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Carlos Rodrigues Jaca 1 Relações Luso – Nipónicas nos sécs. XVI e XVII. (3ª Parte) Carlos Jaca Publicado no “DIÁRIO DO MINHO” 28/09/05, 05/10/05 e 12/10/05 Durante o período de permanência portuguesa no Japão, a política do país fechado não possibilitava o estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, isto se quisermos dar à referida expressão o sentido que hoje geralmente lhe atribuímos. No entanto, apesar de tão diferentes culturas, os objectivos religiosos e comerciais obrigavam a estabelecer contactos por enviados ou missões diplomáticas. Relações Politicas e Diplomáticas. Primeiros contactos. O primeiro contacto diplomático, se assim se pode chamar, foi protagonizado por S. Francisco Xavier quando foi recebido em audiência pelo “rei” ou dáimio de Yamaguchi. Obviamente, não se trata rigorosamente de uma embaixada, porquanto não é enviada por um soberano a outro. No entanto, deve considerar-se relevante o facto de ter sido preparada em nome do vice-rei da Índia, representante do rei de Portugal. Quando em 20 de Novembro de 1551 Xavier partiu do Japão, o dáimio do Bungo, Otomo Sorin, fazia acompanhar o Santo Apóstolo de um enviado ao vice-rei da Índia com a promessa de bem acolher nos seus domínios padres e comerciantes portugueses. Para o rei de Portugal, Otomo enviava belos presentes e uma carta sendo portador o converso japonês Bernardo, que viria a ingressar na Companhia de Jesus, no Colégio de Coimbra, tornando-se assim o primeiro japonês a pisar terras europeias. Em 1554-1556, o vice-rei D. Pedro de Noronha designa Fernão Mendes Pinto para acompanhar uma missão religiosa ao Japão, chefiada pelo Vice-Provincial Pe. Nunes Barreto, mas o autor da “Peregrinação” viajava na qualidade de embaixador, encarregado de estabelecer relações diplomáticas entre o Japão e a Índia Portuguesa. Um ano antes desta missão, Otomo escrevera também uma carta, acompanhada de alguns presentes, ao rei de Portugal, D. João III, incumbindo-se desta tarefa Diogo Lopes de Sousa. A resposta a esta carta tem o selo de D. Sebastião, que então tinha apenas quatro anos. É dirigida a Otomo, em 16 de Março de 1558, e nela diz o rei que o

Relações Luso – Nipónicas nos sécs. XVI e XVII. (3ª Parte)

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Carlos Rodrigues Jaca 1

Relações Luso – Nipónicas nos sécs. XVI e XVII. (3ª Parte) Carlos Jaca

Publicado no “DIÁRIO DO MINHO” 28/09/05, 05/10/05 e 12/10/05

Durante o período de permanência portuguesa no Japão, a política do país

fechado não possibilitava o estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois

países, isto se quisermos dar à referida expressão o sentido que hoje geralmente lhe

atribuímos. No entanto, apesar de tão diferentes culturas, os objectivos religiosos e

comerciais obrigavam a estabelecer contactos por enviados ou missões diplomáticas.

Relações Politicas e Diplomáticas. Primeiros contactos.

O primeiro contacto diplomático, se assim se pode chamar, foi protagonizado por

S. Francisco Xavier quando foi recebido em audiência pelo “rei” ou dáimio de

Yamaguchi. Obviamente, não se trata rigorosamente de uma embaixada, porquanto não

é enviada por um soberano a outro. No entanto, deve considerar-se relevante o facto

de ter sido preparada em nome do vice-rei da Índia,

representante do rei de Portugal.

Quando em 20 de Novembro de 1551 Xavier partiu do

Japão, o dáimio do Bungo, Otomo Sorin, fazia acompanhar o

Santo Apóstolo de um enviado ao vice-rei da Índia com a

promessa de bem acolher nos seus domínios padres e

comerciantes portugueses. Para o rei de Portugal, Otomo

enviava belos presentes e uma carta sendo portador o

converso japonês Bernardo, que viria a ingressar na

Companhia de Jesus, no Colégio de Coimbra, tornando-se

assim o primeiro japonês a pisar terras europeias.

Em 1554-1556, o vice-rei D. Pedro de Noronha designa Fernão Mendes Pinto para

acompanhar uma missão religiosa ao Japão, chefiada pelo Vice-Provincial Pe. Nunes

Barreto, mas o autor da “Peregrinação” viajava na qualidade de embaixador,

encarregado de estabelecer relações diplomáticas entre o Japão e a Índia Portuguesa.

Um ano antes desta missão, Otomo escrevera também uma carta, acompanhada

de alguns presentes, ao rei de Portugal, D. João III, incumbindo-se desta tarefa Diogo

Lopes de Sousa. A resposta a esta carta tem o selo de D. Sebastião, que então tinha

apenas quatro anos. É dirigida a Otomo, em 16 de Março de 1558, e nela diz o rei que o

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seu avô estava para responder à «visitação que lhe mandastes fazer», mas tinha

falecido.

Em 11 de Março de 1562, D. Sebastião dirigia-se novamente ao “rei” do Bungo e,

enviando cópia ao vice-rei da Índia, Conde de Redondo, confirmava que nas suas

relações com o Japão, apenas o preocupavam intenções de carácter religioso não

mencionando nas suas cartas quaisquer interesses de ordem comercial. De facto,

revelava tão somente um forte desejo em difundir a fé católica no Japão e levar o

dáimio do Bungo a converter-se à lei de Cristo.

A Corte de Lisboa mantinha-se informada dos progressos da cristianização, não só

por relatos dos capitães e mercadores como ainda pelas cartas que os jesuítas enviavam

directamente ao rei.

Por sua vez, as autoridades japonesas mostravam-se interessadas em chamar às

suas terras os barcos portugueses, pois o comércio era uma apreciável fonte de riqueza,

como foi o caso do extraordinário desenvolvimento da cidade de Nagasaki. Como

sabiam que os barcos não viriam senão aos portos onde aos padres era permitido residir

e pregar, os dáimios rivalizavam em acolher os missionários. Por isso, o dáimio de

Kagoshima escrevia ao vice-rei da Índia, em 1562:

«V. S. me fará grande honra querer escrever-me porque eu o farei todos os anos

e quando cá mandar portugueses, ou padres, tragam cartas ou recado de V. S. e eu

lhes farei todo o gasalhado e honra que suas cousas merecem».

O “rei” de Bungo, escrevendo em 13 de Setembro de 1568 ao bispo de Niceia, D.

Belchior Carneiro, refere uma carta da Raínha de Portugal «a qual estimei em tanto que

a trago em meu pescoço por relíquias». Porém, Otomo só em 1578 se deixou baptizar,

adoptando o nome de Francisco em homenagem ao “Apóstolo das Índias.”

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Embaixada japonesa ao Papa e ao rei de Portugal (Filipe II de Espanha).

Por volta de 1581, Valignano informava existirem no Japão cerca de 200 igrejas,

20 colégios ou residências com mais de 80 padres e frades, 2 grandes seminários e perto

de 150.000 cristãos.

O Padre Alexandre Valignano tinha sido enviado por Roma como Visitador da

Companhia das Índias Orientais, cabendo-lhe organizar a missão do Japão, elevada a

vice-província, subordinada ao Provincial de Goa.

A dimensão que o cristianismo atingira no território japonês e a necessidade de

um maior apoio europeu à continuidade e consolidação da obra de proselitismo e

cultura, poderão ter inspirado ao Visitador Alexandre Valignano a ideia de enviar uma

embaixada japonesa ao Velho Continente.

Efectivamente, entre 1582 e 1590, realiza-se a primeira embaixada do Japão à

Europa. A oportunidade da missão justificava-se não só para dar a conhecer a grandeza

da obra evangélica levada a cabo pelos missionários nas novas paragens, mas

principalmente para que os japoneses soubessem, através dos seus embaixadores, o que

era o mundo cristão ocidental, a importância das suas cidades, o fausto das suas cortes

e a dimensão da Igreja de que já faziam parte

Luís Fróis no seu «Tratado dos Embaixadores Japões

que foram do Japão a Roma no ano de 1582», refere que

Valignano, o cérebro da embaixada, pretendia «mostrar aos

Japoneses as grandezas da Europa, para que eles viessem

contar o que viram com os seus próprios olhos, para que

não julgassem que não era exacto o que lhes diziam os

padres; também desejava que os senhores feudais cristãos

do Japão enviassem seus parentes a prestar obediência ao

Santo Padre e que este e a sua Corte tivessem

conhecimento dos japoneses».

A embaixada era composta pelos japoneses Mâncio

Ito e Miguel Chigiva e representavam os senhores de Bungo, Arima e Omura,

respectivamente Otomo Yoshishige, Arima Shigetada e Omura Sumitada, que enviavam

as suas homenagens ao Papa e ao Rei de Portugal. Os jovens embaixadores, rapazinhos

que andavam pelos 14 anos, eram acompanhados por dois parentes, Martim Hara e

Julião Nakaura e iam confiados aos cuidados do Pe. Diogo de Mesquita, que era Mestre

do Seminário de Anzuchi e lhes servia de intérprete, e do Irmão Jorge de Loiola.

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Entretanto, de Roma, o Geral da Companhia, Cláudio Aquaviva, determinou que

o Pe. Valignano permanecesse em Goa na qualidade de Provincial, fazendo-se substituir

pelo Pe. Nuno Rodrigues, Reitor do Colégio de S. Paulo naquela mesma cidade.

