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Relações de cooperação para geração de trabalho e renda

Relações de cooperação para geração de trabalho e renda · Izamara de Oliveira Ferreira, Joelma Aparecida dos Santos Horst e Sérgio Luis Dias Doliveira Relações de cooperação

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Relações de cooperação para geração de trabalho e renda

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Relações de cooperação para geração de trabalho e renda

Realidade e perspectivas na região Centro-Sul do Paraná

Marcos de CastroAntônio João Hocayen-da-Silva

Giomar Viana(Organizadores)

1ª Edição - 2011Bauru/SP

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Rua Eng. Alpheu José Ribas Sampaio, 3-40

Jd. Infante Dom Henrique | CEP 17012-631 | Bauru, SP

Fone/fax (14) 3313-7968 | www.canal6.com.br

Conselho EditorialDra. Flaviane Renó Gonzaga Silva

Dra. Janira Fainer BastosDr. José Renato Ferraz da Silveira

Dr. Marco Antônio dos Reis PereiraDra. Maria Angélica Seabra Rodrigues Martins

Criação da capaJenifer Hidemy Matsuoka Yasoyama

Copyright© Organizadores, 2011

Relações de cooperação para geração de trabalho e renda: Realidade e perspectivas na região Centro-Sul do Paraná / Organizadores: Marcos de Castro, Antônio João Hocayen-da-Silva e Giomar Viana. - - Bauru , SP: Canal 6, 2011.

176 p. ; 25 cm.

ISBN 978-85-7917-168-0 1. Trabalho 2. Geração de emprego. 3. Geração de renda. 4.

Cooperação. I. Castro, Marcos de. II. Hocayen-da-Silva, Antônio João. III. Viana, Giomar. IV. Título.

CDD: 331.1

R3821

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A concretização desta obra somente foi possível com o apoio de instituições que acreditaram na proposta aqui apresentada. Assim,

registramos aqui a importância do apoio recebido da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná; Fundação Araucária (por meio do Programa Universidade Sem

Fronteiras); e da Universidade Estadual do Centro-Oeste. Também agradecemos aos autores dos capítulos que compõem a obra por

terem aceitado o desafio de contribuir para a geração e socialização de conhecimentos sobre relações de cooperação na região centro-sul

do estado do Paraná.

Marcos de CastroAntônio João Hocayen-da-Silva

Giomar VianaOrganizadores

Agradecimentos

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Sumário

Sobre os autores .................................................................................................................. 9

Apresentação .................................................................................................................... 15

Desafios e perspectivas para as relações de cooperação no contexto de desenvolvimento da região centro-sul do Paraná .......................................................21Camila de Almeida Permegiani, Antônio João Hocayen-da-Silva e Marcos de Castro

Fatores críticos para o sucesso das relações de cooperação: estudo de caso na cooperativa Alpha ............................................................................... 47Camila de Almeida Permegiani, Antônio João Hocayen-da-Silva, Marcos de Castro, Jenifer Hidemy Matsuoka Kasoyama, Ligia Maria Gonçalves e Josiane Rabelo

Processo de formação de relações de cooperação:Estudo sobre a implantação de uma cooperativa de trabalho do setor da construção civil na região do Cantuquiriguaçu ................................................................................. 75Izamara de Oliveira Ferreira, Joelma Aparecida dos Santos Horst e Sérgio Luis Dias Doliveira

Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar: benefícios e desafios......................................................................................................... 93Fernando Franco Netto, Giomar Viana, Paulo Roberto Ost, Suianny Francini Conceição Luiz, Michael Robson Somer, Nathália Nogueira Longo, Andressa Geri e Leandro José Vanz

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Desenvolvimento econômico e sustentabilidade: enfrentando os desafios de cooperar .......................................................................... 115Andressa Moraes Dutra, Carlos Cesar Garcia Freitas, Félix Antônio Kasteller Savi e Kelly Poliane Rodrigues

Lógica formal versus lógica dialética: análise de custos na cooperativa mista de produção e comercialização camponesa do Paraná .........................................................................................................................137Luciano Ferreira de Lima, Roni Antônio Garcia da Silva e Luciane Aparecida Munhoz Stefano

Políticas públicas indutoras à cooperação para geração de trabalho e renda: estudo em uma cooperativa de costureiras da cidade de Guarapuava ............................................................................................ 151Raquel Virmond Rauen Dalla Vecchia

Organização da sociedade a partir de relações de cooperação: muitos caminhos uma só direção ............................................................................... 163Antônio João Hocayen-da-Silva e Marcos de Castro

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Andressa Geri - Graduada em Administração pela Universidade Estadual do Cen-tro-Oeste/UNICENTRO, possui especialização MBA Executivo em Administração pela Faculdade Campo Real; atuou como bolsista no Programa Universidade Sem Fronteiras, Subprograma Planejamento e Gestão Estratégica para a Central Regional de Cooperativas do Centro-Oeste do Paraná - CERCOOP.

Andressa Moraes Dutra - Graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO; atuou no programa Universidade Sem Frontei-ras, por meio do projeto Identidade Cultural e Desenvolvimento Econômico.

Antônio João Hocayen-da-Silva – Graduado em Administração: Habilitação em Administração de Cooperativas pela Universidade Federal de Viçosa – UFV/MG; Mes-tre em Administração pelo Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Paraná/UFPR; Professor Assistente do curso de Administração na Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO, nas disciplinas de Pesquisa, Estratégia e Mudança Organizacional. Possui trabalhos publicados em periódicos cien-tíficos como Revista de Administração (RAUSP), Revista Brasileira de Administração Pública (RAP), Revista de Administração de Empresas (RAE), Revista de Administração Mackenzie (RAM) e Revista Eletrônica de Administração (READ). Atualmente participa como pesquisador do grupo de pesquisa “Capital, Trabalho e Lazer”, desenvolvendo estu-dos na linha de Gestão Organizacional relacionados às temáticas de estratégia, adaptação estratégica e gestão de empresas hoteleiras.

Camila de Almeida Permegiani – Graduada em Comunicação Social: Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICEN-TRO; possui especialização em Administração Executiva; atuou como bolsista do progra-

Sobre os autores

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10 Sobre os autores

ma Universidade Sem Fronteiras, como profissional recém-formado. Possui experiência em desenvolvimento e planejamento de comunicação; comunicação integrada; análise e reestruturação de sites.

Carlos Cesar Garcia Freitas - Graduado em administração pela Universidade Es-tadual de Londrina; possui mestrado em administração pela Universidade Estadual de Londrina. É professor assistente lotado no departamento de administração da UNICEN-TRO, atuando no ensino de graduação e especialização ministrando várias disciplinas, principalmente aquelas relacionadas ao campo de Sistemas de Informação e Empreende-dorismo; atua ainda na pesquisa e extensão em projetos voltados a tecnologia e inovação.

Félix Antônio Kasteller Savi - Graduado em história licenciatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO, atua no programa Universidade Sem Frontei-ras, por meio do projeto Identidade Cultural e Desenvolvimento Econômico.

Fernando Franco Netto - Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Fede-ral Fluminense/UFF (1983), mestrado em História Econômica pela Universidade Estadu-al do Centro-Oeste (2000) e doutorado em História pela Universidade Federal do Paraná (2005). Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual do Centro-Oeste e Pró-Reitor de Planejamento. Tem experiência na área acadêmica e na pesquisa com temas volta-dos para a Economia, História Econômica e Escravidão. Consultor na área de planejamento e finanças empresariais com diversos trabalhos técnicos desenvolvidos nessas áreas.

Giomar Viana - Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO; especialista em Gestão e Auditoria de Negócios pela Uni-versidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO e Mestre em Desenvolvimento Regio-nal e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE; técnico em Assuntos Universitários e Secretário do Setor de Ciências Sociais Aplicadas da UNI-CENTRO. Pesquisador de áreas temáticas como cadeias produtivas, economia regional, crescimento econômico e capital humano. Possui publicações em periódicos científicos como a revista Informações Econômicas (IEA/SP), Organizações Rurais e Agroindustriais (DAE/UFLA) e Capital Científico, além de congressos relacionados à área de formação. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Ciências Econômicas, GPCE/UNICENTRO e do grupo de pesquisa em História Econômica/UNICENTRO. Atua ainda como pesquisador do Instituto Brasileiro de Pesquisas, IBP.

Graziely da Fonseca Lanferdini - Graduada em Secretariado Executivo Universida-de Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO; atuação como bolsista no programa Univer-sidade Sem Fronteiras, Subprograma Planejamento e Gestão Estratégica para a Central Regional de Cooperativas do Centro-Oeste do Paraná - CERCOOP.

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11Sobre os autores

Izamara de Oliveira Ferreira - Graduada em Administração pela Universidade Es-tadual do Centro-Oeste/UNICENTRO; participação como bolsista do programa Univer-sidades Sem Fronteiras, no projeto Proposta de ações de desenvolvimento da pecuária leiteira e no projeto Formação de Cooperativa de Profissionais da Construção Civil na Microrregião Centro do Território da Cantuquiriguaçu. Tem trabalhos apresentados na área de Marketing e Cooperativismo.

Jenifer Hidemy Matsuoka Yasoyama - Graduada em Comunicação Social: Habili-tação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNI-CENTRO. Participação como bolsista do programa Universidade Sem Fronteiras. Possui experiência em desenvolvimento e planejamento de comunicação; design gráfico; marke-ting digital e análise e reestruturação de sites.

Joelma Aparecida dos Santos Horst - Graduada em Ciências Econômicas pela Uni-versidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO; Participação como bolsista do pro-grama Universidade Sem Fronteiras, no projeto Implantação da Cooperativa de Costu-reiras da Associação de Moradores do Bairro Industrial Xarquinho, COCAMBIX e no projeto Formação de Cooperativa de Profissionais da Construção Civil na microrregião centro do território da Cantuquiriguaçu.

Josiane Rabelo – Graduada em Administração pela Universidade Estadual do Cen-tro-Oeste/UNICENTRO; possui especialização em Administração Executiva; Participa-ção como bolsista do programa Universidade Sem Fronteiras.

Kelly Poliane Rodrigues - Graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Estadual do Centro-Oeste; atuou no programa Universidade Sem Fronteiras, por meio do projeto Identidade Cultural e Desenvolvimento Econômico.

Ligia Maria Gonçalves - Graduada em Administração pela Universidade Estadual do Centro/UNICENTRO; possui especialização em Administração Executiva; participa-ção como bolsista do programa Universidade Sem Fronteiras.

Luciane Aparecida Munhoz Stefano – Graduada em Administração e Secretariado Executivo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO, bem como possui Especialização em Gestão Estratégica de Pessoas pela UNICENTRO.

Luciano Ferreira de Lima - Graduado em Análise de Sistemas e Administração (2004) pela Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO, possui Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Professor Assistente lotado no departamento de Administração da Unicentro, onde também atua como assessor financeiro na Universidade Aberta do Brasil (UAB). Tem experiência nas

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12 Sobre os autores

áreas de Planejamento Urbano, Planejamento Estratégico e Finanças Públicas, bem como em Análise de Custos e de Investimentos, atuando principalmente nos seguintes temas: capital e trabalho, custos, investimentos, estratégia e mercado de capitais. Participação nos seguintes grupos de pesquisa: Centro de Estudos e Pesquisa em Contabilidade e Finanças (UNICENTRO) e Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional (/UNICENTRO).

Leandro José Vanz - Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO; é bolsista no Programa Universidade Sem Fronteiras, Subprograma Planejamento e Gestão Estratégica para a Central Regional de Cooperativas do Centro-Oeste do Paraná - CERCOOP.

Marcos de Castro - Graduado em Administração pela Universidade Estadual do Centro/UNICENTRO; Possui mestrado em administração pela Universidade Federal do Paraná, tendo pesquisado a cooperação em redes horizontais na região de Guara-puava. Possui publicações em periódicos científicos como a Revista de Administração Contemporânea (RAC) e Revista de Administração Mackenzie (RAM); em eventos como EnANPAD e EnEO; e capítulos de livro editados no Brasil e exterior. É professor assis-tente lotado no departamento de administração da UNICENTRO, atuando na graduação e especialização, ministrando várias disciplinas, principalmente aquelas relacionadas ao campo da estratégia e dos relacionamentos interorganizacionais. É membro do grupo de pesquisa GEO (Grupo de Estudos em Estratégia e Organizações) do qual foi um dos idealizadores. Tem desenvolvido pesquisas relacionadas à estratégia organizacional com foco especial na cooperação interorganizacional. Consultor com atuação em gestão de pequenas e microempresas.

Michael Robson Somer - Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Es-tadual do Centro-Oeste/UNICENTRO; atuou como bolsista no Programa Universidade Sem Fronteiras, Subprograma Planejamento e Gestão Estratégica para a Central Regional de Cooperativas do Centro-Oeste do Paraná - CERCOOP.

Nathália Nogueria Longo - Graduada no Curso Superior de Tecnologia em Ma-rketing pela Faculdades Guarapuava; atuou como bolsista no Projeto Universidade Sem Fronteiras, Subprograma Planejamento e Gestão Estratégica para a Central Regional de Cooperativas do Centro-Oeste do Paraná - CERCOOP.

Paulo Roberto Ost - Graduado em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (1996), mestrado em Zootecnia, com ênfase em animais monogástricos pela Universidade Federal de Pelotas (1999) e doutorado em Zootecnia, com ênfase em animais monogás-tricos, pela Universidade Federal de Lavras (2004). Atualmente é professor adjunto do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Centro-Oeste, onde ministra disciplinas vinculadas à área de nutrição animal. É membro fundador e diri-

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13Sobre os autores

gente do grupo de pesquisa PRODUÇÃO ANIMAL do CNPq. Tem trabalhos publicados em periódicos nacionais nas seguintes linhas de pesquisa: utilização racional de resíduos agroindustriais na alimentação animal; nutrição e produção de suínos e aves.

Roni Antonio Garcia da Silva – Graduado em Geografia e Administração pela Uni-versidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO. Possui mestrado em Administração pela Universidade de la Empresa – UDE, Montevidéu/UY, tendo pesquisado a utiliza-ção do Marketing de Relacionamento – CRM pelas Empresas Familiares de Guarapu-ava. Editou o livro Administração Rural: teoria e prática. Possui publicação de artigos científicos em periódicos e eventos, nacionais e internacionais. Professor auxiliar lotado no departamento de Administração da UNICENTRO, atuando na graduação e especia-lização, ministrando as disciplinas de Teorias da Administração, Processos Organizacio-nais, Administração Estratégica, Administração Mercadológica I, Administração Rural e Agronegócios. É membro do grupo de pesquisa GEPACI onde desenvolve pesquisas na área da Ciência da Informação e Marketing de Relacionamento.

Raquel Virmond Rauen Dalla Vecchia – Graduada em Ciências Econômicas pela Uni-versidade Federal do Paraná/UFPR. Mestre em História pela Universidade de São Paulo/UNESP. Professora assistente lotada no Departamento de Economia da UNICENTRO, atu-ando na graduação e especialização, ministrando disciplinas como: História Econômica Geral, Economia Paranaense, Formação Econômicad Brasil e Economia Brasileira Contem-porânea, Economia e Meio Ambiente, Economia Regional e Urbana, entre outras. Pesqui-sadora na área de economia regional e urbana com ênfase em sustentabilidade ambiental e economia do bem-estar social. Possui publicações em periódicos e em eventos científicos.

Sérgio Luis Dias Doliveira – Graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná/UFPR; graduado em Administração pelo Instituto de Ciências Sociais do Paraná/IESP; cursou Especialização em Gestão Estratégica de Empresas pela UNIFAE; possuiu mestrado em administração pela Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC, ten-do pesquisado o varejo supermercadista na região de Guarapuava. É professor assistente lotado no departamento de administração da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná/UNICENTRO, Atuando na graduação e especialização, coordenando diversos cursos, além de ministrar diversas disciplinas principalmente na área de estratégia. É membro e vice-líder do grupo de pesquisa GEO (Grupo de Estudos em Estratégia e Or-ganizações) do qual foi um dos idealizadores. Tem desenvolvido pesquisas relacionadas à estratégia organizacional com foco especial na área de Cooperativas de Agronegócios e sustentabilidade.

Suianny Francini Conceição Luiz - Graduada em Secretariado Executivo pela Uni-versidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO; possui especialização em Gestão Executiva e Assessoria Empresarial também pela UNICENTRO; é professora lotada no

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14 Sobre os autores

departamento de Secretariado Executivo da UNICENTRO, atuando na graduação minis-trando disciplinas relacionadas à Responsabilidade Social, Redação Técnica e Comunica-ção Empresarial.

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As mudanças ocorridas nas relações de trabalho, somadas à globalização da econo-mia refletem, por um lado, nas condições de trabalho, levando trabalhadores antes inse-ridos no mercado formal de emprego, a somarem-se àqueles inseridos na informalidade econômica. Por outro lado, essa nova ordem no mercado de trabalho e um novo contexto econômico contribuem para um intenso processo de reorganização da sociedade em um contexto em que a cooperação e a ajuda mútua representam uma alternativa para a gera-ção de trabalho e renda.

A cooperação entre indivíduos e organizações é uma prática encontrada em di-ferentes contextos sociais. Mesmo com os elevados índices de competitividade carac-terísticos do mercado de trabalho, a cooperação torna-se fator que contribui para a manutenção do bem-estar social. Essa cooperação caminha em um continuum que pode constituí-la em ações e adequações de menor escala, motivadas por objetivos e interesses particulares e momentâneos, até relações formais, com maior complexidade e duração, determinadas pelo interesse coletivo de pessoas e organizações com o intui-to de estabelecer empreendimentos que possam fortalecer a coletividade em torno de questões socioeconômicas comuns.

Ao se organizarem, os atores sociais têm a possibilidade de organizar o trabalho do modo mais adequado, buscando aumentar a produtividade que possivelmente resulta em geração de renda. Por meio da cooperação, os trabalhadores têm a possibilidade de ex-plorar novas tecnologias, procurando desenvolver inovações técnicas e de se desligar da relação trabalhista existente no mercado formal de trabalho. Com a criação de empre-endimentos cooperativos, as relações estabelecidas entre trabalhadores apontam para a possibilidade de crescimento e consolidação de um novo campo de práticas econômicas, direcionadas à emancipação dos trabalhadores.

As relações de cooperação permitem aos trabalhadores a organização e o gerencia-mento de suas forças de trabalho, obtendo, assim, maior poder de barganha no mercado,

Apresentação

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16 Apresentação

proporcionando-lhes melhores condições econômicas e sociais, particularmente em situ-ações em que os trabalhadores se encontravam parcial ou totalmente privados do merca-do de trabalho formal.

Diante dessas breves considerações iniciais, o livro RELAÇÕES DE COOPERAÇÃO PARA GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA: Realidade e perspectivas na região Centro-sul do Paraná, aqui apresentado, tem como objetivo a elucidação de especificida-des relacionadas aos processos de planejamento, criação, organização e gestão de empre-endimentos destinados ao estabelecimento de relações de cooperação entre indivíduos, caracteristicamente localizados na região Centro-sul do Paraná.

Para tanto, foram reunidos relatos de experiências analisadas por pesquisadores da Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO em projetos específicos que com-põem o programa UNIVERSIDADE SEM FRONTEIRAS, compreendendo assim a rea-lidade, bem como as perspectivas das Relações de Cooperação na região Centro-sul do Paraná, transformando o livro em um guia para futuros grupos de trabalhadores que tenham interesse em estabelecer algum tipo de vínculo para, em conjunto, superarem as dificuldades emanadas do mercado de trabalho atual, conquistando, assim, condições adequadas de sobrevivência.

No que diz respeito ao Programa Universidade Sem Fronteiras, este foi elaborado e desenvolvido pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Para-ná, sendo um investimento financeiro e de capital humano com o objetivo de promover ações de extensão universitária. Os capítulos que compõem este livro têm origem em pro-jetos pertencentes ao subprograma Extensão Tecnológica Empresarial que, por sua vez, destina-se a financiar projetos orientados à criação e consolidação de micro e pequenos empreendimentos por meio do acesso a tecnologias difundidas ou inovadoras, estimulan-do a integração entre os professores/pesquisadores das Instituições de Ensino Superior e Institutos de Pesquisa e o desenvolvimento de empreendimentos com impactos sociais e econômicos significativos em nível local e regional.

A obra está organizada em oito capítulos que abordam os seguintes temas:

Desafios e perspectivas das relações de cooperação no con-texto de desenvolvimento da região centro-sul do Paraná

Apresenta a utilização da economia solidária como forma de desenvolvimento huma-no e regional, e como esta vem manifestando possibilidades de melhorias socioeconômi-cas por meio da emancipação social com o desenvolvimento de estratégias para a supera-ção da pobreza e exclusão social. Em um contexto econômico e social, aborda-se como a promoção da economia sem “empregados e patrões”, ou seja, como os empreendimentos solidários podem promover por meio dos seus desafios e perspectivas o desenvolvimento da região Centro-Sul do estado do Paraná.

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17Apresentação

Fatores críticos para o sucesso das relações de cooperação: estudo de caso em uma cooperativa de artesanato

Este capítulo busca compreender, por meio de um estudo de caso em uma coopera-tiva, os fatores críticos de sucesso ou fracasso das relações de cooperação, Descreve as relações de cooperação com ênfase nos fatores críticos de sucesso, especificamente na análise do ambiente de negócios; aspectos antropológicos e socioculturais; políticas ma-croeconômicas e processo de formação de uma cooperativa de artesanato. Para a coleta de informações foram realizadas entrevistas; observação direta; pesquisa bibliográfica para comparar os resultados e apontar direcionamentos às ações da cooperativa estudada. Destaca-se que a partir da análise dos dados foi possível confrontar ideias que levaram a uma discussão contribuindo para uma maior compreensão das questões de sucesso nas relações cooperativas.

Processo de formação de relações de cooperação: estudo so-bre a implantação de uma cooperativa de trabalho do setor da construção civil na região do Cantuquiriguaçu

A sociedade cooperativa consiste na união de trabalhadores de maneira espontâ-nea, com interesses individuais de produção, comercialização e prestação de serviços comuns aos objetivos da organização. O objetivo do capítulo é apresentar os resulta-dos de um projeto dentro do Programa Universidade Sem Fronteiras cuja finalidade é a formação da cooperativa dos profissionais da construção civil, da micro região Centro do Território da Cantuquiriguaçu. Dessa forma, o presente estudo objetiva descrever o processo de formação da cooperativa supracitada. A realização do pro-jeto se deu por etapas: Na primeira realizou-se uma pesquisa exploratória, incluindo uma pesquisa bibliográfica, por meio da leitura de fontes que abordam o tema coo-perativismo, construção civil e pesquisa sobre a região, objetivando a obtenção de informações sobre o tema. Essas atividades facilitaram o desenvolvimento do proje-to. Também se realizou um levantamento dos aspectos referentes à construção civil na região englobada pelo projeto, complementado com uma pesquisa de campo que identificou os profissionais da construção civil, a fim de delinear identificar o perfil dos trabalhadores. A partir dessas informações coletadas, foram realizadas reuniões com os trabalhadores da construção civil para sensibilizá-los e discutir a formação da cooperativa, com o intuito de agregar os profissionais da área. Pretende-se, com a formação da cooperativa, obter-se melhores condições de trabalho, uma ampliação da renda, um aperfeiçoamento nas habilidades profissionais, oferecendo serviços com uma qualidade superior aos oferecidos na região, bem como, ampliar o desenvolvi-mento da região. O funcionamento e o sucesso da iniciativa poderão despertar o inte-

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18 Apresentação

resse de se desenvolverem outras formas de organização dos profissionais e de setores auxiliares no desenvolvimento local, proporcionando condições para um crescimento econômico da cidade e região.

Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar: benefícios e desafios

Este capítulo tem por objetivo apresentar os resultados do projeto de extensão em parceria com o Governo do Estado do Paraná, por meio do Programa Universidade Sem Fronteiras, a Universidade Estadual do Centro-Oeste/ UNICENTRO e as coope-rativas de leite da agricultura familiar da região Centro-Sul do Estado. A metodologia de trabalho aplicada no projeto foi desenvolvida por meio da relação teoria – prática – teoria, com a realização de diagnóstico das cooperativas, plano de ação a fim de definir metas nas áreas operacional e administrativa, planejamento quanto à con-solidação da estrutura de funcionamento da cooperativa central e desenvolvimento de trabalhos acadêmicos apresentando os resultados obtidos. Os resultados demons-tram que quanto mais estruturados e melhor organizados os produtores estiverem, melhor será o desempenho em suas atividades, pois suas atitudes e decisões passam a ser tomadas em conjunto. Contudo, os resultados apresentados evidenciam certa fragilidade entre os pequenos produtores e as pequenas cooperativas de leite, seja em função de questões internas, relacionadas com a organização das cooperativas, seja em função de políticas efetivas que possam estimular parcerias fortes e duradouras, bem como entre Governo, Universidades ou, até mesmo, entre os próprios produto-res, como forma de fortalecer suas atividades.

Desenvolvimento econômico e sustentabilidade: enfrentando os desafios de cooperar

O capítulo desenvolvido consiste no relato de experiências dos envolvidos junto ao projeto Identidade Cultural e Desenvolvimento Econômico, referente à realidade vivenciada em torno da atividade de artesanato, representada por uma associação de artesãos. Tem como objetivo promover uma discussão acerca da problemática encon-trada na época da proposição do projeto e seu desenvolvimento, por meio de uma aná-lise histórica do processo de cooperação dos artesãos, mediante entrevistas, observação e análise de documentos. Para tanto, o capítulo foi estruturado nos seguintes temas: Artesanato como geração de renda e trabalho; atividade artesanal local e expressão cultural; consolidação da identidade cultural com base na sustentabilidade; coopera-ção como alternativa de emancipação; forças influenciadoras e processo histórico de

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19Apresentação

formação da associação; problemática na gestão da associação; o projeto Identidade Cultural e Desenvolvimento Econômico e perspectivas futuras. O resultado esperado com este capítulo é de apresentar uma discussão sobre a seguinte problemática: frente à riqueza cultural local que muitas vezes se perde no tempo, pela inexistência ou exis-tência incipiente de uma transferência de conhecimento entre gerações, existem meios norteados por valores de sustentabilidade que, ao mesmo tempo, respeitem as culturas e possibilitem a geração de renda e trabalho, mas carecem, na realidade local, de uma compreensão dos valores de cooperação.

Lógica formal versus lógica dialética: análise de custos na cooperativa mista de produção e comercialização camponesa do Paraná

A experiência oriunda do Programa Estadual Universidade Sem Fronteiras, no período de dezembro de 2008 a fevereiro de 2010, realizado na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná, em Porto Barreiro/PR, propor-cionou várias ref lexões aos professores pesquisadores da Universidade Estadual do Centro-Oeste. Pode-se observar o conf lito existente entre duas lógicas de pensar, a formal e a dialética. A primeira diz respeito a um olhar segmentado da realidade, bem como a uma abordagem de relação causa-efeito, que visa, quando aplicada ao proces-so produtivo, a racionalização e a eficiência produtiva, a inserção de produtos e de serviços com padrão de qualidade aceitável, a preços competitivos, e o aumento das margens de lucro. A lógica dialética, entretanto, demonstra a consciência e a luta para manter o modo de vida camponês, por meio do cooperativismo, objetivando a pro-dução e a comercialização do óleo de girassol e de outros produtos. No que se refere à análise de custos do produto óleo de girassol, pode-se inferir que o entendimento, dos camponeses, do processo produtivo, dos seus tempos e movimentos, dos seus gastos, bem como das técnicas de apropriação, mensuração e demonstração dos custos, das despesas, dos tributos, do imposto de renda e dos resultados, leva-os a uma nova for-ma de pensar e de agir, baseada nos processos e técnicas capitalistas. Isso, no entanto, não transforma por completo o modo de vida camponês, pois a cultura, a tradição, os costumes, os valores e a crença no campesinato fazem com que muitas característi-cas sejam mantidas, surgindo, assim, um novo camponês, o camponês capitalista. A contradição supramencionada, de natureza dialética, demonstra, de certo modo, que mesmo na perspectiva ideológica ocorrem mudanças significativas, uma vez que, a subsistência sendo a base da discussão teórica e do devir prático, conduz a novas re-f lexões acerca do modo de produção capitalista, sendo este estudado, compreendido, melhorado e incorporado.

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20 Apresentação

Políticas públicas indutoras à cooperação para geração de tra-balho e renda: estudo em uma cooperativa de costureiras da cidade de Guarapuava

Este capítulo tem como finalidade apresentar e discutir os resultados do projeto de implantação da Cooperativa de Costureiras da Associação de Moradores do Bairro In-dustrial Xarquinho, COCAMBIX, desenvolvido na cidade de Guarapuava, no estado do Paraná. Esse projeto está vinculado ao programa Universidade Sem Fronteiras: Sub Pro-grama Extensão Tecnológica Empresarial, proposto pelo governo do estado do Paraná como uma política pública de geração de emprego e renda, visando estimular o desen-volvimento econômico e social, em municípios com baixo IDH-M. O projeto teve como objetivo assessorar as costureiras na implantação da cooperativa, em seus aspectos eco-nômicos, jurídicos, contábeis e administrativos. Com a perspectiva de que esse novo em-preendimento, além proporcionar a capacitação profissional das costureiras, impulsione a geração de novos empregos diretos e indiretos.

Organização da sociedade a partir de relações de cooperação: muitos caminhos uma só direção

Por suas características específicas e por seu nível de evolução, o mercado de traba-lho brasileiro se tornou responsável direto pelos índices de exclusão social, em função dos elevados níveis de desemprego apresentados na sociedade. Diante das transformações apresentadas pelo mercado de trabalho brasileiro, observa-se que a população foi obriga-da a se adaptar a essa nova realidade, encontrando alternativas viáveis, que passam pela coletividade, para responder às barreiras impostas pela informalidade. Nesse cenário, as relações de cooperação encontram campo fértil para se desenvolverem, tendo em vista que possibilitam aos excluídos do mercado formal de trabalho, por meio da ajuda mútua e da solidariedade, em uma perspectiva de economia solidária, obter melhores condições de trabalho e renda, sem caráter assistencialista ou paternalista, tendo em vista a prática da autogestão pelos próprios componentes do grupo.

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1. Introdução

O mercado de trabalho no país tem passado por diversas, rápidas e profundas mudanças: observa-se um quadro grande de desempregados e subempregados, e a solução deste proble-ma pode residir na própria organização da sociedade. Uma forma da sociedade se organizar é por meio das relações de cooperação, que permitem aos envolvidos o fortalecimento individu-al a partir do grupo, conquistando assim maior autonomia nas atividades desenvolvidas. Tais relações de cooperação muitas vezes estão pautadas nos princípios da economia solidária.

A proliferação da economia solidária como forma de desenvolvimento humano e regional vem manifestando possibilidades de melhorias socioeconômicas. A economia solidária une capital ao trabalho contra as desigualdades sociais e o desemprego. A defi-nição de economia solidária está enlaçada com a relação entre o trabalhador e os meios de produção, baseando-se na igualdade e na democracia.

A adoção de empreendimentos solidários possibilita a emancipação social por meio do desenvolvimento de estratégias para a superação da pobreza e exclusão social. Tem-se resultados eficazes se ações de parcerias forem criadas, como o desenvolvimento de polí-ticas públicas que possibilitem a melhoria na qualidade de vida por meio de empreendi-mentos coletivos, autogestionários e produtivos.

As relações de cooperação em empreendimentos solidários por meio do desenvolvi-mento de cooperativas e associações economicamente solidárias é um instrumento eficaz contra a exclusão social, pois apresenta como alternativa a geração de trabalho e renda; promove, ainda, mudanças na relação de trabalho onde não há empregados e patrões, e sim pessoas que trabalham coletivamente e que se responsabilizam pelo processo de gera-ção de renda, fazendo da economia solidária uma nova forma de se organizar e produzir possibilitando a subsistência dos que a praticam.

Desafios e perspectivas para as relações de cooperação no contexto de desenvolvimento da região centro-sul do Paraná

Camila de Almeida PermegianiMarcos de Castro

Antônio João Hocayen-da-Silva

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22 Desafios e perspectivas para as relações de cooperação no contexto de desenvolvimento da região centro-sul do Paraná

Discute-se, por meio do texto, a importância dos empreendimentos solidários no contexto nacional e busca-se compreender os desafios e as potencialidades das rela-ções de cooperação na mesorregião Centro-Sul do estado do Paraná, caracterizada por desigualdades entre as cidades e a população, provocadas pelo irregular desen-volvimento regional do estado. Destacam-se, ainda, as perspectivas nas relações de cooperação e como a forma de empreendimento pode ser vista como alternativa ao desemprego, uma fonte complementar de renda ou para obter maiores ganhos com a atividade associativa.

2. Desenvolvimento regional e economia solidária

As atividades associativistas para Richard Owen se sobressaem a ideia da transforma-ção social das relações de produção capitalista e sua substituição pelos princípios socialis-tas de igualdade e solidariedade baseando-se no ideal de autogestão e de controle operário sobre a produção (SINGER, 2000).

Segundo Oliveira e Verardo (2007), entende-se por economia solidária a perspec-tiva de desenvolvimento econômico e social baseada em novos valores culturais e em novas práticas de trabalho e de relação social. O desenvolvimento não se limita ao cres-cimento econômico, mas também envolve o social, o cultural, o político e o afetivo a partir da dinâmica local, sendo a economia solidária compreendida como uma estra-tégia de promoção do desenvolvimento atuando na inserção da cooperação ao invés da competição, da inteligência coletiva ao contrário do individualismo, visando à susten-tabilidade, à justiça econômica, social, cultural e à democracia participativa. Assim, a atividade cooperativista mostra-se capaz de promover uma nova racionalidade econô-mica, preparada para auxiliar os empreendimentos por meio de resultados materiais e ganhos extraeconômicos.

Segundo Costa (2007), o desenvolvimento é um sistema de mudanças econômi-cas, políticas e sociais que definem a participação da comunidade nas relações asso-ciativas e na tomada de decisões que conduzem ao bem-estar dos seus habitantes, as-sim, para o sucesso dos empreendimentos são necessários incentivos para inovações e investimentos em educação e novas tecnologias, condições eficientes de produção e distribuição.

Nas discussões teóricas sobre economia solidária podem ser apresentados alguns de-fensores de tais teorias como Jean Louis Laville, que defende o princípio da reciprocidade, no qual práticas como criação e manutenção de empregos, a produção e comercialização coletiva, entre outras, cooperaram para reconstruir o econômico a uma sociedade mais democrática e igualitária. Deste modo, a economia solidária estaria emergindo como fruto, ao mesmo tempo, da crise da sociedade salarial e do processo de terceirização da economia (LEITE, 2009).

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As formas de produção baseadas na reciprocidade emergiriam, assim, como formas de resistência ao mercado, resultantes de ações coletivas que, diferentemente das filantrópicas, seriam capazes de promover a solidarie-dade democrática, a democratização da economia (LEITE, 2009, p. 4).

Logo, o princípio da reciprocidade consiste em uma forma de agir economicamente com dinâmicas de iniciativas privadas com a finalidade do não lucro, mas com interesse coletivo baseado nos vínculos sociais e solidários.

Para Coraggio (2000), a economia solidária ganha outra vertente, a da economia do trabalho entendida como economia social, que busca a criação de bens coletivos e não somente de interesses individuais. Assim, Coraggio defende que a precariedade de empre-go e a incapacidade do capitalismo atual em inserir trabalhadores em empreendimentos estaria levando a população excluída a buscar formas de subsistência na economia domés-tica e na melhoria da qualidade de vida com base no desenvolvimento das capacidades e das oportunidades sociais das pessoas. Propondo, assim, “com audácia, mas responsavel-mente, tudo aquilo que pode ser feito para transformar a economia dos setores populares num sistema de economia do trabalho” (CORAGGIO, 2000, p. 8).

A economia solidária une capital ao trabalho tendo caráter oposto ao capitalismo, sendo assim, uma estratégia possível de luta contra as desigualdades sociais e o desem-prego. A definição de economia solidária está enlaçada com a relação entre o trabalhador e os meios de produção, baseando-se na igualdade e na democracia. Para Singer, as coo-perativas são resultado da crise do trabalho assalariado, do socialismo real e da social-de-mocracia, e sua finalidade básica não é maximizar lucro, mas a quantidade e a qualidade do trabalho (SINGER, 2000).

É possível considerar a organização de empreendimentos solidários o início de revoluções locais, que mudam o relacionamento entre os co-operados e destes com a família, vizinhos, autoridades públicas, reli-giosas, intelectuais etc. Trata-se de revoluções tanto no nível individual como no social. A cooperativa passa a ser um modelo de organização democrática e igualitária que contrasta com modelos hierárquicos (SINGER, 2000, p. 9).

Portanto, é possível entender que Singer é defensor da oposição entre a solidariedade e o individualismo competitivo predominante na sociedade capitalista. A igualdade de direitos e a distribuição igualitária seriam o ideal empreendimento solidário representa-do pelo cooperativismo na esfera de trabalho e vida social.

Em um contexto mundial, as primeiras experiências associativistas se deram como forma de proteção social na primeira metade do século XIX, na Europa. Enquanto no

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Brasil, os empreendimentos autogestionários tiveram seu avanço inicial com o excedente de mão de obra verificado no período de industrialização. Sendo a economia solidária responsável pela forma de organização democrática e igualitária que essa mão de obra se constituiu, além de responder pelas novas relações de trabalho, contribuindo como uma alternativa real de novas oportunidades de trabalho e de rendimento provocando, assim, melhorias na condição de vida da população local.

A proliferação da economia solidária no Brasil é apresentada desde a década de 1980, e sua manifestação deu-se como uma reação à crise estrutural deste período. Assim, essa forma de empreendimento foi vista como uma alternativa ao desemprego, uma fonte complementar de renda ou como uma opção para obter maiores ganhos com a atividade associativa. Na década de 1990, o Brasil passou por um período de integração do capital social com os poderes públicos e atores locais a fim de promover o desenvolvimento local e a relação independente. Para isso, foi necessário identificar o potencial da localidade, com o objetivo de ofertar oportunidades de renda, conhecimento, participação e poder (BENINI, 2008).

Em 1997, por meio da integração entre iniciativa privada, sociedade e governo, criou-se uma nova visão integrando meio ambiente, economia e necessidades sociais denominada desenvolvimento local integrado e sustentável, que defende a utilização dos recursos de forma cautelosa, evitando indesejáveis problemas futuros de ordem social, política e econômica. O desenvolvimento local é o resultado de iniciativas da comuni-dade em construir parcerias internas e externas, promover a interdependência, tomar decisões eficientes, diagnosticar e avaliar ações que promovam seu progresso (TAUILE; RODRIGUES, 2004).

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (2010), os principais moti-vos de criação de empreendimentos solidários são: alternativa ao desemprego, com-plemento de renda, melhores ganhos com ação associativa, possibilidade de gestão coletiva e condição para acesso a crédito. As diversas formas de empreendimentos solidários se expandiram durante as últimas décadas devido ao apoio ao crédito, ao acompanhamento e assistência técnica, juntamente com a cooperação, solidariedade, autogestão e ação econômica. Pesquisa que ainda delata a fonte dos recursos iniciais dos empreendimentos que, geralmente, se iniciam com recursos dos próprios sócios, de doações e crédito.

[...] a enorme diversidade de configurações socioeconômicas e cultu-rais, assim como as dotações de recursos que prevalecem em diferentes regiões nos níveis micro e meso, inviabilizam a aplicação de estraté-gias generalizadas uniformes de desenvolvimento pelas diferenças em seus contextos étnicos, econômicos, sociais, culturais, geográficos entre outros, que não podem ser ignorados ou desrespeitados simplesmente (COSTA, 2007, p. 32).

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O progresso local visa expor e superar as limitações de cada comunidade propondo a utilização de suas potencialidades produtivas para gerar crescimento e desenvolvimento econômico, além de políticas participativas de inclusão social para o melhoramento da qualidade de vida por meio da criação de mercados locais (COSTA, 2007).

3. Economia solidária e cooperativismo

A presença crescente de empreendimentos solidários como grupos informais, asso-ciações e empresas de trabalhadores, tem suas raízes situadas no século XIX, na Europa, onde o cooperativismo moderno teve início na Revolução Industrial, no século XVIII. A migração do campo para a cidade provocou o excesso e, consequentemente, explo-ração de mão de obra. Assim, na Inglaterra e na França, foram organizadas sociedades tendo como propostas ideais de ajuda mútua, igualdade, associativismo e autogestão. Em 21 de dezembro de 1844, na Inglaterra, foi fundada a primeira cooperativa nos arredores da cidade de Manchester, em Rochdale, onde um grupo de 28 tecelões se uniu para comprar em conjunto itens de primeira necessidade. Chamava-se “Socie-dade dos Probos Pioneiros de Rochdale”. Cada um dos 28 tecelões entrou no negócio com uma Libra. Em um ano o capital da organização chegou a 180 Libras. Os tecelões desenvolveram um conjunto de princípios que foram escolhidos posteriormente pelas cooperativas que surgiram. Os princípios adotados foram: adesão livre e voluntária, gestão democrática pelos cooperados, participação econômica dos membros, autono-mia e independência, educação, formação, informação, intercooperação e interesse pela comunidade (MONEZI, 2008).

Maurer Jr. (1996) e Singer (2004) afirmam que a cooperativa de Rochdale, bem como as primeiras cooperativas, não possuía funcionários, os próprios cooperados se reveza-vam nas atividades da cooperativa. Na medida em que realizavam o trabalho e partici-pavam das decisões, pode-se considerar que nestas cooperativas a autogestão era uma prática adotada, pois não havia separação entre concepção e execução do trabalho.

Na Alemanha, o cooperativismo teve início com o surgimento das cooperativas de crédito, que tinham o objetivo de fornecer pequenos empréstimos ou financiamentos des-tinados a atender às necessidades da produção. Essas cooperativas não eram de origem popular, como na Inglaterra, mas surgiram da organização e do trabalho de Hermann Schulze e Friederich W. Raiffeisen, oriundos da administração pública (CANÇADO, 2005). A doutrina alemã conceitua cooperativa como sociedade de número não fechado de sócios, a qual visa ao fomento da indústria e economia de seus membros, mediante a exploração de negócios em comum (VILELA, 2007).

Segundo Cançado (2005), o cooperativismo francês começa pela tentativa de criar sociedades produtoras constituindo as primeiras cooperativas de produção, influenciadas

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pelas ideias de Charles Fourrier (1772-1837), idealizador dos Falanstérios, comunidades que abrigariam centenas de famílias onde seria promovida a abundância e a igualdade.

A partir desse período o cooperativismo se espalha pela Europa, chegando à Suíça (1851), Itália (1864), Dinamarca (1866), Noruega (1885), e Suécia (1899). Em cada um des-tes países, o cooperativismo se desenvolveu e tomou grande importância econômica. Pos-teriormente, o cooperativismo, a partir de seu berço europeu, espalhou-se pelo mundo, chegando até mesmo ao Japão, nos fins do século XIX, por meio do Visconde Shinagawa e do Conde Hirata (MAURER Jr., 1996).

Para Vilela (2007), o mais alto princípio ao qual se subordina, inalteravelmente, a ação cooperativa, é o de que a cooperativa não existe para explorar serviços no seu próprio in-teresse, mas para prestá-los desinteressadamente aos seus membros, os cooperados.

Trata-se da realização prática, no âmbito cooperativo, da regra conhe-cida como princípio de dupla qualidade. A empresa cooperativa não tem existência autônoma; sua natureza é eminentemente instrumental; criada, substancialmente, para servir aos sócios, viverá enquanto e na medida em que os mesmos dela se servirem (FRANKE, 1973).

Como Kreutz (2004) observa, as primeiras ideias cooperativistas surgiram, sobre-tudo, na corrente liberal dos socialistas utópicos do século XIX e nas experiências que marcaram a primeira metade do século XX. Estes pensadores surgiram na Inglaterra e na França, isto é, nos países pioneiros do progresso intelectual e do desenvolvimento in-dustrial da época moderna. Kreutz (2004, p. 5) cita os socialistas que maior exerceram influência sobre o cooperativismo, os quais são:

i) Robert Owen (1772-1858). Inglês, considerado o pai do cooperativis-mo. Lutou contra o lucro e a concorrência, por considerá-los os princi-pais responsáveis pelos males e injustiças sociais. Investiu em inúmeras iniciativas de organização dos trabalhadores; ii) Charles Fourier (1772 – 1858). Francês, foi idealizador das cooperativas integrais de produção, criando comunidades onde os associados tinham tudo em comum. Es-sas comunidades eram chamadas de falanstérios; iii) Luis Blanc (1812 – 1882). Francês, foi um grande político que se preocupou com o direito ao trabalho, defendendo a liberdade baseada na educação geral e na formação moral da sociedade; iv) Charles Gide (1847 – 1932). Francês, é conhecido mundialmente por suas obras sobre economia, política e cooperativismo. Fundador da “Escola de Nimes”, na França, que mui-to contribui com a produção do conhecimento sobre o cooperativismo mundial; v) Philippe Buchez (1792 – 1865). Nasceu na Bélgica, buscou criar um cooperativismo autogestionado, independente do governo ou

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de ajuda externa. Na França ele tentou organizar “associações operárias de produção”, que hoje são chamadas de cooperativas de produção; vi) Willian King (1786 – 1865). Também inglês, tornou-se médico famoso e se dedicou ao cooperativismo de consumo. Engajou-se em prol de um sistema cooperativista internacional; e vii) John Bellers (1654 – 1725). Nasceu na Inglaterra e tentou organizar cooperativas de trabalho para terminar com o lucro e as indústrias inúteis.

As formas de economia solidária no contexto mundial tiveram sua expansão a partir do século XVIII e tiveram como idealizadores grandes pensadores socialistas, além de grandes revoluções sociais que contribuíram para que o trabalho organizado com bases cooperativas e em regime de autogestão fosse visto como desenvolvimento social e econô-mico agregado ao trabalho conjunto.

