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Relação entre uso de equipamentos de proteção individual e o absenteísmo no trabalho Julho/2018 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 Relação entre uso de equipamentos de proteção individual e o absenteísmo no trabalho Máira Oliveira Bitencourt [email protected] Nome do curso Perícias Médicas Instituto de Pós-Graduação- IPOG Lauro Müller, SC, doze de Agosto de 2016 Resumo O presente artigo se resume em uma revisão bibliográfica acerca da correlação entre absenteísmo profissional e o não uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual, ou EPIs, em diferentes realidades profissionais. Procurou-se verificar a correlação entre o absenteísmo de cada realidade profissional e os acidentes e doenças laborais que lhes são inerentes, e as causas para o não uso, ou a ineficiência, dos EPIs que securutizassem contra estes incidentes, bem como as análises destas causas na bibliografia especializada. Para tal intento, não foi escolhida uma área específica de atividade profissional, mas sim pesquisadas genericamente as bibliografias sobre absenteísmo e uso e eficiência de EPIs em diferentes áreas de atuação profissional, que foram então divididas entre: áreas da saúde, da indústria madeireira, da construção civil e da produção rural. A pesquisa realizada apontou que há, de fato, correlação entre danos à saúde geradores de absenteísmo e o não uso, o uso incorreto e mesmo a ineficiência ou inadequação dos EPIs disponíveis no mercado brasileiro; que o não uso dos mesmos pode ser dar sobretudo por sobrecarga de trabalho, por desconforto causado por equipamentos inadequados e por desconhecimento por parte do profissional. Concluiu- se que o absenteísmo causado por acidentes e doenças de trabalho é mais complexo do que a abordagem maniqueísta de uso ou não uso de EPIs, requerendo, para além de trabalhos de concientização dos profisionais, revisões de metodologia de carga laboral e até mesmo de revisão das condições legais de adequação destes equipementos e a consquente modificação dos métodos de fabricação ora aplicados. Palavras-chave: absenteísmo, equipamentos de segurança individual, EPIs, acidentes de trabalho, regulação de equipamentos. 1. Introdução Acidente de trabalho, ou laboral, é aquele que se dá pelo exercício do trabalho mediante remuneração. Pode causar desde um simples afastamento até a perda, redução da capacidade laborativa ou até mesmo a morte do trabalhador (GUIMARÃES et al., 2011). Acidentes de trabalho estão entre os principais problemas de saúde pública no mundo

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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018

Relação entre uso de equipamentos de proteção individual e o

absenteísmo no trabalho

Máira Oliveira Bitencourt – [email protected] Nome do curso – Perícias Médicas

Instituto de Pós-Graduação- IPOG Lauro Müller, SC, doze de Agosto de 2016

Resumo

O presente artigo se resume em uma revisão bibliográfica acerca da correlação entre

absenteísmo profissional e o não uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual,

ou EPIs, em diferentes realidades profissionais. Procurou-se verificar a correlação entre

o absenteísmo de cada realidade profissional e os acidentes e doenças laborais que lhes

são inerentes, e as causas para o não uso, ou a ineficiência, dos EPIs que securutizassem

contra estes incidentes, bem como as análises destas causas na bibliografia

especializada. Para tal intento, não foi escolhida uma área específica de atividade

profissional, mas sim pesquisadas genericamente as bibliografias sobre absenteísmo e

uso e eficiência de EPIs em diferentes áreas de atuação profissional, que foram então

divididas entre: áreas da saúde, da indústria madeireira, da construção civil e da

produção rural. A pesquisa realizada apontou que há, de fato, correlação entre danos à

saúde geradores de absenteísmo e o não uso, o uso incorreto e mesmo a ineficiência ou

inadequação dos EPIs disponíveis no mercado brasileiro; que o não uso dos mesmos

pode ser dar sobretudo por sobrecarga de trabalho, por desconforto causado por

equipamentos inadequados e por desconhecimento por parte do profissional. Concluiu-

se que o absenteísmo causado por acidentes e doenças de trabalho é mais complexo do

que a abordagem maniqueísta de uso ou não uso de EPIs, requerendo, para além de

trabalhos de concientização dos profisionais, revisões de metodologia de carga laboral

e até mesmo de revisão das condições legais de adequação destes equipementos e a

consquente modificação dos métodos de fabricação ora aplicados.

Palavras-chave: absenteísmo, equipamentos de segurança individual, EPIs, acidentes de

trabalho, regulação de equipamentos.

1. Introdução

Acidente de trabalho, ou laboral, é aquele que se dá pelo exercício do trabalho mediante

remuneração. Pode causar desde um simples afastamento até a perda, redução da

capacidade laborativa ou até mesmo a morte do trabalhador (GUIMARÃES et al., 2011). Acidentes de trabalho estão entre os principais problemas de saúde pública no mundo

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todo. (GONÇALVES ET AL. 2015; BRASIL, 2001). Tal importância é tanto de ordem

social, com a danos à saúde e mesmo morte dos trabalhadores, como também econômica,

com prejuízo das forças produtivas com o absenteísmo dos profissionais e gastos

previdenciários, de modo que o ônus deste tipo de acidente para a sociedade é elevado

(BRASIL, 2001). Guimarães et al. (2011) também lembram que acidentes laborais, ainda que possam ser

evitáveis, causam impacto sobre a produtividade e a economia, além de sofrimento social.

De fato, reduzir o número de acidentes de trabalho está entre as principais dificuldades

encontradas pelas empresas atualmente (HASSE et al, 2015). E uma forma relevante de

prevenção se traduz por elucidar o que ocorre ou pode ocorrer em um sistema de produção

que acarrete em acidentes (GONÇALVES et al., 2015). As precauções durante o serviço de profissionais incluem a utilização de equipamentos

de proteção individual, o uso de EPI (GUIMARÃES et al., 2011). Os EPIs são projetados

para atenuar lesões aos usuários decorrentes da exposição a agentes específicos durante

o processo de trabalho. O uso dos EPIs, embora por vezes não desejado, há de ser

considerado uma tecnologia de proteção dentro de uma visão integrada e sistêmica de

abordagem dos problemas ocupacionais (VEIGA et al., 2007). A Norma Regulamentadora NR 6 define EPI da seguinte forma: “considera-se

Equipamento de Proteção Individual (EPI) todo dispositivo ou produto, de uso individual

utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a

segurança e a saúde no trabalho”. O mesmo há de ser aprovado por órgão competente do

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), bem como de fornecimento gratuito e

obrigatório aos empregados que dele necessitarem (BRASIL, 2004, p. 13).

Para Ayres e Corrêa (2001, p. 25-27), os equipamentos de proteção individual (EPI) têm

função de proteger e reduzir as lesões ou danos que venham provocar os locais de trabalho

ao trabalhador, sendo que esses equipamentos tendem, de maneira geral a ser fornecidos,

pelo empregador.

Percebe-se, assim, que existe na sociedade a necessidade de se evitar os acidentes

passíveis de ocorrer em sistemas de trabalho, pelo fato de que suas consequências, como

o absenteísmo e os custos de saúde, serem econômica e e dispendiosos, e que uma das

respostas mais comuns a este risco é o uso de EPIs pelos profissionais. O absenteísmo de profissionais é um problema complexo para as organizações, e refere-

se à frequência ou duração do tempo de trabalho perdido quando os profissionais não

comparecem à jornada de trabalho devida, correspondendo às ausências quando se

esperava que estivessem presentes. Inclui faltas sem causa definida, licenças médicas,

afastamentos para treinamentos, dentre outros (SANCINETTI et al. 2011). As causas do absenteísmo, porém, costumam ser multifatoriais, o que denota a

complexidade do tema. Incluem-se entre tais causas fatores de trabalho, sociais, culturais,

de personalidade, de doença, de acidentes laborais, geográficos, organizacionais,

individuais, físicos, psíquicos e ambientais (SANCINETTI et al. 2011). Em meados da década de 70, contam Gallas & Fontana (2010), tiveram início discussões

acerca da proteção e segurança dos trabalhadores. A princípio, a importância maior era

dada aos profissionais que atuavam com pesquisa de organismos geneticamente

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modificados, especialmente focando na segurança dos trabalhadores de laboratórios de

análise de material biológico vulneráveis à exposição por material patogênico. Desde

então, os conceitos de exposição ocupacional, biossegurança e segurança do trabalho

vieram sendo aprimorados pela comunidade acadêmica, abrangendo profissionais de

praticamente todas as áreas. Neste contexto, a presente pesquisa objetivou colher na literatura especializada análises

em diferentes áreas profissionais sobre o uso dos EPIs e a origem do absenteísmo

profissional, buscando a compreensão de que processos geram os acidentes que resultam

no afastamento dos profissionais, e quais as opiniões dos teóricos consultados para que,

em tantos anos de pesquisa acadêmica sobre tais acidentes, estes sinistros persistam ainda

como um problema social e econômico tão relevante.

2. Metodologia

Foi realizada uma pesquisa genérica sobre publicações acerca do uso de EPIs e de

absenteísmo em diferentes áreas profissionais, que foram subdivididas entre as áreas da

saúde, da construção civil, da indústria da madeira e da produção rural. Após, buscou-se

publicações sobre a evolução da compreensão da dinâmica de sistemas de trabalho com

ênfase na origem de acidentes de trabalho, e a subsequente comparação com a

compreensão das publicações de áreas específicas quanto à responsabilização dos agentes

dos sistemas de trabalho quanto à ocorrência de tais acidentes.