A embaixada partiu de Nagasaki, em 20 de Fevereiro de 1582, no barco do

capitão Inácio de Lima em direcção a Goa.

Por este tempo não se sabia aqui, ainda, do falecimento do Cardeal D. Henrique

e que, em consequência das Cortes de Tomar de 1581, Filipe II de Espanha era, agora,

também rei de Portugal, facto só conhecido no Japão no Verão de 1582.

A viagem foi longa, tendo a embaixada permanecido alguns meses em Macau e

Cochim. Durante o longo tempo das esperas e da viagem, os dois jovens japoneses

estudavam latim, canto, música, japonês e português.

A 20 de Fevereiro de 1584, dois anos depois de terem largado de Nagasaki,

partiram finalmente para Lisboa onde desembarcaram a 10 de Agosto do mesmo ano.

Recebidos com muito carinho e entusiasmo, ficaram alojados no Convento de S. Roque,

propriedade da Companhia.

Nos Paços da Ribeira foram recebidos pelo Cardeal - Arquiduque, Alberto de

Áustria, que substituía Filipe II no Governo do Reino, em virtude do rei de Portugal e

Espanha se encontrar em Toledo.

O Cardeal Alberto acolheu-os «mui alegre e dignamente» e através do intérprete

Pe. Diogo de Mesquita «respondeo compridamente, mostrando quanto folgava com sua

hida, e vista, e que teria bem cuidado das couzas que lhe encomendavam, e por um

grande espaço dilatou a pratica em lhes perguntar de sua disposição, idades, parentes,

e como se chamavam, e outras diversas couzas. E tendo com elles comprimentos de

muita humanidade, se despediram de S. Alteza».

Durante os 26 dias que permaneceram em Lisboa visitaram o Paço de Sintra e

S.Julião da Barra, mas foi o Mosteiro dos Jerónimos «que de todas as couzas que viram

em Portugal foi a que mais lhes agradou quando viram a riqueza daquelle portal, a

sumptuosidade da Igreja, e nobreza daquelle Mosteiro».

A 5 de Setembro viajaram para Évora onde visitaram o Arcebispo D. Teotónio e

foi rezada missa solene em que Mâncio e Miguel tocaram órgão «mui arrezoadamente»

surpreendendo os assistentes».

Em Vila Viçosa foram recebidos pelos duques de Bragança, D. Teodósio e D.

Catarina, com grande aparato e pompa, tendo os «Senhores Japões ficado

admiradíssimos de ver o estado, e riqueza daquella casa de Bragança, e da sua baixela

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de ouro e prata, e ouro, a Capella não somente ornada de ricas peças, e ornamentos de

muito preço, e vazos grandíssimos de prata e ouro, mas o concerto e ordem sem

discrepância dos cantares e tangedores, as quaes cousas todas estavam tanto a ponto, e

com tanta polícia preparadas, como se podia fazer para receberem, e agazalharem hum

Rey dos Grandes de Europa».

De Vila Viçosa a missão dirigiu-se para Toledo e Madrid. No Escorial foi-lhes

concedida audiência por Filipe II que «os abraçou benigno mostrando grande estimação

da amizade dos seus Reys. Fez-lhes El-Rey grandes mercês e lhes mandou mostrar o

Escorial, e todas as grandezas da sua corte; mandou-lhes preparar huma boa nau para o

transporte a Itália».

Em 20 de Março de 1585 foram recebidos em Roma com grande cerimonial, ao

som de trombetas e clarins. O Papa convocou um consistório a fim de tratar das

formalidades da recepção, determinando que se realizasse «com as mesmas honras que

se davam aos embaixadores da Europa, para edificação dos Reys do Japão, e confusão

dos hereges. Foi o Bispo de Imola, Mestre-camera do Papa cumprimentá-los em nome

de S. Santidade, e o mesmo também fizeram os cardeais e embaixadores».

Efectivamente, a recepção em Roma foi a mais espectacular, com um magnífico

cortejo composto de cavalaria pontifical, cardeais, embaixadores, camareiros e oficiais

do palácio, músicos e à frente Mâncio Ito escoltado por dois arcebispos.

Todos os sinos tocaram e o castelo de Sant´Ângelo disparou salvas de artilharia.

Na recepção com invulgar solenidade, na Sala Régia do Vaticano, os embaixadores

apresentaram as cartas e Gregório XIII abraçou-os, chorando, comovido pela

homenagem dos cristãos que tinham vindo de tão longe. Tratou-os paternalmente,

ofereceu-lhes fatos europeus e dinheiro para as suas despesas.

Os embaixadores tiveram ocasião de assistir à entronização de Sisto V, em 15 de

Abril, duas semanas após o falecimento de Gregório XIII.

No regresso, nas várias cidades da Itália, as manifestações de pompa e regozijo

foram iguais às das cidades por onde haviam passado na ida. Voltaram por Madrid,

Évora, Lisboa, Batalha, Alcobaça. Na visita a Coimbra, onde permaneceram vinte dias,

os jovens embaixadores assistiram às festas do Natal.

Em Abril de 1586 a missão empreendia a viagem de regresso. Porém, só em 1590,

depois de passarem por Goa e Macau os embaixadores japoneses, novamente

acompanhados pelo Pe. Valignano, que ficara naquela cidade como Provincial,

chegaram a Nagasaki.

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Como se sabe, a situação tinha mudado muito com a morte de Oda Nobunaga, e

estar em vigor o édito de 24 de Julho de 1587, decretado por Hideyoshi, que ordenara a

expulsão dos jesuítas.

Antes que a embaixada entrasse no Japão, Hideyoshi declarara que só receberia

o Pe. Valignano no caso deste lhe vir prestar apenas homenagem, pois se viesse como

embaixador para lhe pedir em nome do vice-rei da Índia que revogasse o édito da

expulsão dos missionários nem sequer desejava vê-lo. E, principalmente, que não viesse

falar-lhe da sua «diabólica religião».

Após negociações, Valignano obteve licença para entrar no Japão, não como

missionário, mas na qualidade de embaixador do vice-rei da Índia, D. Duarte de

Meneses.

Na recepção à embaixada os dáimios do Bungo, Arima e Omura, manifestaram

uma enorme satisfação pelo magnífico acolhimento proporcionado aos seus enviados e

pela carta e presentes do rei de Portugal.

Pode considerar-se que a missão dos três dáimios de Kiushu à Europa constituiu

um acontecimento relevante na história das relações entre o Oriente e o Ocidente.

Embaixada de Portugal ao Japão em 1647.

Já foi referido que, em 1638, tinha sido decretada no Japão a proibição de todo

o comércio com os portugueses sob pretexto de terem

eles continuado a trazer missionários, transgredindo

ordens em contrário, e de terem fomentado a rebelião

dos cristãos em Shimabara.

Acontece que pouco depois, em 1640, Portugal

recupera a sua independência, ficando por

consequência a cidade de Macau privada do mercado

da prata das Filipinas que, de certo modo,

compensava a perda da prata japonesa. Ora, sem a prata, essencialmente para se

resgatarem todas as riquezas da China, os interesses comerciais de Macau estavam

condenados à ruína.

A pedido da cidade de Macau, em 1642, e por influência em Lisboa de António

Fialho Ferreira e do padre jesuíta António Francisco Cardim, D. João IV nomeia em

Dezembro de 1643 uma embaixada ao Japão, de que encarrega o Capitão Gonçalo

Sequeira de Sousa, fidalgo da sua casa.

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A notável empresa diplomática destinada a reatar relações comerciais com o

Japão deixou Lisboa em princípios de 1644, mas só alcançaria o seu destino em 1647,

depois de tempestades, desvios de rota e outros contratempos em Goa e Macau.

Finalmente, em 26 de Julho de 1647, os dois galeões de El-Rei de Portugal

chegavam à vista de Nagasaki.

Após a chegada, veio uma embarcação pequena, a que chamam “funem”, «e os

que vinham nella perguntaram que embarcações eram aquellas, quem vinha nellas, e

que queriam, respondeo-se-lhes serem galeões del Rei de Portugal, nos quais enviava

seu embaixador ao imperador do Japão e que havia perto de quatro annos que tinha

partido do Reino, com a qual se despedio a embarcação».

Mais tarde veio outra embarcação que trazia três “jurabaças” (intérpretes)

perguntando se se tratava de uma verdadeira embaixada ou de negociantes, tendo-se

respondido que era uma embaixada oficial do rei de Portugal participando a

restauração da independência e a subida ao trono, não os movendo qualquer intenção

de comércio.

Na madrugada de 15 de Agosto os portugueses verificaram com surpresa que os

galeões estavam prisioneiros, cercados por três fileiras de embarcações, erguendo-se a

intervalos torres armadas com peças de artilharia. Era um cerco fortíssimo, do qual

seria difícil sair. Durante a angustiosa espera, Sequeira de Sousa manteve a maior

dignidade e sangue frio, recusando o ataque ao cerco que os marinheiros pretendiam

levar a cabo.

