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Relatório final da Comissão Tripartite instituída para a revisão da Lei 9.504/97

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BRASIL - Relatório final da Comissão Tripartite instituída para a revisão da Lei 9.504/97 - A II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, convocada pelo Decreto de 17 de janeiro de 2007 com o objetivo de analisar e repactuar os princípios e diretrizes aprovados na I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres e avaliar a implementação do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, tinha como ponto central de temário a participação das mulheres nos espaços de poder. Como resultado desta Conferência, o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres inclui na sua estrutura o Capítulo V, “Participação das Mulheres nos Espaços de Poder e Decisão”, instituído com o objetivo de promover e fortalecer a participação igualitária, plural e multirracial das mulheres. Entre os objetivos específicos deste capítulo: o estímulo à ampliação da participação das mulheres nos partidos políticos, nos parlamentos e nas suas instâncias de poder e decisão; e a inserção, no debate da reforma política, do tema da paridade entre homens e mulheres.

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    Apresentaes

    Nilca FreireMinistra da Secretaria de Polticas para as MulheresLuiza ErundinaDeputada Federal PSB/SPRita CamataDeputada Federal PSDB/ESVanessa GrazziotinDeputada Federal PCdoB/AMSerys Slhessarenko Senadora da Repblica PT/MT

    Integrantes da Comisso Tripartite

    Registro

    1. Introduo

    2. Antecedentes

    3. Interveno da Comisso Tripartite na Aprovao da Lei n 12.034/2009

    Cmara Federal Senado Federal Emendas CCT Emendas CCJ Retorno Cmara Federal Algumas Consideraes

    4. 4. Recomendaes de polticas e aes para a ampliao da participao das mulheres nos espaos de poder e deciso 5. Anteprojeto de Lei elaborado pela Comisso Tripartite

    Observaes ao Anteprojeto de Lei Captulo I das Federaes Captulo II do Financiamento Pblico Captulo III das Listas Pr-Ordenadas Captulo IV - Das Coligaes Eleitorais

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 3

    Apresentao

    Nilca FreireMinistra da Secretaria de Polticas para as Mulheres da Presidncia da Repblica

    com grande satisfao que a Secretaria de Polticas para as Mulheres apresenta o relatrio final da Comisso Tripartite instituda para a reviso da Lei 9.504/97, que estabelece normas para as eleies.

    Constituda por representantes dos poderes executivo, legislativo e de organizaes da sociedade civil a Comisso trabalhou arduamente durante meses, realizando diferentes audincias e encontros, para chegar ao resultado final aqui apresentado: um anteprojeto de lei que amplia a participao das mulheres na poltica.

    Apesar de serem mais da metade da populao brasileira as mulheres ocupam apenas cerca de 9% das cadeiras do Congresso Nacional, e 12% das Assemblias Legislativas estaduais, do Distrito Federal e das Cmaras Municipais. Com to baixa representao, o legislativo nacional ocupa a posio de nmero 137 entre os 187 pases avaliados pela Unio Interparlamentar, segundo dados divulgados em setembro de 2009.

    A superao deste quadro fundamental para a consolidao da democracia brasileira, tornando possvel a mudana das estruturas de poder e o aprofundamento de polticas pblicas que promovam a equidade de gnero.

    O fato de a Comisso Tripartite estar em pleno funcionamento quando da discusso da mini-reforma eleitoral no Congresso Nacional foi fundamental para que pudssemos Bancada Feminina, Governo Federal e movimentos feministas e de mulheres atuar articuladamente para a incluso de artigos que beneficiassem diretamente as mulheres brasileiras, aperfeioando os mecanismos de incluso das mulheres na poltica: alterao do artigo que regulamente as cotas, com a obrigatoriedade do preenchimento das vagas, e no mais apenas uma reserva; a obrigatoriedade de utilizao de no mnimo 5% dos recursos do Fundo Partidrio para a promoo da participao poltica das mulheres; e reserva de pelo menos 10% da propaganda partidria gratuita para as mulheres dos partidos polticos.

    Esperamos que com essas conquistas as mulheres tenham mais espao dentro dos partidos, aumentando a sua participao nas eleies e, consequentemente, aumentando a possibilidade de acesso aos cargos legislativos. Em conjunto, essas medidas podem gerar um ganho tanto quantitativo quanto qualitativo na incluso poltica das mulheres, na medida em que os partidos podero investir na formao poltica de suas filiadas, alm de obterem maior visibilidade com a presena nas propagandas partidrias.

    Essas medidas e a proposta de anteprojeto de Lei formulada pela Comisso Tripartite tm como objetivo ampliar a participao poltica das mulheres, ajudando a fortalecer o carter democrtico do sistema poltico brasileiro. As principais inovaes propostas pelo Anteprojeto aqui apresentado so: ampliao da reserva do Fundo Partidrio destinado promoo da participao poltica das mulheres para no mnimo 30%; aumento da reserva de tempo da propaganda partidria gratuita para a promoo da participao poltica das mulheres para pelo menos 50%; adoo do financiamento pblico exclusivo de campanha; e instituio das eleies por listas pr-ordenadas com alternncia de sexo.

    O Relatrio Final da Comisso Tripartite para Reforma da Lei 9.504/1997 apresenta detalhadamente no que consistiu o seu trabalho, destacando seus antecedentes, um relato de suas reunies e de sua interveno na aprovao da mini-reforma eleitoral, bem como a apresentao do Anteprojeto de Lei para reforma poltica. Portanto, esse Relatrio demonstra o quanto o Governo Federal, em parceria com a Bancada Feminina no Congresso Nacional e os movimentos sociais esto empenhados nas causas feministas, em especial na ampliao da incluso das mulheres nos espaos de poder e deciso, por meio de mecanismos concretos.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/19974

    Apresentao

    Luiza ErundinaDeputada Federal PSB/SP

    De todas as barreiras participao das mulheres, a da poltica , sem dvida, a mais difcil de transpor, exatamente por ser a poltica o espao das decises e do poder e, como tal, tem sido privilgio dos homens. A presena feminina na poltica brasileira, seja nos Poderes Executivo ou Legislativo, seja na militncia social ou partidria ainda muito pequena.

    Diante desta realidade, no podemos afirmar que vivemos em verdadeira democracia uma vez que mais da metade da populao brasileira as mulheres est excluda das decises polticas, at mesmo as que mais diretamente lhes dizem respeito. Este um grave problema, cuja soluo depende no s das mulheres, mas da sociedade como um todo.

    Nesse caso, urgente a realizao de ampla e profunda Reforma Poltica que, entre outras mudanas, torne efetivas, alm da democracia representativa, a democracia direta e a participativa como condio para se corrigirem as imperfeies e distores do sistema poltico brasileiro e a grave crise de representao que vivemos atualmente.

    Convm destacar tambm a importncia da criao de organizaes polticas de mulheres, com carter multipartidrio, como os Comits Multipartidrios de Mulheres e o Frum Nacional de Instncias de Mulheres de Partidos Polticos. So espaos que proporcionam discusses polticas de comum interesse das mulheres e onde se constroem estratgias de ao poltica, seja das instncias partidrias de mulheres em seus respectivos partidos, seja de atuao pluripartidria na luta poltica geral da sociedade em torno, sobretudo, das questes de gnero.

    Em sntese, a poltica o meio mais eficaz para se transformar a realidade no interesse das mulheres e dos demais setores da sociedade excludos das decises polticas. Por isso, devemos nos inserir no mundo da poltica, o que exige formao e preparo para enfrentarmos discriminao e preconceito por ousarmos disputar o poder com os homens, campo esse que, historicamente, tem sido quase que exclusivamente territrio deles. Esse um dos maiores desafios que temos a superar na militncia poltico-partidria.

    A sociedade brasileira certamente ganhar muito com a incluso das mulheres na, que so mais da metade da populao, vida poltica, pois passaria a contar com a sua participao nas decises e na busca de solues para os graves problemas do pas, alm de contribuir para elevar o nvel de democracia e de civilizao no Brasil.

    Nesse sentido, o trabalho da Comisso Tripartite foi muito importante, sobretudo porque construiu um anteprojeto de reforma poltica de consenso entre representantes do Governo, do Parlamento e dos movimentos de mulheres, incorporando vrias propostas que tramitam na Cmara dos Deputados. Minha avaliao do trabalho realizado pela Comisso Tripartite bastante positiva e considero que deve ter continuidade para estimular o debate da proposta pela sociedade, pois s assim se acumular a fora poltica necessria para que o prximo Congresso Nacional seja pressionado a discuti-la e vot-la.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 5

    Apresentao

    Rita CamataDeputada Federal PSDB/ES

    Da eleio da primeira deputada federal, em 1933, at os dias de hoje muito avanamos na participao poltica. Mas muito ainda resta por fazer. As mulheres esto mais conscientes da necessidade de garantir uma representao que espelhe a realidade da sociedade brasileira, mas ainda enfrentam um grande nmero de obstculos ao tentar participar do processo poltico.

    No Brasil, a cota mnima para candidaturas de mulheres nas chapas partidrias, comeou a ser discutida em 1995 a partir de um projeto de lei. No ano seguinte a Lei 9.100/96 determinou o sistema de cotas prevendo no mnimo de 20% de mulheres candidatas. Hoje a lei estabelece que os partidos devem reservar no mnimo 30% de vagas para candidatos de cada sexo.

    A Lei de Cotas foi um passo importante, pois deu visibilidade questo e colocou o debate em pauta. Mais de uma dcada depois, no entanto, so poucos os partidos polticos que a cumprem. Mais do que cotas precisamos garantir igualdade de oportunidades no processo eleitoral. As mulheres, com suas vrias jornadas, precisam do apoio de seus partidos e de novas regras para que a participao seja plena e justa. Financiamento pblico de campanhas e sanes para os partidos que no cumprirem a Lei de Cotas so algumas aes que poderiam alterar a subrepresentao atual.

    Nas eleies de 2008 o eleitorado nacional era composto por 51% de mulheres. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral os eleitores somaram 58.604.626 mulheres e 56.431.895 homens. Somos maioria e agora preciso que esta maioria se espelhe na representao parlamentar nos trs nveis. So principalmente as mulheres que se preocupam com a qualidade dos servios de educao e sade. Que lutam por mais vagas nas creches. Que clamam por uma poltica de segurana pblica eficaz. Este olhar feminino precisa chegar s Cmaras Municipais, Prefeituras, Assemblias Legislativas, Governos Estaduais e no Congresso Nacional.

    Para tanto, debates como o promovido por esta Comisso Tripartite so essenciais. Do visibilidade ao tema e unem Executivo, Legislativo e sociedade civil organizada numa mesma misso: promover as alteraes necessrias em nossa legislao de modo a efetivar uma maior participao das mulheres no processo poltico eleitoral.

    O fruto deste trabalho deve, portanto, ser abraado por todos e todas que defendemos uma sociedade mais justa e igualitria.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/19976

    Apresentao

    Vanessa GrazziotinDeputada Federal - PCdoB/AM

    Companheiras e Companheiros,

    Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer a oportunidade de poder participar da Comisso Tripartite, que com toda certeza, contribuiu muito para novas conquistas das mulheres. A histria das mulheres por sua emancipao, sempre foi marcada por muitas dificuldades, preconceitos e violncia. Muitas tiveram que pagar com a prpria vida. Apesar disso, nunca deixaram de lutar. Muitas vitrias foram alcanadas e muitas outras ainda sero necessrias conquistar, dentre elas o direito a uma melhor educao, moradia, sade, segurana e lazer. Hoje, a maioria das mulheres responsvel pelo sustento de suas famlias. Apesar disso representam apenas uma minoria do parlamento brasileiro e do mundo.