O presente trabalho realiza, conforme segue, a exposição de dados referentes à

bibliografia consultada quanto ao uso de EPIs e absenteísmo profissional em diferentes

áreas de profissionais que seguem, a saber, área da saúde, da construção civil, da madeira

e rural. Tais áreas não foram escolhidas arbitrariamente, mas sim em consequência, do

fato da literatura ter sido genericamente escolhida em função da correlação entre o uso de

EPIs e de absenteísmo profissional. Posteriormente, expõe-se os conceitos colhidos sobre a evolução da compreensão da

evolução das formas de análise de sinistros laborais, e é feita uma contraposição com os

dados anteriormente expostos para cada área profissional.

3. Desenvolvimento

O absenteísmo dos profissionais de enfermagem é um problema complexo para as

organizações de saúde, e refere-se à frequência ou duração do tempo de trabalho perdido

quando os profissionais não comparecem ao trabalho, correspondendo às ausências

quando se esperava que estivessem presentes. Inclui faltas sem causa definida, licenças

médicas, afastamentos para treinamentos, dentre outros. (SANCINETTI et al. 2011).

Depreende-se, então, que absenteísmo, além de ser bastante relevante para as

organizações, pode se originar por eventos diversos para além de acidentes ou doenças

de trabalho com licenças médicas. Há que se perguntar, pois, qual a parte relativa às faltas

geradas por licenças médicas, já que seriam as passíveis de securitizar com o uso de EPIs. Sancinetti et al. (2011) fazem exatamente isso ao estudarem um grupo de 613

profissionais de enfermagem durante período de janeiro a julho de 2008. Contabilizam,

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neste ínterim, 10.452 dias perdidos de trabalho devido ao absenteísmo. Deste número,

80,3%, ou 8.387 dias, se perderam devido a faltas decorrentes de licenças médicas. Tais

números são expressivos, sobretudo levando-se em conta que dizem respeito a um único

semestre estudado, e indicam a gravidade do problema do absenteísmo sobre a

produtividade de um sistema de trabalho. E, também, demonstram que as licenças

médicas, que são oriundas de acidentes ou doenças laborais, possuem um percentual

significativo dentre as ocorrências.

Há que se saber, então, quais os riscos a que estes profissionais estão expostos, a fim de

se conhecer contra o que se necessitaria de proteção. Guimarães et al. (2011) comentam

que trabalhadores que atuam nos serviços de saúde têm possibilidades de adquirir

enfermidades e sofrer acidentes de trabalho em decorrência do contato com riscos

ocupacionais diversos, incluindo fatores de risco biológico, físico, psíquico e

ergonômicos. Dentre estes, porquanto a discussão sobre risco de acidentes de trabalho

tenha começado com o risco de exposição a agentes biológicos (GALLAS & FONTANA,

2010), a biossegurança é um dos pontos de partida óbvio para análise. Gallas & Fontana (2010), em sua revisão sobre biossegurança para trabalhadores de

enfermagem, constatam um risco laboral constante para profissionais, inclusive de

contaminantes advindos das ocupações dos seus pacientes, como trabalhadores de

agricultura e pecuária. As normas de biossegurança, constatam, são negligenciadas de

forma razoavelmente comum em grande parte dos cenários de prestação de cuidados de

enfermagem.

Em sua revisão sobre os riscos ocupacionais de trabalhadores de enfermagem, Guimarães

et al. (2011) constatam ser comum a exposição destes profissionais às doenças

infecciosas, como hepatite B (HBV) e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).

O HBV e o HIV, mencionam os autores, são transmitidos, parenteralmente, por exposição

percutânea ou por mucosa, através do sangue ou de outros fluidos orgânicos em sua

exposição direta. Os riscos de contrair a AIDS e hepatite B estão, ainda conforme o estudo

citado, entre os mais temidos pelos trabalhadores hospitalares, especialmente em

consequência de acidentes com perfurocortantes, para os quais são citados no estudo

índices de infecção entre 0,25 e 0,4% para o vírus HIV, entre 6 e 30% para o HBV, e entre

0,4 e 1,8% para o da hepatite C (HBC). Vasconcelos et al. (2008), em sua revisão sobre os riscos laborais de profissionais de

enfermagem, também, chamam a atenção para os riscos com perfurocortantes, contato

físico com enfermos e suas secreções e fluidos corporais, manuseio de ferimentos

percutâneos, membranas, mucosas, pele e dermatites, além de sondas e cateteres. Estando

os riscos que estes profissionais correm em geral relacionados aos riscos dos pacientes a

quem atendem (NISHIDE & BENATTI, 2004 apud VASCONCELOS et al, 2008). Ainda sobre acidentes com perfurocortantes e fluidos de pacientes, são relevantes os

dados obtidos por Salelkar et al. (2010) ao entrevistarem uma população de 575

trabalhadores de saúde sobre ferimentos acidentais com seringas. Os autores descobrem

que este é um acidente com significativa ocorrência nesta população, concluindo que a

instituição deve investir em policiamento, treinamentos e procedimentos para o reporte

de acidentes, a fim de contornar a situação:

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"Occupational exposure to blood and body fluids through needle stick injuries

was quite high at the hospital. Given the dangers of disease transmission

through needle stick injuries, the surprising lack of awareness of these dangers

and the correct actions to be taken post injury makes it imperative to address

this issue urgently. Training in universal precautions, proper sharps disposal

and action to be taken in case of injury needs to be given to all categories of

health care workers. The hospital needs to have a uniform needle stick injuries

policy covering safe work practices, safe disposal of sharps, procedures in

event of needle stick injury, training including pre-employment training,

monitoring and evaluation of needle stick injuries and procedures for reporting

needle stick injuries." (SALELKAR et al. 2010 - p.20)

Ainda sobre este tipo de acidente, Gallas & Fontana (2010) mencionam que estudos

demonstram que as maiores causas de acidentes punctórios entre os trabalhadores da

enfermagem, estão em práticas como o reencape de agulhas, o descarte de objetos

perfurocortantes e a falta de adesão aos EPIs. As autoras, em sua revisão de bibliografia,

também constatam que os acidentes ocupacionais com perfuro cortantes ou por contato

de secreções com mucosas muito comuns entre os trabalhadores de enfermagem. Bonni et al. (2009), ao estudarem a exposição de profissionais de enfermagem de uma

UTI a risco biológico, apontam que 44% destes trabalhadores não faziam uso de EPIs no

momento em que se acidentaram com material biológico, o que claramente sugere que o

profissional sem tal equipamento corre maiores riscos de acidentes de trabalho, e do

consequente absenteísmo.

Neste contexto, Souza et al. (2011) definem que, para a área de enfermagem, o conjunto

de EPIs necessários seria composto por máscaras, óculos, protetor facial, luvas, avental.

O que seria uma definição, ainda que apenas inicial, do conjunto de equipamentos que,

em tese, manteria os profissionais de enfermagem seguros ao realizar suas atividades

normais.

A ideia de que a aceitação do uso de EPIs eliminaria quase que completamente os riscos

laborais fica evidente em textos como: "Os Equipamentos de Proteção Individual

permitem aos profissionais da equipe de enfermagem exercer os cuidados aos pacientes

de forma segura, não colocando em risco a saúde do paciente e zelando pela integridade

física dos mesmos." (VASCONCELOS et al., 2008 - pag. 99)

Contudo, Vasconcelos et al. (2008), por meio de pesquisa de caráter quantitativo realizada

com o quadro funcional de uma unidade hospitalar, verificou que, apesar da maioria

(94,9%) dos seus entrevistados estarem cientes dos riscos que correm no exercício

profissional, os EPIs nem sempre eram utilizados, sobretudo por indisponibilidade

(83.6%), falta de hábito e disciplina (81.6%), descuido (44.0%), desconforto e incômodo

(35.2%); E que apenas a minoria utiliza constantemente todos os equipamentos

necessários ao exercício da enfermagem.

Percebe-se, pois, que, ainda que os profissionais de enfermagem tenham conhecimento

dos riscos inerentes a sua profissão, muitos não fazem uso regular deles. Por vezes por

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razões que fogem ao seu controle, mas, por vezes, por decisão ou desleixo próprios.

Compreender as razões para este fenômeno, então, parece ser fundamental para se poder

desenvolver meios de criar formas de segurança efetivas para este meio profissional. Tais causas, como segue, varia entre os autores consultados no presente trabalho. Parte

deles responsabiliza os próprios trabalhadores, por não fazerem uso dos equipamentos de

segurança e assim espontaneamente se exporem a um risco desnecessário. Já outros

autores apontam causas mais complexas, que envolvem todo o sistema de trabalho destes

profissionais, e que os levam a correr tais riscos a fim de conseguirem cumprir o que lhes

é demandado, ou então para evitar desconfortos. Souza et al. (2011 – p.125), que estuda o uso de EPI no meio da saúde, afirma que "apesar

dos grandes avanços na prevenção de infeções hospitalares, a adesão aos equipamentos

de proteção individual continua sendo um importante desafio entre os trabalhadores da

saúde." Denota-se novamente, pois, que os trabalhadores, mesmo com disposição ao EPI

que a organização de trabalho, ou outras instituições, apregoam promover maior

segurança, por vezes acaba não fazendo uso do mesmo. Os autores seguem buscando uma

explicação para tal fato:

“[...] temos observado na prática o uso inadequado ou o desuso dos

equipamentos de proteção individual (EPIs) por esses profissionais, além da

não lavagem das mãos após a realização dos procedimentos. Isso acontece

porque, na prática, muitas vezes os trabalhadores de enfermagem executam o

“cuidar” dentro da perspectiva do “fazer” e, consequentemente, não adotam as

medidas de biossegurança necessárias à sua proteção durante a assistência que

realizam” (SOUZA et al., 2011 – p.126).