A 29 de Agosto, depois de várias visitas dos japoneses aos galeões, a trazer e

levar mensagens, vieram finalmente dois altos funcionários com os intérpretes trazer a

resposta que se esperava do conselho do governo, cujo teor é o seguinte:

1º- «Que o Emperador do Japão mandou matar muitos europeus portugueses e

castelhanos, porque tendo prohibido a lei christã, e os mesmos portugueses e

castelhanos mandaram muitas vezes de seus reinos padres a Japão persuadindo e

fazendo christãos a muitos japões, foram causa suas mortes;

2º- «Que a prova certa que promulgando a lei dos christãos com capa da mesma

lei tomaram reinos alheios, e que desejam grandemente tomar também o reino do

Japão, como confessaram alguns europeus, pelo que o Emperador mais e mais tem esta

lei por penosa;

3º -«Que o Emperador por razão dos dous capítulos sobreditos prohibio

rigorosamente o comercio e navegação e comunicação dos portugueses e castelhanos

com o Japão

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4º - «Que posto que o Emperador de Japão os anos atrás mandou e intimou que

se por algum caso viessem a Japão alguns navios do sobredito reino, seriam castigados

com pena de morte todos os que nelles viessem, com tudo por que o Emperador ouvio

agora que el-rei de Portugal lhe mandou embaixador por recobrar seu reino, e que o

embaixador sem repugnância nem resistência entrou no porto de Nagasaque, não julga

o dito embaixador por digno de morte;

5º - «Que ainda que el-rei de Portugal diz agora que deseja amizade do

Emperador, com tudo não há para que assim o desejar, porém outra cousa seria se na

carta que el-rei de Portugal escreve ao Emperador do Japão houver prova certa que

daqui por diante não promulgarão mais com o Japão a lei christã, que o Emperador

tantos annos há tem prohibido a navegação e comunicação daquele reino com Japão,

tão somente por cauza da lei christã, por nenhum caso dará ouvidos a alguma outra

couza, posto que o sobredito possa, assim prohibe o Emperador daqui por diante mais e

mais toda a comunicação daquelle reino com Japão».

Em face desta última determinação, o embaixador Sequeira de Sousa achou

conveniente perguntar aos governadores se D. João IV escrevesse ao Imperador,

garantindo que futuramente «não promulgarão seus vassalos mais a lei cristã nestes

reinos de Japão», a antiga amizade poderia ser reatada.

A resposta transmitida verbalmente pelos governadores foi negativa; que o

desejo do Imperador era não querer com os portugueses amizade alguma e que a sua

última vontade era que se fossem embora.

Concluindo, poderá admitir-se que a embaixada de 1647, parece ser o resultado

do facto do governo de D. João IV presumir que o Japão nos expulsara por julgar os

negociantes e embaixadores «meros instrumentos de Castela, da sua ambição de

domínio e opressão». A embaixada de D. Gonçalo de Sequeira falhou, mas os japoneses

ficaram agradavelmente impressionados com os seus modos dignos e determinados, por

isso lhe permitiram cumprir a sua missão em paz.

A última tentativa para restabelecer relações com o Japão foi feita por Macau

em 1685, quando um junco japonês deu à costa naquele território. O Governo

macaense aproveitou a oportunidade levando os treze náufragos para Nagasaki, no

barco “S. Paulo”. As autoridades japonesas agradeceram e louvaram a atitude dos

portugueses, mas lembraram, mais uma vez, que as leis anticristãs estavam em vigor.

Concluindo este capítulo apraz registar que, muito recentemente, 13 de Julho,

no encerramento da Peregrinação Internacional Aniversária ao Santuário de Fátima, o.

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Arcebispo de Osaka, D. Leo Jun Ikenaga, agradeceu a herança missionária portuguesa

no Japão, sublinhando que foi graças às caravelas portuguesas que o Cristianismo

chegou a este país asiático.

«Em 1543 os primeiros portugueses atracaram no sul do Japão. Foi a partir de

então, já lá vão mais de 450 anos, que as caravelas portuguesas com os seus

missionários nos levaram a fé cristã», sublinhou.

A Igreja Católica no Japão, organizada em 16 dioceses, conta com cerca de 500

mil fiéis, pouco menos de 0,5% da população a que se junta outro meio milhão de

católicos provenientes das comunidades de imigrantes, em especial brasileiros,

peruanos, coreanos e filipinos.

O Comércio Luso – Nipónico. O eixo comercial Macau – Nagasaki – Macau.

Descobertas as ilhas nipónicas, logo os comerciantes portugueses começaram a

demandar o Japão. Se bem que, por este tempo, Portugal não tivesse ainda

estabelecido relações oficiais com a China, verificava-se a existência de um comércio

de contrabando ao longo da costa chinesa, nomeadamente nos territórios de Liampó e

Chincheo.

Efectivamente, a partir de meados do séc. XVI, a rota principal do nosso

comércio dirigia-se para a Índia, com uma linha de derivação para Malaca e China e

outra de Macau para Nagasaki.

O documento mais antigo que refere o nome de Macau, e comprova

simultaneamente a presença portuguesa, é uma carta de Fernão Mendes Pinto:

«Macuao, 20 de Novembro de 1555» registando ainda, o mesmo texto, a variante

“Amaquo”. Também o Provincial jesuíta, Pe. Belchior Nunes Barreto, escreve: «deste

Machoam porto da China, 23 de Novembro de 1555».

Refira-se, no entanto, que a formal cessão de Macau aos portugueses feita

inicialmente pelas autoridades de Cantão data de 1557,logo ratificada pelo imperador

Von Tsong por via da «admirável conduta dos portugueses no extermínio dos piratas,

que entusiasticamente a aplaudiu e, querendo mostrar-se liberal, confirmou a

autorização de os portugueses se estabelecerem na Península de Macau (1557) e dela se

considerarem senhores».

Assim, a presença portuguesa em Macau funcionaria como garante de

estabilidade em toda a região e cobertura à sua navegação costeira. Contudo, sem

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prejuízo para o auxílio no combate à pirataria no mar de Cantão, parece mais provável

que a cessão de Macau tivesse atrás de si um processo evolutivo de natureza politica e

económica que se verificava na China. A cessão ter-se-á feito não tanto para servir

como base de policiamento contra a pirataria, mas fundamentalmente como porto e

entreposto do seu comércio externo e navegação estrangeira.

A cedência de Macau a Portugal proporcionava aos chineses criar, fomentar e

proteger o seu comércio externo, auferindo todas as suas vantagens, mas sem arcar

com as correspondentes responsabilidades, trabalhos e perigos. A cessão fez-se aos

portugueses, porque éramos os únicos intermediários capazes de efectivar e

desenvolver este comércio, visto determos nas nossas mãos o exclusivo das

comunicações marítimas e comerciais, não só entre a Europa e o Oriente como também

- o que era importantíssimo – entre as diversas regiões do Extremo – Oriente entre si.

Foi assim que, após o estabelecimento de Macau, os portugueses se transformaram em

intermediários e transportadores de todo o lucrativo comércio e tráfego da China com o

Japão, Manila, Sião, Malaca, Índia e Europa.

Por volta de 1560, havia poucos chineses que ousavam ir ao Japão e poucos

japoneses se atreviam a sair do seu país.

Devido à fricção constante existente nesta altura entre chineses e japoneses, e

ao facto de o Imperador Ming ter proibido todas as relações entre o seu Império e o

Japão, os portugueses teriam chegado na melhor oportunidade para obter um

monopólio, mais ou menos oficial, do comércio entre os dois países, podendo assim

servir de intermediários. Era, de facto, o estabelecimento do entreposto de ligação

entre Goa e Nagasaki para o intercâmbio comercial e cultural luso – japonês.

Este comércio consistia, essencialmente, em o Japão importar seda crua (não

preparada, tal e qual sai do casulo), roupas de seda, ouro, veludo, pólvora, cerâmica,

chumbo, fio torcido, que os portugueses traziam da China, e especiarias oriundas da

Índia e do Sudeste asiático.

No regresso do Japão os portugueses traziam barras de prata, artigos lacados e

outros objectos de arte de menor importância. Saliente-se que os artigos levados para o

Japão eram originários da China e dos Mares do Sul, nada da Europa. O vinho era

trazido, em tonéis, de Portugal e com frequência oferecido como presente aos senhores

feudais que muito o apreciavam. Também era prática corrente dos jesuítas oferecer

artigos de origem europeia às autoridades locais.

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A viagem de ida e volta entre Goa e Nagasaki, porto terminal do comércio

japonês a partir de 1570, demorava de dezoito meses a três anos, conforme a duração

da estadia em Macau (e / ou Nagasaki), se perdesse a monção.

Nagasaki era uma pobre aldeia de pescadores quando foi encontrada pelo Pe.

Gaspar Vilela, tendo sido o Pe. Cosme de Torres a descobrir as excepcionais vantagens

marítimas como bom porto natural e hoje um dos maiores do Japão. Documentação da

época atesta que os portugueses estavam muito contentes com o porto, a que

chamaram o melhor porto do mundo. A partir de 1571, os barcos portugueses

começaram a entrar em Nagasaki quase todos os anos. No alto, na extremidade do

cabo, construíram uma igreja e as cidades vizinhas de Shimabara, Omura, Hirado,

Yokoseura, etc., começando a prosperar. Japoneses que tinham sido expulsos das suas

casas por terem aderido ao cristianismo, começaram a mudar-se para estas regiões e

construíram as suas próprias cidades cristãs.

Até meados da década de 1550, altura em que os portugueses se estabeleceram

em Macau, o comércio com o Japão era mantido através da iniciativa privada, mas

como os lucros aumentaram o Estado passou a controlá-lo sob a chefia de um capitão-

mor. Mais tarde, a viagem passou a ser adjudicada em hasta pública na cidade de Goa.