    A Comisso Tripartite, instituda pela Secretria Especial de Polticas para as Mulheres apresentou propostas significativas Lei 12.034/2009, da mine-reforma poltica. Essas propostas visam garantir algumas aes afirmativas para as mulheres. Apesar de no ser a reforma poltica esperada pelos setores sociais que lutam por uma transformao ampla das instituies democrticas, representa o comeo de novas regras que podem contribuir para elevar a representao poltica feminina.

    Das propostas defendidas pela Bancada Feminina no Congresso e que foram aprovadas pela Comisso, as principais so:

    Ospartidospolticosseroobrigadosadestinar5%doFundoPartidrioformaopolticadas mulheres;

    Haverpunioparaopartidoquenocumpriraregrados5%doFundoPartidrio:senodestinar esse percentual, dever acrescentar mais 2,5% dos recursos do fundo no ano;

    Ospartidos seroobrigadosadestinar10%do tempodepropagandapartidria (foradeanos eleitorais) para promover e difundir a participao feminina;

    Almdisso,houveumaalteraonopargrafoterceirodoartigo10daLei9.504/1997,queestabelece o nmero de vagas de candidaturas que cada partido ou coligao deve destinar para cada sexo - dispositivo conhecido como lei de cotas para mulheres. Em vez de dever reservar 30% das vagas de como est escrito hoje na lei, a reforma estabeleceu o termo preencher o mnimode30%(trintaporcento)eomximode70%(setentaporcento)paracandidaturasdecada sexo, o que enfatiza o carter obrigatrio do dispositivo.

    Finalmente, parabenizo a iniciativa da Secretaria de Polticas para as Mulheres, pela criao da Comisso Tripartite, que veio contribuir para a garantia de novas conquistas das mulheres. Parabenizo tambm, o excelente trabalho desenvolvido pela Bancada Feminina no Congresso durante as discusses da Comisso, garantindo a aprovao da maioria das propostas apresentada pelas parlamentares.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 7

    Apresentao

    Serys SlhessarenkoSenadora da Repblica - PT/MT2 Vice Presidente da Mesa DiretoraCoordenadora da Banca Feminina do Senado Federal

    Foi com grande satisfao que fui convidada pela nossa querida amiga e companheira a Ministra Nilca Freire, para representar o poder legislativo na Comisso Tripartite, em 2009, junto ao senador Renato Casagrande. Sua criao no poderia ser mais oportuna. Num momento em que lutamos para maximizar a representatividade feminina na Reforma Eleitoral, todos os esforos so necessrios.

    E se hoje, a despeito dos inmeros e inegveis avanos que a luta pelos direitos da mulher nos legou, a situao est longe da ideal, deve-se levar em conta como a situao era na dcada de 1930, quando comeou a nossa histria formal na vida poltica e eleitoral do Pas. O que Carlota Pereira de Queiroz, a primeira e nica deputada constituinte eleita de 1934, deve ter sofrido para se afirmar como representante da luta pela emancipao poltica da mulher naquele perodo!

    De l para c, a participao feminina na vida pblica cresceu e se fortaleceu. Antes encarada como um fato curioso, prosaico ou meramente formal, para cumprir as exigncias da legislao eleitoral, a candidatura e o exerccio de cargos pblicos por parte das mulheres j se tornaram parte cotidiana nas organizaes partidrias, sindicais e sociais do Brasil. Entretanto, ainda estamos bem distantes da representao feminina que consideramos justa! Embora sejamos pouco mais de 50% da populao, mal alcanamos a marca de 10% no Congresso Nacional, bem abaixo da mdia mundial de 18,5% de mulheres no Parlamento.

    Foram muitos dias e encontros com pessoas de vrios segmentos da sociedade para debater em profundidade a reviso da Lei 9.504/1997 nas reunies da Comisso Tripartite. Entendemos que de imensa relevncia buscar mecanismos e solues que possam promover a igualdade de representao das mulheres nos espaos polticos. Tenho plena confiana que por meio de aes como esta da Secretaria de Polticas para as Mulheres que alcanaremos os nossos objetivos e honrar a democracia brasileira.

    Na qualidade de Coordenadora da Bancada Feminina no Senado Federal e em nome das demais senadoras, munidas desse sentimento e sabedoras da grandiosidade de nossa misso, quero afirmar a luta pela maior participao feminina nos desgnios da Nao como condio fundamental para o progresso socioeconmico e a projeo internacional de nosso Pas. Trabalho no nos faltar, assim como f e crena na viabilidade e na legitimidade de nossa causa.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/19978

    inTegranTes da Comisso TriparTiTe

    represenTanTes do poder exeCuTivo

    Snia Malheiros Miguel Secretaria de Pollticas para as Mulheres/PRMagaly de Carvalho Correia Marques Casa Civil/PRFernando Macedo Sousa Secretaria de Relaes Institucionais/PRPedro Vieira Abramovay Ministrio da JustiaMaria Helena Pessoa Pimentel Secretaria Geral/PR

    represenTanTes do parLamenTo

    Rita Camata Deputada FederalLuiza Erundina Deputada FederalDeputada Vanessa Grazziotin Deputada FederalSerys Slhessarenko SenadoraRenato Casagrande Senador

    represenTanTes da soCiedade CiviL

    Raquel Guisoni Conselho Nacional dos Direitos da MulherNatalia Mori Centro Feminista de Estudos e AssessoriaSilvia Camura Articulao de Mulheres BrasileirasLige Rocha Frum Nacional de Instncias de Mulheres dos Partidos PolticosCarmen Foro Marcha Mundial de Mulheres

    nomeadas/os peLa porTaria spm n 43, de 3 de junho de 2009

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 9

    regisTro

    O trabalho da Comisso Tripartite envolveu, diretamente, diferentes profissionais do governo federal, de organizaes feministas, da Cmara e do Senado Federal. Gostaramos, aqui, de registrar a fundamental contribuio recebida para a elaborao do anteprojeto de reforma da lei eleitoral e para a aprovao de artigos na Lei n 12.034, sancionada em 29 de setembro de 2009, que contribuem para um maior equilbrio entre mulheres e homens na ocupao dos espaos de poder e deciso.

    Paula Albuquerque Mello Leal e Felipe de Paula, do Ministrio da JustiaAnna Cludia Pardini Vazzoler, da Casa Civil da Presidncia da RepblicaBeatriz Figueiredo, assessora da Deputada Federal Rita CamataRosemari Simon, assessora da Deputada Federal Luiza ErundinaIvonete Alves, assessora da Deputada Federal Vanessa GrazziotinNajla Maluf, assessora da Senadora Serys SlhessarenkoMarcos Dantas, assessor do Senador Renato CasagrandeAna Maria Kriegner e Anna Carolina C. B. Teixeira, da Marcha Mundial de MulheresPatrcia Rangel, do Centro Feminista de Estudos e AssessoriaAna Carolina Teixeira, da Confederao dos Trabalhadores em AgriculturaKelly Kotlinski Verdade, da Articulao de Mulheres Brasileiras

    Regina Adami, Odissia Carvalho, Elizabete Pereira, Elizabeth Saar, Jos Roberto A. Fru-tuoso, Stfane N. Ribeiro e Silva, Luana Pagani, Naiara Correa, Lourdes Bandeira e Leilane Rebou-as, da Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres.

    Agradecemos ainda a Marlise Matos, Jussara Reis Pra, Renato Rabelo, Carlos Siqueira, Doralice Santana, Soneli Barbosa Borges e Daniela Macedo, por aceitarem o convite para participar de reunies da Comisso Tripartite para discutir a subrepresentao das mulheres na poltica e a necessidade urgente da ampliao da participao das mulheres nos espaos de poder e deciso.

    E Regina Perondi e Vera Gorgulho, do Frum Nacional de Instncias de Mulheres dos Par-tidos Polticos, que acompanharam integrantes da Comisso Tripartite na visita a lideranas partidrias.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199710Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 10

    1. inTroduoA II Conferncia Nacional de Polticas para as Mulheres, convocada pelo Decreto de 17 de ja-

    neiro de 2007 com o objetivo de analisar e repactuar os princpios e diretrizes aprovados na I Conferncia Nacional de Polticas para as Mulheres e avaliar a implementao do Plano Nacional de Polticas para as Mulheres, tinha como ponto central de temrio a participao das mulheres nos espaos de poder.

    Como resultado desta Conferncia, o II Plano Nacional de Polticas para as Mulheres inclui na sua estrutura o Captulo V, Participao das Mulheres nos Espaos de Poder e Deciso, institudo com o objetivo de promover e fortalecer a participao igualitria, plural e multirracial das mulheres.

    Entre os objetivos especficos deste captulo: o estmulo ampliao da participao das mu-lheres nos partidos polticos, nos parlamentos e nas suas instncias de poder e deciso; e a insero, no debate da reforma poltica, do tema da paridade entre homens e mulheres.

    Entre as prioridades: a criao, reviso e implementao de instrumentos normativos com vis-tas igualdade de oportunidades entre homens e mulheres e, entre as mulheres, na ocupao de postos de deciso nas distintas esferas do poder pblico; a implementao de estratgias para a ampliao da parti-cipao das mulheres nos espaos de poder e deciso; e a criao de mecanismos de apoio participao poltico-partidria das mulheres.

    Entre as metas previstas: revisar a lei de cotas eleitorais e garantir a plena aplicao da Lei n. 9.504/97, considerando a proporo das mulheres negras e indgenas na populao.

    Por fim, entre as aes previstas para o alcance desses objetivos, prioridades e metas, o II PNPM prev a elaborao de proposta de reviso da lei de cotas no mbito de uma comisso tripartite, com repre-sentao do executivo, legislativo e sociedade civil.

    Foi, portanto, com o objetivo de cumprir o estabelecido no II PNPM que a Secretaria Especial de Poltica para as Mulheres instituiu por intermdio da Portaria n. 15, de 11 de maro de 2009, a Co-misso Tripartite para discutir, elaborar e encaminhar proposta de reviso da Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleies. A Portaria n. 43, de 3 de junho de 2009, designou as integrantes da Comisso Tripartite.

    Coordenada pela Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres, a Comisso foi composta por representantes da Secretaria de Relaes Institucionais, Casa Civil e Secretaria Geral da Presidncia da Repblica, Ministrio da Justia, Marcha Mundial de Mulheres, Frum Nacional de Instncias de Mulheres dos Partidos Polticos, Articulao de Mulheres Brasileiras AMB, Centro Feminista de Estudos e Asses-soria CFEMEA, Conselho Nacional dos Direitos da Mulher CNDM, Cmara e Senado Federal.

    A Portaria n. 57, de 4 de agosto de 2009, restabeleceu e prorrogou at 4 de novembro o prazo de funcionamento da Comisso Tripartite.

