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75 Ensaios & Diálogos, Rio Claro, v. 9, n. 1, p. 75-96, jul./dez. 2016 Relação entre ansiedade e autoconfiança: análise das percepções dos árbitros de esportes de invasão Jonathan Ap. Macedo dos SANTOS 1 Denis Cristiano BRIANI 2 Gustavo Lima ISLER 3 Resumo: O objetivo do presente estudo foi analisar o índice de autoconfiança nos árbitros esportivos das modalidades de invasão, comparando com os níveis de ansiedade cognitiva e somática. Participaram do estudo 44 árbitros de futebol de campo, futsal, handebol e basquetebol. Os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico, destinado a coletar informações pessoais sobre os entrevistados, e o CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory – 2), utilizado para medir o nível de ansiedade-estado (somática e cognitiva) e a autoconfiança. A análise dos dados seguiu o protocolo do instrumento e a metodologia quali- tativa, sendo amparada pela Frequência Acumulada Percentual, a qual facilitou a apresentação, interpretação e análise dos dados. Como resultado, encontrou- -se que todos os participantes perceberam os níveis de ansiedade cognitiva e somática considerados baixos, construindo uma relação inversa com os níveis de autoconfiança, os quais se apresentaram elevados. Diante disso, pode-se con- siderar que os participantes estão em condições adequadas, quanto aos níveis de ansiedade e autoconfiança, para atuar em suas respectivas modalidades. Palavras-chave: Ansiedade. Autoconfiança. Arbitragem. Psicologia do Esporte. Educação Física. 1 Jonathan Ap. Macedo dos Santos. Graduado em Educação Física pelo Claretiano Centro Universitário (2014). Atua como professor de Educação Física. E-mail: <[email protected]>. 2 Denis Cristiano Briani. Graduado em Ecologia pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (1999), licenciado em Ciências pelo Centro Universitário Herminio Ometto (1996), licenciado (Licenciatura plena) em Matemática pela Universidade de Nova Iguaçu – UNIG, licenciado em Educação Física pelo Claretiano – Centro Universitário (2013), mestre em Conservação e Manejo de Recursos pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (2001) e doutor em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (2006). E-mail: <[email protected]>. 3 Gustavo Lima Isler. Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (1999). Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (2003) e doutor pelo programa Desenvolvimento Humano e Tecnologias pela mesma Instituição (2015). E-mail: <[email protected]>.

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Relação entre ansiedade e autoconfiança: análise das percepções dos árbitros de esportes de invasão

Jonathan Ap. Macedo dos SANTOS1

Denis Cristiano BRIANI2

Gustavo Lima ISLER3

Resumo: O objetivo do presente estudo foi analisar o índice de autoconfiança nos árbitros esportivos das modalidades de invasão, comparando com os níveis de ansiedade cognitiva e somática. Participaram do estudo 44 árbitros de futebol de campo, futsal, handebol e basquetebol. Os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico, destinado a coletar informações pessoais sobre os entrevistados, e o CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory – 2), utilizado para medir o nível de ansiedade-estado (somática e cognitiva) e a autoconfiança. A análise dos dados seguiu o protocolo do instrumento e a metodologia quali-tativa, sendo amparada pela Frequência Acumulada Percentual, a qual facilitou a apresentação, interpretação e análise dos dados. Como resultado, encontrou--se que todos os participantes perceberam os níveis de ansiedade cognitiva e somática considerados baixos, construindo uma relação inversa com os níveis de autoconfiança, os quais se apresentaram elevados. Diante disso, pode-se con-siderar que os participantes estão em condições adequadas, quanto aos níveis de ansiedade e autoconfiança, para atuar em suas respectivas modalidades.

Palavras-chave: Ansiedade. Autoconfiança. Arbitragem. Psicologia do Esporte. Educação Física.

1 Jonathan Ap. Macedo dos Santos. Graduado em Educação Física pelo Claretiano – Centro Universitário (2014). Atua como professor de Educação Física. E-mail: <[email protected]>.2 Denis Cristiano Briani. Graduado em Ecologia pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (1999), licenciado em Ciências pelo Centro Universitário Herminio Ometto (1996), licenciado (Licenciatura plena) em Matemática pela Universidade de Nova Iguaçu – UNIG, licenciado em Educação Física pelo Claretiano – Centro Universitário (2013), mestre em Conservação e Manejo de Recursos pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (2001) e doutor em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (2006). E-mail: <[email protected]>.3 Gustavo Lima Isler. Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (1999). Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (2003) e doutor pelo programa Desenvolvimento Humano e Tecnologias pela mesma Instituição (2015). E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

A arbitragem hoje em dia tem sido um dos aspectos mais po-lêmicos e comentados de uma competição esportiva. Citados por alguns atletas, técnicos e comentaristas como os responsáveis por insucessos e como fonte de “estresse” durante os jogos (ROSE JU-NIOR; PEREIRA; LEMOS, 2002).

