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Relato de Experiência
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SPAGESP - Sociedade de Psicoterapias Analticas Grupais do Estado de So Paulo
Revista da SPAGESP, 13(2), 86-101.
Ferreira, H. G.; Lima, D. M. X. S.; R. Zerbinatti. Atendimento psicoteraputico cognitivo-comportamental em grupo
para idosos depressivos: um relato de experincia.
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ATENDIMENTO PSICOTERAPUTICO
COGNITIVO-COMPORTAMENTAL EM GRUPO PARA
IDOSOS DEPRESSIVOS: UM RELATO DE EXPERINCIA
Helosa Gonalves Ferreira
Daniela Maria Xavier de Souza e Lima
Rgia Zerbinatti Universidade Federal de So Carlos, So Carlos, Brasil
RESUMO
Objetiva-se relatar uma experincia de estgio em atendimento psicoteraputico grupal
cognitivo-comportamental para idosos depressivos. Participaram da interveno trs
mulheres e um homem, com idade entre 60 e 64 anos. Aplicou-se o Inventrio de
Depresso de Beck e Inventrio de Ansiedade de Beck para avaliar estados de humor
dos participantes antes, durante, ao final da interveno e num perodo de dois meses de
follow-up. O atendimento foi estruturado em 16 sesses, composto por blocos que
objetivavam: (1) criar condies para aumento da prtica de atividades prazerosas; (2)
promoo de repertrio social; (3) ensino de tcnicas para manejo da ansiedade; (4)
ensino de tcnicas para manejo do estresse; (5) aplicao e avaliao dos resultados do
BDI e BAI. Mdias do grupo nas pontuaes do BDI nos momentos antes (M = 20,25; DP = 11,38) e fim (M = 13,75; DP = 12,41) da interveno indicaram ocorrer diminuio dos sintomas de depresso dos participantes ao trmino do tratamento. Entretanto, dois participantes no atingiram nvel de depresso considerado baixo,
sendo encaminhados para continuar o tratamento psicoteraputico em grupo. Conclui-se
que o contexto grupal adequado para tratar depresso em idosos.
Palavras-chave: depresso; idosos; terapia cognitivo-comportametal; grupos.
COGNITIVE BEHAVIORAL THERAPY GROUP FOR DEPRESSED OLDER PEOPLE: REPORT
ON AN EXPERIENCE
ABSTRACT
This paper aims to describe an experience of a cognitive-behavioral therapy internship
program to treat a group of depressed elderly. Participants were 3 women and 1 man,
aged 60-64. The Beck Anxiety Inventory and The Beck Depression Inventory were
conducted to assess the participants humour states before, during, and in the end of the intervention during a 2-month follow-up period. The intervention was structured in 16
sessions, with parts that aimed: (1) creating conditions to increase the frequency of
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Revista da SPAGESP, 13(2), 86-101.
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para idosos depressivos: um relato de experincia.
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pleasant activities; (2) promotion of social skills; (3) teaching techniques for anxiety
management; (4) teaching techniques for stress management; and (5) evaluation of
BDIs and BAIs scores. The groups BDI means before (M = 20,25; SD = 11,38) and after (M = 13,75; SD = 12,41) the intervention indicate that depression symptoms
decreased after the treatment. However, two participants did not reach a low level of
depression in the end of the treatment, and were referred to continue in the
psychotherapy group intervention. It was concluded that the group context is
appropriate to treat depressed elderly.
Key-words: depression; elderly; cognitive-behavioral therapy; groups.
TERAPIA COGNITIVO CONDUCTUAL DE GRUPO PARA ANCIANOS CON DEPRESIN: UN
RELATO DE EXPERIENCIA
RESUMEN
El presente documento informa sobre la residencia en un grupo de servicio de
psicoterapia cognitiva-comportamental para los ancianos con depresin. Los
participantes fueron 3 mujeres y 1 hombre, con edad media entre 60 y 64 aos. Se les
administr la Escala de Ansiedad de Beck (BAI) y la Escala de Depresin de Beck
(BDI) para evaluar el estado de nimo de los participantes en cuatro ocasiones: antes,
durante, al final y despus de un perodo de dos meses para el final de la intervencin.
La intervencin se estructur en 16 sesiones, que consisten en grupos que tenan como
objetivo: (1) crear condiciones para incrementar la prctica de actividades placenteras;
(2) la promocin de habilidades sociales; (3) tcnicas de enseanza para el manejo de la
ansiedad; (4) las tcnicas de enseanza para el manejo del estrs; (5) la implementacin
y la evaluacin de los resultados de la BDI y BAI. Las pontuaciones medias del grupo
en el BDI a veces antes (M = 20,25; DP = 11,38) y final (M = 13,75; DP = 12,41), indic que la intervenciones redujeron los sntomas de la depresin de los participantes
al final del tratamiento. Sin embargo, al final del grupo dos de los participantes no
alcanzaron un nivel considerado bajo de la depresin, y fueron dirigidos a continuar con
el tratamiento. Se concluye que el contexto del grupo es adecuado para el tratamiento de
la depresin en los ancianos.
Palabras-clave: depresin; tercera edad; la terapia cognitivo-conductual; grupos.
A depresso um dos problemas psiquitricos mais comuns entre idosos.