    A reunio de instalao da Comisso Tripartite foi realizada no dia 4 de junho de 2009, no au-ditrio da Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. No perodo de funcionamento da Comisso Tripartite foram realizadas 8 reunies ordinrias.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 11

    Alm das reunies regulares, a Comisso Tripartite realizou trs audincias para aprofundar a discusso sobre a proposta de reforma da legislao eleitoral a ser apresentada.

    A primeira audincia, dia 11 de agosto de 2009, contou com a presena das professoras Marlise Matos(UFMG)eJussaraReisPra(UFRGS),pesquisadorasdotemadaparticipaopolticadasmulhe-res, que apresentaram suas consideraes sobre a subrepresentao das mulheres e debateram com as/os integrantes da Comisso Tripartite.

    A segunda, dia 14 de outubro de 2009, contou com a presena de representantes dos partidos polticos: Renato Rabelo, Presidente Nacional do Partido Comunista do Brasil; Carlos Siqueira, 1 Se-cretrio Nacional do Partido Socialista Brasileiro; Doralice Santana, vereadora do Partido da Mobilizao Nacional; e Soneli Barbosa Borges, Secretria geral do Ncleo de Ao do Partido Humanista da Soli-dariedade/ Mulher.

    E a terceira, dia 27 de outubro de 2009, contou com a presena de Daniela Macedo, assessora do Ministro Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Ayres Brito, para discutir a proposta que a Comisso Tripartite estava elaborando e a implementao da Lei n 12.034, sancionada em 29 de setem-bro de 2009, a qual reafirmou o compromisso deste com a incluso feminina no processo eleitoral.

    Para elaborar a sua proposta, a Comisso Tripartite consultou projetos sobre o tema, em trami-tao na Cmara, a exemplo:

    do PL n. 4.407/2008, da Deputada Vanessa Grazziotin, que obriga cada partido ou coligao a preencher a cota mnima de candidatura registrada de cada sexo e acarreta a nulidade do pedido de registro das candidaturas em caso de descumprimento do limite fixado;

    do PL n. 6.216/2002 da Deputada Luiza Erundina, que destina 30% dos recursos do fundo par-tidrio criao e manuteno de programas de promoo da participao poltica das mulheres, e prev tempo na propaganda partidria gratuita para a mesma finalidade;

    do PL n. 4.037/2008, da Deputada Rita Camata, que estabelece normas para a realizao de eleies proporcionais em que se conjuguem listas preordenadas de candidaturas e dispe sobre a arrecadao e aplicao de recursos nas campanhas eleitorais; e

    a proposta da Frente Parlamentar pela Reforma Poltica com Participao Popular, sobre a reforma poltica, apresentada Comisso de Legislao Participativa.

    Consultou ainda outras proposies sobre o tema da participao poltica e do poder, em tra-mitao na Cmara e no Senado.

    A Comisso Tripartite realizou tambm levantamento da legislao de outros pases para, com base nas experincias j existentes, aprofundar e detalhar a proposta em elaborao. Alguns pontos cha-mam a ateno, entre eles a utilizao, na maior parte das legislaes em vigncia na Amrica Latina, do uso do dispositivo da sano aos partidos que no cumprem as cotas, ponto que na discusso da mini-reforma foi objeto de enorme resistncia dos representantes dos partidos polticos brasileiros.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199712

    2. anTeCedenTesSegundoaUnioInterparlamentar(UIP),emsetembrode2009,asbrasileiraseramapenas9%

    na Cmara Federal, deixando o Brasil na 142a colocao no ranking entre 187 pases1. O nmero impres-siona ao comparar a situao de outros pases: Cuba 43,2%; Argentina 40%; Peru 29,2%; Equador 25%; Venezuela 18,6%, Bolvia 16,9%; Chile 15%; Paraguai 12,5%. O Brasil, nas Amricas, fica na frente somente de Colmbia, Haiti e Belize. No plano do parlamento local, supostamente mais aces-svel s mulheres, a situao no muito diferente, em 2008, as mulheres ocupavam to somente 12% das cadeiras nas Cmaras Municipais.

    A excluso das mulheres uma das contradies fundantes da democracia ocidental e a subre-presentao hoje um dos grandes desafios para a democracia. Embora o exame dos dados da participao poltica das mulheres no pas demonstre que crescente a presena das mulheres na esfera pblica, na base social dos movimentos sociais e dos partidos polticos, esta insero se faz, na maioria das vezes, de forma subordinada, com as mulheres ocupando postos hierrquicos inferiores, com menor possibilidade de se elegerem, reafirmando a situao atual de desigualdade vivenciada no mbito da vida privada, no mundo do trabalho e na sociedade de modo geral.

    A dupla jornada de trabalho imposta s mulheres pela diviso sexual do trabalho, um dos obstculos enfrentados para maior participao poltica institucional das mulheres. Para estas, o tempo dedicado realizao e conciliao do trabalho produtivo e reprodutivo subtrado do tempo que poderia ser usado na poltica.

    Esta dinmica de uso do tempo pelas mulheres impe enorme esforo pessoal quelas que decidem atuar na esfera pblica e limita as possibilidades de constiturem uma carreira poltica, seja nos movimentos sociais, no interior dos partidos ou nos parlamentos. Este fato torna-se um obstculo, na medida em que, no atual sistema poltico brasileiro, uma vitria eleitoral precisa ser construda por muitos anos, seja atravs da presena continuada nas direes de movimentos sociais e partidos, seja atravs da presena em cargos executivos, ou por sucessivas candidaturas.

    Por outro lado, a dinmica de funcionamento nos espaos de poder no considera as especifici-dades da situao das mulheres. Nesses espaos, muitas mulheres tm que descobrir e inventar modos para administraroconflitoestabelecidoentreopapelesperadodamulhernaesferaprivada(sejacomome,dona de casa ou esposa) e sua ao poltica na esfera pblica. Nestes termos, este conflito no se coloca para os homens, para os quais atuar na poltica no algo que lhe exija romper com nenhuma expectativa social, ao contrrio, na diviso sexual do trabalho, a ele cabe o espao pblico.

    Para a alterao desse quadro fundamental que o Estado brasileiro assuma de forma decisiva suas responsabilidades, proporcionando a infraestrutura e o suporte necessrio para que homens e mulhe-res tenham condies de criar seus filhos e filhas como, por exemplo, creches.

    De acordo com a pesquisa Gnero e Poltica na Mdia Brasileira realizada por Luis Felipe Mi-gueleFlviaBiroli(2008)emrevistassemanaisetelejornaissobrearepresentaodasmulheresnamdia,verifica-se que as mulheres tm uma presena bastante restrita. Em comparao com os homens, de todas as notcias das revistas analisadas, apenas 19,5% das pessoas mencionadas eram mulheres. A diferena au-

    1 No quadro da UIP o Brasil se encontra na 107 colocao no ranking entre 187 pases, mas conside-rando os empates, a colocao cai para 142 lugar.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 13

    menta ainda mais quando se observa apenas o noticirio poltico, onde as mulheres esto presentes em cer-ca de 10% das notcias. Somente em 9,6% dos assuntos ligados poltica as mulheres tm voz direta citada.

    Os dados tambm revelaram que, enquanto nas notcias os homens falam como especialistas em economia e poltica, ou representando suas instituies, as mulheres tm suas falas concentradas em temas acerca da educao, sade pblica e variedades.

    Do mesmo modo, nos telejornais a ausncia feminina tambm notvel: as mulheres somente aparecem em 21,9% das notcias e suas aparies tambm so maiores em assuntos ligados ao cotidiano, variedades, educao e sade pblica, por exemplo. No que diz respeito ao noticirio poltico, as mulheres esto presentes em 16% das notcias observadas, estando completamente ausentes em 68,1% das notcias. Apenas 5% das notcias tm apenas mulheres.

    Como afirmam os autores, os resultados preliminares dessa pesquisa permitem observar as-simetrias de gnero nas representaes do mundo social e, em especial, nas representaes da poltica difundidas pela mdia.

    Estes dados podem tambm ajudar a compreender porque um nmero to grande de pessoas, quando perguntadas livremente dizem que votariam em uma mulher, mas to poucas mulheres sejam eleitas de fato. Pesquisa Ibope/Instituto Patrcia Galvo, realizada com apoio da Secretaria Especial de PolticasparaasMulheres,em2009,informaque94%dos(as)entrevistados(as)responderamquevota-riam em mulheres, sendo que 59% destes declararam que dariam voto para mulheres em qualquer cargo. Alm disso, 83% afirmaram que a presena das mulheres melhora a poltica e os espaos de poder e 75% posicionam-se favorveis a uma poltica de cotas para mulheres.

    A citada pesquisa apontou ainda que a maioria das/os brasileiras/os defende a lei de cotas para mulheresepunioaopartidoquenoacumprir(86%).Almdisso,maisdametade(55%)achaquealistadecandidaturasdeveriaternmeroigualdemulheresehomenseagrandemaioria(80%)defendeleis para promover igualdade entre os sexos no cenrio poltico.

    A pesquisa Parlamentares opinam sobre reforma poltica, realizada pelo Instituto Nacional deEstudosScio-Econmicos (INESC)com150parlamentares formadoresdeopinionoCongres-so, apontou que, ao contrrio da maioria das/os brasileiras/os, somente uma minoria de parlamentares (14,7%)defendeaesafirmativasparamulheres,maisespecificamente,aalternnciadeumamulhereumhomememlistafechada.Amaioria(51,3%)sedeclaroucontraareservadevagasparaossexos,cabendo conveno partidria definir a ordem dos nomes na lista, independentemente do sexo.

    Uma pesquisa do Centro Feminista de Estudos e Assessoria CFEMEA, intitulada Como

    parlamentares pensam os direitos das mulheres? Pesquisa na Legislatura 2007-2010 do Congresso Nacional, tambm apontou que uma grande parcela dos parlamentares realmente no querem realizar esforos no sentido de incrementar a participao poltica das mulheres: 60% discordam da punio de partidos que no alcanarem o mnimo de 30% de candidaturas femininas; 60% concordam em destinar parte dos fundos partidrios e parte do tempo de propaganda para promover a participao poltica das mulheres; 72% discordam em adotar lista fechada com alternncia de sexo; 72% concordam em regula-mentar o financiamento pblico exclusivo das campanhas eleitorais.

    Cabe ressaltar que, quando analisamos separadamente a opinio dos parlamentares homens e das parlamentares mulheres, possvel constatar uma enorme diferena de posicionamento. Vejamos os dados: 74% das mulheres entrevistadas concordam com punies para o partido que no preencher as cotas de candidaturas femininas, contra 27% dos homens.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199714

    Em relao ao fundo partidrio 85% das mulheres entrevistadas concordam com a destinao de parte do fundo para instncias de mulheres nos partidos, em oposio aos 57% dos homens que o fazem. A destinao de parte do tempo de propaganda poltica foi apoiada por 89% das mulheres consul-tadas e 57% dos homens. Por ltimo, 93% das mulheres e 71% dos homens so a favor do financiamento pblico exclusivo das campanhas eleitorais.

    Em linhas gerais, essas pesquisas demonstram a resistncia de parte significativa dos parla-

    mentares ampliao da participao poltica das mulheres. A dificuldade encontrada para a discusso e aprovao de diferentes projetos de lei sobre o tema que tramitam na Casa reafirma essa resistncia.

