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» 44 — abril 2013 Como reduzir as perdas? É comum no meio rural a preocupação de técnicos e produtores com as perdas de silagem. Nesse sentido, medidas como o uso de aditivos têm sido recomendadas visando reduzir tais perdas. Contudo, aditivos não são substitutos de mau manejo e as perdas físicas vão continuar ocorrendo caso as boas práticas de ensilagem não sejam respeitadas RESERVAS SILAGEM No estudo a campo, as maiores perdas por camada deteriorada do tipo alta (>20 cm) foram em silos do tipo superfície, sem material de cobertura sobre a lona e com uso de trator com concha para retirada da silagem

Como reduzir as perdas? - Fundação ABCfundacaoabc.org/.../07/Silagem-de-milho-Como-reduzir-as-perdas.pdf · Contudo, aditivos não são substitutos de mau manejo e as perdas físicas

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Como reduzir as perdas?É comum no meio rural a preocupação de técnicos e produtores com as perdas de silagem. Nesse sentido, medidas como o uso de aditivos têm sido recomendadas visando reduzir tais perdas. Contudo, aditivos não são substitutos de mau manejo e as perdas físicas vão continuar ocorrendo caso as boas práticas de ensilagem não sejam respeitadas

RESERVAS

silagem

No estudo a campo, as maiores perdas por camada deteriorada do tipo alta (>20 cm) foram em silos do tipo superfície, sem material de cobertura sobre a lona e com uso de trator com concha para retirada da silagem

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Certo dia um produtor me perguntou: “Por que a quantidade de silagem

que sai do silo é sempre menor do que a quantidade que entrou?”. A resposta foi simples: existem perdas. “Mas que per-das são estas? É possível evitá-las?”As perdas que ocorrem podem ser de dois tipos: perdas invisíveis, que são as perdas por gases gerados pelos proces-sos bioquímicos durante a fermentação, e perdas visíveis, que são as perdas físicas, de quantidade de silagem, que ocorrem desde a colheita da forragem no campo até o consumo pelos animais.Não é possível evitá-las, mas é possível reduzi-las. Vamos discutir isso nesse ar-tigo. As perdas por gases são inevitáveis e difíceis de serem reduzidas, enquanto que as perdas físicas podem ser evitadas em alguns casos ou facilmente reduzidas em outros.

Mensurando as perdasÉ comum no meio rural, a preocupação de técnicos e produtores com as perdas de silagem. Nesse sentido, medidas como o uso de aditivos têm sido recomendadas visando reduzir tais perdas. Contudo, adi-tivos não são substitutos de mau manejo e as perdas físicas vão continuar ocorren-do caso as boas práticas de ensilagem não sejam respeitadas.Fazendo um levantamento na literatura, ou mesmo percorrendo as propriedades rurais deste país, é possível perceber que as perdas físicas de silagem (quan-tidade) chegam a ser muito maiores que as perdas pelo processo de fermentação (gases). Enquanto que as perdas pela fer-mentação em silagem de milho variam entre 1 e 10%, as perdas físicas em condi-

ções normais de campo são da ordem de 21 a 34%, podendo chegar a 70% quando ocorrem danos ao silo, como furos na lona, rachadura nas paredes e infiltração de água.As perdas físicas têm um impacto di-reto no custo da silagem, aumentando os custos com alimentação dos animais e de produção do leite. No grupo ABC (Cooperativas Capal, de Arapoti, Bata-vo e Castrolanda), a forragem repre-senta em torno de 17% do custo total de produção do leite. Se o produtor tiver uma perda de 20% da silagem, vai aumentar 3,4% o custo de produção do leite, reduzindo consideravelmente sua rentabilidade, já que a margem líquida da atividade é pequena.

Diagnóstico a campoPoucos trabalhos avaliando perdas em silagens foram realizados a campo. A maior parte dos trabalhos estimando

perdas são realizadas em laboratório, em silos experimentais de PVC ou bal-des plásticos (Jobim et al., 2007), que não representam a situação real do produtor (Neumann et al., 2007).Dessa forma, entre março e julho de 2011, a equipe do Setor de Forragicultura da Fundação ABC percorreu 95 proprieda-des, em oito municípios da região dos Campos Gerais no Paraná, avaliando 108 silos com silagem de milho.Nos silos visitados, as avalições in loco foram: densidade da silagem na massa verde, tipo de silo, tipo de lona, cober-tura sobre a lona e forma de retirada da silagem. Um questionário foi aplicado aos produtores com relação à colheita da silagem (terceirizada ou não), tipo de máquina (automotriz ou tratorizada), se utilizou inoculante (sim ou não), híbrido de milho utilizado, se era Bt e se houve aplicação de fungicida na lavoura. Uma amostra da silagem foi coletada para determinação do teor de matéria seca (MS), densidade da matéria seca e tama-nho de partículas (peneiras PennState).As avaliações de perdas foram qualita-tivas, utilizando a escala: ausente, baixa, média e alta. Foram avaliadas as perdas por descarte de silagem, camada dete-riorada abaixo da lona e efluentes.As perdas mais frequentes (97%) foram relacionadas ao descarte de silagem, seja por estar deteriorada ou pelo mau manejo na retirada da silagem, deixando silagem nas bordas, no fundo ou aderida às paredes do silo.As perdas por camada deteriorada e efluente também estavam presentes em aproximadamente 1/3 dos silos (Gráfico 1).

