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Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS 1 Relatório Projeto Vozes da Paz

Relatório Projeto Vozes da Paz - Publicação · Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS 4 1. Introdução O presente relatório apresenta

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Relatório Projeto Vozes da

Paz

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Participação

Diálogo

Cooperação

Voz

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Sumário 1. Introdução.......................................................................................................... 4 2. Origem do Projeto Vozes da Paz................................................................... 5 3. Estratégias de elaboração e execução do Projeto .................................... 6 4. Fases de execução do Projeto ...................................................................... 8

4.1 Sensibilização da Comunidade Escolar.................................................... 8

4.2 Capacitação dos membros do Círculo da Paz...................................... 14

4.3 Atuação dos membros do Círculo da Paz .............................................. 16

4.4 Avaliação parcial do Projeto em 2013 ..................................................... 17

4.5 Inserção de novas escolas ........................................................................ 20

4.6 Atividades desenvolvidas pelos Círculos da Paz ................................. 21

4.6.1 Escolas que não permaneceram no Projeto ................................... 21

4.6.2 Escolas que permanecem no Projeto em 2014 .............................. 22 5. Resultados alcançados no Projeto............................................................. 33 6. Avaliação do Projeto...................................................................................... 37

6.1 Resultado Pesquisa Grupo Focal............................................................. 38

6.2 Avaliação das atividades realizadas nas Escolas................................. 40 ANEXO I – Relatório de Pesquisa Qualitativa Projeto Vozes da Paz – biênio 2013/2014..................................................................................................... 44

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1. Introdução

O presente relatório apresenta informações referentes ao Projeto Vozes da Paz. Essas informações contemplam a origem do Projeto, as

estratégias de sua elaboração, de sua execução e respectivas fases, os

resultados alcançados, a pesquisa de impacto social e a avaliação do Projeto.

Este relatório compreende as atividades desenvolvidas no período de outubro

de 2012 a dezembro de 2014, na modalidade de experiência piloto.

O Projeto Vozes da Paz parte do princípio de que a violência

escolar é um fenômeno complexo e transversal que extrapola os limites das

relações interpessoais. Ela não se restringe aos conflitos entre alunos e está

presente entre todos os segmentos do universo escolar: corpo docente,

funcionários, direção, entes estatais afins, pais e comunidade.

Na medida em que se amplia a perspectiva do fenômeno da

violência, as políticas públicas para enfrentá-la devem, da mesma forma,

veicular um conceito ampliado de paz que, segundo a Organização das Nações

Unidas para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO, não é meramente

ausência de guerra.

Assim, a abordagem transformadora da ação comunitária, além de

promover consenso por meio da mediação comunitária, pode proporcionar o

empoderamento participativo da comunidade, a abertura de canais

democráticos de diálogo das vozes do universo escolar e contribuir para a

construção da Cultura de Paz.

O conceito de cultura de paz aqui adotado é extraído do art. 1° da

declaração da ONU sobre Cultura de Paz (1999): “Uma cultura de Paz é um

conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida

baseados: a) No respeito à vida, no fim da violência e na promoção e prática da

não violência, por meio da educação, do diálogo e da cooperação(...)”.

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Essa Cultura de Paz, permeada pela educação, pelo diálogo e pela

cooperação, que se pretende construir por meio do Projeto Vozes da Paz.

2. Origem do Projeto Vozes da Paz

O Projeto Vozes da Paz surgiu a partir da experiência de 14 anos

de atuação do Programa Justiça Comunitária – PJC, que desenvolve ações

voltadas para a democratização do acesso à justiça, para a resolução pacífica

dos conflitos e para a promoção da coesão social.

Essas ações são realizadas por membros voluntários da

comunidade e ocorrem por meio da educação para os direitos, da mediação

comunitária e da animação de redes sociais. Os voluntários são selecionados e

preparados para atuarem como Agentes Comunitários de Justiça e Cidadania.

A experiência dos Agentes Comunitários na comunidade contribuiu

para o desenvolvimento da proposta do PJC no espaço escolar. A atuação dos

Agentes Comunitários nas escolas, por meio de divulgações e atendimentos,

favoreceu o reconhecimento das escolas como um importante espaço de

transformação e desenvolvimento social.

Dessa atuação surgiu, em 2010, o projeto “Adote uma escola”,

aplicado em duas escolas de Taguatinga. Nelas, foram fortalecidos os espaços

de diálogo e a união dos membros de diversos segmentos escolares, o que

favoreceu a identificação dos principais problemas da escola, bem como a

construção de possíveis soluções. Além disso, o desenvolvimento desse

Projeto contribuiu para a reflexão dos membros do PJC sobre a importância de

se ampliar a atuação do Programa Justiça Comunitária nos diversos espaços

da comunidade, incluindo o escolar.

Em outubro de 2011, o PJC realizou um curso de formação em

mediação comunitária, com duração de 68 horas, para 25 profissionais da

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educação lotados no Núcleo Pedagógico da Coordenação Regional de Ensino

de Taguatinga. Esse curso possibilitou o debate sobre diversas questões

atendidas pelo PJC na comunidade, o que contribuiu com a reflexão sobre a

atuação do PJC no ambiente escolar.

Paralelamente à ampliação das ações conjuntas do PJC com a

SEDF, o PJC passou por uma reestruturação interna. Assim, houve o

fortalecimento da Escola de Formação do Programa (Núcleo de Formação e

Pesquisa em Justiça Comunitária), cujo objetivo era a ampliação das

formações em Justiça Comunitária, para que outras pessoas/grupos, inseridos

em suas comunidades, pudessem realizar a proposta do PJC em formatos

diferentes daqueles realizados pelo Agente Comunitário. Essas mudanças

permitiram que a atuação do Programa fosse além dos limites territoriais de

atuação dos Agentes Comunitários e possibilitou a inovação de estratégias de

atuação do PJC que atendessem aos novos desafios, o que favoreceu o

surgimento de novos projetos.

Em 2012, a equipe do PJC elaborou uma proposta de projeto piloto

de mediação itinerante nas escolas de Ceilândia, denominado Projeto Vozes da Paz. Esse Projeto tem o objetivo de contribuir para a construção de uma

cultura de paz por meio da democratização do espaço escolar, da participação

da comunidade nas decisões da escola, bem como da apresentação da

mediação como forma de resolução de conflitos. O Projeto envolve o Tribunal

de Justiça do Distrito Federal e Territórios – TJDFT, por meio do Programa

Justiça Comunitária e o Governo do Distrito Federal – GDF, por intermédio da

sua Secretaria de Estado de Educação – SEDF.

3. Estratégias de elaboração e execução do Projeto

A partir do acolhimento da proposta inicial do Projeto, foram

realizadas reuniões com membros da Secretaria de Educação, Diretoria

Regional de Ensino e diretores de escolas, a fim de definir as estratégias de

elaboração e execução do Projeto, tais como: o perfil das escolas participantes;

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a forma de atuação do Projeto, a composição e o número de membros dos

Círculos da Paz e a atuação da equipe do PJC.

O perfil das escolas participantes foi definido da seguinte forma:

séries do 5º ao 9º ano; faixa etária de 10 a 16 anos; turnos matutinos e

vespertinos, escolas localizadas na cidade de Ceilândia, bem como as escolas

terem rotinas de registros no livro de ocorrências.

Quanto à forma de atuação do Projeto, seria aplicado em cinco

escolas: 03 (três) escolas para execução do Projeto e 02 (duas) para controle

de dados. Entre as três escolas escolhidas para execução do Projeto, estão a

Escola Classe 07 (atual Centro de Ensino Fundamental 35), Escola Classe 60

(atual Centro de Ensino Fundamental 34) e Centro de Ensino Fundamental 30.

Os Centros de Ensino Fundamental 25 e 27 foram escolhidos como escolas

controle. Estas escolas forneceriam dados para serem utilizados na avaliação

de impactos social do Projeto e teriam prioridade na participação como escola

de execução, com a expansão do Projeto.

Em relação ao Círculo da Paz, os membros seriam em número de

10 integrantes, escolhidos independentemente de participarem do Conselho

Escolar e, necessariamente, teriam que ser representantes dos seguintes

segmentos da comunidade escolar: pais, alunos, funcionários, professores e

direção, sendo recomendável a participação, caso houvesse na escola, de

orientadores escolares.

Quanto à atuação da equipe do PJC, a equipe seria responsável

pela sensibilização da comunidade escolar, pela capacitação dos membros do

Círculo da Paz e pelo acompanhamento das atividades desenvolvidas na

escola.

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4. Fases de execução do Projeto

4.1 Sensibilização da Comunidade Escolar

A sensibilização teve início em dezembro de 2012 e foram

realizadas nas três escolas de execução do Projeto, CEF 35, CEF 30 e CEF

34, com os seguintes objetivos: apresentação e expectativas pessoais,

apresentação do Programa Justiça Comunitária, apresentação do Projeto

“Vozes da Paz”, explanação e debate sobre a missão do “Círculo de Paz”.

Após reuniões com as escolas, a fim de esclarecer os objetivos

propostos da sensibilização, verificou-se que, em decorrência da proximidade

do fim do ano letivo e a distância entre o período de capacitação e o início do

novo ano escolar, a sensibilização e a capacitação deveriam acontecer no

início do ano letivo de 2013.

Então, no ano seguinte, a sensibilização foi realizada em todos os

segmentos da comunidade escolar e participaram diretores, pais, alunos,

funcionários e professores, conforme tabela abaixo:

Sensibilização da Comunidade Escolar em 2013

Segmentos da Comunidade Escolar

Número aproximado de participantes

Pais 390

Professores 78

Alunos 2.700

Direção 05

Funcionários da escola 20

Total 3.193

Fonte: Dados extraídos das atas de registro referentes às atividades de sensibilização.

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A sensibilização da comunidade escolar: professores, pais, alunos

e funcionários,foi realizada por meio de reuniões e atividades descritos abaixo.

Sensibilização dos Professores.

As reuniões de sensibilização de professores foram realizadas em

cada uma das escolas participantes do Projeto, divididas por turno, de acordo

com a disponibilidade dos professores.

Fonte: Reunião com os professores das séries finais do Ensino Fundamental do CEF 35.

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Sensibilização dos Pais.

A equipe do PJC participou das reuniões com os pais, promovidas

pela escola, no início do ano letivo e com o objetivo de apresentar a proposta

do Projeto e motivá-los para participarem do Círculo da Paz.

Fonte: Reunião com os pais do CEF 34 de Ceilândia. Sensibilização dos Funcionários da Escola.

A sensibilização dos funcionários ocorreu em cada escola

participante do Projeto, com exceção do CEF 34. Nesta escola, a direção

justificou que não teria data para a reunião de sensibilização e que não havia

interesse em participar do Projeto por serem terceirizados.

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Sensibilização dos Alunos.

A equipe do PJC elaborou estratégias diferenciadas para

sensibilização dos alunos, de acordo com a faixa etária. As atividades foram

desenvolvidas com o objetivo de proporcionar o contato com os alunos e o

convite para o envolvimento deles com o Projeto.

Sensibilização dos Alunos das séries finais.

A atividade definida para os alunos das séries finais incluía

brincadeiras, histórias e perguntas reflexivas sobre a temática da paz, que

foram realizadas em cada turma. O objetivo da atividade era facilitar a

integração dos alunos com a equipe e refletir sobre a diversidade de opiniões

dos alunos. Após a discussão das questões acima, a equipe do PJC

apresentava a proposta do Projeto Vozes da Paz, com o intuito de sensibilizá-

los para outras formas eficazes de resolução de conflitos e para integrarem o

Círculo da Paz.

Fonte: Sensibilização dos alunos das séries finais da Centro de Ensino Fundamental 34 de

Ceilândia.

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Sensibilização dos Alunos das séries iniciais.

Na sensibilização dos alunos das séries iniciais, foi desenvolvida

atividade lúdica de teatro por meio de bonecos de fantoche. Após a

apresentação, a equipe fazia perguntas reflexivas sobre os resultados da

disputa entre os personagens e sobre a possibilidade de resolução do conflito

de forma pacífica. Esses objetivos eram associados aos objetivos do Projeto

Vozes da Paz.

Fonte: Sensibilização dos alunos das séries iniciais do Centro de Ensino Fundamental 30 de

Ceilândia.

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Sensibilização da Comunidade Escolar em 2014.