    A sociedade brasileira e o movimento feminista, em especial, buscam mudanas estruturais, acre-ditando que nenhuma reforma poltica que deixe de contemplar a coletividade feminina conseguir transfor-mar, em profundidade, as relaes de poder. As propostas do movimento feminista foram reunidas em publi-caes como o Ponto de vista feminista sobre reforma poltica e o Alerta Feminista dos movimentos de mulheres que assinam a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Poltico.

    PesquisadeOpinio (INESC/DIAP) apontaquenoBrasil dehoje, grandepartedospar-lamentaressocontraacriaodemedidasquefavoreamaeleiodecandidatasmulheres(60%),decandidatosnegrosenegras(86%)edecandidatos/asindgenas(76%).

    Lamentavelmente, a significativa maioria deles se recusa a discutir a incluso do quesito cor/raa na ficha de candidatura e rejeita totalmente qualquer proposta de punio aos partidos que descum-prirem a poltica de cotas por sexo presente na legislao atual. Mesmo com a populao apoiando majo-ritariamente a sano para os partidos que no cumprirem as cotas, como demonstrou a pesquisa realizada pelo Ibope/Instituto Patrcia Galvo/SPM.

    nfima a participao de negros, negras e indgenas na poltica institucional, e essa situao aponta para a necessidade de gerar dados sobre essa excluso para delinear polticas pblicas. A pesquisa de opinio do CFEMEA apontou que 60% dos/as parlamentares entrevistados/as se autodeclararam brancos, 30% se declararam pardos e 3% pretos. O Relatrio Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2007-2008 (UFRJ)apontouqueessepercentual seriaaindamenordoqueodeclaradopelos/asparlamentares:teramos10deputadosnegros(1,9%)eumadeputadanegra(0,1%)naCmaradosDeputados.

    O feminismo, desde o sculo XIX, transformou a interdio s mulheres na poltica em objeto de sua luta. No Brasil esta ainda uma prioridade. preciso transformar a sub-representao num proble-ma poltico de significativa magnitude, demonstrando que o prprio sistema poltico brasileiro, com suas regras e prticas, no permite um processo efetivamente democrtico e justo de participao poltica e de exerccio da cidadania pelas mulheres e outros grupos tradicionalmente excludos das instncias de poder, como a populao negra e indgena.

    O problema da sub-representao no uma questo das mulheres, nem se explica por incapa-cidade ou despreparo das mulheres decorrente do dficit histrico de participao que lhes foi imposto e que as transformou e mantm como minoria poltica. Os dados e anlises da realidade demonstram que a questo muito mais profunda. Estruturas sociais precisam ser mudadas, em especial a diviso sexual do trabalho, condies de vida das mulheres, aspectos culturais, assim como a cultura poltica e o prprio sistema poltico, cujas deficincias j esto apontadas na Plataforma Poltica Feminista elaborada em 2002,quandodarealizaodaConfernciaNacionaldeMulheresBrasileiras(6e7dejunhode2002).

    Os custos para se realizar uma campanha poltica so altos. A propaganda eleitoral bem elabo-rada, os comcios, as possibilidades de deslocamento de uma/um candidata/candidato para se promover

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 15

    em vrias regies, dentre outros elementos necessrios a uma campanha poltica efetiva, demanda grandes investimentos oramentrios. E isso compe mais um obstculo s mulheres.

    No que tange participao feminina na poltica, no podemos esquecer que as aes afirma-tivas devem compreender, tambm, a questo do financiamento das campanhas eleitorais. O sistema de diviso oramentria aos partidos polticos se configura de forma tal que estes, ao distribuir internamente as verbas, possuem liberdade para priorizar apenas alguns candidatos. Deste modo, as mulheres, em sua grande maioria ainda construindo sua projeo poltica, acabam preteridas no que se refere a esse inves-timento.

    Quanto mais democrtica for a distribuio de verbas, maior a possibilidade de participao poltica das mulheres. E, havendo continuidade nesse investimento, elas podero construir carreiras pol-ticas cada vez mais slidas, num ciclo que atua de forma positiva na questo do aumento da participao das mulheres nas esferas de poder poltico.

    A Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma do Sistema Poltico, elaborada por mais de 30 redes e organizaes toma como referncia a avaliao de que o atual sistema poltico brasileiro se sustenta sobre uma base de relaes de poder patriarcal, racista e elitista e aponta como suas principais caractersticas o clientelismo, o nepotismo, o autoritarismo, o patrimonialismo, o personalismo e a cor-rupo elementos que juntos conferem forte carter excludente a este sistema.

    A Plataforma apresenta propostas estruturadas em cinco eixos: Fortalecimento da democracia direta; Fortalecimento da democracia participativa; Democratizao da informao e da comunicao; TransparncianoPoderJudicirioeAprimoramentodademocraciarepresentativa(sistemaeleitoralepartidos polticos) por meio de uma reforma profunda dos processos eleitorais.

    Este ltimo eixo prescreve o fim das votaes secretas, da imunidade parlamentar, do foro privilegiado, do nepotismo, concurso pblico para ministros dos Tribunais de Conta; a manuteno dos partidos exclusivamente com contribuies de filiados e fundos partidrios; o tempo de propaganda para aes afirmativas (mulheres, negras/os, indgenas,homossexuais...); afidelidadepartidria; ofinancia-mento pblico exclusivo de campanhas e voto de legenda em listas preordenadas com alternncia de sexo e cotas tnico-raciais e de gerao.

    No mbito do Congresso Nacional, a Frente Parlamentar pela Reforma Poltica com Participao Popular, instituda em maro de 2007, avana na proposio de uma reforma poltica. Em agosto de 2009, a FrenteapresentouumapropostadereformapolticanaComissodeLegislaoParticipativa(CLP).

    A Sugesto de projeto de lei 174/09 dispe sobre reforma poltica regulamentando o art. 14 da Constituio Federal, em matria de plebiscito, referendo e iniciativa popular. E tambm alterando a Lei n 4.737, de 15 de julho de 1965, a Lei n 9.096, de 19 de setembro de 1995 e a Lei n 9.504, de 30 de setembro de 1997, para dispor sobre financiamento dos partidos polticos, sobre voto em listas partidrias pr-orde-nadas, sobre coligaes eleitorais, sobre a instituio de federaes partidrias e sobre a fidelidade partidria.

    Os princpios que orientaram a construo da proposta de reforma poltica da Frente Parla-mentar foram:

    Garantia do direito da populao de participar diretamente na tomada de decises sobre assuntos de especial interesse da sociedade a qual est inserida.

    Proposta: regulamentao dos instrumentos de democracia direta, plebiscito, referendo e inicia-tiva popular, para superar as dificuldades de acesso da populao a estes mecanismos;

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199716

    Igualdade de condies nas disputas eleitorais e combate a corrupo nas campanhas e mandatos eleitorais.

    Proposta: financiamento pblico exclusivo de campanhas associado ao estabelecimento de listas partidriaspr-ordenadas,comalternnciadesexo(umhomem,umamulher)naseleiesproporcionais.

    Fortalecimento dos partidos polticos e combate ao personalismo.Proposta: 3 estratgias vinculadas o fim das coligaes partidrias; a instituio de federaes

    partidrias; e ainda uma regulamentao sobre fidelidade partidria.

    A reformulao da legislao eleitoral, com o objetivo de possibilitar a ampliao da partici-pao das mulheres na poltica tambm responde positivamente a um dos focos das recomendaes do Comit para a Eliminao de todas as Formas de Discriminao contra a Mulher que, quando da anlise do VI relatrio Brasileiro, afirma: O Comit incentiva o Estado-parte a tomar medidas legais e outras sustentadas para aumentar a representatividade das mulheres em cargos eleitos e nomeados, nos mais altos nveis do judicirio e na diplomacia. Recomenda que o Estado-parte introduza medidas legais e outras apropriadas, incluindo a alterao e ou substituio de leis ineficazes e a adoo de medidas especiais tem-porrias(...).OComitrecomendaqueoEstado-parterealizecampanhasdeconscientizao,tantoentrehomens como mulheres, sobre a importncia da participao plena e igualitria da mulher na vida poltica e pblica e na tomada de deciso, como um componente necessrio de uma sociedade democrtica, e crie condies favorveis que propiciem e estimulem essa participao.

    Vivemos em um sistema poltico majoritariamente branco, proprietrio e masculino. O jogo poltico se d de forma a manter sua atual configurao, perpetuando aqueles que j possuem poder em suas posies, impedindo o acesso de outras representaes sociais em seu cenrio. Esse problema atinge as mulheres de forma direta, diminuindo drasticamente as possibilidades de sua entrada e permanncia na poltica, sendo um sistema ainda mais injusto com aquelas que so representantes dos setores mais em-pobrecidos da classe trabalhadora, no pertencentes s famlias j politicamente institudas, ou de grupos tnicos/raciais como as indgenas e negras.

    Assim, faz-se necessrio a tomada de medidas para alterar essa realidade. As aes afirmativas so recomendadas para iniciar essa mudana na estrutura poltica, com uma reforma poltica ampla e democrtica.

    O II Plano Nacional de Polticas para as Mulheres baseia-se em vrias convenes e confe-rncias, como a Conveno CEDAW e a Conferncia de Beijing, para propor a existncia de polticas pblicas visando aes afirmativas como forma de se buscar a equidade de gnero.

    O sistema de cotas aparece, ento, como um ponto de partida no que se refere s aes afir-mativas, possibilitando mudanas desta realidade rumo a uma sociedade mais democrtica e igualitria.

    Vrias organizaes voltadas observncia da condio poltica das mulheres no mundo, como a International Institute for Democracy and Electoral Assistance (IDEA), a ONU no mbito da UNIFEM, a Unio Interparlamentar, dentre outras, indicam que os pases que possuem maior participao feminina na poltica so aqueles que adotaram alguma forma de ao afirmativa.

    A experincia de vrios pases tem demonstrado que a adoo de aes afirmativas traz efeitos importantes para o enfrentamento da subrepresentao feminina na poltica. Contudo, as cotas por si s no resolvem o problema da baixa presena das mulheres nos espaos de poder e deciso, mas podem incidir de maneira significativa na ampliao dessa participao no mbito legislativo. preciso associar outras polticas poltica de cotas, polticas que propiciem a diviso das responsabilidades familiares entre homens e mulheres, que possibilitem o acesso das mulheres ao financiamento partidrio; que contribuam para uma mudana da cultura poltica

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 17

    3. inTerveno da Comisso TriparTiTe na aprovao da Lei n 12.034/2009Cmara FederaL

    No perodo de funcionamento da Comisso Tripartite, foi criado um grupo de trabalho na Cmara, composto por lderes partidrios, para elaborao de um projeto de lei com objetivo de alterar a Lei dos Partidos Polticos e a Lei Eleitoral. Foi indicado, como coordenador do grupo, o Deputado Flvio Dino(PCdoB/MA)e,porumpleitodaBancadaFeminina,foramincludasnestegrupoastrsdeputadasquerepresentaramaCmaraFederalnaComissoTripartite:LuizaErundina(PSB/SP),RitaCamata(PSDB/ES)eVanessaGrazziotin(PCdoB/AM).