O posto de capitão-mor era conferido pelo vice-rei ou governador da Índia, e

anteriormente por concessão régia, como recompensa do serviço prestado nas guerras

da Índia. O capitão-mor, que auferia boa percentagem sobre a maioria dos produtos

que constituíam o carregamento, além dos lucros conseguidos através do seu próprio

investimento particular, acumulava as funções de governador de Macau, mas a partir de

1623 a autoridade do capitão limitava-se aos navios e à jurisdição sobre a comunidade

portuguesa de Nagasaki, de acordo com a tradição asiática que permitia às

comunidades estrangeiras administrarem-se com certa autonomia. O capitão-mor era

tratado com grandes atenções pelas autoridades japonesas, e quando visitava o xógun

recebia as honras do dáimio. Geralmente, porém, o capitão-mor ficava em Nagasaki e

enviava um representante ao xógun de Kioto, e mais tarde a Edo, ao menos uma vez

por ano, levar presentes, segundo costume japonês.

Efectivamente, o capitão-mor era investido não apenas do direito de

superintender no comércio, administração sobre os súbditos portugueses na área

servida pela viagem, como também era investido de poderes de representação

diplomática.

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A viagem proporcionava elevada rentabilidade, contribuindo para que tanto

Macau como Nagasaki se transformassem de obscuras aldeias piscatórias em

florescentes portos de mar, graças a um comércio mutuamente lucrativo. Realizavam-

se gigantescos lucros, que eram quatro vezes superiores aos obtidos antes da extensão

do comércio ao Japão. Na verdade, a viagem completa Índia – Japão, algumas vezes

dando lucros dez ou mais vezes superiores ao valor original das cargas embarcadas na

Índia ou Malaca, era a mais lucrativa de todas as rotas.

O quinhentista Diogo do Couto calculava que o capitão-mor arrecadava entre 70

a 80 mil pardaus em cada viagem, acrescentando que muitas vezes bastava uma destas

viagens para permitir ao capitão-mor reformar-se com fortuna.

De facto, na primeira década do séc. XVII, a posição alcançada pelos mercadores

de Macau em Nagasaki era privilegiada. Os barcos que vinham de Macau traziam

geralmente a bordo duzentos ou mais mercadores, que desembarcavam imediatamente,

instalando-se cada um numa casa com os seus criados e escravos. Não olhavam a gastos

e nada parecia ser caro para eles. Durante os sete ou oito meses que permaneciam em

Nagasaki, chegavam a despender mais de 200.000 ou 300.000 mil moedas de prata, com

o que a população local muito beneficiava. Esta era uma das razões por que os

japoneses que aí viviam lhes dispensavam acolhimento tão cordial

Mesmo já nos últimos anos do comércio com o Japão os portugueses carregavam

anualmente 150 a 200 mil quilos de prata. Notável, se atendermos ao facto de que a

produção mundial da prata orçava por 370 a 420 mil quilos, correspondendo a produção

do Japão um terço a metade da produção mundial nessa época.

O comércio marítimo da Ásia, que permaneceu quase um século nas mãos dos

portugueses, iria entrar em declínio com o aparecimento de holandeses e ingleses nos

mares do Extremo-Oriente, no inicio do século XVII, tornando arriscada a viagem das

“naus de prata” de Goa para Nagasaki, com escala por Macau.

A par do crescente poderio holandês acirrado pelo ódio religioso e politico por

via da União Ibérica, intensificava-se a oposição das autoridades japonesas contra a

pregação da fé de Cristo, recrudescendo a perseguição aos cristãos, tanto conversos

como missionários, que, com desprezo da lei, continuavam a chegar de fora.

Como a prosperidade económica de Macau dependia essencialmente do comércio

com o Japão, os mercadores «puseram-se contra os padres», acusando-os de serem

«causa de quebrar-se este comércio importante por mandarmos padres a Japão».

Perante tal conjuntura, os mercadores decidiram enviar ao governo de Lisboa um

Carlos Rodrigues Jaca 13

pedido no sentido de proibir a actividade dos missionários no Japão e, se para isso fosse

necessário, «alcançar Breve de Sua Santidade que o haja por hora, enquanto as cousas

não tomam outro termo. Não pode Vossa Paternidade crer a miséria em que fica esta

cidade, porque, como todos, tinhão empregada sua prata em peças e seda para Japão,

como estas fazendas se não venderão, não se acha na terra hum real, porque pellas

fazendas ninguém dá nada, e tanto monta como se nada tivessem».

A carreira anual efectuada pela “nau do trato”, entre Goa e Nagasaki, durou até

1639, altura em que a política do país fechado do Xogunado hereditário dos Tokugawas

proibiu, sob pena de morte, as relações com o estrangeiro, exceptuando um reduzido

grupo de holandeses e de chineses, localizados e limitados a dois pequenos bairros de

Nagasaki

Cristianismo e comércio. A cedência de Nagasaki à Companhia de Jesus.

A participação dos jesuítas nas transacções comerciais, apesar de contrária à sua

«profesión e Constituciones», justificava-se pelos elevados custos a que a obra

espiritual da cristianização, ensino, manutenção de hospitais e cura de doentes

obrigava. E mais: sem a presença dos missionários no Japão, dificilmente teria sido

possível, poder-se-á dizer mesmo impossível, ao comércio luso-japonês atingir tão

notável projecção nos mares do Extremo – Oriente. Acrescente-se ainda o efeito

moderador e humanitário proveniente da intervenção dos jesuítas no comércio, como

era o caso da sua oposição ao tráfico de escravos tendo, inclusivamente, os bispos

Pedro Martins e Luís de Cerqueira ameaçado os negreiros de excomunhão

Os barcos portugueses que vinham anualmente para o Japão entravam nos portos

de Kiushu. A partir daqui iniciavam, então, os jesuítas o seu trabalho missionário.

Porém, como muitas vezes os senhores feudais de Kiushu estavam mais interessados no

ganho material do que no espiritual, os jesuítas resolviam tirar partido do interesse

deles pelo comércio, a fim de expandir o seu trabalho de evangelização. Saliente-se

que os comerciantes portugueses mantinham estreitos contactos com os jesuítas, não só

porque estes estavam sob a protecção do rei de Portugal, mas também pelo facto de se

manterem bem informados acerca da situação política japonesa permitindo-lhes, assim,

fornecer conselhos prudentes e seguros.

Com efeito, os jesuítas actuavam frequentemente como intermediários

defendendo, quando necessário, os interesses dos marinheiros e comerciantes junto dos

Carlos Rodrigues Jaca 14

grandes senhores, devido às relações com estes serem mais directas do que com os

capitães ou comerciantes, que permaneciam pouco tempo no Japão.

Que o comércio luso-nipónico não pode (ou não podia) ser dissociado da religião

é o que, claramente, ressalta de uma informação do Pe. Visitador, Alexandre

Valignano:

«Vossa Reverência compreenderá que a seguir à graça e favor de Deus, o maior

auxílio que temos tido até aqui em conservar cristãos, é a “Grande Nau”.

Como os senhores do Japão são muito pobres, e os benefícios quando os barcos

vêm aos seus portos são muito grandes, eles procuram por todos os meios atraí-los aos

seus portos.

E desde que se convenceram de que eles só virão aonde há cristãos e igrejas, e

onde os padres desejam que eles venham, acontece que muitos deles, embora sejam

pagãos, procuram conseguir que os padres venham e conservar as igrejas e os

conversos, pensando que por estes meios, os barcos garantirão outros favores que

desejam obter dos padres. E como os japoneses dependem tanto dos seus senhores,

convertem-se logo que os senhores lhes dizem que o façam e pensam que é esse o seu

desejo. Esta é a porta por onde entraram a maior parte dos que foram baptizados no

começo; e deste modo começamos a ser recebidos no Japão e a converter cristãos em

vários lugares».

No entanto, deve referir-se que muitas das facilidades concedidas pelos dáimios

aos padres visavam a mira no lucro comercial, e se alguns deles se converteram, outros

exteriorizavam sentimentos (nunca experimentados) a fim de cativar a simpatia dos

missionários. Com frequência, os senhores feudais recorriam à intercessão dos padres

para que os barcos viessem comerciar aos seus portos.

Quanto os dáimios privilegiavam o comércio português pode verificar-se pelo

elucidativo episódio ocorrido com o “Santa Cruz”, comandado por Pedro de Almeida.

Quando o barco ancorou frente a Hirado em 1564, o jesuíta Cosme de Torres aproveitou

a oportunidade para exercer pressão sobre Matsuura, dáimio, que havia proibido os

padres de entrar em Hirado e dizer missa. Fundeado a seis milhas da cidade, o capitão

do barco impôs condições à sua entrada no porto, conseguindo, desse modo, a

readmissão dos jesuítas em Hirado e permissão para reconstruir uma igreja. Antes de se

fixarem em Nagasaki os navegadores e comerciantes portugueses frequentavam vários

portos e baías na ilha de Kiushu, nomeadamente, Kagoshima e Yamagawa, onde os

dáimios da família Shimazu criaram dificuldades à cristianização. Como os comerciantes

procuravam os lugares onde viviam os missionários, uma vez que estes constituíam o

Carlos Rodrigues Jaca 15

seu apoio moral e elo de ligação, sobretudo no início, com os senhores feudais,

procuraram novos portos situados mais ao norte.

Descoberto o excelente porto de Nagasaki os portugueses procederam à

construção da cidade, em lugar acidentado para garantir melhor defesa, e voltado ao

mar.