Em 2014, os CEF’s 30 e 34 deixaram de participar do Projeto e a

substituição por novas escolas impossibilitou a equipe do PJC de realizar a

sensibilização da comunidade escolar, no CEF 35, que continuou no Projeto. O

CEF 20, inserido nesse ano, teve a sensibilização em outro formato, visto que

só foi possível realizá-la junto ao diretor, vice-diretor, coordenadora e

supervisora da escola, que ficaram responsáveis por sensibilizar os demais

segmentos da comunidade escolar e convidá-los a formarem o Círculo da Paz.

Esse formato reduzido foi necessário, tendo em vista o curto período para

realizar a sensibilização da comunidade escolar e a capacitação dos membros

do Círculo da Paz, em virtude da Copa do Mundo no Brasil.

O detalhamento da entrada e saída das escolas será relatado no

item do capítulo 4.5 – Inserção de novas escolas.

Fonte: Sensibilização dos professores e funcionários do Centro de Ensino Fundamental 20 de Ceilândia.

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4.2 Capacitação dos membros do Círculo da Paz

Um dos objetivos da sensibilização é a formação de membros para

comporem o Círculo da Paz, cujas atribuições envolvem planejamento,

divulgação e execução de ações voltadas à proposta do Projeto, com foco na

realização de triagens e discussões de triagens, bem como buscarem soluções

para os conflitos surgidos no ambiente escolar. Em 2013, foram ministrados

dois cursos de capacitação, realizados no CEF 35 e no CEF 34, formando 21

membros das escolas participantes do Projeto.

O curso, com duração de 16h/aula, abordou os temas referentes à

compreensão dos conflitos, às noções gerais de mediação comunitária, à

animação de redes social, à promoção da cultura de paz no ambiente escolar e

ao fluxo de atendimento do Projeto Vozes da paz.

No final de 2013, houve reunião de avaliação do Projeto, que será

detalhada no item do capítulo 4.4 Avaliação parcial do projeto em 2013.

Nesta reunião, a equipe do PJC definiu um novo formato e conteúdo para o

curso de capacitação. Essa alteração ocorreu com o propósito de adequar a

capacitação à realidade escolar, no que se refere à colaboração para a

construção da cultura de paz. O curso de capacitação permaneceu com carga

horária de 16h/aula, porém o conteúdo foi alterado para o seguinte formato: a)

compreensão dos conflitos, b) conceito de violência, c) escuta ativa, d)

comunicação não-violenta, e) mediação comunitária, f) animação de redes

sociais e g) exemplos de práticas de atuação. Assim, foram ministrados dois

cursos de capacitação, em 2014, nos CEF’s 35 e 20, o qual formou 18

membros da comunidade escolar das duas escolas.

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Fonte: Curso de capacitação dos membros do Círculo da Paz do CEF 35 de Ceilândia.

Fonte: Curso de capacitação dos membros do Círculo da Paz do CEF 35 de Ceilândia.

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Abaixo, quadro com os dados referentes aos cursos de

capacitação realizados no biênio 2013/2014, com um total de 39 membros

capacitados para compor os Círculos da Paz.

|| Capacitação dos membros do Círculo da Paz 2013/2014

Ano Número de participantes Total

Cursos de Capacitação CEF

35 CEF 34

CEF 30

CEF 20

1º Curso 1 2 4 0 7 2013 2º Curso 5 4 5 0 14

3º Curso 6 0 0 0 6 2014 4º Curso 0 0 0 12 12

Total 12 6 9 12 39 .

4.3 Atuação dos membros do Círculo da Paz

A proposta inicial do curso de formação era fazer com que os

membros do Círculo da Paz se tornassem referência na comunidade escolar e

realizassem as seguintes atividades: acolhimento das pessoas que

apresentassem conflitos, realização de discussão de triagens, proposição de

ações de promoção da paz, animação das redes sociais e encaminhamentos

para a rede social de Ceilândia ou para a equipe do PJC, no caso de

mediações comunitárias.

Entretanto, após a formação dos Círculos, percebeu-se que o

formato proposto pelo Projeto não correspondeu à realidade escolar, pois os

conflitos apresentados demandavam ações tempestivas para resolução,

características observadas nas duas escolas. Assim, as atividades de

promoção da paz foram utilizadas para refletir e agir diante dos conflitos

surgidos, de forma que muitos resultados foram alcançados. Diante desse

contexto, houve reflexões da equipe sobre a adequação da proposta inicial à

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realidade escolar. Em dezembro de 2013, a equipe do PJC reuniu-se para

avaliar o formato do Projeto, conforme descrito no item 4.4.

Em 2014, houve a inclusão do CEF 20 no Projeto, bem como a

alteração dos membros do Círculo da Paz do CEF 35. Alguns membros saíram,

por mudarem de escola, e novos membros foram inseridos a partir do curso de

capacitação ministrado no início do ano. A atuação dos membros dos CEF’s 20

e 35, em 2014, foi alinhada à promoção da cultura de paz. Eles tiveram

liberdade para aplicar os princípios da mediação da forma que atendessem à

realidade escolar, conforme definido na avaliação prévia do Projeto, realizada

no final de 2013. Como resultados dessas ações, os membros do Círculo da

Paz do CEF 35 tornaram-se referência na escola e elaboraram um subprojeto

de ações alinhadas aos objetivos do Projeto Vozes da Paz. Essas ações

proporcionaram a criação de espaços democráticos de discussão dos conflitos,

de integração e de construção da cultura de paz.

4.4 Avaliação parcial do Projeto em 2013

Em dezembro de 2013, a equipe realizou avaliação da atuação dos

Círculos da Paz das três escolas participantes do Projeto no primeiro ano de

vigência do Projeto Piloto, conforme descrição abaixo.

Centro de Ensino Fundamental 30

Em 2013, o CEF 30 foi a escola que mais formou membros do

Círculo da Paz, contando, após o 2º curso, com um total de 9 membros.

Apesar disso, as ações do projeto acabaram se concentrando em 2

integrantes apenas, uma professora coordenadora e a orientadora educacional.

Elas participaram do primeiro curso de formação de Círculos da paz e logo, no

início do curso, explicitaram o isolamento da escola, bem como o sentimento

da falta de parceiros que pudessem ajudá-las. A equipe do PJC apresentou, no

decorrer do curso, proposta de ação que incluía o trabalho em rede, junto a

comunidade local, como possível intervenção.

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Após a conclusão do 2º curso, os membros do Círculo da Paz

fizeram algumas reuniões, mas não conseguiram se organizar como círculo. Os

membros não conseguiram superar a hierarquia presente no espaço escolar,

com isso, o Círculo da Paz acabou se transformando em uma extensão das

práticas escolares, na qual a coordenadora e a orientadora exerciam o papel

de decidir as questões da escola e os alunos e os funcionários, o papel de

cumprir o que foi decidido.

Diante disso, o Círculo da Paz se enfraqueceu e poucas ações

foram realizadas no decorrer do ano, conforme descrito no item do capítulo 4.6

Atividades desenvolvidas pelos Círculos da Paz.

Centro de Ensino Fundamental 34

O CEF 34 teve dificuldade na formação de um Círculo da Paz

atuante. O primeiro curso teve início sem a participação de membros dessa

escola e para o segundo teve a participação de apenas 03 membros (aluno,

mãe de aluno e professor). Entretanto, após justificativas dos três membros de

não poderem formar o Círculo da Paz, houve necessidade de realizar outro

curso de formação com outros membros. Assim, o segundo curso foi realizado

no CEF 34 e contou com a participação de mais 04 candidatos a membros do

Círculo da Paz, uma coordenadora, um professor e duas alunas. Sendo que

apenas a coordenadora participou ativamente do curso, com perguntas e

exemplos. Após o curso, o Círculo da Paz se fragmentou e sequer se

apresentou para a comunidade escolar. Os dois professores não participaram

de mais nenhuma supervisão ou atividade do Projeto, as duas alunas

participaram de apenas um encontro de supervisão na escola e a mãe de aluno

continuou demonstrando interesse no Projeto e participou da primeira reunião

de supervisão do CEF 30, escola em que trabalha.

Diante disso, o Círculo da Paz não teve atuação na escola e se

resumiu a atuação isolada da coordenadora, que participava das supervisões

com a equipe do PJC e tentava colocar em prática algumas ações, conforme

descrito no item do capítulo 4.6 Atividades desenvolvidas pelos Círculos da Paz.

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Centro de Ensino Fundamental 35

O CEF 35 constituiu Círculo da Paz bem atuante, onde foram

capacitados 06 membros para o Círculo da Paz, sendo 01 membro no primeiro

curso e 05 no segundo.

Após a capacitação, os membros do Círculo da Paz se

apresentaram para toda a comunidade escolar, bem como incentivaram o

envolvimento de todos na busca pela promoção da paz na escola. Além disso,

eles realizaram uma pesquisa na comunidade escolar por meio da aplicação de

um questionário, que além de abordar os conflitos apresentados na escola,

trazia espaço para que os participantes pudessem opinar sobre as possíveis

soluções. A partir dos dados obtidos, elaboraram um subprojeto com a

proposta de realizarem uma gincana da paz (anexo 1). Essa gincana

estabelecia várias ações a serem executadas no decorrer do ano letivo, com o

objetivo de promover a paz no ambiente escolar e serão detalhadas no item do

capítulo 4.6 Atividades desenvolvidas pelos Círculos da Paz.

Diante desses resultados, a equipe do PJC considerou importante

continuar o Projeto nas três escolas participantes, porém foi proposta a

reformulação do curso de capacitação, com o objetivo de valorizar as ações de

promoção da paz, com instrumentos que favorecessem a construção da cultura

de paz e considerassem a forma de trabalho de cada uma das escolas

participantes do Projeto.

No início de 2014, foi proposto um novo curso de capacitação a

fim de fortalecer os círculos da Paz dos CEF’s 35 e 30, bem como constituir o

do CEF 34. O curso foi agendado para o mês de fevereiro, mas devido à baixa

participação foi adiado. No início do curso havia 02 participantes do CEF 35, 04

participantes do CEF 60 e nenhum participante do CEF 30, local escolhido para

ministrar o curso.

Dos participantes do CEF 34, uma professora informou que não

poderia continuar no curso devido à incompatibilidade de horário e a vice-

diretora logo entraria em licença maternidade, o que resumiria o grupo a dois

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membros do Círculo da Paz. Já o CEF 30 não apresentou participantes devido

à mudança de direção ocorrida no início do ano, em que o diretor foi designado

interventor. Esse fato dificultou a sensibilização das pessoas à participarem do

curso, bem como a continuidade dos trabalhos do Círculo da Paz.

Diante dessas circunstâncias, a equipe do PJC avaliou que não

haveria condições de desenvolver as atividades do Projeto sem que houvesse

de fato um Círculo da Paz constituído no CEF 34 e, assim, decidiu encerrar o

Projeto nessa escola. O CEF 30, que havia proposto a participação no próximo

curso, não sensibilizou novos participantes para o curso e, em contato

telefônico, demonstrou não apresentar interesse na permanência do Projeto, o

que ocasionou também o encerramento do Projeto.

4.5 Inserção de novas escolas

No final de fevereiro de 2014, a equipe do PJC convidou as escolas

controles, CEF’s 25 e 27, para participarem da execução do Projeto. Como

resposta, a diretora do CEF 25 nos informou ter interesse em implantar o

Projeto, porém apresentou várias dificuldades para iniciá-lo naquele período,

entre elas, a falta de professores, de funcionários e de recursos materiais.

Entretanto, foi solicitado prazo de 15 dias a fim de sanar os problemas e

implementar o Projeto, porém, após esse prazo, as demandas da escola não

foram sanadas, o que impossibilitou a sua participação no Projeto.

Em relação à participação do CEF 27, a diretora manifestou

interesse, porém solicitou prazo para conhecer a proposta em uma das escolas

participantes do Projeto. Foi indicado o CEF 35 e estabelecido prazo para

definição da inclusão da escola. Após prazo acordado com a equipe, verificou-

se que a diretora não havia realizado a visita à escola indicada e, com isso, a

equipe retornou o contato com a diretora do CEF 27, que informou não ter

condições de desenvolver o Projeto, devido ao afastamento da coordenadora.

Após essas desistências, foi realizada reunião com o vice-diretor

da Regional de Ensino a fim de informar que o CEF 34 e o CEF 30 não

continuariam no Projeto e que as escolas controles, CEF 25 e CEF 27, não

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poderiam substituí-las, devido a limitação de recursos humanos naquele

período. Diante desses fatos, foi decidido que o PJC teria liberdade para

escolher outras escolas para participarem do Projeto e, após escolha,

informasse a DREC quais foram as escolhidas.