O tema deste estudo foi escolhido por dois motivos, o pri-meiro porque fiz parte de uma associação de árbitros de futebol, na qual observei a atuação dos mesmos de uma forma diferente; mais ampla. Além disso, também conheço alguns árbitros de outras mo-dalidades esportivas e gosto muito dessa área. O segundo motivo foi para poder entender um árbitro esportivo durante uma partida simples ou complicada; esse tema foi pensado de forma a poder esclarecer o porquê dos atos dos árbitros esportivos.

Esse trabalho é de suma importância à área de Educação Fí-sica, pois a grande maioria dos profissionais da área trabalha com escolinhas de várias modalidades esportivas, tais como Futebol, Futsal, Handebol e Basquetebol, e nos treinos há os jogos ou co-letivos, isso faz com que o treinador vire um árbitro desses jogos, levando-o a lidar com situações-problemas na hora do jogo, o que implica atuar mais seguro em suas decisões como treinador nos treinos ou como técnico na hora do jogo, evitando a discussão com a arbitragem da partida.

Na sociedade atual, cada vez mais há pessoas assistindo jogos (todas as modalidades) pela TV, nos ginásios, estádios, entre ou-tros; isso faz com que elas fiquem cada dia mais críticas, principal-mente com a arbitragem. Hoje em dia também muitos pais, amigos e familiares estão indo assistir aos jogos de seus filhos, amigos ou familiares, isso também pode ocasionar uma pressão sobre a arbi-tragem durante a partida.

Foi detectado que existem poucos trabalhos relacionados à arbitragem, fazendo com que o trabalho tenha um foco maior re-lacionado a esse tema; esse fato torna a pesquisa importante, mas também dificulta sua realização por não haver muitos parâmetros de comparação.

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Diante dos fatos apresentados aqui, o objetivo geral do pre-sente estudo foi analisar o nível de ansiedade-estado e de autocon-fiança de árbitros de diferentes modalidades esportivas de invasão. Tendo como objetivos específicos comparar os níveis de ansiedade--estado e os níveis de autoconfiança dos participantes, verificou as influências da idade sobre os níveis de ansiedade-estado e os níveis de autoconfiança dos participantes, verificando as influências do nível de experiência sobre os níveis de ansiedade-estado e os níveis de autoconfiança dos participantes.

2. REVISÃO DE LITERATURA

Com a intenção de oferecer embasamento ao referente es-tudo, nos capítulos a seguir será apresentado um breve histórico sobre arbitragem e sobre as modalidades esportivas de invasão. Na sequência, encontra-se a revisão referente à ansiedade, suas classi-ficações e características, e à autoconfiança.

História da Arbitragem

A arbitragem só foi amparada no Brasil por uma lei em 1996, mas, desde o século XIX, 1824, já se usava a arbitragem de forma para solucionar as disputas nacionais e estrangeiras. Algumas pen-dências entre Estados Unidos e Canadá, Suécia e Noruega, também entre Argentina e Guiana Francesa, entre os anos de 1870 e 1904, já mostravam que a arbitragem era essência para resoluções de lau-dos (MOURÃO, [s.d]). No Brasil, segundo Repórter Terra [s.d.a], existem seis tipos de arbitragem, sendo elas:

• Voluntária: as duas partes optam por resolver as diferenças em detrimento processual, é muito usada hoje em dia.

• De Direito: o árbitro toma a decisão de acordo com as nor-mas.

• De Equidade: o árbitro toma a decisão baseando-se no seu julgamento e sentimento de justiça.

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• “ad hoc” (para isto): as regras são determinadas pelos par-ticipantes de acordo com as Leis da Arbitragem, o proce-dimento do árbitro não seguirá as regras de uma institui-ção arbitral.

• Institucional: as regras são determinadas por uma institui-ção constituída para esse fim, como, por exemplo, associa-ções e confederações.

• Internacional: a sentença é proferida em outro país, regida pela Associação Internacional, mas deve ser executada no Brasil, ou seja, você pode ser tornar árbitro fora do Brasil, mas para que você atue no Brasil serão feitas algumas exi-gências das confederações brasileiras.

No ambiente internacional, a arbitragem segue as regras da American Arbitration Association (AAA), sediada em Nova York há 50 anos, resolvendo conflitos gerados no mundo, prevalecendo o sigilo do processo. No âmbito nacional ou internacional, o árbitro é muito importante, pois é ele que busca solucionar os conflitos internos ou externos, tendo frações de segundos para tomar uma decisão durante o jogo. O árbitro é a peça mais importante durante um jogo (REPORTER TERRA, [s.d]b).

No âmbito esportivo, a arbitragem é muito importante, espe-cificamente nas modalidades coletivas de invasão, tais como Bas-quete, Handebol, Futebol de Campo e Futebol de Salão (Futsal), nas quais nos aprofundaremos um pouco mais. Segue agora um pouco mais de detalhes sobre essas modalidades.