Caracteriza-se por um distrbio de humor que exerce grande impacto funcional em
qualquer faixa etria. Trata-se de um distrbio multifatorial que envolve aspectos
biolgicos, psicolgicos e sociais (Irigaray & Schneider, 2007). Baptista, Morais,
Rodrigues e Costa Silva (2006) afirmam que a depresso o transtorno psiquitrico
mais frequente entre indivduos com idade avanada e, entre os transtornos
psiconeurolgicos presentes em idosos, aquele com maiores chances de ser tratvel.
De acordo com Snowdon (2002), as desordens mentais comprometem 20% da
populao idosa, entre as quais se destaca a depresso. Desta forma, estima-se que, no
Brasil, aproximadamente dez milhes de idosos sofrem de depresso. Numa reviso de
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literatura de pesquisas internacionais (Pinho, Custdio, & Makdisse, 2009), foi
constatado que a incidncia de depresso em idosos residentes na comunidade era de
13,23%, em mdia. J no Brasil, resultados de um estudo de coorte realizado na
populao urbana da cidade de So Paulo, com 1167 idosos de 65 anos ou mais,
indicaram que 21,1% da amostra apresentava sintomas depressivos no ano de 1991.
Estes idosos foram reavaliados periodicamente ao longo de um perodo de seguimento
de 15 anos. Os pesquisadores observaram uma tendncia crescente na proporo de
deprimidos medida que os idosos se tornavam mais dependentes fisicamente (Lima,
Silva, & Ramos, 2009).
Embora a depresso possa surgir entre pessoas de qualquer idade, os fatores
mais fortemente associados ao incio de um episdio depressivo apresentam algumas
variaes entre pessoas em diferentes faixas etrias. Estudos mostram que os principais
fatores associados a episdios depressivos na velhice so: sexo feminino, idade
avanada, condies socioeconmicas desfavorveis, baixa escolaridade, doenas
somticas, declnio cognitivo, histria prvia de depresso, co-morbidades psiquitricas,
distrbios do sono, institucionalizao, diminuio do contato social, insatisfao com o
suporte social, morte (do cnjuge, familiares ou amigos) e mudana de papis (por
exemplo, decorrente da aposentadoria ou da necessidade de assumir o papel de cuidador
de um familiar) (Djernes, 2006; Pinho, Custdio, & Makdisse, 2009; Thompson et al.,
2003).
H uma ampla literatura que demonstra existir associao significativa entre
sintomas depressivos em idosos e baixo envolvimento em atividades que geram prazer
(Bouman & Luteijn, 1986; Ferreira & Barham, 2011; Lewinsohn & Libet, 1972; Meeks,
Young, & Looney, 2007; Rider, Gallagher-Thompson, & Thompson, 2004). Existe uma
teoria comportamental que busca compreender especificamente a relao entre a prtica
de atividades prazerosas e a depresso (Lewinsohn & Libet, 1972). De acordo com o
modelo comportamental, a depresso causada por uma baixa taxa de respostas capazes
de gerar reforadores positivos, ou seja, indivduos depressivos no produzem respostas
suficientes em seu ambiente para gerar reforos positivos em grau ou frequncia
adequados para suprir suas necessidades (Meeks, Young, & Looney, 2007). No caso,
reforadores positivos so definidos como eventos positivos experienciados de forma
subjetiva, ou seja, eventos que o indivduo avalia como sendo prazerosos (Meeks,
Young, & Looney, 2007).
A depresso tambm pode ser explicada por meio de um modelo cognitivo
descrito por Beck, Rush, Shaw e Emery (1997). De acordo com este modelo, a
depresso consiste em trs padres de distoro dos pensamentos que levam o indivduo
a ver a si mesmo, o mundo e o futuro de um modo negativo, na chamada trade
cognitiva da depresso. Essas distores afetam a viso que a pessoa deprimida
apresenta sobre si mesma, sobre suas experincias e relacionamentos e sobre o
desenrolar de sua vida. A ativao destes padres cognitivos negativos resultaria nos
sinais e sintomas tpicos da depresso. Dessa forma, ao pensar ser incompetente para
fazer alguma atividade, por exemplo, a pessoa pode deixar de realiz-la. Quando o
indivduo acredita que suas interaes sociais sero desagradveis ou que ele ser
rejeitado nos relacionamentos, ele pode passar a evit-los; essa evitao, por sua vez,
pode trazer isolamento e resultar em sentimentos de solido, que podem ser
interpretados pela pessoa como evidncia de rejeio por parte das demais pessoas com
quem interage.
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Lima, Silva e Ramos (2009) afirmam que a presena ou no de depresso deve
ser considerada um importante parmetro de sade em idosos. Os autores tambm
afirmam que medidas para manter o idoso ativo e inserido na sociedade so de extrema
importncia para prevenir sintomas de depresso. Alguns estudos (Baptista et al., 2006;
Irigaray & Schneider, 2005, 2007) sugerem a importncia da prtica de atividades
sociais como fator de proteo para o desenvolvimento de depresso em idosos. De
acordo com Irigaray e Schneider (2005), as atividades grupais com pessoas da mesma
gerao parecem favorecer a qualidade de vida, pois possibilitam a vivncia e a
construo de significados comuns, a conquista de novas amizades e a obteno de
suporte social, o que auxilia o idoso em condies normais e sob estresse.