4. Economia solidária e cooperativismo no Brasil

O início das atividades cooperativas no país teve a contribuição e participação dos co-lonos europeus, responsáveis por difundir esse modelo que teve origem com a resistência à exploração do trabalho, hoje se observa que o trabalho cooperativo cresce a passos lar-gos ao redor do mundo. No Brasil, o cooperativismo desempenha um importante papel, tanto nos aspectos sociais, quanto econômicos.

Andrade (2005), salienta que as organizações cooperativas pioneiras no Brasil foram as de Rio dos Cedros – SC (1889), Ouro Preto – MG (l889), Limeira – SP (l891) e Cama-ragibe – PE (l894).

No decorrer do século XIX, com a chegada de imigrantes alemães e ita-lianos, essas iniciativas foram mais frequentes. Muitas das comunida-des que se formara no território nacional, em especial no Sul do país, tentaram resolver seus problemas de consumo, crédito, produção e edu-cação, criando organizações comunitárias, aos moldes das que conhe-ceram em suas pátrias de origem (KREUTZ, 2004, p. 18).

Em 1902, surgiram as cooperativas de crédito no Rio Grande do Sul. Nesta inicia-tiva, um grupo de sócios aprovou o estatuto da Sparkasse Amstad (Caixa de Economia e Empréstimos, também conhecida como Caixa Rural), por iniciativa do padre suíço Theodor Amstadt (MUNDOCOOP, 2009). A partir de 1906, os imigrantes, muitos de origem alemã e italiana, deram início às cooperativas no meio rural, idealizadas por produtores agropecuários.

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Para Kreutz (2004), principalmente nas décadas de 50 e 60, o cooperativismo teve relativa expansão no Brasil, destacando-se o cooperativismo agropecuário. Atualmente com mais de 5.600 cooperativas, o cooperativismo atua em variados setores da economia, estendendo-se a diversos segmentos da sociedade brasileira, com relativa expressão de crescimento no setor urbano. Campos (2000) ressalta que na época do regime militar brasileiro, o governo passou a retirar incentivos e pressionou, assim, as cooperativas a assumirem um aspecto de grande empresa.

Na década de 90 o avanço tecnológico promoveu o desenvolvimento do cooperati-vismo agroindustrial e o cooperativismo de crédito, abrangendo não somente o campo, mas promovendo o surgimento nas cidades (MOTTA, 2005). A partir deste momento, crescentes medidas voltadas à promoção e geração de emprego e renda despontam como forma alternativa, dentre elas a economia solidária e a formação de cooperativas, muitas vezes amparadas por movimentos sociais, universidades e outras entidades que passam a apoiar tais empreendimentos. Exemplos desses empreendimentos solidários são: Cáritas Brasileira, entidade associada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pos-sui desde o início dos anos de 1990 um conjunto de incubadoras de cooperativas espalha-das pelo país, sobretudo no Rio Grande do Sul. Outro exemplo é a Associação Nacional de Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Co-gestão (ANTEAG), com fundação em 1994, a partir da iniciativa de um setor sindical, tem a finalidade de apoiar experiências já existentes, especialmente em termos de assessoria técnica (LEITE, 2009).

A propósito, as Incubadoras Universitárias tiveram grande participação em empre-endimentos solidários. A primeira Incubadora Universitária surgiu em 1998, como uma iniciativa do Centro de Pós-Graduação em Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, que mais tarde promoveu a difusão do modelo de incubadora universitária com o objetivo de mostrar a experiência do COPPE pelas universidades do país e de vincular as incubadoras de forma interativa e dinâmica e como forma de trans-ferência de tecnologias e conhecimentos.

Destaca-se ainda que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) possui três entidades ligadas à economia solidária: a Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), que tem como missão “promover a constituição, fortalecimento e articulação de empreendimen-tos autogestionários, buscando a geração de trabalho e renda por meio da organização econômica, social e política de trabalhadores inseridos em processos de desenvolvimen-to sustentável” (ADS, 2010); a Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol), que tem como objetivo “organizar, representar e articular, de forma ampla e transparente, as cooperativas, associações e outros empreendimentos autogestionários da economia solidária, resgatando e promovendo a intercooperação, a igualdade social e econômica, a dignidade humana e o desenvolvimento sustentável” (UNISOL, 2010); e, por fim, a Cooperativa Central de Crédito e Economia Solidária (Ecosol), que tem como objetivo geral organizar uma rede de instituições financeiras locais de caráter coletivo e solidário para dinamizar o desenvolvimento local.

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5. Economia solidária e cooperativismo no Paraná

A intensificação das atividades cooperativas promoveu uma participação cada vez maior nas atividades econômicas do país, isso devido a mecanismos que estimulam o contínuo crescimento do cooperativismo. No contexto paranaense, o Sindicato e Orga-nização das Cooperativas do Estado do Paraná – OCEPAR (2010) ressalta que a grande diversidade étnica no estado deu origem ao cooperativismo com os imigrantes europeus, que procuraram organizar suas estruturas de compra e venda em comum. Isso provocou a expansão das fronteiras agrícolas e o desenvolvimento econômico e social do Paraná. O cooperativismo paranaense é formado por 238 cooperativas registradas na OCEPAR que agrupam mais de 500 mil associados.

De acordo com a OCEPAR (2010), a atividade cooperativa vem obtendo crescimento constante nas atividades, pois “o crescimento do cooperativismo vem sendo relevante nos últimos anos. Entre 2001 e 2008, o número de cooperativas aumentou apenas 23,3%, entretanto, o número de cooperados cresceu 103%”.

Assim, a expansão do cooperativismo na economia paranaense e a influência nos seus ciclos econômicos promoveram o fortalecimento e a expansão das atividades coo-perativas em todos os setores, contribuindo com o desenvolvimento social e a melhoria da qualidade de vida. Promovendo o aprimoramento cultural, artístico, de lazer, saúde e tecnologia, além de melhores métodos de produção.

As vantagens competitivas, a agregação de valores aos produtos e a responsabilidade social proporcionaram não só o crescimento quantitativo das cooperativas do Paraná, mas também qualitativo, no qual os investimentos em capitação e gestão, busca de mer-cados, desenvolvimento de produtos e serviços, tornam as cooperativas paranaenses cada vez mais fortes (OCEPAR, 2010).

6. Empreendimentos autogestionários

A autogestão discursa sobre o controle e a gestão do processo e da organização do trabalho, ou seja, a administração da empresa é feita pelos participantes em regime de democracia direta, onde todos participam das decisões administrativas em igualdade de condições. Assim, segundo a Associação Nacional de Trabalhadores em Empresas de Au-togestão e Participação Acionária (ANTEAG) autogestão se define como:

Uma forma de organização coletiva cujo elemento essencial é a de-mocracia. Ela se realiza na comunidade, escola, empresa, etc. Po-demos dizer que a autogestão é a radicalização da democracia, no sentido de envolver a participação integral dos membros do grupo,

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acesso total às informações, conhecimento dos processos e, sobretu-do, autonomia e autodeterminação (ANTEAG, 2010).

A autogestão é uma das formas particulares de economia solidária, que pode ser constituída a partir de uma empresa ‘Ltda’, sociedade anônima (S/A), cooperativas, as-sociação de trabalhadores, entre outras. Assim, no Brasil, os empreendimentos autoges-tionários se difundiram a partir da década de 1990, onde trabalhadores de empresas em estado falimentar se associaram como forma de manter o funcionamento das empresas em regime de cooperativas. Logo, em 1994, surgiu a ANTEAG (Associação Nacional de Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária) responsável por assessorar empreendimentos de autogestão em diversas partes do país que tem como missão a promoção da construção, divulgação e desenvolvimento de modelos autoges-tionários e o desenvolvimento do trabalho e da renda, estimulando ações solidárias (TAUILE; RODRIGUES, 2004).

O surgimento de empreendimentos autogestionários derivou-se por meio de for-mas de ocupação e trabalho social. Entre essas formas que deram origem ao regime de autogestão estão: a criação de postos de trabalho e renda, promovendo a inclusão social e econômica a partir da auto-organização; o arrendamento judicial, onde em-presas falimentares ou pré-falimentares passam a ser administradas por trabalha-dores organizados em gerir a produção a partir de uma estrutura autogestionária; a reconversão para autogestão de cooperativas e/ou associação de produtores, antes organizadas em cooperativas ou associações sem a devida ênfase ao processo de ges-tão democrática e participativa de seus sócios, passando a integrar o universo da Economia Popular Solidária. Assim, a economia solidária refere-se a um conjunto de elementos de fomento e suporte, e os empreendimentos autogestionários às empresas formalmente constituídas ou grupos com potencial de constituição (TAUILE; RO-DRIGUES, 2004).

No Brasil, em variados setores da produção, há empresas autogestionárias que utili-zam a administração e gerenciamento baseado na democracia e na igualdade de direitos e responsabilidades. Por esse motivo são importantes para a inclusão e o desenvolvi-mento local, na melhoria da qualidade de vida da população excluída e na formação para cidadania. Mesmo as sociedades juridicamente de capital, como as Sociedades Anônimas (S.A.) ou Limitadas (Ltda.), sendo autogestionárias, preservam caracteriza-ções das sociedades de pessoas, como as cooperativas, pois, estatutária ou contratual-mente, preservam elementos de democracia e igualdade entre os trabalhadores associa-dos (TAUILE; RODRIGUES, 2004).

Para que a emancipação social ocorra é necessário o desenvolvimento de políticas públicas. Ações do poder público em sintonia com as organizações sociais com o objetivo de promover o desenvolvimento de estratégias de economia solidária para a superação da pobreza e exclusão social. Tais iniciativas geram postos de trabalho e renda, contribuindo

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com a elevação do bem-estar da população e com seu desenvolvimento econômico e so-cial (LEMES; BASSO, 2009).

A organização dos empreendimentos autogestionários visa o fortalecimento de as-sociações, cooperativas, grupos informais, empresas de autogestão, grupos solidários, redes solidárias, clubes de trocas entre outros que realizam atividades econômicas como produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, comércio justo e consumo solidário (COSTA, 2007).

A autogestão, em contraposição à gestão heterônoma (capitalista), distribui a renda gerada pela atividade empresarial de maneira apro-ximadamente igualitária entre todos que a realizam, em lugar de concentrar grande parte dela nas mãos dos proprietários do capital (SINGER, 2004, p. 2).

Um novo contexto sem empregados e patrões gera produção, trabalho e renda, por meio da conscientização de que cada um é dono do processo. As redes e cadeias da econo-mia solidária articulam outro modo de relação de produção, comércio e consumo entre as pessoas, grupos e empreendimentos. Possibilitando a transformação social por meio de parcerias solidárias com a preocupação com o bem-estar e não apenas com a lucrativida-de (SOFTWARE LIVRE, 2010).

O Fórum Brasileiro de Economia Solidária, FBES, derivou-se do I Fórum Social Mundial, realizado em 2001, onde um dos temas tratados era de Economia Popular Soli-dária e Autogestão, que discutia a auto-organização dos trabalhadores, políticas públicas e das perspectivas econômicas e sociais de trabalho e renda. Assim, em 2003 foi criado o FBES, que gera a integração de três segmentos do movimento de Economia Solidária – ES: empreendimentos solidários, que são organizações que exercem coletivamente a gestão das atividades; entidades de assessoria e fomento, que desenvolvem ações nas várias mo-dalidades de apoio direto junto aos empreendimentos solidários; e gestores públicos, que elaboram, executam, implementam e/ou coordenam políticas de economia solidária de prefeituras e governos estaduais (FBES, 2010).

Segundo o anuário do Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda divulgado em 2009 e realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconô-micos – DIEESE, o Brasil possuía em torno de 21.857 empreendimentos solidários que distinguiam na área de atuação em rural, rural e urbana e urbana, e na forma de organi-zação como grupo informal, associação, cooperativa e sociedade mercantil. O expansivo crescimento de empreendimentos solidários no decorrer das décadas mostra o sucesso de uma nova forma de economia.

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32 Desafios e perspectivas para as relações de cooperação no contexto de desenvolvimento da região centro-sul do Paraná

Gráfico 1 – Número empreendimentos por forma de organização/Brasil 2005/2007.

Fonte: Secretaria Nacional de Economia Solidária – DIEESE (2010).

Assim, a autogestão lança mão do modelo tradicional de gestão e aponta a competência para todos que integram a sociedade, tornando-a democrática, onde cada um dispõe de um voto, onde as relações são cooperativas tendo em vista o desenvolvimento do trabalho e do coletivo.

7. Contexto econômico e social da região Centro-sul do Paraná

Percebe-se no contexto econômico do estado do Paraná, uma evolução histórica ca-racterizada por rápidas, profundas e constantes mudanças. Magalhães Filho (1993) faz uma abordagem histórica da economia paranaense. Na década de 1960 a economia para-naense passou por uma transformação a fim de criar instrumentos para integrar, diversi-ficar e promover o crescimento da economia, o que culminou em ações de crescimento na década de 1970 estimuladas pelo crescimento da economia brasileira como, por exemplo, a população paranaense urbana se tornou maior do que a rural e o aumento da área cul-tivada, obtida com intensa capitalização agrícola.

As transformações na agricultura, conjuntamente com o desenvolvimento do merca-do nacional e de exportações, provocaram o crescimento industrial de atividades como a produção de máquinas e implementos agrícolas, corretivos de solos e fertilizantes, cimen-to e caminhões, material elétrico e da indústria do fumo. Na década seguinte, de 1980, a integração do setor industrial paranaense com a indústria nacional possibilitou o forte dinamismo em gêneros como material elétrico e de comunicações, equipamentos para tratamento de informações e transmissão; mecânica leve e máquinas agrícolas; papel e papelão, química e material de transporte (LEÃO, 1991).

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33Camila de Almeida Permegiani, Marcos de Castro e Antônio João Hocayen-da-Siva

Na década de 1990, a economia mostrou-se diferenciada, apesar da agricultura ser destaque economicamente, com a adoção de processos industriais com maior produtivi-dade, com a criação e diversificação de novos produtos no segmento de carne, café solú-vel, óleos vegetais, laticínios e fiação derivado do cooperativismo (IPEA, 2007).

Em um contexto regional, a mesorregião Centro-Sul do estado do Paraná é carac-terizada pelas desigualdades entre as cidades e a população, provocadas pelo irregular desenvolvimento regional do estado, em especial a partir dos anos de 1950, onde houve a mais intensa heterogeneidade regional com a modernização da agricultura; os limi-tes para expansão das atividades por conta das questões de ordem natural; as diferen-ciações regionais e a proximidade com o eixo mais industrializado no Paraná, além das disparidades entre os núcleos urbanos, pela mudança na economia rural e urbana (SCHMIDT, 2007).

A mesorregião teve sua história de ocupação por meio da propagação de grandes pro-priedades rurais que se desenvolveram essencialmente com atividades de cunho extensivo e extrativo. Atraída pela existência de áreas economicamente subutilizadas populações oriun-das do norte e oeste do Paraná se estabeleceram na região, que é considerada uma das menos urbanizadas do estado com uma pequena base populacional e baixa densidade de ocupação.

Os municípios do Centro-Sul apresentam IDH-M abaixo da média pa-ranaense, sendo o índice de renda per capita o que registra condições mais críticas. A dificuldade de geração de emprego na mesorregião re-f lete-se no fato de 1/3 das famílias residentes encontra-se em situação de pobreza. Sete dos dez municípios mais pobres do Paraná situam-se no Centro-Sul (SESC/PR, 2010).

Segundo dados do IPARDES (2003) e análise de Vestena e Schmidt (2009, p. 344), os municípios são classificados segundo sua tipologia. Assim como mostra o quadro 2 abai-xo, os municípios da mesorregião Centro-Sul são classificados como:

Municípios de baixo grau (65,52%), que apresentam base econômica rural, precárias condições de saneamento e moradias, com representação urbana baixa e com mais de 90% da população ocupada na agricultura. Os muni-cípios de tipologia média-baixa (24,13%) ocupam mais de 60% das pessoas em domicílios rurais pobres, possuem baixa densidade, ocupação no cam-po e moradia urbana. No município classificado como médio (3,45%), há boas condições de saneamento, economia voltada à agricultura, baixa den-sidade demográfica e boas condições de moradia. Já os municípios classifi-cados como médio-altos (6,9%) possuem características como: a população urbana é maior que a rural e a economia é voltada à agricultura.

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34 Desafios e perspectivas para as relações de cooperação no contexto de desenvolvimento da região centro-sul do Paraná

Quadro 2 – Tipologia dos municípios da mesorregião Centro-sul (1991/2000).

Características Municípios Número %

Baixo Grau

Mato Rico, palmital, Santa Maria d’Oeste, Boa Ventura de São Roque, Turvo, Campina do Simão, Goioxim, Cantagalo, Marquinho, Laranjal, Nova Laranjeiras,

Espigão Alto do Iguaçu, Quedas do Iguaçu, Rio Bonito do Iguaçu, Porto Barreiro, Coronel Domingos Soares,

Honório Serpa, Clevelândia, Inácio Martins.

19 65,52

Médio BaixoPinhão, Reserva do Iguaçu, Mangueirinha, Candói,

Laranjeiras do Sul, Virmond, Pitanga.07 24,13

Médio Foz do Jordão. 01 3,45

Médio Alto Guarapuava, Palmas. 02 6.90

Fonte: IPARDES (2003); Schmidt (2007).

A partir da década de 1970, com a intensiva urbanização o município de Guarapuava, o qual ganha destaque na mesorregião, caracterizou-se pela concentração de renda e pela expansão da pobreza, possibilitando a inserção da população no mercado de trabalho (VESTENA; SCHMIDT, 2009).

Concentradas em Guarapuava, as ocupações industrial e terciária não têm alcançado di-namismo suficiente para absorver a população ativa, com isso, Guarapuava apresenta a maior taxa de pessoas desocupadas da mesorregião, além de possuir um elevado contingente de po-bres. O processo de mudança levou a uma problemática socioambiental em decorrência das relações de produção onde o capital se sobrepõe às questões sociais e ambientais (SESC, 2010).

A região estudada em questão apresenta um sistema agrosilvopastoril tradicional, chamado de faxinais, ou seja, é um sistema de produção agrícola comunitário, onde é realizado o uso comum da terra, dos recursos florestais, com a manutenção de uma área de mata nativa e dos recursos hídricos (SCHUSTER; CUNHA, 2008).

A ocupação da região Centro-Sul Paranaense se deu diferentemente das outras regi-ões do Estado, que contaram com uma forte concentração de investimentos e de mercado, diferentemente da região destacada que foi fracamente desenvolvida tendo como base a concentração fundiária, com latifúndios, pecuária tradicional e indústrias primárias na exploração da madeira (SCHMIDT, 2007).

Tabela 1 – População residente – total/habitante.

1980 1991 1996 2000 2007

Paraná 7.629.849 8.448.713 9.003.804 9.563.458 10.284.503

Centro-Sul Paranaense 484.245 501.428 526.914 533.317 543.564

Fonte: Anuário do Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda/DIEESE (2009).

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35Camila de Almeida Permegiani, Marcos de Castro e Antônio João Hocayen-da-Siva

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2007), a mesorregião Centro-Sul, representada pela figura 2, é constituída por três microrregiões: Guarapuava, Pitanga e Palmas, que juntas constituem 5,3% da população do Estado do Paraná, ou seja, abrigam mais de 550 mil pessoas.

Figura 2 – Mapa da microrregião Centro-sul do Paraná.

Fonte: IBGE (2010).

Apesar de ser uma região com características socioeconômicas marcada pelos me-nores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) municipais da Região Sul do país, o município de Guarapuava concentra a maior parte da mão de obra empregada da região e sua arrecadação é a principal geradora da receita da mesoregião, enquanto os outros municípios dependem da ajuda do governo federal, que age por meio do repasse de re-cursos financeiros.

8. Configuração atual das relações de cooperação na região Centro-sul do Paraná

As aglomerações geográficas e/ou setoriais tipicamente de micro e pequenas em-presas têm se tornado objeto de políticas e estudos industriais nas últimas duas déca-das, em vários países, inclusive no Brasil. Essas aglomerações, chamadas por diversos autores de arranjos produtivos locais ou sistemas locais de inovações incluem diversas

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36 Desafios e perspectivas para as relações de cooperação no contexto de desenvolvimento da região centro-sul do Paraná

atividades produtivas interagindo entre si, em um processo de aprendizagem tecnológi-ca onde ocorrem inovações em produtos e processos. Esses arranjos com especificidade local enfatizam as relações econômicas e técnicas entre diversos atores, contribuindo na geração de renda e emprego; redução dos desequilíbrios regionais; aproveitamento de potencialidades e vocações locais; e promovendo aumento da competitividade em-presarial. Para isso, faz-se necessário ações de articulação, sensibilização e mobilização entre atores dos diversos segmentos da sociedade local, para estabelecer parcerias e compromissos com o objetivo de manter e especializar os investimentos de cada um dos atores no próprio território e promover uma integração econômica e social no âmbito local (VECCHIA, 2006).

Para que se efetive o desenvolvimento regional, os investimentos no desenvolvimento local e inclusão social por meio da sustentabilidade devem ser entendidos como equi-dade distributiva, que compartilha oportunidades de desenvolvimento entre gerações, assegurando equidade geracional de oportunidades. Dentre os fatores sociais, políticos, culturais e econômicos, a sustentabilidade é um dos componentes essenciais para o pa-radigma do desenvolvimento humano, proporcionando, além da equidade (igualdade de oportunidades e não necessariamente de resultados), produtividade (investimento huma-no e macroeconômico) e empoderamento (retirar as pessoas e nações pobres de situações de caridade permanente) (SANTOS et al., 2009).

Os altos índices de desemprego e informalidade e a revolução tecnológica resulta-ram na descoberta de uma nova economia, a economia popular, que criou a possibili-dade de melhoras na qualidade de vida, por meio de empreendimentos coletivos, auto-gestionários e produtivos, que encontram nesse tipo de organização uma alternativa de motivação e trabalho.

A economia solidária no contexto regional propicia mudanças nas relações in-terpessoais, gera renda e trabalho e promove a cooperação ao invés da competição. Tem como um dos seus princípios a igualdade de poder na gestão do negócio, além da responsabilidade com a comunidade local, com a finalidade de promover o seu desenvolvimento. “A autogestão é o modelo básico de organização social do trabalho na economia solidária que sustenta a proposta de formação democrática de lideranças e gestão participativa no empreendimento cooperativo” (FERRANTE; LORENZO, 2007, p. 185).

Segundo o Atlas da Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, em 2007, o estado do Paraná possuía por volta de 808 empreendimentos solidários, sendo que 33 empreendimentos encontravam-se na mesorregião Centro-Sul. O mapeamento possibilitou identificar as micro-regiões onde os empreendimentos solidários estão con-centrados, localizados nas regiões de Londrina e Metropolitana de Curitiba, caracteriza-dos pelo grande contingente populacional, como mostra a figura 3.

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37Camila de Almeida Permegiani, Marcos de Castro e Antônio João Hocayen-da-Siva

Figura 3 – Distribuição dos empreendimentos de economia solidária no Paraná.

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego/Economia Solidária/Sistema Nacional de Informações em

Economia Solidária – BASE CARTOGRÁFICA: SEMA (2004).

A identificação possibilitou revelar as formas de organização dos empreendimentos no estado, apresentando um total de 808 empreendimentos, sendo 482 constituídos por grupos informais, 235 por associações, 86 por cooperativas e 5 por outras formas de or-ganização. A área de atuação desses empreendimentos está classificada como rural, mis-ta e urbana, sendo mista quando o empreendimento apresentar atuação conjuntamente nas áreas urbanas e rurais. No Paraná, a maior parte dos estabelecimentos solidários se concentra em meio urbano, 46,9%, seguidos por estabelecimentos localizados em meio rural, 32,67%, e, por fim, em ambientes mistos, 20,17%. Para a constituição dos empre-endimentos solidários compostos por uma grande diversidade de práticas econômicas e sociais, segundo o estudo, tem-se como motivos principais que levam à criação: a alter-nativa ao desemprego, obtenção de maiores ganhos em um empreendimento associativo, fonte complementar de renda e desenvolvimento comunitário de capacidades e potencia-lidades (MTE, 2007).

Para tais empreendimentos terem sucesso são necessários instrumentos que permi-tam sua competitividade e sustentabilidade, caracterizados pelos apoios recebidos duran-te a criação e a gestão. Assim, os tipos de apoio mais relevantes são: assistência técnica, qualificação profissional, formação sociopolítica, assessoria na constituição, formaliza-ção ou registro, além da assessoria em marketing e na comercialização de produtos e serviços. Muitas vezes o fornecimento de apoio aos empreendimentos se dá por meio de entidades como: órgãos governamentais, ONG’s, OSCIP’s, Igrejas, Sistema “S”, Universi-dades e incubadoras.

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38 Desafios e perspectivas para as relações de cooperação no contexto de desenvolvimento da região centro-sul do Paraná

Segundo o Atlas de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE (2007) e a análise de Zanchet (2008), a identificação das principais atividades econômicas apresentadas pelos empreendimentos solidários no Paraná correspondem em maior pro-porção àqueles inseridos na indústria de transformação, 62,3%, ou seja, 495 empreendi-mentos. Essas atividades correspondem à fabricação de artefatos e artigos têxteis; confec-ção de artigos do vestuário; fabricação de produtos alimentícios; fabricação de produtos de madeira; e, em menor proporção na agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal com 139 empreendimentos.

9. Desafios e perspectivas para as relações de cooperação na região Centro-Sul do Paraná

Como é de conhecimento a mesorregião Centro-Sul do Paraná possui caracterís-ticas subdesenvolvidas, o que inf luencia na atração de investimentos na região. Se-gundo o Ministério da Integração Nacional (2005), as atividades econômicas ganham força em áreas que apresentam melhores condições de infraestrutura, com recursos humanos qualificados e qualidade de vida da população aceitável, mostrando-se ade-quadas à instalação de empreendimentos modernos e à geração de maiores lucros. Em consequência, acirram-se as desigualdades sociais e regionais, aumentando a ne-cessidade de que se organizem políticas capazes de minorar seus efeitos negativos, estimulando transformações na economia e promovendo mudanças nas condições socioeconômicas da região.

O desenvolvimento da economia solidária se traduz em um modo diferente de gestão na produção, venda, compra e no trabalho. A economia sem patrão se fortalece com a prática social da cooperação e o pensamento no bem-estar de todos. A valorização do trabalho humano e a solidariedade promovem um enfrentamento para a superação da exclusão social por meio da geração de renda e do desenvolvimento regional (SOFTWA-RE LIVRE, 2010).

O alargamento de horizontes para o desenvolvimento regional tem como premissas a dotação de infraestrutura e políticas de fomento. To-davia, o desenvolvimento regional efetivo, seu conteúdo, sua forma, seu ritmo e sua capacidade de autossustentação no longo prazo resultam da capacidade local de empreender permanentemente a partir de “novas combinações de fatores”. Para tanto, os gestores devem se valer constan-temente da identificação de novas oportunidades de investimento que gerem postos de trabalho, divisas, impostos e, consequentemente, que fortaleçam a região (KREMER; KOVALESKI; FRANCISCO, 2005, p. 1).

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39Camila de Almeida Permegiani, Marcos de Castro e Antônio João Hocayen-da-Siva

A promoção no desenvolvimento de novos empreendimentos solidários e o fortaleci-mento dos que já existem são desafios a serem estimados. A manutenção e a criação de no-vos empreendimentos só serão possíveis por meio de parcerias entre o estado e a comuni-dade. O papel de agentes de desenvolvimento solidário é imprescindível quando se tem que explorar as potencialidades econômicas da localidade, fomentar novos empreendimentos e prestar assessoria aos que já existem como forma de manutenção (LEITE, 2009).

Um dos problemas dos empreendimentos solidários é garantir o escoamento da pro-dução e da prestação de serviços, por falta de meios financeiros e estruturais. Assim, a solução desse impasse seria a organização em arranjos produtivos locais ou cadeias produtivas, promovendo a comercialização em espaços específicos para produtos soli-dários, como a formação de feiras, shoppings, eventos, entre outros (BEATRIZ, 2007). Observar os processos produtivos e buscar maneiras de incorporar técnicas de acessos aos mercados, promovendo o crescimento de mecanismos de comercialização de forma ordenada e sustentável. Desse modo, faz-se necessário o acompanhamento e o plane-jamento estratégico nas áreas contábeis, administrativas, jurídicas e de comunicação (ALVES et al., 2009).

O bom resultado dos empreendimentos solidários depende de inúmeros fatores de disputas e conflitos, assim a diversidade de interesses e necessidades dos atores sociais envolvidos no processo juntamente com a falta de solidariedade e de colaboração no mo-vimento da Economia Solidária é um dos seus pontos frágeis. O que se observa é que os valores da cultura capitalista sobressaem-se, privilegiando interesses pessoais e/ou gru-pais em detrimento de um processo maior (BEATRIZ, 2007).

O contexto de Economia Solidária, percebido como sendo capaz de sustentar econô-mica e socialmente um país, também é remetido a um papel de mero coadjuvante desse processo, deixando claro que há fragilidades. Desse modo, algumas dificuldades e con-tradições do movimento da Economia Solidária no Paraná foram observadas. Uma das principais dificuldades é a necessidade de convencer a maioria da sociedade de que o movimento é relevante e necessário, pois contribui na geração de postos de trabalho. Por meio da Economia Solidária recuperam-se empresas falidas e organizam-se grupos ex-cluídos da sociedade, como grupos de mulheres, de catadores e recicladores de lixo e de agricultores familiares (BEATRIZ, 2007).

As organizações solidárias enfrentam, muitas vezes, os problemas, dificuldades e carências na geração de conhecimentos para a organização das cooperativas; falta de as-sistência qualificada e sistemática na organização cooperada; crescimento desordenado e não planejado, que se traduz no mero atendimento a demandas ou a respostas para os problemas externos; dificuldades na formação de lideranças; fragilidade na organização política dos agricultores; falta de investimentos públicos em pesquisas para desenvolvi-mento de mecanismos de organização e métodos adequados a especificidades das orga-nizações dos agricultores e dificuldade em encontrar técnicos e profissionais formatados para o trabalho com as especificidades destas organizações (ALVES et al., 2009).

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40 Desafios e perspectivas para as relações de cooperação no contexto de desenvolvimento da região centro-sul do Paraná

Faz-se necessário, ainda, reconhecer na mesorregião Centro-Sul do Paraná pos-sibilidades à vocação local, para organizar o processo de desenvolvimento coorde-nando ações de cooperação e a inovação por meio de um conjunto de atividades a serem desenvolvidas em regime de parceria entre os vários segmentos da sociedade. Essas possíveis alianças e parcerias com agentes externos buscam viabilizar a im-plantação e o fortalecimento do processo de sustentabilidade, procurando contribuir para a melhoria de vida e a inclusão social da comunidade (KREMER; KOVALESKI; FRANCISCO, 2005).

O principal objetivo da melhoria nas relações cooperativistas da região Centro-Sul é contribuir na geração de trabalho e renda, adotando práticas que possibilitem qualidade nos indicadores de desenvolvimento social e ambiental, com soluções sus-tentáveis e inclusivas, sempre em conjunto com parceiros, a fim de estimular a cria-ção de soluções para o desenvolvimento regional sustentável, agregando assistência técnica, novas tecnologias, capacitação e consultoria em todos os elos da cadeia de valor. Assim, o resultado que se espera promover é traduzido na inclusão social, por meio da geração de trabalho e renda; impulsionar o associativismo e o cooperati-vismo e contribuir para a melhora dos indicadores de qualidade de vida da região (CHRESTANI et al., 2008).

A ação integrada entre as parcerias na implementação de um empreendimento soli-dário seguida pelo planejamento e coordenação do processo, possibilita articular ações identificando as potencialidades da região fomentando um sistema de cooperação com atuação participativa e construtivista de modo que o empreendimento se fortaleça com base na sustentabilidade, competitividade e lucratividade (CHRESTANI et al., 2008). Para tanto, destaca-se a necessidade do apoio à organização dos empreendimentos, neste senti-do a presença do Estado pode ser um fator potencializador destas formas de ações como o desenvolvimento de assessoria para a capacitação, formação, qualificação e acompanha-mento; assistência técnica e organizativa; além do desenvolvimento e da disseminação de conhecimentos e tecnologias sociais (SIES, 2008).

Um dos desafios é que esses empreendimentos mantenham a gestão de forma cole-tiva, onde todos possuam poder de decisão, em que os níveis de confiança, cooperação e organização social se sustentem para que elevem o fortalecimento e assim promovam a propagação da economia solidária, atendendo a políticas integradas, visando à geração de trabalho e renda, à inclusão social e à promoção do desenvolvimento adequado e solidário (TAUILE; RODRIGUES, 2004).

A análise permite considerar, também, que os empreendimentos solidários existentes no estado do Paraná ainda possuem características de aparente instabilidade, pois em sua maioria são empreendimentos recentes e informais, sendo necessário para sua sobrevi-vência a organização das cadeias produtivas ao longo do tempo com o permanente apoio aos EES, para que possam ter uma economia competitiva e sustentável dentro de suas realidades e características específicas.

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10. Considerações finais

O estreitamento de laços proporcionado pela organização em grupo representa uma nova forma de economia que ganha cada vez mais adeptos no decorrer das décadas. Este modelo de economia, diferentemente do modelo capitalista que visa à competitividade e ao lucro, apresenta uma alternativa para o desenvolvimento econômico apontando como princípios de estruturação a solidariedade e a cooperação. Esses empreendimentos au-togestionários baseados em uma administração democrática e igualitária de direitos e responsabilidades inserem socialmente, distribuem renda, são responsáveis pela diminui-ção da pobreza, desemprego e melhoria da qualidade de vida da população excluída e no estabelecimento da cidadania.

O desenvolvimento da economia social e o progresso econômico, cultural e afetivo proporcionados fazem da economia sem empregadores e empregados um outro modo na relação de produção, comércio e consumo entre pessoas, grupos e empreendimentos. A combinação entre cooperação, autogestão e solidariedade traz benefícios aos participantes da economia solidária, onde o trabalho é valorizado e os resultados econômicos, políticos e culturais são compartilhados. Assim, alguns motivos para a criação dos empreendimen-tos são alternativas ao desemprego, complemento de renda e obtenção de maiores ganhos em uma iniciativa associativa. Os participantes devem estar comprometidos e serem cada vez mais participativos, dispostos a buscar diferentes alternativas de sobrevivência.

O desenvolvimento da região Centro-Sul do Paraná foi determinado por meio de desigualdades no progresso do Estado, onde a ocupação se deu com a difusão das pro-priedades rurais. O que se evidencia hoje é que esta região é caracterizada como subde-senvolvida, permitindo concluir que a região estudada possui um dos menores números de empreendimentos econômicos solidários das mesorregiões, tendo a necessidade e a potencialidade de agregar mais empreendimentos solidários possibilitando a promoção de trabalho e renda.

O apoio de órgãos competentes como a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) favorece a constituição e o fortalecimento, por meio do incentivo à cooperação, de redes solidárias a fim de que ações solidárias promovam a inclusão e a democratização da partilha dos bens comuns.

Por fim, cabe enfatizar que o bom resultado dos empreendimentos depende das par-cerias consolidadas, de uma gestão comprometida com o desenvolvimento e o progresso. Levando-se em conta o que foi observado, a mesorregião Centro-Sul paranaense tem em seu poder capacidades e alternativas para a superação dos problemas sociais expostos, sendo necessário o comprometimento com a defesa dos interesses coletivos e das relações igualitárias baseadas na solidariedade.

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42 Desafios e perspectivas para as relações de cooperação no contexto de desenvolvimento da região centro-sul do Paraná

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1. Introdução

A cooperação é a base de uma cooperativa, cada indivíduo possui um comporta-mento e uma atitude diferente para cada situação, o confronto de ideias leva à discussão de problemas e a uma solução conjunta. Nas cooperativas, cada indivíduo é convidado a participar de novas experiências, de descobrir maneiras de cooperar com os outros para que seja possível conviver em harmonia e alcançar resultados positivos para o todo.

Segundo Ricciard e Lemos (2000), o cooperativismo pode ser entendido como a ajuda mútua entre pessoas de determinados grupos para encontrar uma saída para interesses comuns. Os participantes das cooperativas buscam a realização de objetivos para alcan-çar a prosperidade conjunta e também os resultados propostos em seu estatuto. Os funda-mentos baseados na solidariedade, independência, autonomia, cooperação e democracia são alicerces para que a cooperativa possa funcionar de maneira a gerar retorno satisfa-tório a seus cooperados.

Nas palavras de Lauschner (1994, p. 3), “o cooperativismo é um modelo de economia solidária que procura maximizar o predomínio do fator trabalho sobre o fator capital”. Em se tratando de uma assembléia socioeconômica de pessoas, o que predomina é o po-der econômico de voto igual para todos, e não pela porção determinada cada um.

As cooperativas são, no Brasil, uma fonte geradora de trabalho, renda e satisfação pessoal. São inúmeras as cooperativas com histórias de sucesso baseadas na gestão efi-ciente, no comprometimento, na cooperação entre os indivíduos e no setor em que atuam. As maiores cooperativas encontram-se nos segmentos da agricultura e crédito, existindo também diversas cooperativas de artesanato que atendem pessoas de classe baixa e média, ensinando diferentes processos produtivos e demonstrando um leque de possibilidades para a solução de problemas socioeconômicos.

Fatores críticos para o sucesso das relações de cooperação:

Estudo de caso na cooperativa alpha

Camila de Almeida PermegianiMarcos de Castro

Antônio João Hocayen-da-SilvaJenifer Hidemy Matsuoka Kasoyama

Ligia Maria GonçalvesJosiane Rabelo

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48 Fatores críticos para o sucesso das relações de cooperção:estudo de casos na cooperativa Alpha

Porém, nem tudo é perfeito, muitas cooperativas fracassam pela falta de administra-dores comprometidos com o desempenho e a continuidade das mesmas. Também agra-vam o fracasso de tais organizações a infidelidade dos associados que, por não se senti-rem donos, negligenciam a fiscalização, disponibilizando demonstrações financeiras que apresentam irregularidades e não refletem a real situação da organização. A fiscalização só é requerida quando ocorre o conflito entre cooperados e diretoria, devido a isso a dire-toria é composta por aqueles que estão de acordo com esse estilo de administração. Outro fator que afeta negativamente as cooperativas é a falta de percepção do ambiente competi-tivo que está em contínuo desenvolvimento enquanto as mesmas mantêm-se estagnadas, sem apresentar diferenciais ou vantagens competitivas.

Sendo assim, este trabalho busca compreender, por meio de um estudo de caso na cooperativa Alpha, os fatores críticos de sucesso (ou fracasso) das relações de coopera-ção, contribuindo assim para melhor compreensão acerca do tema, bem como para uma maior eficiência das práticas de gestão em organizações cooperativas.

2. Fundamentação teórica

2.1. Ambiente competitivo organizacional

As organizações cooperativas se originam da associação de indivíduos que se iden-tificam por interesses ou necessidades comuns na busca por seu fortalecimento por meio de uma organização que os instrumentalize com recursos mais amplos e eficien-tes. Com a dinamicidade do mercado, faz com que as organizações tenham que centra-lizar esforços na ampliação de sua competitividade, visando ganhar espaços comerciais mais amplos ou mais específicos. O entendimento sobre o meio externo que envolve a empresa, bem como de suas características internas e potenciais, contribui para que a organização possa, com algum grau de sucesso, definir suas estratégias competitivas (HOLF et al., 2009).

As organizações congregam grupos de indivíduos vinculados a algum propó-sito comum ou com afinidade em seus objetivos. Eles julgam que ações con-juntas têm sinergismo maior do que se cada um trabalhasse isoladamente, ou seja, a união das ações proporciona maior organização para atingir os objeti-vos, quando são coordenadas (SATOLANI, et al., 2008, p. 220).

No mercado atual, as empresas estão cada vez mais produtivas e eficazes, e esse mer-cado abre diversas oportunidades e grandes desafios para as organizações. Nesse cenário,

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49Camila de Almeida Permegiani, Marcos de Castro, Antônio João Hocayen-da-Silva, Jenifer Hidemy Matsuoka Kasoyama, Ligia Maria Gonçalves e Josiane Rabelo

o planejamento estratégico se mostra como um método capaz de garantir a perpetuação das organizações. É preciso considerar que as organizações devem ser flexíveis, se adap-tando às mudanças de ambientes externos (ANSOFF, 1993).

Assim como as organizações empresariais, as cooperativas também trazem em sua bagagem a cultura organizacional. As mesmas diferenças culturais que estão pre-sentes nas estruturas da organização, bem como a necessidade de busca permanente em estratégias de sobrevivência, que são repensadas e reestruturadas, indiferente-mente do segmento de negócio. A inserção das cooperativas no atual mercado com-petitivo faz com que elas adquiram a característica de organizações com forte cunho social, demarcadas por suas responsabilidades institucionais com os seus associados, o governo e a sociedade. Esses atributos requerem processos decisórios rápidos, di-nâmicos, simples, objetivos e claros, exigências do mercado no qual estão inseridas (MARTINS, 2008).

Para as empresas que atuam em um determinado mercado, as estratégias de sucesso que garantam certa competitividade, segundo Coutinho e Ferraz (1995, p. 18), “vão de-pender da criação e da renovação das vantagens competitivas por parte das empresas, em um processo em que cada produtor se esforça para obter peculiaridades que o distingam favoravelmente dos demais”.

As noções de competitividade aplicam-se a qualquer tipo de orga-nização, mesmo àquelas que não tenham fins lucrativos, pois a so-brevivência no mercado é algo que depende de desempenho ao lon-go do tempo, bem como da capacidade de adaptação às mudanças que o ambiente vai apresentando. Estando as cooperativas também inseridas nesse contexto, são passíveis de serem analisadas sob os mesmos pressupostos, porém, alguns elementos corroboram para que outros fatores tenham que ser também incorporados na análise (GUIMARÃES, 1982 apud HOLF, 2007, p. 162).

O ambiente organizacional é entendido como tudo que existe fora da organização que pode influenciá-la (SCOTT, 2003). Assim, o domínio de cada empresa é o conjunto de pro-dutos, serviços, mercados e territórios escolhidos pela organização. Esse domínio define com quais setores do ambiente externo a organização deverá interagir (DAFT, 2002).

A competição depende do conhecimento e da competência da organização, que ne-cessita estar preparada para a renovação de ideias e compartilhamento mútuo, entre os colaboradores e a própria organização, possibilitando assim a melhoria contínua de todas as atividades por meio do desenvolvimento de novas aplicações. Para isso a organização deve analisar o ambiente interno, pois é através dele que a competitividade, que é a ca-pacidade de formular estratégias para se manter sustentável no mercado, é determinada como ponto forte ou fraco da organização (SILVA; SPITZ, 2007).

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50 Fatores críticos para o sucesso das relações de cooperção:estudo de casos na cooperativa Alpha

Nessa perspectiva, as cooperativas funcionam como instrumento gerador e difusor de conhecimento para seus associados. Essa relação ocorre quando se percebe que o su-cesso da cooperativa está vinculado ao sucesso da atividade produtiva desenvolvida pelo cooperado. Assim, o conhecimento revela-se, principalmente, em termos de adoção de novas práticas produtivas, bem como a incorporação da inovação que incrementa a com-petitividade da propriedade, em termos de ganhos reais (HOLF, 2007).

Para Bialoskorski Neto (2002), a organização coletiva do trabalho e o estímulo à fi-delidade são estratégias que tornam mais clara a participação do cooperado no capital da cooperativa, onde este percebe os benefícios em estar organizado coletivamente. Assim, quanto maior a fidelidade, maior será a eficiência econômica do empreendimento.

Internamente, para a promoção do crescimento, mostram-se necessários investimen-tos em estratégias, reestruturação, reorganização e modernização, entre outras coisas que poderão ser onerosas e de retorno em longo prazo (FREIRE; BATAGLIA, 2007).

As estratégias cooperativas em muito se assemelham às estratégias puramente com-petitivas, principalmente pelo seu objetivo primeiro, que é, igualmente, a melhoria da eficiência e da eficácia organizacional. Outra estratégia cooperativa é o estabelecimento de relações de parcerias que possibilitam o fornecimento de produtos, troca de insu-mos, compartilhamento de tecnologia, ampliação das capacidades de armazenamento, ocupação de capacidade ociosa e redução dos custos para as organizações envolvidas (SILVA et al., 2004).

Apesar de seu compromisso social, as cooperativas estão inseridas em um ambiente competitivo, onde uma gestão eficiente é funda-mental para sua sustentabilidade. Atualmente, as principais ten-dências do cooperativismo são o incremento do nível de coopera-ção; ampliação e o fortalecimento da concorrência; estruturas or-ganizacionais cada vez mais enxutas; a questão do tamanho ideal; as fusões entre cooperativas; o redirecionamento da estrutura de poder; a consolidação da qualidade total; aceleração da evolução tecnológica; a redução do ciclo de vida dos produtos e negócios, bem como dos desperdícios; a globalização das atividades das coo-perativas (OLIVEIRA, 2001, p. 39).

Sendo assim, destaca-se que as cooperativas necessitam encontrar formas eficazes e eficientes que lhes possibilitem um gerenciamento de qualidade de seus recursos, bem como a definição de suas metas e objetivos, o estabelecimento de prioridades e a determi-nação de estratégias para que possam sobreviver neste acirrado ambiente competitivo de negócios (RICCIARDI; LEMOS, 2000).

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51Camila de Almeida Permegiani, Marcos de Castro, Antônio João Hocayen-da-Silva, Jenifer Hidemy Matsuoka Kasoyama, Ligia Maria Gonçalves e Josiane Rabelo

2.2. Relações de cooperação

O ambiente de negócios renovado buscou melhorias contínuas no desempenho das orga-nizações, ou seja, em função de inovações no atual ambiente corporativo, elas foram obrigadas a adotar formas diferenciadas de gestão, associando uma postura mais conjunta e flexível ao posicionamento, a fim de conquistarem melhorias nas relações internas e externas. Nes-se sentido, observa-se que as rápidas mudanças ambientais têm pressionado as organizações a buscarem continuamente relacionamentos cooperativos. Essa união de esforços tem sido apresentada como uma estratégia eficiente para o alcance dos objetivos organizacionais, prin-cipalmente quando se busca acessar recursos únicos e escassos (RING; VAN DE VEN, 1992).

