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RELATÓRIO NACIONAL SOBRE O GERENCIAMENTO DA ÁGUA NO BRASIL Janeiro/2000

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RELATÓRIO NACIONAL SOBRE O GERENCIAMENTO DA ÁGUA NOBRASIL

Janeiro/2000

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 2

RELATÓRIO NACIONAL SOBRE O GERENCIAMENTO DA ÁGUA NOBRASIL

Carlos E. M. TucciInstituto de Pesquisas Hidráulicas – IPH

Universidade Federal do Rio Grande do SulAv. Bento Gonçalves, 9500 Porto Alegre-RS – fone 55 51 3166408 – [email protected]

Ivanildo HespanholUniversidade de São Paulo - USP

R. Prof. Guilherme Milward, 469 São Paulo - Brasil - CEP 05506-000Telefone: +55 11 814-7952 [email protected]

Oscar CordeiroUniversidade de Brasília – UNB

(endereço e e-mail)

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 3

SUMÁRIO

1. SUMÁRIO EXECUTIVO .................................................................................. 8

2. INTRODUÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PAÍS ........................... 25 2.1 Introdução 25 2.2 Características gerais do país 25 2.3 População 27 2.4 Poderes 30 2.5 Economia 31 2.6 Relevo e vegetação 34

3. MANEJO INTEGRADO DOS RECURSOS HÍDRICOS .................................. 37 3.1 As bacias hidrográficas nacionais e internacionais ................................... 37 3.2 Disponibilidade hídrica .............................................................................. 40 3.2.1 Disponibilidades relacionadas com o clima ....................................... 40 3.2.2 Disponibilidade hídrica dos recursos superficiais ............................. 44 3.2.3 Disponibilidade hídrica dos recursos subterrâneos ........................... 46 3.2.4 Caracterização da qualidade da água ............................................... 47 3.2.5 Rede de Monitoramento .................................................................... 50 3.3 Uso e aproveitamento de recursos hídricos ............................................. 54 3.3.1 Usos Consuntivos ............................................................................. 55 3.3.2 Usos não-consuntivos ....................................................................... 61 3.4 Balanço e situações ambientais críticas extremas .................................... 63 3.4.1 Balanço disponibilidade – demanda ................................................. 63 3.4.2 Inundações ...................................................................................... 65 3.4.3 Outras situações de degradação ambiental ..................................... 67 3.4.4 Calamidades ..................................................................................... 70 3.5 Aspectos Institucionais da gestão dos recursos hídricos .......................... 71 3.5.1 Administração da água ..................................................................... 71 3.5.2 Mecanismos de participação dos usuários ....................................... 75 3.5.3 Legislação das águas ....................................................................... 78 3.6 Aspectos econômicos e sociais da gestão dos recursos hídricos ........... 82 3.6.1 Sistema tarifário ................................................................................ 82 3.6.2 Mecanismos de financiamento ......................................................... 84 3.6.3 Aspectos Sociais .............................................................................. 85 3.7 Análise de desafios, conflitos e elementos críticos para o

desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos a longo prazo .........86

3.7.1 Aspectos institucionais....................................................................... 86 3.7.2 Desenvolvimento urbano ................................................................. 87 3.7.3 Energia ............................................................................................. 88 3.7.4 Navegação ....................................................................................... 89 3.7.5 Desenvolvimento rural ..................................................................... 89 3.7.6 Enchentes e Secas .......................................................................... 90 3.7.7 Desenvolvimento regional e Meio Ambiente .................................... 91

3.7.8 Formação de recursos humanos e pesquisa .................................... 92

4. ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO ............................................................ 97 4.1 Estrutura Organizacional............................................................................ 97

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 4

4.1.1 Formulação de políticas e planejamento .......................................... 97 4.1.2 Legislação e controle ........................................................................ 98 4.1.3 Gestão dos serviços ......................................................................... 102 4.2 Análise operacional .................................................................................. 105 4.2.1 Cobertura de água potável e saneamento ....................................... 106 4.2.2 Qualidade e condição de serviço ...................................................... 108 4.2.3 Deficit de serviços e impactos sobre a saúde ................................. 108 4.2.4 Gestão operacional de empresas operadoras .................................. 111 4.3 Financiamento do setor ............................................................................. 115 4.3.1 Necessidade de financiamento ......................................................... 115 4.3.2 Principais fontes de financiamento ................................................... 116 4.4 Capacidades e deficiências de regulação ............................................... 118 4.4.1 Capacidades e deficiências institucionais ........................................ 118 4.4.2 Capacidades e deficiências de regulação ........................................ 119 4.4.3 Capacidade e deficiências das operadoras ..................................... 120

5. SITUAÇÃO ESPERADA DOS RECURSOS HÍDRICOS NO ANO 2025NOS DISTINTOS CENÁRIOS .....................................................................

123

5.1 Cenário metas .......................................................................................... 123 5.2 Tendência ................................................................................................. 124

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...................................................... 133

7. REFERÊNCIAS ........................................................................................... 140

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 5

Abreviaturas

ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e AmbientalABRH - Associação Brasileira de Recursos HídricosANA – Agência Nacional de ÁguasANEEL – Agência Nacional de Energia ElétricaASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de SaneamentoCEF - Caixa Econômica FederalCESBs - Companhias Estaduais de Saneamento BásicoCNPq – Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento TecnológicoCONAMA - Conselho Nacional do Meio AmbienteDESAN - Departamento de SaneamentoDNAEE - Departamento Nacional de Águas e Energia ElétricaFGTS - Fundo de Garantia por Tempo de ServiçoFINEP – Financiadora de Estudos e ProjetosGWP – Global Water ParternshipIBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIPEA - Instituto de Pesquisa Econômica AplicadaMBES - Ministério do Bem Estar SocialMPO - Ministério do Planejamento e OrçamentoMS - Ministério da SaúdeONGs – Organizações Não GovernamentaisPADCT/CIAMB – Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Ciência eTecnologia/Ciências AmbientaisPLANASA - Plano Nacional de SaneamentoPMSS - Projeto de Modernização do Setor de SaneamentoPNAD - Pesquisa Nacional de DomicíliosSEPURB - Secretaria de Política UrbanaSMAEs - Serviços Municipais de Água e EsgotoSNS - Secretaria Nacional de SaneamentoWHO - World Health OrganizationWRI - World Resources Institue

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 6

Definições e conceitos

Custo do Serviço: Soma de despesas de exploração, serviço da dívida, depreciação,amortizações, provisões e outros custos, no ano de referência, expressa em Reais,dividido pelo volume total faturado.

Despesa de Exploração: Despesas necessárias à prestação dos serviços,compreendendo despesas com pessoal e encargos, produtos químicos, materiais deconsumo e conservação, energia elétrica, serviços de terceiros, despesas gerais edespesas físicas e tributárias (exclusive imposto de renda), dividido pelos volumes deágua e esgotos faturados. Expressa em Reais por metro cúbico.

Índice de Evasão de Receita: Relação entre a receita faturada por todos os serviçosprestados, menos os valores efetivamente recebidos no ano de referência,relacionados com a prestação dos serviços, divididos pela soma dos volumes de águaproduzido e comprado. Expresso em porcentagem.

Índice de Faturamento de Água: Relação entre o volume médio de água, debitadoao total das economias medidas e não medidas, dividido pelos volumes de águaproduzido e comprado. Expresso em porcentagem.

Perdas de Faturamento e Índice de Perdas de Faturamento: Relação entre a somados volumes de água produzido e comprado, menos o volume de água faturado,divididos pela soma dos volumes de água produzido e comprado. Expresso emporcentagem.

Tarifa Média Praticada: Soma da receita anual faturada pela prestação dos serviçosde abastecimento de água e coleta de esgotos, expressa em Reais, dividido pelovolume total faturado.

Volume de Água Macromedido: Volume médio de água tratada e produzida, medidona saída das Estações de Tratamento de Água ou Unidades Simplificadas deTratamento, por meio de macromedidores permanentes. Expresso em mil metroscúbicos por dia.

Volume de Água Micromedido: Volume médio de água apurado pelos medidores devazão instalados nos ramais prediais. Expresso em mil metros cúbicos.

Volume Total Faturado: Corresponde à soma dos volumes faturados de água eesgoto. Expresso em mil metros cúbicos por dia.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 7

1. SUMÁRIO EXECUTIVO

A avaliação e análise dos recursos hídricos e do setor de água e saneamento do Brasilpara o cenário atual e a tendência de seu desenvolvimento até 2025 dentro da WorldWater Vision, faz parte de um esforço mundial, baseado na iniciativa de váriasentidades internacionais.

Na América do Sul a iniciativa coube ao SAMTAC (South America Technical AdviseComitee) do GWP (Global Water Parternership), que contratou uma empresa para odesenvolvimento do relatório básico da região, baseado no documento de cada país,preparado por consultores escolhidos pelo SAMTAC. Este relatório faz parte desteconjunto de avaliações e trata dos Recursos Hídricos do Brasil. A itemização seguiu opadrão previsto para os países.

A avaliação e o prognóstico do desenvolvimento sustentável dos Recursos Hídricos edo setor de Água e Saneamento de um país trata da análise da inter-relação doscomponentes naturais dos sistemas com o sócio-econômico. As principais etapasdeste processo envolvem, a avaliação do desenvolvimento histórico, as condiçõesatuais e os cenários de metas e potenciais de desenvolvimento dos recursos hídricosno país.

Neste documento são apresentados, no capítulo seguinte, os dados gerais do país,buscando dar uma idéia básica de alguns elementos físicos e sócio-econômicos. Nocapítulo 3 são apresentados todos os aspectos de recursos hídricos, destacando-sedisponibilidade, demanda e aspectos institucionais. No capítulo 4 são discutidos osprincipais aspectos de água potável e saneamento, pela relevância do setor nasustentatibilidade de países em desenvolvimento como os da América do Sul. Nocapítulo 5 são apresentados os cenários tendo como horizonte 2025 e a tendência atéo referido horizonte. O documento conclui com o capítulo 6 onde são apresentadas asconclusões e recomendações.

Deve-se destacar que este documento não é exaustivo, mas seletivo devido às suascaracterísticas mais globais. Não se busca aqui propor nenhum plano, mas destacartendência de desenvolvimento dos recursos hídricos. Além disso, foi preparado numexíguo tempo em função do calendário da World Water Vision.

Histórico

O desenvolvimento dos recursos hídricos em países em desenvolvimento como os daAmérica Latina passou por estágios semelhantes aos dos países desenvolvidos, masem períodos diferentes. Após a segunda guerra mundial houve um grandedesenvolvimento econômico e a construção de muitas obras hidráulicas,principalmente de geração de energia elétrica. Nesta época, países emdesenvolvimento como o Brasil estavam na fase de inventariar seus recursos edesenvolvendo a construção das primeiras obras hidráulicas de menor porte (tabela1.1).

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 8

Tabela 1.1 Visão histórica (adaptado de Tucci, 1994)Período Países desenvolvidos Brasil1945-60

Fase deengenhariacom poucaconservação

• Uso dos recursos hídricos Abastecimento,navegação hidreletricidade, etc

• Qualidade da água dos rios• Medidas estruturais de controle da

enchentes

• Inventário dos recursos hídricos• Início dos empreendimentos

hidrelétricos e projetos de grandessistemas.

1960-70

Início dapressãoambiental

• Controle de efluentes;• Medidas não estruturais para enchentes• Legislação para qualidade da água dos

rios

• Início da construção de grandesempreendimentos hidrelétricos;

• Deterioração da qualidade daágua de rios e lagos próximos acentros urbanos.

1970-1980

controleambiental

• Usos múltiplos;• Contaminação de aqüíferos;• Deterioração de ambiental de grandes

áreas metropolitanas;• Controle na fonte de drenagem urbana• Controle da poluição doméstica e

industrial;• Legislação ambiental

• Ênfase em hidrelétricas eabastecimento de água;

• Início da pressão ambiental;• Deterioração da qualidade da

água dos rios devido ao aumentoda produção industrial econcentração urbana.

1980-90

Interaçõesdo AmbienteGlobal

• Impactos Climáticos Globais;• Preocupação com conservação das

florestas;• Prevenção de desastres;• Fontes pontuais e não pontuais de

poluição rural;• Controle dos impactos da urbanização

sobre o ambiente• Contaminação de aqüíferos

• Redução do investimento emhidrelétricas devido a falta deempréstimos internacionais;

• Piora das condições urbanas:enchentes, qualidade da água;

• Fortes impactos da secas doNordeste;

• Aumento de investimentos emirrigação;

• Legislação ambiental1990-2000DesenvolvimentoSustentável

• Desenvolvimento Sustentável;• Aumento do conhecimento sobre o

comportamento ambiental causado pelasatividades humanas;

• Controle ambiental das grandesmetrópoles;

• Pressão para controle da emissão degases, preservação da camada de ozônio;

• Controle da contaminação dos aqüíferos edas fontes não-pontuais;

• Legislação de recursos hídricos• investimento no controle sanitário

das grandes cidades;• Aumento do impacto das

enchentes urbanas;• Programas de conservação dos

biomas nacionais: Amazônia,Pantanal, Cerrado e Costeiro;

• Início da privatização dos serviçosde energia e saneamento;

2000-

Ênfase naágua

• Desenvolvimento da Visão Mundial daÁgua;

• Uso integrado dos Recursos Hídricos;• Melhora da qualidade da água das fontes

não – pontuais: rural e urbana;• Busca de solução para os conflitos

transfronteriços;• Desenvolvimento do gerenciamento dos

recursos hídricos dentro de basessustentáveis

• Avançar o desenvolvimento dosaspectos institucionais da água;

• Privatização do setor energético;• Aumento de usinas térmicas para

produção de energia;• Privatização do setor de

saneamento;• Aumentar a disponibilidade de

água no Nordeste;• Desenvolvimento de Planos de

Drenagem urbana para ascidades.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 9

Na etapa seguinte, observou-se o início da pressão ambiental nos paísesdesenvolvidos devido, principalmente à degradação das águas superficiais, resultandonas primeiras legislações restritivas quanto ao despejo de efluentes. Em face destescontroles houve melhora da qualidade da água, mas os resíduos foram transferidospara o sub-solo, contaminando a água subterrânea. Neste período os países emdesenvolvimento geralmente não possuíam nenhuma legislação sobre o assunto oucontrole.

Nos anos 70 observou-se o início da pressão ambiental em países emdesenvolvimento, enquanto este processo de controle se acelerava nos paísesdesenvolvidos. No Brasil, nos anos 80, foi aprovada a legislação ambiental e oscritérios de controle de sistemas hídricos e hidrelétricos. Neste período os paísesdesenvolvidos enfatizaram os impactos globais, contaminação de aqüíferos e apoluição difusa. O efeito das preocupações sobre o clima global e a pressão sobreáreas como Amazônia reverteu o processo de investimento internacional no Brasil,que enfatizava a energia através das hidrelétricas. Neste momento, foram eliminadosos financiamentos internacionais para construção de hidrelétricas, com grande impactona capacidade de expansão do sistema no Brasil.

Os anos 90 foram marcados pela idéia do desenvolvimento sustentável que busca oequilíbrio entre o investimento no crescimento dos países e a conservação ambiental.Neste sentido, os investimentos internacionais, que no período anterior financiaramaproveitamentos hidrelétricos se voltaram para apoiar a melhoria ambiental dascidades, iniciando com as grandes metrópoles brasileiras.

O final dos anos 90 e o início do novo século (e milênio) está marcadointernacionalmente pelo movimento pela busca de uma maior eficiência no uso dosrecursos hídricos dentro de princípios básicos aprovados na Rio 92. A água é o tópicoque tem suscitado uma grande preocupação dos planejadores como a base desustentação da sociedade moderna. Os grande desafios que se visualizam no Brasilsão a consolidação dos aspectos institucionais do gerenciamento dos recursoshídricos, o controle do recursos hídricos nas grandes metrópoles brasileiras, apreservação ambiental, o uso e controle do solo rural e o impacto da poluição difusadentro de uma visão racional de aproveitamento e preservação ambiental.

Situação atual

O desenvolvimento dos recursos hídricos e a conservação dos sistemas naturais éum desafio da sociedade brasileira e passa por vários aspectos, relacionados comas condições sociais e econômicas. A seguir foram destacados os principaiselementos.

Institucional

O desenvolvimento institucional encontra-se numa fase de transição. A lei de recursoshídricos foi aprovada em 1997 e a sua regulamentação está em curso com ainstituição da Agência Nacional da Água (legislação no Congresso), a aprovação daslegislações de parte importante dos Estados e o início do gerenciamento através decomitês e agências de bacias em áreas isoladas. No entanto, ainda não foi aprovado osuporte institucional básico que permita a tomada de decisão pelos comitês, osrecursos para execução e as agências para implementação. O processo institucionalbrasileiro apresentou uma evolução muito importante nos últimos anos, o que tem sidopromissor para o gerenciamento dos recursos hídricos.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 10

No setor de água potável e saneamento, ocorre uma transição institucional, queenvolve a privatização dos serviços das empresas que são públicas. Este processodepende da solução de um impasse econômico-institucional, já que as empresas sãoestaduais e não possuem o direito de concessão dos serviços. Este direito éprerrogativa dos municípios, o que pulveriza as atribuições e reduz o valor econômicodas empresas estaduais.

Disponibilidade e demanda

As condições atuais de disponibilidade x demanda mostram que na média e namaioria do território brasileiro, não existe falta de recursos hídricos, no entantoobserva-se condições críticas em períodos de estiagem no Semi-árido Nordestino e,em algumas regiões, onde o uso da água é intenso como na irrigação do arroz, navizinhança das cidades médias e principalmente das regiões metropolitanas.

O Nordeste brasileiro apresenta condições hídricas desfavoráveis que combinam:evapotranspiração alta durante todo o ano, baixa precipitação, sub-solo desfavorávelem muitas regiões (água salobra ou formação cristalino) e baixo desenvolvimentoeconômico social. A falta de água em grande parte do ano atinge a sustentatibilidadeda população em áreas extensas do Semi-Árido.

As grandes concentrações urbanas brasileiras apresentam as condições mais críticasde sustentabilidade devido ao excesso de cargas de poluição doméstica, industrial edas enchentes urbanas, que contaminam os mananciais, associado a forte demandade água. A tendência de redução de disponibilidade hídrica destas áreas é significativopelos dois fatores citados, onde já se observa freqüentes racionamentos em Recife eSão Paulo. A Região Metropolitana de São Paulo que importa a maior parte da águada bacia do rio Piracicaba devido a contaminação dos mananciais vizinhos, estápraticamente sem opções de mananciais. No entanto, possui uma perda não cobradade cerca de 40% de água. A racionalização do uso da água e o reuso poderão permitiruma solução mais sustentável.

Outro conflito é observado entre água potável e irrigação nas regiões críticas como oNordeste, em regiões de forte demanda agrícola do Sul do Brasil. Este conflitoslocalizados necessitam de soluções específicas através dos interlocutores no comitêdas bacias. O Ceará que possui reduzida disponibilidade hídrica durante a estiagem,tem apresentado soluções criativas para os conflitos de uso nas áreas de baixadisponibilidade sazonal.

A falta de água em anos mais secos em algumas regiões, tanto para a agriculturacomo para o abastecimento é muitas vezes falta de regularização e programaspreventivos de redução destes impactos.

Desenvolvimento urbano

O Brasil apresenta 80% da população em áreas urbanas. Nos estados maisdesenvolvidos estes números chegam na vizinhança de 90%. Devido a esta grandeconcentração urbana, vários conflitos tem sido gerados neste ambiente que são osseguintes: (a) degradação ambiental dos mananciais; (b) aumento do risco dasáreas de abastecimento com a poluição orgânica e química; (c) contaminação dosrios por esgotos doméstico, industrial e pluvial; (d) enchente urbana gerada pelainadequada ocupação do espaço e pelo gerenciamento inadequado da drenagemurbana; (e) falta de coleta e disposição do lixo urbano.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 11

Este processo ocorre principalmente porque os municípios não possuem capacidadeinstitucional e econômica para administrar o problema, enquanto os Estados e aUnião estão distantes de buscar uma solução gerencial adequada para apoiar osmunicípios. Cada um dos tópicos acima são vistos de forma isolada sem umplanejamento preventivo ou mesmo curativos dos processos. Com conseqüência, seobserva prejuízos econômicos, forte degradação da qualidade de vida, com retornode doenças de veiculação hídrica, mortes, perdas de moradias e bens, interrupçãode atividade comercial e industrial em algumas áreas, entre outros.

Este processo já está agravado nas grandes cidades, exigindo recursossignificativos a minimização dos impactos. O custo de controle na fase deplanejamento é muito menor que o curativo depois que os problemas ocorreram. Atendência urbana atual é de redução do crescimento das metrópoles em detrimentodas cidades médias. Neste sentido, os impactos tenderiam a se disseminar paraeste tipo de cidade, que ainda não possui degradação ao nível das metrópoles eexiste espaço para prevenção. No entanto, não existe capacidade gerencial enenhum programa de apoio as cidades para busca de melhoria quanto ao seudesenvolvimento sustentável.

Desenvolvimento rural

Existe um conflito natural entre o uso da água para agricultura e o abastecimentohumano em algumas regiões brasileiras, principalmente quando a demanda é muitoalta como, para irrigação de arroz por inundação. Este processo passa pelo aumentoda eficiência dos sistemas de irrigação e o gerenciamento adequado dos efluentesagrícolas quanto a contaminação.

Os aspectos principais do desenvolvimento rural estão relacionados com adisponibilidade hídrica nas regiões secas como o Nordeste onde a viabilidade dodesenvolvimento econômico depende muito da disponibilidade de água. Existe umaimportante expansão de empreendimentos voltados para a fruticultura que apresentarentabilidade econômica e mais de uma safra por ano, desde que irrigado. Esteprocesso se desenvolve junto ao São Francisco onde a disponibilidade hídrica émaior, enquanto que as áreas distante dos rios perenes persiste a agrícola desubsistência que sofre freqüentes perdas.

Nas regiões Sul e Sudeste o uso da irrigação ainda depende de redução do custodos projetos de irrigação para a maioria das culturas, a exceção do arroz deinundação. Grande parte do setor agrícola prefere assumir os riscos, que ocorremsomente em alguns anos, do que o investimento em irrigação. No entanto, nairrigação do arroz existem conflitos do uso da água na bacia do rio Uruguai eambientais na região do lagoa Mirim.

Além do atendimento hídrico a produção hídrica deve-se ressaltar a necessidade deconservação do solo que é a fonte da poluição difusa hídrica. Em grande parte doSul do Brasil tem se observado uma mudança de prática agrícola no sentido de trocade plantio conservacionista para plantio direto, com importantes benefícios hídricosque são: redução da erosão, aumento do freático dos rios e maior regularização. Noentanto, existem várias regiões do Brasil onde a erosão e a degradação do solo sãoimportantes como na Bacia do rio Paraguai, onde o gado e a soja têm produzidoimportante alteração na geração de sedimentos que se desloca para o Pantanal,principalmente no leque do rio Taquari.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 12

Face ás grandes demandas agrícolas o reuso pode também, se constituir emalternativa adequada, reservando água de boa qualidade para abastecimento públicoe outros usos benéficos.

Hidroenergia

O sistema de produção energético brasileiro depende 91% da energia hidrelétrica etem planejado a sua diversificação com termelétricas a gás para os próximos anos.Mas mesmo assim, esta diversificação até 2002 ainda manterá em 83% a parcela dashidrelétricas.

Associado ainda ao risco de falha, deve-se considerar que desde 1970 as regiõesCentro-Oeste, Sul e Sudeste (onde se encontra grande parte da capacidade instalada)apresentam vazão média cerca de 30% maior que do período anterior, o que significaque para a mesma capacidade instalada é possível gerar mais energia, com menorrisco de falha. O sistema, mesmo com o período de vazões altas, está no limite deatendimento da demanda. Considerando que períodos longos climáticos abaixo eacima de determinados patamares podem ocorrer, o sistema, desta forma tem fortedependência da climatologia. Em condições climáticas mais desfavoráveis, mantidasas tendências de aumento da demanda e com reduzida ampliação da oferta, podecriar condicionantes desfavoráveis ao desenvolvimento econômico brasileiro.

O sistema está passando pelo processo de privatização ao longo dos próximos anoscom venda dos empreendimentos existentes, o que em parte já ocorreu e a instalaçãode novos empreendimentos, na sua grande parte térmico a gás. Além disso dentro dospróximos anos deverá ocorrer a regulação dos processos de compra e venda deenergia e o funcionamento entre empresas da geração, transmissão e distribuição.

Enchentes e Secas

As enchentes urbanas tem sido uma das grandes calamidades a que a populaçãobrasileira tem sido sujeita como resultado de: (a) ocupação inadequada do leitomaior dos rios; e/ou (b) urbanização das cidades.

O país perde anualmente somas altas, provavelmente superiores a 1 bilhão dólares.Não existe nenhuma política de controle e as que existem são totalmenteequivocadas, o que tem aumentado os prejuízos nas cidades. Normalmente existeuma combinação de falta de conhecimento e de interesse na solução destesproblemas, a medida que ocorrendo o evento é declarada calamidade pública e omunicípio recebe recursos a fundo perdido, sem que seja necessário concorrênciapública para gasto dos mesmos. Com este tipo de ação dificilmente serãoimplementados programas preventivos, que na sua maioria não envolvem obrasestruturais, mas regulamentação do uso do solo, que geralmente é politicamentepouco palatável.

Uma potencial calamidade devido as enchentes é o rompimento de barragens,apesar do pequeno risco. Atualmente não existe regulamentação para bacias degrande porte quanto a programa preventivo de segurança das barragens. Estesituação é preocupante a medida que um evento desta natureza num sistema decascata poderá produzir um cenário desastroso a medida que não existamprogramas preventivos de minimização de impactos.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 13

As secas, principalmente no Nordeste brasileiro são eventos freqüentes. Existemprogramas específicos e ações isoladas ou pontuais, mas não há um programaregional preventivo de minimização dos seus impactos para a população, seja nasua própria subsistência, como alternativa econômica. Um dos projetos em cursoque poderá contribuir para minimizar este problema é o ProÁgua que possui umexpressivo volume de recursos planejado para diferentes Estados do Nordeste. Aaferição do resultados das iniciativas deve ser realizado nos indicadores sociais e desaúde da população, a construção de açudes ou de poços nem sempre beneficiadiretamente a população, mas certamente dará lucros as empresas.

Como as enchentes e secas geram impactos e não geram recursos como os setoresdos recursos hídricos, não estão previstos na estrutura institucional vigente. Ogrande desafio neste sentido é o de buscar criar programas nacionais preventivos deredução do impacto das inundações e das secas que orientem a população comeducação, alternativas de sobrevivência e planos para se antecipar às emergências,através de ações efetivamente descentralizadas.

Recursos humanos e desenvolvimento tecnológico

O desenvolvimento e preservação dos recursos hídricos dependem de profissionaisqualificados tanto para a execução como para a tomada de decisões voltadas para arealidade dos países. A maioria dos profissionais que trabalham na área adquiriramseu conhecimento no próprio trabalho e apenas um grupo menor obtiveram osconhecimentos através do Mestrado e Doutorado. Atualmente existe falta de pessoalqualificado no setor, principalmente na medida que ocorrer a implementação dalegislação com a criação de comitês e agências para as bacias. No entanto, a falta deinstitucionalização dos mecanismos de gerenciamento dos recursos hídricos resultamnum mercado de trabalho ainda indefinido, por mais paradoxal que seja.

O desenvolvimento tecnológico e científico tem sido incentivado por programasespeciais do CNPq, PADCT/CIAMB, CAPES e FINEP através do PROSAB eREHIDRO. Existem grupos qualificados no país, mas a sua maioria com visãosetorizada dos recursos hídricos. Devido às características continentais do país e agrande variabilidade dos ambientes é necessário um maior enfoque na especializaçãode conhecimento interdisciplinar em regiões hídrica do país como a Amazônia,Cerrado, Pantanal e Semi-Árido (entre outros), onde as características e os problemassão diversos exigindo pesquisas de médio longo prazo que apoiem o desenvolvimentoe a conservação destas regiões.

Monitoramento

A coleta de dados hídricos é essencial para qualquer planejamento adequado.Observa-se que, no país, a coleta de dados está concentrada em entidades federaiscom atribuições que envolvem um território muito extenso. As bacias de pequeno porteessenciais para o gerenciamento de demandas como abastecimento de água,irrigação conservação ambiental praticamente não existem, podendo induzir adecisões que gerem conflitos. Observa-se também que existe a necessidade demodernização do sistema de monitoramento tradicional através de automação, revisãodas práticas hidrométricas e aumento de coleta de dados de qualidade da água esedimentos.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 14

Cenários

Cenários metas

Os cenários dentro da World Water Visíon foram propostos por Gallopin e Rijsberman(1999) e são os seguintes:

• Situação crítica (business-as-usual): visão pessimista da exploraçãodos recursos hídricos, ou seja tudo se mantém como nass condições atuais;

• Econômico, tecnológico e privatização: (Economics, Technology and thePrivate Sector): visão otimista baseada nos conceitos econômicos das leis demercado, no uso de tecnologia, cobrança d’água e participação pública;

• Valores humanos e Padrões básicos de qualidade de vida (The valuesand Lyfestiles): este cenário parte do princípios que exista uma verdadeira vontade nabusca de reavivar os principais valores da vida humana e na busca de metais globaisde qualidade de vida.

Na tabela 1.2 são selecionadas as metas potenciais que necessitariam ser atingidasem cada um dos cenários dentro de alguns dos aspectos destacados neste estudo.Com base nesta análise e nas tendências visualizadas foi apresentada o provávelcenário do horizonte 2025. A análise foi realizada de forma qualitativa.

Deve-se ressaltar que os três cenários devem apresentar os mesmos resultados parao período de 2000 – 2005, considerando que o período é curto para que açõesmencionadas venham a produzir impactos.

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Tabela 1.2 Cenários MetasAspectos Crítico Otimista Valores humanosAspectosinstitucionais

• A regulamentação da legislação éaprovada, mas a resistência pelacobrança pelo uso da água, falta demecanismos econômicos e deagências mantém o cenário atualsem gerenciamento integrado;

• Limitada ação estadual e municipalno gerenciamento dos recursoshídricos;

• Privatização apenas dos serviçorentáveis

• Regulamentação da legislaçãoé aprovada;

• o sistema de cobrança pelouso da água é implementado;

• comitê e as agências sãocriados;

• as bacias hidrográficas sãoadministradas por usuários,sociedade civil e governos

• Regulamentação da legislação éaprovada;

• o sistema de cobrança pelo usoda água é implementadoconsiderando os condicionantessociais;

• comitê e as agências sãocriados;

• as bacias hidrográficas sãoadministradas por usuários,sociedade civil, governos eambientalistas.

Desenvolvimentourbano

• Aumento da falta de água nasgrandes metrópoles e cidadesmédias onde deve-se concentrar oaumento da urbanização;

• Aumento das doenças de veiculaçãohídrica e contaminação química;

• Retrocesso no mortalidade infantil ena expectativa de vida em regiõescríticas;

• Agravamento sanitário dos riospróximo das cidades e de toda arede de drenagem;

• Os sistemas de água potável esaneamento são privatizados;

• A população paga pelosserviços e pelo aumento dadisponibilidade e controle dosefluentes;

• Melhoria dos indicadoressociais e redução dasdoenças.

• Recuperação da qualidade daágua dos rios contaminados.

• Os sistemas de água potável esaneamento são parcialmenteprivatizados;

• O poder público atua paragarantir o atendimentoindependente da capacidadede pagamento de parte dapopulação;

• Melhoria dos indicadores sociaise redução das doenças.

DesenvolvimentoRural

• Aumento da poluição difusa;• Perda de solo, dessertificação e

aumento do desmatamento;• Limitada expansão da irrigação para

fruticultura devido a baixadisponibilidade;

• Agravamento dos conflitos com usoda irrigação do arroz no Sul.

• O uso de práticas agrícolasadequadas é disseminadopela melhor rentabilidade dassafras;

• Uso de tecnologia pararacionalização do uso da águae controle de efluentes;

• Expandida a conservação dosolo e aumento deprodutividade

• O uso de práticas agrícolasadequadas é disseminado pelamelhor rentabilidade das safras;

• Uso de tecnologia pararacionalização do uso da água;

• Apoio técnico rural as pequenaspropriedades;

• Educação e saúde e tecnologiasassociado a reforma agrária;

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Tabela 1.2 (continuação) Cenário MetasAspectos Crítico Otimista Valores humanosEnergia • Matriz energética pouco diversificada

• Falta de energia comestrangulamento econômico dasregiões produtivas;

• Impacto de variabilidade climática;• Racionamento energético.

• Diversificação da matrizenergética;

• Privatização da produção edistribuição da energia

• Plano emergencial paraperíodos climáticos quereduzam a oferta energética

• Diversificação da matrizenergética;

• Privatização da produção edistribuição da energia

• Plano emergencial paraperíodos climáticos quereduzam a oferta energética;

• Manutenção de subsídiossociais na energia

Eventos extremos • Aumento de perdas econômicasdevido as enchentes e gastosinadequados com a construção decanais urbanos;

• Permanência da falta de água nosemi-árido com baixodesenvolvimento e movimentosmigratórios nas secas;

• Falta de água em regiões de baixaregularização

• Medidas não-estruturais decontrole de enchentes eControle na fonte dosimpactos da urbanizaçãoatravés dos Planos deDrenagem Urbana;

• Investimento economicamenterentáveis de regularização emlocais críticos.

• Medidas não-estruturais decontrole de enchentes eControle na fonte dos impactosda urbanização através dosPlanos de Drenagem urbana;

• Plano de ampliação dadisponibilidade hídrica no Semi-árido;

• Aumento da regularização emlocais críticos.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 19

O cenário crítico representa as condições atuais e os outros dois cenáriosrepresentam metas que poderiam ser alcançadas de acordo com a política a serdesenvolvida na realidade do país para a busca destas metas.

Cenário Tendencial

De acordo com as tendências apresentadas no item anterior para cada um dosaspectos analisados pode-se observar que, isoladamente, dificilmente cada umadestes cenários será atingido. A seguir é apresentada a visão tendencial dentro dohorizonte previsto. Devido a grande dinâmica de um país como o Brasil a previsãonum horizonte de 25 anos é temerária e sujeita a grandes distorções, no entantoacreditamos que este exercício é válido até para permitir influir nos resultadosinadequados previstos.

Institucional

As condições nas quais está ocorrendo a implementação institucional a nível federalleva a crer que ocorrerá uma avanço importante na legislação. A etapa seguinte, nãomenos importante dependerá da forma como a Agência Nacional da Águadesenvolverá suas ações na implementação institucional. A tendência é de que aagência necessite pelo menos dois anos para criar uma estrutura mínima de pessoalcom qualificação para atingir suas metas de longo período, coordene as primeirasações junto aos estados e estabeleça um Plano realista de Recursos Hídricos para opaís. O próprio desenvolvimento institucional nas diferentes bacias seguramenteapresentará diferentes evoluções em função das condições já existente em Estadoscomo Ceará, São Paulo e Rio Grande do Sul onde o processo institucional avançounos últimos anos.

A cobrança pelo uso da água e os outros mecanismos de controle gerencial passarãopor um teste político muito forte nos próximos anos e a sensibilidade de negociação,característica do país, permite acreditar que este sistema poderá ser estabelecido emmaior ou menor grau de acordo com a região, suas condições específicas, situaçãocrítica dos usos e capacidade econômica. Não existindo um acordo entre os agentes(membros do comitê, agência e grupos taxados) o risco é de que toda atitude decobrança esteja sujeita a ações judiciais intermináveis que inviabilizará ogerenciamento da bacia. Como conseqüência, o comitê não terá força de decisão erecursos para implementar a Agência da bacia e desenvolver os programasnecessários. A população brasileira está cansada de pagar tributos. O Brasil é um dospaíses em desenvolvimento que mais arrecada com tributos (30% do PIB) e de formamuito injusta já que a distribuição dos tributos é muito desigual. Desta forma, com aimplantação de outra cobrança e com a tradição pública de desperdício de recursos épossível que exista uma reação como a citada. Portanto, a negociação e oesclarecimento da opinião pública e um processo transparente de gasto dos recursossão fundamentais para a viabilidade do sistema e da cobrança.

O desenvolvimento institucional é a condição básica para todo o processo degerenciamento do país. Dentro do cenário de 2025 provavelmente haverá umconjunto legal instituído consolidado, mas com grandes variações quanto á suaimplementação. A tendência é de que nas áreas onde o conflito é mais crítico, sejamestabelecidos acordos devido á necessidade de uma decisão, enquanto que emregiões sem um aparente conflito poderá ocorrer uma discussão mais prolongada compouca decisão. De um lado é benéfico, mas de outro, o processo de planejamentopreventivo é prejudicado. No entanto, o fator de demonstração poderá alterar estatendência. No tocante ás metas seguramente existirão a tendência de alguns setores

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 20

de acompanhar o cenário otimista, outros o cenário de valores humanos em função daregião, condições econômicas e politização da população.

Desenvolvimento urbano

Além dos problemas associados à sua grande extensão territorial e extremadiversidade das condições socio-econômico prevalentes em suas múltiplas regiões, oBrasil vem sofrendo, na última década, os efeitos de pelo menos três fenômenos quetendem a alterar significativamente o cenário dos recursos hídricos nacionais,particularmente no setor de abastecimento de água e saneamento. São característicasda situação atual, a fase de transição entre o regime estabelecido pelo extintoPLANASA e os novos modelos de gerenciamento do setor saneamento e de gestão derecursos hídricos que estão sendo desenvolvidos, bem como o crescente surto deprivatização de serviços públicos de água e esgoto. Há que considerar, também, osignificativo desenvolvimento tecnológico que vem ocorrendo no setor, principalmenteno que tange a sistemas de tratamento de água e de esgotos, trazendo comoconseqüência, o aumento dos níveis de cobertura devido à melhoria da relaçãobenefício/custo na execução de sistemas de abastecimento de água e de coleta deesgotos.

Embora essas características apontem para um significativo desenvolvimento do setorde água e saneamento no Brasil e as ações estejam orientadas visando a gestãosustentável dos recursos hídricos nacionais, é pouco provável que ocorram, até 2025.

Esta hipótese de ocorrência simultânea de ambos os cenários se justifica, inicialmente,pela discrepância sócio-econômica entre as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste,que, provavelmente manterão grande parte de suas estruturas no primeiro cenário, eas regiões Sudeste e Sul com características predominantes do segundo. A situaçãoreinante em cada uma dessas duas áreas distintas tenderá, ao final do períodoconsiderado, a consolidar situações correspondentes aos cenários sub-sequentes, istoé as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste tenderão a evoluir para uma situaçãocorrespondente ao segundo cenário, enquanto que as regiões sudeste e sulapresentarão, em áreas delimitadas, características do terceiro.

Com a aprovação dos novos modelos de gerenciamento de recursos hídricos, ondesão introduzidos os conceitos de usuário e poluidor pagadores, bem como o sistemade gerenciamento por bacias hidrográficas, que deverá contar com a participação dediversos atores sociais, nas regiões menos desenvolvidas do país, irá ocorrer umamelhoria significativa dos recursos hídricos, principalmente no que tange ao controleda poluição. Esta condição proporcionará melhoria de qualidade de mananciais deágua potável facilitando as condições de tratamento e abastecimento de água.Entretanto, a melhoria dos serviços de abastecimento de água e coleta de esgotossanitários dependerá de dois fatores básicos. Em primeiro lugar, a criação de umorgão regulador específico, que possa ordenar e monitorar o setor, estabelecendopadrões de qualidade, bases tarifárias, inclusive em relação à solidariedade social,áreas de cobertura, sistema de informação e mecanismos de proteção aos usuários.É imprescindível, também, integrar o planejamento das atividades das companhiasestaduais e municipais de saneamento com os planos de gestão das baciashidrográficas correspondentes, particularmente aos associados ao controle dapoluição de corpos receptores de efluentes. A tendência para o terceiro cenário dar-se-á apenas quando os critérios para tratamento e disposição de efluentes líquidosestiverem associados às política vigentes de proteção ambiental, permitindo a

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 21

evolução dos conceitos anteriores de saneamento básico para o atual, de saneamentoambiental.

No que tange à tendência de privatização dos serviços de água e saneamento básico,há que se controlar os interesses associados às áreas de cobertura quando dapreparação dos contratos de licitação, pois haverá maior interesse em investir nasgrandes regiões urbanas, onde já existe uma infra-estrutura para o abastecimento deágua, que atende a mais de 90% da população e, em menor escala, de esgotamentosanitário, que dependendo da região, pode ser superior a 50% da população total.

Nessa situação, as regiões mais ricas do país, bem como os grandes centros urbanos,irão atrair grandes investimentos do setor privado, compartilhando com o governo, aresponsabilidade pelo atendimento às necessidades de abastecimento de água eesgotamento sanitário. Caberá ao governo, portanto, através do órgão reguladorespecífico para o setor, exercer com maior eficiência, as funções, que realmente lhecompete, de agente fiscalizador e controlador, podendo exigir e fazer cumprir comrigor, as normas de controle ambiental e de gerenciamento de recursos hídricos,resultando em uma melhoria significativa das condições sanitárias e ambientaisdessas regiões.

A experiência auferida em países em estágio desenvolvimento e de industrializaçãoacelerada, demonstra que os benefícios oriundos da tecnologia moderna ocorremmuito mais rapidamente nos grande centros urbanos e regiões metropolitanas, ondese concentram os maiores níveis de renda e de maior capacitação técnica eempresarial. Essa condição levará, também, a um retardamento das regiões menosfavorecidas, ou seja as do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a evoluir para ascaracterísticas predominantes no segundo cenário, até o ano 2025.

Com a melhoria das condições sanitárias das regiões mais ricas, (Sul e Sudeste) apossibilidade de ocorrência de crises associadas ao uso da água, tornam-se menosprováveis, bem como o surgimento de epidemias associadas às doenças de origemhídrica. Esses aspectos levam, implicitamente a uma melhoria de qualidade de vida, oque representa uma tendência para a evolução na direção do terceiro cenário.