História das Modalidades

BasqueteO basquete foi criado em 1891, pelo Colégio Internacional

da Associação Cristã de Moços (ACM) em Massachussets, Estados Unidos, pelo professor canadense James Naismith. Sua criação foi estimulada pelo inverno intenso no país, o que impossibilitava a prática de exercício ao ar livre, então foi criado o basquete em qua-dra fechada (CBB, 2014).

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No processo de invenção do basquete, James teria que inven-tar um esporte no qual o contato fosse mínimo entre os jogadores para que não houvesse conflito entre os rapazes da ACM, por isso o alvo teria que ser fixo e ser atingido apenas pela bola, a qual devia ser jogada com as mãos e não com os pés. Então, ele teve a ideia de fixar o alvo elevado em relação ao chão, o que, além de outros aspectos, tornaria esse esporte único quando comparado aos outros. Com tal ideia em mente, ele procurou o zelador do prédio da ACM para lhe auxiliar a encontrar alguma coisa que servisse como alvo (cesta), foi quando encontraram dois cestos velhos de pêssego e, com um martelo e pregos, James fixou os cestos em duas pilastras a uma altura que ele imaginava ter mais de 3 metros, por coincidên-cia ela tinha exatos 3,05 metros, a qual é adotada até hoje. Além das dimensões e alturas dos cestos, James também inventou as primei-ras regras, as quais eram compostas por 13 itens, que ele memori-zou e passou no papel em menos de uma hora; depois levou-as até seus alunos, lhes informando que tinha um novo jogo, o qual foi apresentado a eles naquele momento (CBB, 2014).

Enquanto modalidade olímpica, o basquete foi incluído ape-nas em 1936, nos Jogos Olímpicos de Berlim. Hoje em dia o es-porte é praticado por mais de 300 milhões de pessoas no mundo todo, praticado em mais de 170 países filiados a FIBA – Federação Internacional de Basquete (CBB, 2014).

HandebolO primeiro jogo de handebol, citado por Homero, na Odis-

seia, chamava-se “Urânia”, era praticado na antiga Grécia com uma bola do tamanho de uma maçã e era jogado com as mãos e sem balizas. O handebol como é jogado hoje em dia foi introduzido na Alemanha pelo alemão Hirschmann (secretário da Federação In-ternacional de Futebol) na última década do século XIX, mas foi levado para o campo em 1912 (CBHb, 2014).

Na primeira Guerra Mundial (de 1915 a 1918), o professor de ginástica berlinense Max Heiser criou um jogo ao ar livre denominado “Tortball” para as operárias da Fábrica Siemens, que teve o campo aumentando para as medidas do futebol quando os homens começaram a praticá-lo. Em 1919, o professor alemão Karl

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Schelenz reformulou o “Tortball”, passando a chamar Handball, com um total de 11 jogadores dentro de campo, a mesma quantidade do futebol; como o inverno era muito rigoroso na Alemanha, foi criado o handebol de salão, o qual é praticado até hoje, com apenas 7 jogadores em quadra, sendo 1 goleiro e 6 jogadores de linha (CBHb, 2014).

Como o basquete, o handebol só entrou como modalidade olímpica nos Jogos Olímpicos de 1936. No Brasil, até 1960, o es-porte era praticado apenas em São Paulo; a partir deste ano, o pro-fessor francês Augusto Listello, durante um curso Internacional na cidade de Santos, apresentou a modalidade a outros estados bra-sileiros, fazendo-o assim parte das aulas de Educação Física. Em 1971, o MEC introduziu a modalidade nos Jogos Estudantis (JES’s) e nos Jogos Universitário Brasileiro (JUB’s). O handebol no Brasil é gerenciado pela Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), criada em 1979 (CBHb, 2014).

Futebol de CampoOs historiadores contam que a primeira partida de futebol foi

realizada na China por volta de 2.500 a.C. De acordo com esses historiadores, os soldados chineses se divertiam com os crânios de seus inimigos decapitados em um grande jogo. Outros historiadores alegam que quem inventou foram os maias (HISTÓRIA DO MUN-DO, 2014).

Apesar das divergências quanto à sua origem, foi apenas no século XIX, na Inglaterra, que o futebol ganhou as regras oficiais que o regem até hoje, ganhando também o formato atual. No Bra-sil, o esporte foi introduzido por Charles Miller, por volta de 1894 (HISTÓRIA DO MUNDO, 2014).

Em 1870, foi realizada a primeira copa do mundo de futebol, somente com times ingleses, mas em 1904 os franceses promove-ram a universalização do futebol, formando a Fifa (Federação In-ternacional de Futebol), a qual ainda é a responsável pelo futebol no mundo. O futebol é praticado pelo mundo todo em diversos países e pode ser jogado em qualquer espaço retangular com duas balizas. O Brasil é considerado o país do futebol e possui cinco títulos mun-

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diais, conquistados em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 (HISTÓRIA DO MUNDO, 2014).