A decisão da escolha teria pertencido ao Pe. Cosme de Torres «para que a Nao

pudesse perseverar nas terras de Dom Bartholomeo, e a Christandade ser com ella

favorecida, e ajudada, buscar-lhe porto seguro, e tomando um piloto com alguns

companheiros, de propósito andou o Padre. Correndo aquella costa e sondando as

entradas para descobrir o que melhor parecesse; e achando para isto ser apto e

conveniente o porto de Nagasaki, fazendo primeiro os consertos necessários com Dom

Bartholomeo, começou o Padre e os cristãos que andavam com suas famílias às costas

morando à sombra da Nao e ordenar-lhe ali Povoação de assento e morada certa».

A primeira vez que a “nau do trato” fundeou no porto de Nagasaki, uma aldeia

de pescadores, foi em 1571, ano da fundação da cidade. Com o comércio de Macau e o

afluxo de refugiados cristãos, Nagasaki iria, em breve, tornar-se numa grande cidade,

conhecida em todo o Japão

Em 9 de Junho de 1580, conforme consta da acta de doação, Omura Sumitada,

senhor de Orima (baptizado com o nome de Bartolomeu) e seu filho Sancho, atendendo

ao muito que deviam aos padres da Companhia, faziam «uma doação livre e perpétua, à

dita Sociedade e ao seu Padre Visitador, da aldeia de Nagasaki com todas as terras e

campos dentro dos seus confins sem qualquer reserva e dou-lhes de agora em diante

posse dela…Também dou e concedo a titulo perpétuo os dinheiros que o navio dos

portugueses tem que pagar pelo tempo em que permanece no dito porto, reservando

para mim os direitos do navio e de todos os outros navios que cheguem ao dito porto.

Darei ordem aos meus funcionários para fazer a colecta destes direitos, mas não devem

interferir em nada que diga respeito à governação do dito lugar» … No entanto, o

documento da doação reservava para D. Bartolomeu o direito de soberania, como se

infere do tributo anual que os jesuítas tinham de lhe pagar.

A doação da cidade e porto de Nagasaki envolvia uma complexidade tal, que

Valignano achou por conveniente dar conhecimento e justificações às autoridades de

Roma. Como Valignano tinha sido o homem que aceitou a doação e assentou nas suas

condições, competia-lhe enviar ao Geral da Companhia, em Roma, o relato fiel da

origem da cedência e as razões que levaram Omura Sumitada a fazer a oferta.

Carlos Rodrigues Jaca 16

Comunicava que os proventos dos navios ser-lhe-iam assegurados para sempre,

porquanto se o porto pertencesse aos missionários os comerciantes nunca mais

deixariam de lá ir. E mais: o próprio D. Bartolomeu e o seu território ficariam seguros,

pois se o porto fosse pertença da Igreja «seria sempre para ele um santuário onde se

poderia refugiar numa qualquer emergência, e desta forma nunca perderia o seu

território».

Valignano comunicava, ainda, que tinha aceite a doação, condicionada ao direito

de abandonar o porto sempre que o julgasse conveniente, pedindo ao Geral parecer

favorável a esta condição. Isto impunha-se não só por via da instabilidade da política

japonesa, mas também devido ao regulamento sobre a posse dos bens eclesiásticos:

muitos desses bens eclesiásticos não poderiam ser alienados sem autorização da Santa

Sé, o que tornava a situação melindrosa no caso de uma mudança imprevisível da

política japonesa., visto que a distância de Roma não permitia uma autorização

atempada.

O Geral Aquaviva ratificou a doação, mas não deixou de sublinhar que em caso

nenhum deveria ser aceite apenas para garantir as vidas dos membros da Companhia na

sua condição temporal. Aceitava a doação e aprovava a condição imposta por

Valignano, «porque pareceu ao Padre Visitador e a outros padres do Japão que desta

forma a comunidade cristã e o senhorio das terras de Omura poderão ser ajudados».

Pode afirmar-se, sem dúvida, que a doação de 1580 continha vantagens para

ambas as partes: D. Bartolomeu garantia para os seus domínios o comércio português e

a protecção contra as ambições de Riõzõji (que era pagão e senhor de todo o reino de

Hizen); aos missionários era-lhes assegurado um rendimento anual e uma base sólida

para o seu apostolado.

Presença da Cultura Portuguesa no Japão.

O contacto com a cultura europeia, através especialmente dos portugueses,

marcou de tal modo a cultura japonesa que em nenhum outro país, exceptuando o

Brasil e os nossos antigos territórios africanos, a influência portuguesa foi tão

profunda e extensa.

Facilmente se conclui que o cultural e o religioso estão “umbilicalmente”

ligados na acção portuguesa no Japão, não só porque essa acção foi fundamentalmente

Carlos Rodrigues Jaca 17

desenvolvida por missionários, mas também pela carga que o factor religioso exercia,

por esse tempo, na cultura portuguesa, nomeadamente ultramarina.

A civilização europeia, levada pelos portugueses, chega ao Japão num momento

histórico. A cultura japonesa encontrava-se numa situação de baixo nível e abalada por

frequentes guerras feudais que destruíam o país; o próprio budismo «a mais rica fonte

de espiritualidade», envolvia-se em lutas políticas, dividido em seitas religiosas que se

guerreavam criando um clima de descrédito.

Profundas transformações iriam acontecer no território japonês por efeito do

impacto da cultura portuguesa. No entanto, convém esclarecer que neste processo de

europeização, colaboraram e distinguiram-se homens de varias nações, como S.

Francisco Xavier, que era basco, Alexandre Valignano, italiano, mas na sua maior parte

os missionários eram portugueses e, mais que quaisquer outros, constituíam a

vanguarda e o “grosso da coluna” na missão de ocidentalizar o Japão dos sécs. XVI e

XVII.

Educação e Ensino.Quando os jesuítas portugueses chegaram ao Japão e verificaram a

degeneração em que se encontrava o ensino, decidiram lançar meios para dotar a

juventude de educação cristã.

A primeira escola elementar foi estabelecida em Funai, na Igreja de Bungo, em

1561, e vinte anos mais tarde a rede estendia-se por todo o país, atingindo cerca de

duas centenas.

Obviamente, que o ensino da Religião ocupava o lugar mais importante entre as

disciplinas que eram leccionadas, bem como orações em japonês e latim,

acompanhadas de música sacra. O Catecismo Romano publicado em 1563, foi traduzido

no Japão cinco anos depois, e era utilizado como livro de texto. O estudo de línguas,

especialmente o japonês e o latim, implicava uma cuidada preparação, sendo o japonês

estudado em caracteres românicos.

Após o decreto de expulsão dos missionários por Hideyoshi em 1587, estas escolas

elementares entraram rapidamente em decadência.

Para além destas escolas elementares os jesuítas portugueses estabeleceram

Seminários no Japão, porquanto o progresso do cristianismo aconselhava a preparação

de sacerdotes japoneses. O Visitador Alexandre Valignano fundou dois Seminários, um

Colégio e um Noviciado. No Seminário de Arima estudavam cerca de 100 estudantes,

quatro dos quais foram enviados à Europa em 1582, e um sobrinho do Imperador

Carlos Rodrigues Jaca 18

Ogimachi. Filhos de dáimios e samurais e outros alunos procedentes de classes sociais

superiores estudaram no Seminário de Miyaco.

Em 1585, foi estabelecido em Funai um Colégio de Humanidades e Retórica.

Porém, devido à lei de 1587, teve de transferir-se para Chijiwa e finalmente para

Amacusa e Nagasaki. Pode avaliar-se o elevado nível deste Colégio quando se lê a

famosa “Arte Breve da Língoa do Japam”, a primeira gramática de língua japonesa,

composta pelo Padre João Rodrigues, Tçuzzu (intérprete) e publicada pelo Colégio de

Nagasaki

À época da chegada dos portugueses a ciência existente no Japão era a mesma

que fora trazida da China, sendo fortemente influenciada pela adivinhação,

superstição ritos religiosos e feitichismo; a observação e a experimentação não

despertavam qualquer interesse, encontrando-se a astronomia, matemática e medicina

em situação idêntica à que haviam atingido nos sécs. VIII e IX.

Apesar das suas limitações, a ciência europeia da época muito poderia transmitir

aos japoneses não só no domínio do conhecimento, como no do método e critério

cientifico, para além de que em certas ciências como a astronomia e as ciências

náuticas, os portugueses alcançaram renome europeu dada a sua larga experiência

marítima.

O notável influxo da cultura portuguesa, “Namban Bunca”, que o Japão foi

absorvendo e iria amadurecer nos dois séculos seguintes, manifestava-se no campo da

astronomia, geografia, arquitectura, arte militar, ciências naturais e com particular

repercussão no domínio da medicina e da navegação, das artes, das técnicas da

construção naval e da imprensa.

As Ciências:

Ciência Militar. Quando os três portugueses chegaram à ilha de Tanegashima, em 1543,

iniciaram os japoneses no uso das armas de fogo, nomeadamente o mosquete, (em

japonês “Teppô), que iriam despertar grande interesse entre os senhores feudais. A

melhor informação sobre a chegada dos portugueses ao Japão denomina-se

precisamente “Teppô – Ki (Livro das Espingardas) obra composta no período Keichô

(1596 - 1614) pelo bonzo Dariuji Bunji ou Fumiyuki

Carlos Rodrigues Jaca 19

As primeiras espingardas, “Teppô”, foram fabricadas em Tanegashima, a pequena

ilha onde os portugueses primeiro desembarcaram, e passaram a ser chamadas

“tanegashima.”

Inicialmente, canhões e pistolas eram importados da Índia pelos senhores

feudais, mas, pouco depois, com uma rapidez incrível, os armeiros japoneses

dominavam a técnica de fabrico de espingardas, sendo vendidas aos milhares por todo o

país. Nos finais do séc. XVI estabelecia-se uma fundição de canhões em Nagasaki.

