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FUNDAÇÃO ABC PESQUISA E DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO
SETOR DE FORRAGICULTURA
Relatório dos Resultados:
8º CONCURSO DE SILAGEM DE MILHO DA FUNDAÇÃO ABC
Coordenação: Eng. Agr. Dr. Igor Quirrenbach de Carvalho
Zootec. Ma. Maryon Strack Dalle Carbonare
Castro
19/08/2016
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1. INTRODUÇÃO
Na safra de verão 2015/2016, os produtores do Grupo ABC cultivaram uma
área de 14.760 ha de milho para silagem (FUNDAÇÃO ABC, 2015). Considerando
uma produtividade de 55 t ha-1 de massa verde, estima-se uma produção de 810.000
toneladas de silagem, que pode alimentar em torno de 90.000 vacas/ano (25
kg/vaca/dia) e suportar uma produção de 675 milhões de litros de leite ao ano (25
L/vaca/dia x 300 dias).
A Fundação ABC realiza anualmente ensaios de competição de híbridos de
milho para silagem em quatro locais (Castro, Ponta Grossa, Arapoti e Itaberá). São
ensaios em parcelas pequenas (6,4 m2), com 4 repetições e análise estatística dos
resultados. A partir da média dos anos em cada local, os híbridos superiores em
produção de leite estimada por tonelada de silagem e por hectare são indicados aos
produtores.
Contudo, observações de campo são importantes para checar se os
melhores híbridos nos ensaios também se destacam em condições reais nas
propriedades da região. Além disso, o Concurso de Silagem fornece informações
sobre as tecnologias mais empregadas pelos produtores e como está a qualidade da
silagem em relação aos anos anteriores.
Devido à grande importância da silagem na alimentação do rebanho local, foi
criado o “Concurso de Silagem de Milho da Fundação ABC”, com o objetivo de
valorizar a cadeia de produção de silagem de milho e premiar os responsáveis pelas
melhores silagens.
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2. MATERIAL E MÉTODOS
Os produtores se inscreveram através do departamento de pecuária das
cooperativas de 29 de junho de 2015 a 1o de julho de 2016. Ao todo foram 278
inscrições de 203 produtores das cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal.
A divulgação do concurso foi realizada por e-mail, redes sociais, panfletos,
circulares nas cooperativas, dias de campo, palestras e no programa de rádio Ponto
de Encontro Castrolanda.
As amostras em silos abertos foram coletadas pelos técnicos da pecuária das
cooperativas, que passaram por uma orientação prévia para padronização das
coletas. Foram retiradas cinco subamostras do painel de cada silo, sendo
homogeneizadas em uma amostra composta. A coleta em silos fechados foi
realizada por técnicos do laboratório da Fundação ABC. Foram retiradas três
subamostras por silo, com calador específico para silagem.
As amostras foram enviadas ao Laboratório de Bromatologia da Fundação
ABC para realização das análises. Os nutrientes foram analisados pela técnica da
espectrofotometria de refletância no infravermelho proximal (NIRS), com
equipamento da marca FOSS® e calibração do laboratório holandês BLGG. A
distribuição e o tamanho de partículas foram determinados através das peneiras
Penn State. A avaliação do grau de processamento dos grãos foi realizada através
da metodologia KPS - Kernel Process Score (Ferreira & Mertens, 2005), que
representa a porcentagem de amido que passa na peneira de 4,75 mm.
As variáveis utilizadas para pontuação foram: teor de matéria seca (MS),
proteína bruta (PB), fibra insolúvel em detergente ácido (FDA), fibra insolúvel em
detergente neutro (FDN), nutrientes digestíveis totais (NDT), valor relativo nutricional
(VRN), amido, potencial hidrogeniônico (pH), digestibilidade in vitro da matéria
orgânica (DIVMO), digestibilidade in vitro da fibra em detergente neutro (DIVFDN),
produção de leite estimada (kg T-1 MS) através da planilha Milk 2006 da
Universidade de Wisconsin, porcentagem de partículas nas peneiras 1 e 3 (Penn
State) e KPS.