Diante desse contexto, em abril de 2014, o Projeto contava com a

participação de apenas uma escola (CEF 35). Optou-se pela continuidade do

Projeto, porém com apenas 02 escolas. Assim, houve a inclusão do CEF 20, a

partir da indicação da coordenadora do CEF 35.

Com a proximidade do encerramento do primeiro semestre, em

virtude do recesso da Copa do Mundo no Brasil, houve a sensibilização apenas

para os membros da direção e coordenação do CEF 20, momento em que

foram orientados a repassarem a proposta aos demais segmentos da

comunidade escolar, convidando-os a participarem do Círculo da Paz.

Em maio de 2014 foi ministrado novo curso de capacitação, o que

possibilitou a formação do Círculo da Paz do CEF 20 e a continuidade das

atividades do Projeto.

4.6 Atividades desenvolvidas pelos Círculos da Paz

Os membros do Círculo da Paz desenvolveram diversas atividades

voltadas para a construção da cultura de paz, cuja elaboração se deu a partir

de reflexões propostas pelo próprio Círculo, em conjunto com a escola,

considerando a realidade escolar de cada uma delas. Nos tópicos 4.6.1 e 4.6.2

seguintes serão abordadas as ações das escolas que saíram do Projeto e, em

seguida, das escolas que permaneceram no ano de 2014.

4.6.1 Escolas que não permaneceram no Projeto

Durante o primeiro curso de capacitação, os membros do CEF 30

manifestaram o interesse em realizar o trabalho em rede. Consequentemente,

as suas ações foram voltadas para os seguintes objetivos: fortalecer o contato

com o Conselho Tutelar; marcar reunião com potenciais parceiros interessados

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em promover a paz no ambiente escolar - participaram a Polícia Civil e o

Conselho Tutelar; convidar palestrantes para conversar com os alunos sobre

drogas e buscar parceiros que pudessem falar sobre temas relacionados à paz

na escola.

Outra ação foi a realização da gincana junina com o tema paz, de

forma que o regimento da festa junina previsse atividades de gincana, cartazes,

grito de guerra, paródia, painel e nomes de equipes, a serem desenvolvidos

pela comunidade escolar. Além dessas ações, a escola apresentou 03 triagens

com potencial de mediação, entretanto, em todos os casos os envolvidos

declinaram da mediação.

No CEF 34 não houve atuação conjunta do Círculo da Paz, as

atividades desenvolvidas foram realizadas pela coordenadora da escola, que

participou do curso de capacitação e engajou-se na proposta do Projeto.

Apesar de não ter representantes de outros segmentos para atuar no Círculo

da Paz, a coordenadora continuou a participar das supervisões, mobilizou os

professores para que a prova temática do semestre fosse sobre a paz,

participou da reunião com os parceiros - Polícia Civil e Conselho Tutelar de

Ceilândia - realizada no CEF 30 e convidou palestrante para discutir a temática

da paz com os alunos, cujo objetivo era promover o debate na escola sobre a

realidade de violência. Esse debate foi motivado também por episódio de

violência física ocorrido em frente à escola e contribuiu para o

desenvolvimento, em conjunto com outra escola, de uma passeata pela paz.

4.6.2 Escolas que permanecem no Projeto em 2014

A proposta desenvolvida pelas escolas partiu da sensibilização

realizada pelos seus representantes, membros do Círculo da Paz, com base

em temas refletidos na escola.

Diante dessas propostas, os CEF 20 e CEF 35 desenvolveram as

seguintes atividades:

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No CEF 35, os membros do Círculo da Paz elaboraram um

subprojeto com a proposta de realizar uma gincana da paz com várias ações

para o ano letivo de 2013. Com esse recurso, todos os membros da

comunidade escolar se envolveram com a proposta e participaram ativamente

das ações. Como prêmio pela participação, a turma que obtivesse o melhor

desempenho durante o ano ganharia um passeio.

O resultado da gincana foi o empenho diário dos alunos no que se

refere ao respeito mútuo, à realização das tarefas e à preservação do ambiente

escolar. Isso melhorou a relação entre eles, com os professores e com os

funcionários da limpeza.

Outro resultado positivo da gincana foi a maior integração entre

alunos e professores, e entre estes, com o auxílio da atividade de confecção do

pássaro da paz, em origami, proposta na gincana.

A criação de painéis da paz foi outra ação da gincana, cujo objetivo

era transformar a comunicação entre eles, substituindo a comunicação violenta

existente por uma pacífica. Esse espaço possibilitou uma convivência

harmônica e favoreceu a propagação da voz da paz no ambiente escolar. Foram desenvolvidas as atividades das Assembleias Escolares,

cujo objetivo é a democratização do espaço escolar, a oportunidade do diálogo,

da escuta ativa, do reconhecimento do outro e da corresponsabilidade em

relação aos problemas vivenciados no ambiente escolar. Essa atividade

aconteceu na forma de rodas de conversa, em cada sala de aula, sendo o

professor conselheiro o responsável em mediar os conflitos apresentados.

Houve a participação de alunos e de professores que, a partir de uma pauta

pré-definida, discutiram temas atuais da escola e possíveis soluções para os

conflitos identificados.

Houve também a organização de um grupo de alunos conhecidos

como Mensageiros da paz. O grupo é constituído por representantes de todas

as turmas. Ele tem a responsabilidade de divulgar mensagens de paz, bem

como de mediar conflitos nas turmas de maneira pacífica e construtiva. Essa

atividade tem contribuído, segundo relatos dos professores, na mudança de

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postura dos próprios alunos que são mensageiros da paz, pois os mesmos têm

demonstrado comprometimento com a divulgação da cultura de paz e

melhorado a participação nas atividades escolares.

Fonte: Reunião dos Mensageiros da Paz no CEF 35 de Ceilândia.

Nesse sentido, os alunos desenvolveram também o painel,

intitulado ‘Jornal da Paz’, cujo objetivo é divulgar mensagens de paz e

promover a interação entre duas pessoas que não se conhecem.

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Já entre os professores e funcionários foi criado o Correio da Paz,

um painel com vários compartimentos, com seus nomes, cujo objetivo é

fortalecer a integração do grupo a partir da troca de mensagens positivas entre

eles.

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No CEF 20, o Círculo da Paz iniciou as atividades com a

divulgação do Projeto através de uma oficina de apresentação do Projeto.

Nessa atividade foi trabalhado o vídeo sobre “a menina do vestido azul”, que

trouxe uma reflexão sobre a corresponsabilidade dos alunos quanto à

propagação da paz no ambiente escolar. Além disso, o Círculo da Paz, por

meio do teatro, simulou conflito e realizou debate sobre as formas de lidar com

essas situações de maneira pacífica.

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Outra atividade foi a criação da Rádio Vozes da Paz. Este

espaço foi estabelecido pelos membros do Círculo da Paz com o objetivo de

propagar a cultura de paz na escola. Com funcionamento semanal, entre os

turnos matutino e vespertino, sua programação contém vinhetas de paz,

saudações, mensagens positivas, textos para reflexão, dedicação de músicas,

entrevistas e avisos de assuntos relacionados às atividades escolares. Os

alunos também utilizam a rádio para realizar enquetes sobre diversos temas

propostos pelos próprios alunos, relacionados às atividades escolares

contribuem para o debate e a reflexão de assuntos contemporâneos.

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Eles também realizam momentos de integração promovidos pela

Rádio da Paz, com temas específicos como, por exemplo, brega e haloween. O

engajamento de toda a escola, com caracterização pessoal e do ambiente,

contribui para a construção de um clima harmonioso em toda a escola.

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O Festival de Música é uma atividade que conta com o empenho

de professores, alunos, direção, funcionários da escola e comunidade. Essa

atividade é uma proposta de concretização e apresentação das oficinas de

música, dança e teatro, oferecidas pela escola em um dos turnos de aula.

Dessa forma, promove o despertar de talentos dos alunos e também a

participação de ex-alunos e pessoas da comunidade, que colaboram para a

realização do festival e a divulgação da cultura de paz.

Ressalta-se que essa atividade, além de mobilizar toda a escola,

contribui para o protagonismo dos alunos, que a planejam e a realizam em

equipe, demonstrando união e contribuindo para a participação reflexiva sobre

diversos temas, entre eles, a paz.

Com intuito de favorecer a humanização das relações entre os

membros da comunidade escolar, foi promovido o Dia do abraço. Esta

atividade visava à integração e ao acolhimento dos membros da comunidade

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escolar. Os integrantes do Círculo da Paz recepcionavam as pessoas com

abraços, o que favorecia a construção de um clima harmônico, bem como

estimulava a proximidade entre elas.

O grupo de teatro, que conta com a coordenação de uma ex-

aluna, monitora do teatro, tem buscado, junto aos alunos, uma forma de levar a

cultura de paz para o ambiente escolar, através de peças teatrais que enfoque

diversos temas. O planejamento escolar tem incluído as atividades do teatro

nas ações que acontecem na escola e alguns de seus membros participam

ativamente nas reuniões do Círculo da Paz.

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A Roda de Conversa é outra ação que visa à construção da paz,

que ocorre com todos os professores do CEF 20. Essa atividade contou com a

participação dos membros do Círculo da Paz e da equipe do PJC. Nesta roda

de conversa debateu-se o tema conflito, percepções, compreensões, dúvidas,

questionamentos, e novas formas de enfrentamento. Essa atividade possibilitou

a apresentação da mediação como forma de resolução pacífica do conflito e

favoreceu a divulgação e disseminação das atividades desenvolvidas pelos

membros do Círculo da Paz na escola.

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Além disso, o Círculo da Paz desenvolveu os Projetos Borboleta e

o da Semana da Inclusão, cujo foco era o compromisso com autocuidado e o

cuidado com o próximo. Essas ações encerraram as atividades do Círculo da

Paz no ano de 2014.

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Em relação à continuidade das ações e à implementação de novas,

o Círculo da Paz propôs reuniões mensais para planejamento e

acompanhamento das atividades desenvolvidas na escola e também para

discussão sobre problemas internos e externos ao Círculo da Paz. Foi

estabelecido um calendário mensal para as reuniões, cujo objetivo é

proporcionar a interação dos membros do Círculo e a construção de espaços

democráticos de discussão, com a participação eventual dos membros da

equipe do PJC.

5. Resultados alcançados no Projeto

Após análise das atividades desenvolvidas, avaliou-se os diversos

resultados alcançados no tocante à construção da cultura de paz nas escolas.

Vale ressaltar que os resultados foram considerados a partir da avaliação de

seus aspectos qualitativos e quantitativos, ou seja, critérios objetivos e

subjetivos, diretamente relacionados às mudanças ocorridas no ambiente

escolar e que aconteceram com a implementação das atividades acima

descritas.

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Nesse tópico, serão apresentados os resultados alcançados no

biênio 2013-14, discutidos a partir das atividades desenvolvidas nas escolas e

considerando os seguintes temas: integração, empoderamento, coesão social,

alteridade, democratização do espaço escolar e a mediação de conflitos.

Ressalta-se que os resultados apresentados incluem aqueles alcançados pelas

escolas que permanecem no Projeto bem como por aquelas que saíram, após

a realização de algumas atividades.

Serão abordadas, neste capítulo, as questões relacionadas aos

aspectos subjetivos da avaliação realizada pela equipe técnica do PJC com os

membros integrantes dos Círculos da Paz de cada escola. No capítulo

seguinte, serão tratadas as questões avaliadas com base na pesquisa

qualitativa – grupo focal e na avaliação das atividades realizadas nas escolas.

Considerando que o objetivo principal do Projeto Vozes da Paz é a

construção da cultura da paz, por meio da democratização do espaço escolar e

da apresentação da mediação como forma de resolução de conflitos, diversas

propostas foram apresentadas e discutidas pelos membros do Círculo da Paz e

pela equipe técnica do PJC. O objetivo da discussão foi o desenvolvimento de

atividades que contribuíssem para o alcance desse objetivo, bem como para a

promoção de fundamentos norteadores da mediação, os quais serão

discorridos nesse tópico.

