Relatório Estágio_Catarina Branco

Embed Size (px)

Citation preview

Universidade de vora DEPARTAMENTO DE PLANEAMENTO, AMBIENTE E TERRITRIO

INTERVENES NO ESPAO URBANORelatrio de Estgio para obteno do Grau de Mestre em Arquitectura Paisagista pela Universidade de vora, sob a orientao da Professora Doutora Maria Adalgisa Alves Palmeiro Cruz de Carvalho.

CATARINA LOPES DA SILVA DE MATOS BRANCO(Licenciada)

ESTE TRABALHO NO INCLUI AS OBSERVAES E CRTICAS FEITAS PELO JRI

VORA Outubro de 2010 1

UNIVERSIDADE DE VORA DEPARTAMENTO DE PLANEAMENTO, AMBIENTE E TERRITRIO

INTERVENES NO ESPAO URBANORelatrio de Estgio para obteno do Grau de Mestre em Arquitectura Paisagista pela Universidade de vora, sob a orientao da Professora Doutora Maria Adalgisa Alves Palmeiro Cruz de Carvalho.

CATARINA LOPES DA SILVA DE MATOS BRANCO(Licenciada)

ORIENTADORA: PROFESSORA DOUTORA MARIA ADALGISA CRUZ DE CARVALHO ORIENTADORA EXTERNA: ARQUITECTA PAISAGISTA CARLA CRISTINA DUARTE FIGUEIREDO

ESTE TRABALHO NO INCLUI AS OBSERVAES E CRTICAS FEITAS PELO JRI

VORA Outubro de 2010 2

agradecimentos

minha orientadora, Doutora Maria Adalgisa Cruz de Carvalho, pelo apoio, incentivo e sbia orientao que permitiram a este trabalho manter um rumo certo. minha famlia, por tudo. Rita, pelas tardes na Biblioteca e os lanches das 18.00h. Cmara Municipal de Castelo Branco, pela oportunidade de realizar o estgio. A todos os colegas do Departamento de Obras Municipais da Cmara Municipal de Castelo Branco, por todo o apoio. Carla Figueiredo, pela compreenso, motivao e disponibilidade demonstradas ao longo do perodo de estgio na Cmara Municipal de Castelo Branco, e no s. A ti, por estares comigo mesmo quando ests longe.

3

INTERVENES NO ESPAO URBANO

resumo

A presena da vegetao na cidade tem de ser entendida como um dos elementos de composio da estrutura urbana, no podendo ser vista como uma mera consequncia residual do planeamento urbano. O reconhecimento das funes que desempenha como amenidade ambiental, como suporte de recreio e lazer e como uma das componentes da morfologia urbana, exige uma perspectiva de interveno que tenha em vista potenciar as suas funes no tecido urbano. Com o presente trabalho pretende-se apresentar o trabalho desenvolvido ao longo do estgio na Cmara Municipal de Castelo Branco, destacando os principais aspectos, positivos e negativos, do mesmo. Considerou-se importante abordar alguns conceitos inerentes ao tema deste trabalho que, para alm de servirem de enquadramento terico, fundamentam tambm as questes prticas desenvolvidas no presente relatrio.

palavras-chave

Continuum naturale, Estrutura Verde, Estrutura Ecolgica, Corredores Ecolgicos.

4

URBAN SPACE INTERVENTIONS

abstract

Vegetations presence in the city must be percieved as an element of urban morphology composition, instead of some consequense of urban planning. The recognition of vegetations functions as environmental amenity, recreation support or as a component of urban morphology, demands an intervention that would improve that same functions in urban space. This report pretends to expose the work developed at the Cmara Municipal de Castelo Branco during the internship, bringing into focus the main subjects both positive and negative. It was considered important to approach some concepts related to the theme of this report, witch provide theorical fundamentation as well as a base support to pratical issues developed in this report.

keywords

Continuum naturale, Ecological Structure, Greenways.

5

NDICENDICE DE FIGURAS 1. INTRODUO 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 TEMA ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL OBJECTIVOS METODOLOGIA CRONOGRAMA DE ESTGIO PROPOSTO CRONOGRAMA DE ESTGIO REALIZADO 1 3 3 4 12 13 14 15 16 16 16 17 19 19 21 21 23 24 25 25 28 31 31 32 35 40 42 43 44 50 50 54 57 57 60 6

2. CONCEITOS 1.7 ESPAO VERDE URBANO 1.7.1 EVOLUO DO CONCEITO 1.7.2 CONCEPO DO ESPAO VERDE URBANO 2.2 ESTRUTURA VERDE 2.2.1 CONCEITO 2.3 ESTRUTURA ECOLGICA 2.3.1 CONCEITO 2.3.3 IMPORTNCIA DA ESTRUTURA ECOLGICA URBANA 2.3.4 ESTRUTURA ECOLGICA URBANA E ESTRUTURA VERDE URBANA 2.4 GREENWAYS 2.4.1 HISTRIA E CONTEXTO ECOLGICO, SOCIAL E LDICO 2.4.3 FUNES 3 CARACTERIZAO DO PERMETRO URBANO DE CASTELO BRANCO 3.1 TERRITRIO EM ESTUDO - LOCALIZAO 3.2 EVOLUO DO TECIDO URBANO 3.3 SNTESE FISIOGRFICA 3.4 USO ACTUAL DO SOLO 3.5 EQUIPAMENTOS E SERVIOS LOCALIZAO E RELAO NA CIDADE 3.6 ESPAOS ABERTOS PERMEVEIS DA CIDADE E PRINCIPAIS EIXOS DE CIRCULAO 3.7 UNIDADES MORFOLGICAS 3.8 PROGRAMAS EM IMPLEMENTAO 3.8.1 PROGRAMA POLIS E PROGRAMA CASTELO BRANCO 2020 3.8.2 PROGRAMA POLIS E PROGRAMA CASTELO BRANCO 2020 A VISO DE 2010 3.9 ESTRUTURA VERDE URBANA 3.9.1 DIAGNSTICO 3.9.2 PROPOSTA ESQUEMTICA

4. PROJECTOS DESENVOLVIDOS 4.1 PTIO INTERIOR 4.2 BAIRRO DAS FONTAINHAS 5. CONSIDERAES FINAIS 6. CONCLUSES E REFLEXO CRTICA 7. BIBLIOGRAFIA 8. ANEXOS 8.1 ANEXO 1 MODELOS UTPICOS 8.2 ANEXO 2 SISTEMA DE PARQUES DE BOSTON 8.3. ANEXO 3 8.3.1 ANEXO 3.1 EXTRACTO DA CARTA AGRCOLA 292 8.3.2 ANEXO 3.2 CARTA DO USO DO SOLO 8.4 ANEXO 4 PROJECTO DE EXECUO DO PTIO INTERIOR 8.5 ANEXO 5 PROJECTO DE EXECUO DO BAIRRO DAS FONTAINHAS 8.6 ANEXO 6 PROPOSTA ESQUEMTICA PARA A ESTRUTURA VERDE URBANA DE CASTELO BRANCO 8.7. ANEXO 7. ESBOO DE PROJECTO PARA O BAIRRO DAS FONTAINHAS 8.7.1 ANEXO 7.1 IDENTIFICAO DOS PRINCIPAIS ESPAOS ABERTOS PERMEVEIS DO BAIRRO DAS FONTAINHAS E SUA ENVOLVENTE PRXIMA 8.7.2 ANEXO 7.2 PROPOSTA ESQUEMTICA PARA O BAIRRO DAS FONTAINHAS

67 67 69 72 75 78 82 82 86 87 87 88 89 100 118 120 120 122

7

NDICE DE FIGURAS

TABELAS Tabela 1 Cronograma de Estgio Proposto Tabela 2 Cronograma de Estgio Realizado 14 15

IMAGENS Imagem 1 Localizao de Castelo Branco no Territrio Nacional Imagem 2 Evoluo do Tecido Urbano Imagem 3 Arruamentos no Centro Histrico Imagem 4 Localizao de Patrimnio Imagem 5 Zona Industrial Imagem 6 Sntese Fisiogrfica correspondente cidade de Castelo Branco Imagem 7 Bacia Hidrogrfica do Tejo Imagens 8 Principal Centro de Distribuio identificado na rea em estudo Imagem 9 Carta do Uso Actual do Solo Imagens 10 Equipamentos e Servios Localizao e Relao da Cidade Imagem 11 Espaos Abertos Permeveis da Cidade e Principais Eixos de Circulao Imagem 12 Elementos de Carcter Rural Imagem 13 Unidades Morfolgicas Imagem 14 Praa Cames Imagem 15 Zona Histrica Imagem 16, 17 e 18 Largo da Devesa antes e depois da interveno do Programa Polis 31 32 32 33 33 35 37 38 40 42 43 45 45 46 47 50

1

Imagem 19 e 20 Edifcio Telecom no Centro Histrico localizado na Praa Postiguinho Valadares e Proposta de Requalificao para a Praa Postiguinho Valadares aps demolio do edifcio Imagem 21 Situao Actual da Praa Postiguinho Valadares Imagem 22 Praa do Municpio aps interveno do programa Polis Imagem 23 Vista do Castelo para o Jardim do Pao e Parque da Cidade Imagem 24 Programa de Aces Mobilizadoras do estudo Castelo Branco 2020 Imagem 25 - Alinhamentos arbreos da Av. Nuno lvares Imagem 26 - Intervenes no Espao Pblico Urbano Imagem 27 Elemento de degradao esttica da Zona de Lazer Imagem 28 Vista do Castelo para o centro da cidade Imagem 29 Vista do Castelo para a entrada Norte da cidade Imagem 30 Jardim do Pao Imagem 31 Vista do Parque da Cidade para o Castelo Imagem 32 Docas Imagem 33 Zona de Lazer Imagem 34 Localizao dos principais espaos permeveis na cidade Imagem 35 Avenida Nuno lvares Imagem 36 Avenida 1 de Maio Imagem 37 Esboo para a Estrutura Verde Urbana de Castelo Branco Imagem 38 Proposta Esquemtica para a Estrutura Verde Urbana de Castelo Branco Imagem 39 Ptio Interior do Gabinete de Obras Municipais Imagem 40 Vista geral da rea de interveno Imagem 41 Zona prevista para Equipamento e Infraestruturas do Bairro das Fontainhas 2 50 51 52 52 53 54 55 55 57 57 57 58 58 58 58 59 59 60 61 67 69 70

1. INTRODUO

1

1. INTRODUO

1.1 TEMA O espao um dos maiores dons com que a natureza dotou os homens e que, por isso, eles tm o dever, na ordem moral, de organizar com harmonia (...). A delapidao do espao, que poderemos classificar de pecado contra o espao, constitui, porventura, uma das maiores ofensas que o homem pode fazer tanto natureza como a si prprio e da existncia desta possibilidade de aco negativa, em contraste com a possibilidade de uma aco positiva, resulta o drama do homem organizador do espao, drama que constitui garantia de que esta uma das mais altas funes que o homem pode atribuir-se. Tvora (2004) in Da Organizao do Espao pp.27

Desde cedo que a paisagem alvo da interveno do homem. Inicialmente de modo a facilitar a caa, mais tarde de modo a permitir a pastorcia e posteriormente como forma de possibilitar a instalao permanente das populaes, devido descoberta da agricultura (Telles, 1997). Factores como a preocupao do transcendente frente morte, a dependncia do homem face s foras da natureza e a importncia da fecundidade da terra no desenvolvimento das sociedades depressa se traduziram em marcas culturais na paisagem (Telles, 1997). Com o crescimento populacional houve a necessidade de alargar as culturas agrcolas e as pastagens, assim como de aumentar o fundo de fertilidade das terras, conjugando-se, para isso, a natureza do solo e o clima com a tcnica (Telles, 1997). Contudo, as comunidades humanas foram desenvolvendo necessidades de responder tambm s inquietaes do esprito e de dialogar com o divino, que regia o tempo e os ciclos naturais (Telles, 1997). Estas necessidades deixaram marcas simblicas na paisagem, que era organizada no sentido de uma ordem csmica (Telles, 1997). A ideia de belo nasce portanto da contemplao dessa ordem, estabelecida em funo do homem.