Não havendo uma atuação eficaz do governo e dos demais setores da sociedade, nosentido de atender as necessidades das populações menos favorecidas, através doinvestimento de recursos em educação, saúde, segurança e saneamento básico, bemcomo pelo desenvolvimento de uma política para melhorar a distribuição de renda, nosentido de acabar com a exclusão social, as diferenças que são observadas hoje,entre o hemisfério norte e sul do Planeta, bem como aquelas que já existem no Brasil,entre as regiões Sul e Sudeste e demais regiões do país, irão se acentuar e comoresultado, poderá ocorrer uma migração em massa, das regiões mais pobres para asmais ricas, que ao contrário dos processos de imigração entre os países, é mais difícilde ser controlada.

Este êxodo populacional para as regiões mais ricas, devido a falta de infra-estrutura,irá resultar na ocupação de áreas não adequadas, como por exemplo áreas deproteção de mananciais, encostas de morros e margens de córregos e rios, o quecomprometerá todo o trabalho desenvolvido para a melhoria das condições sanitáriasda região, aumentando o risco do surgimento de todos os problemas associados àocupação inadequada do solo, tais como enchentes, deslizamento de encostas,poluição dos corpos d’água e surto de doenças de origem hídrica, além de ocasionarproblemas de escassez de água.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 22

Pelas razões expostas acima, o que se verifica, mesmo com a possibilidade deocorrência de um cenário mais favorável, caso não haja um comprometimento dogoverno de toda a sociedade, principalmente das classes mais favorecidas, atendência a longo prazo, será a predominância do cenário, onde tudo permanececomo está, ou seja, os benefícios e avanços que serão obtidos em decorrência dodesenvolvimento de políticas adequadas de gerenciamento de recursos hídricos,participação do setor privado no setor de saneamento, utilização de tecnologiamoderna e maior conscientização da população, para com as questões relacionadas àimportância da água e do meio ambiente, poderão ser frustrados pelos processos dedegradação da qualidade ambiental, desencadeados pela população menosfavorecida, que em busca de melhores condições de vida, ou fugindo das calamidadesque assolam a sua região, irá migrar para estas regiões mais desenvolvidas.

Pode-se inferir que até o ano 2025, o Brasil apresentará, basicamente, no setor deágua e saneamento, as características correspondentes aos dois primeiros cenários,com a ocorrência pontual, nas regiões Sul e Sudeste de algumas característicasespecíficas do cenário associado a valores e estilos de vida. A proporção a que cadaum desses cenários serão estabelecidos, e a que fases do período considerado,dependerão basicamente da ação governamental, no sentido de proporcionarrecursos financeiros adequados, implementar as políticas de gestão que se fazemnecessárias para o controle das agências prestadoras de serviço e do setor privado epara o desenvolvimento tecnológico do setor.

Desenvolvimento rural

Com a implementação da regulamentação do uso da água e a sua racionalizaçãoatravés da cobrança poderão existir duas tendências opostas: (a) redução dademanda da irrigação nos projetos existentes devido a cobrança e racionalização daágua, criando melhores oportunidades para a sua sustentatibilidade regional, comobediência dos acordos do comitê; (b) aumento de conflitos e dificuldades naimplementação dos acordos ou restrições. Provavelmente o país deverá registrar osdois tipos de tendência, mas é esperado que a primeira predomine.

A tendência é de que na região Semi-Árida o uso agrícola na vizinhança dosgrandes mananciais seja voltado para produtos de maior rentabilidade e paraagricultura de subsistência nas áreas de pouca disponibilidade de água. Afruticultura e o café em algumas regiões têm mostrado rentabilidade que tornamviáveis o investimento, principalmente pela maior número de safras num mesmoano. De outro lado, estes empreendimentos exigem uma regularização da água semfalhas durante períodos longos, já que o plantio é permanente. Pode-se esperar umatendência de investimento de empresas agrícolas na região do São Francisco comimportante ampliação econômica da região através de investimentos privados. Asustentatibilidade deste processo a longo prazo dependerá do uso tecnológico. Nasáreas agrícolas fora da cobertura da disponibilidade hídrica sem riscos, onde os riosnão foram perenizados ou o potencial de água é pequeno. De acordo com ascondições atuais, o desenvolvimento se dará muito mais no sentido de buscar asustentatibilidade social da população através da melhora dos indicadores sociaiscom pequeno aumento econômico.

O cenário para o horizonte previsto é de gradual solução de algumas áreas críticas desubsistência, como mencionado, através de investimentos externos a região e grande

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 23

demanda e uso da água no raio de ação dos rios perenes para fruticultura compotencial conflito devido aos limites quantitativos.

Quanto aos programa de conservação do solo, deve-se observar ainda discrepânciasregionais de ações. As regiões com maior educação e treinamento deverá apresentarresultados bons como acontece hoje e as outras exigirá ação externa maior derecursos, educação e investimentos.

Os grandes desafios deverão envolver o controle da ocupação dos limites daAmazônia, o desenvolvimento do Cerrado, que depende fortemente da disponibilidadehídrica e o Semi-Árido. Este processo dependerá muito das políticas governamentaisde apoio de investimento, que atualmente estão limitadas pela capacidade econômicado país.

Hidroenergia

Com a regulamentação do setor com relação a privatização da geração, transmissão edistribuição, a tendência será de expansão das Usinas térmicas a gás (dentro doslimites disponíveis dos gasodutos) em função retorno mais rápido dos investimentos.O comprometimento da produção baseado em hidrelétricas deve diminuir permitindoreduzir o risco de racionamento, diversificando a matriz energética. No entanto,poderão ocorrer riscos de racionamento devido as incertezas da variabilidade climáticanum sistema em que a demanda está no limite da oferta.

De outro lado a tendência de privatização energética leva a uma dinamização maior dosistema a medida que os condicionantes legais de ação privada na distribuição,transmissão e geração estiverem bem definidos. O sistema privatizado tenderá aaumentar as térmicas dentro da capacidade de fornecimento de gás importado daBolívia e Argentina, diversificando a matriz energética. O risco de um sistema ajustadode oferta e demanda é o da externalidades climáticas de longo prazo, que podemcomprometer o desenvolvimento econômico de um período devido a inércia de ajustedo sistema. Como é impossível prever as condições climáticas de longo prazo torna-senecessários planejar o sistema para que tenha uma plano de emergência para estasituação e buscar duas tendências diversificação: a da matriz energética e a dalocalização dos sistemas hidrelétricos em regiões com diversificação de regimeclimático e hidrológico, para reduzir as incertezas.

No cenário tendencial espera-se que na matriz energética tenda a aumentar astérmicas, mas no horizonte previsto deverá possuir ainda grande predominância dasUsinas Hidrelétricas (> 70%) devido ao potencial disponível.

O mercado atacadista de energia que entrará em funcionamento nos próximos anosdepende de forma significativa da previsão das condições climáticas de curto e médioprazo. Provavelmente haverá um importante desenvolvimento tecnológico neste setorem função do prêmio do conhecimento prévio dos condicionantes que norteiam ospreços.

Enchentes e secas:

Enchentes: A elaboração recente dos Planos de Drenagem Urbana de algumascidades brasileiras provavelmente permitirá mitigar os impactos das enchentesurbanas destas cidades dentro do cenário previsto. No entanto, apenas do horizonte

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 24

de projeto representar cerca de 25 anos, acreditamos que haverá um ponderável fatorde perdas, já que será necessário mudar a concepção de projeto e planejamento dagrande maioria dos engenheiros que atuam em drenagem, o que representa toda umageração de profissionais e principalmente a visão política equivocada de obras decontrole enchentes. Esta ação requer um processo muito grande de educação dediferentes níveis que ainda não começou ou sequer está organizado. Portanto, apesardas perdas elevadas e a degradação somente existirão melhoras se houver uma fortemudança de atitude nos próximos anos. Caso contrário o cenário será o pior possível.

Quanto aos sistema de alerta e prevenção das barragens brasileiras, espera-se quesejam desenvolvidos mecanismos legais e desenvolvidos programas preventivos paraas bacias onde o impacto pode ser significativo. Com a maioria das barragens tenderáa ser privatizada, espera-se que as agências reguladoras identifiquem estaproblemática e atuem regulando este aspecto. Nos Estados Unidos e França esteaspecto foi regulamentado apenas depois de um grande desastre. Na Argentina aregulamentação ocorreu após a privatização.

Secas: o processo de falta água durante as secas de grandes proporções tem ganhoalgum apoio na prevenção, na medida que as previsões de médio prazo meteorológicatêm permitido conhecer o evento com antecedência de alguns meses. Torna-senecessário, no entanto, que programas preventivos sejam desenvolvidosaproveitando estas informações nas áreas mais críticas. A medidas que odesenvolvimento e a solução das áreas críticas venham a ser atendidos o impacto dassecas será minimizado. Considerando as secas de médio prazo que atuam sobreseqüência de anos como na década de 60 no Pantanal, 42-51 no Uruguai parte dadécada de 80 no Nordeste, estes condicionantes dificilmente serão atendidos pelainfra-estrutura existente e provavelmente continuarão a ser tratados sem prevenção.

Tanto nas enchentes como nas secas é necessário a mudança de atitude através daimplementação de programas preventivos de longo prazo. Atualmente estes eventos éuma forma de obtenção de recursos a fundo perdido.

Conclusões e recomendações

O desafio deste estudo é englobar e destacar as principais questões de RecursosHídricos do Brasil. Dentro do tempo e das informações disponíveis os elementos aquiapresentados apresentam uma parcela da visão dos autores, dentro da estruturaplanejada para o documento. No entanto, as fontes de informações e a descrição darealidade atual é proveniente de fontes que permitem caracterizar de forma razoável arealidade.

Pode-se observar no estudo que os aspectos Institucionais são fundamentais paracriar um ambiente adequado para o gerenciamento dos recursos hídricos.Diferentemente de países com longa tradição institucional, o Brasil que até a segundametade da década de 90 tinha uma organização puramente setorial, tem avançado deforma significativa em poucos anos, mesmo sem ter ainda atingido a base necessáriaque permita aplicar a descentralização, o gerenciamento por bacia, a participaçãopública, a cobrança pelo uso da água e outros preceitos modernos da sua delegislação de 97.

Considerando que a base Institucional é a condição necessárias para o gerenciamentodos recursos hídricos, as condições suficientes para avançar nas metas sustentáveispassam pelo seguinte:

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 25

§ Proteção de mananciais e tratamento de esgotos;§ Preservar e aumentar a disponibilidade hídrica nas áreas críticas;§ Adequado controle de enchentes das enchentes urbanas;§ Conservação do solo rural.

Para que o processo de planejamento das bacias sejam desenvolvidos de formaeficiente para o futuro é necessário a revisão do Plano Nacional de Recursos Hídricos,implementação dos comitês com as suas respectivas agências e o desenvolvimentode programas nacionais e regionais que atuem sobre os principais problemasemergentes.

2. INTRODUÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PAÍS

2.1 Introdução

A avaliação e análise dos recursos hídricos do Brasil dentro do cenário atual e atendência de seu desenvolvimento até 2025 dentro da World Water Vision faz partede um esforço mundial baseado na iniciativa de várias entidades internacionais.

Na América do Sul a iniciativa coube ao SAMTAC (South America Technical AdviseComitee) do GWP (Global Water Parternship) que contratou uma empresa para odesenvolvimento do documento básico da região baseado no documento de cada paíspreparado por consultores escolhidos pelo SAMTAC. Este documento faz parte desteconjunto de avaliações e trata dos Recursos Hídricos do Brasil.

A avaliação e o prognóstico do desenvolvimento sustentável dos Recursos Hídricos deum país trata da integração dos componentes naturais dos sistemas com o sócio-econômico. Estes elementos foram analisados dentro dos cenários dedesenvolvimento econômico e social buscando identificar a Visão esperada para opaís.

Neste capítulo são apresentados os dados gerais do país, buscando dar uma idéiabásica de alguns elementos físicos e sócio-econômicos do país. No capítulo 3 sãoapresentados todos os aspectos de recursos hídricos, destacando-se disponibilidade,demanda e aspectos institucionais. No capítulo 4 é destacada a área de água potávele saneamento pela relevância do setor na sustentatibilidade de países emdesenvolvimento como os da América do Sul. No capítulo 5 são analisados de foramglobal o desenvolvimento dos cenários de análise para a primeira metade do século.Enquanto que no capítulo 6 são apresentadas as conclusões e recomendações.

Deve-se destacar que este documento não deve ser exaustivo, mas seletivo devido assuas características mais globais. Não se busca aqui propor nenhum plano, masdestacar tendência e recomendar ações globais.

2.2 Características gerais do país

O Brasil é o maior país da América do Sul, ocupando quase metade de suasuperfície. Limita ao norte com a Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa eoceano Atlântico; ao sul com o Uruguai; a oeste com Argentina, Paraguai, Bolívia ePeru e ao noroeste com a Colômbia, sendo seu litoral leste banhado pelo Atlântico.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 26

O país tem fronteiras comuns com todas as nações da América do Sul, a exceção doChile e o Equador.

A superfície total é de 8.544.416 km2, quinto maior país do mundo, depois daRússia, China, Canadá e Estados Unidos. Suas maiores distâncias são, no sentidonorte-sul, de 4.345 km, e no sentido leste-oeste de 4.330 km. A maior parte dapopulação vive junto ao litoral, em grande metrópoles como São Paulo, Rio deJaneiro, Recife e Salvador. Brasília a capital fica situada no interior do PlanaltoCentral, com população estimada de 1.015 mil habitantes (1.705 mil para todo oDistrito Federal) em 1996.

A localização de 92 % das terras do País entre os dois trópicos, aliada às relativasbaixas altitudes do relevo, explica a predominância de climas quentes, comtemperaturas médias anuais acima dos 20o C. Ocorrem no País os seguintes ostipos de clima: equatorial, tropical, tropical de altitude, tropical atlântico, semi-árido esub-tropical. Adota-se uma divisão em cinco regiões administrativas no País,levando-se em conta, basicamente, características climáticas e fisiográficas. São asregiões: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste (Figura 2.1).

Figura 2.1 Divisão geográfica do Brasil e seus Estados

O Norte, a maior região do País, conta com 3,87 milhões de km2 (45,3% do territórionacional) e abriga uma população de quase 13 milhões de habitantes (7,8% dapopulação do País). A região compreende a maior parcela do trópico úmidobrasileiro e a maior parte da Floresta Amazônica. É uma região muito rica em água,

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 27

porém pouco ocupada e desenvolvida. São, ao total, 7 estados que compõem aRegião: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

O Nordeste, com 1,56 milhão de km2 (18,2% do território nacional), inclui a maiorparte da região Semi-Árida do Brasil. A população da região ultrapassa os 46milhões de habitantes (28,7% da população do País). Os 9 estados que compõem aregião são: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, RioGrande do Norte e Sergipe. As áreas úmidas se restringem à fronteira com a regiãoNorte (Estado do Maranhão) e à faixa litorânea. O Semi-Árido é uma região comprecipitações médias anuais muito irregulares, com médias que podem variar de 200a 700 mm por ano. Essa região abriga a parcela mais pobre da população brasileira,com graves problemas sociais.

A região Sudeste, que se estende, aproximadamente entre a latitude 14o Sul e oTrópico de Capricórnio (23o30’ Sul), conta com 927 mil km2 (10,9% do territórionacional), abrigando a maior parcela da população brasileira (68,4 milhões, o quecorresponde a 42,2% da população brasileira). É a região mais industrializada e demaior produção agrícola no País, formada pelos estados do Espírito Santo, MinasGerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

A região Sul, com 577 mil km2 (6,8% do território nacional) tem clima subtropical,com invernos frios e secos e verões quentes e úmidos. Os três Estados quecompõem a região (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) abrigam umapopulação de quase 24 milhões de habitantes (14,6% da população brasileira). É aregião de maior desenvolvimento social no Brasil.

O Centro-Oeste é a região de expansão da fronteira agrícola no País. Com1,61 milhão de km2 (18,9% do território nacional) e quase 11 milhões de habitantes(6,7% da população brasileira), a região se desenvolve entre as latitudes 8o e 24o

Sul, tendo ao norte a região Amazônica, a leste as regiões Sudeste e Nordeste e aoeste, Bolívia e Paraguai. A região é formada pelos Estados do Mato Grosso, MatoGrosso do Sul e do Distrito Federal.

A tabela 2.1, a seguir, apresenta Indicadores demográficos, sociais e econômicos doBrasil, de suas Regiões e dos Estados.

2.3 População

A população do Brasil era em 1998, estimada em 161,8 milhões de habitantes. Adensidade da população média é de 18,9 hab/km2. O crescimento populacional vemcaindo nas últimas décadas estando atualmente na vizinhança de 1%, mas tendendoa estabilização já que a taxa de fecundidade era de 2,3 filhos por mulher em 1996 esegundo dados deste ano do IBGE, diminuiu para cerca de 2,14 filhos. Com 2,1 apopulação estabiliza, no entanto este processo possui uma inércia.

Tem aumentado, assim, a população adulta e idosa. O número de pessoas commais de 60 anos (4,06% do total da população em 1940 e de 7,89% em 1996). Aexpectativa de vida para homens é, hoje, de 64,8 anos e de 71,2 anos para asmulheres. Há, hoje, também, 20,81% das famílias que são chefiadas por mulheres.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 28

País Superfície População Densidade Arrecadação Renda Médicos IDH Mortal. População

Região Demogr. ICMS per capita por mil (0-1) inf. por mil UrbanaEstado (km

2) (habitantes) (hab/km

2) (R$/hab.) (US$) habitantes nasc. vivos %

(1998) (1997) (1997) (1998) (1996) (1996) (1996)

Brasil 8.544.416 161.790.311 18,9 370 5.046 14,32 0,830 36,7 78,37

Região Norte 3.869.638 11.868.725 3,1 215 2.493 6,11 0,728 - 62,43Acre 153.150 514.050 3,4 106 2.450 4,75 0,754 49,48 65,20Amapá 143.454 420.834 2,9 152 1.874 4,75 0,786 27,92 87,12Amazonas 1.577.820 2.520.684 1,6 493 4.232 5,80 0,775 35,37 73,92Pará 1.253.164 5.768.476 4,6 123 1.892 6,80 0,703 36,45 53,51Rondônia 238.513 1.276.173 5,4 217 1.861 4,69 0,820 34,74 61,97Roraima 225.116 260.705 1,2 156 3.156 8,90 0,818 38,87 70,52Tocantins 278.421 1.107.803 4,0 154 - 5,38 0,587 37,48 70,66Região Nordeste 1.558.200 45.811.342 29,4 168 2.220 8,21 0,608 - 65,20Alagoas 27.933 2.688.117 96,2 128 2.010 10,38 0,538 82,80 63,11Bahia 567.295 12.851.268 22,7 196 2.828 7,65 0,655 51,96 62,41Ceará 146.348 7.013.376 47,9 181 1.752 7,56 0,590 58,22 69,21Maranhão 333.366 5.356.853 16,1 73 1.861 3,85 0,547 65,40 51,92Paraíba 56.585 3.353.624 59,3 144 1.553 9,76 0,557 70,95 68,43Pernambuco 98.938 7.523.755 76,0 212 2.765 11,63 0,615 61,80 74,02Piauí 252.378 2.714.999 10,8 109 1.153 5,57 0,534 53,85 58,21Rio Grande do Norte 53.307 2.624.397 49,2 170 2.007 9,55 0,668 63,24 72,05Sergipe 22.050 1.684.953 76,4 218 1.946 9,32 0,731 54,82 70,22Região Sudeste 927.287 68.961.343 74,4 527 7.384 20,25 0,851 - 89,30Espírito Santo 46.184 2.895.547 62,7 562 5.468 13,89 0,836 29,61 77,64Minas Gerais 588.384 17.100.314 29,1 333 5.937 13,36 0,823 26,06 78,42Rio de Janeiro 43.910 13.681.410 311,6 387 7.377 31,18 0,844 25,60 95,53São Paulo 248.809 35.284.072 141,8 671 8.245 19,88 0,868 24,89 93,11Região Sul 577.214 24.154.080 41,8 374 5.281 13,76 0,859 - 77,21Paraná 199.709 9.258.813 46,4 321 5.361 11,34 0,847 28,47 77,88Rio Grande do Sul 282.062 9.866.928 35,0 408 5.402 18,18 0,869 21,32 78,66Santa Catarina 95.443 5.028.339 52,7 405 4.894 9,56 0,863 23,37 73,13Região Centro-Oeste 1.612.077 10.994.821 6,8 381 4.405 12,69 0,808 - 84,45Distrito Federal 5.822 1.923.406 330,4 494 5.897 29,42 0,869 23,60 92,88Goiás 341.289 4.744.174 13,9 359 3.709 10,06 0,786 27,12 85,78Mato Grosso 906.807 2.331.663 2,6 371 2.085 5,91 0,767 28,57 75,84Mato Grosso do Sul 358.159 1.995.578 5,6 337 7.335 10,73 0,848 23,20 83,22

Tabela 2.1Indicadores demográficos, sociais e econômicos - Brasil, Regiões e Estados

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No Brasil, para cada cem mulheres existem cerca de 97 homens, segundo o IBGE(1996), com grandes disparidades regionais e entre as áreas urbanas e rurais. Opercentual de população urbana sobre a total é de 78,37% (de um mínimo de51,92% no Maranhão até 95,53% no estado do Rio de Janeiro).

A taxa de natalidade é de 18,81 por mil habitantes (1998) e a de mortalidade de 58por mil habitantes (1996). A mortalidade infantil era de 36,7 por 1.000 nascidosvivos. Há, também, nesses casos, grandes variações regionais: para a mortalidadeinfantil, tem-se desde 21,32 no Rio Grande do Sul até 82,80 no estado de Alagoas(na região Nordeste). Mesmo com essas diferenças regionais, o que pode serconstatado, é que esses indicadores sociais mostraram uma melhora na qualidadede vida da população, observando-se que a esperança de vida ao nascer passou de61,88 para 67,8 anos, no período entre 1980 e 1997, enquanto a taxa bruta demortalidade foi reduzida de 9,0 %o, para 7,0 %o, nesse mesmo período. Dados daOrganização Mundial da Saúde indicam que o índice de desnutrição no Brasil, paracrianças abaixo de cinco anos de idade, é igual a 12 % para os meninos e 9 % paraas meninas, dados referentes ao ano de 1995

O índice de analfabetismo era de 14,7% em 1996, com variações de 6,29% noDistrito Federal até 36,28 no estado de Alagoas. O número de médicos por habitantetambém varia muito regionalmente: desde 3,85 no estado do Maranhão até 31,18 noestado do Rio de Janeiro.

O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), definido pela ONU, alcançado peloBrasil em 1996 foi de 0,830. Esse índice coloca o Brasil na 60a posição mundial e na6a posição em termos de América do Sul. Há, do mesmo modo, grandes variaçõesentre os estados brasileiros: de 0,534 para o estado do Piauí (IDH próximo ao doIraque) até 0,869 para o Rio Grande do Sul e o Distrito Federal.

Em 1990, a população do Brasil era composta de 54% de brancos, 39% de mestiços(mulatos, caboclos e cafuzos), 6% de negros, 0,8% de asiáticos e 0,2% de indígenasamericanos. Para a composição dessa população contribuíram originariamenteindígenas, portugueses e negros, aos quais se somaram, através do fluxoimigratório, italianos, espanhóis, alemães, eslavos e japoneses.

No país a população urbana está próxima de 80%. Na tabela 2.2 é apresentada atendência de urbanização e aglomeração em grandes cidades.

Como mencionado anteriormente, a república é composta de 26 Estados e umDistrito Federal. O Distrito Federal inclui Brasília, que substituiu o Rio de Janeirocomo capital do país em 1960. A maior cidade é São Paulo, centro industrialbrasileiro, com uma população de 9,8 milhões habitantes (1996). Outras cidadesimportantes quanto a número de habitantes são: Rio de Janeiro (5,5 milhõeshabitantes em 1996); Porto Alegre (1,29 milhões habitantes segundo estimativas de1994); Salvador, cidade portuária localizada em uma região agrícola fértil (2,2milhões habitantes em 1994); Belém, o principal porto no baixo Amazonas (1,14milhões habitantes em 1994); Recife (1,32 milhões habitantes em 1994); Curitiba(1,39 milhões habitantes em 1994); Belo Horizonte (2,1 habitantes em 1996) eManaus, um porto no rio Negro (1,1 milhões habitantes em 1994). Estes númerosnão consideram a região Metropolitana destas cidades.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 30

Tabela 2.2 Urbanização no Brasil (fonte: Banco Mundial, 1999)Períodos % do total da população do

paísPopulação em cidades com mais de1 milhão1980 271995 332015 34População em grandes cidades1980 161995 13

2.4 Poderes

O Brasil é uma república constitucional de estados federativos, o distrito federal e osterritórios. A atual constituição foi promulgada em outubro de 1988, substituindo aum documento de 1969. Os estados da federação têm seus próprios governos, comcompetências em todas as matérias não especificamente reservadas à União.

A Constituição de 1988, proibiu a tortura, previu várias formas de plebiscitospopulares, iniciativas e referendos; proibiu virtualmente todas as formas de censura;garantiu os direitos individuais e a propriedade privada, além de estender o direito degreve a todos os trabalhadores.

Segundo a Constituição vigente o presidente é eleito de forma direta durante umperíodo de quatro anos renováveis. O Congresso Nacional bicameral brasileiro écomposto pelo Senado Federal de 81 membros eleitos para um período de oitoanos, e pela Câmara de Deputados com 503 membros eleitos para um período dequatro anos. O número de deputados designados por cada estado depende daporcentagem populacional, e cada território elege um deputado. A votação érealizada através de voto secreto, sendo obrigatória para os cidadãos alfabetizadosmaiores de 16 anos.

O Supremo Tribunal Federal, composto de onze juízes, está sediado em Brasília. Ostribunais federais estão instalados em cada estado e no Distrito Federal. Outrosórgãos judiciais importantes são os tribunais eleitorais federais, criados para garantiros processos eleitorais, e os tribunais do trabalho. O cargo de juiz federal é vitalício.A justiça nos estados é administrada por tribunais específicos.

Os 26 estados e o Distrito Federal têm seus próprios órgãos legislativos eexecutivos, estes últimos representados pelos governadores, eleitosdemocraticamente. Os prefeitos, eleitos pelo povo, são as autoridades máximasmunicipais, e sua gestão é fiscalizada pelas câmaras de vereadores, que atuamcomo um corpo legislativo em nível local.

2.5 Economia

Considerando-se esses indicadores, no contexto mundial, o Brasil é um país que nãopode ser desprezado economicamente, pois apresenta o oitavo maior Produto

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 31

Nacional Bruto, sendo a maior economia da América Latina (WRI, 1998). Por outrolado, quando se avalia a distribuição per capita do PNB, a situação brasileira não éuma das melhores, pois o seu desempenho, mesmo na América Latina, é inferior aodesempenho de países como Argentina, Uruguai e Chile.

Esta situação demonstra uma problemática associada às desigualdades sociaisencontradas no Brasil, que por sua vez têm efeito direto sobre o setor de saneamentobásico.

Dados mais atuais sobre a economia brasileira, demonstram uma melhoriarelacionada ao PNB, tanto global, como per capita. No entanto, com o processo deglobalização, a economia brasileira e dos demais países da América Latina, estãosujeitas a oscilações que geram reflexos diretos sobre os indicadores econômicos esociais dessa região.

A variação real do PNB foi de 1,03 %, - 0,54 %, 4,92 %, 5,85 %, 4,22 % e 2,76 %, paraos anos de 1991, 1992, 1993, 1994, 1995 e 1996 respectivamente (IBGE, 1998), o quemostrou uma evolução positiva para o Brasil. Um problema que é sintomático nospaíses em desenvolvimento, que está associado à má distribuição de renda, refere-seao índice de pobreza, que no Brasil chega a 27,21 %. Uma melhor compreensão dasituação vivenciada pelo Brasil, pode ser obtida pela análise dos dados apresentadosna tabela 2.3.

O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil em 1997 foi de US$ 804 bilhões de dólares oque o coloca entre os 10 maiores economias do mundo. O crescimento do PIB em1997 foi de 3,2%, mas, devido à crise financeira mundial ocorrida nos dois últimos, queatingiu particularmente o Brasil, o crescimento do PIB no biênio 1998 e 1999 devealcançar só 1%.

A renda per capita do País em 1997 era de US$ 5,029, com grandes variaçõesregionais. Essa renda varia de US$ 1.153 no estado do Piauí até US$ 8.245 noestado de São Paulo. Em 1997, as importações alcançaram US$ 61 bilhões e asexportações US$ 53 bilhões. Os principais parceiros comerciais são os países doMercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai), Estados Unidos, Japão e países daComunidade Européia. No que se refere à composição do PIB, o setor agropecuárioé responsável por 12% da geração da riqueza nacional. A indústria e os serviços sãoresponsáveis, respectivamente, por 34,3 e 53,7%.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 32

Tabela 2.3 Evolução do Produto Nacional Bruto do Brasil (IPEA, 1999)PERÍODO PNB calculado PNB calculado

pela PPC pelo câmbio médio POPULAÇÃO(em US$ milhões (em US$ milhões RESIDENTE

correntes) correntes) (em 1.000 hab.)1981 223.000 258.534 121.213 2.133 1982 239.535 271.252 123.885 2.190 1983 242.828 189.459 126.573 1.497 1984 268.597 189.744 129.273 1.468 1985 301.854 211.092 131.978 1.599 1986 334.576 257.812 134.653 1.915 1987 358.906 282.357 137.268 2.057 1988 375.894 305.707 139.819 2.186 1989 410.453 415.916 142.307 2.923 1990 438.185 469.318 144.091 3.257 1991 463.800 405.679 146.408 2.771 1992 478.831 387.295 148.684 2.605 1993 522.632 429.685 150.933 2.847 1994 574.098 543.087 153.143 3.546 1995 613.283 705.449 155.319 4.542 1996 643.444 775.409 157.482 4.924 1997 679.110 804.085 não determinado não determinado

PNB per Capita

(US$/Hab.)

Alguns dos indicadores econômicos atuais (final de 1999) do país são apresentadosna tabela 2.4. A renda per capita do país é da ordem de 6,1 mil reais com um PIB decerca de R$ 975 bilhões. Existe uma grande variabilidade regional e social dentro dopaís, no qual este indicador não é muito representativo. Algumas das principaiscaracterísticas econômicas do país são apresentadas a seguir.

Tabela 2.4 Indicadores econômicos no final de 1999(Fontes: TheEconomist e Gazeta Mercantil)

Indicador Janeiro de 2000US dolar R $ 1,86Taxa de juros anual de curto prazo % 19,04Variação do PIB (%) -0,3PIB em R$ bilhões (outubro, 1999)1 975,9Arrecadação da receita federal R$ bilhões1 151,516Investimento estrangeiro direto1 (US$ bilhões 29,976Produção industrial (%) 4,3 (Nov)Taxa anual de Preços ao consumidor (%) 8,1 (Nov)Comércio exterior US$ bilhões 1,2Reservas US $ billhões 42,4Indicador Big-Mac -27%1 fluxo corrente de 12 meses, fonte: Gazeta Mercantil

Agricultura e pecuária: Cerca de 25% do café do mundo é cultivada nas plantaçõesde São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Minas Gerais e agora na Bahia. A produção decafé anual em meados da década de noventa foi de 2,6 milhões de toneladas, dasquais a maioria foi exportada. O Brasil está entre os principais produtores mundiais decana-de-açúcar (utilizada para produzir açúcar refinado e álcool para combustível),rícino, cacau, milho e laranjas. Outros cultivos importantes são: a soja, o tabaco, abatata, o algodão, o arroz, o trigo, a mandioca e a banana. A produção anual de grãosé da ordem de 80 milhões de toneladas.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 33

O gado é criado em quase todas as partes do pais, especialmente em São Paulo eoutros estados do sul, onde há uma grande quantidade de gado leiteiro, porcos,aves, ovelhas, cabras, cavalos, burros, mulas e bois.

Silvicultura e pesca: Entre os produtos mais valiosos das florestas brasileiras secontam o tungue, a borracha, a cera de carnaúba, a fibra de algarobo, plantasmedicinais, óleos vegetais, resinas, castanhas e madeiras para construção e móveis.Constituem importantes recursos madeireiros o pinheiro-do-paraná, o mais importantecomercialmente, e a aroeira-vermelha. A indústria madeireira se desenvolveurapidamente durante as décadas de setenta e oitenta ao mesmo tempo que asflorestas eram desmatadas para os assentamentos.A indústria pesqueira cresceuconsideravelmente na década de setenta. Em meados da década de 1990 a pescaproduziu 780.000 toneladas anuais, incluindo camarões, lagostas e sardinhas.

Mineração: Os recursos minerais do Brasil são grandes, mas a escassez de capital euma infra-estrutura inadequada de transporte refrearam seu desenvolvimento até adécada de setenta. O carbono é extraído no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e emoutras regiões. A febre do ouro na selva amazônica, constante desde 1979, tornou oBrasil um dos maiores produtores mundiais desse minério. Os depósitos de ferro dopaís, localizados em Itabira e outras áreas, estão entre os mais ricos do mundo. Aprodução de minério de ferro foi de 205 milhões de toneladas no início da década denoventa. Ricos depósitos de estanho tornaram o Brasil um produtor líder desse metal.Também é um grande exportador de cristais de quartzo, monazita e berílio. Manganês,diamantes, cromo, zircônio, petróleo bruto, gás natural, prata, bauxita e mica sãoextraídos em grandes quantidades. Os depósitos conhecidos de magnesita, grafite,titânio, cobre, zinco, mercúrio e platina não são explorados em grande escala.

Embora o petróleo seja um recurso natural disponível, o Brasil ainda não é auto-suficiente, dependendo da importação de petróleo e de seus derivados para atenderàs suas necessidades. Como exemplo, tem-se que no ano de 1996, o Brasil importou60.124.591 toneladas de combustíveis e óleos minerais, produtos da destilaçãodesses e materiais betuminosos (IBGE, 1998).

Indústria: Existe grande diversificação na produção industrial como alimentosprocessados, ferro e aço, cimento, tecidos, confecção, veículos automotores, produtosquímicos, papel, navios e equipamentos elétricos. São Paulo é o principal estadoindustrial, com fábricas que produzem aproximadamente um terço da quantidade totaldas indústrias do Brasil; as cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre eFortaleza também são grandes centros industriais. Nos últimos anos, devido aosincentivos fiscais existe uma grande movimentação de instalações industriais nosentido do Nordeste, Centro – Oeste e Sul.

Energia: Cerca de 91% da produção anual de eletricidade do Brasil é gerada porhidrelétricas. As grandes usinas hidrelétricas estavam situadas nos rios Paraná e SãoFrancisco, além do rio Grande. No rio Paraná, o complexo hidrelétrico de Itaipu, Jupiá,Ilha Solteira e Foz do Areia produzem um total de 18.915 MW de potência instalada.Itaibu representa uma capacidade de 12.000 MW com ampliação prevista para maisduas turbinas. No São Francisco, o complexo Paulo Afonso-Sobradinho soma3.510 MW, e no rio Grande, o complexo Embarcação, Furnas e Marimbondo gera umtotal de 3.747 MW aproximadamente. O Brasil tem uma capacidade de produçãoelétrica aproximada de cerca de 60.000MW.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 34

Comércio exterior : Atualmente o comércio exterior representa cerca de US $ 100bilhões com pequena diferença a favor das importações. No entanto, para 2000 estáprevisto um acréscimo no comércio com superavit nas contas de pelo menos 2,5bilhões. Os tradicionais principais compradores dos produtos brasileiros no começodessa década eram os Estados Unidos, Argentina, Alemanha, Japão, Itália, França,Países Baixos e Grã-Bretanha. As maiores exportações foram: soja, suco de laranja,café, minério de ferro, aço, equipamentos de transporte, carnes, maquinaria, sapatos etecidos.

Transporte: O sistema ferroviário do Brasil constava em 1993 de 30.379 km de linhas,implantado principalmente ao sul da Bahia. As ferrovias do país são utilizadasprincipalmente para o transporte de mercadorias. As estradas e rodovias,concentradas nas regiões sul e nordeste do Brasil, tinham uma extensão de1.660.352 km em 1993; mais de 11% das estradas brasileiras estavam pavimentadas.Um sistema nacional de rodovias de 63.000 km liga todas as regiões e estados dopaís; essa rede viária continua se expandindo com obras como a rodoviaTransamazônica, uma via de comunicação que, com direção leste-oeste, une asregiões isoladas do Brasil e Peru. As vias fluviais do interior, que totalizamaproximadamente 35.400 km em torno do Amazonas e seus afluentes, ligam o Brasilcom outros países da América do Sul. No interior de muitas áreas da bacia doAmazonas, as vias fluviais são o principal meio de transporte. Por volta de 40 portosao largo da costa brasileira servem ao comércio de cabotagem e internacional. Osprincipais portos são Santos, Rio de Janeiro, Paranaguá, Recife e Vitória. As linhasaéreas nacionais são numerosas e existem várias companhias de transporte aéreo.

Trabalho: A força de trabalho brasileira economicamente ativa é estimada por cercade 55,4 milhões de pessoas; as mulheres compõem um terço da força de trabalho.Aproximadamente 23% dos trabalhadores estão ocupados na agricultura; 53% estãoempregados no setor dos serviços e 21% trabalha na indústria e na construção civil.Ao redor de 3% se dedica a outras atividades.

2.5 Relevo e vegetação

O relevo brasileiro é de formação antiga, resultante da ação de processosorogênicos e da alternância de ciclos climáticos favoreceu o processo de erosão.Segundo classificação de Ross (1995), as unidades de relevo encontradas no Brasilpodem ser divididas em planaltos, planícies e depressões. A Figura 2.2 traz o mapade relevos do País.

Os Planaltos são formas de relevo mais altas que ofereceram maior dificuldade àerosão. São encontrados em todas as regiões do Brasil. O pico da Neblina, com.3.014 m, é o ponto mais alto do relevo brasileiro e se situa nos planaltos residuaisNorte-Amazônicos, no Estado do Amazonas. Outros pontos elevados do relevo noPaís se acham localizados nas serras da Região Sudeste.

As Depressões são áreas rebaixadas em conseqüência da atividade erosiva, que seformam entre as áreas sedimentares e as estruturas geológicas mais antigas. Elas,também ocorrem em todas as regiões do Brasil, destacando-se a Depressão daAmazônia Ocidental (Norte), a depressão da borda leste da bacia do rio Paraná (Sule Sudeste) e a depressão da bacia do São Francisco (Nordeste).

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 35

Figura 2.2 Relevo do Brasil

As Planícies são unidades de relevo geologicamente recentes, formadas pordeposição de material de origem marinha, lacustre e fluvial em áreas planas. Háimportantes planícies em território brasileiro, como a planície do rio Amazonas e asplanícies da lagoa dos Patos e lagoa Mirim, no litoral do Rio Grande do Sul.

Essas diversas formas de relevo, associadas aos solos e climas existentes no Brasil,propiciaram o aparecimento de uma grande variedade de formações vegetais. Asformações mais importantes são a floresta Amazônica (40% do território brasileiro), amata Atlântica (florestas costeiras), a caatinga (no Semi-Árido do Nordeste), opantanal mato-grossense (maior planície inundável do País, na região Centro-Oeste), o cerrado (na região central do País), os campos e a mata de araucária (naRegião Sul).

Essa variedade geográfica confere ao país uma grande biodiversidade – calcula-seque o Brasil abrigue de 15 a 20% de todas as espécies animais e vegetais doplaneta.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 36

3. MANEJO INTEGRADO DOS RECURSOS HÍDRICOS

3.1 As bacias hidrográficas do Brasil

De acordo com a divisão adotada pela Secretaria de Recursos Hídricos do Ministériodo Meio Ambiente, são oito as grandes bacias hidrográficas no País: a do rioAmazonas, a do rio Tocantins, as do Atlântico Sul, trechos Norte e Nordeste, a do rioSão Francisco, as do Atlântico Sul, trecho Leste, a do rio Paraná, a do rio Paraguai, eas do Atlântico Sul, trecho Sudeste.

Na Figura 3.1 é apresentada a localização das referidas bacias dentro do país.

Figura 3.1 Bacias Hidrográficas

As principais nascentes dos rios brasileiros são:

§ a Cordilheira dos Andes, onde nascem os formadores do rio Amazonas;• Planalto das Guianas, que dá origem aos rios da margem esquerda da bacia

Amazônica;• Planalto Central Brasileiro, de onde se originam os rios das mais importantes

bacias brasileiras: a Amazônica (rios da margem direita), a Platina, e a do SãoFrancisco.

Algumas das principais características da rede de bacias hidrográficas do país sãoas seguintes:

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 37

• As bacias do Paraná e Uruguai (parte da bacia do Prata no Brasil) e do SãoFrancisco apresentam o predomínio de rios do tipo de Planalto, que emdecorrência do relevo apresentam em seu leito rupturas de declive e valesencaixados que lhes conferem grande potencial hidrelétrico.

• Com precipitações geralmente acima de 1.000 mm os rios apresentampredomínio do regime pluvial, com superavit pluviométrico. A maior parte do paísse localiza na zona tropical, seus rios apresentam cheias no verão e estiagensno inverno, excetuando-se o rio Amazonas, com regime complexo, o Uruguai(cheias de primavera) e os rios do Nordeste (Piranhas, Jaguaribe, Paraíba eCapibaribe), cujas cheias são de outono/inverno;

• Existe predominância de rios perenes em grande parte do país com exceção daregião Semi-árida do Nordeste brasileiro onde por parte importante do ano osrios secam;

• Os lagos no Brasil que podem ser agrupados em três categorias: costeiros,formados pelo fechamento de uma restinga ou cordão arenoso (caso das lagoasdos Patos, Mirim e Mangueira, no Rio Grande do Sul; Araruama e Rodrigo deFreitas, no Rio de Janeiro); fluviais ou de transbordamento, originados pelotransbordamentos de cursos fluviais.

A produção hídrica média dos rios em território brasileiro é de 168.790 m3/s.Levando-se em consideração a vazão produzida na área da bacia Amazônica quenão se encontra em território estrangeiro, estimada em 89.000 m3/s, essadisponibilidade hídrica total atinge 257.790 m3/s.

