43
III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM- BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 MAPUTO , 2-3 DE D EZEMBRO DE 2015

RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-

BIQUE - 2015

RELATÓRIO FINAL

JOINT – Liga das ONG´s em MoçambiqueMaputo, 2015

Maputo, 2-3 de dezeMbro de 2015

Page 2: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

2

Page 3: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

3

FIC

HA

CN

ICA Presidente do Conselho de Direcção da JOINT:

Maria Helena SibiaCoordenador Executivo: Simão TilaPonto focal: Manuel do Rosário Editor: Pedro Muiambo / MALIMU CONSULTINGRevisão: JOINTProjecto gráfico e diagramação: Pedro MutolaTiragem: 200 exemplares

Page 4: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

4

Page 5: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

5

Sumário

Nota de edição........................................................................................ 7

Nota conceptual da Conferência ....................................................... 9

JOINT - Promotora de concertações ................................................ 15

Compulsando sobre o enquadramento jurídico da sociedade civil.......................................................................................................... 17

Avaliação do ambiente propício para actuação da sociedade civil. 25

Trabalho em rede: experiências em Moçambique............................ 29

Sociedade civil na monitorização e avaliação dos acordos de paz. 35

Um olhar crítico aos mecanismos de financiamento às organiza-ções da sociedade civil.......................................................................... 39

Page 6: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

6

Page 7: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

7

NOTA DE EDIÇÃO

Pedro Muiambo(Editor)

A Conferência Nacional da Sociedade Civil é um espaço anual promovido pela JOINT - Liga das ONG em Moçambique para proporcionar a inter-acção entre as organizações nacionais e partilha de experiências visando ao fortalecimento da qualidade, relevância e cobertura das suas acções e intervenções sociais e comunitárias. Este espaço configura, em particular, uma oportunidade para busca de mecanismos e ferramentas com vista a melhorar os processos de coordenação e intervenção no sentido de promover nas OSC a boa governação, transparência, prestação de contas, participação na vida pública e eficácia na provisão dos serviços públicos. A primeira e segunda conferências foram realizadas consecutivamente

Na foto: Participantes na “Foto de família” ao fim da Conferência

Page 8: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

8

em 2013 e 2014. Na sequência, a JOINT, e os seus parceiros OREC, Fórum Mulher, FORCOM, Rede HOPEM, CESC e JUSTAPAZ, promoveram em 2 e 3 de Dezembro de 2015, na Cidade de Maputo, no complexo Kaya Kwanga, a 3ª Conferência Nacional da Sociedade Civil sob lema “Sociedade Civil e Desenvolvimento: Tendências conjunturais e desafios” com a participação de 85 delegados provenientes de todas as províncias do país, parceiros de cooperação, Governo, académicos e religiosos. O evento abordou sobretudo em exposições de temas relacionados com as acções e ambiente das organizações da sociedade civil, nomeada-mente, os desafios e o contexto político, económico e social em que elas operam, contornos e avanços; com os mecanismos de interacção entre a sociedade civil e o Governo; e com a relação com a comunidade doadora no que tange ao financiamento. A metodologia incluia debates, dinámicas de grupos e chuva de ideias.O presente relatório regista para a posteridade os momentos e imagens mais marcantes da referida 3ª Conferência Nacional da Sociedade Civil.

Page 9: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

9

Simão Tila(Coordenador da JOINT)

O direito à livre associação e participação dos cidadãos na vida política e social em Moçambique resulta da abertura multipartidária com a aprovação da Constituição de 1990. Paralelamente às eleições multi-partidárias que à luz da Constituição realizam-se num ciclo de cinco anos, outras formas de participação são determinadas pela Lei 8/91, por exemplo, os princípios do associativismo. À luz deste princípio, associações não-governamentais nacionais exercem, entre outros, o papel de vigilantes da acção governativa por via de manifestações públicas, participação nos espaços formais criados como, por exem-plo, os observatórios de desenvolvimento ao nível central, provincial e local e os conselhos consultivos locais. Estes mecanismos de partici-pação tem em vista a melhoria da prestação de serviços públicos e a prestação de contas. Está anotado que a qualidade da prestação de serviços depende do envolvimento de todos os cidadãos no controlo da tomada de decisões ou na prestação de serviços públicos (IDEA, 2010). As organizações da sociedade civil (OSC) são chamadas cada vez mais a intervir e a actual como verdadeiros watch dog da acção governativa num contexto que se anuncia a descoberta e explora-ção de recursos naturais no País. Na actualidade, os estudos levados a cabo pela JOINT e CIVICUS (Estudo ENNA - Avaliação Nacional sobre o Ambiente Propício para Actuação das OSC em Moçambique), pela DIAKONIA, FHI360, HELVETAS, KEPA e OXFAM NOVIB (Estudo sobre a Sustentabilidade das Organizações da Sociedade Civil - 2015) e, ainda, pela União Europeia (Estudo de Mapeamento das Organizações da Sociedade Civil em Moçambique - 2015), apontam todos quer para avanços quer para desafios de sustentabilidade das OSC. Um outro aspecto levantado por estes três estudos é a modalidade de financia-

NOTA CONCEPTUAL DA CONFERÊNCIA

Page 10: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

10

mento e/ou origem de financiamento versus a questão de sustent-abilidade das OSC, que determinam de forma crítica a lógica do seu funcionamento.Nos últimos 3 anos, as OSC foram se organizando em forma de re-des, plataformas e grupos temáticos, de forma a coordenarem as suas actividades, identificação de sinergias, minimização de esforços e co-ordenação de posicionamentos para advocacia. Como fruto destas abordagens, e a título exemplificativo, cumpre-nos destacar a aprova-ção em 2014 da Lei do Direito à Informação, a revisão e aprovação do Código Penal e a campanha “Maregalia” de repúdio aos excessos na proposta de Lei de Providência Social dos Deputados e do Presidente da República. De forma organizada ou não, o papel e a intervenção das OSC (plata-formas, redes, grupos temáticos, etc.) continuam fragilizados ou com pouco impacto face aos constrangimentos que enfrentam no seu dia-a-dia, com maior incidência aos de ordem financeira. Por exem-plo, Segundo o Centro de Cooperação e Acção Cultural da Embaixa-da da França (2005), das ONG a operarem em Moçambique, 12,73% são organizações parcialmente financiadas, 18,18% são autónomas e 69,09% são totalmente dependentes de fundos externos. Destes fi-nanciamentos, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) (2006), 70% do financiamento vem do estrangeiro, 25% de empresas privadas e doações familiares e 3% de fundos públicos. Para António Francisco et al (2007), esta fragilidade financeira grande e dependência aos fun-dos externos não favorecem a especialização sectorial das ONG e a sua sustentabilidade. Além destas dificuldades, António Francisco et al (2008), a maior parte das ONG enfermam de uma fraqueza institucio-nal, isto é, limitações em recursos humanos e materiais, em estratégias de desenvolvimento interno, em políticas de mobilização de recur-sos eficazes, e em clareza na missão e visão da organização e de uma agenda endógena. Face ao cenário em que as OSC vivem em Moçambique, ao seu pa-pel no desenvolvimento do país e as oportunidades de crescimento económico e desenvolvimento do País, surge a necessidade de re-