3

Paisagens em socalcos, de montanha, de colinas ou colinares, sabiamente compartimentadas, as das lezrias e terras baixas, as dos extensos montados e as estpicas dos grandes espaos abertos (...), servem de base a lugares, quintas, hortas, aldeias e cidades que fundamentam a transformao gradual de uma paisagem primitiva de subsistncia numa paisagem cultural (Telles, 1997). A Revoluo Industrial, se por um lado contribuiu para o despertar da consciencializao face aos problemas sociais, de higiene e m qualidade de vida sentidos na altura, conduziu, por outro lado, ao aumento da degradao dos recursos naturais e desertificao de vastas reas do planeta, o que gerou injustias flagrantes, desequilbrios demogrficos, calamidades fsicas e desastres ecolgicos (Magalhes, 1992). A paisagem, em lugar de ser a imagem e expanso cultural da evoluo da civilizao, desagrega-se e desaparece dando lugar ao caos e ao deserto (Telles, 1997). Este facto implica uma reflexo acerca da nossa identidade cultural e independncia, e a percepo de que se torna cada vez mais necessrio desenvolver polticas de ordenamento do territrio que viabilizem a reconstruo das paisagens como espaos fundamentais da vida humana. A paisagem deve ser entendida e interpretada de forma global, pois s deste modo se pode garantir a melhor gesto dos recursos naturais (Telles, 1997).

1.2 ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

A perda do equilbrio cidade-campo

A rpida e desmedida concentrao de pessoas nas reas peri-urbanas aps a Revoluo Industrial, conduziu ao progressivo abandono das reas rurais e, consequentemente, ao acelerado crescimento da edificao nas reas peri-urbanas (Alves, 2009).1

1

A Estrutura Ecolgica Urbana no modelo da rede estruturante da cidade. Dissertao para obteno de grau de Mestre em Planeamento do Territrio Ordenamento da Cidade. Universidade de Aveiro Seco Autnoma de Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas.

4

Este crescimento desmesurado da cidade industrial, associado ao aumento da sua populao resultou na quebra do equilbrio cidade-campo e no aumento da degradao dos recursos naturais. Estes factores contribuiram para o fomento de uma consciencializao dos problemas sociais, de insalubridade e da m qualidade de vida que se faziam sentir naquela poca. Em resposta a esses problemas comeam a surgir solues que tm por base a reconciliao do binmio cidade-campo, atravs da recriao da presena da natureza no meio urbano.

At ao sculo XIX, os espaos verdes representavam um papel esttico, associado ao lazer e fruio, funcionando apenas como locais de encontro, estadia ou passeio pblico. A Era industrial e os todos os problemas que dela advieram, exigiram a alterao das funes atribudas aos espaos verdes, assumindo estes um papel que veio responder s preocupaes higienistas e s inquietaes sociais, atravs da criao de espaos de repouso e encontro com a natureza no meio urbano (Magalhes, 2001).

As preocupaes associadas qualidade de vida urbana e aos limites do crescimento urbano foram crescendo ao longo do sculo XIX. Associados a estes factores surgem vrios modelos utpicos de planeamento que vo desde os Falanstrios de Fourier, Cidade Linear de Arturo Soria y Mata, at Cidade Jardim de Ebenezer Howard, e que procuravam solues para as injustias sociais que se faziam sentir na sociedade industrial (Ver Anexo 1). As grandes descobertas da Cincia, nomeadamente na rea da Biologia2, e as esperanas de melhoria da qualidade da atmosfera que lhe esto associadas, traduz-se em modelos que integram a vegetao na cidade, atravs de pulmes verdes (Parque Central) ou de sistemas de parques e de corredores (parkways) (Magalhes, 2001).

2

No ltimo quartel do sculo XVIII descoberta e estudada a fotossntese. Este processo, segundo o qual as plantas verdes, na presena de luz, transformam o anidrido carbnico em oxignio, torna-se uma das grandes esperanas da melhoria da qualidade da atmosfera urbana, deteriorada pelos produtos da combusto do carvo. (MAGALHES, 1992)

5

Walter Cannon desenvolveu o conceito de Homeostasis3, a partir da ideia inicial de Claude Bernard, popularizando-o atravs do seu livro The Wisdom of the Body (1932). Este conceito veio dar consistncia cientfica ao modelo de estrutura verde urbana empiricamente iniciado por Olmsted (Sistema de Parques de Boston - Ver anexo 2). Caldeira Cabral (2001 (1980)) definiu o primeiro princpio a que obedece a vida na paisagem: a vida, comeando na clula, um estado de transformao contnua, mantida dentro de certos limites e movida por um conjunto determinado de foras, introduzindo, assim, o conceito de homeostasis, que significa que a vida se realiza num equlbrio dinmico que variao ordenada. Para que o princpio se verifique, Caldeira Cabral considera necessrio:

haver livre variao e troca; a variao se verifique entre limites relativamente definidos, para o que essencial, a variedade.

Considerando o mundo biolgico como uma vasta rede de populaes vivas em estado de equilbrio dinmico, reflectindo mudanas no seu meio ambiente e nas suas mtuas relaes, Caldeira Cabral (2001 (1980)) prope quatro princpios fundamentais para a conservao da natureza:

1. Continuidade ciclo da gua, vegetao, solo, ar. A continuidade garantida atravs dos corredores ecolgicos.

3

Definio de Homeostasis, de Walter Cannon As condies constantes que se mantm no corpo podem chamar-se equilibria. Esta palavra tem sido, contudo, aplicada com um significado bastante exacto em referncia a estados fsico-qumicos relativamente simples de sistemas fechados, em que se encontram em equilbrio foras conhecidas. Os processos fisiolgicos coordenados que mantm a maior parte dos estados estacionrios nos organismos, so to complexos e to peculiares dos seres vivos, envolvendo conforme os casos, o crebro e os nervos, o corao, os pulmes, os rins e o bao, todos actuando em conjunto que sugeri uma designao especial para estes estados, HOMEOSTASIS. A palavra no significa uma situao fixa e imvel, uma estagnao. Quer significar uma condio condio que pode variar, mas que relativamente constante.

6

2. Elasticidade capacidade de adaptao diversidade de situaes que caracteriza a vida4. 3. Meandrizao tendncia para aumentar as interfaces ou superfcies-limite dos vrios elementos presentes na paisagem5. 4. Intensificao a reduo da superfcie ocupada pelos elementos fundamentais da paisagem solo, gua, ar, flora e fauna tem de corresponder uma optimizao dos efeitos da rea restante. Ao intensificar os processos vitais na paisagem devese faz-lo atravs de pequenos fluxos do conjunto e no maximizando alguns fluxos particulares. O conceito de Continuum Naturale6 surge como instrumento capaz de assegurar o princpio de Homeostasis, e pretende preservar as estruturas fundamentais da paisagem que, em meio urbano, penetram no tecido edificado de modo tentacular e contnuo, assumindo diversas formas e funes cada vez mais urbanas, que vo desde a simples rua ou praa arborizada, ao enquadramento de infra-estruturas e edifcios, aos espaos de lazer e recreio. A par dos quatro princpios defendidos por Caldeira Cabral para a conservao da natureza, este conceito, para alm da Continuidade, Elasticidade, Meandrizao e Intensificao, apoia-se ainda na capacidade de AutoRegenerao (Magalhes, 2001).

4

O exemplo dado pelo autor a irregularidade das quedas pluviomtricas, a qual a paisagem tem de responder com um sistema de aces estabilizadoras que vo desde o retardamento do escoamento superficial at ao dimensionamento dos diversos leitos de cheia capazes de conter e escoar os vrios caudais sem que se originem catstrofes. Para isso deve adaptar-se os usos frequncia de utilizao dos diversos leitos. Ou seja, o leito normal do rio deve ser exclusivamente para a gua e plantas marginais; o leito de cheia mdia deve ser ocupado apenas com culturas que no sofram grandes prejuzos e protejam a terra (pastagens permanentes e campos de jogos ou parques de estacionamento); o leito da cheia dos 50 anos ou 100 anos poder ter utilizes que venham a ser prejudicadas mas que nunca ponham em perigo vidas humanas, como so exemplo as habitaes.5

Caldeira Cabral d o exemplo da aco da mata na paisagem. medida que se diminui a rea florestal em benefcio da agricultura devem aumentar-se certos efeitos da mata e manter a sua presenca. A mxima intensidade biolgica verifica-se na orla da mata, onde atingem a maior intensidade os gradientes de temperatura, luminosidade, humidade relativa, etc. Ao diminuir a superfcie total convm aumentar o efeito da orla e, por outro lado, assegurar o primeiro princpio da continuidade. Podem ser utilizadas as sebes (matas reduzidas a duas orlas) para compartimentar as reas agricultadas.6

Definido na Lei de Bases do Ambiente n11/87, de 7 de Abril art.5 2d) como o sistema contnuo de ocorrncias naturais que constituem o suporte da vida silvestre e da manuteno do potencial gentico e que contribui para equilbrio e estabilidade do territrio.

7

Em Portugal, o conceito de Continuum Naturale aplicado, tanto paisagem urbana como paisagem rural, foi difundido, a partir dos anos 40, pelo professor Francisco Caldeira Cabral, mas apenas em 1987 veio a ser expresso em Lei (Lei de Bases do Ambiente n 11/87 de 7 de Abril art.5 2d) onde definido como o sistema contnuo de ocorrncias naturais que constituem o suporte da vida silvestre e da manuteno do potencial gentico e que contribui para equilbrio e estabilidade do territrio. de salientar no entanto, que as ocorrncias naturais podem ser criadas sempre que necessrio (Telles, 1997).

A continuidade e leitura do espao urbano no se resumem apenas ao conceito de Continuum Naturale, pois a presena de elementos e conjuntos arquitectnicos no espao urbano, quer estes se traduzam por volumes edificados quer por espaos abertos, constitui uma representao e expresso da cultura que lhe est associada, funcionando como sistemas de referenciao no espao e no tempo (Continuum Culturale). Assim, os espaos abertos devem constituir um sistema integrado com carcter e identidade individualizada, que imprescindvel preservar, recriar ou criar, enquanto elementos determinantes na sua presena e continuidade cultural (Telles, 1997). O meio urbano, no que respeita sua estrutura fortemente determinado pelas caractersticas, fsicas e biolgicas, do stio que lhe deu origem, e a partir da relao que alguns elementos estruturantes estabelecem com o lugar que se constri um sistema de referncias nicas e individuais no espao urbano e que constitui o carcter do lugar ou Genius Loci (Telles, 1997).

Assim, a fragmentao da paisagem, resultante de processos desequilibrados de evoluo exige uma reorganizao numa perspectiva que vise garantir a estabilidade dessa evoluo, sendo para tal imperativo que os espaos urbanizados e o que resta dos espaos rurais e naturais se agreguem, complementem e potenciem.