Entre as formas de tratamento das desordens depressivas, esto as psicoterapias
comportamentais e as cognitivas (Gallagher & Thompson, 1982; Thompson et al.,
2003). Rider, Gallagher-Thompson e Thompson (2004) afirmam que as psicoterapias
comportamentais para depresso costumam ter como objetivo encorajar os pacientes a
engajar-se com maior frequncia em atividades prazerosas, enquanto as psicoterapias
cognitivas procuram ajudar o indivduo a identificar pensamentos destorcidos que
podem contribuir para a ausncia de prazer e consequente humor deprimido.
Esses modelos so baseados nos princpios da psicoterapia breve por serem intervenes psicoteraputicas estruturadas em um nmero pr-definido de sesses. Os
terapeutas utilizam tcnicas tais como: definio de objetivos, monitoramento do
humor, reorganizao do ambiente (visando um aumento do envolvimento em
atividades prazerosas), reestruturao cognitiva, modelao, modelagem, reforo
positivo, registro de pensamentos automticos e tarefas de casa (Satre, Knight, & David,
2006).
O tratamento para a depresso no modelo cognitivo-comportamental em grupo
especialmente adequado para pessoas na terceira idade, uma vez que idosos com
frequncia passam por uma diminuio do contato social (Thompson et al., 2003).
Alm disso, os idosos podem se sentir menos estigmatizados por terem seus problemas
abordados no contexto de grupo e com nfase em formas de enfrentamento mais
positivas. Quando o local da interveno no representa uma barreira para acessar
servios, intervenes grupais oferecem diversas vantagens importantes em comparao
a atendimentos individuais. Alm da oportunidade para obter informaes novas,
grupos permitem que o participante (a) compare sua situao com a de outras pessoas
para melhor avaliar a gravidade dos seus problemas; (b) receba apoio emocional de
pessoas lidando com dificuldades similares; (c) receba apoio prtico destas pessoas; e
(d) saia da rotina domstica por um tempo, podendo se distrair um pouco na interao
com outras pessoas (Rodrigues, Jablonski, & Assamar, 1999). Intervenes com grupos
tambm permitem que os servios de apoio alcancem um nmero muito maior de
pessoas do que possvel por meio de atendimentos individuais. Enfim, o atendimento
de idosos em grupos pode ampliar alguns dos benefcios psicossociais inerentes ao
processo psicoteraputico.
Snowdon (2002) afirma que o desenvolvimento e a avaliao de intervenes
clnicas para idosos depressivos seriam aes de extrema importncia no contexto
brasileiro. Igualmente necessria seria a alocao de recursos adequados para treinar
profissionais na avaliao e no manejo desses pacientes, bem como para desenvolver
estratgias de interveno dirigidas aos sentimentos de desalento e baixa autoestima
desta populao.
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para idosos depressivos: um relato de experincia.
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Logo, o presente trabalho tem por objetivo trazer um relato de experincia de um
estgio em atendimento psicoteraputico grupal cognitivo-comportamental para idosos
depressivos. Os objetivos da interveno foram: (1) oferecer atendimento
psicoteraputico cognitivo-comportamental em grupo para idosos com sintomas
depressivos; (2) amenizar ou at mesmo eliminar tais sintomas; (3) melhorar o estado de
humor dos idosos; (4) oferecer apoio e acolhimento por meio da escuta e conversa
teraputica.
PLANEJAMENTO E INTERVENO
EQUIPE
Realizaram o estgio uma aluna do quarto e outra aluna do quinto ano do curso
de Psicologia, sob superviso de uma psicloga com experincia em atendimento
psicoteraputico cognitivo-comportamental para idosos.
PARTICIPANTES
Idosos com suspeita de depresso eram encaminhados ao Programa do Idoso da
Unidade Sade Escola (USE) de uma universidade pblica localizada no interior do
Estado de So Paulo. Esses idosos eram avaliados por meio de entrevistas individuais
realizadas pelas estagirias. O objetivo principal dessas entrevistas era verificar se o
idoso apresentava o perfil necessrio para participar de uma interveno
psicoteraputica em grupo para idosos com depresso. Os pr-requisitos para participar
do atendimento psicoteraputico eram os seguintes: (1) preencher pontuao mnima em
instrumento psicodiagnstico que indicasse a presena de sintomas depressivos
(avaliados pelo Inventrio de Depresso de Beck BDI); (2) ausncia de comprometimento cognitivo (avaliado pelo Mini Exame do Estado Mental MEEM); (3) ter interesse em participar de um atendimento psicoteraputico grupal. Caso o
avaliado no preenchesse os critrios para participar do grupo, ele era encaminhado para
outros servios disponveis na USE que fossem adequados ao seu perfil.
Na entrevista inicial para triagem, os usurios da USE assinavam um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando que os dados referentes aos tratamentos
desenvolvidos na USE poderiam, eventualmente, ser utilizados em publicaes ou
eventos cientficos, desde que resguardado o anonimato.