No caso das redes de cooperação, Amato Neto (2000) e Santos, Pereira e França (1994) consideram que a cooperação ocorre, basicamente, por meio de dois tipos de redes: ver-ticais e horizontais. As redes verticais são normalmente encontradas nos casos em que as relações de cooperação ocorrem entre uma organização e os componentes dos diferentes elos da cadeia produtiva. Nesse caso, as organizações cooperam com seus parceiros co-merciais: produtores, fornecedores, distribuidores e prestadores de serviços. A cooperação ocorre mais frequentemente quando o produto final é composto por um grande número de peças ou componentes e passa por vários estágios durante o processo de produção.

Já as redes horizontais são caracterizadas por relações de cooperação que se dão en-tre empresas que produzem e oferecem produtos similares, pertencentes a um mesmo setor ou ramo de atuação, ou seja, entre uma organização e seus concorrentes. Elas são normalmente formadas quando as organizações, isoladamente, apresentam dificuldades em acessar recursos escassos de produção; atender interna ou externamente ao mercado em que atuam; ou lançar e manter uma nova linha de produtos (AMATO NETO, 2000; SANTOS; PEREIRA; FRANÇA, 1994).

As redes de cooperação têm despertado muito interesse entre as organizações, pois, de acor-do com Balestrin e Vargas (2004, p. 204), “a configuração em rede promove ambiente favorável ao compartilhamento de informações, de conhecimentos, de habilidades e de recursos essenciais para o processo de inovação”. Nesse sentido, as redes de cooperação consistem em uma forma eficaz para as organizações alcançarem competitividade nos mercados por meio de um comple-xo ordenamento de relacionamentos. Além disso, os relacionamentos cooperativos apresentam uma importância estratégica em ambientes competitivos, sobretudo por facilitar a sinergia de esforços entre as organizações na direção de objetivos comuns (BALESTRIN; VARGAS, 2004).

Para Child e Faulkner (1998), a estratégia cooperativa é a tentativa das organizações em alcançar seus objetivos por meio da cooperação com outras organizações, tanto quanto a com-petição com elas. Seu foco é sobre os benefícios que poderão ser conseguidos por meio da cooperação. Uma estratégia cooperativa pode oferecer significativas vantagens para as organi-zações carentes de determinadas competências ou recursos ao manter ligações com outras or-ganizações que possuem os recursos e habilidades complementares; elas também oferecem fá-cil acesso a novos mercados e oportunidades de aprendizagem. Para Human e Provan (1997), as estratégias de cooperação são fruto de um compromisso coletivo na busca de desenvolver

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soluções para problemas comuns. Dessa forma, o alcance de objetivos que não poderiam ser realizados individualmente é facilitado por meio de ações conjuntas entre as organizações.

2.2.1. Estruturação e formação de relações de cooperação

A dinâmica existente nas redes de cooperação tem sido apresentada como resultante de uma série de aspectos que reúnem em uma mesma rede de relacionamento, cooperação e competição. No cenário competitivo atual, tem se proliferado um grande número de inte-rações entre organizações concorrentes que cooperam entre si para alcançar objetivos co-muns, de maneira que se assume o pressuposto de que o estabelecimento de relacionamen-tos cooperativos influencia o comportamento competitivo das organizações (CHEN, 1996; GIMENO, 2004; GNYAWALI; MADHAVAN, 2001). Balestrin e Vargas (2004) acrescentam que a confiança e a cooperação ocorrem simultaneamente com a competição, e que são diretamente influenciadas pelos aspectos estruturais das redes de cooperação. Dessa forma, Loiola e Moura (1996) destacam que as formas de relações cooperativas são estruturas que privilegiam as relações de parceria sem, no entanto, eliminar a competição e os conflitos.

É preciso reconhecer que, mesmo após estabelecer relacionamentos cooperativos, as organizações podem continuar a competir de outras formas. Por meio de relações de coo-peração, as organizações podem trabalhar juntas para a melhoria coletiva do desempenho, compartilhando recursos e realizando atividades conjuntas num determinado mercado. Ao mesmo tempo, tais parceiros também podem competir por meio de ações independentes em outros mercados para a melhoria do seu próprio desempenho (GNYAWALI; MADHAVAN, 2001). Human e Provan (1997) concordam que, face à dinâmica inerente às redes de coopera-ção, as organizações podem colaborar em um determinado projeto e competir em outros.

Para Bengtsson e Kock (1999) e Lado, Boyd e Hanlon (1997), quando se analisa a natureza dos relacionamentos entre competidores, quatro tipos diferentes de relaciona-mentos podem ser identificados a partir da combinação entre cooperação e competição, como pode ser observado na figura 01.

Figura 01 – Diferentes combinações entre cooperação e competição.

Fonte: Adaptado Bengtsson e Kock (1999) e Lado, Boyd e Hanlon (1997).

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53Camila de Almeida Permegiani, Marcos de Castro, Antônio João Hocayen-da-Silva, Jenifer Hidemy Matsuoka Kasoyama, Ligia Maria Gonçalves e Josiane Rabelo

A coexistência é caracterizada por relacionamentos que não incluem qualquer tipo de troca econômica, ou seja, existem somente trocas de informações e interações sociais. Além disso, os laços são bastante fracos, pois os competidores se conhecem, mas não interagem en-tre si (BENGTSSON; KOCK, 1999; LADO; BOYD; HANLON, 1997). No caso da existência de baixa competição e alta cooperação, as interações são frequentes, compreendendo trocas co-merciais, informacionais e sociais. Apesar da existência de cooperação, isso não significa que as organizações não compitam entre si e, talvez, exista um grau de desconfiança entre elas.

Já as relações em que existe alta competição e baixa cooperação são caracterizadas pela ação e reação em função das ações dos competidores. Se um competidor lança uma nova linha de produtos, o outro provavelmente será obrigado a empreender ações compe-titivas para neutralizar o efeito daquela ação (BENGTSSON; KOCK, 1999; LADO; BOYD; HANLON, 1997).

Para Bresser, Dunbar e Jithendranathan (1994), as organizações são mais favoráveis às estratégias de cooperação quando percebem que têm habilidades limitadas em aten-der às demandas ambientais que são caracterizadas por múltiplas interdependências e mudanças imprevistas. Consequentemente, a incerteza ambiental e a interdependência também provêem novas oportunidades de cooperação. Nesse sentido, Harrigan (1988) e Bresser (1988) acrescentam que uma organização pode fazer uso de estratégias de coo-peração para complementar suas estratégias competitivas (BENGTSSON; KOCK, 1999; LADO; BOYD; HANLON, 1997).

Se por um lado as estratégias competitivas são benéficas para as organizações, por outro, ao agir como rivais, exclusivamente de maneira competitiva, as organizações ten-dem a caminhar para um jogo no qual ninguém ganha ou para uma situação ainda pior na qual todos perdem. Quando o comportamento é exclusivamente competitivo ocorrem apenas retornos temporários de curto prazo, sendo difícil manter a competitividade es-tratégica ao longo do tempo. Dessa forma, torna-se necessário que haja um desdobramen-to das estratégias de competição para abranger estratégias que usufruam dos benefícios da cooperação (LEÃO, 2005).

2.2.2. Relações de cooperação e variáveis ambientais

Whetten e Leung (1979) salientam a importância de se investigar as condições am-bientais e organizacionais dentro das quais as ligações de cooperação se formam. Dian-te disso, esses autores consideram que os relacionamentos de cooperação ocorrem em função de três fatores: i) a forte necessidade que as organizações têm em ser seletivas na escolha dos parceiros para suas relações de cooperação; ii) a oportunidade de livre-mente estabelecer e interromper os relacionamentos com outras organizações; e iii) a existência de um mecanismo de decisão. Percebe-se que esses autores se apóiam apenas em fatores organizacionais, o que pode ser considerado coerente com os propósitos daquele estudo. No caso de um entendimento mais amplo dos relacionamentos, torna-

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54 Fatores críticos para o sucesso das relações de cooperção:estudo de casos na cooperativa Alpha

se necessária uma visão mais abrangente abordando também os fatores ambientais em que, por vezes, eles estão envoltos.

O reconhecimento da importância do ambiente para ação organizacional tem sido apresentado pela literatura como marco principal das interações entre as organizações, fazendo com que pressões ambientais das mais variadas formas obriguem as organiza-ções a buscar, por meio de interações com o seu ambiente, os recursos e a legitimidade que permitirão o alcance de seus objetivos. Tais interações se dão por meio dos relacio-namentos de cooperação, ou seja, o contato de uma organização com o seu ambiente ocorre por meio das ações de outras organizações, de forma que organizações afetam organizações (HALL, 2004).

Aldrich (1979) destaca seis dimensões do ambiente apontadas como relevantes pela literatura: i) capacidade ambiental: relacionada à abundância ou escassez de recursos disponíveis a uma organização; ii) homogeneidade-heterogeneidade ambiental: refere-se ao grau de similaridade entre os elementos que compõem o ambiente; iii) estabilidade-instabilidade ambiental: determina o grau em que os elementos do ambiente mudam; iv) concentração-dispersão: refere-se à forma em que os recursos e clientes estão distribuídos no espaço, no qual um ambiente muito disperso dificulta as ações organizacionais; v) consenso-dissenso de domínio: refere-se ao grau em que o domínio específico de uma organização é reconhecido por outras organizações; e vi) turbulência: refere-se ao grau de interconexão ambiental, ou seja, a turbulência significa que existe muita interconexão causal entre os elementos no ambiente.

2.2.3. Fatores facilitadores e limitadores das relações de cooperação

Os fatores facilitadores e dificultadores dos relacionamentos de cooperação são os aspectos ambientais e organizacionais que estimulam ou inibem um determinado rela-cionamento, ou seja, eles influenciam a formação ou manutenção do relacionamento de cooperação (CANDIDO; ABREU, 2004; OLIVER, 1990). Dentro dessa concepção, vários termos encontrados na literatura são usados para fazerem referência a esses aspectos, tais como: antecedentes (BRASS et al., 2004; GRANDORI; SODA, 1995; OLIVER; EBERS, 1998; WHETTEN; LEUNG, 1979); condicionantes (OLIVER, 1990); fatores situacionais (HALL, 2004) e fatores críticos de sucesso (CANDIDO; ABREU, 2004).

Hall (2004) destaca que existem situações que induzem a ocorrência dos relaciona-mentos de cooperação, representando pré-condições ou antecedentes para as interações. Tais situações representam elementos contextuais formando um terreno que aumenta a possibilidade da ocorrência dos relacionamentos de cooperação. Na visão de Oliver e Ebers (1998), os antecedentes do relacionamento de cooperação contribuem para explicar a sua constituição e as formas que assumem.

A criação de confiança entre os parceiros é, certamente, um dos fatores mais citados na literatura, sendo considerada um pré-requisito para a cooperação (HAKANSSON; KJELL-

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55Camila de Almeida Permegiani, Marcos de Castro, Antônio João Hocayen-da-Silva, Jenifer Hidemy Matsuoka Kasoyama, Ligia Maria Gonçalves e Josiane Rabelo

BERG; LUNDGREN, 1992; HOFFMANN; SCHLOSSER, 2001). A confiança se apresen-ta como algo a ser construído ao longo do tempo (JARILLO; STEVENSON, 1991; PARK; JUNGSON, 2001), pois, características básicas como, por exemplo, honestidade, disposi-ção e eficácia, podem ser percebidas apenas após um longo período de relação (LAJARA; LILLO; SEMPERE, 2002). Na visão de Hoffmann e Schlosser (2001), a confiança pode ser construída desde o período das negociações para formação da rede dependendo que os par-ceiros, unilateralmente, demonstrem compromisso futuro, como investimentos na parce-ria, compartilhem informações e utilizem salvaguardas, como um contrato (DYER, 1997). Perceber que um parceiro confia no outro passa a ser mais importante do que a existência de confiança. Quando um parceiro percebe que o outro lhe atribui credibilidade, é mais fácil a criação de um ciclo de construção de confiança (THOBEN; JAGDEV, 2001).

O comprometimento normalmente é citado juntamente com a confiança, sendo uma das formas de aumentá-la (ISABELLA, 2002). Quando o parceiro é comprometido com o relacionamento, irá despender esforços para que ela tenha sucesso. O parceiro que não se compromete com a relação age como oportunista, deixando que o outro parceiro se res-ponsabilize por todo o esforço e o investimento para desenvolvimento do relacionamen-to (MEDCOF, 1997), podendo controlar negativamente o desenvolvimento da relação (HAKANSSON; FORD, 2002). O comprometimento traduz-se em lealdade ao relaciona-mento aos parceiros, sendo considerado, então, como um fator influenciador, seja positi-vamente ou negativamente, para o sucesso do relacionamento (KOZA; LEWIN, 2000).

Outro fator relacionado às características do parceiro e quem tem sido apresentado com destaque pela literatura refere-se à experiência dos participantes naquele tipo de ligação que está sendo estabelecida. Quanto maior a experiência anterior em relaciona-mentos em rede, por exemplo, maiores as possibilidades de sucesso (LORANGE; ROSS; BRONN, 1992). Porém, a experiência, por si só, não é suficiente sem a construção de capacidade para a rede (KALE; DYER; SINGH, 2001). Gestores experientes em redes acumulam conhecimento sobre elas que pode ser utilizado em situações futuras (BA-MFORD; GOMES-CASSERES; ROBINSON, 2003), evitando, também, a formação de redes com organizações sem experiência em redes (PEKAR; ALLIO, 1994). Além disso, a relação anterior com o parceiro também pode aumentar a confiança (GULATI, 1998; THOBEN; JAGDEV, 2001).

Quando a organização possui mais experiência, ela é capaz de selecionar melhor os parceiros, possui melhor capacidade de negociação e consegue desenhar melhor a aliança (KALE; DYER; SINGH, 2001). A maior experiência implica em menor necessidade de alteração de estrutura após a formação da rede (REUER; ZOLLO; SINGH, 2002). Brass et al. (2004) destacam que as organizações que têm mais experiência com relacionamentos cooperativos têm maior probabilidade de interagir com um maior número de organi-zações o que as tornará atores dominantes na rede de relacionamentos. Powell, Koput e Smith-Doerr (1996), por exemplo, verificaram que a maior experiência em relações de cooperação das organizações de biotecnologia resultou em maior conhecimento e intera-ções diversificadas, tornando-as mais centrais na rede.

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2.2.4. Relações de cooperação e a obtenção de vantagens competitivas

Conforme observam Bleeke e Ernst (2001), caso existissem mercados igualmente abertos, gestores organizacionais com habilidades e competências idênticas e informa-ções ambientais disponíveis a todas as organizações, não haveria a necessidade da forma-ção de alianças estratégicas entre organizações, stakeholders e concorrentes. No entanto, essa situação utópica dificilmente se realizaria, justificando os relacionamentos interor-ganizacionais praticados pelas organizações, com o intuito de obterem vantagens compe-titivas e fortalecerem a postura estratégica.

A estratégia de cooperação com uma ou mais organizações pode ser uma contrapar-tida para o ajuste da vantagem competitiva. Isso se torna mais claro quando são examina-dos os motivos para a cooperação e quando se considera a habilidade dos relacionamentos cooperativos para melhorar as competências organizacionais por meio da aprendizagem (CHILD; FAULKNER, 1998).

Na visão de Ring e Van de Ven (1994), os relacionamentos cooperativos são cíclicos e não sequenciais, ou seja, eles são mantidos não porque alcançam estabilidade, mas porque mantêm um equilíbrio entre processos formais e informais. Isso significa que os benefí-cios dos relacionamentos são afetados pelo estágio de desenvolvimento em que a rede se encontra. Nesse sentido, os autores demonstram que os relacionamentos se desenvolvem e evoluem basicamente a partir de três estágios: negociação, comprometimento e execução. No estágio de negociação, as partes desenvolvem expectativas conjuntas em torno de suas motivações, possíveis investimentos e as incertezas percebidas de um empreendimento em que ambos vão explorar conjuntamente. Nesse estágio, existe um processo formal de barganha e comportamento de escolha das partes na medida em que elas argumentam e tentam estabelecer os termos em que se dará o relacionamento em questão. De forma subjacente a esses procedimentos formais de barganha, ocorrem processos sociopsico-lógicos de construção de sentido que permitem que empresas independentes entrem em negociações umas com as outras.

No estágio de comprometimento, as partes chegam a um acordo quanto às obrigações e às regras para a ação futura no relacionamento entre as empresas. Nesse momento, as ca-racterísticas e a estrutura de governança da relação são estabelecidas. Tal estrutura de go-vernança, segundo os autores, pode tanto ser codificada em um contrato de relações quan-to informalmente compreendida em um contrato psicológico entre as partes. Como no estágio anterior, uma série de interações é frequentemente necessária para possibilitar às partes atingir um consenso, dependendo do grau de risco do negócio ou empreendimento e da disposição das partes em se basearem na confiança (RING; VAN DE VEN, 1994).

Por fim, há o estágio de execução, em que tudo aquilo que foi acordado finalmente é posto em prática. Nesse estágio, interações permitem o surgimento de relações interpes-soais que, por sua vez, contribuem com as relações de cooperação.

De acordo com Cândido e Abreu (2004), pode-se concluir que a manutenção dos relacionamentos interorganizacionais permite conquistar vantagens competitivas susten-

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táveis, tornando possível o posicionamento estratégico da organização em relação aos concorrentes. Contudo observa-se um conjunto de fatores que têm influência determi-nante no processo de formação, desenvolvimento e manutenção de alianças. Esses fatores estão relacionados ao ambiente competitivo, às políticas macroeconômicas, ao processo de formação do relacionamento em si, bem como aos aspectos antropológicos e sociocul-turais dos grupos envolvidos. A percepção e a ação das organizações parceiras em relação a esses aspectos garantirá o ganho relacional.

3. Descrição e análise dos dados

3.1. Caracterização do caso

A cooperativa Alpha é um projeto do poder público local com intuito de proporcionar empregos e fonte de renda. O projeto teve início quando a Prefeitura percebeu a necessi-dade e a oportunidade de melhorar as condições dos trabalhadores por meio da forma-ção de uma cooperativa de trabalho. Assim, foram oferecidos dois cursos de capacitação ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI. Este curso foi apresentado primeiramente aos acadêmicos das instituições de ensino e posteriormente para interessados em geral.

Os participantes do curso contaram com o apoio do poder público local (70%) no cus-to das aulas, restando aos mesmos o valor a pagar de R$ 300,00 (trezentos reais). Durante a realização dos cursos foram efetuadas viagens a diferentes centros de referência no país.

Ao término do aprendizado algumas pessoas se reuniram e, levando adiante a ideia, formaram a cooperativa Alpha, em 2006, sendo esta, em parte, custeada financeiramente pelo poder público. A cooperativa era composta por 36 associados que formaram a dire-toria e o conselho fiscal.

3.2. Contextualização sócio-cultural da organização

3.2.1. Aspectos relacionados à socialização e conscientização dos integrantes

As cooperativas, em seu espaço, agem como meio de integração social. A cooperativa em questão pode ser classificada como de consumo e trabalho, e visa tornar-se um centro com aspectos relacionados à socialização e conscientização dos integrantes e à organiza-ção solidária e coletiva. A cooperativa ofertou, por exemplo, viagens e cursos com o intui-

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to de proporcionar o aumento da renda e a integração social com a comunidade, gerar o bom relacionamento e a melhoria da comunicação por meio da venda direta. Mas, a partir da análise dos dados é possível constatar que as políticas de treinamentos desenvolvidas pela organização não atingiam os resultados esperados, como mostra o relato abaixo:

O curso não formava um profissional apto, o que a diretoria queria era que trouxessem alguém interessado em investir e com isso se aperfeiço-asse por conta própria (Associado 1).

Questiona-se ainda a real possibilidade de criação de um pólo no município, em fun-ção de questões estratégicas que seriam essenciais para seu desenvolvimento e manu-tenção no mercado. Tal fato, de acordo com os relatos, caso se comprove, implicaria na manutenção da cooperativa:

Estamos longe da matéria-prima [...], da mão de obra e do grande mer-cado que uma cooperativa necessita (Associado 3).

Acho que o maior problema é que, para a comercialização [...] é indis-pensável o [o trabalho] que é realizado em outro município e agrega um valor muito elevado ao produto (Associado 8).

Sem que a cooperativa demonstre bases claras de socialização e conscientização é provável que haja um desvirtuamento de sua função social e dos interesses coletivos, sen-do necessário, para tanto, que os cooperados compreendam a verdadeira importância da ação coletiva, colocando em prática, além dos princípios norteadores do cooperativismo, seus direitos e deveres em prol da coletividade.

3.2.2. História comum entre os integrantes

O projeto da cooperativa despertou interesse na população que já trabalhava na área e queria aprender outra atividade, conforme relato dos entrevistados:

Tive interesse em entrar na cooperativa em virtude de [...] querer expan-dir minhas habilidades (Associado 8).

Sendo assim, a maioria dos cooperados tomou conhecimento da cooperativa por meio de amigos e/ou conhecidos, pela divulgação do curso nas faculdades e universidade do município e a segunda turma soube do curso pela divulgação em jornais da cidade. Fato comprovado pelos relatos a seguir:

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Fiquei sabendo do curso quando assisti uma propaganda na televisão e como fiquei interessada procurei mais informações na internet (Associado 9).

Ficamos sabendo da realização do curso pela televisão e depois entramos em contato com o responsável pelo projeto (Associados 14).

O maior interesse entre todos os cooperados e os ex-cooperados que participam ou participaram da cooperativa foi à ideia de que a participação na cooperativa aumentaria expressivamente a renda familiar. No decorrer das entrevistas notou-se claramente que a busca por uma melhor condição financeira era o ponto decisivo para participar do curso e tornar-se cooperado, o que para muitos não foi possível:

Como eu já trabalhava com artesanato achei que seria interessante aumentar os meus conhecimentos e expandir o número dos produtos e pessoas que eu iria atingir, mais como o valor a ser aplicado era muito elevado me restringi às peças produzidas durante o curso (Associado 5).

Para que pudéssemos dar início a produção, tínhamos que fazer um in-vestimento de mais ou menos R$ 500,00, o que para nós no momento era muito elevado levando-se em conta que não sabíamos fazer as peças corretamente (Associados 4; 5; 6).

3.2.3. Difusão de cultura relacionada a formas de obtenção da eficiência coletiva

As empresas se tornam mais competitivas quando aglomeradas por seus ramos de ativida-des e em locais específicos, e a obtenção da eficiência coletiva decorre da combinação de dife-renciais ou vantagens competitivas. Segundo o estatuto um dos diferenciais apresentados pela organização seria a comercialização de matéria-prima por parte da cooperativa para com os cooperados, contudo, de acordo com os entrevistados, observa-se que a meta não foi atingida:

A cooperativa nunca teve o intuito de comprar matéria-prima para re-vender aos cooperados, não possuímos recursos financeiros para tanto e, além do mais, cada pessoa possui um gosto diferenciado o que torna inviável a compra dos materiais (Associado 16).

Outro fator que poderia ser amplamente utilizado na cooperativa é o maquinário que está disponível na organização para uso coletivo e que, segundo relatos, mesmo sem haver custos, ninguém teve interesse em fazer uso de tais equipamentos:

Os cooperados não tiveram nenhum interesse em utilizá-las e não seria cobrado nada pela utilização (Associado 17).

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A base principal da cooperativa em questão é participar das atividades desenvolvidas por ela como a produção, a entrega na sede da cooperativa e posteriormente a venda de todos os produtos. Contudo, a partir dos dados coletados, o que pode ser percebido é que poucos cooperados produziam e comercializavam efetivamente seus produtos por meio da organização, sendo que os demais membros eram somente participantes de assem-bléias, estando alheios às ações coletivas promovidas pela organização:

A nossa produção se restringiu ao que foi produzido no decorrer do cur-so, pois o investimento era muito caro e nós não podíamos investir no maquinário (Associados 14; 15).

Na tentativa de aumentar a renda da família e participar mais ativamente da cooperativa alguns associados compraram uma máquina especializada, em função da não participação ativa de outros membros, fortalecendo as ações da cooperativa. A estratégia não atingiu os resultados esperados, desmotivando o grupo que tomou a iniciativa e, assim, ocasionando a retirada de alguns associados da cooperativa, o que pode ser comprovado pelo relato abaixo:

Investimos cerca de R$ 10.000,00 em matéria-prima e maquinário para que conseguíssemos uma lucratividade maior e adquirimos uma má-quina [...], mas as outras cooperadas compravam [...] direto das fábri-cas, o que nos levou a desacreditar na cooperativa e fazer a carta de desligamento (Associadas 2).

Tal situação fere, assim, o princípio da cooperação, uma vez que, nem todos os mem-bros de um grupo estavam determinados a trabalhar em conjunto, fortalecendo o coletivo e criando postulados que pudessem fazer frente à divisão social do trabalho e possibilitar a geração de trabalho e renda para pessoas alijadas do mercado formal de trabalho.

3.2.4. Clima de confiança e identidade cultural

Com a concretização da cooperativa começaram os problemas de convivência entre os cooperados, em quase todas as entrevistas e conversas informais o maior problema eram os atritos pessoais. Agravando a situação percebida, a identidade cultural da coo-perativa tornou-se questionável quando foi identificada a falta de controle por parte da administração da mesma.

Com a elevação do nível de desconfiança e o questionamento da identidade cultural da organização, ocorreram vários desligamentos e o início de maiores desentendimentos internos. A cooperativa, com ajuda do município, realizou viagens para a aquisição de matérias-primas e para conhecer novas tendências no setor, gerando desconforto de al-guns membros, conforme relato a seguir:

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Comprei algumas peças por pressão e acabei nem utilizando as mes-mas, precisávamos comprar para que a cooperativa atingisse a cota e recebe-se descontos que não chegavam a nós [...] (Associado 7).

3.2.5. Atividade comunitária e tradição de apoio familiar

Na microrregião em que a cooperativa se encontra, o cooperativismo é uma grande al-ternativa para o crescimento e desenvolvimento econômico. Segundo o Ministério do Tra-balho e Emprego e a Relação Anual de Informações Sociais (MTE/RAIS) no ano de 2007, a cidade possuía cerca de 30 cooperativas enquanto que na sua microrregião totalizam 79.

A cooperativa não possui um clima de cooperativismo, pois segundo os entrevistados faltam demonstrações de ajuda mútua:

Não tenho mais contato com os outros cooperados e não obtenho respos-ta dos responsáveis para participar das reuniões (Associado 8).

A vantagem da participação na cooperativa para muitos dos cooperados é a busca de realização, a independência e o aumento da renda familiar. Como alguns cooperados já pos-suem a família formada usariam a cooperativa como uma segunda fonte de renda e, para os que não tinham a necessidade de sustentar uma família a ideia se tornou atrativa pelo fato de serem seus próprios chefes e de não necessitarem mais de apoio financeiro da família. Ne-nhum dos cooperados demonstrou claramente essas ideias durante a coleta de informações, esses aspectos foram percebidos pela faixa etária, estado civil e dependência da família.

3.3. Processo de formação da organização

3.3.1. Familiarização com os conceitos e vantagens da nova forma de atuação

Na cooperativa Alpha, alguns aspectos relacionados à familiarização com os concei-tos e vantagens da nova forma de atuação podem ser evidenciados pelas observações e entrevistas que seguem:

O poder público local apresentou o projeto aos participantes do curso para que os interessados em investir no ramo levassem adiante o pro-jeto. Dentre os participantes, algumas pessoas se reuniram e colocaram em prática a ideia dando início à Cooperativa (Associado 16).

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Outro ponto crítico que pode ser observado, e confirmado por meio dos dados coletados, é que a cooperativa não realiza as compras para os cooperados, alegando que seria inviável.

A cooperativa nunca teve o intuito de comprar matéria-prima para re-vender para os cooperados, sob o argumento de que não há recursos financeiros para tanto. Sendo assim, são realizadas viagens de alguns cooperados para a aquisição das mesmas. Segundo o presidente, a com-pra de matéria-prima é algo muito pessoal, pois há uma imensa varie-dade o que torna essa atividade inviável (Associado 16).

A relação cooperativa, na prática do estudo de caso, contraria o desenvolvimento do cooperativismo que deriva da prática das relações que as pessoas estabelecem entre si buscando um objetivo comum, por meio da cooperação participativa de seus membros. Os princípios adotados foram: adesão livre e voluntária; gestão democrática pelos coo-perados; participação econômica dos membros; autonomia e independência; educação, formação, informação; intercooperação e interesse pela comunidade (MONEZI, 2008).

De acordo com os dados analisados, pode-se perceber que são as iniciativas socioprodutivas de base coletiva, porém dominadas pela competição e heterogestão. Um dos aspectos a ser muda-do diz respeito à participação e engajamento das pessoas envolvidas e o modo de organização do trabalho delas, levando-se em consideração ideais como a cooperação e a gestão democrática.

Para Culti (2002), o cooperativismo preocupa-se com o aprimoramento do ser humano nas suas dimensões econômicas, sociais e culturais. É visto como um sistema participativo, democrático e mais justo para atender às necessidades e os interesses específicos dos trabalha-dores, além do que, propicia o desenvolvimento integral do indivíduo por meio coletivo.

Responsável por agrupar pessoas com interesses mútuos, expandindo e promovendo a geração de emprego e renda, a cooperativa tem o potencial de melhorar a situação eco-nômica e social, pois contribui para o aumento de renda dos cooperados contribuindo para a redução do desemprego local, possibilitando a inclusão social.

Assim, o desenrolar econômico propiciado pelas atividades cooperativas potenciali-za, sim, um processo de geração e distribuição de renda além do desenvolvimento local promovido pelo dinamismo econômico com o objetivo de melhoria de vida das pessoas. Pois o trabalho cooperativo tem como ideal a coletividade, ou seja, a união dos coopera-dos e a valorização do seu trabalho.

3.3.2. Escolha adequada de agentes responsáveis pela negociação e conso-lidação do grupo

Ao que se refere à escolha adequada dos agentes responsáveis pela negociação e con-solidação do agrupamento, de acordo com uma das ex-cooperadas entrevistadas, a presi-dente da Cooperativa foi escolhida como porta-voz, a exemplo:

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Ele foi escolhido como presidente porque tem mais facilidade para ne-gociações (Associado 9)

O que não implica numa escolha adequada, posto que, de acordo com os dados co-letados, alguns entrevistados declararam que uma solução plausível para a melhoria da cooperativa seria a mudança total da diretoria:

[...] a cooperativa só endireitaria se começasse tudo de novo. Se a coope-rativa se reestruturasse, mudasse seu rumo e caminhasse de uma forma mais correta e com uma visão de um todo (Associado 9).

[...] o que falta/faltou para a cooperativa dar certo foi uma administra-ção mais organizada (Associados 12; 13).

Outra entrevistada observa, entre outros pontos que:

[...] quando a cooperativa estava sendo gerida pelo antigo presidente, as coisas funcionavam muito bem e muito melhor (Associado 7).

No que diz respeito a negociações e ações pelo grupo, a presidência da cooperativa deixa evidentes pontos falhos, como por exemplo, o fato de não realizar compras para os cooperados alegando não ser uma atitude viável para a cooperativa.

Observa-se na Cooperativa Alpha a existência de diversos líderes nos níveis do agrupa-mento, os níveis hierárquicos são definidos conforme votação que ocorre durante assem-bléias publicadas em diário oficial. O que pôde ser observado então, é que os níveis de lide-rança descritos acima são somente uma forma burocrática de organização da cooperativa.

3.3.3. Definição de uma arquitetura organizacional

A arquitetura organizacional da cooperativa é feita nas assembléias mencionadas anterior-mente, que elegem os seus dirigentes, contudo, o nível de participação das cooperadas é reduzi-do, implicando na não efetivação de uma gestão democrática com a participação de todos.

Em decorrência das entrevistas no período de pesquisa de campo, foi possível obser-var que a maioria dos relacionamentos entre os cooperados não é constante e que algumas das relações interpessoais da cooperativa não são voluntárias.

Não tem mais contato com os outros cooperados, procurou as pessoas respon-sáveis para participar de reuniões, mas não obteve resposta (Associado 8).

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Outros cooperados e ex-cooperados declararam que nas reuniões presenciadas, nada era decidido, pois acabavam sempre em discussões, o que evidencia uma falta de estrutu-ra organizacional efetiva.

[...] participavam de reuniões, mas só presenciavam brigas e discussões, tudo em desordem (Associado 12).

Em outro aspecto, a estrutura organizacional pôde ser observada como ponto falho no que diz respeito à comercialização. Foi relatado que a cooperativa criou no seu espaço físico algo semelhante a uma galeria, onde cada cooperado tinha sua sala comercial e com isso a oportunidade de vender seus produtos (com o nome da cooperativa). Mas, mesmo com essa estrutura a estratégia não obteve êxito.

Os relatos apontam que a competitividade era ainda mais acentuada, uma ideia que poderia ter alavancado os cooperados teve, na realidade, uma repercussão totalmente ne-gativa, segundo depoimento, a concorrência era desleal:

Quando surgiu a ideia de formar uma loja da cooperativa, achei inte-ressante e que daria certo, pois era mais coerente que se o negócio era uma cooperativa, então que a loja fosse de todas, ou seja, da cooperati-va. As lojinhas que a princípio foram formadas não deram certo devido ao excesso de competitividade que foi criado (Associado 9).

Um dos entrevistados enfatiza ainda que:

A ideia da loja da cooperativa era que as peças fossem embaladas todas iguais para que não houvesse mais as brigas por conta da competitivi-dade, porém, na prática, não aconteceu dessa forma, pois nem todas as cooperadas buscavam vender sem a competitividade (Associado 9).

3.3.4. Vinculação a uma política de desenvolvimento regional

Vinculado a uma política de desenvolvimento regional e com o intuito de propor-cionar oportunidades para a região, o poder público local deu vazão a um projeto que atualmente encontra-se consolidado e é reconhecido como Cooperativa:

[...] o projeto da cooperativa foi de um funcionário da Prefeitura que encaminhou a ideia angariando meios de colocá-la em prática. A pre-feitura subsidiou também várias viagens para localidades reconhecidas como pólo. [...]. A prefeitura apresentou o projeto aos participantes do curso para os interessados em investir no ramo levassem adiante o pro-

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jeto. Dentre os participantes algumas pessoas se reuniram e colocaram em prática a ideia (Associado 16).

Contudo, destaca-se que, em diferentes momentos de seu ciclo de vida, a organização enfrentou barreiras que por vezes colocou em dúvida sua real contribuição ao trabalho dos participantes. Os obstáculos mais evidentes, percebidos por meio da análise dos da-dos, são a competitividade entre as cooperadas e a falta de uma administração mais eficaz e democrática. Em todas as entrevistas realizadas houve relatos de que a competitividade entre as cooperadas seria um dos maiores motivos de desentendimentos. Mesmo com todas essas dificuldades, o grupo aceitou o convite para a abertura de uma loja da coope-rativa em outro município.

Com a abertura da loja, a cooperativa enfrentou muitos obstáculos, primeiramente por terem uma loja localizada fora de seu município de origem, o que implicava em reve-zamento das cooperadas para o atendimento e gestão da loja, o que nem todas estavam dispostas a fazer; outro ponto negativo enfrentado foi a limitação que a loja enfrentava em comercializar somente as peças produzidas pelos cooperados. Segundo relatos, não era suficiente para manter a loja, com isso, a presidente da cooperativa decidiu individu-almente ampliar o portfólio de produtos para serem revendidos na loja, o que não agradou a maioria, mas foi uma estratégia para manter a loja em funcionamento.

Relacionado com a estratégia de atuação e políticas mercadológicas, pode-se destacar que enquanto a Cooperativa Alpha funcionava apenas em seu município de origem, com seus cooperados comercializando suas mercadorias por intermédio de vendedores exter-nos, eventuais exposições, exposições dos materiais em lojas locais e ainda a partir das lojas na própria cooperativa, a organização teve a oportunidade de levar seu nome e suas mercadorias para outro município, expandindo assim sua área de atuação e, consequen-temente, fortalecendo o trabalho dos associados.

3.4. Políticas macroecônomicas

3.4.1. Interação entre os diversos agentes envolvidos

Cooperados, fornecedores, instituições de apoio e distribuidores buscam, imprete-rivelmente, trabalharem juntos para que haja um pleno desempenho das atividades pro-dutivas. Porém, observa-se nas relações da Cooperativa Alpha uma interação com elos fracos e dominada por falhas que tendem a dificultar a obtenção de benéficos advindos da cooperação. Entre os cooperados há um forte desentendimento e competitividade.

Para a confecção dos produtos, a matéria-prima é buscada em cidades distantes e comprada individualmente pelas associadas, não lançando mão do poder de barganha

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que poderiam conquistar comprando em conjunto, e assim reduzir os custos com a com-pra de materiais.

As vendas são realizadas por meio de revendedores, representastes comerciais e de pequenas lojas individuais dentro da sede da cooperativa e, posteriormente, em uma loja atacadista, mas, apesar do potencial de distribuição, tais estratégias ainda apresentaram graves problemas, conforme pode ser observado no relato das entrevistadas:

As lojinhas não deram certo devido ao excesso de competitividade que foi criado com a criação da loja [...] foram desencadeadas muitas brigas e muitas discussões (Associado 9).

Já utilizamos serviço de representante de vendas, mas não obtivemos su-cesso, tivemos um prejuízo considerável devido a calotes (Associado 16).

O forte apoio dado à cooperativa pelo poder público municipal não contou com um controle adequado de alocação de recursos, e muito do idealizado não foi atingido em decorrência de falhas no processo de gestão.

Visando à potencialidade de um mercado em ascensão, o poder público local viu na fabricação artesanal um caminho para proporcionar emprego e renda a uma parcela da população que estava excluída do mercado formal de trabalho. Investiu em mídia para divulgar o projeto, custeou viagens e parte significativa dos cursos ofertados aos inte-ressados. A divulgação foi feita por meio da televisão e do site do poder público local, e obteve resultados positivos, pois muitos dos entrevistados tiveram o interesse despertado após assistirem notícias na TV ou visitarem o site, conforme relato:

Procurei o projeto porque vi a respeito no site do poder público (Associado 7).

Fiquei sabendo do curso por propaganda de TV e busquei pela internet. Gos-taria de produzir o mesmo produto e, por isso, me interessei pelas aulas ofer-tadas poder público (Associado 9).

Os cursos foram ofertados pelo poder público local e o objetivo era capacitar pessoas a fabricarem seus próprios artesanatos e se interessarem pela cooperativa atuando como investidores. Apesar do curso ter sido considerado bom pela maioria dos entrevistados, houve um consenso entre eles de que o curso foi muito básico e, por isso, não formava profissionais aptos, o que pode ser comprovado pelos relatos:

O curso não formava um profissional apto, o que eles queriam era que trouxessem alguém interessado em investir e, com isso, se aperfeiçoasse por conta própria. A intenção era trazer cooperados porque a coopera-tiva iria fechar (Associado 9).

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Nesse sentido, percebe-se uma falha no que seria a base para atrair cooperados e investidores em potencial. Com cursos não tão específicos as pessoas não se sentiram seguras para investir, e muitos deles produziram apenas no período do curso.

Tinha interesse em ensinar o ofício a crianças carentes e aumentar a ren-da da família, mas acabei produzindo somente as peças do curso. Para continuar produzindo teria que me aperfeiçoar mais (Associado 6).

Minha produção se restringiu às peças que foram produzidas durante o curso, não produzi além das aulas, para venda (Associado 8).

Tal fato salienta a importância de se constituir uma organização cooperativa a par-tir dos interesses coletivos dos próprios associados que, após lutarem individualmente, perceberam que a coletividade seria a saída para promover a autonomia, uma vez que são oferecidos a eles, diversos benefícios e serviços, cumprindo assim com a função social da organização.

3.4.2. Mecanismos para fortalecer os relacionamentos e interações

A Cooperativa entra em contato com seus cooperados por meio da Assembléia Or-dinária realizada anualmente, que é divulgada no jornal da cidade e só pode acontecer com a participação mínima de 2/3 do número de sócios, contudo, alguns integrantes da cooperativa dizem não serem informados das reuniões e não terem acesso ao jornal, con-forme relato a seguir:

[...] terminamos o curso e nos tornamos cooperados, mas até agora não fo-mos procurados e nem procuramos novamente a Cooperativa (Associado 4).

Destaca-se que foi investido em equipamentos e matéria-prima, porém não foi divul-gado aos cooperados que eles podiam fazer uso desses equipamentos. Quando abordada sobre o assunto a entrevistada afirmou:

As máquinas estão paradas porque os cooperados não se interessaram em utilizar e não é cobrado nada por isso (Associado 17).

Atualmente, muitas cooperativas são criadas sem nenhum acompanhamento técnico que as forneça orientação para constituição e atuação no mercado, o que só ocorre, muitas vezes, com o passar do tempo. Até a cooperativa conseguir sua regulamentação, percebe-se que a mesma atua numa espécie de tentativa e erro, muitas vezes sujeitando os associa-

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68 Fatores críticos para o sucesso das relações de cooperção:estudo de casos na cooperativa Alpha

dos a tipos de trabalhos que não estão de acordo com os serviços terceirizados, sendo esse motivo a principal causa das reclamações trabalhistas feitas por cooperados.

De acordo com os dados analisados, a Cooperativa Alpha é, desde o início, dependen-te de apoio externo. Em entrevista foi citada a criação de um site para vendas da coope-rativa, no entanto, a falta de divulgação, de atualização e a disfuncionalidade do mesmo levaram ao fim do endereço eletrônico, que não trouxe lucro algum.

Políticas de apoio desfocadas e aleatórias também foram fatores consideráveis no insucesso. O curso considerado demasiadamente básico, a compra de equipa-mento sem a devida divulgação, falhas na administração e as ideias que não saíram do papel desmotivaram e desestruturaram a cooperativa, conforme se observa nos relatos a seguir:

O curso foi razoável, muito básico, e dessa forma não há condições de se inves-tir em um negócio onde o que se conhece é só o básico (Associado 14).

Um catálogo foi proposto pelo poder público e me motivou bastante, mas na hora de colocá-lo em prática, de montar o catálogo, não aconteceu (Associado 9).

Por sua vez, além dos fatores relatados anteriormente, destaca-se que na cooperativa um dos motivos de maior descontentamento entre os integrantes é justamente a falta de uma concorrência saudável. Além disso, outro fator que também gerou descontentamen-to foi o ferimento do princípio da ajuda mútua, em função da sobreposição de objetivos individuais em detrimento dos interesses coletivos.

Percebe-se, ainda, que alguns entrevistados identificaram a falta de autonomia finan-ceira entre os cooperados e interessados, que não tinham capital suficiente para investir na cooperativa e comprar os materiais necessários para produzir, como um fator limitador.

A elevada dependência de apoio externo e a dificuldade de se manter com recursos próprios acabam por ferir o princípio da autonomia e independência, segundo o qual as cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus pró-prios membros.

4. Considerações finais

Em um mercado cada vez mais competitivo, as relações de cooperação têm se mos-trado uma grande alternativa para a geração de emprego e renda, mas o sucesso dessas relações depende de fatores não só organizacionais, mas também ambientais.

Considerando que este trabalho teve como objetivo compreender, por meio de um estudo de caso em uma cooperativa, os fatores críticos de sucesso ou fracasso das relações de cooperação, destaca-se que, a partir da análise dos dados foi possível confrontar ideias

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69Camila de Almeida Permegiani, Marcos de Castro, Antônio João Hocayen-da-Silva, Jenifer Hidemy Matsuoka Kasoyama, Ligia Maria Gonçalves e Josiane Rabelo

que levaram a uma discussão, contribuindo para uma maior compreensão das questões de sucesso nas relações cooperativas.

Dentre os fatores ambientais (ambiente de negócios; aspectos antropológicos e so-cioculturais; políticas macroeconômicas e processo de formação) nesta pesquisa foram enfatizadas as políticas macroeconômicas e suas subdivisões para entender o porquê do sucesso ou insucesso nas relações de cooperação.

Pela observação dos aspectos analisados da cooperativa em questão, para que os fa-tores críticos de sucesso atinjam bons resultados seriam necessárias mudanças, princi-palmente na parte de gestão e conscientização do trabalho cooperativo. O que se pode perceber é que a integração social, a socialização e a conscientização dos integrantes para com a organização solidária e coletiva, que no início do projeto era um fator de conside-rável importância, foi perdido ao longo do processo. O projeto da cooperativa despertou interesse de pessoas que já possuíam habilidades e que buscavam melhorar sua condição financeira, porém, a necessidade de um alto investimento que possibilitasse a entrada na cooperativa afastou as pessoas interessadas em iniciar um trabalho cooperativo. No decorrer do projeto a falta de controle por parte da gestão trouxe descontentamentos em relação à forma de trabalho, provocando vários desligamentos.

Ainda segundo a análise de dados, obstáculos como a grande competitividade inter-na e a falta de uma administração adequada possibilitaram falhas nas relações de coope-ração existentes no projeto, pois a responsabilidade da cooperativa era agrupar pessoas expandindo e promovendo a criação de renda e emprego tornando possível a inclusão social e o desenvolvimento local. Por todos esses aspectos, a relação de cooperação encon-trada contraria a base do cooperativismo que preconiza o trabalho coletivo buscando um fortalecimento e um objetivo comum, por meio do comprometimento e da cooperação.

A ação coletiva de cooperação e compromisso na busca por uma solução para pro-blemas comuns promove ações conjuntas que nos levam ao alcance de objetivos que não poderiam ser atingidos individualmente. Assim, é importante que os cooperados com-preendam a importância da ação coletiva empregando na prática, além dos princípios do cooperativismo, seus direitos e deveres em prol da coletividade.

Por isso, o comprometimento combinado a uma boa administração e percepção de estratégias de sobrevivência apresenta diferenciais e vantagens aliadas a uma renovação de ideias e compartilhamento mútuo entre os associados e a cooperativa. Sendo conside-rado um fator de influência para o sucesso do relacionamento entre as partes

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1. Introdução

Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB (2010), o sistema coope-rativista pauta-se na reunião de pessoas e não do capital, contemplando as necessidades do grupo e não do lucro. Neste sentido, cooperativa é a adesão de pessoas, cujas necessi-dades individuais de trabalho, de comercialização ou de prestação de serviços em grupo, e respectivos interesses sociais, políticos e econômicos, fundem-se nos objetivos coletivos da associação (CRÚZIO, 2005).