Gallas & Fontana (2010), ao entrevistar profissionais de enfermagem sobre acidentes

laborais e o uso de EPIs, chegam à conclusão de que a maioria dos entrevistados concorda

e aprova as ações de seus gestores para a prevenção de acidentes, assumindo como

culpados por negligência os próprios enfermeiros e técnicos em enfermagem vitimados.

Porém, também consideram que o excesso de trabalho, ocasionado sobretudo por quadro

funcional reduzido, e consequente pressa, expõe o trabalhador a maiores riscos de

acidentes, por favorecer imperícias, imprudências e negligências nas práticas.

Ou seja, segundo a percepção das autoras, embora os funcionários em geral aceitem as

regras corporativas de uso de EPIs, eles também consideram que a exigência elevada,

fruto do relativamente pequeno número de funcionários, os expõe a riscos desnecessários. Os profissionais de enfermagem precisam de agilidade para efetuar seu trabalho e

proporcionar a sobrevida de seu paciente. Para atender à urgência, não raro eles se

esquecem do cuidado com a própria segurança, como o uso de EPIs. Tal fato aumenta a

exposição deste trabalhador ao risco laboral (GUIMARÃES et al., 2011).

A sobrecarga de trabalho, então, é potencializadora para a ocorrência de acidentes de

trabalho em equipes de enfermagem, configurando-se como um risco psicossocial que

desgasta o trabalhador e o expõe a outros riscos (TOMAZIN & BENATTI, 2001;

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RIBEIRO & SHIMIZU, 2007 ; GALLAS & FONTANA, 2010). Sendo bastante comum que instituições de saúde trabalhem com a escassez de recursos

humanos (GALLAS & FONTANA, 2010), determinando alteração no ritmo de trabalho,

o próprio ambiente laboral do trabalhador de saúde o predispõe a acidentes e outros

ocasionadores de absenteísmo. Associado tal ambiente ao ritmo acelerado de trabalho,

número reduzido de trabalhadores e a inadequação de recursos materiais, tem-se o

desencadeamento de processos de sofrimento e adoecimento (SARQUIS & FELLI, 2009;

GALLAS & FONTANA, 2010), e consequente afastamento do profissional.

Gallas & Fontana (2010), como já mencionado, perceberam que os profissionais de saúde

têm consciência dos riscos aos quais estão expostos em decorrência de suas atividades

laborais, e que, mesmo tendo EPIs à disposição pelos empregadores, um número

significativo não os utiliza, o que evidencia negligência do trabalhador como causa

importante de ocorrência de acidentes de trabalho. Mas as mesmas autoras também documentam que os mesmos profissionais reconhecem

que quando atentos ao trabalho e tendo calma ao realizá-lo, acidentes são bastante mais

reduzidos. Alguns dos profissionais entrevistados pelas autoras afirmam que não utilizam

EPIs, dentre outras razões porque há pouco tempo e têm muitas coisas para fazer. Essas

são evidências bastante contundentes de que a sobrecarga de trabalho, mais do que uma

negligência culposa do trabalhador, é que gera o risco de acidentes de trabalho.

Quanto aos trabalhadores estarem cientes dos riscos que correm em suas atividades

cotidianas, os dados de diferentes autores difere. Em alguns casos, as populações

amostradas para os estudos se mostram cientes dos riscos e medidas profiláticas

subsequentes de maneira bastante completa, mas, em outras, parece haver certa

deficiência conceitual quanto a isto na formação dos profissionais estudados. Guimarães et al. (2011), por exemplo, analisando a percepção que técnicos de

enfermagem tinham sobre os riscos que corriam ao não utilizar EPIs, obtêm algumas

constatações, que seguem:

Os trabalhadores entrevistados em geral não tinham ciência de todos os riscos corridos,

elencando quando questionados apenas uma parcela deles, sendo que em alguns casos,

tipos inteiros de riscos, como, por exemplo, riscos químicos ou ergonômicos, eram

totalmente ignorados ou mesmo desconhecidos por alguns trabalhadores; muitos

trabalhadores também não tinham conhecimento sobre as normas de segurança vigentes

para a sua atividade, e houve entrevistados que disseram especificamente que não as iriam

ler porque não tinham tempo para tal; as atividades realizadas por técnicos de enfermagem

não raro demandam agilidade e dinamicidade, o que por vezes era visto como

contraditório com o uso de EPIs pelos profissionais; e que, em alguns casos, as

instituições não forneciam aos seus técnicos todos os EPIs preconizados pelas normas

vigentes. Já Salelkar et al. (2010), ao estudar ferimentos com seringas em um hospital, descobriu

que 100% dos médicos entrevistados estavam cientes dos procedimentos de segurança

quanto ao risco de contaminação com HIV nestes acidentes, contra apenas 2,4% dos

atendentes. Em todo caso, em sua revisão sobre o tema, os autores encontram estudos

semelhantes em que menos de 70% dos médicos estavam cientes das medicas de

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profilaxia pós exposição ao HIV. Vasconcelos et al. (2008) também constata que a quase totalidade dos os profissionais de

enfermagem entrevistados em seu estudo estavam cientes dos riscos que corriam durante

o seu trabalho. Resultados tão diferentes em estudos semelhantes parecem denotar uma

variedade de realidades sociais e organizacionais em diferentes sistemas de trabalho na

área de enfermagem. Retornando ao dado de Guimarães et al. (2011), que registra denúncia por parte dos

profissionais de que as instituições não forneciam todos os EPIs preconizados pelas

normas vigentes, fica claro que nem sempre o não uso de EPIs é de responsabilidade do

trabalhador.

Por exemplo, Vasconcelos et al. (2008) percebem, em seu estudo sobre o quadro funcional

de um hospital, que, embora alguns EPIs como luvas descartáveis terem amplo uso entre

os trabalhadores, outros preconizados às atividades daqueles profissionais, como o

capote, o gorro, os óculos e a máscara não eram tão aceitos pelos profissionais. Porém, o

motivo mais relevante para tal fato era a falta de disponibilidade dos equipamentos. Ainda assim, por vezes, o equipamento é disponibilizado, mas não utilizado. Nestes

casos, como segue, o profissional é culpabilizado pelo não uso dos EPIs segundo o mesmo

autor, conjuntamente com o empregador:

“Mas outros fatores também podem ser considerados agravantes, visto que

mesmo quando há disponibilidade do equipamento de proteção, o mesmo não

é utilizado por motivos pessoais, como: desconforto/incômodo, esquecimento,

descuido, falta de hábito/disciplina sendo que estes fatores que contribuem

para uma proteção inadequada. Verifica-se, portanto, que tanto empregadores

quanto empregados descumprem a legislação vigente, colocando a saúde dos

trabalhadores que cuidam da saúde dos pacientes em risco. Sugere-se a

necessidade de maior conscientização dos profissionais de enfermagem a

respeito da necessidade do uso dos Equipamentos de Proteção Individual, a

fim de que a resistência a esse uso seja superada e os profissionais possam

exercer suas funções tornando-os isentos de riscos à própria saúde.”

(Vasconcelos et al., 2008 – p. 108)

Em alguns casos, as conclusões dos estudos sobre a correlação entre acidentes de trabalho

e o uso de EPIs parece paradoxal neste aspecto. Por exemplo, Vasconcelos et al. (2008),

como visto, constata que quase todos os profissionais de enfermagem entrevistados em

seu estudo estavam cientes dos riscos que corriam durante o seu trabalho, porém, os

autores sugerem em sua publicação a necessidade de maior conscientização dos

profissionais de enfermagem a respeito da necessidade do uso dos Equipamentos de

Proteção Individual para vencer a resistência que estes profissionais possuem ao seu uso. Em todo caso, uma vez que foi constatado que os profissionais estão cientes dos riscos

que correm, parece pouco relevante que haja ainda mais conscientização disto entre eles.

O que ocorre, aparentemente, é que eles estão deixando de utilizar os equipamentos,

apesar de terem consciência dos riscos que correm ao fazê-lo.

