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Grande é a poesia, a bondade e as danças.
Mas a melhor coisa do mundo são as crianças. ”
Fernando Pessoa
Fiquei pensando em como começar este relatório de grupo sem mencionar a
adversidade do momento e das experiências por todos nós vividos (professores,
crianças, pais e escola) diante da Pandemia instaurada.
Não há como não mencionar, há sim, de se jogar luz em medos e sombras que
nos rodeavam no início do ano.
A volta para a escola em tempos pandêmicos compunha cenários, até então,
não conhecidos e nem vivenciados por nós. Além do desconhecido, muitos
sentimentos contraditórios habitavam nossos corpos: medo, insegurança com o
risco de todas as vidas e, alegria, entusiasmo pelo retorno presencial à escola e
o convívio real dos cuidados e fazeres pedagógicos.
Diante desta perspectiva como seria voltar para a escola diante de todos os
protocolos de segurança, como realizaríamos o trabalho com crianças tão
pequenas?
Para mim, como professora desta turma, não há como separar educação,
cuidado e acolhimento.
Diante dos protocolos, acolher com distanciamento, realmente era algo
desafiador.
Relatório de grupo – 1º semestre/2021
Turma: Maternal B
Professora: Eliana Pereira Rollo
Professora auxiliar: Josiane Ferreira do Nascimento Selingardi
Coordenadora: Lucy Torres Ramos
Assim, todos nós, adultos, dentro da comunidade escolar, sabíamos o quão era
delicada a situação de zelar pela saúde e segurança de todos.
Desta forma, o desafio estava posto e diante dele penso que o comprometimento
coletivo, o bom senso e o respeito de todos os envolvidos foram atitudes
fundamentais para que atravessássemos este semestre atendendo aos
protocolos, mas, ao mesmo tempo criando um espaço escolar acolhedor e feliz
para as crianças.
E para começar, nada mais acolhedor do que nos depararmos com a galinha da
escola chocando seus ovos.
Na semana seguinte do retorno as aulas, os pintinhos já tinham saído dos ovos
para a alegria de todos.
Assim, o começo das nossas manhãs, foram marcadas pelo encontro com os
pintinhos e a galinha.
Era tchau pra mamãe e papai e bom dia para os pintinhos e mamãe galinha!
Desse modo, o processo de adaptação, nas primeiras semanas, foi
acontecendo. E por sinal, bem tranquilo, quase nenhum chororô...
Tivemos três semanas completas de aula, antes da quarentena que se iniciou
em março.
E nestas três primeiras semanas pudemos aproveitar com muita alegria e
entusiasmo o espaço verde oferecido pela escola.
Foram muitas brincadeiras no parque e em todo espaço escolar.
Ah, o parque e suas possibilidades: o céu, o vento, a água, os pássaros, as
sementes, as folhas das árvores, os gravetos, as frutas, os brinquedos de
madeira, o balanço, o riozinho, o bicho folha, a lagartinha, as borboletas, as
galinhas, as rampas, a ponte, o esconderijo, enfim... o olhar atento e a ação
curiosa da criança que encontra sentido em coisas nunca dantes reveladas!
Barriga de Pinguim
“Na área externa, em contato com os elementos naturais, viabiliza-se a
aproximação com o sol, o vento, a terra, a água, as árvores, os insetos, as flores e
demais plantas. É possível correr, esconder-se, brincar com o vento, com a sombra
produzida pelo sol e com os frutos e as folhas que caem das árvores.
Os elementos naturais remetem à brincadeira produzida em conjunto; as crianças
protagonizam suas infâncias e o meio compõe com o que for preciso, seja a partir de
uma planta nascendo no solo terroso ou uma borboleta que pousa ao lado das formigas
que trabalham. Todo esse movimento brincante precisa ser respeitado e incentivado
pelos adultos, pois há possibilidades únicas de criação e interação que estimulam a
sensibilidade e o cuidado com o ambiente que nos cerca.
(BARROS, 2014, P.59)
A Pandemia nos tirou determinados recursos e fazeres pedagógicos que
particularmente era muito utilizado por mim, como: a preparação de receitas
culinárias, o uso de fantasias e tecidos e até a tão famosa massa de modelar
não era mais possível de preparar na escola.
Assim, tivemos que reinventar novos jeitos de vivenciarmos outras experiências
e criar novas possibilidades de aguçar a curiosidade das crianças.
Uma ideia que vinha deste antes da Pandemia era a criação de um comedouro
para aproveitarmos as frutas que sobravam dos lanches coletivos que
aconteciam em toda Educação Infantil.
Pois bem, relembrei, nosso querido Dema, jardineiro e auxiliar de serviços da
escola, a vontade de construir um comedouro.