Dessa forma, este estudo apresenta os resultados da realização do projeto de for-mação da cooperativa dos profissionais da construção civil da microrregião centro do território da Cantuquiriguaçu. O projeto abrange os municípios de Laranjeiras do Sul, onde é executado, Rio Bonito do Iguaçu, Marquinho, Porto Barreiro, Nova Laranjei-ras e Virmond. Seu objetivo principal é a formação da cooperativa de profissionais da construção civil.

O projeto surgiu de uma demanda levantada pela Associação Comercial de Laran-jeiras do Sul (ACILS) e pela Associação dos Municípios da Cantuquiriguaçu, que é uma associação de desenvolvimento da região e que engloba 20 municípios. Esse levantamento foi repassado a UNICENTRO no sentido da região ser auxiliada em seu Projeto de De-senvolvimento Regional, dando ênfase à melhoria das condições dos trabalhadores do segmento para obterem uma melhor qualificação, o que proporcionaria melhores condi-ções sociais. Após algumas pesquisas iniciais percebeu-se que a melhor alternativa seria motivar e incentivar a formação de uma Cooperativa de Profissionais, que seria a forma mais adequada de serem alcançados esses objetivos.

Com a implantação da Cooperativa, o projeto visa o desenvolvimento de orçamentos, a cotação de materiais, o aperfeiçoamento de técnicas de construção, melhoria na utili-zação de equipamentos de segurança, treinamento, orientações para a participação de

Processo de formação de relações de cooperação:

Estudo sobre a Implantação de uma cooperativa de trabalho do setor da construção civil na região do Cantuquiriguaçu

Izamara de Oliveira FerreiraJoelma Aparecida dos Santos Horst

Sérgio Luis Dias Doliveira

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76 Processo de formação de relações de cooperação: estudo sobre implantação de uma cooperativa de trabalho do setor da construção civil na região do Cantuquiriguaçu

licitações, formalização e recolhimento de impostos entre outros. Tornando necessária a conscientização dos profissionais da construção civil, da importância do trabalho em cooperação, da sua qualificação tanto no processo produtivo como na gestão econômica e empresarial por meio de cursos e palestras. Essas ações deverão dar um suporte inicial e fomentar a melhoria nas condições de trabalho desses profissionais da construção civil que, em sua maioria, contam com restritas condições de aprimoramento e com pouca formalização em suas relações de trabalho.

Esse capítulo apresenta-se estruturado da seguinte maneira, primeiramente contem-pla o estudo breve sobre a revisão da literatura referente ao cooperativismo, apresentando conceitos e características desse sistema. Serão descritas as características da região e os principais aspectos que justificaram a realização do projeto. Aborda os resultados, des-crevendo como se deu o processo de desenvolvimento do projeto, os desafios enfrentados pela equipe. Por conseguinte, identificam-se os aspectos e dificuldades mais relevantes no processo de formação da cooperativa.

2. Revisão bibliográfica

2.1. Cooperativismo

Segundo a OCB (2010), o cooperativismo é um movimento, filosofia de vida e modelo socioeconômico, capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social, funda-mentado na participação democrática, solidariedade, independência e autonomia.

O sistema cooperativista é coordenado pela Aliança Cooperativa Internacional- ACI, com sede na cidade de Genebra, na Suíça. No Brasil, o sistema cooperativista é repre-sentado pela Organização das Cooperativas Brasileiras- OCB, constituída no dia 2 de dezembro de 1969, quando da realização do IV Congresso Brasileiro de Cooperativismo (PORTAL DO COOPERATIVISMO, 2009).

Ainda segundo portal do cooperativismo, este surgiu em dezembro de 1844 em Manchester na Inglaterra, quando 27 tecelões e uma tecelã fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale. O objetivo era desenvolver alternativas econômicas que viabilizassem a atuação no mercado e enfrentar as consequências do capitalismo, os preços abusivos e extensa jornada de trabalho das mulheres e crianças, que chegavam a trabalhar até dezesseis horas, e também enfrentar o alto desemprego devido às altera-ções no sistema de produção.

No âmbito nacional, Crúzio (2005) cita a Lei n° 5.764/71 que define a Política Nacio-nal de Cooperativismo no Brasil e institui o sistema jurídico das sociedades cooperativas. Essa lei estabelece que as cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza

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77Izamara de Oliveira Ferreira, Joelma Aparecda dos Santos Horst e Sérgio Luis Dias Doliveira

jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar ser-viços aos associados.

No Brasil existem onze tipos de cooperativas, segundo seu campo de ação, são elas: Agropecuário; Consumo; Crédito; Educacional; Habitacional; Trabalho; Mineral; Pro-dução; Saúde; Serviços; Especial. Além das características listadas para cada segmento, as cooperativas têm um objetivo que é comum, a função reguladora de mercado, pois quando uma cooperativa é consolidada os concorrentes regulam seus preços segundo o praticado por ela e, ao longo do tempo, estes concorrentes se adaptam a cooperativa.

As cooperativas de trabalho são constituídas por pessoas ligadas a uma determinada ocupação profissional, com a finalidade de melhorar a remuneração e as condições de trabalho, de forma autônoma. Assim, o segmento das cooperativas de trabalho é extrema-mente abrangente, sendo que os integrantes de qualquer profissão podem se organizar em cooperativas de trabalho (OCB, 2010). Neste sentido, a cooperativa da construção civil é classificada como uma cooperativa de trabalho.

As cooperativas de trabalho são aquelas formadas por profissionais como faxineiros, estivadores, seguranças ou técnicos diversos. Com o objetivo de intermediar os trabalhos ofertados pelos profissionais associados, por meio de contratos temporários, junto às em-presas tomadoras de seus serviços gerais (CRUZIO, 2005).

O autor supracitado explica que, quando uma cooperativa é efetivada, os associados têm a vantagem de: 1) negociar preços, prazos e formas de pagamento melhores junto a fornecedores, por meio da compra em grande quantidade, reduzindo os custos unitários de produção ou aqueles decorrentes de prestação de serviços para terceiros; 2) garantia de direitos igualitários para todos os sócios, independente das condições econômicas, políti-cas e sociais de cada, interna ou externamente à organização; 3) no que tange os encargos trabalhistas, a cooperativa proporciona vantagens econômicas aos seus associados.

Adicionalmente destaca-se a relevância das cooperativas para o desenvolvimento do país, pois no ano de 2006 representavam mais de 6,7 milhões de associados e 7,5 mil organizações, representando 6% do Produto Interno Bruto - PIB nacional (CAE-TANO, 2006).

No caso do Paraná, são 238 cooperativas registradas no sistema OCEPAR, que agru-pam mais de 535 mil associados e geram cerca de 1,3 milhão de postos de trabalho. Têm suas raízes nas comunidades de imigrantes europeus, que procuraram organizar estru-turas comuns para compra e venda de sua produção, além de suprirem suas necessidades de consumo e crédito por meio das sociedades cooperativistas. Participando dos diver-sos ciclos econômicos do Estado, as cooperativas expandiram as fronteiras agrícolas e passaram a desenvolver-se também no meio urbano, principalmente nas áreas da saúde, trabalho, serviços, crédito, consumo, educação e habitação (OCEPAR, 2008). No territó-rio da Cantuquiriguaçu encontram-se sete cooperativas, sendo que dessas, quatro estão localizadas em Laranjeiras do Sul.

No processo de formação de cooperativas, conforme o SEBRAE (2010), o primeiro passo para constituir uma organização dessa natureza é reunir no mínimo 20 pessoas.

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78 Processo de formação de relações de cooperação: estudo sobre implantação de uma cooperativa de trabalho do setor da construção civil na região do Cantuquiriguaçu

Este grupo deve discutir os objetivos da iniciativa e qual será sua atividade. Adicional-mente, realiza-se a discussão e elaboração do estatuto social. Nesse contrato deve incluir em linhas gerais a forma de funcionamento, estabelecer as obrigações e direitos dos as-sociados, eleição dos administradores, modo de administração e fiscalização, definição de atribuições, poderes e funcionamento, representação ativa e passiva da sociedade em juízo ou fora dele, entre outras. Por conseguinte será feita uma Assembléia para fins de constituição, aprovando o Estatuto Social, elegendo os administradores e o Conselho Fis-cal. Por fim, deve ser feito o registro na Junta Comercial, para onde serão remetidas cópias do Estatuto e da Ata da assembléia.

Adicionalmente Crúzio (2005), destaca que é fundamental para o sucesso organiza-cional e econômico de toda e qualquer tipo de cooperativa, a forma como se organiza, ou seja, a maneira como seus membros se envolvem no processo, que engloba desde a cons-tituição da Assembléia Geral dos Sócios até a formação do Conselho Fiscal e do Conselho de Administração. Influenciado ainda pela qualidade da administração e da dedicação profissional necessária para a realização e geração de benefícios, tornando a cooperativa tão rentável quanto uma organização comum, principalmente no que tange a concorrên-cia comercial com terceiros.

2.2. Setor da construção civil no Brasil

O setor de construção civil, que tem a mais otimista expectativa no País, se desta-ca devido aos incentivos governamentais, como financiamentos imobiliários, que esti-mulam a construção de moradias. O segmento também está sendo impulsionado pelos anúncios da realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil, dessa forma o setor amplia as possibilidades e oportunidades de crescimento, com vistas a desenvolver a infra-estrutura necessária à realização desses eventos.

Por ser formado por uma ampla quantidade de atividades, o setor de construção civil é apontado como um macro complexo da construção, isto é, um conjunto de atividades econômicas, diferentes e interligadas umas as outras (CONSTRUFÁCIL, 2009). O grande número de postos de trabalho que a construção civil gera, os investimentos do estado em linhas de crédito e obras públicas, que evidenciam a importância deste setor para a eco-nomia do país (UNISOL BRASIL, 2009).

Segundo a Construfácil (2009) o setor da construção civil representa aproximada-mente 16% do PIB brasileiro. É o segundo maior setor econômico do país, ultrapassado apenas pelo setor da agroindústria. Conforme a Pesquisa de Expectativa de Emprego realizada pela empresa de Recursos Humanos Manpower. A construção civil é o setor com maior expectativa de contratação de funcionários fortalecendo a importância do segmento. É nesse contexto de demanda por serviços da construção civil que surgiu a possibilidade de formação de uma Cooperativa de profissionais. No sentido de formalizar

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as condições de trabalho, ampliar o conhecimento e as habilidades profissionais, assim como, obter melhorias nos rendimentos médios.

Dessa forma, destaca-se a importância que este setor possui, proporcionando grande capacidade de movimentar a economia, gerar riquezas e empregos, proporcionando apro-ximadamente 3,5 milhões de empregos no país, o que representa 6% do total da população economicamente ativa - PEA. Destaca-se também, que este é um setor da economia pratica-mente nacionalizado, ou seja, com apenas 2% do total dos insumos, como materiais, equi-pamentos e serviços, que são utilizados na construção são importados. Assim, o setor pode se desenvolver sem depender da situação da economia mundial e o seu crescimento não vai acarretar aumento de gastos com importações para o país (CONSTRUFACIL, 2009).

2.3. Região da Cantuquiriguaçu

A mobilização da população juntamente com órgãos públicos, como prefeituras, uni-versidades, entre outros, possibilitam o planejamento de ações dos seus agentes que po-dem ser favoráveis para o desenvolvimento e crescimento local e regional. Neste sentido, em sete de outubro de 1984 foi criada a Associação dos Municípios da Cantuquiriguaçu.

A região da Cantu como é apontada pelos seus moradores abrange vinte municípios: Campo Bonito, Candói, Cantagalo, Catanduvas, Diamante do Sul, Espigão Alto do Igua-çu, Foz do Jordão, Goioxim, Guaraniaçu, Ibema, Laranjeiras do Sul, Marquinho, Nova Laranjeiras, Pinhão, Porto Barreiro, Quedas do Iguaçu, Reserva do Iguaçu, Rio Bonito do Iguaçu, Três Barras do Paraná e Virmond, sendo os mais antigos, Laranjeiras do Sul, criado em 1946 e Guaraniaçu criado em 1952. O objetivo da integração desses municípios foi buscar o desenvolvimento econômico, administrativo e social da região melhorando o seu Índice de Desenvolvimento Humano - IDH que é um dos mais baixos do Estado.

O território é delimitado ao norte pelo Rio Piquiri, ao sul pelo Rio Iguaçu, e na fron-teira oeste pelo rio Cantu. Logo, o nome Cantuquiriguaçu é o resultado da junção dos nomes desses três rios. Os principais rios que correm no território propiciam a sua utili-zação na produção de energia elétrica, e sete usinas hidroelétricas estão instaladas dentro e nas margens do território.

A Cantu tem população total de 230.007 habitantes, sendo que 52% pertencem à zona rural, e apresenta, em média, um Índice de Desenvolvimento Humano- IDH, de 0,72 (PORTAL DA CIDADANIA, 2010), o que torna um desafio a busca por um desenvolvi-mento regional mais equilibrado exigindo das políticas públicas um instrumento de cor-reção das desigualdades, trazendo efeitos positivos para a população e para a economia.

Neste sentido, a região da Cantu carece de iniciativas que promovam o desenvol-vimento, justificando essa iniciativa que objetiva formação de uma cooperativa de pro-fissionais da construção civil, possibilitando assim a melhoria da renda, da geração de emprego na região e auxiliando no processo de desenvolvimento.

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3. Resultados e discussões

A presente seção deste estudo busca apresentar os resultados da realização do projeto na microrregião centro do território da Cantuquiriguaçu e dos resultados da pesquisa de campo realizada pela equipe como será detalhada a seguir.

3.1. Processo de desenvolvimento do projeto

O processo de realização do projeto descrito pode ser dividido em etapas, segundo a metodologia aplicada. Dessa forma, a primeira etapa pode ser classificada como pesquisa exploratória, que constitui a primeira ação de todo trabalho científico.

1° Fase: Pesquisa de material bibliográfico

Constitui a primeira fase do projeto, quando foi realizada uma pesquisa bibliográfica, com vistas a obter informações sobre o tema pertinente ao projeto, facilitando o desenvolvimento do mesmo. Assim, essa etapa correspondeu a uma revisão literária que abordava o conteúdo cooperativismo, construção civil e pesquisa sobre a região onde o projeto foi desenvolvido. Os membros da equipe realizaram a pesquisa bibliográfica para ampliar a compreensão do tema e entender as especificidades da região. Com o intuito de ampliar o entendimento do que é o cooperativismo e planejar quais seriam as atividades a serem desenvolvidas, isso serviu para capacitar a equipe no sentido de desenvolver de maneira satisfatória o Projeto.

2° Fase: Levantamento das obras existentes na região e diagnóstico do setor.

Após a realização da pesquisa bibliográfica, deu-se início ao diagnóstico dos aspec-tos referentes à construção civil na região que o projeto engloba. Neste sentido, a pesqui-sa, também exploratória, utilizou-se da observação, registro, análise e interpretação das informações obtidas. Logo, foi realizado um levantamento das obras existentes na região, junto às prefeituras, identificando o número de edificações e obras em execução no ano de 2008. A Pesquisa foi iniciada no ano de 2008, junto às prefeituras de todos os municí-pios que o projeto englobava. Dessa forma, foram identificadas 54 obras no município de Laranjeiras do Sul, 31 em Nova Laranjeiras, 20 em Porto Barreiro, 18 em Virmond, 12 no Marquinho e 35 em Rio Bonito do Iguaçu.

3° Fase: Pesquisa de campo

De posse dos dados sobre a região, foi realizada uma pesquisa de campo, por meio da coleta de dados diretamente nas obras identificadas na etapa anterior. O objetivo da

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pesquisa de campo foi conhecer o perfil do profissional da construção que atua na região e as características desse setor. Foram entrevistados trabalhadores de todos os municípios que fazem parte do projeto. Neste sentido, esta pesquisa desenvolvida pela equipe é de natureza exploratória-descritiva do tipo levantamento. A pesquisa de natureza descritiva é utilizada para expor algum fenômeno, formulando previamente as hipóteses, baseando-se em amostras grandes e representativas (MALHOTRA et al, 2005)

Malhotra (2005) define o levantamento como o método para obtenção de dados através de informações que se baseiam em um interrogatório feito aos participantes, que respondem várias perguntas referentes ao seu comportamento, intenções, atitudes, per-cepções, motivações, estilo de vida, etc. Assim, o levantamento foi realizado por meio de: 1) entrevista: com a presença de um terceiro, utilizando roteiros estruturados (ou não); 2) aplicação de questionários; e 3) observação geral das condições de trabalho dos profissio-nais das 7 cidades da região centro do território. Na verdade se construiu um diagnóstico significativo do setor da construção civil da região central do território da Cantu, am-pliando a capacidade de análise do projeto e auxiliando a definição das ações necessárias para implantação de cooperativas de profissionais.

Com relação ao instrumento de pesquisa, Gomes (2005) defende que estes são os formulários utilizados na sua aplicação, com vistas a obter informações válidas e úteis. A pesquisa foi realizada por meio da aplicação de questionários estruturados, com questões abertas e fechadas, por meio da abordagem pessoal, com os trabalhadores da construção civil.

O questionário elaborado pela equipe continha 21 questões divididas em blocos, o primeiro objetivava identificar o perfil do profissional da construção da região, o segun-do aborda aspectos referentes à satisfação com a profissão, seguido da abordagem sobre a regularidade no desenvolvimento da profissão, isto é, a posse de Alvará de Autônomo, o pagamento da contribuição social e a existência de vínculo empregatício. Por conseguin-te, as questões eram pertinentes ao processo de aprendizagem, à realização e à motivação para realização de cursos de aperfeiçoamento, em seguida, abordava questões sobre a situação atual do trabalhador, as funções que estava exercendo, o local, de atuação e, por fim, as indagações sobre a possibilidade de se organizar em cooperativa.

Foram realizados 175 questionários, aplicados durante visitas realizadas às obras que estavam em andamento e foram identificadas em um primeiro levantamento rea-lizado junto às prefeituras dos municípios da região centro da Cantu. Deve-se desta-car que os questionários foram aplicados em todas as obras, tornando-o praticamente um senso.

Em seguida, iniciou-se o processo de reuniões com o objetivo de sensibilizar os profis-sionais em relação aos benefícios do sistema de trabalho cooperativo. Os encontros foram realizados na Associação Comercial e Industrial de Laranjeiras do Sul, e organizados pela equipe no sentido de sensibilizar os profissionais sobre os benefícios que a organização deles como uma cooperativa de trabalho poderia proporcionar. Nesses encontros eram feitas discussões que objetivavam conscientizar os trabalhadores sobre a relevância da sua

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organização em cooperativa. Neste sentido, era apresentado aos profissionais o conceito de cooperativismo, as características de tal sistema, os elementos que fundamentam o sistema, enfim, eram motivadas discussões que forneciam aos trabalhadores informações de como é o funcionamento de uma organização dessa natureza.

Ao final dessa fase percebeu-se que a constituição de uma cooperativa englobando todos os municípios, neste momento, era inviável, em função da peculiaridade de cada município e da falta de interesse dos profissionais em relação ao projeto. Faltava estrutura para realização de reuniões de sensibilização, condições para as mesmas serem organi-zadas e para obterem-se resultados satisfatórios. Optou-se por desenvolver a primeira experiência em Laranjeiras do Sul, porque abrigava um número maior de profissionais, além de oferecer uma demanda de obras mais estruturada em virtude de inúmeros inves-timentos previstos na cidade.

3.2. Perfil do profissional da construção civil

Com relação ao perfil do trabalhador da construção civil da microrregião centro do território da Cantuquiriguaçu, são abordados aspectos referentes à faixa etária, à es-colaridade e à renda dos trabalhadores. O gráfico 1 apresenta os aspectos pertinentes à faixa etária.

Gráfico 1 – Faixa etária dos trabalhadores.

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Pesquisa de Campo (2010).

Neste sentido, percebeu-se que 19% dos entrevistados enquadram-se na faixa etá-ria de 15 a 25 anos, sendo que a faixa etária entre 26 a 36 anos foi a mais representativa nesta pesquisa abrangendo 31% do universo pesquisado. Os intervalos entre 37 e 47 anos representam apenas 26% do total dos entrevistados e, por fim, 24% dos entrevistados se enquadram na faixa etária dos 48 anos ou mais.

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Após o exposto, foi notado que na região pesquisada há uma tendência dos trabalhado-res da construção civil serem mais jovens, com faixa etária entre 15 e 36 anos. Acredita-se também que é uma influência da realidade da região supracitada, com baixa disponibilidade de vagas, o que acaba levando uma parcela dos trabalhadores a atuarem na informalidade.

No que tange à escolaridade, um indicador socioeconômico que revelou o nível edu-cacional dos trabalhadores da construção civil da região da Cantuquiriguaçu, identifi-cou-se diferenças significativas, conforme pode ser observado no gráfico 2. Trata-se de um índice que reflete o nível de IDH da região, e que precisa ser alterado e melhorado.

Gráfico 2 – Escolaridade dos trabalhadores.

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Pesquisa de Campo ( 2010).

Conforme o gráfico 2, nota-se que 76% dos trabalhadores cursaram até o ensino fun-damental, 21% cursaram o ensino médio completo e 3% não possui escolaridade. Dessa forma, Leal (apud BARBOSA; LIMA, 2007), defende que o baixo índice de escolaridade presente na construção civil acaba limitando o processo de qualificação profissional, ge-ralmente ocorrido no canteiro de obras. Esse aspecto também evidencia a necessidade do treinamento e aperfeiçoamento, um importante aspecto a ser buscado de forma siste-mática por parte da cooperativa. Isso demandará esforços junto às entidades que prestam esses serviços no sentido de ampliar a formação desses profissionais, em especial na área de atuação profissional.

Com relação à renda, destaca-se que é o indicador mais utilizado para determinar o nível socioeconômico de uma determinada realidade, nessa pesquisa ela contribui para demonstrar a estratificação socioeconômica da região da Cantuquiriguaçu, como pode ser observado no gráfico 3.

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Gráfico 3 – Renda dos trabalhadores.

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Pesquisa de Campo (2010).

A partir dos dados do gráfico 3, em relação à renda dos profissionais entrevistados, foi pos-sível confirmar o nível socioeconômico da região da Cantuquiriguaçu. O resultado da pesquisa mostrou a realidade da região, que pode ser classificada como uma área de renda baixa. Obser-vou-se que a média dos salários não é diferente da realidade brasileira, 77% dos entrevistados possuem renda entre um e dois salários mínimos. Os trabalhadores que possuem renda entre três a cinco salários, representaram 22%, o poder aquisitivo de 1% dos entrevistados é de mais de cinco salários mínimos, o que demonstra a existência de uma desigualdade de renda na região.

3.3. Setor da construção civil

Essas questões abordavam aspectos pertinentes ao posto de trabalho, isto é, qual ati-vidade que desempenha no setor da construção civil. Identificando fatores como o posto de trabalho, tempo de serviço. Neste sentido, as atividades identificadas, o tempo de atu-ação na profissão e a satisfação com essa atividades são apresentadas na tabela 1.

Tabela 1 - Posto de trabalho

ATIVIDADES % TEMPO DE PROFISSÃO % SATISFA-

ÇÃO %

Pedreiro 61% 1 a 5 anos 32% Satisfeito 95%Servente 27% 6 a 10 anos 21% Não satisfeito 5%

Mestre de Obra 5% 11 a 15 anos 20%Carpinteiro 2% 16 a 20 anos 10%Atividades

técnicas(elétrico hidráuli-

co etc.).

1% Mais de 20 anos 17%

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Pesquisa de Campo.

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Conforme a tabela 1, verificou-se que 61% dos entrevistados exercem a atividade de pedreiro, 27% exercem a profissão de servente, sendo que 5% são mestres de obra, 2% têm a profissão de carpinteiro e o 1% representa, respectivamente, os profissionais da área técnica como, técnico elétrico, técnico hidráulico, funileiro, pintor e armador.

Já com relação ao tempo na profissão observou que, 32% dos entrevistados atuam até cinco anos na profissão da construção civil, 21% representam de 6 a 10 anos, 20% de 11 a 15 anos, 10% de 16 a 20 anos, 17% há mais de 20 anos. Já com relação à satisfação com a profis-são, 95% afirmam que sim sentem-se satisfeitos em relação à profissão escolhida referente à construção civil e 5% demonstram não estar satisfeitos com a profissão exercida.

A tabela 2 apresenta uma descrição dos aspectos pertinentes À escolha da profissão, a forma de aprendizagem quando ingressaram nessa área, como buscam qualificação, isto é, se realizam cursos de aperfeiçoamento.

Tabela 2 – Escolha da profissão

ESCOLHA DA PROFISSÃO

% APRENDIZAGEM %CAPACITAÇÃO DOS PROFIS-

SIONAIS%

Não havia op-ção de trabalho

51%Aprenderam com outros profissio-

nais90%

Não possuem curso

73%

Por necessidade 11%Outros meios

8%Possuem curso

técnico 8%

Por influência da família

9%Curso profissiona-

lizante2%

Possui curso na área

19%

Não exige esco-laridade

7%

É uma ativida-de rentável

4%

Fácil aprendi-zagem

1%

Por gostar da atividade

17%

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Pesquisa de Campo (2010).

Em relação à motivação para atuar no setor da construção civil, 51% dos entrevis-tados afirmam que não possuíam opções de trabalho em outros segmentos de mercado, isso denota que para atuar na área de construção não há exigência de uma formação especifica. Já, 17% atuam por opção de trabalho, o que denota um maior interesse por

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desenvolver-se na área. Em 11% dos respondentes ficou evidenciado que a atuação é con-sequência da necessidade, sendo a única fonte de renda disponível. Para outros 9% dos entrevistados afirmaram que a opção é decorrente da influência familiar, pois possuíam algum parente que trabalhava nesse setor. Já outros 7% enfatizaram que é uma atividade que não exige escolaridade, considerando-se que é um número relevante em relação à situação de analfabetismo da região. Outros 4% defendem que é uma atividade rentável, capaz de suprir as principais necessidades da família e, por fim, 1% respondeu que é pelo processo de aprendizagem simples.

Neste sentido, no que tange ao processo de aprendizagem, isto é, a maneira como os profissionais apreendem as atividades da profissão, verificou-se que 90% dos profissionais entrevistados responderam que o aprendizado se deu com outros profissionais da área. Para 8% o aprendizado da profissão se deu por outros meios e 2% dos entrevistados responderam que fizeram um curso profissionalizante, para o melhor desempenho da função.

Já com relação à realização de cursos profissionalizantes e de aperfeiçoamento, cons-tatou-se que 73% dos profissionais não possuem nenhum curso dessa natureza, 8% dos entrevistados enfatizaram que já fizeram algum curso técnico, 19% realizaram outros cursos pertinentes à construção civil como, pedreiro, mestre de obra, cerâmica, armador hidráulico, entre outros. Esses dados indicam claramente que há uma necessidade pre-mente de aperfeiçoamento e de treinamento por parte dos profissionais, o que agirá sobre a qualidade e as garantias das obras.

Quando questionados sobre o interesse na realização de um curso, 25% dos entrevis-tados tem interesse em participar, 18% não opinou e 14% não tem interesse pois acredita ter conhecimento o bastante, pelo longo período que atua no setor. Dessa forma, pode-se observar que há uma resistência por parte dos profissionais com mais anos de experiên-cias em fazerem cursos de aperfeiçoamento na profissão. Entre os problemas levantados destaca-se que a há falta de disponibilidade de tempo para a realização de cursos de aperfeiçoamento devido à jornada de trabalho e à necessidade de deslocamento, em al-gumas vezes, quando a obra está localizada em outro município. Mas, os treinamentos são essenciais para um melhor desempenho de trabalho e assinatura de contratos com empreiteiras de maior porte.

3.4. Legalização das atividades

O primeiro aspecto referiu-se às questões que abordavam a posse de alvará de autô-nomo, logo, a pesquisa demonstrou que 98% dos profissionais entrevistados não possuía alvará e estava desenvolvendo atividades de forma irregular, sem registro. Ou seja, apenas 2% trabalha com registro ou de maneira regular. Isso indica que uma grande parcela não trabalha com carteira assinada, oferecendo serviços como autônomos, e por consequência não existindo recolhimento do INSS, nem qualquer outro tipo de taxa legal, o que forne-ceria as garantias legais inerentes a uma aposentadoria posterior.

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Essa informação é alarmante ao passo que revela que 98% desses trabalhadores não podem desfrutar de direitos básicos, como aposentadoria, férias, não tem auxilio do-ença, seus filhos não tem direito a pensão e demais benefícios sociais decorrentes de desfrutar de uma situação de trabalho regularizada. Nesse sentido a cooperativa pro-porcionará garantias a todos, tanto cooperados quanto aos clientes, pois deixarão de existir contratações irregulares e as taxas decorrentes da formalização serão recolhidas de maneira correta.

Foi observado também que não há conscientização dos profissionais sobre a impor-tância da utilização de equipamentos de segurança básica, os chamados Equipamentos de Segurança Individual – EPI, sendo estes essenciais em uma construção, independen-temente do porte. A utilização de equipamentos de segurança garante a prevenção de problemas em muitas das situações de risco enfrentadas e seu uso se torna mais um dos aspectos importantes a ser desenvolvido pela cooperativa.

Adicionalmente, constatou-se que 94% dos entrevistados trabalham sem nenhum vínculo empregatício, sendo que somente 6% possuem vínculo com empresas do setor.

Por fim, destaca-se que 92% dos trabalhadores entrevistados têm interesse em participar de reuniões para discutir a implantação da cooperativa e 8% não demonstraram interesse.

4° Fase: Aprendendo com as cooperativas da construção civil

Em fevereiro de 2009, alguns membros da equipe realizaram uma visita técnica a uma cooperativa da construção civil, a Cooper Casa Nova, de Chapecó, Santa Catarina. Constituída no ano de 2005, após várias tentativas frustradas, contando com 22 associa-dos. Contudo, no ano de 2009, a organização já contava com 40 cooperados. Pode-se ob-servar lá que existem vários benefícios e que, apesar das inúmeras dificuldades, o traba-lho dentro do sistema cooperativo trouxe algumas vantagens substanciais. Há uma renda melhor, há uma formalização completa nas relações de trabalho. Ocorre um treinamento contínuo, o que proporciona melhores condições de trabalho e habilidades valorizadas no segmento. Ou seja, as vantagens fornecem condições que a maioria dos profissionais da região do território da Cantu não dispõe.

5° Fase: Reunião dos trabalhadores da construção civil

Após o término da pesquisa de campo, iniciaram o processo de realização de reuniões com os trabalhadores para discutir a formação da cooperativa, com o intuito de sensibili-zar os profissionais sobre a relevância de sua criação para a região e os benefícios que a or-ganização dos trabalhadores nessa forma de trabalho iria proporcionar aos trabalhadores. Essas atividades forneceram condições dos profissionais constituírem, em janeiro de 2010, a Cooperativa dos Profissionais da Construção Civil, dando início a uma nova fase para aqueles que se comprometeram com as possibilidades de melhoria, tanto pessoais como

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profissionais. Após a formação da cooperativa foi planejada a consolidação da mesma por meio do levantamento de obras e de cursos para aperfeiçoamento dos profissionais.

6° Fase: Os trabalhadores visitam a Cooper Casa Nova

Para facilitar a compreensão da forma de organização do trabalho os profissionais deslocaram-se a Chapecó para conhecer a Cooper Casa Nova. A visita foi realizada no mês de junho de 2009, quando dezenove trabalhadores viajaram para verificar in loco, como é o processo de funcionamento de uma cooperativa de trabalho da construção civil, as características desse tipo de organização, os benefícios e as leis que a regula-mentam. Na oportunidade foram feitos registros, isto é, entrevistas com cooperados e proprietários de obras, para posteriormente serem expostos aos trabalhadores que não tinham disponibilidade de realizar a visita. Essa troca de experiências deu um impulso especial e foi um dos aspectos que mais motivou a iniciativa de formação da cooperativa por parte dos profissionais.

7° Fase: Constituição da Cooperativa

Nas atividades para a constituição da cooperativa, a equipe continuou a realizar reu-niões com os trabalhadores. Inicialmente foram convidados profissionais de Ciências Contábeis com vistas a sanar dúvidas dos trabalhadores sobre o funcionamento desse tipo de organização. Em seguida, foi organizada uma comissão dos trabalhadores que passaria a discutir as decisões pertinentes à cooperativa. Dessa forma, nessas reuniões foram discutidas a elaboração do Estatuto e do Regimento Interno da Cooperativa, e ou-tros elementos como o nome da cooperativa e a sede. Assim, no mês de janeiro de 2010 foi realizada a 1° Assembléia da Cooperativa Cooperconlar, a cooperativa da construção civil da Cantuquiriguaçu, contando com vinte trabalhadores associados.

Destaca-se que durante o desenvolvimento do projeto a equipe enfrentou desafios marcantes como a promoção do engajamento dos trabalhadores, visto que a iniciativa para a formação da cooperativa era externa e não surgiu a partir de pessoas que fazem parte dessa classe. Ou seja, foi um processo de cima para baixo externo, e não de baixo para cima. Isso ocorreu em função, também, das características do Projeto do Univer-sidade Sem Fronteiras, que busca desenvolver ações de extensão a partir de demandas sociais especificas. Destaca-se, também, que a iniciativa constitui o desenvolvimento de uma cooperativa de trabalho em uma região onde prevalecem associações de crédito e de atividades agrícola.

Na segunda fase do projeto buscou-se consolidar a Cooperativa formada, com a in-tenção de auxiliá-la nos primeiros meses de atividade, fornecendo aos profissionais co-operados as primeiras instruções de formalização, assim como, o desenvolvimento de alguns cursos de aperfeiçoamento que permitam uma consolidação da Cooperativa.

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4. Considerações finais

O presente estudo teve a finalidade de apresentar os resultados do projeto do Progra-ma Universidade Sem Fronteiras, cujo objetivo principal consiste na formação da coope-rativa dos profissionais da construção civil. Neste sentido, a implantação da cooperativa visa o desenvolvimento de orçamentos, realização de cotação de materiais, o aprendizado e o aperfeiçoamento de técnicas de construção, melhoria na utilização de equipamentos de segurança, treinamento, orientações para a participação de licitações, formalização e recolhimento de impostos entre outros.

Dessa forma, destaca-se que para formar uma cooperativa é necessário que as pes-soas estejam interessadas e conscientes de seus objetivos, cientes da sua função de donos e usuários da sociedade. É preciso que, organizados em comitês, conselhos, núcleos ou comissões, possam contribuir da melhor maneira possível em prol daqueles que têm a responsabilidade da administração da empresa, para que todas as decisões sejam corretas e representativas da vontade da maioria (OCB, 2009). Logo, o projeto consiste na opor-tunidade de promover a melhoria das condições de vida e de trabalho aos profissionais e futuros membros da cooperativa da região Cantuquiriguaçu.

Nesse sentido o cooperativismo demanda uma alteração no comportamento das pes-soas, que passam a ter que encarar a cooperativa como fruto do seu engajamento e da sua participação. Nesse tipo de empreendimento os cooperados são donos, porém são também funcionários, e essas distintas atribuições ou papeis devem ser entendidas e en-caradas com equilíbrio, pois são totalmente distintas das relações de trabalho tradicio-nais existentes no segmento da construção civil, o que exige um certo período para serem completamente assumidos como um sistema válido. Pode-se afirmar que essa alteração de comportamento é uma das barreiras mais fortes à constituição da cooperativa, entre-tanto, está sendo enfrentada e superada dentro do processo de sua constituição.

O setor da construção civil se destaca no momento pelas expectativas de crescimento. Assim, essa iniciativa da Universidade em conjunto com a comunidade e entidades como a ACILS e a CANTU significam uma oportunidade de incrementar os indicadores de crescimento e desenvolvimento humano da região, criando a possibilidade de profissio-nalização de um setor que passou a disponibilizar à comunidade serviços de maior qua-lidade. Assim, formar a cooperativa dos profissionais da construção civil significa a pos-sibilidade de incremento da renda dos trabalhadores, a possibilidade desses profissionais defenderem, negociarem e até melhorarem as suas condições de trabalho, conseguindo maneiras mais favoráveis em relação à compra de matéria-prima e obtenção outros subsí-dios. Ao ampliarem a qualificação poderá surgir um movimento que os auxiliará na con-quista de um número maior de clientes, que serão fidelizados pela qualidade dos serviços prestados. Estes são alguns fatores que representam um estímulo ao desenvolvimento econômico e social para a região, instigando, talvez, outras categorias de profissionais.

As ações desenvolvidas durante o projeto foram planejadas e executadas de forma sólida, isto é, inicialmente buscou-se capacitar os membros para abordar os trabalhadores, conscien-

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tizá-los da relevância da cooperativa, apresentarem a eles os conceitos do cooperativismo e as características desse sistema. Adicionalmente, o projeto demandou a realização de um levan-tamento e um diagnóstico do setor na região da Cantu. O processo sofreu dificuldades e, em diversas ocasiões, as medidas tomadas não seguiram um padrão já estabelecido. Esse projeto passou por uma série de relações sociais que variam e são influenciadas por fatores específicos e conjunturais locais, o que acaba por criar um contexto que lhe é especifico, exigindo uma reflexão contínua e uma discussão permanente das ações a serem desenvolvidas.

Com relação ao levantamento realizado com os trabalhadores sua relevância para a co-munidade se deve ao fato de mostrar as características deste setor, que apesar das noticias e dados indicando para o seu crescimento, ainda é constituído por trabalhadores que exercem as suas atividades sem registro, ou seja, na informalidade. Demonstrando as carências que este setor apresenta tanto de investimentos quanto de ações que venham a melhor capacitar esses profissionais. Notou-se ainda que a elevada parcela de trabalhadores na informalidade, ou seja, é um grupo muito grande que trabalham sem garantias e sem direitos mínimos. Nes-te sentido, fica evidente a relevância desse estudo que auxilia com a conscientização desses trabalhadores a começarem a trabalhar de maneira formal, com a garantia de aposentadoria e direitos minimos. Esse é um aspecto a ser destacado no sentido de que a formalização das relações para a maioria dos profissionais soa como custo, que não é pertinente no orçamento da obra e deixa-se de considerar os benefícios de mais longo prazo que a formalização repre-senta. Alterar esse tipo de “pré-conceito” passará pelo exercício de orçar de maneira adequada as atividades e executá-las de maneira correta, isso também é um processo de aprendizagem.

Adicionalmente destaca-se a necessidade de qualificação profissional dos coopera-dos, pois o aperfeiçoamento significa maiores chances de crescimento da cooperativa, conquista de mais clientes, sua fidelização e, por conseguinte, o incremento da remune-ração dos cooperados.

No início do ano de 2010, o projeto foi prorrogado com o objetivo de consolidar a cooperativa dos profissionais da construção civil. Por conseguinte, busca-se a capacitação dos profissionais que fazem parte da cooperativa e a certificação dos serviços prestados. Dessa forma, os profissionais participantes do projeto estão identificando possíveis par-ceiros em instituições que venham a contribuir para que a cooperativa tenha condições de oferecer serviços de maior qualidade à comunidade.

Com a consolidação da cooperativa serão muitos os benefícios. Como profissionais capacitados e devidamente registrados, terão maior facilidade e condições de negociar com descontos e prazos junto a fornecedores, visto que terão o Cadastro Nacional de Pes-soa Jurídica - CNPJ. A partir dessa formalização poderão também participar de licitações de obras públicas e privadas.

Por fim, destaca-se a relevância dos aspectos referentes à capacitação e formação desses profissionais como elemento fundamental para a consolidação da cooperativa no mercado da região, proporcionando crescimento para os trabalhadores da cooperativa que irão se tornar mais valorizados perante a sua clientela e com maiores possibilidades de obter novas obras e maiores e melhores rendimentos.

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91Izamara de Oliveira Ferreira, Joelma Aparecda dos Santos Horst e Sérgio Luis Dias Doliveira

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1. Introdução

O cooperativismo tem sido uma das alternativas mais utilizadas para se gerar desen-volvimento econômico, pois, propicia a partir da união voluntária de diversas pessoas, a busca por objetivos coletivos, visando um desempenho mútuo, solucionando problemas e superando dificuldades.

Na agricultura familiar essa união por meio da formação de pequenas coopera-tivas apresenta-se como uma forma de integrar diversas pequenas propriedades em busca de novas alternativas para superar obstáculos, gerando assim, progresso a todos os envolvidos.

O presente trabalho objetiva apresentar, a partir de um estudo de caso, as vantagens advindas das relações de cooperação, bem como os benefícios e desafios encontrados neste tipo de relação. O trabalho partiu de um projeto em andamento entre o Governo do Estado do Paraná, Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, SETI, Fundação Araucária e a Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO em parceria com a Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar, denominada ‘COOR-LAF Central’.

A ‘COORLAF Central’ foi criada com o objetivo de integrar outras cooperativas de-nominadas ‘Singulares’ centralizando a compra e venda de insumos, além da venda da produção de maneira unificada, gerando assim, a partir da união de cooperativas já cons-tituídas, maior poder de barganha aos cooperados inseridos no sistema, além de aumen-tar a eficiência no processo de gestão de cada cooperativa.

A partir da criação da COORLAF Central e da inserção do projeto, vinculado ao programa de Extensão Tecnológica Empresarial-Universidade Sem Fronteiras, USF, em dezembro de 2008, como forma de auxiliar na estruturação da cooperativa central e das demais cooperativas singulares, foram estabelecidos alguns objetivos de maneira a for-

Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar:

Benefícios e desafios

Fernando Franco NettoGiomar Viana

Paulo Roberto OstSuianny Francini Conceição Luiz

Michael Robson SomerNathália Nogueira Longo

Andressa GeriLeandro José Vanz

Graziely da Fonseca Lanferdini

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talecer tanto as pequenas cooperativas de leite da região Centro-Sul do Paraná quanto a COORLAF Central, seja nos aspectos administrativos-financeiros, seja nos aspectos operacionais de produção e de comercialização, visando uma melhor rentabilidade ao pequeno produtor rural.

O trabalho está estruturado em três tópicos, além desta introdução e da conclusão. Primeiramente, é feita a revisão de literatura, a qual apresenta os aspectos relacionados ao cooperativismo, bem como sua definição, principais características e distinção das demais atividades empresariais. Posteriormente é apresentado o contexto do Cooperati-vismo no Brasil e na Economia Paranaense. Na sequência faz-se referência ao cooperati-vismo e à agricultura familiar. Por fim, o estudo da importância da cadeia produtiva do leite no Brasil e o estudo de caso da Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar e de suas Singulares.

2. Cooperativismo

Cooperativismo é um sistema de cunho internacional, cuja filosofia é a de, teori-camente, constituir-se em uma sociedade justa, livre e fraterna, em bases democráticas, materializada por empreendimentos econômicos autônomos de propriedade coletiva que satisfaçam às necessidades comuns dos membros de sociedades denominadas cooperati-vas, remunerando-os adequadamente por suas atividades. Bialoskorski (1998, p. 117) co-menta sobre as especificidades do sistema cooperativo levando em consideração a relação capital e trabalho da seguinte forma:

O empreendimento cooperativo difere da empresa de capital, por ter relação diferente entre os fatores de produção, capital e trabalho. O voto em uma cooperativa é proporcional ao trabalho – a cada homem um único voto – e a distribuição do resultado é proporcional a atividade ou trabalho de cada sócio (BIALOKORSKI, 1998, p. 117).

Portanto, as cooperativas baseiam-se em valores de ajuda mútua e responsabilidade, democracia, igualdade e solidariedade. Na tradição dos seus fundadores, os membros das cooperativas acreditam nos valores éticos da honestidade, transparência, responsabilida-de social e preocupação pelo seu semelhante.

De acordo com a Organização das Cooperativas do Brasil - OCB (2009) o coopera-tivismo tem por característica ser um movimento, filosofia de vida e modelo socioeco-nômico, o qual é capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social. Desse modo, seus referenciais fundamentais são: participação democrática, solidariedade, in-dependência e autonomia.

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A definição da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), órgão internacional que caracteriza e desempenha atividades relacionadas ao cooperativismo, identifica as carac-terísticas principais de toda organização cooperativa, a qual pode ser utilizada por qual-quer tipo de cooperativa em qualquer setor ou país. Em 1995, no Congresso Centenário da ACI, foram identificadas as principais características das sociedades cooperativas, as quais baseiam-se nos seguintes princípios:

Uma associação autônoma de pessoas que se unem voluntariamen-te para satisfazer suas necessidades comuns, por meio de uma em-presa de negócios da qual possuem a propriedade em conjunto e a controlam democraticamente, pelos seguintes princípios: 1) adesão voluntária e livre; 2) gestão democrática pelos membros; 3) partici-pação econômica dos membros; 4) autonomia e independência; 5) educação, formação e informação; 6) intercooperação; 7) interesse pela comunidade (OCEPAR, 2010).

Entende-se que o principal objetivo de uma cooperativa é melhorar a situação econômica de um determinado grupo de indivíduos, solucionando problemas ou ne-cessidades comuns, que superem a capacidade de cada indivíduo se desenvolver de forma isolada.

A cooperativa é uma empresa distinta pela sua constituição, pois possui dupla natureza, isto é, uma dimensão social e outra econômica. Dessa forma, as cooperati-vas podem ser uma alternativa para superar problemas sociais e econômicos, pois ao mesmo tempo que geram benefícios a um grupo de pessoas, os torna mais competi-tivos e eficientes.

Segundo Crúzio (2005), o cooperativismo teve início no bairro de Rochdale (Man-chester, Inglaterra - 1844), quando 28 tecelões moradores daquele local, buscavam alter-nativa econômica para atuar em um mercado dominado por senhorios gananciosos, que os submetiam à baixa remuneração, imposição de degradante jornada diária de trabalho para mulheres e crianças - de até 16 horas por dia - além do crescente desemprego provo-cado pela revolução industrial.

