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RELATÓRIO SOBRE AS RELAÇÕES CHINA-ANGOLA À LUZ DAS 8 INICIATIVAS PROPOSTAS NA CIMEIRA DE BEIJING DO FÓRUM PARA A COOPERAÇÃO CHINA-ÁFRICA (FOCAC 2018) Agosto de 2019

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RELATÓRIO SOBRE AS RELAÇÕES CHINA-ANGOLA À LUZ DAS 8

INICIATIVAS PROPOSTAS NA CIMEIRA DE BEIJING DO FÓRUM PARA A

COOPERAÇÃO CHINA-ÁFRICA (FOCAC 2018)

Agosto de 2019

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RELATÓRIO SOBRE AS RELAÇÕES CHINA-ANGOLA À LUZ DAS 8

INICIATIVAS PROPOSTAS NA CIMEIRA DE BEIJING DO FÓRUM PARA A

COOPERAÇÃO CHINA-ÁFRICA (FOCAC 2018)

Solicitado pela EMBAIXADA DA CHINA EM ANGOLA

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Índice

1.- Introdução e Breve Caracterização da Economia Angolana .................................................... 3

2.- Breve descrição da Cimeira China-África ................................................................................. 7

3.- Descrição das 8 iniciativas ........................................................................................................ 9

1. Promoção industrial e agrícola .......................................................................................... 9

2. Conectividade de infra-estruturas .................................................................................... 9

3. Facilitação do Comércio .................................................................................................. 10

4. Desenvolvimento verde ou ecológico ............................................................................. 10

5. Capacitação de quadros e técnicos ................................................................................. 10

6. Cuidados de saúde .......................................................................................................... 10

7. Intercâmbio entre pessoas (interacção do povo chinês e africano por meio da cultura,

desporto e ciência) .................................................................................................................. 11

8. Paz e Segurança ............................................................................................................... 11

Financiamento ......................................................................................................................... 11

5.- Principais eixos do Plano de Desenvolvimento Nacional E Relação entre as iniciativas ....... 12

6. Análise das Relações Económicas e Comerciais ...................................................................... 14

Um caso de sucesso de investimento privado chinês ............................................................. 18

7.- Conclusões e recomendações ................................................................................................ 21

7.1. Conclusões da análise das 8 iniciativas ............................................................................ 21

7.2 Recomendações relativas às 8 iniciativas ......................................................................... 21

7.3 Recomendações Gerais ..................................................................................................... 22

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1.- Introdução e Breve Caracterização da Economia Angolana

A economia nacional está mesmo num processo de perda sistemática de

capacidade de produção e de ritmo de crescimento (desde 2014 que o CEIC, nos seus

Relatórios Económicos anuais, o vem demonstrando, falando-se num processo de

desaceleração estrutural da dinâmica de crescimento do PIB). A Agricultura, Pecuária e

Florestas continuaram a afundar-se em 2018, as Pescas numa situação dramática

desde o último Trimestre de 2017, a Extracção e Refinação de Petróleo numa recessão

desde 2014, a Indústria Transformadora com desempenhos negativos desde o IV

Trimestre de 2017, o Comércio igualmente com desempenhos negativos desde o

último trimestre de 2017 e assim sucessivamente. Quer dizer que os sectores

estruturantes de um novo modelo industrial do país estão com muitas dificuldades e

desde há muito tempo.

A taxa média anual de crescimento prevista no PDN entre 2018 e 2022 é de 3%,

mas, face à recessão de 2018, estimada em -1,7% e a taxa de 0,3% prevista para 2019,

o ajustamento aritmético aponta para um valor mais baixo, cerca de 1,9%. Pode

acontecer que ainda se consiga aumentar este ritmo para 2,5% anual, considerando a

vontade do Governo em aplicar conjunto de políticas e medidas que agitem a

economia e atraiam investimentos privados do exterior. Para isso, o PDN 2018-2022

apresenta uma série de medidas, das quais se destacam:

a) Minimizar as barreiras à entrada e à saída de empresas do mercado.

b) Promover alterações institucionais e legislativas que permitam

aperfeiçoar e tornar mais eficaz e eficiente a aplicação da política de

concorrência.

c) Promover a concorrência através de uma regulamentação e de uma

supervisão dos mercados dissuasoras das práticas restritivas da

concorrência e incentivadoras da diversificação e do desenvolvimento

económico.

d) Promover a melhoria contínua do ambiente de negócios, procurando

reforçar a atractividade da economia Angolana.