O pesquisador da Fundação ABC, Igor Quirrenbach de Carvalho, em seus trabalhos a campo de avaliação de perdas de silagem

GRáFiCo 1. FrequênCia das perdas de silagem

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A pequena quantidade descartada em algumas propriedades pode ser um bom sinal, resultado do bom manejo da sila-gem, mas por outro lado, pode significar que o produtor não está descartando a si-lagem deteriorada e está fornecendo aos animais. No caso desse trabalho, houve correlação positiva entre presença de ca-mada deteriorada e descarte de silagem, indicando que a maior parte dos produto-res descarta a silagem deteriorada.Dentre vários fatores estudados, as perdas de silagem por descarte tiveram relação com a densidade da massa ver-de da silagem e tamanho de partículas (Gráficos 2 e 3). As perdas foram maiores nos silos com menor densidade da sila-gem (abaixo de 700 kg m-3) e quando o tamanho médio das partículas foi maior (>10 mm).isso ocorre pois silagens com partículas maiores e menor densidade, possuem maior porosidade. Assim, maior quanti-dade de ar fica na massa durante a ensi-lagem, maior é a infiltração de oxigênio (o2 ) durante o período de armazenagem e também quando o silo é aberto para uso da silagem.As maiores perdas por camada deterio-rada do tipo alta (>20 cm) foram em silos do tipo superfície, sem material de cobertura sobre a lona e com uso de tra-tor com concha para retirada da silagem (Gráficos 4, 5 e 6).A ocorrência de camada deteriorada em silos de superfície é maior devido à maior área em contato com o ar, além de possu-írem menor densidade devido à dificulda-

RESERVAS

Já a retirada da silagem com concha do trator, desestrutura a compactação da forragem, aumentando o fluxo de O2 , não só no painel, mas também sob a lona e laterais do silo, favorecendo o apodrecimento nas margens do silo

Perda Descarte Silagem

Tam

an

ho

Part

ícu

las (

mm

)

GRáFiCo 2. relação entre a densidade da massa verde e as perdas de silagem por desCarte

GRáFiCo 3. relação entre o tamanho de partíCula e as perdas de silagem por desCarte

As perdAs físicAs em condições normAis de cAmpo são dA ordem de 21 A 34%, podendo chegAr A 70% quAndo ocorrem dAnos Ao silo, como furos nA lonA, rAchAdurA nAs pAredes e infiltrAção de águA

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de de compactação. Não houve diferença entre silos trincheira de terra e concreto.A cobertura do silo com terra sobre a lona favorece a expulsão do oxigênio da camada superior do silo durante o fecha-mento, melhor selamento da lona contra a silagem, proteção da lona contra agen-tes externos como luz, calor e animais, redução da passagem de o2 através da lona e redução da entrada de ar sob a lona quando o silo é aberto. outros ma-teriais como palha, sacos de areia e pneus tiveram resultados intermediários.Já a retirada da silagem com concha do trator, desestrutura a compactação da forragem, aumentando o fluxo de o2, não só no painel, mas também sob a lona e laterais do silo, favorecendo o apodreci-mento nas margens do silo.Em relação às perdas por efluentes, foi relacionada com o teor de matéria seca da silagem. Quanto menor a matéria seca, maior o efluente. isso ocorre devido ao maior conteúdo de água e maior faci-lidade de compactação da silagem mais úmida. A produção de efluente foi evita-da quando as silagens apresentaram teor de matéria seca acima de 30% (Gráfico 7).

Reduzindo as perdasEste trabalho demonstra que técnicas simples e já conhecidas pelos produto-res podem reduzir consideravelmente as perdas físicas de silagem de milho, resultando em menor custo da silagem, permitindo alimentar maior quantidade de animais e produzir mais leite com me-nor custo.Portanto, sempre que possível, o produ-tor deve optar por silos do tipo trincheira, colher com adequado teor de MS (30 a 35%), adequado tamanho de partículas (peneiras PennState), fazer boa compac-tação, colocar terra sobre a lona e fazer retirada uniforme da silagem.

% S

ilo

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Sil

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Alt

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Perda Efluente Silagem

GRáFiCo 4. Camada deteriorada x tipo silo

GRáFiCo 5. Camada deteriorada x retirada

GRáFiCo 6. Camada deteriorada x Cobertura

GRáFiCo 7. relação entre o teor de ms e as perdas por eFluente

eng. agr. msc. igor quirrenbach de Carvalho

Pesquisador Fundação ABCDoutorando do Programa de Pós -

Graduação em ZootecniaUEM-Maringá/PR

Zoot. Clóves Cabreira JobimProf. do Departamento de Zootecnia

UEM-Maringá/PR