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Seria diferente com a realidade descrita por Guimarães et al. (2011), que descobriram que

boa parte dos profissionais era alheia aos riscos que corriam, o que fundamenta

adequadamente a conclusão dos autores de que a falta de informação e de reflexão é um

fator desencadeante para a não aderência dos profissionais ao uso dos EPI,

potencializando assim os riscos de acidentes de trabalho. Os resultados do estudo supracitado levam seus autores a concluir que profissionais de

enfermagem não raro desconhecem a legislação vigente de saúde em sua segurança

laboral e, em consequência, os riscos biológicos laborais aos quais estão expostos pela

não utilização adequada de EPI. O desconhecimento, o desinteresse e o não fornecimento

adequado destes EPI, afirmam os autores, aumentam o risco de acidentes laborais e,

sobretudo ao absenteísmo destes trabalhadores por acidentarem-se ou adquirirem uma

doença ocupacional durante o atendimento. Ou seja, em casos em que se denota que os profissionais não estão cientes dos riscos que

correm são justificadas conclusões que envolvam maior conscientização e treinamentos,

mas, como há casos em que os trabalhadores já possuem tal consciência, mas, mesmo

assim, não utilizam os EPIs, então há necessariamente de se buscar outras compreensões

e soluções para o problema. Uma das causas óbvias para isto seria a já mencionada sobrecarga de trabalho, mas há

outras elencadas pela literatura consultada.

Souza et al. (2011), por exemplo, entrevista profissionais de enfermagem quanto ao uso

de EPI, e descobre que esses trabalhadores se deparam em seu dia a dia com situações

que praticamente inviabilizam o uso dos equipamentos, como enfermeiras que possuem

alergia às máscaras de proteção, que sentem dores por detrás das orelhas ao usarem o

gorro de proteção, que não conseguem utilizar as máscaras por muito tempo quando estão

gripadas ou que não conseguem puncionar acesso venoso nos pacientes quando fazem

uso de luvas. As mesmas profissionais também denunciaram o não fornecimento

suficiente de equipamentos como óculos e propés descartáveis. Por isso tudo, declarou

parte das entrevistadas do estudo que, mesmo sabendo que os equipamentos são para sua

proteção pessoal e também para a do paciente, não raro se dirigem aos clientes sem a

devida proteção. De modo geral, porém, a literatura consultada culpabiliza o profissional, que seria, por

assim dizer, insistente em não utilizar os equipamentos de proteção individual por razões

menores. Tal é evidente, por exemplo, na conclusão que Souza et al. (2011) têm em seu

estudo quanto ao uso de EPIs por profissionais de enfermagem:

“Conhecer não significa ter atitudes corretas. Partindo desse pressuposto, tem-

se discutido bastante a lacuna existente entre o conhecimento e a atitude.

Embora muitas vezes o profissional de saúde relate dispor de conteúdos

teóricos, ele ainda apresenta atitudes incompatíveis com o mencionado. Isso é

reflexo de falhas no processo de formação dos profissionais de nível técnico,

que se agravam com as limitações de ordem estrutural e logística das

instituições de saúde às quais pertencem. A adesão às precauções padrão pela

equipe avaliada ainda não atendia ao que é preconizado como ideal. Muitos

profissionais ainda conservam certos hábitos inadequados, comprometendo a

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qualidade da atenção dispensada, além de aumentar as chances de acidentes

ocupacionais. Em se tratando do uso dos EPIs, a baixa adesão sofreu influência

de aspectos comportamentais, tais como o desconforto durante o uso, a

dificuldade para realizar determinados procedimentos, dentre outros. Em vista

desses resultados, é imprescindível a elaboração de estratégias de cunho

educativo que motivem os profissionais a desenvolver posturas mais eficazes

no desenvolvimento de suas atividades laborais. Investimentos dessa natureza

são fundamentais ao exercício consciente e seguro da profissão, contribuindo

para a redução dos índices de infecção hospitalar e adoção de práticas mais

seguras.” (SOUZA et al., 2011 - p.132)

Note-se que, neste entendimento, apesar de o profissional afirmar que possui

conhecimento teórico, o curso que o formou foi falho porque ele 'insiste' em não fazer

uso do equipamento de proteção individual. E que são necessárias ações educativas para

convencer o funcionário, teimoso, a fazer uso dos equipamentos. Os fatos de o trabalhador possuir desconforto ou não ser capaz de realizar determinados

procedimentos quando usando os EPIs não são discutidos, centrando-se, apenas, no fato

de o enfermeiro decidir trabalhar sem o referido equipamento. Ainda que, sem tal

desconforto ou dificuldade ele, provavelmente, venha a ser mais eficiente no atendimento

que está a prestar. Parece haver, assim, a necessidade de uma análise mais aprofundada da questão, a fim de

se evitar simplismos, por assim dizer, como o de meramente culpar o profissional pelo

não uso dos equipamentos de segurança. As causas para tal, pois, podem estar em outros

elementos dos sistemas de trabalho onde eles estão inseridos que não exatamente neles. As causas do absenteísmo costumam ser multifatoriais, o que denota a complexidade do

tema. Incluem-se entre tais causas fatores de trabalho, sociais, culturais, de personalidade,

de doença, de acidentes laborais, geográficos, organizacionais, individuais, físicos,

psíquicos, fatores ambientais. E nem sempre estão ligadas ao profissional, mas sim à

instituição e seus processos de trabalho deficientes, seja pela repetitividade de atividades,

da desmotivação, das condições desfavoráveis do ambiente laboral, da parca integração

entre os empregados e a organização, bem como dos impactos psicológicos de uma

direção deficiente que não visa uma política prevencionista e humanística.

(SANCINETTI et al. 2011) Gallas & Fontana (2010) salientam que os locais de atuação da enfermagem comumente

possuem condições de trabalho insatisfatórias, as quais são evidenciadas por problemas

de organização, deficiência de recursos humanos e materiais e áreas físicas inadequados

do ponto de vista ergonômico. Complementam ainda as autoras que esta conformação

seria fator preditivo para a exposição a riscos ocupacionais. Os riscos laborais em serviços de saúde se dão em consequência das inúmeras áreas de

insalubridade, ocorrendo com diferentes graus de periculosidade, e sendo influenciados a

partir da complexidade do tipo de atendimento realizado, da pressa requerida para tal

atendimento, bem como da função do trabalhador de enfermagem. (GUIMARÃES et al.,

2011) Trabalhando em condições insalubres, seja por não adesão às normas de segurança, dentre

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as quais está o uso de EPIs, seja por sobrecarga de atividades, seja por condições físicas

inadequadas o trabalhador fragiliza-se, o que favorece o adoecimento (GALLAS &

FONTANA, 2010), e o consequente absenteísmo. A questão do absenteísmo dos profissionais de enfermagem relacionada ao uso de EPIs,

assim, é bastante mais complexa do que a visão maniqueísta que por vezes é adotada nas

análises da literatura consultada. Os profissionais não 'escolhem' fazer não uso dos

equipamentos por mera insistência, mas por razões estruturais da organização de trabalho

na qual estão inseridos, e certas variáveis parecem diferir em cada caso estudado, como

o conhecimento ou não por parte dos profissionais quanto aos riscos aos quais estão

expostos. O tema exige, pois, que investigações que visem compreender casos específicos

para estabelecer medidas a fim de minimizar as faltas profissionais sem melhor

aprofundadas.

3. 2 Absenteísmo e uso de EPIs na indústria madeireira

Hasse et al. (2009), analisando dados de acidentes ocorridos em uma empresa madeireira

no ano de 2005, constatou que o ano demonstrou ocorrência total de 144 acidentes, sendo

que, destes, 49 casos foram sem afastamento, 52 acidentes resultaram em afastamentos

de menos de 15 dias e 25 acidentes ocasionaram absenteísmo superior a 15 dias. No total,

os acidentes com afastamento resultaram em 656 dias de trabalho perdidos. Tais dados

demonstram que o absenteísmo por acidentes de trabalho pode ser impactante no

desempenho de uma organização deste ramo de atividade. Simões et al. (2012) observam também alta frequência de afastamentos por doenças

osteo-musculares em carpinteiros por causa do manuseio da serra elétrica com os

membros superiores, o que inclui acidentes de trabalho, mas, sobretudo, lesões por

esforços repetitivos. Hasse et al. (2009), agora analisando registros de causas de acidentes de uma madeireira

entre os anos de 2005 a 2008, concluem que a falta de prudência teria sido o maior

responsável pelos sinistros. Outra causa para os acidentes de trabalho mencionado pelos

autores seria a falta de comprometimento por parte dos envolvidos nos processos, em

praticamente todos os níveis hierárquicos, para com o uso de equipamentos de segurança

(HASSE, et al, 2009). Neste sentido, Gonçalves et al. (2015) entendem que as falhas humanas são decorrentes

não meramente de fatores individuais e do desrespeito às normas prescritas, mas também

de relações sociais e organizacionais do próprio sistema de trabalho. Ou seja, em sistemas

de produção há riscos, e, dependendo da forma como a organização social e hierárquica

se der em determinado sistema de produção e trabalho, certos riscos podem ser

intensificados. Retornando ao estudo de Hasse et al. (2009), a empresa estudada pelos autores, conforme

os mesmos, adota um sistema de pagamentos por produção, o que contribui para que a

atenção do trabalhador esteja em agilizar seu processo produtivo, em possível detrimento

de sua própria segurança.

Os autores constatam que pode haver contrariedade por parte do trabalhador quanto ao

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uso de EPIs quando o seu ganho é por produção, ou em casos de tarefas mais complexas.