Com o avanço da industrialização e urbanização, muitas famílias que desenvolviam o trabalho de forma artesanal nas antigas corporações e manufaturas, se viam obrigadas a vender força de trabalho em troca de salário para sobreviver.

Com o passar do tempo surge a necessidade de organização dentro das cooperativas para que estas pudessem atuar de forma mais eficiente, formulando regras de conduta que a sociedade deveria cumprir, assim como os princípios do cooperativismo. Hoje, tais regras são consideradas ‘Princípios cooperativistas’.

Desde então, as cooperativas se disseminaram por vários setores, demonstrando a sua capacidade de enfrentar os desafios econômicos, urbanos e rurais, servindo como um

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mecanismo para aumentar a produtividade, competitividade e responsabilidade social, contribuindo para a realização de um progresso social em todo o mundo.

Diante desse contexto, a cooperativa, por sua estratégia de economia solidária e capacidade de organizar e potencializar os recursos locais, constitui-se em uma das melhores formas de organização empresarial à disposição da comunidade para de-sencadear e sustentar um processo de desenvolvimento local, amplo e autônomo. Esse desenvolvimento resulta na elevação da qualidade de vida da comunidade em geral, definida pela maior disponibilidade e qualidade de bens e serviços, ampliação do exer-cício dos direitos da cidadania e, finalmente, a implantação de um processo local de produção de bens e serviços para o atendimento, de forma autônoma, das necessidades básicas da comunidade.

Esse conjunto de princípios pretende constituir, de forma consistente e orgânica, a base teórica e as ideias motrizes do empreendimento cooperativo. Deles derivam uma série de premissas e consequências organizacionais e administrativas que caracterizam o empreendimento cooperativo.

Na atividade cooperativa, o cooperado é considerado ao mesmo tempo dono e usuá-rio da cooperativa, pois a administra e utiliza os seus serviços. Segundo Crúzio (2005, p. 84), a cooperativa é uma empresa que se distingue de outras empresas não cooperativas por alguns critérios, conforme destaca o quadro 1:

Quadro 1: Distinção entre empresas constituídas na categoria de Cooperativa e não Cooperativa.

Empresa cooperativa Empresa não cooperativa

É uma sociedade de pessoas É uma sociedade de capital.

Objetivo principal é a prestação de serviços Objetivo principal: o lucro

Número ilimitado de associados Número limitado de acionistas

Controle democrático - um homem, um voto Cada ação, um voto.

Assembleia: Quórum baseado no número de associados

Assembleia: Quórum baseado no capital.

Não é permitida a transferência das quotas-partes a terceiros, estranhos à sociedade.

Transferências de ações a terceiros

Retorno proporcional ao valor das operações Dividendo proporcional ao valor das ações

Fonte: SEBRAE (2004 apud CRÚZIO, 2005).

Pode-se considerar, a partir do quadro acima, que um dos aspectos essenciais na vi-são do cooperativismo é o benefício coletivo, não constituindo-se somente na formação do lucro por si só, mas no desempenho de todo o grupo que compõe a cooperativa.

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2.1. Cooperativismo no Brasil e na economia paranaense

Atuante, estruturado e fundamental para a economia do País, o cooperativismo bra-sileiro tem por objetivo a constituição de um sistema integrado, propiciando além de benefícios aos cooperados, um sistema cada vez mais competitivo e fortalecido.

A representação de todo o sistema cooperativo nacional está sob a responsabilidade da Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB, constituída em 2 de dezembro de 1969, durante o IV Congresso Brasileiro de Cooperativismo. A OCB institucionalizou-se legalmente, com a edição da Lei Federal 5.764/71, ao dispor, em seu Art. 105º, que a repre-sentação do sistema cooperativista nacional caberia à OCB, sociedade civil, com sede na Capital Federal, órgão técnico consultivo do governo e estruturada nos termos da citada lei, sem finalidade lucrativa.

No ano seguinte, a entidade foi registrada em cartório. Nascia formalmente aquela que é a única representante e defensora dos interesses do cooperativismo nacional, sendo uma sociedade civil e sem fins lucrativos, com neutralidade política e religiosa.

A Lei 5.764/71 disciplinou a criação de cooperativas, porém restringiu a autonomia dos associados, interferindo na criação, funcionamento e fiscalização do empreendimen-to cooperativo. A limitação foi superada pela Constituição de 1988, que proibiu a interfe-rência do Estado nas associações, dando início à autogestão do cooperativismo.

Segundo a OCB (2010), em 1998 nascia o Serviço Nacional de Aprendizagem do Co-operativismo, a SESCOOP, o qual junto com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) desenvolve atividades com o viés da educação cooperativista, sendo o responsável pelo ensino, formação profissional, organização e promoção social dos trabalhadores, as-sociados e funcionários das cooperativas brasileiras.

Atualmente, o cooperativismo brasileiro está presente em diversos segmentos e, con-forme a Organização de Cooperativas do Paraná - OCEPAR (2010), todas as organizações estaduais devem utilizar esta classificação de acordo com a decisão da Assembléia Geral Ordinária (AGO) da OCB, realizada em abril de 2000. Assim, as cooperativas inseridas na economia brasileiras estão caracterizadas a partir dos seguintes ramos: a) Agropecuário; b) Consumo; c) Crédito; d) Educacional; e) Especial; f) Habitacional; g) Infraestrutura; h) Mineral; i) Produção; k) Trabalho; l) Turismo e Lazer; e m) Outro.

No contexto paranaense, o cooperativismo está constituído por, segundo a OCEPAR (2010), 238 cooperativas registradas, as quais agrupam mais de 535 mil associados e ge-ram mais de 1 milhão e 300 mil postos de ocupação, como mostra o quadro 2.

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98 Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar:benefícios e desafios

Quadro 2: Cooperativas do Paraná registradas na OCEPAR.

Ramo Cooperativas Cooperados

Agropecuário 81 123.311

Crédito 66 346.695

Saúde 33 10.847

Transporte 19 2.373

Educacional 15 2.881

Trabalho 9 4.657

Infra-estrutura/eletrificação rural

8 7.985

Turismo e Lazer 3 292

Consumo 1 950

Habitacional 1 96

Mineral 1 22

Produção 1 20

Total 238 500.129

Fonte: Ocepar (2010).

Dentre as categorias de cooperativas inseridas na economia paranaense, destaca-se a relacionada ao ramo agropecuário que representa mais de 34% do número de cooperati-vas existentes no Estado, abrangendo mais de 123 mil associados, demonstrando assim, sua importância na economia do Estado.

2.2. Cooperativismo agropecuário e agricultura familiar

A evolução do cooperativismo agropecuário brasileiro foi profundamente influen-ciada pelas diferentes diretrizes de política econômica adotadas pelos governos ao longo do séc. XX. A primeira onda de cooperativas surgiu no período da Primeira República (1889-1930).

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De acordo com SESCOOP (2010), as primeiras cooperativas agropecuárias brasileiras, foram organizadas a partir de 1907, em Minas Gerais, com o propósito de eliminar inter-mediários da produção agrícola. As cooperativas agropecuárias também foram surgindo no Sul do Brasil, principalmente nas regiões de colonização alemã e italiana, que já conheciam o sistema cooperativo europeu, tendo como principal precursor o italiano Stéfano Paternó.

O período que se estende desde o aparecimento das primeiras cooperativas até me-ados da década de 1950 é considerado como a ‘era romântica do cooperativismo’, pois as cooperativas existentes tinham como principal objetivo eliminar o intermediário da comercialização da produção agrícola dos cooperados.

Entre as décadas de 1950 e 1970, as transformações ocorridas com a industrialização exigiram a modernização da agricultura brasileira, desencadeando a chamada ‘Revolução Verde’. Neste contexto, segundo BRDE (2003), o Estado delegou às cooperativas agrope-cuárias o papel de principal executor das políticas públicas voltadas ao setor rural, o que proporcionou forte expansão das cooperativas agropecuárias.

No início dos anos 1980, a mudança da conjuntura macroeconômica na economia nacional e mundial, bem como as políticas implementadas pelo governo, desvendaram as fragilidades estruturais das cooperativas agropecuárias brasileiras, levando-as rapida-mente a uma crise sem precedentes. Diante deste fato, de acordo com BRDE (2003), várias cooperativas apresentaram grandes dificuldades financeiras, derivadas das estratégias de crescimento adotadas pelas cooperativas durante os anos 1970. Com os planos de com-bate à inflação na segunda metade da década de 1980, o setor agropecuário é penalizado com a redução do crédito agrícola.

Tanto as transformações ocorridas nos anos 1980 e no início dos anos 1990, com a abertura comercial e, posteriormente, a estabilização da economia, pressionaram as coo-perativas a se ajustarem, com vistas a ampliar ou, pelo menos, manter sua participação no mercado. A partir deste cenário, segundo Souza e Braga (2007), houve um crescimento nos investimentos e em novas tecnologias, as quais em geral, eram intensivas em capital e exigentes de maiores escalas de produção e valorização das estratégias mercadológicas e das capacidades gerenciais. Para os autores, essas mudanças levaram à concentração empresa-rial, segmentação de mercados, lançamento de novos produtos e diferenciação dos tradicio-nais, seja por mudanças de qualidade intrínseca, seja apenas nas formas de apresentação.

Porém, com a globalização dos mercados, por um lado as cooperativas direcionaram-se ao processo de agroindustrialização, enquanto que, por outro lado, os pequenos produtores enfrentaram diversas dificuldades com a competitividade imposta pela abertura econômica, sendo que muitos foram à falência e deixaram o campo, e outros, para sobreviverem no mer-cado, buscaram minimizar seus custos, utilizando para isso melhores técnicas de produção, agindo de forma conjunta e buscando sua integração a partir de relações de cooperação.

De acordo com Pereira (1973), o escopo de uma cooperativa está no sentido de faci-litar e melhorar as condições para os associados de exploração agropecuária, buscando a transformação e comercialização dos seus produtos. Para o autor existem diversas vanta-gens que as cooperativas agropecuárias podem oferecer aos seus cooperados, como:

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100 Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar:benefícios e desafios

a) assegurar serviços indispensáveis aos agricultores;

b) garantir aos pequenos e médios agricultores possibilidades de elaborar os produtos agrícolas das respectivas explorações, o que individualmente não conseguiriam;

c) comercializar em conjunto os produtos das explorações;

d) facilitar a obtenção de crédito;

e) baixar o custo de aquisição dos materiais necessários à exploração agrícola;

f) reduzir custos de produção; e

g) difundir princípios socioculturais e técnicos de interesse para os agricultores.

Desse modo, constata-se que as cooperativas agropecuárias são fundamentais na im-plantação de novos projetos que levam à agregação de valores sobre os produtos primários, aumentando seu valor de mercado e melhorando a renda do cooperado. Com isso, o pro-dutor pode reinvestir em sua atividade produtiva garantindo a oferta de matérias-primas em níveis permanentes e, ao mesmo tempo, desenvolvendo sua região como um todo.

Uma das áreas que o cooperativismo agropecuário vem obtendo resultado significati-vo tem sido diretamente na agricultura familiar, a partir de pequenas unidades familiares que se agrupam com intuito de gerar benefícios mútuos.

Na literatura são encontrados vários conceitos e definições que caracterizam a agri-cultura familiar. Termos como colono, camponês, pequeno agricultor e pequeno produ-tor, têm sido algumas das formas que procuram identificar a heterogeneidade existente neste segmento da sociedade rural brasileira que, mais recentemente, vem sendo chama-do de agricultor ou produtor que está inserido na agricultura familiar.

Para Wanderley (1996, p. 2), “o conceito de agricultura familiar, é aquela em que a fa-mília, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo”.

Já Duque (2005) conceitua agricultura familiar como uma fusão entre a unidade de produção e a família. Nesse sentido, é fundamental pensar a viabilidade e o fortalecimen-to da unidade de produção de forma global, isto é, no conjunto das necessidades e valores da vida da família e das pessoas e o sistema de produção, visando a garantia da qualidade de vida às populações rurais.

Para Carmo (1999), a agricultura familiar demanda certa diversificação em sua atividade, bem como um nível de gestão em suas atividades, os quais estão direta-mente interligados ao proprietário empreendedor. Para o autor, a lógica da agricul-tura familiar está calcada no trabalho e gestão intimamente relacionados; direção do processo produtivo assegurada diretamente pelos proprietários; ênfase na diversifi-

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101Fernando Franco Netto, Giomar Viana, Paulo Roberto Ost, Suianny Francini Conceição Luiz, Michael Robson Somer, Nathália Nogueira Longo, Andressa Geri, Leandro José Vanz

e Graziely da Fonseca Lanferdini

cação, uso dos insumos internos, durabilidade dos recursos naturais e qualidade de vida; com eventual trabalho assalariado complementar; decisões imediatas e in loco, adequadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo e condicionadas pelas suas especificidades.

Com o passar do tempo, a inserção dos agricultores no mercado aumentou, fazendo com que estes tenham a necessidade de tomar decisões e ampliar seus rendimentos, par-ticipando com mais intensidade à lógica da agricultura moderna.

Para Schneider (2007), as possibilidades de sobrevivência dos agricultores familiares enquanto produtores de alimentos, fibras e matérias-prima, dependem fundamentalmen-te de sua capacidade de inserção em um ambiente em que sejam capazes de inovar (pro-gresso técnico), adquirir um domínio relativo sobre os mercados e desenvolver formas de gestão e planejamento da propriedade.

Diante desse contexto, uma das alternativas tem sido a união entre pequenos agricul-tores a partir de pequenas cooperativas, as quais têm a finalidade de concentrar parte da produção, comercializando-a de forma unificada, gerando assim maiores rendimentos aos cooperados e maior poder de negociação a todo o grupo. Como exemplo, pode-se citar as pequenas cooperativas de leite, que centralizam sua produção e, a partir disso, vendem o produto em maiores volumes com certo grau de padronização. Desse modo, o próximo tópico visa apresentar a caracterização da cadeia produtiva de leite, bem como suas formas de organização e especificação.

3. Cadeia produtiva do leite

O agronegócio do leite é marcado por transformações substanciais a partir dos anos de 1990, quando se inicia a desregulamentação do setor, com a menor interferência do go-verno neste mercado, por meio da liberação de preços e da abertura do mercado brasileiro de produtos lácteos ao exterior.

Segundo Alvin e Martins (2003) o leite é um dos principais produtos da pecuária na-cional e por muito tempo foi utilizado como um alimento para a subsistência das pessoas, produzido, basicamente, por pequenos produtores. Assim, durante 46 anos o leite teve tabelamento e, com isso, houve estagnação de sua cadeia e ineficiência na sua produção e comercialização.

Com o novo cenário constituído, principalmente a partir da década de 1990, com a desregulamentação da cadeia, estabilização da moeda nacional e a inserção de inovações tecnológicas na cadeia, a produção de leite passa a ser uma atividade de destaque do agro-negócio brasileiro. A grande quantidade de terras envolvidas na produção, a quantidade de mão de obra que ocupa, a geração de renda, a disponibilização à sociedade de um ali-mento de alto valor nutritivo e matéria-prima para as indústrias laticinistas também são elementos que atestam essa importância.

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102 Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar:benefícios e desafios

Assim, a cadeia produtiva do leite passa a ter significativa importância, tanto sob a ótica econômica como social. Segundo Batalha (2000, p. 14) “a cadeia produtiva do leite, em abrangência nacional, vem desempenhando um relevante papel no suprimento de ali-mentos, na geração de empregos e de renda para a população”.

O leite é considerado o mais nobre dos alimentos pela sua composição rica em pro-teínas, gorduras, carboidratos, sais minerais e vitaminas. Segundo Noal (2006, p. 12) a cadeia produtiva do leite representa:

O sexto produto agropecuário brasileiro, com uma produção de vinte e três bilhões de litros em 2003, que coloca o Brasil como o sexto maior produtor mundial, o que equivale a aproximadamente 66,5% do volu-me de leite produzido pelos países do Mercosul.

Outro destaque se dá nos setores de produção e processamento de leite, os quais re-ceberam um grande volume de capital estrangeiro, fato que demonstra o poder da indús-tria de laticínios no Brasil. Oliveira (1981, p. 35) afirma que “o leite é um produto quase totalmente monopolizado pelo capital industrial”. Para ele, o setor leiteiro está submetido quase que totalmente ao capital multinacional, sobrando para o capital nacional a fatia de distribuição de leite in natura, o qual possui menor rentabilidade no setor.

Segundo Canziani (2003, p. 228) a produção de leite está basicamente voltada aos bovinos, com pequena participação das demais categorias de rebanho:

A produção mundial de leite, de aproximadamente 450 milhões de to-neladas por ano, é obtida basicamente de bovinos de leite com parti-cipação de 10% de outros animais como búfalas, cabras, ovelhas, etc. A Europa é o principal continente produtor de leite do mundo repre-sentando 40%, contra 30% da América e 24% da Ásia, Oceania (6%) e África com menos de 1%. O Brasil é o sexto maior produtor com pouco mais de 5% do total mundial.

Para conseguir melhor resultado nesta cadeia produtiva, tanto em termos de produção para o mercado interno, quanto para o mercado externo, Zoccal et al. (2008, p. 143) aponta que:

Deve-se buscar a melhora da sua qualidade e, três aspectos merecem ser destacados: o primeiro diz respeito ao cumprimento legal dos padrões mínimos exigidos pela legislação, a Instrução Normativa nº 51, que dis-põe dos regulamentos técnicos de produção, identidade e qualidade dos diferentes tipos de leite, da coleta e do transporte; o segundo aspecto refere-se às exigências de qualidade por parte das empresas comprado-ras de leite e o terceiro às novas demandas do consumidor.

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De acordo com Zoccal et al. (2008, p. 147), no Paraná, o censo agropecuário apon-tou a existência de 321.380 estabelecimentos familiares (86,9%), com Valor Bruto de Produção, VPB-agropecuário, de R$ 2,7 bilhões, ou seja, 48,2% do VBP agropecuário do Estado. Dentre estes, a pecuária leiteira destaca-se como a quarta principal ativida-de da agricultura familiar, com valor de produção de R$ 227,9 milhões de reais, sendo desenvolvida em 152,7 mil estabelecimentos, ocupando uma área total de 3,76 milhões de hectares.

Neste sentido, para melhor compreensão da forma de composição desta cadeia pro-dutiva se faz necessário verificar quais são os elos/agentes econômicos que compõem a cadeia produtiva do leite, bem como o contexto em que o pequeno produtor de leite se encontra inserido.

A seguinte representação (figura 1) possibilita a compreensão da particularidade da cadeia produtiva do leite, a qual pode ser composta desde pequenos empreendimentos, produtores não especializados, até grandes empresas, altamente especializadas.

Figura 1 – Representação do sistema agroindustrial do leite no Brasil.

Fonte: Canziani (2003, p. 226).

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104 Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar:benefícios e desafios

A partir da figura 1, verifica-se a existência de quatro grandes grupos: primeiramente os fornecedores de insumos, sendo este, o elo que vai fornecer máquinas e equipamentos necessários ao início das atividades dos produtores de leite.

No segundo elo, composto pelos produtores de leite, caracterizam-se os produtores especializados, que utilizam técnicas especializadas à produção e aderiram às inovações tecnológicas desenvolvidas pelo elo anterior da cadeia, e os não-especializados, que atu-am ainda de maneira artesanal no processo de produção, produzindo em grande parte para consumo próprio e vendas diretas ao consumidor final.

O terceiro elo é representado pelas indústrias, compostas por multinacionais, coope-rativas, grupos nacionais e pequenos e médios laticínios. Sendo este um dos elos que mais influencia na produção e no preço do produto ao consumidor final. Por fim, encontra-se o setor de distribuição, composto por panificadoras, supermercados, e grandes atacadis-tas, os quais irão propiciar a chegada do produto ao consumidor final.

Dentre os elos apontados, merece destaque o que refere-se ao elo da produção, por ser um dos mais importantes nesta cadeia produtiva e, de certa forma, apresentar maior fragilidade já que está sujeito à imposição de normas e regras dos demais elos da cadeia, além do baixo poder de barganha frente aos grandes laticínios e grandes empresas in-seridas no setor.

Diante disso, a formação de pequenas cooperativas tem sido uma estratégia para agrupar a produção e tentar amenizar as dificuldades encontradas por pequenos produ-tores, seja no caráter técnico de produção ou até mesmo de gestão e comercialização nesta atividade. Além disso, outra alternativa, posterior à formação de pequenas cooperativas de leite, tem sido a união destas cooperativas, denominadas ‘singulares’, formando uma cooperativa ‘central’. A partir disso, as cooperativas centrais, passam a exercer papel de integração do grupo, trabalhando por objetivos comuns, gerando maior poder de nego-ciação, comercialização de insumos e a venda de seus produtos em grandes lotes, o que vem a gerar melhores resultados a todo o grupo.

4. Cooperativas de leite da agricultura familiar: o caso da COORLAF-Central e suas singulares

A criação do Sistema de Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar com Interação Solidá-ria (COORLAF), a qual congrega aproximadamente 700 pequenos produtores rurais, é início de um processo de amplo significado social, visando melhor remuneração aos seus produtos junto aos laticínios existentes nos municípios, bem como o fortalecimento na gestão das cooperativas inseridas na agricultura familiar. Suas atividades surgiram a partir da iniciativa de agricultores familiares da região em busca de interesses comuns, organizando-se de forma cooperativa.

Atualmente o Sistema COORLAF integra cooperativas singulares em diversos municí-pios da região Centro-Sul do Paraná, como os de Boa Ventura de São Roque, Candói, Can-

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tagalo, Laranjeiras do Sul, Pinhão, Reserva de Iguaçu, Santa Maria do Oeste e Turvo. Sua sede está localizada no município de Guarapuava e é denominada COORLAF Central. Os municípios, bem como a região onde estão inseridos, podem ser verificados na figura 2.

Figura 2 – Distribuição regional das cooperativas singulares inseridas no Sistema COORLAF.

Fonte: Adpatado de IPARDES (2010).

Além destes municípios existem outros em processo de inserção no sistema COOR-LAF, como os municípios de Pitanga e Prudentópolis, os quais ainda encontram-se em processo de constituição/integração.

A COORLAF Central foi instituída e criada formalmente em 13 de junho de 2008 com sede e administração em Guarapuava, estado do Paraná. A partir da constituição da COORLAF Central, foram estabelecidos diversos propósitos a este empreendimento, de forma a fortalecer as ações das cooperativas singulares e da cooperativa central, tanto nos aspectos operacional e da produção, como nos de comercialização, visando melhor rentabilidade aos seus cooperados.

Assim, a COORLAF Central tem como objetivo organizar os serviços administrati-vos, financeiros, contábeis e assistenciais de interesses às filiadas, integrando e orientan-do suas atividades, bem como facilitar a utilização recíproca de serviços, a fiscalização, a auditoria e a capacitação permanente de seus quadros e das cooperativas singulares a ela filiada. Desse modo, as atividades atribuídas e desenvolvidas pelo Sistema COORLAF, de acordo com o seu Estatuto Social, regido pela Lei n º 5.764, de 16/12/1971, são:

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106 Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar:benefícios e desafios

a) Desenvolver atividades de formação e prestação de serviço de interesse comum da sociedade e suas associadas, bem como assistência técnica;

b) Participar, em nome próprio ou de suas associadas, de programas de incentivo de produção agropecuária, levando a eles novas tecnologias de produção;

c) Buscar e canalizar ao setor agropecuário recursos financeiros, por meio de agên-cias financeiras, estatais ou particulares, nacionais ou internacionais, destinados ao cus-teio e investimentos que promovam a melhoria das condições de produção do setor;

d) Atuar na industrialização e comercialização da produção agropecuária, seus deri-vados e subprodutos, de insumos, bens de capital e de consumo próprio do setor, podendo operar com terceiros dentro dos limites legais, em benefício próprio e de suas associadas; e,

e) Proporcionar a comercialização de produtos e insumos agropecuários para o bene-fício de suas associadas.

Conforme verifica-se, a atividade econômica abrange a prestação de serviços admi-nistrativos, de assessoria técnica, de organização, de industrialização, de comercialização da produção agropecuária e educativos em beneficio e em defesa dos interesses de suas cooperativas associadas, objetivando a construção e a gestão de políticas de fortalecimen-to da agricultura familiar.

5. Benefícios e desafios advindos da integração da ‘COORLAF Central’ e da inserção do projeto ‘CERCOOP’

A partir da inserção da COORLAF-Central, constatou-se que as cooperativas ‘singu-lares’ inseridas no Sistema COORLAF, bem como a própria COORLAF Central, encon-traram certa dificuldade em seu processo de integração, bem como na padronização das atividades realizadas nas cooperativas singulares, pois para seu pleno desenvolvimento ha-via a necessidade de uma estrutura organizacional básica à empresa cooperativa, tal como: qualificação do pessoal, contratação, instalações próprias; regimento interno; contratos de adesão dos associados; controles financeiros e administrativos; contratos de compra e venda de leite; pesquisa de preço, além do essencial em qualquer segmento de gestão: organização administrativa e contábil que encontrava certa dificuldade para seu pleno desempenho.

É neste contexto que a parceria entre o Estado do Paraná, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - SETI, Fundação Araucária e a Univer-sidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO, por meio de um projeto de cooperação e parceria entre Universidade e a Cooperativa em questão, denominado ‘Planejamento e

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Gestão Estratégica para a Central Regional de Cooperativas do Centro-Oeste do Paraná – CERCOOP’ buscaram unir esforços para dinamizar o desempenho de todo o Sistema COORLAF, oportunizando assim, a transferência de conhecimento acadêmico e técni-co na capacitação da gestão administrativa, financeira, tecnológica (sanidade e genética animal, além de propor melhorias para aumento na produção e qualidade do leite, orien-tando na alimentação do rebanho leiteiro e nos cuidados básicos de higiene na ordenha), fazendo frente aos desafios do mercado.

O projeto Planejamento e Gestão Estratégica para a Central Regional de Cooperati-vas da Região Centro-Oeste do Paraná - CERCOOP, vinculado ao programa de Extensão Tecnológica Empresarial-Universidade Sem Fronteiras - USF, teve início em dezembro de 2008. Desde a referida data realizou-se visitas com os envolvidos no projeto, bem como com a Diretoria da COORLAF Central e das Cooperativas Singulares, com o intuito de co-letar dados e informações sobre a situação e as necessidades de cada cooperativa, para que, a partir dessas informações, fosse possível desenvolver o trabalho específico do projeto.

Assim, com o início do projeto foi possível estruturar a COORLAF Central que, apesar de já constituída formalmente, não possuía estrutura física e operacional, o que somente ocorreu a partir do mês de agosto de 2009, com a implantação de sua sede nas dependências da RURECO, no município de Guarapuava/PR, unindo o conhecimento dos profissionais recém-formados do Projeto como mão de obra inicial para impulsionar o início das atividades na COORLAF Central.

A partir da análise da constituição da COORLAF Central e das Cooperativas Singu-lares foram estabelecidos os objetivos do projeto que centralizaram-se na gestão estratégi-ca, econômico-administrativa de todo o sistema, além de propiciar ao pequeno Agricultor Familiar, orientação nos aspectos técnicos de produção que abrangem a área de manejo e tratamento do rebanho leiteiro, orientando melhorias na alimentação, higiene e qualida-de na produção leiteira, por meio de palestras e treinamentos aos cooperados.

Assim, de forma específica, o projeto objetivou analisar os fatores de produção como logística de captação, custos, distribuição, e analisar os impactos de estratégias operacio-nais conjuntas entre cooperativas, atuando como empresas compradoras e vendedoras, levando em conta referências como o preço, logística, produção, comercialização, ges-tão, marketing, entre outros fatores. Além de proporcionar aos cooperados assistência técnica-veterinária.

Com intuito de estruturar as atividades administrativas das cooperativas os profis-sionais recém-formados (profissionais da área de Administração, Ciências Econômicas, Marketing e Secretariado Executivo) também fizeram um acompanhamento das ativida-des desenvolvidas em cada cooperativa Singular, para assim, executar um plano de ações focado na organização de todos os procedimentos administrativos e contábeis, mostran-do a necessidade e importância que estes procedimentos fossem padronizados em todo o Sistema COORLAF, para uma melhor gestão da Cooperativa, aperfeiçoando o desempe-nho organizacional das cooperativas.

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108 Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar:benefícios e desafios

Todo o trabalho identificou a necessidade de uma padronização da gestão e até mesmo da organização por parte dos produtores a fim de melhorar seu desempenho, tornando-os mais eficientes em suas atividades, já que estes fazem parte de um sistema onde suas atitudes e decisões são tomadas em conjunto, tanto no momento da compra de insumos junto aos fornecedores, quanto no momento da negociação do produto jun-to aos clientes.

Com o crescimento e desenvolvimento das cooperativas, aos poucos, todas as coope-rativas singulares foram equipadas com computadores, impressoras e acesso à internet; tal fato facilitou a comunicação entre as cooperativas singulares e a Central, facilitando o processo de gestão das cooperativas.

Para o melhor controle e organização das atividades administrativas, o Sistema CO-ORLAF, contratou uma empresa de locação de software específico da área contábil, o qual também tem como ferramenta a gestão financeira, que possibilita controle de caixa, de entrada e saída, estoque e todas suas movimentações, possibilitando cadastro dos sócios, fornecedores, produtos, além de emissão dos valores financeiros que cada cooperado irá receber a partir da entrega de produtos à cooperativa, recibos e notas fiscais eletrônicas, que a partir do ano de 2010, tornaram-se obrigatórias no país.

Para tanto, também foram realizados treinamentos aos operadores do programa, de forma que pudessem compreender sua dinâmica de operacionalização. Depois da estru-tura pronta, as cooperativas singulares regularizaram suas pendências junto a Receita Federal e Estadual, para que, dessa forma, tivessem o direito de emitir a nota fiscal ele-trônica por meio do sistema contratado. Com esse sistema, o controle interno de cada unidade pode tornar-se mais eficiente, haja vista as ferramentas que ele disponibiliza para a melhor organização nos procedimentos fiscal, contábil e de administração financeira das cooperativas.

Com isso, as Cooperativas tiveram a possibilidade de unir o conhecimento adquirido em anos de trabalho no campo, pela experiência dos próprios cooperados e integrá-lo ao conhecimento acadêmico dos profissionais advindos do projeto, os quais conseguiram por meio das suas competências, explicar a importância da organização administrativa, financeira e contábil em qualquer ambiente de trabalho.

Também foram realizadas palestras junto aos sócios e à Diretoria do Sistema CO-ORLAF, no que diz respeito ao Estatuto, funções e suas obrigações, podendo assim, além de aumentar o conhecimentos dos associados, dar a eles maior confiança para trabalhar com o mercado, podendo argumentar e lutar por seus direitos, aumentando o poder de barganha das cooperativas junto aos laticínios, gerando a possibilidade do pagamento de um preço mais justo pelo litro de leite produzido em cada propriedade, o que, por con-sequência, pode propiciar maior renda aos seus associados, contribuindo para a melhor qualidade de vida da população local e fortalecendo o Sistema COORLAF.

Outro aspecto do projeto, se deu a partir dos resultados da inserção do profissional recém-formado da área de Medicina Veterinária, que trabalhou diretamente com os pro-dutores de leite das diversas regiões atendidas pelo Sistema COORLAF. Tal profissional

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auxiliou os produtores na inserção de técnicas no manejo do leite, na qualidade da pro-dução, instruindo-os sobre as doenças que ameaçam a saúde do rebanho leiteiro e até mesmo do próprio homem; visando assim, melhorar a rentabilidade dos produtores, bem como o crescimento das cooperativas inseridas no sistema.

Também, durante as palestras foi entregue aos cooperados uma Cartilha/Manual, contendo alguns processos de padronização na atividade de ordenha e no cadastro dos animais em cada propriedade, visando registrar a produtividade do rebanho, bem como facilitar o diagnóstico dos pontos fortes e fracos de cada propriedade.

Outro trabalho efetuado pela profissional graduada em Marketing, foi a elaboração da logomarca da cooperativa, além de banners, calendários, cartões de visitas e outros materiais para a divulgação de cada cooperativa. Também foi desenvolvida a fachada, site e instrumentos de marketing direto a fim de divulgar a cooperativa e melhorar sua imagem perante o mercado.

É importante ressaltar que o Sistema COORLAF também conta com a participação da União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária, UNI-CAFES, por meio do convênio com a Secretaria Nacional de Economia Solidária, que visa qualificar os agricultores familiares e trabalhadores rurais e urbanos na formação de cooperativas solidárias, o qual conta com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, FAT, do Orçamento Geral da União e com a contrapartida de instituições parceiras (go-vernamentais e não-governamentais).

Mesmo a partir da atuação dos profissionais recém-formados no Sistema COORLAF é necessário ressaltar algumas dificuldades encontradas tanto no âmbito organizacional quanto nas questões financeiras das cooperativas, como, por exemplo, a falta de recursos para contratação de mão de obra qualificada, o que acaba comprometendo parte do tra-balho realizado nas cooperativas singulares e na própria COORLAF Central.

Outro fato se dá por conta da resistência por parte de alguns dirigentes das Co-operativas Singulares em relação a algumas propostas realizadas pelos profissionais do projeto, o que acaba inibindo a execução de alguns procedimentos que viabili-zam a melhoria do sistema organizacional das cooperativas, tais como: alimentação, controle e atualização de informações do sistema de software contratado, além da formalização correta das reuniões executadas por meio de Atas e Assembléias Gerais Extraordinárias, as quais comprovam a execução do trabalho exercido pela Coope-rativa de forma legal. Além disso, ainda há resistência por parte desses dirigentes em efetuar um planejamento dos gastos financeiros que acabam comprometendo a saúde financeira da cooperativa.

Tais situações acabam diminuindo a capacidade operacional e até mesmo de gestão destas cooperativas, o que pode gerar prejuízos e conflitos entre todos os cooperados, pois em muitos casos alguns cooperados acabam desligando-se das cooperativas, reduzindo seu potencial e onerando os demais sócios inseridos no sistema.

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110 Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar:benefícios e desafios

6. Considerações finais

A junção de esforços via cooperativismo é, atualmente, o método mais empregado para investimentos em equipamentos, captação e venda em conjunto da produção e, se bem ad-ministrado, constitui-se em fator de amplo significado na melhoria do bem-estar social.

Conforme observado na teoria, verifica-se que o cooperativismo é um sistema que visa satisfazer necessidades comuns entre os cooperados, buscando desenvolver-se de forma democrática, com características específicas, priorizando sua autonomia e inde-pendência, servindo como um mecanismo para superar dificuldades individuais, dina-mizando benefícios coletivos à sociedade.

Verificou-se que no Brasil, e principalmente na economia paranaense, o cooperativis-mo exerce grande influência, seja devido a geração de emprego e renda, seja por apresen-tar-se como um mecanismo de inserção social; pois apresenta-se em diversos setores, seja no ambiente educacional, habitacional, agropecuário, entre outros.

Dentre tais categorias, observou-se a importância que o cooperativismo agrope-cuário apresenta na economia paranaense, bem como sua inf luência na agricultura familiar, pois potencializa a produção e comercialização de seus produtos, facilita a obtenção de crédito e minimiza a exploração advinda de grandes corporações à sua atividade, além de potencializar a utilização de técnicas de produção que não seriam utilizadas de forma isolada; servindo, assim, como um alicerce ao pleno desempenho em sua atividade, já que tal categoria apresenta maior fragilidade perante os grandes latifundiários e grandes empresas inseridas no contexto econômico, inclusive no sis-tema agropecuário.

Na agricultura familiar, uma das atividades de destaque é a produção do leite, já que esta atividade produtiva apresenta-se na maioria das pequenas propriedades. Contudo, muitos produtores familiares têm encontram grande dificuldade em manter-se nessa atividade, já que tal setor demanda um nível cada vez maior de padronização, qualidade e competitividade, bem como a utilização de técnicas aperfeiçoadas de manejo e extra-ção do leite.

Uma alternativa para minimizar tais dificuldades tem sido a constituição de peque-nas cooperativas, de forma a propiciar alternativas que resultem em maior poder coletivo no momento da negociação de produtos, compra de insumos e inserção de técnicas apri-moradas na atividade.

O caso do sistema COORLAF demonstra esse tipo de interação, o qual a partir da união de pequenos produtores possibilitou a cooperação e aumento de sua representati-vidade na atividade em que estão inseridos. Com sua inserção percebeu-se que, a partir da cooperação, há maior possibilidade de obter crescimento de forma sustentada. Além disso, com a união de diversas cooperativas, constatou-se que existem novas alternativas para dinamizar a atividade, pois quanto maior e mais integrado estiver o grupo maior será seu poder de negociação perante seus credores e fornecedores.

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Com a inserção do sistema COORLAF e sua parceria realizada com o Governo Esta-dual e Universidade, abriu-se um leque de vantagens à cooperativa, pois com a inserção de profissionais recém-formados e demais profissionais inseridos no projeto foi possível estabelecer maior integração entre os cooperados, bem como um planejamento de ações específicas para a COORLAF Central, gerando diversas vantagens aos envolvidos, como a própria estruturação da cooperativa, melhoria em sua gestão administrativa e em aspec-tos técnicos relacionadas à atividade dos cooperados.

Mesmo assim, foram constatados alguns desafios ao pleno desempenho da coopera-tiva, bem como os relacionados às questões financeiras, de gestão administrativa e ope-racional, no sentido da pouca qualificação dos produtores no manuseio dos animais e do produto. Neste cenário, as cooperativas estão limitadas quanto à capacidade de investi-mento que ajudaria em todo o processo de melhoria da qualidade do leite, armazenamen-to, coleta e transporte.

Em relação à estrutura organizacional, as cooperativas ainda não possuem condições financeiras suficientes para contratar mão de obra para auxiliá-las nas funções adminis-trativas, contábeis e técnicas, por isso, o suporte da central e a parceria com o Projeto da Universidade Sem Fronteiras, que destina seus profissionais para auxiliarem na atividade da cooperativa é de grande proveito, pois possibilita a melhor estruturação do Sistema COORLAF, aumentando o número de associados e ajudando no crescimento da produti-vidade, para que, dessa forma, o sistema possa ter capacidade real de contratar colabora-dores. Isso auxilia tanto os estudantes, graduados e/ou graduandos, como as cooperativas que, sem ter condições financeiras para contratá-los, aproveitam o conhecimento desses profissionais em suas áreas de formação e estudo proporcionando experiência de merca-do, que nos dias de hoje é tão requerida para contratação.

Além disso, observou-se como fatores restritivos ao pleno desempenho nessa ativi-dade, a dificuldade em adotar um sistema padronizado de gestão de cada cooperativa, o qual permita uma integração de dados e procedimentos essenciais ao seu pleno desenvol-vimento, além da dificuldade em estabelecer um planejamento de médio e longo prazo em cada cooperativa singular, o que permitiria maior capacidade e comprometimento em sua gestão financeira.

Dessa forma, fatores como conscientização dos produtores e da direção das coopera-tivas também são fundamentais para o desenvolvimento das unidades produtoras. Nesse caso, é importante ressaltar que o apoio da iniciativa pública e privada também são essen-ciais para o desenvolvimento da atividade.

Mesmo assim, o trabalho evidenciou excelentes resultados, os quais tendem a efeti-var-se cada vez mais a partir da maior interação entre os cooperados inseridos no sistema, evidenciando assim, a importância e o potencial da integração entre os associados inseri-dos no sistema cooperativo.

Como sugestão, o início do processo de industrialização do leite é uma alternativa para a manutenção e expansão do sistema COORLAF, promovendo o pagamento de um preço justo do leite e gerando maior renda para os associados, pois direta ou indiretamen-

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112 Relações de cooperação entre produtores rurais da agricultura familiar:benefícios e desafios

te afetará a política de preços do leite pago ao produtor e praticada pelos demais concor-rentes da região, valorizando assim o produto. Outro fator seria a implantação e a conti-nuidade de programas específicos para a qualificação profissional de todos os envolvidos. Além disso, seria importante estabelecer uma projeção para melhoria da qualificação de mão de obra, tornando indispensável a contratação de profissionais de gestão e técnico para realizarem o acompanhamento diário com os agricultores, contribuindo assim para o crescimento de todos os associados.

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1. Introdução

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII, foi o marco histórico no processo produtivo que consistiu num conjunto de mudanças tecnológicas e sociais. Neste período, o trabalho passou de manufatura para maquinofatura, pois houve uma mecanização dos processos de fabricação dos produtos que antes eram produzidos por atividades manuais. As máquinas, aos poucos, foram substituindo a mão de obra humana, desqualificando o tra-balhador, diminuindo o salário destes e, consequentemente, aumentando o desemprego.

Bolaño (2002) enfatiza que o aspecto mercadológico envolvido, como na Revolução In-dustrial inglesa original, é central basicamente porque permite o avanço da subsunção do tra-balho. Esta é a chave para a compreensão do processo. A subsunção real do trabalho significa que o trabalhador perdeu sua autonomia e o controle que tinha sobre o processo de produção, cuja estrutura e ritmo passam a ser ditados pela máquina. Esta condensa o conhecimento que o capital extraiu do trabalhador artesanal no período da manufatura e desenvolveu-o com o apoio das ciências. Assim, é a máquina que passa a usar o trabalhador – e não mais o contrário – e o capitalismo pode expandir-se, revolucionando o modo de produção.

A situação passou a se agravar na década de 90 com uma profunda transformação das lógicas trabalhistas, uma abertura da economia e também a inclusão de novas empre-sas que geraram uma disputa acirrada pelo espaço de mercado. Esses fatores aliados ao crescente desemprego motivaram o crescimento do mercado informal que, por sua vez, impulsionou iniciativas individuais e coletivas tais como a cooperação e a associação.

As bases e as ideias do associativismo e o cooperativismo decorrem dos primórdios dos seres vivos; séculos atrás, os primeiros organismos lutavam pra crescer e se reproduzir, ao passar do tempo esses organismos foram evoluindo e ganhando complexidade, em sua adap-tação apenas os mais fortes sobreviviam. Os poucos fracos que resistiam estavam organiza-dos em grupos onde a ajuda mútua entre os organismos garantiam a sua sobrevivência.

Desenvolvimento econômico e sustentabilidade:

Enfrentando os desafios de cooperar

Andressa Moraes DutraCarlos Cesar Garcia FreitasFélix Antônio Kasteller Savi

Kelly Poliane Rodrigues

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Segundo Paes (2006), a associação é uma modalidade de agrupamento dotada de personalidade jurídica, sendo pessoa jurídica de direito privado voltada à realização de interesses dos seus associados ou de uma finalidade de interesse social, cuja existência legal surge com a inscrição de seu estatuto no registro competente, desde que satisfeitos os requisitos legais, que ela tenha objetivo lícito e esteja regularmente organizada.

Nesse contexto, o associativismo dos pequenos grupos de artesãos tem o objetivo de enfrentar um cenário de concorrência agressiva e desigual. A partir do momento em que uma nova concorrência se instala no mesmo espaço geográfico (bairro, cidade ou região) acaba por impor uma competição local destruindo sorrateiramente sempre o menor. As-sim, o poder local dos pequenos empreendimentos pode se fortalecer por meio do asso-ciativismo e do cooperativismo. Organizando-se pela ajuda mútua os pequenos produto-res geram uma força maior para enfrentar a concorrência, se impondo ao mercado por meio de vários benefícios, tais como, redução de despesas administrativas, favorecimento da negociação junto a fornecedores e redução de custos de comunicação com o mercado.

Pela força da ação do interesse coletivo em detrimento do interesse individual é que se dá o chamado espírito da associação, que busca o desenvolvimento do coletivo. Porém, apesar dos amplos benefícios da participação da associação, viver em associação ou coo-peração exige sacrifícios, o que nem sempre é compreendido pelos envolvidos.

Neste contexto, situa-se o presente capítulo, que consiste no relato de experiências dos envolvidos junto ao projeto Identidade Cultural e Desenvolvimento Econômico, iniciado em 2008, financiado pelo Governo do Estado do Paraná, realizado por professores e acadêmicos da Universidade Estadual do Centro-Oeste, referente à realidade vivenciada em torno da atividade de artesanato na região de Irati, representada por uma Associação de Artesãos.

Propõe-se a discutir a problemática encontrada na época da proposição do projeto, por meio de uma análise histórica do processo de cooperação dos artesãos. Para tanto, o capí-tulo foi estruturado nos seguintes temas: artesanato como geração de renda e trabalho; ati-vidade artesanal local e expressão cultural; consolidação da identidade cultural com base na sustentabilidade; cooperação como alternativa de emancipação; forças influenciadoras e processo histórico de formação da associação; problemática na gestão da associação; o projeto identidade cultural e desenvolvimento econômico e perspectivas futuras.

2. Artesanato como geração de renda e trabalho

A pobreza pode ser entendida de diversas formas: carência de bens materiais e servi-ços essenciais, carência social, carência de autoestima e, principalmente, a falta de recur-sos econômicos ou os meios de geração destes recursos. Na busca de soluções, o combate a pobreza é normalmente considerado um objetivo social e, na maioria das vezes, são realizadas ações de maneira momentânea, ou seja, tendendo a satisfazer apenas as neces-sidades instantâneas do indivíduo. Tal prática, considerada assistencialista, não é capaz

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de transformar a realidade social das comunidades mais pobres, pois acaba conservando a situação de carência ao longo do tempo.

Na visão de Soares (2007), a pobreza não é um estado social natural, mas o resultado de um processo histórico de exploração, expropriação, discriminação, não instituição de direitos e concentração de renda, riqueza, poder e informação. A exclusão social, a perife-rização e a segregação urbana, enquanto problemas atuais e urgentes, são produtos de um processo de desregulamentação de mercados, precarização e flexibilização do trabalho, nova divisão social e internacional do trabalho, entre outros processos que remetem a uma composição social de grupos, classes, instituições, empresas e governos que pro-movem a segregação de populações inteiras no sistema capitalista, isto é, a produção de excluídos da sociedade, os condenados do sistema.

