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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACED DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ESPECIALIZADOS - DEE ANNA TEREZA HANNEL, DANIELA DAMION, PEDRO WINCK DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO MÉDIO Resolução N°2, de 30 de Janeiro de 2012, Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação e Câmara de Educação Básica.

Relatório Org Escola Básica 1

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Relatorio de org da escola básica.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGSFACULDADE DE EDUCAO FACED

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ESPECIALIZADOS - DEEANNA TEREZA HANNEL, DANIELA DAMION, PEDRO WINCKDIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO MDIOResoluo N2, de 30 de Janeiro de 2012, Ministrio da Educao, Conselho Nacional de Educao e Cmara de Educao Bsica.Porto Alegre

2014ANNA TEREZA HANNEL, DANIELA DAMION, PEDRO WINCKDIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO MDIOResoluo N2, de 30 de Janeiro de 2012, Ministrio da Educao, Conselho Nacional de Educao e Cmara de Educao Bsica.

Relatrio do Trabalho de Campo, apresentado na disciplina de Organizao da Escola Bsica, no 2 semestre, da professora Maria Beatriz Gomes da Silva.Porto Alegre, 23 de Junho de 2014.

SumrioDescrio Legislao Estudada

Anlise com base nos dados coletados

Consideraes Finais BibliografiaDescrioAs Diretrizes Curriculares Nacionais so as normas que orientam o planejamento curricular das escolas e sistemas de ensino, fixadas pelo Conselho Nacional de Educao. As diretrizes tm sua origem com o estabelecimento da Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB), criada em 1961 e atualizada pela ltima vez no ano de 1996.

As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educao Bsica visam estabelecer bases comuns nacionais para a Educao Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Mdio, sendo responsabilidade dos sistemas federal, estaduais, distrital e municipais formularem orientaes que garantam a integrao curricular das trs etapas da educao bsica para, assim, compor um todo orgnico.

As diretrizes prezam pela autonomia da escola e da proposta pedaggica, incentivando as instituies a planejarem seus currculos e projetos poltico-pedaggicos recortando, dentro das reas de conhecimento, os contedos que lhes convm para a formao daquelas competncias que esto explicitadas nas diretrizes curriculares. Dessa forma, a escola deve trabalhar esses contedos nos contextos que lhe parecerem necessrios, considerando o perfil dos alunos e o contexto poltico e social da regio em que est inserida. De acordo com o CNE, as diretrizes curriculares contemplam elementos de fundamentao essencial em cada rea do conhecimento, campo do saber ou profisso, visando promover no estudante a capacidade de desenvolvimento intelectual e profissional autnomo.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio, objeto de estudo deste trabalho, foram implementadas atravs da Resoluo N 2, de 30 de janeiro de 2012, pelo Ministrio da Educao, Conselho Nacional de Educao e Cmara de Educao Bsica, articulam-se com a LDB e tm como objetivo orientar as polticas pblicas educacionais da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios. De forma geral, as diretrizes propem um modelo de ensino que preza, principalmente, pela interdisciplinaridade e contextualizao, pela formao de alunos com pensamento crtico sobre o mundo que os cerca, pela pesquisa como mtodo de aprendizagem, de forma que seja proporcionado um processo autnomo de construo de conhecimento. AnliseAs diretrizes curriculares estabelecem diversos eixos extremamente relevantes e necessrios para o aumento na qualidade do ensino mdio pblico brasileiro e demonstram, de certa forma, que o problema da educao brasileira no se d no campo terico, no campo da legislao. A dificuldade se d, na verdade, no momento de transpor o modelo ideal, o qual se v nas diretrizes curriculares e nas demais regulamentaes da educao brasileira, para a prtica, quando as diretrizes estabelecidas so aplicadas dentro da sala de aula e no cotidiano da escola.

Essa dificuldade existe porque, em primeiro lugar, esse novo modelo de ensino mdio estabelecido muito recente, logo, as instituies ainda no conseguiram fazer uma reforma completa em seus currculos e planos poltico-pedaggicos. A Escola Tcnica Estadual Marechal Mascarenhas de Moraes, localizada no municpio de Cachoeirinha-RS, exemplo desse processo de transio. Embora a escola possa ser considerada uma exceo, pois segundo entrevista com a coordenadora Prof. Magali a escola j possua, antes das diretrizes implementadas, um projeto crtico-social e prezava pela interdisciplinaridade, ainda est, no geral, em processo de implementao desse novo modelo. Segundo a coordenadora, existem pelo menos dois aspectos onde a escola encontra dificuldades. O primeiro o trabalho coletivo entre os professores, pois, embora a interdisciplinaridade j existisse na aplicao de trabalhos para os alunos, o trabalho fora da sala de aula era feito individualmente, agora isso mudou, e o trabalho coletivo docente se torna parte essencial deste novo modelo de ensino. O segundo se refere a aceitao dos alunos desse novo modo de aprendizagem, pois os alunos que esto vivendo essa fase de transio possuem toda uma histria de vida escolar onde o modo de ensino tinha objetivos e formas de aplicao diferentes. Essas mudanas inclusive mexem com o psicolgico desses jovens e, segundo relatos, tem sido difcil para os alunos aceitarem o fim de um modelo de aula onde o objetivo era praticamente decorar os contedos, a fim de se buscar uma aprovao no vestibular, e compreenderem esse novo modelo que vai justamente na direo oposta, inserindo seminrios entre as disciplinas obrigatrias e uma interdisciplinaridade muito maior, o que vai de encontro com um novo modelo de vestibular que tambm vem se tentando implementar desde a dcada passada com a adoo do ENEM que vem se tornando cada vez mais o nico caminho para ingressar em universidades federais, fato que vem gerando muitos debates e acumulando muitas crticas.