FutsalSegundo historiadores, o futsal possui duas versões sobre seu

surgimento, havendo algumas divergências sobre sua invenção. Uma das versões diz que o futsal começou a ser jogado em qua-dras de basquete e hóquei, no ano de 1940, por frequentadores da Associação Cristã de Moços, em São Paulo, os quais alegavam que havia muita dificuldade em encontrar campos de futebol livres para poderem jogar. A segunda versão da possível criação do futsal, tida como a mais provável, diz que o futsal foi inventado em 1934, na Associação Cristã de Moços de Montevidéu, Uruguai, pelo pro-fessor Juan Carlos Ceriani, que deu o nome de “Indoor-foot-ball” (CBFS, 2014).

Há relatos de que os primeiros jogos eram disputados com cinco, seis ou sete jogadores em cada equipe, mas logo em seguida definiram o número para cinco jogadores, assumindo a forma que possui até hoje. As bolas utilizadas eram feitas de serragem, crina vegetal, ou de cortiça granulada, mas saltavam muito e com fre-quência saiam de quadra, havendo assim uma diminuição do seu tamanho e aumento de seu peso, ganhando o nome de “Esporte da bola pesada” (CBFS, 2014).

Ansiedade

Segundo Ferreira (2006), a ansiedade em contextos desporti-vos não deve ser escrita pela sua própria designação às situações de competição regular ou oficial, mas também às diferentes e variadas situações avaliativas que se sucedem ao longo de um ciclo de rea-lização (contempla diferentes momentos ou etapas) que exigem do atleta determinados níveis de realização e de rendimento.

A ansiedade vem do latim anxietate, ela pode ter várias de-finições, tais como, aflição, angústia, incerteza, relação com qual-quer contexto de perigo etc. (CAMPANI et al., 2011).

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Segundo Weinberg e Gould (2008), ansiedade é um estado emocional negativo que se caracteriza pelo nervosismo, pela preo-cupação e apreensão, associado à excitação do corpo.

Atualmente, pode-se entender a ansiedade como um fenôme-no que pode beneficiar ou atrapalhar o indivíduo, dependendo da sua intensidade e da percepção subjetiva, podendo prejudicar o fun-cionamento psíquico (mental) e somático (corporal).

Segundo Reis (2008), a ansiedade é definida como um estado emocional transitório, possui três componentes distintos, mas, ao mesmo tempo, interligados, esses componentes são a parte fisio-lógica (exemplo: aumento da frequência cardíaca e da tensão mus-cular), a parte comportamental (exemplo: diminuição da precisão, coordenação de movimentos etc.) e a parte cognitiva (exemplo: di-ficuldade de concentração, antecipação dos resultados negativos).

A ansiedade é dividida em dois campos, sendo eles ansieda-de-estado e ansiedade-traço, a seguir é explicado um pouco de cada um desses campos.

Ansiedade-estadoPara Weinberg e Gould (2008) ansiedade-estado é definida

como um estado emocional caracterizado por sentimentos subje-tivos de apreensão e tensão. Os autores mostram que, na ansieda-de, existem dois componentes, o primeiro é chamado de ansiedade cognitiva, a qual se relaciona com preocupação e apreensão, e o segundo é chamado de ansiedade somática, o qual é o grau de ati-vação física percebida. Ferreira (2008) conceitua como um estado emocional imediato e transitório que varia de intensidade e no tem-po, caracterizado por uma apreensão e tensão em uma determinada situação em que o indivíduo ativa o sistema nervoso.

Segundo Xavier (2009, p. 23), a ansiedade-estado pode ser dividida em mais dois componentes, sendo eles:

Ansiedade Cognitiva: está associada à preocupação, geral-mente expressas em dúvidas e pensamentos sobre si mes-mo ou das consequências durante o jogo.

Ansiedade Somática: refere-se a elementos fisiológicos e reações que influenciam no nível de ativação, com au-

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mento da ativação do sistema nervoso central, alterando a frequência cardíaca e respiratória, ação da musculatura, entre outros.

Ansiedade-traçoA ansiedade-traço se caracteriza por uma tendência ou dispo-

sição comportamental adquirida que influencia o comportamento (WEINBERG; GOULD, 2008).

Segundo Ferreira (2006, p. 89), “[...] a ansiedade como um traço de personalidade, deve ser vista como as diferenças indivi-duais relativamente estáveis na tendência para a ansiedade”. Pode ser definida como a disposição do indivíduo de sua personalidade em ter ansiedade em algumas situações.

Ansiedade-traço refere-se a diferenças individuais estáveis, são reações a situações ameaçadoras que cada indivíduo desenvol-ve a partir de suas experiências pessoais (LAVOURA; BOTURA; MACHADO, 2006). O desenvolvimento dessa ansiedade está dire-tamente ligado às experiências passadas e às percepções de cada in-divíduo. Muita ansiedade-traço pode causar ameaças à integridade da pessoa; normalmente quando a ansiedade-traço está muito alta, o indivíduo tende a ter uma baixa autoestima e pouca confiança em si mesmo (ROSITO, 2008).