A integração, ocorrida entre os membros do Círculo da Paz e entre

estes e a comunidade escolar, foi um dos resultados identificados nas escolas

participantes do Projeto, que contribuiu para a identificação de situações e

problemas discutidos no ambiente escolar. As ações, desenvolvidas de forma

integrada, propiciaram o mapeamento de situações problemáticas no espaço

escolar, que facilitaram a identificação das possíveis causas, bem como

favoreceram o planejamento e a execução de atividades voltadas para a

resolução desses problemas. Entre essas atividades desenvolvidas, podemos

ressaltar que a criação da Rádio Vozes da Paz, o Festival de Músicas e o

Teatro contribuíram para uma melhor integração entre os membros da escola.

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35

Outro resultado observado foi o empoderamento das pessoas,

principalmente dos alunos, na condução das questões escolares relacionadas

aos conflitos. Isso ocorreu a partir de atitudes de protagonismo percebidas em

suas ações e experienciadas pelos membros do Círculo da Paz, principalmente

no tocante à responsabilidade e à cooperação na construção da cultura de paz.

Essas mudanças foram percebidas ao longo do ano, durante as reuniões e as

discussões das atividades desenvolvidas, momento no qual as participações e

as propostas apresentadas visavam o alcance do bem comum a toda

comunidade escolar.

Como consequência dos fatores anteriores, integração e

empoderamento, a coesão social se desenvolveu na perspectiva das ações

realizadas na escola ao longo do ano. Isso contribuiu para que as atividades e

seus objetivos pudessem ser disseminados na comunidade escolar, de forma a

permitir uma maior inter-relação entre as propostas pedagógicas e de

construção de uma cultura de paz. Assim, foi possível alinhar questões

relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem a questões e temas sociais

voltados para a diminuição da violência no ambiente escolar. No que se refere

a esse processo, temas como comunicação e inclusão e respeito às diferenças,

entre outros, foram utilizados na discussão sobre como enfrentar a violência

escolar, em suas diversas formas (verbal, física, psicológica e material). Essas

discussões, fomentadas por diversos temas relacionados aos conflitos

escolares, ocorreram nas reuniões do Círculo da Paz, nas aulas de Práticas

Diversificadas e no grupo de teatro da escola, de forma a fortalecer ainda mais

o grupo na busca de alternativas de promoção da paz.

Esse incipiente avanço observado nas relações escolares foi

possível também devido a discussões sobre temas que tiveram como pano de

fundo a relação de alteridade. Essas reflexões tiveram como proposta pensar a

participação do outro nas relações cotidianas do ambiente escolar, bem como

alcançar uma convivência harmônica com o outro, que demanda,

primordialmente, o reconhecimento desse outro, de sua realidade, de suas

necessidades, de suas dificuldades e de suas limitações, no contexto das

diversidades humanas. Além disso, a responsabilidade por reconhecer e incluir

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o outro nas relações é de todos e deve ser conduzida de forma a desenvolver a

cultura da participação nas decisões, incluindo toda a comunidade escolar.

A relação de alteridade foi percebida na iniciativa dos membros do

Círculo da Paz ao discutir temas como bullyng, cutting e exclusão social. Houve

a preocupação de alunos dos Círculos da Paz em propor a reflexão e

discussão sobre esses temas, por identificarem esses problemas na escola.

Eles ressaltaram a necessidade do outro, a partir de um olhar que priorize a

compreensão, bem como buscaram construir soluções que atendessem às

necessidades de todos. Além disso, alunos de turnos contrários, que antes do

Projeto agiam com ações destrutivas em relação aos trabalhos dos outros

alunos, substituíram essas ações pelas ações de troca de mensagens

positivas.

Diante do contexto conflituoso no âmbito da escola, no início do

Projeto Vozes da Paz, percebeu-se que as relações escolares entre seus

agentes se desenvolviam com base principalmente na relação hierárquica entre

direção, professores, funcionários, pais e alunos. Esse tipo de relação, por

mais que seja necessária na hierarquia escolar, não contribui, principalmente

na execução do Projeto e das ações do Círculo da Paz, para que as demandas

naturais, surgidas devido à diversidade de opiniões, possam ser tratadas de

forma a privilegiar o diálogo, a escuta ativa e a busca de soluções. Dessa

forma, ao se pensar no desenvolvimento das atividades do Círculo da Paz, a

proposta do projeto visava à criação e ao desenvolvimento de espaços

democráticos para a reflexão, debate e busca de soluções pacíficas. Esse

espaço deveria contribuir para que os atores escolares pudessem discutir os

conflitos numa ótica horizontal, privilegiando as falas e as necessidades de

cada um deles.

Na interação entre os membros do Círculo da Paz e da equipe do

PJC, foi possível identificar possibilidades de desenvolvimento de ações para

promover esses espaços. Assim, a partir de atividades intraescolares, foram

incluídos temas relacionados à cultura de paz, à inclusão, ao diálogo e à

escuta, como forma de promover espaço de diálogo. As atividades, como a

Rádio Vozes, o Teatro e o Festival de Música, possibilitaram que temas

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conflituosos fossem abordados de forma lúdica, mas levados a sério por todos,

propiciando reflexões, discussões e possibilidades de novas interações, o que

contribuiu para a criação de espaços democráticos de discussões dos conflitos

existentes.

Por fim, a prática da mediação. Essa proposta foi realizada de

duas formas no ambiente escolar. A primeira, pela equipe do PJC, seguindo as

etapas de triagem, discussão de triagem e sessão de mediação. A segunda,

pelos próprios membros do Círculo da Paz, de maneira simplificada,

considerando a prática cotidiana das relações escolares, onde as triagens

aconteciam no formato de escutas, com o intuito de alcançar soluções que

atendessem às necessidades dos envolvidos.

Esse formato considerou o dinamismo das práticas escolares,

contemplando as peculiaridades do ambiente escolar, como as situações de

emergência, que, em muitos casos, não propiciaram tempo hábil para cumprir

as etapas propostas pelo PJC, mas que foram beneficiadas pela forma

abordada na escola, ou seja, pelo acolhimento, escuta e diálogo,

proporcionados pelos membros do Círculo da Paz.

6. Avaliação do Projeto

A avaliação do Projeto é a fase de execução do Projeto que teve

início entre as etapas de sensibilização e formação dos membros da

comunidade escolar. O objetivo da avaliação é a análise de dados e

informações referentes à execução do Projeto na escola, considerando os

aspectos qualitativos no que se refere às relações no ambiente escolar.

A base para a avaliação, conforme definido na elaboração do

Projeto, eram os livros de ocorrências das escolas, entretanto, após análise

inicial, verificou-se que esse instrumento de coleta de informações impedia a

comparação dos dados entre as escolas, pois apresentavam critérios diferentes

para o seu registro.

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6.1 Resultado - Pesquisa Grupo Focal

Tendo como objetivo geral avaliar o Projeto Vozes da Paz, biênio

2013/2014, foi realizada também a pesquisa pela metodologia de grupo focal.

Ela foi aplicada nas duas escolas - CEF 20 e CEF 35 - de Ceilândia/DF, com

integrantes dos segmentos direção, professores, alunos e funcionários, com o

objetivo de avaliar a execução do Projeto Vozes da Paz nos seguintes pontos:

Construção da cultura de paz;

Democratização do espaço escolar;

Participação da comunidade escolar nas ações

desenvolvidas pela escola;

Inserção dos princípios da mediação como forma de

resolução de conflitos;

A realização do grupo focal ocorreu em 28/04/2015 no CEF 35,

com a participação de 1 representante de aluno, 3 de professor, 1 de membro

da Direção e 1 de funcionário, mas sem representante de pai de alunos. No

CEF 20, a avaliação aconteceu no dia 29/04/2015, com a participação de 6

representante de aluno, 7 de professor, 1 de membro da Direção e nenhum

representante de funcionário e pai de alunos. Em ambos os centros de ensino,

a aplicação do grupo durou aproximadamente 2 horas e foi aplicado por

servidoras do PJC.

Para a análise de dados, os objetivos da avaliação foram

categorizados em sete subitens: motivação, desenvolvimento do Projeto (

implantação e implementação); parceria com o TJDFT; contribuições do Projeto

para a comunidade escolar ( democratização do espaço escolar, participação

da comunidade escolar nas ações desenvolvidas na escola, inserção de

princípios da mediação comunitária no ambiente escolar, construção da cultura

de paz), Círculo da Paz, recursos da escola (humano e material) e críticas e

sugestões para aprimoramento.

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Conclusão da Pesquisa

A pesquisa Grupo Focal apresentou resultados significativos no

que se refere aos principais objetivos do Projeto Vozes da Paz, considerando

que alguns participantes da pesquisa entraram na escola em 2015 e não

participaram do período de execução do Projeto - biênio 2013-2014.

Seguem abaixo resumo dos principais pontos avaliados na

pesquisa. Ressalta-se que o resultado da pesquisa se encontra, na íntegra, no

Anexo I deste relatório.

A motivação da comunidade escolar foi significativa, com

adesão da comunidade escolar, que contribuiu para a

implantação do Projeto nas escolas, num primeiro momento,

mas que ficou prejudicada ao longo da implementação,

principalmente pelo rodízio de alunos e professores e pelas

interrupções no calendário escolar;

A democratização do espaço escolar, percebida por eles, foi

vivenciada no grupo Círculo da Paz e começou a ocorrer

entre os membros dos segmentos escolares, além disso, o

protagonismo, principalmente dos alunos, foi evidenciado

nas ações realizadas.

A participação e a inserção de alunos, ao longo da execução

do Projeto, foram avaliadas positivamente, destacando que

a escuta ativa foi o princípio da mediação mais eficaz na

melhoria dos relacionamentos;

Em relação à construção da cultura de paz, foi ressaltada a

diminuição de conflitos, no ambiente escolar, bem como da

violência. Dessa forma, a participação no Círculo da Paz

contribuiu para o envolvimento nas ações e para a mudança

de comportamentos nas relações escolares. Destaca-se a

necessidade de formação continuada para os integrantes do

Círculo da Paz, bem como de maior divulgação do grupo na

escola;

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40

Como ponto desfavorável às atividades do Projeto na

escola, foi destacada a rotatividade de alunos, professores e

membros da direção, principalmente daqueles envolvidos

diretamente com Círculo da Paz, fator que contribuiu para a

descontinuidade do Projeto;

Como pontos gerais para aprimoramento do Projeto, foi

ressaltada a importância de maior divulgação e inserção do

Círculo da Paz na comunidade escolar, principalmente

divulgação aos pais, no inicio de cada ano letivo, bem como

maior formação aos seus membros. Ainda em relação ao

tema, foi sugerido agregar o Projeto Vozes da Paz aos

outros projetos da escola.

6.2 Avaliação das atividades realizadas nas Escolas

A avaliação foi realizada a partir da experiência de

acompanhamento do PJC em diversas atividades: reuniões com os membros

do Círculo, cursos, atividades nas escolas, reuniões internas, vivenciados no

biênio 2013/14. Essa avaliação tem por objetivo otimizar o desenvolvimento do

Projeto de forma a potencializar os pontos positivos, bem como superar as

dificuldades enfrentadas em sua execução.

Dessa forma, foram apresentadas algumas propostas referentes ao

desenvolvimento do Projeto, que podem ser adotadas tanto nas escolas

participantes como naquelas que serão incluídas.

Entre as propostas, está a definição de condições para a

participação das escolas no Projeto. É preciso que as escolas manifestem o

interesse em participar do Projeto, demonstrando um ambiente favorável à sua

execução, bem como apresentem condições mínimas de estrutura e logística

que permitam discutir e acompanhar as atividades a serem desenvolvidas.

Além disso, é importante a participação de integrantes da direção (diretor, vice-

diretor, coordenador e supervisor) como membro do Círculo da Paz.

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41

Para isso, deve-se destacar, na apresentação do Projeto, a

necessidade do envolvimento da direção nas atividades referentes ao Projeto

e, nos casos em que diretor e vice-diretor não participarem como membro do

Círculo da Paz, deve-se realizar reuniões com a direção da escola, no sentido

de avaliar o entendimento e a participação deles em relação ao Projeto e às

suas atividades, como também avaliar as dificuldades na sua implementação.

Outra proposta é contribuir para a construção de relações

horizontais e o equilíbrio das relações no Círculo da Paz. Deve-se buscar o

princípio da equidade por meio do empoderamento de todos os segmentos do

Círculo da Paz como, por exemplo, o segmento dos alunos que, pela natureza

de seus papéis na estrutura hierárquica escolar, acabam por depender das

decisões da direção e coordenação da escola.

