94
Erika Sendra Tavares Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da organização de genes mitocondriais dos psitacídeos neotropicais (tribo Arini: Psittacidae: Psittaciformes) São Paulo 2005 ATUALIDADES ORNITOLÓGICAS N.128 – NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2005 – P. 5

Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

  • Upload
    vuthuy

  • View
    220

  • Download
    2

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Erika Sendra Tavares

Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

organização de genes mitocondriais dos psitacídeos

neotropicais (tribo Arini: Psittacidae: Psittaciformes)

São Paulo

2005

ATUALIDADES ORNITOLÓGICAS N.128 – NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2005 – P. 5

Page 2: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Erika Sendra Tavares

Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

organização de genes mitocondriais dos psitacídeos

neotropicais (tribo Arini: Psittacidae: Psittaciformes)

Tese apresentada ao Instituto de Biociênciasda Universidade de São Paulo, para aobtenção de Título de Doutor em Ciências, naÁrea de Biologia/ Genética.

Orientadora: Profa. Dra. Cristina Yumi Miyaki

São Paulo

2005

Page 3: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Tavares, Erika SendraRelações filogenéticas, biogeografia

histórica e evolução da organização de genesmitocondriais dos psitacídeos neotropicais (triboArini: Psittacidae: Psittaciformes)

86 páginas

Tese (Doutorado) - Instituto de Biociênciasda Universidade de São Paulo. Departamento deBiologia.

1. Psitacídeos neotropicais 2. Filogeniamolecular 3. tribo Arini 4. Organização dos genesmitocondriais I. Universidade de São Paulo.Instituto de Biociências. Departamento deGenética e Biologia Evolutiva.

Comissão Julgadora:

__________________________ __________________________Prof. (a) Dr. (a) Prof. (a) Dr. (a)

__________________________ __________________________Prof. (a) Dr. (a) Prof. (a) Dr. (a)

__________________________ Profa. Dra. Cristina Yumi Miyaki

Page 4: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Ao Rafinha, Tião e Ilka, com

muito amor

Page 5: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Strange fascination, fascinating me,

Changes are taking the pace I am going through,

David Bowie (Changes, “Hunk Dory”, 1971)

Page 6: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Agradecimentos

À Dra. Cristina Yumi Miyaki pela orientação com muita dedicação e carinho, pelo incentivo e

encorajamento de sempre e pelo muito que me ensinou.

Ao Dr. Allan Baker pela oportunidade de estágio e orientação em seu laboratório no Royal

Ontario Museum em Toronto, pela empolgação científica contagiante, por todo carinho, apoio pessoal

e pelas várias explicações sobre muitos assuntos.

Ao Sérgio Luiz Pereira pela orientação técnica e sugestões científicas oferecida sempre com

grande disposição e paciência, pelo companheirismo e dicas de sobrevivência em terras distantes.

Ao Renato Gaban-Lima pela ajuda incondicional, discussões e sugestões sobre os

psitacídeos.

À Dra. Anita Wajntal e à Dra. Elizabeth Höfling pelo interesse e sugestões.

À Camila Ribas pelos conselhos prestimosos durante todo o desenvolvimento da tese,

companheirismo e discussões científicas.

À Melina Baumgarten pelas conversas confortantes, incentivo e apoio em muitos momentos.

Ao Rogério Lourenço por obter as seqüências de Graydidascalus e Triclaria como parte do seu

projeto de iniciação científica, que foram utilizadas no terceiro capítulo dessa tese.

Ao Renato Caparroz pelo empréstimo de livros, materiais e por apresentar grandes amigos no

Canadá.

Aos amigos de laboratório Adriana Oliveira-Marques, Celina Yoshihara, Cibele Biondo, Erwin

Grau, Fábio Raposo, Fernando d’Horta, Fernando Nodari, Flávia Presti, Gustavo Cabanne, Gustavo

Ybazeta, Jacqueline Miller, José Patané, Juliana Oliveira, Maryann Burbidge, Mark Pack, Nadia de

Moraes-Barros, Nicola Wade, Oliver Haddrath, Polyana Andrioni, Ricardo Yassaka, Rodrigo Pessoa,

Sarah Nasser, Tania Matsumoto, Tara Paton, entre outros pela troca de experiências e pelos

momentos agradáveis.

Ao Luis Fábio Silveira pela ajuda prestativa no Museu de Zoologia.

À Dra. Marie Anne Van Sluys e Mariana Cabral de Oliveira.do departamento de Botânica por

permitir o uso do sequenciador automático.

À Elisângela Quedas e Silvia Blanco pela grande ajuda com o seqüênciamento automático.

Ao Dr. Carlos Frederico Martins Menck do Instituto de Biociências pelo empréstimo da chave

do programa de computador.

Às amigas Helenice Hirata, Lucilene da Silva, Maria Andrade, por toda ajuda prestativa,

oferecida sempre com muita disposição.

Aos amigos e colegas de instituição no Brasil e no Canadá Adriana (Adri), Andréia Ramirez,

Antônia Cerqueira (Toninha), Bill, Carla D’Angelo, Cláudia Fábris, Cléber Costa, Cibele Masotti,

Cristiane Iughetti, Fátima, Gisele, Ilana Kohl, Mônica Varela, Patrícia Faria, Roseli Zanelato, Silvia

Geurgas entre tantos outros pela convivência e por compartilhar momentos alegres.

Aos professores do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências

(USP), pela ajuda e sugestões.

Aos funcionários do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva e da pós-graduação do

Instituto de Biociências (USP) e do Royal Ontario Museum pelo suporte.

Page 7: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Às pessoas e instituições que cederam o material biológico utilizado nessa tese: African Safari

Zoo, Parque Ecológico do Tietê, UNESP, Zoológico de Sorocaba, Zoológico de Americana, Zoológico

Cyro-Gevaerd, Fundação Crax, Museu Paraense Emílio Goeldi, Field Museum of Natural History e

aviculturistas.

À Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado de São Paulo pelo financiamento da pesquisa,

pela concessão da bolsa de doutorado e pelo financiamento do estágio no Royal Ontario Museum.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, ao Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao Natural Sciences and Engineering Research

Council of Canada e ao National Science Foundation (AToL) pelo financiamento da pesquisa.

À Lynx Edicións pela permissão de uso das figuras do Handbook of the Birds of the World

volume 4.

Ao Rafinha (Rafael Corrêa) pelo grande apoio, participação e incentivo e por ter tornado todos

esses anos extremamente felizes.

Aos meus pais Sebastião Tavares e Ilka Tavares e aos meus sogros Valmir Corrêa e Lúcia

Corrêa por tudo que me ensinaram, pelo amor, dedicação e prontidão em ajudar.

À Maria Inês Ribeiro Salsa pelo grande suporte, por todo carinho e amor.

Aos meus irmãos Katia Tavares, Leonardo Tavares e Tiago Corrêa pelos períodos alegres,

pelo incentivo e por toda ajuda.

À todos os demais membros da minha família e aos meus amigos pelo apoio nos períodos

difíceis e por compartilharem os momentos felizes.

Page 8: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Índice

Resumo 1

Abstract 2

Capítulo 1: Introdução geral 3

Capítulo 2: Relações filogenéticas e biogeografia histórica dos psitacídeos

neotropicais (tribo Arini) com base em seqüências de DNA mitocondrial

e nuclear 28

Capítulo 3: Evolução da organzação dos genes mitocondriais ao redor da região

controladora em psitacídeos Neotropicais 61

Capítulo 4: Considerações finais 83

Page 9: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

1

Resumo

Com a finalidade de entender melhor as relações filogenéticas entre os psitacídeos neotropicais

(tribo Arini), foram seqüenciados 6416 pares de bases de genes nuclear (RAG-1) e mitocondriais

(citocromo b, NADH2, ATPase 6, ATPase 8, COIII, DNAr 12S e DNAr 16S) de 29 espécies

pertencentes a 25 dos 30 gêneros reconhecidos atualmente. As análises filogenéticas utilizando os

métodos de máxima verossimilhança e análise bayesiana evidenciaram que, dentre os psitacídeos

neotropicais, o clado formado por Nannopsittaca e Bolborhynchus é grupo irmão de todos os outros

gêneros, que por sua vez são agrupados em dois clados. Esses clados compreendem: um grupo de

papagaios, caturritas, curicas e afins e outro grupo que inclui as araras, marianinhas, tiriba e afins. A

datação molecular utilizando uma calibração geológica (separação da Nova Zelândia há 82-85 milhões

de anos, ma) sugere que os psitacídeos neotropicais compartilharam ancestral comum com um grupo

de psitacídeos Australianos no final do Cretáceo (65 ma), portanto a divergência dessas linhagens

poderia ser atribuída ou intensificada pela separação dos continentes. Os ancestrais dos psitacídeos

neotropicais atuais poderiam estar distribuídos na América do Sul e Antártica ou somente no primeiro

continente. Hipóteses da diversificação no grupo foram levantadas relacionando fatores históricos com

os padrões de cladogênese encontrados.

Seqüências mitocondriais da região controladora e regiões flanqueadoras determinadas para

vários táxons de psitacídeos neotropicais evidenciaram a existência de dois arranjos gênicos.

Nannopsittaca dachilleae, Bolborhynchus lineola, Myiopsitta monachus, Brotogeris chiriri, Ara

ararauna, Anodorhynchus hyacinthinus, Cyanoliseus patagonus, Cyanopsitta spixii, Diopsittaca nobilis,

Enicognathus lepthorhynchus, Guarouba guarouba, Orthopsittaca manilata, Primolius auricollis,

Pyrrhura picta e Rhynchopsitta pachyryncha apresentam a ordem dos genes descrita inicialmente em

Gallus gallus e posteriormente sugerida como o arranjo mais freqüente em aves. Graydidascalus

brachyurus, Pionopsitta pileata, Pionopsitta barrabandi, Triclaria malachitacea, Deroptyus accipitrinus,

Pionites leucogaster e Forpus crassirostris revelaram um rearranjo de genes com duplicação da região

controladora, como descrito inicialmente para psitacídeos neotropicais dos gêneros Amazona e

Pionus. Em Deroptyus e Pionites também foram encontrados pseudogenes exclusivos. Com base no

mapeamento dessas duas organizações gênicas na filogenia proposta para o grupo (manuscrito 1,

anexo) propusemos dois mecanismos para explicar a distribuição da ordem gênica no grupo. No

primeiro, poderia ter ocorrido três eventos de duplicação de genes seguido de três eventos de deleção

que poderiam levar ao arranjo com a duplicação da região controladora. Alternativamente, teria

ocorrido um único evento de duplicação de genes seguido de cinco eventos independentes de deleção

de genes, dois reverteriam para a organização original e três dariam origem à ordem alternativa.

Ambos os cenários assumem convergência e seis eventos envolvendo duplicação ou deleção de

genes.

Page 10: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

2

Abstract

To clarify the phylogenetic relationships among the genera of Neotropical parrots we analyzed

6416 base pairs of nuclear (RAG-1) and mitochondrial DNA sequences (cytochrome b, NADH2,

ATPase 6, ATPase 8, COIII, 12S rDNA, and 16S rDNA) from 29 species belonging to 25 out of the 30

genera. Phylogenetic analyses using maximum likelihood and Bayesian methods showed that within

Neotropical parrots, Nannopsittaca and Bolborhynchus form the sister clade to all other genera, which

in turn are grouped in two distinctive clades. These two derived clades partition amazons and their

allies from macaws, conures, and related taxa. Molecular dating with a geological calibration for the

separation of New Zealand (82-85 million years, Myr) suggests that the Neotropical parrots shared a

common ancestor with Australian parrots around the end of the Cretaceous (65 Myr), and thus, their

divergence could be explained by vicariance. The three Neotropical clades may have diverged while

they were in the Antarctica-South America block, or in South America only. Hypothesis of the

diversification in these groups relating historical factors and cladogenesis pattern in were proposed.

Sequences of the mitochondrial control region and flanking genes of Ara ararauna,

Anodorhynchus hyacinthinus, Bolborhynchus lineola, Brotogeris chiriri, Cyanoliseus patagonus,

Cyanopsitta spixii, Diopsittaca nobilis, Enicognathus leptorhynchus, Guarouba guarouba, Myiopsitta

monachus, Nanopsittaca dachilleae, Orthopsittaca manilata, Primolius auricollis, Pyrrhura picta, and

Rhynchopsitta pachiryncha show the same gene arrangement first described in Gallus gallus, (which is

the most common mitochondrial genome arrangement in birds). Sequences of the same region in

Amazona xanthops, Deroptyus accipitrinus, Forpus crassirostris, Graydidascalus brachyurus,

Pionopsitta pileata, Pionopsitta barrabandi, Pionites melanocephala, and Triclaria malachitacea

revealed an arrangement of genes with a duplication of the control region, as previously reported in

Neotropical parrots from the genera Amazona and Pionus. Exclusive pseudogenes occur in Deroptyus

and Pionites. The mapping of these characters in a phylogenetic proposal for the group suggests

ambiguity on the inference of the ancestral states of the clades. Two models were proposed and

compared, considering six events of duplication and deletion of genes.

Page 11: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

Introdução

Page 12: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

4

1.1. Apresentação Geral

Na presente tese as relações evolutivas entre psitacídeos neotropicais foram estudadas pela

análise de seqüências de DNA nuclear e mitocondrial. Os resultados foram comparados com

classificações e propostas sistemáticas prévias. Foram realizadas estimativas dos tempos de

divergência entre as linhagens, a partir das quais foram levantadas hipóteses biogeográficas.

Adicionalmente, a evolução da ordem dos genes mitocondriais ao redor da região controladora foi

estudada.

A tese está organizada em capítulos. O presente capítulo 1 é uma introdução geral que

descreve o contexto no qual o trabalho se insere, com ênfase nos organismos estudados e métodos de

análise utilizados. Já nos capítulos 2 e 3 são apresentados os dados obtidos em forma de manuscritos

a serem submetidos para publicação. O último capítulo se refere às considerações finais referentes

aos manuscritos.

1.2. Psitacídeos

1.2.1. Informações sistemáticas e filogenéticas

A ordem Psittaciformes inclui as araras, papagaios, periquitos, maracanãs e cacatuas. A

principal característica compartilhada pelos táxons pertencentes ao grupo é a forma do bico, cuja

maxila superior é curva e envolve a maxila inferior (Smith, 1975; Forshaw, 1989; Sibley e Alquist,

1990). Propostas filogenéticas recentes com base em evidências moleculares e morfológicas (Sibley e

Alquist, 1990; Cooper e Penny, 1997; Cracraft, 2001; Livezey e Zusi, 2001; Mayr e Clarke, 2003;

García-Moreno e col., 2003; Harrison e col., 2004) sugerem que o grupo faz parte das Neoaves de

Neognathae, porém sua posição filogenética em relação às demais ordens de Neoaves ainda não é

bem resolvida (Figura 1.1).

Figura 1.1. Relações filogenéticas entre os grandes grupos de aves (modificado de García-Moreno e

col., 2003).

Page 13: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

5

Os Psittaciformes são uma das ordens de aves mais abundantes em número de espécies,

incluindo cerca de 350 espécies (distribuídas em 84 gêneros). Ocorrem no neotrópico, região africana,

sul asiática e australiana (Forshaw, 1989, Collar, 1997; Rowley, 1997) (Figura 1.2).

30 gêneros 4 gêneros 50 gêneros

Figura 1.2. Distribuição dos gêneros da ordem Psittaciformes (del Hoyo e col., 1997).

Atualmente são reconhecidas duas famílias na ordem, Cacatuidae (inclui as subfamílias

Calyptohynchinae, Cacatuinae e Nymphicinae) e Psittacidae (Loriinae e Psittacinae) (Forshaw, 1989,

Collar, 1997; Rowley, 1997). No entanto, estudos filogenéticos recentes evidenciaram que a família

Psittacidae como é reconhecida atualmente não é monofilética. Análises filogenéticas do gene nuclear

RAG-1 e de íntrons localizados nos cromossomos sexuais de um grande número de gêneros da ordem

Psittaciformes sugerem que os gêneros Strigops (tribo Strigopini: Psittacinae: Psittacidae) e Nestor

(Nestorini: Psittacinae: Psittacidae) exclusivos da Nova Zelândia são grupo irmão de todos os demais

gêneros de psitacídeos atuais (Barrowclough e col., 2004; de Kloet e de Kloet, 2005), Cacatuidae é o

próximo clado monofilético e é grupo irmão das demais tribos da família Psittacidae (Barrowclough e

col., 2004).

Os psitacídeos neotropicais formam o grupo de espécies mais numeroso da ordem (com cerca

150 espécies) e atualmente inclui 30 gêneros (Collar, 1997). Apresentam uma grande variação de

tamanho, preferência de hábitat, distribuição geográfica e comportamento (Forshaw, 1989). A

Page 14: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

6

sistemática dos gêneros neotropicais sofreu diversas modificações ao longo do tempo (ex. Salvadori,

1891; Miranda-Ribeiro, 1920; Peters, 1937; Pinto, 1937, 1978; Forshaw, 1989; Sick, 1997; Collar,

1997). Alguns sistematas, com base em morfologia externa, anatomia e comportamento (Salvadori,

1891; Boetticher, 1943, 1959; Verheyen, 1956; Brereton, 1963) distribuíam os gêneros neotropicais em

dois grupos de composição variável, em alguns casos incluindo táxons de outras regiões geográficas

(Tabela 1.1).

Tabela 1.1. Grupos de gêneros de psitacídeos neotropicais (em alguns casos incluindo gêneros

africanos, sublinhados). Os nomes dos gêneros correspondem à Collar (1997), exceto Propyrrhura

para o qual foi adotado Primolius (Penhallurick, 2001).

Autores Grupos

Salvadori(1891)

Pioninae : Amazona, DeroptyusGraydidascalus, HapalopsittacaPionites, Pionus, Pionopsitta,Triclaria, Touit, Poicephalus

Conurinae: Anodorhynchus, Ara, Aratinga,Bolborhynchus, Cyanoliseus, Cyanopsitta,Diopsittaca, Enicognathus, Forpus, Guarouba,Leptosi t taca, Myiopsi t ta, Nandayus,Nannopsittaca, Ognorhynchus, Orthopsittaca,Pr imo l ius , Ps i lops iagon, Pyr rhura ,Rhynchopsitta

Verheyen(1956)

Amazoninae: Amazona, DeroptyusGraydidascalus, Pionites, Pionus,Pionopsitta, Triclaria, Touit.

A r i n a e : Anodorhynchus, Ara, Aratinga,Bolborhynchus, Brotogeris, Cyanoliseus,Cyanopsitta, Diopsittaca, Enicognathus,Forpus, Guarouba, Leptosittaca, Myiopsitta,Nandayus, Nannopsittaca, Ognorhynchus,Orthopsittaca, Primolius, Psilopsiagon,Pyrrhura, Rhynchopsitta

Boetticher(1943, 1959)

Psi t tac in i : Amazona, DeroptyusGraydidascalus, HapalopsittacaPionites, Pionus, Pionopsitta,Tr ic lar ia, Touit , Poicephalus,Psittacus, Coracopsis

Arain i : Anodorhynchus, Ara, Aratinga,Bolborhynchus, Cyanoliseus, Cyanopsitta,Diopsittaca, Enicognathus, Forpus, Guarouba,Leptosi t taca, Myiopsi t ta, Nandayus,Nannopsittaca, Ognorhynchus, Orthopsittaca,Pr imo l ius , Ps i lops iagon, Pyr rhura ,Rhynchopsitta

Brereton(1963)

Forpidae: Forpus, Bolborhynchus,Psilopsiagon

Amazonidae: Anodorhynchus, Ara, Aratinga,Pionites, Pyrrhura, Pionopsitta, Deroptyus,Amazona, Brotogeris, Pionus

Smith (1975)

A r i n i : Amazona, Anodorhynchus, Ara, Aratinga, Bolborhynchus, Brotogeris,Cyanoliseus, Cyanopsitta, Deroptyus, Diopsittaca, Enicognathus, Forpus,Graydidascalus, Guarouba, Hapalopsittaca, Leptosittaca, Myiopsitta, Nandayus,Nannopsittaca, Ognorhynchus, Orthopsittaca, Pionites, Pionopsitta, Pionus, Primolius,Psilopsiagon, Pyrrhura, Rhynchopsitta, Triclaria, Touit

Miyaki e col.(1998)

Cauda curta: Amazona, PionusCauda longa: Anodorhynchus, Ara, AratingaCyanopsit ta, Deroptyus, Diopsit taca,Guarouba, Pyrrhura

de Kloet e deKloet (2005)

Amazona, Forpus,Graydidascalus,Pionus, Triclaria

Myiopsitta,Brotogeris

Anodorhynchus, Ara, Aratinga, Cyanoliseus,Deroptyus, Guarouba, Pionites, Pyrrhura,Rhynchopsitta

Verheyen (1956) agrupou exclusivamente táxons neotropicais nas famílias Amazoninae e

Arinae e sugeriu que esses grupos compartilham características morfológicas (presença de quatro

Page 15: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

7

vértebras dorsais, uma única carótida dorsal, entre outras) que os distinguem dos psitacídeos das

demais regiões geográficas, mas não sugeriu uma categoria para agrupá-los. Em uma revisão

abrangente da sistemática da ordem Psittaciformes, Smith (1975) agrupou todos os táxons

neotropicais na tribo Arini (família Psittacidae) com base em dois caracteres exclusivos (eclosão dos

filhotes com canal auditivo imperfurado e postura copulatória em uma perna) e outros caracteres

comuns, porém não exclusivos (fórmula carótida do tipo A-2-s, bicos marrons, pretos ou brancos,

sistema de coloração das penas com padrão “Dyck-texture” que inclui cor verde, com azul e/ ou

vermelho) e considerou artificiais os agrupamentos internos até então propostos na tribo (Tabela 1.1).

Na falta de

de p Tf (na ) Tj ET Q q 0.24 0 0 -0.24 18 824cm BT 41 0 0 -47405.59 940 Tm /F2.0 1 Tf (de ) Tj ET Q q 0.24 0 0 -0.24 18 824 cm BT 41 0038-41 405.59 940 Tm /F2.0 Smithf (cor ) Tj ET Q q 0.24 0 0 -0.24 18824 cm BT 41 0 0514.83405.59 940 Tm /F2.0 (0 -5rmel(cor ) T ET Q q 0.24 0 0 -0.24 18 824cm BT 41 0 06641 1605.59 940 Tm /F2.(fo(inclui ) Tj ET Q q 0.24 0 0 -0.24 18 824 cm BT 41 0 0 -416405.89 748Tm /F2.0 aceip Tf (na ) Tj ET Q q 0.24 0 0 -0.24 18 824cm BT 41 0087416 405.59 940 Tm /F2.0 eTf (com ) Tj ET Q q 0.24 0 0 -0.24 18 824cm BT 41 0 0950.7 405.59 940 Tm /F2.0 to1 Tf (das ) Tj ET Q q 0.240 0 -0.24 18 824 cm BT 41 0 0 -7.61605.59 940 Tm /F2.0 asf (de ) Tj ET 470458276709 Tc q 0.24 0 0 -0.24 18 824 cm BT 41 0 0 -4103689 748Tm /F2.0 classf (a(colora33enternos ) Tj ET Q q 0.24 0 0 -0.24 18 824cm BT 41 0 489.144103656748 Tm /F2.0 1 (periorenternos ) Tj ET Q q0.24 0 0 -0.24 18 824 cm BT 41 0 70741 34103656748 Tm /F2.0 (ex.Tabela )Tj ET Q q 0.24 0 0 -0.24 18 824 cm BT 41 0 79 0 244103656748 Tm18 824Forshawarrons, ) Tj ET Q q 0.24 0 0 -0.24 18 824 cm BT 41 0 0 -4184103656748 Tm /F2.0 1989;iciais rrons, de na tribo

c o m t ( a ( n t e r n o s ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 1 2 4 2 . 4 9 6 1 1 3 1 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 d n t ‹ o ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 0 3 0 7 4 4 6 1 1 3 1 5 6 7 4 8 T m 1 8 8 2 4 g 1 T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 0 1 9 . 1 3 1 1 3 1 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 n u c l e a r t e r n o s B a r r o w c l o u g h T a b e l a

d e

c o r d e d e d e d e c m B T 4 1 0 0 7 0 0 . 6 6 4 1 2 2 7 5 6 7 ( r m e l ( c o r ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 0 7 3 1 . 5 2 4 1 2 2 7 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 ( 1 T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 0 8 0 8 . 9 5 4 1 2 2 7 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 K l o e t T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 1 9 2 1 . 5 4 4 1 2 2 7 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 0 9 6 1 . 5 5 - 2 2 7 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 1 T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B 4 1 0 2 0 2 4 . 8 4 4 1 2 2 7 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 K l o e t , 1 . 1 ) . ) T j 4 7 6 7 0 9 T c q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 0 - 4 1 3 2 3 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 2 T 5 ) , m e n c i o n a d ( n t a T e r i o r m 1 T e . a b e l a ) T j E T 0 4 5 8 0 7 4 7 6 7 0 9 T c q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 3 7 0 0 1 9 8 9 7 4 8 T m / F 2 . 0 A s T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 4 3 1 . 6 7 9 4 1 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 r ( ( T f 5 › e n t e r n o s ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 6 0 1 1 6 1 4 1 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 e v o l u t i v ( n t e r n o e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 7 9 9 . 2 6 3 4 1 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 n t r T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 9 0 7 4 1 0 0 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 o s T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B 4 1 0 9 6 4 1 2 4 5 4 1 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 g • n e r o s T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 0 1 2 7 4 1 8 4 1 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 1 T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 1 1 8 6 . 6 2 4 1 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 p s i t a c ’ d e o s t ‹ o a ( i n t e r n o s ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 1 6 4 6 . 3 3 4 1 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 t a m r o n s , c m B T 4 1 0 0 7 1 5 . 2 4 4 1 1 9 5 6 7 ( b T f ( m ‹ o c m B T 4 1 0 0 7 9 5 . 5 6 4 1 1 9 5 6 7 ( e l ( c o r ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 0 8 0 9 . 0 2 4 1 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 c o m r o n s , c m B T 4 1 0 0 8 8 7 . 0 0 - 1 9 5 6 7 ( e T f 5 a r a m r o n s , c m B T 4 1 0 2 0 2 4 . 8 8 4 1 1 9 5 6 7 ( e l ( c o r ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 2 0 3 8 . 3 3 4 1 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 a t e r n o e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 2 0 7 4 . 7 8 4 1 1 9 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 s e r 1 . 1 ) . ) T j E T 0 9 7 4 6 2 4 7 6 7 0 9 T c q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B 4 1 0 2 - 4 1 5 1 5 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 m e l h o r t e r n o s ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 3 6 3 . 5 0 7 4 1 5 1 5 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 c o m p r e e n d i d ( n t e r n o e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 6 6 4 1 8 2 1 4 1 5 1 5 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 a t r a v T f ( n t e r n o s ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 8 1 7 . 8 5 7 4 1 5 1 5 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 1 T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 8 8 E T 4 7 4 1 5 1 5 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 e s t u d o s T f ( d e ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 0 0 4 2 . 2 3 5 1 5 1 5 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 1 T f 2 1 3 o ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 0 1 0 4 . 4 2 4 1 5 1 5 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 f i l o g 1 i a t e r n o s ) T j E T Q q 0 . 2 4 0 0 - 0 . 2 4 1 8 8 2 4 c m B T 4 1 0 1 2 7 6 . 5 3 5 1 5 1 5 5 6 7 4 8 T m / F 2 . 0 m o l e c u l a r . t e r n o s d e d e

d e

d e

d e d e d e

d e

d e d e d e

Page 16: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

8

Esse conjunto de dados foi ampliado para um total de 3.245 pb com a adição dos genes

mitocondriais citocromo oxidase I e região controladora e um total de 13 espécies de psitacídeos

neotropicais (Tavares, 2001; Tavares e col. 2004), com a finalidade de entender melhor as relações

filogenéticas entre os gêneros pertencentes a um dos grupos obtidos anteriormente (Miyaki e col.,

1998). Entre os resultados obtidos nessas novas análises, Myiopsitta monachus não agrupa com os

demais táxons de cauda longa (Tavares, 2001), algumas espécies de mesmo gênero formam clados

monofiléticos e um agrupamento nunca mencionado entre os gêneros monoespecíficos Guarouba

guarouba e Diopsittaca nobilis foi recuperado (Figura 1.4). No estudo filogenético de íntrons localizado

nos cromossomos sexuais Z e W três grupos de gêneros neotropicais foram recuperados (Tabela 1.1;

de Kloet e de Kloet, 2005), sendo que dois dos mesmos apresentaram composição semelhante aos

grupos obtidos nas análises filogenéticas anteriores (Miyaki e col., 1998; Tavares e col. 2004). No

entanto, as relações entre os grupos e entre os gêneros pertencentes a cada um desses grupos

permaneceram desconhecidas. Adicionalmente, filogenias dos níveis taxonômicos de gênero e espécie

sugeriram a ausência de monofiletismo nos gêneros Aratinga, Amazona e Pionopsitta (Tavares, 2001;

Tavares e col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Russello e Amato, 2004; Ribas e col., 2005).

a) b)

Figura 1.4. Relações filogenéticas entre gêneros de psitacídeos neotropicais com base em seqüênciasde DNA mitocondrial. a) por máxima verossimilhança com base em 2.332 pb, números correspondemao suporte por “quartet puzzle” (Tavares, 2001); b) por máxima verossimilhança com base em 3.246pb, números correspondem ao suporte por “bootstrap”: máxima parcimônia/ máxima verossimilhança(Tavares e col., 2004).