O emprego da artilharia transformou totalmente a arte da guerra: mudança das

tácticas militares, sistemas de fortificação e encurtamento das guerras civis. A

composição dos exércitos foi modificada, passando a fazer menos uso da cavalaria e a

empregar mais largamente a infantaria, de tal modo que no espaço de uma geração

desapareceram os combatentes a cavalo.

Oda Nobunaga, o 1º unificador do Japão, e os seus dois sucessores, Hideyoshi e

Ieyasu, nunca prescindiram da técnica de guerra, atribuindo grande importância às

armas de fogo; a própria protecção que Nobunaga dispensou aos missionários não era

alheia ao interesse de adquirir armas e munições aos portugueses.

Os êxitos militares de Nobunaga e de Hideyoshi não seriam possíveis sem a

utilização das armas de fogo, facilitando a unificação do país.

Os japoneses procuraram assimilar dos portugueses os conhecimentos de técnica

militar e de emprego de armas de fogo. Nos finais do séc. XVI surge o primeiro tratado

de artilharia cujo autor é Inatomi Ichimu (1562 – 1611), «Inatomi Ryu Kajutsu»(Tratado

de Artilharia de Inatomi).

Os conhecimentos adquiridos em contactos com os europeus iam sendo

progressivamente desenvolvidos e compilados em várias obras, e teria sido «a diligência

dos japoneses em procurar pôr-se a par dos progressos da arte militar ocidental que

permitiu ao Japão sair vitorioso da guerra com a China em 1894 – 1895 e vencer uma

das maiores potências europeias, a Rússia, em 1904 - 1905».

Medicina. Antes da chegada dos portugueses o exercício da medicina no Japão baseava-

se em conhecimentos trazidos, nos meados do séc.VI por médicos e farmacêuticos

chineses. No século seguinte, esses conhecimentos eram adquiridos através de

estudantes japoneses que se deslocavam à China. A medicina chinesa, “Kampo Igaku”,

envolvia práticas de feitiçaria, ritos budistas, incluía acupunctura, massagem e drogas;

permanecendo durante séculos em estagnação, a medicina japonesa limitava-se a

copiar a medicina chinesa.

Carlos Rodrigues Jaca 20

Assim, quando os portugueses chegaram e trouxeram a medicina europeia,

“Namban Igaku”, (medicina do povo do Sul), operou-se uma viragem espectacular na

medicina japonesa, apesar da ciência médica ocidental se encontrar ainda em «estado

primitivo, mas o principio de objectividade que a ela presidia era de extraordinária

importância para expulsar as superstições e feitiçarias que envolviam a medicina

oriental».

Cabe a Luís de Almeida, mercador e licenciado para exercer a medicina, a glória

de ter introduzido a medicina ocidental no Japão:

«impressionado por la actividad de los jesuítas en el Japón

en cuanto al tratamiento de enfermedades, y viendo la

cantidad de abortos y el abandono de niños por razones de

pobreza, asi como el numero de leprosos, dicidió ingressar

en la Compañia de Jesus, entregando todo su dinero,

fundando un hospital en Funai em 1557 del cual llegó a ser

medico».

Luís de Almeida, justificaria a edificação do hospital

pelo facto dos japoneses não terem «maneira de cura, principalmente e de cirurgia».

Os primeiros anos da vida missionária de Luís Almeida desenvolvem-se em Funai,

a capital do Bungo. O seu campo de trabalho são os dois departamentos do hospital:

dirigia um departamento para os feridos e outro para leprosos e doentes contagiosos.

Anos de trabalho silencioso, abnegado, durante os quais se vai preparando para o seu

futuro apostolado. Aprende o idioma, os costumes e, nesse contacto diário, intimo, com

os seus doentes, vai penetrando no coração japonês.

Como a medicina interna, a cirurgia e o tratamento da lepra tivessem atingido

resultados satisfatórios, aumentou o número daqueles que acorriam ao hospital, o que

levaria Luís de Almeida a preparar quem o pudesse ajudar e também dar oportunidade

ao seu trabalho instruindo, assim, alguns japoneses, que cedo se tornaram óptimos

colaboradores. Entre os seus discípulos salienta-se Yamamoto Gensen que, em 1619,

escreveu o mais antigo livro conhecido sobre cirurgia, “Bangai Shuyo” (Colectânea

Sumária dos Conhecimentos Médicos).

Luís de Almeida medicava com drogas e ervas, tendo estabelecido uma farmácia

«com tantos materiais em mezinhas que mandara vir da China, que pera tudo se achava

logo remédio en sua caridade».

Luís de Almeida

Carlos Rodrigues Jaca 21

Entregue ao trabalho de manhã à noite, curando numerosos doentes, uns

residentes no hospital e outros que iam à consulta, a sua reputação estendia-se à

capital Miyaco (actual Kioto) e à região de Kanto, no Leste do Japão.

Um outro jesuíta português, cirurgião, tendo abjurado o cristianismo após ter

sido torturado, Cristóvão Ferreira, mais conhecido pelo nome japonês de Sawano

Chuan, contribuiu para a continuidade da tradição médica portuguesa, escrevendo o

livro “Namban Geka Hidensho” (“A Tradição Secreta da Cirurgia Namban”) e, ainda,

formando vários discípulos.

Geografia. Até meados do séc. XVI, os conhecimentos que os japoneses conheciam no

domínio da geografia eram muito rudimentares. Segundo um autor nipónico moderno

pensava-se, então, que o mundo se reduzia ao Japão, Índia e China, não tendo a menor

ideia acerca da existência da Europa,

África e América.

De qualquer modo, pelo menos a

partir da chegada dos portugueses, é

notório o interesse dos japoneses por

mapas, cartas e globos demonstrando

viva curiosidade em obter

informações sobre o resto do mundo.

Oda Nobunaga interessava-se

pela geografia da Índia, pelos

costumes de outros países e ainda por aspectos relativos ao clima, Sol, Lua e estrelas.

Certamente, sabendo do interesse de Hideyoshi pelos assuntos de natureza

geográfica, a embaixada enviada ao Papa em 1582 trouxe-lhe entre os presentes,

enviados a partir de Roma, Portugal e Espanha, um exemplar do atlas mundial de

Abraão Ortelius, composto por 53 mapas, tendo Hideyoshi encomendado ao pintor Kano

Eitoku um biombo cujo tema era um desses mapas ampliado.

O interesse pela geografia pode ainda observar-se na temática tratada em cerca

de dez ou mais biombos da época. O primeiro mapa-mundo e esfera armilar, conhecidos

no Japão, datam de 1630, elaborados por Fukada Seshitsu. Acrescente-se, também, que

a teoria da esfericidade da terra surge pela 1ª vez, em 1650, numa obra japonesa,

“Kenkon Bensetsu” (Acerca do Universo) que é a tradução de um livro português de

astronomia, como se conclui da seguinte passagem: «Há dois países na Europa, Portugal

e a Espanha: os Espanhóis navegaram para Oeste e os Portugueses para Leste, para a

Carlos Rodrigues Jaca 22

China e o Japão e aí se encontraram muitas vezes. Portanto a forma da terra é

redonda».

Astronomia. Também a astronomia fez sentir a sua influência sobre a cultura japonesa.

Parece que uma das razões da atenção dispensada aos missionários era o seu

conhecimento na área da astronomia, uma vez que tanto no Japão como na China, era

atribuída enorme importância aos fenómenos celestes na vida social e individual.

Considere-se que os missionários dissertaram sobre os corpos celestes, a

estrutura do Universo, a Terra e os fenómenos atmosféricos para demonstrar a

existência de Deus, já que os japoneses não tinham o conceito como Criador. Por esta

razão se compreende que as missões tivessem feito sentir a Roma a necessidade de

todos os missionários serem versados

em astrologia.

Valignano, Carlo Spínola e mais

tarde Cristóvão Ferreira contribuíram,

de modo notável, para o

desenvolvimento desta ciência no

Japão. Em Miyaco, estabeleceram um

Instituto de Matemática e Astronomia e

em Nagasaki um Observatório.

Obviamente, os jesuítas não trouxeram para o Japão a teoria heliocêntrica, que

Copérnico lançara precisamente no ano da chegada dos portugueses, porquanto o

sistema geocêntrico de Ptolomeu representava a doutrina oficial da Igreja, além de que

aos japoneses interessava sobretudo a prática de navegação.

O primeiro livro que se conhece no Japão sobre a astronomia ocidental é da

autoria de Frei Pedro Gomes, Vice-Provincial do Japão, publicado em 1594 e usado nas

escolas japonesas.

Ciências Náuticas. No inicio do séc. XVII apareceu um livro japonês sobre navegação

“Genna Kokaisho” (Livro Náutico da Era Genna), escrito por Ikeda Koun, provavelmente

cristão de Nagasaki, e que aprendera a arte de navegar com o capitão Manuel

Gonçalves durante uma viagem a Manila em 1619.

Considerado por Kiichi Matsuda, Professor da Universidade de Kwansei-Gakuin

(Osaca), como o documento mais valioso da história da ciência no Japão, este livro

Carlos Rodrigues Jaca 23

resume todas as técnicas de navegação usadas pelos portugueses, que eram então as

mais avançadas do Mundo.