O Verde como elemento estruturante no Espao Urbano

A partir dos anos 60, com a crise ecolgica e a constatao da degradao da qualidade ambiental e, posteriormente, nos anos 80, com o aparecimento dos conceitos de desenvolvimento sustentvel e planeamento nota-se uma crescente preocupao com a necessidade de conservao da natureza e da integrao da componente ambiental no planeamento. A necessidade de uma estrutura ecolgica 8

que respeite os recursos biticos e abiticos e que, simultaneamente, promova a conectividade entre reas naturais existentes numa paisagem cada vez mais fragmentada, foi um factor impulsionador para a concepo da ideia de que a paisagem deve ser estruturada tendo por base o conceito de corredores que promovem a conexo entre parcelas isoladas, minimizando os efeitos da sua fragmentao atravs de um ordenamento da paisagem que visa estratgias de conteno das reas degradadas e enfatiza a conectividade na paisagem (Magalhes, 2001).

Misso do Arquitecto Paisagista no Espao Urbano

A Arquitectura Paisagista procura realizar, em cada momento, com a maior perfeio, a paisagem humanizada (Caldeira Cabral, 2001 (1956)).

Antes de mais, h que salientar que o objecto da Arquitectura Paisagista a paisagem humanizada, ou seja, aquela que o homem modelou para satisfao das suas necessidades primrias. Assim sendo, a aco do arquitecto paisagista tem por fim o homem, em toda a sua complexidade, procurando realizar uma sntese das suas aspiraes, sem esquecer nunca os aspectos de ordem, beleza e equilbrio (Caldeira Cabral, 2001 (1956)).

Houve tempos em que a paisagem evoluia como um todo, de forma gradual, conferindo, s diferentes geraes, uma noo esttica da natureza que impossibilitava uma clara percepo da influncia do homem na paisagem. Actualmente, cada vez mais se verificam alteraes bruscas e profundas na paisagem, reflexo de uma falta de viso retrospectiva, e de medida da prpria aco do homem, que se desnorteia, levando-o a destruir no s a utilidade, mas tambm a beleza que tantas vezes criara inconscientemente (Caldeira Cabral, 2001 (1956)). Nestas situaes deve intervir o arquitecto paisagista que, para alm de conhecer as leis que regem a paisagem, tem a sensibilidade para reconhecer a beleza existente ou as potencialidades de beleza intrnsecas s novas solues, o que lhe confere a capacidade de recriar um novo equilbrio que satisfaa as necessidades do homem.

pertinente afirmar que a interveno do arquitecto paisagista mais necessria na medida em que os fenmenos resultantes da humanizao vo sendo mais intensos. 9

O arquitecto paisagista estuda e planeia a paisagem, rural ou urbana, ordenando os diversos elementos de modo a favorecer a existncia de equilbrio ecolgico, considerando sempre aspectos biofsicos, estticos, sociais e econmicos. Analisa as caractersticas do local a intervir, sejam elas relacionadas com os elementos naturais ou com os elementos culturais, avaliando os efeitos e a funcionalidade do projecto. Toda esta busca pelo equilbrio homem-natureza obriga-nos a entender que a interveno do arquitecto paisagista tem de advir desde o incio do projecto e no por acrscimo, porque a beleza deve ser o reflexo espontneo da boa adequao da obra ao fim proposto, como qualidade intrnseca,e no, como geralmente se supe, em resultado de uma srie de operaes posteriores e, portanto, extrnsecas chamadas embelezamento (Caldeira Cabral, 2001 (1966)).

Apesar das diversas reas de interveno do arquitecto paisagista, desde o planeamento e ordenamento do territrio ao projecto de jardins particulares, no restam dvidas de que, no que respeita aos espaos verdes urbanos the right man in the right place (Caldeira Cabral, 2001 (1966)). Os espaos verdes urbanos facultam um ambiente mais prximo do natural e escala do homem, contrariando a, cada vez maior, densificao urbana e o crescimento em altura. No entanto, de salientar que no devem ser apenas pontos permeveis perdidos na massa construda, mas constituir um sistema coerente e contnuo em toda a cidade.

O Ordenamento do Territrio e as suas principais dificuldades em Portugal

Ordenamento do Territrio define-se como o processo integrado de organizao do espao biofsico tendo como objectivo o uso e a transformao do territrio de acordo com as suas capacidades e vocaes, e a permanncia de valores de equilbrio biolgico e de estabilidade geolgica, numa perspectiva de aumento da sua capacidade de suporte de vidaIn Lei de Bases do Ambiente (Lei n 11/87, de 7 de Abril)

10

O ordenamento do territrio a expresso espacial das polticas econmica, social, cultural e ecolgica de toda a sociedade. Ele , simultaneamente, uma disciplina cientfica, uma tcnica administrativa e uma poltica concebida como uma aproximao interdisciplinar e global tendente ao desenvolvimento equilibrado das regies e organizao fsica do espao segundo uma concepo directora. O ordenamento do territrio contribui para uma melhor organizao do territrio europeu e para a procura de solues que ultrapassam o quadro nacional e visam simultaneamente criar um sentimento de identidade comum tendo em conta as relaes Norte-Sul e Este-Oeste.In Carta Europeia do Ordenamento do Territrio (Conselho da Europa, 1984)

Em Portugal, as principais dificuldades sentidas ao nvel do ordenamento do territrio prendem-se, quase sempre, com a ausncia de uma cultura cvica valorizadora do ordenamento do territrio e baseada no conhecimento rigoroso dos problemas, na participao dos cidados e na capacitao tcnica das instituies e dos agentes mais directamente envolvidos (Programa Nacional da Poltica de Ordenamento do Territrio aprovado pela Lei n.58/2007, de 4 de Setembro). Das dificuldades sentidas destacam-se:

Falta de uma cultura de ordenamento e planeamento; Viso sectorial, compartimentada e muito datada das realidades e necessidades do pas; Excessivo individualismo que conduz ao desrespeito pelo interesse pblico; Falta de meios financeiros para a administrao poder actuar pela positiva; Deficiente utilizao ou incumprimento da legislao em vigor; Actuao deficiente dos tcnicos envolvidos na elaborao dos planos e na sua gesto; Fraca preparao e motivao dos cidados para participarem no processo, associada falta de transparncia do mesmo. (Cancela dAbreu, 2008).

11

1.3 OBJECTIVOS

De um modo geral, o objectivo deste trabalho apresentar o trabalho desenvolvido ao longo do perodo de estgio na Cmara Municipal de Castelo Branco, focando tanto os aspectos positivos como os negativos. No entanto, considerou-se que o trabalho desenvolvido no estgio no seria suficiente para a elaborao do presente relatrio, optando-se assim por aprofundar alguns conceitos tericos considerados fundamentais no que respeita ao tema de estgio escolhido. A escolha dos conceitos tericos prendeu-se com alguns objectivos especficos como: a compreenso da importncia do equilbrio cidade-campo a compreenso da evoluo do conceito de espao verde urbano a compreenso da importncia da Estrutura Verde e da Estrutura Ecolgica no meio urbano.

Tendo por base os conceitos desenvolvidos teoricamente pretende-se a sua aplicao prtica atravs da elaborao de uma proposta esquemtica de Estrutura Verde Urbana, dado que no existem dados relativos a esta estrutura para a cidade de Castelo Branco. Numa abordagem mais particular apresentada uma proposta para um bairro perifrico da cidade para o qual foi pedido, por parte da Cmara Municipal, a elaborao de projecto de execuo para o espao de recreio e lazer j previsto para o bairro.

12

1.4 METODOLOGIA

O trabalho encontra-se estruturado em 6 grandes fases, encadeadas da seguinte forma: - Recolha, organizao e sntese de dados relevantes para o tema: recolha, organizao e sntese de legislao prpria s reas de actuao e outros dados considerados fundamentais para a elaborao do presente relatrio. - Apresentao e discusso do tema: abordagem terica a conceitos considerados essenciais ao desenvolver do tema do relatrio. - Anlise e Caracterizao da cidade de Castelo Branco: reunio elementos que permitiram a elaborao de uma caracterizao da cidade de Castelo Branco. - Diagnstico/Sntese: sntese dos elementos analisados anteriormente, visando os principais aspectos condicionantes e as potencialidades da cidade. - Proposta: proposta esquemtica para a Estrutura Verde de Castelo Branco. - Exposio dos projectos desenvolvidos: caracterizao da rea de interveno e descrio dos projectos de execuo elaborados. - Concluses e reflexes crticas: feita uma sntese das principais potencialidades e problemas da cidade, ao nvel de espaos abertos pblicos, tendo por base os conceitos tericos, a partir da qual resulta uma reflexo crtica.

13

1.5 CRONOGRAMA DE ESTGIO PROPOSTO

CRONOGRAMA DE ESTGIO PROPOSTOACTIVIDADES A DESENVOLVER Preparao da estagiria para as diversas competncias, de acordo com o respectivo contedo funcional. Recolha e organizao de legislao prpria das reas de actuao, concretamente em matria de urbanismo e ambiente; Contacto com alguns projectos a desenvolver, diagnstico da situao actual e elaborao de estudos prvios; Desenvolvimento dos projectos ao nvel da pormenorizao tcnica (projecto de execuo). Acompanhamento de algumas obras em curso ao nvel dos espaos exteriores e, na medida do possvel, dos trabalhos efectuados na fase anterior; Acompanhamento dos trabalhos de manuteno dos espaos verdes; Contacto com a estrutura municipal de manuteno dos espaos verdes. Estruturao do relatrio de estgio Reflexes sobre o trabalho desenvolvido ao longo do estgio na Cmara Municipal de Castelo Branco Entrega do Relatrio de Estgio FEVEREIRO MARO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO

Tabela 1 Cronograma de Estgio Proposto

14

1.6 CRONOGRAMA DE ESTGIO REALIZADO

CRONOGRAMA DE ESTGIO REALIZADOACTIVIDADES A DESENVOLVER Preparao da estagiria para as diversas competncias, de acordo com o respectivo contedo funcional. Recolha e organizao de legislao prpria das reas de actuao, concretamente em matria de urbanismo e ambiente. Desenvolvimento de projecto para Ptio Interior do Gabinete de Obras por Empreitada da Cmara Municipal de Castelo Branco (projecto de execuo). Levantamento e anlise dos espaos permeveis relevantes para a elaborao de uma proposta esquemtica para a Estrutura Ecolgica. Desenvolvimento de projecto para o espao de recreio e lazer do Bairro das Fontainhas (projecto de execuo). Acompanhamento da instalao da vegetao relativa ao projecto para Ptio Interior do Gabinete de Obras por Empreitada da Cmara Municipal de Castelo Branco. Estruturao do relatrio de estgio. Reflexes sobre o trabalho desenvolvido ao longo do estgio na Cmara Municipal de Castelo Branco. Entrega do Relatrio de Estgio. FEVEREIRO MARO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO

Tabela 2 Cronograma de Estgio Realizado

15

2. CONCEITOS

15

2. CONCEITOS 1.7 ESPAO VERDE URBANO 1.7.1 Evoluo do conceito

A necessidade de espaos verdes 7 urbanos est relacionada com a evoluo da cidade ao longo do tempo (Magalhes, 1992). No tempo em que as cidades eram contidas por muralhas esta necessidade no se fazia sentir da mesma forma que actualmente, dada a proximidade do espao rural que as rodeava. Foi na Era Industrial, com o consequente xodo da populao rural para a cidade, que surgiu o conceito de espao verde urbano como espao que pretendia recriar a presena da natureza no meio urbano. Desde ento as necessidades tm evoludo e, com elas, a concepo de espao verde urbano (Magalhes, 1992). Com as cidades industrializadas e todos os problemas a ela associados, os espaos verdes comeam a ser pensados com dimenses suficientes para produzir o oxignio necessrio para contrabalanar os efeitos de poluio indstria, veculos motorizados, etc.- nascendo o conceito de pulmo verde (Magalhes,2001). A partir deste conceito surgem os principais parques, como o Hyde Park e o St. James Park em Londres, o Bois de Boulogne e o Bois de Vincennes em Paris e, cerca de 100 anos mais tarde, o Parque de Monsanto em Portugal (Caldeira Cabral, 2001). Mais tarde, este conceito de espao nuclear evoluiu para o de Green Belt, cintura verde, a rodear a cidade antiga e separando-a das zonas de expanso (Magalhes, 2001). Com o desenvolver destes conceitos surge o conceito de Continuum Naturale, que parte do pressuposto de que a dimenso das cidades de ento era tal que os efeitos da paisagem natural envolvente j no se faziam sentir no meio urbano (Telles, 1997).7

O conceito de espao verde diz respeito aos espaos abertos permeveis, pblicos e privados, que possuem vegetao. Existe, no entanto, uma certa polmica em torno deste conceito, havendo autores que defendem que se deve referir aos espaos verdes como espaos abertos permeveis. Contudo, um espao aberto permevel poder ou no possuir vegetao, pelo que se considera pertinente a utilizao do conceito de espao verde.