Page 11: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

11

pensar sobre os mecanismos de apoio ao fortalecimento da contri-buição das OSC. A 1ª Conferência da Sociedade Civil Moçambicana com o lema: “Sociedade Civil, Democracia e Desenvolvimento de Moçambique”, debateu e homologou o código de conduta das OSC cuja estratégia de divulgação ao nível nacional foi já concluida. Este produto junta-se aos estudos sobre a sociedade civil produzidos em 2014/2015 para servirem de pano de fundo para novos desafios, no-meadamente, tratados na presente 3ª Conferência Nacional da Socie-dade Civil (CNSC). É importante, recordar que as principais conclusões da 2ª Conferência centraram-se nos seguintes aspectos: fortalecimen-to da coordenação das OSC; necessidade de trabalho em rede; neces-sidade da realização anual das conferências da sociedade civil; relação das OSC com os doadores; e relações das OSC com o Governo.

Na foto: Simão Tila, Coordenador da JOINT, intervindo em entrevista com a media

Page 12: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

12

O lema da conferência

O lema da presente Conferência Nacional da Sociedade Civil é: “Sociedade Civil e Desenvolvimento: Tendências conjunturais e desafios”.Quer dizer, a CNSC é um espaço criado para proporcionar a interacção entre as organizações nacionais sobre a sua missão e os seus desafios e para a par-tilha de experiências e boas práticas nas mais diversas intervenções. Constitui também uma oportunidade para a procura de mecanismos e ferramentas com vista a melhorar os processos de coordenação, trabalho em rede e inter-venção cada vez mais vibrante conducentes à boa governação, transparên-cia, prestação de contas, participação na vida pública e melhorias da oferta dos serviços públicos. Em Moçambique, os mecanismos de interacção entre o Governo (nas suas variadas dimensões) e a Sociedade são amiúde contestados pelas organiza-ções da sociedade civil, como faz menção o estudo sobre a Participação da Sociedade Civil na Elaboração do PARP-2010-2014, realizado por José Adali-ma e Adriano Nuvunga. O estudo refere-se aos espaços criados e aos espa-ços inventados, que segundo os autores, são defeituosos e limitados, sendo que a sociedade civil enfrenta vários constrangimentos na sua dimensão funcional e de utilidade, de tal forma que a sua interacção com as estrutu-ras governamentais acaba sendo quase estritamente reactiva. Por seu turno, argumentam ainda os autores, estes factores vão determinar uma deficiente articulação com as províncias ou melhor, sociedade civil ao nível das provín-cias acaba ficando marginalizada dos processos. Apesar dos desafios para sustentabilidade das OSC Moçambicanas, estas têm nos últimos tempos demonstrado ser um potencial parceiro para o desen-volvimento político, social e económico de Moçambique, se atentarmos para as suas intervenções nos processos da Governação no que tange a participa-ção, monitoria e avaliação dos programas e políticas go-vernativas. De qualquer forma, é necessário mais uma vez analisar os desafios da sustent-abilidade financeira e institucional e o espaço de interacção com o Governo e comunidade doadora, para que o lema traçado possa ser efectivado da mel-hor forma possível.

Page 13: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

13

Os objectivos da conferência

O objectivo geral da 3ª Conferencia Nacional da Sociedade Civil é mel-horar a relação para o desenvolvimento entre o Governo, doadores e so-ciedade civil.Os objectivos específicos são definidos como sendo os seguintes:

1. Promover um diálogo permanente e efectivo entre a classe doa-dora, governo e organizações da sociedade civil em Moçambique; e

2. Contribuir na consolidação de uma plataforma para paz, democ-racia e desenvolvimento de Moçambique a todos os níveis (Central, pro-vincial e distrital).

Espera-se que a realização da conferência permita alcançar os seguintes resultados:

• Ter impulsionado a criação de um mecanismo de diálogo efectivo e permanente entre o governo, sociedade civil e doadores;

• Maior inclusão das OSC nos processos da governação a todos os níveis;

• Acesso à informação pública Melhorado;• Ter lançado bases para definição de mecanismos de cooperação

com a classe doadora.

Page 14: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

14

Page 15: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

15

Maria Helena Sibia(Presidente do Conselho de Direcção da JOINT)

A JOINT – Liga das ONG em Moçambique é uma pessoa colectiva de di-reito privado, sem fins lucrativos, dotada de personalidade jurídica, auto-nomia administrativa, financeira e patrimonial, criada em 2007 e oficia-lizada em 2008, com o papel de congregar as Organizações da Sociedade Civil (OSC) que se dedicam a promoção dos direitos e das liberdades dos cidadãos e promoção do desenvolvimento socioeconómico de Moçam-bique. É um fórum criado para promover a coordenação, articulação, dissemi-nação de informação e troca de experiências entre as organizações da

JOINT - PROMOTORA DE CONCERTAÇÕES

Na foto: Maria Helena Sibia, Presidente do Conselho de Direcção da JOINT, inter-vindo na conferência