O autor japonês inclui no “Genna Kokaisho” os seguintes tópicos: o calendário

solar (almanaque); tábuas de longitude e latitude; métodos para calcular a latitude

pela altura do Sol; técnica para ler a bússola e as suas 32 direcções; medida do

quadrante; astrolábio; mapa de declinação; mapa de navegação dos mares entre

Nagasaki e Macau; uso da sonda; mapa de

navegação dos mares entre o Sião e o Japão;

conhecimentos indispensáveis para

navegadores e pilotos; vária informação de

astronomia.

Embora a política de isolamento,

decretada em 1639, tivesse diminuído

significativamente a importância deste conjunto de conhecimentos, a obra de Ikeda

Koun iria servir de apoio às gerações seguintes como se prova pela utilização que dela

faz, em 1670, Shimaya Sadashigue no seu livro “Anjin no Hô” (Princípios de Navegação).

Também as grandes naus e carracas (antigos barcos de longo curso), que

anualmente aportavam ao Japão, estimulavam a construção naval e a sua marinha

mercante e de guerra.

Os barcos portugueses, que representavam para a época um avanço

extraordinário na técnica de construção, eram muito admirados sobretudo pela sua

tonelagem, chegando mesmo as maiores naus a atingir as 2000 toneladas.

Há notícia de que, por volta de 1587, Oda Nobunaga mandou construir um barco

couraçado de ferro sob a direcção de técnicos portugueses. Hideyoshi cobiçava os

nossos barcos tentando, por uma vez, adquirir um navio de guerra ancorado em

Nagasaki. Os portugueses sempre se opuseram a que os japoneses criassem a sua

própria frota, receando o aniquilamento do rico comércio de Macau com o Japão.

As Artes:

Pintura. Os biombos “Namban”. (“Namban”, significava Bárbaros do Sul, designação

que os japoneses davam a portugueses e espanhóis).

Seria também através dos missionários que os japoneses iriam tomar contacto

com a arte europeia, nomeadamente com os novos processos de pintura a óleo e

pintura mural. Com o objectivo de ensinar e aplicar estes novos processos, foi criada

Carlos Rodrigues Jaca 24

uma escola que viria a ser a origem de toda a pintura em estilo euro-japonês, nos sécs.

XVI e XVII.

Desde cedo os missionários trouxeram consigo obras de arte religiosa,

especialmente quadros a óleo de santos, e que

logo chamaram a atenção dos japoneses.

Como o desenvolvimento do cristianismo

tornasse insuficiente o número de quadros

importados para satisfazer o desejo daqueles

que os queriam possuir, os artesãos e artistas

japoneses começaram a reproduzir no estilo

europeu. Pela primeira vez se ensinava no

Japão «pintura al óleo, pintura mural (usando uma mezcla de yema de huevo, cola y

pigmentos), pintura al carbón y gravados. El hermano jesuíta Giovanni Nicolao fué el

más famoso pintor y maestro del nuevo estilo». Grande número de pinturas religiosas

perderam-se durante a perseguição, mas foi possível encontrar muitas que

permaneceram ocultas cerca de trezentos anos.

Entre a arte japonesa de inspiração europeia são dignos de referência os famosos

biombos “Namban”, dos quais foram encontrados cerca de sessenta e, provavelmente,

pintados entre 1600 e 1630. Os seus autores são desconhecidos, com excepção de Kano

Eitoku e Kano Naizen.

Embora os biombos “Namban” apresentem influência ocidental nas técnicas e

materiais utilizados, o estilo é totalmente japonês, sendo a chegada dos portugueses ao

Japão o tema fundamental destas pinturas. Nestes biombos, de dois a quatro, seis ou

mesmo oito caixilhos, a chegada do barco português a lançar âncora na baía é

representada à esquerda; ao centro, uma procissão de cavaleiros e de fidalgos,

precedidos pelo Capitão-mor, acompanhados pelo séquito dos escravos e dos serventes;

à direita: o grupo de religiosos, os padres e os monges das diferentes ordens, mas

principalmente jesuítas vestidos de negro.

Existe também um grupo de biombos conhecidos pelos nomes de “Mapa-mundi”,

“Padre com dois meninos japoneses”, “Rei católico lutando contra um rei maometano”,

“A batalha de Lepanto” e “Quatro cidades europeias”, todos eles cópias mais ou menos

fiéis de quadros provenientes da Europa.

Se bem que as cenas mais frequentes sejam relativas a Nagasaki, a maior parte

dos biombos era pintada em Kioto.

Carlos Rodrigues Jaca 25

Esta arte começa a declinar ainda antes da expulsão definitiva dos portugueses,

pois o recrudescimento da perseguição ao cristianismo não podia deixar de limitar a

liberdade de temas dos pintores da arte “Namban”.

Música. Referências da época dão-nos algumas notícias acerca da introdução da música

europeia no Japão, particularmente no que diz respeito às canções e hinos religiosos

ensinados nas escolas dos jesuítas, sendo que os temas das canções eram histórias

bíblicas em latim e português. Porém, a música não era exclusivamente religiosa,

também os marinheiros tinham as suas bandas ou orquestras: quando S. Francisco

Xavier chegou a Funai, os marinheiros

marcharam em formação levando à frente

uma banda de música.

Os cortejos desfilavam das naus em

visita aos dáimios acompanhados por

orquestra. Fernão Mendes Pinto, que

acompanhou o Padre Francisco Xavier em

visita ao dáimio do Bungo, Otomo Yoshishige,

diz que eram seguidos por «trombetas e

frautas que de quando em quando

alternadamente iam tangendo».

Nas escolas eram organizados cursos

especiais de música. Na Igreja de Arima era

ensinada música vocal e instrumental, bem

como música gregoriana, polifónica e órgão.

Os jovens embaixadores enviados à Europa

tocaram órgão na Sé Catedral de Évora, surpreendendo todos os presentes, e no seu

regresso ao Japão tocaram harpa, violino e outros instrumentos perante Hideyoshi, que

gostou tanto que os fez repetir três vezes.

Arquitectura. Outro campo de grande influência portuguesa é visível na arquitectura

de castelos feudais, como o foi na construção das escolas de Arima, Azuchi, perto de

Kioto, Funai e em outros edifícios de carácter religioso que, posteriormente, foram

destruídos.

Carlos Rodrigues Jaca 26

A arquitectura militar foi directamente aprendida com os portugueses,

representando uma harmónica fusão entre os elementos arquitectónicos tradicionais e a

arquitectura europeia.

Os castelos eram fortificados para resistirem aos canhões, então frequentemente

utilizados. Eram constituídos por sólidos muros de pedra, que serviam de base a uma

elevada estrutura de madeira, revestida de cal, chamada “tenshu-kaky (torre do

castelo) sendo a construção rodeada de fossos.

Considera-se não haver castelos construídos na Europa, na mesma época, que se

lhes possam comparar em beleza e, ao mesmo tempo, adequados à defesa.

Urbanismo – Nagasaki. Nagasaki é uma cidade diferente de todas as cidades japonesas.

As cidades japonesas preferem a planície ou, na montanha, o planalto, onde o terreno

é igual e sem ondulação. Por isso todas as cidades japonesas, com excepção de

Nagasaki, são planas, sobre campo raso. A edificação destas cidades seguiu,

antigamente, os cânones urbanísticos chineses, isto é, a construção em xadrez,

constituída por ruas traçadas horizontalmente. Foi o sistema seguido nas antigas

capitais de Nara e de Kioto.

Nagasaki optou por um sistema urbanístico diferente. Foram os portugueses que

escolheram a localização da cidade e que iniciaram a sua construção. Escolheram um

lugar acidentado, por permitir mais fácil defesa, voltado ao mar. Era o sistema grego da

Acrópole e o sistema das cidades medievais.

Parece, dizem, que este sistema veio a dar boas provas no final da 2ª Grande

Guerra: «enquanto Hiroshima, erguida na planície, ficou destruída numa área de 12

quilómetros quadrados, ou seja 90% da sua área, com 150 mil vítimas das quais 80.000

mortos, Nagasaki, protegida pelos outeiros, que a dividem, foi destruída em menos de

metade, 4,5 quilómetros quadrados, com 40 mil mortos e outros tantos feridos».

Nagasaki era o centro cristão no Japão. Ali se refugiaram os cristãos perseguidos,

os comerciantes portugueses e os tripulantes dos navios que permaneciam em Nagasaki

de Junho a Fevereiro, os comerciantes espanhóis e chineses, bem como a populaça

japonesa que vivia do comércio e do contacto com os estrangeiros.

Imprensa. Ao visitar pela primeira vez o Japão, o Pe. Alexandre Valignano advertindo

para a necessidade da publicação de livros sobre religião e de textos a utilizar nas

escolas, viria a providenciar para que os embaixadores japoneses, na sua viagem a

Roma, trouxessem no regresso uma máquina impressora de caracteres metálicos.

Carlos Rodrigues Jaca 27

De facto, em 1590, a embaixada à Europa trazia de volta, ao seu país de origem,

uma imprensa e dois irmãos jesuítas japoneses que aprenderam a arte tipográfica em

Portugal. A imprensa cujo tipo de letras era de metal podia imprimir letra latina,

“romaji”, caracteres chineses, “kanji” e os dois silabários japoneses, “katakana” e

“hiragana”. Os jesuítas foram os primeiros a usar “hiragana”, com ideogramas cursivos,

“sôsho”, e introduziram o uso do “kana” ao lado do caracter chinês, processo chamado

“furigana”, ainda hoje habitualmente usado, que muito facilita a leitura do japonês.

Ao proceder à transcrição ortográfica da língua japonesa em caracteres latinos,

os jesuítas possibilitaram,

através dos livros cristãos,

aos japoneses de hoje

saber como era

pronunciado o seu próprio

idioma nos sécs. XVI e XVII.

