados - requerendo a mesma preparação teórica e técnica e en-

caminhamentos, de assessores e consultores -, podemos apontar pequenas diferenças

entre Assessoria e Consultoria. Nos processos de Consultoria um assistente social ou

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uma equipe, geralmente procura um expert para que dê parecer sobre os caminhos que a

equipe escolheu e/ou encaminhamentos que está realizando. Por exemplo: indicar biblio-

grafia sobre temas específicos; dar parecer sobre projetos de pesquisa e/ou avaliar o en-

caminhamento de levantamentos e pesquisas em andamento; indicar ou realizar cursos

sobre temas específicos da área de atuação profissional etc..

Este processo ou surge de uma solicitação da própria equipe, ou por indicação,

por exemplo, do professor da disciplina de estágio supervisionado, de um conferencista,

ou de um outro assistente social, etc. Freqüentemente, para que uma equipe ou assisten-

te social solicite um processo de Consultoria, é necessário que já tenha passado, ainda

que precariamente, pela elaboração de um projeto de prática, objetivando com a Consul-

toria, respostas para algumas questões pontuais que dificultam o encaminhamento do

mesmo.

É necessário deixar claro que a equipe que chega a solicitar um processo dessa

natureza, institucionalmente ou não, já conquistou junto à instituição que trabalha, no míni-

mo, tempo e espaço suficientes, para que o processo de projetar e analisar a sua prática

tenha continuidade. Isso não quer dizer que a equipe esteja caminhando na direção pro-

posta, possível ou viável, tendo em vista os objetivos e as características e qualidades da

equipe e do espaço de trabalho e que tenha ainda a clareza do investimento pessoal e/ou

coletivo necessários para que esse processo possa avançar.

Os processos de Assessoria são também solicitados tanto por uma equipe ou por

indicação externa, mas neles nos deparamos com uma realidade diferente. As Assesso-

rias são solicitadas ou indicadas, na maioria da vezes, com o objetivo de possibilitar a ar-

ticulação e preparação de uma equipe para construção do seu projeto de prática através

de um expert que venha assisti-la teórica e tecnicamente.

A construção do projeto de prática torna-se determinante na busca de uma prática

de qualidade, na medida em que, é na realização do projeto - que sempre exige mais do

que a simples colocação de intenções no papel - que a equipe se prepara, se recicla e/ou

se aperfeiçoa para o exercício profissional, ao mesmo tempo em que conhece/organiza o

espaço de prática e a atenção às demandas dirigidas ao serviço.

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Os assistentes sociais, de uma maneira geral, resistem - alegando os mais

diferentes motivos - a projetar sua prática15. Um dos motivos, explicitado pelos próprios

profissionais, está relacionado à inviabilidade de operacionalização dos projetos diante

da complexidade e da dinâmica da realidade, certamente uma análise equivocada.

Se, de certa forma esse argumento procede, visto que, para atuar numa realidade

em movimento não há receitas - um projeto quando vai para o papel é sempre referência -

um projeto de qualidade tem de dar conta do movimento da realidade objeto da ação pro-

fissional, o que supõe captar as tendências postas na realidade. O projeto, ao se constitu-

ir numa referência para a ação, - nunca uma "receita a ser viabilizada" - traz como ganho

principal para os assistentes sociais, no curso de sua elaboração, a transformação do

próprio profissional/equipe, quando este, vivência o processo de se voltar para o conhe-

cimento da realidade social trabalhada, desvendando os caminhos de seu fazer profis-

sional ao definir possibilidades, limites, prioridades, recursos, atividades essenciais, ins-

trumentos ... É nesse processo que o profissional, colocando a realidade social enquan-

to objeto de conhecimento, se produz enquanto profissional, podendo se colocar diante

das demandas postas para o Serviço Social, qualitativamente diferente dos usuários e da

sua própria relação cotidiana com essa realidade - sua ação direta quando do fazer pro-

fissional - transcendendo a sua aparência.

É através desse processo - que freqüentemente vai se desdobrar em leituras, le-

vantamentos, projetos de pesquisa, cursos de especialização -, que o profissional tem a

possibilidade de captar o movimento da realidade com a qual trabalha, nas suas singula-

ridades e particularidades, tendo sempre presente a relação com os aspectos globais da

realidade para, acompanhando seu movimento, buscar as alternativas de ação, aí sim, vi-

áveis e possíveis de serem encaminhadas. Só assim pode-se reivindicar uma prática

mediada pela teoria, uma prática pensada. Aqui, é necessário distinguir o projeto de prá-

tica - responsabilidade dos assistentes sociais que ocupam um determinado espaço pro-

fissional -, do projeto de profissão - responsabilidade do segmento da categoria como um

15 Em 1992, uma unidade de formação que passou a exigir projeto de prática profissional e supervisão como critério para manutenção e abertura de campos

de estágio, deparou-se com a seguinte situação: ou não teria estágios a oferecer aos seus alunos ou reformulava o critério. Assim deu-se um prazo de 6 meses para que os campos de estágio apresentassem seus projetos. Após 6 meses, mesmo com a presença de professores, de mais ou menos 30 áreas, uma apresentou projeto. Essa equipe, contou com a participação intensa de um professor da unidade formadora, durante os seis meses, sedo que, o projeto foi realizado com a participação constante dos estagiários da área.