Page 17: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

9

1.2.2. Importância da tribo Arini para a biologia evolutiva

O estudo das relações evolutivas entre as linhagens de psitacídeos neotropicais é necessário

para entender vários aspectos evolutivos, já que além de numeroso (inclui cerca de 150 espécies), é

um grupo relativamente heterogêneo. Estão distribuídos por toda a região neotropical, onde

apresentam padrões de exploração de hábitats muito variáveis. Algumas espécies são endêmicas a

regiões muito particulares, como Cyanopsitta spixii em mata ciliar aberta na região de Curaçá e

Guarouba guarouba em floresta de terra firme ao norte do Maranhão e Pará, enquanto outras se

distribuem em amplas áreas, como Ara ararauna que ocorre em buritizais, babaçuais e beira de mata

da América Central ao sul do Brasil e Aratinga leucophthalmus em orlas de mata das Guianas à

Argentina (Collar, 1997; Sick, 1997; Forshaw, 1989). Existe uma grande variação de tamanho,

coloração de plumagem e comportamento entre as linhagens. Por exemplo, as menores espécies,

pertencentes ao gênero Forpus, pesam 25 gramas, enquanto a arara-azul grande, Anodorhynchus

hyacinthinus, pesa cerca de 1500 gramas (Sick, 1997; Forshaw, 1989). Quanto à coloração, algumas

espécies são predominantemente verdes (ex. espécies dos gêneros Amazona, Pionus, Pyrrhura e

Enicognathus), outras são vermelhas (ex. Ara macao e Ara chloroptera), azuis (ex. Anodorhynchus e

Cyanopsitta) ou amarelas (ex. complexo Aratinga solstitiais e Guarouba guarouba). Nidificam em

paredões rochosos (ex. Anodorhynchus leari), ocos (ex. Cyanopsitta, Nandayus), cupinzeiros (ex.

Aratinga aurea) ou constróem ninho de gravetos (exclusivamente Myiopsitta monachus) (Collar, 1997).

Alguns gêneros como Pionopsitta, Aratinga, Pyrrhura, Pionites, Touit, Forpus, Brotogeris e

Amazona incluem espécies e subespécies com distribuições restritas, sendo bons modelos para

estudos de padrões biogeográficos (vide Ribas, 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Russello e Amato, 2004;

Ribas e col. 2005). No entanto, a falta de conhecimento das relações entre gêneros, dificulta a escolha

de bons grupos externos. Além disso, alguns gêneros monotípicos, são representantes únicos de

algumas das linhagens atuais que estão seriamente ameaçados de extinção, por exemplo, Cyanopsitta

spixii e Guarouba guarouba, o que torna urgente a necessidade de estudar vários aspectos dessas

espécies, inclusive suas posições filogenéticas, afim de se obter mais informação a respeito dos

mesmos antes que sejam extintos. Muitas espécies de psitacídeos neotropicais são vulneráveis ou

ameaçadas de extinção e o conhecimento de suas relações evolutivas pode auxiliar trabalhos mais

específicos voltados aos planos de conservação e manejo (Collar e col., 1992; Beissinger, 2000;

Owens e Bennet, 2000).

Page 18: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

10

1.2.3. Biogeografia

Com base na atual distribuição das espécies (Figura 1.2) e no registro fóssil, Glenny (1954)

sugeriu que a ordem Psittaciformes se originou no continente antártico após o limite entre o Cretáceo-

Terciário, a partir do qual as espécies dispersaram para os continentes sul-americano, Austrália e

Nova Zelândia e a colonização africana teria ocorrido por migrações transoceânicas. Também com

base na distribuição dos gêneros atuais, porém assumindo uma idade mais antiga para a origem do

grupo, Cracraft (1973, 2001) sugeriu que a ordem Psittaciformes, entre outras ordens de aves com

distribuição semelhante, possivelmente se originou no antigo continente da Gondwana e que a

separação dos blocos desse grande continente teve uma função importante na diversificação das

primeiras linhagens desses grupos.

Algumas evidências recentes vêm corroborando a hipótese de origem na Gondwana para o

grupo. Estudos de datação molecular sugerem que a diversificação de Neoaves e Galloanserae

(Figura 1.1), ocorreu entre 80-110 milhões de anos (ma; Hedges e col., 1996; Cooper e Peny, 1997;

van Tuinen e Hedges, 2001; Paton e col., 2002). Corroborando essa idéia, foi reanalisado

recentemente um fóssil de ave (Vegavis iaai), posicionado filogeneticamente na ordem Anseriformes e

datado de 66-68 ma, o que sugere que pelo menos a ordem atual Anseriformes já estaria diferenciada

antes do limite entre o Cretácio-Terciário (Clarke e col., 2005). Adicionalmente, os dados recentes de

filogenia molecular de psitacídeos sugerem que os gêneros da Nova Zelândia são grupo irmão dos

demais táxons atuais e o padrão de diversificação dos demais grupos seguindo um padrão coincidente

com a separação dos continentes também reforçam uma possível origem na Gondwana

(Barrowclough, 2004; de Kloet e de Kloet, 2005). Um padrão semelhante é descrito em Passeriformes

(Ericson e col. 2003).

O registro fóssil de Psittaciformes não contribui para elucidar essa e outras questões. O fóssil

mais antigo descrito como psitacídeo é uma mandíbula inferior encontrado na região de Wyoming nos

EUA e data de mais de 65 ma (Stidham, 1998). Apesar disso, a identificação morfológica das

estruturas do fóssil como sendo uma mandíbula de psitacídeo foi fortemente questionada (Dyke e

Mayr, 1999). Outros fósseis de Psittaciformes, porém sem posição filogenética conhecida, foram

descritos na França (sítio arqueológico “La Bouffie”), no período Eoceno superior (por volta de 50 ma).

Devido a diferenças osteológicas em relação aos demais psitacídeos atuais, foram considerados

pertencentes a uma família à parte, Quercypsittidae, atualmente extinta (Chauviré, 1992). Um outro

fóssil de psitacídeo, também encontrado na França, é o Archaeopsittacus verreauxi, datado entre o

Oligoceno Superior e o Mioceno Inferior (Forshaw, 1989). Além destes, existem fósseis de gêneros

Page 19: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

11

atuais mais recentes que datam dos períodos Terciário (Boles, 1993; Boles, 1998) e Quaternário

(Collar, 1997).

Datações moleculares sugerem que a separação entre o periquito australiano (Melopsittacus

undulatus) e alguns táxons neotropicais ocorreu por volta de 76 ma (Miyaki e col., 1998) o que também

estaria de acordo com a hipótese de que a separação dos continentes teve um papel importante na

diversificação desses grupos. A divergência entre os gêneros de psitacídeos neotropicais foi estimada

entre o Eoceno-Oligoceno e durante o Mioceno (16-27 ma) e foi associada a mudanças ambientais em

consequência de mudanças no nível do mar, orogenia dos Andes e expansão de ambientes de floresta

e de áreas secas (Miyaki e col., 1998; Tavares e col., 2004). Já o intervalo de divergências entre

espécies do mesmo gênero de psitacídeos foi estimado entre 0,5 e 1,3 ma (Tavares e col., 2004; Ribas

e Miyaki, 2004; Ribas e col., 2005).

1.3. Inferências filogenéticas baseadas em seqüências de DNA

1.3.1.Aspectos gerais

Filogenias são baseadas no princípio de que todos os organismos atuais e extintos são

interligados por relações de ancestralidade comum. A principal meta dos estudos filogenéticos é

levantar as hipóteses mais prováveis sobre história evolutiva entre os organismos. Com base no

princípio de ancestralidade comum, a evolução ocorre por processos de ramificação, onde uma

linhagem se divide em duas ou mais, portanto, as hipóteses sobre as relações evolutivas entre os

organismos são ilustradas em gráficos chamados de árvores filogenéticas. O padrão de ramificação de

uma árvore é chamado de topologia (Graur e Li, 2000). Muitas são as aplicações dos estudos

filogenéticos, entre elas, estabelecer sistemas de classificação biológica que refletem a evolução dos

organismos e permitir interpretações de diversos processos evolutivos morfológicos, moleculares e

biogeográficos. Com o desenvolvimento das técnicas moleculares, surgiu a filogenia molecular, ou

seja, o estudo das relações evolutivas entre os organismos pelo uso de marcadores moleculares

(Moritz e Hillis, 1996; Graur e Li, 2000).

Sibley e Alquist (1990) realizaram um dos primeiros trabalhos de maior impacto na área

molecular de aves. Esses autores utilizaram a técnica de hibridação DNA-DNA entre pares de táxons

representantes de praticamente todas as ordens de aves a fim de tentar entender as relações entre

esses grupos. Apesar dos vários resultados significativos que eles obtiveram, problemas

metodológicos e empíricos permaneceram sem solução e muitas das relações ainda não foram

resolvidas (Garcia-Moreno e col., 2003). Recentemente, seqüências de DNA mitocondriais e nucleares

Page 20: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

12

têm sido muito empregadas em reconstruções filogenéticas em diferentes níveis taxonômicos de aves

(ex. Miyaki e col., 1998, Haddrath e Baker, 2001; Pereira e col., 2002, Paton e col., 2002; Nahum e

col., 2003; Harrison e col., 2004).

1.3.2. Heterogeneidade de taxas de substituição de nucleotídeos e modelagem

O princípio básico das inferências filogenéticas com base em seqüências de DNA, é que a

partir da divergência entre dois táxons, o número de diferenças nas suas seqüências homólogas de

DNA aumentaria proporcionalmente ao longo do tempo. No entanto, a comparação de seqüências

homólogas entre os táxons revelou que cada sítio evolui sob condições muito particulares. Em alguns

casos essas diferenças podem ser associadas a uma pressão seletiva devido à sua função. Por

exemplo, em genes codificadores de proteínas, os sítios correspondentes à terceira posição do códon

estão mais sujeitos à variação do que os correspondentes à primeira e à segunda posição, porque

mutações na terceira posição alteram menos frequentemente o aminoácido correspondente devido à

natureza degenerada do código genético (Graur e Li, 2000; Nei e Kumar, 2000). Essa heterogeneidade

faz com que em alguns conjuntos de dados existam sítios tão conservados que não apresentam

substituições entre táxons distantemente relacionados, enquanto em outros sítios a variação é muito

grande, a ponto de mascarar o sinal filogenético devido à presença de substituições múltiplas mesmo

entre linhagens próximas taxonomicamente. Esse problema é ainda maior nas inferências filogenéticas

entre grupos taxonômicos mais distantemente relacionados (Swofford, 1996; Holder e Lewis, 2003;

Felsenstein, 2004).

Além disso, alguns tipos de substituições entre os sítios ocorrem com maior freqüência do que

outros e as substituições também estão sujeitas à freqüência de bases que ocorre no segmento

estudado. Todos esses fatores mencionados podem interferir nas inferências filogenéticas aumentando

o número de substituições paralelas ou reversões de estado, que não podem ser detectados pela

simples comparação das seqüências dos táxons atuais. No entanto, foram desenvolvidos diversos

modelos evolutivos que descrevem o padrão de substituição de nucleotídeos no DNA em diferentes

conjuntos de dados. Existem diferentes testes e critérios para escolher o modelo evolutivo mais

adequado para um conjunto de dados, como o teste de razão de verossimilhança (“likelihood ratio

test”, Felsenstein, 1988; Posada, 2003) e o critério de informação Akaike (Posada e Crandall, 1998;

Posada, 2003) e, em geral, os valores dos parâmetros são estimados a partir dos dados (Swofford e

col., 1996). Na presente tese, foram empregados os métodos de máxima verossimilhança e análise

Page 21: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

13

bayesiana (descritos a seguir) que incorporam modelos evolutivos explícitos (Swofford, 1996; Holder e

Lewis, 2003; Felsenstein, 2004) .

1.3.3. Máxima verossimilhança

O método da máxima verossimilhança busca a hipótese filogenética com maior probabilidade

de explicar a distribuição dos estados de caráter nos táxons atuais, com base em um modelo evolutivo

previamente definido e estados de caracteres observados nos terminais da árvore filogenética

(Swofford e col., 1996). Dessa forma, para uma dada hipótese, representada na forma de uma

topologia, a probabilidade para as combinações considerando cada possível ancestral de cada nó

interno devem ser calculadas com base no modelo evolutivo. Por esse método, diversas hipóteses são

testadas pela multiplicação das suas probabilidades para cada caráter, que em estudos moleculares

são cada sítio de DNA.

Por ser um critério de otimização, para se escolher a melhor topologia pela máxima

verossimilhança, em princípio todas as topologias possíveis para explicar a história evolutiva dos

táxons devem ser testadas. No entanto, dependendo do número de táxons na análise, o cálculo da

probabilidade para todas as possíveis topologias pode ser extremamente demorado

computacionalmente. Por causa disso, foram desenvolvidas diferentes estratégias de buscas

heurísticas, que visam encontrar a melhor topologia, sem necessariamente amostrar todas as

topologias possíveis, tornando o método aplicável para grandes conjuntos de dados, apesar de

aumentar o risco de a melhor topologia não ser amostrada (Swofford e col., 1996; Holder e Lewis,

2003; Felsenstein, 2004).

Uma das formas mais utilizadas para avaliar o quanto os dados sustentam cada clado da

melhor topologia obtida por máxima verossimilhança é o “bootstrap” não paramétrico. Pelo “bootstrap”

a matriz de dados originais é re-amostrada com reposição para gerar várias pseudo-réplicas, a partir

das quais a melhor topologia para cada uma é encontrada. Uma topologia consenso dessas árvores é

gerada e o número de vezes que cada clado aparece nessas topologias é representado

probabilisticamente. Dessa forma, esse algoritmo permite availar que partes da topologia são menos

suportadas pelo conjunto de dados (Holder e Lewis, 2003).

1.3.4. Análise Bayesiana

A inferência filogenética por análise bayesiana é baseada no conceito de probabilidade

posterior das hipóteses filogenéticas. A probabilidade posterior de uma topologia pode ser interpretada

Page 22: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

14

como a sua probabilidade de ser a que representa a verdadeira história evolutiva do grupo de

organismos estudados, portanto por esse método a topologia com a maior probabilidade posterior deve

ser a melhor estimativa da evolução do grupo. Para calcular a probabilidade posterior é usado o

teorema de Bayes que combina a probabilidade a priori da topologia, com sua probabilidade de

explicar a distribuição dos estados de caráter nos táxons atuais com base em um modelo evolutivo

(verossimilhança). A probabilidade a priori de uma topologia é definida como sua probabilidade com

base em dados independentes dos dados que serão usados na análise, por exemplo, pode ser gerada

a partir da taxonomia vigente do grupo (Holder e Lewis, 2003). Diferentemente da verossimilhança,

onde os valores de parâmetro do modelo evolutivo são pré definidos, em um contexto bayesiano, a

escolha da melhor topologia implica em calcular a probabilidade posterior para todas as hipóteses,

assim como sua integração com todas as possíveis combinações de tamanho de ramos e valores dos

parâmetros dos modelos de substituição de nucleotídeos (Huelsenbeck e col., 2001; Holder e Lewis,

2003; Felsenstein, 2004). Mesmo com a utilização de buscas heurísticas, é impossível realizar todo

esse cálculo analiticamente, portanto a aproximação das probabilidades posteriores das topologias é

realizada através da cadeia Markov de Monte Carlo (“Markov chain Monte Carlo”- MCMC)

(Felsenstein, 2004).

O algorítmo MCMC gera uma cadeia conceitual no espaço de parâmetros (que são as

topologias possíveis, com todas as combinações de parâmetros do modelo evolutivo) através de uma

seqüência de passos. A partir de uma topologia inicial qualquer do espaço, é gerada uma nova

topologia pela perturbação de alguns parâmetros do modelo evolutivo. Essa nova topologia é aceita ou

não em comparação com a anterior, de acordo com um teste estatístico descrito por Metropolis e col.

(1953). Cada comparação entre topologias corresponde a uma geração da cadeia. Na maior parte das

vezes são aceitas as topologias com maior probabilidade, porém esse procedimento é intercalado pela

escolha de topologias com menor probabilidades em algumas gerações, para favorecer a mudança de

localização no espaço de parâmetros. Repetindo esse processo milhões de vezes, uma grande cadeia

de localizações no espaço de parâmetros é criada. Ao atingir regiões de alta probabilidade posterior,

dificilmente são aceitos movimentos para regiões de probabilidade mais baixa no espaço de

parâmetros. A proporção de vezes que uma topologia é visitada, após a cadeia atingir o equilíbrio, é

uma aproximação válida da sua probabilidade posterior. O mesmo vale para cada valor de parâmetro

do modelo evolutivo e para as diferentes combinações de tamanho de ramo (Holder e Lewis, 2003;

Felsenstein, 2004).

Page 23: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

15

Em geral, mais de uma topologia e valores de parâmetros apresentam probabilidades altas e

muito próximas, portanto, é obtida uma amostragem de hipóteses mais prováveis ao invés de uma

única topologia. As porções congruentes das várias topologias podem ser sumarizadas em uma

topologia consenso onde a probabilidade posterior aproximada de cada clado pode ser representada e

é uma forma de avaliar seu suporte. Utilizando um número muito grande de gerações, é possível

amostrar as regiões com maior probabilidade do espaço de parâmetros, o que torna o algoritmo bem

acurado (Holder e Lewis, 2003). No entanto, não é possível saber se a MCMC atuou tempo suficiente

para prover estimativas confiáveis das probabilidades posteriores. Uma estratégia recomendada é a

geração independente de várias MCMC, com números altos de gerações para verificar se

independentemente as mesmas hipóteses são recuperadas no equilíbrio de cada uma delas

(Shoemaker e col., 1999; Huelsenbeck e col., 2001; Felsenstein, 2004).

1.4. Mapeamento de caracteres em uma hipótese filogenética

1.4.1. Aspectos gerais

Para entender vários aspectos dos processos evolutivos, não basta conhecer os estados dos

caracteres dos organismos atuais, mas também precisamos saber como eram os estados nos seus

ancestrais. Embora o registro fóssil forneça informações a respeito de várias características físicas e

comportamentais dos organismos ancestrais, em diversos casos, os fósseis não estão disponíveis ou

não estão suficientemente preservados para obter a informação necessária. A fim de preencher essa

lacuna, uma alternativa que vem sendo empregada amplamente é a inferência do estado dos

organismos ancestrais, a partir do mapeamento dos estados de caracteres presentes nos organismos

atuais em uma hipótese filogenética. Vários erros estão associados a esse tipo de análise, entre eles o

da hipótese filogenética e o da reconstrução dos estados ancestrais do caráter. Apesar disso, essa

ferramenta tem se revelado útil nas mais diversas áreas do conhecimento evolutivo, por exemplo, na

reconstrução de receptores de estrógeno ancestrais (Thornton e col., 2003), na inferência de

comportamentos ancestrais de abelhas (Schwarz, e col., 2003) e na identificação de padrões de

dispersão de grupos (Waters e Roy, 2004). As inferências dos estados nos ancestrais podem ser

realizadas pelos métodos de máxima parcimônia ou máxima verossimilhança (Maddison e Maddison,

2004).

Page 24: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

16

1.4.2. Mapeamento de caracteres por máxima parcimônia

O mapeamento por máxima parcimônia infere os estados ancestrais que minimizam o número

de passos de mudança do caráter na hipótese filogenética a partir da distribuição dos estados nos

organismos atuais. Consideremos um exemplo hipotético, onde um caráter com dois estados, preto (0)

e branco (1) apresentam a mesma probabilidade de sofrer mudança entre os dois estados (modificado

de Ronquist, 2004). A partir de uma dada hipótese filogenética e distribuição dos estados nos terminais

(Figura 1.4), a reconstrução mais parcimoniosa da evolução do caráter sugere dois eventos de

mudança de estado e também que os ancestrais A e B apresentavam o estado de caráter preto,

enquanto os os ancestrais C, D, E e F apresentavam estado ancestral do caráter branco (Figura 1.4a).

A análise por máxima parcimônia permite considerar caracteres não-ordenados, ordenados e pesagem

diferencial nas diferentes mudanças de estado (Maddison e Maddison, 2004; Ronquist, 2004).

1.4.3. Mapeamento de caracteres por máxima verossimillahança

No mapeamento por verossimilhança a probabilidade de mudança entre os estados de caráter

observados nos terminais é estimada. A partir dessas probabilidades e dos comprimentos de ramo da

topologia, em questão, as probabilidades dos estados nos ancestrais são estimadas. Nesse caso,

considerando o mesmo exemplo para explicar o mapeamento por parcimônia e assumindo a mesma

probabilidade de mudança entre os estados preto e branco (0,5), o estado de caráter dos ancestrais A,

B e F não são tidos como certos, mas uma probabilidade é dada para cada estado. Por exemplo, o nó

ancestral C apresenta maior probabilidade de que o estado tenha sido branco. Uma vantagem do

mapeamento por verossimilhança em comparação ao mapeamento por pascimônia é que a

probabilidade de estado em um ancestral não depende dos estados estimados em outros ancestrais

(Figura 1.4b) (Ronquist, 2004).

a) b)

Figura 1.4. Mapeamento de caracteres em uma hipótese filogenética. a) por máxima parcimônia; b) pormáxima verossimilhança, tamanhos de ramo proporcionais à régua, p - probabilidade de mudançaentre os estados (modificado de Ronquist, 2004).

Page 25: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

17

1.5. Datação molecular

1.5.1. Fundamentos

A hipótese do relógio molecular propõe que os genes e seus produtos evoluem sob uma taxa

constante ao longo do tempo e das linhagens (Zuckerkandl e Pauling, 1965). Essa hipótese recebeu

popularidade imediata por diversas razões. A principal vantagem que a teoria ofereceu foi a

possibilidade de inferir o tempo de divergência entre duas linhagens a partir do número de

substituições entre as suas seqüências de DNA, independentemente de informações fósseis. Isso

rapidamente se tornou uma aplicação comum, sendo propostos vários relógios moleculares universais,

que foram empregados em uma ampla gama de trabalhos buscando entender diversos aspectos

evolutivos e biogeográficos (Bermingham e col., 1992; Doolittle e col., 1996; Hedges e col., 1996;

Wang e col., 1999). Um dos relógios moleculares gerais mais amplamente utilizados foi a taxa de 2%

de substituição de nucleotídeos por milhão de anos para o genoma mitocondrial, proposto inicialmente

para mamíferos (Brown e col., 1979) e estendido para outros grupos de vertebrados, como aves

(Shields e Wilson, 1987) e aplicado em diversos estudos (ex., Klicka e Zink, 1997; Ribas e Miyaki,

2004).

No entanto, apesar do impacto do relógio molecular nos estudos evolutivos, com o acúmulo de

dados gerados ficou evidente a existência de uma heterogeneidade muito maior do que se acreditava

inicialmente nas taxas de substituição entre diferentes linhagens. Como resultado disso, foi proposta a

idéia de relógios moleculares locais. Por essa proposta, se a taxa de substituição for constante entre

grupos taxonomicamente próximos, é possível estimar o tempo de divergência dentre os mesmos

aplicando um ponto de calibração específico para o grupo (Swofford e col., 1996; Fleischer e col.,

1998; Yoder e Yang, 2000).

A fim de verificar se um conjunto de táxons está evoluindo sob uma mesma taxa, duas

estratégias são amplamente utilizadas: o teste de taxa relativa (“relative rate test”; Takezaki e col.,

1995; Margoliash, 1963; Sarich e Wilson, 1967; Graur e Li, 2000) e o teste de razão de

verossimilhança (“likelihood ratio test”; Felsenstein, 1988). O teste de taxa relativa compara

estatisticamente o número de substituições entre cada dois táxons com o número de substituições de

cada uma em relação ao grupo externo mais próximo. Se a diferença no número de substituições em

cada linhagem for estatisticamente diferente ao nível de significância de 5% comparado ao grupo

externo, o teste considera que as linhagens não estão evoluindo sob uma taxa constante (Takezaki e

col., 1995). Pelo teste de razão de verossimilhança, são comparadas por c2 as probabilidades da

topologia estimada sem a hipótese do relógio molecular e da mesma topologia forçando os

Page 26: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

18

comprimentos dos tamanhos de ramo a apresentarem taxa constante (topologia linearizada). Para

esse teste o número de graus de liberdade é definido pelo número de táxons menos dois. Caso as

topologias apresentem probabilidades significantemente diferentes, a hipótese de taxa constante não é

aceita (Felsenstein, 1988; Posada e Crandall, 1998).