Autoconfiança

A autoconfiança é reconhecida no campo da Psicologia do Esporte como a “crença de que você pode realizar com sucesso um comportamento desejado” (WEINBERG; GOULD, 2008, p. 344).

A confiança é um fator multidimensional, sendo constituída por vários aspectos. Ela é caracterizada por uma alta expectativa de sucesso, facilidade de concentração e ajuda a focalizar as estraté-gias de jogo. Com base nesses componentes, a confiança pode mu-dar o estado psicológico de uma pessoa. Importante destacar que alguns aspectos da autoconfiança podem ser avaliados e discutidos, como mostra os exemplos descritos por Weinberg e Gould (2008) e apresentados a seguir:

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• O Despertar de Emoções Positivas: esse estado mental e corporal mostra que, quanto maior o nível de confiança, maior será a chance de se manter calmo e relaxado sobre forte pressão.

• A Facilitação na Concentração: esse estado mostra que a confiança pode facilitar a concentração do indivíduo no que está fazendo.

• A Confiança afeta as Metas: aqui mostra que, quando se está confiante, consegue-se alcançar as metas mais altas estabelecidas.

• O Aumento da Força: a confiança pode aumentar suas for-ças, suas capacidades, fazendo com que se consiga realize coisas extraordinárias.

• As Estratégias de Jogo: de acordo com esse ponto, a con-fiança pode alterar as estratégias ou o resultado de um jogo, podendo mudar um resultado pronto.

• O Mau Desempenho: a confiança pode afetar muito o de-sempenho de um atleta, técnico, treinador, professor ou até mesmo de um árbitro esportivo.

O nível de autoconfiança pode influenciar o desempenho po-sitiva ou negativamente; por exemplo, a confiança em um nível ideal pode trazer benefícios ao atleta e à equipe técnica, sendo que o contrário, a falta ou o excesso de confiança, pode trazer mais pon-tos negativos (desconcentração, medo, vergonha) ao atleta e à sua equipe (WEINBERG; GOULD, 2008).

Assim, sabe-se que “Pensamentos, Sentimentos e Compor-tamentos estão inter-relacionados: quanto mais um atleta atua com confiança, maior a probabilidade de que ele se sinta confiante” (WEINBERG; GOULD, 2008, p. 356). Reforça-se, então, sempre a necessidade de buscar níveis adequados de autoconfiança.

Há outro campo que abrange a confiança, e que pode ser aco-plado ao autodesempenho: dentro desse assunto, podem ser avalia-das as expectativas que os técnicos ou, no caso deste trabalho, os árbitros têm sobre o rendimento dos atletas. Por exemplo, em um

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estudo em que patinadores artísticos foram avaliados por alguns ár-bitros que os conheciam e outros que não os conheciam, ficou cons-tatado que as avaliações e as classificações eram mais altas quando os juízes conheciam os patinadores (WEINBERG; GOULD, 2008).

A autoconfiança tem um papel muito importante no rendi-mento de árbitros, sendo citada por todos durante o jogo. Segundo Ferreira (2006), a autoconfiança pode ser considerada um fator de diferença individual que engloba a percepção global de confiança do atleta e que possui uma relação linear positiva com o rendimen-to.

Arbitragem

Samulski e Silva (2009) definem arbitragem como um “[...] substantivo feminino que significa arbitramento, julgamento feito por um ou mais árbitros, ato de dirigir qualquer jogo esportivo”.

Arbitragem esportiva há décadas é utilizada nas modalidades esportivas, ela é regulamentada no Brasil pela Lei 9.307/96, a cha-mada Lei da Arbitragem, e vem sendo reconhecida como o método mais eficiente de resolução de conflitos, contribuindo para o des-congestionamento do Poder Judiciário (CÂMARA NACIONAL DE ARBITRAGEM, 2010).

Com relação à Arbitragem Esportiva, Kocian e Machado (2008, p. 245) a descrevem:

Justamente pela atribuição de julgar as ações desportistas, quando em competição, este é um trabalho que exige muita precisão e o mínimo de erros de quem o executa. Todos esses fatores mistificam, expõem e tornam a figura do ár-bitro crucial para o desenvolvimento de um esporte. Anali-sar os aspectos da autoridade e os objetivos e atitudes pró-prias levam-nos a entender das relações intergrupos com que teremos que lidar, no desenvolvimento da profissão: a autoridade do árbitro é mais um elemento a ser trabalhado, num jogo entre dois grupamentos sociais diferentes.

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Os autores prosseguem:Para a maioria dos árbitros os momentos finais do jogo são os mais tensos, pois para estes, são os momentos decisivos, por esse motivo também o árbitro deverá ter um preparo físico, técnico e psicológico para poder desempenhar sua função (KOCIAN; MACHADO, 2007 p. 252).