Como proposta, para alcançar esse objetivo, pretende-se incluir

direção, professores e alunos no processo de formação dos Círculos da Paz,

com temas que promovam a reflexão sobre o espaço democrático, a relação

hierárquica na escola e as relações horizontais nos Círculos da Paz. O intuito

é colaborar para a construção de relações e ideias integradas de seus

membros, considerando os papéis que desenvolvem na escola e no Círculo da

Paz, pautados na ética e na responsabilidade pela construção da cultura da

paz.

Outra proposta é desenvolver atividades do Projeto alinhadas à

prática escolar. É importante encontrar formas, junto às escolas e ao Círculo da

Paz, de aliar, ou mesmo incluir, as propostas apresentadas pelo Projeto

àquelas já desenvolvidas pela escola, em seu cronograma, ao longo do ano

letivo. O intuito é agregar o Projeto à prática cotidiana da escola, sem

sobrecarregá-la, tornando todas as atividades exequíveis aos agentes

escolares.

Com esse propósito, foi ressaltada a necessidade de se elaborar

também o cronograma de atuação do Projeto, que contemple as diversas

atividades a serem executadas ao longo do ano letivo, com foco nas atividades

a serem desenvolvidas pela equipe do PJC, na sua atuação junto à escola.

Esse cronograma deve conter diversas atividades, entre elas, sensibilização,

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capacitação, reciclagem, reuniões de rede, cursos e acompanhamentos das

atividades na escola. Além disso, foi proposta a junção dos questionários de

impacto social do Projeto e de levantamentos de dados da escola. Dessa

forma, a estatística ficaria responsável pela aplicação dos questionários e

estudo dos dados, bem como apresentação dos resultados que fomentam a

definição das ações dos Círculos da Paz a serem desenvolvidas na escola.

Assim, tendo como base o cronograma do Projeto, foi discutida a

necessidade de um período de acompanhamento da escola pela equipe do

Programa Justiça Comunitária. Esse acompanhamento tem como objetivo

apoiar e incentivar a escola, o Círculo da Paz e outros grupos que integrem o

Projeto, de forma a fomentar cursos, palestras, dinâmicas e outros materiais

que possam contribuir para o desenvolvimento da cultura de paz nas escolas.

Ressalta-se ainda que, considerando a dinamicidade da rotina escolar e de

seus agentes, é sugerido um período de 3 anos, para se trabalhar em parceria

com a escola, desde o início, com a apresentação do Projeto, até o momento

em que se avalie que a escola possa desenvolvê-lo de forma autônoma e

independente.

Paralelo ao cronograma do Projeto, discutiu-se a necessidade de

construir, junto com os Círculos da Paz, um cronograma interno das atividades

restritas às atuações do Círculo da Paz na escola, considerando reuniões de

planejamentos de todas as atividades a serem desenvolvidas dentro da escola,

com a participação da comunidade escolar. A elaboração e execução desses

cronogramas têm como objetivo também contribuir para a avaliação da

execução e do acompanhamento do Projeto na escola.

Pelas experiências desenvolvidas nos CEF’s 20 e 35, percebeu-se

a importância da formação e do acompanhamento das ações desenvolvidas

pelo Círculo da Paz em conjunto com outros grupos e atividades escolares.

Também foi discutida a dificuldade de se constituir e formar o grupo,

principalmente com representantes dos diversos segmentos da escola. Diante

dessa realidade e da observação de haver outros grupos na escola (grupo de

teatro e grupo mensageiros da paz), que se ajustaram à proposta de cultura de

paz, foi proposto reavaliar a necessidade de formação do grupo Círculo da Paz.

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Essa proposta prevê mudança no atual modelo de formação, que deixaria de

ser apenas para os membros do Círculo da Paz e alcançasse outras pessoas

interessadas em promover as ações e atividades na escola, de forma a

considerar as diversidades grupais escolares e as condições e as

necessidades de cada escola. Em contrapartida, foi discutido que os princípios

do Projeto Vozes da Paz devem se manter como norteadores de todas as

ações desenvolvidas pela equipe do Projeto Vozes da Paz, em conjunto com a

escola.

Conclui-se esse processo de avaliação com a reflexão sobre a

importância de se realizar pesquisas ao longo do Projeto, como forma de

auxiliar no registro dos resultados do Projeto, bem como direcionar a sua

execução. A pesquisa deve contemplar estudos mais detalhados sobre o

fenômeno da cultura de paz na escola e sua realização deve considerar as

possibilidades de ser realizada na forma qualitativa (pesquisa grupo focal), ou

na forma quantitativa por meio da aplicação de questionários, modelos a serem

definidos na implantação do Projeto definitivo.

Diante dos resultados obtidos na avaliação do Projeto, no período

compreendido entre 2013 e 2015, avaliou-se a importância social de

manutenção e expansão do Projeto Vozes da Paz. Essa conclusão decorre dos

avanços positivos observados, que entenderam a importância do olhar clínico e

crítico para a construção da cultura de paz nas escolas da Ceilândia. Ressalta-

se a necessidade de ser priorizada, por todos aqueles que fazem parte da

realidade escolar, agentes escolares, parceiro e comunidade, a busca de

resoluções de conflitos de forma pacífica, destacando o protagonismo de seus

agentes escolares, através da democratização do espaço escolar e de ações

de promoção da cultura de paz.

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ANEXO I – Relatório de Pesquisa Qualitativa

Projeto Vozes da Paz – biênio 2013/2014 Relatório da pesquisa qualitativa

Projeto Vozes da Paz – biênio 2013/2014 Apresentação Tendo como objetivo geral avaliar o Projeto Vozes da Paz, biênio 2013/2014, realizado nas escolas CEF 20 e CEF 35 de Ceilândia/DF, no tocante à construção da cultura de paz, em ambas foram realizadas pesquisas pela metodologia de grupo focal. Foram considerados como objetivos específicos nesse trabalho:

1 - Avaliar a contribuição do Projeto Vozes da Paz para a democratização do espaço escolar; 2 - avaliar a contribuição do Projeto Vozes da Paz para a participação da comunidade escolar nas ações desenvolvidas nas escolas; 3- avaliar a inserção de princípios da mediação comunitária no ambiente escolar.

Antecedendo a aplicação da pesquisa em cada escola, foram feitas divulgações da atividade, pelas quais foram transmitidas informações aos representantes da comunidade escolar sobre os objetivos e os métodos que norteariam a sua execução. A realização do grupo focal deu-se em 28/04/2015 no CEF 35, tendo como participantes 1 representante de aluno, 3 de professores, 1 de membro da Direção e 1 dos funcionários. Não houve representante de pais de alunos. No CEF 20, o grupo aconteceu no dia 29/04/2015, estando presentes 6 representante dos alunos, 7 dos professores, 1 membro da Direção, nenhum representante de funcionários e pais de alunos. Em ambos centros de ensino, a aplicação do grupo durou aproximadamente 2 horas, e foi realizada dinâmica de apresentação (antes da atividade principal), que consistia em a pessoa dizer seu nome e responder a uma indagação: “Se você não fosse Maria (por exemplo), que bicho (ou brinquedo, ou música, ou cheiro, etc) você gostaria de ser?” Observou-se que a dinâmica, nos dois grupos, gerou um clima de maior descontração e interação entre os participantes, estimulando a imaginação, o humor e ainda permitindo que se conhecessem um pouco mais.

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Em ambos os grupos focais, as perguntas apresentadas aos grupos, como “mote” utilizado para as reflexões advindas, foi: FALEM SOBRE O PROJETO VOZES DA PAZ: - O que vocês viram? - O que vocês perceberam? - O que vocês sentiram? - O que fizeram e fazem? Procedimento e análise dos dados

Para facilitar a compreensão dos dados, houve a gravação dos grupos focais com a concordância dos participantes. Todos também assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

O conteúdo das falas foi degravado e, posteriormente, dividido em categorias de análise que serão explicitadas a seguir. Como forma de resguardar o sigilo dos participantes, os nomes foram retirados e, em seu lugar, registrou-se o segmento escolar de que cada participante faz parte.

Primeiramente serão apresentados os dados do CEF 35 e em seguida do CEF 20. CEF 35 1 - Motivação

Em relação à motivação, percebeu-se que no início, em 2013, houve um envolvimento maior da escola, de professores, alunos e funcionários em prol de um objetivo comum. O grupo era bem participativo e empenhado, o que foi um fator preponderante para a motivação dos participantes. “ (...) quando o projeto foi implantado aqui eu vi uma chama acesa, vi entusiasmo, vi pessoas realmente com vontade de trabalhar, né. E não foi só um grupo, eu vi toda a escola motivada. (professor)

Alguns participantes também destacaram que participar do projeto, sentir-se protagonista no desenvolvimento de ações voltadas para a paz e perceber mudanças positivas na escola os motivaram e os fizeram sentir-se bem. “Eu queria só ressaltar que o projeto é um fator de motivação pra mim, pessoal, na escola. Eu acredito muito, tenho visto mudanças significativas dentro da escola em relação aos alunos. Eu tenho aqui um exemplo vivo disso (indica aluna, ao lado), que consegue transformar mesmo. A transformação vem através dessas ações. Então, agradeço a vocês por isso.” (professor)

No grupo focal, houve a participação de apenas uma aluna, que atualmente integra o Círculo da Paz, mas que conheceu o Projeto em 2014 quando atuou como

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mensageira da paz. Ela ressaltou o quanto o Projeto propiciou uma mudança de postura dela na escola e que hoje ela busca integrar outros alunos também: “E eu já trouxe até alguns amigos da minha sala pra o Projeto, uns amigos assim que não são tão comportados na sala, já trouxe eles pro Projeto, já tá mudando bastante também na sala. E é isso, cada vez trazer mais pessoas pra um dia a escola inteira, poder conhecer o Projeto”. (aluno) 2 – Desenvolvimento do Projeto 2.1 – Implantação

Os participantes ressaltaram que no início, em 2013, aconteceram muitas ações do Projeto e que o grupo todo estava muito empenhado – alunos, professores, funcionários e direção. “a gente fazia gincana com as turmas da paz, nós fazíamos oficinas, então o ano inteiro a gente tinha atividades concretas (...)”. (professor) 2.2 – Implementação

Contudo, em 2014, com a saída de muitos alunos e professores da escola e com a interrupção das aulas em virtude da copa, as ações não foram tão contínuas e, por conta dessa realidade, o Projeto não teve tantos resultados. Não foi possível, por exemplo, realizar a gincana. “(...) teve o calendário da copa, mexeram nos bimestres, muitos tinham mais disciplinas do que o outro, (...), procuramos colocar alguma coisa do Círculo da Paz, mas era muita coisa pra ser feita e a disponibilidade de tempo a gente não tinha”. (professor)

Mesmo diante desse quadro, os participantes citaram atividades que foram realizadas no Projeto, como a formação do grupo dos “mensageiros da paz”, as assembléias escolares no turno vespertino e ações criativas voltadas para a integração de toda a escola. “Foi em algumas salas que a gente passou anunciando... Que a gente podia ajudar na paz, que se tivesse algum conflito era só conversar com a gente...” (aluno) “Eu acho que o que mais mudou no ano passado foi o mural, que ele citou, que a gente colocou do lado da direção da escola. Que no mural tá o seguinte: tá o desenho de 2 mãos, aí uma pessoa coloca uma mão de um lado e outra pessoa coloca a mão de outro, e as duas pessoas só podem tirar a mão de lá quando elas não forem mais estranhas. Aí eu acho que isso ajuda bastante porque várias pessoas da escola que não se conheciam puderam se conhecer. Eu conheci pessoas da direção também que eu não conhecia. Eu acho que foi bem interessante.” (professor)

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O Projeto também integrou, indiretamente, as atividades dos professores em sala de aula, à medida que oportunizou a discussão de conteúdos relacionados com o respeito às diferenças e a resolução de conflitos. “(...) a gente trabalhou também as questões de respeito às diferenças culturais, questões étnico raciais, de gênero, questões de sexualidade, então a gente trabalhou isso junto com os alunos do 1º ao 5º ano, foram algumas ações um pouco isoladas, mas que a gente pode considerar que fez parte do projeto Vozes da Paz porque a gente percebe que aqui na escola grande parte das violências são relacionadas às diferenças humanas”. (professor)