Quando a heterogeneidade de taxas de substituição entre os táxons é identificada, uma das

estratégias utilizadas é a exclusão dos táxons ou dos genes que apresentam desvio significativo em

relação aos demais da análise. A divergência entre os demais pode ser calculada através dos

tamanhos de ramo da topologia linearizada (Takezaki e col., 1995). No entanto, essa estratégia faz uso

ineficiente da informação obtida pelas seqüências de DNA porque em alguns casos, muitos táxons

devem ser excluídos antes de se estimar as datas de divergência (Arbobast e col., 2002). Além disso,

em alguns casos, os testes de identificação de variação de taxa podem ser ineficientes, como por

exemplo, quando a seqüência é curta ou os genes apresentam baixas taxas de substituição. Falha na

detecção de variação de taxas pode levar a um erro sistemático nas estimativas de tempo de

divergência, já que pode superestimar algumas datas (Bromham e Penny, 2003). A fim de evitar esses

problemas, métodos mais recentes de datação molecular, como o “non-parametric rate smoothing”

(nprs; Sanderson, 1997), “penalized likelihood” (PL; Sanderson, 2002) e o método bayesiano (Thorne e

col., 1998, Kishino e col., 2001) acomodam a variação nas taxas de substituição de nucleotídeos entre

as linhagens.

1.5.2. Métodos NPRS e PL

O princípio básico do método NPRS é assumir taxas evolutivas locais para cada nó da topologia

e minimizar a variação entre essas taxas ao longo da topologia pela aplicação de uma penalidade não-

paramétrica. Essa penalidade de mudança abrupta (“roughness penality”) é determinada pelo

quadrado mínimo da diferença entre as taxas dos ramos ancestrais e descendentes e a variância nas

taxas entre os ramos descendentes e a raíz (Sanderson, 1997).

O método PL utiliza o mesmo principio básico que o NPRS, mas utiliza uma aproximação semi

paramétrica para encontrar um valor ótimo de um parâmetro de suavização (“smoothing parameter”),

que pode variar entre dois extremos, para a penalidade de mudança abrupta. Em um extremo, existe o

modelo do relógio molecular, onde as taxas não variam (para o qual o parâmetro de suavização tende

ao infinito), e no outro, existe o modelo saturado, onde cada ramo apresenta uma taxa independente

(para o qual o parâmetro de suavização tende a zero). O teste de validação cruzada (“cross-

validation”) é empregado para encontrar o valor ideal do parâmetro de suavização para o conjunto de

Page 27: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

19

dados. Por esse método, ramos terminais são independentemente excluídos da topologia. O tamanho

de ramo desse terminal é então estimado com base na taxa dos demais ramos e na penalidade de

mudança abrupta, considerando diversos valores do parâmetro de suavização. Os valores estimados

são então comparados com os valores observados. Esse processo é repetido até que o valor escolhido

para o parâmetro de suavização é aquele que melhor aproxima os valores estimados dos tamanhos de

ramo aos valores observados.

O PL se revelou superior aos métodos que assumem linearização e ao NPRS, porque o teste de

validação cruzada permite avaliar se para um conjunto de dados é melhor assumir um modelo onde as

taxas são constantes ao longo das linhagens (relógio molecular), ou mais variáveis, ou ainda qualquer

categoria intermediária entre esses dois extremos (Sanderson, 2002).

1.5.3. Método bayesiano

O método bayesiano de datação usa um modelo probabilístico para descrever a mudança das

taxas de evolução ao longo dos ramos e utiliza uma cadeia Markov de Monte Carlo para aproximar as

probabilidades posteriores das taxas e dos tempos (Thorne e col., 1998; Kishino e col., 2001). Esse

método, assim como o NPRS e o PL também assume que cada ramo apresenta uma taxa

independente, mas constante ao longo do ramo e existe uma autocorrelação entre as taxas dos

diferentes ramos ao longo do tempo evolutivo. O método parte de uma topologia pré definida e o

intervalo de tempo para pelo menos um dos nós, mas ao contrário dos dois outros métodos (NPRS e

PL), não assume os valores fixos de tamanho de ramo. Os parâmetros para o modelo evolutivo podem

ser estimados para cada partição de dados a partir da topologia e das seqüências. Com base no

modelo evolutivo, na topologia e na matriz de dados, são estimados os tamanhos de ramo e seus

respectivos valores de variância e covariância. Como o cálculo analítico das taxas evolutivas para cada

ramo leva em conta todos os valores dos parâmetros do modelo evolutivo, a variação dos tamanhos de

ramo e a própria incerteza dos tempos de divergência levaria muito tempo computacional, esses

valores são aproximados pela MCMC. Para essa MCMC são definidos como parâmetros iniciais a taxa

de evolução molecular da raiz do grupo interno, a média da data da raiz do grupo interno e seus

respectivos desvios padrões. O resultado final aproxima as estimativas de tempo de divergência das

linhagens e fornece os valores do intervalo de credibilidade de cada nó (Thorne e col., 1998; Kishino e

col., 2001; Thorne e Kishino, 2002).

Page 28: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

20

1.5.4. Pontos de calibração

Além da heterogeneidade de taxa evolutiva ao longo das linhagens, outra questão amplamente

debatida no emprego da datação molecular envolve a escolha de pontos de calibração adequados.

Com a adoção de relógios moleculares locais, devido à evidente variabilidade nas taxas evolutivas em

diferentes linhagens, a utilização de uma taxa geral se revelou inadequada (Lovette, 2004). Portanto,

para obter estimativas de tempo de divergência mais confiáveis, pontos de calibração específicos

devem ser adotados para cada linhagem (Bromham e Penny, 2003).

Um dos métodos mais confiáveis de calibração é a utilização de evidências fósseis que

sustentem limites para a diversificação entre duas ou mais linhagens incluídas na topologia que se

pretende utilizar para estimar os tempos de divergência. No entanto, mesmo quando há disponibilidade

do fóssil em questão, três principais fontes de erros devem ser consideradas nesse caso: a) erro na

inferência filogenética do grupo em questão; b) erro na identificação e posicionamento filogenético do

fóssil em questão; c) erro na identificação da data do fóssil. Em aves, o registro fóssil é muito

incompleto devido em grande parte à própria natureza dos ossos pneumáticos, que dificultam a

fossilização (Arbobast e col., 2002; Bromham e Penny, 2003; Lovette, 2004).

Uma outra maneira de escolher pontos de calibração é a utilização de eventos geológicos

associados à diversificação de um dos grupos em questão. Por exemplo, a origem de ilhas oceânicas

cujas datas de emergência são conhecidas (Fleischer e col., 1998). Porém, da mesma forma, existem

erros que podem estar associados a essa calibração, como por exemplo: a) a precisão do intervalo de

tempo para a formação da ilha; b) tempo de colonização das populações após a formação de cada

ilha; c) possibilidade de migração entre as ilhas no caso de aves com grande capacidade de dispersão;

d) erro na inferência filogenética do grupo em questão (Bromham e Penny, 2003).

Por causa dos erros que podem estar associados a um particular ponto de calibração e o

aumento do erro da própria estimativa de tempo a medida em que os nós distanciam-se dessa região

da topologia, o ideal é usar uma abordagem múltipla, onde vários pontos de calibração são

empregados (ex. van Tuinen e Hedges, 2001).

Page 29: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

21

1.6. Objetivos

A presente tese tem por objetivos:

• Inferir as relações filogenéticas entre os gêneros da tribo Arini por meio de dados

moleculares a partir de um grande número de seqüências dos genomas mitocondrial e

nuclear.

• Estimar o tempo de divergência entre as linhagens e comparar essas estimativas com

eventos históricos paleogeográficos descritos para a região neotropical que possam ter

influenciado a diversificação dos psitacídeos neotropicais.

• Determinar a organização dos genes mitocondriais ao redor da região controladora através

do sequenciamento de porções entre o final do gene citocromo b e o início do DNA

ribossomal 12S de representantes das linhagens de psitacídeos neotropicais. A análise

dessas seqüências em conjunto com a filogenia e a datação da divergência entre as

linhagens visa compreender melhor a evolução do genoma mitocondrial no grupo.

Page 30: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

22

1.7. Referências

Arbobast, B.S, Edwards, S.V., Wakeley, J., Beerli, P. ,Slowinski, J.B., 2002. Estimating divergence

times from molecular data on phylogenetic and population genetic timescales. Annu. Rev. Ecol.

Syst. 33, 707–740.

Barrowclough, G.F., Groth, J.G., Mertz, L.A., 2004. Phylogenetic relationships among parrots. One

Hundred and Twenty-Second Stated Meeting of the American Ornithologist’s Union. 16 – 21

August, Laval, Quebec.

Beissinger, S.R., 2000. Ecological mechanisms of extinction. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 97, 11688-

11689.

Bermingham, E., Rohwer, S., Freeman, S., Wood, C., 1992. Vicariance biogeography in the

Pleistocene and speciation in North American wood warblers: a test of Mengel’s model. Proc.

Natl. Acad. Sci. USA 89, 6624–28.

Boetticher, H.von, 1943. Gedanken “uber die systematic Stellung einiger Papagaien. Zool. Anz. 143,

191-200.

Boetticher, H.von, 1959. Papagaien. Wittenberg Lutherstadt, A. Ziemsen.

Boles, W.E., 1993. A new cockatoo (Psittaciformes: Cacatuidae) from the Tertiary of Rivers Leigh,

northwestern Queensland, and an evaluation of rostral characters in the systematics of parrots.

Ibis 135, 8-18.

Boles, W.E., 1998. A budgerigar Melopsittacus undulatus from the Pliocene of Rivers Leigh, north-

western Queensland. EMU 98, 32-35.

Brereton, J.L., 1963. Evolution within the Psittaciformes. Proc. Internatl. Ornitol. Congr. 13, 499-517.

Bromham, L., Penny, D., 2003. The modern molecular clock. Nature 4, 216-224.

Brown, W.M., George, M.J., Wilson, A.C., 1979. Rapid evolution of animal mitochondrial DNA. Proc.

Natl. Acad. Sci. USA 361, 119-134.

Chauviré, C.M., 1992. Une nouvelle famille de Perroquetes (Aves, Psittaciformes) dans l`Eocene

supérieour des phosphorites du Qherci, France. Geobios 14, 169-177.

Clarke, J.A., Tambussi, C.P., Noriega, J.I., Erickson, G.M, Ketcham, R.A., 2005. Definitive fossil

evidence for the exant avian radiation in the Cretaceous. Nature 433, 305-308.

Collar, N.J., 1997. Family Psittacidae (Parrots). In: del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J.(Eds.)

Handbook of the Birds of the World, vol. 4. Sandgrouse to Coockos. Lynx Edicións, Barcelona.

Pp. 679.

Page 31: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

23

Collar, N.J., Gonzaga, L.P., Krabbe, N., Madroño-Nieto, A., Naranjo, L.G., Parker III, T.A., Wege, D.C.,

1992. Theathened birds of the Americas, terceira edição. Smithsonian Institution Press,

Cambridge. Pp. 280-479.

Cooper, A., Penny, D., 1997. Mass survival of birds across the Cretaceous-Tertiary boundary:

molecular evidence. Science 275:1109–1113.

Cracraft, J. 1973. Continental drift, palaeoclimatology, and the evolution and biogeography of birds. J.

Zool. 169, 455-545.

Cracraft, J., 2001. Avian evolution, Gondwana biogeography and the Cretaceous–Tertiary mass

extinction event. Proc. R. Soc. Lond. B 268, 459–469.

de Kloet, R.S., de Kloet, S.R., 2005. The evolution of the spindlin gene in birds: sequence analysis of

an intron of the spindlin W and Z gene revealed four major divisions of the Psittaciformes. Mol.

Phylogenet. Evol. (in press).

del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J., 1997. Handbook of the Birds of the World, vol. 4. Sandgrouse to

Coockos. Lynx Edicións, Barcelona.

Doolittle, R, Feng, D, Tsang, S, Cho, G., Little, E., 1996. Determining divergence times of the major

kingdoms of living organisms with a protein clock. Science 271, 470–77.

Dyke, G.J., Mayr, G., 1999. Did parrots exist in the Creteaceous period? Nature 399, 317-318.

Ericson, P.G.P., Irestedt, M., Johansson, U.S., 2003. Evolution, biogeography, and patterns of

diversification in passerine birds. J. Avian Biol. 34, 3-15.

Felsenstein, J., 1988. Phylogenies from molecular sequences. Ann. Rev. Ecol. Syst. 19, 445-471.

Felsenstein, J., 2004. Inferring Phylogenies. Sinauer Associates, Sunderland.

Fleischer, R.C. McIntosh, C.E., Tarr, C.L., 1998. Evolution on a volcanic conveyor belt: using

phylogeographyc reconstructions and K-Ar-based ages of the Hawaiian Islands to estimate

molecular evolutionary rates. Mol. Ecol. 7, 533-545.

Forshaw, J., 1989. Parrots of the World, terceira ed. Landsdowne Editions, Melbourne.

García-Moreno, J., Sorenson, M.D., Mindell, D.P., 2003. Congruent avian phylogenies inferred from

mitochondrial and nuclear DNA sequences. J. Mol. Evol. 57, 27-37.

Glenny, F.H. 1954. Antarctica as a center of origins of birds. Ohio J. Sci. 54, 307-314.

Graur, D., Li, W.H., 2000. Molecular phylogenetics. In: Grau, D., Li, W.H. (Eds.). Fundamentals of

Molecular Evolution, segunda edição. Sinauer Associates, Sunderland. Pp.

Page 32: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

24

Haddrath, O., Baker., A.J., 2001. Complete mitochondrial DNA genome sequences of extinct birds:

ratite phylogenetics and the vicariance biogeography hypothesis. Proc. R. Soc. Lond. B 268,

939–945.

Harrison, G.L., McLenachan, P.A., Philips, M.J. Slack, K.E. Cooper A., Penny, D., 2004. Four new

avian mitochondrial genomes help get to basic evolutionary questions in the Late Cretaceous.

Mol. Biol. Evol. 21, 974–983.

Hedges, S.B., Parker, P.H., Sibley, C.G., Kumar, S., 1996. Continental breakup and the ordinal

diversification of birds and mammals. Nature 381, 226–29.

Holder, M., Lewis, P.O., 2003. Phylogeny estimation: traditional and Bayesian approaches. Nature

reviews 4, 275-284.

Huelsenbeck, J.P, Rannala, B., 1997. Phylogenetic methods come of age: testing hypothesis in an

evolutionary context. Science 276, 227-232.

Huelsenbeck, J.P., Ronquist, F., Nielsen, R., Bollback, J.P., 2001. Bayesian inference of phylogeny and

its impact on evolutionary biology. Science 294, 2310-2314.

Kishino, H., Thorne, JL. Bruno, W.J., 2001. Performance of a divergence time method under a

probabilistic model of rate evolution. Mol. Biol. Evol. 18, 352-361.

Klicka J, Zink, R.M., 1997. The importance of recent ice ages in speciation: a failed paradigm. Science

277, 1666–69.

Livezey, B.C., Zusi, R.L., 2001. Higher-order phylogenetics of modern aves based on comparatve

anatomy. Netherlands J. Zool. 51, 179-205.

Lovette, I.J., 2004. Mitochondrial dating and mixed support for the “2% rule” in birds. Auk, 121, 1-6.

Maddison, W.P., Maddison, D.R., 2004. Mesquite: a modular system for evolutionary analysis. Version

1.05 http://mesquiteproject.org.

Margoliash, E., 1963. Primary structure and evolution of cytochrome c. Proc. Natl. Acad. Sci USA 50,

672-679.

Mayr, G., Clarke, J., 2003. The deep divergences of neornithine birds: a phylogenetic analysis of

morphological characters. Cladistics, 19, 553.

Metropolis, N., Rosenbluth, A.W., Rosenbluth, M.N., Teller, A.H., Teller, E., 1953. Equation of state

calculations by fast computing machines. J. Chem. Phys. 21, 1087-1092.

Miranda Ribeiro, A., 1920. Revisão dos psitacídeos brasileiros. Rev. Mus. Paulista 12, 3-83.

Miyaki, C.Y., Matioli, S.R., Burke, T., Wajntal, A., 1998. Parrot evolution and palaeographical events:

mitochondrial DNA evidence. Mol. Biol. Evol. 15, 544–551.

Page 33: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

25

Moritz, C. Hillis, D.M., 1996. Molecular Systematics: context and controversies. In: Hillis, D.M., Moritz,

C., Mable, B.K. (Eds.) Molecular Systematics. Sinauer Associates, Sunderland, Pp. 1-13.

Nahum, L.A., Pereira, S.L, Fernandes, F.M.C., Matioli, S.R., Wajntal, A., 2003. Diversification of

Ramphastinae (Aves, Ramphastidae) prior to the Cretaceous/Tertiary boundary as shown by

molecular clock of mtDNA sequences. Genet. Mol. Biol. 26, 411-418.

Nei, M. e Kumar, S. 2000. Molecular evolution and phylogenetics, primeira edição. Oxford University

Press, New York.

Owens, I.P.F., Bennett, P.M., 2000. Ecological basis of extinction risk in birds: habitat loss versus

human persecution and introduced predators. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 12144-12148.

Paton, T., Haddrath, O., Baker, A.J., 2002. Complete mitochondrial DNA genome sequences show that

modern birds are not descended from transitional shorebirds. Proc. R. Soc. Lond. B 269,

839–846.

Penhallurick, J., 2001. Primolius Bonaparte, 1857 has priority over Propyrrhura Ribeiro, 1920. Bull. Brit.

Orn. C. 121, 38-39.

Pereira, S.L., Baker, A.J., Wajntal, A., 2002. Combined nuclear and mitochondrial DNA sequences

resolve generic relationships within the Cracidae (Galliformes, Aves). Syst. Biol. 51, 946–958.

Peters, J. L. 1937. Checklist of the Birds of the World, volume 3. Harvard University Press, Cambridge.

Pinto, O. O. 1937. Catálogo de aves do Brasil. Rev. Mus. Paulista 22, 181-215.

Pinto, O. O. 1978. Novo Catálogo das Aves do Brasil, volume 1. Empresa Gráfica da Revista dos

Tribunais S. A., São Paulo.

Posada, D., 2003. Selecting models of evolution. In: Salemi, M., Vandamme, A.M. The Phylogenetic

Handbook: a Practical Approach to DNA and Protein Phylogeny. Cambridge University Press,

Cambridge. Pp. 256-282.

Posada, D., Crandall, K.A., 1998. Modeltest: testing the model of DNA substitution. Bioinformatics 14,

817-818.

Ribas, C.C., 2004. Filogenias Moleculares e Biogeografia Histórica em Psitacídeos (Aves; Psittacidae):

Padrões e Processos de Diversificação no Neotrópico. Tese de Doutorado, Instituto de

Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo.

Ribas, C.C., Miyaki, C.Y., 2004 Molecular systematics in Aratinga parakeets: species limits and

historical biogeography in the solstitialis group, and the systematic position of Nandayus

nenday. Mol. Phylogenet. Evol. 30, 663–675.

Page 34: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

26

Ribas. C.C., Gaban-Lima, R., Miyaki, C.Y., Cracraft, J., 2005. Historical biogeography and

diversification within the Neotropical parrot genus "Pionopsitta" (Aves; Psittacidae). J. Biogeog.

32, 1409-1427.

Ronquist, F., 2004. Bayesian inference of character evolution. Trends. Ecol. Evol. 19, 475-481.

Rowley, I., 1997. Family Cacatuidae (cockatoos). In: del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J. (Eds.)

Handbook of the Birds of the World, vol. 4, Lynx Editions, Barcelona, Pp. 246-279.

Russello, M.A., Amato, G., 2004. A molecular phylogeny of Amazona: implications for Neotropical

parrot biogeography, taxonomy, and conservation. Mol. Phylogenet. Evol. 30, 421-437.

Salvadori, T., 1891. Catalogue of the Psittaci, or parrots, in the Collection of the British Museum.

Longman and Co., London.

Sanderson, M.J., 1997. A nonparametric approach to estimating divergence times in the absence of

rate constancy. Mol. Biol. Evol. 14, 1218-1231.

Sanderson, M.J., 2002. Estimating absolute rates of molecular evolution and divergence times: a

penalized likelihood approach. Mol. Biol. Evol. 19, 101–109.

Sarich, V.M., Wilson, A.C., 1973. Generation time and genomic evolution in primates. Science 179,

1144-1147.

Schwarz, M.P., Bull, N.J., Cooper, S.J.B., 2003. Molecular phylogenetics of allodapine bees with

implications for the evolution of sociality and progressive rearing. Syst. Biol. 52, 1-14.

Shields, G.F., Wilson, A.C., 1987. Calibration of mitochondrial DNA evolution in geese. J. Mol. Evol. 24,

212-217.

Shoemaker, J.S., Painter, I.S., Weir, B.S., 1999. Bayesian statistics in genetics. Trends Genet. 15, 354-

358.

Sibley, C.G., Alquist, J.E., 1990. Phylogeny classification of birds: a study in molecular evolution. Yale

University Press, New Haven.

Sick, H., 1997. Ornitologia Brasileira, segunda ed., Editora Nova Fronteira S. A., Rio de Janeiro.

Smith, G.A., 1975. Systematics of parrots. Ibis 117, 18-68.

Stidham, T.A., 1998. A lower jaw from a Cretaceous parrot. Nature 39, 29-30.

Swofford, D.L., Olsen, G.J., Waddell, P.J., Hills, D.M., 1996. Phylogenetic inference. In: Hillis, D.M.,

Moritz, C., Mable, B.K. (Eds.) Molecular Systematics. Sinauer Associates, Sunderland, Pp. 407-

514.

Takezaki, N., Rzhetsky, A., Nei, M., 1995. Phylogenetic test of molecular clock and linearized trees.

Mol. Biol. Evol. 12, 823-833.

Page 35: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 1

27

Tavares, E.S. 2001. Estudo filogenético entre gêneros de psitacídeos (Psittacidae, Aves) baseado em

seqüências de DNA mitocondrial. Dissertação de mestrado. Instituto de Biociências,

Universidade de São Paulo, São Paulo.

Tavares, E.S., Yamashita, C., Miyaki, C.Y., 2004. Phylogenetic relationships among some Neotropical

parrot genera (Psittacidae) based on mitochondrial sequences. Auk 121, 230-242.

Thorne, J.L., Kishino, H., 2002. Divergence time and evolutionary rate estimation with multilocus DNA

data. Syst. Biol. 51, 689-702.

Thorne, J.L., Kishino, H., Painter, I.S., 1998. Estimating the rate of evolution of the rate of molecular

evolution. Mol. Biol. Evol. 15, 1647-1657.

Thornton, J.W., Need, E., Crews, D., 2003. Resurrecting the ancestral steroid receptor: ancient origin of

estrogen signalling. Science 301,1714-1717.

Van Tuinen, M., Hedges,S.B., 2001. Calibration of Avian molecular clocks. Mol. Biol. Evol. 18, 206-213.

Verheyen, R., 1956. Analyse du potentiel morphologique et projet d’une nouvelle classification des

Psittaciformes. Bull. Inst. R. Sci. Nat. Belg. 32, 54pp.

Wang, D., Kumar, S., Hedges, S., 1999. Divergence time estimates for the early history of animal phyla

and the origin of plants, animals and fungi. Proc. R. Soc. London. B 266, 163– 171.

Waters, J.M. Roy, M.S., 2004. Out of Africa: the slow train to Australasia. Syst. Biol. 53, 18-24.

Yoder, A., Yang, Z., 2000. Estimation of primate speciation dates using local molecular clocks. Mol.

Biol. Evol. 17, 1081–1090.

Zuckerkandl, E., Pauling, L., 1965. Evolutionary divergence and convergence in proteins. In: Bryson, V.

Vogel, H.J. (Eds.) Evolving Genes and Proteins. Academic Press, New York. Pp. 97-166.

Page 36: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

Relações filogenéticas e biogeografia histórica dos

psitacídeos neotropicais (tribo Arini) com base em

seqüências de DNA mitocondrial e nuclear

Page 37: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

29

2.1. Introdução

Os psitacídeos neotropicais formam o grupo de espécies mais numeroso da ordem

Psittaciformes (150 das 330 espécies reconhecidas) e inclui 30 gêneros (Collar, 1997, Rowley, 1997).

Apresentam uma grande variação de tamanho, preferência de hábitat, distribuição geográfica e

comportamento (Forshaw, 1989). A sistemática do grupo tem sido discutida há muito tempo. Os

sistematas mais antigos, com base em morfologia externa e anatomia (Salvadori, 1891; Boetticher,

1943, 1959; Verheyen, 1956), e comportamento (Brereton, 1963) distribuíam os gêneros neotropicais

em dois grupos de composição variável, em alguns casos incluindo táxons de outras regiões

geográficas. Verheyen (1956) agrupou exclusivamente táxons neotropicais nas famílias Amazoninae e

Arinae e sugeriu que esses grupos compartilham características morfológicas (presença de quatro

vértebras dorsais, uma única carótida dorsal, entre outras) que os distinguem dos psitacídeos das

demais regiões geográficas, mas não sugeriu uma categoria para agrupá-los. Em uma revisão

abrangente da sistemática da ordem Psitaciformes, Smith (1975) agrupou todos os táxons neotropicais

na tribo Arini (família Psittacidae) com base em dois caracteres exclusivos (eclosão dos filhotes com

canal auditivo imperfurado e postura copulatória em uma perna) e considerou artificial os

agrupamentos internos até então propostos na tribo. Na falta de estudos mais abrangentes, essa

proposta foi aceita em todas as classificações posteriores (por exemplo, Forshaw, 1989; Collar, 1997).

Atualmente, o monofiletismo da tribo Arini vem sendo corroborado por estudos de filogenia molecular

incluindo diversos gêneros representantes da ordem (Barrowclough e col., 2004; de Kloet e de Kloet,

2005).

Em uma análise de 1.771 pares de bases (pb) de genes mitocondriais realizados com

representantes de nove gêneros da tribo Arini dois grupos monofiléticos foram recuperados e referidos

pelos autores como psitacídeos de cauda longa e psitacídeos de cauda curta (Miyaki e col. 1998), o

que estaria de acordo com uma chave de identificação proposta por Sick (1997). Exceto para o

monofiletismo

Page 38: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

30

2005). Além disso, alguns estudos também apontaram ausência de monofiletismo nos gêneros

neotropicais Aratinga, Amazona e Pionopsitta (Tavares e col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Russello e

Amato, 2004; Ribas e col., 2005).

Apesar de ser muito questionado, dados moleculares podem ser usados para estimar datas de

divergência entre os táxons (Arbobast e col., 2002). Tendo tais estimativas, pode-se tentar associá-las

a eventos paleogeoclimáticos registrados no período de diversificação das linhagens. Em relação aos

psitacídeos, a data estimada de separação entre o periquito australiano (Melopsittacus undulatus) e

alguns táxons neotropicais por volta de 76 milhões de anos atrás (ma; Miyaki e col., 1998) estaria de

acordo com a hipótese de que a separação dos continentes teve um papel importante na diversificação

desses grupos. Além disso, a divergência entre os gêneros de psitacídeos neotropicais foi estimada

entre o Eoceno-Oligoceno e durante o Mioceno (16-27 ma) e poderia estar associada a mudanças

ambientais em consequência de mudanças no nível do mar, orogenia dos Andes e expansão de

ambientes de floresta e de áreas secas (Miyaki e col., 1998; Tavares e col., 2004). Já o intervalo de

divergências entre espécies do mesmo gênero de psitacídeos foi estimado entre 0,5 e 1,3 ma

(Tavares e col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Ribas e col., 2005).