Soares (2007), ainda ressalta que a pobreza urbana tem formas próprias de manifesta-ção e concentração, sua materialidade é visível no espaço urbano por meio do improviso das formas de moradia e das maneiras de ocupar os espaços da cidade. Estes lugares, pro-duzidos por um Estado que se atrela aos interesses neoliberais, são esquecidos pelo poder público, redundando em espaços periféricos com urbanização precária, redutos da vio-lência, produzidos pela segregação social. Ao segregar, excluir e estigmatizar, a pobreza priva o acesso à cidadania, aos direitos e põe em questão a própria noção da política. A ci-dade constituída por territórios de conflitos é uma cidade multi-polarizada, segmentada e, ao mesmo tempo, alinhavada pela lógica do capital, que impossibilita que o pobre saia da pobreza, criando formas de gerenciamento para a exclusão. Neste perverso esquema de naturalização e gestão filantrópica da pobreza, a cidadania é aniquilada e sua noção clássica de ‘direito a ter direito’ perde sentido.

Para Rocha (2002), o princípio da solidariedade pode ser colocado como opção criati-va para fazer frente ao paradigma neoliberal que convivemos hoje de forma compulsória nas sociedades ocidentais. Contrapondo-se à mercantilização do homem imposta pelo neoliberalismo, o mecanismo de ação recíproca entre cidadãos livres poderá constituir uma via para romper com a hegemonia neoliberal, no entanto, o solidarismo filantrópico deve ser criticado como forma de encarar o problema com coragem, estruturalmente. Doar o quinhão da riqueza para os pobres é bem diferente do que construir uma consci-ência de classe com o trabalhador e /ou fomentar a cidadania de um povo para reivindicar educação, qualificação e emprego de forma crítica e autônoma.

Sendo assim, percebe-se que a pobreza não se resolve com medidas ou atitudes sim-plistas, tais como a doação de dinheiro em forma de esmola ou a oferta de cestas básicas. O combate à pobreza deve ser efetuado por meio de atividades que propiciem a geração de renda familiar visando à capacitação ao trabalho dos desprovidos, de modo a promover condições para que estes possam se realizar mediante uma produção autossustentável.

Cabe destacar ainda que a pobreza e a desigualdade, não são geradas apenas pelo capitalismo, mas em muito devem a este, em razão de dois fatores principais destacados por Estenssoro (2003); o primeiro dos fatores é o crescimento econômico capitalista, ou seja, a expansão comercial e o investimento externo como processos que extraem o

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excedente dos setores e classes não-capitalistas e constituem e consolidam nas áreas de periferias do sistema o imperialismo e a sua contrapartida interna, a dependência. O segundo fator é a super-exploração dos trabalhadores por meio da extração crescente de mais-valia (intensificando o trabalho e desvalorizando os salários com relação ao valor da força de trabalho) e o processo simultâneo de inclusão marginal do sistema dos desempregados e dos pobres.

Nesse caso, os desempregados atuam no modelo capitalista como um exército indus-trial de reserva no setor competitivo que procura, cada vez mais, trabalhadores com uma melhor capacidade de atuação no mercado, deixando de lado a mão de obra não-especia-lizada e gerando mais desigualdade social entre os empregados e os desempregados.

No entanto, considerar os processos de reprodução da pobreza exprime examinar o capitalismo na sua história, avaliando o modo de gestão e produção econômica que domi-nou os últimos anos da humanidade.

Segundo De Masi (2000), a produção manual que antecede a industrial, era caracte-rística da Idade Média, durante o renascimento urbano e comercial, sendo representado por uma produção de caráter familiar na qual, o produtor denominado artesão, traba-lhava com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, passando pelo acabamento, até a sua venda. Não havia uma divisão do trabalho.

Segundo De Masi (2000), a produção manual que antecede a industrial, era característica da Idade Média, durante o renascimento urbano e comercial, sendo representado por uma produção de caráter familiar na qual, o produtor denominado artesão, trabalhava com a famí-lia em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, passando pelo acabamento, até a sua venda. Não havia uma divisão do trabalho.

A Revolução Industrial trouxe consigo uma preocupação excessiva com a produção em larga escala, associada com a eficiência no setor produtivo levando, de acordo com De Masi (1999), à necessidade daqueles artesãos que antes eram autônomos, tornarem-se subempregados e dependentes, submetidos a uma disciplina que, até então, era desco-nhecida por eles. Diferentemente da era artesanal, os ambientes de trabalho tornaram-se extremamente brutalizados, frios e racionais. A troca das mãos pelas máquinas excluiu o indivíduo deste ambiente, promovendo a alienação do trabalhador, onde este se tornava um escravo do sistema.

No entanto, o crescimento econômico capitalista culminou para uma expansão co-mercial dos produtos e para uma produção em massa, gerando uma desvalorização do processo artesanal pelo de mecanização, onde apenas um produtor acaba detendo o processo de produção e, ao passar do tempo, vai sendo alienando, seja pela apropriação do conhecimento de produzir, como pela superespecialização do trabalhador, que acaba tendo seu ofício resumido a atividades divisionadas (pequena parte do processo todo). O resultado direto disto é que o processo artesanal, antes detido pelo trabalhador, acaba sendo esquecido.

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119Andressa Moraes Dutra, Carlos Cesar Garcia Freitas, Félix Antônio Kasteller Savi e Kelly Poliane Rodrigues

O trabalho artesanal, que antes da Revolução Industrial predominava como princi-pal mecanismo de desenvolvimento econômico da sociedade, acabou se tornando a arte esquecida, praticada de forma minoritária, como um trabalho auxiliar para a geração de renda familiar, por trabalhadores socialmente excluídos.

Na atualidade, além da geração de renda familiar, o artesanato também contribui para o desenvolvimento econômico. De acordo com Vox Populi (2009), é grande o im-pacto do segmento artesanal na economia brasileira, representado por 8,5 milhões de artesãos que têm um faturamento médio mensal de um salário mínimo, e que geram uma arrecadação bruta nacional de R$ 52 bilhões ao ano. Outro dado importante é o aumento do faturamento do artesão brasileiro em quase 30%, de 2008 a 2009, e a diminuição do valor da matéria-prima de 59% para 47%.

Características como aplicabilidade e adaptabilidade fazem do artesanato uma alterna-tiva de intervenção social atraente, em termos de geração de renda e trabalho, às classes não privilegiadas. A geração de renda por meio da prática do artesanato, portanto, acaba sendo uma medida da erradicação da pobreza, aumento da condição social da população de classe baixa e também do desenvolvimento econômica de uma região. Ou seja, consiste numa forma de desenvolvimento parcimonioso, que trata de diminuir as desigualdades sociais, gerando renda às famílias e dando a elas uma possibilidade de prosperação econômica e va-lorização das expressões culturais, além de estimular a atividade turística de uma região.

É nessa realidade que se insere o artesanato como forma de erradicação da pobreza e geração de renda contínua e crescente. A prática do artesanato e sua venda tornam-se uma riqueza familiar que, se bem gerida, entra em constante crescimento lucrativo. Porém, o avanço do artesanato depende de fatores gerenciais bem como da profissionalização do artesão. O produtor deve buscar capacitação no gerenciamento do empreendimento, en-volvendo aspectos ligados a gestão do negócio, marketing, comercialização, organização e percepção de mercado, agregando valores a sua produtividade, melhorando os serviços prestados, aumentando a competitividade e acrescentando as possibilidades de comercia-lização do produto. Em síntese a atividade do artesanato deve ser realizada considerando-a como uma atividade profissional, embasada na cultura de negócios.

Para que o artesanato possa se consolidar em uma região, é preciso que esta ativida-de seja organizada e tratada de modo profissional; não é porque se trata de um produto artesanal que este será adquirido, mas que, além disto, atenda a uma necessidade ou demanda de mercado. No entanto, a realidade do artesão é precária em termos de co-nhecimento e de recursos, e o caminho para a superação destas deficiências passa pela associação ou cooperação.

Segundo IPARDES (2007), a região Centro-Sul do Paraná, apresentava em 2000, 36,7% (23.620) do total de famílias em condições de pobreza, indicador superior à média paranaense, de 20,9%. De modo geral, todos os municípios da região apresen-tavam taxas de pobreza extremamente elevadas, que chegaram a ultrapassar o dobro da média estadual.

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É neste sentido que o uso do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) em análises socioeconômicas apresenta-se proeminente, pois oferece a possibilidade de expor heterogeneidades entre estruturas político-administrativas e permite compara-ções que contribuem para a gestão pública. O IDH-M avalia três critérios diferentes, os quais são os índices de renda, educação e longevidade. A relação das cidades da região Centro-Sul e suas respectivas características do IDH-M estão explícitas na Tabela 1.

Tabela 1 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - ranking e variação per-centual dos componentes renda, educação e longevidade, segundo os municípios do ter-ritório Centro-Sul – Paraná – 1991/2000.

MUNICÍPIOIDH-M

1991IDH-M

2000

RANKINGESTADUALIDH-M 2000

VARIAÇÂONO

RANKING1991-2000

VARIAÇÃO (%)

Índice deRenda per

Capita1991-2000

Índice deLongevi-

dade2000

Índice deEducação1991-2000

Fernandes Pi-nheiro

0,625 0,711 299.° -14 10,2 22,0 9,6

Guamiranga 0,621 0,702 331.° 7 6,6 15,3 16,0

Imbituva 0,684 0,727 248.° 138 3,2 4,4 10,6

Inácio Martins 0,603 0,690 360.° 2 26,3 3,6 16,3

Ipiranga 0,624 0,728 246.° -70 17,0 22,0 12,0

Irati 0,677 0,743 186.° 43 11,1 7,4 10,6

Ivaí 0,622 0,701 332.° 10 11,7 15,0 11,5

Mallet 0,689 0,761 123.° 20 14,8 5,7 11.5

Prudentópolis 0,657 0,733 232.° 20 12,6 13,6 8,9

Rebouças 0,631 0,711 296.° -3 13,3 13,8 11,5

Rio Azul 0,667 0,738 205.° 31 9,8 7,0 14,7

São João do Triunfo 0,611 0,679 376.° 29 14,0 2,7 15,9

Teixeira Soares 0,654 0,738 205.° -20 10,7 17,1 11,2

Fonte: IPARDES (2007).

A dessemelhança social do território Centro-Sul pode ser confirmada pela variação do IDH-M. Pois cidades como Mallet apresentam a 123° posição, enquanto cidades como Inácio Martins e São João do Triunfo apresentam colocações abaixo das demais cidades. Percebe-se que o município de Imbituva teve uma variação no ranking de 138 colocações entre os anos de 1991 e 2000, isto ocorre porque muitas vezes os avanços socioeconômicos

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121Andressa Moraes Dutra, Carlos Cesar Garcia Freitas, Félix Antônio Kasteller Savi e Kelly Poliane Rodrigues

de um município foram superados pelo avanço de outros, o que não significa que este, apesar de perder posições, não tenha tido uma melhora no seu IDH-M. Quanto à variação dos índices de renda, longevidade e educação, a área da saúde mostrou a maior variação entre os resultados e a área de educação a menor.

Percebe-se, também, que todos os municípios tiveram um avanço no índice do seu desenvolvimento humano. Porém, segundo a IPARDES, a média brasileira de IDH-M é de 0,766, portanto, todos os municípios do território Centro-Sul estão abai-xo da média brasileira.

Ainda na região, segundo o IPARDES, o percentual de pessoas ocupadas na condi-ção de empregadas no território (44,4%) foi menos do que o verificado para o Estado do Paraná (66,6%). No caso de empregados sem carteira de trabalho assinada, esse territó-rio apresentou percentual (16,5%) relativamente inferior ao do Estado (22,6%). Além dos ocupados exercendo funções por conta própria (32,3%), onde a participação da categoria superou a média estadual (23,8%), as categorias de trabalhadores não-remunerados em ajuda a membro do domicílio e os trabalhadores na produção para o próprio consumo, comparativamente com o Estado, apresentaram percentuais significativamente superiores (IPARDES, 2007). Entre os vários indicadores que quantificam e qualificam a situação de pobreza, a renda familiar constitui um referencial analítico capaz de expressar aspectos da privação humana relacionados às necessidades básicas insatisfeitas (IPARDES, 2007).

Deste modo, a aplicação de ações que visem à geração de renda é uma importante ferramenta para a melhoria situacional econômica e social da região, de modo a melhorar os índices já citados e superar a média estadual de empregabilidade e renda.

3. Atividade artesanal local e expressão cultural

Além de fontes de renda, o artesanato apresenta uma importante manifestação cultu-ral. A cultura local pode ser definida, na maioria das vezes, como um conjunto de culturas mundiais que, em determinada região, agrega peculiaridades locais. Essa combinação de culturas é se deve, principalmente, à globalização, que pode trazer aspectos positivos, tais como o intercâmbio entre diversos costumes, e aspectos negativos, como a uniformização da cultura contribuindo para a perda da identidade cultural dos povos. Esta conglobação tende a aumentar com o passar do tempo, oferecendo um maior risco de padronização e de perda cultural local, pois ela passa a ser disseminada e adotada por outros costumes que não seguem a mesma tradição que a original.

O Brasil tem diversas culturas diferentes que fazem do país um mosaico de diversidade cultural. No entanto, não se pode negar que o brasileiro tem na sua essência uma grande porcen-tagem da cultura lusitana e algumas peculiaridades da cultura espanhola, italiana e africana.

A colonização brasileira pode ser considerada como um dos primeiros efeitos sig-nificantes da globalização no Brasil, pois foi o início da hibridização cultural. Com a

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122 Desenvolvimento econômico e sustentabilidade:enfrentando os desafios de cooperar

chegada dos portugueses os índios nativos foram tornados escravos e catequizados, so-frendo ao longo do tempo uma miscigenação com a cultura lusitana. Dentre uma grande riqueza cultural portuguesa, as mais evidentes heranças para a cultura brasileira são a língua portuguesa, que atualmente é falada pela maioria dos habitantes do país, e o catolicismo, que implementou a crença a novos deuses e uma mudança na cultura essen-cialmente natural. Apesar disso, em locais mais distantes da colonização alguns conhe-cimentos indígenas e tradições foram perpetuados, influenciando assim os costumes, folclore e a culinária.

Logo após a consolidação da miscigenação indígena e lusitana, foram trazidos para o Brasil os africanos, que tomaram o lugar do índio na escravidão. Esses negros refletiam a diversidade da cultura Africana, que por serem retirados de vários pontos da África tinham etnias diferentes e falavam línguas distintas. Assim como a cultura indígena, a cultura africana foi suprimida pela portuguesa. Na colônia os escravos aprendiam o português, eram batizados e obrigados a se converter ao catolicismo. Pode-se perceber a influência africana na cultura brasileira por meio na dança, música, religião, culinária e também no idioma.

Como a maioria da população brasileira era composta por negros e mestiços, foram trazidos para o Brasil imigrantes provindos de diversos locais, tais como os italianos, portugueses e alemães. Os imigrantes que viviam em pequenas propriedades, longe das demais populações, mantinham os costumes de seu país de origem. No entanto, imi-grantes que se instalaram junto com a população já existente se integraram à sociedade brasileira, perdendo muito de sua cultura original. Hoje, por exemplo, há uma enorme diferença entre os italianos da Itália e os povos dessa origem que se estabeleceram no Brasil, pelo fato dos mesmos atravessarem por contextos sociohistóricos diferentes. Eles, em mais de um século residindo no Brasil, apesar de preservarem alguns dos costumes trazidos da Europa, incorporaram ao longo desse tempo costumes de outros povos com os quais tiveram contato.

Outra forma de globalização que contribui ativamente para a expressão cultural local é a abertura recente do mercado e o avanço das tecnologias. Antes, o artesão ao fazer o seu próprio produto se expressava na arte, na cultura e no seu conhecimento. No entanto, o modelo de produção em massa, dominado pela abertura do comércio e o avanço de processos tecnológicos, tomou o lugar dos artesãos no processo de fabricação criando uma indústria cultural. Quando fabricados em grande quantidade esses bens tornavam-se mercadoria, deixando de serem de uso exclusivo do seu criador para gerarem lucros aos empresários financiadores, perdendo assim a sua identidade.

No entanto, as culturas essencialmente naturais de uma região ainda são cultuadas e passadas através de várias gerações, porém em escalas tão pequenas que tendem ao desa-parecimento. Às vezes esse culto da tradição acaba sofrendo influência de outras culturas ou fontes que acabam prejudicando o processo de transferência. A atração que o processo de globalização promove põe em risco o interesse das gerações em aprender e preservar, o que carece de alternativas que possam estimular estas a valorizar a própria identidade.

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123Andressa Moraes Dutra, Carlos Cesar Garcia Freitas, Félix Antônio Kasteller Savi e Kelly Poliane Rodrigues

O município de Irati, localizado na região Centro-Sul do Paraná, teve no seu processo de formação imigrantes de vários países, tais como holandeses, ucranianos, poloneses, eslavos e alemães. Dessa forma, incentivar a produção de produtos artesanais típicos da região iratiense, a fim de criar e consolidar uma identidade da cultura local se traduz na busca e resgate dos costumes, artesanatos, manifestações folclóricas e gastronômica das etnias iniciais que povoaram a região.

Irati conta com várias formas de culto a tradições, são vários os grupos folclóricos en-contrados, dos quais pode-se citar o centro de tradições polonesas, os centros de tradições gaúchas e o grupo folclórico ucraniano. Apesar de não ter um artesanato consolidado como típico, a cidade possui um acervo cultural riquíssimo ainda não explorado.

São várias as técnicas de trabalhos dos produtores iratienses: tricô, crochê, macra-mê, pintura em tecido e em porcelana, sabonetes, sabões e biscuit, pessankas, wycinakni, dentre outros. Todos esses artesanatos citados são oriundos de outras etnias, que che-garam a Irati pela influência dos primeiros colonizadores. Porém, identificou-se tam-bém que alguns artesãos produziam peças especificamente locais, como, por exemplo, miniaturas da estátua de Nossa Senhora das Graças, representando um dos principais pontos turísticos da cidade, e peças de culturas étnicas dos primeiros imigrantes, tais como bordados com caracteres eslavos e as famosas pessankas ucranianas, que é a arte de decorar ovos de galinha.

Também são encontrados vestígios de produção baseadas na cultura polonesa, mais especificadamente na confecção de quadros improvisados. Essa técnica, conhecida como Wycinakni, consiste na arte de recortar e colar papéis coloridos geralmente formando arranjos simétricos, reproduzindo muitas vezes cenas rurais que refletiam o trabalho típico da Polônia.

Portanto, o desenvolvimento econômico a partir do artesanato é fortemente depen-dente da cultura local, acabando sempre por convergir um para o outro. Ou seja, o arte-são, na busca da valoração do seu produto, deve procurar produzir artesanatos marcantes que disseminem a cultura típica da região, promovendo, concomitantemente a isso, um melhor desenvolvimento turístico e uma maior geração de renda.

4. Consolidação da identidade cultural com base na susten-tabilidade

As concepções sobre o desenvolvimento sustentável normalmente se restringem ao modo econômico, social e ambiental, porém, o conceito de sustentabilidade deve ser entendido também do modo cultural. Na concepção de Sachs (1992) a sustentabilidade cultural deve ser analisada no planejamento do desenvolvimento sustentável, por repre-sentar um novo paradigma da sustentabilidade. Sendo assim, a sustentabilidade deve estar vinculada às políticas de governo que planejam a sua manutenção, ao aumento da

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qualidade de vida da população local, aos métodos de geração de riqueza real e também à manutenção da cultura regional como um processo de desenvolvimento sustentável. Para tanto, é necessário encarar o desafio da diversidade cultural como forma de en-riquecimento coletivo, cultuando especificidades culturais ao mesmo tempo em que se constroem sentidos de pertença maiores e mais abrangentes com que os indivíduos se possam identificar.

Na visão de Haq (2008), a sustentabilidade deve ser entendida como equidade distri-butiva que compartilha oportunidades de desenvolvimento entre gerações, assegurando equidade na geração de oportunidades. Dentre os fatores sociais, políticos, culturais e econômicos, a sustentabilidade é um dos componentes essenciais para o paradigma do desenvolvimento humano, proporcionando, além da equidade (igualdade de oportu-nidades e não necessariamente de resultados), produtividade (investimento humano e macroeconômico) e empoderamento (retirar as pessoas e nações pobres de situações de caridade permanente).

A necessidade da sustentabilidade cultural teve início a partir do momento em que a modernização caracterizava um avanço para a sociedade. Os produtos feitos por arte manual local foram sendo trocados por outros, importados de países que se classificam a frente do presente, ou seja, sempre trazendo novidades que serão as tendências no futuro. Comumente vemos jovens encomendando acessórios e roupas de grifes, sendo que há na sua própria cidade uma grande variedade de produtos diferenciados e igual-mente bonitos.

É preciso uma mudança de cultura social para migrar da ideia de consumo exacerba-do de mercadorias importadas para a de produtos locais. O indivíduo deve se conscienti-zar da importância das peculiaridades nas culturas regionais, possibilitando - e incenti-vando - o seu desenvolvimento sustentável.

A sustentabilidade deve, portanto, respeitar os diferentes valores entre os povos e incen-tivar processos de mudança que acolham as especificidades locais criando condições para o desenvolvimento da personalidade de cada pessoa, principalmente dos adolescentes e jovens.

A transmissão de valores culturais entre gerações é o principal modo de sustentabi-lidade cultural existente. Para isso, se faz necessário uma luta constante para que as tra-dições não sejam esquecidas no tempo. É preciso divulgar os princípios de cada cultura e ensinar os descendentes, ou outras pessoas que tenham afinidade com a cultura e a etnia em questão, e também evitar mudanças e modernizações nas tradições, para que prevale-çam as características primitivas de cada tradição.

O artesanato como valor histórico tem em si a gênese dos sistemas produtivos atuais tendo envergadura suficiente para garantir a sua sustentabilidade cultural e condições dignas de vida para os artesãos. A organização dos grupos de artesãos e a prática da eco-nomia solidária já são exemplos de forma de sustentabilidade cultural. No primeiro caso são feitas oficinas de capacitação em diversos temas como identidade, cultura e cidadania, gestão e organização da produção, aprimoramento do produto e relacionamento com o mercado, sempre objetivando articular diálogos entre os próprios artesãos e respeitando

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as suas identidades culturais. Já a economia solidária pode ser definida como uma nova forma de gestão, onde o valor dos produtos tem valor de troca, e não monetário, valori-zando assim as particularidades de produção de cada artesão.

A cultura local deve ser incentivada, pois dentre todos os recursos disponíveis para exploração é um dos poucos que, quanto mais usado, mais se engrandece, tanto quantita-tivamente quanto qualitativamente.

A manutenção da cultura de um povo depende do povo que a compõe, assim sendo, a sustentabilidade cultural depende do incentivo à preservação das tradições locais e da valorização das particularidades viventes em cada comunidade.

5. Cooperação por meio da associação como alternativa de emancipação

Segundo Castoriadis (1987), seres emancipados são organismos que não recebem suas diretrizes de fora, no estando submetidos a uma direção e a um controle de uma instância à parte de um partido ou de Estado. Portanto, a emancipação das associações só pode ocorrer quando a associação forma e institui seus próprios órgãos autônomos adotando suas próprias normas e formas de organizações.

Portanto, Karmaluk et al. (2009) observa que a organização em associações pode trazer muitas vantagens, que vão além das relacionadas aos ganhos econômicos, sendo vista como uma forma de juntar interesses comuns, defendendo pontos de vista de forma global. Quando reunidos em um grupo fortalecido e bem estruturado, os cidadãos podem obter conquistas nos âmbitos político e social, melhorando de fato sua qualidade de vida com a geração de ocupação e renda. O associativismo ainda promove os artesãos, pois, ao adquirirem o status de associados, tornam-se gestores de suas atividades, dominando o processo produtivo/econômico de sua arte.

Ao organizar uma associação, um dos objetivos é melhorar a situação econômica da população dos respectivos municípios, solucionando problemas ou satisfazendo necessi-dades comuns, que excedam a capacidade de cada indivíduo satisfazê-las isoladamente. Além disso, o associativismo deve ser estimulado quando se trata de produção cultural, no caso o artesanato, pois representam, juntamente com outros segmentos da cultura, um setor dinâmico da economia mundial.

É reconhecidamente que se pode dizer que o associativismo melhora a convivência entre os indivíduos, pois faz com que eles tenham entre si uma relação mútua, que pos-sibilitará a criação de hábitos de colaboração e solidariedade e, por consequência, o cres-cimento e desenvolvimento como ser humano e cidadão. Além disso, a junção de forças em forma de associação fortalece a produção individual e coletiva, dando uma melhor oportunidade de abertura de mercado e, por conseguinte, retorno de renda, propiciando uma melhor força de interesses e favorecendo, portanto, a emancipação da cooperação.

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Assim, é importante destacar que a ampliação das relações de associativismo con-tribui para o avanço da democracia e para a conquista e efetivação dos direitos civis, políticos e sociais.

Tocqueville (1998) destaca a importância do associativismo ao declarar sua contri-buição para o fortalecimento da democracia, visto que possibilita a agregação de interes-ses individuais, permitindo a educação dos cidadãos e cidadãs para a prática e o conví-vio democráticos, afirmando que as associações seriam verdadeiras escolas de civismo e também uma forma de expressão dos diversos interesses da sociedade, incluindo os interesses das minorias. A participação em atividades políticas e comunitárias locais reforçaria o civismo, a autonomia e a capacidade do cidadão de intervir na realidade.

Dessa forma, Putnam (2002) afirma que as associações contribuem para a eficácia e a estabilidade do governo democrático, não só por causa de seus efeitos ‘internos’ sobre o indivíduo, mas também por causa de seus efeitos ‘externos’ sobre a sociedade. No âmbito interno, as associações incutem em seus membros hábitos de cooperação, solidariedade e espírito público. A participação em organizações cívicas desenvolve o espírito de cooperação e o senso de responsabilidade comum para com os empreendi-mentos coletivos.

Ganança (2006) sublinha que as associações poderiam ser consideradas como escolas de civismo, de convivência democrática, de colaboração e de aplanamento de posiciona-mentos mais radicalizados com relação à normalidade e à estabilidade social e cultural vigentes. A própria estrutura associativa, formal, institucionalizada, com regras e estru-turas de poder, contribuiria para essa finalidade.

Segundo Leonello e Cosac (2007), no contexto do mundo do trabalho, o associativis-mo, pode ser citado como uma ação social que vem sendo apresentada pelo reconheci-mento de sua importância nas transformações que estão em curso na atualidade. E gra-ças ao reconhecimento dessa necessidade e, da proposição de que o trabalho associativo constitui uma das principais referências que determina não apenas direitos e deveres, diretamente inscritos nas relações de trabalho, mas principalmente padrões de identidade e sociabilidade, interesses e comportamento político, modelos de família e estilos de vida, vem sendo amplamente discutido.

Portanto, Leonello e Cosac (2007) destacam que o fenômeno da ação coletiva institucionalizada por meio de associações pode ser interpretado a partir de diversas perspectivas teóricas. Contudo, o que interessa destacar é que na construção dessas perspectivas está embutida a ideia de um modelo de sociedade que luta por igualdade, sustentabilidade, por indivíduos livres, emancipados, verdadeiros donos de seus desti-nos. Por isso, a participação em associações e organizações civis, como o associativis-mo, é salutar para gerar solidariedade social e diminuir os custos políticos e econômi-cos da vida em sociedade.

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6. Forças influenciadoras e processo histórico de formação da associação

A Associação dos Artesãos foi fundada em 13 de outubro de 1983, na cidade de Irati, com o objetivo de organizar a classe de artesãos do município, bem como promover os trabalhos manuais fabricados por estes. A iniciativa de associação se deu pela necessidade de uma estrutura que organizasse os artífices do município e que agisse de modo coletivo, visando um melhor desenvolvimento econômico, consolidação de uma identidade cultu-ral e a geração de emprego e renda aos artesãos.

O ano de 1983 foi histórico para a cidade de Irati, pois representou um período de grande mobilização social, pois além da Associação dos Artesãos, também houve a criação da Associação dos Produtores Rurais e a Associação dos municípios da Região Centro-Sul do Paraná (AMCESPAR), que é uma entidade que visa à integração administrativa, executiva, econômica e social dos municípios que a compõem, compreendidos na região Centro-Sul do Estado do Paraná.

A criação da Associação dos Artesãos marcou a consolidação de um movimento so-cial que tempos antes começara a se mobilizar e promover feiras de ruas, que por hipóte-ses, foram um dos incentivos a criação da associação.

Conhecido regionalmente, porém pouco explorado o artesanato de Irati e região ca-recia de ações mais concretas que pudessem permitir seu desenvolvimento.

Contando com o apoio do SESI, a Associação dos Artesãos recém constituída passou a contar com um centro de fomento da atividade artesanal, que oferecia cursos e encon-tros de artesãos; assim começaram as primeiras ações da Associação.

Outro aspecto importante que veio a contribuir com a Associação dos Artesãos foi a criação pelo município de Irati da Fundação Cultural, com o intuito de incentivar a arte e a cultura regional, bem como organizar as ações públicas voltadas a cultura.

No dia 08 de julho de 1983, na Fundação Cultural, aconteceu uma reunião motivada pelo anseio do desenvolvimento cultural da cidade de Irati, pautada pela discussão de al-ternativas para a promoção de ações artísticas e culturais, na busca de atrair visitantes da região, assim como o envio de artistas para representar a região em encontros de músicas, pinturas, artesanatos e outros.

Dentre as decisões tomadas, decidiu-se pela criação da feira de artesanato e pela Rua da Alegria, que tinha como finalidade a recreação das crianças. Um aspecto importante considerado na feira foi a ênfase na presença de todos como forma de reconhecer os talen-tos dos artesãos locais conciliando com toda a população, em especial a família.

Organizada pela Fundação Cultural de Irati, a feira, que ocorria conjuntamente com a Rua da Alegria, teve ampla repercussão, atraindo, consequentemente, a presença de nume-roso publico que passou o domingo acompanhando os trabalhos expostos pelos ‘artistas da pérola do Sul’, assim denominados popularmente. A feira passou a ser um ponto principal de encontro da sociedade local, até mesmo das crianças iratienses, porém, com o passar dos meses em razão de problemas não especificados acabou não sendo mais realizada.

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Outra ação importante da Associação foi a participação dos artesãos associados em eventos de outras cidades, difundindo o artesanato iratiense, como é o caso da Feira In-ternacional de Artesanato de Curitiba, no Parque Barigui, onde participaram do evento vários estados.

Já em 1984, a associação passou a divulgar seu artesanato em jornais. Também nesta época passou a contar com uma sede; o local era chamado de Loja Nosso, e tinha por objetivo orientar, incentivar e coordenar a produção e comercialização dos produtos fa-bricados. Visava, ainda, ocupar espaço no mercado nacional e estrangeiro. Nessa época a loja ficava por conta da Prefeitura Municipal de Irati e pela Fundação Cultural, localizada na rua Munhoz da Rocha, número 495.

Como já exposto, o SESI participou ativamente na divulgação do artesanato. Uma das promoções realizadas foi um bazar de artes, que apresentava todos os resultados de cursos ministrados no Centro de Atividades do Serviço Social da indústria, além de ou-tras mostras, como a participação especial de artistas consagrados em artes plásticas.

Visando estruturar localmente a associação, no ano de 2005 foi criada a Casa do Artesão, localizada na área central do município, próximo a pontos comerciais e de esta-belecimentos de lazer e entretenimento.

Entre outros aspectos importantes e que impulsionaram o crescimento da Associa-ção, um dos principais foi a obtenção da permissão para comercialização, em 1986, abrin-do novas oportunidades de promoção do artesanato para todo o Brasil.

Estes grandes acontecimentos somados a outros eventos acabaram atraindo muitos membros para a Associação dos Artesãos, chegando a ter em seus registros mais de cem associados. Porém, não só de vitórias se deu sua história, mas também de dificuldades, que acabaram gerando diversos problemas ao longo do tempo.

7. Problemática na gestão da associação

Desde sua criação em 1983, o ano de 2009 representou um período marcado por muitas dificuldades para a Associação dos Artesãos. Dificuldades de várias naturezas, decorrentes do acúmulo de problemas históricos não resolvidos e que acabaram por com-prometer a sobrevivência desta instituição.

Um diagnóstico da Associação, obtido mediante relato da diretoria, de associados, de ex-associados e de representantes de órgãos públicos, apresentava diversos problemas como: ausência de associados, participação de associados não-artesãos, estrutura admi-nistrativa incompleta, carência de ações de articulação, inabilidade administrativa, fe-chamento da sede da associação, entre outros problemas de menor impacto. Em síntese, o quadro apresentado era de total descrença do papel da associação.

Para compreender o porquê da situação é preciso entender o processo histórico da Associação formado pela ação dos seus elementos constituintes e demais interessados que,

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de modo direto ou indireto, participaram de sua história. Nesse contexto se desenrolou um conjunto de fatos que, de modo sistêmico, levaram a Associação a uma situação anacrô-nica. De modo a permitir a compreensão deste fenômeno no presente tópico é analisada a lógica histórica dos principais acontecimentos e o reflexo destes sobre a situação atual.

Cabe destacar que muitas são as versões apresentadas pelos entrevistados, e que a análise aqui apresentada representa um esforço compreensivo da problemática existente junto a As-sociação. Esforço obtido mediante discussões dos participantes do projeto, baseada em rela-tos já mencionados, acompanhamento do dia a dia da Associação e análise de documentos.

Criada pela iniciativa de alguns artesãos locais, a Associação foi constituída com o intuito de promover e fortalecer o artesanato local, tornado-se um mecanismo coletivo de atuação social. Superando diversas adversidades, a Associação ganhou o reconhecimento público como legítima representante dos artesãos e passou a ter o apoio dos órgãos públi-cos no trabalho desenvolvido. Isto pode ser verificado pelo espaço obtido junto à cidade de Irati, que passou a contar com uma sede própria para realização de suas atividades, construída com recursos públicos de origem federal, em localização central privilegiada concedida pela Prefeitura, além de vários outros pontos subsidiados com recursos públi-cos municipais para comercialização de seus produtos.

Acolá dos benefícios descritos, outro recurso importante foi a obtenção de autoriza-ção para comercialização nacional de produtos, com a aquisição do direito de emissão de notas fiscais para todo o Brasil. O produto artesanato é isento por lei, mas precisa de autorização legal (nota fiscal) para sua comercialização. Com o direito de emissão obtido, a Associação passou a ter um ‘passe livre’ para a comercialização de seus produtos.

Em razão das conquistas adquiridas, a Associação ganhou destaque e passou a atrair um grande número de interessados, que desejavam beneficiar-se dos direitos oferecidos e que acabaria se tornando um dos problemas diagnosticado, a participação de associa-dos não-artesãos. Nem todos os interessados que buscavam a associação eram artesãos; vários eram proprietários de pequenas indústrias que, com a utilização de mão de obra familiar ou não, produziam peças padronizadas de conotação artesanal, com madeira de ‘origem desconhecida’, popularmente chamado de “industriato”, ou seja, um produto de características artesanal, porém produzido por meio de processo industrial. Na realidade local, esses produtos são, na maioria das vezes, produzidos em grande escala e entregues a atravessadores que o distribuem por todos os estados do Brasil.

Diante da possibilidade de legalizar a comercialização do produto ‘industriato’, com a utilização da nota fiscal da associação, a alternativa de associar-se se tornou um grande e lucrativo negócio, mesmo diante das exigências de contribuição para associação.

Cabe destacar que a entrada dos associados ligados ao ‘industriato’ refletiu em uma inabilidade administrativa, que permitiu o crescimento desordenado e sem critérios, fa-zendo com que interesses estranhos à função da Associação, de atender aos artesãos, coa-bitassem o mesmo espaço, o que adiante provocaria novos problemas.

Por sua vez, em função do grande número de associados, somado aos subsídios públi-cos da atividade da Associação, esta passou a contar com um numerário significativo em

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caixa, principalmente pelas contribuições do ‘industriato’, o que acabaria gerando uma dependência econômica desta. Uma dependência que estava vinculada à prefeitura, que pela influência de artesãos participantes subsidiava as atividades da Associação, com o pagamento de aluguel de vários pontos para comercialização, a concessão de espaço pú-blico para construção de uma sede e o apoio político para a obtenção de recurso federal, o que viabilizou a construção da sede.

A partir de 2005, com a mudança da gestão municipal a Associação sofreu um ‘forte golpe’, em função do corte dos subsídios oferecidos pela prefeitura. A decisão da prefei-tura foi pautada na necessidade de equidade assistencial entre as diversas organizações não-governamentais existentes. Desse modo, os aluguéis pagos pela prefeitura aos pontos comerciais destinados à Associação, assim como subsídio de viagens para participação de eventos fora e dentro da cidade, acabaram sendo cortados.

Frente a nova realidade, a Associação passou a contar unicamente com sua sede para a comercialização dos produtos. Diante dessa situação, muitos artesãos acostumados com a ‘venda de loja’, deixaram de comercializar seus produtos, reduzindo a arrecadação da Associação. Em contrapartida, as contribuições do ‘industriato’ eram certas e represen-tavam um valor considerável, que cobria todos os gastos da Associação. Em virtude da ausência do apoio financeiro da prefeitura e do interesse comum entre a Associação e o ‘industriato’, foi criada uma relação de dependência cada vez maior, que por sua vez aumentou o poder de influência dos ‘industriatos’ na associação e o distanciamento dos verdadeiros artesãos.

O que se pode constatar dessas duas situações (prefeitura e industriato) é que o papel atuação da Associação foi construído em relações de dependência com terceiros (não-artesãos), o que provocou um ‘comodismo’ administrativo, no qual os problemas da As-sociação acabavam sendo resolvidos por outros, ou que outros eram responsáveis pelos problemas existentes, em função de falta de apoio. Isto fez com que o propósito principal da Associação, de promover o artesanato, fosse esquecido ou renegado, e toda a circuns-tância de dificuldade justificava-se pela falta de apoio dos órgãos públicos.

As reuniões que antes eram realizadas com o intuito de buscar soluções coletivas para a promoção do artesanato, passaram a ser ocupadas em resolver os problemas do ‘industriato’, em especial a questão de legalização da madeira. Isto fez com que outro pro-blema diagnosticado surgisse: a ausência de associados; com a ocupação das discussões pela problemática da madeira, muitos artesãos deixaram de participar da Associação e se afastaram, buscando individualmente encontrar soluções para seus problemas.

Cabe destacar que apesar dos produtores de ‘industriato’ estarem associados, estes não participavam das atividades da Associação, como a comercialização coletiva de produtos, pois seu interesse residia basicamente na nota fiscal. Desse modo, quando necessitavam da emissão buscavam a Associação para obtê-la, quando não, raramente orientavam seus compradores para que fossem à sede, informassem a transação, retirassem a nota fiscal e por fim pagassem a contribuição da associação. Tal realidade configurava uma relação de interesse puramente econômica, evidenciada pela atenção dada ao ‘industriato’ em de-

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trimento de artesãos carentes de assistência (informação e capacitação). O resultado desta situação foi uma Associação sem a presença efetiva de associados.

Em virtude da falta de artesãos associados e da carência de ações de articulação pro-vocada pela dependência dos subsídios públicos e da acomodação das contribuições do ‘industriato’, decorreu outro problema diagnosticado, uma estrutura administrativa in-completa. Essa deficiência tinha origem no afastamento dos legítimos artesãos e no de-sinteresse de envolvimento do ‘industriato’ além do benefício da nota fiscal. Uma vez que a Associação passou a depender totalmente do ‘industriato’, estes produtores se sentiam seguros de que nada poderia abalar a relação mantida.

Por conseguinte, já não havia mais sentido em manter um espaço que demandava despe-sas injustificadas para a realidade vivenciada, o que acabou gerando o fechamento da sede. A associação juridicamente existia, porém, de fato, tornou-se apenas um mecanismo econômi-co de comercialização de produtos diversos. Tal situação gerou o último problema diagnosti-cado e que pode ser sintetizado como a completa descrença do papel da associação.

Em síntese, a problemática existente na Associação é consequência não de uma situa-ção ou decisão tomada, mas do desenrolar de um conjunto de acontecimentos e ações que, no curto ou médio prazo, se justificavam diante da situação da época, mas no longo prazo acabaram por gerar uma ‘inércia’ administrativa ‘perpetuada’ por relações de dependên-cia, que levaram a Associação ao anacronismo.

8. Projeto identidade cultural e desenvolvimento econômico

O projeto Identidade Cultural e Desenvolvimento Econômico foi proposto junto a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SETI, por meio da cha-mada pública de projeto 07/2008, do Programa Universidade Sem Fronteiras, modalidade extensão tecnológica empresarial. Compreendendo os seguintes componentes da rede de cooperação: Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO, a Prefeitura Muni-cipal de Irati, a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio e a AMCESPAR – Associa-ção de Municípios do Centro-Sul do Paraná.

Com o propósito de atender a cidade de Irati e região, por meio da capacitação tec-nológica da atividade econômica do artesanato, o projeto focou suas ações junto a uma Associação de Artesãos, além de buscar promover e valorizar o artesanato mediante a consolidação da identidade cultural local, atendendo abertamente aos artesãos asso-ciados ou não.

Os interesses e os ideais do projeto vão além de estudar, pesquisar e analisar o papel sociocultural desempenhado pelo artesanato, mas também incrementa-se a esses objetivos a necessidade de valorizar os artigos regionais e locais, por meio de cursos que visem ca-pacitar esses artesãos a produzir ítens de significância histórica local. Essas práticas, além do resgate histórico, influenciarão para o renascimento da cultura local, podendo originar

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também possibilidades de geração e incremento de renda. Assim, procura-se respeitar as formas de produção já existentes e incrementar novas técnicas, mantendo sempre o respei-to para com os artesãos, sem impor-lhe a aceitação de uma nova técnica ou produto.

O projeto foi motivado em função de alguns aspectos levantados em conjunto com a Prefeitura Municipal de Irati e a Associação dos Artesãos, como falta de uma maior ar-ticulação da associação dos artesãos com outros órgãos de fomento; falta de estrutura da associação, em especial da adequação do espaço para treinamento e reuniões; necessidade de profissionalização dos artesãos; necessidade do fortalecimento do espírito de associa-ção; necessidade de consolidação da identidade cultural da região. Para tanto, foram re-alizadas reuniões conjuntas entre os professores componentes do projeto, representantes da prefeitura, diretoria da associação e artesãos, com o intuito de apresentar e aprovar a proposta do projeto.

Diante das necessidades levantadas e discutidas, o projeto foi definido dentro de duas linhas básicas de atuação: administrativa, com ênfase no assessoramento das atividades e direção da Associação, estruturação da Associação e busca por soluções para comercia-lização de produtos; e cultural, com ênfase no levantamento da produção de artesanato local e busca de soluções para promoção do artesanato.

Uma vez definido o escopo do projeto, o mesmo foi apresentado e aprovado junto a SETI, sendo aprovado. O projeto teve início no final do ano de 2008, com alguns aponta-mentos e metas a serem alcançadas. Dentre essas metas para realização inicial do projeto, foram levantadas bibliografias sobre o artesanato e suas peculiaridades como, material de apoio para capacitação de artesãos, design e associativismo.

Um dos principais objetivos, além da reestruturação da associação, que é um aspecto de grande importância, foi a divulgação da associação como meio de unir novamente artesãos da região e promover a associação. Dentro desse contexto, foram realizadas ofi-cinas de capacitação em artesanato, tanto aos artesãos já estabelecidos como a potenciais artesãos. Essa abertura à população em geral se deve ao fato do projeto também visar novos artesãos para fortalecer o próprio grupo, mas também como forma de utilidade pública, de mostrar que o artesanato, além de forma de arte e identidade de um suposto lugar, também serve como fonte de renda para quem se interessar.

Por meio do apoio da Universidade Estadual do Centro-Oeste, ocorreram aquisições e concessões de equipamentos e mobiliário, o que possibilitou a estruturação de uma sala de treinamento e reuniões na associação, contendo carteiras, cadeiras, armários, mesas, tela de projeção, data show, notebook e impressora.

Durante todo o ano de 2009 a equipe do projeto acompanhou as atividades da associa-ção possibilitando apoio constante à execução das atividades de divulgação, em especial a busca por novos associados. Entre as atividades executadas cabe destacar, organização e apoio junto às feiras de artesanato, divulgação da associação e, em especial, eventos pro-movidos (feiras, treinamentos e oficinas de capacitação), acompanhamento das atividades diárias da associação, organização e capacitação das atividades administrativas, acompa-nhamento do processo de eleição da nova diretoria (provisória) da Associação, ações de

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articulação da Associação com a Prefeitura, órgãos estaduais e federais, associações de artesãos e bairros, desenvolvimento de instrumentos (formulários e controles) adminis-trativos para uso da Associação.

Em relação às oficinas de artesanato, foram realizados dez cursos: bonecas eslavas de pano, bordados eslavos, cursos de embalagens de presentes, reaproveitamento de jornal, arranjos florais, confecção de bolsas em tecido, bisqui, bordado em fita e decoupage, que tinham o intuito de propiciar oportunidades a todos de ter contato com novos conheci-mentos e até o aperfeiçoamento de suas técnicas. Cabe destacar ainda a realização de um curso de gestão, com a finalidade de criar uma visão de negócio no artesão em relação a sua atividade.

Foram adquiridas 12 tendas para comercialização dos produtos, o que possibilitou a realização de diversas feiras de artesanato, substituindo uma antiga prática de comércio de loja, inviabilizada pela retirada dos subsídios públicos. Essas tendas representaram um novo meio de comercialização dos produtos, possibilitando o incentivo e o escoamento necessário para a produção dos artesãos. Com isso, foi possível notar um impacto econô-mico direto nos artesãos; as feiras tornaram-se um meio previsível de obtenção de renda e promoção do trabalho.

Em relação à dimensão social, houve um resultado importante, decorrente da parti-cipação de novos associados, assim como um retorno dos antigos, que acabaram retor-nando a Associação. Quando do início do projeto, a Associação contava com apenas 6 associados efetivos, sendo que este número atualmente passa de 30 artesãos que resolve-ram manter um contato permanente. Cabe destacar que as ações promovidas por meio do projeto foram abertas a toda a comunidade, passando de 100 pessoas atendidas durante o ano de 2009.

Ainda na dimensão ambiental, o principal impacto do projeto residiu na regulariza-ção da atividade dos artesãos que utilizavam madeira de origem desconhecida. Eles foram convidados a se regularizarem ou obrigados a deixarem a Associação, uma vez que a ela encobria a ilegalidade por meio da emissão de nota fiscal destes produtos.