Como forma de acompanhamento do Projeto, em 2014 foi aplicado um questionário com alunos, pais e professores, porém esses resultados não foram analisados. “teve uma ação nossa também no ano passado que eu quero resgatar aqui, que eu lembrei que a gente aplicou com os pais, alunos, professores, alguns questionários bem ricos, inclusive tem na pasta, e acabou que se perdeu, nós não fizemos a tabulação, a gente não discutiu isso daí, é uma coisa que poderia nortear muito bem o nosso trabalho”. (direção) 3 - Parceria com o TJDFT

Alguns participantes falaram sobre a importância da parceria da escola com o TJDFT, ressaltando as ações voltadas para a motivação e a formação do grupo. Contudo, colocaram também a necessidade de aproveitar mais a disponibilidade dos servidores do TJDFT. “A gente queria agradecer também o apoio que o TJ tem nos dado através do Justiça Comunitária. A disponibilidade, as injeções de ânimo, formações, acho que tudo isso tem agregado de uma forma bem qualitativa, o negócio pode dar certo”. (professor) “O que eu senti falta foi que a gente aproveitasse mais as pessoas que estavam se colocando disponíveis, como o pessoal do TJ”. (professora) “Uma coisa muito boa que vocês trouxeram e que me ajudou muito na direção foi aquele guia com os parceiros, guia de encaminhamento, eu usei muitas vezes, está na minha gavetinha, quando eu preciso, quando o pai vem com uma necessidade, é ótimo, viu, gente, obrigada. Eu acho muito interessante essa parceria que se constrói nessa rede”. (direção) 4 – Contribuições do Projeto para a comunidade escolar 4.1 - Democratização do espaço escolar

O Projeto, de acordo com alguns participantes, aproximou mais as pessoas dos diversos segmentos escolares à medida que oportunizou momentos de encontros entre funcionários, alunos, professores e pais. Além disso, estimulou a cultura de “pensar coletivo” as questões da escola e até mesmo a definição de regras dentro de sala de aula, conforme citação a seguir:

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“(...) mas ao mesmo tempo eu também percebo muita vontade dos professores em fazer, em trabalhar essas questões das regras junto com os alunos, então, a construção das regras de uma forma coletiva.” (professor) 4.2 – Participação da comunidade escolar nas ações desenvolvidas na escola

Percebeu-se que tanto alunos como professores e funcionários tiveram papel importante nas ações desenvolvidas na escola. Os alunos, por exemplo, tiveram a iniciativa de desenvolver atividades voltadas para a promoção da cultura de paz, que traziam a sua “marca”, ou seja, eram expressão de sua criatividade e de seu olhar. “A camiseta... a que eu tenho é com uma pomba branca, com o nome embaixo e uma frase atrás, ‘Eu sou da paz’, e os alunos mesmos que puderam fazer essas camisetas...”. (aluno) 4.3 - Inserção de princípios da mediação comunitária no ambiente escolar

Alguns professores colocaram que o Projeto permitiu trabalhar com os alunos a temática da resolução de conflitos dentro de sala de aula, além de temas relacionados à aceitação das diferenças, ao preconceito, dentre outros. Um aspecto bem interessante que foi ressaltado foi a atuação dos próprios alunos na mediação de conflitos. “(...) quando tinha alguma confusão na escola, alguma coisa, a aluna X sempre estava lá pra conversar, pra poder achar um método de não brigar, um método que as pessoas podem discutir sem precisar brigar”. (aluno) 4.4 – Construção da cultura de paz

Os participantes relataram resultados do Projeto relacionados com a construção da cultura de paz na escola. Muitos trouxeram a percepção de que antes do Projeto havia mais violência na escola entre os alunos, mais conflitos também entre membros dos diversos segmentos escolares. “Eu também tenho percebido assim, tanto por falas de colegas que já tá aqui há mais tempo e etc, já desse ano também, que mudou muito essa questão, a diminuição mesmo da violência entre os alunos. Eu acho que isso, de certa forma, eu acho que é reflexo do projeto que foi desenvolvido, né, isso eu não duvido”. (professor) 5 – Círculo da Paz

Alguns participantes relataram diferenças de atuação do Círculo da Paz ao longo dos dois anos de desenvolvimento do Projeto. Em 2013, o Círculo desenvolveu muitas atividades e teve uma participação significativa de membros da direção, principalmente, com a presença de uma coordenadora pedagógica que foi responsável pelo acompanhamento da gincana. “Assim, sobre o Círculo da Paz em 2013, eu ainda não estava nele, mas eu pude perceber que teve muita diferença na escola (...)” (aluno)

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Já em 2014, muitos membros do Círculo mudaram o que resultou em uma

descontinuidade do Projeto. “Mudou todo o Círculo, só ficou eu e a aluna Y ano passado, os outros o pai transferiu de escola, (...), então tudo isso, a equipe começa tudo de novo, dá trabalho”. (professor) “Acho que, de repente, faltou um pouco de atividade, dentro do Círculo, da direção, da coordenação (...), em 2014 nós estávamos com um grupo novo de coordenadores que também estavam aprendendo todo o trabalho, de repente não trabalhou legal isso daí”. (Direção)

Os participantes também disseram como se sentem como membros do Círculo da Paz, o que revelou um envolvimento significativo e também uma realização por ser participante do Projeto. “(...) Eu acho muito bom tá dentro do grupo que você pode olhar pra você mesmo e pensar que você fez uma boa ação na escola. Eu acho que é muito importante você olhar pra você, o que você era antes e o que você é agora, e perceber que você pode mudar e fazer uma ótima ação dentro da escola”. (aluno) 6 – Recursos da escola (humano/material)

Em relação a essa categoria, houve falas que destacaram a rotatividade e a falta de pessoas para desenvolverem o Projeto. A rotatividade de professores, membros da direção e de alunos foi apresentada como uma razão para a descontinuidade do Projeto em 2014. “Quando o grupo de 2013 saiu, eu falei assim ‘não deveria ter mais essa questão de um professor sair de uma escola e ir pra outra porque isso atrapalha qualquer trabalho’ porque você no outro ano tem que começar do zero, todo ano é assim, muda, vai pra outra escola, remoção, isso atrapalha qualquer trabalho”. (professor)

Além disso, alguns participantes colocaram que a falta de determinados profissionais na escola, como coordenador pedagógico e coordenador administrativo, dificulta o desenvolvimento das ações do Projeto porque os professores e os membros da direção se sentem sobrecarregados e, muitas vezes, sem tempo para se envolver nas ações do Projeto. “E outra: avaliando o que tem pra acontecer esse ano, pelo que eu conheço da gincana que aconteceu, sempre tinha alguém que tava passando, fazendo a pontuação, observando o que foi analisado, e nós não temos essa pessoa aqui. Nós não temos coordenador, nós não temos ninguém que possa estar fazendo esse acompanhamento. E se a gente lança uma gincana que depois não tem acompanhamento, acaba que ela se perde, né? Os alunos se sentem desmotivados, ‘ah, a gente tá fazendo, mas ninguém vem ver’”. (direção) “(...) com essa economia de pessoal fica difícil todos liberarem o professor (...)” (professor)

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7 – Críticas e sugestões para aprimoramento

Houve crítica em relação à apresentação da proposta das assembléias escolares pelos servidores do TJDFT, em razão por ter sido colocada sem uma fundamentação teórica: “Eu tive um pouco de resistência com relação à metodologia que foi sugerida das assembléias escolares porque eu já vinha de uma experiência prévia com o tema das assembléias escolares e eu tive a impressão de que a proposta das assembléias escolares traga pelo pessoal do TJ, ela faltava mais coisas ali(...)” (professor)

Alguns professores também criticaram o fato de terem muitas disciplinas específicas, sem espaço em sua grade curricular para trabalhar as ações do Projeto. “Aulas de PD, né, que seria muito importante pra gente trabalhar, com um professor que pudesse assumir essa disciplina, que poderia assumir de fato esse projeto (...)” (professor)

Os participantes reiteraram a importância de o Projeto Vozes da Paz ser apresentado todo início de ano para a comunidade escolar e de haver formação para os membros do Círculo da Paz. Além disso, uma estratégia para a continuidade do Projeto seria trabalhar com as séries iniciais, já que abarca os alunos com probabilidade maior de continuar por muitos anos na escola. “Porque a constância do aluno dentro da escola é maior do que a do professor. Todo ano entra e sai professor aos montes, mas o aluno geralmente permanece na escola. Então quando você começa a apresentar o Projeto para os menores, eles mesmos dão continuidade, eles mesmos, os alunos, cobram ‘E aí, o Projeto, que a gente tava trabalhando e tal?’. Então aí eu acho que quanto maior o envolvimento deles, melhor. (direção)

Uma sugestão importante refere-se à inserção no Projeto de alguma forma de premiação para os alunos como uma oportunidade de valorização e reconhecimento pelas atividades desenvolvidas de promoção da paz. “Ter alguma coisa assim pra eles, premiação, pra eles verem que, através do Círculo da Paz, surgiu a paz e que ofereceu coisas boas, oportunidade, que é pra eles terem mais força e ajudarem a gente, né? Aí, como vocês têm várias redes, né, com outro órgão, conseguir um passeio, algum lugar pra eles irem, alguma coisa que eu acho que é muito importante, eu acho que eles iam gostar”. (funcionário) CEF 20 1 - Motivação

No CEF 20 verificou-se, a partir das falas dos participantes do grupo focal, uma grande motivação por parte da comunidade escolar, confiança de que o Projeto-piloto traria resultados positivos para a escola a partir do envolvimento de todos:

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“E a minha motivação enquanto professor é muito ligada à motivação dos alunos e das alunas. Nesse sentido eu achei interessante o ponto do protagonismo deles, sobretudo quando eles saem da sala de aula para fazer alguma coisa.” (professor)

“Já trabalhei em outras escolas da Ceilândia, sei bem da realidade. Eu percebi que esse projeto pode fazer muito a diferença nessa localização, nessa região. E o que eu achei legal, igual o colega comentou, a disposição dos alunos. E que eu achei muito legal foi que assim... eles estão com vontade de fazer, com vontade de provocar alguma mudança, com vontade assim de agir no meio deles, na escola” (professor)

“Esse negócio de trazer a paz é muito idealista mesmo. E com certeza a gente que trabalha com educação, a gente tem que ter esse otimismo mesmo. E ver os alunos querendo participar com certeza é uma coisa que motiva a gente.” (professor)

2 – Desenvolvimento do Projeto

Os participantes ressaltaram que a Rádio Vozes da Paz foi importante para a comunidade escolar por agregar os estudantes e enviar mensagens relacionadas à paz para todos, durante os intervalos. Também foi citado que foram realizadas atividades de teatro, dança e “abraços gratuitos em nome do Vozes da Paz”. Falaram também de outras atividades que já existiam, mas que passaram a agregar o Vozes da Paz. “Obviamente que é o papel da comunicação de massa, então, a Rádio Vozes da Paz de fato conseguia aglutinar os alunos naquele momento ali no intervalo. E talvez era onde o Projeto era, aproveitando o pleonasmo, mais projetado. Nesse sentido, não sei se era falha na elaboração, talvez ali com o microfone na mão e o poder midiático que ele traz, pudéssemos falar mais de paz, embora falamos bastante: momento poesia, momento musical, momento romântico... E os alunos se aglutinavam ali depois do almoço e entendiam. Eles eram ansiosos pelo momento da rádio. (...) Então, eu poderia dizer que a rádio foi a menina dos olhos do projeto Vozes da Paz.” (professor) “No teatro eu que ministrei as oficinas que até então não tinha essa vinculação imediata e passou a ter, não vou problematizar, mas não foi por uma via proativa da Vozes da Paz, mas a gente conseguiu fazer um trabalho corporal bastante interessante (...) Então, as coisas impulsionadas na escola foi assim vide Vozes da Paz (risos), mas, sobretudo, e aí eu não tiro o mérito disso, sobretudo por conta das meninas que eram do Vozes da Paz e que encamparam e tem encampado”. (professor)

“Aí é o que você disse que rolou já no ano passado e o que a gente pretende fazer, que é tocar nesse assunto do abraço. Mas o que eu acho que é importante é o ato em si pra mim, o que representa, que eu entendo que eu compreendo dessa atitude que a gente quer ter na escola. É para justamente causar o contrário da violência, que vai afastar, que vai agredir... e fazer o contrário. Demonstrar um pouco de afeto, de carinho, de amor, de aproximação, num ato que penso eu que é simples né.. Você não gasta nada. É uma ação sua, é um mover seu, no sentido assim, mais de querer interagir.(professor)

Sobre o desenvolvimento do projeto, vários participantes do grupo focal ressaltaram que o Projeto não era conhecido de toda a comunidade escolar e que sua divulgação deveria ser ampliada, para que todos os professores e estudantes pudessem

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compreender seus objetivos e como poderiam participar. Como existiam algumas estudantes muito conhecidas na escola e participantes do Vozes da Paz, elas tinham a capacidade de aglutinar outros colegas, mas o alcance delas era limitado. Entendemos que a proposta é que o Vozes da Paz seja menos personalizado e mais institucionalizado – que a comunidade escolar toda se responsabilize por ele. “Então nesse sentido, talvez seja: intensificar mais no âmbito midiático e também, visual. As meninas eram incansáveis (...) fazendo cartazes, falando sobre cultura de paz, etc. Então, talvez o alcance que se pretende tem que passar por aí: tornar visual; tornar audível; tornar orgânico dentro do espaço escolar. Por enquanto fica uma coisa muito guetizada” (professor)

“Eu acho que o Vozes da Paz precisa mostrar pra que ele tá aqui, o que que ele quer ganhar com aquilo, o que que ele quer fazer, qual o objetivo dele pra escola, para os alunos? Porque o Vozes da Paz precisa mostrar o que ele quer porque, aí, os alunos, uma boa parte, vai se interessar por aquilo, vai pensar: ‘Eu quero participar daquilo. Eu vou fazer. Eu vou me divertir’”. (aluno)

Alguns participantes também colocaram a dificuldade em construir o Projeto de

acordo com a realidade da escola e também em lidar com a resistência das pessoas.