Os dados do balanço hídrico mostram a grande diversidade hidrológica do territóriobrasileiro. De fato, os escoamentos superficiais específicos variam desde 48,2l/s/km2 no Atlântico Norte e 34,2 l/s/km2 na bacia Amazônica até 2,8 l/s/km2 na regiãosemi-árida do Atlântico Leste 1 e 4,5 l/s/km2 na bacia do rio São Francisco. No itemseguinte são apresentados maiores detalhes da disponibilidade hídrica.

A bacia Amazônica possui mais da metade do território brasileiro. A grandedisponibilidade hídrica desta área decorre do fato do Amazonas drenar uma imensaárea que recebe uma pluviosidade anual entre 2.000 e 3.000 mm, em mais de metadede sua superfície. A bacia Amazônica situa-se entre o planalto das Guianas (ao norte) e

o Planalto Central Brasileiro (ao sul), e abrange uma área de 6,5 milhões de km2,drenando águas de seis países além do Brasil.

A bacia do Tocantins é a maior bacia totalmente brasileira, com área de 803.250 km2.

Os rios que formam sua bacia se deslocam do Planalto Central no sentido Norte-Sul emdireção ao Oceano Atlântico, atravessando regiões de relevo e vegetação variável.

A bacia do São Francisco, com área de 631.133 km2 é, sem dúvida, uma das maisimportantes do país. Situa-se quase totalmente em áreas de planalto, entre altitudesque variam de 400 a 1000m; seu principal rio, o São Francisco, nasce na Serra daCanastra (Minas Gerais) e deságua no Atlântico em estuário. Corre no sentido geralsul-norte, interligando as duas regiões de mais antigo povoamento do país, o

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 38

Nordeste e o Sudeste, sendo chamado de "rio da integração nacional". Embora sejaum rio de planalto e atravesse longo trecho (curso médio) em clima semi-árido comprecipitações que algumas vezes atingem menos de 500 mm anuais, é um rioperene e navegável em um longo trecho de cerca de 2.000 km entre Pirapora eJuazeiro/Petrolina. Na parte superior da bacia precipita de 1.000 a 2.000 mm anuais.Desta forma, a contribuição destas precipitações permitem alimentar parte dorestante da bacia na região Semi-Árida.

As bacia que escoam dentro da bacia do Prata são: Paraná, Paraguai e Uruguai,cujas nascentes se encontram em território brasileiro, e deságuam no estuário doPrata, entre o Uruguai e a Argentina.

A bacia do Paraná, situada na parte central do planalto meridional brasileiro éessencialmente planáltica é formada pela fusão dos rios Grande e Paranaíba,separa os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, Paraná e Mato Grosso doSul e, na foz do Iguaçu, serve de fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. Nestabacia encontra-se a maior população e a maior produção econômica do país. Damesma forma, também na mesma existem as maiores pressões sobre o meioambiente.

A bacia do Paraguai é típica de planície, destacando-se pelo Pantanal, o maiorbanhado do mundo, com características ambientais singulares. A vazão do rioParaguai é regularizada por este banhado (wetland) criando uma paisagem singular.Por muitos anos existe uma convivência harmoniosa entre o pantaneiro e o meioambiente.

A Bacia do Uruguai tem um trecho planáltico e outro de planície. Seu rio principal, oUruguai, nasce na serra do Mar, no Brasil, e depois de descrever um grande arco,em que serve de fronteira entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, entre o Brasil ea Argentina e entre Argentina e Uruguai, desemboca no estuário do Prata. Ascaracterísticas principais do trecho brasileiro do rio Uruguai são o grande potencialhidrelétrico, o desmatamento que ocorreu na metade do século 20, e o grande usoagrícola da bacia.

As bacias litorâneas: As bacias litorâneas são: Atlântico Norte/Nordeste, AtlânticoSul trecho Leste e Atlântico Sul trecho Sudeste (figura 3.1. Estas bacias representamum conjunto de pequenas bacias reunidas de acordo com trecho da costa brasileira.

As bacias do Atlântico Norte/Nordeste apresentam características climáticasdiferentes, já que mais ao Norte as bacias possuem tendência de comportamentoAmazônico e ao Sul comportamento de clima semi-árido. A disponibilidade dehídrica variam de forma significativa.

As bacias do Atlântico Sul/Leste também apresentam características variáveis já quemais ao Norte estão as bacias de baixa disponibilidade hídrica como resultado demenores precipitações e alta evapotranspiração potencial e mais ao Sul as bacias doSudeste com comportamento influenciado pela Serra do Mar próximo a São Paulo eRio com grande disponibilidade hídrica durante grande parte do ano. Nesta mesma

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 39

região encontra-se a maior densidade de ocupação do país com grande demandahídrica.

As bacias do Atlântico Sul/Sudeste, engloba as bacias do Sudeste, litoral de SãoPaulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Até parte do Rio Grande (litoralNorte) a maioria das bacias apresenta pequena bacia devido o divisor da Serra doMar, mas com grande pluviosidade. No trecho mais ao Sul , quando desaparece aSerra do Mar, encontra-se o Sistema de Lagoas dos Patos e Mirim, alimentados porrios de planície e comportamento diverso dos anteriores com maior inércia evariabilidade ao longo do tempo.

3.2.1 Disponibilidade de recursos hídricos

3.2.2 Características climáticas

A variabilidade climática anual e sazonal no território brasileiro é significativa devidoas suas dimensões. Como era de esperar este é o maior condicionante dadisponibilidade hídrica e fator de sustentabilidade da sociedade.

A variabilidade de precipitação anual do país é apresentada na figura 3.2 onde seobserva que com exceção de parte do Nordeste as precipitações são superiores a1.000 mm. Destaca-se a Amazônia com valores superiores a 2000 mm, enquanto queno semi-árido do Nordeste a precipitação chega a valores médios inferiores a 500 mm.Nas figuras 3.3 e 3.4 são apresentadas as distribuições dos trimestres mais chuvoso emais seco no país. Pode-se observar uma predominância de período chuvoso noverão (entre outubro e março) em quase todo o país. Apenas no extremo Sul observa-se o verão seco. Estas condições são conseqüência de um clima tropical chuvosopraticamente sem período de estiagem no Norte do país. No Centro-Oeste e Sudesteo clima tem influência dos sistemas tropicais de média latitude, mantendo verão úmidoe inverno seco, bem definidos. No Sul do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sulo verão é seco e o inverno úmido, sofrendo mais influência dos sistemas frontais. ONordeste apresenta um período curto de precipitações no verão e período longo semprecipitação com alta capacidade de evapotranspiração durante todo o ano,caracterizando um clima semi-árido.

A evapotranspiração real das bacias hidrográficas brasileiras é apresentada na tabela3.1. A evapotranspiração real tem relação direta com as condições de precipitação,temperatura e umidade do solo. Apesar da alta evapotranspiração potencial dasbacias do Nordeste, o valor total em mm é inferior as demais regiões devido apequena disponibilidade hídrica.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 40

Figura 3.2 Isoietas médias anuais do Brasil (DNPM/CPRM,1983 apud Rebouças, 1999)

Características regionais

A região Norte do Brasil apresenta clima quente com temperatura média anualvariando entre 24° e 26°C na maior parte do ano. Nas áreas serranas as médiasanuais são inferiores a 24°C e ao longo do baixo e médio Amazonas as médiasultrapassam os 26°C. A precipitação total anual excede os 3.000 mm na foz do rioAmazonas, no litoral do Pará e a ocidente da região; na direção noroeste – sudesteestes valores são de 1500 a 1.700 mm.

Na região Nordeste a média anual varia de 20° a 28°C. Nas áreas situadas acima de200m e no litoral oriental as temperaturas variam de 24° a 26°C. As médias anuaisinferiores a 20°C encontram-se nas áreas mais elevadas da chapada Diamantina eda Borborema. A precipitação anual varia de 300 a 2.000 mm. Quanto ao período deocorrência, o máximo ocorre no outono-inverno e o mínimo na primavera-verão, aolongo do litoral oriental e na encosta do planalto do Rio Grande do Norte à Bahia.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 41

Figura 3.3 Distribuição do trimestre úmido (Dias e Marengo, 1999)

Na região Sudeste o clima varia a latitude, topografia e os sistemas de circulaçãoatmosféricos. Esta região apresentra uma transição entre climas quentes das baixaslatitudes e os climas mesotérmicos das latitudes médias, mas suas característicasmais fortes são de clima tropical. A temperatura média anual está entre 20°C nadivisa entre São Paulo e Paraná, a 24°C ao norte de Minas Gerais. Nas áreas maiselevadas das serras do Espinhaço, Mantiqueira e do Mar, a média chega a serinferior a 18°C. A pluviosidade no litoral variam de 1700 a 2.400, com extremos desuperiores a 3.000 mm. No restante da região Sudeste, a pluviosidade atinge os1.500 mm e nos vales do Jequitinhonha e Doce cerca de 900 mm.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 42

Figura 3.4 Distribuição do trimestre seco (Dias e Marengo, 1999)

Na região Sul , além do relevo e da posição geográfica, os sistemas de circulaçãoatmosférica influenciam bastante na caracterização climática da região. Existem umatransição climática em parte da região (Norte do Rio Grande do Sul e SantaCatarina), com Paraná e o Sul do Rio Grande do Sul com períodos chuvosos emépocas distintas. Nos primeiros predominam as chuvas de verão e nos últimos aschuvas de inverno.

A temperatura média anual fica entre 14° e 22°C e nos locais acima de 1.100 m,cerca de 10°C. No verão, nos vales dos rios Paranapanema, Paraná, Ibicuí e Jacuí,a média de temperatura é acima de 24°C e nas áreas mais elevadas é inferior a20°C. Nas áreas baixas as temperaturas máximas chegam a alcançar 40°C,ultrapassando esses valores nos vales acima referidos e no litoral. No inverno, atemperatura média oscila entre 10° e 15°C, exceto nos vales do Paranapanema-Paraná, Ribeira do Iguape, litoral do Paraná e Santa Catarina, onde as médias

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 43

oscilam entre 15° e 18°C. A pluviosidade média anual situa-se entre 1.250 e2.000 mm, excetuando-se o litoral do Paraná e o oeste de Santa Catarina, onde vaialém de 2.000 mm.

Na região Centro-Oeste varia muito a temperatura, em conseqüência do relevo,extensão longitudinal, continentalidade e circulação atmosférica. Já em relação àpluviosidade é mais homogênea. Nos extremos norte e sul da área, a temperaturamédia anual é de 22°C; nas chapadas situa-se entre 20° e 22°C. O inverno é brando,com ocorrência de temperaturas baixas em função da "friagem" (invasão de ar polar).A temperatura média do mês mais frio situa-se entre 15° e 24°C. A pluviosidade naregião depende quase exclusivamente do sistema da circulação atmosférica. A médiaanual de chuvas varia entre 2000 e 3.000 mm ao norte de Mato Grosso e vaidiminuindo para leste e sul, chegando a alcançar 1.500 mm a leste de Goiás e1.250 mm no Pantanal Mato-Grossense. Apesar dessa diferença, a região tem bomíndice de pluviosidade. A predominância de chuvas ocorre no verão, pois mais de 70%do total das chuvas caem entre novembro e março. O inverno é muito seco e aschuvas são raras.

3.2.2 Disponibilidade hídrica dos recursos superficiais

Os recursos hídricos superficiais gerados no Brasil representam 50% do total dosrecursos da América do Sul e 11% do recursos mundiais, totalizando 168.870 m3/s. Adistribuição destes recursos no país e durante o ano não é uniforme, destacando-se osextremos do excesso de água na Amazônia e as limitações de disponibilidades noNordeste. A Amazônia brasileira representa 71,1% do total gerado e, portanto 36,6 %do total gerado na América do Sul e 8% a nível Mundial. Considerando a vazão totalda Amazônia que escoa pelo território brasileiro, a proporção é de 81,1% do totalnacional. Considerando este volume, o total que escoa á partir do Brasil representa77% total da América do Sul e 17% a nível mundial.

Na tabela 3.1 são apresentados os valores de disponibilidade hídrica das principaisbacias brasileiras e a sua relação com a precipitação e evapotranspiração. Na figura3.5 são apresentadas as relações entre precipitação x vazão e evaporação xprecipitação. Esta figura apresenta a tendência média. Analisando esta relação pode-se obter as equações seguintes:

Q = 0,61P – 449,2 (R2 =0,81) (3.1)

E = 0,39 P – 449,2 (R2=0,63) (3.2)

Q = 9,97 A0,87 P2,56 (R2 = 0,90) (3.3)

onde nas duas primeiras equações P (mm) e na última em P (1000 mm); nas duasprimeiras equações Q e E em mm; na última Q (m3/s) e A (1000 . km2). Estas relaçõespermitem visualizar as relações de escoamento das grandes bacias do país, mas nãodevem ser utilizadas com cuidado porque foram obtidas com base num númeropequeno de pontos.

Deve-se destacar que o menor coeficiente de escoamento ocorre na bacia do rioParaguai devido principalmente a baixa capacidade de drenagem do Pantanal (C=0,08), que recebe as vazões do Planalto da bacia e retêm grande parte do volumedos hidrogramas, diminuindo as vazões para jusante.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 44

As vazões do Atlântico Leste(1), que representa parte da costa do Nordesteapresentam pequeno valor de escoamento superficial (C =0,10) devido a pequenaprecipitação e alto potencial de evapotranspiração. No rio S. Francisco, a partesuperior o coeficiente de escoamento é alto e na parte inferior existe deficit deumidade, resultando, na média, num valor acima que o Atlântico Leste (1) que seencontra totalmente no Nordeste. As citadas regiões que apresentam valores abaixoda tendência da figura 3.5. Os pontos acima da tendência se referem a regiões úmidascomo o rio Uruguai, que apresentam precipitações durante quase todo o ano e oAtlântico Sul.

Tabela 3.1 Característica da disponibilidade hídrica nas grandesbacias brasileiras (adaptado de ANEEL, 1997)

Bacia Área de

drenagem

km2

Precipitaçãomédia

m3/s mm

Vazão média

m3/s mm

Evapotranspira-ção real

m3/s mm

% dototal

C

Amazônia 6.112.000 476773 2460 209030 1078,5 291491 1381,5 71,1 0,44Tocantins 757.000 39847 1660 11800 491,6 31087 1168,4 7,0 0,30Atl. Norte 242.000 16388 2136 6000 781,9 10388 1353,7 3,6 0,37Atl. Nordeste 787.000 27981 1121 3130 125,4 24581 995,8 1,9 0,11S. Francisco 634.000 18415 916 2850 141,8 16789 774,2 1,7 0,15Atl. Leste (1) 242.000 6868 895 680 88,6 7114 806,4 0,4 0,10Atl Leste (2) 303.000 11808 1229 3670 382 8081 847,0 2,2 0,31Parana 877.000 38516 1385 11000 395,5 28735 989,5 6,5 0,29Paraguai 368.000 15987 1370 1290 110,5 14986 1259,5 0,8 0,08Uruguai 178.000 8845 567 4150 735,2 5549 831,8 2,5 0,47Atl. Sul 224.000 9902 1394 4300 605,4 5549 788,6 2,5 0,43Total 10.724.000 671270 1974 257900 758,4 413370 1215,6 0,38Brasil 8.512.000 468840 1737 168870 625,6 299970 1111,4 100 0,36% do total: indica a parcela que a bacia contribui para a geração da vazão total das bacias; C é arelação entre vazão e precipitação; Brasil : é a precipitação e a vazão gerada na área brasileira(descontando a contribuição de montante da bacia Amazônia na Bolívia)

Variabilidade Sazonal

A variabilidade sazonal ocorre de acordo com as precipitações de cada bacia, comexceção do Pantanal em que a resposta da bacia é muito lenta e a vazão a jusanteda região ocorre com defasagem de alguns meses com relação as precipitações.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 45

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

0 500 1000 1500 2000 2500 3000

Precipitação, mm

Vaz

ão e

eva

po

raçã

o r

eal,

mm Vazão

Evaporação

Figura 3.5 Relação entre precipitação, vazão e evaporação real em mm paraas bacias brasileiras

As maiores variabilidades sazonais ocorrem no Nordeste onde a paisagem semodifica sensivelmente entre o período chuvoso e o período seco devido a altaevapotranspiração potencial. Nestas regiões a sazonalidade é bem definida.

No Sul do Brasil (rio Uruguai e Atlântico Sul) a sazonalidade não é bem definida,observando-se pequena variação dos valores médios, mas grande variabilidade deano para ano nas vazões mensais.

Na figura 3.6 são apresentados os valores adimensionais de vazões de algumasbacias do país procurando mostrar a variabilidade sazonal das mesmas. Estegráfico não caracteriza a variabilidade total em todo o território porque foram usadospostos na saída das bacias. No rio São Francisco se observa menor variabilidadedevido a regularização dos reservatórios de montante, no entanto internamente nassub-bacias a variabilidade sazonal é significativa.

Na figura 3.6 pode-se observar que o rio Uruguai apresenta período hidrológicodentro do ano diferenciado, com vazões maiores no inverno, como também foiobservado nas precipitações médias mensais.

3.2.3 Disponibilidade dos recursos subterrâneos

Os recursos hídricos subterrâneos numa determinada região dependem:

• da recarga do aqüífero que é função do balanço hídrico;

• da capacidade do aqüífero em armazenar água e regularizar os períodos deestiagens dos rios.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 46

Na América do Sul o escoamento subterrâneo contribui com cerca de 36% da vazãototal. Na maioria do território brasileiro existem aqüíferos com balanço hídricopositivo com grande recarga. Os aqüíferos podem ser classificados de acordo comas características geológicas em (Leal, 1999): (a) sistemas porosos: rochassedimentares; (b) sistemas fissurados: rochas cristalinas e cristofilianas; (c) sistemascársticos: rochas carbonáticas com fraturas. O sistema fissural ocupa 53,8 % do paíscom grande irregularidade na distribuição da água subterrânea. As baciassedimentares representam cerca de 42% do país.

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

meses

Q/Q

med

São Francisco

Tocantins

Uruguai

Figura 3.6 Variabilidade sazonal das vazões de algumas bacias brasileiras

Na figura 3.7 são apresentadas as principais províncias hidrogeológicas e aprodução esperada para estas áreas. Pode-se observar que a província doParaná, que engloba grande parte da Região Sudeste apresenta a maiorprodução esperada, que corresponde ao aqüífero Botucatu (tambémdenominado Guarani). Para esta região o rebaixamento de 50 m do nívelestático do poço permite obter cerca de 500 m3/h e abastecer cerca de 50 milpessoas (Rebouças, 1999).

A baixa capacidade de produção de água subterrânea no Nordeste,principalmente no Semi-Árido é decorrência da reduzida precipitação, altaevapotranspiração potencial e baixa capacidade de armazenamento. Emparte importante da região o substrato é cristalino com reduzida capacidadede armazenamento. A produção dos poços tem valores inferiores a 3 m3/h.Mesmo nas áreas com capacidade de armazenamento ainda se observamcondições salobras da água subterrânea com valores acima de 2500 mg/l.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 47

3.2.4 Caracterização da qualidade da água

A qualidade das águas depende das condições naturais de funcionamentodos sistemas hídricos e das ações antrópicas que de alguma forma alteram asua qualidade. As principais ações antrópicas são: (a) lançamento de cargasnos sistemas hídricos; (b) alteração do uso do solo rural e urbano; (c)modificações no sistema fluvial.

Figura 3.7 Características da produção hidrogeológica do Brasil(Rebouças,1983)

Caracterização dos impactos

A maioria dos rios que atravessam as cidades brasileiras estão deteriorados, sendoesse o maior problema ambiental brasileiro. Essa deterioração ocorre porque a maioriadas cidades brasileiras não possui coleta e tratamento de esgotos domésticos,jogando em natura o esgoto nos rios. Quando possui rede não existe estação, o quevem a agravar ainda mais as condições do rio, pois concentra a carga numa seção domesmo. Em algumas situações é construída a estação, mas a rede não coleta o

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volume projetado porque existe um grande número de ligações clandestinas de esgotono pluvial, que de esgoto separado passa a misto. Muitos dos rios urbanos escoamesgoto, já que devido a urbanização grande parte da precipitação escoa diretamentepelas áreas impermeáveis para os rios. Não ocorrendo a infiltração a vazão de águasubterrânea se reduz agravando as estiagens.

Muitas cidades cobram pela coleta do esgoto cloacal, mesmo sem a existência derede ou estação de tratamento. Essa tarifa é muitas vezes baixas, o que de um ladonão permite atender ao serviço e muito menos fazer os investimentos em infra-estrutura, mantendo ou agravando as condições atuais. O grande problema reside nosaltos investimentos que envolve a rede e a estação de tratamento dentro da economiados municípios. Portanto, cabe verificar se a população prefere internalizar os seuscustos ou comprometer seu ambiente.

Os esgotos industriais tem um processo pontual mais direto já que os programas decontrole de efluentes industriais nas entidades de controle ambientais permitempressionar as empresas no sentido de adotarem sistemas de controle de seusefluentes. Além disso, a internalização dos custos nas empresas é mais direto. Noentanto, com a terceirização da produção, a contaminação dos efluentes pode sermuito distribuída o que dificulta o seu controle e mesmo o investimento devido a baixacapacidade econômica do agente terceirizado, como tem ocorrido no oestecatarinense.

A contaminação dos aqüíferos é um problema que ainda que não tem um destaquemuito grande, mas com o uso generalizado de fossas, os aterros sanitários e os pólospetroquímicos, os aqüíferos tenderão a se deteriorar.

Grande parte das cidades brasileiras ainda não chegaram ao estágio de se preocuparcom a poluição dos esgotos pluviais, já que o esgoto cloacal é ainda o problemamaior. No entanto, durante uma cheia urbana a carga do pluvial pode chegar até a80% da carga do esgoto doméstico. O lixo conjugado com a produção de sedimentose a lavagem das ruas exigem procedimentos criativos com custos razoáveis paraevitar que no início do período chuvoso os rios tenham a sua qualidade ainda maisagravada. Esse processo ocorre principalmente na macrodrenagem das cidades. Osgrandes investimentos hoje existentes nos programas de recuperação ambiental dasmetrópoles brasileiras estão ainda no estágio de reduzir a carga do cloacal.

Cargas

As principais cargas sobre o sistema hídrico são pontuais ou difusas. As cargaspontuais se devem a: (a) efluentes da indústria; (b) esgoto cloacal e pluvial. Ascargas difusas se devem ao escoamento rural e urbano distribuído ao longo dasbacias hidrográficas. As cargas podem ser de origem orgânica e químicas. Ascargas orgânicas são geralmente de dejetos humanos, animal e de materia orgânicavegetal. As cargas químicas têm origem no uso de pesticidas, efluente industrial elavagem pelo escoamento de superfícies contaminadas como áreas urbanas.

Mendes (1994) totalizou as cargas lançadas nos corpos d’água do Brasil nos trezeestados mais industrializados com base em dados do PRONACOP ProgramaNacional de Controle da Poluição e da CETESB de 1988 (Leal, 1998). Na tabela 3.2são apresentados os valores de carga por Região. A região Sudeste contribui com

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 49

43% da carga total seguido da Região Sul com 23%. O setor com maior carga é apecuária com 35%. Das cargas orgânicas pontuais 47% foram removidas, sendo quea indústria contribui com a maior parte da redução (73%), enquanto que os esgotosurbanos contribuíram apenas com 15%.

Com relação a contribuição de produtos químicos existem poucas informações,principalmente devido a pesticidas provenientes da agricultura e metais devido aoescoamento urbano, que são conhecidas fontes de poluição hídrica. Quanto aprodução de cargas de metais pesados da indústria Mendes (1994) quantificou queRio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais na região Sudeste contribuem com cercade 81% da carga potencial e 75% da carga remanescente.

Tabela 3.2 Cargas orgânicas potencial e orgânica em 1.000t DBO/ano, baseadonos treze Estados mais industrializados (Mendes, 1994)

Carga potencial Carga remanescente

Região Indústria

Esgoto

Urbano eRural

Pecuária

Esc.

Rural

Esc.

Urbano

Total Indústria

Esgoto

Urbano

Total

Indust+

Urbano

Norte 11532 93638 166772 32183

6

12210 605988 9948 37665 47665

Nordeste

330897 56656

1

990427 99401

8

83850 266575

3

99836 27736

1

37719

7

C.Oeste 49048 83709 626577 49441

2

9290 126262

6

30236 63994 94230

Sudeste 133116

0

12203

69

195810

9

14334

80

18166

0

612477

8

9948 94019

81

12145

87

Sul 483237 41056

8

894590 93031

2

15020

0

328384

6

99836 21098

3

39080

5

Total 220587

4

23748

45

505100

4

41740

58

43721

0

142429

91

594231 15302

01

21244

32

3.2.5 Rede de monitoramento hidrometeorológico

As informações são indispensáveis para um adequado desenvolvimento dosrecursos hídricos dentro de bases sustentáveis. A falta de informações aumenta aincerteza das decisões e o resultados dos usos e impactos dos recursos hídricos. O

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 50

custo devido a falta das informações é muito superior ao da sua obtenção naanálise final de um projeto.

Caracterização da rede

No Brasil existem várias entidades que realizam monitoramento hidrológico. Asentidades a nível federal com abrangência nacional são:

• ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica que possui uma rede básicaapresentada na tabela 3.3, totalizando 4716 postos. A rede hidrometeorológica éconstituída de 1874 postos fluviométricos e 2234 pluviométricos. Parte destarede é constituída de aparelhos registradores automáticos ou fazem parte deuma rede telemétrica. Os postos da ANEEL não envolvem postos climatológicos,concentram-se em postos pluviométricos e hidrométricos (veja tabela 3.3). Acoleta destes dados é financiada por um fundo de compensação financeira comrecursos da cobrança da produção elétrica. Os fundos anuais para esta Redesão da ordem de R$ 20 milhões.

• INEMET Instituto Nacional de Meteorologia do Ministério de Agricultura possuiuma rede de postos climatológicos com períodos extensos. A rede é operadacom recursos do orçamento do Ministério;

As redes regionais com recursos federais concentram-se no Nordeste como a rededa SUDENE Superitendência de Desenvolvimento do Nordeste e do DNOCSDepartamento Nacional de Obras Contra a Seca.

Existem vários Estados com redes de monitoramento localizadas em entidades deAgricultura (geralmente com postos climatológicos); entidades de energia (comséries de precipitação e vazão); entidades ambiental (redes de qualidade da água edo ar).

Na tabela 3.3 é apresentado um inventário da rede de monitoramento brasileira deacordo com o uso dos recursos hídricos e na tabela 3.4 a quantidade de postos deacordo com o uso.

Tabela 3.3 Número de estações da rede hidrometeorológica da ANEEL (Ibiapina,1999)

Tipos de estações EquipamentosBacia P F FD E S Q Total PR FR T totalAmazônia 352 53 190 6 57 57 715 59 6 41 106Tocantins 182 14 80 7 16 16 315 30 2 15 47Atl. Norte/Nordeste

234 11 182 1 40 40 508 26 40 5 71

S.Francisco 220 6 163 8 32 32 461 73 73 10 156Atl. Leste 392 5 312 4 71 71 855 64 47 26 137Paraná 572 7 340 31 116 116 1182 79 30 46 155Uruguai 116 1 83 4 47 47 298 38 4 10 52Atl. Sudeste 169 12 108 5 44 44 382 36 20 17 73Totais 2237 109 1458 66 423 423 4716 405 222 170 797P – Estação pluviométrica; F – estação fluviométrica; S – estação sedimentométrica;PR – pluviográfica; FR – fluviográfica; FD – com medição de vazão; E – evaporimétrica;Q – qualidade da água; T – telemétrica

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 51

Tabela 3.4 Número de postos totais da rede de acordo com o uso (ANEEL,1997)

Quantidade p/ TipoSetores

Fluviometria PluviometriaTotal

Energético 2634 3999 6633Saneamento 239 689 928Irrigação 76 2146 2222Navegação 32 44 76Meio Ambiente 8 39 47Total 2989 6917 9906

Os dados climatológicos geralmente são coletados por entidades ligadas ameteorologia ou a agricultura, que depende muito do clima. Portanto, a maioria dasséries pluviométricas e mais longas pertencem a estas entidades. A coleta dos dadosfluviométricos, incluídos aí níveis, vazões sólidas e líquidas têm sido coletados porentidades ligadas a produção de energia elétrica. Os dados de qualidade da água têmsido coletados por entidades ligadas a meio ambiente ou de controle de efluentes,apesar de que no Brasil a ANEEL também coleta dados de qualidade da água dosprincipais rios.

Os principais aspectos identificados foram:

Acesso aos dados climatológicos: A dificuldade de obtenção dos dadosprincipalmente das entidades de meteorologia, ou seja, o acesso da informação édificultado e quando o acesso é permitido os custos são muito altos. Como estesdados são coletados com recursos públicos, o custo ainda é maior, já que como onúmero de usuários é pequeno devido a estas dificuldades, o custo unitário tende aoinfinito. De outro lado o contribuinte paga duas vezes pela informação.

Em algumas entidades o acesso é fácil e sem custos, como na ANEEL.Recentemente esta entidade disponibilizou os dados na internet. Este procedimentodeveria ser incentivado.

Sustentabilidade das redes: Com o processo de privatização de grande parte dosserviços públicos, em alguns países ou organizações existe a tendência de tornar oprocesso de coleta de dados autosustentado pela cobrança dos dados. No entanto,mesmo em países como os Estados Unidos e França este tipo de cobrança não érealizado, já que o benefício da coleta é distribuído principalmente para projetosgovernamentais de infra-estrutura. Mesmo que uma consultora utilize os dados, amesma esta realizando um estudo governamental. Este processo poderá apresentarmodificações ao longo do tempo em função da evolução da privatização nos países.

Atualmente a cobrança pelo uso dos dados ainda é um processo que mais inibe seuuso do que cria sustentabilidade das entidades. De outro lado, alguns indivíduosutilizam as dificuldades para gerar prestígio no sistema ou vender serviçosindividualmente.

No Brasil foi encontrado um mecanismo que atualmente tem funcionado para a redefederal de coleta de dados, anteriormente a cargo do DNAEE e atualmente sobresponsabilidade da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). O setor

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 52

hidrelétrico paga 6% de impostos como compensação financeira pela inundação dasáreas pelas barragens. Deste total, uma parcela que representa cerca de R $ 20milhões anual é destinada a coleta de dados hidrológicos.

Administração das Redes: As redes hidrológicas tem sido administradas e operadaspor entidades estatais. No Brasil a operação é Estatal, a nível federal a rede pertenceprovisoriamente a ANEEL, mas a atribuição é do Ministério de Minas e Energia. Aoperação é realizada pela CPRM Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais e,em algumas áreas parte da operação é realizada por empresa privada. No passadohouveram várias experiências com operações privadas por períodos determinados e,em algumas sub-bacias. As grandes dificuldade foram sempre a manutenção dosrecursos financeiros para estas operações.

As redes hidrológicas sofrem de forma significativa as diferentes estruturações queocorrem nos países. A informação que deixou de ser coletada não poderá serrecuperada na sua totalidade, portanto a perda pode ser irreparável. No Brasil até oinício da década de 90, a coleta de dados não possuía sustentabilidade financeira epassou por grandes dificuldades. Os dados de alguns períodos são sofríveis emtodo país, como em 90 e 91.

Características das Redes hidrométricas: Como a coleta de dados fluviométricosfoi preponderantemente estabelecida pelos usuários de energia, a rede implementadapriorizou locais com potencial de produção de energia. Em países como o Brasil esteprocesso foi preponderante como algumas exceções regionais. Como resultado destatendência a maioria dos postos fluviométricos correspondem a bacias com área dedrenagem superior a 1000 km2. Por exemplo, em toda Região do Alto Paraguai (partebrasileira, com ~ 400 mil km 2 existem apenas 4 postos em bacias com área dedrenagem inferior a 500 km2. Além da falta de dados, os postos geralmente nãoatendem as necessidades, já que a leitura é realizada apenas com duas observaçõesdentro do dia e parte do volume é perdido durante as enchentes.

O uso dos recursos hídricos é muito mais intenso, com grande variabilidades locais eusos como abastecimento de água, irrigação, controle ambiental de despejos econservação hídrico dependem de ambientes hídricos de pequena área de drenagem,geralmente inferior a 100 km2 .

Os estudos hidrológicos que permitem a extrapolação de informações devemapresentar muitas incertezas para as bacias menores. Desta forma, o risco de umprojeto com dimensionamento inadequado, a outorga de uso de água que não existemsão conflitos potenciais gerados pela falta deste tipo de informação.

As redes sedimentométricas são raras na região e nem sempre apresentamperiodicidade adequada devido aos altos custos. A própria observação da seção doleito de medição é deficiente, pois permitiria obter informações sobre a ação dosrios.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 53

Redes de qualidade da água: As condições gerenciais das redes de qualidade daágua variam com o país, no entanto observa-se de forma comum que existem coletaprincipalmente em locais críticos (quando existem), mas as redes de monitoramentosistemático geralmente não existem. No Brasil, existem uma rede básica da ANEEL,que coleta alguns parâmetros básicos em diferentes pontos do Brasil comperiodicidade de alguns meses.

As entidades estaduais que geralmente têm a atribuição para a fiscalizaçãoambiental nem sempre possuem rede específica para atendimento das suasnecessidades de acompanhamento das condições dos rios. E, quando possuem,muitas vezes não coletam a vazão, apenas a concentração, o que não permiteconhecer a carga existente.

Manutenção de base de dados : Muitos projetos adotam na sua estratégia oinvestimento em coleta e armazenamento de dados básicos necessários aos recursoshídricos, no entanto, após a sua conclusão e a falta de recursos a tendência é de queestas informações se percam ou fiquem com poucas pessoas que podem usá-laapenas em proveito próprio. Portanto, o resultado do investimento tende a se perdercom o passar do tempo. Como também, o planejamento dos recursos hídricosdepende de séries históricas longas, observa-se a perda destas informações, ficandoos projetos limitados a informações recentes.

Outro problema resultante da dificuldade de manutenção de bases dados é aconstante modificação dos softwares e hardwares que tornam um banco de dadosobsoleto em poucos anos, gerando necessidade de constantes custos dedesenvolvimentos que as dificuldade de recursos não têm condições de suportar.

Portanto, a disseminação da informação sem restrições, a criação de bases de dadossimples de fácil adaptação, devem permitir uma permanência maior no tempo dosdados coletados.

3.3 Uso e aproveitamento de recursos hídricos

Os recursos hídricos são limitados e têm um papel significativo no desenvolvimentoeconômico e social. O crescimento populacional e econômico desse século levou aexplorar de forma predatória os recursos naturais em geral e os recursos hídricos emespecífico.

O período após a segunda guerra mundial foi marcado por investimentos queresultaram num importante crescimento econômico que envolvia principalmenteenergia, abastecimento doméstico e industrial, aumento de produção agrícola porirrigação, transporte fluvial e marítimo, recreação com lagos artificiais e modificaçõescosteiras como marinas. A população ocupou áreas com risco de cheia, produzindograndes perdas econômicas. O crescimento urbano provocou impactos ambientaisdevido a despejos domésticos e industriais nos rios, criando condições sanitáriasextremamente desfavoráveis. O período descrito começou a desaparecer no início dadécada de 70, quando iniciou o período da pressão ambientalista que buscava inibir odesenvolvimento de aproveitamentos de recursos hídricos sem cuidados com apreservação ambiental. A população, principalmente dos países desenvolvidos, criou

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 54

mecanismos de controle do impacto ambiental na aprovação de projetos, nafiscalização de sua execução e na operação. As principais preocupações centraram-sena qualidade dos rios e reservatórios, contaminação de aqüíferos, carga difusa deáreas agrícolas, desmatamento de florestas e no final do período no impacto globalclimático.

O investimento mudou de prioridade, dando ênfase a preservação ambiental, operadoatravés de Bancos de fomento e desenvolvimento. Como a população e odesenvolvimento dos países do terceiro mundo encontrava-se num estágio anterior(deslocada de cerca de 10 a 15 anos) a pressão sobre o meio ambiente dos órgãosfinanciadores internacionais e a consciência pública tem inibido o investimento e o usodos recursos hídricos sem práticas conservacionistas.

Na década de 80, foram aprovadas as primeiras legislações sobre controle ambientale iniciada a pressão sobre as industrias privadas quanto ao controle de seus efluentes.No entanto, tem sido muito difícil o controle sobre o efluente doméstico,responsabilidade do setor público. Na segunda parte da década foram reduzidos osinvestimentos (praticamente eliminados) dos bancos de fomento internacionais paraaproveitamentos hidrelétricos na Amazônia e, em outras regiões brasileiras. Esseprocesso foi iniciado em conseqüência do debate internacional sobre o efeito dodesmatamento da Amazônia sobre o clima do Globo e a tendência internacional delimitar o investimento de novos reservatórios que criassem impactos ambientais.

Atualmente o investimento internacional está concentrado na melhoria doentendimento, quantificação e preservação dos recursos naturais, gerenciamento deprojeto e obras de controle ambiental das regiões metropolitanas. Exemplos dessesprojetos são: Projeto de despoluição do rio Tietê, Controle Ambiental do Guaíba,despoluição da baía da Guanabara e Controle de Cheias no rio Iguaçu na baixadafluminense, Programa Ambiental da Região Metropolitana de Curitiba e o Plano deConservação da bacia do Alto Paraguai.

Os anos 90 tem sido marcados por grandes desafios como a definição dos aspectosinstitucionais do gerenciamento dos recursos hídricos, o controle do recursoshídricos nas grandes metrópoles brasileiras, a preservação ambiental, o uso econtrole do solo rural e o impacto da poluição difusa dentro de uma visão racional deaproveitamento e preservação ambiental.

3.3.1 Usos consuntivos

Os principais usos consuntivos dos recursos hídricos são: abastecimento humano,animal (dessedentação), Industrial e Irrigação. A seguir são apresentados osaspectos principais dos mesmos

Abastecimento humano

O consumo humano não apresenta uma demanda significativa se comparada com airrigação, mas esta limitada atualmente pelo seguinte:

a) degradação da qualidade das águas superficiais e subterrâneas: estas águassão contaminadas pelas cargas de esgoto cloacal, industrial e de escoamentopluvial urbano lançadas nos rios sem tratamento;

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 55

b) concentração de demanda em grandes áreas urbanas como as regiõesMetropolitanas.

Na tabela 3.5 são apresentados alguns dos principais indicadores das grandescidades brasileiras. A tendência atual é a redução do crescimento das grandesmetrópoles, cidades acima de 1 milhão crescem a uma taxa média de 0,9 % anual,enquanto os núcleos regionais ganham outra dimensão populacional, cidades entre100 e 500 mil crescem a taxa de 4,8%. Algumas das principais cidades brasileirasse encontram na cabeceira dos rios como São Paulo (16,6 milhões), Curitiba (2,3milhões), Belo Horizonte (3,8 milhões) onde a disponibilidade de água em qualidadee quantidade é limitada devido a dificuldade da preservação dos mananciais,aumento da demanda devido a concentração urbana e perdas nas redes deabastecimento (cerca de 25 a 40% do volume de água tratado é perdido nas redesde abastecimento).

Tabela 3.5 População e crescimento das principais cidades brasileiras(IBGE, 1996)

Cidade Populaçãoem 1996

Milhões

Crescimento donúcleo entre 91 e 96

%

Crescimento daperiferia entre 91 e 96

%São

Paulo16,667 2 16,3

Rio deJaneiro

10,532 1,3 7,1

BeloHorizonte

3,829 3,5 20,9

PortoAlegre

3,292 2,0 9,4

Recife 3,258 3,7 7,4Salvado

r2,776 6,6 18,1

Fortaleza

2,639 11,1 14,7

Curitiba 2,349 12,3 28,2Belém 1,629 -8,1 157,9

Na tabela 3.6 é apresentada a evolução da população brasileira e a correspondentetaxa de urbanização. Cerca de 80% da população brasileira se concentra nasbacias litorâneas e no Rio Paraná. Na tabela 3.7 é apresentada a cobertura de águae esgoto por região do país em 1991. Pode-se observar que nas regiões Sul eSudeste a cobertura é próxima do máximo quanto ao abastecimento de água.

A variação de consumo da população varia na área urbana e rural e de acordo como aumento do poder aquisitivo da população. Desta forma, mesmo que a populaçãotende a estabilização haverá aumento da demanda pelo melhoria do níveleconômico e social.

Tabela 3.6 Crescimento da população brasileira e a taxa de urbanização(IBGE, 1996, apud FGV, 1998)

Ano População Parcela da população

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 56

Milhões urbana %

1970 93,1 55,91980 118,0 68,21991 146,8 75,61996 157,1 78,42005 175,1 79,02015 192,7 80,0

Tabela 3.7 Cobertura de água e esgoto por região em %(IBGE, 1991 apudHespanhol,1999)

Região Água EsgotoNorte 67,5 1,72Nordeste 78,3 13,2Sudeste 93,3 70,5Sul 90,6 17,9Centro-Oeste 79,7 33,3Brasil 86,3 49,0

Na tabela 3.12 são apresentados os consumos de água por bacia brasileira. Pode-seobservar que a bacia do Paraná, onde se concentra grande parte da população dopaís possui o maior consumo, seguido do Atlântico do Leste.

As condições dos mananciais para atendimento do abastecimento é definida naresolução N.20 de 18/6/1986 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA)que classifica as águas doces, salobras e salinas do país. A classificação é baseadano uso da água. A lei n. 8935 de 7/3/89 dispõe sobre os requisitos mínimos paraáguas provenientes de bacias de mananciais, destinadas ao abastecimento público.Estabelece que os requisitos mínimos devem ser o de classe 2. Os padrões daclasse 2 são definidos por alguns parâmetros de qualidade da água como OD > 5mg/l; DBO5 < 5 mg/l, entre outros. Esta legislação proíbe na bacias atividades como:

• Industrias: fecularia de mandioca ou álcool, metalúrgicas, galvanoplastia,químicas em geral, matadouros, artefatos a de amianto, processadoras dematerial radioativo;

• Hospitais, sanatórios e leprosários;• Depósitos de lixo;• Parcelamento do solo de alta densidade: lotes desmembramento, conjuntos

habitacionais.