INSTRUMENTOS
Inventrio de Depresso de Beck (BDI) Desenvolvida por Beck, Rush, Shaw e Emery (1979) e validada para o Brasil por Gorestein e Andrade (1998). Escala para
detectar sintomas depressivos e aferir nvel de depresso. composta por 21 grupos de
afirmaes em que o respondente tem que assinalar a afirmao que julgue melhor
descrever a maneira como tem se sentido durante a ltima semana. Os escores presentes
no manual da verso em portugus do BDI (Cunha, 2001) para pacientes psiquitricos
de zero a 11 pontos para nvel mnimo de depresso, de 12 a 19 pontos para nvel leve
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de depresso, 20 a 35, nvel de depresso moderado, e 36 a 63, nvel grave de
depresso.
Inventrio de Ansiedade de Beck (BAI) Desenvolvido por Beck, Brown, Epstein e Steer (1988) e validado para o Brasil por Cunha (2001). Escala de
autoaplicao, utilizada para detectar sintomas e aferir nvel de ansiedade. composta
por 21 sintomas de ansiedade (fisiolgicos e psicolgicos), que so avaliados por sua
presena e intensidade de efeitos na vida da pessoa na ltima semana. Os nveis dos
escores do BAI da verso em portugus, para pacientes psiquitricos: escores de zero a
dez sugerem nvel mnimo de ansiedade, de 11 a 19, nvel leve, de 20 a 30, nvel
moderado e de 31 a 63, nvel grave de ansiedade (aplicao semanal). Os autores
sugerem que os pontos de corte devem ser considerados conforme a amostra e os
objetivos de uso.
LOCAL
O atendimento psicolgico foi realizado em sala prpria para atendimento em
grupo, com materiais disponveis para aplicaes de sesses de relaxamento
(colchonetes, rdio, CDs), cadeiras suficientes ao nmero de pessoas e local privativo onde o sigilo pudesse ser garantido.
PROCEDIMENTO
Houve 13 encontros de preparao com as estagirias e a supervisora,
envolvendo leituras e discusses para a elaborao do planejamento prvio das sesses e
dos materiais. As principais bibliografias utilizadas nesta etapa podem ser visualizadas
na Tabela 1.
Tabela 1.
Bibliografia de apoio para planejamento da interveno
Bibliografia de apoio Feldman, C., & Miranda, M. L. (2002). Construindo a relao de ajuda. Belo Horizonte:
Crescer.
Lima, C. V. O., & Derdyck, P.R. (2001). Terapia cognitivo-comportamental em grupo para
pessoas com depresso. In B. Rang (Org.), Psicoterapias cognitivo-comportamentais: Um
dilogo com a psiquiatria (pp. 491-498). Porto Alegre: Artmed.
Rodrigues, A., Assmar, E. M. L., & Jablonski, B. (1999). Influncia social. In Psicologia
Social (pp. 179-198). Petrpolis, RJ: Vozes.
Thompson, L. W., Powers D. V., Coon, D. W., Takagi, K., McKibbin C., & Gallagher-
Thompson, D. (2003). Terceira Idade. In J. R. White, & A. S. Freeman, Terapia cognitivo-
comportamental em grupo para populaes e problemas especficos (pp. 31-69). So Paulo:
Roca
White J. R. (2003). Introduo. In J. R. White, & A. S. Freeman, Terapia cognitivo-
comportamental em grupo para populaes e problemas especficos (pp. 3-29). So Paulo:
Roca.
White J. R. (2003). Depresso. In J. R. White, & A. S. Freeman, Terapia cognitivo-
comportamental em grupo para populaes e problemas especficos (pp. 31-69). So Paulo:
Roca.
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O atendimento em grupo foi estruturado em 16 sesses, sendo dez sesses com
durao de uma hora e meia e seis sesses com durao de duas horas. Para cada sesso,
ocorria superviso anterior com durao mdia de uma hora.
Durante as sesses de superviso, eram definidas as alteraes nas tcnicas
cognitivo-comportamentais a serem empregadas na sesso seguinte previamente
planejada, a depender das demandas apresentadas pelos clientes ao longo da
interveno. O planejamento prvio das sesses encontra-se na Tabela 2.
Tabela 2.
Planejamento prvio das sesses psicoteraputicas do grupo
Sesso Objetivos principais Tcnicas cognitivo-comportamentais
1 1. Apresentao dos participantes ao grupo
2. Explicao das regras e das condies
do atendimento psicoteraputico em grupo
3. Levantamento das queixas que
trouxeram ao grupo
1. Contrato teraputico
2. Explicao racional da Terapia Cognitivo-
Comportamental para depresso
3. Entrevista com o participante, utilizando
perguntas abertas ou fechadas, levantando as
razes para a participao no grupo, seus
principais problemas e suas condies atuais de
vida (fsico e social)
4. Tarefa de casa: estabelecimento de objetivos a
serem alcanados com o tratamento
2 9 1. Levantamento de dados para a anlise funcional dos problemas
2. Incio de intervenes referentes s
dificuldades relacionadas depresso
3. Implementar tcnicas de interveno
compatveis com os problemas e
prioridades levantados com os clientes
1. Entrevista com os participantes, utilizando
perguntas abertas ou fechadas, levantando as
razes de seus principais problemas e suas
condies atuais de vida (fsico e social)