Em segundo lugar, o que gera dificuldades para a instituio na reforma do seu modelo de ensino tambm tem relao com problemas externos a ela, pois o processo de aprendizagem no depende apenas da escola, mas sim da relao escola - Estado - sociedade. Fatores externos acabam tendo desdobramentos no interior da comunidade escolar, como a falta de investimento na educao, que acarreta na falta de professores, turmas superlotadas, infraestrutura precria e a extensa jornada de trabalho dos docentes - afinal, o ser professor no se restringe apenas aos momentos dentro da sala de aula, mas tambm na correo de provas, preparao de aulas, formao continuada, e etc. A profisso de professor vem sendo muito desvalorizada tanto social quanto economicamente e em boa parte isso se deve s condies precrias de profissionalizao: salrios, recursos materiais e didticos, formao profissional, carreira - cujo provimento , em boa parte, responsabilidade dos governos. Todos estes fatores contribuem para o sucateamento das escolas pblicas.

Ainda dentro desse contexto, h a extensa e exaustiva jornada de trabalho dos pais - fato que a realidade da maioria das famlias brasileiras - a qual gera um afastamento dos mesmos tanto do cotidiano da escola, quanto do dia-a-dia do filho, acarretando em problemas para a criana dentro da sala de aula, devido a possvel falta de apoio e incentivo vindos de casa, e da prpria falta de acompanhamento da vida escolar. Este foi um problema encontrado na escola onde foi realizado o trabalho de campo para o desenvolvimento deste relatrio, segundo a coordenadora os professores encontram dificuldade de ensinar pois os alunos no apresentam muito interesse e, segundo ela, isso se deve tambm a falta de incentivo vindo de casa. Sobre o afastamento dos pais da escola, um dos fatores que explicam este fenmeno a forma como so realizadas, hoje, as matrculas, pois no so mais feitas na escola, e sim na secretaria estadual de educao, assim, a escola perde a relao forte que possua antigamente com a comunidade onde est inserida e passa a receber muitos alunos de outros municpios e de bairros muito afastados.

A problemtica levantada sobre a famlia traz tona um debate muito interesse, pois vemos que a famlia de uma forma ou outra acaba sempre sendo a responsvel, a acusada, por muitos dos problemas educacionais e sociais existentes. O que acontece que os problemas familiares normalmente so tratados como algo independente da sociedade, como se a forma atual da famlia no fosse o resultado de um processo histrico da sociedade, o qual em um movimento dialtico influncia a forma atual de famlia e ao mesmo tempo influenciado por ela. O Estado e a famlia so resultados do processo do desenvolvimento histrico da sociedade, so resultado das relaes sociais e de produo da sociedade capitalista. importante reafirmar que a desestruturao da famlia no nenhuma novidade, e que o modelo ideal de famlia h muito tempo s existe para um setor da sociedade, s existe para as classes dominantes. isso que j dizia, em 1848, Karl Marx, em sua obra O Manifesto do Partido Comunista: Abolio da famlia! At os mais radicais ficam indignados diante desse desgnio infame dos comunistas. Sobre que fundamento repousa a famlia atual, a famlia burguesa? No capital, no ganho individual. A famlia, na sua plenitude, s existe para a burguesia, mas encontra seu complemento na supresso forada. da famlia para o proletrio e na prostituio pblica..Atualmente a famlia acaba desempenhando um papel extremamente importante na educao de crianas e jovens, sendo ao mesmo tempo causa e soluo de alguns problemas. Com a implementao da agenda neoliberal no Brasil, que levou reduo dos investimentos em polticas pblicas pelo Estado, a famlia acaba assumindo uma parcela ainda maior na educao, devido a incapacidade do Estado brasileiro em dar assistncia tanto s famlias, quanto s crianas e jovens. Sobrecarregada, ao mesmo tempo em que no tem estrutura para cumprir com tais funes, como foi levantada anteriormente, a famlia deixa para as escolas as tarefas que foram atribudas a ela, o que se desdobra tambm no acmulo de funes da escola, que tambm no tem a capacidade de cumprir tais funes, pois o investimento estatal na educao pblica tambm foi reduzido. Isso gera uma precarizao cada vez maior do ensino, pois o mesmo acaba no conseguindo cumprir com as funes bsicas do sistema educacional e ainda passa a ter funes externas a ele.