Para minha surpresa, Dema construiu o comedouro sozinho e nos presenteou
logo nas primeiras semanas.
Puxa! Foi uma alegria! Neste dia, tínhamos poucas crianças na turma.
Esta questão da oscilação das presenças das crianças na turma, também, foi
algo bem desafiador para formação do grupo e desenrolar de projetos.
Tinha semana que muitas crianças faltavam, na outra, o grupo estava completo
e assim caminhamos o semestre todo.
Sem falar do distanciamento que os encontros online causavam quando algumas
crianças não conseguiam participar destes.
Mas, isto é história para outro capítulo.
Confesso que no meu atuar pedagógico não contar com o grupo todo foi algo
difícil de lidar quando a gente pensa numa construção coletiva de conhecimentos
e ações. Quando todo sujeito é singular e ao mesmo tempo peça fundamental
num todo.
Pois bem, a realidade era esta e tinha que se adaptar a ela.
Voltemos ao comedouro.
O comedouro disparou o cuidado rotineiro para a reposição das frutas. Assim
fizemos um sorteio para escolher o ajudante do dia que iria colocar as frutas e
subir o comedouro (parte mais divertida) para os pequenos.
Dema inventou uma engenhoca com mecanismo de roldana, as crianças ficaram
enlouquecidas com o abaixar e levantar do comedouro e era muita disputa para
quem ia fazer tal ação. Assim, o sorteio foi algo justo, mas, até hoje, ainda, causa
choro e indignação em alguns alunos que estão aprendendo a esperar chegar a
sua vez.
Com o comedouro, vieram algumas questões sobre os pássaros: o que eles
comem? Qual passarinho está vindo comer nossas frutas? Passarinho tem
orelha? Como nasce o filhote do passarinho?
Estas respostas foram sendo dadas com a observação do comedouro e algumas
informações que fui trazendo ao longo do semestre.
SANHAÇO CINZENTO
Obs – O sanhaço cinzento adora comer mamão. As minhocas, eles não
comeram. As galinhas adoraram as minhocas!
Este semestre foi marcado para mim em dois momentos: antes e depois da
Quarentena.
Antes da Quarentena, tivemos poucos dias para nos reconhecermos como grupo
e também para criarmos uma rotina na escola.
Era tudo muito novo, estávamos nos adaptando as crianças e elas à nós, quando
chegou a Quarentena.
Assim, não teve outro jeito, escolas fechadas novamente.
E o que nos restava e alimentava enquanto educadores, por mais difícil e
provocador que fosse sendo professores de crianças pequenas, era a relação
educacional virtual via encontros online. Relação esta que necessitava da ação
direta dos pais, que por sua vez, também vivenciavam relações desafiadoras em
suas áreas de trabalho.
Enfim, todos no mesmo barco e as crianças dependendo de nós.
Mas, para minha surpresa, os encontros online aconteceram e foram muito
prazerosos. Era uma alegria poder rever as crianças e de alguma forma criarmos
juntos uma conexão de trocas de saberes e jeitos de enfrentarmos o isolamento
social.
Eu continuei propondo atividades relacionadas ao tema ovo e alguns alunos
começaram a apresentar certo interesse pelos dinossauros. Tema este que
também começou a ser abordado por mim diante da vontade das crianças.
Também, nos encontros online, pudemos, cada um na sua casa, nos
aventurarmos em algumas experiências culinárias! E isto foi bem bacana!
Além disso, trouxe a rotina das atividades da escola para os encontros online.
Para cada dia da semana, tinha uma atividade e uma cor para identificá-lo, era
O Calendário das Cores. Uma ferramenta pedagógica utilizada por mim, que traz
muito sentido e noção temporal para os pequenos.
Assim, o Calendário das Cores que fora algo iniciado na escola se afirmou e
perdurou nos encontros online.
Assim, na segunda (dia rosa) era o encontro com o Professor Saulo, de música.
Na terça, (dia amarelo) era encontro com a Professora Andrea, de educação
física.
Na quarta, (dia verde) era o dia da culinária e outras invenções.
Na quinta, (dia laranja) era o dia temático que, no nosso caso, foi a Caixa
Surpresa.
Na sexta, (dia roxo) era o dia da contação de história.
Passado o período de isolamento voltamos para a escola no dia 19 de abril. E lá
fomos nós, novamente, para uma nova readaptação escolar.
Algumas crianças, nos primeiros quinze dias não voltaram, continuaram nos
encontros online.
Assim, mais uma inquietação, que era dividir o momento presencial com os
encontros online. Desta maneira, foi de extrema importância o trabalho conjunto
em equipe para zelar dos cuidados presenciais com as crianças e também para
manter o vínculo dos outros alunos que continuavam em casa.