No presente trabalho foram estudadas as relações filogenéticas da maioria dos gêneros da

tribo Arini, incluindo representantes de diferentes linhagens de gêneros não-monofiléticos. Foi utilizado

um grande conjunto de seqüências de DNA nuclear e mitocondrial totalizando 6.461 pb. A informação

filogenética de alguns caracteres morfológicos, comportamentais e genético também foi analisada com

base na filogenia obtida. Além disso, o tempo de divergência entre as linhagens de psitacídeos

neotropicais foi estimado por métodos que levam em conta a taxa de variação nas substituições de

nucleotídeos entre as linhagens e hipóteses biogeográficas sobre a diversificação do grupo foram

propostas com base nesses resultados.

2.2. Material e Métodos

2.2.1. Amostragem

Foram obtidas amostras de 29 espécies representantes de 25 dos 30 gêneros da tribo Arini

(Tabela 2.1). Como estudos filogenéticos anteriores sugerem a ausência de monofiletismo dos gêneros

Aratinga, Amazona e Pionopsitta (Tavares e col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Russello e Amato, 2004;

Ribas e col., 2005), foram amostrados dois ou três táxons de cada um desses gêneros, representando

as diferentes linhagens apontadas por esses trabalhos.

Page 39: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

31

Tabela 2.1. Táxons amostrados. Razão entre comprimento da asa e comprimento da cauda,

espécimen analisado e estados da forma da cauda, narinas e anel perioftálmico.

Espécies Amostraa asa/

caudab

Voucher

MZUSPc

Forma

caudad Narinasf Anel

perioftálmicog

Amazona farinosa 3683 1,9 6731 A E N

Amazona xanthops 1876 2,6 4330 A E N

Anodorhynchus hyacinthinus 5281 0,8 32290 C C N

Ara ararauna 13 0,8 13992 C E N

Aratinga aurea

Aratinga leucophthalmus

Aratinga solstitialis

346

2090

2042

1,2

1,2

1,1

14893

10653

6490

C

C

C

E

E

E

N

N

N

Bolborhynchus lineola 4393 1,9 13080 C E C

Brotogeris chiriri 5486 1,3 74601 C E N

Cacatua goffini 4582 - - - - -

Cyanoliseus patagonus 4967 1,0 2272 C E C

Cyanopsitta spixii 409 0,8 76154 C E N

Deroptyus accipitrinus 395 1,4 44059 A E N

Diopsittaca nobilis 973 1,2 15897 C E N

Enicognathus leptorhynchus 5173 1,2 21754 C C C

Forpus crassirostris 501 2,1 39569 A E C

Graydidascalus brachyurus 1624 2,9 22573 A E C

Guarouba guarouba 69 1,4 43982 C E N

Melopsittacus undulatus 4999 - - - - -

Myiopsitta monachus 2821 1,1 2277 C C C

Nandayus nenday 143 1,2 13083 C E N

Nanopsittaca dachilleae 5495 2,3 - Ae Ee Ce

Orthopsittaca manilata 1852 1,1 38318 C E N

Pionites leucogaster 2377 2,1 12226 C E N

Pionopsitta pileata

Pionopsitta barrabandi

3467

389693

2,1

2,4

69441

3501

A

A

E

E

N

N

Pionus maximiliani 1219 2,2 14015 A E N

Primolius auricollis 1742 1,1 44077 C E N

Pyrrhura leucotis 3921 1,0 34495 C E N

Rynchopsitta pachyryncha 5237 1,6 - Ce Ce Ne

Triclaria malachitacea 415 1,4 28102 A E Na Registro na coleção do Laboratório de Genética e Evolução Molecular de Aves (LGEMA),Universidade de São Paulo, exceto 389693 registrado no Field Museum of Natural History;b Razãoobtida a partir de espécimens machos, (Forshaw, 1989);c Museu de Zoologia da Universidade de SãoPaulo; d A- arredondada, C – acuneada; e Dados obtidos de literatura (Salvadori, 1890; Forshaw, 1989;Collar, 1997); f E - expostas, C- cobertas por penas; g N- nu e evidente, C- coberto por penas.

Page 40: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

32

Para compor o grupo externo mais próximo foram selecionados os psitacídeos australianos

Melopsittacus undulatus (tribo Platycercini) e Cacatua goffini (família Cacatuidae) e o psitacídeo da

Nova Zelândia Strigos habroptilus (tribo Strigopini, família Psittacidae, NC_005931; Harrison e col.,

2004). Falco peregrinus (NC_000878; Mindell e col., 1998; AY461399, Griffiths e col., 2004), Aburria

aburri (AF165466, AY143680, AY140740, AY140768, AY165454, AF165442; Pereira e col., 2002) e

Gallus gallus (X52392, Desjardins e Morais, 1990; AF143730, Groth e Barrowclough, 1999) foram

selecionados como grupos externos mais distantes para enraizar a topologia. A classificação dos

psitacídeos adotada nesse trabalho segue Collar (1997), exceto por Propyrrhura, para o qual adotamos

Primolius de acordo com Penhallurick (2001).

2.2.2. Extração de DNA e sequenciamento

O DNA foi extraído a partir de tecido sangüíneo em solução contendo 0,1% de SDS, Tris-HCl

100mM (pH 8.0), EDTA 10 mM e 10 mg/mL de proteinase K mantido a 55oC por aproximadamente 4

horas. O DNA foi purificado por procedimento padrão com fenol: clorofórmio: álcool isoamílico (Bruford

e col., 1992). A amplificação dos segmentos de DNA foi realizada por “Polymerase Chain Reaction”

(PCR) em 25 µL de reação com solução tampão 1x (Tris-HCl 10 mM pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl2

2,5mM, gelatina a 0,01%, 160 µg/ mL de BSA), 2 µM de cada dNTP, 1µM de cada “primer”, 1 U de Taq

polimerase (Pharmacia) e 25-50 ng de DNA. As condições da reação de PCR foram: desnaturação

inicial a 95ºC por 5 minutos (min.), seguido de 30 ciclos de 95oC por 60 segundos (seg.), 50oC por 25

seg., 72oC por 80 seg., e uma extensão final de 72oC por 7 min. Os segmentos amplificados foram

purificados por corte de banda do gel de agarose e centrifugação através de uma ponteira com filtro.

As seqüências foram obtidas nos seqüenciadores automáticos Li-Cor 4200 bi-direcional e ABI3100 de

acordo com protocolo sugerido pelos fabricantes. Foram obtidas as seqüências de DNA do gene

nuclear RAG-1, e dos genes mitocondriais citocromo b, NADH2, ATPase 6, ATPase 8, COIII, DNAr

12S e DNAr 16S. Os “primers” usados foram R1 (5’- GACAAACATCATCTCAGGAAGAAGAT -3’), R11

(5’- GGACCAGTAGATGATGAAACTCCT -3’), R13 (5’- TCTGAATGGAAATTCAAGATGTT -3’), R14

(5’- TTCCTGTGGATACTCCAGCA -3’), R17 (5’- CCCTCCTGCTGGTATCCTTGCTT -3’), R18 (5’-

GATGCTGCCTCGGTCGGCCACCTTT -3’), R19 (5’- GTCACTGGGAGGCAGATCTTCCA -3’), R21 (5’-

GGATCTTTGAGGAAGTAAAGCCCAA -3’), R20 (5’- CCATCTATAATTCCCACTTCTGT -3’), R22 (5’-

GAATGTTCTCAGGATGCCTCCCAT -3’), R24 (5’- GCCTCTACTGTCTCTTTGGACAT -3’) e R2B (5’-

GAGGTATATAGCCAGTGATGCTT -3’) para o RAG-1 (Groth e Barrowclough, 1999); b1 (5’- CCATCC

ACCATCTCAGGATGATGAAA - 3’), b52 (5’- GNAAATCYCACCCNCTWCTHAAAAT -3’) e b6 (5’- GTC

Page 41: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

33

TTCAGTTTTGGTTTACAAGAC -3’) para o citocromo b (Kocher e col., 1989); MetL (5’- AAGCTATCG

GGCCCATACCCG –3’), ND2H (5’- CCTTGAAGCACTTCTGGGAATCAGA -3’), ND2-54H (5’- GGG

GTGGTGAGATTTTGCGA- 3’) e ASNH (5’- GATCRAGGCCCATCTGTCTAG -3’) para o NADH2; LysL

(5’- CAGCACTAGCCTTTTAAGCT -3’), COIIIRH (5’- ATTATTCCGTATCGNAGNCCYTTTTG -3’), A5

(5’- TAGGAGTGTGCTTGGTGTGCCATT- 3’) e ATP6L (5’- AAAYATYTAATGGCACACCAAGC- 3’)

para os genes ATPase 6, ATPase 8 e COIII; L1537 (5’- AATCTTGTGCCAGCCACCGCGG -3’) e

12Send (5’- GTGCACCTTCCGGTACACTTACC -3’) para o DNAr 12S; 16Sa (5’- AAGCCWANCGAG

CYGGGTGATAGCTGG -3’), 16Sb (5’- CATAGATAGAAACCGACCTGG -3’), 16Sc (5’- TTCTTCAAG

GTCGCCCCAACC -3’) e 16Se (5’- GCACGGTTAGGATACCGCGGCCG -3’) para o RNAr 16S (Oliver

Haddrath, comunicação pessoal). As seqüências de DNA foram depositadas no GenBank com os

números de acesso: DQ143281-DQ143297 para citocromo b; DQ143298-DQ143324 para NADH2;

DQ143250-DQ143280 para os genes ATPase 6, ATPase 8 e COIII; DQ143208-DQ143228 para 12S

rDNA; e DQ143229-DQ143249 para o 16S rDNA. Foram obtidas do GenBank as seqüências de

citocromo b para Diopsittaca nobilis (AF370769, Tavares e col., 2004), Pionopsitta barrabandi,

Pionopsitta pileata e Triclaria malachitacea (AY669424, AY669437 e AY669439; Ribas e col., 2005) e

de NADH2 para Amazona farinosa (AY194461; Eberhard e Bermingham, 2004), Pionopsitta

barrabandi, Pionopsitta pileata e Triclaria malachitacea (AY669468, AY669481 e AY669486; Ribas e

col., 2005).

2.2.3. Análise das seqüências de DNA

As ambigüidades nas fitas complementares de DNA foram verificadas com o Sequencher 4.1.2

(GeneCodes Corp., Ann Arbor, Michigan). O alinhamento dos genes foi verificado visualmente no

MacClade 4.0 (Maddison e Maddison, 2000). As lacunas de alinhamento, as regiões com alinhamento

ambíguo e as regiões de sobreposição entre as ATPases 8 e 6, e a ATPase 6 e o COIII foram

excluídas da matriz de dados. A composição de bases, as taxas de transição e transversão e a

distância genética entre seqüências de nucleotídeos foram calculadas no PAUP* 4.0b10 (Swofford,

2002). O grau de saturação das seqüências foi avaliado para cada gene pela relação entre o número

de transições e o número de transversões pelas distâncias par a par corrigidas entre os táxons.

Diferenças de composição de base entre táxons não são corrigidos pela maior parte dos

métodos de reconstrução filogenética e topologias inadequadas podem ser escolhidas quando as

diferenças de composição são expressivas (Penny e col., 1990; Lockhart e col., 1994; Foster e Hickey,

1999; Chang e Champbell, 2000; Haddrath e Baker, 2001; Paton e col., 2002). Por isso, os sítios

Page 42: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

34

variáveis de cada gene foram avaliados quanto ao desvio de composição de bases usando o

Treepuzzle 5.0 (Schmidt e col., 2002). Nessa análise, os sítios invariáveis foram excluídos já que

podem mascarar a detecção de desvio composicional entre os táxons (Foster e Hickey, 1990). A

pressão de mutação simétrica direcional atuando nos genes que codificam para proteínas foi estimada

com o programa DMP 2.0 (Jermin e col., 1996).

2.2.4. Análises filogenéticas

O modelo mais adequado para cada partição de dados foi selecionado pelo teste de razão de

verossimilhança (“hierarchical likelihood ratio tests”- LRT) implementado no Modeltest 3.6 (Posada e

Crandall, 1998). As análises bayesianas foram realizadas no MrBayes 3.0 (Ronquist e Huelsenbeck,

2003), utilizando a amostragem pela “Markov Chain Monte Carlo” (MCMC), inicialmente para cada

gene em separado, para a partição nuclear, para a partição mitocondrial e para a matriz total

concatenada, para verificar se as diferentes partições suportam resultados incongruentes e para

verificar se a adoção de modelos independentes para cada partição é mais adequada. A análise

bayesiana final foi realizada para a matriz combinada dos genes, assumindo diferentes modelos e

respectivos parâmetros para cada gene considerado. Foram executadas quatro buscas independentes,

cada uma com 2 milhões de gerações, uma cadeia fria e quatro quentes, uma topologia amostrada a

cada 1000 gerações e o descarte (“burnin”) determinado pela convergência nos valores de

verossimilhança das topologias. As probabilidades posteriores dos ramos foram computadas para

todas as análises bayesianas descartando-se as topologias amostradas antes da convergência dos

valores de verossimilhança na cadeia de Marcov. O modelo evolutivo e seus respectivos parâmetros

estimados por LRT no Modeltest 3.6 (Posada e Crandall, 1998) foram usados como estimativas iniciais

na busca por máxima verossimilhança (MV) realizada no PAUP* 4.0 b10 (Swofford, 2002), por busca

heurística a partir de 5 árvores iniciais geradas por adição aleatória de táxons (“stepwise addition”) e

algoritmo “tree bisection and reconnection” (TBR) para gerar diferentes topologias. O suporte dos nós

da busca por MV foi estimado por “bootstrap” não paramétrico (Effron, 1979; Felsenstein, 1985) com

100 réplicas, cada uma iniciada por uma topologia gerada por adição aleatória de táxons no programa

PAUP* 4.0b10 (Swofford, 2002), usando o mesmo modelo e valores de parâmetros assumidos na

busca por MV.

Adicionalmente, foi realizada uma busca por MV utilizando um modelo não-homogêneo de

substituição de nucleotídeos no programa NHML 3.0 (Galtier e Gouy, 1998), utilizando a correção para

taxa de substituição entre os sítios HKY+G (Hasegawa e col., 1985). Devido ao grande número de

Page 43: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

35

terminais (n=32), o tempo computacional para realização de uma busca mais abrangente seria muito

grande, portanto os nós que apresentaram valores de “bootstrap” superiores a 90% na busca por MV

foram fixados.

2.2.5. Comparação das diferentes topologias

Para comparar as topologias obtidas pelos diferentes métodos foi utilizado o teste

aproximadamente não enviesado (AU, “approximately unbiased”; Shimodaira, 2002) implementado no

programa CONSEL (Shimodaira e Hasegawa, 2001). O teste AU utiliza uma técnica de “bootstrap”

multi-escalonado, na qual vários conjuntos de réplicas da matriz de dados inicial são gerados, podendo

ter alteração no tamanho da matriz. O número de vezes que a hipótese é suportada pelas réplicas é

calculado para cada conjunto de dados para obter valores de “bootstrap” a partir das matrizes de

tamanho variável (Shimodaira, 2002).

2.2.6. Mapeamento de caracteres morfológicos, comportamentais e genético na filogenia

molecular

Oito caracteres que foram utilizados para agrupar ou diagnosticar gêneros de psitacídeos

neotropicais em classificações (Salvadori, 1891; Brereton e Immelmann, 1961; Forshaw, 1989), que

foram considerados em estudos sistemáticos (Smith, 1975), ou que foram apontados como exclusivos

de um grupo (Miyaki e col., 1997) foram mapeados na topologia consenso da análise bayesiana no

programa Mesquite 1.05 (Maddison e Maddison, 2004), para avaliar a informação filogenética dos

mesmos. O mapeamento foi realizado por verossimilhança assumindo a mesma probabilidade de

mudança entre os estados. Os caracteres e seus respectivos estados são: 1) o tamanho da cauda

(Salvadori, 1891); como a definição original desse estado não é clara e envolvia a forma da cauda

também, separamos o tamanho e a forma da cauda e redefinimos os estados do tamanho da seguinte

forma: longa (razão entre comprimento da asa e comprimento da cauda menor que 1,7) ou curta

(razão entre comprimento da asa e comprimento da cauda maior do que 1,8); 2) forma da cauda

(Salvadori, 1891, redefinido como caracter independente do tamanho da cauda no presente trabalho):

acuneada (penas gradualmente maiores das bordas em direção ao centro), ou arredondada (todas as

penas com aproximadamente o mesmo tamanho) (Salvadori, 1891); 3) dimorfismo sexual aparente:

presente ou ausente (Smith, 1975); 4) íris bi-colorida: presente ou ausente (Smith, 1975); 5) coçar a

cabeça com o pé: colocando a perna diretamente para frente por baixo da asa, ou passando o pé

indiretamente sobre a asa (Brereton e Immelmann, 1961); 6) narinas: expostas ou não expostas

Page 44: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

36

(Salvadori, 1891); 7) anel perioftálmico: nu e evidente, ou coberto por penas (Forshaw, 1989); 8)

minissatélites ligados ao cromossomo W: presente ou ausente (Miyaki e col., 1997). A inferência dos

estados ancestrais não foi realizada para o caráter 8, já que o mesmo não foi estudado para alguns

dos táxons considerados na presente hipótese filogenética. Os comprimentos da cauda e da asa foram

obtidos de Forshaw (1989). Os estados para forma da cauda, narinas e anel perioftálmico foram

obtidos da literatura (Salvadori, 1891; Forshaw, 1989) e confirmados em peles de museu (Tabela 2.1).

2.2.7. Tempos de divergência

A hipótese de existência de relógio molecular entre as linhagens de psitacídeos neotropicais

foi testada através do teste de razão de verossimilhança (LRT, “likelihood ratio test”; Posada e

Crandall, 1998) comparando os valores de verossimilhança, da topologia assumindo e não assumindo

o relógio molecular (valores obtidos no PAUP* 4.0b10; Swofford, 2002). Para verificar se as diferenças

nos valores de MV nas diferentes situações é significativa, foi utilizado o teste c2, onde o número de

grau de liberdade foi definido como o número de táxons menos 2. As estimativas dos tempos de

divergência foram obtidas pelos métodos “penalized likelihood” (PL; Sanderson, 2002) e bayesiano

(Thorne e col., 1998; Kishino e col., 2001), que não pressupõem a existência de taxa de evolução

constante ao longo das linhagens. O PL está implementado no programa r8s 1.5 (Sanderson, 2003) e

assume um modelo paramétrico que permite a existência de diferentes taxas de substituição em cada

ramo e uma penalidade não paramétrica (“roughness penality”) que aumenta o custo da taxa de

mudança se as taxas variarem de forma abrupta entre os ramos (Sanderson, 2002). Antes de estimar

os tempos de divergência, uma análise de validação cruzada (Sanderson, 2002) foi realizada no r8s

1.5 (Sanderson, 2003) para determinar o melhor valor do parâmetro de suavização (“smoothing”) para

a penalidade. Os tamanhos de ramo usados foram da topologia obtida pela análise bayesiana,

computada apenas com os genes mitocondriais, pois a seqüência de RAG-1 para Strigops não está

disponível. A estimativa de tempo de divergência por inferência bayesiana foi realizada no multidivtime

(pacote multidistribute, http:// statgen.ncsu.edu/thorne/multidivtime.html), que usa um modelo

probabilístico para descrever as mudanças de taxa de evolução ao longo do tempo e usa a

aproximação MCMC para obter as distribuições posteriores das taxas e tempos (Thorne e col., 1998;

Kishino e col., 2001). Esse método permite que cada gene seja analisado com um modelo evolutivo

independente (Thorne e Kishino, 2002). Inicialmente o programa baseml no pacote PAML 2.0 (Yang,

1997) foi usado para obter as taxas de transição/ transversão, valores dos parâmetros de substituição

pelo modelo evolutivo HKY85g (Hasegawa e col., 1985), e valores do parâmetro a para distribuição

Page 45: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

37

gama de cada gene. Esses dados foram convertidos pelo paml2modelinf do pacote multidistribute para

um formato reconhecido pelo estbranches do pacote multidistribute, que estima os tamanhos de ramo

e seus respectivos valores de variância-covariância. Análises de MCMC foram realizadas no

multidivtime para aproximar os valores de distribuição posterior das taxas de substituição e tempos de

divergência. Os parâmetros iniciais da distribuição a priori foram 9,0 e 0,2 para rttm (média a priori da

data da raiz do grupo interno) e rttmsd (desvio padrão da rttm), respectivamente e 0,094 para rtrate

(média a priori da distribuição da taxa de evolução molecular na raiz do grupo interno, aqui estimada

pelo valor da mediana dos tamanhos de ramo de cada terminal até a raiz sobre o valor da rttm) e

rtratesd (desvio padrão da rtrate). Um grande valor de desvio padrão (rttmsd e rtrates) foi escolhido

para permitir que os genes apresentem uma grande variação nas taxas ao longo do tempo, já que a

informação das taxas a priori é desconhecida (Thorne e Kishino, 2002). Várias simulações foram

realizadas para verificar a convergência do algoritmo MCMC comparando os valores de distribuição

posterior dos tempos de divergência, tamanho de ramo e proporção de mudanças das diferentes

corridas. Esse método aceita amostragem incompleta dos táxons para os diferentes genes, por isso

RAG-1 foi incluído na análise mesmo sem a seqüência de Strigops habroptilus.

Diversos estudos independentes de datação molecular em linhagens de aves apontam a

origem de várias ordens de Neoaves

Page 46: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

38

2.3. Resultados

2.3.1. Análise das seqüências

As amplificações para cada gene resultaram em segmentos de bandas únicas em gel de

agarose, de tamanhos entre 800 a 1.300 pares de bases (pb), que são maiores que a maioria das

possíveis cópias de genes mitocondriais incorporados no núcleo encontrados no genoma de Gallus

gallus (Pereira e Baker, 2004). Além disso, a análise das seqüências codificadoras de proteínas não

indicou códons de parada de leitura dentro dos genes, ou mutações que alterassem o código de leitura

dos aminoácidos. Dada a baixa ocorrência de NUMTs em aves, é improvável que pseudogenes foram

amplificados nesse estudo.

As seqüências concatenadas totalizaram 6.416 pb de comprimento, sendo 2.703 pb de DNA

nuclear e 3.713 pb de DNA mitocondrial (DNAmt). Substituições acumularam de modo proporcional às

distâncias corrigidas nas matrizes dos genes RAG-1, DNAr 12S e DNAr 16S. Ocorre saturação em

genes mitocondriais nas comparações entre psitacídeos e grupos externos de outras ordens de aves e

nas transições dos genes codificadores mitocondriais entre os psitacídeos.

A média entre as distâncias par a par não corrigidas (distância-p) calculadas separadamente

para cada região, sugere que RAG-1 apresenta a taxa de evolução mais lenta (distância-p entre

psitacídeos neotropicais entre 0,04-4%), o que é esperado para um éxon de um gene nuclear

codificador de proteína. Entre os genes mitocondriais, os genes que apresentaram taxa de evolução

mais lenta foram os DNAr 12S (457 pb) e DNAr 16S (518 pb), nos quais a variação foi em torno de 1,1

a 9,2%; seguido dos genes codificadores de proteínas citocromo oxidase III (191 pb) e citocromo b

(888 pb), os quais variaram entre 3,1 a 16,3%; e NADH 2 (892 pb), com variação entre 5 a 20%. Os

genes cujas taxas de substituição foram mais rápidas dentre os estudados são a ATPase 6 (673 pb) e

a ATPase 8 (92 pb), cuja variação foi de 4,3 a 26,1%. As taxas de transição e transversão para os

táxons do grupo interno foram 3,15, 4,33 e 4,26 para o RAG-1, os genes mitocondriais e ambos

concatenados, respectivamente.

A composição de bases de RAG-1 de psitacídeos neotropicais foi: A=31,6-31,9; C=19,7-20,2;

T=24,4-24,9 e G=23,5-23,8. Para a matriz de genes mitocondriais combinados a composição de bases

foi: A=29,8-32,5; C=31,2-34,6; T=21,2-24,5 e G=12,3-14,2. Esses valores estão de acordo com as

porcentagens encontradas para genes nucleares e mitocondriais de outras aves.

Dentre os genes mitocondriais codificadores de proteínas foi detectado um desvio significativo

(p < 0,05) na composição de bases da terceira posição do códon em 14 táxons incluídos na análise

Page 47: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da
Page 48: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

40

Tabela 2.2. Pressão de mutação direcional simétrica (mD) para os genes mitocondriais codificadores de

proteínas. mD < 0,5 e mD > 0,5 representam maior quantidade de A+T e maior quantidade de G+C,

respectivamente. Os valores representam as % de GC observada na seqüência total (Pobs), nos sítios

não sinônimos (Pnon), nos sinônimos (Psin) e na terceira posição do códon (P3). Táxons que

apresentam variação na composição de bases estão representados em negrito.

Táxon mD Pobs Pnon Psin P3

Ara a 0,519 0,460 0,412 0,534 0,474

Primolius 0,523 0,460 0,410 0,537 0,479

Orthopsittaca 0,540 0,472 0,418 0,554 0,489

Cyanopsitta 0,539 0,466 0,409 0,553 0,491

Nandayus 0,508 0,452 0,406 0,524 0,463

Aratinga solstitialis b 0,502 0,447 0,402 0,517 0,459

Aratinga leucophthalmus 0,533 0,467 0,414 0,548 0,493

Aratinga aurea 0,525 0,460 0,408 0,540 0,475

Guarouba 0,519 0,454 0,400 0,535 0,467

Diopsittaca 0,522 0, 458 0,406 0,537 0,470

Cyanoliseus b 0,502 0,448 0,403 0,517 0,462

Anodorhynchus c 0,529 0,462 0,408 0,543 0,479

Enicognathus 0,541 0,468 0,410 0,559 0,489

Rhynchopsitta a, b 0,485 0,444 0,406 0,500 0,435

Pyrrhura a 0,572** 0,481 0,413 0,585 0,523

Deroptyus 0,556** 0,473 0,410 0,570 0,501

Pionites 0,563*** 0,475 0,409 0,577 0,513

Forpus d 0,514 0,455 0,406 0,529 0,458

Graydidascalus a 0,540 0,465 0,407 0,555 0,487

Amazona xanthops 0,535 0,467 0,412 0,549 0,480

Amazona b 0,563*** 0,474 0,406 0,576 0,512

Pionus 0,551** 0,473 0,413 0,565 0,491

Pionopsitta barrabandi 0,519 0,457 0,407 0,534 0,478

Triclaria b 0,520 0,460 0,412 0,535 0,466

Pionopsitta pileata 0,528 0,463 0,411 0,543 0,479

Myiopsitta a 0,470** 0,434 0,402 0,483 0,417

Brotogeris b 0,565*** 0,475 0,408 0,578 0,513

Bolborhynchus 0,541 0,469 0,412 0,555 0,486

Nannopsittaca 0,537 0,466 0,411 0,551 0,477

Cacatua e 0,540 0,470 0,414 0,555 0,486

Melopsittacus d 0,511 0,455 0,409 0,526 0,457

Falco 0,500 0,454 0,415 0,515 0,455a ATP 6, b citocromo b, c ATP 8, d NADH2, e COIII, * p < 0.05, **p < 0.01, *** p < 0.001.