Page 16: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

16

Sociedade Civil no País em assuntos ligados a promoção da boa gover-nação. Esta rede pretende reactivar os mecanismos de Informação, Formação e Comunicação das dinâmicas da Sociedade Civil Moçambicana, tornan-do-se num instrumento que valorize as capacidades organizacionais dos seus membros e está aberta à participação das OSC (associações, fóruns, fundações, organizações comunitárias de base, programas de responsa-bilidade social das empresas), nacionais ou estrangeiras.Em Moçambique, as OSC enfrentam desafios fortes relacionados com os processos de coordenação, trabalho em rede e intervenção cada vez mais vibrante conducentes a boa governação, transparência, prestação de contas, participação na vida pública e melhorias da oferta dos serviços públicos.Por outro lado, os mecanismos de interacção entre o governo (nas suas variadas dimensões) e sociedade civil são muito contestados pelas orga-nizações da sociedade civil, como faz menção o estudo sobre a Participa-ção da Sociedade Civil na Elaboração do PARP-2010-2014, feito por José Adalima e Adriano Nuvunga.A presente conferência operacionaliza o programa da JOINT para vencer os dasafios da coordenação entre as OSC e entre estas e o Governo. Este é um esforço que vem complementar as outras actividades realizadas pela organização em várias frentes, incluindo diferentes sectores e dife-rentes níveis geográficos. De salientar que esse esforço tem sido empreendido estrategicamente ao nível das províncias, com a operação dos fóruns provinciais da socei-dade civil altamente conectados com a JOINT. Mesmo assim, persistem desafios do aprofundamento da qualidade de coordenação, em todos os níveis e sectores, de uma maior integração de organizações e de uma maior actividade ao nível local, quer dizer, distrital e municipal.Consciente desses desafios, a JOINT promete tudo fazer para desenhar iniciativas inovadoras para impulsionar o contributo da sociedade civil no desenvolvimento das comunidades moçambicanas, em particular, as mais excluídas.

Page 17: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

17

I. Sobre conceitos e desafios

O recente Estudo de Mapeamento das Organizações da Sociedade Civil em Moçambique (Altair Asesores & Agriconsulting SL, 2015) diz que “a definição da sociedade civil moçambicana no contexto actual não é con-sensual”. Mas, mais adiante aponta “...não interessa ter uma definição de-finitiva de sociedade civil. Interessa sobretudo compreender a complexi-dade, o papel e as características dos elementos da sociedade civil bem como identificar as alianças adequadas para optimizar a sua influência nas políticas e nos processos de desenvolvimento”. Este apontamento do Estudo do Mapeamento parece-nos acertado. Con-tudo, surge-nos, intrigante, a observação que é feita no sentido de que a “A legislação enquadradora das OSCs, aprovada em 1991, não abrange a diversidade de tipologias e de funções das organizações actuais”. Afirma-se, no Estudo do Mapeamento, que algumas organizações da Sociedade Civil moçambicana estão, neste momento, engajadas, num processo de elaboração de uma proposta de revisão da lei a apresentar à Assembleia da República. Supôe-se, naturalmente, que seja a Lei nº 8/91 de 18 de Julho, que regula o Direito a Livre Associação. E, são igualmente indicadas, a Lei nº 23/2009 de 8 de Setembro que aprova o Regime Geral Sobre Cooperativas e a Lei nº 34/2014 de 31 de Dezembro, a Lei do Direito à Informação, como legislação importante para a Sociedade Civil. A essência deste texto radica precisamente nisto: apresentar os mar-

Eduardo Sitoe(Académico)

COMPULSANDO SOBRE O ENQUADRAMENTO JU-RÍDICO DA SOCIEDADE CIVIL

Page 18: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

18

cos, político e legal, em que se define e se enquadra a sociedade civil em Moçambique. Isto não significa que os aspectos filosóficos e teóricos levantados por outros estudos serão ignorados, apenas não são o foco desta apresentação.

II. Como funciona a Sociedade Civil em Moçambique?

A Constituição da República de Moçambique enumera no seu Título III respeitante a “Direitos, deveres e liberdades fundamentais” os seguintes comandos:

1. Liberdades de expressão e informação (artº 48) 2. Direitos de antena, de resposta e de réplica política (artº 49) 3. Conselho Superior de Comunicação Social (artº 50) 4. Direito à liberdade de reunião e de manifestação (artº 51) 5. Liberdade de associação (artº 52) 6. Liberdade de constituir, participar e aderir a partidos políticos (artº 53) 7. Liberdade de consciência, de religião e de culto (artº 54) 8. Liberdade de residência e de circulação (artº 55).

Esta é a transcrição integral do Capítulo II do Título III e refere-se, explici-tamente a “Direitos, deveres e liberdades” não incluindo, portanto, outros comandos relativos às liberdades e garantias individuais, liberdades e ga-rantias de participação política e os direitos e deveres económicos, sociais e culturais. Este é, obviamente, o marco político-constitucional que delimita o espaço da Sociedade Civil em Moçambique: aquele propiciado por este conjunto de direitos e de liberdades fundamentais. E das obrigações a eles ineren-tes, claro! A sustentabilidade política das organizações da sociedade civil em Moçambique é uma prerrogativa, diga-se é um atributo, Constitucio-nal, e não pode ser ameaçado por quem quer que seja. Diz-se no Estudo do Mapeamento que “...as OSCs operam num ambiente político em que o risco de serem marginalizadas é alto sobretudo a nível local, onde as OSCs

Page 19: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

19

estão mais expostas que nos centros urbanos”. E continua afirmando que “A sustentabilidade política tem vindo a ser reforçada através de acções conjuntas, nomeadamente via o trabalho em rede”. Provavelmente é a relevância do trabalho dessas organizações que fica fortalecida com o tra-balho em rede, ou quiçá o alcance dos seus propósitos sociais e políticos, mas certamente, não é a sua sustentabilidade política que está em causa! Outrossim, a própria Constituição permite especificação através do co-mando atinente à Liberdade de associação, para uma elaboração mais detalhada acerca dos seus contornos. E é aqui onde vale a pena retomar a Lei nº 8/91 de 18 de Julho que regula o Direito de Livre Associação, a mesma que foi considerada insuficiente no Estudo do Mapeamento.A Lei do Direito de Livre Associação estabelece um princípio geral: “Poderão constituir-se associações de natureza não lucrativa cujo fim esteja conforme os princípios constitucionais em que assenta a ordem moral, económica e social do país e não ofendam direitos de terceiros ou do bem público”.

Na foto: Momento de trabalho durante a Conferência

Page 20: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

20

A Lei estabelece ainda os requisitos necessários para que uma associação adquira personalidade jurídica, pela via do reconhecimento, designada-mente:

1. Sejam constituídas por um número de fundadores não inferior a dez; 2. Os respectivos estatutos observem o disposto na lei (e na Lei geral); 3. Comprovem a existência de meios necessários para o seu funcio-namento de acordo com os respectivos estatutos.

Outras disposições permitem, dentre outros, a filiação a Associações Es-trangeiras cujos fins sejam consentâneos com os das próprias associa-ções, a declaração de Utilidade Pública, etc. Este marco legal não abrange a diversidade de tipologias e de funções das organizações actuais, tal como assevera o Estudo do Mapeamento? Ora, este marco não trata de tipologias e funções: isso os estatutos das organizações é que estabelecem, o importante é que não entrem em contradição com o princípio geral desta Lei enunciado no seu primeiro artigo.