De que parceiros se necessita para romper, de uma maneira sustentável, o já

longo ciclo de alternância entre crescimento baixo e crescimento negativo?

O conceito de soft power foi criado por Joseph Nye, professor de Harvard, para

incluir a capacidade de influência duma grande potência mundial. Este poder de

influência é baseado na cultura, nos ideais e nas normas e na marca-país, tendo-o

apelidado de hegemonia de veludo. Este conceito é desenvolvido no seu livro Soft

Power: The Means to Sucess in World Politics de 2004 e que acabou por ser uma das

grandes referências em matéria de relações internacionais. É à China e à sua recente

política de afirmação mundial que este conceito de soft power melhor se adequa. Só

que a realidade ultrapassou a teoria. Na verdade, a China acabou por ampliar o

conceito incluindo, na realidade das relações com outros países, o comércio

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internacional, a ajuda financeira, o investimento directo, a posição em organismos

multilaterais, etc. Ou seja, ultrapassou o velho conceito de hard power, onde a

diplomacia clássica de gabinete, o marketing internacional e as ferramentas militares e

de segurança preponderavam. A China é um dos países que revela uma tendência de

poder ascendente desde 1950, de tal modo que se estima que em 2025 a China venha

a ser o poder predominante no sistema mundial.

Em 1978 a China era um país arruinado pela chamada Revolução Cultural,

colocando-se à margem das principais economias da época. Hoje este país está cada

vez mais integrado na ordem política e económica estabelecida depois da Segunda

Guerra Mundial. Esta integração mundial explica, em grande parte, a explosão

económica da China depois de 1980.

A China tem construído a sua estratégia de relacionamento com África na base

dum conjunto de princípios diferente da aproximação ocidental, em particular da

“velha” Europa colonial. A não ingerência nos assuntos políticos internos tem sido um

dos seus estandartes e os países africanos têm apreciado esta postura. Os países

ocidentais continuam a pautar o seu relacionamento económico com os países

africanos na base duma série de condicionalidades políticas inexistentes nos

protocolos de cooperação China-África.

Graças a este comportamento muito prático, a cooperação económica entre

praticamente todos os países africanos e a actual segunda maior potência mundial tem

registado desenvolvimentos muito importantes em muitos sectores e os magnânimos

financiamentos por si concedidos preocupam a Europa e os Estados Unidos, mas têm

tido um importante efeito de imitação. O fundamental é que as lideranças africanas

consigam aplicar com critério estas consideráveis somas de dinheiro.

Nos últimos anos, tem-se destacado como factor de favorecimento do

crescimento económico africano as exportações africanas para a China, sobretudo

produtos de base e matérias-primas, sem grande valor agregado interno. Ainda assim,

as exportações africanas para a China são geradoras de algum emprego, e já conseguiu

equilibrar o balanço comercial dum modo geral.

O comércio China-África tem crescido enormemente. Mas as exportações dos

dois lados têm uma grande diferença estrutural. Enquanto a China exporta

principalmente produtos industriais acabados para a África, os países africanos, por

falta de produtos competitivos para o mercado chinês, não conseguem diversificar sua

pauta de exportação para a China, apesar das políticas de tarifa zero, oferecidas

unilateralmente pelo governo chinês.