Page 49: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

41

A análise bayesiana das regiões nuclear e mitocondrial concatenadas, assumindo cada gene

como uma partição independente, resultou em uma topologia consenso muito parecida com a obtida

apenas com os genes mitocondriais. Em ambas as topologias três grandes clados foram recuperados

dentre os psitacídeos da região neotropical (Figura 2.2): clado A – periquitos pequenos (Bolborhynchus

e Nannopsittaca), clado B- papagaios, caturritas, curicas e afins (Amazona, Pionus, Graydidascalus,

Pionopsitta, Triclaria, Myiopsitta e Brotogeris) e clado C – araras, marianinhas, tiribas e afins (Ara,

Primolius, Orthopsittaca, Cyanopsitta, Diopsittaca, Guarouba, Nandayus, Aratinga, Anodorhynchus,

Cyanoliseus, Enicognathus, Rhynchopsitta, Pyrrhura, Deroptyus, Pionites e Forpus). A única diferença

foi observada nas relações entre Ara, Primolius e Orthopsittaca. Os primeiros dois gêneros parecem

ser mais proximamente relacionados na matriz combinada, enquanto considerando apenas a partição

de DNAmt, Ara e Orthopsittaca aparecem como grupos irmãos e Primolius agrupa com esse clado. No

entanto, como esperado, o suporte dos nós aumenta significantemente com a inclusão de RAG-1.

A busca por MV recuperou uma topologia muito semelhante à topologia consenso obtida a

partir da análise bayesiana (Figura 2.2), diferindo somente na posição de Pyrrhura que ficou como

grupo irmão de um clado que inclui Rhynchopsitta, Enicognathus, Cyanolyseus, Anodorhynchus,

Guarouba, Diopsittaca, Aratinga, Nandayus, Cyanopsitta, Orthopsittaca, Primolius e Ara e as relações

entre Enicognathus, Rhynchopsitta, Cyanoliseus e Pyrrhura. Ambos “bootstrap” e probabilidades

posteriores apresentaram suporte alto para a maioria dos clados.

No entanto, alguns nós com baixos valores de suporte por “bootstrap” nas análises de MV

apresentam altos valores de probabilidade posterior na análise bayesiana. Por exemplo, o clado que

une Forpus às demais linhagens do grupos das araras, marianinhas e afins apresenta suporte por

“bootstrap” de 61% e probabilidade posterior de 100%. Análises de MV homogênea e não-homogênea

recuperaram a mesma árvore, apenas diferindo nas relações entre Primolius, Ara e Orthopsittaca. No

entanto, as diferenças nas topologias obtidas pelos três métodos não são significativas ao nível 5% de

acordo com o teste AU.

Page 50: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

42

a) b)

Figura 2.1. Reconstrução filogenética por análise bayesiana de psitacídeos neotropicais com base em: a) 2703 pb do gene nuclear RAG-1; b) 3713 pb dosgenes mitocondriais; táxons com desvio significativo na composição de bases dos genes codificadores mitocondriais estão sublinhados. As probabilidadesposteriores estão indicadas nos nós.

Page 51: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

43

Figura 2.2. Reconstrução filogenética por análise bayesiana de psitacídeos neotropicais com base em6416 pares de bases de seqüências de DNA nuclear e mitocondrial. Os números nos nós correspondemaos valores de porcentagem de “bootstrap” de MV acima de 50 % e aos valores de probabilidade posteriordos nós na análise bayesiana, respectivamente. Clados: A- pequenos periquitos; B- papagaios, caturritascuricas e afins; C- araras, marianinhas, tiribas e afins. Ilustrações dos psitacídeos de del Hoyo ecolaboradores (1997).

Page 52: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

44

2.3.3. Mapeamento de caracteres morfológicos, comportamentais e genético na filogenia molecular

Os caracteres morfológicos e comportamentais selecionados apresentam homoplasia quando

mapeados na hipótese filogenética apresentada no presente trabalho (Tabela 2.1; Figura 2.3). A cauda

curta presente nos táxons do clado A, em muitos do clado B e em Forpus e Pionites do clado C, e a cauda

longa presente em Myiopsitta, Brotogeris e Triclaria (clado B) e em muitos táxons do clado C, são

convergentes quando mapeadas na filogenia molecular (Figura 2.3a). A forma arredondada da cauda

(presente em Deroptyus e Pionites) e o dimorfismo sexual (presente em Pionopsitta, Triclaria e Forpus)

provavelmente surgiram independentemente por paralelismo em mais de uma linhagem (Figuras 2.3b e

2.3c). A inferência para o estado ancestral da íris bi-colorida é ambígua e ambos estados ocorrem em

diferentes grupos ao longo da topologia, de forma que esse caráter por si só apresenta pouco valor

sistemático (Figura 2.3d). O estado comportamental de coçar a cabeça passando o pé indiretamente sobre

a asa parece ter surgido em paralelo em Bolborhynchus, Pionopsitta pileata e Forpus (Figura 2.3e). O

estado aparentemente derivado das narinas cobertas por penas surgiu convergentemente, uma vez no

clado B e várias vezes independentemente no clado C (Figura 2.3f). O mapeamento sugere que o anel

perioftálmico nu parece ser o estado ancestral do caráter nos clados, mas o estado coberto por penas

parece ter surgido em paralelo nos três principais clados (Figura 2.3g).

Os minissatélites ligados ao cromossomo W estão presentes nos táxons do grupo das araras,

marianinhas e afins com exceção dos táxons mais basais Pionites, Deroptyus e Pyrrhura e estão ausentes

nos táxons estudados no grupo dos papagaios e afins (Figura 2.3h). No entanto, o estado desse caracter

não é conhecido no grupo mais basal (clado A), em dois táxons do grupo de papagaios e afins (clado B) e

quatro táxons do grupo das araras, marianinhas e afins (clado C).

Page 53: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

45

a) b)

b) d)

Figura 2.3. Mapeamento dos caracteres morfológicos, comportamentais e genéticos na hipótesefilogenética obtida no presente trabalho: a) comprimento da cauda; b) forma da cauda; c) dimorfismosexual aparente; d) íris bi-colorida; e) posição da perna ao coçar a cabeça; f) narinas; g) anel perioftálmico;e h) minissatélites ligados ao cromossomo W. Os círculos coloridos nos nós representam a probabilidadedo estado ancestral (Figuras a-g). Os círculos coloridos nos terminais representam os estados do caráternos táxons atuais.

Page 54: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

46

e) f)

g) h)

Figura 2.3. continuação.

Page 55: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da
Page 56: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

48

Tabela 2.3. Tempos de divergência estimado entre as linhagens de psitacídeos neotropicais (em milhões

de anos, ma). Dados obtidos com o método PL (com nó 1 fixado em 82 e 85 ma) e os respectivos

intervalos de confiança (IC); e com o método bayesiano e os respectivos intervalos de credibilidade (ICr).

Os nós estão indicados na figura 2.4.

PL PL bayesiano

Nó Data IC 95% Data IC 95% Data ICr 95%

1 82 fixado 85 fixado 82,9 (82,0; 84,6)

2 69,8 (66,9; 72,3) 72,3 (69,3; 75,0) 67,6 (60,4; 74,8)

3 62,1 (59,0; 65,1) 64,3 (60,8; 68,5) 59,0 (51,5; 66,8)

4 52,6 (49,3; 59,0) 54,5 (51,0; 57,8) 49,7 (42,5; 57,3)

5 20,3 (17,7; 23,2) 21,0 (18,1; 24,0) 18,4 (13,4; 24,2)

6 50,9 (47,7; 54,1) 52,7 (49,3; 56,0) 48,3 (41,2; 55,9)

7 49,4 (16,2; 52,7) 51,2 (47,7; 54,6) 46,1 (39,0; 53,8)

8 36,7 (33,3; 40,0) 37,9 (34,5; 41,4) 32,5 (25,5; 40,2)

9 40,1 (36,7; 43,6) 41,5 (36,8; 45,1) 39,2 (32,2; 46,6)

10 37,4 (34,0; 40,9) 38,7 (35,2; 42,3) 36,2 (29,7; 43,4)

11 35,7 (32,4; 39,2) 37,0 (33,4; 40,6) 33,2 (26,8; 40,2)

12 28,9 (25,4; 32,4) 29,9 (26,3; 33,6) 24,9 (19,4; 31,1)

13 24,9 (21,6; 28,4) 25,8 (22,4; 29,4) 22,4 (17,0; 28,7)

14 19,7 (16,8; 22,9) 20,4 (17,4; 24,2) 16,6 (11,7; 22,1)

15 48,3 (45,1; 51,6) 50,0 (46,6; 53,4) 46,2 (39,0; 53,8)

16 30,4 (27,6; 33,3) 31,4 (28,6; 34,5) 28,2 (22,5; 34,8)

17 23,1 (20,1; 26,1) 23,9 (20,0; 27,0) 22,3 (16,6; 28,7)

18 25,4 (22,7; 28,3) 26,3 (23,5; 29,3) 25,2 (20,0; 31,2)

19 25,1 (22,4; 28,1) 26,0 (23,1; 29,1) 23,4 (18,1; 29,6)

20 23,3 (20,9; 26,7) 24,1 (21,7; 26,9) 23,4 (19,0; 29,2)

21 22,1 (19,8; 24,6) 22,8 (21,0; 25,6) 22,1 (17,3; 27,5)

22 20,2 (17,9; 22,6) 20,9 (18,7; 23,3) 20,6 (16,1; 25,7)

23 9,4 (7,7; 11,3) 9,7 (7,9; 11,8) 8,9 (6,1; 12,3)

24 18,7 (16,7; 21,1) 19,4 (17,3; 21,8) 19,9 (15,5; 24,9)

25 16,2 (14,3; 18,4) 16,7 (14,7; 19,0) 18,3 (13,9; 23,2)

26 17,8 (15,9; 20,1) 18,4 (16,3; 20,7) 19,0 (14,8; 24,0)

27 4,9 (4,2; 5,8) 5,1 (4,3; 6,0) 5,5 (3,6; 7,7)

28 16,3 (14,4; 18,4) 16,7 (14,9; 19,0) 17,2 (13,0; 22,0)

29 13,9 (12,1; 15,9) 14,4 (12,5; 18,6) 15,0 (11,2; 19,5)

30 12,8 (11,1; 14,8) 13,3 (11,4; 15,3) 13,6 (9,9; 18,0)

Page 57: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

49

Figura 2.4. Cronograma mostrando os tempos de divergência entre linhagens de psitacídeos estimadospelo método bayesiano. As letras correspondem aos nós indicados na tabela 2.3 e seus respectivosintervalos de credibilidade estão indicados pelas barras horizontais. As barras verticais indicam eventospaleogeoclimáticos registrados nos respectivos períodos. A- pequenos periquitos; B- papagaios, caturritas,curicas e afins; C- araras, marianinhas, tiribas e afins.

Page 58: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

50

Os resultados sugerem que essa estratégia melhorou a resolução da topologia e aumentou o

suporte dos ramos, como foi sugerido em outros trabalhos (Poe e Swofford, 1999; Haddrath e Baker, 2001;

Slowinski, 2001; Paton e col., 2002). Além disso, a combinação de partições nuclear e mitocondrial, que

oferecem resolução em diferentes partes da topologia, resultou em uma topologia mais robusta, como

sugerido em uma filogenia de gêneros de cracídeos (Pereira e col., 2002).

A presente análise apontou três grandes clados dentre os psitacídeos neotropicais: pequenos

periquitos dos gêneros Nannopsittaca e Bolborhynchus (clado A); papagaios, caturritas, curicas e afins dos

gêneros Amazona, Pionus, Graydidascalus, Pionopsitta, Triclaria, Myiopsitta e Brotogeris (clado B) e

araras, marianinhas, tiricas e afins dos gêneros Ara, Primolius, Orthopsittaca, Cyanopsitta, Diopsittaca,

Guarouba, Nandayus, Aratinga, Anodorhynchus, Cyanoliseus, Enicognathus, Rhynchopsitta, Pyrrhura,

Deroptyus, Pionites e Forpus (clado C). Apenas cinco gêneros não puderam ser incluídos, pois o DNA

extraído de pele dos gêneros Touit e Ognorhynchus não resultaram em amplificações de boa qualidade e

as amostras dos gêneros Hapalopsittaca, Leptosittaca e Psilopsiagon não estavam disponíveis.

Embora os clados B e C são semelhantes aos obtidos em estudos filogenéticos anteriores

empregando amostragem de táxons mais incompleta (Miyaki e col., 1998, Tavares e col., 2004, de Kloet e

de Kloet, 2005), os resultados apresentados no presente trabalho sugerem que os pequenos periquitos são

grupo irmão de todos os demais táxons. Adicionalmente, a ausência de monofiletismo de Aratinga,

Amazona e Pionopsitta, apontada em estudos anteriores, foi corroborada no presente estudo (Tavares e

col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Russello e Amato, 2004; Ottens-Wainright e col., 2004; Ribas e col.,

2005).

Em comparação com propostas de classificação mais antigas, que assumiam agrupamentos entre

gêneros de psitacídeos neotropicais, incluindo ou não táxons de outras regiões geográficas, nossos

resultados não sustentam a proposta de classificação de Brereton (1963) que agrupa na família Forpidae

Bolborhynchus, Nannopsittaca, Forpus e Psilopsiagon, porque na presente reconstrução, Forpus agrupa

com táxons do clado C, que por sua vez agrupam com o clado B. Os clados B e C apresentam algumas

similaridades e diferenças com os grupos Pioninae/ Conurinae (Salvadori, 1891) e Amazoninae/ Arinae

(Verheyen, 1956). Os grupos Pioninae (Salvadori, 1891) e Amazoninae (Verheyen, 1956) possuem

composição semelhante e ambos incluem os táxons do clado dos papagaios e afins (clado B) com exceção

de Myiopsitta e Brotogeris. Além disso, tais grupos incluem os táxons Pionites, Deroptyus (incluídos no

clado C), Touit e Hapalopsittaca (não amostrados no presente trabalho). Pioninae (Salvadori, 1891)

também inclui o gênero africano Poicephalus. Conurinae (Salvadori, 1891) e Arinae (Verheyen, 1956)

também são grupos de composição semelhante e ambos incluem os táxons do clado C, exceto Deroptyus

Page 59: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

51

e Pionites. Além disso, Conurinae (Salvadori, 1891) e Arinae (Verheyen, 1956) incluem Nannopsittaca,

Bolborhynchus (pertencentes ao clado A no presente trabalho), Psilopsiagon, Leptossitaca e

Ognorhynchus (não amostrados no presente trabalho). Smith (1975) considerou que as sugestões de

grupos de gêneros neotropicais propostos nas classificações anteriores (Salvadori 1890; Verheyeyen,

1956; Brereton, 1963) não refletiam a evolução do grupo, e por falta de evidências, preferiu não aceitar

agrupamentos dentre os gêneros da tribo Arini. Um dos argumentos citados pelo autor (Smith, 1975) foi o

fato de Deroptyus e Pionites (família Pioninae e Amazoninae) apresentarem similaridades em

comportamento com Pyrrhura e Aratinga (família Conurinae e Arinae). Apesar de tais similaridades

comportamentais não terem sido detalhadamente descritas e comparadas com os demais táxons, na

presente reconstrução filogenética, Deroptyus e Piontes pertencem ao clado C, o qual inclui Pyrrhura e

Aratinga. O clado fomado por Deroptyus e Pionites, proposto no presente trabalho, está de acordo com

observações de campo que sugerem que ambos os gêneros apresentam o canto “keeya” e compartilham

aspectos no comportamento reprodutivo (McLoughlin e Burton, 1976), porém, esses caracteres ainda não

foram estudados por uma abordagem cladística.

2.4.2. Mapeamento de caracteres morfológicos, comportamentais e genéticos na hipótese

filogenética

Nenhum dos caracteres morfológicos mapeados na hipótese filogenética proposta no presente

trabalho apresentou estados exclusivos para um único grupo. O tamanho e a forma da cauda foram os

principais caracteres adotados para definir grupos de gêneros dentre os psitacídeos neotropicais em

classificações mais antigas (Salvadori, 1890; Verheyen, 1990). Propostas mais recentes (Smith, 1975;

Forshaw, 1989; Collar, 1997) não consideram os agrupamentos com base nesses caracteres. No entanto,

a importância do tamanho e forma da cauda foram levantados novamente em um estudo molecular, onde a

variação dos estados de caráter da cauda concordaram com as relações filogenéticas inferidas com base

em táxons de nove gêneros amostrados (Miyaki e col., 1998). Quando esses caracteres foram mapeados

na presente hipótese filogenética, que possui uma amostragem mais completa de táxons, eles

apresentaram convergência (Figura 2.3a e 2.3b). Dessa forma, o uso desses caracteres na diagnose de

grupos monofiléticos dentre os psitacídeos neotropicais deve ser descontinuado.

Os minissatélites ligados ao cromossomo W podem ser informativos, uma vez que podem estar

presentes em um sub-clado do clado C, excluindo os táxons mais basais Forpus, Deroptyus, Pionites e

Pyrrhura (Figura 2.3h). No entanto, como o caracter não foi estudado para alguns dos táxons pertencentes

à tribo Arini, qualquer conclusão pode ser prematura.

Page 60: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da
Page 61: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

53

florestas tropicais na América do Sul (Burnham e Johnson, 2004; Rull, 1999; Jaramillo e Dilcher, 2000; Wilf

e col., 2003). Além disso, muitas das linhagens atuais desse clado estão associadas com ambientes

florestais. Portanto, os papagaios e afins podem ter evoluído exclusivamente na América do Sul,

associados a esses ambientes.

No início do Oligoceno, uma expansão de áreas abertas e savanas pode ter acontecido na

América dos Sul. As evidências dessa aridificação são o registro de diversificação de plantas de ambientes

secos nesse período (Pennington e col., 2004) e o registro fóssil animal com uma fauna de mamíferos

dominada por herbívoros hipsodontes, que em geral são associados a ambientes de savana (Flynn e

Wyss, 1997). A aridificação da América do Sul foi atribuída ao soerguimento da porção central dos Andes,

que impediu a passagem das correntes úmidas do Pacífico para o interior do continente (Hooghiemstra e

van der Hammer, 1998). Possivelmente, a grande diversificação (entre 22-34 ma) do grupo das araras,

maracanãs e afins (clado C), ocorreu em resposta a essa diversificação de ambientes secos, uma vez que

muitas linhagens atuais desse grupo ocupam ambientes com características semelhantes.

Apesar de não haver evidências a partir dos dados apresentados aqui, ou a partir de outras fontes,

membros dos clados dos pequenos periquitos (clado A) e do clado das araras, maracanãs e afins (clado C)

poderiam estar ocupando o sul da América do Sul e não dispersaram para a porção norte do continente até

o Oligoceno, devido à presença de um mar transcontinental formado no sul da Argentina e do Chile

(Romero, 1986; Smith e col., 1994), que poderia ter atuado como uma barreira para a sua dispersão.

Alternativamente, os ancestrais desses dois grupos poderiam ser remanescentes de linhagens que

inicialmente ocorriam na Antártica e que teriam sido impulsionados para a América do Sul, à medida que a

Antártica migrou mais para o sul e se tornou um continente incrustrado por gelo (Shevenall e col., 2004;

Dingle e Lavelle, 1998). Uma redução drástica do nível do mar aconteceu em conseqüência da formação

da calota polar Antártica, o que poderia ter facilitado a invasão da América do Sul, como foi sugerido para

alguns grupos de mamíferos (Flynn e Wyss, 1997). Um padrão muito semelhante de cladogênese

diferenciada entre dois grupos também foi descrito para Passeriformes neotropicais suboscines (Ericson e

col., 2003). A família Furnariidae apresenta uma filogenia bem resolvida, enquanto os internós em

Tyrannidae são muito curtos, indicando indicando uma rápida radiação (Ericson e col., 2003).

Apesar de não ter sido possível incluir amostras de psitacídeos africanos no presente estudo, a

sua posição filogenética não afeta a interpretação biogeográfica da evolução dos psitacídeos neotropicais.

Estudos anteriores sugeriram que os psitacídeos africanos não são monofiléticos e podem ter invadido a

África duas vezes, uma via sudoeste da Ásia e outra, via América do Sul (de Kloet, de Kloet, 2005). O

grupo que teria dispersado para a África a partir da América do Sul seria grupo irmão dos psitacídeos

Page 62: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

54

neotropicais (Barrowclough e col., 2004; de Kloet, de Kloet, 2005). Como estimamos a separação de um

gênero do clado australasiático (Melopsittacus undulatus) dos neotropicais entre 51-66 ma e primeira

cladogênese dentre os neotropicais entre 42-57 ma (Tabela 2.3), a invasão da África pelas linhagens da

América do Sul pode ter ocorrido entre 42-66 ma, período no qual a África já se encontrava isolada do

supercontinente formado pela Antártica-Austrália-América do Sul. Além disso, reforçaria a hipótese de que

linhagens dos psitacídeos encontravam-se distribuídos ao longo do supercontinente, antes da primeira

diversificação do grupo neotropical.

As estimativas de tempo de divergência entre psitacídeos neotropicais realizadas anteriormente

empregavam métodos que não levam em conta a taxa de variação entre as linhagens. Por exemplo, Miyaki

e colaboradores (1998) e Tavares e colaboradores (2004) utilizaram o método de linearização de árvore

(Takezaki e col., 1995), que avalia a presença de táxons que evoluem sob uma taxa significantemente

diferente da média da amostra sendo estudada e exclui esses táxons da análise. A calibração utilizada

para o relógio molecular nesses estudos foi a separação entre Galliformes e Anseriformes dos demais

neognatos, estimada em 100 ma. Tavares e colaboradores (2004) também empregaram a taxa padrão

estimada para o genoma mitocondrial de aves, de 2% de substituição de nucleotídeos/ ma. O mesmo

processo foi utilizado para estimar tempos de divergência entre espécies de psitacídeos, porém aplicando

taxas de 1,6-2,0% de substituição de nucleotídeos/ ma (Ribas e Miyaki, 2004; Ribas e col., 2005). Em

geral, essas estimativas resultaram em tempos de divergência mais recentes do que os tempos estimados

no presente estudo. Acreditamos que a aproximação realizada no presente trabalho é mais adequada do

que as realizadas anteriormente (Miyaki e col., 1998; Tavares e col., 2004) porque não assume a hipótese

de existência de um relógio molecular estrito, permitindo haver variação de taxa ao longo das linhagens.

Além disso, incorpora na análise a incerteza nos tamanhos de ramo e tempos estimados e foi realizada

com base em uma hipótese filogenética cujos nós são melhor resolvidos. A utilização de um ponto de

calibração geológico independente (a separação da Nova Zelândia dos demais continentes da Gondwana)

permite que as taxas sejam estimadas a partir dos dados, ao invés de assumir taxas estimadas a partir de

outras linhagens de aves (Lovette, 2004).

Page 63: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

55

2.5. Referências

Arbobast, B.S, Edwards, S.V., Wakeley, J., Beerli, P. ,Slowinski, J.B., 2002. Estimating divergence times

from molecular data on phylogenetic and population genetic timescales. Annu. Rev. Ecol. Syst. 33,

707–740.

Barrowclough, G.F., Groth, J.G., Mertz, L.A., 2004. Phylogenetic relationships among parrots. One Hundred

and Twenty-Second Stated Meeting of the American Ornithologist’s Union. 16 – 21 August, Laval,

Quebec.

Boetticher, H.von, 1943. Gedanken “uber die systematic Stellung einiger Papagaien. Zool. Anz. 143, 191-

200.

Boetticher, H.von, 1959. Papagaien. Wittenberg Lutherstadt, A. Ziemsen.

Brereton, J.L., 1963. Evolution within the Psittaciformes. Proc. Internatl. Ornitol. Congr. 13, 499-517.

Brereton, J.L., Immelmann, K., 1962. Head-scratching in the Psittaciformes. Ibis 104, 169-174.

Brodkorb, P. 1964. Catalogue of fossil birds, part 2 (Anseriformes through Galliformes). Bull. Florida State

Mus. Biol. Sci. 8, 195-335.

Bruford, M.W., Hanotte, O. Brookfield, J.F.Y., Burke, T., 1992. Single-locus and multilocus DNA

fingerprinting. In: Hoelzel, A.R. (Ed.), Molecular Genetic Analysis of Populations- A Practical

Approach, IRL Press, Oxford University Press, New York, Pp. 225-269.

Burnham, R.J., Johnson, K.R., 2004. South American paleobotany and the origins of neotropical

rainforests. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B 359, 1595-1600.

Chang, B.S.W., Campbell, D.L., 2000. Bias in phylogenetic reconstruction of vertebrate rhodopsin

sequences. Mol. Biol. Evol. 17, 1220–1231.

Collar, N.J., 1997. Family Psittacidae (Parrots). In: del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J.(Eds.) Handbook of

the Birds of the World, vol. 4. Sandgrouse to Coockos. Lynx Edicións, Barcelona, Pp. 280-477.

Cooper, A., Penny, D., 1997. Mass survival of birds across the Cretaceous-Tertiary boundary: molecular

evidence. Science 275:1109–1113.

Cooper, R.A., Millener, P., 1993. The New Zealand biota: historical background and new research. Trends

Ecol. Evol. 8, 429-433.

Cracraft, J., 1973. Continental drift, paleoclimatology and the evolution and biogeography of birds. J. Zool.

169, 455-545.

Cracraft, J., 2001. Avian evolution, Gondwana biogeography and the Cretaceous–Tertiary mass extinction

event. Proc. R. Soc. Lond. B 268, 459–469.

Page 64: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

56

Crowe TM, Short LL. 1992. A new gallinaceous bird from the Oligocene of Nebraska, with comments on the

phylogenetic position of the Gallinuloididae. Contrib. Sci. Natl. Hist. Museum Los Angeles County 36,

179–185.

de Kloet, R.S. e de Kloet, S.R., 2005. The evolution of the spindlin gene in birds: sequence analysis of an

intron of the spindlin W and Z gene revealed four major divisions of the Psittaciformes. Mol. Phylol.

Evol. (in press).

del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J.(Eds.), 1997. Handbook of the Birds of the World, vol. 4. Sandgrouse to

Coockos. Lynx Edicións, Barcelona.

Desjardins, P., Morais, R., 1990. Sequence and gene organization of the chicken mitochondrial genome: a

novel gene order in higher vertebrates. J. Mol. Biol. 212, 599-634.

Dingle, R.V., Lavelle, M., 1998. Late Cretaceous- Cenozoic climatic variations of the northern Antarctica

Peninsula: new geochemical evidence and review. Paleogeog. Paleoclimat. Paleoecol. 141, 215-

232.

Dyke, G.J., 2001. The evolutionary radiation of modern birds: systematics and patterns of diversification.

Geol. J. 36, 305-315.

Eberhard, J.R., Bermingham, E., 2004. Phylogeny and biogeography of the Amazona ochrocephala (Aves:

Psittacidae) complex. Auk 121, 318-332.

Effron, B., 1979. Bootstrap methods: another look at the jackknife. Ann. Statistics 7, 1-26.

Ericson, P.G.P., Irestedt, M., Johansson, U.S., 2003. Evolution, biogeography, and patterns of

diversification in passerine birds. J. Avian Biol. 34, 3-15.

Felsenstein, J., 1985. Confidence limits on phylogenies: an approach using the bootstrap. Evolution 39,

783-791.