III. Sociedade Civil: Para além do Estado e do Mercado

O problema da Sociedade Civil em Moçambique não deriva do seu en-quadramento político e legal, pois a Constituição da República assegura os direitos e as liberdades fundamentais que criam o espaço para a ar-ticulação, agregação e representação de interesses próprios da sociedade civil. Todavia, se em termos abstractos falamos de “sociedade civil” é preciso perceber que, na realidade e, em variadíssimas ocasiões, referimo-nos a categorias mais objectivas, mais concretas, por exemplo, a organizações, entidades, a um sector, etc. E, neste caso, tendencialmente, fazemos comparações – ou destrinça – com o Estado (ou Governo, sector público) ou com o Mercado (Empresas, sector privado). Assim, podemos considerar que a “sociedade civil” cor-

Page 21: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

21

responde ao sector que se situa fora do Estado* e do Mercado. A este sói designar-se de terceiro sector. Não são os aspectos conceituais que interessa aqui realçar, mas as condições aí apontadas e que definem uma organização do terceiro sec-tor [esta uma caracterização adoptada pelo PNUD/1996]:

1. Constituir formalmente a organização; 2. Assegurar o seu carácter não-governamental; 3. Ter uma gestão própria; 4. Prosseguir fins não lucrativos; 5. Envolver um significativo esforço voluntário; 6. Produzir bens e/ou serviços de uso colectivo.

As organizações que preenchem o espaço do terceiro sector são as tais entidades da sociedade civil que, na origem, são iniciativas privadas, mas com fins públicos e não lucrativas, caracterizadas pela ênfase na partici-pação voluntária e no activismo social.

Na foto: Ana Renieri, em representação do grupo de doadores, respondendo sobre a criacao do espaco de dialogo SC - Doadores.

Page 22: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

22

Fica evidente, nesta breve enumeração, que as condições definitórias de uma organização do terceiro sector não são incongruentes com os requi-sitos legais para a reconhecimento de uma associação em Moçambique. O Estudo do Mapeamento alude a organizações “... do “sector privado”, profissionais e as com filiação partidária...”. É difícil decifrar, na totalidade, o que se pretendia com esta anotação, mas deve ficar claro que a par-ticipação no espaço da sociedade civil em Moçambique não pode ser limitada por vontade arbitrária de quem quer que seja, contrariando a Constiuição da República e a Lei. A pertença ao espaço da sociedade civil em Moçambique, ou a participação em actividades da sociedade civil em Moçambique é acima de tudo, um exercício de cidadania, e até um acto soberano!

Primeiro: Todos nós temos a consciência de que o Estado que se ergue no nosso País é simultâneamente poderoso e débil. É poderoso porque é uma arena de acumulação, sobretudo numa etapa de arranque tardio e caótico do processo capitalista avançado. Débil porque é um corpo ir-relevante para a maioria dos cidadãos do País: incapaz de providenciar protecção contra a morte gratuita, segurança contra a fome e a doença e o próprio Estado, amiúde, à beira do colapso. Segundo: As estatísticas de Moçambique relativas à distribuição da população economicamente activa por posição no processo laboral (IOF 2008/9) são cruelmente cristalinas: cerca de 90 % da população economi-camente activa, em Moçambique, trabalha por conta própria, sem remu-neração. Os 10% restantes, dividem-se entre o sector privado, Governo e ONGs. Nestas circunstâncias são muitas as pessoas que recorrem a outras insti-tuições sociais para além do Estado e do Mercado para encontrar alterna-tivas de sobrevivência e de protecção. Daí que as Igrejas, as redes comu-nitárias, as filiações de base sociodemográfica e outras têm sido usadas como pontos de agregação para o germen de entidades que configuram o terceiro sector, ou o também chamado espaço da sociedade civil.

Page 23: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

23

IV. Desafios

Para quem vive o dia a dia de uma organização da sociedade civil em Moçambique, não é difícil falar dos seus desafios: como nos organizamos, internamente, para gerir os escassos recursos – que os outros nos dão – para produzir resultados válidos, aproveitando a esperiência e os con-hecimentos acumulados dos que nos acompanham nestes processos, servindo-nos também como fonte de aprendizagem e de vida, também profissionalmente. Atrás ficou dito que o terceiro sector, serve sobretudo para suprir as fal-has do Estado e do Mercado no atendimento às necessidades primordiais das pessoas. Ficou igualmente indicado que, em Moçambique, o Estado e o Mercado só absorvem 10% da população economicamente activa no País. E os demais de que vivem? Como vivem? Os recursos escassos são

Na foto: Da esquerda para a direita, painel constituído pelos representantes do PNUD, OXFAM-NOVIB, Embaixada da Suècia e o moderador

Page 24: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

24

o desafio maior da sociedade civil em Moçambique; e com eles a luta de-senfreada pelo seu controlo. Isto influencia o funcionamento dos órgãos internos de muitas organizações bem como as lógicas disfuncionais de muitas redes que se constituem para prosseguirem fins comuns. Os re-cursos aqui referidos não são exclusivamente financeiros, são igualmente, materiais e tecnológicos – estes últimos ligados ao know-how, ao saber fazer. Por exemplo, organizações de advocacia e lobbying, não basta ter-em recursos financeiros bastantes, devem saber com quem dialogar e a que níveis e onde para que a sua acção tenha o resultado esperado. Quiçá numa dimensão mais positiva o desafio da sociedade civil em Moçambique é assumir-se como uma transcendência, quer do Estado, quer do Mercado, por oferecer um espaço alternativo de gestão partici-pativa, dialógica, de desenvolvimento da cidadania, sobretudo neste mo-mento em que o País vive períodos de tensão política séria.

Page 25: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

25

O estudo sobre a “Avaliação Nacional sobre o Ambiente Propício para a Actuação (EENA)” das Organizações da Sociedade Civil (OSC) em Moçam-bique, avaliou o ambiente propício em sete dimensões, nomeadamente: (1) Formação; (2) Operação; (3) Acesso a Recursos; (4) Expressão; (5) Re-união Pacifica; (6) Relações entre o Governo e a Sociedade Civil; e (7) Tribu-tação.