    A Comisso Tripartite entendeu ser fundamental, em paralelo elaborao de sua proposta de reviso da Lei Eleitoral, intervir nos debates que aconteciam no Congresso Nacional, com o objetivo de incluir na proposta artigos que assegurassem a ampliao da participao poltica das mulheres.

    Para tanto definiu uma pauta mnima com sugestes que foram apresentadas ao grupo formado na Cmara. Esta inclua os seguintes pontos:

    a) O art. 10 da Lei n 9.504, de 30 de setembro de 1997, passa a vigorar com a seguinte redao:

    Art. 10. Cada partido poder registrar candidatos para a Cmara dos Deputados, Cmara Legis-lativa, Assemblias Legislativas e Cmaras Municipais, at cem por cento do nmero de lugares a preencher.

    l No caso de coligao para as eleies proporcionais, independentemente do nmero de partidos que a integrem, podero ser registrados candidatos at cento e cinqenta por cento do nmero de lugares a preencher.

    3 Do nmero de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligao dever, obrigatoriamente, preencher o mnimo de trinta por cento e o mximo de setenta por cento para candidaturas registradas de cada sexo.

    6 A no observncia do estabelecido no 3 deste artigo implicar na ampliao do percen-tualmnimoestipuladonoincisoVdoart.44daLein9.096,de19desetembrode1995,de10%(dezporcento)para15%(quinzeporcento)nostrsexercciossubseqentes.(NR)

    b) O art. 11 da Lei n 9.504, de 30 de setembro de 1997, passa a vigorar com a seguinte redao:

    Art. 11A - Nos formulrios de requerimento de registro de candidato deve constar campo, de preenchimento obrigatrio, reservado a identificao de raa ou cor, conforme critrios adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE.

    Pargrafo nico O Tribunal Regional Eleitoral dar ampla divulgao, mediante campanhas institucionais informativas, sobre a proporo de candidatos e de candidatas eleitos em conformidade com oscritriosestabelecidosnocaputdesteartigo.(NR)

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199718

    c) O art. 44 da Lei n 9.096, de 19 de setembro de 1995, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso:

    V na criao e manuteno de programas de promoo e difuso da participao poltica das mulheres,compercentualde,nomnimo,10%(dezporcento),observadoodispostono6doart.10daLein9.504,de30desetembrode1995.(NR)

    d) O art. 45 da Lei n 9.096, de 19 de setembro de 1995, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso:

    IV Promover e difundir participao poltica das mulheres, dedicando 20%, no mnimo, do tempototal.(NR)

    No processo de negociao foram incorporadas ao projeto de lei somente as sugestes c e d.

    No dia 30 de junho de 2009, foi apresentado ao Plenrio da Cmara, pelo Deputado Henrique EduardoAlves(PMDB/RN)eoutros2, o PL n 5.498/2009, que altera a Lei n 9.096, de 19 de setem-bro de 1995 (Lei dos Partidos Polticos) e a Lei n 9.504, de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleies. Nesse mesmo dia foi apresentado o requerimento de urgncia n 5.099/2009 para a sua apreciao.

    Na mesma data, representantes da Comisso Tripartite estiveram em audincia com o Pre-sidentedaCmaraFederal,DeputadoMichelTemer(PMDB/SP).Nestaocasio,foientregueOfcio conclamando a Cmara a aprovar mudanas que promovam o aprofundamento da democracia brasileira e apresentando o contedo mnimo necessrio e imprescindvel para que a nova lei passe a assegurar uma maior participao das mulheres no processo eleitoral.

    Nesta audincia estiveram presentes as deputadas Rita Camata e Vanessa Grazziotin, que com-pem a Comisso Tripartite; a deputada Alice Portugal, coordenadora da Bancada Feminina da Cmara dos Deputados;easdeputadasNilmarRuiz(PR/TO),AlineCorra(PP/SP)eJanetePiet(PT/SP).ABanca-da Feminina solicitou ao Presidente da Cmara a abertura de espao para que, juntamente com a Comisso Tripartite, discutisse diretamente com o Colgio de Lderes as propostas apresentadas, o que foi aceito.

    tarde, no Colgio de Lderes, a Deputada Alice Portugal, coordenadora da Bancada Femini-na na Cmara, apresentou a proposta da Comisso Tripartite e fez um apelo especial aos lderes presentes para que discutissem essas emendas. Na ocasio o Presidente da Cmara declarou-se favorvel s reivin-dicaes e props que os lderes aprovassem o regime de urgncia para a votao do projeto.

    A Comisso Tripartite encaminhou carta no mesmo teor para todos os 513 deputados e de-putadas da Cmara Federal e realizou visitas a lderes de diferentes partidos para fortalecer a incluso do tema no debate e na nova legislao.

    No dia 7 de julho, quando da discusso do projeto no Plenrio da Cmara, a Comisso Tripar-tite distribuiu o documento hora de avanarmos que defendia a necessidade de incluso de pontos que possibilitassem a ampliao da participao poltica das mulheres, na reforma em discusso.

    Nesse mesmo dia os movimentos feministas realizaram um ato na Cmara. Vestidas de sufra-gistas, as mulheres criticaram as posturas machistas e antidemocrticas dos deputados e reivindicaram a ampliao de seus direitos.2 PL-5498/2009:co-autoresCndidoVaccarezza(PT/SP),JosAnbal(PSDB/SP),RonaldoCaiado(DEM/

    GO),RodrigoRollemberg(PSB/DF),SandroMabel(PR/GO),MrioNegromonte(PP/BA),BrizolaNeto(PDT/

    RJ),SarneyFilho(PV/MA),FernandoCoruja(PPS/SC),DanielAlmeida(PCdoB/BA),HugoLeal(PSC/RJ),Carlos

    Willian(PTC/MG),AlicePortugal(PCdoB/BA)eHenriqueFontana(PT/RS).

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 19

    Quando da discusso do projete na Cmara, das 136 emendas de plenrio apresentadas, quatro diziam respeito ampliao da participao poltica das mulheres e recompunham parte das propostas advindas da Comisso Tripartite.

    Duas delas foram acatadas pelo relator:

    a Emenda de Plenrio n 39, que inclua o inciso V no Art. 44, da Lei n 9.096/1995, assegurando um mnimo de 10% dos recursos do Fundo Partidrio na criao e manuteno de programas de promoo e difuso da participao das mulheres; e,

    a Emenda de Plenrio n 40, que inclua o inciso V no Art. 45, da Lei n 9.096/1995, assegurando um mnimo de 20% do tempo de propaganda partidria gratuita para promover e difundir a participao poltica das mulheres.

    Outras duas emendas de plenrio foram rejeitadas pelo relator:

    a Emenda de Plenrio n 41 indicava que cada partido poderia registrar at cem por cento do nmero de lugares a preencher e no caso de coligaes at cento e cinqenta por cento; assegurava que do nmero de vagas resultantes das regras previstas, cada partido ou coligao deveria obrigatoriamente preencher o mnimo de 30 % e o mximo de 70% para candidaturas registradas de cada sexo; indicava que a no observncia do estabelecido no pargrafo 3 implicaria na ampliao do percentual mnimo estipulado no inciso V do Art. 44 da Lei n 9.096/1995, de dez por cento para quinze por cento; e,

    a Emenda de Plenrio n 52 indicava que cada partido poderia registrar at cem por cen-

    to do nmero de lugares a preencher e no caso de coligaes at duzentos por cento.

    No debate estabelecido no Plenrio da Cmara, alguns avanos foram conquistados em relao ao projeto originalmente apresentado:

    incluso do pargrafo 5 ao Art. 44, determinando sano ao partido que no aplicar 5% dos recursos do Fundo Partidrio para criao e manuteno de programas de promoo e difuso da participao poltica das mulheres. Neste caso, dever, no ano subseqente, acrescer o percentual de 2,5% do Fundo Partidrio para essa destinao, ficando impedido de utiliz-lo para finalidade diversa;

    reformulao do pargrafo 3 do Art. 10 da Lei n 9504/1997, com a seguinte redao: Do nmero de vagas resultantes das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligao preencher o mnimode30%(trintaporcento)eomximode70%(setentaporcento)paracandidaturasdecadasexo.O texto anterior falava em reserva, em vez de preenchimento.

    No entanto, houve retrocesso com a reduo das porcentagens inicialmente sugeridas no inciso VdoArt.44(de10%para5%dosrecursosdoFundoPartidrio)enoincisoIVdoArt.45(de20%para10% do tempo de televiso) da Lei n 9.096/1995.

    No dia 8 de julho de 2009, foi aprovada a redao final, na forma da Subemenda Substitutiva Global de Plenrio, que concluiu pela consolidao das emendas acolhidas e pela incorporao das alteraes citadas.

    Em 14 de julho a Mesa Diretora da Cmara Federal remete o projeto PL n 5.498-C, de 2009 ao Senado Federal, por meio do ofcio n 775/09/OS-GSE.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199720

    senado FederaL

    O PL n 5.498/2009 assumiu no Senado Federal a denominao de PLC n 141/2009. O pro-jetofoiencaminhadoComissodeCincia,Tecnologia,Inovao,ComunicaoeInformtica(CCT)eComissodeConstituio,JustiaeCidadania(CCJ).OSenadorEduardoAzeredo(PSDB/MG)foidesignadorelatorpelaCCTeoSenadorMarcoMaciel(DEM/PE)foidesignadorelatorpelaCCJ.Paraacelerar o processo as Comisses decidiram trabalhar em conjunto.

    Foram realizadas duas audincias pblicas para discutir a matria.

    A primeira audincia, realizada dia 12 de agosto de 2009, contou entre outros, com presena do ministro da Defesa Nelson Jobim, ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral. A segunda audin-cia, realizada dia 20 de agosto de 2009, contou, entre outros, com a presena da ministra da Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres, Nilca Freire. Neste mesmo dia, a ministra, acompanhada de inte-grantes da Comisso Tripartite reuniu-se com o relator da CCT, Senador Eduardo Azeredo, solicitando o apoio deste para as demandas das mulheres.

    NoSenado,destaca-seaatuaodeduasparlamentares.ASenadoraSerysSlhessarenko(PT/MT), integrante da Comisso Tripartite, juntamente com sua assessoria, teve atuao importante quando dadiscussodoprojeto.ASenadoraLciaVnia(PSDB/GO)recebeuintegrantesdaComissoTripar-tite que apresentaram as propostas e buscaram seu apoio para recuperar os pontos rejeitados pela Cmara. Ambas apresentaram emendas ao projeto.

    No processo de discusso no Senado Federal a Comisso Tripartite encaminhou carta a todos os 81 senadores e senadoras e No dia 1 de setembro de 2009, a Comisso Tripartite esteve em audincia com o Presidente da Casa, Senador Jos Sarney, entregando Ofcio com sugesto de alteraes na legisla-o e na proposta da Cmara que ampliassem a participao polticas das mulheres no processo eleitoral. A Audincia contou com a presena da Ministra Nilca Freire, da Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Ofcio, com o mesmo teor, tambm foi encaminhado a todos os senadores e senadoras.