Com o novo retorno para a escola, algumas crianças sentiram mais esta nova
readaptação do que a anterior. Haviam ficado muitos dias em casa com mamãe
e papai, desse jeito, levamos mais um tempo para nos readaptar a rotina diária.
Os pintinhos de antes já tinham crescido e viviam fugindo da gente, tinham se
acostumando com o silêncio da escola.
Bem que a gente tentava alimentá-los, porém eles corriam junto da mamãe.
Os passarinhos tinham se desacostumando com as frutas, muitos dias sem
alimentá-los, eles não apareciam. Iniciamos novamente todo o processo e
paulatinamente eles foram se achegando.
Aos poucos, com as crianças mais tranquilas, na hora da entrada, passamos a
ir compondo o nosso dia a dia com a roda, momento de muita importância na
nossa escola e que é iniciada nos maternais.
Hora da roda: a hora de conversarmos, trocarmos ideias, escutarmos os colegas
e as professoras, hora da história, hora de explicarmos sobre as atividades do
dia, sobre a ausência e presença dos amigos, ouvirmos música, cantarmos,
fazermos massagem, enfim...
Algo que foi muito prazeroso para as crianças, neste momento, foi a brincadeira
inventada com a ficha dos nomes.
Com as fichas escondidas na minha mão, ia dando dicas de qual criança
pertencia a ficha, comentava sobre a cor do cabelo, o tipo de roupa ou calçado,
uso de tiaras ou cabelo solto, o gosto da criança, se tinha irmão, enfim....
Eles amavam esta brincadeira e pediam todos os dias para fazê-la!
Algumas crianças, também passaram a trazer livro e contar a história na roda.
Quando não traziam de casa, pegavam um livro da sala para contar.
Além da roda, tivemos outras experiências significativas para o grupo, como o
Dia da Biblioteca em sala.
O fato de não podermos frequentar a biblioteca da escola, inspirou em mim, a
criação da Biblioteca dentro da sala de aula.
As crianças se deleitavam com a apreciação dos livros e a contação de histórias.
“ E agora minha gente,
Uma história eu vou contar
Uma história bem bonita
Todo mundo vai gostar
Apertem o cinto que a história já vai começar! ”
A Caixa Surpresa até aconteceu algumas quintas-feiras, porém, em uma
disputa pela caixa num dia de aula, ela foi rasgada e levamos um tempo para
fazer outra junto das crianças. A confecção da outra caixa foi especial!
Entretanto, a brincadeira com a caixa não foi retomada. Ela voltará no segundo
semestre com outra proposta.
Tivemos algumas atividades plásticas regadas a muita tinta e diversão.
Eita! Que momento apreciado por este grupo!
Aconteceu o Dia do Vulcão. Inspirados no tema Dinossauro vivenciamos a
experiência da erupção do vulcão.
Este dia foi muito prazeroso. As crianças querem repetir a experiência de novo
de qualquer jeito!
O tema dinossauro foi iniciado, porém não aprofundado. Pode ser que no retorno
das férias ele volte dependendo da vontade das crianças.
Tivemos a Festa do Pijama, que foi marcada pela História: Viviana: Rainha do
Pijama.
A princípio a história veio por um vídeo do youtube e agora ela está materializada
no livro que encontramos na Turma do Jardim I. As crianças estão encantadas
com a história, ainda estamos lendo. Cada dia, aparece um convidado novo com
uma carta para a Viviana.
A história da carta fez muito sentido para as crianças, pois foi através dela que
convidamos nosso amigo Luiz para participar da Festa Junina dos Maternais.
Na verdade, antes da escrita da carta para o Luiz, escrevemos duas cartas: uma
para o Leonardo e outra para Camila.
Estes dois alunos faltaram alguns dias da escola e as crianças sentiram suas
ausências.
Como tínhamos os carteiros dentro da escola para entregar as cartas a eles,
resolvemos escrevê-las.
O processo de confecção da carta e o entendimento de quais elementos
compõem o que precisamos para que ela chegue a pessoa destinada foi
interessante para os pequenos.
Além da história da Viviana, no Dia da Festa do Pijama, também, foi uma curtição
poder vir de pijama para a escola e fazer o nosso piquenique junto com a turma
do Maternal A.
A nossa Festa Junina foi o dia mais aguardado de todo o semestre! Primeiro
porque aconteceram várias festas juninas antes da nossa, então, as crianças
estavam em polvorosa para que o Grande Dia chegasse. E segundo, porque
seria o dia que nosso amigo Luiz iria vir a escola pela primeira vez.
O contato com Luiz foi alimentado desde o primeiro dia de aula. As crianças o
conheciam pela ficha do nome e também pelos vídeos que a mãe nos enviava.