“Fácil foi a gente aceitar o Projeto, a gente abriu os braços pra ele, e ele veio, tamo aqui, mas o difícil foi formar o Projeto dentro da nossa escola porque o (...) rapaz que veio apresentar pra gente, sabe o Projeto ‘as mil maravilhas’ que vc vê, ‘nossa, vai mudar o mundo’, foi isso, aí a gente tinha que adaptar, não é todo mundo que está disponível pra escutar a gente na rádio, sabe, não é todo mundo, não são todos os professores que estão dispostos a vir, sentar e conversar com a gente pra dizer o que ele acha ruim, o que ele acha bom. Tem gente que reclama de onde a gente faz a rádio porque atrapalha, de como a gente faz a rádio porque atrapalha, de como a gente espalha as notícias porque atrapalha, mas também não vem dar solução. Eu acho isso não difícil porque nada é difícil, mas é onde a gente devia saber administrar, acho que a gente que tá fazendo isso errado, não vou colocar a culpa (...), só que eu penso em possibilidade de como fazer e eu não vejo, é o que tem pra hoje, é onde a gente pode tá fazendo, então vamos fazer, não pode parar.” (aluno)

3 – Parceria com o TJDFT Sobre a parceria do TJDFT no projeto Vozes da Paz, houve uma crítica trazida por um componente do grupo focal que não integrava a escola durante o biênio ora avaliado (2013/2014), visto que a ela chegou em 2015. A crítica, que não foi rebatida por nenhum outro participante do grupo focal, referiu-se a não estarem explícitas as responsabilidades relativas à execução do Projeto. Segue o trecho destacado:

“(...) Pela fala de vocês, pela apresentação do Projeto, eu senti o Projeto meio largado, o Projeto é esse, a escola abraça, os alunos abraçam, e o respaldo de vocês? Qual exatamente é esse respaldo, eu não consegui perceber ele. Assim, a gente tá aqui conversando, vocês vão trazer a pesquisa, vão divulgar, mas qual é o respaldo, não só legal, mas financeiro, de todos os sentidos, pra que esse Projeto consiga andar na escola? (...) Por exemplo, a gente conseguiu uma verba agora no início do ano pra fazer o nosso trabalho na área de arte e

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cultura, de desenho e grafite, podemos incluir isso no Vozes da Paz, mas isso é um projeto dentro da escola que a gente atrela ao Vozes da Paz,, é agregado, mas não faz parte do Vozes da Paz. Então, percebe que ele usa como se fosse um parasita, acho que o termo é feio, mas é um parasit:, você tem um projeto e ele vai transdisciplinando em todas as áreas, mas eu não sinto um respaldo de verdade do TJ em relação a isso, parece que a gente assim, oh, ‘esse é o projeto, faça’, beleza, vamos fazer. Saiu resultado positivo, mil maravilhas, vamos seguir os exemplos, e se saísse resultado negativo, e se piorasse, como é que vocês iam resolver esse problema, como é que seria essa mediação? Então, eu tô sentindo isso, eu não sei se eu tô conseguindo ser clara, mas eu senti essa questão assim.” (professor, não participou diretamente do Projeto,)

4- Contribuições do Projeto para a comunidade escolar

4.1- Democratização do espaço escolar Essa democratização parece ser, ainda, incipiente, aparecendo no Círculo da Paz,

onde os alunos têm voz ativa para sugerir e formar uma decisão. Em relação aos demais espaços da escola, não houve comentários.

4.2- Participação da comunidade escolar nas ações desenvolvidas na escola

Durante o grupo focal, não foi possível dimensionar a participação da

comunidade nas ações do Projeto. Destacamos a crítica à pouca divulgação dentro da escola e para a comunidade externa: “Assim como os professores, tem a família, que está mais distante ainda. Se a gente não tá escutando falar (do Projeto), imagina a família. Um Projeto que é da realidade deles”. (professor)

“Aí você vê os projetos saltando agora na escola, e era o medo do professor, e que é o meu medo também, ele parar na superficialidade, não avançar, entendeu? Então a gente tem que trazer essa comunidade, não só a comunidade escolar, mas a comunidade familiar pra dentro da escola, e aí a gente vai precisar ter esse suporte, eu não falo na questão financeira, vamos deletar, mas eu falo pela questão assistencial, relacionamento jurídico, a mediar conflitos, a trabalhar com os alunos, tem aluno que tá com problema, vamos chamar esse aluno, vamos conversar, não é só punição.” (professor)

Por outro lado, observa-se que o Projeto possibilitou o desenvolvimento de

ações por iniciativa dos alunos, como foi o caso da rádio.

“Vamos colocar uma rádio, vai todo mundo ouvir, vai todo mundo parar pra escutar.” (aluna)

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4.3- Inserção de princípios de mediação comunitária no ambiente escolar A mediação de conflitos é um dos pilares do Programa Justiça Comunitária. E

um dos objetivos do Projeto é a inserção dos princípios da mediação comunitária de conflitos nas escolas que fazem parte do Projeto-piloto.

Pelas falas que foram expostas no grupo focal, entendemos que esse objetivo foi

alcançado, pois a escuta ativa passou a ser utilizada pelos participantes do Círculo da Paz e os conflitos passaram a ser resolvidos de outra forma. Seguem alguns relatos importantes: “O que eu percebi na minha área de orientação educacional... eu trabalhei muito com mediação de conflitos. Então foi um Projeto que veio formar mais pessoas trabalhando com isso também. Então eu percebi uma parceria com os alunos que participaram do Projeto, principalmente a aluna X no ano passado, um pouco no início desse ano, porque ela saiu logo no início. Então, assim, foi criado um olhar mais sensível para observar o conflito e trazer pra gente.” (professor) “Mas a minha percepção... é que eu lido diretamente com a mediação de conflitos lá também, né? Então, assim, ajuda muito, porque depois que a gente começou a desenvolver ele aqui dentro da escola, meninos que davam muito trabalho mudaram totalmente o comportamento. É lógico que não resolveu, a assistência disciplinar e a direção sempre tem que tá atuando nessa área de mediar conflitos. Mas diminuiu sensivelmente enquanto o Projeto está acontecendo dentro da escola. Melhorou bastante.” (direção)

4.4 – Construção da cultura de paz

Em relação à construção de uma cultura de paz no ambiente escolar, as falas durante o grupo focal foram divergentes. Alguns participantes relataram a importância do Projeto para o desenvolvimento da cultura de paz, criando um olhar sensível do aluno diante do conflito, como na fala a seguir:

“E nesses alunos que participaram do projeto Vozes da Paz, eles já tem uma visão totalmente diferenciada, sabem? Tem uma escuta mais sensível com o colega, percebe as necessidades do colega e procura a gente e traz situações.” (professor) “O que eu acho, assim, que eles (os alunos) têm que entender, que a violência não é só a questão física, é a agressão verbal, o comportamento inadequado, tudo isso gera um ambiente violento. E às vezes eles não entendem. ‘Ah, eu só xinguei ele. E ele foi e me bateu.’ E a maioria das vezes não entende isso. Xingamento faz parte do cotidiano.” (direção)

Sem falar diretamente na construção da paz, houve falas que ressaltaram a

mudança de comportamento dos alunos e a melhoria da escola após a implantação do Projeto. “Eu acho que o Vozes da Paz deu uma fluência, e eu acho que melhorou muito o Vozes da Paz, sei lá, eu não sei explicar direito, mas o Vozes da Paz conseguiu mudar de alguma forma o CEF 20, o pensamento dos outros alunos (...) eu não sei explicar direito, mas tipo o comportamento de muitas pessoas mudaram, mudaram bastante.” (aluno)

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“Eu pensava que o Vozes da Paz era só uma coisa que ia ser passageira, rápida. Mas não, eu vi que o Vozes da Paz tava evoluindo, evolui mais os alunos, faz os alunos mudar, é isso que eu percebi do Vozes da Paz, por isso que eu tô gostando muito do Vozes da Paz nessa escola, não só nessa escola que podia ter nas outras também, não é só o CEF 20, CEF 35 que precisa, é Brasília toda mesmo, é isso.” (aluno)

Outras falas apresentaram questionamentos em relação à ação do Projeto na construção efetiva da cultura de paz na escola. Relatando uma situação específica, em que mesmo em um conflito envolvendo aluno e professor participantes do projeto, não houve eficiência na solução de forma pacífica, resultando numa transferência compulsória do aluno.

“Houve o caso de uma aluna, que era do Projeto e que uma professora que também não está mais na escola, que também era do Projeto. E ela se declara em desentendimento (com a aluna). E acabou que essa menina foi transferida por comportamento, ou falta de, ou mal comportamento, que seja. E a gente ficou com uma pulga atrás da orelha: mas como? Ela não era do Vozes da Paz? E até que ponto... não é que o Projeto vai fazer milagres. Mas até que ponto desistiram dela? O caso da aluna X, até que ponto desistiram dela? Porque ela era muito proativa, muito criativa, difícil de lidar como boa parte dos alunos. No entanto, a minha leitura bem doméstica, é que por conta de relações muito pessoais e de poder, porque ela era professora e a outra uma aluna. Acabou que a aluna foi punida, e a punição mais severa, que na leitura deles é uma expulsão, na leitura pedagógica, e jurídico-pedagógica é uma transferência de escola compulsória. Nesse sentido ficou um... não sei se ficou pra vocês, mas ficou um “quê” assim... é, até que ponto a paz (...) até que ponto essa paz não atingiu esses corações e não contaminou pro bem para que fosse transformado, revertido.” (professor)

“Agora me veio sempre uma inquietação... e eu já chego com ela, sobretudo quando a gente vai fazer algum debate, um diálogo ou uma construção que seja um projeto que tem como visão a construção da paz. Aí a gente vai ter que questionar, que paz é essa? Por exemplo, e não por acaso vocês do TJ escolheram duas escolas da Ceilândia que a gente sabe que é uma das cidades das mais violentas do Brasil, com um índice de mortalidades de jovens absurdas. Aí vem meu ceticismo de não acreditar que esse Projeto possa de fato transformar alguma coisa. Mas como eu vejo a motivação dos alunos, isso também me motiva.” (professor)

5 – Círculo da Paz

Houve poucas falas relacionadas diretamente com o Círculo da Paz. Percebe-se que o conceito e a formação do Círculo da Paz ainda precisam ser mais consolidados na escola. Muitas atividades desenvolvidas são construídas nas reuniões do Círculo, mas a execução parece ficar mais a cargo dos alunos, o que pode sobrecarregá-los. Além disso, o Projeto confunde-se um pouco com o Círculo, como se aquele fosse restrito a esse grupo de pessoas. “Vou explicar, o Vozes da Paz começou com o nome Círculo da Paz aqui nessa sala, e foi como eu disse, o Projeto ‘as mil maravilhas’ e quando saiu daqui, dessa sala, a gente foi ver o que que a gente tinha pra trabalhar.” (aluno)

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“Parece que é a escola toda, mas a partir do momento que é uma sala, terça-feira, dois horários, com três professores e cinco alunos, aonde que tá a escola toda aí?” (professor) 6 - Recursos da escola (humanos/materiais)

Durante o grupo focal, algumas falas relataram que as dificuldades relacionadas

aos recursos humanos da própria escola tiveram impactos negativos para a condução do Projeto. Esses impactos se deram tanto pela condução inicial do Projeto na escola por uma pessoa que não tinha um bom relacionamento interpessoal com alguns alunos, quanto pela desvalorização da categoria de professores pelo Governo de uma forma geral.