DessedentaçãoO gado bovino absorve cerca de 93% do total de água de dessedentação de animaisdo Brasil e a região Centro-Oeste é responsável por um terço do total. O total deanimais é de 238,3 milhões, distribuídos de acordo com os números da tabela 3.8(Telles, 1999).

Tabela 3.8 rebanhos no Brasil em 1995 (Telles, 1999)Tipo Total

MilhõesBovino 161,2Suíno 36,1Ovino 18,3Caprino 11,2

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 57

Eqüino 6,4Outros 5,0Total 238,3

Existe concentração de gado no Centro-Oeste com o maior rebanho e de suínos emSanta Catarina. No Nordeste se encontra o maior rebanho caprino, devidoprincipalmente a capacidade deste animal de se adaptar em ambiente com baixadisponibilidade hídrica.

Na tabela 3.12 são apresentados os valores de demanda de água do rebanho deacordo com as bacias brasileiras. Observa-se que a maior demanda ocorre no rioParaná, seguido pelo rio Paraguai, onde englobam parte da região Centro-Oeste eárea também de rebanho importante em Minas Gerais e São Paulo.

Na referida tabela pode-se observar que a demanda animal geralmente é inferior ademanda humana. Apenas nas regiões de baixa população e rebanho de gadogrande como no rio Paraguai. Na região Nordeste devido a falta de água por períodolongo compromete a sustentabilidade de rebanhos animais.

Os principais impactos ambientais produzidos pelos rebanhos identificados são osseguintes: erosão do solo na bacia do Alto Paraguai devido a fragilidade do solo emanejo inadequado do pasto; carga dos resíduos orgânico do rebanho; gases noefeito estufa; concentração de produção de suíno em Santa Catarina, com aterceirização desta produção o impacto se disseminou de forma difusa por váriasbacias de pequena capacidade de diluição.

Indústria

A concentração industrial brasileira ocorre nas regiões Sudeste e Sul. As principaisindústrias por bacia hidrográfica pode ser observada na tabela 3.9. Quanto ademanda de água pode-se observar na tabela 3.12 que cerca de 74% do total dademanda se concentra nas bacias do Paraná e Atlântico Sudeste, que correspondea grande parte da região Sudeste.

Tabela 3.9 tipos de indústrias de acordo com a região brasileira (FGV,1998)

Bacia Principais industriasAmazonas Mineração, madeira, eletro-eletrônico, mecânicoTocantins Metalurgia, alimentos, madeira, couros, laticínios e cerâmicaAtlântico Sul Cerâmica, carbonífera, eletro-metal-mecânico, têxtil, pesqueira,

química, informática, material elétrico, comunicações automóveis,couro, alimentos

Atlântico Leste Petroquímica, Mineração, Siderurgia, Celulose, automóveis,aeronáutica, têxtil, construção naval

AtlânticoNorte/Nordeste

Metalúrgica, Têxtil, produtos alimentares, Transformação. ExtrativaMineral, Minerais não metálicos, Química, Vestuário e Calçado.

Paraná Maior parque industrial do país: Automóveis, informática, alimentos,agro-indústria, téxtil, etc.

São Francisco Agro-indústria, minerais, não metálicos, química, vestuário,calçado,metalurgia.

Paraguai Alimentos, couro, mineração, agro-indústriaUruguai Mecânica, agro-indústria, alimentos

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 58

Irrigação

A irrigação no Brasil tem passado por várias fases de investimento de acordo com ascaracterísticas dos empreendimentos. Nas regiões Sul e Sudeste predominam airrigação privadas com ênfase no arroz irrigado (R. G. do Sul). Nestas áreas oinvestimento depende principalmente do mercado do produto. No Nordeste do Brasilexiste maior investimento em empreendimentos públicos com vistas aodesenvolvimento regional e a sustentatibilidade numa região de grande demanda.Nestas regiões o investimento em culturas tradicionais como feijão e milho não temapresenta resultado econômico, o que tem levado ao desenvolvimento de projetosvoltados para a fruticultura com maior valor agregado no produto e maiorrentabilidade econômica. Este processo, alterou as características da demandahídrica tanto na demanda sazonal, quanto no seu total anual. Este tipo de culturaestá se desenvolvendo junto de rios perenes com grande disponibilidade como o S.Francisco

Na figura 3.8 é apresentada a evolução das áreas irrigadas no Brasil até 1998, ondese observa um grande acréscimo até 1990. Depois deste período houve umaestagnação na área irrigada.

Tabela 3.10 indicadores da irrigação no Brasil (Cristofidis, 1999)Região Solos aptos á

irrigação1000 há

Áreairrigada1000 ha

Parcela do totalagrícola%

Proporçãoconsumida%

Norte 11.900 87 4,02 55,1Nordeste 1.104 493 5,77 65,8Sudeste 4.429 891 8,29 65,5Sul 4.407 1.195 7,36 62,2CentroOeste 7.724 202 2,34 308Total 29.564 2.868 6,19 62,3

Tabela 3.11 Áreas dos métodos de irrigação em ha(Cristofidis, 1999)Região Superfície Aspersão Pivô central Localizada TotalNorte 82.070 3.530 390 670 86.660Nordeste 164.711 168.146 83.762 78.751 495.370Sudeste 237.150 239.916 348.854 65.054 890.974Sul 1.094.720 53.220 20.970 26.530 1.195.440Centro-Oeste

57.460 39.582 95.310 9.480 201.760

Brasil 1.636.111 549.286 549.286 180.413 2.870.204% 57 17,5 19,1 6,3 100

A participação da área irrigada no setor agrícola brasileira em 1998 é de 6,2%,representando uma área total de 2, 87 milhões de hectares. A irrigação no paísconsume cerca de 64,7% da água utilizada. (tabela 3.10 e 3.11).

Resumo dos usos consuntivos

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 59

Na tabela 3.12 são apresentados os consumos de água médio anual por baciabrasileira destes volumes. Na figura 3.9 é apresentada a distribuição de consumopor tipo de uso consuntivo e na figura 3.10 a distribuição por região. Pode-seobservar claramente, como era de se esperar que a maior demanda é devido airrigação com 64,7% do total. A bacia com maior demanda de irrigação é a doAtlântico Sul devido a demanda de água para irrigação do arroz no Rio Grande doSul. A bacia com maior demanda é a do rio Paraná (26,75% total, figura 3.10), já quena mesma se concentra grande parte da população e do PIB brasileiro.

Na tabela 3.13 é apresentada a projeção de aumento da demanda para algumas dasbacias brasileiras. Os aumentos percentuais da demanda com relação as condiçõesatuais são respectivamente de 35% e 98%, respectivamente para 2005 e 2015.

0

1000

2000

3000

4000

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

Anos

Áre

a ir

rig

ada

(100

0 h

a)

Figura 3.8 evolução da área irrigada no Brasil ( Lima et al, 1999)

Tabela 3.12 Consumo de água em 106 m3 por ano (cenário atual)Bacia Humano Desse-

dentaçãoIrrigação Industrial Total

106 m3 m3/s%

Amazonas 278,98 225,84 6.002,44 52,25 6559,51 208,00 10,32Tocantins 180,30 211,31 1.602,61 78,00 2072,22 65,71 3,26AtlânticoNorte/Nordeste

2105,8 277,23 4206,3 1617,7 8207,03 260,24 12,91

São Francisco 876,46 220,51 5.085,57 926,52 7109,06 225,43 11,18Atlântico Leste 2.705,81 13,32 380,00 2.056,75 5155,88 163,50 8,11Atlântico Sul 664,80 204,85 9.796,30 535,45 11201,4 355,19 17,62Paraná 3.251,80 1379,20 7.858,60 3518,60 16008,2 507,62 25,18Paraguai 127,23 325,20 1.287,00 34,98 1774,41 56,27 2,79Uruguai 249,5 282 4.942,27 12,33 5486,1 174,0 8,63Totais 10440,7 3139,5 41161,1 8832,6 63573,8 2015,9 100,00m3/s 331,1 99,6 1305,2 280,1 2015,9% do total 16,4 4,9 64,7 13,9 100,0

*Fonte: FGV (1998)

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 60

16,4

4,9

64,7

13,9

Humano Dessedent. Irrigação Indústria

Figura 3.9 Distribuição de água por tipo de consumo

Tabela 3.13 Cenários de demanda em 106 m3 (FGV, 1998)Bacia Anos

Atual 2005 2015Amazonas 6.559,5 - -Tocantins 2.072,2 - 8.700,5Atlântico Sul 11.201,4 14.539,5 19.491,0Atlântico Leste 5.155,9 11.372,5 15.514,0Atlântico Norte/Nordeste 8.207,0 9.717,4 11.534,3Paraná 16.008,2 18.647,0 23.450,3S. Francisco 7.109,1 9932,9 15659,0Paraguai 1.774,4 2476,1 3.781,0Uruguai 5.486,1 - -Total 63.573,8

- dados inexistente-

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

Amaz

on

Toca

ntins

Atl.Sul

Atl Les

te

Atl N.N

ord

Paran

á

S. Fra

nci.

Parag

uai

Urugu

ai

bacias brasileiras

% d

o to

tal

Figura 3.10 Distribuição da demanda de água por bacia brasileira

3.3.2 Usos não consuntivos

Hidrelétricas

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 61

A produção de energia elétrica no Brasil está concentrada em hidrelétrica (cerca de91 % do total). Desta forma a dependência estratégica da energia do país nadisponibilidade hídrica é significativa. O potencial hidrelétrico total do Brasil é de 260GW dos quais cerca de 22% encontra-se em operação. Grande parte do potencialhidrelétrico encontra-se na região Amazônica (35%), onde a demanda é pequena.Enquanto que a maioria do potencial existente na região Sudeste de grande porte jáfoi explorado. Próximo dos centros de consumo, o rio Uruguai é o sistema compotencial importante.

O sistema brasileira de energia funciona com duas áreas de interligação: Norte eNordeste com potencial total de 14.708 MW e o Sistema Sul Sudeste com 45.060MW, totalizando 59.767 MW de capacidade instalada, considerando 50% dacapacidade de Itaipu. Na região Norte/Nordeste existe um potencial adicionalinventariado de 61.000 MW, enquanto que na região Sul/Sudeste o potencialadicional inventariado é de 45.000 MW.

Além deste sistema existem as Usinas isoladas que totalizam 1.775 MW, resultandonuma capacidade de 61.540 MW. Deste total 56.530 MW são de hidrelétricas,representando 91,9 % do total. Na tabela 3.14 são apresentados os valores dosistema interligado e sua evolução no tempo. Pode-se observar que existe atendência de diminuição da dependência da hidreletricidade na matriz energética dopaís. Esta é uma tendência importante, considerando os riscos de racionamento.Com os investimentos previstos o risco de racionamento nas regiões Sul e Sudestese reduzem de 9,5% para 4 % e de 12 % para 5,2%, respectivamente entre 1999 e2000. Mantendo-se abaixo de 5 % para as duas regiões até 2009 (Kelman et al.1999).

Tabela 3.14 Evolução da capacidade instalada energética doBrasil (sistema interligado)

Tipo 1998 1999 2000 2001 2002Hidro* 55.865 57.561 59.367 61.765 64.670Termo 3.245 5.855 8.974 10.459 11.140Nuclear 657 1.966 1.966 1.966 1.966Total 59.767 65.376 70.307 74.190 77.785% Hidro 93 88 84 83,3 83,1

* Considera 50% de Itaipu

Em dezembro de 1999 o governo brasileiro anunciou um programa do BNDESBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social de R $ 12 bilhões paraapoiar 25 usinas hidrelétricas, 27 usinas termelétricas, 35 projetos de pequenascentrais hidrelétricas e 20 novas linhas de transmissão. Este sistema está emprocesso de privatização, que é regulado pela ANEEL Agência Nacional de EnergiaElétrica.

A tendência atual do setor é de aumentar a introdução de termelétrica a gás,diminuindo a dependência do setor aos riscos da disponibilidade hídrica queatualmente excessivo. Além disso, a implementação de hidrelétricas, apesar de serum recurso renovável, envolve investimentos altos com período muito longo antes deiniciar o seu retorno. Adicionalmente, as barragens sofrem uma pressão muitogrande da área ambiental devido ao seguinte: inundação de áreas produtivas,deslocando um grande número de pessoas; modificação da flora e faúna a montante

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 62

do reservatório e deterioração da qualidade da água. Além disso, o lay-out dossistemas hidrelétricos de uma bacia envolve um reservatório de regularização evários de queda. Como os reservatórios de regularização inundam maior área, atendência que sejam construídos os reservatórios com grande altura paracompensar a redução da regularização com maior impacto a jusante do que amontante.

O sistema é dependente das condições climáticas. Atualmente os modelos quesimulam as modificações climáticas devido ao aquecimento global ainda apresentamgrandes incertezas, no entanto como o Brasil é um país de dimensões continentais emque parte importante do desenvolvimento depende dos recursos naturais é necessáriomanter atualizado os prognósticos dos impactos climáticos sobre setores dos recursoshídricos e meio ambiente. Por exemplo, o setor energético depende dasdisponibilidade hídrica para manter a sua energia firme (91% de hidrelétricas), portantose houver modificações climáticas poderá melhorar ou comprometer a capacidadegeradora do país. Como os planos são realizados a médio e longo prazo, previsõesclimáticas podem ser utilizadas para verificar o risco sobre o esse sistema.

Navegação

As principais hidrovias brasileiras são apresentadas na tabela 3.15. Dentro desteconjunto as principais vias são denominadas pelo seguinte: Hidrovias do Sul:Uruguai, Jacuí, Taquari, Lagoas dos Patos e Mirim; Paraná-Tietê; Paraguai; SãoFrancisco; Tocantins-Araguaia; Amazonas.

Nas regiões como Amazonas e Tocantins a navegação é o principal meio transportee tem um significado importante na cadeia produtiva regional devido as dificuldadesde acesso a regiões com poucas rodovias e ferrovias.

Nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste a concorrência dos outros meios transportesdificultam a competitividade das hidrovias. A tendência atual é que uso regionalcomplementado pelo transporte rodoviário e ferroviário para grandes cargas.

As obras hidráulicas para navegação geralmente não apresentam grande conflitocom o meio ambiente. Exceção deve ser feita a hidrovia do rio Paraguai que temgerado um conflito importante devido as obras previstas de alteração do leito do rioParaguai que poderia produzir impacto nas condições de regulação natural doPantanal.

Tabela 3.15 Principais hidrovias (Cabral, 1995)Bacias Rios principais Extensão

KmAmazonas Amazonas, Negro, Madeira, Purus,

Jurus, Branco e Juruá18.300

Tocantins Tocantins, Araguaia 3.000Atlântico Sul Jacuí, Taquari, Lagoa dos Patos e

Mirim1.300

Atlântico Leste Doce, Paraíba do Sul 1.000(potencial)

Atlântico Norte/Nordeste Mearim, Pindaré, Itapecuru e Parnaíba 3.000São Francisco São Francisco e Grande 4.100Paraná Paraná, Tietê 4.800

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 63

Paraguai Paraguai e Cuiabá 2.800Uruguai Uruguai e Ibicui 1.200

(potencial)Total 38.200

3.4 Balanço e situações ambientais críticas e extremas

3.4.1 Balanço disponibilidade – demanda

Como se observa na tabela 3.16 a relação entre a demanda e a disponibilidade éinferior a 100% para valores médios, o que não significa que não existam deficithídricos. Os valores médios na maioria das vezes não identifica os conflitos ou afalta de recursos hídricos. Este valores permitem identificar apresentar de formaglobal as bacias envolvidas as relações básicas entre o uso total dos recursos e acapacidade máxima regularizável da bacia.Os cenários de acréscimo de uso dos recursos hídricos para 2005 e 2015 sãoapresentados na tabela 3.17, onde se observa que na bacia do S. Francisco ocomprometimento chega a 26,1 % da disponibilidade máxima.

Tabela 3.16 Relações entre disponibilidade e demanda para o cenárioatual para as bacias brasileiras (FGV, 1998)

Bacia Di

km3

Demandakm3

D / Di

%Amazonas 4.332,1 6,560 0,15Tocantins 32,1 2,072 0,56Atlântico Sul 13,6 11,201 8,26Atlântico Norte/Nordeste 98,1 5,156 5,22Atlântico Leste 1372 4,482 3,27São Francisco 89,88 16.008 17,81Paraná 346,9 7,109 2,05Paraguai 86,131 (40,68)* 1,774 2,06Uruguai 130,87 5,486 4,19

1 valor na saída do rio Paraguai. Este valor não é representativo porque existe forte redução devazão no Pantanal e as maiores demandas ocorrem a montante no Planalto2 Di - disponibilidade; D demanda

Tabela 3.17 Evolução da demanda para cenários futuros e o comprometimentoda disponibilidade

2005 2015Bacia Di

km3Demanda

Km3D/Di

%Demanda

km3D/DI

%Amazonas 4.332,1 - - - -Tocantins 372,1 - - 8,70 2,47Atlântico Sul 135,6 14,54 10,7 19,59 14,4Atlântico Norte/Nordeste 98,71 11,37 11,5 15,51 15,7Atlântico Leste 137,2 9,72 7,1 11,53 8,4São Francisco 89,88 18,65 20,7 23,45 26,1Paraná 346,9 9,93 2,9 15,66 4,5Paraguai 86,131 (40,68)* 2,48 3,1 3,78 4,4Uruguai 130,87 - - - -

* valor na saída do rio Paraguai. Este valor não é representativo porque existe forte redução de vazão noPantanal e as maiores demandas ocorrem a montante no Planalto; Di disponibilidade;D demanda

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 64

Estes números não permitem uma visualização temporal e espacial da relação entre ademanda e a disponibilidade dos recursos hídricos, mas relativamente, em termosmédios, permite analisar as bacias que estão sob maior pressão hídrica. Deve-seconsiderar que a disponibilidade média representa sempre a capacidade máxima deum sistema (considerando a regularização), enquanto que as vazões mínimas com umdeterminado risco permitem analisar a disponibilidade das condições naturais.

Estes valores não permitem analisar os locais críticos de falta de água e seuscondicionantes, apenas indicam que na média existe grande disponibilidade e ademanda ainda poderia ser atendida desprezando-se a variabilidade espacial etemporal. No entanto, como será discutido ao longo deste documento, regiõesespecíficas do semi-árido, nas áreas urbanas e em bacias menores onde a demanda épróxima ou menor que a disponibilidade ocorrem os conflitos e falta de água.

3.4.2 Inundações

Os principais tipos de enchentes em áreas urbanas são: a) enchentes ribeirinhas; b)devido a urbanização; e c) problemas localizados.

As enchentes ribeirinhas ocorrem principalmente pelo processo natural em que o rioocupa o seu leito maior de acordo com eventos chuvosos extremos. Esse tipo deenchente normalmente ocorre em bacias grandes porte e são decorrência do processonatural. Os impactos sobre a população são devido principalmente a ocupaçãoinadequada do espaço urbano. Essas condições ocorrem em geral devido asseguintes ações: (a) no Plano Diretor Urbano da quase totalidade das cidadesbrasileiras não existe nenhuma restrição sobre o loteamento de áreas de risco deinundação, a seqüência de anos sem enchentes é razão suficiente para queempresários loteiem áreas inadequadas; (b) a invasão de áreas ribeirinhas, quepertencem ao poder público, pela população de baixa renda; (c) a ocupação de áreasde médio risco que são atingidas com freqüência menor, mas quando ocorrem,produzem prejuízos significativos.

Em algumas cidades onde a freqüência de inundação é alta, as áreas de risco sãoocupadas por sub-habitações porque representam espaço urbano pertencente aopoder público ou desprezado economicamente pelo poder privado. A defesa civil éconstantemente acionada para proteger essa parte da população. A questão que oadministrador municipal se depara nesse caso, é que, ao transferir essa populaçãopara uma área segura, outros se alojam no mesmo lugar, como resultado dasdificuldades econômicas e as diferenças sociais.

Devido a esses impactos a população pressiona seus dirigentes para uma solução dotipo estrutural como canalização, barragens, diques, etc. Essas obras, em geral temum custo que os municípios e muitas vezes os Estados não tem condições desuportar. Até 1990 o DNOS - Departamento Nacional de Obras e Saneamento, a nívelfederal, atendia parte desses problemas. Com o seu fechamento e a redução detécnicos, a Secretaria de Desenvolvimento Regional ficou com o pouco que resta paraapoiar as cidades, apesar da Constituição Federal estabelecer no seu artigo 21 que"compete a União" e no inciso 28 "planejar e promover a defesa permanente contra ascalamidades públicas, especialmente as secas e as inundações".

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 65

As administrações estaduais, em geral, não estão preparadas técnica efinanceiramente para planejar e controlar esses impactos. Os municípios forampressionados a estabelecerem o Plano Diretor Urbano, onde na sua quase totalidadenão contempla os aspectos de prevenção contra a ocupação de espaço de risco deenchentes. Observa-se que os Planos Diretores já tratam de aspectos de preservaçãoambiental do espaço, disseminado pela divulgação de proteção ambiental, mas porfalta de conhecimento e orientação não se observa nenhum dispositivo de prevençãoda ocupação das áreas de risco de enchentes.

No Brasil são raros os estudos que quantificam os prejuízos devido às inundações,JICA(1986) estimou em 7% do valor de todas propriedades de Blumenau o customédio anual de enchentes nessa cidade e 22 milhões de dolares para todo o Vale doItajaí. O prejuízo previsto para uma cheia de 50 anos foi de 250 milhões de dólares.

No Brasil não existe nenhum programa sistemático de controle de enchentes queenvolva seus diferentes aspectos. O que se observa são ações isoladas de algumascidades. Estrela no Rio Grande do Sul implementou dentro de seu Plano Diretor alegislação de zonas de uso especial, definidas pela restrição de ocupação econstruções abaixo de determinadas cotas estabelecidos no zoneamento deinundação previamente elaborado (Rezende e Tucci, 1979). O município prevê nalegislação a troca de área de inundação por índice de ocupação em zonas valorizadas,como uma forma de adquirir áreas de risco para uso público. DAEE (1990) com oapoio de várias Associações ligadas a Recursos Naturais desenvolveramrecomendações para artigos da seção de Recursos Hídricos nas leis orgânicas dosmunicípios onde no art 2, inciso IV é prescrito o seguinte: " proceder ao zoneamentodas áreas sujeitas a riscos de inundações, ..." e no inciso VI foi recomendado oseguinte: " implantar sistema de alerta e defesa civil, para garantir a saúde esegurança públicas, quando de eventos hidrológicos indesejáveis".

Em geral o atendimento a enchente somente é realizado depois de sua ocorrência. Atendência é que o problema fique no esquecimento após cada enchente, retornandono seguinte. Isto se deve a vários fatores, entre os quais os seguintes: (a) falta deconhecimento sobre controle de enchentes dos planejadores urbanos; (b) adesorganização a nível federal e estadual sobre controle de enchentes; (c) Poucainformação técnica sobre o assunto a nível de gradução na engenharia; (d) o desgastepolítico para o administrador público resultante do controle não-estrutural(zoneamento), já que a população está sempre esperando uma obra. Além disso,quando ocorre a enchente a Prefeitura decreta calamidade pública e recebe recursosa fundo perdido sem que haja necessidade de efetuar concorrência pública paragastar os recursos. Este processo não incentiva a prevenção do controle através dozoneamento de enchentes e outras medidas não-estruturais; (e) falta de educação dasobre o assunto.

As enchentes ampliadas pela urbanização, em geral, ocorrem em bacias depequeno porte, de alguns quilômetros quadrados. Evidentemente que as exceçõessão as grandes regiões metropolitanas, como São Paulo onde o problema abrangecerca de 800 km2. Nas grandes bacias existe o efeito da combinação da drenagemdos vários canais de macrodrenagem que são influenciados pela distribuição temporale espacial das precipitações máximas.

A tendência da urbanização é de ocorrer de jusante para montante na macrodrenagemurbana devido as características de relevo. Quando um loteamento é projetado, osmunicípios exigem apenas que o projeto de esgotos pluviais seja eficiente no sentidode drenar a água do loteamento. Quando o poder público não controla esta

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 66

urbanização ou não amplia a capacidade da macrodrenagem a ocorrência dasenchentes aumentam com perdas sociais e econômicas para a sociedade.Normalmente o impacto do aumento da vazão máxima sobre o restante da bacia não éavaliado pelo projetista ou exigido pelo município. A combinação do impacto dosdiferentes loteamentos produzem aumento da ocorrência de enchentes para jusante.Esse processo ocorre através da sobrecarga da drenagem secundária (condutos)sobre a macrodrenagem (riachos e canais) que atravessam as cidades. As áreas maisafetadas, devido a construção das novas habitações a montante, são as mais antigaslocalizadas a jusante.

As conseqüências dessa falta de planejamento e regulamentação são sentidas empraticamente todas as cidades de médio e grande porte do país. Depois que o espaçoestiver todo ocupado as soluções disponíveis são extremamente caras, tais comocanalizações, diques com bombeamento, reversões, barragens, entre outros.

A tendência de controle das cheias urbanas devido a urbanização são realizadas namaioria das vezes através da canalização dos trechos críticos. Esse tipo de soluçãosegue a visão particular de um trecho da bacia, sem que as conseqüências sejamprevistas para o restante da mesma ou dentro de diferentes horizontes de ocupaçãourbana. A canalização dos pontos críticos acabam apenas transferindo a inundaçãode um lugar para outro na bacia. Quando a canalização está no seu estágio final, jánão existem espaços laterais para ampliar a seção e as soluções convergem para oaprofundamento do canal, com custos extremamente altos (podendo chegar a US$ 50milhões/km, dependendo do sub-solo, largura, revestimento, etc).

Esse processo é extremamente prejudicial aos interesses públicos e representa umprejuízo extremamente alto para toda a sociedade ao longo do tempo. Para um paíscom grandes deficiências de infra-estrutura é injustificável um custo tão alto pelaimprevidência de um planejamento técnico caótico. É importante caracterizar que aimpermeabilização é resultado da ação de todos os indivíduos que ocupam a baciahidrográfica, apesar do problema ser transferido politicamente para a esfera pública.

3.4.3 Outras situações de degradação ambiental

Uso do solo

Uma das maiores preocupações a nível mundial é a deteriorização do solo rural devidoao uso intensivo e as práticas agrícolas que tendem a perder camada fértil do solo,que depois são corrigidas com componente químicos que poluem os rios, além donatural assoreamento. Os números mundiais indicam que cerca de 1,2 bilhões dehectares de área com vegetação, uma superfície tão grande quanto a Índia e a Chinajuntas, foi significativamente degradada desde a segunda guerra mundial (WRI, 1992).

Esse processo é intenso no Brasil, principalmente nas regiões de grande monocultura.Os Estados produtores como Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, São Paulo,Mato Grosso do Sul e Santa Catarina são aqueles que tem um uso intensivo da árearural para produção de cultivos como soja, milho e cana de açúcar. A baciahidrográfica quando sujeita ao plantio, muda seu comportamento em diferentes fasesdo mesmo. Quando as precipitações mais intensas ocorrem e o solo estádesprotegido, pode-se agravar o processo mencionado acima. Na tabela 3.18 éapresentada a evolução do desmatamento em São Paulo e Paraná, onde se observaque neste século e principalmente depois de 1950 o desmatamento foi significativo

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nestes dois Estados. Atualmente a fronteira agrícola se desenvolve no Cerrado e naAmazônia, onde se observa grande quantidade de desmatamento.

O desenvolvimento de métodos para melhor avaliar o impacto do uso do solo rural éfundamental para subsidiar a prática agrícola, o controle da erosão e a contaminaçãodos rios por pesticidas. Grande parte desse processo decorre da forma do plantio, dotratamento do solo, da ação da energia da precipitação sobre o solo desprotegido, dasestradas vicinais e as divisas de propriedades.

Tabela 3.18 Cobertura original dos Estados do Paraná e São PauloAno Cobertura original do Estado

de São Paulo(%)

Ano Cobertura original do Estado doParaná

(%)< 1886 81,8 <1890 83,41886 70,5 1890 83,41907 58,0 1930 64,11935 26,2 1937 58,71952 18,2 1950 39,71962 13,7 1965 23,91973 8,3 1980 11,9

1990 5,2

O Pantanal, um dos principais ecossistema brasileiro está sendo atingido por umprocesso de degradação do solo nas cabeceiras dos afluentes do rio Paraguai como oTaquari. Nessa região houve um incremento substancial de uso do solo paraplantação de soja nos últimos 15 anos, o que tem aportado um volume considerávelde sedimentos no Pantanal, alterando substancialmente o seu meio ambiente. Deve-se ressaltar também, que nesse mesmo período houve uma grande variação davazão, se comparado com um período anterior de 13 anos. A soma desses efeitos temproduzido alterações significativas dos leitos dos rios com prejuízos ambientais.

O desmatamento de áreas florestadas é um problema mundial que tem um fortecomponente a nível nacional. Segundo WRI (1992) com base em relatório da FAO dofinal de 1991, o desmatamento a nível mundial está em cerca de 17 milhões de acresanuais, representando um aumento de quase 50% com relação as estimativas doinício dos anos 80. O desmatamento em florestas tropicais reduz a biodiversidade,contribui para a modificação climática pela emissão de carbono para atmosfera egeralmente resulta na degradação do solo (WRI,1992). No Brasil, os números sobre odesmatamento tiveram um aumento acelerado durante os anos 80, quando existiaincentivo de financiamento para criação de espaço agrícola. Com a mudança dessapolítica em 1987 e o baixo desempenho econômico no início dos anos 90, houveredução dos números anteriores. A FAO utilizou um valor médio de 2,18 milhões dehectares por ano para a Amazônia Legal no período de 1980-1990.

Preservação

Os impactos podem ser ordenados em duas partes como mencionado anteriormente:a) Os impactos devido a ação humana sobre o meio ambiente; b) impacto da variaçãoclimática sobre o ambiente e a população.

Os principais impactos sobre o meio ambiente a nível nacional são: a) despejos deefluentes domésticos e industriais nos rios; b) contaminação difusa de pesticidas de

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áreas agrícolas; c) degradação do solo rural pelo desmatamento e práticas agrícolasinadequadas; d) construção de obras hidráulicas; e) aterros sanitários; f )contaminaçãode aqüíferos; g) mineração, etc.

Como foi mencionado anteriormente o maior problema ambiental é o despejo depoluente em rios. Segundo WRI (1992) nos países em desenvolvimento 95% dosesgotos urbanos são despejados sem tratamento nos rios.

A construção de obras hidráulicas, principalmente os reservatórios que inundamgrandes áreas é um condicionante muito freqüente na realidade brasileira. Na regiãoNorte do pais, os maiores impactos residem na inundação de matas e a degradaçãoambiental do reservatório. Esses problemas são mais sérios em sistemas com grandetempo de residência, condições de estratificação (grandes alturas), alta densidade dematas, características de relevo do lago e dispositivos para retirada da vazão efluentedo reservatório. Num clima tropical as condições de temperatura tornam o reservatóriopermanentemente eutrofizados se o tempo de residência for alto. Por exemplo, oreservatório de Tucuruí tem uma área de inundação semelhante ao reservatório deBalbina, no primeiro a bacia é da ordem de 767.000 km2 (40 dias de tempo deresidência) e no segundo da ordem de 18.450 km2 (351 dias de tempo de residência),ou seja com um impacto ambiental muito maior que o primeiro.

Na região Sul e Sudeste o impacto maior sobre as obras hidráulicas reside nas cargasdifusas agrícolas e pontuais de despejos de esgotos domésticos, industriais e dospluviais. Nas áreas de clima mais temperado o processo de eutrofização é maissazonal.

Na bacia do rio Paraná se concentra o maior número de aproveitamentos dos recursoshídricos, principalmente hidrelétricos, tendendo para o seu esgotamento. Essa é umabacia que tenderá a apresentar conflitos dos usos dos recursos hídricos, além de umurgente programa de preservação ambiental. A bacia tem uma sucessão dereservatórios em cascata e em paralelo para aproveitamento energético, sendo quepraticamente esgotou o seu potencial a nível de grandes bacias. Como as principaismetrópoles encontram-se na cabeceira dos seus afluentes (São Paulo no Tietê) eCuritiba (no Iguaçu), o agravamento das disponibilidade hídrica de abastecimento e aqualidade da água dos rios é um problema crescente que demanda uma parcelasignificativa dos orçamentos estaduais e mesmo federal.

No rio São Francisco a disputa pela água tende a ser maior pelo apelo aodesenvolvimento econômico da região. O rio São Francisco foi regularizado porinvestimentos energéticos que utilizam grandes bacias. Após a implantação dessessistemas a CODEVASF tem desenvolvido vários projetos de irrigação, que na maioriados anos não interferem na produção de energia pelo seu porte. A irrigação tem umaparcela ponderável de uso consuntivo da água, o que pode reduzir a vazão durante osperíodos de estiagens, no entanto tem um papel econômico importante. Atransposição de águas do São Francisco para o centro do polígono das secas voltou aser um projeto em discussão recentemente, no entanto existe a necessidade deestudos mais detalhados para sua implantação, já que representa uma ação degrande interferência ambiental sobre a bacia.

Como a população brasileira tem se desenvolvido de forma significativa sobre a costa,seja durante o verão como em grandes metrópoles, a demanda de água tem sido umadas grandes necessidades, ancorada em pequenas bacias sujeitas a grande impacto

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ambiental. O meio ambiente costeiro em geral próximo a Serra do Mar requer umaatenção especial pelo alto grau de interferência.

Nas regiões de pequena ou média ação antrópica como os ecossistemas Amazônico edo Pantanal é necessário que sejam aprimorados os planos de conservação visando odesenvolvimento sustentável. Esse desafio é maior num país deficiente de infra-estrutura e recursos para garantir a sustentabilidade do processo. Como parteimportante dos recursos internacionais estão priorizando a sua conservação énecessário antes de tudo que a população dessa região tenha o conhecimento e osmeios para dar o suporte a esse processo. De nada adianta projetos e estudos semque a sociedade local participe e leve adiante os mecanismos e o conhecimento paratornar a região economicamente sustentável.

3.4.4 Calamidades

As principais calamidades sobre a população relacionadas com recursos hídricos sereferem aos extremos de vazão, ou seja secas e enchentes. As secas sãominimizadas através de uma rede de poços de abastecimento e de reservatórios.Programas de educação rural na conservação da água e regulação com um conjuntode técnicas como: barragens subterrâneas, de sedimentos, cisternas entre outras. Asenchentes são minimizadas por diferentes medidas de controle: estruturais, queenvolvem obras e modificações do rio e não-estruturais que envolvem convivênciacom o rio.

A ação preventiva praticamente não existe. Como foi mencionado anteriormente nãoexiste nenhuma entidade com atribuição de buscar medidas preventivas que atuem naminimização desses impactos.

Além disso, não existe legislação que busque controlar alguns dos impactos potenciaiscomo foi discutido anteriormente sobre as enchentes. Por exemplo, existe um grandenúmero de barragens em cascata ou em paralelo nos rios, mas não existe nenhumalegislação que obrigue as entidades que operam esses sistemas a manter um sistematelemétrico de alerta e tenha a avaliação do impacto do eventualmente rompimentodas mesmas e um programa de defesa civil para minimizar esse impacto. Talveztenhamos que esperar uma calamidade para termos uma legislação para o assuntocomo ocorreu na França e nos Estados Unidos ou que uma entidade financiadorainternacional condicione a aprovação do projeto a um estudo desse tipo, que depoisnão é necessariamente operacionalizado. Com as limitações temporais das sérieshidrológicas existentes não é muito difícil que o risco seja maior que o projetado e queem algum momento isso venha ocorrer, como em 1977 no Rio Pardo em São Paulo.

As calamidades podem ser previstas estatisticamente ou em tempo real através demetodologias hidrometeorológicas. A nível de enchentes, medidas preventivas muitosimples podem ser realizadas para a redução significativa nos prejuízos. Algumasseriam o seguinte: a) mapeamento de áreas de inundação de todas as cidades comrisco do país; b) evitar o financiamento de construção em áreas de inundação porparte de todos os órgãos ou bancos federais ou estaduais; c) exigir que o PlanoDiretor das cidades contemple o redirecionamento urbano para as áreas seguras.

No caso das secas o programa de apoio tem sido mais curativo do que preventivo. Opreventivo envolve o planejamento da sustentabilidade de cada área dentro de seuscondicionantes básicos de solo, geologia, clima, situaçào social e econômica.

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A prevenção de calamidades contra o meio ambiente é também uma das tarefasimportantes e que exige muita racionalidade num país do tamanho do Brasil. Osprincipais problemas são o incêndio no período de estiagem, quando a vegetação estáseca e os acidentes de transporte e condução de materiais tóxicos, petróleo e seusderivados.

3.5 Aspectos institucionais da gestão dos recursos hídricos no país

3.5.1 Administração da água

As instituições envolvidas com a administração dos recursos hídricos atuam emdiferentes esferas da administração pública, além de envolverem organizaçõespúblicas e privadas.

São dois os tipos de domínios das águas no Brasil: águas federais e águasestaduais. São bens da União (águas federais) os lagos, rios e quaisquer correntesem terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado da federação,sirvam de limite com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou deleprovenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais. São bens dosEstados, as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes ou emdepósito encontradas em seu território. A responsabilidade pela gestão depende,então, do tipo de domínio da água.

Pela lei vigente, os usos que estão sujeitos a um controle da administração públicasão os usos passíveis de outorga: derivação ou captação de parcela de águaexistente em um corpo de água para consumo final, insumo de processo produtivo;extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo deprocesso produtivo; lançamento em corpo d’água de esgotos, tratados ou não, como fim de sua diluição, transporte ou disposição final; aproveitamentos dos potenciaishidrelétricos e outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade daágua existente em um corpo d’água.

A administração dos problemas de recursos hídricos levando-se em conta os limitesde uma bacia hidrográfica não é uma tradição no Brasil. Até os anos 70, as questõesde recursos hídricos eram sistematicamente consideradas a partir dos objetivos dosub-setor usuário da água ou a partir de políticas específicas de combate aos efeitosdas secas e das inundações. A exceção foi a criação, no fim dos anos 40, daComissão do Vale do São Francisco, com uma proposta de desenvolvimentointegrado da bacia, que drena território de 6 Estados e do Distrito Federal.

Os grandes projetos hidráulicos e as políticas de recursos hídricos eram concebidospor cada um dos sub-setores usuários: programa de geração de energia hidrelétrica,plano nacional de saneamento, programas nacionais de irrigação, programas detransportes hidroviários, etc. Esses programas foram implantados a partir dos anos40, com forte participação estatal, sobretudo da área federal. Alguns Estados, dasregiões Sul e Sudeste, mais ricos em potencial hidrelétrico, como São Paulo, MinasGerais e Paraná, também criaram suas próprias Empresas de Produção de Energia.

A partir dos anos 70, no entanto, a ocorrência de sérios conflitos de uso da águacomeçou a suscitar discussões nos meios acadêmico e técnico-profissional sobre

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como minimizar os problemas decorrentes. Os conflitos envolviam não só setoresusuários diferentes, como também os interesses de unidades político-administrativasdistintas (Estados e Municípios). Nesse período, o poder se achava muitoconcentrado na área federal, tendo partido, justamente, de técnicos do GovernoFederal a iniciativa de se criarem estruturas para gestão dos recursos hídricos porbacia hidrográfica.

Nesse campo, uma primeira experiência significativa foi a assinatura, em 1976, doAcordo Ministério das Minas e Energia e Governo do Estado de São Paulo, em1976, que criou o Comitê do Alto Tietê, cujo objetivo era o de se buscar conseguir, apartir da operação das estruturas hidráulicas existentes para produção de energia,melhores condições sanitárias nas bacias dos rios Tietê e Cubatão, no Estado deSão Paulo.

Foi criado um Comitê Especial, com participação da área federal e do Governo doEstado de São Paulo. Deve-se registrar que, durante 1976-1983, importantesdecisões foram tomadas durante a vigência desse Acordo: reforma de barragens,definição de regras operativas de reservatórios, objetivando controle de cheias eabastecimento de água de Região Metropolitana de São Paulo. A partir de 1983, porrazões políticas, o Comitê do Alto Tietê entra em declínio, coincidindo com o períodode democratização do País, em que ocorre maior descentralização, com ganho demaior poder por parte dos Estados e perda de influência do nível federal noprocesso.

Ainda no período de maior centralização administrativa, os Ministérios Federais deMinas e Energia e do Interior promoveram a criação do Comitê Especial de EstudosIntegrados de Bacias Hidrográficas - CEEIBH, em 1978, com o objetivo principal defavorecer a utilização integrada e racional dos recursos hídricos das bacias de riosfederais. Foram, então, criados mais de 10 Comitês de rios federais, subordinadosao CEEIBH.

O funcionamento desses Comitês dependeu, muito, do apoio que instituições dosEstados proporcionavam. Mas, eram comitês essencialmente estatais, envolvendoparticipação de técnicos e funcionários. Era virtualmente ausente a participação dosMunicípios e da sociedade civil no processo. Com a democratização e adescentralização, esses Comitês praticamente desapareceram. O único Comitêdessa época ainda em funcionamento é o Comitê do Rio São Francisco –CEEIVASF.

Esses Comitês tinham somente atribuições consultivas, tendo sua ação serestringido, basicamente, ao desenvolvimento de estudos e projetos.

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A partir do processo de redemocratização no Brasil e da nova Constituição, de 1988,que deu maiores poderes para Estados e Municípios, assiste-se, hoje, no País, auma nova etapa no processo de gestão dos recursos hídricos.

Novas organizações foram criadas fruto tanto da evolução do quadro político-institucional do País quanto da evolução da natureza dos próprios problemas derecursos hídricos, que passaram a ser mais complexos e a demandar uma maiorparticipação direta da sociedade para sua solução.

Alguns Estados, como Ceará, São Paulo e Rio Grande do Sul, avançaram bastantena implementação de seus sistemas de gestão das águas, tendo, inclusive,influenciado na concepção do Sistema Nacional de Gerenciamento de RecursosHídricos do País, instituído em 1997, com a promulgação da Lei 9.433.