A atuação dos árbitros, na maioria dos esportes, antes de tudo, é dada pela sua participação anterior na modalidade escolhida para arbitrar, depois é a peça essencial para o espetáculo, para uma boa atuação, eles devem ter um preparo técnico, mas também uma óti-ma preparação psicológica. Para que o trabalho do arbitro seja im-parcial e justo, existem alguns fatores que devem ser considerados, como o estado emocional, que pode estar sendo influenciado pelo público da partida (jogadores, treinadores, torcedores etc.). Para li-dar com situações emocionais, o arbitro precisa de autocontrole e muita autoconfiança. Os árbitros considerados bem-sucedidos na profissão geralmente são seguros, autoconfiantes, espontâneos e ajustados socialmente.

A arbitragem deve se preocupar com quatro responsabilida-des dentro de campo. São elas: assegurar que o jogo corra de acordo com suas regras, interferir o menos possível, estabelecer e manter uma boa atmosfera para o jogo e, por último, mostrar preocupação com os jogadores. Um árbitro diferenciado deve atuar com rapidez e decisão, mostrar domínio e controle emocional, atuar com inte-gridade, com muita confiança, dominar as regras da modalidade, ter comunicação verbal sem palavrões, em tons adequados, nunca ofender jogadores, técnicos e colegas de trabalho, ser ético e impar-cial em todos os jogos.

Sobre as intervenções psicológicas, os árbitros devem ter mais recursos para executar um papel educativo no esporte, evitan-do alguns conflitos. Eles exercem um papel fundamental dentro da área de jogo, seja ele na quadra ou campo, pois suas decisões podem definir uma partida ou um campeonato, isso exige que o árbitro se mantenha o tempo todo concentrado, atento e esteja sempre bem posicionado para tomar as decisões corretas. Os árbitros no mundo inteiro, principalmente os que apitam jogos da várzea ou amador, encontram dificuldades para trabalhar, seja pela infraestrutura do

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local do jogo, pela falta de segurança, pelas condutas antiesportivas dos atletas, dirigentes, treinadores e de torcedores que querem agre-dir a arbitragem de forma verbal ou física: “Assim, arbitrar pode ser uma atividade desafiadora em muitos aspectos, mas ao mesmo tem-po pode ser uma experiência frustrante e emocionalmente difícil” (FERREIRA; BRANDÃO, 2012, p. 10).

A arbitragem esportiva tem um grande impacto no desempe-nho dos jogadores, no resultado final de um jogo ou de uma compe-tição, mesmo que involuntariamente; para alguns autores, a equipe de arbitragem deveria ser a mais avaliada durante uma partida, uma vez que um árbitro pode tomar mais de 130 decisões durante um jogo. O árbitro principal tem a autoridade total para tomar decisões importantíssimas durante a partida e fazer cumprir as regras da mo-dalidade, suas decisões são sempre definitivas, ele pode interrom-per, suspender ou finalizar uma partida a qualquer momento, dentro das regras estabelecidas (OLIVEIRA et al., 2013).

Segundo os mesmos autores, a concentração de um árbitro deve estar 100% durante toda a partida; antes e depois dela tam-bém, o árbitro deve sempre estar atento, seletivo com suas decisões, intenso e direto nas tomadas de decisões mais sérias (OLIVEIRA et al., 2013). Além de ter um bom preparo psicológico, o árbitro deve ter um preparo físico excelente, para poder avaliar as jogadas, evi-tando que as regras sejam violadas e sofrendo uma pressão maior, diminuindo seu nível de concentração. Um árbitro mais experiente consegue manter um nível de concentração maior durante uma par-tida (PEREIRA; SANTOS; CILLO, 2007).

Hoje em dia a arbitragem é muito prejudicada pela mídia, pois em campo ou na quadra o árbitro só tem a visão dele e a de seus assistentes para lances muito rápidos e difíceis de ser analisa-dos. Já a mídia possui várias câmeras a seu dispor, podendo avaliar aquele lance em que o árbitro errou de vários ângulos, podendo assim criticar o árbitro pelo seu erro, de forma a prejudicar seu rendimento pós-jogo. Por causa desses lances os árbitros são muito criticados pelo torcedor, jogador e treinadores que estão assistindo ao jogo.

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Outro ponto que prejudica e pode influenciar a tomada de decisões de um árbitro é a torcida, que pode ser a peça para um erro da arbitragem durante todo o jogo ou um campeonato. Um estudo realizado com dois grupos de árbitros, sendo que um grupo assistiu a um jogo com o barulho da torcida e o outro grupo assistiu a um jogo sem torcida, revelou que os árbitros que assistiram a um jogo com torcida, principalmente do time da casa, tiveram uma diminui-ção de 15,5% de faltas marcadas para o time da casa, comparado com o grupo de árbitros que assistiram sem torcida no estádio. Os autores concluem que os árbitros que assistiram ou que apitam o jogo com o barulho da torcida tendem a sentir uma intimidação por causa do barulho da torcida, favorecendo assim o time da casa (SILVA; OLIVEIRA, 2012).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os dados foram analisados seguindo uma metodologia qua-litativa, com o uso de estatística descritiva, ou seja, buscando a resolução de problemas, melhorando as práticas por meio da ob-servação, análise e descrições objetivas (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012).