2. Reflexes sobre os problemas endereados.
Fortalecer as decises na direo de desconstruir
crenas irracionais, ampliar reforadores
positivos e melhorar a qualidade de vida
10 11 1.Aplicao de instrumentos de avaliao 2. Avaliar resultados da 1 e 2 aplicao
do BAI e BDI
1. Reaplicao do BAI e BDI
2. Discusso dos resultados
12 15 1. Implementar tcnicas de interveno compatveis com os problemas e
prioridades levantados com os clientes
1. Reflexes sobre os problemas endereados.
Fortalecer as decises na direo de desconstruir
crenas irracionais, ampliar reforadores
positivos e melhorar a qualidade de vida
16 1.Aplicao de instrumentos de avaliao
2. Avaliao da interveno em grupo
3. Encerramento da interveno
1. Reaplicao do BAI e BDI.
2. Avaliao dos resultados das trs aplicaes do
BAI e BDI
3. Discusses sobre as impresses dos
participantes com relao sua participao e
evoluo no grupo psicoteraputico
Na 10 sesso e na 16 sesso foram reaplicados o Inventrio de Depresso de
Beck (BDI) e o Inventrio de Ansiedade de Beck (BAI), com o objetivo de obter
medidas comparativas ao longo do tratamento. Na 16a sesso foi realizada uma
discusso com os participantes para que eles pudessem relatar sua percepo sobre a
evoluo ao longo do tratamento, bem como sua opinio sobre a interveno e sua
participao no grupo. Aps dois meses do trmino da interveno em grupo, foram
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realizadas sesses individuais com cada participante com os objetivos de: (1) reaplicar o
BAI e o BDI para obter uma medida de follow-up; (2) verificar necessidade e interesse
em continuar o acompanhamento psicolgico (em grupo ou individual).
RESULTADOS E DISCUSSO
Foram participantes do atendimento psicoteraputico grupal trs mulheres e um
homem. Na triagem, os participantes atingiram pontuao igual ou superior a dez
pontos no BDI, indicando a presena de sintomas depressivos. A mdia de idade dos
participantes foi de 62 anos (DP = 3,01), com as idades variando entre 60 e 64 anos. Os
participantes no apresentavam comprometimento cognitivo, bem como eram
independentes para realizar atividades bsicas e instrumentais da vida diria. A
identificao dos participantes do grupo, juntamente com algumas informaes scio-
demogrficas, encontra-se na Tabela 3. Os nomes apresentados neste trabalho foram
alterados visando preservao da identidade dos envolvidos.
Tabela 3.
Identificao dos participantes da interveno
Participante Idade Estado Civil Profisso
Marta 60 Divorciada Aposentada
Joo 64 Casado Aposentado
Mara 64 Viva Aposentada
Vnia 60 Casada Trabalhadora informal
As pontuaes obtidas por cada participante nas aplicaes do BDI, bem como
as mdias dessas pontuaes podem ser visualizados na Tabela 4.
Tabela 4. Pontuaes de cada participante, mdias e desvios padres dos escores no BDI
Participantes Antes
interveno
Durante
interveno
Fim interveno Follow-up
Marta 11 18 0 14
Joo 10 10 7 No coletada
Mara 28 34 27 25
Vnia 32 16 21 28
M 20,2 19,5 13,7 22,3
DP 11,38 10,28 12,41 7,37
Nota-se que o nvel de depresso de trs participantes (Marta, Joo e Vnia) foi
diminudo comparando-se os momentos antes e fim da interveno. No caso de Mara, o nvel de depresso se manteve o mesmo nesses dois momentos.
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Ao observarmos a mdia das pontuaes nos momentos antes e fim da interveno, observa-se que a mdia do BDI antes da interveno (M = 20,25; DP =
11,38) caracterizava depresso moderada, ao passo que a mdia da pontuao no BDI obtida ao final da interveno (M = 13,75; DP = 12,41) caracterizava depresso leve. Esse resultado indica, de forma geral, que houve diminuio dos sintomas depressivos
no grupo aps o encerramento da interveno. Ao trmino da interveno todos os
participantes diminuram ou mantiveram o mesmo nvel de depresso.
Observando-se as medidas de follow-up, constata-se que Mara e Vnia se
mantiveram com o mesmo nvel de depresso dois meses aps o trmino do grupo.
Tanto Mara quanto Vnia preencheram pontuao que indicava depresso moderada ao fim da interveno e tambm no follow-up. No caso de Marta, ao analisarmos a
medida de follow-up, observa-se que houve um aumento da pontuao no BDI
indicando uma mudana no nvel de depresso (ausncia de depresso para depresso
leve). No foi possvel coletar a medida de follow-up de Joo, uma vez que o
participante foi contatado para a sesso individual no follow-up, mas no pode
comparecer. Por fim, nota-se que os maiores escores na pontuao do BDI nos quatro
momentos de medida foram atingidos ora por Mara, ora por Vnia.
Na Tabela 5 podem ser visualizadas as pontuaes obtidas por cada participante
nas aplicaes do BAI, bem como as mdias dessas pontuaes.
Tabela 5.