Administração federal

A coordenação da gestão dos recursos hídricos no País encontra-se, hoje, a cargoda SRH – Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente. ÀSecretaria de Recursos Hídricos compete implementar a Política Nacional deRecursos Hídricos, propor normas, definir estratégias, implementar programas eprojetos, nos temas relacionados com: I - a gestão integrada do uso múltiplosustentável dos recursos hídricos; II - a implantação do Sistema Nacional deRecursos Hídricos; III - a integração da gestão dos recursos hídricos com a gestãoambiental e a IV- implementação dos instrumentos da Política Nacional de RecursosHídricos, dentre eles a outorga de direitos de uso de recursos hídricos de domínio daUnião, exceto a outorga para aproveitamento de potenciais hidráulicos, e emconformidade com os critérios gerais estabelecidos pelo Conselho Nacional deRecursos Hídricos. A Secretaria de Recursos Hídricos exerce, ainda, as atividadesde secretaria-executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

É a Secretaria de Recursos Hídricos a instância responsável pela outorga pelo usoda água e pelo lançamento de efluentes em cursos d’água de domínio da União.

O IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis), instituição subordinada ao Ministério do Meio Ambiente, tem pormissão institucional executar as políticas nacionais de meio ambiente. As funçõesbásicas do IBAMA incluem, entre outras, o controle e a fiscalização no uso dosrecursos naturais renováveis, o fomento à implementação de unidades deconservação, o monitoramento ambiental, a proteção e preservação deecossistemas, da flora e da fauna. Fazem parte da estrutura básica da instituição asSuperintendências Estaduais, o que permite assegurar a presença do IBAMA emtodas as unidades da federação.

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A outorga para aproveitamento hidrelétrico da água é atribuição da ANEEL –Agência Nacional de Energia Elétrica. Essa Agência, que incorporou atribuições doextinto DNAEE – Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica, foi instituídapela Lei nº 9.427 de 26 de dezembro de 1996. Cabe à ANEEL disciplinar, de formageral, o regime das concessões de serviços públicos de energia elétrica. No que serefere à questão do aproveitamento da água para geração de energia, tem a ANEELresponsabilidades na definição do aproveitamento ótimo energético dos cursosd’água, levando em conta os outros usos, na outorga de concessão para oaproveitamento de potenciais hidráulicos, nos estudos de viabilidade, anteprojetos eprojetos de aproveitamento dos potenciais hidráulicos e em atividades de hidrologia.

Há, também, duas instituições federais de atuação regional, que participam daadministração dos recursos hídricos e que implementam diretamente projetos deirrigação: o DNOCS e a CODEVASF. Ambas as instituições acham-se subordinadasao Ministério da Integração Nacional , criado em julho de 1999, que herdouatribuições da antiga SEPRE - Secretaria Especial de Políticas Regionais, como:integração dos aspectos regionais das políticas setoriais; defesa civil; fixação dediretrizes, acompanhamento e avaliação dos programas de financiamentos e obrascontra as secas.

O Ministério da Integração Nacional é responsável pela implementação do PRONID(Programa Nacional de Irrigação e Drenagem), cujo objetivo é o de promover econsolidar o desenvolvimento sustentável de áreas irrigadas e irrigáveis.

A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco – CODEVASF atua emáreas integrantes das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, nos estados deGoiás, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe e parte do DistritoFederal, perfazendo os 640.000 km2 do Vale, atingindo uma população estimada em14 milhões de pessoas. A CODEVASF tem por objetivo o aproveitamento para finsagrícolas, agropecuários e agroindustriais, dos recursos de água e solo do Vale doSão Francisco, diretamente ou por intermédio de entidades públicas e privadas, apartir de ações de promoção desenvolvimento em áreas prioritárias e da implantaçãode distritos agroindustriais e agropecuários.

O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS constitui-se na maisantiga instituição federal com atuação no Nordeste. Foi criado sob o nome deInspetoria de Obras Contra as Secas - IOCS por meio do Decreto 7.619 de 21 deoutubro de 1909. Cabe hoje ao DNOCS desenvolver funções de desenvolvimento egerenciamento dos recursos hídricos, administrar perímetros de irrigação,desenvolvimento da pesca e aquicultura de águas interiores e de desenvolvimentode projetos complementares de distribuição de água.

Ainda com atuação regional, há a Superintendência do Desenvolvimento doNordeste (SUDENE), uma autarquia do Governo Federal, também vinculada ao

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Ministério da Integração Nacional, que tem a atribuição de promover odesenvolvimento do Nordeste; realizar, direta ou indiretamente, estudos, pesquisas ediagnósticos; atuar no planejamento e na coordenação dos investimentos federaisna Região.

Administração nos estados

De um modo geral, cada Estado no País vem organizando de forma diferenciada oseu sistema de administração dos recursos hídricos. Não existe um modelo único.Há estados, por exemplo, em que a outorga fica sob responsabilidade de umaSecretaria de Recursos Hídricos; há estados em que cabe à Secretaria de MeioAmbiente emitir as outorgas. Atualmente, 17 Estados e o Distrito Federal jáaprovaram suas leis sobre a Política e o Sistema Local de Gerenciamento deRecursos Hídricos. Todas essas leis prevêem Comitês de Bacias Hidrográficas, comcomposição variável sendo a participação dos usuários denominador comum atodas.

Em razão do impedimento constitucional para os Estados legislarem sobre águas, asConstituições Estaduais e as decorrentes leis regulamentadoras somente tratam depolítica, diretrizes e critérios de gerenciamento dos recursos hídricos. Dessa forma,são disposições sobre a organização dos Estados para a administração de águas deseu domínio subordinada à legislação federal sobre águas e meio ambiente.

3.5.2 Mecanismos de participação dos usuários

Nível federal

A Nova Lei das Águas no Brasil (9.433/97) promoveu, em realidade, uma importantedescentralização da gestão: da sede do Poder Público para a esfera local da baciahidrográfica. A Lei permite efetivar, também, uma parceria do Poder Público comusuários da água e com a sociedade civil organizada. O Poder Público abriu mão deparcela de poderes que, por sua natureza, podem ser delegados. O poder decisóriopassa a ser compartilhado nos Comitês de Bacia Hidrográfica e nos ConselhosNacional ou Estaduais de Recursos Hídricos. A Lei autoriza a delegação às futurasAgências de Água da cobrança pelo uso da água, mas mantém com o Poder Públicoo poder de outorgar direitos de uso.

Recentemente, foram criados, pela União, Comitês nas bacias de alguns rios dedomínio federal: Paraíba do Sul (SP, RJ e MG), Alto Paraguai (MS e MT) e PiranhasAçu (RN e PB) e cogita-se de criação na bacia do rio Paranaíba (GO e MG). Essesnovos Comitês já começam a trabalhar sob a égide da nova Lei.

Está em curso no Brasil a criação de Agências de Água. A exemplo do modelo degestão da França, essas Agências teriam com função arrecadar os recursos

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provenientes da cobrança e financiar as intervenções julgadas prioritárias peloComitê de Bacia. Haveria tanto Agências atuando em bacias de rios estaduaisquanto Agências de bacia de rios federais, mas a criação dessas agências aindadepende da aprovação de leis específicas. Foi São Paulo o estado que maisavançou na definição da estrutura de suas futuras agências de bacia.

Estado, municípios e usuários

Em 1988, foram criados Comitês Estaduais das Bacias dos rios dos Sinos e Gravataíno Estado do Rio Grande do Sul. A iniciativa partiu dos habitantes das baciashidrográficas, com o apoio do Governo do Estado. Esses Comitês tinham somentefunção consultiva, mas já contam com mais de 10 anos de atividades tendoconseguido, com seu trabalho, reorientar investimentos públicos naquelas bacias.

O Estado que mais criou Comitês de Bacia foi o Estado de São Paulo. A idéia inicialera criar comitês inter-estaduais, com participação restrita da União, mas São Paulonão conseguiu motivar os Estados limítrofes para uma ação conjunta. O Estado deSão Paulo foi dividido em Unidades de Gestão da Água. Essa divisão hidrográficalevou em conta aspectos físicos, climáticos, nível de desenvolvimento econômico esocial. A grande inovação do Estado de São Paulo foi permitir que esses ComitêsEstaduais decidissem sobre aplicação de recursos financeiros provenientes de umFundo Estadual de Recursos Hídricos.

O Estado do Ceará, no Nordeste, inova ao criar uma instituição especializada emrecursos hídricos: a COGERH (Companhia de Gerenciamento de RecursosHídricos), que exerce a função de apoio técnico e executivo ao Estado, operasistemas de barragens e canais e promove a venda de água bruta para os diferentesusuários interessados.

Por razões históricas, o papel político exercido pelos Municípios no âmbito de cadaum dos Estados é bastante variável no Brasil. Há estados, principalmente noSudeste no Brasil, em que os municípios têm razoável grau de autonomia financeirae político-administrativa. Isso explica a criação nessas regiões dos denominadosConsórcios Inter-Municipais de Bacia, para tratar de questões de recursos hídricosque interessam a diferentes municípios. Há consórcios criados para buscar resolver,por exemplo, questões de abastecimento de água e de poluição, em diferentesEstados como São Paulo e Espírito Santo.

Há, também, as denominadas Associações de Bacias, criadas, normalmente, a partirda iniciativa de membros da sociedade civil, com o objetivo de buscar resolverquestões normalmente ligadas à poluição dos cursos d'água. Existem, do mesmomodo, as Associações de Usuários, que são muito atuantes em algumas regiões doBrasil, criadas para auxiliar na gestão de perímetros de irrigação e na operação deaçudes e represas.

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Embora muitas vezes bastante atuantes, tanto os Consórcios Inter-Municipaisquanto as Associações de Bacias têm, de fato, poder muito limitado, uma vez que sóhá domínio federal ou estadual das águas.

Christofidis (1999) identificou 43 Comitês de Bacias Hidrográficas em funcionamentono Brasil, com criação fundamentada na Lei Federal e nas Leis Estaduais, dos quais31 na Região Sudeste (21 só em São Paulo), 9 na Região Sul, 1 no Nordeste, 1 noCentro-Oeste e o do São Francisco (CEIVASF, que inclui as Regiões Sudeste e Sul).O mesmo autor assinala a existência de 33 Consórcios e Associações de Bacia,criados a partir da iniciativa de usuários ou municípios, dos quais 26 na RegiãoSudeste, 4 na Região Sul, 1 no Nordeste e 1 no Centro-Oeste.

Embora existam entidades responsáveis por praticamente todas as atividadesligadas à gestão dos recursos hídricos, verifica-se que articulação interinstitucional é,ainda, frágil e incipiente, produto de fatores estruturais e circunstanciais associados ,principalmente, à própria organização político-administrativa do País. Às limitaçõesinerentes à gestão de um setor em que convivem três esferas administrativasdecisórias (União, Estados e Municípios), aliam-se, para explicar a ausência deações coordenadas de gestão da água, fatores tais como a falta histórica deprioridade política dada ao setor e o próprio momento de mudanças institucionais porque passa o País.

Processo decisório

Historicamente, no Brasil, o processo decisório relativo a obras e políticas de recursoshídricos envolve, somente, grandes usuários, empreendedores e poder público. Aparticipação dos pequenos usuários da água e da sociedade no processo decisóriosempre foi muito limitada.

A autorização para implementação de uma obra depende tanto do regime do rio(federal ou estadual) quanto da natureza da obra. Obras para produção de energiasempre dependeram de autorização federal mesmo que se trate de rio sob domínioestadual. Aproveitamentos para irrigação e abastecimento público, por exemplo, sódependem de autorização federal no caso de o rio ser de domínio federal.

Com o advento das leis ambientais no País, a partir dos anos 80, começou a haver anecessidade, também, de licenças ambientais para implantação e operação de obrashidráulicas. Na maior parte dos casos, essas licenças passaram a ser solicitadas aosEstados. É a partir da implementação do licenciamento ambiental que, de fato, asociedade civil passa a dispor de um canal para participar do processo decisório.

Formalmente, as organizações de gestão por bacia hidrográfica não participam, hoje,do processo decisório relativo à implementação de obras e políticas de recursoshídricos.

Com exceção de algumas experiências isoladas, observa-se que se recorre ainda deforma sistemática às formas tradicionais de tomada de decisão, com responsabilidadeconcentrada nas administrações federal e estadual. O grande papel até então exercido

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por essas organizações tem sido o de se constituírem em fóruns de discussão dosproblemas de recursos hídricos, o que não deixa de ser uma função importante.

No entanto, com a aplicação da nova lei, são reservados importantes papéis tantopara os Comitês quanto para as Agências de Bacias. O Comitê decidirá sobreprioridades de investimento e fixará os níveis de cobrança. A Agência preparará osProgramas de Investimento, repassará os recursos e fiscalizará a aplicação dessesrecursos.

Na avaliação dos papéis que essas organizações podem exercer no futuro, deve-selevar em conta, também, a diversidade de situações encontradas no Brasil, no que serefere tanto aos problemas de recursos hídricos quanto as características econômicase culturais das diferentes regiões do País. É de se esperar, desse modo, que estasorganizações possam exercer diferentes papéis: desde fórum consultivo até centrodecisório e executivo das políticas de recursos hídricos de uma bacia hidrográfica.

3.5.3 Legislação de águas

Os marcos legais básicos referentes ao uso da água no Brasil são a ConstituiçãoFederal de 1988, a Lei 9.433, de 8/1/97 e o Código de Águas, estabelecido peloDecreto Federal 24.643, de 10/7/34.

O Código de Águas já assegurava o uso gratuito de qualquer corrente ou nascente deágua, para as primeiras necessidades da vida, permitindo a todos usar de quaisqueráguas públicas, conformando-se com os regulamentos administrativos. Era impedida aderivação das águas públicas para aplicação na agricultura, indústria e higiene, sem aexistência de concessão, no caso de utilidade pública, e de autorização nos outroscasos; em qualquer hipótese, dava-se preferência à derivação para abastecimento daspopulações.

A Constituição Federal de 1988 estabelece que “são bens da União os lagos, rios equaisquer correntes em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estadoda federação, sirvam de limite com outros países, ou se estendam a territórioestrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais”.Estabelece, ainda, como “bens dos Estados, as águas superficiais ou subterrâneas,fluentes, emergentes ou em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, asdecorrentes de obras da União”.

Não existem, pois, águas particulares no País. Mesmo as nascentes que se encontramnos limites de uma propriedade privada, assim como os rios que servem de limitesentre duas propriedades privadas, devem ter o uso de suas águas subordinado aosinteresses públicos.

Compete privativamente à União legislar sobre águas. É de competência da União:explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: oaproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados ondese situam os potenciais hidroenergéticos; os serviços de transporte aquaviário entreportos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ouTerritório; e definir critérios de outorga de direitos de uso das águas.

Para fins administrativos a União poderá articular ações em um mesmo complexogeoeconômico e social, visando ao desenvolvimento e à redução das desigualdadesregionais, através da priorização do aproveitamento econômico e social dos rios e das

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 78

massas represadas ou represáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secasperiódicas.

Os municípios brasileiros em razão do disposto na Constituição de 1988, foramobrigados a promulgar até1990 as respectivas leis orgânicas municipais. Muitosmunicípios incluíram, então, dispositivos específicos de gestão dos recursos hídricos.Como salienta Barth (1999), no Estado de São Paulo, cerca de 300 municípios(aproximadamente metade dos municípios paulistas) incluíram esses dispositivos emsuas leis.

Lei 9.433

A Lei N.º 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que instituiu a Política Nacional de RecursosHídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,culminou um longo processo de avaliação das experiências de gestão de recursoshídricos e de formulação de propostas para a melhoria dessa gestão em nosso País. Éum marco histórico, de grande significado e importância para os que aqui trabalhamcom recursos hídricos, como salientam Lopes e Cordeiro Netto (1998).

A Política desdobra-se em: fundamentos, objetivos, diretrizes de ação e instrumentos.O legislador fixou, como diretrizes, a integração da gestão de recursos hídricos com agestão ambiental, a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do soloe, mais especificamente, a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dossistemas estuarinos e zonas costeiras. Com essa decisão, sinalizou que a gestão derecursos hídricos somente será bem sucedida se levar em consideração asinterrelações existentes entre esses recursos e os demais recursos naturais.

Dentre os instrumentos previstos, destacam-se os Planos de Recursos Hídricos, comodocumentos que consolidam o processo de planejamento prévio da utilização,preservação e recuperação dos recursos hídricos, a outorga de direitos de uso, comomeio de assegurar e controlar os direitos de uso desses recursos e a cobrança pelouso da água, como meio de reconhecer o valor econômico desta e incentivar aracionalização de seu uso.

O Sistema criado se sobrepõe, mas não se opõe, à estrutura administrativa existente.A Lei mantém as competências dos organismos existentes e potencializa sua atuação.Cria somente os organismos necessários à execução das novas atividades, as quais,por terem base territorial diversa da divisão político-administrativa do País, nãopoderiam ser exercidas pelos organismos existentes, que têm base municipal,estadual ou federal. As Agências de Água têm como área de atuação uma ou maisbacias hidrográficas e suas competências primordiais são o planejamento dosrecursos hídricos da bacia e a cobrança pelo uso da água.

A Lei busca assegurar viabilidade ao Sistema: viabilidade financeira, ao destinar osrecursos arrecadados com a cobrança pelo uso da água ao custeio dos organismosque integram o Sistema e à constituição dos financiamentos das intervençõesidentificadas pelo processo de planejamento; viabilidade administrativa, ao criarorganismos de apoio técnico, financeiro e administrativo aos colegiados do Sistema -as Agências de Água e a Secretaria Executiva.

O princípio estabelecido pelo sistema criado é, de todo modo, inovador. A parceria queestabelece entre o Poder Público e a sociedade civil é original, em se tratando dagestão de um bem de domínio público. Repete experiências nacionais, ainda não

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 79

consolidadas, na área da prestação de serviços de saúde à população e de gestãoambiental. A nova lei inscreve-se, desse modo, em tendência nacional e mundial dereformulação do papel do Estado na gestão de bens e serviços públicos.

Estados e municípios

Como já salientado, as leis estaduais tratam de política, diretrizes e critérios degerenciamento dos recursos hídricos.Com a demora da promulgação da lei sobre o Sistema Nacional de Gerenciamento deRecursos Hídricos, em discussão no Congresso Nacional desde 1991 até 1997,alguns Estados adiantaram-se e promulgaram suas leis respectivas.

Como já salientado, dispõe-se de leis estaduais sobre gerenciamento de recursoshídricos, com fundamentos semelhantes à lei nacional, em 17 Estados (Alagoas,Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba,Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, SantaCatarina, São Paulo e Sergipe) e no Distrito Federal.

Todas essas leis prevêem o instrumento da outorga e a constituição de Comitês deBacias Hidrográficas. Esses Comitês têm composição variável, mas a participação dosusuários é comum a todas.O Estado do Pará dispõe da Lei n.º 5.817 de 10 de fevereiro de 1997 que trata daPolítica Minerária e Hídrica do Estado e contém disposições distintas das demais leisestaduais já aprovadas.

Todos os Estados da Região Sul e Sudeste já dispõem de suas leis de recursoshídricos. Na região Centro-Oeste, somente o Estado do Mato Grosso do Sul ainda nãodispõe de sua lei, mas já há uma proposta em discussão. No Nordeste, somente oEstado do Piauí ainda não aprovou sua lei (há minuta em discussão).No entanto, nenhum dos 7 Estados da Região Norte (Amapá, Amazonas, Pará,Rondônia, Roraima e Tocantins) tem uma lei específica. Trata-se da região do Brasilmais rica em água, com maior disponibilidade por habitante, sendo,consequentemente, a região brasileira em que são menos significativos os conflitospelo uso da água, o que tende a explicar o atraso na institucionalização da gestão daágua nessa região.

A articulação entre a estrutura federal e as estaduais seguem as seguintes diretrizes:a) articulação entre o Comitê de Bacia de rio de domínio federal com os Comitêsestaduais da mesma bacia será feita caso a caso; b) articulação entre a Agência deÁguas, prevista na Lei n.º 9.433/97, e as Agências de Bacias previstas nas leisestaduais, também a ser definida caso a caso mediante negociação entre a União e osEstados intervenientes, não havendo ainda nenhum precedente; e c) articulação entrea Secretaria Executiva do SINGREH e os órgãos gestores estaduais.

Leis ambientais

A Constituição Federal, em seu Capítulo VI - Do Meio Ambiente -, entre outrosrequisitos, estabelece em seu Art. 225, Parágrafo 1o inciso IV, que incumbe ao PoderPúblico exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmentecausadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impactoambiental, a que se dará publicidade.

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Ficou, dessa forma, estabelecido pela Constituição e pela legislação complementarque todas as obras e atividades capazes de provocar degradação ambiental estariamsujeitas ao licenciamento, por parte do órgão estadual, com exceção dos casos emque o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis)deveria também atuar.

A Resolução No. 001/86 do CONAMA define (no Art. 2o.) que: “Dependerá deelaboração de estudo de impacto ambiental ... o licenciamento de atividadesmodificadoras do meio ambiente, como: ..... VII - Obras hidráulicas para exploração derecursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10 MW, desaneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem eirrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras,transposição de bacias, diques.

Foram também estabelecidas por essa Resolução algumas atividades técnicasmínimas que deveriam ser desenvolvidas nos estudos de impacto ambiental, de modogeral. Essas atividades foram descritas de forma extremamente genérica eabrangente, aparentemente com o sentido de englobar todas as possíveiscaracterísticas do ambiente afetado, pelas mais diversas atividades alteradoras. Nocumprimento desse dispositivo, os órgãos estaduais de meio ambiente passaram apreparar termos de referência também extremamente abrangentes, sobre os serviçosa serem contratados.Em fins de 1997, com a edição da Resolução 237/97, o CONAMA restringiu um poucoquais seriam as obras de saneamento sujeitas ao licenciamento, ao estabelecer quedeveriam estar sujeitas a estudos de impacto ambiental somente aquelas intervençõesdefinidas por sua capacidade de provocarem alterações significativas, a critério doórgão licenciador.

A recente Resolução No. 237/97 precisa, em seu Anexo, as atividades e osempreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental, dentre os quais se destacam:obras civis, canais para drenagem, retificação de curso de água, abertura de barras,embocaduras e canais, barragens e diques, transposição de bacias hidrográficas,dragagem e derrocamentos em corpos d’água, projeto agrícola, criação de animais,projetos de assentamentos e de colonização, etc.

Em realidade, cabe aos órgãos municipais, estaduais, e eventualmente ao IBAMA,definir a natureza das avaliações ambientais a serem empreendidas para olicenciamento de projetos de saneamento. Essas avaliações podem constituir-sedesde simples análises de temas específicos até complexos e completos estudos deimpacto ambiental.

A gestão da água no País pode evoluir muito quando os dispositivos da nova lei9.605/98, de Crimes Ambientais, passarem a ser efetivamente aplicados. No que serefere ao empreendedor, o Art. 60 da Lei estabelece que é crime “construir, reformar,ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional,estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ouautorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais eregulamentares pertinentes”. A pena pelo crime pode ser detenção, de um a seismeses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

No que se refere à atuação do órgão ambiental, constitui crime (Art. 67) “conceder ofuncionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normasambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de atoautorizativo do Poder Público”. A pena pode ser detenção, de um a três anos, e multa.

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No Brasil, há de destacar, em particular, a atuação que vem sendo exercida, peloMinistério Público. Uma das missões do Ministério Público, definidas pela Constituiçãode 1988, é de atuar no sentido de defender o meio ambiente, e, em especial, aságuas, quer por problemas causados por particulares quer por problemas causadospor entidades da própria Administração Pública. Pompeu (1999) cita que, em 1991, noEstado de São Paulo, o Ministério Público propôs 751 ações civis públicas ecelebrados 172 acordos, na defesa do meio ambiente. Reconhece Pompeu (1999) quea atuação do Ministério Público tem sido muito relevante não só pelos inquéritos civis,pelas ações propostas ou pelos acordos efetivados, mas também pela própria açãoinibidora de novas poluições ou degradações ambientais.

3.6 Aspectos econômicos-sociais da gestão dos recursos hídricos

3.6.1 Sistema tarifário

Em primeiro lugar, há de se fazer uma distinção entre: a) pagamento pela utilizaçãoda água e pelo lançamento de efluentes e b) tarifas por serviços de distribuição ecoleta de água.

No que se refere ao pagamento pela utilização da água e pelo lançamento deefluentes no Brasil, a possibilidade de cobrança pela utilização da água e pelolançamento de efluentes, a exemplo do que é feito em vários países da Europa, éprevista no artigo 20 da Lei nº 9.433/97, embora uma forma de cobrança já houvessesido aventada desde o Código de Águas de 1934. No entanto, somente agora seiniciam algumas experiências no País.

Um exemplo de compensação à sociedade pela utilização de um recurso natural noBrasil é proporcionado pela Compensação financeira pela utilização de recursoshídricos, instituída pela Lei no 7.990, de 28 de dezembro de 1989. De acordo comessa lei, os municípios e respectivos estados que tivessem área inundada pelaformação de reservatório de usina hidrelétrica com capacidade nominal instaladasuperior a 10 MW (dez megawatts) passariam a receber uma compensaçãofinanceira, de 6% sobre o valor da energia elétrica produzida, a ser paga pelosconcessionários do referido serviço. Do montante arrecadado para cada usinahidrelétrica, 45% destinam-se ao(s) Estado(s), 45% aos municípios e 10% à áreafederal. A distribuição dos recursos entre os municípios se dá de forma proporcionalà área inundada pela hidrelétrica em cada município. Há dúvidas de interpretaçãoentre juristas sobre a real natureza desse pagamento: se se trata de um pagamentopela utilização de um recurso natural ou se uma medida compensatória de impactoambiental.

Há, por outro lado, a experiência recente do Estado do Ceará, que instituiu umacobrança pelo uso da água bruta, que serve hoje para ajudar o financiamento de umprograma de intervenções para aumento da disponibilidade de água (gestão e

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 82

obras). No entanto, essa cobrança é entendida, por alguns autores, como sendouma tarifa associada à implementação e à operação de estruturas hidráulicas.

No que se refere à cobrança de tarifas por distribuição e coleta de água, háexperiências consolidadas como as tarifas de saneamento e as tarifas de irrigação.As tarifas de saneamento são tratadas com mais detalhe no Capítulo 4.

No Brasil, os perímetros de irrigação que contam com subsídios públicos devemcobrar tarifas dos usuários de acordo com o Decreto no 89.496 de 24 de março de1984, que regulamenta a lei de irrigação, e o Decreto no 2.178, de 17 de março de1997. A tarifa d'água é composta de duas parcelas: K1, que corresponde àamortização de investimentos públicos nas obras de infra-estrutura de irrigação deuso comum, e K2, que corresponde ao pagamento despesas de administração,operação e manutenção dessa infra-estrutura de uso comum.

Esse custo pode ser significativo para o irrigante. Nos custos de produção daslavouras elaboradas pelo Distrito de Irrigação do Projeto Nilo Coelho emPernambuco, para uma tarifa média da água é de US$ 18/1.000 m3, o custo da águapode representar em média desde 4% do custo anual de produção (para a uva) até33% (para a caso da manga).

O valor da tarifa de água na irrigação tem sido um tema controvertido nos debatessobre a questão da autonomia financeira dos perímetros públicos federais. A leidetermina que os investimentos do governo em obras de irrigação sejam ressarcidosem 50 anos (item K1). Para o exercício de 1999, o K1 para os perímetros do Vale doSão Francisco estava fixado de cerca US$ 33,22/ha – ano. Não é um valor muitoelevado, mas, em sendo a irrigação uma atividade tradicionalmente subsidiada noBrasil, são poucos os perímetros públicos no Brasil que têm conseguido garantiralgum tipo de ressarcimento de investimento.

Não são só os perímetros públicos que beneficiam de investimentos do Governo.Várias associações privadas de irrigantes têm recebido verbas, por meio deConvênios, para realização de trabalhos de infra-estrutura (canais, barragens, etc.).A questão da sustentação da irrigação publica federal, principalmente a já instalada,depende cada vez mais do valor do K2, porque esse componente tarifário é denatureza operacional, associado ao custo da operação e manutenção doequipamento coletivo, custo que tende a crescer com o tempo de vida do perímetro.Está associado, também, à conta de energia elétrica devida pelo bombeamento daágua. É fato que, em muitos perímetros federais, há, ainda, fortes subsídios à tarifaK2, uma vez que muitos custos de operação e manutenção dos sistemas acabamnão sendo cobertos pela tarifa K2, recaindo na conta investimento/ recuperação(fator K1). Os registros de água fornecida, feitos pela CODEVASF, para o ano de1998 mostram, por exemplo, que a tarifa K2 para 1.000 m3 fornecidos variaram deUS$ 4,3 a 21,6 para um conjunto de 18 perímetros selecionados.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 83

Não há registros, no Brasil, de mercados formais de água. No Rio Grande do Sul, noentanto, a água de irrigação, que participa, em média, com 10% do custo daprodução do arroz, é muitas vezes distribuída por um outro produtor rural, quemantém em sua propriedade os canais de adução. Há, nesse caso, um pagamentofeito em sacas de arroz pelo irrigante ao responsável pela adução de água.

3.6.2 Mecanismos de financiamento

Como já salientado, historicamente, no Brasil, os grandes projetos hidráulicos e aspolíticas de recursos hídricos eram concebidos por cada um dos sub-setoresusuários: programa de geração de energia hidrelétrica, plano nacional desaneamento, programas nacionais de irrigação, programas de transporteshidroviários, etc.

Cada um desses sub-setores desenvolveu seus próprios sistemas de financiamento.Muitos desses programas foram, de início, financiados somente com verbaspúblicas. No entanto, setores públicos que asseguravam serviços de interesseindustrial, comercial ou residencial, como produção de energia elétrica esaneamento, começaram, pelo menos em parte, a ser financiados pelas tarifascobradas. O setor de irrigação pública é, em parte, financiado pela cobrança detarifas. Setores, como navegação interior e controle de enchentes, no entanto,dependem quase que exclusivamente de verbas públicas.

Muitos desses sub-setores recorreram no passado e recorrem hoje a empréstimosexternos para seu financiamento. Entre os setores que já se beneficiaram deempréstimos externos, têm-se: energia elétrica, saneamento, irrigação e controle deenchentes. Atualmente, são inúmeros os programas e projetos na área de gestãodos recursos hídricos no Brasil financiados com recursos externos. Boa parte dessesprogramas se desenvolve sob coordenação direta dos Estados interessados.

No caso da irrigação, alguns programas específicos foram criados. O PROFIR –Programa de Financiamento de Equipamentos de Irrigação, criado em 1982,propiciou o acesso de vários produtores rurais a equipamentos de irrigação. Foramimplementados o PROINE – Programa de Irrigação do Nordeste e o PRONI –Programa Nacional de Irrigação, esse último abrangendo todo País, à exceção doNordeste. Esses programas, aliados às linhas de crédito para custeio e investimento,propiciaram um aumento rápido da superfície irrigada no País, sobretudo dadenominada irrigação privada nos últimos 20 anos.

O setor de saneamento, como se verá mais adiante, conta com financiamentos doFGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), que se trata de fundoadministrado pela CEF (Caixa Econômica Federal), que recolhe contribuições

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 84

compulsórias de empregadores e empregados. Esses fundos financiam intervençõesde municípios e companhias de saneamento, com juros de 4 a 6 % ao ano, mais ainflação no período. A CEF financia intervenções que apresentem rentabilidadesuperior a 11 %. Algumas ações de drenagem urbana começam, atualmente, a sertambém financiadas por essa sistemática.

Há programas especiais de financiamento de ações de saneamento a fundo perdido,com verbas da União, de pequenos sistemas em regiões desfavorecidas e nasperiferias das grandes e médias cidades. São usados recursos do Ministério daSaúde, do Ministério do Planejamento e de empréstimos externos.

O setor de irrigação conta, também, com financiamentos assegurados pelo sistematradicional de crédito rural. Além do Banco do Brasil, tradicional financiador deatividades agropecuárias, e de bancos privados comerciais, que têm linhas própriasde financiamento para a agropecuária, (sobretudo no Sudeste e Sul), o setor deirrigação conta com linhas especiais de financiamento dos bancos oficiais: BNDES(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), BNB (Banco doNordeste do Brasil) e BASA (Banco da Amazônia). Esses bancos administram osFundos Constitucionais que privilegiam investimentos em regiões consideradasdesfavorecidas no País: Norte, Nordeste e Centro-Oeste, por meio dos programasPRODAGRI-FNO (Norte), o PROIR-FNE (Nordeste) e o Programa deDesenvolvimento Rural –FCO (Centro-Oeste).

Recentes modificações institucionais ocorridas em alguns setores, como produçãode energia e saneamento, têm propiciado uma participação mais intensa de agentesprivados na implementação e operação de empreendimentos na área de recursoshídricos, o que permite o acesso a créditos do BNDES e de bancos privados.

Com a aplicação da nova Lei das Águas e a efetiva implementação da cobrança pelouso da água, espera-se dispor de uma nova fonte de financiamento paraintervenções na área de recursos hídricos.

3.6.3 Aspectos sociais

São vários os problemas na área de recursos hídricos existentes hoje no Brasil.Destacam-se, entre eles:

• escassez de água, natural ou causada pelo uso intensivo do recursohídrico, em distintas regiões do País;

• ocorrência de enchentes periódicas nos grandes centros urbanosbrasileiros;

• inexistência de práticas efetivas de gestão de usos múltiplos e integradosdos recursos hídricos;

• adoção de critérios diferenciados na implementação dos processos degestão no País;

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 85

• distribuição injusta dos custos sociais associados ao uso intensivo daágua,

• participação incipiente da sociedade na gestão, com excessivadependência nas ações de governos;

• prática de tomada de decisões sem recurso sistemático a métodosquantitativos de avaliação.

De um modo geral, tanto no que se refere aos problemas de escassez de água quantoaos problemas das enchentes urbanas, são sistematicamente as classes de menorrenda os setores sociais mais prejudicados.

São os pequenos produtores rurais que mais padecem com os efeitos das secasperiódicas. Nas áreas urbanas, são normalmente as áreas periféricas e de ocupaçãoirregular aquelas que apresentam os piores índices de atendimento no saneamento.Em realidade, tanto na área agrícola quanto na área de saneamento, têm sidoimplementados programas de intervenção dirigidos às populações de baixa renda,programas esses que têm apresentado bons resultados em várias regiões do País.

Há um problema, no entanto, que vem-se agravando no País: o das enchentesurbanas. Também, nesse caso, são as classes de baixa renda as que mais sofrem asconseqüências. Além de disporem de menos recursos para se defenderem dasinundações e de seus efeitos, as populações desfavorecidas costumam habitar emáreas de maior exposição os risco, como encostas e fundos de vales. Infelizmente,políticas públicas inadequadas de uso do solo urbano, de drenagem urbana e degestão de resíduos sólidos têm contribuído para agravar o problema das enchentesurbanas em todo País.

No que se refere às populações indígenas, é importante ressaltar que, no Brasil,dispõe-se não só de uma legislação específica de proteção dos direitos dessaspopulações, como também de instituições públicas encarregadas de acompanhar odesenvolvimento das ações empreendidas. Esses mecanismos, no entanto, não têmimpedido a ocorrência de problemas de recursos hídricos atingindo populaçõesindígenas em algumas regiões brasileiras, como escassez e poluição, ou de impactosambientais de grandes obras de engenharia.

3.7 Análise dos desafíos, conflictos e elementos críticos para odesenvolvimento sustentável dos recursos hídricos a longo prazo

O desenvolvimento dos recursos hídricos e a conservação dos sistemas naturais éum desafio da sociedade brasileira e passa por vários aspectos, relacionados comas condições sociais e econômicas. A seguir foram destacados os principaiselementos.

3.7.1 Aspectos institucionais

Com a legislação da água instituída em 1997, a implementação do Conselho Nacionalde Recursos Hídricos e recentemente a lei enviada para o Congresso da criação daANA Agência Nacional do Recursos Hídricos existe uma evolução institucionalsignificativa nos últimos anos com relação a Recursos Hídricos a nível federal. NosEstados observa-se movimento semelhante com a aprovação das legislaçõesestaduais e o estabelecimento de mecanismos de gerenciamento através da criaçãode instituições estaduais e o início do sistema de Comitê e Agência.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 86

Com a aplicação da nova lei, são reservados importantes papéis tanto para osComitês quanto para as Agências de Bacias. O Comitê decidirá sobre prioridades deinvestimento e fixará os níveis de cobrança. A Agência preparará os Programas deInvestimento, repassará os recursos e fiscalizará a aplicação desses recursos.

Este sistema está iniciando e o desafio envolve principalmente a capacidade decisórioe o financiamento deste processo, já que atualmente as dificuldades encontradas emparte importante dos Comitês existentes se baseiam neste condicionante são a faltade: (a) de capacidade de decisão; (b) recursos para implementar decisões; (c) agênciacom pessoal permanente para implementação das decisões com os recursos.

3.7.2 Água no desenvolvimento urbano

Devido a grande concentração urbana do desenvolvimento brasileiro, vários conflitostem sido gerados neste ambiente que são os seguintes: (a) degradação ambientaldos mananciais; (b) aumento do risco das áreas de abastecimento com a poluiçãoorgânica e química; (c) contaminação dos rios pelos esgotos doméstico, industrial epluvial; (d) enchente urbanas gerada pela inadequada ocupação do espaço e pelogerenciamento inadequado da drenagem urbana; (e) falta de coleta e disposição dolixo urbano.

Este processo ocorre principalmente porque os municípios não possuem capacidadeinstitucional e econômica para administrar o problema, enquanto os Estados e aUnião estão distantes de buscar uma solução gerencial adequada.

Os prejuízos para sociedade desde cenário é muito sério e o ônus para as geraçõesfuturas da falta de investimento na solução dos mesmos poderá deixar um legadosem solução com retorno a indicadores sociais das décadas passadas.

Geralmente a causa principal se encontra nos aspectos institucionais relacionadoscom o gerenciamento dos recursos hídricos e do meio ambiente urbano.

Para o desenvolvimento adequado das cidades é necessário: capacitação dosprofissionais dos municípios para melhor gerenciar estes problemas; criar programasde apoio estaduais e federais para atender as necessidades dos municípios noassessoramento e no incentivo de programas de planejamento preventivos;desenvolver programas voltados para o financiamento de sistemas sanitários e decontrole de enchentes para as cidades.

3.7.3 Energia

O sistema de produção energético brasileiro depende 91% da energia hidrelétrica etem planejado a sua diversificação com termelétricas a gás para os próximos anos.Mas mesmo assim, esta diversificação até 2002 ainda manterá em 83% o parcela dashidrelétricas. Observa-se ainda que poderá existir um atraso na conclusão dastérmicas devido a demanda dos fabricantes de equipamentos, aumentando o risco defalta de energia. O prejuízo de não atendimento da demanda é de US$ 500/MWh e,por exemplo, considerando um deficit de 1.000 MW durante 6 meses, o prejuízorepresentaria US $ 2 bilhões. (Erber, 1999).

Associado ainda ao risco de falha, deve-se considerar que desde 1970 as regiõescentro-Oeste, Sul e Sudeste apresentam vazão médio cerca de 30% maior que do

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período anterior, o que significa que para a mesma capacidade instalada é possívelgerar mais energia, com menor risco de falha. As últimas análises climáticas têmidentificado tendência climática de variação climática de 20 a 30 anos, indicando queas condições climáticas podem retornar ao patamar anterior (Na Africa, depois de 70as precipitações e vazões são muito menores, o que tem provocado efeitossignificativos na sociedade). Esta forte dependência do sistema a climatologia, oaumento da demanda com reduzida ampliação da oferta pode criar condicionantesdesfavoráveis ao densenvolvimento econômico brasileiro.

Nos últimos anos, o governo brasileiro iniciou o programa de privatização do setorhidrelétrico que era praticamente todo estatal. O planejamento previsto envolve aprivatização de todo o setor, tendo ANEEL Agência Nacional de Energia Elétricacomo entidade fiscalizadora do mercado e uma entidade privada que controlará aoperação. Dentro de poucos anos, em 2003 o mercado de oferta e compra deenergia será liberalizado para a negociação entre as partes, produtores edistribuidores.

Dentro deste cenário, o crescimento da oferta de energia através de novas Usinasestará sempre ajustado a demanda. Neste cenário, um sistema energético baseadofortemente no componente hidrelétrico é preocupante, a medida que períodos longosclimáticos de baixa disponibilidade podem ocorrer, ficando a oferta de energiadesajustada com relação a demanda, gerando uma crise de abastecimento do país.Como o ajuste da oferta a demanda no setor energético tem uma inércia muitogrande devido ao tempo necessário para colocar em funcionamento uma Usina,mesmo que térmica, isto pode provocar um estrangulamento futuro aodesenvolvimento do país. Alternativas devem ser previstas dentro de umplanejamento de médio e longo prazo para o país, caso condições adversas venhama ocorrer.

De outro lado, a medida que o sistema se torne privatizado a tendência do mercadoé de investir em termelétricas, devido ao menor tempo de retorno do capital investidoe da menor incerteza quanto aos insumos. No entanto, como o país possui reduzidacapacidade de insumos (gas, carvão, etc) a matriz energética poderá ficar com fortedependência externa e sujeita aos condicionantes dos países vizinhos quanto autilização dos seus recursos.

3.7.4 Navegação interior

A grande concentração do transporte do país em transporte rodoviário, associadoas dificuldades de investimento na manutenção das estradas tem produzido custosexcessivos do produto final transportado.

As dimensões do país e a sua diversidade induz claramente a uma busca de maioruso da navegação interior. Nas regiões onde o transporte rodoviário não competecom a navegação observa-se a sua predominância, como na Amazônia. Nas outrasregiões a competitividade da navegação depende de infra-estrutura portuário,sistema de interligação ferroviária e rodoviária e manutenção sazonal da capacidadede transporte.

Existem iniciativas neste sentido do governo no sentido de buscar desenvolverestudos e implementações de condições de navegação em sistemas como Tietê,Tocantins, afluentes do Amazonas e Paraguai entre outros. No caso do rio Paraguaiexiste um conflito importante com a conservação do Pantanal que tem tido

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 88

repercussões internacionais. Certamente nenhuma via navegável se justifica amedida que comprometa a sustentabilidade ambiental de um meio como o Pantanal.