Com a atuação do projeto foram realizadas diversas mudanças, sendo necessário um período maior de acompanhamento para que os novos comportamentos fossem efetiva-mente institucionalizados. As feiras implantadas pelo projeto acabaram por estimular os artesãos a se dedicarem mais às atividades, porém necessitam ser ampliadas para compor-tar a demanda dos novos artesãos. Sendo assim, com os objetivos previstos e executados, o projeto foi novamente estudado, reelaborado e encaminhado a SETI para um prolonga-mento. A solicitação foi aprovada e o projeto renovado por mais nove meses. A prorroga-ção justificou-se em virtude de alguns aspectos levantados em decorrência dos resultados apresentados, do retorno recebido e das dificuldades apontadas no ano de 2009.

As ações do projeto acabaram dialogando com artesãos organizados e que não fazem parte da associação, o que acenou para a ampliação da abrangência das atividades, além da possibilidade de integração com outros projetos de extensão da UNICENTRO, como o Núcleo de Estudos Eslavos/NEES, que vem desenvolvendo ações há 10 anos e também

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vem trabalhando com o artesanato da região, nesse caso, especificamente com o artesa-nato eslavo; assim como o projeto Educação Sócio-ambiental, que envolve artesãos do município de Engenheiro Gutierrez, abrindo espaço para o desenvolvimento de ações conjuntas, na relação extensão, ensino e pesquisa. Por fim, com a entrada dos novos as-sociados, assim como a procura de artesãos não associados, criou-se uma nova demanda pelas ações de capacitação tecnológica desenvolvidas pelo projeto.

9. Conclusão e perspectivas futuras

Mudar a cultura de uma organização não é algo fácil, ainda mais quando esta conta com muitos anos, como é o caso da Associação em estudo. Porém, alguns fatores podem contribuir para que isso seja possível, principalmente quando há o risco desta deixar de existir. Como já comentado anteriormente, a Associação de Artesãos se encontrava ana-crônica, sem motivo para existir, pois já não atendia a quem de direito devia assistir.

Diante deste quadro foram tomadas diversas ações, com o auxílio do projeto Iden-tidade Cultural, visando modificar a situação, conforme citado no ponto anterior. Entre essas ações, merece destaque um conjunto de esforços empreendidos em trazer de volta os artesãos para associação.

Esforços que compreenderam ações de divulgação da retomada das atividades, convi-te à participação, reuniões de esclarecimento e busca de soluções coletivas à problemática herdada, medidas corretivas para o afastamento dos não-artesãos, oficinas de capacitação em artesanato, realização de feiras de comercialização e sucessão da nova diretoria, com-posta apenas por artesãos associados e participantes efetivamente.

A posse da nova diretoria representou, além de todos os resultados mencionados no tópico anterior, um recomeço especial para a Associação, que rompeu um ciclo vicioso de dependência, especialmente em função do nascer de um comportamento autônomo, cul-tivado pela diretoria e pelos novos associados, que conjuntamente têm buscado encontrar soluções para seus problemas.

Evidência desta independência tem sido observada em diversas situações: execução de reuniões voltadas à promoção do artesanato, realização frequente de feiras ao ar li-vre, busca de cursos de capacitação, incremento no número de artesãos, integração com outras entidades assistenciais e abertura ao diálogo com os órgãos públicos; com uma postura equilibrada entre seus direitos e deveres.

Com certeza os resultados colhidos e a situação atual são oriundos das lições aprendi-das no passado. Porém, ainda é cedo para afirmar que antigos hábitos não retornem, ou que a cultura foi adequadamente alterada, mas permanece a certeza de que a crença no papel da associação está sendo resgatada. Fica o desejo da equipe do projeto que o sentimento de que as novidades possam se consolidar ao longo do tempo e tornarem-se a prática do dia a dia.

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135Andressa Moraes Dutra, Carlos Cesar Garcia Freitas, Félix Antônio Kasteller Savi e Kelly Poliane Rodrigues

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1. Introdução

A experiência oriunda do Programa Estadual Universidade Sem Fronteiras, no perío-do de dezembro de 2008 a fevereiro de 2010, realizado na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná proporcionou várias reflexões aos professores pesquisadores da Universidade Estadual do Centro-Oeste. Muitas das quais sobre o difícil devir entre a teoria e a prática, ou seja a praxis, bem como a exteriorização das contradi-ções na lógica do pensar de, aproximadamente, 150 (cento e cinquenta) famílias campo-nesas, em quatro municípios da região de Laranjeiras do Sul/Paraná.

O trabalho realizado no período supracitado teve como objetivo principal o estudo de mercado sobre o produto óleo de girassol, assim como a análise dos respectivos custos de produção para formação de preço. Neste segundo aspecto, pode-se observar o conflito existente entre duas lógicas de pensar, a formal e a dialética. A primeira diz respeito a um olhar segmentado da realidade, bem como a uma abordagem de relação causa-efeito, que visa, quando aplicada ao processo produtivo, a racionalização e a eficiência produtiva, a inserção de produtos e de serviços com padrão de qualidade aceitável, a preços com-petitivos, e o aumento das margens de lucro. A lógica dialética, entretanto, demonstra a consciência e a luta para manter o modo de vida camponês, por meio do cooperativismo, objetivando a produção e a comercialização do óleo de girassol e de outros produtos.

Cabe ressaltar a observação de duas formas de apropriação dos custos, visto que, muitos destes, podem ser atribuídos ao produto sem existirem efetivamente no momento da produção. Por exemplo, o custo indireto aluguel não existe, uma vez que o terreno e o prédio da fábrica foram cedidos em comodato pela Prefeitura de Porto Barreiro – Pa-raná, no entanto, na lógica formal, deve-se levar em consideração a avaliação de todos os gastos, que existem ou existiriam se não houvesse apoio governamental, com bens e serviços que visam a produção de outros bens e serviços (custos), incorrendo no risco,

Lógica formal versus lógica dialética:

Análise de custos na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná

Luciano Ferreira de LimaRoni Antônio Garcia da Silva

Luciane Aparecida Munhoz Stefano

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138 Lógica formal versus lógica dialética: análise de custos na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Parará

caso o procedimento ocorra de modo diferente, de perder a competitividade de mercado, o mesmo vale para as despesas.

2. Lógica do pensar: formal versus dialética

Ao iniciar uma pesquisa, muitas vezes, o pesquisador levado a questionar e refletir sobre um problema, vê-se num emaranhado de perguntas, teorias, conceitos, métodos, e, mesmo, concepções do senso comum. Portanto, torna-se necessário delimitar o objeto de pesquisa, especificando e restringindo o problema; apontando, de acordo com Lakatos e Marconi (1983, p. 104), “uma resposta, ‘provável, suposta e provisória’, isto é, uma hipóte-se.” Neste sentido, pode-se afirmar que a situação problemática diz respeito à transição dos camponeses de seu modo de produção e comercialização de subsistência para a competiti-vidade de mercado, sem perder a identidade. No que tange a hipótese básica, infere-se que os conceitos e a forma de trabalhar inerentes ao processo produtivo baseado na racionali-zação dos gastos, na eficiência da utilização das máquinas, no máximo aproveitamento da matéria-prima e dos tempos de produção, bem como na escolha do melhor arranjo produ-tivo, inevitavelmente, implicarão em transformações do modus operandi camponês.

Por meio do processo de pesquisa buscou-se, dentre outros objetivos, realizar o le-vantamento dos custos do produto óleo de girassol na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná. A análise dos dados empíricos coletados possi-bilitou a observação da existência de duas estruturas de custos, a primeira com o apoio governamental e a segunda de acordo com o livre mercado.

Na pesquisa, por meio de um ‘olhar’ interdisciplinar1, pretendeu-se, também, conhe-cer a essência dos múltiplos fatores que concorrem no sentido de estabelecer mudanças significativas no modelo de gestão e produção da Cooperativa Mista de Produção e Co-mercialização Camponesa do Paraná, no que se refere ao modo de vida camponês, ao pro-cesso produtivo, ao levantamento de custos e à precificação dos produtos. Pois, o enfoque interdisciplinar permite a utilização de vários conhecimentos (integrados), bem como a análise do fenômeno em estudo sob diversas perspectivas.

De acordo com Pedro Demo, a interdisciplinaridade pretende abarcar o conhecimento acerca da realidade de modo vertical (aprofundado) e horizontal (amplo), contemplando, deste modo, a particularidade e a complexidade do real (DEMO, 1999). Pois, por meio da ciência, por muito tempo, buscou-se na especialização o conhecimento do todo, do real, da essência dos fenômenos, obtendo-se êxito em muitas áreas, como na Matemática, na Física e na Química, entretanto, a complexidade da realidade não se resume às fórmulas, aos conceitos, às teorias e aos métodos, daí, talvez, a necessidade da comunicação dos ‘diversos’ saberes (DEMO, 1999).

1 No entendimento de Demo (1999, p. 88), interdisciplinaridade constitui “a arte do aprofundamento com sentido de abrangência, para dar conta, ao mesmo tempo, da particularidade e da complexida-de do real”.

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139Luciano Ferreira de Lima, Roni Antônio Garcia da Silva e Luciane Aparecida Munhoz Stefano

Transitar entre as várias áreas do conhecimento, apropriando-se de saberes que ofe-reçam elementos para um entendimento mais amplo da realidade, talvez seja uma estra-tégia para alcançar a interdisciplinaridade, uma vez que a partibilidade do real em ‘de-partamentos’ visa uma melhor compreensão para efeito de análise, contudo, a realidade constitui muito mais que a simples soma de conhecimentos, pois se mostra dinâmica, complexa e, na maioria das vezes, contraditória.

O método dialético tem como instrumento a lógica do pensar totalizante que infere a realidade não apenas pelo viés sequencial no espaço e no tempo, mas também, e principal-mente, por meio de suas contradições, mediações e rupturas. Com a aplicação da lógica dia-lética busca-se a compreensão da realidade na sua dinâmica espaço temporal, objetivando conhecer o sentido da totalidade no seu movimento, visto que a realidade constitui síntese de múltiplas determinações interligadas de modo complexo em constante movimento.

Segundo Marx e Engels (1979, p. 125), o defeito principal de todo o materialismo “consiste em que o objeto, a realidade, a sensibilidade, só é apreendido sob a forma de ob-jeto ou de intuição, mas não como atividade humana sensível, como práxis, não subjetiva-mente”. A práxis pressupõe o devir, a teoria orientando a prática e a prática, por sua vez, fazendo com que seja repensada a teoria. Isso favorece o constante repensar da realidade, por meio de novos elementos advindos da prática que, por sua vez, contribuirão com a construção de novos conhecimentos que não constituem verdades absolutas, mas ajudam na compreensão de alguns fenômenos em determinados momentos.

Para Marx e Engels (1979, p. 125), “[...] é na práxis que o homem deve demonstrar a verdade [...] a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. [...] um pensamen-to que se isola da práxis “é uma questão puramente escolástica”. Daí que, a validade ou não validade das afirmações teóricas dá-se somente quando confrontadas com a prática, pois esta possibilita o repensar da teoria, permitindo, deste modo, que a teoria seja avalia-da, deixando de ser apenas retórica e passando a existir como realidade objetiva.

Com relação à lógica, de acordo com Lefebvre (1991, p. 21), “a lógica dialética acres-centa, à antiga lógica [formal], a captação das transições, dos desenvolvimentos, da li-gação interna e necessária das partes no todo” Deste modo, busca-se a compreensão da totalidade, das contradições e das inter-relações dos múltiplos fatores que compõem a re-alidade. Entretanto, cabe ressaltar que, mesmo com a utilização da lógica dialética, não se chegará ao entendimento pleno sobre o fenômeno em questão. Mas, dentre as lógicas do pensar parece ser a que propicia uma maior aproximação da essência dos problemas pes-quisados nas ciências sociais. Pois, segundo Lefebvre (1995), como o real está em movi-mento, o pensamento deve se por em movimento e ser pensamento do movimento. “Se o real é contraditório, então que o pensamento seja pensamento consciente da contradição” (LEFEBVRE, 1995, p. 174). Ainda, no entendimento do mesmo autor, a lógica dialética permite um contato direto com o conteúdo (o que muitas vezes não ocorre com a lógica formal). No entanto, para que essa condição seja satisfeita, deve-se atentar para algumas premissas, de acordo com Lefebvre (1995, p. 174):

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a) Do ponto de vista da forma: que o pensamento se torne móvel e pensamen-to do movimento, sem perder sua forma determinada; b) Do ponto de vista do trabalho efetivo do pensamento: que ele se mova por meio das contradições determinadas, pensando-as, refletindo-as, sem se perder na incoerência; c) Do ponto de vista dos conhecimentos adquiridos (pelas ciências), devemos saber se existem no real assim conhecido, leis universais, que sejam ao mesmo tem-po (precisamente porque são universais) leis do real e leis do pensamento: as leis do movimento no real e no pensamento. Essas leis, para serem universais, devem “num certo sentido” ser abstratas (isto é, não se referirem a nenhum objeto particular, não serem nem leis físicas, nem leis químicas ou biológicas, etc.); e, num outro sentido, serem completamente concretas (referir-se a todos os objetos, a todo o real, inclusive ao pensamento).

Por meio da aplicação da lógica formal estuda-se, observa-se e investiga-se o objeto ou fe-nômeno, de modo isolado, ou seja, busca-se a compreensão da parte ora delimitada. A partir de tal raciocínio gera-se a abstração, pois a parte inexiste sem a totalidade. Perde-se, assim, o en-tendimento do movimento, bem como das relações da parte com o todo (LEFEBVRE, 1995).

O pensador René Descartes expressa sua lógica de pensar formal, também, ao afir-mar, em Discurso do método, que se deve “repartir cada uma das dificuldades [...] em tan-tas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las” (DES-CARTES, 2010, p. 11). Logo, para se conhecer o todo deve-se dividi-lo em partes, pois conhecendo as partes se conhecerá o todo, dividir para conquistar. A relação causa-efeito constitui outro exemplo da lógica formal, uma vez que determina de forma simplista e abstrata o resultado, ignorando os múltiplos fatores que compõem a realidade, bem como seu movimento, do qual a contradição constitui-se integrante. Portando, pode-se afirmar que a lógica formal tem por princípio a abstração.

3. Considerações sobre o modo de vida camponês

No entendimento de Kreutz (2004, p. 9) o cooperativismo não tem como alicerce uma organização socioeconômica clara, entretanto possui algumas ideias e noções comuns: “mutu-alidade, união de esforços, solidariedade, associação entre pessoas em função de objetivos co-muns, e [sic] não exploração do homem pelo homem, justiça social, democracia e autogestão”.

Neste sentido, nota-se um esforço das famílias camponesas de Laranjeiras do Sul e região para manter seu modo de vida camponês e, ao mesmo tempo, gerar renda por meio da união de esforços e da inserção na lógica de mercado capitalista, com a produção e comercialização de alguns produtos, inclusive o óleo de girassol.

O modo de vida camponês pressupõe resistência à lógica contemporânea de mercado capitalista que visa, de acordo com Oliveira (2010), acumulação e enriquecimento. No

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141Luciano Ferreira de Lima, Roni Antônio Garcia da Silva e Luciane Aparecida Munhoz Stefano

entanto, “tal aspecto não significa que, enquanto unidade de produção/consumo, esteja alheia às trocas mercantis, mas que as desenvolve a partir das necessidades e perspectivas do grupo doméstico” (OLIVEIRA, 2010, p. 1).

O pequeno agricultor camponês que resiste à lógica de mercado capitalista e opõe-se ao modelo do agronegócio, tanto na produção de grande escala, quanto de pequena escala (agricultura familiar), vê-se enredado ao sistema produtivo hodierno, que requer o conhecimento das técnicas mercadológicas de produção e comercialização, dos tempos e movimentos produtivos, da mensuração dos gastos produtivos, bem como da tributação, do orçamento de capital, das técnicas de precificação, etc. (MPA PARANÁ, 2010). Tal postura frente aos desafios da geração de renda da pequena propriedade com produção diversificada, talvez reforce a consciência coletiva de luta pela manutenção da posse da terra, dos costumes, dos valores, enfim, do status quo.

Todavia, sabe-se, de acordo com a lógica dialética, que a contradição leva ao devir, ao novo, que não é totalmente novo porque traz características do antigo. Logo, a repetição de procedimentos e a incorporação de conceitos, pode levá-los, os camponeses, a uma nova maneira de pensar e agir, transformando, desta forma, seu modo de produção e interferindo, sobremaneira, na interpretação da realidade objetiva.

Outro aspecto que deve ser levado em consideração para Oliveira (2010, p. 1) diz respeito às:

Contradições internas ao mundo camponês, que ora propõem a estes produzir acima de suas necessidades e se [sic] engajarem ao mercado, ora propõem reduzir seu consumo ou sua produção, para resistirem às situações hostis impostas pelo mercado.

Com a união de forças, por meio do cooperativismo, para produção e comercializa-ção, o campesinato mantém relações produtivas, comerciais e financeiras diretas com o mercado. Insere-se cada vez mais no modo de produção capitalista e aprofunda-se na compreensão dos processos, da divisão do trabalho e da maximização dos retornos. Isto não nega a identidade camponesa, pelo contrário, reforça-a. Mas, o modo de vida campo-nês não resiste às mudanças, incorpora-as.

O maior entendimento dos camponeses no que se refere a utilização das técnicas e procedimentos de produção e comercialização, indubitavelmente, leva-os à nova situação econômica e financeira, uma vez que a prática cotidiana com a incorporação das novas ferramentas e das novas tecnologias, torna-os mais competitivos, aumentando, na maio-ria das vezes, o retorno sobre o capital investido.

A partir de uma nova situação econômico-financeira, pode-se inferir que existirá uma pressão com o crescimento dos gastos oriundos de necessidades existentes com saúde, edu-cação, moradia, transporte, lazer, etc. Para tanto, a acumulação de capital faz-se necessária, torna-se, também, preocupação dos camponeses, visa-se, deste modo, não somente satisfazer as necessidades do novo padrão de vida, mas, principalmente, aumentar os investimentos para obter maior retorno.

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142 Lógica formal versus lógica dialética: análise de custos na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Parará

Na tentativa de manter o modo de vida camponês, o movimento dos camponeses insere-se no modo de produção capitalista, pois sem o aumento da renda, teriam, provavelmente, que buscar nas cidades outra forma de subsistência. No entanto, a contradição leva ao devir, a um novo estado, do camponês com pensamento capitalista, racionalista e parte integrante das engrenagens do capital.

O capitalismo enfrentou, durante sua existência, muitas crises, geradas, principalmente, pelo acúmulo exagerado de capital por alguns segmentos da sociedade. As crises, no capitalismo, ma-nifestam-se principalmente por meio das altas taxas de desemprego e baixo ciclo de investimen-tos. A força motriz do capitalismo, talvez seja sua capacidade de reinventar-se sobre novas bases de produção e acumulação. Percebe-se, por meio dos investimentos governamentais, a intenção de distribuir a renda nacional, bem como de gerar fluxo de capital nos movimentos sociais.

O MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) expande-se e ramifica-se, na qualidade, tanto de movimento social, quanto de organização político-administrativa. São inúmeras as cadeias produtivas que estão sendo estruturadas, visando o fortalecimento dos camponeses no que diz respeito à produção, à comercialização e à gestão dos produtos provenientes da agricultura camponesa.

A Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná constitui apenas um núcleo produtivo/administrativo do MPA, no qual alguns produtos (óleo de girassol, feijão, farinha de milho, café, quirera, entre outros) sofrem transformação, ou mesmo recepção, empaco-tamento e comercialização. Por meio do Planejamento Estratégico que será desenvolvido busca-se estabelecer os objetivos de médio e longo prazos, bem como os meios e as estratégias, para que o MPA e a Cooperativa ampliem suas operações, o espaço no mercado, o número de cooperados e de produtos comercializados. Cabe ressaltar que os principais clientes serão as Prefeituras onde o MPA poderá atuar, por meio da Cooperativa, no fornecimento dos alimentos da merenda escolar.

4. Análise de custos sobre a produção de óleo de girassol: duas apropriações

Há uma grande diversidade quanto à utilização dos óleos de origem vegetal. Alguns são utilizados na produção de biodiesel, outros na indústria química e, também, como componen-tes de inúmeros produtos. Possibilitando, deste modo, a formação de muitas cadeias produti-vas. Cabe destacar as principais aplicações: alimentação humana, ração animal, combustível, impermeabilizantes, lubrificantes, tintas, vernizes, cosméticos, medicina natural, entre outros (BORSUK, 2008).

O processamento do girassol mostra-se menos complexo quando comparado com o pro-cessamento das demais oleaginosas, “pois a extração do óleo pode ser realizada em tempera-tura ambiente e com os grãos inteiros, conservando assim propriedades nutricionais impor-tantes” (BORSUK, 2008, p. 40). Após a extração, “o óleo pode ser imediatamente consumido na alimentação, sendo necessária somente a filtragem ou decantação para separar as impure-zas oriundas do processo de prensagem” (BORSUK, 2008, p. 40).

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143Luciano Ferreira de Lima, Roni Antônio Garcia da Silva e Luciane Aparecida Munhoz Stefano

No entendimento da Embrapa (2010), o processamento de uma tonelada de grãos de girassol gera 400 kg (quatrocentos quilos) ou litros de óleo de excelente qualidade, 250 kg (duzentos e cinquenta quilos) de casca e 350 kg (trezentos e cinquenta quilos) de torta, com 45% a 50% de proteína bruta, sendo este subproduto basicamente aproveitado na produção de ração, em misturas com outras fontes de proteína.

No que se refere ao processo produtivo do óleo de girassol, pode-se afirmar, de acordo com Borsuk (2008, p. 40), que:

Existem vários métodos de extração de óleos, divididos basicamente em ex-tração a quente e extração a frio. No primeiro, além da extração mecânica utilizam-se solventes, arrastando-se praticamente todo o óleo do farelo, po-rém com perda na qualidade nutricional. Já na extração a frio, por meio da prensagem mecânica, as perdas de óleo na torta geralmente são elevadas, devendo ser devidamente analisadas. No entanto, o óleo permanece com melhor qualidade nutricional.

A Miniusina de óleo de girassol da Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná localizada em Porto Barreiro/PR utiliza o processo de extração a frio com prensagem mecânica. A capacidade produtiva total gira em torno de, aproxima-damente, 100 kg/h (cem quilogramas por hora). Logo, trabalhando 8 h/d (oito horas por dia) e 5 d/s (cinco dias por semana) tem-se, em 1 (um) mês comercial (trinta dias), em média, com 21 (vinte e um) dias úteis, 16.800 kg (dezesseis mil e oitocentos quilogramas) processados. Dos quais resultam por mês, aproximadamente, 6.720 l (seis mil, setecentos e vinte litros) de óleo, 4.200 kg (quatro mil e duzentos quilogramas) de casca e 5.880 kg (cinco mil, oitocentos e oitenta quilogramas) de torta.

Na análise de custos torna-se necessário, por meio da lógica formal, o entendimento dos conceitos utilizados, bem como da sequência hierárquica de raciocínio pré-estabe-lecida. Para tanto, a definição de gastos, custos e despesas, a diferenciação entre custos diretos e indiretos, fixos e variáveis, constitui fator de fundamental importância.

Lê-se em Bruni e Famá (2004, p. 25) que os gastos “consistem no sacrifício financeiro que a entidade arca para a obtenção de um produto ou serviço qualquer.” Na mesma linha de raciocínio Martins (2008, p. 24) define gasto como:

Compra de um produto ou serviço qualquer, que gera sacrifício financeiro para a entidade (desembolso), sacrifício esse representado por entrega ou promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro).

No que se refere aos conceitos de custos e despesas, ambos gastos, pode-se afirmar, de acordo com Martins (2008, p. 25), que o custo constitui “gasto relativo a bem ou serviço uti-lizado na produção de outros bens e serviços” e a despesa “bem ou serviço consumido direta

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144 Lógica formal versus lógica dialética: análise de custos na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Parará

ou indiretamente para obtenção de receitas”. Portanto, os custos são os gastos relativos, única e exclusivamente, ao processo produtivo e às despesas, após a disponibilidade dos produtos ou serviços para a venda, constituem os gastos administrativos, comerciais e financeiros para obtenção de receitas. Cabe destacar que Bruni e Famá (2004) compartilham com Martins (2008) do mesmo entendimento a respeito dos conceitos de custos e despesas.

Os custos diretos são:

Custos que podem ser diretamente apropriados aos produtos, bastando haver uma medida de consumo (quilogramas de materiais consumidos, embalagens utilizadas, horas de mão de obra utilizadas e até quantida-de de força consumida (MARTINS, 2008, p. 48).

Ainda segundo Martins (2008), os custos indiretos são aqueles que não permitem mensuração de forma objetiva, recorrendo-se, quando apropriados aos produtos, às esti-mativas e aos critérios de rateio, que, geralmente, mostram-se inadequados, imprecisos e arbitrários.

Para Bruni e Famá (2004, p. 31) os custos diretos ou primários “apresentam a pro-priedade de serem perfeitamente mensuráveis de maneira objetiva” e os custos indiretos, por sua vez, “necessitam de aproximações, isto é, algum critério de rateio, para serem atribuídos aos produtos.”

A outra classificação em custos fixos e variáveis pode ser entendida a partir da rela-ção entre “o valor total de um custo e o volume de atividade numa unidade de tempo” (MARTINS, 2008, p. 49). Ou seja, caso o volume de uma determinada atividade aumente ou diminua, numa determinada unidade de tempo, e o valor total de um determinado custo permaneça inalterado, tem-se um custo fixo. De modo análogo, se o valor total acompanhar o movimento da atividade produtiva, tem-se um custo variável. Do ponto de vista unitário os custos são pseudofixos e pseudovariáveis.

O levantamento dos custos da Miniusina de Óleo de Girassol foi realizado pelos membros da equipe que trabalham in loco. A primeira abordagem diz respeito aos custos incorridos independente da ajuda governamental. Levando em consideração o custo da quantidade total de matéria-prima, efetivamente, consumida na produção de óleo de gi-rassol, para tanto torna-se necessário realizar o raciocínio descrito na tabela 1.

Tabela 1: Custo da matéria-prima consumida na produção.Estoque Inicial de Matéria-Prima R$ 1.400,00(+) Compra de Matéria-Prima R$ 1.150,00(=) Estoque de Matéria-Prima Disponível para a Produção R$ 2.550,00(-) Estoque Final de Matéria-Prima R$ 1.150,00(=) Custo da Matéria-Prima Consumida na Produção R$ 1.400,00

Fonte: elaborada pelos autores.

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145Luciano Ferreira de Lima, Roni Antônio Garcia da Silva e Luciane Aparecida Munhoz Stefano

O custo com a Mão de Obra Direta (MOD) diz respeito ao salário e aos encargos sociais do funcionário que opera à máquina, média mensal. No que se refere à Energia Elétrica, observou-se que o custo total foi de R$ 100,00.

Caso a Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná produzisse mais de um produto, os Custos Indiretos por natureza (Aluguel, Materiais auxiliares, Depreciação, Mão de Obra Indireta, Energia Elétrica e outros custos Indire-tos) não seriam atribuídos diretamente ao produto óleo de girassol, pois seriam apropria-dos por meio de algum critério de rateio (custeio por absorção) ou rastreamento (custeio ABC). No entanto, todos os custos, mesmo aqueles que são, em essência, indiretos, foram, logicamente, atribuídos diretamente ao produto.

O custo com o aluguel do prédio foi avaliado em função do preço médio cobrado por instalações semelhantes no município de Porto Barreiro/PR. Pois, cabe lembrar que a Cooperativa não paga aluguel em decorrência da parceria com a Prefeitura Municipal de Porto Barreiro/PR.

A Depreciação, segundo Silva (2009, p. 54-56), representa o custo necessário para substituir os bens de capital quando estes se tornam inúteis pelo desgaste físico (depre-ciação física) ou quando perdem o valor com o decorrer dos anos devido às inovações tecnológicas (depreciação econômica ou obsolescência). Neste caso, a depreciação foi calculada pelo método linear, ou seja, o valor venal/inicial da máquina, menos o valor residual/final dividido pelo período da sua vida útil. Os outros custos indiretos têm em grande parte da sua totalidade os custos com manutenção. Os demais custos correspon-dem aos materiais auxiliares. Sabe-se, de acordo com o levantamento dos custos totais de produção de óleo de girassol, que, por mês, em média, a miniusina realiza um gasto na produção de R$ 5.672,93. Todos os custos estão classificados e mensurados moneta-riamente na tabela 2.

Tabela 2: Estrutura de custos mensal da miniusina de óleo de girassolCustos Diretos

Mão-de-obra R$ 1.305,60Matéria-Prima R$ 1.400,00

Custo Direto Total R$ 2.705,60Custos Indiretos (por definição)

Aluguel R$ 400,00Materiais auxiliares R$ 75,00

Depreciação R$ 2.152,33Mão-de-obra Indireta R$ 0,00

Energia Elétrica R$ 100,00Outros Custos Indiretos R$ 240,00

Custo Indireto Total R$ 2.967,33Custo Total de Produção R$ 5.672,93

Fonte: elaborada pelos autores.

No que se refere às despesas, foram observados os seguintes gastos: salário e encargos sociais do administrador (despesas administrativas) de R$ 1.120,00, bem como frete e

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146 Lógica formal versus lógica dialética: análise de custos na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Parará

comissão sobre vendas (despesas comerciais) de R$ 150,00. Não há despesas financeiras, como, por exemplo, juros pagos ao banco.

Sabe-se que toda a produção média mensal de 6.720 l (seis mil, setecentos e vinte litros) de óleo de girassol do período foi vendida por R$ 3,50 o litro. De acordo com a tabela 3, po-de-se visualizar que o Custo Total de Produção é igual ao Custo do Produto Vendido. Uma vez que não houve estoques inicias de produtos em processo e de produtos acabados.

Tabela 3: Demonstração do custo dos produtos vendidos.Estoque Inicial de Material Direto R$ 1.400,00(+) Compras de Materiais Diretos R$ 1.150,00

Material Direto Disponível R$ 2.550,00(–) Estoque Final de Materiais Diretos R$ 1.150,00

(=) Material Direto Consumido R$ 1.400,00(+) Mão-de-Obra Direta R$ 1.305,60

(+) Custos Indiretos de Produção R$ 2.967,33CUSTO DA PRODUÇÃO DO PERÍODO (CPP) R$ 5.672,93

(+) Estoque Inicial de Produtos em Elaboração R$ 0,00Custo Total de Produção R$ 5.672,93

(–) Estoque Final de Produtos em Elaboração R$ 0,00CUSTO DA PRODUÇÃO ACABADA (CPA) R$ 5.672,93(+) Estoque Inicial de Produtos Acabados R$ 0,00

Custo dos Produtos Disponíveis R$ 5.672,93(–) Estoque Final de Produtos Acabados R$ 0,00

CUSTO DOS PRODUTOS VENDIDOS (CPV) R$ 5.672,93Fonte: elaborada pelos autores.

Portanto, o Demonstrativo do Resultado do Período pode ser assim representado, conforme a tabela 4:

Tabela 4: Demonstrativo do resultado do período (livre mercado).Receita Bruta R$ 23.520,00

(-) Tributos (27%) (R$ 6.350,40)(=) Receita Líquida R$ 17.169,60

(-) CPV R$ 5.672,93(=) Lucro Bruto R$ 11.496,67

(-) Despesas Administrativas R$ 1.120,00(-) Despesas Comerciais R$ 150,00(=) Lucro Operacional R$ 10.226,67

(-) Despesas Financeiras R$ 0,00(=) Lucro Antes do Imposto de Renda (LAIR) R$ 10.226,67(-) Provisão para o Imposto de Renda (15%) R$ 1.534,00

(=) Lucro Líquido R$ 8.692,67Fonte: elaborada pelos autores.

Apurando-se a receita bruta, todos os custos de produção, as despesas administra-tivas e comerciais e a incidência dos tributos, bem como a provisão para o imposto de renda, obtém-se o lucro líquido de R$ 8.692,67, ou seja, uma margem líquida de, aproxi-madamente, 50,63%.

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147Luciano Ferreira de Lima, Roni Antônio Garcia da Silva e Luciane Aparecida Munhoz Stefano

Por outro lado, com o auxílio governamental das três esferas (municipal, estadual e federal), que a Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná recebe, pode-se diminuir consideravelmente o Custo do Produto Vendido, o que impac-tará sobremaneira o resultado do período, de acordo com a tabela 5.

Tabela 5: Demonstração do custo dos produtos vendidos (com ajuda governamental).Estoque Inicial de Material Direto R$ 1.400,00(+) Compras de Materiais Diretos R$ 1.150,00

Material Direto Disponível R$ 2.550,00(–) Estoque Final de Materiais Diretos R$ 1.150,00

(=) Material Direto Consumido R$ 1.400,00(+) Mão-de-Obra Direta R$ 1.305,60

(+) Custos Indiretos de Produção R$ 415,00CUSTO DA PRODUÇÃO DO PERÍODO (CPP) R$ 3.120,60

(+) Estoque Inicial de Produtos em Elaboração R$ 0,00Custo Total de Produção R$ 3.120,60

(–) Estoque Final de Produtos em Elaboração R$ 0,00CUSTO DA PRODUÇÃO ACABADA (CPA) R$ 3.120,60(+) Estoque Inicial de Produtos Acabados R$ 0,00

Custo dos Produtos Disponíveis R$ 3.120,60(–) Estoque Final de Produtos Acabados R$ 0,00

CUSTO DOS PRODUTOS VENDIDOS (CPV) R$ 3.120,60Fonte: elaborada pelos autores.

O Custo Indireto Total, em uma situação real de economia de mercado seria de R$ 2.967,33, com o auxílio governamental deduz-se desse valor R$ 400,00 correspondente ao aluguel, visto que o estabelecimento industrial foi cedido pela Prefeitura de Porto Bar-reiro/PR sem ônus, bem como a depreciação de R$ 2.152,33, pois a máquina pertence à Prefeitura de Porto Barreiro/PR. As despesas administrativas são pagas com recursos de programas federais, de modo indireto.

O Demonstrativo do Resultado do Período, com ajuda governamental, está represen-tado na tabela 6, abaixo:

Tabela 6: Demonstrativo do resultado do período (com ajuda governamental).Receita Bruta R$ 23.520,00

(-) Tributos (27%) (R$ 6.350,40)(=) Receita Líquida R$ 17.169,60

(-) CPV R$ 3.120,60(=) Lucro Bruto R$ 14.049,00

(-) Despesas Administrativas R$ 0,00(-) Despesas Comerciais R$ 150,00(=) Lucro Operacional R$ 13.899,00

(-) Despesas Financeiras R$ 0,00(=) Lucro Antes do Imposto de Renda (LAIR) R$ 13.899,00(-) Provisão para o Imposto de Renda (15%) R$ 2.084,85

(=) Lucro Líquido R$ 11.814,15Fonte: elaborada pelos autores.

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148 Lógica formal versus lógica dialética: análise de custos na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Parará

Logo, pode-se verificar por meio das demonstrações contábeis/gerenciais, anterior-mente realizadas, que trabalhando na capacidade máxima de produção mensal, do pro-duto óleo de girassol, obtém-se lucro, tanto numa competição de livre mercado, quanto com incentivo governamental. Na tabela 7, abaixo, observa-se a variação de lucro das duas alternativas de produção.

Tabela 7: Variação das Alternativas de Produção.Livre Mercado Ajuda Governamental Variação (%)

CPV R$ 5.672,93 R$ 3.120,60 (44,99)Despesas Administrativas R$ 1.120,00 R$ 0,00 (100)

Lucro Líquido R$ 8.692,67 R$ 11.814,15 35,91Fonte: elaborada pelos autores.

5. A contradição dialética

A contradição na lógica do pensar formal refere-se ao oposto, ou seja, quando a va-riável A sofre a contradição/negação torna-se Não A, logo A e Não A são completamente diferentes, assim como verdadeiro e falso. Na lógica do pensar dialética A e Não A fazem parte do mesmo movimento, a contradição da variável A leva a um novo estado no qual A e Não A coexistem, portanto o movimento em espiral tese – antítese – síntese leva a uma nova variável A, que não pode ser totalmente nova porque traz características da antiga. Como exemplo, pode-se citar a transformação da água em vapor de água, por meio da contradição, aumento da temperatura acima de 100° Celsius, a água torna-se vapor de água, ou seja, muda do estado líquido para o estado gasoso mantendo algumas proprie-dades do antigo estado líquido.

No que se refere à análise de custos do produto óleo de girassol da Coopera-tiva Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná, pode-se inferir que o entendimento dos camponeses sobre o processo produtivo, dos seus tempos e movimentos, dos seus gastos, bem como das técnicas de apropriação, mensuração e demonstração dos custos, das despesas, dos tributos, do imposto de renda e dos resul-tados, leva-os a uma nova forma de pensar e de agir, baseada nos processos e técnicas capitalistas. Isso, no entanto, não transforma por completo o modo de vida campo-nês, pois a cultura, a tradição, os costumes, os valores e o amor pelo campesinato faz com que muitas características sejam mantidas, surgindo, assim, um novo camponês, o camponês capitalista.

A contradição supramencionada, de natureza dialética, demonstra, de certo modo, que mesmo na perspectiva ideológica ocorrem mudanças significativas, uma vez que, a subsistência sendo a base da discussão teórica e do devir prático, conduz a novas reflexões acerca do modo de produção capitalista, sendo este estudado, compreendido, melhorado

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149Luciano Ferreira de Lima, Roni Antônio Garcia da Silva e Luciane Aparecida Munhoz Stefano

e incorporado. Logo, a contradição dialética evidencia-se por meio da espiral: tese (modo de produção e vida camponês) – antítese/contradição (necessidade da geração de renda adicional a existente) – síntese (camponês capitalista).

6. Considerações finais

O pequeno agricultor camponês, com o incentivo governamental, organiza-se cole-tivamente e absorve as técnicas contemporâneas de produção, de gestão e de comercia-lização. Demonstra a capacidade de construir saberes interdisciplinares e resiste à lógica de mercado capitalista, transformando matéria-prima em capital com menor intensidade da racionalização produtiva. Todavia, ao interferir no modo de produção capitalista, tem sua compreensão acerca da realidade objetiva alterada em função dos processos e técnicas incorporadas ao seu cotidiano.

A contradição dialética leva ao devir, ao novo, que não é totalmente novo porque traz características do antigo. O camponês não perde suas características de homem do campo, que possui dedicação à família e à terra, mas adquire novos conhecimentos e habilidades, por meio do envolvimento nos modernos processos de produção, comercia-lização e distribuição, que lhe possibilitam aumentar a renda e, principalmente, manter sua propriedade, os traços culturais e a história de luta e resistência.

A apuração dos custos permite à Cooperativa maior eficiência na utilização dos re-cursos, bem como precificar seus produtos de acordo com o esforço total de produção. A partir do conhecimento da estrutura de custos de todos os produtos pode-se aumentar ou diminuir a margem de lucro por produto conforme as necessidades impostas pelo merca-do, o que, de certo modo, torna a Cooperativa mais competitiva.

Por meio do levantamento de custos realizado na Miniusina de Óleo de Girassol de Porto Barreiro/PR, pode-se ratificar a viabilidade econômico-financeira do empreendi-mento. Uma vez que, utilizando a capacidade máxima da máquina durante um período de 21 (vinte e um) dias úteis por mês observa-se a produção, aproximada, de 6.720 l (seis mil, setecentos e vinte litros) de óleo de girassol, os quais podem ser comercializados a R$ 3,50/litro, perfazendo R$ 23.520,00 de Receita Bruta. Após a dedução dos tributos, custos, despesas e imposto de renda, obtém-se um Lucro Líquido de R$ 11.814,15.

Além das observações acerca da contradição dialética e dos estudos relatados neste escrito, foram realizados, pela equipe que integra o Projeto de Extensão do Programa Estadual Universidade Sem Fronteiras desenvolvido na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Paraná, o estudo do mercado em Laranjeiras do Sul e re-gião, a elaboração das embalagens, o estudo de alguns elementos de marketing, bem como está em andamento a construção do planejamento estratégico da referida cooperativa.

O crescimento da Cooperativa dá-se de forma acelerada, pois a gama de produtos aumenta a cada dia. Cabe ressaltar que a sobrevivência de qualquer empreendimento depende de pla-

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150 Lógica formal versus lógica dialética: análise de custos na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Parará

nejamento, organização, direção e controle. Os estudos e os trabalhos realizados nas áreas de custos, marketing e estratégia constituem fator de fundamental importância para o futuro da Cooperativa, pois fornecem informações a respeito do mercado potencial, bem como de carac-terísticas internas, pontos fortes e fracos, inerentes aos gastos do processo produtivo do óleo de girassol, à divulgação dos produtos, melhor disposição das informações nas embalagens, identificação da missão, visão, valores e objetivos para o curto, o médio e o longo prazo.

7. Referências

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1. Introdução

O objetivo desse capítulo é apresentar e discutir os resultados da implantação da Co-operativa das Costureiras da Associação de Moradores do Bairro Industrial do Xarquinho – COCAMBIX, em um bairro carente na periferia do município de Guarapuava no Paraná. Essa cooperativa é fruto de um projeto vinculado ao Programa Universidade sem Frontei-ras, Sub Programa Extensão Tecnológica Empresarial e apresenta-se como um exemplo sig-nificativo de proposta de políticas públicas de geração de emprego e renda em parceria com as Universidades. O projeto é voltado para a organização e implantação da Cooperativa de Costureiras, com o objetivo de assessorá-las nos aspectos econômicos, jurídico, contábeis e administrativos na implantação da Cooperativa.

As cooperativas podem ser definidas como uma associação autônoma de pessoas que se unem, livre e voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econô-micas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida (ACI, 2004).

Historicamente, essa forma de organização sócio-econômica de administração autogestionada trouxe respostas para a geração de empregos e redistribuição de ren-da e melhoria da qualidade de vida da população. Foi com essa perspectiva que esse projeto foi desenvolvido.

Políticas públicas indutoras à cooperação para geração de trabalho e renda:

estudo em uma cooperativa de costureiras da cidade de Guarapuava

Raquel Virmond Rauen Dalla Vecchia

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152 Políticas públicas indutoras à cooperação para geração de trabalho e renda:estudo em uma cooperativa de costureiras da cidade de Guarapuava

2. Revisão teórica

2.1. Políticas públicas indutoras da geração de emprego e renda

O processo de desenvolvimento socioeconômico requer a interação entre fatores eco-nômicos, políticos, sociais e culturais. Nesse contexto, Couto (2001) destaca que as polí-ticas públicas devem focar o fomento à organização social, geração de capital social, ao empreendedorismo, à criatividade e às competências coletivas e individuais vinculadas às oportunidades e à vocação local. Sendo consideradas fundamentais as parcerias entre as instituições públicas e o trabalho de capacitação para melhoria dos níveis educacionais e da capacidade produtiva.

Para a implantação de uma política de desenvolvimento local sustentável, de acordo com Brose (2000), esta deve-se basear em cinco propostas: inclusão social, fortalecimento da economia local, inovação na gestão pública, gestão ambiental e uso racional dos recur-sos, e mobilização social.

Essa é uma abordagem de desenvolvimento local como expressão de uma nova polí-tica social, em que se fundamenta o conceito de desenvolvimento como:

Processo em que os esforços de uma população se somam aos do governo para melhorar as condições sociais, econômicas e culturais da comunidade, procurando integrá-la na vida do país e permitir-lhe contribuir plenamente para o progresso social (MOREIRA, 1985 apud FISCHER, 2002, p. 289).

Da análise de todos estes elementos, pode-se esperar que o governo, em contexto de subde-senvolvimento, onde proliferam o desemprego e a exclusão social, deve ser ao mesmo tempo:

[...] “welfarista” e ”desenvolvimentista”. Neste último caso, não é mobi-lizando setores estratégicos da economia como, por exemplo, indústria automobilística, petroquímica ou turismo, mas recursos potenciais do município, às vezes da própria pobreza e expressos por pequenos negó-cios, pequenas oportunidades, mas que representam o preenchimento de um nicho de mercado e oportunidades para os que se engajam nele (PINHO; SANTANA, 2002, p.289).

Essas realizações contrapõem-se ao modelo econômico central, dado que privilegia a economia de pequenos e microempresários, esses governos mostram que não há imobilis-mo, mas também deve haver consciência de que só é possível atuar nas franjas do sistema econômico.

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153Raquel Virmond Rauen Dalla Vecchia

Essas abordagens sobre desenvolvimento local têm como objetivo a melhoria da qua-lidade de vida, com foco sobre determinados territórios “comunidade”, por meio da par-ticipação e parcerias entre a população e o governo. Percebe-se presente nas abordagens atuais a preocupação explícita com a efetivação de parcerias e ações mais articuladas. Como, por exemplo, nas políticas públicas de indução de geração de emprego e renda, em que a atuação do gover no assume várias formas:

[...] programa de garantia de renda mínima para idosos; criação de fundo institucional para apoio financeiro a pequenas e microempresas, e profis-sionais autônomos; implantação de unidades produtivas autogestionadas pela população excluída do mercado de trabalho e sem qualificação pro-fissional; incorporação dos setores mais pobres da população, mediante a criação de pequenos negócios; apoio financeiro a segmentos da sociedade a margem do sistema financeiro (PINHO; SANTANA, 2002, p. 289).

Todas essas políticas trazem em seu bojo uma forte participação e atuação do governo articulada à população mais carente. Por meio não só de financiamentos, mas também de aporte de equipamentos, matéria-prima e treinamento em cursos profissionalizantes, desenvolvendo até comportamentos empreendedores em microempresários.

Determinadas políticas mostram total consciência do problema da empregabili dade no mundo contemporâneo; sabem que a geração de oportunidades de trabalho é necessária e imprescindível, e que esse deve ser um papel do governo. A melhor forma de se combater a pobreza e os seus males é por meio do trabalho, o único modo de dar dignidade ao homem.