    No Senado Federal foram apresentadas 109 emendas, 75 na CCJ e 34 emendas na CCT. Deste total, 11 emendas da CCJ e 3 da CCT diziam respeito s demandas da Comisso Tripartite. Algumas ampliando os direitos das mulheres e outras restringindo as conquistas alcanadas quando da discusso do projeto na Cmara Federal.

    emendas CCT

    As3emendasapresentadasnaCCTforamdeautoriadoSenadorArthurVirglio(PSDB/AM) e todas elas retiravam ou diminuam direitos assegurados na proposta aprovada na Cmara:

    a Emenda n 7 reduzia os 5% dos recursos do Fundo Partidrio que deveriam ser apli-cados em programas de difuso e promoo da participao poltica das mulheres para 5% dos 20% dos recursos destinados a manuteno das Fundaes ou Institutos partidrios;

    a Emenda n 8 retirava a obrigatoriedade de um percentual mnimo de 10% na promoo e difuso da participao poltica das mulheres na propaganda partidria gratuita; e,

    a Emenda n 9 no estabelecia nenhuma porcentagem dos recursos do Fundo Partidrio para aplicao em programas de difuso e participao poltica das mulheres.

    Todas rejeitadas, total ou parcialmente, pelos relatores

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 21

    emendas CCj

    As 11 emendas apresentadas na CCJ ampliavam os direitos das mulheres:

    ASenadoraLuciaVnia(PSDB/GO)apresentoutrsemendas:

    a Emenda n 24 inclua no texto a obrigatoriedade do preenchimento de um mnimo de 30% por cento e de um mximo de 70% por sexo, na lista de candidaturas registradas, e inclua um novo pargrafo(6)queimpediaoregistrodecandidatosseopartidonoobservasseodeterminadonopar-grafo 3; e,

    a Emenda n 25 aumentava o percentual de utilizao dos recursos do Fundo Partidrio na criao e manuteno de programas de promoo e difuso da participao poltica das mulheres para 20%.

    a Emenda n 26 aumentava o percentual mnimo dedicado s mulheres no tempo de pro-paganda partidria para 20%.

    A emenda n 24 foi incorporada nos termos de subemenda dos relatores que acolheram a in-cluso da palavra registrada. As emendas n 25 e n 26 foram rejeitadas na ntegra.

    OSenadorEduardoSuplicy(PT/SP)apresentouduasemendas:

    a Emenda n 31 aumentava o percentual de aplicao do Fundo Partidrio na criao e manuteno de programas de promoo e difuso da participao polticas das mulheres de 5% para 10%; e

    a Emenda n 32 ampliava de 10% para 20% a utilizao do tempo de propaganda parti-dria gratuita na promoo e difuso da participao poltica das mulheres.

    Ambas as emendas foram rejeitadas pelos relatores.

    ASenadoraSerysSlhessarenko(PT/MT)apresentou5emendas:

    a Emenda n 42 reduzia o nmero de candidaturas que poderiam ser apresentadas pelos partidos para at cem por cento do nmero de lugares a preencher;

    a Emenda n 43 previa sanes para quem no cumprisse a aplicao dos recursos do Fundo Partidrio para criao e manuteno de programas de promoo e difuso da participao poltica das mulheres;

    a Emenda n 44 impedia o registro de candidaturas para o partido que no cumprisse a aplicao dos recursos do Fundo Partidrio para criao e manuteno de programas de promoo e di-fuso da participao poltica das mulheres;

    a Emenda n 45 inclui no formulrio de registro das candidaturas informaes sobre raa/cor;

    a Emenda n 46 ampliava para 20% a utilizao do tempo de propaganda partidria gra-tuita na promoo e difuso da participao poltica das mulheres; e

    a Emenda n 71 previa sanes para quem no cumprisse o pargrafo 3 do artigo 10.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199722

    Todas as emendas foram rejeitadas pelos relatores, sendo que a emenda n 71 foi retirada pela autora, tendo em vista a subemenda n 71 dos relatores, que enfraquecia a proposta apresentada.

    No dia 9 de setembro a matria foi includa na Ordem do Dia, extrapauta, em regime de ur-gncia e foi lido o Parecer n 1.457, de 2009 conjuntodosrelatoresEduardoAzeredo(PSDB/MG)eMarcoMaciel(DEM/PE),concluindofavoravelmenteaoprojetocomaapresentaodasEmendasn1a 64 CCT/CCJ. O parecer dos relatores rejeitou as emendas que prejudicavam as mulheres e incorporou parte de emendas que ampliavam alguns direitos, entre estas:

    a) Em relao utilizao dos recursos do Fundo Partidrio a redao do Art. 44 proposta pelos relatores indicava que dos recursos dos Institutos de Pesquisa ou Fundaes IV em estudos e pesqui-sas,doutrinaoeeducaopoltica,sendoestaaplicaode,nomnimo,20%(vinteporcento)dototalrecebido,dosquaispelomenos50%(cinqentaporcento)seroaplicadosnapromoodaparticipaofeminina na vida poltica do Pas. Na prtica eram ampliados de 5% para 10% a aplicao dos recursos do Fundo Partidrio na promoo da participao feminina na vida poltica do Pas;

    b) O 5 deste mesmo Art. 44 indicava que O partido que no aplicar a parcela mnima re-lativa promoo da participao feminina a que se refere o inciso IV deste artigo dever, no ano subse-qente,acresceropercentualde2,5%(doisinteirosecincodcimosporcento)doFundoPartidrioparaessa destinao, ficando impedido de utiliz-lo para finalidade diversa.

    No dia 15 de setembro o PLC n 141/2009 foi aprovado, em reviso e com emendas, em sesso do Plenrio do Senado Federal, conforme o Parecer de Plenrio n 1.458, de 2009 CCT/CCJ, sendo devolvido imediatamente para a Cmara por meio do Ofcio SF n 1.973 de 16 de setembro de 2009.

    reTorno Cmara FederaL

    Em 16 de setembro de 2009 a Mesa Diretora da Cmara recebeu o Ofcio n 1.973 do Senado Federal que comunica a aprovao, em reviso e com emendas, do Projeto de Lei n 5.498/2009 Cdigo Eleitoral para que a Cmara se manifeste sobre as alteraes promovidas pelo Senado.

    No mesmo dia o Projeto vai discusso na Cmara e aprovada a Redao Final assinada pelo Relator,DeputadoFlvioDino(PCdoB/MA),sendoremetidosanopresidencialpormeiodaMen-sagem n 42/2009, em 22 de setembro.

    O parecer do relator, exceo de trs emendas que tratavam da questo da internet, rejeita todas as emendas aprovadas no Senado Federal, inclusive as relativas s mulheres.

    A lei atual, vigente h 12 anos, equipara Internet a rdio e televiso. Com base nessa equipara-o legal, o Tribunal Superior Eleitoral tem editado sucessivas resolues restringindo o uso da Internet nas campanhas eleitorais. A Cmara dos Deputados, de modo pioneiro, de modo acertado, est liberando o uso da Internet. O texto do Senado, nesse particular, expressa melhor esse contedo, essa vontade da Cmara.

    Da porque estou dando parecer, em razo do pacto poltico antes celebrado e desse reconhe-cimento tpico, atinente s questes pertinentes Internet, pela rejeio de todas as emendas do Senado Federal, com exceo das seguintes emendas cujo parecer pela aprovao: emendas n 53, 54 e 67. Essas emendastratamdaInternet.(Parecer do relator, pela Comisso de Constituio e Justia e de Cida-dania, s emendas do Senado Federal ao Projeto de Lei n n 5.498, de 2009).

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 23

    O argumento utilizado para a rejeio de todas as outras emendas propostas pelo Senado foi o prazo de urgncia de aprovao para que a nova lei tivesse vigncia para as eleies de 2010, conforme o parecer citado:

    Parece-me que o melhor caminho, considerando que temos 15 dias at o trmino do prazo constitucionalmente fixado para a votao dessa matria, mantermos o entendimento anterior, isto , o pacto poltico anterior, cujo texto avana em questes fundamentais como, por exemplo, a participao poltica feminina, a propaganda eleitoral, a descriminalizao da poltica, a proteo dos partidos polticos. Esse texto, embora no resolva todos os problemas, avana, at porque no essa a pretenso e no h possibilidade de assim ser feito. um texto que melhora as instituies polticas brasileiras.

    No dia 29 de setembro o projeto transformado na Lei Ordinria n. 12.034/2009, publicada no Dirio Oficial da Unio de 30 de setembro de 2009. Vetado parcialmente por meio da Mensagem de Veto n 787, de 20 de setembro de 2009(DOU30/09/2009).

    A Lei n 12.034/2009, no tema da ampliao da participao poltica das mulheres, traz as seguintes mudanas:

    1. O pargrafo terceiro do artigo 10 da Lei n 9.504/1997 passa a vigorar com a seguinte redao: Do nmero de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligao preencher o mnimode30%(trintaporcento)eomximode70%(setentaporcento)paracandidaturasdecadasexo.

    Na redao anterior a palavra utilizada era reservar. Com a mudana os partidos tm de, ne-cessariamente, manter a proporcionalidade de um mnimo de 30% e um mximo de 70% por sexo na sua lista de candidaturas.

    2. So acrescidos o inciso V e o pargrafo 5 ao Artigo 44 da Lei n 9.096/1995 que regula a aplicao de recursos do Fundo Partidrio:

    V. Na criao e manuteno de programas de promoo e difuso da participao poltica das mulheres conforme percentual que ser fixado pelo rgo nacional de direo partidria, observa-do o mnimo de 5%(cincoporcento)dototal.(NR)

    5 O partido que no cumprir o disposto no inciso V do caput deste artigo dever, no ano subseqente, acrescer o percentual de 2,5% do Fundo Partidrio para essa destinao, ficando impedido de utiliz-lo para atividade diversa.

    3. O artigo 45 da Lei n 9.096/1995, que trata da propaganda partidria gratuita fica acrescido do inciso IV:

    IV promover e difundir a participao poltica feminina, dedicando s mulheres o tempo que ser fixado pelo rgo nacional de direo partidria, observado o mnimo de 10% (dez por cento)

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199724

    aLgumas Consideraes

    Vale registrar que a Comisso Tripartite contribuiu para pautar o tema da ampliao da parti-cipao poltica das mulheres no debate da reforma poltica, fortalecendo a atuao da Bancada Feminina e das organizaes do movimento feminista, numa ao articulada para incluir este tema como um dos objetos de debates e deliberaes.

    Durante todo o processo de discusso da reforma eleitoral o tema da participao poltica das mulheres no seria sequer abordado, no fosse a abertura para a participao das trs deputadas integrantes da Comisso Tripartite, uma vez que o grupo era composto integralmente por homens, o que dificultou o avano que viria no sentido de assegurar a maior participao das mulheres no processo poltico eleitoral.

    Ainda que o parecer do relator Flavio Dino, pela Comisso de Constituio e Justia e de Ci-dadania da Cmara, s emendas do Senado Federal ao PL n 5.498 de 2009, destaque que o texto avana em questes fundamentais como, por exemplo, a participao poltica feminina, a propaganda eleitoral, a descriminalizao da poltica, a proteo dos partidos polticos, as poucas emendas do Senado que ti-nham como objetivo ampliar a participao poltica das mulheres foram rejeitadas, pois a prioridade era a aplicao desta mini-reforma em 2010.