Sobretudo durante o período de adaptação, o uso dos EPIs pode interferir negativamente

no rendimento do funcionário, que, para não deixar de perceber um pagamento maior,

abstém-se de usá-lo. Notou-se que casos como o acima mencionado geram um dilema para o trabalhador: ou

ele opta por sua segurança pessoal, ou pelo seu pagamento, que pode muito bem ser toda

a fonte de sustento de sua família. Nestes casos, mesmo um trabalhador bem orientado e

ciente dos riscos de sua atividade poderá optar por assumir esses riscos em prol de uma

percepção monetária maior. Parece bastante claro, pois, que sistemas de trabalho

remunerados via produtividade têm uma tendência natural a maiores riscos de acidentes,

e consequente absenteísmo, por falta de uso de EPIs. Por vezes, trabalhadores experientes também podem evitar utilizar os EPIs fornecidos,

alegando que são suficientemente capazes de se defenderem dos acidentes laborais. Ou

mesmo, podem haver recusas pelo fato do trabalhador se sentir inseguro utilizando um

EPI que lhes pareça inadequado ou limitado para o trabalhado. Isso pelo fato de existir a

tendência de que cada EPI, ao seu modo, limite ou dificulte certos movimentos e/ou

sentidos do trabalhador (HASSE et al., 2009). De fato, Lacombe (2005, p. 256)

comenta que “em geral, os trabalhadores, quando não são bem instruídos e treinados no

uso do EPI, alegam que os riscos a que se expõem são pequenos, que já estão acostumados

e sabem como evitar o perigo; que os EPIs são incômodos e limitam os movimentos”. Em todo caso, Hasse et al. (2009) comentam que acidentes não deixarão de ocorrer pelo

simples uso dos equipamentos oferecidos, mesmo que de uso obrigatório, havendo,

segundo os autores, a necessidade do desenvolvimento e realização de processos de

adaptação e conscientização da equipe operacional. Além disso, os autores também consideram e que, em diversas ocasiões, os equipamentos

de proteção não teriam sido suficientes para evitar as lesões ocorridas, demonstrando que

as medidas e equipamentos de segurança adotados pela empresa não cobrem a totalidade

dos riscos inerentes ao processo produtivo que ela empreende. Percebe-se, assim, que também para o setor madeireiro as concepções de que o uso de

EPIs seria suficiente para solucionar o problema do absenteísmo e de que o trabalhador

se decide por não fazer uso de tais equipamentos por mera insistência sua também são

insuficientemente aprofundados.

Em alguns casos, o uso de EPIs não seria completamente eficaz na prevenção de

acidentes, ainda que amplamente aceitos pelos profissionais, e, de modo geral, também

nesta área de atividade a organização social e hierárquica dos sistemas de produção

estariam nas raízes das causas do problema do absenteísmo.

4. Absenteísmo e uso de EPIs na construção civil

Rezende et al. (2004) comentam que a construção civil, pela geração de empregos, é de

grande importância econômica, mas que ainda necessita de melhorias para diminuir o

número de absenteísmo, os riscos de acidentes e insatisfação no trabalho.

Almeida et al. (2000) entrevistaram 75 operários de construção civil obtendo dados sobre

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o uso de EPIs, acidentes e doenças laborais e consequente absenteísmo destes

profissionais. Concluem que, apesar de não serem, em geral, necessárias faltas quando

dos acidentes de trabalho mais comuns, ainda assim o absenteísmo aparece em 20% dos

operários entrevistados, e chamam a atenção para o fato de este número ser significativo

para a produtividade do sistema de trabalho estudado. As autoras destacam também que

acidentes de trabalho são comuns na indústria da construção civil, sendo as quedas e

torções as mais comumente relatadas.

Utilizando questionários com trabalhadores de canteiros de obras, Rezende et al. (2004),

descobriram que praticamente metade deles já haviam sofrido acidentes laborais

envolvendo prensamento de membros, dentre outros tipos de acidentes.

Em estudo semelhante, Baú (2003), colhe dados de que cerca de 54% de sua amostra

pesquisada já sofreu algum tipo de acidente, o que inclui desde os de proporções leves,

como escoriações nos membros, perfurações por objetos pontiagudos e projeções de

fragmentos, até os acidentes de maiores proporções, como queda de telhados, andaime ou

escadas. Os cerca de 46% restantes responderam nunca ter sofrido acidentes laborais. Contudo, conforme Almeida et al. (2000), doenças cutâneas são ainda mais frequentes

entre trabalhadores da construção civil do que os acidentes, porém, não são em geral

registradas, e normalmente são auto-tratadas pelos próprios trabalhadores em casa. Por

exemplo, 23% dos seus entrevistados afirmou ter alterações nas mãos e ou pés que foram

diagnosticados como dermatoses ocupacionais, parte delas relacionadas ao cimento. De fato, as dermatoses laborais constituem uma parcela ponderável das doenças

profissionais na área da construção civil (ALMEIDA et al., 2000). Neste contexto, as autoras fazem uma revisão acerca da periculosidade do cimento para

a pele humana, encontrando desde a presença de metais pesados em sua composição,

dentre sensibilizantes ou alergênicos, como cromo, zinco e cobalto, até ulcerações

dolorosas e resistentes à cicatrização, oriunda de óxidos, bases e ressecantes presentes

nesta matéria-prima, bem como pelo aquecimento que o mesmo apresenta conforme seca.

As autoras chamam a atenção para o fato de que trabalhadores de construção civil não

raro são fortemente sensibilizados pelo cimento, tornando-se quase impossível seu

retorno à mesma atividade, posto que novos contatos com esta matéria-prima produzem

sérios recidivos da dermatose. Para além do risco de dermatoses, Baú (2013), enumera extensas listas de riscos inerentes

à diferentes funções na construção civil, as quais podem ser resumidas conforme as

categorias de riscos elencadas pelo próprio autor, que seria os riscos ambientais, riscos

físicos, riscos químicos, riscos biológicos, riscos ergonômicos, riscos de acidentes e riscos

psicossociais. Baú (2013) chama a atenção também ao fato de que a indústria da construção civil tem

características próprias, como utilizar predominantemente mão-de-obra ao invés de

maquinário, e ter a possibilidade de absorver mão-de-obra de baixa qualificação com

grande facilidade, fatores que contribuem para aumentar os riscos de acidentes no

trabalho. Almeida et al. (2000) perceberam que a maioria de seus entrevistados acredita que a falta

de atenção é a causa para o alto número de acidentes em seu local de trabalho, e que tais

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sinistros são consideradas rotineiros para tais trabalhadores. Ainda assim, "de um modo geral, a maioria dos trabalhadores que atua na construção civil

não usa os EPIs recomendados" (BAÚ, 2013 – p.121). O grau de adesão dos EPIs na

construção civil, expõe Baú (2013), é muito baixo, mesmo quando os operários recebem

os equipamentos corretamente do empregador. E, como causas para este fenômeno, o

autor descobre que, por vezes, tal desinteresse ou recusa se dá sobretudo quando o

trabalhador apenas recebe o equipamento de proteção individual sem maiores instruções

de como e por que utilizar.

Contudo, também enumera o autor, não raro EPI é desconfortável, e, em função disto ou

de outras razões, ou o ritmo de trabalho é diminuído pelo seu uso. Por isso, também ocorre

de as chefias imediatas fazerem vista grossa e inclusive incentivar o trabalho sem uso de

EPI, buscando maior produtividade. Ou seja, os próprios mestres de obras e afins podem,

às vezes, estimular os trabalhadores a não utilizar os EPIs a fim de agilizar a obra. Resumidamente, entrevistando trabalhadores quanto às razões para não utilizarem EPIs,

Baú (2013) encontra razões como desconforto, sobretudo térmico, a percepção de que o

seu uso atrasa o serviço, e, sobretudo, uma visão entre estes profissionais de que acidentes

são coisas de pessoas sem experiência, de modo que não precisariam de proteção após a

terem adquirido. Por tal razão, descobre o autor, "a maior aversão ao uso dos

equipamentos de proteção pessoal está associada aos operários com mais de 10 anos de

profissão" (BAÚ, 2013 – p.125). Quanto a isso, descobre o autor, o capacete é o principal

item recusado pelos trabalhadores, pois, segundo os próprios, é incômodo,

desconfortável, causando e coceira e calor. Sobre isso, Almeida et al. (2000) encontram que 15% de seus trabalhadores entrevistados

afirmaram que o equipamento de proteção individual causa desconforto para as mãos e

que, por isso, comumente não o utiliza. Um dos seus entrevistados, inclusive, disse ter

alergia à borracha do EPI. Sobre a percepção que os trabalhadores de construção civil têm sobre uso dos EPIs,

Rezende et al. (2004), por meio de questionários, chegam aos seguintes dados:

“todos os trabalhadores consideram importantes, sendo que 83,3% consideram

os óculos de proteção, 66,6% as luvas de proteção, 50,0% o protetor de ouvido,

as botas de biqueira de aço e antiderrapantes e o protetor solar e 33,3%

consideram o cinto de segurança, roupas adequadas e máscaras os de maior

importância. Dentre esses EPIs, verificou-se que os óculos de proteção são os

mais usados diariamente (83,3%), em seguida estão botas de biqueira de aço e

antiderrapantes, luvas de proteção e o protetor solar (50,0%). Os capacetes de

segurança e máscaras não são usados diariamente pelo fato de serem os que

mais incomodam os trabalhadores (33,3%). Dos entrevistados 50,0%

mencionaram ter recebido, pela empresa, algum treinamento nas atividades que

atualmente desenvolvem.” (REZENDE et al., 2004-p.4)

Baú (2013), utilizando questionários com trabalhadores da construção civil também para

avaliar o que lhes representa e qual a importância do uso de EPIs, encontra que 55,8%

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associou o uso a segurança pessoal. Outros 32,5% entendem que o uso está associado à

proteção contra acidentes, e, cerca de 7% entende que o uso de EPIs representa incômodo,

desconforto e algo que atrapalha o desenvolvimento das atividades. Baú (2013) chama a atenção ainda para o fato de que o empregador, sobretudo o

brasileiro, usa os EPIs como primeira opção de segurança, quando deveria ser a última,

partindo, segundo o autor, do pressuposto que o EPI seria a solução para todos os

problemas de segurança do trabalho. Tal, afirma o autor, contraria a própria essência do

EPI.