Pontuaes de cada participante, mdias e desvios padres dos escores no BAI
Participantes Antes
interveno
Durante
interveno
Fim interveno Follow-up
Marta 1 16 2 6
Joo 4 1 4 No coletada
Mara 16 26 14 22
Vnia 24 4 9 29
M 11,25 11,75 7,25 19
DP 10,68 11,5 5,37 11,78
Constata-se que Joo e Marta mantiveram-se com o mesmo nvel de ansiedade
(ansiedade mnima) antes e no fim da interveno. Mara apresentou pontuao no BAI que indicava ansiedade leve tambm nos momentos antes e fim da interveno. Vnia obteve uma diminuio do grau de ansiedade comparando-se os
momentos antes e fim da interveno, passando de uma pontuao que indicava ansiedade moderada para uma pontuao que indicava ansiedade mnima. As mdias do grupo indicam que houve, de forma geral, diminuio dos sintomas de
ansiedade ao final da interveno, uma vez que a mdia de pontuao antes da
interveno (M = 11,25; DP = 10,68) caracterizava ansiedade leve, ao passo que a mdia do grupo ao fim da interveno (M = 7,25; DP = 5,37) caracterizava ansiedade mnima.
Observando-se as medidas de follow-up, nota-se que apenas Marta manteve o
nvel de ansiedade (ansiedade mnima) observado ao final da interveno. Mara passou de ansiedade leve para ansiedade moderada, e Vnia passou de ansiedade
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mnima para ansiedade moderada. Observa-se que Marta e Joo pontuaram os menores escores no BAI nas quatro medidas, ao passo que Vnia e Mara pontuaram
escores maiores.
As principais queixas trazidas por cada participante, bem como as principais
dificuldades e crenas irracionais observadas ao longo da interveno, esto resumidas
na Tabela 6.
Tabela 6.
Principais queixas, crenas irracionais e dificuldades dos participantes do grupo
Cliente Queixas principais Exemplos de crenas irracionais Principais dificuldades
observadas
Marta Falta de nimo para
realizar atividades
Conflito interpessoal
com o ex-marido
Se eu sair de casa sozinha com o carro, algo de ruim pode
acontecer. Tenho que resolver sempre os problemas das outras pessoas.
Dficit de repertrio social:
padro inassertivo
predominante
Joo Conflitos com o sogro
e cunhados
Se me reno com minha famlia numa lanchonete, ningum ir
conversar comigo. Meu sogro e meus cunhados so autoritrios e estpidos e, por
isso, no devo conversar com
eles.
Dficit de repertrio social:
padro agressivo/inassertivo
Mara Perda do cnjuge
Conflitos interpessoais
com a filha
No posso praticar atividades que gosto, tais como tocar
sanfona, pois incomodo minha
filha. No conseguirei superar a morte do meu marido.
Lidar com perdas
relacionadas morte do
cnjuge
Dficit de repertrio social:
padro inassertivo
predominante
Vnia Problemas financeiros
Conflitos interpessoais
com a sogra, marido,
cunhados e filhos
Preciso comprar presentes para as pessoas para que elas gostem
de mim Eu no sei nada e no entendo nada, pois no tive oportunidade
de estudar quando era jovem.
Dificuldades para tomada de
deciso
Falas excessivas e
descontextualizadas no grupo
Comprar excessivo
Dficit de repertrio social:
padro agressivo
predominante
Observa-se que todos os participantes apresentavam dficit no repertrio social,
com padres de comportamento inassertivo e/ou agressivo. Nota-se tambm que todos
os participantes apresentavam queixas ou dificuldades nos relacionamentos
interpessoais com familiares. Constata-se tambm a presena de alguns dos padres de
distoro de pensamentos definidos por Beck et al. (1997) em seu modelo cognitivo de
depresso. Por exemplo, Vnia apresentava um padro de pensamento que avaliava a si
mesma de maneira negativa, quando julgava no ser capaz de entender coisa alguma por
no ter cursado ensino formal quando era jovem. Esse mesmo padro de pensamento
tambm foi identificado em Mara, que acreditava no ser capaz de superar a morte do
marido. J Marta apresentava crenas irracionais direcionadas ao futuro, temendo que
algo ruim pudesse acontecer caso ela se engajasse em alguma atividade (por exemplo,
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dirigir um carro). No caso de Joo, podemos notar que um dos padres de pensamento
apresentado pelo cliente consistia em avaliar seus familiares de maneira negativa, o que
poderia contribuir para um provvel isolamento social, uma vez que a avaliao
negativa sobre outras pessoas pode levar o indivduo a evitar interaes sociais.
As principais tcnicas cognitivo-comportamentais definidas em superviso, de
acordo com as demandas apresentadas pelos clientes ao longo da interveno, esto
resumidas na Tabela 7. Note que no foram includas informaes sobre a 1 e a 16
sesses, pois estas seguiram o planejamento inicial descrito na Tabela 2.
Tabela 7.