1. Formação: Em Moçambique, as OSC são formadas a coberto da Lei 8/91 de 18 de Julho, que regula o direito a livre associação, com base no nº 1 do art. 76 da Constituição da República de Moçambique (CRM) de 1990 e art. 78 da CRM de 2004, actualmente em vigor. Constata-se porém que a mesma não facilita o acesso ao registo havendo um número considerável de OSC, principalmente ao nível local, que por razões desenvolvidas nos capítulos seguintes, não conseguem ter acesso ao registo definitivo. O facto da Lei 8/91 não ter sido regulamentada para este aspecto especí-fico relacionado com os procedimentos e requisitos de acesso ao reg-isto, contribui para esta situação. Por outro lado, ao conceder o mesmo tratamento a todas as OSC e ao não considerar a sua natureza, âmbito e diversidade, a Lei 8/91 apresenta-se descontextualizada do actual nível de desenvolvimento do país e das próprias OSC. Contudo, não existem sérios obstáculos ao processo de formação e registo das OSC/associações em Moçambique. O quadro legal é, em geral, funcional e relativamente aberto à criação e registo de OSC, mas existem desafios importantes na sua implementação.

Albino Francisco(ROSC)

AVALIAÇÃO DO AMBIENTE PROPÍCIO PARA AC-TUAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL

Page 26: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

26

Na foto: Grupo de trabalho “Estratégia de trabalho em rede” liderado por Ericino de Salema

2. Operação: As OSC em Moçambique têm a liberdade de operar e in-tervir nas diferentes áreas de actividade desde que estas estejam em con-sonância com a Constituição da República. Embora o quadro legal para a operação das OSC/associações em Moçambique esteja estabelecido, a sua implementação prática mostra que existe uma tendência de controlo das OSC por parte do Governo. Nos últimos três a cinco anos, têm sido reportados casos em que governos provinciais ou distritais intimidam ou bloqueiam actividades de OSC.3. Acesso a Recursos: Constatou-se nesta dimensão, que não existe em Moçambique, legislação específica que regula a forma como as OSC acedem aos recursos financeiros para o seu funcionamento. A Lei 8/91 é omissa em relação a este aspecto, o que é favorável para as OSC. No en-tanto, outra legislação em vigor como a Lei 4/94, de 13 de Setembro, de-nominada Lei do Mecenato, que regula o acesso a doações, como fonte de recursos, e o Decreto 37/2000, de 17 de Outubro, limitam este acesso às OSC/associações que requerem a declaração de utilidade pública. Isto é, apenas as OSC/associações que demonstrem prosseguir fins de inter-

Page 27: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

27

esse nacional, comunitário e que cooperem com a Administração Pública na prestação de serviços tem direito a declaração de utilidade pública. Por outro lado, o acesso as diferentes fontes de financiamento existentes é condicionado pela falta de registo das OSC devido a sérias condicio-nantes. Assim, esta dimensão conclui que o ambiente para o acesso aos recursos pelas OSC/associações não é favorável.4. Expressão: A principal constatação é que existe em Moçambique um quadro legal favorável ao exercício da liberdade de expressão e opinião por parte do cidadão, OSC e órgãos de comunicação social independen-tes. Contudo, a prática mostra que existem serias limitações no exercício destes direitos, caracterizadas por ameaças provenientes de fontes anóni-mas, aos diferentes níveis.5. Reunião Pacífica: Nesta dimensão, constatou-se a existência de um quadro legal favorável ao exercício do direito a liberdade de reunião e manifestação pacífica, que no entanto não é adequadamente implemen-tado e respeitado na prática, inibindo o cidadão e as OSC de exercerem livre e abertamente esse direito. Na prática, o ambiente para o exercício do direito a liberdade de reunião e manifestação pacífica não é favorável para a actuação das OSC em Moçambique. 6. Relações Estado/Governo e OSC: Nesta dimensão constatou-se que as relações entre o Estado/Governo e as OSC são operacionalizadas com base na Constituição da República (CRM, 2004), no espírito da participa-ção do cidadão e das organizações sociais no processo de democratiza-ção e na vida política do país. Esta participação das OSC em actividades de políticas públicas, não está, no entanto, explicitamente prevista em Lei específica, mas o Estado e o Governo tem criado e estabelecido espaços de participação onde as OSC dialogam e influenciam processos de to-mada de decisão. Nesta dimensão, apontam-se como principais fraquezas e desafios o cli-ma de desconfiança que tem caracterizado as relações entre o Governo e OSC no seu todo, embora haja exemplos encorajadores de progressos alcançados no fortalecimento destas relações. 7. Tributação: A principal constatação desta dimensão é que as OSC em Moçambique são consideradas sujeitos passivos do imposto e, por isso,

Page 28: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

28

elas devem o pagamento de impostos ao Estado. Contudo, elas são en-quadradas em Lei específica, que as diferencia das outras pessoas colecti-vas com fins lucrativos. Considerar todas as OSC, independentemente da sua área de intervenção, como organização de utilidade pública seria um passo importante para o fortalecimento e sustentabilidade das próprias OSC. O estudo conclui que, com base na análise do quadro legal e da percep-ção sobre a sua prática, permanecem sérios desafios na intervenção das OSC em Moçambique. Embora em algumas dimensões o ambiente legal e prático é mais favorável do que em outras, em geral o ambiente não pode ser considerado propício, recomendando: • A revisão da Lei 8/91, a Lei das Associações, adequando-a aos actuais

desafios de desenvolvimento das OSC e do país de forma a permitir o acesso simplificado ao registo a todos os níveis e facilitar a operação efectiva das OSC;

• A criação de uma arquitectura de financiamento mais equitativa para as OSC, que alivie a dependência dos fundos externos e permita o acesso aos fundos públicos internos;

• Tornar a legislação em vigor sobre a liberdade de expressão e de re-união pacífica efectivamente conhecida e implementada em confor-midade, garantindo o respeito pelos direitos dos cidadãos e das OSC em geral;

• A criação de um ambiente político que garanta a participação efec-tiva das OSC nos processos de governação aos diferentes níveis;

• Estabelecimento de um sistema tributário mais justo e adequado ao contexto real de operação das OSC em Moçambique.

Page 29: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

29

Benilde Nhalivilo (FORCOM)

Rede é uma parceria aberta entre entidades, organizações privadas, or-ganizações públicas estaduais e municipais, ONG’s, lideranças e volun-tários para potencializar as acções e realizar projectos comuns.Parceria é a elaboração conjunta, por duas ou mais organizações sociais em um determinado projecto que seja coerente com as missões destas organizações. Uma parceria só funciona quando todos têm claro sua missão institu-cional e os interesses comuns que os unem, consolidados em projectos, preservando suas identidades e diferenças mas agindo de maneira inte-grada e colectivamente para a concretização dos objectivos esperados.As redes intra-organizacionais são controladas por um órgão ou uni-dade central (figura 1). Nesse caso estamos nos referindo a ligações, pois neste órgão director são formuladas as políticas de atendimento e sua implantação também é controlada por este. São exemplos desta forma de organização: o sistema público de ensino, o sistema único de saúde, etc.Já as redes inter-organizacionais são aquelas que não têm um núcleo, nem centro ou unidade articuladora ou controladora. A forma ideal para esta rede de relações institucionais terá que constituir-se de um grupo de organizações que estabelecem relações entre si sem depender de uma instância diferenciada de poder ou de decisão, a menos que esta seja criada a partir da representação de todas as organizações. Os fóruns de entidades sociais podem ser entendidos como unidades articulado-ras das redes.