Foram investigados árbitros das quatro principais modali-dades coletivas de invasão: Futebol de Campo, Futebol de Salão, Handebol e Basquetebol. Participaram do estudo 44 árbitros divi-didos em: 15 árbitros de Futebol de Campo, 12 árbitros de Futsal, 7 árbitros de Handebol e 10 árbitros de Basquetebol. Foram com-paradas média de idade, média de atuação, cidade de nascimen-to, estado civil, profissão, escolaridade, prática de exercício físico, realização de exames médicos.

Os materiais utilizados foram uma anamnese destinada a tra-çar o perfil dos entrevistados, a qual é composta por 13 questões.

Após responder a anamnese, o participante foi convidado a preencher o CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory – 2) utili-zado para medir o nível de ansiedade-estado (somática e cognitiva) e a ansiedade relacionada à autoconfiança. O CSAI-2 é composto por 27 questões, divididas em 3 subescalas (ansiedade cognitiva,

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somática e autoconfiança), nas quais o sujeito opta por 1 = nada, 2 = alguma coisa, 3 = moderado e 4 = muito, de acordo com a afir-mação. A pontuação das 3 subescalas é obtida pela somatória das respostas, com pontuação variando de 9 a 36 (FERREIRA, 2008).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo analisar o índice de autoconfiança nos árbitros esportivos das modalidades de invasão, Basquetebol, Handebol, Futebol de Campo e Futsal, comparando-o com os níveis de ansiedade cognitiva e somática.

Segundo o apontado por Januário et al. (2009), há uma relação inversa entre os níveis de ansiedade-estado e o nível de autocon-fiança. Nesse caso, se os níveis de ansiedade cognitiva e somática estiverem baixos, o nível de autoconfiança estaria alto.

Segundo afirmam Campani et al. (2011), existe claramen-te uma relação entre ansiedade e desempenho esportivo. Moraes, (1990 apud CAMPANI et al., 2011) diz que a ansiedade varia de acordo com outros fatores, como o tipo de esporte praticado, a difi-culdade, a personalidade do atleta, o ambiente, torcida etc. Guzmán, Amar e Ferreras (1995, apud CAMPANI et al., 2011) sugerem que, principalmente nas competições, há um elevado nível de ansiedade atrapalhando o desempenho esportivo, alegando que a ansiedade produz efeitos negativos no rendimento do atleta, causando alguns sintomas físicos, tais como aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, aumento da tensão muscular, entre outros, e, alguns sintomas psicológicos, tais como desconfiança, pensamentos negativos, preocupação, falta de atenção, perca do autocontrole, cansaço, distração, entre outros (CAMPANI et al., 2011).

Para análise dos dados, foi criada uma tabela, a qual apresenta os dados coletados por meio do CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory – 2), analisando ansiedade cognitiva, ansiedade somáti-ca e autoconfiança. Para a apresentação dos dados foi utilizada a Frequência Acumulada Percentual, por meio dela se consegue unir as quatro categorias do instrumento (nada, um pouco, bastante e

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muito) em apenas duas categorias, o que tornou a construção e o entendimento da tabela mais claros. Além do mais, inseriu-se a mé-dia de idade e a média do tempo de atuação dos participantes para eventuais comparações. Segue a tabela.

Tabela 1. Comparação dos níveis de ansiedade cognitiva, somática e autoconfiança.

COMPARAÇÃO DOS NÍVEIS DE ANSIEDADE COGNITVA, SOMÁTICA E AUTOCONFIANÇA

MODALIDADES

ANSIEDADE COGNITIVA ANSIEDADE SOMÁTICA AUTOCONFIANÇAMÉDIA IDADE (ANOS)

MÉDIA ATUA-ÇÃO (ANOS)

NADA/UM POUCO

BASTANTE/MUITO

NADA/UM POUCO

BASTANTE/MUITO

NADA/UM POUCO

BASTANTE/MUITO

Basquetebol 76,25% 23,75% 87,78% 12,22% 71,11% 28,89% 39,00 17,10Handebol 83,93% 16,07% 92,06% 7,94% 52,38% 47,62% 25,00 6,14Futebol 71,67% 28,33% 90,37% 9,63% 74,81% 25,19% 37,73 8,87Futsal 78,12% 21,12% 85,19% 14,81% 78,70% 21,30% 38,42 10,83

A tabela nos mostra que, em todas as modalidades, o nível de ansiedade cognitiva e somática apresentou, para quase todos os participantes, uma relação inversa quando se comparou aos níveis de autoconfiança (níveis de ansiedade baixos e elevada autocon-fiança), situação considerada adequada por Januário et al. (2009).