Principais objetivos e tcnicas cognitivo-comportamentais adaptadas s necessidades
de cada sesso
Sesso Objetivos principais Principais tcnicas cognitivo-comportamentais utilizadas
2 5 1. Fazer levantamento de atividades prazerosas
2. Planejar condies para que os
clientes aumentem a frequncia
de prtica de atividades
prazerosas em seu ambiente
natural
1. Tarefa de casa: preencher quadro com atividades que
gosta e no faz; atividades que gosta e faz; atividades
que no gosta e no faz; atividades que no gosta e faz
2. Tarefa de casa: praticar trs atividades que gosta, mas
no faz, e classificar o prazer experimentado de zero a
dez
3. Tarefa de casa: monitoramento do humor ao longo
dos dias da semana
6 9 1. Promover repertrio adequado para lidar com conflitos
interpessoais
1. Explicao e exemplos de reao
passiva/agressiva/assertiva
2. Ensaio Comportamental
3. Feedback
4. Discusso do conceito de Empatia
5. Tarefa de casa: auto-observao do comportamento
no ambiente natural em situaes de crtica e conflitos
interpessoais
6. Tarefa de casa: Leitura de texto sobre o tema Empatia
e Habilidades Sociais
10-11 1. Aplicao de instrumentos de
avaliao
2. Avaliar resultados da 1 e 2
aplicao do BAI e BDI
1. Reaplicao do BAI e BDI
2. Treino de discriminao dos sintomas de ansiedade e
depresso
12 13 1. Fornecer informaes tericas sobre os transtornos de ansiedade
2. Ensino de tcnicas para manejo
de ansiedade
1. Explicao do conceito de Ansiedade
2. Aplicao do Relaxamento Progressivo de Jacobson
(Vera & Vila, 1996)
3. Treino de respirao para manejo de ansiedade
3. Tarefas de casa: praticar em casa o relaxamento
progressivo de Jacobson, leitura do roteiro
A.C.A.L.M.E.S.E (Rang, 1995).
14 15 1. Fornecer informaes tericas sobre o Estresse
2. Ensino de tcnicas para manejo
do estresse
1. Psicoeducao do Estresse
2. Tomada de decises
3. Tarefa de casa: leitura de roteiro com dicas sobre
estratgias de manejo do estresse
Observa-se que a interveno foi composta, basicamente, por cinco blocos: (1)
sesses destinadas a criar condies para o aumento da prtica de atividades prazerosas;
(2) sesses destinadas promoo de repertrio social; (3) sesses destinadas ao ensino
de tcnicas para manejo da ansiedade; (4) sesses destinadas ao ensino de tcnicas para
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manejo do estresse; e (5) sesses destinadas aplicao e avaliao dos resultados de
instrumentos psicodiagnsticos (BDI e BAI). O bloco que contou com um maior
nmero de sesses foi o bloco 1 (quatro sesses destinadas a criar condies para o
aumento da prtica de atividades prazerosas) e bloco 2 (quatro sesses destinadas
promoo de repertrio social). Esses dois blocos totalizam a metade das sesses da
interveno (oito sesses).
Nota-se na Tabela 5 que as queixas relacionadas a conflitos interpessoais
familiares e dficit de repertrio social foram comuns a todos os clientes. Desta forma,
observou-se uma demanda grande para o emprego de tcnicas psicoteraputicas com o
objetivo de promover repertrio social, o que explicaria um maior nmero de sesses
destinadas a este objetivo. Existe um estudo brasileiro (Carneiro, Falcone, Clark, Del
Prette, & Del Prette, 2006) que demonstra existir relao entre depresso e repertrio de
habilidades sociais deficitrio em idosos. Logo, torna-se relevante atentar para esta
relao quando se planeja uma interveno para tratar idosos depressivos.
Uma possvel justificativa para um maior nmero de sesses no bloco que tinha
por objetivo identificar e aumentar o envolvimento dos participantes em atividades
prazerosas, seria o fato de que a depresso associada a uma baixa frequncia em
atividades prazerosas (Bouman & Luteijn, 1986; Lewinsohn & Libet, 1972; Meeks,
Young, & Looney, 2007; Rider, Gallagher-Thompson, & Thompson, 2004). Logo, seria
esperado que um tempo maior da interveno fosse destinado a criar condies para que
a frequncia de prtica de atividades prazerosas pelos participantes aumentasse.
Com relao s opinies dos participantes sobre sua evoluo no grupo,
importante ressaltar que todos relataram observar algum tipo de melhora ao trmino da
interveno. De forma geral, por meio dos relatos e dos comportamentos emitidos pelos
participantes ao longo da interveno, observou-se que estes foram capazes de: (1)
apresentar melhora no repertrio para resoluo de conflitos interpessoais; (2) modificar
crenas irracionais; (3) aumentar frequncia de prtica de atividades prazerosas; (4)
discriminar sintomas de ansiedade e depresso; e (5) fortalecer sentimentos e
comportamentos de autoestima e autoconfiana.
Adicionalmente, os participantes relataram sentirem-se satisfeitos com a
experincia de fazer parte do grupo psicoteraputico. De fato, foi observado o
estabelecimento de uma aliana teraputica satisfatria, bem como grande coeso e
empatia entre os membros do grupo. Essas variveis tornam-se relevantes para discutir
os resultados de melhora observados. Indivduos depressivos normalmente esto em
privao de contato com reforadores e, ao terem oportunidade de fazer parte de um
grupo psicoteraputico, passam tambm a ter oportunidades de entrar em contato com
estmulos reforadores aos quais estavam em privao (ateno, contato social, suporte
social, etc.). Logo, o contexto grupal pode ser visto como um ambiente provedor de
estmulos reforadores naturais para os membros do grupo, o que pode contribuir para o
tratamento da depresso.