TRABALHO EM REDE: EXPERIÊNCIAS EM MOÇAMBIQUE

Page 30: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

30

Características do trabalho em rede

As redes pressupões um conjunto de características, a saber:• Complementaridade: Baseia-se na afirmação que nenhuma or-

ganização, por maior ou mais eficiente que seja, conseguirá at-ender todas as necessidades sociais de um grupo ou causa, sem complementar sua actuação com acções executadas por outras instituições.

• Colaboração: Está implicada com a ideia de divisão do trabalho e de responsabilidades, mas queremos vai também um pouco além. Por isso, faz-se imprescindível a colaboração não só para dividir trabalho. Apoio ou ajuda mútua é condição fundamental para que as organizações ampliem sua legitimidade social e pos-sam superar com mais facilidade suas dificuldades técnicas, finan-ceiras, metodológicas ou operacionais.

• Articulação / Integração: Acções articuladas só serão possíveis se planejadas previamente e se todos os envolvidos assumirem co-responsabilidade por um plano comum. Devem ser compartil-hadas, não só as informações e responsabilidades, mas principal-mente os objectivos e resultados das acções propostas.

Pensar em Rede é pensar que entidades isoladas por si só não con-seguem atender o público-alvo em suas necessidades. Logo a Rede vem para complementar estas acções que devem ser desenvolvidas de forma articulada e compartilhada, mas para chegar a esse estágio é necessário que haja mobilização contínua das enti-dades envolvidas.

Procedimentos para tecer um trabalho em rede

Os procedimentos para tecer um trabalho em rede incluem os se-guintes:• Ter um diagnóstico das situações a serem trabalhadas em parce-

rias;

Page 31: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

31

• Definir o perfil do parceiro necessário (compromisso com a causa e competência técnica);

• Saber o interesse do potencial parceiro;• Desenvolver processo de reflexão, com os parceiros, sobre o trab-

alho em Rede;• Planificar a acção em conjunto com as instituições envolvidas

(objectivos, metas, responsabilidades, procedimentos no atendi-mento, etc.);

• Definir o que compete a cada entidade dentro da parceria/ re-sponsabilidades (proposta metodológica);

• Ter claro o resultado esperado com a parceria - impacto da acção em rede (cada programa desenhar os resultados esperados);

• Desenhar a metodologia/ critérios de avaliação e monitoramento nos vários graus de parceria, considerando as dificuldades e bus-cando alternativas para melhorar;

• Definir reuniões periódicas entre as entidades parceiras para anal-isar o atendimento dado ao educando (educadores com educa-dores);

• Definir reuniões periódicas entre as entidades envolvidas para avaliar o desenvolvimento da parceria (coordenadores/ gerentes com coordenadores;

• Reflectir se há limite na abrangência geográfica das parcerias/ rede (micro e macro);

• Criar mecanismos de comunicação entre as instituições envolvi-das (informatização);

• Dividir responsabilidades internas (gerentes, educadores e out-ros).

Vantagens do trabalho em rede

O trabalho em rede apresenta as seguintes principais vantagens:• Permite a construção e a implementação de ações intersectoriais;• Cria um caminho de diálogo entre os diferentes campos e esferas.

Dessa forma, cada organização-integrante pode contribuir com o

Page 32: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

32

seu saber, fortalecendo as ações comuns. A Rede, por sua vez, se torna um espaço de diálogo plural e diverso, tanto no âmbito da produção de conhecimentos quanto no âmbito;

• Trabalho mais qualificado, enquanto canaliza competências e di-versidades; e

• Trabalho mais eficaz - aumenta as possibilidades de alcance dos objectivos.

• Mais abrangente - porque o limite de recursos, de alcance geográ-fico e temático, de resultado na relação trabalho-e-tempo, se não é superado, ao menos é limitado em suas consequências pelo tra-balho em rede, porque a articulação ou coordenação optimiza o investimento e os resultados.

Desafios do trabalho em rede em moçambique

Obviamente, o trabalho em rede apresenta alguns desafios para pod-er produzir os efeitos virtuosos que lhe são associados:• Lidar com a “competição” ou divergência na realização de um mes-

mo trabalho;• As Redes não recebem contribuições financeiras de seus membros

e nem apoiam com recursos financeiros as organizações. Dessa forma, a captação de recursos é um grande desafio que as Redes enfrentam para garantir a sua sustentabilidade;

• Lidar com as diferentes perspectivas para chegar a consensos do que seria prioritáriaBottom of Form;

• A conjugação entre o trabalho em rede e o trabalho rotineiro de cada organização;

• O investimento em termos de humanos, tempo, recursos finan-ceiros, recursos tecnológicos, etc.

• A Governação e gestão interna que inclui o funcionamento dos Órgãos Sociais e do Executivo, a separação de poderes, a transpar-ência e a angariação de recursos.

Page 33: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

33

Lições do trabalho em rede em moçambique

Uma parceria só funciona quando todos têm claro sua missão institu-cional e os interesses comuns que os unem;Para que uma parceria seja bem-sucedida é preciso definir procedi-mentos e dividir responsabilidades para reduzir os conflitos buscando ampliar os consensos. Para isto é preciso confiança e legitimidade en-tre os envolvidos com espírito democrático e lideranças seguras que possam conduzir a consensosActuar em Rede é um desafio que exige flexibilidade para saber ar-ticular os recursos humanos, financeiros, materiais e organizações ex-istentes para o benefício de todos É preciso traçar o perfil das entidades que poderão, com seu compro-misso com a causa e sua competência técnica, contribuir na resolução do problema com o público alvo. Nesta fase estaremos traçando as perspectivas do trabalho em conjunto.