Vieira (2005) adverte também sobre isso, argumentando que EPIs servem para proteger

o trabalhador contra riscos à sua saúde e segurança individual, mas que só devem ser

utilizados quando da impossibilidade de um controle mais efetivo que levaria à

eliminação de riscos de acidentes no meio ambiente de trabalho. Tal visão e utilização dos EPIs em projetos de sistemas de trabalho podem, na verdade,

aumentar o risco de acidentes, e do consequente absenteísmo, já que adota medidas de

remediação de riscos ao invés de medidas de eliminação dos mesmos. "O EPI, quando

mal dimensionado ou inadequado ao risco, passa a ter caráter inverso do que foi

inicialmente proposto, facilitando, em muitos casos, a ocorrência de acidentes." (BAÚ,

2013 - p.110) Também para a construção civil, então, pode-se notar que o problema do absenteísmo é

relevante e que poderia ser minimizado com melhores medidas de segurança dos

trabalhadores. Além disso, também os profissionais desta área relatam sentir desconforto

e terem problemas com os EPIs que possuem a disposição. Dentre tais problemas, estaria

a diminuição de seu rendimento, o que, como visto, em certos casos pode levar chefias

imediatas a de fato estimular o não uso dos equipamentos de segurança devidos. Formas

de compreensão mais aprofundadas do que a simples culpabilização das vítimas de

acidentes de trabalho, então, seriam desejáveis.

5. Absenteísmo e uso de EPIs no trabalho rural

Ao analisar as causas das emissões de atestados médicos para agravos profissionais que

atingem trabalhadores rurais, Ceccato et al. (2014) comentam que estes decorrem, em

grande parte, do esforço físico excessivo. Mas que, além disso, agravos passíveis de

minimização pelo uso de EPIs, tais como acidentes com máquinas, animais peçonhentos,

envenenamentos por agrotóxicos e doenças respiratórias por exposição materiais

particulados gerados por queimas de palhadas são fatores que contribuem

consideravelmente para o absenteísmo nestes trabalhadores. Os mesmos autores, em sua revisão sobre o tema, descobrem alta incidência de

absenteísmo por doenças osteo-musculares associadas ao sistema de pagamento por

produção, caracterizado por altas cargas de trabalho sem pausas, além de ambiente

ocupacional propenso ao desenvolvimento de alterações musculoesqueléticas. Algo bastante semelhante ao já mencionado estudo de Simões et al. (2012), que observam

alto número de afastamentos por doenças osteo-musculares em carpinteiros pelo esforço

repetitivo no manuseio de serras elétricas em sistemas assemelhados.

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Tais informações sugerem que, do mesmo modo que foi constatado para os trabalhadores

de enfermagem conforme mencionado anteriormente, a forma de organização de trabalho

é ativamente um agente de predisposição ao risco de acidentes de trabalhos, indo além do

simples uso ou não de EPIs. Ceccato et al. (2014), além de constatarem, como visto, que doenças osteo-musculares

foram os motivos mais comuns de absenteísmo em trabalhadores rurais, estudaram

também casos de absenteísmo por doença ocupacional do setor canavieiro. Estas foram a

segunda maior causa de faltas de trabalho, e se constituem basicamente por doenças do

aparelho respiratório, mais numerosas, e também por neuropatias e doenças

geniturinárias.

Os autores constataram que, tanto as doenças respiratórias quanto as neurológicas podem

ter origem relacionada, dentre outros fatores, por poluentes dispersos no ar em um

canavial em ponto de colheita, como metais pesados e agrotóxicos. Especificamente

quanto às doenças neurológicas, os autores elencaram uma série de elementos

neurotóxicos que se dispersam pelo ar em um canavial em colheita, como chumbo,

solventes orgânicos, pesticidas e radiação ionizante.

Já afastamentos por doenças do sistema geniturinário, descobrem os autores, são as que

demandam a maior quantidade de dias de absenteísmo para cada ocorrência. E também

que são frequentes em trabalhadores rurais devido a exposição a elementos irritantes de

mucosas existentes em diversos pesticidas agrícolas. Note-se que, em tese, estes fatores ambientais poderiam ser minimizados com o simples

uso de EPIs, como uma máscara que detenha material particulado do ar, ou roupas

impermeáveis que evitassem contato com a pele de material volatilizado. Seria de esperar,

então, que a adesão dos trabalhadores rurais ao seu uso os protegesse de todas estas

moléstias mencionadas, e que solucionassem ou então reduzissem grandemente o

absenteísmo nestas populações. Neste sentido, Veiga et al. (2007) estudaram comunidades rurais do Brasil e da França,

buscando saber se os EPIs preconizados e utilizados por essas populações eram eficazes.

As evidências que os autores encontraram evidenciaram que os EPIs, em ambos os países,

além de não protegerem integralmente o trabalhador, podiam ainda agravar os riscos e

perigos, por diversos fatores. Além disso, certas características dos projetos de EPIs

analisados pelos autores os tornam indesejáveis e até mesmo danosos para os

trabalhadores caso os insistissem em usar.

Ou seja, da mesma forma que para as outras áreas profissionais, há problemas nos EPIs

que diminuem a adesão dos profissionais ao seu uso, resultando em vários casos de

sistemas de trabalho em que os profissionais se decidem por realizar suas atividades sem

os equipamentos de proteção. E, além disso, há nesta área de atividade ainda o agravante

de equipamentos que, além de não protegerem os trabalhadores como deveriam, ainda os

expõem a riscos maiores do que eles correriam se trabalhassem sem o seu uso.

Sobre o não uso dos equipamentos por parte dos trabalhadores, Veiga et al. (2007)

elencam uma diversidade de problemas podem tornar os EPIs inadequados a certas

condições de trabalho a que se destinam. Mesmo algumas características desejáveis a

estes equipamentos, e que foram projetadas para conferir maior segurança, podem resultar

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em dificuldades operacionais nas situações reais de trabalho. Como exemplo, os autores supracitados afirmam que uma maior resistência de um tecido

à permeabilidade, ao choque elétrico ou ao calor podem aumentar o peso do equipamento,

diminuir seu conforto térmico e sua portabilidade. Os autores ainda mencionam a

dificuldade da adequação dos EPIs às características antropométricas e ambientais de

cada localidade. Veiga et al. (2007) contam que, em sistemas de trabalho rural, sobretudo no Brasil, é

comum encontrar trabalhadores desprovidos de EPIs obrigatórios durante a manipulação

e a aplicação de agrotóxicos. O desconforto térmico, concluem os autores em sua revisão,

torna-os demasiado incômodos para uso nas condições reais de trabalho, e podem,

inclusive, caso o trabalhador insista em os utilizar, ocasionar estresse térmico extremo em

seu corpo. A hipertermia provocada pelo uso dos EPIs, mencionam os autores, além, dos problemas

para saúde humana, acaba por também ter efeitos econômicos, por influenciar a

produtividade e a qualidade do trabalho realizado. Os autores supracitados seguem chamando a atenção ao fato de que, mesmo a utilização

de EPIs podendo resultar em problemas para a saúde dos trabalhadores, não se identificou

no país laboratórios analisando a adequação das tecnologias de EPIs nesse aspecto.

Tampouco existem padrões para conforto térmico ou para permeabilidade. Por isso,

argumentam os autores, é preciso avaliar a adequação de cada tecnologia de proteção

individual às condições ambientais e antropométricas encontradas nas situações reais de

trabalho. Sobre alegações dos próprios trabalhadores justificando o não uso de EPIs, Veiga et al.

(2007) descobrem, em sistemas de trabalho para a cultura do tomateiro, que a objeção

mais frequente era, de fato, com relação ao desconforto térmico, principalmente, mas não

somente, em dias quentes, e que outra reclamação frequente foi o embaçamento de

máscaras faciais pela respiração durante a aplicação dos agrotóxicos, o que dificultava

grandemente a visão dos trabalhadores. O EPI que foi projetado para minimizar a contaminação por agrotóxicos, concluem,

também reduzia a circulação do ar para o seu interior, transformando, em termos práticos,

comparável a uma estufa. Se a temperatura externa estiver próxima dos 40º C, afirmam

os autores supracitados, a temperatura no interior de um EPI será demasiadamente

elevada para um ser humano, podendo causar riscos óbvios e potencialmente graves à sua

saúde.