O aumento do comércio do Mercosul não pode estar sustentado apenas notransporte rodoviário. Desta forma, os sistemas ferroviários e fluviais deverãodesenvolver maior participação. Neste sentido, dificilmente este sistema denavegação fluvial se desenvolverá como iniciativa privada ou estatal isoladamente,mas como um processo planejado de forma mais global e com fontes financiamentodiversas.

3.7.5 Desenvolvimento rural

Existe um conflito natural entre o uso da água para agricultura e o abastecimentohumano em algumas regiões brasileiras, principalmente quando a demanda é muitoalta como, para irrigação de arroz por inundação. Este processo passa pelo aumentoda eficiência dos sistemas de irrigação e o gerenciamento adequado dos efluentesagrícolas quanto a contaminação.

Os aspectos principais do desenvolvimento rural estão relacionados com adisponibilidade hídrica nas regiões secas como o Nordeste onde a viabilidade dodesenvolvimento econômico depende essencialmente da disponibilidade de água.Devido ao custo destes projetos, a tendência que na região o uso agrícola sejavoltado para produtos de maior rentabilidade e para agricultura de subsistência emmenor escala. A fruticultura e o café em algumas regiões têm mostrado rentabilidadeque tornam viáveis o investimento, principalmente pela maior número de safras nummesmo ano.De outro lado, estes empreendimentos exigem uma regularização da água semfalhas durante períodos longos, já que o plantio é permanente.

Nas regiões Sul e Sudeste o uso da irrigação ainda depende de redução do custodos projetos de irrigação para a maioria das culturas, a exceção do arroz deinundação. Grande parte do agricultor prefere assumir os riscos, que ocorremsomente em alguns anos, do que o investimento em irrigação. No entanto, nairrigação do arroz existem conflitos do uso da água na bacia do rio Uruguai eambientais na região do lagoa Mirim.

Com relação aos aspectos ambientais observa-se que as alterações do uso do solopela agricultura nas regiões Sul e Sudeste nas últimas décadas tem produzido umaumento significativo da erosão, no entanto nos últimos anos existe a tendência dealteração do tipo de plantio de conservacionista para plantio direto que reduz aerosão (desde que nas áreas de maior declividade exista proteção) tende aaumentar o escoamento médio e a regularização das bacias, além da melhoria daqualidade água.

3.7.6 Enchentes e secas

Enchentes

As enchentes urbanas tem sido a grande uma das grandes calamidades que apopulação brasileira tem sido sujeita. Infelizmente a tendência é que estes impactosdevem aumentar. O país perde anualmente, em média, valores superiores a 1bilhão dólares com as enchentes urbanas e rurais. Como não existe nenhuma

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 89

política de controle e as que existem são totalmente equivocadas e têm na realidadeaumentado os prejuízos nas cidades.

Como as enchentes não gera recursos, mas impactos não está previsto na estruturainstitucional vigente, apesar de destacado na constituição. O grande desafio nestesentido é o de buscar criar programas nacionais de redução do impacto dasinundações que orientem as cidades dentro da visão de descentralização dosrecursos hídricos.

Outro fator de risco importante atualmente é falta de programas preventivos de riscode calamidades devido as enchentes. As barragens brasileiras não possuem umprograma preventivo de Alerta e Defesa Civil, o que poderá resultar em impactosainda maiores quando estas condições ocorrerem.

Considerando que o sistema Energético, detentor da maioria das barragens estásendo privatizado, a operação das barragens deve ser realizada explorando omáximo do seu benefício, com os níveis mantidos no seu máximo. Neste sentido, énecessário uma legislação que regule o processo preventivo das barragens atravésda entidade reguladora.

Secas

As secas principalmente no Nordeste brasileiro é um evento freqüente, mas quegeralmente não possui um programa preventivo de minimização dos seus impactospara a população, seja na sua própria subsistência, como alternativa econômica.Geralmente existe as frentes de trabalhos, que geralmente são paliativosemergenciais.

Um programa adequado de apoio a minimização do impacto das secas envolve umplanejamento antecipado que envolve: a educação da população para conviver como problemas através de técnicas alternativas; apoio a regulação e aproveitamento domanancial subterrâneo; entre outros.

3.7.7 Desenvolvimento regional e meio ambiente

Nordeste

O desenvolvimento do Nordeste, principalmente no Semi-árido é um grande desafioa sociedade brasileira e, em especial a Nordestina. As principais limitações doscondicionantes regionais são: (i) baixa precipitação concentrada numa parte do ano;(ii) alta temperatura e evaporação durante todo o ano; (iii) e parte importante daregião sub-solo com pouca capacidade de armazenamento de água, e quando existemuitas vezes é salina; (iv) baixa educação da população rural; (v) estrutura fundiáriaconcentradora de renda.

Dentro deste cenário os projetos de desenvolvimento dos recursos hídricos comoirrigação, abastecimento de água, energia, entre outros são estatais, no entanto nãotêm proporcionado melhora substancial devido a magnitude do problema e da área epelo equívoco de ações específicas.

O desenvolvimento da região passa por investimento forte na educação, melhoria daqualidade sanitária da população e de atendimento das necessidade diretas atravésde investimentos produtivos de sustentabilidade econômica. Os resultados regionaisdevem ser medidos pela melhoria econômica social e não pelo produto específico da

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 90

construção de uma barragem ou a perfuração de poços, que atendem muito mais oagente, representado pela empresa consultora e construtora do que a populaçãoregional.

Pantanal, Cerrado e Amazônia e Ambiente Costeiro

Estes três grandes áreas do país, representam meio ambiente específicos ricos dopaís que necessitam ser conservados dentro de uma harmonia com odesenvolvimento do país. O Pantanal, sofre os efeitos diretos do desenvolvimentoeconômico do Planalto do rio Paraguai e exige medidas de conservação do uso dosolo, controle da mineração e o gerenciamento adequado dos impactos potenciaisda ampliação da navegação do rio Paraguai.

O Cerrado representa a área com o maior potencial agrícolas do país, desta forma,também deve ser desenvolvido com o cuidado adequado para evitar impactosdesastrosos. As condições climáticas sazonais da região e as águas superficiais esubterrâneas deste sistema geralmente se encontram a montante dos principais riosbrasileiros. Desta forma, as ações que ali se desenvolverem poderão potencialmenteimpactar quase todo o país.

A Amazônia, representa a grande reserva florestal do país, e apesar do constantedesmatamento pelo fogo que ocorre quase todo o ano, a floresta tem umacapacidade de regeneração muito grande. No entanto, o desenvolvimentoprincipalmente dos limites que se encontram mais ao Sul da região, próximos doCerrado, são as áreas de maior potencial impacto devido ao acesso que parte dapopulação tem na região. Torna-se fundamental a ampliação dos programas defiscalização e controle do ambiente sobre as áreas de maior pressão.

Grande parte da população brasileira ocupa as bacias costeiras ou está a cerca de100 km do oceano. (2/3 da população mundial está a cerca de 100 milhas dooceano). Grande parte das metrópoles brasileiras e sistemas industrias estão junto acosta criando impactos significativos neste sistema, como o recente e freqüentesderramamento de óleo.

As bacias hidrográficas que escoam para o sistema costeiro apresentam grandevariação no Sul e Sudeste, muitas das bacias são pequenas, mas com grandedeclividade e precipitação gerando freqüentes inundações que associados aocontrole do mar produzem impactos significativos e de outro lado não possuemcapacidade de regularização e baixa disponibilidade hídrica para atender grandesconcentrações urbanas como se observa atualmente em Recife.

3.7.8 Formação de recursos humanos e pesquisa

Formação de recursos humanos

O desenvolvimento e preservação dos recursos hídricos dependem de profissionaisqualificados tanto para a execução como para a tomada de decisões voltadas para arealidade dos países. Na maioria dos países não existe formação a nível de graduaçãopara profissionais de Recursos Hídricos (na Argentina existe um curso de engenhariade recursos hídricos). A maioria dos profissionais que estão atualmente trabalhandoadquiriram seu conhecimento no próprio trabalho e apenas um grupo menor obtiveramos conhecimentos através do Mestrado e Doutorado.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 91

Contudo, muitos de engenheiros, geólogos, biólogos, geógrafos entre outros que nãopossuem treinamento em pós-graduação não dispõem de tempo para entrar numprograma formal de pós-graduação que exige de 1 a 2 anos (ou mais) para o Mestradoe 3-4 anos para um doutorado. È necessário um programa com apenas poucos mesesde duração que introduza os profissionais de diferentes áreas em recursos hídricosdentro dos aspectos interdisciplinares. A região necessita de profissionais comconhecimentos intermediários para a atuação prática do gerenciamento dos recursoshídricos e não pode investir apenas em profissionais com mestrado e doutorado.

Além disso, como foi observado anteriormente os problemas e conflitos nas áreaurbano no contexto de recursos hídricos são os mais variados e o profissionalmunicipal não tem conhecimento adequado para o gerenciamento de tantos tópicos.Neste sentido, torna-se necessário também a formação destes profissionais queestão no front dos problemas para gerenciar estes assuntos de forma mais ampla,sem necessidade de um conhecimento detalhados de todos os aspectos.

Desenvolvimento científico e tecnológico

O sistema de pesquisa voltado para recursos hídricos está setorizado, comengenheiros, biológicos, geógrafos, agrônomos e geológicos, entre outros falando asua linguagem dentro de ambientes compartimentizados.

Recursos Hídricos é uma área de desenvolvimento científico e tecnologia comcaracterísticas fortemente interdisciplinares que necessita abordar os problemasregionais dentro de uma global e cooperativa entre os diferentes conhecimentos. Odesenvolvimento tecnológico e científico tem sido incentivado por programas especiaisdo CNPq, PADCT/CIAMB e FINEP através do PROSAB e REHIDRO. Existem gruposqualificados no país, mas a sua maioria com visão setorizada dos recursos hídricos.Devido as características continentais do país e a grande variabilidade dos ambientesé necessário um maior enfoque na especialização de conhecimento em regiões hídricado país como a Amazônia, Cerrado, Pantanal e Nordeste (entre outros) onde ascaracterísticas e os problemas são diversos exigindo pesquisas de médio longo prazoque apoiem o desenvolvimento e a conservação destas regiões.

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Relatório N

acional sobre o gerenciamento da água no B

rasil

Tabela 3.19a Resumo das características de alguns dos sistemas e suas tendênciasSetor Principais problemas Tendências Necessidades

Institucional • implementação da legislação dosrecursos hídricos;

• cobrança pelo uso da água• descentralização dos recursos

hídricos

• desenvolvimentoinstitucional das baciascom conflito;

• implementação da AgênciaNacional de RecursosHídricos;

• resistência a cobrança pelouso da água.

• Fortalecimento institucional anível federal e estadual;

• Descentralização com maiorparticipação dos municípios eda população e da iniciativaprivada;

• Regulamentação institucionalso sistema.

DesenvolvimentoUrbano

• Contaminação dos mananciais;• Falta de tratamento dos efluentes;• Limitações institucionais• Ocupação do espaço de risco de

inundação• Projeto de planejamento da

drenagem urbana que agrava asenchentes

• Falta de coleta e limitações dadisposição de resíduos sólidos

• Grandes prejuízos nasgrandes cidades, com faltade manancial deabastecimento com o seucrescimento;

• Perda de recursos emconstrução de canais dedrenagem que somenteagravam as enchentes;

• Agravamento dascondições das cidadesmédias que são pólos dedesenvolvimento;

• Degradação ambiental dascidades com aumento dedoenças de veículaçãohídrica

• Programa de treinamento deprofissionais municipais;

• Programa estaduais efederais que tratem ogerenciamento conjunto dosrecursos hídricos e meioambiente das cidades,visando a orientação dosmunicípios

• Incentivar o desenvolvimentode Planos diretores deSaneamento e Drenagemurbana

• Fundos de financiamento paraapoiar os Planos das cidades

Navegação • Falta de competitividade com osoutros meios de transporte;

• Limitado gerenciamento operacionalem algumas vias

• Baixo investimento para o porte deum sistema desta natureza

• Limitado aos investimentospúblicos, que sãopequenos;

• Dificuldade em superar acompetitividade com osoutros meios de transporte

• Programa de apoiooperacional hídrico nas vias:previsão de níveis e calado;

• Programas públicos eprivados conjuntos paraviabilização do transporte degrandes cargas.

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Relatório N

acional sobre o gerenciamento da água no B

rasil

Tabela 3. 19b Resumo das características dos sistemas e suas tendênciasSetor Principais problemas Tendências NecessidadesEnergia • Forte concentração da produção energia em

hidrelétrica;• Risco da oferta não atender a demanda de

energia devido a variação climática;• Dificuldades da ampliação da oferta e

diversificação da produção;• Com a privatização, o sistema baseado em

hidrelétrica, não terá a folga para atender ademanda em períodos secos.

• Aumento da produçãotérmica a base de gás;

• Dificuldades naimplementação dealgumas Usinas a curtoprazo devido aosfabricantes;

• Grande concentração acurto prazo em hidrelétricae sujeito a riscosclimáticos

• Revisar a avaliação de riscoquanto a variabilidade climáticade longo prazo;

• Acelerar o processo dediversificação da produção deenergia;

• Ampliar a interligação dossistemas de produção;

• Planejar um sistema alternativopara uma tendência climáticadesfavorável de curto prazo.

Desenvolvimento rural • Conflito com o abastecimento de água;• Degradação do solo e assoriamento dos rios• Baixa eficiência hídrica• Degradação química dos efluentes• Resistência ao pagamento pelo uso da água, o

que dificulta a racionalização do seu uso

• Expansão agrícola deáreas com oferta hídrica eespaço adequado;

• Conflito em regiõesespecíficas onde a ofertaé crítica nos anos deestiagem

• Melhoria na conservaçãodo solo em algumasregiões;

• Mecanização daagricultura com reduçãode mão de obra

• Ampliar a orientação rural,principalmente nas áreasdeficientes;

• Desenvolver programas deeficiência agrícola e ambientalatravés de financiamento daprodução;

• Cobrança pelo uso da águacomo mecanismo de melhoriada eficiência;

• Incentivar o Comitê e a agênciade bacia para as áreas críticas

Enchentes e Secas • Ocupação do espaço de risco de enchentes;• Ampliação das enchentes devido a urbanização

e controle equivocado;• Falta de regulamentação sobre a prevenção

devido ao rompimento de barragens;• Secas freqüente no Nordeste;• Falta de mecanismo institucional para

gerenciamento destes problemas.

• Grandes prejuízos tantonas enchentes como nassecas;

• Investimentosinadequados nas cidades;

• Medidas paliativas semresultado de longo prazo

• Programa de prevenção:programa estadual e federal deapoio as cidades tanto paraenchentes como para secas;

• Regulamentação sobrerompimento de barragens

• Programa de financiamento dosprogramas preventivos eincentivos para as cidades

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4. ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO

4.1 Estrutura organizacional

Pela Constituição da República Federativa do Brasil (Brasil – Constituição, 1988), odesenvolvimento de programas de construção de moradias e a melhoria dascondições habitacionais e de saneamento básico é competência comum da União, dosEstados, do Distrito Federal e dos Municípios (Art. 23, inciso IX), sendo que asdiretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico etransportes urbanos, é de competência apenas da União (Art. 21, inciso XX).

Ainda com base na Constituição, deve-se destacar o Art. 200, inciso IV, onde éestabelecido que compete ao Sistema Único de Saúde, participar da formulação dapolítica e da execução das ações de saneamento básico.Como o saneamento básico não pode ser desvinculado dos problemas de recursoshídricos e meio ambiente, a formulação de políticas e planejamento associados aosaneamento básico, também devem considerar as políticas e os programasrelacionados ao gerenciamento dos recursos hídricos e proteção do meio ambiente(MPO-SEPURB, 1995).

4.1.1 Formulação de políticas e planejamento

De acordo com a Constituição Federal, a formulação de qualquer política ouplanejamento para o setor de saneamento deve ter uma participação da União, dosEstados, dos Municípios e do Sistema Único de Saúde.

Embora a definição das responsabilidades para o estabelecimento de diretrizes para osetor de saneamento seja bastante clara, o que se verifica atualmente no Brasil, é ainexistência de uma política específica para a regulamentação do setor, o que temgerado ações desordenadas e descoordenadas (MPO-SEPURB-DESAN, 1999 eMPO-SEPURB, 1995), principalmente a partir da desarticulação do Plano Nacional deSaneamento (PLANASA), que foi extinto pela Resolução no 076/92 (HESPANHOL,1999).

Com base em uma restruturação da matriz institucional do Governo Federal, em 1995foi criada no âmbito do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), a Secretariade Política Urbana (SEPURB), com a função de articular as políticas setoriais dehabitação, saneamento e desenvolvimento urbano.Após a constatação da necessidade de desenvolvimento das políticas públicas e dosserviços de saneamento no país, o governo brasileiro, através da então Secretaria deSaneamento do Ministério do Bem Estar Social (SNS/MBES), concebeu o Projeto deModernização do Setor de Saneamento (PMSS), o qual passou a ser deresponsabilidade da SEPURB.

Este projeto apresenta duas linhas de ação complementares e independentes, sendouma Institucional e a outra associada ao Componente de Investimentos eModernização em três Companhias Estaduais de Saneamento Básico (CESBs), com oobjetivo de se obter um modelo que pudesse ser aplicado em todo o país (MPO-SEPURB, 1995).

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A componente institucional, cujo principal objetivo é o desenvolvimento de estudosrelacionados à reestruturação do setor de saneamento têm os seguintes objetivos(MPO-SEPURB, 1995):

§ Formulação de propostas para o estabelecimento de um novo modelo para aregulamentação do setor de águas e esgotos no Brasil;

§ Avaliação e reformulação da programação de investimentos e modelo definanciamento do setor, nos níveis federal, estadual e municipal;

§ Melhoria da capacidade institucional das entidades setoriais, nas entidadesfederais, estaduais e municipais, para cumprirem suas responsabilidades;

§ Melhoria da administração do setor, quanto às técnicas de planejamento,comercialização e operação, incluindo redução de custos; e

§ Preparação de projetos de gerenciamento de demanda de água e reabilitação desistemas.

Além desse programa, o Departamento de Saneamento da SEPURB, ficou com aresponsabilidade de elaborar e propor a Política Nacional de Saneamento, quedeverá ser balizada por três princípios básicos (MPO-SEPURB, 1999):

§ Universalização do atendimento, de forma a viabilizar a oferta essencial deserviços, indispensáveis à vida e à salubridade ambiental;

§ Participação dos diversos agentes envolvidos na formulação da política e nagestão dos serviços; e

§ A descentralização.

Deve ser observado que o desenvolvimento da Política Nacional de Saneamento deveestar em sintonia com a Política Nacional de Saúde, Política Nacional de RecursosHídricos e a Política Nacional de Meio Ambiente.

4.1.2 Legislação e controle

Legislação

Pelo exposto anteriormente, verifica-se que o Brasil ainda não desenvolveu ummodelo específico de legislação para o setor de saneamento, devendo-se enfatizarque os modelos de gestão para outros setores, acabam afetando este setor.

Assim sendo, a seguir serão apresentadas as principais normas, a nível federal, quetem relação com o setor de saneamento Básico.§ Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do

Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e a aplicação;§ Lei no 9.433, de 08 de janeiro de 1997, que instituí a Política Nacional de Recursos

Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e dáoutras providências.

§ Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais eadministrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dáoutras providências.

§ Resolução CONAMA no 20, de 18 de junho de 1986, que classifica as águasdoces, salobras e salinas do Território Nacional, em nove classes segundo seususos preponderantes.

§ Portaria no 36/MS, de 19 de janeiro de 1990, que aprova as normas e padrão depotabilidade de água destinada ao consumo humano.

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Com exceção da portaria no 36/MS, que é específica para o setor de saneamento, umavez que ela especifica os padrões de potabilidade da água, as demais normasreferem-se à proteção e preservação dos recursos naturais, água, ar e solo, contra osefeitos da poluição, efeitos estes, que podem ser desencadeados por condiçõesinadequadas de saneamento básico, principalmente relacionadas à coleta etratamento dos esgotos sanitários e coleta e disposição do lixo.

Além das normas federais, muitos estados brasileiros também dispõem deinstrumentos normativos semelhantes, o que por sua vez vem a contribuir para amelhoria das condições ambientais do país.

Órgãos reguladores

Da mesma forma que inexiste uma legislação Federal, específica para o setor desaneamento, também inexistem no Brasil, órgãos reguladores especificamentevoltados para o setor de saneamento básico.

As concessões ao direito de uso e derivações de água eram, até recentemente,efetuadas pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), ligadoao Ministério das Minas e Energia (MPO-SEPURB, 1995). O DNAEE se constituíacomo um conjunto de órgãos colegiados, sendo um de nível superior, com funçõesnormativas e de planejamento, além de vários comitês executivos.

A principal fonte de financiamento do DNAEE era oriunda da arrecadação mensal dastarifas cobradas pelo uso e derivação dos cursos d’água, principalmente para ageração de energia elétrica, cabendo ao DNAEE 8% do total arrecadado, que deveriaser aplicado da seguinte forma (MPO-SEPURB, 1995):

§ 40 % na operação e expansão da rede hidrometeorológica nacional, no estudo dosrecursos hídricos e na fiscalização dos serviços de eletricidade do país;

§ 35 % na instituição, gerenciamento e suporte do Sistema Nacional deGerenciamento de Recursos Hídricos; e

§ 25 % em políticas de proteção ambiental.

A Lei no 9.427 de 26 de dezembro de 1996 instituiu a Agencia Nacional de EnergiaElétrica (ANEEL), uma autarquia sob regime especial vinculada ao Ministério de Minase Energia, com o objetivo de disciplinar o regime de concessões de serviços públicos ede energia elétrica. Como conseqüência imediata, a atribuição para a emissão deconcessões ao direito de uso e derivação de água ficou dividida. A ANEEL assimilouas funções do DNAEE no que tange as concessões para geração de energiahidroelétrica, passando, entre outras, as relativas ao abastecimento de água, àSecretaria de Recursos Hídricos (SRH), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente(MMA).

Devido a aprovação da Política Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,surgem novos órgãos reguladores para o setor de recursos hídricos, destacando-se oConselho Nacional de Recursos Hídricos, os Conselhos de Recursos Hídricos dosEstados e do Distrito Federal e os Comitês de Bacia Hidrográfica (Lei no 9.433, 1997).

O financiamento desses novos órgãos de controle será feito através da aplicação deuma fração do montante arrecadado pela cobrança do uso dos recursos hídricos, queestá sendo instituída pela Lei no 9.433, conceito de usuário pagador.

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Além dos controles exercidos pela ANEEL, Secretaria de Recursos Hídricos e pelosórgãos criados pela Lei no 9.433, deve-se considerar ainda, os órgãos de controleambiental, federais e estaduais, que são responsáveis pelo controle da poluição, tendoesses órgãos, como forma de financiamento, dotações orçamentárias dos governosfederal e estaduais, além das arrecadações de multas.

Aos 25 de agosto de 1999 foi submetido ao Excelentíssimo Senhor Presidente daRepública, o Projeto de Lei que cria a Agencia Nacional de Águas (ANA), com afunção específica de promover o desenvolvimento do Sistema Nacional deGerenciamento de Recursos Hídricos, previsto no inciso XIX do art. 21 da Constituiçãoe criado pela Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997. A ANA será uma autarquia sobregime especial, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com autonomiaadministrativa e financeira. Além de coordenar e apoiar o Sistema Nacional deGerenciamento de Recursos Hídricos, a ANA será, também, o órgão gestor dosrecursos hídricos de domínio da União. atuando de forma subsidiária e articulada comoutros órgãos e entidades, públicos e privados, integrantes do Sistema, dentre osquais se destacam:a) Conselho Nacional de Recursos Hídricos, criado pela Lei no 9.433/97 e

regulamentado pelo Decreto no 2.612, de 3 de junho de 1998, composto derepresentantes de usuários, dos governos Federal e estaduais e de organizaçõesnão governamentais ;

b) los órgãos estaduais gestores de recursos hídricos, que exercem o controle daoutorga de direito de uso de recursos hídricos de domínio estadual;

c) os comitês de bacia hidrográfica, criados pela Lei no 9.433/97. que funcionarãocomo se fossem o parlamento da respectiva bacia ao debater temas relacionadoscom o uso de recursos hídricos, procurando conciliar interesses de segmentosdistintos;

d) as agências de bacia, criadas pela Lei no 9.433/97, que serão entidades de direitoprivado, sem fins lucrativos, instituídas pelos Comitês de Bacia Hidrográfica paraatuar como suas secretarias executivas.

A lei de criação da ANA passa, presentemente, por prolongadas discussões deordem política, no Congresso Nacional, antevendo-se que sua aprovação ocorra noinício do ano 2000.

Não se pode, entretanto, considerar que a ANA venha a exercer uma açãosignificativa no que concerne aos serviços públicos e privados de água esaneamento, uma vez que suas funções específicas são as de combater as secasprolongadas, principalmente na região nordeste, e de controlar a poluição de rioscujas bacias hidrográficas abrangem mais do que um estado da federação.

Participação dos usuários na regulamentação do setor

No Brasil os usuários dos sistemas de abastecimento de água, coleta e tratamento deesgotos e coleta de lixo, até recentemente, eram agentes passivos com relação aodesenvolvimento das normas associadas à estes setores, situação resultante de duassituações distintas, ou seja, modelo centralizado de gestão do setor de saneamentobásico, bem como da própria postura adotada pelos usuários desses serviços,atribuindo aos governos federal, estaduais e municipais, toda a responsabilidade sobreas questões relacionadas ao saneamento básico, entre outras.Atualmente, o que se tem observado é uma maior conscientização por parte dapopulação em geral, principalmente com relação ao meio ambiente, que é diretamenteafetado pela gestão e controle inadequados dos serviços de saneamento básico.Destaca-se, ainda a atuação de alguns movimentos sociais, do movimento sindical

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dos trabalhadores em saneamento, que tem conseguido articular fóruns estaduais eregionais de discussão, na tentativa de influir na política de reestruturação do setor.No entanto, essa participação ainda ocorre de uma forma indireta, estando restrita àsassociações técnicas e entidades civis, cujas atividades estejam direta ouindiretamente relacionadas ao setor de saneamento, podendo-se nesse caso destacara atuação da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento(ASSEMAE), a Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais(AESBE), a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), aAssociação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), além de algumas organizaçõesnão Governamentais, como por exemplo a SOS Mata Atlântica, entre outras.

4.1.3 Gestão dos serviços

Modalidade de gestão

O modelo de gestão dos serviços de saneamento básico no Brasil continua sendo omodelo desenvolvido pelo PLANASA, que gerou significativas disfunções,principalmente pela inexistência de uma instância regulatória, que exercesse ocontrole e monitoramento da ação das Companhias Estaduais de SaneamentoBásico (CESBs), ao longo do tempo, corroborando para essa situação, além daexcessiva rigidez e a centralização dos serviços e ações referentes ao saneamento.Dentre as disfunções geradas por esse modelo de gestão, destacam-se as seguintes(MPO-SEPURB-DESAN, 1999):

§ Exercício de regulador e regulado assumido pelas CESBs, pois estas sãoresponsáveis pelo planejamento, coordenação e definição dos padrões dosserviços, além de terem a responsabilidade pela operação dos serviços, isto sendoválido para quase a totalidade das companhias estaduais e para a maioria dasempresas municipais;

§ duplo caráter das companhias em relação a sua inserção como empresa (atividadeeconômica), ou como serviço público, sendo esse duplo caráter utilizado parajustificar a ineficácia no atendimento social, pela condição de empresa e, vice-versa, a ineficiência econômica pela condição de serviço essencial;

§ A falta de clareza nos critérios de aplicação dos subsídios e a ausência departicipação dos municípios nas grandes linhas de prioridades no âmbito dejurisdição das CESBs;

§ Ausência de normas para regular o relacionamento das CESBs e os órgãosmunicipais autônomos, com relação à oferta de água e a prestação de serviços detratamento de esgotos em sistemas interligados;

§ Ausência de controle social sobre as prioridades e ações das CESBs, devido aausência de instrumentos de controle por parte dos municípios e das comunidadesde usuários;

§ Pouca flexibilidade para busca de fontes alternativas de empréstimos vinculadosao endividamento do Estado;

§ Vinculação a padrões tecnológicos que tendem a não aproveitar aspotencialidades locais; e

§ Ausência de instrumentos de integração com os componentes afins como o setorde saneamento, como as políticas de saúde, recursos hídricos e meio ambiente.

§ No entanto, essa centralização exercida pelas CESBs tem sido questionadapelos municípios e por grupos organizados da sociedade, havendo grandeexpectativa de alguns municípios, de que sejam estabelecidas novas bases quelhe assegurem o direito de exercer o poder concedente e controlador dos

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serviços locais, em função do término da vigência de muitos contratos deconcessão das CESBs.

Aliado a este fato, deve-se destacar os esforços que estão sendo desenvolvidos peloProjeto de Modernização do Setor de Saneamento (PMSS), no sentido dedescentralizar a gestão e a articulação das ações dos diversos agentes envolvidosnas questões relacionadas ao saneamento básico, de modo a favorecer amobilização de esforços políticos e recursos financeiros para a universalização doacesso aos serviços, além de propiciar a criação de um ambiente de eficiência eeficácia no setor e institucionalizar os instrumentos de regulamentação e controledesses serviços (MPO-SEPURB-DESAN, 1999).

Organismos e empresas operadoras

Os serviços de saneamento no Brasil, são prestados, principalmente, pelascompanhias estaduais e empresas municipais, sendo a atuação das empresasmunicipais restrita ao respectivo município, enquanto as companhias estaduaisatendem vários municípios dentro do estado.Um levantamento efetuado em 1997, pela Secretaria de Política Urbana – SEPURB,pertencente ao Ministério do Planejamento e Orçamento – MPO, resultou noDiagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos –1997, onde foram contempladas 26companhias estaduais e 74 empresas municipais, incluindo-se dois operadoresprivados, sendo estas responsáveis por 84 % do abastecimento de água e por 37 %dos serviços de esgotos da população urbana brasileira (MPO-SEPURB-IPEA,1998). Na tabela 4.1é apresentada a participação no atendimento dos serviços desaneamento das companhias estaduais e empresas municipais.

Tabela 4.1 Participação no Atendimento dos Serviços de Saneamentodas Companhias Estaduais e Empresas Municipais de Saneamento

(MPO-SEPURB-IPEA, 1998)População Atendida

(Milhões de Habitantes)Municípios Atendidos (Número)Prestador dos Serviços

Água Esgoto Água EsgotoCompanhias Estaduais 90,3 34,2 3.824 1.152Empresas Municipais 14,2 11,7 (1) 74 63Total do Conjunto 104,5 45,9 3.898 1.215(1) Nove Municípios não responderam

Deve-se ressaltar que as empresas municipais consideradas no levantamento daSEPURB não pode ser considerada uma amostra representativa da totalidade dosmunicípios brasileiros, pois existem mais de 1.000 serviços municipais que não foramcontemplados (MPO-SEPURB-IPEA, 1998).Na tabela 4.2 encontram-se os dados referentes às companhias estaduais prestadorasde serviço de saneamento e a respectiva população atendida.

Tabela 4.2 Companhias Estaduais de Serviços de Saneamento ePopulação Atendida (MPO-SEPURB-IPEA, 1998)

População AtendidaRegião / CompanhiaÁgua Esgoto

Norte 4.843.395 209.447CAER – Companhia de Água e Esgoto de Roraima 190.077 23.938CAERD – Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia 380.625 10.375CAESA – Companhia de Água e Esgoto do Amapá 226.867 26.304COSAMA – Companhia de Saneamento do Amazonas 1.514.840 51.075

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COSANPA – Companhia de Saneamento do Pará 1.994.054 92.755SANEATINS – Companhia de Saneamento do Tocantins 536.932 5.000Nordeste 24.042.887 4.380.507AGESPISA – Águas e Esgotos do Piauí 1.448.530 37.260CAEMA – Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão 1.724.374 406.563CAERN – Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte 1.624.875 227.037CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará 2.973.100 734.504CAGEPA – Companhia de Água e Esgoto da Paraíba 2.202.436 503.571CASAL – Companhia de Abastecimento de Água e Saneamento do Estado de Alagoas 1.093.182 177.514COMPESA – Companhia Pernambucana de Saneamento 5.121.761 1.062.205DESO – Companhia de Saneamento de Sergipe 1.252.144 162.556EMBASA – Empresa Baiana de Águas e Saneamento 6.602.485 1.069.297Sudeste 38.284.151 23.560.248CEDAE – Companhia Estadual de Águas e Esgotos 9.650.862 5.433.108CESAN – Companhia Espirito Santense de Saneamento 1.695.240 272.771COPASA – Companhia de Saneamento de Minas Gerais 8.749.885 3.781.332SABESP – Companhia de Saneamento Básico de São Paulo 18.188.164 14.073.037Sul 15.100.161 2.892.322CASAN – Companhia Catarinense de Águas e Saneamento 2.767.621 255.708CORSAN – Companhia Rio Grandense de Saneamento 5.262.494 461.463SANEPAR – Companhia de Saneamento do Paraná 7.070.046 2.175.151Centro-Oeste 8.051.554 3.212.447CAESB – Companhia de Água e Esgoto de Brasília 1.683.059 1.474.845SANEAGO – Saneamento de Goiás 3.072.428 1.297.115SANEMAT – Companhia de Saneamento do Mato Grosso 1.730.173 250.683SANESUL – Companhia de Saneamento do Mato Grosso do Sul 1.565.894 189.804Total das 26 Companhias 90.322.148 34.254.971

Participação do setor privado

A participação do setor privado, no setor de saneamento, ainda não é efetiva,principalmente em função da política centralizadora desenvolvida durante um longoperíodo de tempo. Contudo, essa situação tende a ser modificada, principalmentedevido a política brasileira de privatização, passando-se para a iniciativa privada, aresponsabilidade pela gestão de vários serviços que até então, eram deresponsabilidade do Estado.

A privatização é uma alternativa para melhorar a eficiência do setor de saneamento,onde são delegadas algumas ou todas as funções associadas aos serviços de água eesgoto, as empresas particulares, companhias de utilidade pública, financeiramenteautônomas, ou a associações de usuários de água (HESPANHOL, 1999).

Da mesma forma que já vem ocorrendo em outros países da América Latina, Ásia,África e Europa, o Brasil pode adotar a utilização de contratos de privatização dediferentes modalidades, como os apresentados abaixo (HESPANHOL, 1999):

a) Contratos nos quais os ativos permanecem com o poder públicoNesta modalidade de contrato, a empresa contratada é responsável apenas pelagestão de suas equipes e dos serviços, objeto do contrato, ficando os investimentos,inclusive em obras, bem como os riscos comerciais, como responsabilidade daautoridade pública, além de todos os ativos permanecerem como propriedade pública.Os principais tipos de contrato dessa modalidade são apresentados no tabela 4.3.

b) Contratos nos quais parte ou a totalidade dos ativos pode ser transferidos ao setorprivado.

Tabela 4.3 Tipos de Contrato de Privatização, sem a TransferênciaTabela 4.3 Tipos de Contrato de Privatização, sem a Transferênciados Ativos (HESPANHOL, 1999)dos Ativos (HESPANHOL, 1999)

Tipo de Contrato Responsabilidade da Empresa ContratadaContrato de Serviços Realização de serviços periféricos e outros serviços objeto do contrato.

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Contrato de Operação Total responsabilidade pela operação e manutenção de um determinadosistema.

Contrato de Leasing ouarrendamento

A entidade privada aluga as instalações do setor público por umdeterminado período de tempo, sendo responsável pela sua operação emanutenção.

Contratos de Concessão A entidade privada assume a total responsabilidade pelos serviços,incluindo as atividades de gestão, de operação e manutenção, assimcomo pelos investimentos de capital para expansão do serviços.

Nesta modalidade existem basicamente quatro opções de contrato, conformeapresentadas na tabela 4.4.

No Brasil o que se começa a verificar é o desenvolvimento dos contratos deprivatização do tipo Concessão de Margem, sendo que a privatização é regida pela LeiFederal das Concessões no 8.987, de 13/02/1995 e Lei no 9.074, de 07/07/1995(HESPANHOL, 1999).

Um fato que merece destaque, foi o anúncio do Plano de Privatizações do Estado deSão Paulo, que estabeleceu um plano de subconcessões de margem quetotalizavam mais de US$ 500 milhões. Outros estados brasileiros estão, atualmente,desenvolvendo estágios de contratos de concessão de margem, sendo que amaioria deles ainda encontra-se na fase de discussão política ou de preparação dostermos de referência.

4.2 Análise operacional

Uma análise operacional dos serviços de saneamento básico, a nível nacional, não éuma tarefa muito simples de se desenvolver, principalmente no caso do Brasil, queapresenta extensão continental. Mesmo o diagnóstico apresentado pelos órgãos depesquisa estatística, ou pelos órgãos relacionados ao desenvolvimento de atividadesrelacionadas ao setor de saneamento, não possibilitam a obtenção de um quadroexato da situação brasileira.

Por outro lado, as informações fornecidas por esses órgão são suficientes para aobtenção de um panorama bastante realista dos sistemas de abastecimento de águae tratamento de esgotos, ressaltando-se que os mesmos devem ser analisados comcritério, de forma a não conduzirem a uma avaliação errônea do setor desaneamento brasileiro.

Tabela 4.4 Tipos de Contratos com Transferência de AtivosTabela 4.4 Tipos de Contratos com Transferência de Ativos(HESPANHOL, 1999)Tipo de Contrato ObservaçõesConcessão de Margem As empresas ou consórcio de empresas privadas, constróem e operam

um sistema de água e esgoto por um determinado período de tempo,após o qual a posse das instalações é transferido para o setor público.

Concessão Inversa Nessa modalidade, o poder público financia e constrói o sistema eestabelece um contrato com a entidade privada para a sua operaçãodurante um período de tempo muito longo, tendo a empresa privada,possibilidade de adquirir o sistema caso haja interesse.

Empresas de Economia Mista Quando ocorrem resistências políticas ou culturais à transferência totaldo controle de sistemas de água e esgotos para o setor privado,constitui-se um arranjo de consenso, onde ambas as partes, setorpúblico e privado, poderão possuir igualdade acionária, transferindo-sepaulatinamente a participação majoritária para o setor privado.

Privatização Total Corresponde a venda completa de todos os ativos, ficando oproprietário privado com a responsabilidade de financiar e administrar

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todos os serviços de água e esgoto.

4.2.1 Cobertura de abastecimento de agua potável e saneamento

Uma das últimas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),mostra que a cobertura dos serviços de água potável e saneamento é muito maisefetiva nas regiões urbanas do país. Ressalta-se também que mesmo nas regiõesurbanas, o nível de atendimento é variável, em função das condições econômicas decada macroregião (IBGE, 1997 e MPO- SEPURB-IPEA, 1998).

Âmbito rural e urbano concentrado

Um panorama global da situação brasileira, com relação ao abastecimento de águae saneamento é apresentado na tabela 4.5

Pela análise desse quadro, o que se constata é que as regiões urbanas apresentamum maior índice de cobertura, tanto com relação ao abastecimento de água, comopara o esgotamento sanitário. Esta situação é facilmente justificada, em função dosserviços de saneamento básico serem supridos com mais eficiência em áreas comelevada densidade populacional, do que nas áreas rurais, que necessitam de soluçõeslocalizadas, onde devem ser levadas em consideração as características regionais.

Mesmo com o processo de privatização do setor de saneamento, essa situaçãodificilmente será mudada, pois as empresas privadas não se sentirão atraídas pelasáreas rurais, principalmente pela falta de perspectiva com relação ao retorno doinvestimento a ser efetuado. Desta forma, verifica-se que o Estado deverá assumir aresponsabilidade pelo setor de saneamento nas áreas rurais, de forma a elevar oíndice de cobertura dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

Tabela 4.5 Situação Brasileira com Relação ao Abastecimento deTabela 4.5 Situação Brasileira com Relação ao Abastecimento deÁgua e Esgotamento Sanitário (IBGE, 1997)Água e Esgotamento Sanitário (IBGE, 1997)

População Atendida (%)*Tipo de ServiçoBrasil Urbana Rural

Abastecimento de Água:Rede GeralOutro

75,9324,07

90,569,44

19,9180,09

Esgotamento Sanitário:Rede ColetoraFossa SépticaOutroNão Tinham

37,8323,0327,7011,43

46,7925,4523,594,17

3,5013,7543,4839,26

* Dados referentes ao ano de 1996

Uma visão mais detalhada da situação brasileira, com relação aos serviços desaneamento básico, pode ser obtida pela análise dos dados apresentados no Tabela4.6, onde são apresentadas as informações referentes à cobertura dos serviçospelas companhias estaduais e empresas municipais de saneamento, levantados pelodiagnóstico dos serviços de água e esgotos.

Tabela 4.6 Dados Regionais de Saneamento Básico para as DiversasRegiões do Brasil (MPO-SEPURB-IPEA, 1998 e IBGE, 1998)

RegiãoPopulação Atendida

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Água Esgotomilhões (1) % (2) milhões (1) % (2)

Norte 5,0 44,25 0,3 2,65Nordeste 24,7 55,13 4,6 10,27Sudeste 49,4 73,73 33,6 50,15Sul 17,3 73,62 4,2 17,87Centro-Oeste 8,1 77,14 3,2 30,48Brasil 104,5 66,52 45,9 29,22(1) Nos municípios atendidos por CESBs e SMAEs do diagnóstico(2) Da população total da região (urbana e rural)

Pela análise dos dados apresentados, pode-se, nitidamente, verificar as distorçõesexistentes entre as diversas regiões do Brasil, onde os menores índices referentes àcobertura pelos serviços de saneamento são nas regiões menos desenvolvidaseconomicamente.Em termos de qualidade da água servida a população, principalmente pelas CESBs eSMAEs, pode-se considerar que a mesma é satisfatória, pois essas empresas devemseguir o padrão de potabilidade estabelecido pela portaria no 36 do Ministério daSaúde, o que não pode ser afirmado para o caso de abastecimento de água por outrasfontes, que podem estar contaminadas por organismos patogênicos e parasitas.É importante ressaltar que uma avaliação da continuidade dos serviços desaneamento, bem como do índice de satisfação dos consumidores, é uma tarefa muitodifícil de ser realizada, pois o nível de satisfação depende, dentre outros fatores, dacontinuidade dos serviços, que por sua vez é influenciada por uma série de fatores,como regime de chuvas e características operacionais dos sistema. Por outro lado, nocaso do Brasil, que está ensaiando uma metodologia para o diagnóstico do setor desaneamento, estas informações ainda não são prioritárias.