    O relatrio, aprovado conjuntamente pela CCT e CCJ no Senado Federal, no inclui entre os 17 pontos destacados a ampliao da participao poltica das mulheres. A invisibilidade dessas conquis-tas evidente tambm na cobertura que a imprensa deu reforma aprovada.

    A dificuldade dos partidos polticos de considerarem esse tema relevante fica evidente tambm na resposta ao convite que a Comisso Tripartite fez para que participassem de uma reunio que debateria os avanos conseguidos com a legislao aprovada e a proposta de reforma da lei eleitoral que vinha sen-do discutida pela Comisso. Dos 27 partidos polticos convidados, atualmente registrados no Tribunal Superior Eleitoral, somente 4 compareceram reunio: Renato Rabelo, Presidente Nacional do Partido Comunista do Brasil; Carlos Siqueira, 1 Secretrio Nacional do Partido Socialista Brasileiro; Doralice Santana, vereadora do Partido da Mobilizao Nacional; e Soneli Barbosa Borges, integrante da instncia de mulheres do Partido Humanista da Solidariedade.

    No processo de discusso do projeto merece destaque a participao da Bancada Feminina na Cmara dos Deputados, em especial a participao das Deputadas Luiza Erundina, Rita Camata e Va-nessa Grazziotin, integrantes da Comisso Tripartite e de suas assessorias, e das deputadas Alice Portugal (coordenadoradaBancadaFemininanaCmara)eJanetePiet.NoSenadoFederaldestaca-seapartici-paodaSenadoraSerysSlhessarenko(PT/MT),integrantedaComissoTripartiteesuaassessoriaedaSenadoraLuciaVnia(PSDB/GO).

    A participao das organizaes feministas, integrantes ou no da Comisso Tripartite, tam-bm foi fundamental para que se conseguisse incorporar alguns avanos na legislao aprovada, e ser novamente fundamental para monitorar o cumprimento da nova lei.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 25

    4. reComendaes de poLTiCas e aespara a ampLiao da parTiCipao das muLheres nos espaos de poder e deCiso

    No processo de discusso, a Comisso Tripartite entendeu ser pertinente elencar recomenda-es de polticas e aes que, conjugadas com o anteprojeto de lei aqui apresentado, podem contribuir de forma efetiva para a ampliao da participao das mulheres nos espaos de poder e deciso. Entre essas:

    Campanhas de divulgao

    Sabe-se que uma lei, por si s, no capaz de mudar a realidade se no for colocada em prtica. Comamini-reformaeleitoral(Lei12.034/2009),noseriadiferente.Destemodo,aComissoTripartiteconsidera de extrema importncia que seja dada visibilidade aos avanos desta lei em relao participa-o das mulheres advindas com a mini-reforma eleitoral.

    Recomenda, ento, uma articulao da Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres com o Tribunal Superior Eleitoral, para que este realize uma campanha institucional divulgando a nova legisla-o no que diz respeito participao poltica das mulheres.

    Recomenda ainda, que os partidos polticos, os movimentos sociais e sociedade brasileira em geral divulguem e debatam o contedo da mini-reforma no que diz respeito participao das mulheres.

    Comisso de monitoramento

    A Comisso Tripartite considera que, para o cumprimento efetivo da legislao eleitoral em vigor, fundamental o acompanhamento e monitoramento da sua implementao por toda a sociedade.

    No que diz respeito especificamente aplicao dos incentivos participao poltica feminina a Comisso Tripartite recomenda que seja criado um comit de acompanhamento e monitoramento da implementao da Lei 12.034/2009, no mbito do Frum Nacional de Instncias de Mulheres de Parti-dos Polticos, com o objetivo de atuar junto aos partidos polticos para que, como estipula a Lei, a parcela de 5% do fundo partidrio seja destinada participao poltica das mulheres; o mnimo de 10% do tempo de propaganda partidria seja reservado s mulheres; e um mnimo de 30% das vagas seja preenchido com a candidatura de mulheres.

    Partidos polticos

    Quando se trata da participao das mulheres na poltica, o papel dos partidos polticos se des-taca como central para que a realidade de sub-representao feminina se transforme, visto que no seu interior que as mulheres participam da disputa poltica por cargos e candidaturas.

    Deste modo, a Comisso Tripartite recomenda aos partidos polticos que implementem uma

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199726

    poltica interna de cotas que busque aumentar a presena das mulheres nas suas instncias de direo e representao partidrias.

    A Comisso Tripartite tambm considera necessrias alteraes na Lei dos Partidos Polticos para possibilitar a ampliao da participao das mulheres.

    Bancada Feminina

    Cabe destacar o importante papel desempenhado pela Bancada Feminina na aprovao de medidas que assegurassem o aumento da participao poltica das mulheres contidas na mini-reforma eleitoral, e na construo da proposta de anteprojeto da Comisso Tripartite.

    A Comisso Tripartite entende ser fundamental que a Bancada Feminina continue atuando de forma incisiva para a ampliao da participao polticas das mulheres e que aprofunde sua articulao com o Frum Nacional de Instncias de Mulheres dos Partidos Polticos e com a Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres.

    E recomenda a promoo de debates sobre a participao das mulheres nos espaos de poder fundamentais para que o tema esteja sempre em pauta e a busca por novas conquistas no cesse.

    Responsabilidades familiares

    A diviso sexual do trabalho, por sculos, foi justificativa para que as mulheres no pudessem acessar diversas esferas da vida como, por exemplo, o mundo do trabalho, da educao superior e da poltica.

    Ainda que isso venha mudando, o cerne dessas representaes continua se replicando atravs das geraes. Assim, mesmo participando da poltica, sendo donas de si e de seus corpos, as mulheres ainda sofrem muita presso para se manter restritas chamada esfera domstica. Do mesmo modo, ainda que muitas mudanas se verifiquem nos comportamentos masculinos, os homens no assumiram o mundo privado na mesma medida em que as mulheres adentraram a esfera pblica, o que resultaria em uma igualdade de funes.

    Para se enfrentar esta desigualdade fundamental e necessria a oferta de creches de qualidade e prximas aos ambientes de trabalho ou moradia, onde as crianas possam estar em ambientes saudveis, para que pais e mes se sintam seguros e as mulheres possam desempenhar, sem culpa, um papel diverso quele que lhe foi inicialmente ensinado. Tambm fundamental a adoo da educao em tempo inte-gral, das licenas maternidade e paternidade, suportes para uma convivncia familiar igualitria.

    Adoo, nas fichas de candidatura, dos quesitos raa/cor:

    Apesar do esforo empenhado por diversas pesquisas, lamentavelmente, no h dados oficiais sobre a participao de mulheres e homens negras/os no Parlamento. A ausncia de dados que compro-vem a necessidade de mudanas contribui para a perdurao desta situao inaceitvel do ponto de vista dos princpios democrticos e de justia de gnero e de raa/etnia. por esse motivo que a Comisso Tripartite sugere que se inclua nas fichas de inscrio de candidatura partidria o quesito raa e cor.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 27

    5. anTeprojeTo de Lei eLaborado peLa Comisso TriparTiTeobservaes ao anTeprojeTo de Lei

    Este Relatrio Final da Comisso Tripartite para a reviso da Lei 9.504/1997, deixou eviden-te o quanto complexa e diversificada a dificuldade enfrentada pelas mulheres, e por outros grupos da sociedade, na luta pela igualdade de representao nos espaos polticos. E o quanto falta para que essas dificuldades sejam superadas e para um aperfeioamento da democracia no nosso pas.

    A partir dessa constatao, a Comisso Tripartite considerou necessrio ampliar o escopo de sua proposta para alm da reforma da Lei 9.504/97, incluindo no seu anteprojeto propostas de alterao deartigosdoCdigoEleitoral(Lei4.737/65)edaLeidosPartidosPolticos(Lei9.096/95).

    O Anteprojeto aqui apresentado foi aprovado por unanimidade. O nico ponto de discordn-cia, mas aprovado pela maioria, foi o acrscimo do artigo 11-A da Lei 9.096/95, que cria as Federaes Partidrias, substituindo, portanto, as Coligaes de partidos. Em relao a este ponto, a representante do Frum Nacional de Instncias de Mulheres dos Partidos Polticos explicitou a impossibilidade de apoi-lo, tendo em vista no existir uma posio unificada e consensuada dessa questo no mbito do Frum e dos prprios partidos polticos.

    Com o objetivo de ampliar e aprofundar a discusso sobre o anteprojeto a Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres, a pedido da Comisso Tripartite, colocar a presente proposta em discusso por um perodo de 60 dias, recebendo sugestes de aperfeioamento da sociedade brasileira.

    Com isso, a Comisso acredita estar contribuindo para o aprofundamento do debate sobre a reforma poltica e a necessria ampliao da participao polticas das mulheres, com o objetivo de forta-lecer e consolidar a democracia brasileira.

    Art.1oEstaleialteraaLein4.737,de15dejulhode1965,(CdigoEleitoral),aLei

    n9.096,de19desetembrode1995,(LeidosPartidosPolticos)eaLeino9.504,de30desetembrode1997,(LeidasEleies),paracriarFederaesPartidriasedisporsobrefinanciamentodospartidospolticos, financiamento pblico de campanhas eleitorais e listas partidrias pr-organizadas, com o es-copo de ampliar a participao poltica das mulheres.

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199728

    PROJETO DE LEI N , de de de 2010

    Altera a Lei n 4.737, de 15 de julho de 1965, a Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995, e a Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997, para ampliar a participao po-ltica das mulheres.

    CapTuLo idas Federaes

    Art. 2 Fica acrescido Lei n 9.096, de 19 de setembro de 1995, o art. 11-A, com a se-

    guinte redao:

    Art. 11-A. Dois ou mais partidos polticos podero reunir-se em federao, a qual, aps a sua constituio e respectivo registro no Tribunal Superior Eleitoral, atuar como se fosse uma nica agremiao partidria, inclusive no registro de candidatos e candidatas e no funcionamento parlamentar, com a garantia da preservao da identidade e da auto-nomia dos partidos que a integrarem.

    1 A federao de partidos polticos obedecer s seguintes regras para a sua criao:

    I s podero integrar a federao os partidos com registro definitivo no Tribunal Superior Eleitoral;

    II os partidos reunidos em federao devero permanecer a ela filiados, no mni-mo, por trs anos;

    III nenhuma federao poder ser constituda nos quatro meses anteriores s eleies.

    2 O descumprimento do disposto no 1 deste artigo acarretar ao partido a perda do funcionamento parlamentar.

    3 Na hiptese de desligamento de um ou mais partidos, a federao continuar em funcionamento, at a eleio seguinte, desde que nela permaneam dois ou mais par-tidos.

    4 O pedido de registro de federao de partidos dever ser encaminhado ao Tri-bunal Superior Eleitoral acompanhado dos seguintes documentos:

    I cpia da resoluo tomada pela maioria absoluta dos votos dos rgos de deli-berao nacional de cada um dos partidos integrantes da federao;

    II cpia do programa e estatuto da federao constituda;

    III ata da eleio do rgo de direo nacional da federao.