A tipografia ficou

instalada inicialmente

(1591) em Kazusa, no ano

seguinte é transferida para

Amacusa e, por fim, em

1598, a violência das perseguições obriga-a a fixar-se em Nagasaki.

Entre 1591 e 1614 foram publicadas obras de carácter religioso, literário e

estudos sobre a língua japonesa algumas das quais são, ainda hoje, consideradas

valiosíssimas.

Relativamente a livros de carácter doutrinário, alguns deles de autores célebres,

saliente-se a “Imitatio Christi” de Tomás de Kempis, publicada sob o título de

“Contemptus Mundi”, “Doctina Christiana”, “Fides no Doxi”, que é a quinta parte da

“Introdução ao Símbolo da Fé” por Frei Luís de Granada, “Guia de Pecadores”, do

mesmo autor, e “Exercitia Spiritualis” de Santo Inácio de Loiola.

Como livros de línguas, foram dados à estampa o “De Institutione Gramática”

(Gramática Latina), por Emanuel Álvares S. J., “Dictionarium latino-lusitanicum ac

japonicum”, “Rakuyo-Shu (Dicionário Japonês - Chinês), “Vocabulário de Língoa de

Japan”, «muy copioso com a Linguagem portuguesa em que se gastaram mais de quatro

annos por hum Padre, que com diversos japoens o fez com muita diligencia, que sem

duvida há de ser de grande proveito para os que de novo vem a esta terra»; “Arte de

Carlos Rodrigues Jaca 28

Língoa de Japan”, gramática da língua japonesa do Padre João Rodrigues, famosa desde

então até aos nossos dias, pois ainda hoje é adoptada nas escolas japonesas.

Ainda na tipografia de Amacusa foram impressos textos literários japoneses em

caracteres latinos como “Taiheiki” (Crónica da Grande Pacificação),”Wakan-roei-shu”

(Colecção de Poesia Nipo-Chinesa), “Kinku-shu” (Colecção de Provérbios), “Heike-

Monogatari” (Contos de Heike), e vários outros “monogatari” (contos) já desaparecidos.

Entre as publicações de carácter didáctico que alcançaram alguma notoriedade,

e de que existem ainda exemplares, refira-se uma tradução das “Fábulas” de Esopo, em

japonês, e uma antologia na mesma língua de autores gregos e latinos: Homero, Platão

Aristóteles, Séneca e Cícero.

Saliente-se que grande número de palavras portuguesas passaram para língua

japonesa, sendo que umas são de uso diário em quase todo o país, algumas são usadas

em determinadas regiões e outras caíram em desuso: ananás – ananasu; biscoito –

bisukouto; bolo – boru; botão – botan; capa – kappa; capitão – kapitan; carta – karuta;

Cristo – kirishito; católico – katorikku; frasco – furasuku; Jesus – esu; pão – pan;

manteiga – manteika; marmelo – marumero; Portugal – Porutogaro; manto – manto;

sabão – shabon; saia – saya; tabaco – tabako; vaca – waca; veludo – birodo; vidro –

bidoro; calção – karusan; piloto – piroto; ouro – uru, etc., etc.

Mesmo depois da expulsão definitiva e após uma permanência de quase cem

anos, «la langue portugaise fut pendant des annés la langue officielle de

communication des Japonais avec les Hollandais, puis avec les Anglais qui arrivaient

pour faire du commerce. Les interprètes étaient absolument nécessaires pour discuter

les problèmes diplomatiques qui ne cessaient pás de se pose et surtout pour interroger

les missionnaires qui continuaient de pénétrer clandestinement au Japon».

Em 1673, o navio inglês “Return” aportou a Nagasaki com uma carta de Carlos II

dirigida ao Shógun, onde lhe propunha a efectivação de relações comerciais.

Significativo: a carta em inglês era acompanhada da respectiva tradução portuguesa.

Os novos conhecimentos que os Portugueses levaram ao Japão no campo da

astronomia, da geografia, da arquitectura, da arte militar, das ciências naturais e

especialmente da medicina e da navegação, das artes, das técnicas da construção naval

e da imprensa, não se perderam. Não só influíram no pensamento japonês mas ainda

constituíram a base duma nova atitude científica, simples, por vezes rudimentar, e de

um modo de pensamento que os intelectuais japoneses, nos dois séculos seguintes, ou

sós, ou auxiliados pela experiência holandesa, haveriam de pensar, amadurecer e

desenvolver.

Carlos Rodrigues Jaca 29

Wenceslau de Moraes.

Seria uma lamentável omissão que um estudo dedicado às relações luso-nipónicas

não referisse, ainda que em ligeira abordagem, o escritor notável que dedicou a sua

vida e obra ao Japão – Wenceslau de Moraes.

Wenceslau José de Sousa de Moraes nasceu em Lisboa

(1854) e veio a falecer em Tokushima (1929) no Japão, sua

terra adoptiva.

O facto de ter seguido a carreira da marinha levou-o ao

contacto com o Oriente, fixando-se primeiro em Macau. Aqui

(conheceu Camilo Pessanha), exerceu as funções de adjunto

do capitão do porto e foi professor do liceu. Não se

identificando com a civilização chinesa fixa-se no Japão e

passa a desempenhar as funções de Cônsul de Portugal em

Kobe.

Em Junho de 1913 o governo nipónico nomeia-o Cônsul Geral de Portugal no

Japão. Quatro dias depois pedia a exoneração, não só de cônsul como de oficial da

Marinha, considerando que assim teria mais tempo para escrever os seus livros, em que

descreve o Japão que o enfeitiçara com os seus encantos e os seus amores.

Tendo-se niponizado, fixa residência em Tokushima e, já viúvo, passa a viver

intensamente a vida japonesa, facto que o levou a escrever uma obra singular, fruto da

sua apurada sensibilidade e contínua emoção.

Na vaga de escritores que nos fins do século XIX, e primeira metade do seguinte,

têm abundantemente escrito sobre o Japão, Wenceslau de Moraes «sobressai entre

todos pela intimidade do seu conhecimento sobre o povo japonês. E mais: a sua obra

tem tido mais voga no Japão do que em Portugal.

Que o Japão tem demonstrado interesse por Wenceslau de Moraes pode,

facilmente, comprovar-se pelos monumentos que lhe foram consagrados em Tokushima,

em 1954, e, em 1964, em Kobe. Tokushima, a pequena cidade de Shikoku, «é o coração

da obra de Moraes, terra do “Bon – Odori”, o local dos seus amores tristes e da sua

solidão». Também em Tokushima existe hoje um pequeno cenáculo, o “Moraes Kensho –

Kai”, dedicado ao culto da memória do escritor pela “Sociedade dos Amigos de Moraes”

O amor que Wenceslau de Moraes dedicou ao Japão é bem patente no que

escreveu: «Cheguei ao Japão.Amei-o, em transportes de delírio, bebi-o como se bebe

um néctar (…) Estou num país delicioso, o Japão. Era aqui, em Nagasaki, que eu

Carlos Rodrigues Jaca 30

desejaria passar o resto da minha vida, à sombra destas árvores que não têm parceiras

no mundo». De facto, dezassete anos em Kobe e outros tantos em Tokushima

resultaram numa fecunda vivência no país que adoptou.

Esse amor pelo Japão levou-o a criar uma obra de notável valor, caracterizada

por duas vertentes: uma de pura criação literária, que atinge a mais alta expressão em

“O – Yone” e “Ko – Haru”, e “Bon – Odori em Tokushima”, aos quais se podem juntar

numerosas histórias e lendas; a outra, constituída pelas obras de divulgação da história

e da cultura japonesas, como”Relance da Alma Japonesa”, “Relance da História do

Japão”, a maior parte dos artigos compilados nos “Serões” e muitas das “Cartas do

Japão». O livro “Dai – Nippon”, publicado em 1897, é um dos mais conhecidos e

caracteriza-se pelo «tom impressionista, cheio de vida e com que o autor transmite

imagens daquela época». Do livro foram publicados apenas 1000 exemplares em edição

da Imprensa Nacional. Imediatamente esgotados, tornaram-se um valor de leilões e só

em 1923 houve uma 2ª edição.

Em artigos para o “Comércio do Porto”, entre 1902 e 1915, Moraes descreveu a

vida ritualizada dos japoneses, o modo como os mínimos actos quotidianos obedeciam a

praxes, do género da cerimónia do chá.

Curiosamente, e ao contrário do que acontece em Portugal, a memória do

escritor e diplomata continua a ser recordada no Japão:

Um planeta menor, recentemente descoberto, foi baptizado com o nome

“Moraes”, em homenagem ao escritor português. O planeta com dez quilómetros, tem

uma órbita de 5,53 anos entre Marte e Júpiter. Fica na constelação de Pégaso, não

podendo ser visto a olho nu.

O autor da descoberta, o cientista japonês Hiromu Maeno, diz ter pretendido

fazer «uma retribuição» a um português que contribuiu muito para promover a imagem

do Japão e de Tokushima, cidade onde Moraes viveu os últimos anos da sua vida.

Em carta ao cientista, o embaixador português em Tóquio considera que «se o

Japão foi a última fronteira dos Descobrimentos Portugueses, o espaço é a última

fronteira da Humanidade e, graças à descoberta de V. Exa., o nome e a memória

de Wenceslau de Moraes brilharão para sempre no firmamento do espaço sideral».

Carlos Rodrigues Jaca 31

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