“A situação penosa do trabalho é uma realidade vivenciada que pode conduzir os

agricultores a decidir limitar essa penosidade, em particular evitar o desconforto térmico

e não se proteger.” (VEIGA et al., 2007 – p.64) Assim, para Veiga et al. (2007), a causa da resistência de certos trabalhadores rurais ao

uso de determinados EPIs estaria na percepção do risco pelos próprios trabalhadores

quanto ao desconforto térmico, que é claro e óbvio ao curto prazo, bem mais evidente do

que o risco de se contaminar com os agrotóxicos, que, na maioria dos casos é silencioso

e assintomático por muitos anos. Porém, os problemas com EPIs nesta área de trabalho não se limitam ao desconforto e

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diminuição da eficiência do trabalhador durante o seu uso, havendo mesmo casos em que,

como mencionado, eles não protegem os trabalhadores e ainda aumentam o risco que

correm. Veiga et al. (2007) revisam também o caso de um sistema de trabalhado de cultura da

batata quanto à segurança no trabalho e se deparam com a constatação de que o tipo de

EPI utilizado pelos trabalhadores era simplesmente ineficaz, expondo-os aos

contaminantes dos quais deveriam protegê-los. A razão para tal, concluem, era a de que

os EPIs haviam sido projetados levando em conta apenas a classe toxicológica dos

agrotóxicos, e não na forma como o tipo de trabalho realizado com eles os exporia nos

corpos dos trabalhadores. Ou seja, os EPIs eram inadequados para situação real

encontrada. Os mesmos autores, em sua revisão sobre a eficácia de EPIs em diversos sistemas de

trabalho em meio rural, deparam-se com constatações surpreendentes, como casos

estudados em que os trabalhadores que utilizavam os EPIs preconizados, na verdade,

acabavam mais contaminados pelos agrotóxicos dos quais deveriam estar protegidos do

que aqueles que não faziam uso dos EPIs, e que, em teoria, seriam as não protegidas

contra o veneno. Várias explicações para estes aparentes paradoxos foram elencadas. Algumas delas

residiam em erros cometidos pelos próprios trabalhadores, que guardavam

inadequadamente os EPIs após o uso, contaminando-os internamente, ou então que, na

crença de que estariam totalmente protegidos ao usarem os EPIs, não tomavam os

mesmos cuidados que os trabalhadores que não faziam uso destes equipamentos

tomavam, como o de evitar nuvens de agrotóxicos, e, por isso, acabavam se

contaminando. Porém, também foram descobertas, segundo os mesmos autores, causas que nada haviam

de culpa dos trabalhadores. Alguns EPIs, por exemplo, protegiam bem os trabalhadores

dos venenos enquanto estes os estavam vestindo, mas vesti-los e despi-los sem se

contaminar era virtualmente impossível, o que era claramente um erro de projeto dos

EPIs. Outros casos relatados pelos autores eram ainda mais alarmantes, como o de EPIs

teoricamente impermeáveis aos herbicidas dos quais deveriam proteger os seus usuários,

mas que eram permeados por aplicações puras diretas destes venenos em períodos que

variavam entre um e dez minutos. Testes com diferentes equipamentos e substâncias

reproduziram resultados semelhantes. Os equipamentos, pois, apesar de preconizados e

exigidos, eram absolutamente ineficazes para o trabalho. Buscando explicar casos como estes, os autores descobriam que, em algumas das

situações, tratavam-se de equipamentos desenvolvidos para a indústria e adaptados para

a agricultura, um problema clássico de transferência de tecnologias, segundo os autores.

Tais equipamentos não eram ideais para a realidade das condições de trabalho dos

agricultores. Em alguns destes casos, descobrem os autores do estudo em sua revisão, tentar

simplesmente resolver o problema buscando um nível mais elevado de proteção para tais

EPIs, como camadas extras de proteção à permeabilidade, condicionaria a um maior

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desconforto térmico ainda maior, fazendo com que tais equipamentos se tornassem

totalmente inadequados à realidade do trabalho agrícola, que, como já mencionado, é uma

das justificativas mais comuns da não utilização de EPIs pelos trabalhadores aos quais

eles se destinam. Veiga et al. (2007) denunciam ainda alguns problemas específicos de alguns EPIs

estudados, como máscaras e protetores faciais que embaçam com a respiração, utilização

de materiais sintéticos de elevado tempo de degradação ambiental, aumento da

permeabilidade dos tecidos de roupas protetoras a cada lavagem, e argumentam que

informações sobre a diminuição da proteção dos EPIs conforme o tempo de uso deveriam

ser bem discriminado pelos seus fabricantes.

Em alguns casos, os EPIs também são projetados sem se levar em conta que deverão ser

utilizados conjuntamente com outros EPIs, e casos de incômoda incompatibilidade

surgem, como, por exemplo, óculos de proteção cujas hastes colidem com as conchas de

protetores auriculares, de modo que as funções de ambos os EPIs são prejudicadas

(VEIGA et al., 2007). “Parece existir, ainda, uma deficiência na concepção dos EPIs desde a sua fase de projeto.

Grande parte dos EPIs é projetada para proteger contra agentes isolados, ignorando os

potenciais efeitos sinérgicos.” (VEIGA et al., 2007 – p.64) Em geral, afirmam Veiga et al. (2007), o projeto dos EPIs também não inclui aspectos

relativos à sua manutenção. Os autores mencionam que normalmente é bastante difícil

limpar resíduos diversos em linhas de costuras em aventais e roupas de proteção em geral,

assim como em dobradiças de óculos, dobras no interior de botas, luvas, protetores

auriculares, dentre outros.

Casos como esses, concluem os autores, torna os próprios EPIs fontes de contaminação

por agrotóxicos. Além disso, os métodos de higienização preconizados também são

problemáticos, nos casos estudados, expuseram os trabalhadores rurais que os realizavam

a contaminações imediatas, e a mediatas para aqueles que tiveram contato com a área

onde foi realizada a limpeza. “O estado da técnica dos EPIs está bem distante da utilização desses equipamentos em

situações reais. Grande parte dos EPIs não seria adequada à sua utilização e/ou

finalidade.” (VEIGA et al., 2007 – p.67) Os autores comentam que a legislação de muitos países europeus já exige que os riscos

associados à utilização de EPIs sejam avaliados por órgãos competentes, o que não ocorre

no Brasil. Isto denota que, embora projetados para proteger, os EPIs podem ter falhas ou

erros, e que em certos países isto já é legalmente reconhecido. Veiga et al. (2007) argumentam que os fatos enumerados sobre a ineficiência ou

inadequação de EPIs para as situações reais de trabalho colocam em evidência falhas do

tipo organizacional ou latentes em relação aos mesmos. Tais falhas seriam introduzidas

nos sistemas de trabalho por níveis hierárquicos superiores e estariam relacionadas à

gestão ou concepção dos sistemas produtivos. No caso dos EPIs, essas falhas estariam

relacionadas ao projeto, à certificação e à colocação desses equipamentos de proteção no

mercado. ILO (2001) e Veiga et al. (2007) argumentam que os EPIs têm a finalidade de proteção,

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ou seja, de reduzir e controlar os riscos à saúde e à segurança dos trabalhadores, e não a

de evitá-los. Em consequência, de uma forma generalizada, a sua utilização deveria

apenas ser considerada como um dos últimos recursos de tecnologia de proteção e

controle de riscos aos trabalhadores. As medidas de prevenção, segundo Veiga et al. (2007), seriam aquelas que eliminam ou

reduzem os riscos e perigos, atuando na sua fonte, ou seja, na geração de risco no próprio

sistema de trabalho. Em geral, afirmam os autores, proteger seria mais barato às

instituições do que prevenir. Ou seja, os autores acreditam que fornecer EPIs para proteger

os trabalhadores das falhas de segurança inerentes aos sistemas de trabalho seria mais

econômico às organizações do que efetivamente melhorar tais sistemas de modo a

eliminar tais riscos. Tal valorização da proteção em detrimento da prevenção fica evidente no número

crescente de projetos de sistemas de trabalho incompletos que já incorporam na sua

concepção a utilização de EPIs para encobrir suas falhas. Para sistemas com risco

químico, por exemplo, as medidas de prevenção seriam claramente mais recomendáveis

do que as medidas de proteção individual mais utilizadas (VEIGA et al., 2007).

Por fim, Veiga et al. (2007) mencionam que as especificações dos EPIs em geral

enfatizam a proteção para agentes isolados do sistema de trabalho, sem levarem conta a

coexistência de outros agentes do processo de trabalho. Caso estes outros agentes também

causem risco, estes podem, eventualmente, ser agravados em decorrência do próprio uso

dos EPIs. A título de exemplos, os autores mencionam o desconforto térmico causados

por equipamentos de segurança individual. Na área rural, pois, a questão do uso de EPIs no controle de acidentes e doenças geradores

de absenteísmo também é mais complexa do que apenas entender que o seu uso diminuiria

as faltas dos trabalhadores e culpabilizá-los pelo seu não uso. Existiriam, conforme

expressam os autores citados, falhas estruturais ao longo dos sistemas de produção que

colocam em risco esses trabalhadores, e que seriam um foco mais efetivo para as ações

em resposta aos sinistros que resultam em absenteísmo.