Para este concurso, com auxílio dos técnicos das cooperativas
mantenedoras, foi realizada uma revisão do cálculo da nota da silagem. O amido e o
leite estimado ficaram mais rigorosos na pontuação, enquanto que PB, peneiras e
DIVMO ficaram menos rigorosos. Também foi incluído o KPS no cálculo da nota, que
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não havia em anos anteriores.
Sendo assim, foram 14 os itens utilizados para pontuação, com notas de 0 a
10 para cada item, conforme a tabela abaixo. A nota foi calculada pela média dos 14
itens e multiplicado por 10.
Ítens Avaliação
Alvo para Nota Máxima
Mínimo para Pontuação
Nota Máxima
MS 30-35 >20 e <45 10
PB >8 >0 10
FDA <20 <40 10
FDN <35 <55 10
NDT >74 >64 10
VRN >195 >95 10
Amido >40 >20 10
pH <3,6 <4,6 10
Peneira 1 3-8 >0 e <28 10
Peneira 3 30-40 >0 e <60 10
DIVMO >74 >54 10
DIVFDN >60 >30 10
KPS >70 >40 10
Leite Estimado >1650 >1250 10
Nota Final (média das notas x 10) 100
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Características das silagens
O número de inscrições tem aumentado consideravelmente ao longo dos
anos, com o recorde de 278 inscrições nesta edição do concurso, contra 192 do
último concurso.
A maior parte das silagens inscritas foram de produtores da Cooperativa
Frísia (45%), seguido da Castrolanda (40%) e Capal (15%)
Houve inscrições de dezessete municípios da região, sendo que Castro teve
o maior número de participantes (43%).
A colheita das silagens foi predominantemente terceirizada (74%). Este valor
tem se mantido estável desde a primeira edição do concurso em 2009, com
variações entre 64 e 78%.
As marcas de ensiladeiras mais utilizadas foram New Holland, JF e John
Deere. Quanto ao tipo de máquina, 69% eram automotrizes.
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Apenas 14% das silagens tiveram uso de inoculante, resultado igual ao ano
passado.
A utilização de fungicidas nas lavouras de milho tem aumentado em torno de
2% ao ano e neste ano chegou a 55% das silagens.
Houve um total de 36 híbridos inscritos de 10 empresas. As empresas com
maior número de inscrições foram Dekalb e Pioneer (ambas 28%), Agroceres (15%),
Agroeste (13%) e Syngenta (11%).
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3.2 Características dos silos
Mais da metade dos silos era do tipo trincheira de terra (51%).
A cobertura mais utilizada por cima da lona foi terra (81%).
15% dos produtores utilizaram a película de barreira de oxigênio e 4% a
manta de proteção em cima da lona.
As lonas mais utilizadas foram de dupla face branca-preta (88%).
A maior parte dos silos não tiveram presença de efluente (74%).
O tipo de silo, cobertura sobre a lona e presença de efluente tem se mantido
estável ao longo dos anos. O uso de lona dupla face preta-branca tem aumentado a
cada ano desde o início do concurso.
A retirada de silagem manual com garfo foi a mais utilizada nos silos (50%).
Contudo este tipo de retirada tem diminuído com os anos e o uso de desensiladora
tem aumentado.
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A maior parte dos silos não tinham perdas superficiais por camada
deteriorada.
3.3 Teor de matéria seca e qualidade da silagem
Quanto ao teor de matéria seca (MS), metade das silagens avaliadas (50%)
estavam na faixa adequada (30 a 35%). Porém 23% das silagens estavam abaixo do
indicado (<30%) e 27% acima (>35%).
Desde a primeira edição do concurso, a porcentagem de silagens dentro da
faixa adequada tem aumentado, foi de 34 para 50%, o que indica que técnicos e
produtores tem avaliado melhor o ponto de corte. Contudo, metade das silagens
ainda estão fora da faixa recomendada que é de 30 a 35%.