16

O continuum naturale pretende ento que a paisagem envolvente penetre no meio urbano, de modo tentacular e contnuo, assumindo diversas formas e funes que vo desde o espao de lazer e recreio ao de enquadramento de infraestruturas e edifcios, aos espaos de elevada produo de frescos agrcolas e proteco e integrao de linhas ou cursos de gua com os seus respectivos leitos de cheia e cabeceiras (Caldeira Cabral, 2001). Este objectivo conseguido com a criao de novos espaos, recuperao de espaos existentes e sua ligao atravs de corredores ecolgicos, integrando caminhos pedonais, ciclovias, equestres e vias de circulao (Smith, 1993; Hellmund, 1993).

1.7.2

Concepo do Espao Verde Urbano

Em 1966 Aloys Bernatzky, aps investigaes sobre as funes de produo de oxignio e absoro de anidrido carbnico, regularizao do estado higromtrico e da temperatura do ar, absoro e filtragem das poeiras atmosfricas, considerou que 40m2 de espao verde total por habitante seriam suficientes para satisfao das suas necessidades (Magalhes, 2001). H, no entanto, que lembrar que, para alm da aco sobre a sade fsica e mental da populao, os espaos verdes urbanos constituem um equipamento social tanto mais necessrio quanto mais densamente urbanizadas forem as reas em que se inserem. Nesta medida, torna-se necessria a definio de padres mnimos no que se refere rea mnima dos espaos verdes, distncia mxima dos utilizadores relativamente a esses espaos, e ao nmero de m2 por habitante (Magalhes, 1992). Para satisfazer os ndices globais planeados, a concepo dos espaos verdes urbanos no pode ignorar: Critrios de localizao, determinados em funo da natureza do revestimento vegetal e do tipo de actividade que vai servir de suporte; Dimensionamento, que deve ser estabelecido em funo da viabilidade econmica da manuteno desses espaos e das actividades neles previstas;

17

Caractersticas ecolgicas da regio em que se inserem, e estrutura urbana de que faro parte integrante. (Magalhes, 1992).

18

2.2 ESTRUTURA VERDE 2.2.1 Conceito

A estrutura8 verde deve ser uma sequncia contnua ou descontnua de espaos territoriais com identidade prpria, constituda a partir dos valores culturais e paisagsticos do espao natural e urbano, apoiando-se nos valores telricos primordiais do stio (Telles, 1997). O aumento significativo dos centros urbanos e a industrializao verificados nos finais do sculo XIX, despertaram o interesse e a necessidade de ordenar o espao urbano, valorizando a presena de espaos verdes pblicos, que deixam de ser vistos como elementos pontuais da cidade e passam a ser encarados como um conjunto de sistemas relacionados entre si (Telles,1997). De acordo com este pressuposto, os espaos abertos deveriam enquadrar-se no meio urbano de acordo com uma lgica, constituindo sistemas que articulassem e estruturassem o tecido urbano. No entanto, mais frequente que estes surjam na malha urbana como espaos residuais do tecido edificado, constituindo apenas um somatrio de partes desarticuladas e sem qualquer relao entre si. Como resultado dos espaos sobrantes do edificado, os espaos verdes da cidade, muitas vezes, resumem-se a parcelas to insignificantes que, apesar de quantitativamente parecerem suficientes, na realidade no apresentam as dimenses necessrias para prestar os servios adequados. Salienta-se ainda que a insuficincia de espaos verdes urbanos disseminados na cidade no pode ser compensada pela existncia de grandes reas florestais perifricas a esses centros (Magalhes, 1992). Assim, da maior importncia que os espaos verdes sejam interpretados de forma global, enquanto estrutura indissocivel da paisagem urbana onde se integram.

8

O conceito de estrutura ganha uma nova importncia nos finais do sculo XIX, e apesar de no haver uma definio nica para este conceito, so vrios os autores que defendem que este se fundamenta nas caractersticas de totalidade, de transformao e de autoregulao.Totalidade porque os elementos que constituem uma estrutura no se resumem ao mero somatrio das suas propriedades, mas ainda s relaes que estabelecem entre si; o todo constitui o resultado das relaes estabelecidas entre os elementos. Transformao, visto que os elementos da estrutura estabelecem relaes dinmicas entre eles. A auto-regulao assenta na conservao e auto-suficincia da estrutura.

19

O valor considerado desejado para a estrutura verde urbana tem em considerao a influncia dos espaos verdes no controle climtico e na purificao da atmosfera urbana, dado que o ser humano tem necessidade de uma quantidade de oxignio igual que pode fornecer uma superfcie foliar de 150m 2, o que corresponde a uma rea de 40m2 (Magalhes, 1992). Este valor diz respeito rea de toda a estrutura verde urbana, cuja base de concepo deve estar de acordo com o conceito de continuum naturale e integrar diversos tipos de espaos, hierarquizados de acordo com a situao ecolgica e funo a desempenhar. A estrutura verde urbana constituda por duas sub-estruturas: a estrutura verde principal, com um valor ideal de 30m2 por habitante, e a estrutura verde secundria, que corresponde aos restantes 10m2 por habitante (Telles, 1997). A estrutura verde principal integra os espaos verdes localizados nas situaes ecolgicas mais favorveis sua implantao e engloba as reas com maior interesse ecolgico ou as mais importantes no funcionamento dos sistemas naturais, integrando portanto as reas de RAN e REN que se localizem nas zonas urbanas e sua periferia, devendo tambm desempenhar funes urbanas (Telles, 1997). Pretende assegurar a ligao da paisagem envolvente ao centro da cidade e o enquadramento das redes de circulao viria e pedonal, integrando espaos que constituam os equipamentos colectivos verdes de maior dimenso e concepo mais naturalista (Magalhes, 1992). A estrutura verde secundria constituda por espaos pblicos adjacentes habitao, aos servios, aos equipamentos e actividades econmicas e que, devido sua utilizao diria e dirigida a todas as faixas etrias, no devem situar-se a uma distncia superior a 500m do utente (Telles, 1997). Esta estrutura estabelece uma estreita relao entre o contnuo edificado e os espaos verdes que nele se integram, tornando impossvel entend-los independentemente. A cada tipo de malha urbana, e em alguns casos de tipologia construtiva, corresponde igualmente uma tipologia de espaos abertos e uma lgica de relao entre eles com predomnio do material vegetal ou no, de maior ou menor dimenso e significado relativamente ao tecido urbano (Telles, 1997).

20

Concluindo, a Estrutura Verde no se deve cingir ao inventrio de reas livres residuais, resultantes de um processo casustico de crescimento urbano, nem resultar de um mero somatrio dos espaos verdes pontuais da cidade, desligados de uma viso global da organizao do espao urbano e sua envolvente.

2.3 ESTRUTURA ECOLGICA 2.3.1 Conceito

A Estrutura Ecolgica constitui um instrumento de planeamento, de nvel municipal ou superior, que regulamenta e rene, em delimitao espacial as ocorrncias e os sistemas naturais que, pelas exigncias decorrentes da sua resilincia ou raridade ecolgicas, devero ser objecto de normativa especfica (Telles, 1997). Esta estrutura possibilita a definio, delimitao e formalizao das transformaes que podem ocorrer nos sistemas ecolgicos e culturais, segundo critrios de aptido ecolgica, pretendendo-se assim contribuir para a manuteno da sustentabilidade, assegurando a ocupao racional do territrio e fornecendo informao relevante para a sua a gesto (Magalhes, 2001). A edificao deve ser totalmente ou parcialmente condicionada nas reas de estrutura ecolgica, visto que estas reas so as que apresentam condies ideias para a instalao da estrutura verde, podendo servir de suporte a actividades que vo desde a agricultura silvicultura e aos espaos urbanos de lazer e recreio (Telles, 1997). Nestas situaes, a implantao das actividades referidas tem menores custos quer de construo como de manuteno. De um modo geral, as componentes da Estrutura Ecolgica devem incluir: O Litoral e as zonas hmidas; As zonas ribeirinhas interiores; As zonas de cabeceira das linhas de gua e as zonas declivosas; Os solos de maior capacidade de produo de biomassa; A vegetao natural ainda existente; Os agrossistemas tradicionais. (Magalhes, 2001).

21

Associadas s componentes ecolgicas esto os usos preferenciais compatveis com as situaes ecolgicas fundamentais: Cabeos estreitos mata, vias de cumeada, eventualmente com edificao pontual; Cabeos largos edificao com macios de rvores intercalados e sebes de proteco contra os ventos dominantes e a eroso, na orla do planalto e na encosta do monte; agricultura compartimentada no caso de coexistncia com solos de elevada capacidade de produo; prado permanente eu mata; Vertentes expostas a Sul, Nascente e Poente depende do declive que no deve exceder o ngulo de talude natural, caso contrrio deve ser feita armao em socalcos ou faixas de mata alternadas com qualquer outro uso que deixe o solo a descoberto; depende tambm das caractersticas do substracto geolgico, sempre que este envolva risco de deslizamento, sendo os usos possveis a edificao com estruturas verdes transversais s encostas, agricultura de sequeiro, vinha, olival, fruteiras ou montado, dependendo do uso tipo de solo; prado permanete ou mata. Vertentes expostas a Norte mata ou agricultura de sequeiro; localizao pontual de indstria produtora de calor; Linhas de gua e margens REN, galeria ripcola e sistemas de correco torrencial; Zonas adjacentes s linhas de gua REN, eventualmente RAN; agricultura de regadio compartimentada, prado permanente, mata com espcies ribeirinhas ou espaos verdes urbanos com utilizao intensa, edificao pontual de apoio s exploraes agrcolas ou equipamentos colectivos de apoio aos espaos verdes; atravessamentos virios, preferencialmente transversais aos talvegues, em viaduto; Bacias de recepo mata de proteco ou prado; agricultura no caso de coexistncia com solos com elevada capacidade de produo de biomassa. (Magalhes, 2001).