4.2.2 Qualidade e condição do serviço

Os dados apresentados no Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos de 1997,revelam que as 26 CESBs operam e administram sistemas com um total de 245,4mil quilômetros de rede de água e 67,0 mil quilômetros de rede de esgotos, às quaisestão conectadas 19,6 milhões de ligações de água e 6,4 milhões de ligações deesgoto (MPO-SEPURB-IPEA, 1998).

A quantidade total de água produzida pelas 26 CESBs em 1997 foi de 26 milhões demetros cúbicos por dia, dos quais 18,9 milhões foram macromedidos. Já com relaçãoaos esgotos sanitários, a coleta diária foi de 7,1 milhões de metros cúbicos, dos quaisapenas 2,7 milhões foram tratados (MPO-SEPURB-IPEA, 1998). Na tabela 4.7apresenta as informações sobre o volume de água e esgotos por CESBs.

Da mesma forma que o volume de água produzido é elevado, as perdas de água nosistema de produção e distribuição também o são, ressaltando-se que o valor médionacional é de 39,6 % (MPO-SEPURB-IPEA, 1998). Na tabela 4.8 é apresentada avariação das perdas de faturamento das CESBs.

4.2.3 Déficits de serviços e impactos sobre a saúde

Com base nos dados já apresentados, com relação ao nível de atendimento dosserviços de saneamento, verifica-se que ainda existe uma grande parcela dapopulação brasileira que não está coberta pelos serviços de saneamento básico,principalmente os de esgotamento sanitário.A situação das áreas rurais é a pior, pois os índices de atendimento dos serviços desaneamento são ainda menores.

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No tabela 4.9 são apresentados os déficits dos serviços de saneamento básico do paísde acordo com a classe de renda da população.

A situação apresentada, inevitavelmente, tem efeitos diretos sobre a saúde dapopulação, bem como se reflete na qualidade do meio ambiente, em função dapoluição causada pelos esgotos não tratados, que são diretamente lançados noscursos d’água, agravando ainda mais as condições sanitárias das regiões afetadas.

De acordo com os dados do Ministério da Saúde, 65 % das internações hospitalaressão resultado da inadequação dos serviços e ações de saneamento, sendo adiarréia responsável anualmente por 50.000 mortes de crianças, a maioria commenos de um ano de idade (MPO-SEPURB-DESAN, 1999). Tabela 4.10 apresentaos dados referentes a incidência de doenças associadas às más condições desaneamento e a taxa de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias.

Tabela 4.7 Informações sobre os Volumes de Água Produzida eEsgotos Coletados e Tratados por CESBs (MPO-SEPURB-IPEA, 1998)

Volumes de Água Volumes deEsgoto

Região /Companhia

Produzido103 m3/dia

Tratado emETA103 m3/dia

Tratado porDesinfeção103 m3/dia

Comprado

103 m3/dia

Macrome –dido103 m3/dia

Consumido

103 m3/dia

Micromedido

103 m3/dia

Coletado

103 m3/dia

Tratado

103 m3/dia

Norte 1.254,9 1.091,3 61,6 0,0 96,0 594,0 320,5 48,5 11,8

CAER 80,5 37,6 42,9 0,0 0,0 33,9 26,5 7,8 7,8CAERD 160,0 155,0 5,0 0,0 96,0 102,0 45,0 1,4 0,0CAESA 76,8 76,7 0,0 0,0 0,0 32,9 16,1 7,4 4,0COSAMA 368,8 366,8 0,0 0,0 0,0 130,2 81,8 11,0 0,0COSANPA 464,5 380,9 0,0 0,0 0,0 236,0 96,2 20,8 0,0SANEATINS 104,3 74,3 13,7 0,0 0,0 59,0 54,9 --x-- --x--Nordeste 4.876,2 4.164,2 699,2 549,7 2.458,4 3.056,6 2.011,3 993,7 718,8

AGESPISA --x-- --x-- --x-- 0,0 --x-- 129,5 90,4 7,0 7,0CAEMA 568,9 199,1 110,9 0,0 54,0 248,0 71,4 194,5 11,9CAERN 443,0 198,0 176,0 0,0 304,0 213,0 124,0 48,0 10,0CAGECE 118,0 576,0 51,0 509,0 627,0 416,0 347,0 115,1 115,1CAGEPA 459,6 242,0 24,7 0,0 133,1 253,4 173,6 78,7 42,7CASAL 286,4 145,1 141,3 0,0 --x-- 124,0 71,2 30,0 30,0COMPESA 1.231,5 1.166,6 64,9 0,0 253,0 655,5 468,0 190,9 172,6DESO 289,5 263,4 25,1 0,0 25,3 153,3 131,6 25,5 25,5EMBASA 1.479,3 1.374,0 105,3 40,7 1.062,0 864,0 534,0 304,0 304,0

Sudeste 14.513,8 13.600,8 847,0 6,0 12.504,0 9.242,0 7.438,3 4.793,6 1.523,6

CEDAE 4.939,0 4.248,0 691,0 0,0 4.100,0 2.928,0 1.225,0 1.399,0 755,0CESAN 608,8 556,8 --x-- 0,0 --x-- 393,2 308,5 41,3 35,9COPASA 2.062,0 1.892,0 156,0 6,0 1.500,0 1.408,0 1.392,0 1.253,0 19,0SABESP 6.904,0 6.904,0 0,0 0,0 6.904,0 4.512,8 4.512,8 2.100,3 713,7Sul 3.422,6 2.954,6 468,1 0,0 3.152,4 1.881,1 1.643,4 791,0 260,3

CASAN 694,3 636,0 58,4 0,0 424,1 363,6 328,2 44,7 39,5CORSAN 1.326,5 1.154,1 172,4 0,0 1.326,5 660,7 458,4 60,9 40,7SANEPAR 1.401,8 1.164,5 237,3 0,0 1.401,8 856,8 856,8 695,4 180,0

Centro-Oeste 1.958,8 1.560,9 348,4 0,0 662,2 1.163,1 1.043,9 522,1 208,0

CAESB 468,0 431,0 37,0 0,0 286,0 376,0 346,0 243,0 146,0SANEAGO 642,3 603,4 25,2 0,0 46,6 427,8 418,3 224,7 43,0SANEMAT 464,4 320,1 144,5 0,0 145,1 163,5 91,8 31,9 12,0SANESUL 384,1 206,4 141,7 0,0 184,5 195,8 187,8 22,5 7,0Total das 26Companhias

26.026,3 23.371,8 2.424,3 555,7 18.873,0 15.936,9 12.457,4 7.149,0 2.722,5

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Tabela 4.8 Variação das Perdas de Faturamento das CESBs ao LongoTabela 4.8 Variação das Perdas de Faturamento das CESBs ao Longodo Tempo (MPO-SEPURB-IPEA, 1998)do Tempo (MPO-SEPURB-IPEA, 1998)

Perdas de FaturamentoAno% m3/km m3/ligação

1995 42,2 47,6 0,61996 41,2 47,1 0,61997 39,6 42,2 0,5

Tabela 4.9 Acesso aos Serviços de Saneamento por Classe de RendaTabela 4.9 Acesso aos Serviços de Saneamento por Classe de Renda(MPO-SEPURB-DESAN, 1999)(MPO-SEPURB-DESAN, 1999)Classe de Renda em SaláriosMínimos

Domicílios sem Água Canalizada(%)

Domicílios sem Ligação a Redede Esgoto ou Fossa Séptica (%)

0 a 1 33 591 a 2 38 562 a 3 12 403 a 5 5 285 a 10 3 2010 a 20 1 12mais de 20 1 9Fonte: Censo demográfico de 1991, IBGE

Tabela 4.10 Incidência de Doenças Associadas às Más Condições deSaneamento e Taxa de Mortalidade por Doenças Infecciosas eParasitárias (MS, 1999)Unidade da Federação Casos Confirmados

de Cólera (1996)Casos Confirmadosde Malária (1996)

Casos Notificados deDengue (1996)

Taxa de Mortalidade porDoenças Infecciosas eParasitárias (por 100.000habitantes) (1995)

Acre 26 13.868 2 53,16Amapá 0 19.056 0 27,28Amazonas 54 70.044 0 24,09Pará 1 146.334 321 20,98Rondônia 0 96.654 100 29,41Roraima 0 35.471 400 36,23Tocantins 0 2.276 1.965 18,45Região Norte 81 383.703 2.788 24,27Alagoas 401 9 2.591 33,74Bahia 130 121 64.435 25,89Ceará 8 102 2.099 25,10Maranhão 27 20.125 6.312 11,20Paraíba 104 14 12.070 17,07Pernambuco 238 61 22.423 35,93Piauí 0 134 5.770 10,64Rio Grande do Norte 28 14 6.608 25,52Sergipe 0 8 3.163 39,00Região Nordeste 936 20.588 125.471 25,06Espírito Santo 0 170 5.706 19,95Minas Gerais 0 178 3.551 30,46Rio de Janeiro 0 61 16.213 30,75São Paulo 0 567 6.760 23,43Região Sudeste 0 976 32.230 26,58Paraná 0 455 5.052 20,65Rio Grande do Sul 0 38 9 16,71Santa Catarina 0 59 3 13,00Região Sul 0 552 5.064 17,42Distrito Federal 0 117 64 27,39

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Goiás 0 364 5.396 34,65Mato Grosso 0 37.638 6.016 23,86Mato Grosso do Sul 0 111 3.363 26,71Região Centro-Oeste 0 38.230 14.839 29,62Brasil 1.017 444.049 180.392 24,81

No quadro 4.11 são apresentados os dados referentes aos déficits dos serviços desaneamento por região.

Tabela 4.11 Déficits do Setor de Saneamento por Região BrasileiraTabela 4.11 Déficits do Setor de Saneamento por Região Brasileira(Adaptado de HESPANHOL, 1999 e IBGE, 1997)(Adaptado de HESPANHOL, 1999 e IBGE, 1997)

Déficit (%) (1)ServiçoBrasil (1)l Região Norte

(2)RegiãoNordeste (2)

Região Sudeste(2)

Região Sul (2) Região Centro-Oeste (2)

Água 24,07 32,53 21,74 6,47 9,38 20,29Esgoto 62,17 98,28 86,78 29,55 82,15 66,73(1) Com base nos dados do IBGE de 1997(2) Com base no Censo de 1991 do IBGE4.2.4 Gestão comercial das empresas operadoras

Regime tarifário

O regime tarifário adotado no Brasil, para os serviços de saneamento básico,considera que a tarifa média utilizada deve ser suficiente para cobrir o custo dosserviços prestados e a remuneração do capital investido, sendo a mesma obtida peladivisão do custo dos serviços mais a remuneração do capital, pelo volume faturado(MPO-SEPURB, 1995a).Considerando-se a necessidade de universalização dos serviços de saneamento, foiinstituído um sistema de subsídios cruzados nas estruturas tarifárias, onde adota-secomo princípio, que os usuários de maior poder aquisitivo subsidiam os de menor,assim como os grandes consumidores subsidiam os pequenos, sendo utilizados osseguintes critérios para o estabelecimento das tarifas (MPO-SEPURB, 1995a):

• Determinação de tarifas diferenciadas segundo as categorias de usuários(residencial, comercial, industrial e público), sendo que a tarifa média docomércio e da indústria deve ser superior à tarifa média da empresa;

• As tarifas da categoria residencial é diferenciada para as diversas faixas deconsumo, devendo ser progressiva em relação ao volume tarifável. Emalguns estados esta diferenciação também é utilizada para os setorescomercial e industrial; e

• Existência de uma cota mínima de consumo residencial, compreendendo oconsumo de água e a coleta de esgoto, tendo-se como consumo mínimo ovolume de 10 m3 mensais.

A fixação das tarifas no Brasil é feita pelas companhias estaduais e empresasmunicipais de saneamento, mas seguindo a orientação dos governos estaduais e seusacionistas majoritários quando for o caso.Normalmente, a cobrança pelos serviços de água e esgoto é feita mensalmente,através de emissão de uma fatura. Como forma de sanção, o pagamento da faturaapós a data de vencimento, penaliza o consumidor com uma multa e caso esseatraso seja superior a um mês, há o risco e interrupção da prestação do serviço, deabastecimento de água, por parte da empresa.

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Tarifas

As tarifas praticadas pelas CESBs, principais prestadoras de serviços na área desaneamento básico no país, variam de região para região, sendo os custos praticados,retratados pelos valores médios nacionais, conforme apresentado no tabela 4.12

Tabela 4.12Custo Médio das Tarifas de Saneamento (MPO-SEPURB-IPEA, 1998):Custo Médio das Tarifas de Saneamento (Base 1997)Custo do Serviço por metro cúbico R$ 0,85 (US$ 0,79)Tarifa Média Praticada por metro cúbico(referenciada ao preço do serviço)

R$ 0,91(US$ 0,85)

Tarifa Média do Serviço de Água por metro cúbico R$ 0,90 (US$ 0,84)Tarifa Média do Serviço de Esgoto por metrocúbico

R$ 0,91 (US$ 0,85)

R$ 1,00 èè US$ 0,93 (média para o ano de 1997)

Os dados disponíveis mostram que a região Norte do país apresenta o custo doserviço do metro cúbico mais elevado (R$ 1,33/m3 – US$ 1,24) e a região Sudeste omais baixo (R$ 0,78/m3 – US$ 0,73), enquanto a região Sul apresenta a tarifapraticada, com relação ao preço do serviço, mais alta (R$ 1,12/m3 – US$ 1,04) e aregião Nordeste a mais baixa (R$ 0,77/m3 – US$ 0,72), dados referentes ao ano de1997.

Na tabela 4.13 são apresentadas as tarifas médias cobradas pelas CESBs. A figura4.1 apresenta os dados comparativos, referentes ao custo do serviço e tarifaspraticadas pelas CESBs.

Capacidade de cobrançaNo Brasil, as perdas de faturamento no setor de saneamento, principalmente comrelação ao serviço de água, são elevadas, o que por sua vez acaba exercendo grandeinfluência sobre a capacidade de autofinanciamento das companhias, bem como serefletem nos preços das tarifas cobradas, já que na composição das mesmas essasperdas são incluídas. É importante ressaltar, que no índice de perdas de faturamentoestão incluídas as perdas que ocorrem desde o ponto de captação de água, até oponto de medição no consumidor final, além das perdas associadas à inadimplênciados consumidores.

Na tabela 4.14 são apresentados, por região, os índices de perdas de faturamentodas companhias estaduais e empresas municipais de saneamento.

Com relação ao índice de evasão de receita, ou seja, a relação entre a ReceitaOperacional Total menos a Arrecadação, dividido pela Receita Operacional Total,verifica-se que as maiores perdas também ocorrem na região Norte do país,enquanto as menores são verificadas na região Sul, considerando-se apenas asCESBs. Os valores referentes à despesa de exploração, ao índice de faturamento deágua, ao índice de evasão de receita e índice de perdas de faturamento, para cadauma das companhias estaduais são apresentados na tabela 4.15.

Tabela 4.13 Tarifas Médias praticadas pelas CESBs (MPO-SEPURB-IPEA, 1998)

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Região / Companhia Custo doServiço(R$/m3)

Tarifa médiaPraticado(R$/m3)

Tarifa Médiade Água(R$/m3)

Tarifa Médiade Esgoto(R$/m3)

CAER 2,11 0,81 0,81 0,82CAERD 1,40 1,06 1,06 0,88CAESA 0,84 0,73 0,72 0,77COSAMA 1,46 1,15 1,12 1,48COSANPA 1,17 0,71 0,72 0,65SANEATINS --x-- --x-- 0,91 --x--

Região Norte 1,33 0,88 0,88 0,89AGESPISA 1,08 1,02 1,02 1,00CAEMA 0,80 0,80 0,76 0,94CAERN 0,80 0,80 0,86 0,46CAGECE 0,58 0,59 0,57 0,64CAGEPA 0,90 0,73 0,71 0,79CASAL 1,31 0,89 0,93 0,70COMPESA 0,77 0,80 0,82 0,70DESO 0,93 0,87 0,89 0,70EMBASA 0,86 0,76 0,79 0,62Região Nordeste 0,83 0,77 0,79 0,69CEDAE 0,72 0,86 0,83 0,91CESAN 0,73 0,75 0,78 0,55COPASA 0,67 0,68 0,69 0,65SABESP 0,84 1,01 0,97 1,07Região Sudeste 0,78 0,91 0,87 0,96CASAN 1,10 1,15 1,17 0,98CORSAN 1,65 1,53 1,55 1,24SANEPAR 0,82 0,89 0,93 0,77Região Sul 1,11 1,12 1,18 0,85CAESB 1,03 0,91 0,92 0,90SANEAGO 0,75 0,80 0,85 0,71SANEMAT 0,68 0,92 0,96 0,65SANESUL 1,09 0,98 1,01 0,79Região Centro-Oeste 0,89 0,88 0,92 0,81Dados referente ao ano de 1997R$ 1,00 = US$ 0,93 (valor médio para o ano de 1997)

Tabela 4.14 Perdas de Faturamento das CESBs e SMAEs(MPO-SEPURB-IPEA, 1998)

Perdas de Faturamento - 1997 (%)RegiõesCESBs SMAEs

Norte 54,4 --x--Nordeste 47,5 46,0Sudeste 36,3 35,0Sul 37,7 44,4Centro-Oeste 36,6 --x--Total do Conjunto 39,6 37,2

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109R

elatório Nacional sobre o gerenciam

ento da água no Brasil

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

CAER

CAERD

CAESA

COSAM

A

COSANPA

SANEATINS

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A

CAEMA

CAERN

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CASAN

CORSAN

SANEPAR

CAESB

SANEAGO

SANEMAT

SANESUL

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Re

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(R

$ 1

,00

==

> U

S$

0,9

3)

Custo do Serviço (R$/m3) Tarifa média Praticado (R$/m3)Tarifa Média de Água (R$/m3) Tarifa Média de Esgoto (R$/m3)

Figura 4 – Dados Comparativos Referentes ao Custo de Serviço e Tarifas Praticadas pelas CESBs

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 110

Tabela 4.15 Índice de Evasão de Receita das CESBs (MPO-SEPURB-IPEA, 1998)Região / Companhia Despesa de

Exploração(R$/m3)

Índice deFaturamentode Água (%)

Índice deEvasão deReceita (%)

Índice dePerdas deFaturamento(%)

CAER 0,53 46,4 40,0 53,6CAERD 0,90 41,3 42,7 58,8CAESA 0,69 42,8 38,5 57,2COSAMA 1,24 36,8 16,2 63,2COSANPA 0,82 52,0 23,4 48,0SANEATINS --x-- 56,6 15,8 43,4Norte 0,91 45,6 25,1 54,4AGESPISA 0,86 --x-- 11,7 --x--CAEMA 0,75 33,0 32,3 67,0CAERN 0,68 58,2 17,8 41,8CAGECE 0,47 68,4 5,4 31,6CAGEPA 0,62 56,7 12,8 43,3CASAL 0,94 46,1 12,0 53,9COMPESA 0,67 50,0 16,8 50,0DESO 0,80 58,4 4,7 41,6EMBASA 0,64 52,4 3,3 47,6Nordeste 0,66 52,5 11,5 47,5CEDAE 0,52 48,8 24,8 51,2CESAN 0,50 71,3 14,6 28,7COPASA 0,42 75,8 5,3 24,2SABESP 0,60 70,2 13,2 29,8Sudeste 0,55 63,7 15,2 36,3CASAN 0,88 66,7 6,7 33,3CORSAN 1,16 49,8 7,6 50,2SANEPAR 0,58 72,0 4,9 28,0Sul 0,80 62,2 6,2 37,7CAESB 0,71 83,3 2,3 16,7SANEAGO 0,52 66,6 7,7 33,4SANEMAT 0,51 44,6 25,0 55,4SANESUL 0,87 56,6 7,5 43,4Centro-Oeste 0,64 63,4 8,0 36,6Total das 26 Companhias 0,61 60,4 13,1 39,6R$ 1,00 = US$ 0,93 (valor médio para o ano de 1997)

Os mecanismos utilizados para a cobrança dos consumidores inadimplentes,baseiam-se no estabelecimento de multas, além da possibilidade de cessação daprestação dos serviços, por parte das companhias estaduais e empresas municipaisde saneamento.

4.3 Financiamento do setor

4.3.1 - Necessidade de financiamento

Pelo atual quadro do setor de saneamento Brasil, o qual mostra uma deterioração naqualidade dos serviços prestados, basicamente ocasionada pela falta de uma políticaadequada ao setor, verifica-se que são necessários grandes investimentos para queesta situação seja revertida.Para que se possa ter uma idéia da situação atual, os dados apresentados pelaSEPURB indicam que para a eliminação do déficit atual dos serviços desaneamento, seria necessário um investimento da ordem de R$ 25 bilhões. Se foremconsiderados, além desse déficit, o crescimento da população até o ano 2010, os

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 111

recursos necessários são de aproximadamente R$ 40 bilhões (MPO-SEPURB-DESAN, 1999).

Com os valores apresentados acima, estima-se a necessidade de investimentos daordem de R$ 2,5 bilhões por ano, visando a eliminação do déficit dos serviços deabastecimento de água e esgotamento sanitário, no período compreendido entre 1995e 2010.Baseado nos objetivos e estimativas apresentadas acima, o governo Federalestabeleceu programas onde estão previstos, especificamente para o aumento dacobertura dos serviços, investimentos de R$ 9,5 bilhões (US$ 9,4 bilhões) em quatroanos (1996 a 1999), de acordo com as metas apresentadas na tabela 4.16.

Tabela 4.16 Metas para o Atendimento da Cobertura eInvestimentos para o Setor de Saneamento (MPO-SEPURB-DESAN,1999)

Serviço População UrbanaAtendida (milhões)

Valor dosInvestimentos(R$ bilhões)

Aumento daCobertura (%)

Abastecimento de Água 15 2,8 (US$ 2,77 bilhões) De 86 para 96Esgotamento Sanitário (Coletae Tratamento)

19 4,5 (US$ 4,46 bilhões) De 49 para 65

Esgotamento Sanitário(Tratamento)

31 1,5 (US$ 1,48 bilhões) De 20 para 44

Resíduos Sólidos 14 0,7 (US$ 0,69 bilhões) De 78 para 83R$ 1,00 = US$ 0,99 (Valor médio para o ano de 1996)

4.3.2 Principais fontes de financiamento

Do ponto de vista de financiamento do setor de saneamento no Brasil, pode-seconsiderar os seguintes instrumentos financeiros, passíveis de utilização (MPO-SEPURB-DESAN, 1999):Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) - É um fundo patrimonial que veiosubstituir a estabilidade de emprego dos trabalhadores, que consiste no depósitomensal de 8% sobre o salário dos trabalhadores, em contas vinculadas ecentralizadas, geridas pela Caixa Econômica Federal - CEF (HESPANHOL, 1999 eMPO-SEPURB, 1995a). A capacidade de financiamento do FGTS paraempreendimentos em desenvolvimento urbano é avaliado pela seguinte expressão(MPO-SEPURB, 1995a):CI = AB - S + AE -GA – FL (4.1)onde: CI = capacidade de financiamento; AB = arrecadação bruta de contribuições;S = Saques; AE = arrecadação de empréstimos; GA = gastos com administração eoperação do sistema; FL = aplicação no fundo de liquidez

Na tabela 4.17 mostra um exemplo de cálculo da capacidade de financiamento doFGTS para o ano de 1994.

Tabela 4.17 Capacidade de Financiamento do FGTS para o Ano de 1994(MPO-SEPURB, 1995a)Entradas US$ milhõesArrecadação Bruta 6.340

(-) saque por rescisão 3.804(-) saque para moradia 358(-) saque de contas inativas 300

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 112

Arrecadação Líquida 1.878Arrecadação de Empréstimos 1.007

(-) encargos do FGTS 565Capacidade de Investimento 2.320

Orçamento Geral da União (OGU) - As dificuldades econômicas de diversaslocalidades do país obrigam que o Governo Federal faça o repasse de recursos parainvestimento a fundo perdido, tomados para investimento no setor de saneamento(MPO-SEPURB-DESAN, 1999).Orçamento dos Estados e Municípios - Os recursos fiscais de estados e municípiosdeverão compor as contrapartidas locais para o alavancar recursos de investimentos,além de promover o subsídio direto ao consumo de determinados usuários (MPO-SEPURB-DESAN, 1999 e MPO-SEPURB, 1995a).Recursos Financeiros Internacionais - estes recursos são viabilizados por agênciasbi e multilaterais, tais como o Banco Mundial (BIRD), o Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID), o Kreditanstalt für Wiederausbau (KFW)e o OverseasEconomic Cooperatin Fund (OECF) (MPO-SEPURB-DESAN, 1999 e MPO-SEPURB,1995a).Recursos Gerados pela Prestação de Serviços - Na composição das tarifas, comojá mencionado anteriormente, deve contemplar uma parcela que garanta a capacidadede ampliação do atendimento das necessidades futuras na área de saneamentobásico.Dentre os instrumentos apresentados acima, os mais amplamente utilizados para ofinanciamento do setor de saneamento, ao longo dos últimos anos, são: FGTS;recursos financeiros Internacionais, principalmente do BID e do BIRD e os recursosprovenientes da União.Na tabela 4.18 encontra-se a relação dos empréstimos externos para investimento emsaneamento, no período de 1970 a 1994.

Tabela 4.18 Relação dos Empréstimos Externos para Relação dos Empréstimos Externos paraAplicação em Saneamento 1970/94 (MPO-SEPURB, 1995a)Aplicação em Saneamento 1970/94 (MPO-SEPURB, 1995a)

Ano do Contrato AgenteFinanciador

Mutuário Valor(US$ milhões)

1971 BID Banco Nacional da Habitação 30,01971 BIRD Prefeitura de São Paulo 22,01971 BIRD Prefeitura de São Paulo 12,01972 BID Governo do Rio de Janeiro 9,51974 BIRD Banco Nacional da Habitação 36,01976 BIRD Banco Nacional da Habitação 40,01978 BIRD Banco Nacional da Habitação 52,51979 BIRD Banco Nacional da Habitação 100,01980 BIRD Banco Nacional da Habitação 130,01980 BIRD Banco Nacional da Habitação 139,01981 BIRD Banco Nacional da Habitação 180,01983 BIRD Banco Nacional da Habitação 302,31983 KFW Governo da Bahia 6,71984 BID Governo da Bahia 149,01984 KFW Governo do Rio Grande do Sul 13,91985 BIRD Governo Federal 16,31987 BID SABESP 163,01987 KFW Governo de Santa Catarina 6,71987 BID Prefeitura de São Paulo 77,51988 BIRD Caixa Econômica Federal 175,01988 BIRD Caixa Econômica Federal 80,01989 BID Governo do Distrito Federal 100,0

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 113

1990 KFW Governo do Ceará 10,01990 BIRD SABESP 280,01991 BID Governo Federal 350,01992 BIRD Governo Federal 250,01992 BIRD Governo de São Paulo 119,01992 BIRD Governo do Paraná 117,01992 BID Governo do Ceará 199,21992 BID SABESP 450,01993 BIRD Governo do Pará 145,01993 BID Governo de Minas Gerais 145,01993 BIRD Governo do Rio Grande do Sul 132,31994 - 1o Semestre BID Governo do Rio de Janeiro 350,01994 – 1 o Semestre OECF Governo do Rio de Janeiro 236,7

4.3 Capacidades e deficiências

4.4.1. Capacidades e deficiências institucionais

Embora a formulação de políticas e planejamento estejam claramente delineados naConstituição Brasileira de 1988 e haja uma inequívoca definição deresponsabilidades para o estabelecimento de diretrizes associados ao setor desaneamento, o que se verifica atualmente no Brasil é a inexistência de uma estruturade gestão específica para o setor, o que tem gerado ações desordenadas edescoordenadas.

Após a extinção, em 1992, do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), foi criada,em 1995, a Secretaria de Planejamento Urbano (SEPURB) junto ao Ministério doOrçamento e Planejamento (MPO), com o objetivo de articular as políticas setoriais dehabitação, saneamento e desenvolvimento urbano.Presentemente, é da responsabilidade da SEPURB, o desenvolvimento eimplementação do Projeto de Modernização do Setor de Saneamento (PMSS). Esteprojeto opera dentro de duas linhas de ação, uma voltada ao desenvolvimentoinstitucional e outra associada a linhas de investimento e modernização de algumascompanhias estaduais de saneamento. Essas ações específicas servirão de base parao desenvolvimento de uma modelo de gestão que possa ser aplicado em todo o país.Embora o Brasil ainda esteja trabalhando para o desenvolvimento de uma política parao setor de saneamento, deve-se ressaltar que órgãos governamentais, como oMinistério do Meio Ambiente, Ministério da Saúde, Instituto Brasileiro de MeioAmbiente, Conselho Nacional de Meio Ambiente, na esfera federal e os diversosórgãos estaduais da área de saúde e de controle da qualidade ambiental, sãoresponsáveis pelo desenvolvimento de políticas e estabelecimento de normas epadrões para a proteção da saúde e da qualidade ambiental, que acabam tendoefeitos diretos sobre o setor de saneamento.

4.4.2 Capacidades e deficiências de regulação

Do ponto de vista institucional a regulação do setor de saneamento no Brasil, deveriaser efetuada pela Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) do Ministério do MeioAmbiente (MMA). Entretanto, esta atividade regulatória é efetuada pelas própriascompanhias estaduais de saneamento, ou pelas entidades municipais, quando essaspossuem a concessão dos serviços locais.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 114

Em termos da qualidade da água para consumo humano, ocorre uma deficiênciasignificativa, pois a grande maioria das companhias estaduais e empresas municipaisefetuam o auto controle da água distribuída. Este controle é efetuado, a nível nacional,com base na Portaria no 36 do Ministério da Saúde, que fixa os padrões depotabilidade para todo território nacional.Como fator positivo deve ser ressaltada a participação efetiva de parte das populaçõesatendidas, particularmente com relação à distribuição intermitente, má qualidade daágua distribuída, valores elevados das tarifas e a poluição de corpos receptores, querecebem efluentes sem nenhum tipo de tratamento ou sem tratamento adequado.Ressalte-se, também, os movimentos sociais, os movimentos sindicais dostrabalhadores de saneamento, organizações não governamentais, associaçõestécnicas e entidades civis que operam no sentido de melhorar os serviços de água esaneamento postos à disposição dos usuários.

As deficiências de regulação serão certamente ampliadas face à iminente expansãodo investimento privado no setor de água e saneamento. Embora essa ação possacontribuir significativamente para a melhoria dos níveis de cobertura, ela não seprocessará de maneira a proporcionar serviços adequados, com tarifas exeqüíveis e aassegurar o imprescindível atendimento das áreas de baixa renda, se não houver umcontrole efetivo por parte de entidades reguladoras.Por outro lado, face à iminente criação da Agencia Nacional de Águas (ANA) e aimplementação, a nível nacional, dos Comitês e Agencias de Bacias, dispor-se-á,certamente, de mecanismos reguladores que contribuirão para a melhoria dos serviçosprestados, tanto públicos quanto privados.

4.4.3 Capacidades e deficiências das operadoras

Os levantamentos efetuados em 1997 demonstram que a grande maioria dos serviçosde água e saneamento são efetuados por empresas públicas, municipais e estaduais.A cobertura, correspondente a 84% de abastecimento de água e a 37% desaneamento se associa a 26 empresas estaduais e 74 municipais, das quais, apenasduas do setor privado.Embora proporcionando um serviço relevante a áreas significativas, particularmente nosetor urbano, essas empresas ainda operam com deficiências estruturais eoperacionais relevantes, que podem ser resumidas nos seguintes aspectos:

Cobertura dos serviços

Embora os níveis de cobertura de água e esgoto estejam institucionalmenteassociados a políticas governamentais, prioridades nacionais e disponibilidade derecursos financeiros, verifica-se que as áreas presentemente atendidas são muitoinferiores àquelas que poderiam ser efetivamente atendidas pelas empresas desaneamento básico, tanto municipais como estaduais.

Conforme indicado no quadro 13, a Região Norte apresenta cobertura de 44% deabastecimento de água e 2,6% de coleta de esgotos, enquanto que a Região Sudeste,a mais desenvolvida do País, apresenta uma cobertura de apenas 74% e 50% ,respectivamente.

Índices mais expressivos de cobertura poderiam ser atingidos, por exemplo, com aredução das perdas de faturamento, que atingem, a nível nacional, 39,6% nascompanhias estaduais e 37,2% nas municipais, como mostrado nas tabelas anteriores.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 115

Outras medidas que contribuiriam para aumentar significativamente os índices decobertura, sem o aporte de recursos financeiros adicionais, são aquelas associadas auma modernização das tecnologias de tratamento e de distribuição de água adotadas,assim como o estabelecimento de regimes administrativos restritos, visando a reduçãoda relação número de funcionários por economia atendida, tanto nas companhiasestaduais como nas municipais.

Qualidade do serviço

Os níveis atuais de cobertura de serviços de água e saneamento, embora ainda muitobaixos, não refletem toda a realidade dos serviços efetivamente prestados, uma vezque não levam em conta o abastecimento intermitente e as correspondentesimplicações sociais e de saúde pública, particularmente nas áreas de baixa renda,assim como a qualidade da água distribuída.

Os dados apresentados não refletem, também, o elevado nível de deterioração dossistemas de abastecimento de água e esgoto, a ausência de reconhecimento e derespeito ao usuário, e a generalizada desconsideração à preservação e à conservaçãodos recursos hídricos, que são, ao mesmo tempo, utilizados como mananciais e comocorpos receptores de efluentes.

Efeitos sobre a saúde pública

A deficiência dos sistemas de tratamento, particularmente no que se refere àdesinfeção da água e à prática de distribuição intermitente (rodízio na distribuição deágua) é refletida nos índices elevados de incidência e das taxas de mortalidadeassociadas a doenças de origem hídrica. O Quadro 17 mostra, na Região Norte, 81casos confirmados de cólera e 936 no Nordeste, causados tanto por deficiência dedesinfeção como pela falta de sistemas públicos adequados de abastecimento deágua. As taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias atingem, noBrasil 24,81 mortes por 100.000 habitantes, chegando a 29,62 na Região Centro-Oeste.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 116

5. SITUAÇÃO ESPERADA DOS RECURSOS HÍDRICOS PARA O ANO 2025, EMDISTINTOS CENÁRIOS

5.1 Os cenários metas

Gallopin e Rijsberman (1999) identificaram os seguintes cenários de análise, deacordo com a orientação da região:

Situação crítica (business-as-usual)

Este cenário envolve a tendência de exploração nos recursos sem um planejamentoadequado. Este cenário admite a política atual de desenvolvimento dos recursoshídricos no mundo, ou seja sem nenhuma mudança quanto a melhora nos diferentespreceitos de um adequado gerenciamento. Esta é uma visão crítica da exploraçãodos recursos hídricos do país. Nesta condições a crise da água pode ocorrer emdiferentes regiões.

Econômico, tecnológico e privatização: (Economics, Technology and the PrivateSector)Este é o cenário em que todas as ações ficarão baseados nos conceitos de mercado ebaseado no investimento privado. Esta é uma visão otimista das leis econômicas demercado, das novas tecnologias e a capacidade de limitar as condições indesejáveisdo desenvolvimento dos recursos hídricos e os impactos do meio ambiente.A cobrança pelo uso da água permite a introdução de tecnologias eficientes e aredução da demanda ineficiente; a participação pública no gerenciamento, realizadoatravés das bacias hidrográficas; descentralização das ações; e o equilíbrio entre asforças de mercado, sociais e ambientais.Portanto, a base deste cenário é que para atingir o desenvolvimento sustentável énecessário adotar as leis de mercado e tecnologia com grandes investimentos. Odesenvolvimento se baseia numa efetiva participação entre o público e o privado nabusca dos padrões adequados para a sociedade e o ambiente.Valores humanos e Padrões básicos de qualidade de vida (The values andLyfestiles)Este cenário parte do princípios que exista uma verdadeira vontade na busca dereavivar os principais valores da vida humana (liberdade, amor, respeito pela vidahumana, responsabilidade, tolerância e solidariedade, entre outros) e na busca demetais globais de qualidade de vida. O desenvolvimento destas metas envolve ofortalecimento de cooperação internacional, ênfases na educação, aumento dasolidariedade e a busca de padrões ideais de qualidade de vida. Para o período 2000 a 2005 é previsto que os três cenários tenham resultadosemelhante devido ao pequeno período de antecipação em que ocorram resultados.Na tabela 5.1 é apresentado alguns aspectos de recursos hídricos e as suascaracterísticas dentro destes cenários. Esta análise é superficial e envolve apenasum ensaio que necessitaria de um maior detalhamento.

5.2 TendênciaDe acordo com as tendências apresentadas no item anterior para cada um dosaspectos analisados pode-se observar que, isoladamente, dificilmente cada umadestes cenários será atingido. A seguir é apresentada a visão tendencial dentro dohorizonte previsto. Devido a grande dinâmica de um país como o Brasil a previsãonum horizonte de 25 anos é temerária e sujeita a grandes distorções, no entanto

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 117

acreditamos que este exercício é válido até para permitir influir nos resultadosinadequados previstos.

Institucional

As condições nas quais está ocorrendo a implementação institucional a nível federalleva a crer que ocorrerá uma avanço importante na legislação. A etapa seguinte,não menos importante dependerá da forma como a Agência Nacional da Águadesenvolverá suas ações na implementação institucional. A tendência é de que aagência necessite pelo menos dois anos para criar uma estrutura mínima de pessoalcom qualificação para atingir suas metas de longo período, coordene as primeirasações junto aos estados e estabeleça um Plano realista de Recursos Hídricos para opaís. O próprio desenvolvimento institucional nas diferentes bacias seguramenteapresentará diferentes evoluções em função das condições já existente em Estadoscomo Ceará, São Paulo e Rio Grande do Sul onde o processo institucional avançounos últimos anos.

A cobrança pelo uso da água e os outros mecanismos de controle gerencialpassarão por um teste político muito forte nos próximos anos e a sensibilidade denegociação, característica do país, permite acreditar que este sistema poderá serestabelecido em maior ou menor grau de acordo com a região, suas condiçõesespecíficas, situação crítica dos usos e capacidade econômica. Não existindo umacordo entre os agentes (membros do comitê, agência e grupos taxados) o risco éde que toda atitude de cobrança esteja sujeita a ações judiciais intermináveis queinviabilizará o gerenciamento da bacia. Como conseqüência, o comitê não terá forçade decisão e recursos para implementar a Agência da bacia e desenvolver osprogramas necessários. A população brasileira está cansada de pagar tributos. OBrasil é um dos países em desenvolvimento que mais arrecada com tributos (30%do PIB) e de forma muito injusta já que a distribuição dos tributos é muito desigual.Desta forma, com a implantação de outra cobrança e com a tradição pública dedesperdício de recursos é possível que exista uma reação como a citada. Portanto,a negociação e o esclarecimento da opinião pública e um processo transparente degasto dos recursos são fundamentais para a viabilidade do sistema e da cobrança.

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Tabela 5.1 Cenários MetasAspectos Crítico Otimista Valores humanosAspectosinstitucionais

• A regulamentação da legislação éaprovada, mas a resistência pelacobrança pelo uso da água, falta demecanismos econômicos e deagências mantém o cenário atualsem gerenciamento integrado;

• Limitada ação estadual e municipalno gerenciamento dos recursoshídricos;

• Privatização apenas dos serviçorentáveis

• Regulamentação da legislaçãoé aprovada;

• o sistema de cobrança pelouso da água é implementado;

• comitê e as agências sãocriados;

• as bacias hidrográficas sãoadministradas por usuários,sociedade civil e governos

• Regulamentação da legislação éaprovada;

• o sistema de cobrança pelo usoda água é implementadoconsiderando os condicionantessociais;

• comitê e as agências sãocriados;

• as bacias hidrográficas sãoadministradas por usuários,sociedade civil, governos eambientalistas.

Desenvolvimentourbano

• Aumento da falta de água nasgrandes metrópoles e cidadesmédias onde deve-se concentrar oaumento da urbanização;

• Aumento das doenças de veiculaçãohídrica e contaminação química;

• Retrocesso no mortalidade infantil ena expectativa de vida em regiõescríticas;

• Agravamento sanitário dos riospróximo das cidades e de toda arede de drenagem;

• Os sistemas de água potável esaneamento são privatizados;

• A população paga pelosserviços e pelo aumento dadisponibilidade e controle dosefluentes;

• Melhoria dos indicadoressociais e redução dasdoenças.

• Recuperação da qualidade daágua dos rios contaminados.

• Os sistemas de água potável esaneamento são parcialmenteprivatizados;

• O poder público atua paragarantir o atendimentoindependente da capacidadede pagamento de parte dapopulação;

• Melhoria dos indicadores sociaise redução das doenças.

DesenvolvimentoRural

• Aumento da poluição difusa;• Perda de solo, dessertificação e

aumento do desmatamento;• Limitada expansão da irrigação para

fruticultura devido a baixadisponibilidade;

• Agravamento dos conflitos com usoda irrigação do arroz no Sul.

• O uso de práticas agrícolasadequadas é disseminadopela melhor rentabilidade dassafras;

• Uso de tecnologia pararacionalização do uso da águae controle de efluentes;

• Expandida a conservação dosolo e aumento deprodutividade

• O uso de práticas agrícolasadequadas é disseminado pelamelhor rentabilidade das safras;

• Uso de tecnologia pararacionalização do uso da água;

• Apoio técnico rural as pequenaspropriedades;

• Educação e saúde e tecnologiasassociado a reforma agrária;

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Tabela 5.1(continuação) Cenário MetasAspectos Crítico Otimista Valores humanosEnergia • Matriz energética pouco diversificada

• Falta de energia comestrangulamento econômico dasregiões produtivas;

• Impacto de variabilidade climática;• Racionamento energético.