Flynn, J.J., Wyss, A.R., 1998. Recent advances in South American mammalian paleontology. Trends Ecol.

Evol. 13, 449-454.

Forshaw, J., 1989. Parrots of the World, third ed. Landsdowne Editions, Melbourne.

Foster, P.G., Hickey., D.A., 1999. Compositional bias may affect both DNA-based and protein-based

phylogenetic reconstructions. J. Mol. Evol. 48, 284–290.

Galtier, N., Gouy, M., 1998. Inferring pattern and process: maximum likelihood implementation of a

nonhomogenous model of DNA sequence evolution for phylogenetic analysis. Mol. Biol. Evol. 15,

871–879.

Page 65: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

57

Griffiths, C.S., Barrowclough, G.F., Groth, J.G., Mertz, L., 2004. Phylogeny of the Falconidae (Aves): a

comparison of the efficacy of morphological, mitochondrial, and nuclear data. Mol. Phylogenet. Evol.

32, 101-109.

Groth, J.G., Barrowclough, G.F., 1999. Basal divergence in birds and the phylogenetic utility of the nuclear

RAG-1 gene. Mol. Phylogenet. Evol. 12, 115–123.

Haddrath, O., Baker., A.J., 2001. Complete mitochondrial DNA genome sequences of extinct birds: ratite

phylogenetics and the vicariance biogeography hypothesis. Proc. R. Soc. Lond. B 268, 939–945.

Hagelberg, E., 1994. Mitochondrial DNA from ancient bones. In: Herrmann, B., Hummel, S., (Eds.) Ancient

DNA, New York, Pp. 195-204.

Harrison, G.L., McLenachan, P.A., Phillips, M.J., Slack, K.E., Cooper, A., Penny, D., 2004. Four new avian

mitochondrial genomes help get to basic evolutionary questions in the Late Cretaceous. Mol. Biol.

Evol. 21, 974-983.

Hasegawa, M., Kishino H., Yano, T., 1985. Dating of the human-ape splitting by a molecular clock of

mitochondrial DNA. J. Mol. Evol. 22, 160-174.

Hedges, S.B., Parker, P.H., Sibley, C.G., Kumar, S., 1996. Continental breakup and the ordinal

diversification of birds and mammals. Nature 381, 226–229.

Hooghiemstra H., van der Hammen, T., 1998. Neogene and Quaternary development of the Neotropical

rain forest: the forest refugia hypothesis, and a literature overview. Earth Sci. Rev. 44, 147–183.

Irestedt, M., Johansson, U.S., Parsons, T.J., Ericson, P.G.P., 2001. Phylogeny of the major lineages of

suboscines (Passeriformes) analysed by nuclear DNA sequence data. J. Avian. Biol. 32, 15-25.

Jaramillo, C.A., Dilcher, D.L., 2000. Microfloral diversity patterns of the late Paleocene–Eocene interval in

Colombia, northern South America. Geology 28, 815-818.

Jermiin, L.S., Foster, P.G., Graur, D., Lowe, R.M., Crozier, R.H., 1996. Unbiased estimation of symmetrical

directional mutation pressure from protein-coding DNA. J. Mol. Evol. 42, 476-480.

Kishino, H., Thorne, JL. Bruno, W.J., 2001. Performance of a divergence time method under a probabilistic

model of rate evolution. Mol. Biol. Evol. 18, 352-361.

Kocher, T.D., Thomas, W.K., Meyer, A., Edwards, S.V., Paabo, S., Villablanca, F.X., Wilson, A.C., 1989.

Dynamics of mitochondrial DNA evolution in animals: amplification and sequencing with conserved

primers. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 86, 6196–6200.

Lockhart, P.J., Steel, M.A., Hendy, M.D., Penny, D., 1994. Recovering evolutionary trees under a more

realistic model of sequence evolution. Mol. Biol. Evol. 11, 605–612.

Lovette, I.J., 2004. Mitochondrial dating and mixed support for the “2% rule” in birds. Auk, 121, 1-6.

Page 66: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

58

Maddison, W.P., Maddison, D.R., 2000. MacClade 4: Analysis of phylogeny and character evolution.

Sinauer Associates, Sunderland, Massachusetts.

Maddison, W.P., Maddison, D.R., 2004. Mesquite: a modular system for evolutionary analysis. Version 1.05

http://mesquiteproject.org.

MacLoughlin, E., Burton, P.J.K., 1976. Notes on the Hawk-headed parrot Deroptyus accipitrinus. Bull. B. O.

C. 96, 68-72.

Mindell, D.P, Sorenson, M.D., Dimcheff. D.E., 1998. Multiple independent origins of mitochondrial gene

order in birds. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 95, 10693-10697.

Miyaki, C.Y., Duarte, M.B., Caparroz, R, Nunes, A.L., Wajntal, A., 1997. Sex identification of South

American parrots (Psittacidae, Aves) using the human minisatellite probe 33.15. AUK 114, 516-520.

Miyaki, C.Y., Matioli, S.R., Burke, T., Wajntal, A., 1998. Parrot evolution and paleogeographical events:

mitochondrial DNA evidence. Mol. Biol. Evol. 15, 544–551.

Nahum, L.A., Pereira, S.L, Fernandes, F.M.C., Matioli, S.R., Wajntal, A., 2003. Diversification of

Ramphastinae (Aves, Ramphastidae) prior to the Cretaceous/Tertiary boundary as shown by

molecular clock of mtDNA sequences. Gen. Mol. Biol. 26, 411-418.

Ottens-Wainright, P., Halanych, K.M., Eberhard, J.R., Burke, R.I., Wiley, J.W., Gnam, R.S., Aquilera, X.G.,

2004. Independent origins of the genus Amazona in the West Indies. J. Caribbean Ornit. (special

issue), 23-49.

Paton, T., Haddrath, O., Baker, A.J., 2002. Complete mitochondrial DNA genome sequences show that

modern birds are not descended from transitional shorebirds. Proc. R. Soc. Lond. B 269, 839–846.

Penhallurick, J., 2001. Primolius Bonaparte, 1857 has priority over Propyrrhura Ribeiro, 1920. Bull. Brit.

Orn. C. 121, 38-39.

Pennington, R.T., Lavin, M. Prado, D.E. Pendry, C.A, Pell, S.K., Butterworth, C.A., 2004. Historical climate

change and speciation: neotropical seasonally dry forest plants show patterns of both Tertiary and

Quaternary diversification. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B. 359, 515-537.

Penny, D., Hendy, M.D., Zimmer, E.A, Hamby, R.K., 1990. Trees from sequences: Panacea or Pandora’s

box? Aust. Syst. Bot. 3, 21-38.

Pereira, S.L., Baker, A.J., 2004. Low number of mitochondrial pseudogenes in the chicken (Gallus gallus)

nuclear genome: implications for molecular inference of population history and phylogenetics. BMC

Evol. Biol. 4, 17.

Pereira, S.L., Baker, A.J., Wajntal, A., 2002. Combined nuclear and mitochondrial DNA sequences resolve

generic relationships within the Cracidae (Galliformes, Aves). Syst. Biol. 51, 946–958.

Page 67: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

59

Poe, S., Swofford D.L., 1999. Taxon sampling revisited. Nature 398, 299-300.

Poole, I., Hunt, R.J., Cantrill, D.J., 2001. A fossil wood flora from King George Island: ecological implications

for an Antarctic Eocene vegetation. Ann. Bot. 88, 33-54.

Posada, D., Crandall, K.A., 1998. Modeltest: testing the model of DNA substitution. Bioinformatics 14, 817-

818.

Ribas, C.C., Miyaki, C.Y., 2004 Molecular systematics in Aratinga parakeets: species limits and historical

biogeography in the solstitialis group, and the systematic position of Nandayus nenday. Mol.

Phylogenet. Evol. 30, 663–675.

Ribas. C.C., Gaban-Lima, R., Miyaki, C.Y., Cracraft, J., 2005. Historical biogeography and diversification

within the Neotropical parrot genus "Pionopsitta" (Aves; Psittacidae). J. Biogeog. 32, 1409-1427.

Romero, E.J., 1986, Paleogene phytogeography and climatology of South America. Miss. Bot. Gard. Ann.

73, 449–461.

Ronquist F.R., Huelsenbeck, J.P.H., 2003. MRBAYES: Bayesian inference of phylogeny. Bioinformatics 19,

1572–1574.

Rowley, I., 1997. Family Cacatuidae (cockatoos). In: del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J. (Eds.) Handbook

of the Birds of the World, vol. 4, Lynx Editions, Barcelona, Pp. 246-279.

Rull, V., 1999. Palaeofloristic and palaeovegetational changes across the Paleocene-Eocene boundary in

northern South America. Rev. Palaeobot. Palynol. 107, 83-95.

Russello, M.A., Amato, G., 2004. A molecular phylogeny of Amazona: implications for Neotropical parrot

biogeography, taxonomy, and conservation. Mol. Phylogenet. Evol. 30, 421-437.

Salvadori, T., 1891. Catalogue of Psittaci, or Parrots, in the Collection of the British Museum. Longman and

Company, London.

Sanderson, M.J., 2002. Estimating absolute rates of molecular evolution and divergence times: a penalized

likelihood approach. Mol. Biol. Evol. 19, 101–109.

Sanderson, M.J., 2003. r8s: inferring absolute rates of molecular evolution and divergence times in the

absence of a molecular clock. Bioinformatics 19, 301-302.

Schmidt, H.A., Strimmer, K., Vingron, M., von Haeseler, A., 2002. Maximum likelihood phylogenetic analysis

using quartets and parallel computing. Bioinformatics 18, 502-504.

Shevenall, A.E., Kennett, J.P., Lea, D.W., 2004. Middle Miocene Southern ocean cooling and Antarctica

cryosphere expansion. Science 305, 1766-1770.

Shimodaira, H., 2002. An approximately unbiased test of phylogenetic tree selection. Syst. Biol. 51, 492-

508.

Page 68: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 2

60

Shimodaira, H., Hasegawa, M., 2001. CONSEL: for assessing the confidence of phylogenetic tree

selection. Bioinformatics 17, 1246-7.

Sick, H., 1997. Ornitologia Brasileira, segunda ed., Editora Nova Fronteira S. A., Rio de Janeiro.

Slowinski, J.B., 2001. Molecular polytomies. Mol. Phylogenet Evol. 19, 114-120.

Smith, A.G., Smith, D.G., Funnell, B.M., 1994. Atlas of Mesozoic and Cenozoic coastlines, Cambridge,

Cambridge University Press.

Smith, G.A., 1975. Systematics of parrots. Ibis 117, 18-68.

Swofford, D.L., 2002. PAUP*: Phylogenetic analysis using parsimony (*and related methods). Version 4.

Sinauer Associates, Sunderland, MA.

Takezaki, N., Rzhetsky, A., Nei, M., 1995. Phylogenetic test of molecular clock and linearized trees. Mol.

Biol. Evol. 12, 823-833.

Tavares, E.S., Yamashita, C., Miyaki, C.Y., 2004. Phylogenetic relationships among some Neotropical

parrot genera (Psittacidae) based on mitochondrial sequences. Auk 121, 230-242.

Thorne, J.L., Kishino, H., 2002. Divergence time and evolutionary rate estimation with multilocus DNA data.

Syst. Biol. 51, 689-702.

Thorne, J.L., Kishino, H., Painter, I.S., 1998. Estimating the rate of evolution of the rate of molecular

evolution. Mol. Biol. Evol. 15, 1647-1657.

Van Tuinen, M., Dyke, G.J., 2004. Callibration of Galliform molecular clocks using multiple fossils and

genetic partitions. Mol. Phylogenet. Evol. 30, 74-86.

Van Tuinen, M., Hedges, S.B., 2001. Calibration of avian molecular clocks. Mol. Biol. Evol. 18, 206-213.

Verheyen, R., 1956. Analyse du potentiel morphologique et projet d’une nouvelle classification des

Psittaciformes. Bull. Inst. R. Sci. Nat. Belg. 32, 54pp.

Wilf, P. Cúneo, N.R., Johnson, K.R., 2003. High plant diversity in Eocene South America: evidence from

Patagonia. Science 300, 122-125.

Woodburne, M.O., Case J.A., 1996. Dispersal, vicariance, and the Late Cretaceous to early Tertiary land

mammal biogeography from South America to Australia. Jour. Mamm. Evol. 3, 121-161.

Yang, Z., 1997. Phylogenetic analysis by maximum likelihood (PAML), version 2.0. Univ. Carlifornia,

Berkeley.

Page 69: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

Evolução da organização dos genes mitocondriais ao

redor da região controladora em psitacídeos

neotropicais (tribo Arini)

Page 70: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

62

3.1. Introdução

A maioria dos genomas mitocondriais de vertebrados inclui 22 genes para RNA transportadores

(RNAt), 13 genes codificadores de proteínas, dois genes para RNA ribossomal (RNAr) e uma região não

codificadora (região controladora, RC) e inicialmente se acreditava que a organização desses genes

(Figura 3.1a) era extremamente conservada (Quinn, 1997; Boore, 1999). No entanto, o aumento do

número de genomas sequenciados revelou variações dessa organização em várias linhagens de

vertebrados, principalmente envolvendo RNAt, como por exemplo, em marsupiais, cobras cegas, rãs e

lagartos (Pääbo e col., 1991; Kumazawa e Nishida, 1995; Macey e col., 1997; Saccone e col, 1999; Boore

e col., 1995; Boore, 1999). O primeiro genoma mitocondrial de uma ave a ser completamente sequenciado

(Gallus gallus; Desjardins e Morais, 1990) revelou um arranjo único dentre os vertebrados (Figura 3.1b).

Com o aumento no número de seqüências determinadas, esse arranjo de genes (aqui denominado

“comum”) foi evidenciado ser muito freqüente em aves (Marshall e Baker, 1997; Mindell e col. 1998; Härlid

e col., 1998; Haddrath e Baker 2001; Paton e col., 2002; Slake e col., 2003). No entanto, um outro arranjo

gênico (aqui denominado “alternativo”; Figura 3.1c) foi descrito em alguns táxons (Mindell e col., 1998;

Bensch e Härlid, 2000).

Mecanismos distintos podem explicar diferentes processos de rearranjo gênico. Por exemplo, em

insetos Hymenoptera alguns rearranjos de genes são melhor explicados por recombinação (Dowton e col.,

2003), para vários rearranjos em vertebrados foi proposto um mecanismo de duplicação e deleção

aleatória de genes (Moritz e col., 1986, 1987; Macey e col. 1997; Holt e col., 1997). Posteriormente, para

dois gêneros de Diplopoda foi proposto um mecanismo de duplicação e deleção não aleatória de genes

(Lavrov e col., 2002).

O mecanismo pelo qual a organização dos genes comum em aves sugiu a partir da ordem típica

em vertebrados não foi eluciado, mas dois modelos foram propostos. O arranjo comum em aves (Figura

3.1b), poderia ter surgido a partir do arranjo de genes comum em vertebrados (Figura 3.1a) pelo

mecanismo de RNAt atuando como primer ilícito na recombinação, onde o RNAtGlu ou o RNAtPro ligaria-se

na origem da replicação da molécula e não seria isolado na nova fita de DNA sintetizada no processo,

junto com os genes adjacentes. O segmento NADH6/ RNAtGlu ou o citocromo b/ RNAtThr/ RNAtPro, seria

incorporado no próximo ciclo de replicação em uma posição diferente (Desjardins e Morais, 1990).

Page 71: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

63

Figura 3.1. Ordem dos genes ao redor da região controladora (fora de escala). a) ordem comum emvertebrados (Boore, 1999) ; b) ordem comum em aves (Desjardins e Morais, 1990); c) ordem alternativa emaves (Mindell e col. 1998); d) ordem nos gêneros de psitacídeos Amazona e Pionus (Eberhard e col.,2001); e e) possível ordem nos gêneros de psitacídeos Deroptyus e Pionites. Os “primers” usados paraamplificação estão indicados nos mapas da ordem gênica correspondente. Os segmentos numeradoscorrespondem a regiões amplificadas nos táxons indicados na Tabela 2.1. NADH5- nicotinamida adeninadinucleotídeo desidrogenase subunidade 5; NADH6- nicotinamida adenina dinucleotídeo desidrogenasesubunidade 6; GLU- RNAtGlu; cit. b – citocromo b, THR- RNAtThr, PRO- RNAtPro, RC – região controladora;nc – região não codificadora, PHE - RNAtPhe, nc- região não-codificadora; ψ ND6- pseudo NADH6, ψ GLU-pseudo RNAt Glu; ψ PRO- pseudo RNAtPro.

Alternativamente, pelo modelo de duplicação e perda subseqüente de genes, o segmento NADH6/

RNAtGlu/ citocromo b/ RNAtThr/ RNAtPro da ordem típica em vertebrados seria duplicado durante a

replicação, por formação de estrutura secundária na nova fita sintetizada durante o processo, ou por erro

de pareamento no início ou final da replicação. Essa duplicação seria então incorporada na molécula por

um novo ciclo de replicação. A deleção de um segmento NADH6/ RNAtGlu entre os genes NADH5 e

Page 72: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

64

citocromo b e um segmento de citocromo b/ RNAtThr/ RNAtPro antes da RC geraria a ordem comum em

aves (Figura 3.1b; Desjardins e Morais, 1990; Quinn, 1997).

A organização alternativa em aves (Figura 3.1c) poderia ter se originado a partir da organização

mais comum de aves pela duplicação em tandem do segmento RNAtPro/ NADH6/ tRNAGlu/ RC, seguido de

perdas subsequentes de uma das cópias dos genes tRNAPro/ NADH6/ e RNAtGlu e, na maioria dos casos,

da RC ou parte da mesma (Mindell e col., 1998; Boore e col., 1999; Bensch e Härlid, 2000). A presença de

uma região não codificadora que apresenta grande similaridade com a RC (Figura 3.1c), sugere que esse

evento deve ser relativamente recente, reforçando a hipótese de que essa organização de genes em aves

teria origem a partir de eventos de duplicação e subsequente perda de segmentos duplicados (Mindell e

col., 1998; Bensch e Härlid, 2000). Essa idéia foi ainda mais reforçada com a caracterização dessa mesma

região em psitacídeos neotropicais dos gêneros Amazona e Pionus (Eberhard e col., 2001). Esses táxons

também apresentam a ordem alternativa em aves, mas nesse caso, ambas as RC sequenciadas

apresentam as regiões conservadas como os blocos F, D, C e CBS-1, e antes da primeira RC, apresentam

pseudogenes que são similares às seqüências de RNAtGlu e NADH6 (Figura 3.1d).

Assumir que organização alternativa se originou a partir de um único evento de rearranjo de genes

implicaria em aceitar a existência de um grupo monofilético de aves formado por Falconiformes, Cuculidae

(Cuculiformes), Picidae (Piciformes) e Suboscines (Passeriformes), excluindo desse grupo outras famílias

dessas mesmas ordens como Musophagidae (Cuculiformes), Bucerotidae (Piciformes) e Oscines

(Passeriformes), o que estaria em desacordo com reconstruções filogenéticas bem sustentadas obtidas

com dados morfológicos e moleculares diversos (Mindell e col., 1998). Assim, foi proposto que o arranjo

gênico alternativo (Figuras 3.1c e 3.1d) se originou por vários eventos em linhagens independentes

(Mindell e col., 1998). A princípio, acreditou-se que a ordem gênica poderia ser um caráter diagnóstico em

níveis taxonômicos como subordens ou famílias, por exemplo, para as subordens Oscines (ordem comum)

e Suboscines de Passeriformes (Mindell e col., 1998). No entanto, dados mais recentes evidenciaram a

existência do arranjo alternativo em várias espécies gênero Phylloscopus (Oscines), sugerindo que esses

eventos também acontecem em níveis taxonômicos mais baixos e portanto, a validade do carácter para

inferência filogenética é questionável (Bensch e Härlid, 2000). Em Phylloscopus a similaridade entre a RC

e a região não-codificadora de cada espécie é menor que a similaridade das RC entre espécies próximas,

o que corrobora a hipótese de ter ocorrido um único evento de rearranjo gênico em um ancestral comum

do grupo (Bensch e Härlid, 2000). A similaridade entre ambas as RC do mesmo táxon em espécies e

subespécies do gênero Amazona e no táxon Pionus chalcopterus, em geral, foi maior do que entre as

regiões homólogas de táxons diferentes, com exceção de três subespécies de Amazona ochrocephala.

Page 73: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

65

Nesse caso, também foi sugerido que houve um único evento de rearranjo gênico no ancestral desses

grupos, porém, as RCs de cada táxon estariam evoluindo em concerto (Eberhard e col., 2001).

No presente trabalho, determinamos a ordem dos genes mitocondriais em diversos gêneros de

psitacídeos neotropicais e evidenciamos a convergência desse caráter no grupo. Propomos modelos para

explicar a origem dos eventos independentes e testamos essas hipóteses através de elementos exclusivos

identificados nas seqüências de cada linhagem. Com base em uma estimativa de tempo de divergência

entre as linhagens, estimamos períodos de tempo nos quais teriam acontecido eventos de duplicação e

perda de genes ao longo das linhagens estudadas.

3.2. Material e métodos

3.2.1. Amostragem e sequenciamento

Foram estudados 34 indivíduos de 25 dos 30 gêneros de psitacídeos neotropicais (Tabela 3.1).

Amostras de DNA foram extraídas a partir de sangue por digestão padrão com proteinase K e purificadas

com fenol: clorofórmio: álcool isoamílico na proporção 25:24:1 (Bruford e col., 1992).

Os “primers” utilizados nas amplificações e sequenciamento foram: CBL15637 (5’-AACCTCCTA

GGAGACCCAGAAAACTTC-3’; Miyaki e col., 1998), LThr (5’-TGGTCTTGTAAACCAAAAGA-3’; Eberhard e

col., 2001), H16065 (5’-AACTGCAGTCATCTCCGGTTTACAAGAC-3’; Kornegay e col. 1993), Tpro16150

(5’-ATCACCAACTCCCAAAGCTGG -3’, presente trabalho), ND6H16252 (5’-TTRTGAYTGTTTGTTGT -3’,

presente trabalho), ND6L16384 (5’-CACCYCACCCYCAAACAA -3’, presente trabalho), ND6L 852 (5’- CCA

TAAAGAGTACTAGCGACA C-3’, presente trabalho), ND6H16522 (5’-GGGATGTTGGTGGTTTTTGT-3’,

presente trabalho), LGlu (5’-GCCCTGAAAARCCATCGTTG-3’; Eberhard e col., 2001), HgluRev (5’-GCG

TTCTTATAGTTGAGATACC-3’; Eberhard e col., 2001), CRL380 (5’-GCCCATAAYTGGCCCGGGAACTT-

3’; Tavares e col. 2004), CRL456 (5’- CACGAGAGATCAYCAACCCGGTGT-3’, Tavares e col., 2004),

CR522Rb (5’-TGGCCCTGACYTAGGAACCAG-3’; Eberhard e col., 2001), CRL827 (5’-TCATTTTMRCAC

TGATGCACTTG-3’; Tavares e col. 2004), CRH1028 (5’- AGGTGTAAAACAAAGTGCATCAGGGT-3’;

Tavares e col. 2004), Hphe1248 (5’-TCTTGGCAKCTTCAGTACCATGCTTT-3’, Eberhard, com. pess.),

12SH1357 (5’-GCGGATACTTGCATGTATATG-3’, presente trabalho).

Page 74: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

66

Tabela 3.1. Táxons analisados, número de registro, segmentos amplificados de acordo com a numeração

correspondente indicada na Figura 3.1.

Espécie LGEMAa Segmentos amplificados

Amazona xanthops 1876 7

Anodorhynchus hyacinthinus 114 1, 3, 4, 5, 6

Anodorhynchus hyacinthinus 117 1, 3, 4, 5, 6

Ara ararauna 13 1, 3, 4, 5, 6

Aratinga aurea 346 3

Aratinga leucophthalmus 2090 3

Aratinga solstitialis 2042 3

Bolborhynchus lineola 4393 3

Brotogeris chiriri 5486 3

Cyanolyseus patagonus 1837 3

Cyanopsitta spixii 409 3, 4, 5

Cyanopsitta spixii 498 2, 3, 4, 5

Deroptyus accipitrinus 395 14, 15

Deroptyus accipitrinus 396 14, 15

Diopsittaca nobilis 973 2, 3, 4, 5

Diopsittaca nobilis 1126 2, 3, 4, 5

Enicognathus leptorhynchus 5173 3

Forpus crassirostris 501 7, 13

Guarouba guarouba 4 2, 3, 4, 5

Guarouba guarouba 69 2, 3, 4, 5

Graydidascalus brachyurus 1623 7, 9, 10, 11, 12

Graydidascalus brachyurus 1624 7, 9, 10, 11, 12

Myiopsitta monachus 1737 1, 3, 4

Nandayus nenday 143 1, 3, 4

Nannopsittaca dachileae 5495 3

Orthopsittaca manilata 2383 3

Pionites leucogaster 2377 15, 16

Pionopsitta barrabandi 5006 7, 8, 13

Pionopsitta pileata 3467 7, 13

Primolius auricollis 2345 3

Pyrrhura picta 397 3

Rhynchopsitta pachyryncha 5237 3

Triclaria malachitacea 415 7, 8, 12, 13

Triclaria malachitacea 416 7, 8, 12, 13a Registro na coleção do Laboratório de Genética e Evolução Molecular de Aves (LGEMA), Universidade de

São Paulo.

Page 75: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

67

A primeira amplificação realizada para cada táxon foi entre os “primers” LThr e CR522Rb

(segmentos 3, 7 e 15 da Figura 3.1; Tabela 3.1). A seqüência obtida a partir do segmento amplificado por

esse conjunto de “primers” é diagnóstica da organização gênica em psitacídeos (Figura 3.1). Foram

amplificados segmentos adicionais para vários táxons, em geral com sobreposição, sempre levando em

conta a sua organização gênica (Figura 3.1; Tabela 3.1).

As amplificações foram realizadas em 10 µL, com tampão 1x (Pharmacia ou Biotools), 2 µM de de

cada dNTP, 1µM de cada “primer”, 0,5 U de Taq polimerase (Pharmacia) e 20-50 ng de DNA, ou

alternativamente, em 25 µL, com tampão 1x (Biotools), 2 µM de cada dNTP, 1µM de cada “primer”, 1 U de

Taq polimerase (Pharmacia) e 25-50 ng de DNA. As condições da reação de PCR foram: desnaturação

inicial a 95ºC por 5 minutos (min.), seguido de 30 ciclos de 95oC por 60 segundos (seg.), 50-54oC por 25

seg. e 65oC por 40 – 80 seg., e uma extensão final de 65oC por 5 min. Uma alíquota (2 µL) dos produtos foi

aplicada em gel de agarose para verificar a qualidade e tamanho dos produtos.

Os produtos de PCR foram purificados com exonuclease I (5 U, USB) e fosfatase alcalina de

camarão (0,5 U, USB). Alternativamente, a banda foi recuperada de gel de agarose e o produto foi isolado

por centrifugação do fragmento de gel em ponteira com filtro. A reação de sequenciamento foi preparada

com Big Dye Terminator (Perkin Elmer) de acordo com protocolo sugerido pelo fabricante. As seqüências

foram obtidas em sequenciadores automáticos (ABI 377 ou ABI 3100, Applied Biosystems).