Esta realidade constitui um evidente risco para as economias africanas em

termos de emprego, desenvolvimento do empreendedorismo local e aprofundamento

das relações agricultura-indústria, tão fundamentais para o adensamento da malha

produtiva e a integração económica africana. Claro que podem, do mesmo modo, ser

encaradas como uma oportunidade à implantação de outras actividades económicas

nos países africanos, no entanto, sempre condicionadas pelas fraquezas institucionais,

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falta de capacidade empresarial, subdesenvolvimento do capital humano, inexistência

de capital de conhecimento e dependência de capital financeiro.

Os fluxos financeiros para África têm sido acelerados pela participação da

China. Na verdade, a China, através da FOCAC (Fórum para a Cooperação África-China)

está presente em todos os países africanos.

Para além das relações estritamente comerciais entre estes dois blocos

mundiais, os chineses estão em África com investimentos pesados em diferentes

sectores de actividade económica.

A China continua a ser a economia que mais tem crescido no mundo (em

termos tendenciais e nos últimos 12 anos a sua taxa média anual de variação real do

PIB situou-se em 8,5%), não sendo suficientes os recentes impulsos da economia

indiana para que a república popular chinesa perca o controlo do crescimento

económico mundial, para o qual contribuiu, em 2018, com uma média de 30%

(superior ao dos Estados Unidos e da Europa dos 27). Os desenvolvimentos da

economia chinesa – que está a mostrar uma capacidade invulgar nas disputas com os

Estados Unidos sobre o livre comércio – perderam um pouco de vigor nos últimos anos

(2015-2018), mas ainda assim com uma dinâmica média anual de crescimento

significativa, em redor de 6,7%. A este ritmo, o seu PIB duplicará antes de 10 anos, ou

seja, em 2028 passará para USD 28,34 biliões, provavelmente o maior do mundo.

Serão estas constatações suficientes para se afirmar que o modelo chinês

(economia de mercado para produzir e competir e socialismo para distribuir) é o

melhor para promover o desenvolvimento económico e social, em particular em

África? É um facto que em menos de 10 anos foram retirados da pobreza milhões de

cidadãos, o que permitiu, através do aumento do emprego propiciado pelas elevadas

taxas de crescimento do PIB, dar uma dimensão económica mínima ao mercado

interno, o que levou as autoridades chinesas a definirem a procura interna como um

dos eixos estratégicos do seu crescimento, lado a lado com as exportações. Notou-se,

na verdade, uma atenuação do peso dos factores externos no seu modelo de

desenvolvimento. Como se sabe, o obreiro da grande abertura da economia chinesa ao

mundo foi Deng Xiaoping quando em Julho de 1979 decidiu criar as Zonas Económicas

Especiais e as Zonas Económicas Especiais de Exportação, enquanto espaços onde as

empresas dispuseram de condições vantajosas para se instalarem (com um

significativa redução dos custos de contexto) e desenvolverem a sua actividade de

exportação e mesmo de pesquisa tecnológica. Angola copiou muito mal este modelo

(não se soube ler e interpretar as condições políticas, económicas e sociais para o

sucesso chinês nesta matéria) e o resultado foi o desperdício de elevados montantes

de dinheiro.

Se os sucessos chineses podem não ser suficientemente persuasivos para que

se adopte o seu modelo (seria culturalmente um erro fazer um simples copy and past,

com eventuais consequências políticas e mesmo económicas imprevisíveis),

seguramente que muita aprendizagem os países africanos podem retirar da

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experiência chinesa, sendo, pelo menos na aparência, um propósito e uma intenção de

muitos líderes africanos empenhados em tirar os seus países da secular dependência

neocolonial europeia e em lançar as respectivas economias numa rota de crescimento

sustentado, com diversificação produtiva, redução da pobreza e participação na

Ordem Económica Internacional. A repetição periódica dos Fóruns China-África são a

expressão de mútuos interesses e da constituição de parcerias ganhadoras (win-win).