22

2.3.2 Estrutura Ecolgica em Portugal

Em Portugal, a primeira aplicao do conceito de estrutura ecolgica aparece com a criao da Reserva Ecolgica Nacional (REN) expressa em Decreto-Lei (Decreto-Lei n. 321/83 de 5 de Julho art.1), sendo a definida como instrumento que "integra todas as reas indispensveis estabilidade ecolgica do meio e utilizao racional dos recursos naturais, tendo em vista o correcto ordenamento do territrio". J em 2008 o Decreto-Lei n.321/83 de 5 de Julho, j alterado pelo Decreto-Lei n. 93/90 de 19 de Maro e pelo Decreto-Lei n. 180/2006 de 6 de Setembro, revogado e por definio a REN passa a constituir uma "estrutura biofsica que integra o conjunto das reas que, pelo valor e sensibilidade ecolgicos ou pela exposio e susceptibilidade perante riscos naturais, so objecto de proteco especial" e composta pelas "reas de proteco do litoral, de reas relevantes para a sustentabilidade do ciclo hidrolgico terrestre e de reas de preveno de riscos naturais" (Decreto-Lei n. 166/2008 de 19 de Maro art.1, art.4).

Contudo, apenas com a Lei de Bases da Poltica de Ordenamento do Territrio e de Urbanismo e com o Regime Jurdico dos Instrumentos de Gesto Territorial, que o conceito de estrutura ecolgica enquadrado no quadro legal portugus, sendo definido como o conjunto de "reas, valores e sistemas fundamentais para a proteco e valorizao ambiental dos espaos rurais e urbanos, designadamente as reas de reserva ecolgica" (Decreto-Lei n 380/99 de 22 de Setembro art.14).

2.3.3 Importncia da Estrutura Ecolgica Urbana

A Estrutura Ecolgica Urbana est integrada na Estrutura Verde Urbana e pretende assegurar uma maior riqueza biolgica e salvaguardar os sistemas fundamentais para o equilbrio ecolgico urbano. Para isso h que criar um continuum naturale integrado no espao urbano, de modo a dotar a cidade, por forma homognea, de um sistema constitudo por diferentes bitopos e por corredores que os interliguem e sirvam de suporte vida silvestre (Telles, 1997). Cada vez mais se pretende que haja um maior equilbrio e diversidade biolgica na cidade, tendo em considerao que a vegetao: 23

Contribui para o controlo dos escoamentos hdricos e atmosfricos; Controla as temperaturas do ar, aumenta a humidade relativa, fixa e adsorve as poeiras, consome CO2 e produz oxignio, acelera as brisas de conveco e as brisas de vale e de encosta contribuindo para uma melhor drenagem atmosfrica;

Constitui um elemento fundamental na composio urbana; Faculta o contacto com os fenmenos naturais, contribuindo para o equilbrio psicofisiolgico dos citadinos. (Magalhes, 2001).

Tendo em conta os benefcios que a vegetao confere ao espao urbano deve-se ter especial ateno: Ao controlo biolgico das doenas, a aco filtrante e descontaminante da atmosfera e a criao de bioindicadores relativamente qualidade do ar; conservao do potencial de adaptao das espcies ao meio urbano e o desenvolvimento de novas variedades e mais resistentes ao seu artificialismo. (Magalhes, 2001).

2.3.4 Estrutura Ecolgica Urbana e Estrutura Verde Urbana

Cabe aqui esclarecer a diferena entre estrutura ecolgica e estrutura verde. Apesar da Estrutura Ecolgica Urbana se encontrar integrada na Estrutura Verde Urbana e, por isso, ambas desempenham funes ecolgicas, a Estrutura Verde Urbana engloba todo o espao revestido por vegetao, enquanto que a Estrutura Ecolgica Urbana constituda pelos elementos artificiais existentes no espao urbano consolidado e no espao urbano em formao, sendo que a sua funo principal assegurar o funcionamento ecolgico da paisagem num meio predominantemente edificado (Magalhes, 1992). De salientar ainda que a estrutura verde se decompe em estrutura verde principal, que corresponde estrutura ecolgica, e em estrutura verde secundria, que corresponde ao espao verde integrado no tecido edificado. Esta decomposio diz respeito a uma hierarquia aplicada apenas aos aglomerados urbanos.

24

2.4 GREENWAYS 2.4.1 Histria e Contexto Ecolgico, Social e Ldico

Os corredores ecolgicos podem apresentar-se sob diferentes formas que vo desde estreitos corredores urbanos, passando por galerias ripcolas, at grandes aos corredores da paisagem. Por volta de 1860 Frederick Law Olmsted reconhece o grande potencial dos espaos abertos lineares, planeando esses espaos, os quais designou por parkways, que permitiam a ligao entre os diferentes parques urbanos e ofereciam ao visitante uma experincia recreativa, esttica e emocional (Magalhes, 2001). Assim, nos finais do sculo XIX, os espaos abertos lineares eram planeados como parkways, quase sempre associados ao sistema de parques urbanos. Por volta dos anos 60, comeou a sentir-se necessidade de proteger os corredores ecolgicos, principalmente ao longo de cursos de gua, onde o potencial gentico e a biodiversidade so consideravelmente elevados (Smith, 1993; Hellmund, 1993). Todos os corredores apresentam caractersticas bsicas em comum, no entanto, a diversidade, tipos e formas dos corredores, associadas s diferenas geogrficas resultam em diferentes gneros de corredores, que por sua vez desempenham diferentes funes, quer ecolgicas como sociais. Ecologicamente desempenham funes de protegeco de reas naturais, contribuindo para a reduo dos efeitos da fragmentao de habitats terrestres e aquticos. De uma perspectiva social, proporcionam reas de recreio e contribuem para a qualidade cnica da paisagem. A perda e a fragmentao dos espaos naturais ou prximos do estado natural so um problema actual, para o qual os corredores ecolgicos se apresentam como forma de mitigao. Este problema est geralmente associado, a actividades humanas como a agricultura moderna de carcter industrial, a construo de vias de circulao, a expanso desordenada das periferias urbanas e as prprias cidades que, geralmente, limitam o crescimento ordenado do espao urbano e contribuem para a sua disperso. Este facto, para alm de reduzir, quer em dimenso quer em quantidade, as reas 25

naturais ou prximas do estado natural que restam, contribui ainda para a fragmentao de habitats, conduzindo perda progressiva das suas funes ecolgicas (Smith, 1993; Hellmund, 1993). O conceito de greenbelt, cintura verde, foi desenvolvido por Benton MacKaye (1928), que props sistemas de espaos abertos arborizados que would form a linear area, or belt around and throught the locality. A sua inteno ia alm de circundar a cidade de espaos verdes como meio de evitar a disperso e o crescimento urbano, passando tambm por definir reas mnimas para os corredores ecolgicos e ainda por implementar o recreio como uso primrio destas open ways, como ele os designava (Smith, 1993; Hellmund, 1993). 2.4.2 Conceito e tipologias

O termo greenway9 refere-se a espaos abertos ou reas naturais que se apresentem de forma linear na paisagem. Charles Little (1995) apresenta uma definio abrangente para este conceito: a greenway is a linear open space established along either a natural corridor, such as a riverfront, stream valley, or ridgeline, or overland along a railroad right-of-way converted to recreational use, a canal, a scenic road, or other route. Salienta ainda que os corredores ecolgicos funcionam como elos de ligao entre diferentes espaos abertos, estabelecendo ligaes entre parques, reservas naturais, stios com interesse histrico e cultural e reas urbanizadas. Esta definio remete para a diversidade de tipologias dos corredores ecolgicos e para multiplicidade dos seus usos (Smith, 1993; Hellmund, 1993). De um modo geral, as funes dos corredores ecolgicos esto associadas ao recreio e conservao da natureza. Os corredores ecolgicos de recreio podem apresentar um carcter mais rural, incluindo trilhos pedonais ou ciclovias e, por vezes, reas destinadas a desportos organizados e outras actividades de grupo; ou um carcter mais urbano, como o caso

9

Literalmente, a traduo do termo greenway remete para o conceito de corredores verdes, no entanto, considerando as funes que lhes esto associadas considerou-se mais correcta a designao de corredores ecolgicos ou naturais.

26

dos parques urbanos ou dos corredores humanizados tais como caminhos-de-ferro abandonados. Quanto aos corredores naturais mais direccionados para a conservao da natureza, mais provvel que se estabeleam em reas rurais. Os corredores ecolgicos podem apresentar-se quer como elementos naturais da paisagem, como galerias ripcolas, quer como associados a estruturas construidas pelo homem, como o caso de estradas, ciclovias ou caminhos-de-ferro abandonados. Little (1995), no seu livro Greenways for America defende a existncia de cinco tipos de greenways: os corredores fluviais, os recreativos, os ecolgicos, os cnicoshistricos e as redes de corredores ecolgicos polivalentes. 1."Rios urbanos" ou corredores fluviais, que contribuem para a humanizao da cidade. Este tipo de corredor promove, normalmente, um processo de redescoberta de um rio (frequentemente negligenciado) e a sua devoluo cidade; 2. Corredores naturais, vias frreas abandonadas e caminhos existentes, que proporcionam cidade novas formas de recreio e melhores acessos a reas naturais, com ligaes a grandes distncias; 3. De carcter ecolgico, geralmente ao longo de linhas de gua e de linhas de festo, unindo manchas de paisagens naturais que ainda existam, evitando assim o seu isolamento e mantendo a diversidade biolgica e o equilbrio ecolgico; 4. Percursos histricos panormicos, geralmente ao longo de estradas ou cursos de gua; os mais representativos podero apresentar acesso pedonal. 5. Sistema ou redes de corredores ecolgicos de acordo com as formas naturais do terreno, como festos e vales, ou ainda formados por um conjunto de eixos verdes criados por uma estrutura verde existente quer escala municipal quer escala regional.

27

2.4.3 Funes

De uma forma abrangente, as principais funes dos

corredores ecolgicos

apresentam-se como funes de carcter ecolgico, social ou tico-ambiental. Funes Ecolgicas Os greenways desempenham importantes funes ecolgicas. Para comear, pelo simples facto de contribuem para a proteco e conservao das reas naturais, providenciando habitats para plantas e animais, tanto em meio aqutico como terrestre. As galerias ripcolas so particularmente importantes porque integram uma grande diversidade de habitats numa rea relativamente pequena. As funes ecolgicas dos greenways no se limitam proteco das reas naturais. Quando ocupam uma rea expressiva, podem contribuir para contrariar o calor excessivo das cidades densamente edificadas, atravs do ensombramento e da evapotranspirao da vegetao, factores que contribuem para o arrefecimento do ar. Para alm disso, a vegetao que constitui os corredores desempenha um papel importante no que diz respeito qualidade do ar do meio urbano, filtrando alguns gases com efeito de estufa, provenientes, sobretudo, da poluio automvel (Smith, 1993; Hellmund, 1993). Os corredores ecolgicos estabelecem ligaes entre as manchas10, funcionando como vias de circulao de indivduos, reduzindo os efeitos negativos da fragmentao e favorecendo a homeostasis (Kendle, 1997; Forbes, 1997). A grande escala e a longo prazo, os corredores naturais podem ajudar comunidades biticas a adaptar-se a alteraes climticas, permitindo a migrao de plantas e animais ao longo de gradientes.

10

Na ecologia da paisagem, Forman e Godron (1981) desenvolveram o modelo patch-corridor-matrix para descrever os padres e processos das paisagens, que servira posteriormente de base para a aplicao da ecologia ao planeamento. O modelo prope uma distino entre os diferentes elementos que compem uma paisagem: a matriz (matrix), as manchas (patches) e os corredores ou elementos lineares (corridors). O conjunto das manchas constitui um mosaico e o conjunto dos corredores uma rede. A disposio espacial do mosaico e das redes constitui o padro da paisagem. As manchas correspondem a uma rea homognea no linear, que se distingue da envolvente. Os corredores so definidos como estreitas faixas que diferem da matriz em ambos os lados. Podem ser tiras isoladas, mas esto geralmente ligadas ao mesmo padro de vegetao. A matriz o pano de fundo, corresponde ao elemento da paisagem mais extenso e comum, desempenhando um papel fundamental no seu funcionamento. o elemento estruturante que atribui paisagem a sua fisionomia geral.