3.2.2. Alinhamento e análise das seqüências

Ambiguidades entre fitas complementares e regiões de sobreposição foram verificadas e corrigidas

usando os programas Sequence Navigator (Applied Biosystems) e Sequencher 4.1.2 (GeneCodes Corp.).

Os arranjos e seqüências foram comparados com as seqüências homólogas dos genomas mitocondriais

completos de galinha (Gallus gallus; GenBank NC_001323; Desjardins e Morais, 1990) e de um psitacídeo

da Nova Zelândia (Strigops habropptilus; NC_005931; Harrison e col., 2004), com a seqüência de 4709 pb

entre o final do citocromo b e início do RNAr 12S do psitacídeo neotropical Amazona farinosa (GenBank

AF338821; Eberhard e col., 2001) e duas seqüências de tamanhos 735 e 574 pb correspondentes

respectivamente aos segmentos 7 e 13 (Figura 3.1) do psitacídeo neotropical Pionus chalcopterus

(AF338317 e AF338318; Eberhard e col., 2001).

As seqüências obtidas das extremidades 3’ do citocromo b foram comparadas com as seqüências

praticamente completas do gene descritas em trabalhos anteriores e obtidas a partir da amplificação de

segmentos diferentes (Figura 3.2; U70761, U70763, U70764, U70766, AY286205, AY286206, AY286209,

AF370769 e AF370778; Miyaki e col. 1998; Tavares e col., 2004; Tavares e col. in prep.). As seqüências

Page 76: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

68

obtidas da porção 5’ da região controladora foram comparadas, ou complementadas com seqüências

obtidas em trabalhos anteriores (Figuras 3.2 e 3.3; AF430809, AF430810, AF430811, AF430813,

AF430814, AF430816, AF430817, AF430818, AF430822, AF430825, AF430826, AF430828, AF430830,

AF430833, AF430836, AF430837 e AY208250; Tavares e col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004). Alinhamentos

automáticos foram gerados no Clustal X 1.81 (Thompson, 1997) e corrigidos manualmente no MacClade

4.0 (Maddison e Maddison, 2000). O alinhamento das seqüências de DNA de genes codificadores de

proteínas foi confirmado com a seqüência de aminoácidos correspondente, simulada no MacClade 4.0

(Maddison e Maddison, 2000). Composição de bases, valores de distância e demais dados estatísticos

foram obtidos nos programas PAUP* 4.0 (Swofford e col., 2002) e MEGA 2.1 (Kumar e col., 2001). A

simulação da estrutura secundária dos RNAt foi realizada no tRNAscan-SE (Lowe e Eddy, 1997). A

caracterização da região controladora (RC), foi realizada por comparação com outras seqüências de RC de

aves (Desjardins e Morais, 1989; Mindell e col., 1998; Marshall e Baker, 1999; Eberhard e col., 2001;

Delport e col., 2002). O início dos domínios foi definido pela posição dos blocos conservados (Sbisà e col.,

1997; Marshaw e Baker, 1999) como definido por Pereira e col. (2004).

3.2.3. Mapeamento de hipóteses

Os diferentes estados de organização gênica em aves (comum ou alternativa) foram mapeados em

uma proposta filogenética das relações entre os gêneros de psitacídeos neotropicais (topologia com

tamanho de ramos, Tavares e col., in prep.) no programa Mesquite 1.05 (Maddison e Maddison, 2004)

utilizando o método de Máxima Verossimilhança. A partir da organização alternativa com duplicação da RC

(Figura 3.1d) é possível recuperar a organização comum dos genes em aves (Figura 3.1b), caso os

pseudogenes e a RC 1 sejam deletados, e a partir da ordem comum é possível resultar na ordem

alternativa por duplicação e deleção posterior de genes, portanto, consideramos que a mudança entre

esses dois estados (ordem comum e ordem alternativa) possui a mesma probabilidade.

3.3. Resultados

Apesar de o DNA ter sido extraído a partir de sangue, tecido relativamente pobre em mitocôndrias,

acreditamos que as seqüências são de origem mitocondrial com base nos seguintes resultados: (1) alguns

dos segmentos amplificados são maiores que o tamanho da maioria das possíveis cópias de genes

mitocondriais incorporados no genoma nuclear de Gallus gallus e na maioria dos genomas de vertebrados

sequenciados até o momento (Pereira e Baker, 2004); (2) os segmentos com sobreposição parcial

amplificados com diferentes combinações de “primers” são congruentes; (3) as seqüências dos genes

Page 77: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

69

codificadores não apresentam códons de parada inesperados ou alteração no quadro de leitura e

alinharam com as correspondentes dos mesmos indivíduos amplificadas previamente com diferente

combinação de primers (Miyaki e col. 1998, Tavares e col., 2004, Tavares e col., in prep.); e (4) a

simulação da estrutura secundária dos DNAt sugere que os mesmos devem ser funcionais.

As seqüências obtidas no presente trabalho (números de acesso em processo de submissão ao

GenBank), assim como o conjunto analisado incluindo seqüências de trabalhos anteriores estão

representados nas figuras 3.2 e 3.3. A amplificação com o par de primers CBL15637 e ND6H16522

resultou em mais de uma banda (de aproximadamente 600 e 900 pb) para os táxons Diopsittaca nobilis,

Guarouba guarouba e Cyanopsitta spixii. Portanto, para esses táxons, os “primers” CBL15637 e CR522Rb

foram usados para obter cerca de 2 kb de produto. As amplificações com os “primers” Lthr16064 e

CR522Rb em amostras de Amazona xanthops e Graydidascalus brachyurus, sempre resultou em

seqüências ambíguas e ilegíveis, portanto, não foi possível comparar essa região com as homólogas nos

demais grupos. No entanto, em ambos os táxons o segmento amplificado de 700 pb entre esses “primers”

possui tamanho incompatível com a ordem comum, cujo tamanho esperado seria em torno de 1300 pb, já

que inclui todo o gene NADH6 e uma porção de 500 pb da RC, sugerindo que esses táxons apresentam a

ordem alternativa (Figura 3.1d). Além disso, outras seqüências de Graydidascalus brachyurus foram

obtidas (Figuras 3.1 e 3.3), confimando a existência da ordem de genes alternativa nesse táxon.

Em casos onde mais de um indivíduo da mesma espécie foi seqüenciado, a variação encontrada

entre os indivíduos da mesma espécie foi menor do que aquela encontrada na comparação entre gêneros.

Portanto, nas análises subseqüentes, foi utilizada a seqüência consenso para cada gênero, exceto para

Aratinga, cujas espécies amostradas são representantes de linhagens independentes (Tavares e col.,

2004; Ribas e Miyaki, 2004).

Os resultados obtidos sugerem que os táxons que apresentam a organização comum dos genes ao

redor da região controladora são: Anodorhynchus hyacinthinus, Ara ararauna, Aratinga aurea, Aratinga

leucophthalmus, Aratinga solstitialis, Bolborhynchus lineola, Brotogeris chiriri, Cyanoliseus patagonus,

Cyanopsitta spixii, Diopsittaca nobilis, Enicognathus leptorhynchus, Guarouba guarouba, Myiopsitta

monachus, Nandayus nenday, Nannopsittaca dachileae, Orthopsittaca manilata, Primolius auricollis,

Pyrrhura picta e Rhynchopsitta pachyryncha (Figuras 3.1b e 3.2). Os táxons que apresentam a

organização alternativa dos genes ao redor da região controladora são: Amazona xanthops, Deroptyus

accipitrinus, Forpus crassirostris, Graydidascalus brachyurus, Pionites leucogaster, Pionopsitta barrabandi,

Pionopsitta pileata e Triclaria malachitacea (Figuras 3.1d, 3.1e e 3.3).

Page 78: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

70

Figura 3.2. Seqüências obtidas (representadas por linhas e seus tamanhos) para cada táxon de psitacídeoneotropical com a ordem comum em aves e seqüências de trabalhos anteriores (em cinza; número deacesso no GenBank e tamanho abaixo dos segmentos; Miyaki e col., 1998; Tavares e col. 2004; Ribas eMiyaki, 2004). As posições dos “primers” usados nas reações de sequenciamento estão representadas nomapa.

Figura 3.3. Seqüências obtidas (representadas por linhas e seus tamanhos) para cada táxon de psitacídeoneotropical com a ordem alternativa em aves, seqüências obtidas de outro trabalho (em cinza; número deacesso no GenBank e tamanho abaixo do segmento; Tavares e col. 2004). a) mapa da ordem alternativade Amazona e Pionus (Eberhard e col. 2001); b) mapa da ordem alternativa de Deroptyus e Pionites. Aposição dos “primers” usados nas reações de sequenciamento estão representadas nos mapas.

Page 79: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

71

Não foram identificados pseudogenes nas seqüências dos táxons que apresentam a organização

comum dos genes. Para esses táxons, em geral a seqüência obtida inclui parte do RNAtThr, o RNAtPro, o

gene NADH6, o RNAtGlu e parte da RC. Para nove indivíduos foi obtida a seqüência entre o final do

citocromo b e o início do RNAr 12S (Figura 3.2). Para a maioria dos táxons estudados que apresentam a

organização alternativa foram obtidas as seqüências do início da RC 1 e da RC 2, além do RNAt e de

psedogenes anteriores à porção 5’ da RC 1. Deroptyus accipitrinus e Pionites leucogaster apresentam um

pseudogene com cerca de 65 pb cuja seqüência se assemelha muito a do tRNAPro e uma outra porção com

230 e 264 pb, respectivamente, que apresenta alguma similaridade com NADH6 (Figuras 3.3b e 3.4),

sugerindo que podem apresentar a organização dos genes semelhante à ordem alternativa (Figura 3.1e).

Pionopsitta pileata, Pionopsitta barrabandi e Triclaria malachitacea apresentam um pseudogene que varia

de 40 a 92 pb cuja seqüência se assemelha a parte do NADH6 e uma outra porção entre 59 a 64 pb que

se assemelha ao RNAtGlu (Figuras 3.3a e 3.5) e ambos são correspondentes aos pseudogenes descritos

em espécies de Amazona e Pionus (Eberhard e col. 2001). Forpus crassirostris apresenta pseudogenes

desses mesmos genes com 68 e 43 pb, respectivamente (Figura 3.3a e 3.5).

Pseudo RNAt Pro

Deroptyus TCAGAAAAAGAGGACTAAACCTCTATCACCAACTCCCAAAGCTGGCATTTTACATTAAACTATTCTCTPionites CCAGAAAAAGAGGACCAAACCTC---CACCAACCCCCCAAAC-AACACCCCACATTAACCCCCCCCCCA.farinosa TCAGAAAAAGAGGACTAAACCTCCATCACCAGCTCCCAAAGCTGGCGTTTTAAATTAAACTATTTCCT

Pseudo NADH6

Deroptyus ------------------------GCC-CACAAACAACCCCAACAAGACCCCCGTCTCCCACAGCCCCAGCACAACAGACAAAGCCAACPionites CCAACAGCAAACAACCYTTAAAATGCACCTCACAATGCACCAACCTTCTCCCRTTCAATAAGTAGAGGAATAAAGGCTATAGAGAGGAA

Deroptyus AACAGCCCCTACTCAGCATAACAGTAA-AAAGGGG-GGGAGGGGG-GAAGGGGAAAAAGAAAACACCCCACCAACTG---CACTAAGACPionites GATGTGTCGGGGGGAGGAGGTAGGGGG-AAAGGAA--GGTGGGGAAGGGGGGAAGAAAAAACAAACCCTACCAACAGTAACACTAAAGT

Deroptyus CAACCCAAATAAACCGCCACAAAACCAACCT-CAAACCTCCACCCTACC-AATCCCGATTCAACTCCCTAATAAGCCACCACTCA----Pionites TAACCCTTAAAAAC-ACCACACAACCAACCT-TAGACCCTTACTCAACT-AATCATAAACCCACGGCCTAAAACCTCTATCCTCCCCTA

Figura 3.4. Seqüência do pseudo RNAtpro, comparada com a seqüência funcional de RNAt Pro em Amazonafarinosa (Eberhard e col. 2001), e do pseudo NADH6 antes da RC 1 de Deroptyus accipitrinus e Pionitesleucogaster. Regiões de maior homologia entre os táxons estão indicadas em negrito.

Page 80: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

72

Pseudo NADH6

Amazona ---CCCACCCAAAAACCCTCACCCTACAACCAATGAAGCCCCCAACACAACAACACCA-------------AGGCGCAAAForpus -AAC----CCAAAATTTCCCCAATAAACAACAGTAAACCCTAATTAC-AAATAAAACAC----------------CCAAAP.barrabandi TACCACCAACCCCCAAAA-CCACCCCAACCACCCC-ATTAAACCCACAAAGCACCCCA----------CAACACCAAAACP.pileata CACC------AGAAAGCT-AACCCCCAACAACACCCCATCAGCCCACCTAAAGCAAT------------------ACAAAPionus TCTCACCCCAAACTCCCCACCACAATAAGCAAGCCTAAACACAACAACACCACCAAATATTAACCCACCCCAAAAGCAAAtriclaria TCCC----GCTAAAAACACCACCC------------------------------------------------GACACAAA

Amazona ATAGGCCATAAGForpus --AGGCCATAGAP.barrabandi AAAGGCCATAAGP.pileata ACAGGCCATAAGPionus ATAGGCCATAAGtriclaria ACAGGCCATAAG

Pseudo RNAt Glu

Amazona TTTCTCAGATCAAA--CCATCCAAAGCTTATGGCCTATTAACCGCCTC--AGCACATCAACCA-TAAForpus GTCC-CACCCAGA-C---CCCCTCACTCTATGGCCTAAAAGTCCACTC-------------------P.barrabandi CCTC-TACCCAAAAA-TCATCAAAGGCTTATGGCCAAAAAAGC-CAACCCAGCATTTAAACCA-C--P.pileata TCCC-CACTCAAAAA-TGACTGGGGACTTATGGCCTACAAACCACCACTATGTACTTCAACCA-TACPionus CTTT-CAGAGTCGCGTCTGTCCAAAGCTTATGGCCTAAACCATACCTA-GTGTACCTACCATAATAATriclaria CTTC-TACCC--AAA-CTATCTAAAGCTTATGGCCTA-AAACTTCC-CTTAGTACTCTTAACA-TGG

Figura 3.5. Seqüência de pseudogenes dos táxons Amazona farinosa (Eberhard e col. 2001), Forpuscrassirostris, Pionopsitta barrabandi, Pionopsitta pileata, Pionus chalcopteris (Eberhard e col. 2001) eTriclaria malachitacea. Regiões de maior homologia entre os táxons estão indicadas em negrito.

3.3.1. Mapeamento de hipóteses

O mapeamento das ordens gênicas de psitacídeos neotropicais em uma hipótese filogenética

(Tavares e col., in prep.) sugere que há ambiguidade quanto ao estado ancestral de alguns grupos (Figura

3.6a). A partir desse resultado e dos pseudogenes presentes nos grupos, dois modelos de evolução foram

levantados:

a) Duplicações independentes do segmento dos genes RNAtPro/ NADH6/ RNAtGlu/ RC teriam ocorrido

nas linhagens ancestrais dos clados B, D e F. Essas duplicações seriam seguidas de deleções dos

genes RNAtPro/ parte do NADH6 e do RNAtGlu nos clados B e D. No clado F teria ocorrido a

deleção parcial dos genes RNAt Pro/ NADH6 e total do gene RNAt Glu. Esse modelo presupõe a

existência de pelo menos seis eventos, sendo três de duplicação de genes e três de deleções de

genes (Figura 3.6b).

b) Um único evento de duplicação gênica teria ocorrido no ancestral dos clados B, C, D, E e F e cinco

eventos de deleção de genes, sendo dois eventos convergentes. Nos clados C e E, a deleção

levaria à organização comum em aves e nos clados C e D, a deleção resultaria em pseudogenes

de RNAtGlu e NADH6. Um evento distinto de deleção de genes resultaria no padrão descrito em

Pionites e Deroptyus (Figura 3.6c).

Page 81: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

73

a)

b) c)

Figura 3.6. a) Mapeamento dos estados da ordem gênica na inferência filogenética de Tavares e col. (inprep.); b) modelo considerando três eventos independentes de duplicação; c) modelo considerando umevento de duplicação. O período estimado para os eventos estão representados em milhões de anos, ma.

Page 82: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

74

3.3.2. Caracterização dos genes

Foram obtidas seqüências completas de NADH6 de Anodorhynchus , Ara, Aratinga

leucophthalmus, Aratinga solstitialis, Bolborhynchus, Brotogeris, Cyanolyseus, Cyanopsitta, Diopsittaca,

Enicognathus, Graydidascalus, Guarouba, Nannopsittaca, Orthopsittaca, Primolius e Rhynchopsitta.

Seqüências parciais do mesmo gene (incompletas na porção 3’) foram obtidas de Aratinga aurea,

Myiopsitta, Nandayus e Pyrrhura. Quando comparadas com as as seqüências homólogas de Amazona

farinosa, Pionus chalcopteris (Eberhard e col., 2001), Strigops habroptilus (Harrison e col., 2004) e Gallus

gallus (Desjardins e Morais, 1990), verificamos uma variação no códon de parada, sendo esse TAA em

Gal lus e Orthopsittaca, AGG em Bolborhynchus, Brotogeris e Nannopsittaca, e TAG nos demais

psitacídeos comparados. As lacunas de alinhamento ocorrem em trincas, de forma que não foi identificada

alteração no quadro de leitura em nenhum táxon. O alinhamento dessas seqüências sugere que em

relação à Gallus gallus, o número a menos de trincas é de: uma em Amazona farinosa, duas nos gêneros

Strigops, Bolborhynchus, Nannopsittaca e Graydidascalus, três nos gêneros Anodorhynchus, Ara, Aratinga,

Cyanopsitta, Cyanoliseus, Diopsittaca, Enicognathus, Guarouba, Nandayus, Orthopsittaca, Primolius,

Pyrrhura e Rhynchopsitta, e seis nos gêneros Brotogeris e Myiopsitta.

Foram obtidas as seqüências completas da RC para Anodorhynchus , Ara , Cyanopsitta,

Diopsittaca, Graydidascalus (RC2) e Guarouba, e as seqüências parciais da RC, RC1 e RC2 para os

demais táxons (Figuras 3.2 e 3.3). Essas seqüências foram alinhadas com a RC1 e RC2 de Amazona

farinosa e Pionus chalcopterus (Eberhard e col., 2001). Em alguns trechos do primeiro domínio ocorre

grande variabilidade entre gêneros menos relacionados taxonomicamente, o que torna o alinhamento

bastante incerto, principalmente nas comparações com os táxons Bolborhynchus, Nannopsittaca,

Myiopsitta, Brotogeris e Forpus em relação aos demais e entre si. Apesar disso, para a maioria das

seqüências comparadas foi identificado o “goose hairpin”, uma região repetitiva de composição C7TAC7,

exceto em Amazona farinosa e Deroptyus accipitrinus cuja composição é C8TAC7 (Eberhard e col., 2001) e

ATC3TAC7, respectivamente. O “goose hairpin” só não é presente no RC2 do táxon Graydidascalus

brachyurus (seqüência dessa porção na RC1 não disponível). Comparações de distância-p sugerem que,

em geral, nos táxons onde ocorrem duas cópias da RC (RC1 e RC2), elas são mais semelhantes entre si

do que as cópias homólogas de táxons distintos, com exceção de Pionopsitta barrabandi. Como esperado,

o segundo domínio é mais conservado, sendo possível identificar os blocos F, E, D e C para a maioria dos

táxons compadados e também o “bird box” e o CSB-1 para os táxons que apresentavam a RC completa

(Figura 3.7).

Page 83: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

75

Bloco F Bloco E

Nannopsittaca GGGCTACTCACGAGAAATCATCTACCCG Nannopsittaca CACGACTAGCTTCAGGATCATP.pileata rc1 GGGCTACTCACGTGAAACCATCTACCCG P.pileata rc2 CGTTCCTAGCTTCAGGTCCTTP.pileata rc2 GGGCTACTCACGTGAAACCATCTACCCG P.pileata rc2 CGTTCCTAGCTTCAGGTCCTTTriclaria rc1 GGGCTACTCACGTGAAACCATCTACCCG Triclaria rc1 CGTTCCTAGCTTCAAGTCCTTTriclaria rc2 GGGCTACTCACGTGAAACCATCTACCCG Triclaria rc2 CGTTCCTAGCTTCAAGTCCTTP.barrabandi rc1 GGGCYACTCACGTGAAACCATCTACCCG P.barrabandi rc1 CATGACTAGGTTCAGGCCCTTP.barrabandi rc2 GGACTTCTCACGAGAAATCAGCAACCTG Graydidascalus rc2 CGTTACTAGTTTCAGGCCCATGraydidascalus rc2 TTACATCTCACGAGAAATCACCAACCCG A.farinosa rc2 CGTTCCTAGCTTCAGGTCCATA.farinosa rc2 GGTCATCTCACGTGAAATCATCTACCCG Pionus rc1 CACGCCCAGCGTCAGGTCCATPionus rc1 GGGCTACTCACGTGAAATCATCAACCCG Pionus rc2 CACGCCCAGCGTCAGGTCCATPionus rc2 GGGCTACTCACGTGAAATCATCAACCCG Myiopsitta CGTTACTAGCTTCAGGATCATMyiopsitta GAACCACTCACGAGAAACCATCAACCCG Brotogeris TGCTACTAGCGTCAGGAGCATBrotogeris GGGCAACTCACGAGAAATCACCTACCCC Forpus rc1 CATTCCTAGCTTCAGGTCCATForpus rc1 GGGCAACTCACGTGAAACCATCTACCCG Anodorhynchus CCTTCCCAGCGTCAGGTCCATEnicognathus TGGCTACTC------------------- Guarouba CCTTCCCAGCGTCAGGTCCATCyanolyseus TGGTTACTCGCGAGAGATCA-------- Diopsittaca CCTTCCCAGCGTCAGGTCCATAnodorhynchus TGACTACTCACGAGAGATCACCAACCCG A.aurea CCCTCCCAGCGTCAGGTCCATGuarouba TGACAACTCACGAGAGATCATCAACCCG Cyanopsitta CCTTCCCAGCGTCAGGTCCATDiopsittaca TGACTACTCACGAGAGATCATCAACCCG Orthopsittaca TCTTCCCAGCGTCAGGTCCATA.solstitialis TGGCTACTCACGAGAGATCACCAATCCG Ara CGTTCCCAGCGTCAGGTCCATA.aurea TGACTACTCACGAGAGATCATCAACCCG Primolius TATTCCCAGCGTCAGGTCCATCyanopsitta TGACTACTCACGAGAGATCACCAACCCG Nandayus CGTTCCCAGCGTCAGGTCCATOrthopsittaca TGGCTACTCACGAGAGATCATCAACCCG Pyrrhura CGTTCCTAGCGTCAGGTCCTTAra TGGCTACTCACGAGAGATCATCAACCCG Pionites rc2 CGTTCCTAGCGTCAAGTCCATPrimolius TGACTACTCACGAGAGATCATCAACCCGNandayus TGACTACTCACGAGAGATCATCAACCCGRhynchopsitta TGGCAACTCT------------------Pyrrhura TGACTACTCACGAGAGATCATCAACCCGDeroptyus TGGCTTCTCACGAGAAATCAGCAACCCAPionites rc1 TGGCTATTCGCGAGAAATCAGCA-CC--Pionites rc2 TGTCTATTCGCGAGAAATCAGCAACCGG

Bloco D Bloco C

Nannopsittaca CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Nannopsittaca CCTTCACAGAGCCATCTCTGCTAGTCTGP.pileata rc1 CCTCTGGTTC--------------- P.pileata rc2 TCACA-GAGTCATCTGGTTCGCTAATATP.pileata rc2 CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Triclaria rc1 TCACA-GAGTCATCTGGTTCGCTATTTGTriclaria rc1 CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Triclaria rc2 TCACA-GAGTCATCTGGTTCGCTATTTGTriclaria rc2 CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Graydidascalus rc2 TCACA-GAGACA--TTTCTCGTGGTTTGP.barrabandi rc1 CCTCTAG------------------ A.farinosa rc2 TCACT-GAGTCATCTGGTTCGCTATTTGGraydidascalus rc2 CATTTGGTTAGTAGGTCAGGGACAT Anodorhynchus CTATC-GGGTCATCTGGTTCGCTATCCTA.farinosa rc2 CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Guarouba CCATC-TGGCCATCTGGTTCGCTATTTGMyiopsitta CCTCTGGTTCCTAGATTA------- Diopsittaca CCATC-TGGCCATCTGGTTCGCTATTTGBrotogeris CCTCTGGTTCCTAGG---------- A.aurea CTATC-AAGCCATCTGGTTCGCTATATGForpus rc1 CCTCTGGT----------------- Cyanopsitta CTATC-TGGCCATCTGGTTCGCTATTTGAnodorhynchus CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Ara CCATC-TGGTCATATGGTTCGCTATTATGuarouba CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Primolius CCATC-TGGCCATATGGTTCGCTATTTGDiopsittaca CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Nandayus CCATC-TGGCCATCTGGTTCGCTATTTGA.aurea CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Pyrrhura TCACA-GAGTCATCTGGTTCGCTATTTACyanopsitta CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Pionites rc2 TCACA-GAGTCATCTGGTTCGCTATTTGOrthopsittaca CCTCTGGTTCCTAGGTCAGGG----Ara CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAC Bloco de AvesPrimolius CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACATNandayus CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Graydidascalus rc2 CACTAATGTACTCCAPyrrhura CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT A.farinosa rc2 CACTGATGCACTTTGPionites rc2 CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Anodorhynchus CCCTGATGCACTTTG Guarouba CCCTGATGCACTTTG Diopsittaca CCCTGATGCACTTTG Cyanopsitta CCCTGATGCACTTTG Ara CCCTGATGCACTTTG

Figura 3.7. Blocos conservados no segundo domínio da região controladora. A ordem dos táxonscorresponde à ordem dos clados da Figura 3.6. Como não foi possível obter seqüências completas paratodos os blocos de todos os táxons, o sinal “-“ representa o final da seqüência.

Page 84: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

76

A alta variabilidade apresentada no terceiro domínio dos táxons com a RC completa, inviabilizou o

alinhamento dessa região entre grupos menos relacionados taxonomicamente, como entre representantes

do clado B e do clado E (Figura 3.6). Nessa região os táxons Amazona e Triclaria do clado B compartilham

um bloco formado por TA2CA3CA4CA3CA3CCACA3CA3 que não é presente em Graydidascalus brachyurus.

Os táxons Anodorhynchus hyacinthinus, Ara ararauna, Cyanopsitta spixii, Diopsittaca nobilis e Guarouba

guarouba compartilham similaridades nessa região, apesar de não apresentarem regiões repetitivas.

3.4. Discussão

As organizações gênicas ao redor da região controladora descritas para os gêneros de psitacídeos

neotropicais sugere que durante a evolução do grupo, ocorreram convergências ao longo das linhagens, já

que táxons de clados diferentes apresentam a mesma organização (Figura 3.6). Apesar de eventos de

rearranjo dos genes serem considerados pouco freqüentes e únicos em algumas linhagens animais (Boore

e Brown, 1998; Morrison e col., 2001), a convergência múltipla na organização dos genes mitocondriais ao

redor da região controladora foi evidenciada anteriormente em aves (Mindell e col., 1998; Bensch e Härlid,

2000).