Na foto: Momento de debate na Conferência

Page 34: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

34

Para que uma parceria seja bem-sucedida é preciso definir procedi-mentos e dividir responsabilidades para reduzir os conflitos buscando ampliar os consensos. Para isto é preciso confiança e legitimidade en-tre os envolvidos com espírito democrático e lideranças seguras que possam conduzir a consensos.Actuar em Rede é um desafio que exige flexibilidade para saber ar-ticular os recursos humanos, financeiros, materiais e organizações existentes para o benefício de todos os atendidos (população alvo: criança e adolescente em situação de rua e suas respectivas famílias).

Page 35: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

35

SOCIEDADE CIVIL NA MONITORIZAÇÃO E AVALIA-ÇÃO DOS ACORDOS E FUNDOS DE PAZ

Trabalho em grupos facilitado por Simão Nhambi

(Académico)

Inserido na 3ª Conferência Nacional da Sociedade Civil, o Painel 2 tinha por objectivo reflectir sobre o nível de envolvimento da Sociedade Civil nos processos de Monitoria e Avaliação dos acordos e do Fundo de Paz, instituídos na sequência dos Acordos firmados entre o Gov-erno de Moçambique e o partido RENAMO a 5 de Setembro de 2014, sobre a Cessação das Hostilidades Militares.Para lograr o objectivo supramencionado, foram convidados como oradores deste painel, representantes de diferentes instituições-chave, isto é, aquelas que de forma directa ou indirecta jogam papel prepon-derante, quer no que diz respeito aos acordos, quer no que diz res-peito ao fundo instituído. Constavam da lista dos oradores convidados, representantes das se-guintes instituições:

1) Ministério dos Combatentes;2) Fundo da Paz;3) Partido FRELIMO;4) Partido RENAMO;5) Partido MDM;6) Parceiros de Cooperação (G19);7) Confederação das Associações Económicas (CTA), em repre-sentação do Sector Privado;8) JUSTAPAZ, em representação da Sociedade Civil.

Até a hora marcada para o arranque dos trabalhos referentes a este painel,

Page 36: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

36

nenhum dos oradores se fazia presente, facto que obrigou a organização a reformular o formato de abordagem do tema proposto. Assim sendo, o Mestre de Cerimónias da conferência, senhor Pedro Muiambo, convi-dou ao Moderador, senhor Simão Nhambe, para assumir a liderança da reflexão em torno do tema do painel. De seguida apresentamos os principais resultados deste exercício de re-flexão conjunta.

Sociedade Civil versus Monitoria dos Acordos e Fundos de Paz

A reflexão girou em torno de apurar sobre como a Sociedade Civil poderia contribuir para que o fundo de Paz seja efectivamente abrangente, isto é, como monitorar o trabalho do Governo nesta vertente para promover a devida relevância?O Moderador sugeriu que fosse feita uma reflexão em grupos, voltada para as seguintes questões:

• Quais são os objectivos do Fundo de Paz?• O grupo alvo beneficiário do fundo, será o ideal?• Quais devem ser as verdadeiras causas do conflito em Moçam-

bique?• Que soluções podem ser apropriadas ao conflito em Moçambique?

Síntese dos resultados da reflexão em grupos

Sobre os objectivos do Fundo de Paz, os grupos consideram que o Fundo visa:• Responder a necessidade de inserção social e económica dos ex.

combatentes com vista a promover a harmonia e estabilidade social e política em Moçambique;

• Assegurar a inclusão social e económica com vista a uma paz dura-doira;

• Motivar, reconciliar e inserir social e economicamente os ex-comba-tentes;

• Assegurar a paz efectiva em Moçambique.Sobre o grupo-alvo beneficiário do Fundo, os grupos divergiram, sendo

Page 37: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

37

as tendências predominantes as seguintes:• Sim, os ex. combatentes são a escolha acertada como grupo bene-

ficiário, pois, o fundo foi criado no contexto das hostilidades militares, para oferecer aos envolvidos a inserção na vida social e económica;

• Sim, mas além dos ex. combatentes há outros grupos que sofreram os efeitos da guerra, daí que o fundo deveria contemplar esses outros grupos;

• Apesar dos ex. combatentes deverem ser os beneficiários, as OCS que desenvolvam actividades em prol daqueles, poderiam ter acesso ao fundo para essas actividades;

• Não os ex. combatentes não são o grupo alvo ideal, pois, são os pro-tagonistas da violência e quem sofre os efeitos disso são os cidadãos indefesos e são estes que necessitam de apoio para se refazerem dos efeitos da guerra.

Sobre as causas do conflito, os grupos apontaram as seguintes:• Divergências em torno da implementação do AGP e dos resultados

eleitorais de 2014 (o que se pode resumir em problemas no funciona-mento das instituições);

Na foto: Reflexão sobre “Sociedade Civil versus Monitoria dos Acordos de Paz” liderando por Simão Nhambi

Page 38: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

38

• Violência estrutural e a incapacidade do Estado em prever e prevenir conflitos;

• Exclusão de alguns extractos sociais.

Sobre as possíveis soluções do conflito em Moçambique, foram avança-das as seguintes ideias:• Introdução de reformas estruturais e instituição de um modelo de in-

tegração inclusivo;• Envolvimento da Sociedade Civil nos diferentes processos tendentes

a busca da Paz;• Desmistificar a questão dos recursos;• Criação de políticas públicas que respondam aos anseios da popula-

ção;• Proactividade na criação das leis e não na base ad-hoc.

Considerações finais

O sentimento manifesto é de que embora os objectivos do fundo estejam claramente definidos, na sua aplicação prática, certos grupos poderão sentir-se marginalizados e consequentemente longe de promover a es-tabilidade poderá gerar mais conflitos. Prova disso é que até aqui, os ex. guerrilheiros na RENAMO têm estado a boicotar o Fundo.Quanto aos beneficiários do fundo, o associativismo é visto como sendo o veículo mais apropriado para a canalização dos fundos e o desenvolvi-mento de projectos em benefício dos grupos mais afectados, podendo ser ex. combatentes e cidadãos que sofreram os efeitos das hostilidades militares.Em relação as causas e possíveis soluções do conflito o fortalecimento e funcionamento plena das instituições, bem como a instituição de políti-cas públicas voltadas a satisfação das necessidades dos cidadãos, são os alicerces para uma estabilidade social, económica e política do País.