28

A proteco da qualidade da gua, funo indissocivel dos corredores ecolgicos, importante no s para as pessoas como crucial para a existncia de organismos e comunidades aquticas saudveis. A vegetao ripcola contribui para a preservao destas comunidades proporcionando sombra que baixa a temperatura da gua, aumentando a oxigenao e produzindo matria orgnica que serve de alimento a animais. Para alm disso facilita a criao de estruturas aquticas diversas e dinmicas como riffles ou quedas de gua (Kendle, 1997; Forbes, 1997). Funes Sociais De todos os benefcios associados aos greenways, o recreio , sem dvida, o que recebe mais ateno. O crescimento de uma populao urbana com um significativo tempo de lazer, associado a uma, cada vez maior, preocupao com a sade, conduziu a uma procura por actividades fsicas exteriores como o caminhar, o ciclismo, o jogging, entre outros. No coincidncia que este interesse pelo recreio exterior tenha surgido em simultneo com o crescente interesse pelos corredores verdes, uma vez que estes esto muita vez associados a muitos desportos de exterior. Os corredores levam sempre a algum lado e permitem a ligao com outros corredores que conduzem ainda a mais locais. Ora, exactamente isto que ciclistas e outros desportistas pretendem. O facto de, na maior parte dos casos, os corredores se localizarem ao longo de margens de rios ou outros cursos de gua reala ainda mais o seu carcter esttico e recreativo (Smith, 1993; Hellmund, 1993). Assim, os corredores so planeados, geralmente, para o recreio, visto que o benefcio mais imediato e tangvel para as pessoas. Existem, no entanto, outros benefcios sociais igualmente importantes. Tal como parques ou outras reas naturais, os corredores acrescentam um valor esttico paisagem. Geralmente desenvolvem-se ao longo de corredores fisiogrficos naturais, como rios ou cumes, que tm uma importncia histrica e cultural (Kendle, 1997; Forbes, 1997). Os greenways permitem um agregar de comunidades atravs da ligao de parques, locais histricos, reas residenciais e comerciais, permitindo populao deslocar-se de local para local evitando a confuso e rudo do trnsito.

29

Para finalizar, quando desenhados para limitar cidades, os corredores ecolgicos funcionam como greenbelts que ajudam a manter as caractersticas especficas do espao urbano e do espao rural. Funes tico-ambientais A natureza desempenha funes imprescindveis ao homem e influencia a sociedade como um todo (Smith, 1993; Hellmund, 1993). Os corredores ecolgicos so ento um ponto fulcral para as interaces entre o homem e a natureza, dado que providenciam populao em geral a oportunidade de contactar com a natureza perto de casa e regularmente. Isto remete para a importncia que os corredores ecolgicos e outras tipologias de espaos abertos tm para uma consciencializao ambiental da sociedade.

30

3. CARACTERIZAO DO PERMETRO URBANO DE CASTELO BRANCO

30

3

CARACTERIZAO DO PERMETRO URBANO DE CASTELO BRANCO 3.1 TERRITRIO EM ESTUDO - LOCALIZAO

Imagem 1 Localizao de Castelo Branco no Territrio Nacional(Fonte: www.aeportugal.pt)

Castelo Branco situa-se na Regio Centro, na Beira Baixa e subregio da Beira Interior Sul. sede de um dos maiores municpios portugueses, correspondendo a uma rea de 1 440 km2 e possui cerca de 53 900 habitantes. O Municpio limitado a Norte pelo Fundo, a Leste por Idanha-a-Nova, a Sudoeste por Vila Velha de Rdo e a Oeste por Proena-a-Nova e Oleiros. O Concelho de Castelo Branco composto por 25 freguesias.

31

3.2 EVOLUO DO TECIDO URBANO

Imagem 2 - Evoluo do Tecido Urbano da Cidade de Castelo Branco(Fonte: Plano de Urbanizao com informao relativa evoluo do tecido urbano complementada por Catarina Branco)

Na poca Medieval, a cidade de Castelo Branco desenvolvia-se na encosta do castelo, localizado no ponto mais alto, apresentando um domnio visual sobre a cidade e sua envolvente. A malha urbana, com origem nessa poca, caracteriza-se por ser bastante densa, com arruamentos estreitos e poucos espaos abertos pblicos. No entanto, quase todas as habitaes possuiam quintais ou logradouros, assegurando as necessidades de espaos abertos permeveis no tecido urbano.

Imagem 3 - Arruamentos no Centro Histrico; perceptvel a reduzida largura das ruas, geralmente, apresentando apenas um sentido de circulao automvel ou destinando-se exclusivamente ao uso pedonal; construo em que predominam os dois pisos.(Fonte: Catarina Branco)

32

At cerca de 1970, o tecido urbano evoluiu em torno da encosta do castelo, exceptuando-se a estao de caminho-de-ferro, localizada mais a Sul. A malha urbana correspondente a esta poca, apesar de continuar a ser densa caracteriza-se por arruamentos mais largos que permitem arborizao em pelo menos um dos lados da rua e uma maior quantidade de espaos abertos pblicos como largos, praas e jardins, geralmente associados presena de patrimnio, nomeadamente o Convento dos Frades Agostinhos, a Quinta do Pao Episcopal, a Igreja do Esprito Santo, a Igreja de N Sr. da Piedade, a Igreja de S. Miguel, o Convento de St. Antnio, a Igreja do Convento da Graa e a Igreja de S. Marcos.Imagem 4 - Localizao do Patrimnio Construdo considerado mais relevante para a caracterizao da cidade(Fonte: Lopes, 2002 pp.62)

nesta zona que se localiza a generalidade dos servios educao, sade, administrativos, comrcio, etc. A zona industrial comeou a desenvolver-se por volta de 1990 a Oeste da cidade e foi implantada numa rea predominatemente plana, com acessos prprios, constituindo por isso um ncleo independente da cidade.

Imagem 5 - Zona Industrial; num primeiro plano surgem habitaes associadas a novos bairros que procuram articular-se com o restante tecido urbano; num plano intermdio e mais isolado da Zona industrial localiza-se um ncleo comercial;da plano A par do desenvolvimento desta zona foram surgindo outros bairros que, apesar num mais recuado encontra-se a zona industrial como ncleo independente da cidade. (Fonte: Catarina Branco)

sua localizao, procuram articular-se com o restante tecido urbano.

H que salientar que a cidade planeada no se teria desenvolvido para l da linha de caminho-de-ferro, caso no tivessem surgido bairros clandestinos. Houve, portanto, a necessidade de criar infraestruturas que permitissem salvaguardar a qualidade de vida 33

da populao residente nesses bairros que, no sendo dotados de servios pblicos, funcionam, geralmente, como dormitrios. Actualmente, no Plano Director Municipal11, esto contemplados o Plano de Urbanizao12 de Castelo Branco e Planos de Pormenor13. A articulao dos bairros de gnese clandestina com o PDM, diz respeito s reas Urbanas a Recuperar definidas como as reas destinadas recuperao de reas clandestinas e ou degradadas existentes na periferia de Castelo Branco e que no foram abrangidas pelo Plano de Urbanizao da Cidade. (Resoluo do Conselho de Ministros 66/94, de 13 de Setembro; Seco III, artigo 35, 1). Para as reas correspondentes aos bairros de gnese clandestina foram, portanto, elaborados Planos de Pormenor.

11

O Plano Director Municipal (PDM), estabelece um modelo de estrutura espacial do territrio municipal, constitui uma sntese estratgica do desenvolvimento e ordenamento local, integra as opes de mbito nacional e regional. A sua elaborao obrigatria.12

Plano de Urbanizao (PU), define a organizao espacial de uma determinada parte do territrio municipal, que exija uma interveno integrada de planeamento nomeadamente a definio da rede viria estruturante, localizao de equipamentos de uso e interesse colectivo, a estrutura ecolgica, o sistema urbano de circulao e transportes, o estacionamento, etc.13

O Plano de Pormenor (PP), desenvolve e concretiza propostas de organizao espacial de qualquer rea especfica do municpio, define com pormenor a forma de ocupao e serve de base aos projectos de execuo das infra-estruturas, da arquitectura dos edifcios, etc., tendo em conta as prioridades estabelecidas no PDM e, eventualmente, no PU.

34

3.3 SNTESE FISIOGRFICA

Imagem 6 - Sntese Fisiogrfica correspondente Cidade de Castelo Branco(Fonte: Catarina Branco)

35

Hipsometria Com as cartas hipsomtricas pretende-se uma melhor percepo do relevo atravs da explicitao de zonas compreendidas entre curvas de nvel zonas hipsomtricas de cotas significativas para a definio de aspectos morfolgicos e de zonamento. A escolha destas curvas que limitam as zonas hipsomtricas varia de caso para caso, dependendo fundamentalmente da escala da carta, do relevo existente e da finalidade do estudo (Cancela dAbreu, 1977). Neste caso foram definidas classes hipsomtricas de 20 em 20m. Constata-se a presena de trs pontos dominantes correspondendo a importantes acidentes morfolgicos, associados respectivamente, ao castelo, ao Barrocal e, num plano mais longquo, ao monte de So Martinho. O restante tecido urbano desenvolvese maioritariamente entre os 360 e os 420m.

Linhas Fundamentais do Relevo A marcao das linhas fundamentais do relevo duma dada regio festos e talvegues permite uma interpretao fisiogrfica quase paralela, por assim dizer, ao seu funcionamento orgnico. A configurao anatmica que ressalta pe em evidncia o prprio sistema circulatrio e esclarece, at um certo ponto, o processo dos circuitos, sendo o mais evidente o diz respeito Circulao Hdrica (Cancela dAbreu, 1977). A representao das linhas fundamentais do relevo festos e talvegues permitir tambm fazer uma srie de interpretaes relacionadas com hidrologia, clima e microclima, percepo da paisagem, etc. As linhas de festo e de talvegue quando se interceptam determinam pontos nos quais se concentram os fluxos pontos notveis da paisagem ou seja, centros de acumulao dos fluidos. Os plos destes circuitos so designados por centros de encontro e centros de distribuio, e correspondem, respectivamente, ao desaguar dum vale ou confluncia com outro vale, e ao colo, desfiladeiro ou um ponto de intercepo de festos (Cancela dAbreu, 1977).

36

Imagem 7 Bacia Hidrogrfica do Tejo(Fonte: http://www.arhtejo.pt)

A rea em estudo pertence bacia hidrogrfica do Tejo, tendo-se identificado como principais linhas de gua o rio Ocreza (a Oeste da cidade), a Ribeira da Lria (afluente do rio Ocreza) e o Rio Ponsul (a Este da cidade).

37

Imagem 8 Principal centro de distribuio identificado na rea em estudo(Fonte: Catarina Branco)

O principal centro de distribuio da cidade de Castelo Branco corresponde zona de implantao do castelo, desenvolvendo-se a malha urbana, principalmente, pelas encostas Nordeste e Sudeste.

Declives Esta anlise permite uma caracterizao com mais pormenor e objectividade, por introduzir o factor quantitativo interpretao do relevo. Os declives das encostas so marcados segundo diversas abordagens como os riscos de eroso do solo, drenagem natural hdrica e atmosfrica facilidade de implantao de estruturas e infraestruturas, entre outras (Cancela dAbreu, 1977). As classes de declives utilizadas para cada caso dependem da escala em que se efectua a pesquisa e da equidistncia correspondente, do acidentado do terreno e dos objectivos do estudo.