Ah! E também por alguns momentos que as crianças viam até mim durante os
encontros síncronos e davam um “oizinho” para ele.
E ele chegou! Tanto o dia, como o Luiz!
Como foi especial e divertido! Confesso que me surpreendi!
Me surpreendi com o Luiz que ficou tranquilo na escola e com a manhã gostosa
que vivenciamos!
Foi algo simples, mas preparado com muito carinho por todos da escola.
Todos mesmo. A começar dos enfeites do espaço, da lembrancinha, da música
que tocou no dia, das brincadeiras, tudo teve as mãos de toda a equipe da escola
e isto foi muito significativo.
A nossa Festa Junina é algo muito grandioso com a presença de inúmeras
pessoas e muitas famílias! É um reencontro de alunos antigos com os novos, de
pessoas que passaram pela escola e que neste dia fazem questão de vir
prestigiar a festa.
Entretanto com a Pandemia, esta festança não acontece há dois anos e é
doloroso para a gente.
Contudo, um pouquinho da sua essência esteve presente entre nós, isto foi
aconchegante e acolhedor para todos da escola!
Para os maternais foi algo do tamanho deles e foi interessante de observar.
Eles dançaram livremente, brincaram e se divertiram à sua maneira e isto
também, foi o bastante!
Os piqueniques foram momentos muito apreciados por este grupo. No início do
ano, estava calor e assim pudemos fazer muitos.
Esta turma pode brincar muito. Muito mesmo!
Brincadeiras “livres” que aconteceram em espaços e com materiais que foram
pensados por nós, professoras, ou que as próprias crianças inventaram...
Espaços estes que tinham como objetivo garantir que as crianças pudessem
criar, expressar-se, sentir-se acolhidas, respeitadas e felizes!
Barangandão Arco-Íris
Gelo colorido Varinha Mágica
Transformes
Apesar da Pandemia, estivemos presentes e fomos presença!
E isto é que conforta!
Foi um semestre diferente de todos já vividos, engessados pelas máscaras,
pelos protocolos e pelos nãos, mas, mesmo diante de tantas adversidades
construímos a nossa história, fomos acolhidas e acolhemos!
Desejo que todos tenham ótimas férias e um inverno aconchegante!
Nesta vida, podem-se aprender três coisas de uma criança:
estar sempre alegre, nunca ficar inativo
e chorar com força por tudo que se quer! ”
Leminski
“Passarinhos
Soltos a voar dispostos
a achar um ninho
nem que seja no peito um do outro”
Emicida
Referência Bibliográfica
BARROS, Aline Paes de. Espaçotempo para o brincar: organização de
espaços para o brincar e brinquedos. In: Brincadiquê: pelo direito ao brincar.
História Lidas
Abraço – Jez Alborough
Boa Noite, Lagarta Sonolenta - Patrícia Hegarty e Thomas Elliott
Bruxa, bruxa venha à minha festa – Arden Druce e Pat Ludlon
Cocô no Trono – Benoit Charlat
Dez beijinhos - Vários autores- CiranaCultural
Dia de Pinguim – Valeri Gorbachev
Eu – Janaina Yokitaka
Menina bonita do laço de fita – Ana Maria Machado
Minha professora é um monstro - Peter Brown
O Gigante mais elegante da cidade – Júlia Donaldson – Axel Scheffler
O Grúfalo – Júlia Donaldson e Axel Scheffer
O livro da mamãe – Todd Parr
O livro do adeus – Todd Parr
O livro dos sentimentos – Todd Parr
O Lobinho Bom – Nadia Shireen
O Monstro Rosa – Olga de Díos
O pássaro amarelo – Olga de Díos
O que tem dentro da sua fralda? - Genechten Guido Van
O ratinho, o morango vermelho e o grande urso esfomeado – Don e Audrey
Wood
Pato Coelho – Amy Krouse Rosenthal e Tom Lichtenheld
Pé de Passarinho – Semíramis Paterno
Pedro vira porco espinho – Janaina Tokitaka
Pintinho Piu Piu – Ciranda Cultural
Porcolino e Papai – Stephen Michael King e Margaret Wild
Quero colo – Stela Barbieri e Fernando Vilela
Rápido como um gafanhoto – Audrew Wood e Don Wood
Viviana Rainha do Pijama – Steve Webb
Cds ouvidos e sugeridos
CantaVento – Esticador de Horizontes
Cantar o mundo – Músicas e poesias para o ano todo – Elisa Manzano e Paula
Mourão
Crianceiras – Poesias de Manoel de Barros musicadas por Márcio de Camillo.
Encantoré - O que você vai ser quando crescer?
Músicas do Grupo Palavra Cantada via youtube.