6. As formas de análise de sinistros laborais

Acidentes são, em geral, previsíveis e preveníveis e, ao invés de obras do acaso, como se

poderia interpretar pela palavra “acidente”, são fenômenos socialmente determinados,

relacionados a fatores de risco presentes nos sistemas de produção (GONÇALVES et al.,

2015), que se podem definir como sendo o conjunto de atividades relacionadas entre si

para originar bens ou serviços (MOREIRA, 2009). Em sistemas de produção há riscos, e,

para os riscos conhecidos, medidas de controle que os previnem ou os tornam menos

propensos de ocorrer são possíveis. (GONÇALVES et al., 2015) Gonçalves, et al. (2015) fazem extensa revisão da evolução das concepções acerca das

causas para os acidentes de trabalho e das ações sugeridas ou tomadas quanto a eles.

Dividem, após, as abordagens quanto aos acidentes de trabalho em três tipos principais,

que seriam:

A primeira delas seria a centrada no indivíduo, caracterizada pela ênfase em atos

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inseguros por parte dos trabalhadores, poucas causas para os acidentes, como o

descumprimento de normas de segurança ou desatenção e que adota como medidas de

prevenção campanhas de conscientização com apelo para o medo, recompensa, punição,

auditorias e treinamentos; Outra, seria a abordagem sistêmica, ou organizacional, para a qual os acidentes seriam

sintomas de condições latentes presentes no sistema de trabalho, como a escolha de

tecnologias ou o histórico de uma organização no que tange aos acidentes, e que adota

como medidas de prevenção a proatividade no contínuo melhoramento dos sistemas de

segurança; E, por fim, a abordagem dos acidentes como socialmente produzidos, que estabelece que

as relações sociais no local de trabalho são determinantes para as origens dos acidentes,

e que teria como medida de prevenção para os mesmos a melhoria das relações sociais

existentes em um sistema de trabalho. Gonçalves et al. (2015), analisando relatórios de acidentes de trabalho em diferentes

sistemas de produção, concluem que a abordagem mais comum para a análise de

acidentes de trabalho é centrada no indivíduo, no que ele fez de errado e que acarretou no

acidente, e que esta não seria a forma mais eficiente de se evitar acidentes, sendo

necessária uma mudança neste estratégia. Os mesmos autores denunciam que, em geral, análises de acidentes cometem erros

recorrentes quanto à identificação das causas dos acidentes de trabalho. Tais análises

apontam o que apresentou defeito ou quebra, para em seguida localizar as pessoas mais

próximas do problema e culpabilizá-la. Para os autores, esta limitação na identificação das falhas dá origem a consequentes falhas

na elaboração de respostas para a prevenção de futuros acidentes similares. Assim

contextualizada, a questão assume a imagem de que, para que a análise de acidentes atinja

seu objetivo de prevenção, o sistema de produção seria absolutamente confiável, sendo o

ser humano o elo frágil que ocasiona os acidentes. Ou seja, na realidade, os sistemas de

trabalho podem possuir falhas de segurança inerentes, e não é a simples culpa do ser

humano, que deliberadamente não utilizou os EPIs ou outras medidas de segurança, que

resultaria em acidentes ou doenças laborais, e no consequente absenteísmo. Isto vai ao encontro dos dados encontrados na revisão realizada no presente trabalho em

diferentes áreas profissionais, e já expostos anteriormente. Desde luvas que atrapalham

trabalhadores de enfermagem a realizar procedimentos com agulhas a roupas protetoras

que provocam risco de morte por hipertermia em trabalhadores rurais, passando pela

pressa induzia nos sistemas de trabalho, que podem fazer enfermeiros e madeireiros se

esquecerem ou se decidirem por não fazer uso de equipamentos de segurança, bem como

EPIs que não levam em conta situações reais de trabalho em seu projeto, causando

desconforto nos trabalhadores, incompatibilidade com outros EPIs que deveriam ser

usados em conjunto, ou mesmo aumentando os riscos do trabalho, os dados exibidos pela

bibliografia consultada deixam claro que a causa do absenteísmo profissional não reside

no mero desuso de EPIs, e tampouco seria culposa para os trabalhadores. Neste sentido, Gonçalves et al. (2015) consideram que as falhas humanas são decorrentes

não meramente de fatores individuais e do desrespeito às normas prescritas, fruto de

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decisões deliberadas dos trabalhadores, mas também de relações sociais e organizacionais

do próprio sistema de trabalho. Assumindo-se tal visão, as medidas de segurança oriundas

das análises de causas de acidentes não se resumirão a simples punições e a mais

treinamentos de segurança, medidas estas as quais, para os autores, não se constituem em

ações eficientes para uma prevenção de acidentes efetiva e duradoura. Uma forma

relevante de prevenção, então, afirmam os autores, traduz-se por elucidar o que ocorre ou

pode ocorrer em um sistema de produção que acarrete em acidentes.

Cabe aqui ressaltar o argumento de Veiga et al. (2007) de que a ineficiência ou

inadequação de EPIs para as situações reais de trabalho evidenciam falhas dos próprios

sistemas de trabalho, em suas relações sociais, e mesmo na gestão ou concepção dos

sistemas produtivos. ILO (2001), assim como, Vieira (2005), Veiga et al. (2007) e Baú

(2013), também chamam a atenção para o fato de que EPIs visam proteção contra os

riscos laborais, e não a de evitá-los, pelo que deveriam ser uma das últimas opções de

segurança, e não uma das primeiras. Ou seja, a ênfase maior deveria estar na eliminação

das fontes de risco dos sistemas produtivos, e não em proteções individuais para tais

riscos, com a consequente culpabilização do indivíduo quando de sinistros.

Para Gonçalves et al. (2015), uma explicação para a prevalência de interpretações de

acidentes que culpabilizam a vítima ao invés do sistema de trabalho onde ela estava

inserida quando do acidente seria a de que, em caso oposto, a culpa recairia sobre o

empregador. Para os autores, a ideia de que a culpa dos acidentes é do trabalhador que

não utilizou os EPIs conforme ordenado pela empresa é conveniente para manter a

hierarquia e evitar processos judiciais para o empregador. Ayres e Corrêa (2001, p. 21) parecem corroborar esta ideia ao explicar que a indenização

por acidente laboral se dá a partir da “comprovação de que o empregador teve culpa ou

dolo no processo”, e que culpa ou dolo recai ao empregador através do não cumprimento

as disposições legais e administrativas intencionadas a proteção da saúde ocupacional. Hasse et al. (2009), como já visto, afirmam que os acidentes não deixarão de ocorrer pelo

simples uso dos equipamentos oferecidos, mesmo que seu uso seja compulsório. Isso

poderia ser explicado pelo fato do problema real existir não simplesmente na falta de

proteção para o acidente, mas no sistema produtivo que, em suas particularidades, os gera.

(VEIGA et al, 2007; SANCINETTI et al., 2011; GONÇALVES et al., 2015) As causas do absenteísmo costumam ser multifatoriais, como já mencionado, o que

denota a complexidade do tema. Incluem-se entre tais causas fatores de trabalho,

sociais, culturais, de personalidade, de doença, de acidentes laborais, geográficos,

organizacionais, individuais, físicos, psíquicos, fatores ambientais. E nem sempre estão

ligadas ao profissional, mas sim à instituição e seus processos de trabalho deficientes,

seja pela repetitividade de atividades, da desmotivação, das condições desfavoráveis do

ambiente laboral, da parca integração entre os empregados e a organização, bem como

dos impactos psicológicos de uma direção deficiente que não visa uma política

prevencionista e humanística. (SANCINETTI et al. 2011)

7. Conclusão

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Concluiu-se que o absenteísmo, em diferentes áreas profissionais, tem grande parte de

sua origem em acidentes ou doenças laborais, o que, por definição, poderia ser

minimizado com o uso de EPIs adequados. Contudo, grande parte dos profissionais não

fazem uso destes, sobretudo por razões de eficiência, para poderem dar cabo do que lhes

é exigido, como por desconforto, que, por vezes, pode ser bem elevado, a ponto de lhes

causa riscos à saúde, ou mesmo atrapalhar sua eficiência laboral. Neste aspecto, situações que beiram o absurdo, como EPIs que aumentam os riscos

corridos pelos trabalhadores e chefias que estimulam o não uso de tais equipamentos a

fim de agilizar o serviço, demonstram que as raízes do problema demandam uma análise

mais profunda e criteriosa do que a mera culpabilização do trabalhador por 'insistir' em

não fazer uso dos EPIs, embora por vezes também seja o caso, e que devem

provavelmente residir nos projetos dos sistemas de trabalho, suas relações sociais e, por

vezes, no próprio projeto dos EPIs em si. Estes, aliás, são por vezes adotados como as

principais medidas de segurança nos projetos de sistemas de trabalho, quando deveriam

ser as últimas a serem consideradas. Com base em tais resultados, concluiu-se que pesquisas futuras são necessárias, mas com

grande grau de especificidade, a fim de dar suporte a características as mais peculiares

das situações reais dos sistemas de trabalhos, de modo a originar tanto EPIs mais

adequados às condições reais de trabalho, quanto condições reais de trabalho que não

dependam tanto dos EPIs para minimizar o absenteísmo profissional.

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