Analisando individualmente cada modalidade, observa-se que os árbitros de handebol foram a categoria que percebeu níveis de autoconfiança mais pareados, ou seja, a parcela de árbitros que percebem níveis elevados de autoconfiança (52,38%) é muito si-milar à que percebe baixos níveis (47,62%). Pode-se referir esse equilíbrio, e a diferença para as outras modalidades, à menor média de tempo de atuação desses árbitros (6,14 anos), quando compara-dos aos das outras modalidades, no entanto são os árbitros menos ansiosos, pois demonstraram elevados índices de respostas “nada” e “um pouco” para a ansiedade cognitiva (83,93%) e somática (92,06%). Como forma de justificar a pouca experiência desses ár-bitros, pode-se apontar a média de idade, sendo a menor (25 anos) dentre todos os participantes.

Foi observado que a modalidade que tem os árbitros mais confiantes em suas atuações é o futsal, com índices de quase 79%

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de autoconfiança e com índices inferiores a 20% de ansiedade, o que confirma a teoria de Januário et al (2009).

A modalidade de futebol de campo teve os árbitros com o se-gundo menor índice de ansiedade somática, com uma frequência de apenas 9,63% de ansiedade. Pôde-se verificar que há uma relação entre a autoconfiança e a ansiedade percebida pelos árbitros. Ante-riormente vimos que alguns árbitros sentem-se pressionados pelas pessoas que os rodeiam, tais como treinadores, jogadores, torcida, a mídia (repórteres) e as Federações e Confederações.

Na modalidade de basquetebol obtivemos os árbitros mais experientes, sendo que a média de idade entre os entrevistados é de 39 anos e a média de atuação dentro da modalidade é de 17 anos; comparados aos árbitros de handebol, eles possuem três vezes mais experiências, isso pode tê-los deixado mais confiantes durante o tempo para tomarem certas decisões. Cárdenas e Pumariega (2012) mostram que a experiência dos árbitros é o melhor indicador para as tomadas de decisões; com isso, o tempo que possuem para tomar uma decisão é um dos aspectos que mais causa estresse antes, du-rante e depois das competições, interferindo assim na sua tomada de decisão.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Weinberg e Gould (2008), Samulski e Silva (2009), Ferreira e Brandão (2012) e Cárdenas e Pumariega (2012) demonstraram que a ansiedade e, em destaque, o fator autoconfiança podem interferir diretamente na atuação dos árbitros em uma partida esportiva, em especial nas modalidades estudadas neste trabalho.

Segundo os autores estudados, a ansiedade, que pode acon-tecer antes, durante e após os jogos, interfere negativa ou positiva-mente no nível de autoconfiança do árbitro, fato que pode interferir em seu desempenho durante o jogo.

As situações que, de um modo geral, provocam ansiedade e, como consequências, interferem na autoconfiança, são todas aque-las em que existem incertezas (desempenho, condições do local e

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do jogo etc.), nas situações novas e de trocas (proximidade de um campeonato importante ou a necessidade de se classificar para o quadro de árbitros de uma Federação ou Confederação, possibili-dade de tornar-se árbitro profissional), nas que há uma sobrecarga de informação (informação simultâneas dos jogadores, do árbitro reserva, do assistente etc.), nas que faltam condutas para fazer fren-te e manejar a situação.

Segundo Cárdenas e Pumariega (2012, p. 5), o controle dos aspectos psicológicos, que é mencionado pelos próprios árbitros, é fundamental para o melhor desempenho na arbitragem esportiva. Como afirmam os mesmos autores, “para ser um bom árbitro é ne-cessário ter boa autoconfiança e uma consolidada segurança em si mesmo” (CÁRDENAS; PUMARIEGA, 2012, p. 5).

No contexto atual, a arbitragem sofre uma grande dificuldade em atuar bem com as mudanças nas regras, principalmente no fute-bol de campo, que teve grande repercussão nos últimos meses, com alguns erros e algumas interpretações equivocadas, sendo observa-do, assim, algum despreparo das equipes de arbitragem, inclusive daquelas filiadas às Confederações e Federações Internacionais, tanto no contexto técnico, quanto no físico. Com relação ao psico-lógico, as equipes de arbitragem devem ter um cuidado maior ain-da, pois, como citado, para o árbitro ter um desempenho adequado, alguns fatores são essenciais, como, por exemplo, a autoconfiança.

Diante do exposto no presente estudo, sugere-se que novos estudos sejam feitos com árbitros de diferentes modalidades, que investiguem as equipes de arbitragem esportivas nacionais e inter-nacionais. Com a intenção de serem mais abrangentes, estes es-tudos poderiam envolver as mais diversas variáveis (psicológicas, fisiológicas e fatores relacionados ao desempenho) e suas inter--relações.

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