O governo do estado do Paraná buscou implementar uma proposta de políticas pú-blicas de desenvolvimento local sustentável, por meio do Programa Universidade sem Fronteiras. Esse Programa procurou induzir a geração de emprego e renda por meio de seus projetos, em municípios de baixo Índice de Desenvolvimento Humano – IDH. Ele é apresentado como uma forma de promoção focada na sustentabilidade das comunidades, de modo que essas se tornem capazes de suprir suas necessidades imediatas, diagnosticar e incentivar suas vocações locais e fomentar o intercâmbio externo, tendo em vista suas vocações. A participação dos atores locais, as parcerias entre instituições públicas e a ca-pacitação para a gestão são considerados pontos básicos.

2.2. Cooperativismo como alternativa de geração de trabalho

O presente Projeto fundamentou-se no modelo do cooperativismo como alternativa de geração de emprego e renda, na promoção do desenvolvimento socioeconômico. Vin-do de encontro à estratégia de política pública do governo do estado, que visa estimular a descentralização do desenvolvimento econômico e social como mecanismo de dimi-

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nuição das desigualdades regionais, econômicas e sociais, com o objetivo de diminuir situações de desemprego em comunidades carentes.

Ao constatar a existência de cenário capaz de gerar ou incrementar diversos fatores de em-pobrecimento da população de baixa renda, percebe-se a dificuldade em garantir-lhe condições mínimas de sobrevivência digna. Assim, vem sendo buscado, dentre inúmeras possibilidades, uma que pudesse responder à questão, com ações capazes de gerar novas oportunidades de in-serção social por meio do trabalho. Essa opção tem sido o Cooperativismo, que de acordo com Caldeira (2006), vem surgindo como alternativa ao desemprego massivo ocasionado pela glo-balização da economia, aplicando-se a vários casos, com grande qualidade e produtividade.

O cooperativismo é uma forma de organização de trabalho calcada em princípios de-mocráticos a serem exercidos em uma sociedade justa, livre e fraterna, materializada por empreendimentos econômicos autônomos de propriedade coletiva. Caldeira (2006) assegura que o cooperativismo deve ser revestido de alguns valores que o legitimem: democratização da gestão do trabalho, ajuda mútua, responsabilidade, equidade e solidariedade, domínio do know-how produtivo, distribuição equitativa da renda obtida e fortalecimento do desen-volvimento local de forma autossustentável. Baseia-se na autogestão dos empreendimentos, permeada pelos valores éticos da honestidade, transparência e responsabilidade social.

Dessa forma, a consolidação do sistema cooperativista tem papel significativo no desen-volvimento da sociedade, pois promove, dentre outros benefícios, acesso a crédito, saúde, edu-cação, moradia e ao mercado de trabalho, com responsabilidades sociais e ambientais. Tendo como princípio a autogestão, onde os direitos de todos são iguais e o resultado alcançado é repartido entre os integrantes, na proporção da participação de cada um (LIMA, 2004).

Seja como alternativa de ocupação, manutenção de empregos ou de geração de renda, o modelo do cooperativismo vem se multiplicando como novo paradigma da organização na produção e do trabalho. Segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB (2009), o Brasil possui 7.671 cooperativas, que une 8.252.410 cooperados em projetos comuns, empregando diretamente aproximadamente 274 mil pessoas. No Paraná há 238 cooperativas, correspondendo a 513.771 cooperados, o que gera 55.367 empregos formais.

O cooperativismo, enquanto organização socioeconômica, não se sustenta sobre uma teoria social específica, mas sobre um conjunto de ideias e princípios tais como: união de es-forços, solidariedade, associação entre pessoas em função de objetivos comuns, justiça social, democracia e autogestão e não exploração do homem pelo homem. Portanto, as cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. (OCB 2010).

Segundo Bialoskorski Neto (2002 apud OCB, 2008), as cooperativas apresentam duas dimensões, a econômica e a social, com foco no associado e na comunidade. Assim, quan-do as cooperativas passam a olhar para fora da própria organização, se projetando no es-paço público, emerge uma noção de co-responsabilidade pela região onde os cooperados habitam com interesse no desenvolvimento sustentável de suas comunidades.

Nesse sentido, de acordo com Hugon (1984) o cooperativismo não se limita apenas ao plano econômico, mas representa um importante fator de transformação dos valores

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morais dos cooperados, facilitando sua adaptação à vida social, criando-lhes novas men-talidades, sendo, portanto, um fator decisivo do processo de desenvolvimento.

Para Schardong (2002) deve ser essencial no conceito de cooperativismo que este pro-mova a defesa e a melhoria da situação econômica dos cooperados, quer obtendo para eles os baixos custos nos bens e serviços que necessitam, quer colocando no mercado a preços justos, os bens e serviços que produzem. O cooperativismo apresenta-se como uma orga-nização social de defesa e de valorização do indivíduo, ao mesmo tempo em que é instru-mento técnico de desenvolvimento econômico.

As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a uti-lizarem os seus serviços e assumirem as responsabilidades como membros. Como uma organização democrática, deve ser controlada pelos seus membros, que participam na for-mulação de suas políticas e na tomada de decisões, pois os sócios integralizam equitativa-mente o capital das suas cooperativas.

Os ganhos da atividade econômica devem ser repartidos entre os sócios de acordo com critérios discutidos e aprovados por todos. Segundo Cunha (2002), a maioria das coopera-tivas não chega a implantar a igualdade econômica absoluta, por conta das diferenças de qualificação e função de cada cooperado. Os excedentes chamados ‘sobras’ nas cooperativas também são destinados a fins decididos por todos. Em geral, as ‘sobras’ são reinvestidas na própria cooperativa, ou destinadas a fundos comuns, para educação e assistência social dos sócios, a outros fundos que substituam as proteções sociais garantidas por lei aos trabalha-dores assalariados formais, ou até repartidas entre os cooperados – mas o importante é que tudo isso pode ser decidido por eles mesmos, de forma democrática.

O Cooperativismo é uma doutrina, com princípios e normas de conduta, e pode ser con-siderada uma forma ideal de organização das atividades socioeconômicas. De acordo com a OCB (2004), atualmente os princípios básicos do cooperativismo são: adesão voluntária, gestão democrática pelos membros, participação econômica dos membros, autonomia e independên-cia, educação, formação e informação, intercooperação e preocupação com a comunidade.

Foi baseado nesses princípios que os esforços para a organização e implantação da Cooperativa das Costureiras têm enfatizado as vantagens do cooperativismo.

3. Resultados e discussões

3.1. Programa universidade sem fronteiras como estratégia de políticas públicas de geração de emprego e renda

A ideia de que a formação de laços de cooperação e a organização em cooperativas podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população tem adquirido força

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entre teóricos e atores políticos. Parte deles argumentam que o Estado tem, historicamen-te, agido contra a possibilidade de organizações autônomas emergirem em comunidades de baixa renda, mas exemplos recentes mostram que atores estatais também podem in-centivar e apoiar estas comunidades para que se auto-organizem, o que pode ser decisivo para que elas se desenvolvam em termos sociais e econômicos.

Nesse contexto, o presente trabalho procurou apresentar e discutir um exemplo sig-nificativo de como o Estado, em parceria com setores organizados da sociedade civil e as instituições de ensino superior, pode estimular a organização coletiva das parcelas menos favorecidas da população, a fim de promover seu desenvolvimento, por meio de uma po-lítica pública de geração de emprego e renda. Buscando promover uma integração com abordagem multidisciplinar entre professores e pesquisadores das Instituições de Ensino Superior e as comunidades. Essa política reconheceu e valorizou as instituições de ensino superior como fontes importantes de geração de conhecimentos, tecnologias e de gestão que permitem, quando aplicados aos diferentes setores de atividades econômicas, ganhos de qualidade e produtividade.

Assim, a estratégia de políticas públicas de geração de emprego e renda se propõe a, além de dinamizar os aspectos produtivos e econômicos, potencializar as dimensões sociais, culturais, ambientais e político-institucionais que constroem o bem-estar da sociedade.

3.2. O projeto: cooperativa das costureiras da associação de moradores do bairro industrial do Xarquinho-Cacambix

A divulgação do Edital da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Su-perior - SETI, em conjunto com a Fundação Araucária. para a chamada de projetos ao Programa Universidade Sem Fronteiras: Extensão Tecnológica Empresarial, que se des-tinou a financiar projetos orientados para a organização de novos empreendimentos, na forma de associações, cooperativas e empresas. A partir desse edital, a Associação de Moradores do Bairro Industrial Xarquinho – AMBIX, em Guarapuava, fundada em 1997, por meio de seu presidente, buscou a UNICENTRO como parceira para assesso-rá-las na implantação de uma Cooperativa de Costureiras há muito tempo idealizada, vindo de encontro aos objetivos do programa. Essa iniciativa é decorrente da existência de várias costureiras no bairro trabalhando na informalidade e vendo na costura um meio de ocupação e renda.

O bairro em questão é o Bairro Xarquinho, o qual abrange seis núcleos, com uma população de aproximadamente 16 mil habitantes, sendo um dos bairros mais populosos de Guarapuava, representando cerca de 10% da população do município. Caracteriza-se como um bairro de periferia, com uma população de baixa renda oriunda, em sua maio-ria, do êxodo rural.

O perfil socioeconômico de grande parte dessas costureiras é de baixa renda e baixo nível de escolaridade. A faixa etária correspondente é de 25 a 50 anos, e são, na maioria, donas de

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casa que não trabalham fora, por opção ou imposição dos maridos, para que cuidem apenas da casa e dos filhos. A costura foi o meio encontrado para contribuir com a renda familiar sem precisar trabalhar fora. Essa situação pôde ser percebida como um dos fatores que contribuí-ram para que a maioria delas apresentasse uma baixa autoestima no início do projeto.

Diante das dificuldades em atender a uma demanda crescente de confecção de ves-tuário, acima da sua capacidade de produção, essa situação acabou por limitar a geração e o aumento de renda. Assim, com os recursos do Programa Universidade sem Frontei-ras e o assessoramento técnico dos professores, egressos e acadêmicos da Universidade concretiza-se a ideia da criação da Cooperativa, como forma de inserção no mercado de trabalho, com mais qualificação, organização e novas tecnologias.

Nesse contexto, o Programa Universidade sem Fronteiras foi a perspectiva encon-trada pelas costureiras do Bairro Industrial do Xarquinho, na cidade de Guarapuava, para a implantação da Cooperativa das Costureiras. No início do projeto, participavam das reuniões para a organização da Cooperativa, a equipe do projeto - formada por cinco professores orientadores, duas recém formadas e duas estudantes de graduação -, o presidente da Associação de Moradores e 16 costureiras. A partir das reuniões e palestras sobre o projeto, o interesse foi sendo despertado na comunidade e outras oito costureiras se integraram ao projeto. No entanto, em razão dos desafios e dificuldades que surgiram durante as etapas do projeto, algumas participantes desistiram, perma-necendo apenas 20 costureiras.

Dessa forma, foi implantada a Cooperativa de Costureiras da Associação de Morado-res do Bairro Industrial Xarquinho, COCAMBIX. O projeto teve como objetivo assesso-rar as costureiras na implantação da Cooperativa em seus aspectos econômicos, jurídicos, contábeis e administrativos. Com a perspectiva de que esse novo empreendimento, além proporcionar a capacitação profissional das costureiras, impulsione a geração de novos empregos diretos e indiretos para a comunidade.

3.3. Desafios e resultados do projeto

Para a viabilização do projeto foram estabelecidas algumas ações, entre elas, a cons-cientização das costureiras sobre a importância do programa Universidade Sem Frontei-ras e do empreendimento, bem como a qualificação e a capacitação das participantes para produção e a gestão econômica e empresarial. Foram realizadas diversas reuniões com a equipe, para discutir e planejar as ações que deveriam ser desenvolvidas mensalmente; reuniões com as costureiras, para avaliar os resultados dessas atividades; visitas técnicas, elaboração de material e apostilas para a realização de cursos, palestras e dinâmicas.

Essas atividades desenvolvidas proporcionaram o alcance dos objetivos propostos para a organização e implantação da Cooperativa, bem como os resultados esperados. O primeiro desafio foi encontrar um local adequado e sem custo para a instalação da Coo-perativa. Sensibilizado com a situação das costureiras e entusiasmado com o projeto, por

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vislumbrar uma alternativa de trabalho e renda na comunidade, um empresário do bairro cedeu um espaço de sua propriedade para a sede da Cooperativa, por meio de um contrato de comodato elaborado pela equipe do Projeto. Houve assessoramento na reforma e ade-quação da infraestrutura do espaço para a operacionalização da Cooperativa.

Para que a Cooperativa pudesse ser criada foi necessária a elaboração do estatuto social, baseado nos modelos específicos para esse tipo de empreendimento. Ele define a dinâmica e os procedimentos internos e está diretamente relacionado a questões práticas e objetivas da Cooperativa. Para que tal estatuto fosse elaborado, foram realizadas diversas reuniões em que as costureiras discutiram e sugeriram as normas, que foram adaptadas à missão e aos objetivos, os procedimentos e as políticas de produção necessárias ao funcionamento e administração da Cooperativa. Foi elaborado, também, o Código de Ética; ele estabelece normas de conduta que devem inspirar as atividades, regulamentando-as, e as relações interpessoais das cooperadas.

A realização dos cursos de capacitação em parceria com o SENAI, para a produção de peças de vestuários e gestão da Cooperativa foi fundamental para torná-las aptas a assumir o processo de produção da Cooperativa. Bem como as palestras e cursos sobre os princípios do cooperati-vismo e o trabalho em cooperação, onde foram elaborados materiais de apoio e apostilas.

Foram realizados, também, cursos de informática e de gestão abordando os aspectos administrativos, contábeis e econômicos-financeiros, trabalhados por meio de apostilas elaboradas pela equipe do projeto.

A formalização da Cooperativa se efetivou com o registro do Estatuto Social e de outros documentos exigidos pela Junta Comercial. Somente após a constituição legal da Cooperati-va é que foram entregues as máquinas de costura e equipamentos adquiridos com os recursos do projeto e, finalmente, deu-se o início da produção. A burocracia e a documentação exigida para dar entrada no Registro do Estatuto da Cooperativa na Junta Comercial de Guarapu-ava contribuíram para a morosidade na tramitação do processo. Tendo em vista que nesse momento as costureiras estavam ansiosas para instalar a Cooperativa e começar a produzir, controlar essa ansiedade foi um dos principais desafios que a equipe do projeto teve que en-frentar, mostrando a elas que nessas circunstâncias deve-se ter tranquilidade e paciência.

Durante todas as fases do projeto, o maior problema foi o de relacionamento entre elas, por isso, a solução de conflitos foi um dos maiores desafios apresentados, e também um grande apren-dizado. Foi intermediando e solucionando esses conflitos que a equipe do projeto conseguiu con-quistar a confiança das mulheres em nosso profissionalismo e na viabilidade do projeto.

Visando verificar a efetividade desses resultados, foi realizada uma reunião com as coopera-das, para que, por meio de depoimentos, avaliassem a sua participação no processo de implanta-ção da Cooperativa, bem como suas perspectivas de vida com o trabalho recém começado.

Para elas, o contato com a Universidade por meio da equipe do projeto, bem como os cursos de informática e de gestão realizados na Universidade foram considerados como a realização do sonho de frequentar o ambiente universitário, um desejo nunca antes con-cretizado. Esse foi o primeiro aspecto que contribuiu para que elas adquirissem confiança em seu próprio potencial e aumentassem a seua autoestima, além dos conhecimentos ad-quiridos em informática e gestão.

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159Raquel Virmond Rauen Dalla Vecchia

A capacitação por meio do curso de costura ofertado pelo SENAI com o respectivo certificado, segundo os depoimentos, foi a etapa mais importante do projeto, pois esse curso garantiu-lhes a profissionalização, a confiança e o respeito da comunidade em rela-ção ao trabalho delas e da futura Cooperativa.

A formalização da cooperativa, com a entrega das máquinas e o início da produção foi o momento em que elas tiveram a percepção da concretização do projeto e a realização do ‘sonho de serem donas do próprio negócio’. A responsabilidade da gestão econômi-ca, financeira e administrativa da Cooperativa está sendo um desafio, mas as associadas sentem-se preparadas para enfrentá-lo.

Na avaliação que fizeram de todo processo de implantação da Cooperativa, todas consideraram que esse processo provocou importantes transformações em suas vidas, proporcionando um novo olhar da realidade. A principal transformação foi na autocon-fiança, pois elas passaram a acreditar que eram capazes de participar do planejamento e implantação de um grande empreendimento, como a Cooperativa. Com relação as suas capacidades intelectuais, perceberam que têm grande potencial e que podem superar as dificuldades com esforço e perseverança.

Relataram que houve, por parte delas, a compreensão e a assimilação teórica dos prin-cípios do cooperativismo que foram trabalhados durante esse processo, mas encontraram, e ainda encontram, muita dificuldade de por em prática os conceitos aprendidos, pois te-rão que rever alguns valores culturais para mudar suas atitudes e comportamentos.

No entanto, a transformação mais esperada é a socioeconômica. Elas acreditam que essa mudança só será possível com a geração de renda obtida com o trabalho e o sucesso da Cooperativa. A perspectiva de ter assegurado o trabalho e a renda faz com que sintam-se motivadas a se empenhar mais, para o crescimento e a prosperidade da Cooperativa, de forma que possam melhorar sua qualidade de vida.

A Cooperativa das Costureiras está em funcionamento desde janeiro de 2010, pro-duzindo confecções femininas, masculinas, infantis e de cama, mesa e banho, além de uniformes profissionais e escolares.

Cooperativa de Costureiras

Foto: J. Madruga

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160 Políticas públicas indutoras à cooperação para geração de trabalho e renda:estudo em uma cooperativa de costureiras da cidade de Guarapuava

4. Considerações finais

O cooperativismo apresenta-se como uma alternativa para o crescimento e desen-volvimento socioeconômico, capaz de promover os mais diversos setores da economia na geração de renda, valorização pessoal e inclusão social.

A criação de uma Cooperativa das Costureiras do Bairro Industrial do Xarquinho era uma demanda idealizada pelas costureiras há muito tempo. Entretanto, vale ressaltar um aspecto bastante relevante à implantação de cooperativas populares, que é a questão de sua formalização. A burocracia é muito complexa e demorada, exigindo um aporte de recursos nem sempre disponível para este extrato da população. Assim, estas coopera-tivas, mesmo que desejem, terão grandes dificuldades para se formalizar. Diante desses fatos, constatou-se que a viabilização dessa Cooperativa só foi possível por meio desse Projeto vinculado ao Programa Universidade sem Fronteiras, com o assessoramento dos professores, egressos e estudantes, bem como os recursos para a aquisição das máquinas e equipamentos.

Outro aspecto importante é a questão da dimensão política desses empreendimentos populares como uma possibilidade concreta de emancipação, assumindo responsabili-dades e participando diretamente nos resultados, onde as próprias cooperadas podem se perceber como protagonistas de sua própria história, deixando de lado uma postura de ‘espera de ajuda’ e assumindo outra atitude mais pró-ativa e independente.

Espera-se que o projeto tenha contribuído para estimular a valorização pessoal por meio da capacitação e qualificação profissional e para a melhoria da situação socioeconô-mica das cooperadas pela renda gerada com a Cooperativa. Concretizando, dessa forma, os objetivos do Programa Universidade Sem Fronteiras na criação de um novo empre-endimento proporcionando geração de emprego e renda, inclusão social e o desenvolvi-mento socioeconômico de regiões carentes, minimizando as desigualdades regionais do estado do Paraná.

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1. Introdução

A sobrevivência de grande parte da população brasileira está diretamente relaciona-da à entrega de sua mão de obra em troca de uma contrapartida financeira daquele que detém a posse dos meios de produção, ainda que em condições adversas. Diante dos pos-tulados atuais da atividade trabalhista, as pessoas estão dedicando cada vez mais tempo ao processo produtivo, de modo que consigam atingir os indicadores de produtividade estabelecidos pelas organizações, em função da elevada competitivdade apresentada pelo mercado, colocando, assim, em segundo plano as atividades básicas de uma vida social, como família, amigos e diversão (LUCIANO et al., 2009).

Em função de suas características específicas e do seu nível de evolução, o mercado de trabalho se tornou, na história da sociedade brasileira, responsável direto pelos índices de exclusão social, em função dos elevados níveis de desemprego apresentados. Alijado do mercado formal de trabalho, além de não conseguir obter a renda necessária para o seu sustento e de sua família, o trabalhador permanece à margem da sociedade, tendo extraído de si as funções inerentes ao cidadão comum enquanto parte de um todo na economia formal.

A taxa de desemprego é representada por pessoas que estão em condições de desem-penhar determinadas atividades remuneradas, mas que por razões técnicas ou profissio-nais, estão alheios ao mercado formal de trabalho, contudo, não significando que não estejam desempenhando atividades (DIEESE, 2010). No Estado do Paraná, observa-se que os indicadores socioeconômicos apresentam oscilações diversas entre as regiões, em-bora com taxas de desemprego inferiores na região metropolitana de Curitiba (IPARDES, 2010), o estado também possui um contingente de trabalhadores que buscam, sem suces-so, se inserir no mercado formal de trabalho.

Organização da sociedade a partir de relações de cooperação:

Muitos caminhos uma só direção

Antônio João Hocayen-da-SilvaMarcos de Castro

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164 Organização da sociedade a partir de relações de cooperação: muitos caminhos uma só direção

Mudanças nas atividades comerciais e trabalhistas por volta de 1990, em decorrência da abertura comercial do Brasil, deram início a um movimento no qual muitos trabalhadores, em virtude da elevada desqualificação, perderam seus postos de trabalho para profissionais mais capacitados, que atendiam às necessidades da nova configuração empresarial, desde então a sociedade vive, com o advento da globalização, um momento decisivo de sua exis-tência, caracterizado por profundas mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais, bem como por situações de incertezas acerca dos resultados, para o mundo, das transforma-ções provocadas por este processo (COSTA, 2001; MORETTO; POCHMANN, 2002).

Dentro desta nova configuração da sociedade imposta pela globalização, as relações de trabalho mudaram, e continuam mudando constantemente, e em meio a esse processo de modificação, o estabelecimento de relações de cooperação se apresenta como alternati-va para a geração de trabalho e renda, garantindo, assim, aos trabalhadores, oportunida-des viáveis além da formalização trabalhista, há tempos reduzida.

Com a diminuição das vagas na indústria, o aumento das vagas na área de serviços e com o processo de automação, uma das opções mais justas para os trabalhadores contra o desem-prego tem sido as relações de cooperação, que invariavelmente se materializam na reunião de pessoas com interesses comuns em torno de associações ou cooperativas. Tais instituições constituem-se em um movimento social que busca constituir uma sociedade mais justa, em bases democráticas, por meio de empreendimentos que atendam às necessidades dos partici-pantes e remunerem adequadamente a cada um deles (HOCAYEN-DA-SILVA et al., 2007).

Normalmente, no âmbito das relações de cooperação, as pessoas buscam agir a partir dos princípios da coletividade com o objetivo de reduzir as barreiras da exclusão social provocadas pelo desemprego, conquistando, assim, melhores condições de trabalho e renda a partir da ajuda mútua. No modelo capitalista de produção as pessoas são dire-cionadas a trabalhar em conjunto para atender aos objetivos e interesses individuais do detentor da mão de obra, sem qualquer caráter de cooperação, reduzindo, assim, o perfil emancipador da atividade em grupo.

O presente capítulo discute o processo de formação e desenvolvimento do mercado de trabalho brasileiro, bem como os impactos de suas transformações sobre a sociedade. Debate-se, ainda, a capacidade dos trabalhadores em criar alternativas para reduzir a exclusão social provocada pelo desemprego, bem como para conquistar trabalho e renda, essenciais para a sua sobrevivência, e o papel das relações de cooperação nesse processo de inserção social e organização da sociedade.

2. Mercado de trabalho: entre o formal e a exclusão social

Quando se discute as características e especificidades do mercado de trabalho, não é possível observar o predomínio de uma direção única e sem divergência de opiniões e de postulados, mas sim um conjunto de opiniões contraditórias e multifacetadas, que

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165Antônio João Hocayen-da-Silva e Marcos de Castro

caracteristicamente contribuem para a formação do pensamento na área e a evolução do contexto teórico e prático do mercado de trabalho no mundo.

O trabalho, como processo produtivo, pode ser entendido como uma atividade desen-volvida pelo homem, a partir de diferentes características, recursos e meios, tendo como objetivo final a produção de riquezas. A combinação adequada dos fatores, dos meios, da força de trabalho e dos produtos ou serviços dá origem ao processo de trabalho, que é con-comitante à contrapartida essencial à sobrevivência do trabalhador (OLIVEIRA, 1987).

Atualmente, no Brasil, observa-se um mercado de trabalho caracterizado por rápidas e profundas mudanças, originadas a partir do elevado nível de automação industrial, da busca cada vez mais frequente e incessante das empresas por qualificação profissional e da abertura de mercado exigindo maior competitividade das organizações a partir de uma concorrência globalizada. Este panorama se caracteriza como ‘mola propulsora’para um grupo de trabalhadores excluídos do mercado formal de trabalho, que buscam, de for-mas diversas, obter um mínimo de renda que garanta seu sustento e de seus dependentes, contudo, muitas vezes sem lograr êxito.

De acordo com Guimarães (1986), destaca-se no desenvolvimento do mercado de tra-balho brasileiro certa singularidade, onde o avanço industrial foi acompanhado pelo cres-cimento vertiginoso da população concentrada na área urbana, bem como dos postos de trabalho disponíveis. Contudo, observa-se que o crescimento de trabalhadores formais, com carteira de trabalho assinada, amparados pela legislação vigente, ocorreu até mea-dos dos anos 80, quando em virtude da crise econômica que assolou o país, percebeu-se uma inversão na caracterização do mercado de trabalho brasileiro, tendo a informalidade adquirido delineamentos, passando assim a fazer parte do dia a dia de um contingente considerável de trabalhadores.

A contraposição entre um mercado formal e um mercado informal de trabalho na história do desenvolvimento brasileiro deu origem a uma diversidade de situações pro-dutivas, que atreladas ao contexto legal vigente e à imensa flexibilidade do mercado de trabalho brasileiro favorece a exclusão dos trabalhos e cria condições extremas de sobre-vivência para a população em adjacências cada vez mais dramáticas (SINGER, 1999).

De forma degenerativa, o nível de precarização das formas de trabalho está direta-mente atrelado à expropriação dos direitos vigentes na legislação de uma crescente parce-la de trabalhadores atuais e futuros, bem como à ampliação de uma camada da popula-ção caracterizada com contingente de substituição, ávida por oportunidades de trabalho, agravando ainda suas condições de sobrevivência, bem como ampliando a exclusão social advinda de tal realidade (SINGER, 1999).

A exclusão social pode ser vista como uma soma de várias exclusões, habi-tualmente inter-relacionadas. Aqueles que foram expulsos do mercado de trabalho formal, ou do mercado da residência formal, ou da escola, ficam em desvantagem na competição por novas oportunidades, tornando-se candidatos possíveis a novas exclusões (SINGER, 1999, p. 61-62).

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Inevitavelmente, a eminência entre a situação de emprego e de desemprego dá ori-gem a uma dicotomia que se torna determinante da classe trabalhadora. Em uma ponta, percebe-se que é cada vez menor o percentual de homens e mulheres que desempenham funções em demasia; na outra ponta destaca-se que é cada vez maior o percentual de homens e mulheres, com perfis e em condições de trabalho, que conquistam postos for-mais de trabalho, disseminando, assim, na sociedade, em nível mundial, uma cultura de precarização do processo de trabalho, direcionando a sociedade a uma busca incessante por atividades, mesmo que desprovidas de condições adequadas ou de qualquer caráter legislador (ANTUNES, 2008).

Mesmo que em direções opostas e sem qualquer relação direta, a redução de postos de trabalho formais e o crescimento de atividades informais de produção acabam, conco-mitantemente, exercendo grandes influências e provocando mudanças significativas no mercado de trabalho, bem como nas relações de trabalho mantidas entre trabalhadores e patrões (SINGER, 1999).

Destaca-se que, em meio à consolidação da informatização, da automação e da digi-talização do trabalho, manifestam-se em maior volume a informalização das atividades produtivas, a terceirização de serviços, a precarização das condições de trabalho, a flexi-bilização das jornadas e a sub-contratação de mão de obra (ANTUNES, 2008).

Sendo assim, de acordo com Wagner, Arendt e Marx (2002, p. 202), os impactos ocasionados pela exclusão social fomentada por meio da situação de desemprego, bem como pelas mudanças no modo de produção capitalista, parecem ser significativos e facilmente percebidos:

O sistema capitalista que se fez acompanhar da perda do mundo co-mum, da destruição da durabilidade do mundo, quer descartar-se ago-ra, da própria vida humana, como se fosse possível prosseguir, em seu movimento, longe do ciclo vital da espécie. O desempregado, expulso do mercado de trabalho e detentor apenas da posse do próprio corpo, não pode mais suprir as suas necessidades na esfera social. Sem um lugar no mundo, acabou expulso do ciclo vital da própria espécie, que no mundo moderno, como se viu, só se realiza em sociedade.

Percebe-se, dessa forma, que ainda que se visualize, em decorrência do desenvolvi-mento tecnológico e da automação empresarial, um direcionamento para a busca e con-solidação de maior qualificação profissional, desenvolve-se com maior intensidade uma prática de desqualificação dos trabalhadores em virtude de seu alijamento do mercado formal de trabalho, criando, assim, uma hierarquização de atividades caracterizadas pelo trabalho parcial, temporário, precário, sub-contratado e terceirizado, que termi-na na criação de uma organização social múltipla, na qual alguns setores modernos da economia superqualificam os prestadores de serviços e outros contribuem, e até mesmo

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provocam, a desqualificação dos profissionais, seja pela especialização de tarefas ou pela manutenção de pessoas em sub-atividades (ANTUNES, 2008).

A industrialização acelera o processo de urbanização. As fábricas ins-talam-se nas cidades atraindo de modo crescente a população. Com a indústria, crescem o comércio e os serviços em geral. A passagem do artesanato e da pequena indústria para a média e grande indústria, no pós-guerra, além de gerar o processo de urbanização em torno das grandes cidades, acelera a formação do proletariado urbano. Os operá-rios se encontram em situação marginal na sociedade, sem garantias ou proteção legal (BRUM, 1995, p. 69).

Sendo assim, observa-se no contexto socioeconômico mundial um número elevado de pessoas aptas ao desempenho de atividades relacionadas ao processo de trabalho que, atualmente, ou ocupam postos de trabalho itinerantes e desempenham tarefas desprovidas de quaisquer condições básicas de trabalho, ou já sofrem, somados a outros muitos grupos da população, os impactos da exclusão social ocasionada pela situação de desemprego.

Diante das transformações apresentadas pelo mercado de trabalho brasileiro, obser-va-se que a população foi obrigada a se adaptar a essa nova realidade, encontrando, indi-vidualmente ou nas práticas de coletividade, alternativas viáveis de inserção no mercado de trabalho, formalmente ou informalmente, de modo a obter melhores condições de trabalho e renda.

3. Organização social: de mão-de-obra assalariada a gestores

Uma possilvel solução para os elevados índices de desemprego, fruto de uma crise no mercado formal de trabalho, reside no poder de articulação e na própria organização daqueles que se encontram alijados do mercado de trabalho, sendo que, uma forma da sociedade se organizar é por meio da constituição de relações de cooperação, baseadas nos princípios da solidariedade e ajuda mútua, permitindo assim reduzir as barreiras e os impactos impostos pela exclusão social. Por meio das relações de cooperação, busca-se constituir uma sociedade mais justa, atrelada a princípios e bases democráticas da eco-nomia solidária, que se manifesta por meio de empreendimentos que atendam às neces-sidades reais dos envolvidos e remunerem adequadamente a cada um dos participantes (HOCAYEN-DA-SILVA et al, 2009).

Neste sentido, a solidariedade torna-se base para o estabelecimento de relações de cooperação sólidas e coesas, que reforcem a coesão grupal, resistindo às adversidades, garantindo, assim, a transposição de barreiras por meio da coletividade e da ajuda mútua (SANTOS, 1978).

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168 Organização da sociedade a partir de relações de cooperação: muitos caminhos uma só direção

O Princípio da Solidariedade consiste em possibilitar a integração entre Estados ou entre regiões (de um mesmo Estado ou de Estados diferentes), visando ao desenvolvimento social e econômico, de forma equilibrada e harmônica, para a aferição e distribuição de riquezas, garantindo a subsistência da comunidade, o bem-estar dos indivíduos e o fortaleci-mento dos entes estatais (ABRANTES, 2004, p. 127).

A cooperação, como forma de ajuda mútua, esteve presente ao longo de toda a his-tória da humanidade. Contudo, relações de cooperação mais formais tornaram-se essen-ciais no início do capitalismo industrial no momento em que deixou de existir a crença da população nos princípios de solidariedade, haja vista, a voracidade imposta pelas práticas capitalistas ao mundo do trabalho.

A cooperação, no sentido de ação conjugada entre duas ou mais pessoas, em razão de um fim comum, é tão antiga quanto a própria vida humana. Em todos os tempos, os homens têm se auxiliado mutuamente para remover um obstáculo ou se defender das intempéries (PINHO, 1966, p. 17).

A cooperação como forma de promoção da solidariedade surge funda-mentalmente como alternativa à redução de postos formais de trabalho, permitindo aos trabalhadores produzir de forma flexível, adaptando-se às novas condições do mercado de trabalho; de outra forma, tais re-lações de cooperação podem ser motivadas por princípios ideológicos, onde os trabalhadores buscam incessantemente enfrentar as práticas capitalistas que se tornaram postulados no mercado de trabalho nos últimos anos (MIRANDA, 1985).

Após haver buscado em vão um remédio para sua situação em várias direções, os tra-balhadores compreenderam paulatinamente que era necessária uma profunda mudança da ordem social, e que sua única arma residia na associação, graças a qual seu número podia transformar a debilidade em força. Desse modo, a reunião das pessoas, por meio de relações de cooperação surge como uma reação do mundo operário e camponês à grave situação de exploração durante a primeira fase da revolução industrial.

De acordo com Singer (1999), o potencial gerador de soluções das iniciativas dos tra-balhadores que se encontram alijados do mercado formal de trabalho constitui-se em bases primordiais para a solução dos problemas emanados pela crise do desemprego, con-tudo, as mesmas serão efetivamente colocadas em prática a partir do momento em que forem criadas, por entidades reguladoras, oportunidades reais para os desempregados se inserirem na economia.

“As transformações no mundo do trabalho têm levado, entre outras situações, a novas formas de organização do trabalho pelos trabalhadores [...] ao longo do processo

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169Antônio João Hocayen-da-Silva e Marcos de Castro

de resistência ao predomínio das relações capitalistas” (GELLERT; REYES; SCHIO-CHET, 2008, p. 221). Sendo assim, observa-se que diversas alternativas são criadas na busca por reduzir os impactos da situação de desemprego para milhões de trabalha-dores, bem como para seus dependentes que também sofrem com tal situação. Nesse processo, destacou-se nos últimos anos, como proposta emancipadora dos excluídos, possibilitando a geração de trabalho e renda e garantindo a inclusão social dos traba-lhadores, a economia solidária (ROCHA et al, 2004), que tem como princípio determi-nante o reconhecimento de que o isolamento dos trabalhadores caracteriza-se como o fator gerador das principais dificuldades enfrentadas por eles, levando-os, em casos extremos, à exclusão econômica e social, responsáveis pela massa de marginalizados da sociedade (SINGER, 1999).

De acordo com Singer (1999, p. 09-10), a economia solidária pode ser entendida como:

Um projeto de estruturação de relações econômicas solidárias entre produtores e consumidores. O projeto cooperativo já é antigo, ele foi originalmente concebido como alternativa socialista ao capitalismo industrial. Foram inúmeras as tentativas de colocá-lo em prática. Fico tentado a acrescentar: tendo a maioria fracassado. Mas o que é o fra-casso? As colônias cooperativas de Owen nunca funcionaram por mais do que alguns anos, o mesmo sendo verdadeiro para muitas outras. Mas o kibutzim, em Israel, está na terceira geração, a vigorosa indústria for-mada por centenas de cooperativas em Mondragón, no país basco, já tem mais de quarenta anos.

Contudo, é necessário enfatizar que ao contrário de países Europeus, que defendem a economia social como o conjunto de práticas denominadas filantrópicas atreladas ao terceiro setor e às questões sociais, tendo como foco central a busca de um mercado justo, no Brasil, a economia solidária é compreendida por pesquisadores como um mo-vimento emancipador que visa promover a participação efetiva dos seus trabalhadores por meio de suas iniciativas, visando o seu desenvolvimento e a autogestão democrática (OLIVEIRA, 2004).

Na busca dessa emancipação, cooperativas e associações tornam-se veículos pelos quais trabalhadores buscam promover a organização de seus interesses individuais por meio do fortalecimento de suas relações de trabalho, garantindo assim melhores condi-ções de vida, além de se tornarem economicamente ativos.

O cooperativismo de acordo com Pereira (2001, p. 2) pode constituir-se em:

Uma alternativa ao emprego assalariado com o propósito de aumentar os benefícios de quem trabalha. Não são as saídas para o desemprego. Elas podem até representar uma opção para o desemprego de um certo número

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de trabalhadores desempregados, mas não são uma panacéia. Em nível de uma economia inteira, as cooperativas transferem empregos, podendo, no entanto, contribuirem para um pequeno aumento líquido no nível ge-ral de emprego, se inovações e o estímulo empresarial gerarem uma queda de custos e/ou uma ampliação e diversificação de bens e serviços.

Cooperativas e Associações permitem a organização dos indivíduos na sociedade para o enfrentamento de diferentes problemas oriundos dos elevados índices de desem-prego, que se tornaram constantes nos últimos anos, devido ao movimento de automação nas empresas; exigências de qualificação técnica e nível de escolaridade maior; e a falta de políticas públicas eficientes no combate ao desemprego, haja vista que, em determinadas situações, o Estado tem se desincumbido deste papel, advogando pela livre atuação dos agentes na normatização das práticas de mercado.

Tais organizações surgem da necessidade da coletividade, que a partir de interesses comuns buscam alternativas de se manter na atividade laborativa, tendo como foco a elevação da renda, bem como a redução dos impactos da exclusão social. A emancipa-ção do grupo é conquistada em detrimento do poder exercido pelos intermediários das relações de trabalho que, via de regra, ficam com a maior parte do fruto gerado pela ação dos trabalhos.

De acordo com Louis (1986, p. 149), cooperativas e associações, enquanto caminhos para a promoção emancipadora dos trabalhadores, surgem:

Como um lugar de promoção individual do trabalhador diferente da empresa. Quando se trata de sociedades de capital, o contrato de so-ciedade é uma construção jurídica que permite às pessoas com capital retirar os benefícios de uma atividade em que pessoalmente não inter-vieram e que limita, por outra parte, sua responsabilidade no caso de um contratempo, mas, na realidade, são eles que decidem. Como risco a que se expõe um acionista/empresário e o grau de participação é muito menor do que a de um sócio da cooperativa de trabalho, este último deve estar continuamente melhorando sua formação profissional e sua competência em matéria de gestão.

Como instituições autogestionadas pela integração de interesses coletivos, coopera-tivas e associações tornam-se instrumentos imprescindíveis para a geração de trabalho e renda, permitindo aos envolvidos, a organização e o gerenciamento de suas forças de trabalho, conquistando maior poder de barganha no mercado, particularmente em situ-ações em que os trabalhadores se encontram parcial ou totalmente alijados do mercado formal de trabalho.

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Destaca-se que organizações autogestionadas, em função de suas características es-pecíficas, têm o potencial de “introduzir modificações significativas na estrutura empre-sarial, particularmente na organização do trabalho” (VIEITEZ; DAL RI, 2001, p. 19).

Enquanto trabalhadores autônomos, por meio da busca pela assistência social, os participantes do grupo podem melhor adequar às suas necessidades prioritárias os bene-fícios trabalhistas alcançados pelas relações de cooperação, gerindo e organizando suas próprias atividades. Sendo assim, a autogestão caracteriza-se como uma alternativa social para a democratização da participação de todos os envolvidos de um grupo nas decisões que visam estabelecer o direcionamento das relações de cooperação, levando em conside-ração os interesses coletivos em detrimento da individualidade (PINHO, 1982).

De acordo com Miranda (1985, p. 16-17), a inovação em termos de organização social de trabalhadores por meio de associações e cooperativas, representa:

Interesse evidente por oferecer soluções ao conflito de objetivos, dado seu funcionamento em base do sistema de propriedade e de partici-pação. No fim dos próximos anos estará na superação dos obstáculos externos e internos para o êxito desta alternativa da crise da empresa tradicional. Obstáculos que não devem permitir a configuração de uma organização do tipo ‘autocrática’, mas baseada na adaptação mútua de seus membros, com dispositivos de enlace descentralizados de forma seletiva, de um modo que se possa combinar o trabalho de espertos de distintos campos para alcançar uma tarefa em comum. Estrutura de organização ‘ad hoc’ que ofereça a f lexibilidade e a dinamicidade ne-cessárias para superar os problemas econômicos do nosso tempo.

A organização e a constituição de tais instituições também se caracteriza como um diferencial, tendo em vista que sua idealização parte da necessidade coletiva de determina-do grupo social de trabalhadores, para que juntos, organizados democraticamente possam enfrentar os percalços impostos pelo mercado de trabalho para obtenção de remuneração adequada pelas atividades desenvolvidas e ainda garantir a inserção social do grupo.

O fato é que a história é riquíssima em experiências bem sucedidas, e ainda hoje uma parcela nada desprezível da indústria, sobretudo da agricultura e de alguns serviços, seguem princípios do cooperativismo e associativismo. Isto permite sustentar que a eco-nomia solidária é a mais importante alternativa ao novo modelo de produção e trabalho, por oferecer uma solução prática e factível à exclusão social, que o capitalismo em sua nova fase liberal acentua. Mas, para que esta possibilidade se realize é preciso que tra-balhadores excluídos e seus aliados concentrem suas forças ainda ponderáveis no apoio e na promoção de relações de cooperação, para que elas possam absorver os milhares de trabalhadores que buscam sem sucesso se inserir formalmente na economia capitalista (SINGER, 1999).

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4. Considerações finais

Crescimento no nível de automação das empresas, reduzindo a necessidade de in-tervenção do ser humano para manutenção do processo produtivo; cobrança por maior qualificação profissional dos trabalhadores em função de maior preocupação das organi-zações com o capital intelectual, além de políticas radicais de redução de custos, buscan-do elevar a competitividade das organizações em um mercado globalizado, provocaram drásticas mudanças no mercado de trabalho brasileiro.

Como resultado, tais mudanças acabaram por elevar os índices de desemprego da população, levando uma massa de trabalhadores à exclusão social, sendo obrigados a vi-ver à margem do mercado formal de trabalho, ocupando lacunas produtivas à sombra da informalidade, com acesso restrito ao trabalho e muitas vezes à renda necessária para sua sobrevivência e de seus dependentes.

Diante da necessidade de conquistar trabalho e renda, mesmo que por caminhos que perpassam pela informalidade, os trabalhadores criam diferentes formas de inserção so-cial, das quais, as que apresentam resultados mais eficientes, estão diretamente relacio-nadas à coletividade, tendo como foco a reunião de pessoas que se encontram na mesma situação e que têm os mesmos interesses e que, por meio de princípios de ajuda mútua e da solidariedade, buscam fortalecer suas ações para minimizar os impactos da exclusão imposta pelo desemprego, além de obterem maior segurança, oportunidades de profissio-nalização, novas práticas de trabalho e elevação na renda.

Em busca dessa emancipação, as relações de cooperação se tornaram, nos últimos anos, o principal instrumento de luta dos oprimidos socialmente contra as mazelas do capitalismo exacerbado, permitindo que pessoas de diferentes formações culturais, mas com interesses coletivos e habilidades e competência similares, consigam lutar por me-lhores condições de vida. Comumente as relações de cooperação assumem a configuração de uma associação ou de uma sociedade cooperativa, tendo ambas por base princípios democráticos de participação.

A emancipação por meio das relações de cooperação torna-se possível uma vez que os trabalhadores passam a gerir suas atividades, implicando, assim, no afastamento do detentor do capital ou do intermediário no processo, possibilitando que o retorno dos trabalhadores ao mercado de trabalho seja carregado de benefícios adicionais em relação à situação de assalariado que os mesmos tinham anteriormente. A autogestão nas rela-ções de cooperação, além de promover a emancipação dos trabalhadores, permite a par-ticipação democrática dos envolvidos, a começar pela compatibilidade dos objetivos dos interessados e pela ajuda mútua entre os integrantes, descartando qualquer possibilidade de discriminação.

Destaca-se que o processo de gestão das relações de cooperação é essencial para o sucesso do grupo, tendo como base o planejamento das ações, bem como da inserção do grupo no mercado de trabalho, levando em consideração a participação de todos no processo de tomada de decisões, e com a efetivação dos objetivos em comum, sem a exis-

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tência de interesses individuais sobrepondo-se aos coletivos. A base para o processo de gestão democrática em uma relação de cooperação gira em torno da identidade cultural, do compromisso e da dedicação dos envolvidos, buscando o desenvolvimento social dos trabalhadores por meio de um retorno ao mercado de trabalho de forma justa e honesta.

As relações de cooperação, tendo como princípios norteadores a democracia, a soli-dariedade e a ajuda mútua, visam proporcionar melhores condições econômicas, sociais e culturais aos envolvidos, por meio de iniciativas inovadoras (BENECKE, 1980), tendo em vista a limitação de recursos dos mesmos, que individualmente não teriam condições de enfrentar as dificuldades impostas pela situação de desemprego.

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Sobre o livro Formato 17x25 cm

Tipografia Minion (texto) Helvetica (títulos)

Papel Off-set 75g/m2 (miolo) Cartão triplex 250g/m2 (capa)

Projeto Gráfico Canal 6 Projetos Editoriais www.canal6.com.br

Revisão Tadeu de Oliveira

Diagramação Anderson Jun Aoyama

Capa Jenifer Hidemy Matsuoka Yasoyama