Outra questo que merece ateno e fundamental para se alcanar os objetivos idealizados de um novo modelo de ensino mdio diz respeito formao continuada dos professores. Jos Carlos Libneo, em sua obra ORGANIZAO E GESTO DA ESCOLA: TEORIA E PRTICA quando fala da identidade profissional dos professores, desenvolve a questo da profissionalidade, a qual somente possvel atravs da profissionalizao e do profissionalismo. Por profissionalizao entende-se as condies ideais que garantam o exerccio profissional de qualidade, estas condies dizem respeito s questes j mencionadas anteriormente que esto relacionadas a condies de trabalho e remunerao compatvel - as quais dependem de polticas pblicas do Estado -, mas tambm dizem respeito a formao dos professores, inicial e continuada, esta ltima, segundo Libneo, condio indispensvel para a profissionalizao e para o profissionalismo. Dentro deste contexto, cabe ressaltar a importncia do programa implementado pelo governo federal, o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Mdio, de 22 de novembro de 2013. Atravs dele, o Ministrio da Educao e as secretarias estaduais e distrital de educao assumem o compromisso pela valorizao da formao continuada dos professores e coordenadores pedaggicos que atuam no ensino mdio pblico, nas reas rurais e urbanas. Um dos objetivos o de propiciar aos docentes a reflexo sobre o currculo do Ensino Mdio, promovendo o desenvolvimento de prticas educativas efetivas com foco na formao humana integral, conforme apontado nas diretrizes em questo. Para a execuo deste programa existem seis cadernos que devem ser estudados, e na escola visitada para realizao deste trabalho os professores se encontravam justamente no estudo do caderno de nmero trs o qual diz respeito justamente s diretrizes curriculares, o que demonstra que no geral os profissionais tm buscado o conhecimento para colocar em prtica esse novo modelo de escola que vem surge. Embora esse programa seja um grande avano na gerao de docentes cada vez mais capacitados, no podemos esquecer que isso deve andar lado a lado com uma melhor valorizao da profisso, o que envolve condies mais dignas de trabalho e que toca justamente na questo da remunerao dos professores e em maior investimento do dinheiro pblico na educao.Consideraes finaisO processo de ensino e aprendizagem s completo e satisfatrio quando possibilita a relao entre a teoria e a prtica; e quando se fala na formao de professores este processo se torna ainda mais necessrio. fundamental que todo professor durante sua formao tenha contato com a realidade do ensino e das escolas, que saiba como se organizam as instituies e quais as dificuldades enfrentadas por elas. Nesse sentido, foi extremamente enriquecedora a experincia de ir at uma escola e conversar com professores, no caso deste trabalho em especfico, a respeito da aplicao das diretrizes curriculares para o ensino mdio e entender as dificuldades encontradas no momento de aplicao das mesmas.

Entendemos que a maioria das dificuldades encontradas nas escolas se d pela utilizao do Estado como ferramenta de reproduo do capital, seja formando mo-de-obra para o mercado de trabalho ou retraindo os investimentos na educao pblica, consequentemente precarizando-a, o que gera a impossibilidade de cumprir com a funo de estimular os estudantes a serem sujeitos crticos, independentes e autnomos, pois para isso extremamente fundamental condies materiais bsicas para o seu pleno desenvolvimento, seja quando falamos em sua situao familiar ou da situao das escolas. Enfim, ficou evidente para o grupo que para superar a crise na educao pblica necessrio mais que investimentos em infraestrutura. necessria valorizar a carreira de professor, dar as condies bsicas para a execuo de sua funo de forma plena dentro da sala de aula, passando principalmente por uma melhor remunerao, mas principalmente combater a desigualdade social, para que todas as crianas e jovens tenham condies bsicas para seu pleno desenvolvimento intelectual, possibilitando a formao de sujeitos crticos e tornando os alunos sujeitos no processo de apropriao e produo de conhecimento.BibliografiaLIBNEO, Jos Carlos. A Identidade profissional dos Professores e o Desenvolvimento de competncias. In: LIBNEO, Jos Carlos. Organizao e gesto da escola: teoria e prtica. 6 ed. SP, 2013. P. 67-82

MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. O Manifesto do Partido Comunista. 1848.BONDA, Jorge Larrosa. Sobre a experincia e o saber da experincia. In: Revista Brasileira de Educao. BH, Jan/abril de 2002.Uma Educao para o Sujeito. In: KUPFER, Maria Cristina. Educao para o Futuro: psicanlise e educao- So Paulo: Escuta, 2000.