“Pelo que a gente viu algumas coisas no passado, a pessoa que talvez conduzisse um pouco do Projeto não ajudava muito, em alguns aspectos com aluno. Alunos com problemas, uns alunos aí, muito problemáticos, acabava não dando certo com a pessoa que conduzia. Acabava tendo outro problema em vez de adiantar.” (professor)

“Reafirmo: até não vi grandes transformações assim, sobretudo esse ano. Até porque os professores foram muito humilhados pelos governos e há uma crise, há uma crise de disciplina muito grande nas escolas. No passado, nesse momento do ano letivo eu não estava também. Quer dizer, há várias coisas acontecendo, que são fatores externos e transversais que ferem o cotidiano escolar.” (professor)

Outra crítica apresentada foi relacionada à alta rotatividade do corpo docente e

também discente.

“Talvez em partes seja também pela rotatividade. Tanto grupo de professores, quanto grupo de alunos, mudou bastante do ano passado para esse. Pode ser uma parcela, com certeza tem a ver com isso. Não ficou bem caracterizado, tanto o docente, como os discentes que mudou.” (direção)

7 – Críticas e sugestões para aprimoramento

As críticas recorrentes ao Projeto é sobre o não-conhecimento de toda a comunidade escolar sobre o Vozes da Paz, o que faz com que a participação mais ampliada de todos não ocorra, gerando poucas ações e poucos resultados (divulgação).

“Fica difícil de você falar do Projeto sem as pessoas conhecerem. Então, assim, existe uma questão de, vamos passar, vamos passar o Projeto, vamos passar pro professor que tá chegando, vamos passar pro aluno que está chegando, mas a escola em si tem que conhecer o Projeto. Porque senão fica difícil até do próprio Projeto atuar na escola.” (professor)

“Mas eu percebo assim que ainda precisa criar um corpo, assim dentro da escola, até mesmo para os próprios alunos entenderem direito, o que é isso? O que está querendo trazer com isso? Com essa proposta. Eu não vi isso muito claro assim, sabe?” (professor)

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“O projeto é muito interessante só que muitos não estão meio que inseridos, não sabem, chegou agora, ele até tem pouco tempo na escola. Mas assim os que já estão, tem alguns que ainda não sabem como é que funciona o Projeto, como é que podem ser inseridos no Projeto.” (direção) Ressaltaram, inclusive, o pouco conhecimento do Projeto entre os próprios professores: “Nem todo mundo, inclusive o corpo docente, acha que a gente vem pra reunião com a intenção de estar colaborando com uma cultura de paz. Às vezes acha que você tá fugindo mesmo ou da sala de aula ou da coordenação (sorri). Quer dizer, não há um ganho pedagógico que faz com que a escola pulverize mesmo a paz ou outra cultura positiva, não há esse entendimento.” (professor)

“A partir do momento que todos os professores tenham entendimento junto à escola do Projeto, porque à tarde são projetos, que podem e vão auxiliar... O que acontece aqui, eu, nós somos do resgate de valores, ‘ah, Vozes da Paz, vamos pegar só os professores do resgate de valores, né?’ (...) fica meio que, ‘se vira vocês aí, vocês têm que jogar o Projeto, estão entendendo?’” (professor)

Uma das sugestões apresentadas durante o grupo focal foi a de consultarem a opinião dos alunos, permitindo que o Projeto seja construído de forma conjunta entre alunos/professores/TJ. “Eu acho que o Vozes da Paz poderia pedir a opinião dos alunos. Às vezes eles colocarem o nome ou às vezes ser anônimo. Pra eles (alunos) darem uma opinião, falar o que que eles acham, o que eles acham que deve ser feito no Vozes da Paz. Aí a gente ia ter mais uma noção do que eles acham, do que eles queriam que fosse feito. Aí a gente já ia ter uma base do que fazer, daí a gente ia saber o que eles (alunos) pensam sobre o Vozes da Paz.” (aluno)

Alguns participantes também ponderaram sobre o risco de as ações do Projeto ficarem na superficialidade, ressaltando que o sentido do Projeto é algo muito maior. “Eu só quero fazer uma ressalva: eu não sou contra abraço nenhum, pelo contrario, eu adoro ser abraçado, chego em casa minha filha me abraça, minha mulher me abraça, todo mundo me abraçando. Mas ainda acho que as coisas não fiquem na superficialidade. Porque dizer, por exemplo, que houve transformações consideráveis, eu não sei. Eu não arriscaria.” (professor)

“Eu associei o Vozes da Paz a uma rádio, só a uma rádio, por isso que eu senti essa questão de me apropriar de outras coisas porque foi pelas falas que eu fui sentindo isso e eu vi que não é isso, é um Projeto muito maior, de conscientização, de conscientização não só política, mas cidadã dentro da escola.” (professor)

Uma sugestão apresentada refere-se à necessidade de agregar o Vozes da Paz aos demais projetos da escola, dando corpo e fundamento ao que está sendo construído. Esse fato possibilitaria que o Projeto fosse apresentado para os novos alunos e professores sem o risco de se perder o que já foi construído no ano anterior.

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“Então se não existe uma coisa formada, vamos começar tudo de novo. Obviamente não é fechar, não é engessar (...) Ah, mas aí, da pessoa chegar e não ter que começar do zero.” (professora) Quadro Resumo Nos quadros a seguir, agrupamos por categorias algumas considerações trazidas pelos componentes dos grupos focais de cada escola, extraídas das falas (gravadas) e de observações anotadas.

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CEF 35

Motivação

Desenvolvimento do

Projeto

Parceria com o

TJDFT

Contribuições para a comunidade escolar

Círculo

da Paz

Recursos da escola (material, humano)

Críticas e sugestões para

aprimoramento

O Projeto trouxe de início entusiasmo, vontade de trabalhar

Realização de gincanas, oficinas e outras atividades

Pouco aproveitamento pela escola do pessoal do TJ que se coloca disponível

O Projeto trouxe mais união, pensamento e construção de regras coletivas

A atividade do Círculo da Paz em 2014 (ano atípico) caiu em relação a 2013

Descontinuidade gerada por saídas (remoção) e falta de professores, coordenadores e diretores atrapalha o desenvolvimento do Projeto

Realização de visitas anuais do PJC para (re)apresentar o Projeto para os novos integrantes da escola e investir sempre nas séries iniciais

Ocorreram mudanças significativas na escola a partir da motivação trazida pelo Projeto

Queda de rendimento (envolvimento) no Projeto em 2014

O PJC traz injeções de ânimo e boa formação

O sentimento de envolvimento com a escola aumentou

O envolvimento das pessoas que estão dentro do Círculo da Paz é bom. Mas fora do Círculo às vezes é desanimador

Falta de pessoal (coordenadores, supervisores) prejudica o acompanhamento das atividades (ex: gincanas), desmotivando os alunos.

Rever metodologia de apresentação das assembleias escolares

Houve aumento de comprometimento das partes envolvidas com as atividades escolares

Maior integração entre alunos, professores, funcionários e diretores. O projeto intensificou a comunicação

O guia de encaminhamento (entregue na escola) foi muito útil

Foram criadas oportunidades de trabalhar a discriminação e trouxe mais reflexão sobre resolução de conflitos e sobre a paz na escola

Percebida transformação positiva dos integrantes do Círculo da Paz

Com mais pessoal, as atividades poderiam ser melhor distribuídas e realizadas

“Criar” premiação (oportunidades) para alunos (e Círculo da Paz) como passeios, com a ajuda do TJ e/ou outros órgãos públicos.

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CEF 20

Motivação

Desenvolvimento do

Projeto

Parceria com o

TJDFT

Contribuições para a comunidade escolar

Círculo

da Paz

Recursos da escola (material, humano)

Críticas e sugestões para

aprimoramento

Os professores ficaram muito animados com a motivação dos alunos, com a vontade que eles demonstraram em agir e provocar alguma mudança

O Projeto aparenta estar pouco consolidado na escola, alguns professores não conhecem o projeto. Isso pode ser explicado devido ao pouco tempo de atuação do Vozes da Paz na escola, iniciando sua atuação em maio de 2014.

Crítica em relação à contrapartida que o TJ dá à escola para a realização do Projeto, como a inexistência de verba para auxiliar na execução das atividades.

Percepção de que os princípios de mediação foram importantes para a equipe pedagógica lidar com os conflitos no ambiente escolar

A construção das atividades ocorrem no Círculo da Paz, porém a execução parece ficar mais a cargo dos alunos

A alta rotatividade de docentes e discentes na escola dificulta a continuidade do projeto.

Muitos professores e alunos não conhecem de fato a proposta do Vozes da Paz, mas somente as ações isoladas.

O Projeto foi recebido com entusiasmo e o protagonismo dos alunos foi um ponto importante

Foram realizadas atividades como a rádio, o dia do abraço, dança, teatro, dentre outras.

Cobrança de uma maior divulgação do Projeto a fim de envolver mais a comunidade escolar e familiar

Poucas falas relacionadas diretamente com o Círculo da Paz. Percebe-se que o conceito e a formação do Círculo da Paz ainda precisam ser mais consolidados na escola.

Desmotivação dos professores perante à desvalorização dos professores pelo Governo

Questionamento de que as ações do Projeto sejam superficiais, ressaltando que o sentido do Projeto é algo muito maior.

Pela iniciativa dos alunos, algumas atividades já existentes na escola, como o teatro e a dança, passaram a levar o nome do Vozes da Paz

Há professores que entendem que os alunos envolvidos com as atividade do Vozes da Paz têm uma visão diferenciada do conflito, uma escuta mais sensível.

Projeto Vozes da Paz confunde-se um pouco com o Círculo, como se aquele fosse restrito a esse grupo de pessoas.

Crítica sobre a condução do Projeto na escola em 2014 por uma pessoa que não tinha um bom relacionamento interpessoal com alguns alunos

Proposta de que se crie um momento em que os alunos possam dar sugestões sobre o Projeto.

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Considerações Finais

Um dado importante foi a participação expressiva de membros do Círculo da Paz no Grupo Focal do CEF 35 e de participantes que conheciam as atividades do Projeto. Dessa forma, os participantes do grupo focal relataram com detalhes a realidade do Projeto nos anos de 2013 e 2014, apresentando suas atividades e, principalmente, sentindo-se protagonistas no Projeto. Já no grupo focal do CEF 20, houve a participação de alguns professores e alunos que não atuaram diretamente no Projeto e que, de alguma forma, não conheciam as ações desenvolvidas pelo Círculo da Paz.

Nota-se também uma diferença significativa quanto à etapa de desenvolvimento do Projeto

Vozes da Paz nas duas escolas. No CEF 35, o Vozes da Paz iniciou-se em 2013, e prosseguiu durante todo o ano de 2014, o que pode ter influenciado no conhecimento do Projeto dentro da escola, o aprofundamento das atividades desenvolvidas e os resultados já percebidos no que se refere à construção de uma cultura de paz.

Já no CEF 20, o Projeto existe há menos tempo, o que talvez justifique ainda ser pouco

conhecido na escola e também ter um amadurecimento menor das ações desenvolvidas. Muitos participantes reiteraram que são realizadas ações pontuais na escola, sendo necessário construir um projeto mais consolidado de cultura de paz, dar mais “corpo” e fundamento para as atividades propostas e definir que “paz” que se pretende construir na escola. Especificamente em relação à rádio, ficou claro que é uma atividade muito motivadora para os alunos, mas ainda é necessário expandi-la para a escola toda. Ficou também evidente a necessidade de integrar o Vozes da Paz aos demais projetos desenvolvidos na escola, de forma a dar unidade ao Projeto e também reconhecer e valorizar o que já vem sendo construído pela comunidade escolar.

Outro aspecto importante é a participação incipiente da família no Projeto tanto no CEF 35

quanto no CEF 20. Essa realidade também se revelou nos grupos focais, em que não houve a participação de nenhum componente da comunidade familiar.