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todo, interessado numa determinada direção social16-, o último referência para o primei-

ro.

Só um movimento, por parte dos assistentes sociais, que pressione as unidades

formadoras por uma participação efetiva e sistemática no enfrentamento das demandas e

questões postas pela realidade ao Serviço Social, pode levar os espaços de formação a

se articularem, em tempo, no sentido de atender uma demanda vem sendo negligencia-

da. Uma demanda que vem se exteriorizando através de solicitações concretas de As-

sessoria/Consultoria,17 dirigidas, no Rio de Janeiro, principalmente, às unidades públicas

de ensino, por supervisores de estágio exigindo uma articulação mais próxima com a a-

cademia; por equipes interessadas - pelos mais diferentes motivos - em iniciar sua parti-

cipação na formação profissional ou por equipes interessadas em avaliar e aperfeiçoar a

prática realizada.

Ainda que possamos observar esse significativo movimento por parte de alguns

assistentes sociais/equipes, podemos observar também que no interior da categoria, a-

inda persiste um sentimento de recusa e negação quando surge a questão da Assessori-

a/Consultoria. Freqüentemente esses processos são comparados à supervisão destina-

da aos alunos de graduação - o que viria a diminuir o profissional que se submetesse a

eles. Esse fato, freqüentemente, dificulta o desenvolvimento das equipes profissionais, na

medida em que nem todos aceitam participar desses processos de aperfeiçoamento. In-

teressante notar que não é o que ocorre com outros categorias profissionais que, tradi-

cionalmente, buscam supervisão para seus projetos de prá tica, principalmente depois da

graduação: é o caso dos psicólogos que, justamente após a graduação, quando iniciam

sua clínica, passam por períodos longos de supervisão e aperfeiçoamento.

Assim, é que, com freqüência, as demandas por Assessoria vêm sendo explicita-

das através de solicitações para "orientação de projetos", de "palestras", cursos nas

mais diferentes temáticas - estudo de técnicas, etc... Neste caso, cabe ao asses-

sor/consultor, conhecendo minimamente a equipe, explicitar o complexo conjunto de difi-

16 Conferir:ABESS, Centro de Documentação e Pesquisa em política Social e Serviço Social -CEDEPSS, Cadernos de Pesquisa n.1, "Configuração de um Projeto

profissional para o Serviço Social: O pensamento das entidades nacionais", Apoi Cortez, Agosto, 1994.

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culdades que permeia aquelas solicitações, analisando e revelando a realidade da equi-

pe e oferecendo uma proposta que enriqueça e exercite seu conteúdo teórico, técnico e

político, a partir de uma reflexão profunda da realidade trabalhada pela mesma. É o con-

tato sistemático com a equipe e a realidade objeto de sua ação profissional que possibili-

ta ao assessor/consultor, construir as condições de projetar e realizar sua tarefa, apon-

tando possibilidades, limites, alternativas na construção e viabilização do projeto profis-

sional pelos assistentes sociais.

Na realidade, as críticas dirigidas ao exercício profissional, principalmente as reali-

zadas no interior da academia, trazem implícita uma cobrança pela qualidade de prática,

dirigida somente aos assistentes sociais. Esse tipo de crítica imputa aos "assistentes so-

ciais da prática" a responsabilidade única e exclusiva pela busca dessa qualidade. Des-

sa forma, mesmo que indiretamente, é exigido que - mesmo com os limites apontados:

formação profissional deficiente, complexidade da realidade, dificuldade de dar respos-

tas para o presente - os assistentes sociais dêem conta, isoladamente, das questões que

a profissão coloca e da mudança nos seus rumos.

Produzir uma prática de qualidade, numa perspectiva de ruptura com práticas con-

servadoras, exige o resgate da unidade entre espaços de formação e espaços de práti-

ca. Mas, diante do quadro que nos encontramos, sem uma postura concreta por parte dos

assistentes sociais que pressione as unidades formadoras a aceitar, também como seus,

os desafios postos pela realidade objeto da ação profissional, tão cedo não teremos uma

aproximação de qualidade. Por outro lado, sem que os assistentes sociais construam as

condições objetivas para participarem ativamente no enfrentamento daqueles desafios,

dificilmente terão condições de pressionar por investimentos, por parte das unidades

formadoras, na preparação de docentes e/ou profissionais para prestarem Assessori-

a/Consultoria de qualidade e para participarem da realização de pesquisas e projetos

tendo em vista questões pertinentes, postas pela realidade profissional. São pontos ne-

vrálgicos que, para serem enfrentados, dependem da vontade política de cada segmento.