Page 39: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

39

OLHAR CRÍTICO AOS MECANISMOS DE FINANCIA-MENTO ÀS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

Trabalho em grupos facilitado por Hortêncio Lopes (Activista social)

O grupo de trabalho que se dedicou a análise do tema sobre finan-ciamento às OSCs chegou as seguintes conclusões:

1. Em relação a canalização directa de financiamentos às OSC pe-los doadores, em particular, os internacionais, foram detectados os prin-cipais grandes problemas: • Assimetria da informação entre as OSC, em detrimento das mais pequenas e mais afastadas dos grandes centros urbanos; • Valores mínimos muito acima da capacidade de absorção orça-mental das pequenas OSC; • Dependência disfuncional das Organizações Comunitárias de Base em relação as OSCs, como no caso do programa Agir em que tem financiamento indirecto; • Exigências grandes e despegadas da realidade das OSC; • Demasiada centralização, privilegiando as organizações local-izadas mais próximo da cidade de Maputo; • Não existe explicação das razões do chumbo das propostas de projecto para propiciar a aprendizagem; • Imposição de agendas dos doadores internacionais.

2. Quando se trata de canalização de fundos através do Governo registam-se os seguintes problemas: • As OSC que criticam o governo não recebem nada

Page 40: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

40

• Sofre das ineficiências próprias do Estado • Baixa transparência • Não existe explicação das razões do chumbo do projectoQuando o financiamento é realizado através de organizações hospedei-ras, os principais problemas que surgem são: • Demora no desembolso • Não existe explicação das razões do chumbo do projecto • Não cobrem todo o território • Imposição de agendasOs financiamentos oferecidos pelas empresas nos seus programas de re-sponsabilidade social enfermam dos seguintes problemas: • Não se pode fazer pressão a empresa que nos financia • Não existe explicação das razões do chumbo do projecto • Não tem competências de trabalho comunitário

Fundo Nacional de Financiamento às OSC

As OSC participantes propuseram a criação de um Fundo Nacional Comum de Financiamento às OSC, por entenderem que o mesmo apresenta as se-guintes vantagens: a) Vantagens: Facilitar o acesso aos fundos as organizações da socie-dade civil; e a capacitação institucional b) Origem dos fundos: doadores, governo, empresas, singulares c) Entidade jurídica: Fundo autónomo e independente d) Membros na governação: SC e empresas e) Formato: que seja capaz de hospedar as agendas diferentes dos doadores f ) Metodologias: • Integrar virtudes dos mecanismos actuais, por exemplo, capacita-ção institucional; • Mentoring as OSC pequenas para produzir o projecto • Desdobra-se em fundos provinciais e locais g) Prestação de contas: Assembleias e auditorias independentes h) Road map: Base de dados; Pilotagem máximo 5 anos

Page 41: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

41

Respostas dos doadores (Uniao Europeia e PNUD) Os representantes da União Europeia, OXFAM e do PNUD, presentes na conferência, reagiram à análise e propostas avançadas pelas OSC nos tra-balhos de grupo, com as seguintes colocações: 1. As preocupações apresentadas coincidem com os resultados do Estudo de Mapeamento das OSC realizado. 2. A União Europeia – tal como outros doadores - está a trabalhar no sentido de acautelar as preocupações pertinentes e possíveis de acaute-lar. 3. Em relação as exigências, as OSC devem adaptar-se. É assim como os estados doadores funcionam. Tem que explicar o uso dos fundos e por isso impõem regras. Houve no passado experiências muito negativas por não terem sido incluídas essas exigências- 4. Infelizmente, os doadores não podem abarcar todos os sectores. Cada doador opta por determinados sectores. O direccionamento dos fundos para determinados sectores é resultado das opções estratégicas dos doadores com base em acordos bilaterais ou multilaterais com os governos apoiados. De qualquer forma, o quadro geral dos doadores in-dica que existem doadores para quase todos os sectores relevantes para a realidade moçambicana. 5. Detectamos a marginalização das OSC de base e daquelas que fi-cam nas províncias. Isso também depende da nossa capacidade de moni-torar. 6. No caso da Uniao Europeia, para as propostas de financiamento, nos colocamos sempre a exigência de uma OSC grande (por exemplo, in-ternacional) fazer sempre parcerias com as OSC e OCB para transferir-lhes capacidades. 7. No ultimo call, fixamos claramente, que 70% dos fundos irão para fora de Maputo. Inclusive, planeamos alguns encontros de esclarecimen-tos sobre os calls nas províncias 8. O PNUD esta a prepara o seu plano para os próximos anos. De qualquer forma, decerto que não irao abarcar tudo. Mas irao ter em con-sideração os resultados do Estudo de Mapeamento das OSCs e os resulta-

Page 42: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

42

dos da Conferencia da Sociedade Civil anterior; 9. Quanto a falta de resposta sobre as razoes de chumbo, é preciso perceber que recebem muitas propostas e é complicado elaborarem res-postas para cada caso. Mas sempre deixam em aberto que quem quiser se informar pode contacta-los; 10. Em relação ao Fundo Nacional de Financiamento, registam e acol-hem a ideia, mas tudo aponta que se trata de um mecanismo muito com-plexo. Seria interessante que a Sociedade Civil elaborasse mais a ideia, com estudos e consensos, e submetesse aos doadores; 11. Acima de tudo, o factor essencial para muito dos problemas entre os doadores e as OSC é a desconfiança que resulta da falta de transparência e boa governação nestas últimas.

Diálogo entre Sociedade Civil e o Governo Em relação a este assunto, houve uma intervenção do Governo, por parte de um representante do Ministério da Economia e Finanças, o senhor Au-late de Almeida, que dentre vários aspectos considerou:dos e consensos, e submetesse. 1. A existência de espaços formais de participação da Scoiedade Civil nos processos de governação, como os observatórios de desenvolvimento a nívelcentral e conselhos consultivos a nível local; 2. Reconhecimento da existência de desafios de carácter burocrático e processual no processo de comunicação e interacção que devem ser ultrapassados.Por seu turno, a SC reconheceu o valor dos espaços formais referidos pelo representante do Governo tendo destacado os desafios para a sua partici-pação efectiva nos processos de diálogo por conta da baixa e não atem-pada partilha de informação. Foi enaltecida a abertura de ambos os actores em reinventar os espaços existente e criar espaços alternativos.

Page 43: RELATÓRIO FINAL · 2018-06-22 · III CONFERÊNCIA NACIONAL DA SOCIEDADE CIVIL EM MOÇAM-BIQUE - 2015 RELATÓRIO FINAL JOINT – Liga das ONG´s em Moçambique Maputo, 2015 Maputo,

43

JOINT – Liga das ONGs em Moçambique, Maputo, 2015

Parceiros

Doadores

(Rua Vila Namuáli, nº. 130, R/C, Telefone fixo: (+258) 21417647; Celular. (+258) 84 554 4637, Maputo-Moçambique)