    5 O estatuto de que trata o inciso II do 4 deste artigo definir as regras para composiodalistapreordenadadafederaoparaaseleiesproporcionais.(NR)

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 29

    CapTuLo iido FinanCiamenTo pbLiCo

    Art. 3 Os art. 31, 41 e 41-A da Lei no 9.096, de 19 de setembro de 1995, passam a vigorar com a seguinte redao:

    Art.31. vedado ao partido ou federao receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto, contribuio ou auxlio pecunirio ou estimvel em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espcie, procedente de pessoa fsica ou jurdica, de direitopblicoouprivado,nacionalouestrangeira.(NR)

    Art.41.O Tribunal Superior Eleitoral, dentro de cinco dias, a contar da data do depsito a que se refere o 1odo art. 40, far a respectiva distribuio aos partidos, na forma do art.41-AdestaLei.(NR)

    Art. 41-A. Os recursos do Fundo Partidrio sero destacados para entrega nos seguintes termos:

    I-cinco por cento, dividido igualitariamente entre todos os partidos com estatutos regis-

    trados no Tribunal Superior Eleitoral;

    II - quinze por cento, dividido entre os partidos de acordo com o nmero de eleitas e eleitos na ltima eleio para as Assemblias Legislativas e Cmara Legislativa do Distrito Federal;

    III - vinte por cento, dividido entre os partidos proporcionalmente ao nmero de eleitas e eleitos na ltima eleio para a Cmara Federal;

    IV-sessenta por cento, dividido entre os partidos, proporcionalmente ao nmero de votos recebidosnaltimaeleioparaaCmaradosDeputados.(NR)

    Art. 4 O art. 44 da Lei 9.096, de 19 de setembro de 1995, passa a vigorar acrescido dos seguin-tes inciso e pargrafo:

    Art.44. .....................................................................................................

    V na criao e manuteno de programas de promoo e difuso da partici-paopolticadasmulheres,compercentualde,nomnimo,30%(trintaporcento),observadoodisposto no 6 do art. 10 da Lei 9.504, de 30 de setembro de 1995.

    ..................................................................................................................

    6 O repasse dos recursos de que trata o inciso V deste artigo est condicio-nado existncia de instncias de mulheres em cada partido, que sero responsveis por suagesto.(NR)

    Art. 5 O art. 45 da Lei 9.096, de 19 de setembro de 1995, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso:

    Art. 45...................................................................................................................

    IV promover e difundir participao poltica das mulheres, dedicando 50% (cinqentaporcento),nomnimo,dotempototal.(NR)

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199730

    Art.6oOs art. 17, 19, 20, 22, 24, 28, 29, 30 e 32 da Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997, passam a vigorar com a seguinte redao:

    Art.17.As despesas da campanha eleitoral sero realizadas sob a responsabi-lidade dos partidos e financiadas na forma desta Lei.

    1oEm ano eleitoral, a lei oramentria incluir dotao, em rubrica prpria, consignada ao Tribunal Superior Eleitoral, no anexo referente ao Poder Judicirio, desti-nada ao financiamento de campanhas eleitorais, tendo por referncia o eleitorado existen-te em 30 de abril do ano de sua elaborao.

    2oO Tribunal Superior Eleitoral far a distribuio dos recursos aos partidos polticos, obedecidos os seguintes critrios:

    I-cinco por cento, dividido igualitariamente entre todos os partidos com esta-tutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral;

    II - quinze por cento, dividido entre os partidos de acordo com o nmero de eleitas e eleitos na ltima eleio para as Assemblias Legislativas e Cmara Legislativa do Distrito Federal;

    III - vinte por cento, dividido entre os partidos proporcionalmente ao nmero de eleitas e eleitos na ltima eleio para a Cmara Federal;

    IV-sessenta por cento, dividido entre os partidos, proporcionalmente ao nmero devotosrecebidosnaltimaeleioparaaCmaradosDeputados.(NR)

    Art.19.At dez dias teis aps a escolha de seus candidatos e candidatas em conveno, o partido constituir comits financeiros, com a finalidade de admi-nistrarosrecursosdequetrataoart.17eaplic-losnascampanhaseleitorais.(NR)

    4o Na constituio dos comits financeiros dever ser respeitada a parida-de entre os sexos, sob pena de indeferimento de registro do comit financeiro.

    Art.20. Os partidos faro a administrao financeira de suas campanhas, usando exclusivamente os recursos repassados pelo Tribunal Superior Eleitoral, na forma estabelecidanestaLei.(NR)

    Art.22. obrigatrio para o partido abrir conta bancria especfica para registrar todo o movimento financeiro da campanha.

    1oOs bancos so obrigados a acatar o pedido de abertura de conta de qual-quer partido ou federao destinada movimentao financeira da campanha, sendo-lhes vedado condicion-la a depsito mnimo.

    ..................................................................................................................

    3 O uso de recursos financeiros para pagamentos de gastos eleitorais que no provenham da conta especfica de que trata o caput deste artigo implicar a desaprovao da prestaodecontasdopartido,coligaooufederao.(NR)

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 31

    Art.24. vedado, a partido, federao e a candidato ou candidata, receber, direta ou indiretamente, doao em dinheiro ou estimvel em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espcie, procedente de pessoa fsica ou jurdica, de direito pblicoouprivado,nacionalouestrangeira.(NR)

    Art.28. As prestaes de contas das campanhas eleitorais sero feitas por intermdio dos comits financeiros, devendo ser acompanhadas dos extratos das contas ban-crias referentes movimentao dos recursos financeiros utilizados.

    1oA Justia Eleitoral poder expedir atos complementares para disciplinar a prestao de contas das campanhas eleitorais.

    2oOs partidos polticos so obrigados, durante a campanha eleitoral, a divul-gar, pela rede mundial de computadores - Internet, nos dias 6 de agosto e 6 de setembro, relatrio discriminando os recursos que tenham recebido para financiamento da campa-nha eleitoral e os gastos que realizarem, em stio criado pela Justia Eleitoral para esse fim.(NR)

    Art.29.Os comits financeiros devero:

    I-resumir as informaes contidas nas prestaes de contas, de forma a apre-sentar demonstrativo consolidado das campanhas das candidatas e candidatos;

    II - encaminhar Justia Eleitoral, at o trigsimo dia posterior realizao das eleies, as prestaes de contas do comit, na forma do art. 28, caput, e de seu 2o, ressalvada a hiptese do inciso III; e

    III - havendo segundo turno, encaminhar a prestao de contas, referente aos doisturnos,atotrigsimodiaposteriorasuarealizao.(NR)

    Art.30...................................................................................................

    1oA deciso que julgar as contas dos partidos, federaes ou coligaes com candidatos e candidatas eleitos ser publicada em sesso at oito dias antes da diplomao.

    ..............................................................................................................4o Havendo indcio de irregularidade na prestao de contas, a Justia

    Eleitoral poder requisitar diretamente do comit financeiro informaes adicionais necessrias, bem como determinar diligncias para complementao dos dados ou saneamentodasfalhas.(NR)

    Art.32.At cento e oitenta dias aps a diplomao, os partidos conservaro a documentaoconcernenteasuascontas.(NR)

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/199732

    CapTuLo iiidas LisTas pr-ordenadas

    Art. 7 Os art. 93, 104, 108, 109, 111, 112, 186 e 207 da Lei 4.737, de 15 de julho de 1965, passam a vigorar com a seguinte redao:

    Art.93.O prazo para dar entrada em cartrio ou na Secretaria do Tribunal, conforme o caso, de requerimento de registro de lista partidria pr-ordenada ou de can-didatura a cargo majoritrio terminar, improrrogavelmente, s dezoito horas do nonag-simodiaanteriordatamarcadaparaaeleio.(NR)

    Art. 104...........................................................................................

    5oNas eleies realizadas pelo sistema proporcional, a cdula ter espaos para que o eleitor indique a sigla ou o nmero do partido ou federao em cuja lista pre-tendevotar.(NR)

    Art.108.Estaro eleitos tantos candidatos e candidatas registrados por um partido ou federao quantos o respectivo quociente partidrio ou da federao indicar, na ordemestabelecidanalista.(NR)

    Art. 109..........................................................................................

    1o O preenchimento dos lugares com que cada partido ou federao for contemplado far-se- segundo a ordem estabelecida na lista partidria, respeitada a alter-nnciadesexoacadaposio.(NR)

    Art.111.Se nenhum partido ou federao alcanar o quociente eleitoral, os lugares sero distribudos de acordo com o critrio das maiores mdias de votos, na forma estabelecidanoart.109,incisosIeII.(NR)

    Art.112.Considerar-se-o suplentes as candidatas ou candidatos no eleitas ou eleitos, na ordem estabelecida na lista partidria ou da federao, respeitando-se a lista eosexoestabelecidano1doart.109destaLei.(NR)

    Art.186....................................................................................................................

    1o...............................................................................................................................

    .......................................................................................................................................

    VII-avotaodecadalistapartidria;(NR)

    Art.207...................................................................................................................

    ....................................................................................................................................

    IV-a votao de cada lista partidria e de cada candidato ou candidata majo-ritrio;(NR)

  • Comisso TriparTiTe para a reviso da Lei 9.504/1997 33

    Art.8oOs art. 5o, 8o, 10, 12, 13, 15 e 83 da Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997, passam a vigorar com a seguinte redao:

    Art.5oNas eleies proporcionais, contam-se como vlidos apenas os votos dadosaospartidosesfederaes.(NR)

    Art. 8o A escolha das candidatas e candidatos pelos partidos e federaes, assim como a ordem deles estabelecida na lista, respeitada a alternncia de sexo a cada posio, dever ser feita no perodo de 10 a 30 de junho do ano em que se realizarem as eleies.

    3oA conveno partidria ou da federao definir os candidatos e candi-datas integrantes da lista partidria ou da federao pelo voto direto e secreto de, pelo menos, quinze por cento dos filiados e filiadas, sendo vedada a delegao a outro rgo, sobpenadeindeferimentodoregistrodarespectivalista.(NR)

    Art.10.Cada partido ou federao poder registrar, para as eleies propor-cionais, uma quantidade de candidatas e candidatos que represente at cem por cento do nmero de vagas em disputa.

    1oDo nmero de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada par-tido ou federao dever garantir a existncia de ambos os sexos, alternadamente, a cada posionalista,sobpenadeindeferimentodoregistrodarespectivalista.(NR)

    Art.12.Os partidos e federaes, no pedido de registro da lista partidria ou da federao s eleies proporcionais, indicaro, alm dos nomes completos dos candida-tos e candidatas, eventual variao nominal com a qual as candidatas e candidatos devem ser registrados.

    ..................................................................................................................6oQuando a opo de nome indicado puder confundir o eleitor ou causar

    qualquer distrbio no processo eleitoral, a Justia Eleitoral poder exigir do partido ou federao prova de que a candidata ou candidato conhecido pela opo de nome indi-cada, ou solicitar ao partido a indicao de nova opo para a denominao do candidato oucandidata.(NR)

    Art.13....................................................................................................

    3o Nas eleies proporcionais, a substituta ou substituto, respeitada a al-ternncia, ocupar o ltimo lugar relativo ao seu sexo na lista definida pelo partido ou federao.(NR)

    Art.15. Aos partidos e federaes fica assegurado o direito de manter os nmeros atribudos sua legenda na eleio anterior.

    1oOs candidatos e candidatas aos cargos majoritrios, com ou sem coligao, concorrero com o nmero identificador do partido ao qual estiverem filiados.

    2oNas eleies proporcionais, as listas partidrias concorrero