17 Entre 1992/1995 uma unidade de ensino, pública, contava com 5 pedidos formais de assessoria - documentados e justificados-, por parte de instituições de

grande porte, com grande número de assistentes sociais. Essaa demanda foi atendida, em parte, através da realização de cursos dirigidos especialmente para os supervisores de estágio da escola ou através do professor da disciplina de estágio supervisionado. Algumas dessas instituições, diante dos limites impostos pela escola, procuraram assessoria particular, deixando de se constituir, por algum tempo, em campos de estágios. Parte dessa demanda estava também dirigida a outras unidades formadoras.

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De qualquer forma, faz-se necessário contarmos com recursos de qualidade e su-

ficientes, por parte das unidades formadoras, para atender uma demanda que, reprimida,

contribuirá para reprodução de práticas conservadoras, acríticas, vinculadas, por vezes

na intenção, mas desvinculadas na prática, dos interesses da população que direta ou in-

diretamente solicita os serviços profissionais.

As demandas por Assessoria/Consultoria certamente não serão assumidas pelas

unidades particulares de ensino - excetuando, talvez, as PUCs(Universidades Católicas) -

, tendo em vista seus objetivos lucrativos, ainda que necessitem dos espaços profissio-

nais, para responder às exigências relacionadas ao ensino da prática. É nessa medida

que esta é uma demanda dirigida basicamente às unidades públicas de ensino.

Estaríamos nos referindo à uma especialização, um outro ramo de atividade para

os assistentes sociais? Sim e não. A Assessoria/Consultoria é um recurso há muito utili-

zado pelos assistentes sociais junto a diferentes grupos de usuários - associação de mo-

radores, grupos populacionais favelados, posseiros etc. -; na Assessoria/Consultoria a

assistentes sociais ou equipes, estaríamos utilizando esse recurso objetivando uma práti-

ca pensada, projetada. Uma equipe que não se produz permanentemente e não projeta a

sua prática não tem condições de levar adiante qualquer tarefa, nem mesmo as tarefas

burocráticas. Assim, realizar Assessoria/Consultoria para dentro do Serviço Social com o

objetivo de pensar a prática significa, contrapor a realidade dos espaços profissionais

ocupados pelo Serviço Social com as análises, estratégias e ações realizadas no seu en-

frentamento no sentido de uma ação profissional pensada, consciente.

Fica claro que um consultor/assessor, na busca de condições para exercer seu

papel junto a uma equipe ou profissional, necessita de um aperfeiçoamento profissional

que ultrapasse e congregue as exigências do ensino e da prática profissional. Nenhum

profissional, no contato direto e cotidiano com a população usuária, tem condições - pe-

las características e demandas do espaço profissional que ocupa -, de acesso permanen-

te às novas produções dentro e fora do Serviço Social - essenciais no encaminhamento

do seu fazer profissional - e de exercitar e acumular em si, as condições que são exigidas

para uma análise que dê conta do movimento da realidade social com a qual trabalha. As

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análises mais gerais são importantes e necessárias mas, não dão conta das mediações

necessárias para acesso ao específico da realidade a ser trabalhada.

Assim, Assessoria/Consultoria estão voltadas para a busca de totalização

no processo de prática, no sentido de apontar, resgatar e trabalhar as deficiências, os

limites, recursos e possibilidades da equipe, socializando conteúdos, instrumentos de in-

dagação e análise e também produzindo estudos e análises os quais a equipe não está

preparada e nem é seu papel realizar, tendo em vista as respostas concretas e imediatas

que precisa dar às demandas que a realidade põe à sua ação. A formação, as ações e

tarefas que são exigidas e as condições, possibilidades e limites que são impostos ao

assistente social, no contato cotidiano com a população, são diversas das postas ao

pesquisador, ao consultor, ao assessor, ao docente. Ainda que ocupem o mesmo espaço

profissional, suas indagações, respostas, investimentos e exigências são diferentes, mas

se completam tendo em vista a realidade social como objeto o que requer, consequente-

mente, além de uma articulação permanente, preparação e aprofundamentos diferencia-

dos. É assim que se mostra determinante a aproximação permanente e sistemática des-

ses segmentos da categoria profissional no confronto e rompimento com práticas tradi-

cionais e conservadoras. Uma aproximação pensada, projetada, não, casual.

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