38

Para este caso utilizou-se a seguinte classificao de declives: - Zonas planas: 0 a 8%; - Zonas onduladas: 8 a 16%; - Zonas de ondulado a acidentado: 16 a 25%; - Zonas declivosas: > 25%.

Conclui-se que h um dominio das zonas planas, sendo que as zonas onduladas apresentam tambm alguma expresso.

39

3.4 USO ACTUAL DO SOLO

Foi utilizada a carta agrcola 292 (Ver Anexo 3.1), correspondente cidade de Castelo Branco e sua envolvente, actualizada em 1968. Dada a evoluo da cidade, estes dados foram cruzados com a fotografia area mais recente (1999) e ainda com visitas ao local, de modo a que a informao apresentada seja o mais coerente com a realidade possvel (Ver Anexo 3.2).

Imagem 9 - Carta do Uso Actual do Solo(Fonte: Google Earth com informao relativa aos usos do solo complementada por Catarina Branco)

Da anlise do uso actual do solo conclui-se que na envolvente da cidade se verifica um predomnio de culturas arvenses de sequeiro e olival na envolvente da cidade. De um modo geral, as diferentes parcelas das culturas de sequeiro so separadas por sebes de compartimentao. Dentro do permetro urbano verificam-se algumas culturas agrcolas de sequeiro associadas a quintas, assim como vestgios de montado ou pinhal bravo e ainda pequenas reas de olival. 40

Verifica-se a existncia de alguns corredores de vegetao arbreo-arbustiva associados a linhas de gua e a eixos de circulao que deveriam ser integrados na Estrutura Ecolgica.

41

3.5 EQUIPAMENTOS E SERVIOS LOCALIZAO E RELAO NA CIDADE

42

3.6 ESPAOS ABERTOS PERMEVEIS DA CIDADE E PRINCIPAIS EIXOS DE CIRCULAO

43

3.7 UNIDADES MORFOLGICAS

A influncia da paisagem, em termos morfolgicos, situa-se principalmente a nvel da sua localizao, topografia, exposio solar e elica, da qualidade e aptido do seu solo e subsolo; e da composio da paisagem. Estes dados influenciam: as grandes distribuies de cheios e vazios das edificaes; a definio genrica das tipologias do edificado e ds formas de agregao das mesmas; o traado das infraestruturas, nomeadamente a infraestrutura viria; a composio urbana; a legibilidade do espao resultante da configurao topogrfica e caractersticas da paisagem. (Pereira, 1983).

A cidade um sistema com organizao de conjunto, funes integradas, mas tambm a justaposio de stios, de pequenos ambientes e, nesse sentido, depende da qualidade das partes (Costa Lobo, 1998). A definio de unidades morfolgicas resulta de uma leitura do tecido urbano onde ressalta a configurao do aglomerado urbano, ou seja, a sua forma conjugada topografia que a condicionou. Em Castelo Branco, no que respeita ao espao rural foram identificados elementos com forte carcter identitrio. No entanto, dada a sua reduzida dimenso, no foram considerados como Unidades Morfolgicas, destacando-se apenas como elementos de carcter rural: - Parque Botnico da Escola Superior Agrria; - Monte de S. Martinho; - Barrocal; - Ermida de N Sr. de Mrcoles.

44

Fonte: www.esa.ipcb.pt

Fonte: www.cm-castelobranco.pt

Fonte: Catarina Branco

Fonte: Catarina Branco

Imagem 12 Elementos de Carcter Rural. De cima para baixo e da esquerda para a direita: Parque Botnico da Escola Superior Agrria; Monte de S. Martinho; Barrocal; Ermida de Nossa Sr. de Mrcoles.

No que respeita ao espao urbano distinguem-se as seguintes unidade morfolgicas, com caractersticas marcadamente distintas e uma fraca articulao destas: Unidades Morfolgicas Urbanas: - Zona Histrica; - Zona Urbana Consolidada; - Zona Urbana No Consolidada; - Zona Industrial.

Imagem 13 - Unidades Morfolgicas(Fonte: Lopes, 2002 pp.73)

45

Zona Histrica Este sector da cidade, designado por Zona Histrica, remete-nos para o ncleo primrio que deu origem ao aglomerado urbano. Este, implantado no topo da colina de S. Gens foi orientando o seu crescimento na ngreme encosta nascente desta. Como acontece noutros povoamentos de origem medieval com condicionantes naturais semelhantes, a vila que aqui germinou apresenta um traado orgnico que remete para um crescimento faseado, ajustado s necessidades ditadas por um crescimento demogrfico irregular. portanto uma unidade com forte carcter identitrio, dada a homogeneidade do conjunto, ao nvel da sua estrutura fsica, expresso arquitectnica e demais caractersticas, como o caso do pavimento em calada de granito. Formalmente, a Zona Histrica apresenta uma malha urbana marcada por arruamentos estreitos e pela falta de espaos abertos pblicos, sendo que estes se resumem a alguns largos resultantes da convergngia de ruas. Estes largos, com uma rea reduzida e formas irregulares, apresentam o mesmo tratamento que as ruas que os articulam, sem qualquer elemento que traduza desgnios diferenciados para a sua utilizao (Lopes, 2002).14 Na Zona Histrica, espao aberto pblico com maior expresso a Praa de Cames (antiga Praa Velha), que se caracteriza por apresentar rectangular, uma delimitada planta por

edifcios apalaados, que denota um planeamento deste espao.Imagem 14 - Praa Cames; repare-se na sua forma rectangular limitada por edifcios com grande qualidade arquitectnica o que, associado dimenso da mesma no esquecer que se localiza no centro Histrico - remete para importncia que esta praa teve em tempos; actualmente um espao aberto da cidade sem vida social.(Fonte: http://castelobrancocidade.blogspot.com/2009/11/pracacamoes.html)

Apesar

dos

espaos

abertos

pblicos se encontrarem bastante dispersos pela malha urbana e

completamente pavimentados, a existncia de inmeros logradouros associados ao

14

Plano de Estrutura Verde de Castelo Branco. Contributo para uma nova vivncia. Trabalho de Fim de Curso. Universidade de vora.

46

edificado pontua visualmente os percursos, criando contrastes que amenizam a subida at ao castelo, proporcionando uma dinmica muito valorizada do conjunto. No topo desde conjunto encontram-se as runas do Castelo dos Templrios, com uma envolvente densamente arborizada e um domnio visual sobre a cidade e a envolvente. de salientar, no entanto, que apesar da reduzida dimenso da maioria, os espaos abertos pblicos da Zona Histrica prefazem um total de 9% da rea total de espaos abertos pblicos da cidade. A rea de enquadramento ao

Castelo a que mais contribui para este valor.

Imagem 15 - Zona Histrica(Fonte: Lopes, 2002 pp.80)

Zona Urbana Consolidada A partir do sculo XVI, o crescimento urbano conduzido para fora do permetro muralhado. Este crescimento processou-se sem qualquer planeamento, distribuindose na envolvncia aos pontos de gua, como poos e chafarizes. As diferentes frentes de crescimento urbano foram consolidadas com o abastecimeno pblico de gua canalizada, que conduziu a um perodo de requaloficao urbana que remodelou a cidade. neste perodo que so construdas as principais avenidas, que funcionam como eixos estruturais que levaram consolidao do tecido urbano e orientao do crescimento da cidade, imprimindo-lhe uma nova dinmica de expanso. A partir daqui, o crescimento da cidade feito de uma forma que segue um modelo radial. A rea com maior actividade administrativa, social e comercial assume uma

47

forma tentacular, polarizada no Centro Cvico e que se dissemina ao longo das avenidas principais. nesta unidade que se localizam os espaos abertos pblicos com maior expresso na cidade, sendo as tipologias mais frequentes: praas, largos, pracetas, avenidas e parques de estacionamento. De um modo geral, so espaos onde o carcter identitrio se foi diluindo face aos constragimentos causados pela circulao automvel. Neste processo de descaracterizao da cidade, a circulao pedonal a que se v mais afectada, seja pela falta de segurana ou conforto oferecidos. A arborizao de arruamentos um aspecto com reduzida expresso na cidade, quando este constitui um dos elementos com maior influncia no conforto ambiental, para alm da valorizao esttica e perceptual que confere.

Zona Urbana No Consolidada Esta unidade morfolgica constituda principalmente pelas periferias urbanas, monofuncionais. Grande parte das urbanizaes aqui existentes tiveram uma gnese ilegal, colando-se ao aglomerado urbano ou aos principais acessos a este. Estes sectores foram resultado da especulao imobiliria numa dinmica do lucro imediato, sem contemplar a qualidade esttica e ambiental do conjunto (Lopes, 2002). A carncia de espaos pblicos e a ausncia de elementos que imprimam um carcter identitrio e dignifiquem estes sectores, cria um contexto que contribui para a falta de vivncia efectiva destas zonas. Recentemente tentou-se contrariar esta tendncia, atravs da criao de espaos verdes de enquadramento com algum equipamento infantil, juvenil e desportivo e mobilirio urbano. No entanto, estas medidas isoladas no so suficientes, pois a cidade constituida pela diversidade de tipologias nela presentes. Os espaos identificveis como a praa, a rua, o jardim, o impasse, etc., tm no s virtudes arquitectnicas e a capacidade de gerarem vida urbana, como de serem identificveis e compreendidos por quem habita a cidade ( Lamas, 2000). As entradas da cidade apresentam uma falta de coerncia urbanstica onde no existem hierarquias ou referncias que facilitem a fluidez do trnsito. Foram feitos algumas intervenes pontuais, como o caso da rotunda Europa (entrada nascente) e 48

da rotunda Milnio (entrada Sul), que resultaram em elementos isolados de aco localizada.

Zona Industrial Localiza-se a Sul do aglomerado urbano, encontrando-se fisicamente separado deste pelo IP2. Esta unidade morfolgica caracteriza-se pela sua estrutura fsica reticulada, em que a total ausncia de referncias e hierarquias contribui para um cenrio montono e desagradvel. No existe uma articulao coerente desta unidade com a cidade.

49

3.8.1

3.8 PROGRAMAS EM IMPLEMENTAO Programa Polis e Programa Castelo Branco 2020

O Programa Polis na cidade de Castelo Branco compreende a requalificao e a revitalizao do centro cvico e histrico, atravs de vrias intervenes no espao pblico. A recuperao de ruas e a constituio de novas praas; o estacionamento subterrneo com vista a restringir o trfego e o desordenado estacionamento superfcie; e, consequentemente, a pedonalizao de algumas ruas so algumas das linhas orientadoras das aces a adoptar.

Imagens 16, 17 e 18 Largo da Devesa antes e depois da interveno do Programa Polis; perceptvel a alterao da tipologia deste espao de estacionamento e circulao automvel para espao de estadia destinado a uso pedonal que veio contribuir para a valorizao desta zona, conferindo uma leitura muito mais clara do espao e uma adequao dos usos e funes ao espao.(Fonte: 27) e 28)http://www.rux-werx-here.net/site/werx/POLIS/polis_cb_index.html); 29) Catarina Branco)

Esta interveno contempla ainda a possibilidade de demolio integral de um edifcio volumoso e sem qualquer qualidade arquitectnica no Centro Histrico, para a correco da silhueta urbana de Castelo Branco.