O contexto grupal tambm se mostrou eficiente para a desconstruo de algumas
crenas irracionais apresentadas pelos participantes, uma vez que o grupo
psicoteraputico cria condies de o indivduo expor suas crenas e gerar reflexes
sobre as mesmas, a partir dos feedbacks emitidos pelo terapeuta e pelos prprios
membros do grupo. Desta forma, as situaes produzidas no ambiente grupal auxiliam
na aquisio de repertrio e modificao de crenas irracionais que, por sua vez, podem
ser generalizadas para o ambiente natural do participante.
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Nas sesses individuais realizadas aps dois meses da interveno, foram
estabelecidos os encaminhamentos para cada participante. Esses encaminhamentos
foram realizados tendo por base os resultados observados nas pontuaes do BDI e
BAI, as observaes clnicas realizadas pelas terapeutas e os relatos de cada participante
sobre interesse em continuar ou no em atendimento grupal. Foi estabelecido que Vnia
e Mara continuariam a fazer parte do atendimento psicoteraputico grupal, uma vez que
essas duas participantes obtiveram aumento no nvel de ansiedade nas medidas de
follow-up e permaneciam ainda com um nvel de depresso moderado aps o
encerramento da interveno e no follow-up, o que indicava necessidade de dar
continuidade ao tratamento. No caso de Joo e Marta, as pontuaes do BAI colhidas
em diferentes momentos indicavam nveis baixos de ansiedade, e observou-se que
ambos os participantes tambm atingiram nveis mais baixos de depresso aps a
interveno e tambm na medida de follow-up. Logo, Marta e Joo foram
encaminhados para participar de um grupo da Terceira Idade de carter informativo,
porm sem funo psicoteraputica.
CONSIDERAES FINAIS
Conclui-se que aps o trmino da interveno foram observadas diminuies no
nvel de depresso em trs participantes (Marta, Joo e Vnia), o que indica que a
interveno pode ter contribudo para a remisso dos sintomas depressivos nesses
indivduos. Entretanto, duas participantes (Mara e Vnia) no atingiram um nvel de
depresso considerado baixo aps o encerramento do grupo, sendo necessrio realizar
encaminhamento para que essas participantes pudessem dar continuidade ao
atendimento psicoteraputico grupal.
Levanta-se a hiptese de que um atendimento psicoteraputico cognitivo-
comportamental estruturado num nmero maior de sesses pode ser til para
observarmos diminuio dos sintomas depressivos que indicassem nveis mais baixos
de depresso em todos os participantes, bem como manuteno desta diminuio no
follow-up. Seria importante, em investigaes futuras, estruturar um atendimento num
nmero maior de sesses (superior a 16 sesses) e avaliar novamente o impacto do
tratamento por meio das pontuaes obtidas no BDI.
importante ressaltar que este estudo conta com algumas limitaes. O objetivo
principal deste estudo foi fazer um relato de experincia de um atendimento
psicoteraputico cognitivo-comportamental para idosos depressivos. Portanto, no se
tratou de um estudo cujo objetivo fosse avaliar a eficcia de uma interveno grupal
psicoteraputica cognitivo-comportamental no tratamento de depresso em idosos, uma
vez que o presente estudo no contou com um delineamento prprio para este tipo de
inferncia. Logo, possvel apenas descrever as tcnicas e procedimentos utilizados e
os resultados obtidos aps a interveno, sendo possvel somente inferir que esses
resultados foram efeitos desta interveno. Para obter dados sobre o efeito de
intervenes grupais psicoteraputicas cognitivo-comportamentais em idosos
depressivos, seria importante realizar investigaes futuras com delineamento
experimental com grupo controle.
Neste estudo tambm no foram realizadas medies de construtos que seriam
pertinentes para avaliar de forma mais acurada a evoluo dos participantes ao longo da
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interveno, como, por exemplo, avaliao do repertrio de habilidades sociais,
frequncia de prtica em atividades prazerosas e nvel de estresse dos participantes.
Seria importante que em estudos futuros fossem tambm aplicados outros instrumentos
de psicodiagnstico para aferir esses construtos e investigar as relaes existentes entre
esses construtos e depresso em idosos.
Por fim, constatou-se que os objetivos da interveno foram atingidos, uma vez
que foram observadas melhoras nos sintomas depressivos dos participantes ao final da
interveno. Entretanto, so necessrios estudos futuros com maior rigor experimental,
para avaliar o impacto de intervenes cognitivo-comportamentais grupais em idosos
depressivos.
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Sobre as autoras
Helosa Gonalves Ferreira psicloga, Mestre e Doutoranda em Psicologia pela
Universidade Federal de So Carlos (UFSCar). Especialista em Psicoterapia
Comportamental.
Daniela Maria Xavier de Souza e Lima psicloga na Unidade Sade-Escola da
Universidade Federal de So Carlos (UFSCar).
Rgia Zerbinatti psicloga pela Universidade Federal de So Carlos (UFSCar).
E-mail para correspondncia com as autoras: [email protected]
Recebido: 10/05/2012
1 reviso: 02/07/2012
Aceite final: 15/08/2012