Parar avaliar a relação entre o teor de matéria seca (MS) e a qualidade, as
silagens foram agrupadas em três grupos de MS, úmidas (<30%), adequadas (30-
35%) e secas (>35%).
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O teor de FDN decresceu com o aumento do teor de MS, enquanto que a
digestibilidade da fibra (DIVFDN) teve pequena redução.
Os teores de amido e a digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO)
da silagem aumentaram com o aumento da MS.
Os maiores valores de produção estimada de leite bem como as notas foram
encontrados no teor adequado de MS (30-35%).
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3.4 Tamanho de partículas da silagem
Na média, as partículas retidas na peneira 1, que são as fibras longas (>19
mm), ficou adequada ao indicado pela Penn State, tanto nas silagens Top 10 (6%)
como na média geral de todas as silagens (8%). Na peneira 3 (partículas entre 1,18
e 8,0 mm), a porcentagem de partículas ficou abaixo do recomendado, tanto nas Top
10 como na média geral.
Peneiras P1
(>19 mm) P2
(8-19 mm) P3*
(1,18-8 mm) P4
(<1,18 mm)
Ideal 3 a 8% 45 a 65% 30 a 40% < 5 %
Top 10 6 66 27 1
Média Geral 8 67 23 1
* Na próxima edição do concurso será utilizada a peneira de 4,0 mm no lugar da 1,18 mm.
Apesar da média geral e média Top 10 estarem próximas ao adequado, a
maior parte das silagens estavam mal picadas (83%), com excesso de partículas
grandes (acima de 8% na peneira 1 e/ou abaixo de 30% na peneira 3). 8% das
silagens estavam muito picadas (abaixo de 3% na peneira 1 e/ou acima de 40% na
peneira 3) e apenas 9% das silagens estavam com o tamanho de partículas
adequado em todas as peneiras. Estas proporções têm se mantido estáveis durante
os anos.
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3.5 KPS (Kernel Process Score – Escore de Processamento de Grãos)
De acordo com a literatura, o KPS tem correlação negativa com o teor de
amido fecal (Ferguson, 2003; Ferrareto & Shaver, 2012; Braman & Kurtz, 2015), ou
seja, quanto menor o KPS maior será a perda de amido nas fezes. A perda por
amido fecal afeta a eficiência da utilização de nutrientes pelos animais, além de
aumentar os custos com alimentação, uma vez que a presença de grãos no esterco
denota baixo aproveitamento do amido e menor eficiência na produção leiteira das
propriedades (Braman e Kurtz, 2015).
A maioria das silagens participantes desta edição do concurso (66%)
estavam com processamento de grãos considerado ruim (<50%) e apenas 3%
estavam com nível ótimo (>70%). O KPS variou de 9 a 83%, com média geral de
44%.
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3.6 Qualidade ao longo dos anos
Com o objetivo de visualizar a evolução da qualidade das silagens
participantes do concurso, foi realizado um comparativo entre os anos para as
variáveis analisadas.
Não houve grandes alterações de qualidade com o passar dos anos. Mas se
observa ligeira melhora dos teores de FDN, amido e NDT nos últimos anos,
principalmente nas silagens Top 10.
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4. CONCLUSÕES
A maior parte das silagens do concurso eram de híbridos simples, de alto
investimento, com colheita terceirizada e sem utilização de inoculante;
A maior parte dos silos foi do tipo trincheira, vedados com lona dupla face preta-
branca e cobertos com terra;
Assim como nas outras sete edições, todas as silagens Top 10 eram de híbridos
recomendados para silagem pela Fundação ABC;
O ponto de corte, o tamanho de partículas e o processamento dos grãos devem
ser melhorados na maioria das silagens;
A qualidade das silagens tem apresentado pequena melhoria nos últimos anos;
Mesmo em anos de clima desafiador como foi a safra 2015/2016 (El Niño) é
possível produzir silagens de ótima qualidade nutricional.
5. AGRADECIMENTOS