Imagens 19 e 20 Edifcio Telecom no Centro Histrico localizado na Praa Postiguinho Valadares e Projecto de Requalificao da Praa Postiguinho Valadares aps a demolio do edifcio; evidente o impacte causado por este volume que vem quebrar a leitura contnua da malha urbana do Centro Histrico.(Fonte: 30) Catarina Branco; 31) http://www.rux-werx-here.net/site/werx/POLIS/polis_cb_index.html)

50

Apesar disto e at data, mantm-se o volumoso edifcio da Telecom limitando-se a interveno implementao de um elemento de gua e distribuio de mobilirio urbano.

Imagem 21 Situao Actual da Praa postiguinho Valadares; a interveno, a nvel do espao pblico remeteu-se implementao de um elemento de gua e distribuio de mobilirio urbano.(Fonte: www.cm-castelobranco.pt)

Dentro desta linha de interveno destacam-se ainda: Requalificao e valorizao do espao pblico no centro cvico e na zona histrica

com a constituio da Praa da Devesa, da Praa Acadmica e da Praa Postiguinho de Valadares; Criao de parques de estacionamento subterrneo; Requalificao da zona verde do Castelo, do Miradouro de S. Gens, do Parque da

Cidade/Jardim dos Loureiros e do Jardim do Pao; Reestruturao viria do centro cvico Largo da Devesa e centro histrico; Requalificao do espao pblico, incluindo mobilirio urbano, sinaltica e

equipamento urbano; Criao de um centro de interpretao e monitorizao ambiental15.

15

Programa Polis in http://www.rux-werx-here.net/site/werx/POLIS/polis_cb_index.html

51

Imagem 22 Praa do Municpio aps interveno do programa Polis; a construo de estacionamento subterrneo e o desvio do trnsito para tneis subterrneos foram factores determinantes para a requalificao deste espao pblico onde, o trnsito e o estacionamento casusticos deram lugar a uma rea de estadia aprazvel destinada, quase exclusivamente, ao uso pedonal. (Fonte: Catarina Branco)

Imagem 23 Vista do Castelo para o Jardim do Pao e Parque da Cidade; chama-se especial ateno para a expresso dos quintais e logradouros existentes no Centro Histrico que asseguram a leitura contnua dos espaos verdes na densa malha urbana. (Fonte: Catarina Branco)

Nos finais da dcada de 90, por iniciativa da Cmara Municipal de Castelo Branco, foi realizado o estudo Castelo Branco 2020: Uma Viso para a Cidade, Um Programa de Aces Mobilizadoras, apresentado em Maro de 2000 em sesso pblica. O programa Castelo Branco 2020 constitudo por um conjunto limitado de intervenes mobilizadoras de um processo de regenerao da cidade, no sentido da recuperao da funcionalidade, da imagem e do ambiente urbano. Estes atributos tm o objectivo de conferir uma maior competitividade a Castelo Branco nos domnios em que interessa projectar a cidade e que devem ter como propriedades prioritrias a robustez e o bom nvel de remunerao, quer sejam indstrias, comrcio ou servios, do sector pblico ou do sector privado.

52

Imagem 24 - Programa de Aces Mobilizadoras do Estudo Castelo Branco 2020(Fonte: Geografia de Portugal Planeamento e Ordenamento do Territrio; pp.250)

O programa aponta cinco caminhos para a valorizao de Castelo Branco: 1. valorizar a memria, atravs da interveno no centro histrico; 2. recuperar a urbanidade, intervindo no tecido urbano consolidado; 3. recentrar a cidade, criando um novo centro cvico intermodal; 4. recuperar a identidade, valorizando as portas a cidade e espaos pblicos; 5. qualificar a cidade exterior, intervindo nas periferias.

A principal fragilidade de Castelo Branco reside na falta de qualidade urbanstica, traduzida em mltiplas carncias: ausncia de um centro cvico e social identificado pela populao; falta de qualidade arquitectnica generalizada; desqualificao dos espaos pblicos; falta de aproveitamento de oportunidades de interveno urbanstica no interior da cidade consolidada.

53

3.8.2

Programa Polis e Programa Castelo Branco 2020 A Viso de 2010

Aproximadamente 10 anos aps o incio destes programas de recuperao urbana e dos objectivos a que estes se propunham, cabe fazer uma avaliao da situao actual. Salientam-se alguns aspectos positivos, como a interveno no Largo da Devesa, que veio beneficiar bastante com a construo do tnel e parque de estacionamento subterrneo, libertando aquela zona do trnsito que se fazia sentir, tornandoa pedonal, e permitindo a criao de um espao aberto permevel com alguma qualidade. No entanto, a construo de parques de

estacionamento subterrneos vista tambm como um aspecto negativo na medida em que contribui para o aumento do trnsito no centro da cidade. Destaque tambm para as intervenes geralmente, em naImagem 25 Alinhamentos Arbreos na Av. Nuno lvares; a presena da vegetao aliada dimenso dos passeios confere a esta avenida um carcter muito particular e permite ao utilizador uma melhor fruio deste espao.(Fonte: Catarina Branco)

arruamentos,

consistindo,

requalificao dos passeios, aumento das dimenses de caldeiras das rvores melhorando a sua

qualidade de vida - e, em alguns casos, plantao de alinhamentos arbreos. Este factor vem contribuir para uma maior aproximao escala humana e para uma melhor amenidade climtica. A interveno na Zona Industrial apresenta aspectos positivos, uma vez que possvel uma leitura hierrquica dos principais arruamentos, no entanto, em relao ao enquadramento de infraestruturas e ligaes com a cidade a situao continua negativa. Considera-se que as intervenes no espao pblico denotam uma severa falta de sombra e um uso excessivo de granito tendo em conta o clima da cidade de Castelo Branco.

54

Imagem 26 Intervenes no Espao Pblico Urbano; notria a carncia em sombras e o uso excessivo de granito.(Fonte: Catarina Branco)

Quanto Zona de Lazer localizada prximo da Zona Industrial, constitiu um dos maiores espaos pblicos permeveis da cidade e considera-se que a sua localizao veio potenciar uma parte da cidade que no dispunha, ainda, de

equipamento de carcter ldico e desportivo com a excepo da piscina que funciona apenas nos meses de Vero. No entanto, verificaram-se alguns pontos

negativos, como a falta de vegetao ripria associada lagoa que contribui para a estabilizao das margens e Imagem 27 Elemento de potencia o aparecimento de novos habitats ou a Lazer. (Fonte: Catarina Branco) exposio de antigas sadas esgotos que ficaram esquecidas e conferem um aspecto degradado ao espao. Estes programas so vistos como um incentivo recuperao e valorizao urbana. No entanto, deveriam fazer uma abordagem mais global ao invs de se focarem em situaes particulares, de modo a evitar erros do passado. Um exemplo desta situao o contraste entre a medida preconizada pelo programa Polis, que visa a demolio de um volumoso edifcio no centro histrico para a criao uma Praa (Ver imagens 19 e20, pp.50) e a urbanizao, em prdios de vrios andares, da encosta Sul da Colina dodegradao esttica da Zona de

Castelo, que contribui para a degradao da sua morfologia natural e do perfil da cidade.

55

Considera-se portanto que, apesar destes programas demonstrarem boas intenes, os interesses da especulao imobiliria continuam a prevalecer, em parte devido falta de um planeamento que se fundamente nos instrumentos legislativos que o suportam.

56

3.9 ESTRUTURA VERDE URBANA 3.9.1 Diagnstico

A cidade de Castelo Branco, apesar de ser considerada uma cidade que nos ltimos anos tem vindo a apresentar um grande desenvolvimento, no possui ainda um projecto de estrutura verde.

Imagem 28 - Vista do Castelo para o centro da cidade; destaque para a expresso visual da Av. Nuno lvares assim como do Monte de S. Martinho ao fundo. (Fonte: Catarina Branco)

Aps a anlise das imagens 18 e 19, apresentadas anteriormente, concluiu-se que a cidade de Castelo Branco apresenta srias deficincias no que respeita a espaos permeveis de carcter pblico e semi-pblico.

Imagem 29 - Vista do Castelo para a entrada Norte da cidade; repare-se na proximidade do espao rural e na forma como este se articula com outros espaos verdes da cidade; realce para a densidade da malha urbana (muralhada) e para o contnuo que se estabelece entre a zona do castelo e a base da encosta, assegurado, sobretudo, pelo Parque da Cidade, Jardim do Pao e pelos pequenos quintais e logradouros localizados na encosta do castelo.(Fonte: Catarina Branco)

Os principais espaos permeveis de carcter pblico e semi-pblico so o Jardim do Pao, o Parque da Cidade ou Jardim dos Loureiros, as Docas e a Zona de Lazer, junto zona industrial. Os restantes espaos assinalados resumem-se a quintais ou logradouros (carcterImagem 30 - Jardim do Pao; apresenta um carcter rectangular e pelo desenho conseguido atravs das

privado), pequenas reas relvadas e marcadamente formal, imprimido pela sua forma enquadramento de algumas infaestruturas. sebes de buxo; para alm das caractersticas barrocasreferidas, destaca-se como caracterstica deste jardim a notria presena de esttuas. (Fonte: Catarina Branco)

57

Imagem 31 - Vista do "Parque da Cidade" para o Castelo; considera-se que a prgola constitui uma barreira visual que se assume como elemento de separao entre duas zonas do Parque o jardim e a mata quebrando tambm a relao visual que se estabelece com a colina do castelo. (Fonte: Catarina Branco)

Imagem 32 - "Docas"; espao pblico aberto permevel com reas de relvado algumas com funo meramente esttica e reduzido nmero de elementos arbreos, no conferindo ao espao suficientes reas com sombra, o que limitar a sua fruio.(Fonte: Catarina Branco)

Imagem 33 Zona de Lazer prxima do Parque Industrial; notria a carncia de vegetao arbreo-arbustiva, assim como de vegetao ripria que, para alm de poder assegurar a estabilizao das margens da lagoa, poderia tambm contribuir para a valorizao ecolgica e esttica do espao. (Fonte: Catarina Branco)

Imagem 34 - Localizao dos Principais Espaos Permeveis(Fonte: Plano de Urbanizao com informao relativa aos principais espaos permeveis complementada por Catarina Branco)

58

Quanto aos principais eixos de circulao considera-se que a sua funo como corredores est subaproveitada, na maior parte dos casos devido ausncia de alinhamentos arbreos. No entanto so de destacar a Av. 1 de Maio e a Av. Nuno lvares. seguro afirmar que para alm de insuficientes, no existe uma estrutura contnua que assegure a ligao entre os diferentes espaos permeveis.

Imagem 35 Av. Nuno lvares; a forte presena dos alinhamentos arbreos aliada dimenso da avenida evidencia a sua importncia hierrquica nos arruamentos da cidade; um eixo de circulao de elevada importncia para a cidade, assegurando a ligao do centro da cidade estao ferroviria.(Fonte: Catarina Branco)

Imagem 36 Av. 1 de Maio; a introduo de alinhamentos arbreos nesta avenida veja-se o estado de desenvolvimento juvenil dos elementos arbreos quando comparados com os da imagem anterior veio contribuir para minimizar os efeitos negativos da poluio gerada pelo trnsito automvel e tambm para a sua valorizao esttica e amenidade ambiental(Fonte: Catarina Branco)

59

3.9.2

Proposta esquemtica

A estrutura verde desempenha

um papel crucial no reordenamento e na

requalificao esttica e ambiental da paisagem urbana da cidade, assumindo importantes funes como: permitir a constituio de um contnuo natural formado pelos espaos verdes de enquadramento, proteco e recreio, assegurando a diversidade biolgica e ecolgica dos ecossistemas e amenizando reas de maior densidade de construo; f