O mecanismo de duplicação e posterior deleção de genes duplicados (Moritz e col., 1986, 1987;

Macey e col., 1997; Holt e col., 1997) é o que melhor explica a mudança da ordem comum para a ordem

gênica descrita dentre os grupos de aves, porque a mudança de ordem aconteceu entre genes fisicamente

próximos, além disso foram encontradas regiões duplicadas e pseudogenes em Falco peregrinus (Mindell

e col. 1998), Phylloscopus (Bensch e Härlid, 2000), Amazona e Pionus (Eberhard e col., 2001) que

apresentam a organização alternativa. Assumindo esse mecanismo, duas possíveis maneiras para explicar

as diferentes organizações gênicas nos psitacídeos neotropicais foram testadas. Em ambas, consideramos

que o ancestral dos psitacídeos neotropicais apresentava a organização comum dos genes em aves,

porque não existe nenhuma evidência que sugere o contrário.

Se a ordem alternativa fosse o estado ancestral, isso implicaria na necessidade de haver mais

eventos de mudança de ordem gênica no grupo, já que os representantes da linhagem de psitacídeos

neotropicais que se separou inicialmente das demais linhagens (Bolborhynchus e Nannopsittaca)

apresentam a organização comum. Além disso, Strigops habroptilus, representante atual do primeiro clado

da ordem Psittaciformes a se separar dos demais (Barrowclough e col. 2004; de Kloet e de Kloet, 2005)

também apresenta a organização comum em aves. Finalmente, a inferência dos estados ancestrais por

Page 85: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

77

máxima verossimilhança sugere maior probabilidade do ancestral dos neotropicais de apresentar a

organização comum (Figura 3.4a).

A princípio, as duas hipóteses consideradas são igualmente prováveis para explicar a evolução do

caráter no grupo, no entanto, o modelo que assume três eventos independentes de duplicação de genes e

deleção posterior de cópias duplicadas (Figura 3.4b) parece mais provável, já que nenhuma das linhagens

de psitacídeos neotropicais que apresentam a organização comum dos genes em aves apresenta vestígio

de genes duplicados, como acontece nas três linhagens que apresentam a organização alternativa. Como

os eventos de perda de genes em todas as linhagens teriam acontecido em períodos próximos

considerando o modelo apresentado na Figura 3.6c, seria esperado encontrar resquícios de genes

duplicados nas linhagens C e E. Hipoteticamente, é possível imaginar a reversão para a ordem comum de

aves a partir de uma duplicação de genes, ou mesmo a partir de uma ordem alternativa onde as duas

cópias da RC são potencialmente funcionais, como ocorre em Amazona e Pionus (Eberhard e col. 2001).

No entanto, até o momento não foi descrito em nenhum dos grupos de aves que apresentam a ordem de

genes comum (ex. Desjardins e Morais, 1990; Boore, 1999) vestígios de genes duplicados, como acontece

em alguns táxons que apresentam a ordem alternativa, portanto, não existe nenhuma evidência mais

concreta em psitacídeos ou mesmo em aves sugerindo que a ordem comum pode ser revertida a partir de

um processo de duplicação, ou mesmo a partir da ordem alternativa. De qualquer forma, o modelo não

pode ser desconsiderado.

Forpus e táxons da linhagem de papagaios, curicas e afins (clado C), apresentam pseudogenes

com alguma similaridade com as regiões de NADH6 e RNAtGlu. O interessante é que os pseudogenes

encontrados em ambos os clados apresentam alguma similaridade, o que tornou possível seu alinhamento.

No entanto, em ambos os modelos considerados, a deleção de genes nos dois grupos teria ocorrido

independentemente, ou seja por convergência. Alternativamente, poderiamos considerar um cenário onde

esses táxons compartilhassem um único evento de deleção. Isso sugeriria que a posição filogenética

desses grupos seria um pouco diferente da proposta filogenética que estamos considerando (Tavares e

col., in prep.). O suporte de “bootstrap” das análises de máxima verossimilhança dos ramos que definem a

posição filogenética de Forpus no clado que inclui as araras, marianinhas e afins não é muito alto, apesar

de a probabilidade posterior da análise bayesiana ser relativamente elevada (Tavares e col., in prep.). No

entanto, um cenário alternativo onde Forpus seria grupo irmão dos táxons da linhagem B (Figura 3.6) não

foi recuperado por nenhum dos métodos de inferência filogenética testados (Tavares e col, in prep.),

sustentando a possibilidade de convergência nos eventos de deleção de genes. Isso poderia indicar que

Page 86: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

78

um mecanismo de deleção não aleatória dos genes duplicados poderia atuar em aves, como proposto

inicialmente para artrópodes dos gêneros Narceus e Thyropygus (Lavrov e col., 2002). Apesar de tal

mecanismo não ter sido testado em aves, a deleção não aleatória dos genes duplicados poderia explicar a

convergência para a ordem alternativa em várias linhagens independentes de aves (Mindell e col., 1998,

Bensch e Härlid, 2000, Eberhard e col., 2001) a partir de uma duplicação hipotética que poderia levar a

outros arranjos gênicos nunca descritos, como por exemplo o posicionamento do gene NADH6 entre o

RNAtThr e RNAtPro.

Seria esperado supor que, se o rearranjo gênico ocorreu em uma linhagem ancestral comum entre

alguns táxons, cada uma de suas regiões controladoras deveria apresentar mais similaridade com as

regiões controladoras homólogas das demais linhagens (cópias ortólogas) do que com a segunda RC

presente no mesmo táxon (cópias parálogas). Nesse sentido, se assumirmos um único evento de

duplicação e deleção na linhagem ancestral comum aos táxons do clado B, as RC 1 desses gêneros

deveriam ser mais próximas entre si, do que as RC 1 e RC 2 de cada um desses grupos. No entanto, isso

não acontece, as RC parálogas são mais próximas entre si. O mesmo acontece no clado F. Apesar de não

ter sido obtida seqüência da segunda RC para Deroptyus, a distância entre RC 1 desse táxon e de Pionites

é maior do que a distância entre RCs de Pionites. A princípio, isso sugere que em cada táxon dessa

linhagem aconteceu um único evento de duplicação de genes, seguido de um único evento de deleção de

genes. Entretando, isso não acontece apenas ao nível genérico. Entre espécies do gênero Amazona isso

também foi descrito (Eberhard e col., 2001). Portando, a existência de eventos independentes para cada

um desses casos, seria pouco provável. RCs duplicadas e que apresentam baixa taxa de divergência entre

as cópias também foram descritas em pepinos do mar (Arndt e Smith, 1998), cobras (Kumazawa e col.,

1998) e outros grupos (Black e Roehrdanz, 1998; Campbell e Barker, 1999; Kumazawa e col., 1995).

Eberhard e col. (2001) levantaram três hipóteses pelas quais um ou mais mecanismos de conversão

gênica poderiam estar atuando nas RCs parálogas, de forma a mantê-las semelhantes: 1) um mecanismo

de conversão gênica envolvendo apenas as porções convergentes; 2) um mecanismo de conversão gênica

envolvendo a região controladora inteira com evolução extremamente rápida das porções não- funcionais;

e 3) seleção paralela para manter a funcionalidade de ambas as regiões. Nenhuma das hipóteses por si só

explica os dados obtidos e os elementos para descartar qualquer uma delas são insuficientes. Portanto,

seria interessante comparar a seqüência completa das regiões parálogas de cada táxon a fim de melhor

entender o mecanismo que melhor explicaria os eventos de convergência de RC nos psitacídeos

neotropicais. As regiões comuns presentes no terceiro domínio da RC de Amazona e Triclaria poderiam

Page 87: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

79

estar presentes no ancestral do clado que une esses grupos e ter sido perdido em Graydidascalus, já que

esse clado estaria mais relacionado taxonomicamente a Amazona do que a Triclaria.

Os dados apresentados aqui contribuem para o melhor entendimento da evolução do genoma

mitocondrial em aves. Os resultados obtidos são compatíveis com o modelo de mudança da ordem

comum em aves para a ordem alternativa por duplicação seguida de deleção de genes. Além disso, os

dados sugerem que vários eventos de rearranjo gênico podem ter ocorrido entre táxons filogeneticamente

próximos e que de algum modo pode haver convergência na maneira como os genes duplicados são

perdidos em aves, o que torna ainda mais discutível o conteúdo filogenético desse caráter para estudar a

evolução de aves. Algum mecanismo de evolução em concerto também parece operar entre as regiões

controladoras, como foi sugerido inicialmente para Amazona e Pionus (Eberhard e col., 2001).

3.5. Referências

Arndt, A., Smith, M.J., 1998.Mitochondrial gene rearrangement in sea cucumber genus Cucumalia. Mol.

Biol. Evol. 15, 1009-1016.

Barrowclough, G.F., Groth, J.G., Mertz, L.A., 2004. Phylogenetic relationships among parrots. One Hundred

and Twenty-Second Stated Meeting of the American Ornithologists’ Union. 16 – 21 August, Laval,

Quebec.

Bensch, S., Härlid, A., 2000. Mitochondrial genomic rearrangements in songbirds. Mol. Biol. Evol. 17, 107-

113.

Black, W.C.I., Roehrdanz, R.L. 1998. Mitochondrial gene order is not conserved in arthropods: prostriate

and metastriate tick mitochondrial genomes. Mol. Biol. Evol. 15, 1772-1785.

Boore, J.L., 1999. Animal mitochondrial genomes. Nucl. Acids Res. 27, 1767-1780.

Boore, J.L., Brown, W.M., 1998. Big trees from little genomes: mitochondrial gene order as a phylogenetic

tool. Curr. Opin. Genet. Dev. 8, 668-674.

Boore, J.L., Collins, T.M., Stanton, D., Daehler, L.L., Brown, W.M., 1995. Deducing the pattern of arthropod

phylogeny from mitochondrial DNA rearrangements. Nature 376, 163-165.

Bruford, M.W., Hanotte, O., Brookfield, J.F.Y., Burke,T., 1992. Single-locus and multilocus DNA

fingerprinting. Pages 255-269 in Molecular Genetic Analyses of Populations - a Practical Approach (A.

R. Hoelzel, Ed.). Oxford University Press, New York.

Campbell, N.J.H., Barker, S.C. 1999. The novel mitochondrial gene arrangements of the cattle tick,

Boophilus microplus: fivefold tandem repetition of a coding region. Mol. Biol. Evol. 16, 732-740.

Page 88: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

80

de Kloet, R.S., de Kloet, S.R., 2005. The evolution of the spindlin gene in birds: sequence analysis of na

intron of the spindlin W and Z gene revealed four major divisions of the Psittaciformes. Mol.

Phylogenet. Evol. (in press).

Desjardins, P., Morais, R., 1990. Sequence and gene organization of the chicken mitochondrial genome - a

novel gene order in higher vertebrates. J. Mol. Biol. 212, 599-634.

Delport, W., Ferguson, J.W.H. Bloomer, P., 2002. Characterization and evolution of the mitochondrial DNA

control region in Hornbills (Bucerotiformes). J. Mol. Evol. 54, 794-806.

Downton, M., Castro, L.R., Campbell, S.L., Bargon, S.D., Austin, A.D. 2003. Frequent mitochondrial gene

rearrangements at the Hymenopteran nad3-nad5 junction. J. Mol. Evol. 56, 517-526.

Eberhard, J.R., Wright, T.F., Bermingham, E., 2001. Duplication and concerted evolution of the

mitochondrial control region in parrot genus Amazona. Mol. Biol. Evol. 18, 1330–1342.

Haddrath, O., Baker, A.J., 2001. Complete mitochondrial DNA genome sequences of extinct birds: ratite

phylogenetics and the vicariance biogeography hypothesis. Proc. R. Soc. Lond. Ser. B 268, 939–945.

Härlid, A., Janke, A., Arnason, U., 1998. The complete mitochondrial genome of Rhea americana and early

avian divergences. J. Mol. Evol. 46, 669-679.

Harrison, G.L., McLenachan, P.A., Phillips, M.J., Slack, K.E., Cooper, A., Penny, D., 2004. Four new avian

mitochondrial genomes help get to basic evolutionary questions in the Late Cretaceous. Mol. Biol.

Evol. 21, 974-983.

Holt, I.J., Dunbar, D.R., Jacobs, H.T., 1997. Behaviour of a population of partially duplicated mitochondrial

DNA molecules in cell culture: segregation, maitenance and recombination dependent upon nuclear

background. Hum. Mol. Genet. 6, 1251-1260.

Kornegay, J.R., Kocher, T.D., Williams, L.A, Wilson, A.C., 1993. Pathways of lysozyme evolution inferred

from the sequences of cytochrome b in birds. J. Mol. Evol. 37, 367-379.

Kumar, S., Tamura, K., Jakobsen, I.B., Nei. M., 2001. Mega 2: Molecular Evolutionary Genetics Analysis

software. Bioinformatics 17, 1244-1245.

Kumazawa, Y., Nishida, M., 1995. Variations in mitochondrial tRNA gene organization of reptiles as

phylogenetic markers. Mol. Biol. Evol. 12, 759-772.

Kumazawa, Y., Ota, H., Nishida, M., Ozawa, T., 1998. Conservation of gene order: a fingerprint of proteins

that physically interact. Trends Biochem. Sci. 23, 324-328.

Lavrov, D.V., Boore, J.L., Brown, W.M., 2002. Complete mtDNA sequences of two millipedes suggest a

new model for mitochondrial gene rearrangements: duplication and nonrandom loss. Mol. Biol. Evol.

19, 163-169.

Page 89: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

81

Lowe, T.M., Eddy, S.R., 1997. tRNAscan-SE: a program for improved detection of transfer RNA genes in

genomic sequences. Nucl. Acids Res. 25, 995-964.

Macey, J.R., Larson, A., Ananjeva, N.B., Fang, Z., Papenfuss, T.J., 1997. Two novel gene orders and the

role of light-strand replication in rearrangement of the vertebrate mitochondrial genome. Mol. Biol. Evol.

14, 91-104.

Maddison, W.P., Maddison, D.R., 2000. MacClade 4: Analysis of phylogeny and character evolution.

Sinauer Associates, Sunderland, Massachusetts.

Maddison, W.P., Maddison, D.R., 2004. Mesquite: a modular system for evolutionary analysis. Version 1.05

http://mesquiteproject.org.

Marshall, H. D., Baker, A. J., 1997. Structural conservation and variation in the mitochondrial control region

of Fringilline finches (Fringilla spp.) and the greenfinch (Carduelis chloris). Mol. Biol. Evol. 14, 173-184.

Marshall, H. D., Baker., A. J., 1999. Colonization history of Atlantic island common chaffinches (Fringilla

coelebs) revealed by mitochondrial DNA. Mol. Phylogenet. Evol. 11, 201-222.

Mindell, D.P, Sorenson, M.D., Dimcheff, D.E., 1998. Multiple independent origins of mitochondrial gene

order in birds. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 95, 10693-10697.

Miyaki, C.Y., Matioli, S.R., Burke, T., Wajntal, A., 1998. Parrot evolution and paleogeographical events:

mitochondrial DNA evidence. Mol. Biol. Evol. 15, 544–551.

Moritz, C., Brown, W.M., 1986. Tandem duplications of D-loop and ribosomal RNA sequences in lizard

mitochondrial DNA. Science 233, 1425-1427.

Moritz, C., Dowling, T.E., Brown, W.M., 1987. Evolution of animal mitochondrial DNA: relevance for

population biology and systematics. Ann.Rev. Ecol. Syst, 18, 269-292.

Morrison, C.L., Harvey, A.W., Lavery, S. Tieu, K. Huang, Y., Cunningham, C.W., 2002. Mitochondrial gene

rearrangements confirm the parallel evolution of the crab-like form. Proc. R. Soc. Lond. B 269, 345-

350.

Pääbo, S., Thomas, W.K., Whitfield, K., Kumazawa, M., Wilson, A.C., 1991. Rearrangements of

mitochondrial transfer RNA genes in marsupials. J. Mol. Evol. 33, 426-430.

Paton, T., Haddrath, O., Baker, A.J., 2002. Complete mitochondrial DNA genome sequences show that

modern birds are not descended from transitional shorebirds. Proc. R. Soc. Lond. Ser. B 269,

839–846.

Pereira, S.L., Baker, A.J., 2004. Low number of mitochondrial pseudogenes in the chicken (Gallus gallus)

nuclear genome: implications for molecular inference of population history and phylogenetics. BMC

Evol. Biol. 4, 17.

Page 90: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 3

82

Pereira, S.L., Graw, E.T., Wajntal, A., 2004. Molecular architecture and rates of DNA substitutions of the

mitochondrial control region of cracid birds. Genome 47, 535-545.

Quinn, T. W., 1997. Molecular evolution of the mitochondrial genome. In Mindell, D.P. (Ed.), Avian

Molecular Systematics and Evolution. Academic Press, San Diego. Pp. 3-26.

Ribas, C.C., Miyaki, C.Y., 2004 Molecular systematics in Aratinga parakeets: species limits and historical

biogeography in the solstitialis group, and the systematic position of Nandayus nenday. Mol.

Phylogenet. Evol. 30, 663–675.

Ruokonen, M., Kvist, L. 2002. Structure and evolution of the avian mitochondrial control region. Mol.

Phylogenet. Evol. 23, 422-432.

Saccone, C., De Giorgi, C., Gissi, C., Pesole, G., Reyes, A., 1999. Evolutionary genomics in Metazoa: the

mitochondrial DNA as model system. Gene 238, 195-290.

Sbisà, E., Tanzariello, F., Reyes, A., Pesole, G., Saccone., C., 1997. Mammalian mitochondrial D-loop

region structural analysis: identification of new conserved sequences and their functional and

evolutionary implications. Gene 205, 125-140.

Slack, K. E., Janke, A., Penny, D., Arnason, U., 2003 Two new avian mitochondrial genomes (penguin and

goose) and a summary of bird and reptile mitogenomic features. Gene 302, 43-52.

Swofford, D.L., 2002. PAUP*: Phylogenetic analysis using parsimony (*and related methods). Version 4.

Sinauer Associates, Sunderland, MA.

Tavares, E.S., Baker, A.J., Pereira, S.L., Miyaki, C.Y. Phylogenetic relationships and historical

biogeography of Neotropical parrots (Psittaciformes: Psittacidae: Arini) inferred from mitochondrial and

nuclear DNA sequences. In prep. Manuscrito apresentado no capítulo 2.

Tavares, E.S., Yamashita, C., Miyaki, C.Y., 2004, Phylogenetic relationships among some Neotropical

parrot genera (Psittacidae) based on mitochondrial sequences. Auk 121, 230-242.

Thompson, J.D., Gibson, T.J., Plewniak, F., Jeanmougin, J. Higgins, D.G., 1997. The Clustal X windows

interface: flexible strategies for multiple sequence alignment aided by quality analysis tools. Nucl. Acids

Res. 25, 4876–4882.

Page 91: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 4

Considerações finais

Page 92: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 4

84

A presente tese se insere no contexto da biologia evolutiva que busca inferir a história da evolução

e elucidar seus mecanismos. A filogenia tem por objetivo entender as relações de parentesco entre os

organismos pelo princípio da ancestralidade comum. O estudo dessas relações fornece subsídios gerais

para interpretar vários outros aspectos das da evolução, por exemplo, como ocorrem as modificações

fisiológicas, ecológicas, etológicas, morfológias, moleculares, dentre outras. Além disso, com base nas

filogenias, pode-se inferir o tempo de divergência entre as linhagens e levantar ou testar hipóteses

biogeográficas. Na presente tese, vários aspectos da biologia evolutiva dos psitacídeos neotropicais foram

estudados. Inicialmente foi realizada uma filogenia abrangente dos gêneros do grupo com base em 6.461

pb de seqüências de DNA nuclear e mitocondrial. Essa análise recuperou:

• Um clado de pequenos periquitos (Bolborhynchus e Nannopsittaca) como grupo irmão dos demais

psitacídeos neotropicais, que por sua vez se dividem em dois grupos, um formado por papagaios,

caturritas, curicas e afins (Amazona, Pionus, Graydidascalus, Pionopsitta, Triclaria, Myiopsitta e

Brotogeris) e outro formado por araras, marianinhas, tiribas e afins (Ara, Primolius, Orthopsittaca,

Cyanopsitta, Diopsittaca , Guarouba , Nandayus , Aratinga , Anodorhynchus, Cyanoliseus,

Enicognathus, Rhynchopsitta, Pyrrhura, Deroptyus, Pionites e Forpus).

• No clado que inclui papagaios, caturritas, curicas e afins as relações internas são bem resolvidas,

enquanto no clado formado por araras, marianinhas tiribas e afins, a maior parte das relações

foram bem resolvidas, mas algumas relações permanecem pouco suportadas ou não resolvidas,

padrão possivelmente decorrente de uma rápida radiação que se reflete nos curtos tamanhos de

ramo entre essas linhagens nas topologias obtidas.

• Os resultados descritos na presente tese aumentou muito o conhecimento das relações

sistemáticas e filogenéticas ao nível de gêneros dentre os psitacídeos da tribo Arini

A história da evolução de alguns caracteres morfológicos, comportamental e genético foi estudada

pelo mapeamento dos estados atuais na inferência filogenética proposta. O resultado dessas análises,

sugere que:

• Os caracteres morfológicos, (comprimento da cauda, forma da cauda, dimorfismo sexual aparente,

íris bi-colorida, narinas expostas e anel perioftalmico nu) e comportamental (posição da perna ao

coçar a cabeça) apresentaram convergência e portanto, não podem isoladamente ser usados para

a diagnose dos clados obtidos na presente inferência filogenética.

• O caráter genético (minissatélites ligados ao cromossomo sexual W) pode apresentar sinal

filogenético, mas ainda não foi estudado para todos os táxons incluídos na inferência filogenética

proposta nessa tese, portanto essa conclusão seria prematura.

Page 93: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 4

85

Foram realizadas estimativas dos tempos de divergência dos clados obtidos na inferência

filogenética. As divergências foram comparadas com fatores históricos que poderiam ter influenciado na

diversificação dos grupos:

• O ancestral dos psitacídeos neotropicais se separou do ancestral australasiático entre 51-67

milhões de anos (ma), portanto a separação da Austrália e Antártica possivelmente teve um papel

importante na separação ou isolamento desses grupos.

• As linhagens mais antigas de psitacídeos neotropicais se diversificaram no início do Eoceno (entre

42-57 ma), período no qual a América do Sul e a Antártica eram conectadas.

• Padrões de cladogênese bem distintos foram observados em dois grandes clados de psitacídeos

neotropicais. Os gêneros de papagaios e afins diversificaram de forma contínua de 12-54 ma, com

a maioria dos eventos acontecendo entre 20-46 ma. No entanto, no clado das araras e afins, uma

linhagem que deu origem ao atual gênero Forpus divergiu das demais entre 39-54 ma, isso foi

seguido de um período de cerca de 20 ma onde não é registrada diversificação no clado das

araras e afins, até que entre 4-34 ma ocorreu cladogênese de forma expressiva em uma das

linhagens.

• Os papagaios e afins podem ter evoluído associados a ambientes florestais na América do Sul, já

que a cladogênese do grupo coincide com a reposição de flora e o aumento da distribuição das

florestas tropicais dessa região. Além disso, muitas das linhagens atuais desse clado ocorrem

nesses ambientes.

• A grande diversificação (entre 22-34 ma) do grupo das araras, maracanãs e afins, pode ter

ocorrido em resposta a uma grande diversificação de ambientes secos ocorrida no Mioceno, uma

vez que muitas linhagens atuais desse grupo ocupam ambientes com características semelhantes.

A falta de registro de diversificação antes desse período poderia ser explicada por uma extinção

das linhagens que teriam se diversificado.

• Outras possibilidades envolvem a existência de uma barreira isolando membros dos clados dos

pequenos periquitos e do clado das araras, maracanãs e afins e após a barreira ter desaparecido,

houve uma dispersão do grupo para ambientes antes pouco explorados. Duas possíveis barreiras

seriam: um mar transcontinental formado no sul da Argentina e do Chile durante o Oligoceno; ou

algumas linhagens poderiam estar evoluindo na Antártica e teriam sido impulsionados para a

América do Sul, à medida que a Antártica migrou mais para o sul e se tornou um continente

incrustrado por gelo.

Page 94: Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da

Capítulo 4

86

A organização dos genes mitocondriais ao redor da região controladora foi determinada para a

maioria dos gêneros de psitacídeos neotropicais. Esses resultados associados a outros obtidos em

trabalhos anteriores foram mapeados na inferência filogenética e alguns aspectos da evolução desse

caráter no grupo estudados estão apresentados a seguir:

• Apresentam a ordem de genes comum de aves táxons do clado de pequenos periquitos

(Bolborhynchus e Nannopsittaca), as primeiras linhagens a se diferenciar no grupo dos papagaios

e afins (Myiopsitta e Brotogeris) e espécies do clado das araras e afins (Ara, Primolius,

Orthopsittaca, Cyanopsitta, Diops i t t aca , Guarouba, Nandayus, Aratinga, Anodorhynchus,

Cyanoliseus, Enicognathus, Rhynchopsitta e Pyrrhura).

• A ordem de genes alternativa está presente na maior parte dos representantes do clado dos

papagaios e afins (Pionopsitta, Graydidascalus,Triclaria, Amazona e Pionus) e em três gêneros do

clado das araras e afins (Deroptyus, Pionites e Forpus).

• O mapeamento sugere convergência na mudança de ordem dos genes e a inferência dos estados

desse caráter em alguns ancestrais foi ambígua, sugerindo mais de uma possibilidade para

explicar a origem desses eventos. Duas hipóteses foram levantadas:

1. A primeira hipótese assume seis eventos independentes, sendo três de duplicação, seguido de três

de deleção de genes, que teriam ocorrido após 54 ma, entre 32-54 ma e após 29 ma,

respectivamente, levando três linhagens a apresentar a ordem alternativa.

2. A segunda hipótese, assume um único evento de duplicação (entre 41-56 ma) seguido de cinco

eventos independentes de deleção posterior de genes, sendo que dois reverteriam para a ordem

comum em aves (entre 26-54 ma e 20-35 ma) e três dariam origem à ordem alternativa (após 54

ma, entre 32-54 ma e após 29 ma).

• Como não dispomos de elementos para identificar se duplicações ou deleções de genes são mais

prováveis de acontecer, não pudemos concluir qual o mecanismo mais provável para explicar os

diferentes arranjos nessa linhagem.

• A presença de pseudogenes que representam resquícios dos eventos de duplicação somente nos

táxons que apresentam o arranjo alternativo, não favorece nenhuma das hipóteses, mas evidencia

elementos exclusivos de alguns clados e outros convergentes.

• Sugerimos que a mudança de ordem gênica em Aves poderia envolver um mecanismo de

duplicação e deleção não aleatória dos genes duplicados, modelo que foi proposto para explicar

alteração de ordem gênica em Diplopoda.

ATUALIDADES ORNITOLÓGICAS N.128 – NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2005 – P. 5