• Diversificação da matrizenergética;

• Privatização da produção edistribuição da energia

• Plano emergencial paraperíodos climáticos quereduzam a oferta energética

• Diversificação da matrizenergética;

• Privatização da produção edistribuição da energia

• Plano emergencial paraperíodos climáticos quereduzam a oferta energética;

• Manutenção de subsídiossociais na energia

Eventos extremos • Aumento de perdas econômicasdevido as enchentes e gastosinadequados com a construção decanais urbanos;

• Permanência da falta de água nosemi-árido com baixodesenvolvimento e movimentosmigratórios nas secas;

• Falta de água em regiões de baixaregularização

• Medidas não-estruturais decontrole de enchentes eControle na fonte dosimpactos da urbanizaçãoatravés dos Planos deDrenagem Urbana;

• Investimento economicamenterentáveis de regularização emlocais críticos.

• Medidas não-estruturais decontrole de enchentes eControle na fonte dos impactosda urbanização através dosPlanos de Drenagem urbana;

• Plano de ampliação dadisponibilidade hídrica no Semi-árido;

• Aumento da regularização emlocais críticos.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 120

O desenvolvimento institucional é a condição básica para todo o processo degerenciamento do país. Dentro do cenário de 2025 provavelmente haverá umconjunto legal instituído consolidado, mas com grandes variações quanto á suaimplementação. A tendência é de que nas áreas onde o conflito é mais crítico, sejamestabelecidos acordos devido á necessidade de uma decisão, enquanto que emregiões sem um aparente conflito poderá ocorrer uma discussão mais prolongada compouca decisão. De um lado é benéfico, mas de outro, o processo de planejamentopreventivo é prejudicado. No entanto, o fator de demonstração poderá alterar estatendência. No tocante ás metas seguramente existirão a tendência de alguns setoresde acompanhar o cenário otimista, outros o cenário de valores humanos em função daregião, condições econômicas e politização da população.

Desenvolvimento urbano

Além dos problemas associados à sua grande extensão territorial e extremadiversidade das condições socio-econômico prevalentes em suas múltiplas regiões, oBrasil vem sofrendo, na última década, os efeitos de pelo menos três fenômenos quetendem a alterar significativamente o cenário dos recursos hídricos nacionais,particularmente no setor de abastecimento de água e saneamento. São característicasda situação atual, a fase de transição entre o regime estabelecido pelo extintoPLANASA e os novos modelos de gerenciamento do setor saneamento e de gestão derecursos hídricos que estão sendo desenvolvidos, bem como o crescente surto deprivatização de serviços públicos de água e esgoto. Há que considerar, também, osignificativo desenvolvimento tecnológico que vem ocorrendo no setor, principalmenteno que tange a sistemas de tratamento de água e de esgotos, trazendo comoconseqüência, o aumento dos níveis de cobertura devido à melhoria da relaçãobenefício/custo na execução de sistemas de abastecimento de água e de coleta deesgotos.

Embora essas características apontem para um significativo desenvolvimento dosetor de água e saneamento no Brasil e as ações estejam orientadas visando agestão sustentável dos recursos hídricos nacionais, é pouco provável que ocorram,até 2025.

Esta hipótese de ocorrência simultânea de ambos os cenários se justifica, inicialmente,pela discrepância sócio-econômica entre as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste,que, provavelmente manterão grande parte de suas estruturas no primeiro cenário, eas regiões Sudeste e Sul com características predominantes do segundo. A situaçãoreinante em cada uma dessas duas áreas distintas tenderá, ao final do períodoconsiderado, a consolidar situações correspondentes aos cenários sub-sequentes, istoé as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste tenderão a evoluir para uma situaçãocorrespondente ao segundo cenário, enquanto que as regiões sudeste e sulapresentarão, em áreas delimitadas, características do terceiro.

Com a aprovação dos novos modelos de gerenciamento de recursos hídricos, ondesão introduzidos os conceitos de usuário e poluidor pagadores, bem como o sistemade gerenciamento por bacias hidrográficas, que deverá contar com a participação dediversos atores sociais, nas regiões menos desenvolvidas do país, irá ocorrer umamelhoria significativa dos recursos hídricos, principalmente no que tange ao controleda poluição. Esta condição proporcionará melhoria de qualidade de mananciais deágua potável facilitando as condições de tratamento e abastecimento de água.Entretanto, a melhoria dos serviços de abastecimento de água e coleta de esgotos

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 121

sanitários dependerá de dois fatores básicos. Em primeiro lugar, a criação de umorgão regulador específico, que possa ordenar e monitorar o setor, estabelecendopadrões de qualidade, bases tarifárias, inclusive em relação à solidariedade social,áreas de cobertura, sistema de informação e mecanismos de proteção aos usuários.É imprescindível, também, integrar o planejamento das atividades das companhiasestaduais e municipais de saneamento com os planos de gestão das baciashidrográficas correspondentes, particularmente aos associados ao controle dapoluição de corpos receptores de efluentes. A tendência para o terceiro cenário dar-se-á apenas quando os critérios para tratamento e disposição de efluentes líquidosestiverem associados às política vigentes de proteção ambiental, permitindo aevolução dos conceitos anteriores de saneamento básico para o atual, de saneamentoambiental.

No que tange à tendência de privatização dos serviços de água e saneamento básico,há que se controlar os interesses associados às áreas de cobertura quando dapreparação dos contratos de licitação, pois haverá maior interesse em investir nasgrandes regiões urbanas, onde já existe uma infra-estrutura para o abastecimento deágua, que atende a mais de 90% da população e, em menor escala, de esgotamentosanitário, que dependendo da região, pode ser superior a 50% da população total.

Nessa situação, as regiões mais ricas do país, bem como os grandes centros urbanos,irão atrair grandes investimentos do setor privado, compartilhando com o governo, aresponsabilidade pelo atendimento às necessidades de abastecimento de água eesgotamento sanitário. Caberá ao governo, portanto, através do órgão reguladorespecífico para o setor, exercer com maior eficiência, as funções, que realmente lhecompete, de agente fiscalizador e controlador, podendo exigir e fazer cumprir comrigor, as normas de controle ambiental e de gerenciamento de recursos hídricos,resultando em uma melhoria significativa das condições sanitárias e ambientaisdessas regiões.

A experiência auferida em países em estágio desenvolvimento e de industrializaçãoacelerada, demonstra que os benefícios oriundos da tecnologia moderna ocorremmuito mais rapidamente nos grande centros urbanos e regiões metropolitanas, ondese concentram os maiores níveis de renda e de maior capacitação técnica eempresarial. Essa condição levará, também, a um retardamento das regiões menosfavorecidas, ou seja as do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a evoluir para ascaracterísticas predominantes no segundo cenário, até o ano 2025.

Com a melhoria das condições sanitárias das regiões mais ricas, (Sul e Sudeste) apossibilidade de ocorrência de crises associadas ao uso da água, tornam-se menosprováveis, bem como o surgimento de epidemias associadas às doenças de origemhídrica. Esses aspectos levam, implicitamente a uma melhoria de qualidade de vida, oque representa uma tendência para a evolução na direção do terceiro cenário.

Não havendo uma atuação eficaz do governo e dos demais setores da sociedade, nosentido de atender as necessidades das populações menos favorecidas, através doinvestimento de recursos em educação, saúde, segurança e saneamento básico, bemcomo pelo desenvolvimento de uma política para melhorar a distribuição de renda, nosentido de acabar com a exclusão social, as diferenças que são observadas hoje,entre o hemisfério norte e sul do Planeta, bem como aquelas que já existem no Brasil,entre as regiões Sul e Sudeste e demais regiões do país, irão se acentuar e comoresultado, poderá ocorrer uma migração em massa, das regiões mais pobres para as

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 122

mais ricas, que ao contrário dos processos de imigração entre os países, é mais difícilde ser controlada.

Este êxodo populacional para as regiões mais ricas, devido a falta de infra-estrutura,irá resultar na ocupação de áreas não adequadas, como por exemplo áreas deproteção de mananciais, encostas de morros e margens de córregos e rios, o quecomprometerá todo o trabalho desenvolvido para a melhoria das condições sanitáriasda região, aumentando o risco do surgimento de todos os problemas associados àocupação inadequada do solo, tais como enchentes, deslizamento de encostas,poluição dos corpos d’água e surto de doenças de origem hídrica, além de ocasionarproblemas de escassez de água.

Pelas razões expostas acima, o que se verifica, mesmo com a possibilidade deocorrência de um cenário mais favorável, caso não haja um comprometimento dogoverno de toda a sociedade, principalmente das classes mais favorecidas, atendência a longo prazo, será a predominância do cenário, onde tudo permanececomo está, ou seja, os benefícios e avanços que serão obtidos em decorrência dodesenvolvimento de políticas adequadas de gerenciamento de recursos hídricos,participação do setor privado no setor de saneamento, utilização de tecnologiamoderna e maior conscientização da população, para com as questões relacionadasà importância da água e do meio ambiente, poderão ser frustrados pelos processosde degradação da qualidade ambiental, desencadeados pela população menosfavorecida, que em busca de melhores condições de vida, ou fugindo dascalamidades que assolam a sua região, irá migrar para estas regiões maisdesenvolvidas.

Pode-se inferir que até o ano 2025, o Brasil apresentará, basicamente, no setor deágua e saneamento, as características correspondentes aos dois primeiros cenários,com a ocorrência pontual, nas regiões Sul e Sudeste de algumas característicasespecíficas do cenário associado a valores e estilos de vida. A proporção a que cadaum desses cenários serão estabelecidos, e a que fases do período considerado,dependerão basicamente da ação governamental, no sentido de proporcionarrecursos financeiros adequados, implementar as políticas de gestão que se fazemnecessárias para o controle das agências prestadoras de serviço e do setor privado epara o desenvolvimento tecnológico do setor.

Desenvolvimento rural

Com a implementação da regulamentação do uso da água e a sua racionalizaçãoatravés da cobrança poderão existir duas tendências opostas: (a) redução dademanda da irrigação nos projetos existentes devido a cobrança e racionalização daágua, criando melhores oportunidades para a sua sustentatibilidade regional, comobediência dos acordos do comitê; (b) aumento de conflitos e dificuldades naimplementação dos acordos ou restrições. Provavelmente o país deverá registrar osdois tipos de tendência, mas é esperado que a primeira predomine.

A tendência é de que na região Semi-Árida o uso agrícola na vizinhança dosgrandes mananciais seja voltado para produtos de maior rentabilidade e paraagricultura de subsistência nas áreas de pouca disponibilidade de água. Afruticultura e o café em algumas regiões têm mostrado rentabilidade que tornamviáveis o investimento, principalmente pela maior número de safras num mesmo

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 123

ano. De outro lado, estes empreendimentos exigem uma regularização da água semfalhas durante períodos longos, já que o plantio é permanente. Pode-se esperar umatendência de investimento de empresas agrícolas na região do São Francisco comimportante ampliação econômica da região através de investimentos privados. Asustentatibilidade deste processo a longo prazo dependerá do uso tecnológico. Nasáreas agrícolas fora da cobertura da disponibilidade hídrica sem riscos, onde os riosnão foram perenizados ou o potencial de água é pequeno. De acordo com ascondições atuais, o desenvolvimento se dará muito mais no sentido de buscar asustentatibilidade social da população através da melhora dos indicadores sociaiscom pequeno aumento econômico.

O cenário para o horizonte previsto é de gradual solução de algumas áreas críticasde subsistência, como mencionado, através de investimentos externos a região egrande demanda e uso da água no raio de ação dos rios perenes para fruticulturacom potencial conflito devido aos limites quantitativos.

Quanto aos programa de conservação do solo, deve-se observar ainda discrepânciasregionais de ações. As regiões com maior educação e treinamento deverá apresentarresultados bons como acontece hoje e as outras exigirá ação externa maior derecursos, educação e investimentos.

Os grandes desafios deverão envolver o controle da ocupação dos limites daAmazônia, o desenvolvimento do Cerrado, que depende fortemente da disponibilidadehídrica e o Semi-Árido. Este processo dependerá muito das políticas governamentaisde apoio de investimento, que atualmente estão limitadas pela capacidade econômicado país.

Hidroenergia

Com a regulamentação do setor com relação a privatização da geração, transmissão edistribuição, a tendência será de expansão das Usinas térmicas a gás (dentro doslimites disponíveis dos gasodutos) em função retorno mais rápido dos investimentos.O comprometimento da produção baseado em hidrelétricas deve diminuir permitindoreduzir o risco de racionamento, diversificando a matriz energética. No entanto,poderão ocorrer riscos de racionamento devido as incertezas da variabilidade climáticanum sistema em que a demanda está no limite da oferta.

De outro lado a tendência de privatização energética leva a uma dinamização maior dosistema a medida que os condicionantes legais de ação privada na distribuição,transmissão e geração estiverem bem definidos. O sistema privatizado tenderá aaumentar as térmicas dentro da capacidade de fornecimento de gás importado daBolívia e Argentina, diversificando a matriz energética. O risco de um sistema ajustadode oferta e demanda é o da externalidades climáticas de longo prazo, que podemcomprometer o desenvolvimento econômico de um período devido a inércia de ajustedo sistema. Como é impossível prever as condições climáticas de longo prazo torna-senecessários planejar o sistema para que tenha uma plano de emergência para estasituação e buscar duas tendências diversificação: a da matriz energética e a dalocalização dos sistemas hidrelétricos em regiões com diversificação de regimeclimático e hidrológico, para reduzir as incertezas.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 124

No cenário tendencial espera-se que na matriz energética tenda a aumentar astérmicas, mas no horizonte previsto deverá possuir ainda grande predominância dasUsinas Hidrelétricas (> 70%) devido ao potencial disponível.

O mercado atacadista de energia que entrará em funcionamento nos próximos anosdepende de forma significativa da previsão das condições climáticas de curto emédio prazo. Provavelmente haverá um importante desenvolvimento tecnológiconeste setor em função do prêmio do conhecimento prévio dos condicionantes quenorteiam os preços.

Enchentes e secas:

Enchentes: A elaboração recente dos Planos de Drenagem Urbana de algumascidades brasileiras provavelmente permitirá mitigar os impactos das enchentesurbanas destas cidades dentro do cenário previsto. No entanto, apenas do horizontede projeto representar cerca de 25 anos, acreditamos que haverá um ponderável fatorde perdas, já que será necessário mudar a concepção de projeto e planejamento dagrande maioria dos engenheiros que atuam em drenagem, o que representa toda umageração de profissionais e principalmente a visão política equivocada de obras decontrole enchentes. Esta ação requer um processo muito grande de educação dediferentes níveis que ainda não começou ou sequer está organizado. Portanto, apesardas perdas elevadas e a degradação somente existirão melhoras se houver uma fortemudança de atitude nos próximos anos. Caso contrário o cenário será o pior possível.

Quanto aos sistema de alerta e prevenção das barragens brasileiras, espera-se quesejam desenvolvidos mecanismos legais e desenvolvidos programas preventivos paraas bacias onde o impacto pode ser significativo. Com a maioria das barragens tenderáa ser privatizada, espera-se que as agências reguladoras identifiquem estaproblemática e atuem regulando este aspecto. Nos Estados Unidos e França esteaspecto foi regulamentado apenas depois de um grande desastre. Na Argentina aregulamentação ocorreu após a privatização.

Secas: o processo de falta água durante as secas de grandes proporções tem ganhoalgum apoio na prevenção, na medida que as previsões de médio prazo meteorológicatêm permitido conhecer o evento com antecedência de alguns meses. Torna-senecessário, no entanto, que programas preventivos sejam desenvolvidosaproveitando estas informações nas áreas mais críticas. A medidas que odesenvolvimento e a solução das áreas críticas venham a ser atendidos o impacto dassecas será minimizado. Considerando as secas de médio prazo que atuam sobreseqüência de anos como na década de 60 no Pantanal, 42-51 no Uruguai parte dadécada de 80 no Nordeste, estes condicionantes dificilmente serão atendidos pelainfra-estrutura existente e provavelmente continuarão a ser tratados sem prevenção.

Tanto nas enchentes como nas secas é necessário a mudança de atitude através daimplementação de programas preventivos de longo prazo. Atualmente estes eventos éuma forma de obtenção de recursos a fundo perdido.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 125

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES GERAIS

Devido as dimensões do setor, seus problemas e necessidades, este documento nãoteve a audácia de cobrir todos os aspectos e mesmo os cobertos, com a profundidadesetorial adequada. Este texto buscou destacar os tópicos e aspectos geraissignificativos e estratégicos necessários a compreensão dos Recursos Hídricos doBrasil dentro de uma visão do cenário atual, das tendências e das metas desejáveis aserem alcançadas.

O desenvolvimento dos recursos hídricos no Brasil apresenta grandes desafios queexigem um planejamento adequado das ações dentro de princípios dodesenvolvimento sustentável.

Institucional

Pode-se observar no estudo que os aspectos Institucionais são fundamentais paracriar um ambiente adequado para o gerenciamento dos recursos hídricos.Diferentemente de países com longa tradição institucional, o Brasil que até a segundametade da década de 90 tinha uma organização puramente setorial, tem avançado deforma significativa em poucos anos, mesmo sem ter ainda atingido a base necessáriaque permita aplicar a descentralização, o gerenciamento por bacia, a participaçãopública, a cobrança pelo uso da água e outros preceitos modernos da sua delegislação de 97.

A visão atual apresenta situações críticas fundamentais, no entanto deve-se salientarque as mudanças citadas nos diferentes setores de recursos hídricos, permitem adotaruma visão mais confiante do cenário futuro. Nos últimos anos foram aprovadas alegislação federal de recursos hídricos e de vários Estados. O processo deregulamentação está transcorrendo dentro da normalidade democrática e tendendopara uma racionalização dos mecanismos de gerenciamento. Observa-se aumento deinvestimento no saneamento das grandes cidades, apesar da distância ainda existentepara sua adequada solução. Desta forma, a realidade atual pode ser crítica, noentanto se o gradiente das mudanças institucionais e de investimentos é promissor,levando a crer que os problemas poderão se resolvidos a médio prazo e o cenáriocrítico poderá ser minimizado. Estas observações não são válidas para todos ossetores, mas resolvidos os aspectos institucionais o cenário tende a ficar maisotimista.

O desenvolvimento aprimorado do Plano Nacional de Recursos Hídricos que definaestratégias, programas, cenários e metas do desenvolvimento dos recursos hídricosdo país são essenciais para dar as diretrizes fundamentais para evitar os cenárioscríticos e resolver as dificuldades existentes.

Desenvolvimento Urbano

O desenvolvimento da infra-estrutura das cidades brasileiras está produzindo umasituação crítica significativa nos recursos hídricos e no meio ambiente, além deinviabilizar o seu próprio crescimento sustentato. Pode-se destacar o seguinte:

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 126

• A contaminação dos mananciais pelo próprio esgoto cloacal, industrial e pluvialestá inviabilizando a disponibilidade de água segura para o abastecimento;

• A distribuição desta água, tem sérios problemas de perdas e o tratamento écomprometido pelo excesso de poluentes provenientes de diferentes fontes;

• A falta de coleta e tratamento de esgoto nas cidades. Quando tem rede deesgoto não existe tratamento, o que agrava a poluição e quando temtratamento a rede não coleta o total projetado devido a ligação com o pluvial.

• A drenagem urbana é desenvolvida de forma completamente erradaproduzindo prejuízos em toda a sociedade e as soluções adotadas além derepresentarem custos altos ainda agravam mais as enchentes.

• A disposição inadequada do lixo e as dificuldades de reciclagem.

A maioria destes problemas requer uma solução gerencial mais adequada.Atualmente, as empresas ou entidades ligadas a água e saneamento não enfocam apreservação de mananciais, drenagem urbana, muitas vezes a disposição do lixo e oimpacto ambiental das ações. Estas condições limitam a busca de uma solução deplanejamento para as cidades. O processo neste caso é essencial para redução doscustos de intervenções. A solução corretiva será sempre várias vezes mais cara eimpactante que a solução preventiva no planejamento conjunto da cidade.

A baixa cobertura e qualidade dos serviços de água e saneamento no Brasil exigemuma tomada de decisão política que permita, nas primeiras décadas do próximoséculo, uma reversão significativa da situação atualmente vigente. Os recursosnecessários, estimados em 40 bilhões de dólares até o ano 2010, não poderão seralocados sem que, ao nível mais elevado do planejamento nacional, seja dadaprioridade à provisão adequada de serviços de água e saneamento à sociedadebrasileira.

No plano institucional, os esforços para preencher o vácuo estabelecido pela extinçãodo PLANASA em 1992, começam a apresentar resultados bastante promissores. Asatividades da Secretaria de Política Urbana (SEPURB) do Ministério do Planejamentoe Orçamento (MPO) na elaboração do Projeto de Modernização do Setor Saneamento(PMSS) e na proposição da Política Nacional de Saneamento, já delineiam estruturasde gestão e de financiamento compatíveis com as características regionais e situaçõesespecíficas de municípios brasileiros.

É necessário, entretanto, que os modelos de gestão adotados para o setorcontenham mecanismos adequados para exercer o controle e o monitoramento dascompanhias estaduais (CESBs) e serviços municipais (SMAEs) de água esaneamento. Essas entidades deverão ser regulamentadas com o objetivo deevoluírem, de empresas voltadas exclusivamente a atividades econômicas, para acondição de prestadoras de serviços públicos, com responsabilidade de promover odesenvolvimento social e preservar a saúde pública dos usuários.

A função do Estado, como ente regulador deve, necessariamente, ser estendida aosetor privado, devido à rápida expansão dessa modalidade de prestação de serviçosem diversas regiões do Brasil. Os mecanismos reguladores deverão ser exercidostanto nas fases de licitação, como durante o período de vigência das concessões.

Na fase de gerenciamento do processo concorrencial para a seleção das empresasconcessionárias de serviços públicos, pelo menos os seguintes componentesbásicos deverão estar convenientemente estabelecidos:

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 127

• plano de expansão, com especificação dos investimentos previstos, das fontes definanciamento, dos critérios de projeções financeiras e dos padrões de qualidade aserem atingidos;

• plano de tarifas e os critérios para a sua revisão;§ contrato de concessão;• regulamento dos usuários;§ os estatutos da empresa concessionária, e• levantamento dos ativos fixos.

Na fase de vigência da concessão o ente regulador deverá exercer a permanentevigilância das empresas concessionárias de serviços para assegurar o cumprimentodas cláusulas contratuais estabelecidas, particularmente no que tange à estruturatarifária e manutenção da qualidade dos serviços prestados à população.

No plano financeiro torna-se necessário empreender programas para reduzir osíndices atuais de água não contabilizada (perdas físicas e de faturamento). Essasmedidas permitirão a conservação dos recursos hídricos disponíveis, postergando aconstrução ou ampliação de sistemas de abastecimento de água, a expansão dosníveis de cobertura e, eventualmente, a redução dos valores tarifários praticados.

No que concerne à infra-estrutura dos sistemas é recomendado que as empresasconcessionárias de serviços desenvolvam estudos no sentido de utilizar tecnologiasmodernas em seus sistemas de tratamento e distribuição de água e de coleta etratamento de esgotos. É recomendado ainda, que esforços sejam envidados narecuperação e melhoria dos sistemas públicos de distribuição de água e de coleta deesgotos, os quais se encontram em situação precária na grande maioria dosmunicípios.

Atenção especial deve ser dada ao setor específico do saneamento (esgotamentosanitário), cujos níveis de cobertura e qualidade do serviço prestado, se apresentammuito abaixo da expectativa social, particularmente nas zonas rurais e áreas de baixarenda.

Os desafios de saúde ambiental que o saneamento urbano de países emdesenvolvimento enfrentam, aumentaram em complexidade, face aos conceitos dedesenvolvimento sustentado impostos pela sociedade, a partir de meados da décadade 80. A “agenda antiga”, que previa a provisão de serviços de saneamentoadequados para todas as residências, foi substituída pela “agenda nova” que exige agestão sustentada dos efluentes urbanos e a proteção da qualidade dos recursoshídricos, vitais para as gerações atual e futuras (BARTONE et all, The World Bank,1994). Nesse sentido o conceito de saneamento básico deve ser ampliado para oconceito mais amplo de saneamento ambiental, evitando-se, em adição à provisão desistemas adequados de coleta e disposição de esgotos e excreta: a contaminação decorpos de água e manguezais pelo lançamento de resíduos líquidos e sólidos, acontaminação do lençol freático devido à ausência de sistemas de coleta de esgotos edisposição inadequada de resíduos sólidos e o assoreamento e a redução do fluxo deescoamento em canais de drenagem, pelo lançamento de resíduos em terrenosbaldios e margens de cursos de água. O saneamento deve, portanto, se desvincularde sua conotação atual de empresa financeira e executora de obras públicas, e seconstituir em entidade de ação integrada, direcionada à preservação da qualidadeambiental.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 128

O nível a que cada uma das “agendas” vêm sendo aplicadas depende do estágio dedesenvolvimento local, como mostrado no quadro 26. (BARTONE et all, The WorldBank,1994).

No Brasil constata-se uma predominância da "agenda" antiga nas áreas de baixarenda per capita, mas também a coexistência de ambas as “agendas” naquelas derenda média alta e alta. Na região sudeste, onde se concentram as populações maisfavorecidas do país, ocorre o contraste entre o nível de renda (média alta e alta) e aselevadas tarifas de água e esgoto praticadas, e o nível quase precário da tipologiasanitária-ambiental oferecida à população.

Tabela 6.1 Tipologia Econômico-Ambiental do Saneamento Urbano(BARTONE et all, The World Bank,1994).

Problemas deSaneamento

Urbano

Áreas ou Paísesde renda Baixa(US$ 650 per

capita)

Áreas ou Paísesde renda Média

Baixa(US$ 650-2.500

per capita)

Áreas ou Paísesde renda Média

alta(US$2.500-6.500

per capita)

Áreas ou Paísesde renda Alta

(US$6.500 percapita)

Acesso aosserviços desaneamentobásico

Cobertura baixa,principalmente naárea urbana maispobre

Acesso mínimo àsáreas pobresurbanas

Coberturageralmenteaceitável; nívelelevado de coletade esgotos

coberturaadequada

Tratamento deesgotos

Praticamente semnenhumtratamento

Poucas estaçõesde tratamento,com operaçãodeficiente

Aumentando acapacidade detratamento;ocorrência dedeficiênciasoperacionais

Elevados níveisde tratamento;grandesinvestimentosefetuados nosúltimos 30 anos

Controle dapoluição daságuas

Problemas desaúde devido asaneamentoinadequado epresença deesgotos nas ruas.

Problemasseveros de saúde,devido à descargade efluentesdomésticos

Problemasseveros depoluição devido anível baixo detratamento deesgotosdomésticos eindustriais

Preocupaçãobásica comamenidades esubstânciastóxicas

Evidencia-se, portanto, o contraste entre o nível de renda da região (que se situa entremédia alta e alta) e das tarifas de água e esgoto praticadas (equivalentes às dospaíses industrializados), e o nível precário da tipologia sanitária-ambiental oferecida àsua população.

Torna-se, portanto, necessário, integrar o planejamento das atividades dascompanhias estaduais e municipais de saneamento com os planos de gestão dasbacias hidrográficas correspondentes, bem como com a política de proteçãoambiental, permitindo a evolução dos conceitos anteriores de saneamento básico parao atual de saneamento ambiental.

Desenvolvimento rural

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 129

O uso da água no meio rural, nas regiões mais ricas do país ainda não competem deforma significativa com os outros usos, apenas na irrigação do arroz em regiõesdefinidas do Sul. O uso de novas tecnologias de um lado podem tornar os plantiosmais eficientes e resistentes a falta de água, mas de outro podem de forma unitáriaconsumir mais. No entanto, este aspecto não aparece com um conflito maior além docitado da irrigação de arroz.

Os desafios maiores são nas regiões de expansão agrícola como o Cerrado e de baixadisponibilidade como o Semi-Árido, onde a água é fator de desenvolvimento esustentabilidade.

De outro lado a conservação do solo, o uso de pesticidas, desmatamento epreservação de áreas ambientais são fatores fundamentais dentro dasustentatibilidade do desenvolvimento agrícola. Os programas existentes devem serreforçados no sentido de se buscar eficiência tecnológica no controle do impacto dasáreas rurais através de pesquisa adequada dos impactos na água dos tipos deplantios em função das características físicas das bacias, cultura, e uso de defensivoagrícola.

HidroenergiaO sistema energético brasileiro é um dos mais organizados no setor que atua dentrode recursos hídricos e já possui agência reguladora. No entanto, como este sistemadepende de forma significativa das condições climática é necessário conhecer osimpactos dos diferentes condicionantes climáticos no funcionamento do sistema, nasdiferentes regiões do Brasil e estar preparado para situações emergenciais. Alémdisso, a diversificação espacial hidrelétrica e energética como um todo deve serexaminada visando permitir maior segurança ao atendimento da demanda ao longo dotempo.

Com a privatização e a criação do mercado atacadista de energia o conhecimento doscondicionantes climáticos de médio prazo será uma informação essencial nanegociação do preço da energia. Esta função poderá ser desenvolvida em menor oumaior grau pela agência reguladora como forma de evitar perdas e especulação, comoocorre no setor agrícola (previsão de safra). De qualquer modo, haverá umdesenvolvimento tecnológico impulsionado pelo valor econômico desta informação.

Enchentes e secas

O controle de enchentes e secas depende fundamentalmente de programaspreventivos dentro da realidade de cada região e sujeito aos seus condicionantes.Atualmente a situação é crítica e o país perde considerável soma de recursos duranteestes eventos que necessitam de programas adequados.

No caso das enchentes as cidades sofre prejuízos anuais que superam em muito,qualquer investimento na sua prevenção e medidas adequadas de planejamento dascidades (abordado acima).

As secas comprometem a sustentabilidade da população em extensas áreas semi-áridas do Nordeste. O processo preventivo pode permitir em primeiro lugar melhorar aeducação, saúde e transferir conhecimento para conviver de forma sustentável com aágua disponível.

Formação de recursos humanos e desenvolvimento tecnológico

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 130

A capacitação em recursos hídricos em todos os níveis é essencial para ogerenciamento dentro do sistema de Comitê e Agência. A educação da população, deprofissionais e decisores permitirá o desenvolvimento adequado dos planos e açõesna bacia hidrográfica dentro dos interesses da sociedade com a conservaçãoambiental.

Um programa adequado de treinamento de médio e longo prazo poderá serdesenvolvido em complementação aos programas existentes nas Universidadesbrasileiras, além de induzir as mesmas a programas que atendam aos interessesregionais e nacionais deste gerenciamento.

Da mesma forma, o desenvolvimento tecnológico poderá buscar investir em grupos depesquisa que se direcionem ao atendimento das principais dificuldades tecnológicasda realidade de recursos hídricos das regiões brasileiras, buscando encontrarmecanismos tecnológico de aumento da eficiência e de conservação para atender asregiões e suas diferentes realidades como a Amazônia, o Cerrado o Semi-árido, osistema costeiro entre outros.

Conclusão

O desafio deste estudo é englobar e destacar as principais questões de RecursosHídricos do Brasil. Dentro do tempo e das informações disponíveis os elementos aquiapresentados apresentam uma parcela da visão dos autores, dentro da estruturaplanejada para o documento. No entanto, as fontes de informações e a descrição darealidade atual é proveniente de fontes que permitem caracterizar de forma razoável arealidade.

Considerando que a base Institucional é a condição necessárias para o gerenciamentodos recursos hídricos, as condições suficientes para avançar nas metas sustentáveispassam pelo seguinte:

• Proteção de mananciais e tratamento de esgotos;• Preservar e aumentar a disponibilidade hídrica nas áreas críticas;• Adequado controle de enchentes das enchentes urbanas;• Conservação do solo rural.

Para que o processo de planejamento das bacias sejam desenvolvidos de formaeficiente para o futuro é necessário a revisão do Plano Nacional de Recursos Hídricos,implementação dos comitês com as suas respectivas agências e o desenvolvimentode programas nacionais e regionais que atuem sobre os principais problemasemergentes.

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 131

Referências

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 132

BARTONE, C.R.; BERNSTEIN, J., LEITMANN, J. and EIGEN, J. "TowardEnvironmental Strategies for Cities: Policy Consideration for Urban EnvironmentalManagement in Developing Countries", Urban Management Programme Policy Paperno 18, The World Bank, Washington, D.C., 1994

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 133

QUESTIONÁRIO SOBRE MANEJO DE RECURSOS HÍDRICOS

1. Nos últimos anos tem aumentado a preocupação com o valor estratégico da águapara o desenvolvimento da vida no próximo milênio. De outro lado, se existe umaconsciência dos gestores e administradores da água, não tem sido possívelimplementar na prática de maneira cotidiana as estratégias que permitam umagestão sustentável da água. Quais são , com base na sua experiência, as causasdesta dualidade?

Resposta:

No Brasil, a preocupação com a gestão sustentável da água nasceu nas instânciastécnicas, de associações de profissionais especialistas, chegou a organizações nãogovernamentais e conseguiu-se sensibilizar os políticos para a aprovação de LeiFederal e de Leis Estaduais. Todavia, a organização do Estado é fortementesetorializada, com entidades especialistas em saneamento, energia elétrica, irrigação,etc... resistentes à visão de uso integrado dos recursos hídricos e da descentralizaçãode compartilhamento das decisões. A colocação da gestão dos recursos hídricos nosetor ambiental encontrou este fortemente burocratizado, agindo quase queexclusivamente por meio de instrumentos jurídicos de comando e controle. Dessaforma, o gerenciamento descentralizado, participativo e integrado dos recursoshídricos, base da nova política estabelecida pela legislação brasileira, enfrentagrandes resistências dentro da administração pública.

2. Quais são as três prioridades em matéria de política hídrica que deveriam serimplementadas no seu país para obter uma gestão integrada dos recursos hídricos alongo prazo considerando as potencialidades e restrições atuais?

Resposta:

São: a criação da Agência Nacional da Água, autarquia federal com autonomiaadministrativa e financeira, das Agências de Bacia, entidades de direito privado parasuporte dos Comitês de Bacias Hidrográficas e a formação e capacitação derecursos humanos para integrarem seus quadros profissionais.

3. As estruturas governamentais encontram sérias dificuldades para a gestãoeficiente da água. Você acredita que a inserção do gerenciamento privado podemelhorar Substancialmente a gestão integrada dos recursos hídricos? Qual é olimite da incorporação das empresas de direito privado no manejo da água?

Resposta:

A criação de entidades privadas, sem fins lucrativos, que receberão delegação para ogerenciamento dos recursos hídricos, federais e estaduais, as Agências de Bacias,está sendo prevista na legislação brasileira, mas devem ser exclusivamente

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 134

operacionais, sendo que as decisões serão tomadas pelos Comitês de BaciasHidrográficas. Em áreas restritas e sob condições estabelecidas pelo poder público,poderão ainda agir as associações e consórcios de usuários de recursos hídricos.Mediante licitação pública, sob regras bem estabelecidas por contratos bilaterais, ainiciativa privada poderá participar do manejo da água como concessionárias defornecimento de água bruta a múltiplos usuários, mediante aplicação de tarifas defornecimento de água. Entretanto, a desestruturação do setor público, a quem cabeestabelecer as normas e regulamentos a respeito, faz com que estas possibilidadesainda sejam remotas.

4. Qualquer mudança no padrão atual do processo de tomada de decisão no manejoda água e a definição dos investimentos, necessita um tempo prudente deadequação e adaptação. Quais você crê que devem ser as atividades prioritárias aserem implementadas, iniciando agora, para que num prazo médio (2005) se possacontar com um cenário crescente da incorporação da dimensão ambiental nasdecisões cotidianas?

Resposta:

A mudança de padrão é totalmente dependente da implantação da cobrança pelouso dos recursos hídricos, mediante a organização das entidades de bacias, osComitês e Agências de Bacia. Isto está ocorrendo em muitas bacias mas,novamente a desestruturação do poder público é a limitação maior. A criação daANA poderá desencadear o processo, mediante a institucionalização de projeto definanciamento das intervenções e obras a serem realizadas nas bacias hidrográficas.Parece razoável o seguinte cronograma: implantação da ANA em 2000; preparaçãoe execução do projeto de financiamento entre 2000 e 2006; implantação dacobrança a partir de 2004. Porém a incorporação ambiental nas decisões correntesestá ocorrendo sem muita eficácia porque está se baseando exclusivamente eminstrumentos jurídicos mas a cobrança poderá proporcionar um salto importante.

5. Nos últimos anos a população e as agências governamentais ficaram sensíveisaos impactos dos fenômenos extremos (deslizamento de terras, inundações, secas,etc). Até que ponto podem ser considerados desastres naturais? Quais asestratégias prioritárias devem ser implementadas para atenuar as conseqüências doseu país?

Resposta :

A sensibilização política certamente existe mas a ação governamental tem sidoessencialmente corretiva ou de socorro à população afetada, por sistemas de defesacivil. Não há iniciativas relevantes de planejamento para prevenção dos acidentes econtrole de fatores que agravam os desastres naturais, como a inadequadaocupação ou uso do solo. Somente muito recentemente, também a partir daconscientização na área técnica, começaram estudos de drenagem urbana nosentido de não combater mas conviver com as inundação, enfatizando soluções nãoestruturais. Porém a incorporação desses novos conceitos nos procedimentos da

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 135

administração pública é lento e enfrenta resistências em nichos tradicionais,acostumados com a realização de obras de grande vulto. Da mesma forma, umplano de convivência com as secas está longe de ser elaborado.

6. Aparentemente os processo de erosão hídrica, salinização dos solos, assim comocontaminação das águas superficiais e subterrâneas, são sistematicamentecrescentes apesar dos grandes esforços voltados na implementação dos planos demanejo de bacias, programas de manejo conservacionistas, programas de controle decontaminação. Quais são, segundo sua opinião, as causas desta brecha crescente?

Resposta:

As razões são as mesmas anteriores, apontadas tanto para o gerenciamento derecursos hídricos como para o enfrentamento de secas e inundações. Entretanto há osseguintes fatores adicionais e agravantes: a dicotomia da gestão da quantidade e daqualidade das águas; a separação das ações de conservação do solo das de fomentoà agricultura.

7. Uma componente especial no ciclo da gestão dos recursos hídricos correspondeao monitoramento e avaliação contínua da oferta da água, apesar disto, as redes demonitoramento e atividades de campo tem seu orçamento de operação emanutenção sistematicamente reduzido na maioria dos países. Quais são, segundosua opinião, as estratégias a seguir para conseguir que estas atividades sejamsustentáveis?

Resposta:

As entidades operadoras foram fortemente afetadas pelas dificuldades do poderpúblico e tem sofrido, ao longo de décadas, carências de recursos humanos,administrativos e financeiros. Tem havido uma evolução muito favorável da gestão darede de interesse energético, após a criação da Agência Nacional de Energia Elétrica– ANEEL, que contava com recursos financeiros das concessionárias de geraçãohidrelétrica. Com a criação da ANA e os recursos da cobrança pelo uso da água, estaevolução deverá continuar, agora para a rede de interesse do gerenciamento derecursos hídricos. A estratégia para sustentabilidade da atividade deve relacionar-secom a difusão cada vez mais intensa das informações, especialmente pela INTENET,totalmente gratuita e descentralização da obtenção de dados pelas Agências deBacia e entidades estaduais e municipais.

8. Nos últimos anos tem sido produzido um importante avanço no projeto de infra-estrutura no desenvolvimento de novas tecnologias para o reuso da água, irrigaçãopor aspersão e por gravidade, etc. Até que ponto são difundidos e aplicados osavanços tecnológicos? São consideradas alternativas de técnicas convencionais nomomento de tomada de decisão? O ensino universitário incorpora com antecedênciasuficiente estes temas na formação dos seus alunos?

Resposta:

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 136

O reuso é um tema absolutamente novo e as experiências a respeito somente estãose iniciando. O aumento das tarifas de fornecimento de água potável e a cobrançapelo uso da água bruta deverão ser as grandes motivações para que intensifique. Asubstituição de sistemas obsoletos de irrigação por tecnologias com uso maseficiente tem ocorrido de forma mais intensa, mais por iniciativas das industrias defornecimento de equipamentos do que a iniciativa do poder público. A suaintensificação dependerá de capacitação e treinamento de irrigantes, em especialnas áreas semi áridas, com populações de baixa renda e escolaridade. Nasuniversidades são temas abordados com mais ênfase em cursos de especializaçãoou pós graduação.

9. A maioria dos países conta com um conjunto de normas para a gestão da água. Atéque ponto este incorpora e promove o uso integrado dos recursos hídricos? Como seexecutam as atividades intersetoriais quando existem outros regulamentos para agestão dos recursos naturais?

Resposta :

Como já foi apontado um dos pontos de grande dificuldade é a resistência dasentidades setoriais à gestão integrada dos recursos hídricos. Somente ofortalecimento das instâncias regionais – Comitês e Agências – e mais a cobrançapelo uso dos recursos hídricos poderão se iniciar mudanças nesse quadro. Nomomento, quase sempre, as entidades públicas setoriais ignoram a não cumprem asnormas ou os planos de gestão integradas.

10.A última década foi caracterizada por fomentar a participação da sociedade numgrande número de atividades. Até que ponto se verifica a participação social na gestãoda água em seu país? As opiniões da sociedade extraída de instâncias participatóriastem mudado genuinamente uma decisão relativa a gestão da água? Em que caso?

Resposta:

Existe uma grande mobilização em torno das questões ambientais e, muitorecentemente, em torno da proteção e conservação dos recursos hídricos. Osresultados obtidos pelas organizações não governamentais, entretanto, tem sidoatravés da mobilização da opinião pública através da mídia. Com isso, em algunscasos tem sido feitas leis importantes que controlam ou restringem a poluição edegradação ambiental. Talvez o exemplo mais importante seja a limitação legal aoaproveitamento do reservatório Billings, na bacia do Alto Tietê, na RegiãoMetropolitana de São Paulo, com o quase completo abandono de usina de 900 MW.Porém a grande experiência em curso é o de participação das entidades derepresentação da sociedade em Comitês de Bacias Hidrográficas, que ainda éincipiente e precisa ser avaliada no futuro, dentro de alguns anos.

Questionário respondido por

FLAVIO TERRA BARTH

ConsultorCoordenador da Comissão de Gerenciamento de Recursos Hídricos da ABRH –Associação Brasileira de Recursos Hídricos

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Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 137

Ex-Diretor de Planejamento do Departamento de Águas e Energia Elétrica do estadode São Paulo