O Governo angolano tem relações económicas, financeiras e comerciais fortes e

privilegiadas com a China (que é o principal importador do petróleo angolano e as suas

exportações para o mercado nacional têm vindo a aumentar) tendo-a considerado

como um dos parceiros estratégicos do país. Acresce a dívida pública para com o

gigante asiático, avaliada, em finais de 2018, em USD 22,9 mil milhões, contraída

sobretudo para o financiamento das infraestruturas.

A cooperação com este país apresenta, indiscutivelmente, um carácter

estratégico, devendo as relações económicas com Angola inserirem-se num quadro

que favoreça:

A transformação de Angola num país de elevado rendimento e

de justa repartição da riqueza;

O aproveitamento dos recursos naturais a favor da

consolidação duma estrutura económica forte, diversificada,

competitiva, moderna e inovadora;

A internacionalização da economia nacional através do

aumento substancial do valor agregado das exportações

angolanas e de participações financeiras conjuntas em

empreendimentos internacionais;

O desenvolvimento das infraestruturas científicas, tecnológicas

e de inovação;

O fortalecimento da posição geoestratégica e de liderança

política de Angola em África e nas regiões económicas onde se

integra.

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2.- Breve descrição da Cimeira China-África

O Fórum de Cooperação China-África é o principal mecanismo de dialogo entre

os países africanos e a China remonta desde a primeira Conferência ministerial

realizada em Beijing em Outubro de 2000 com a presença de 44 países africanos. Em

2006, aquando da realização da terceira conferencia ministerial, também em Beijing,

organizou-se pela primeira vez a Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo. Em 2015,

em Johannesburg, Africa do Sul, ocorreu a segunda Cimeira.

Na terceira Cimeira dos chefes de Estado e de Governo do Fórum de

Cooperação China - Africa (FOCAC, em inglês) realizada em Beijing em Setembro de

2018, o Presidente Xi Jinping anunciou a realização por parte da China de oito

iniciativas que visam o desenvolvimento do continente Africano para o período 2019-

2021.

Segundo Xi Jinping “desde a cimeira de Joanesburgo do FOCAC em 2015, a

China implementou integralmente os dez planos de cooperação adoptados na Cimeira.

Um grande número de projectos de infra-estruturas ferroviárias, rodoviárias,

aeroportuárias, portuárias e outras, bem como uma série de zonas de cooperação

económica e comercial foram construídos ou estão em construção. A Nossa

cooperação em paz e segurança, ciência, educação, cultura, saúde, redução da pobreza

e interações interpessoais se aprofundou. O financiamento de USD 60 mil milhões

prometido pela China foi entregue ou providenciado. Para construir uma comunidade

China-África ainda mais próxima, com um futuro compartilhado na nova era, a China

lançará oito grandes iniciativas em estreita colaboração com os países africanos nos

próximos três anos, com base nos dez planos de cooperação já adotados”1. As

iniciativas são as seguintes:

1. Promoção industrial e agrícola

2. Conectividade de infra-estruturas

3. Facilitação do comércio

4. Desenvolvimento verde ou ecológico

5. Capacitação de quadros e técnicos

6. Cuidados de saúde

7. Intercâmbio entre pessoas (interação do povo chinês e africano por meio da

cultura, desporto e ciência)

8. Paz e segurança

Se olharmos de perto para as iniciativas propostas pela China, nota-se que em geral é o

que o Continente precisa para poder alcançar melhores níveis de desenvolvimento

económico e social.

Antes da realização da Cimeira do FOCAC 2018 em Setembro, a China convidou

académicos e investigadores de 47 países africanos para preparar a Cimeira e ouvir

1 Discurso de abertura proferido pelo Presidente Xi Jinping no dia 3 de Setembro de 2018 em Beijing

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deles o que achavam da cooperação, quais os principais assuntos que deveriam ser

discutidos e em que áreas apostar nos próximos anos. Isso ocorreu em Julho de 2018,

com a realização do sétimo Fórum China-Africa Think Tank (CATT) e precisamente em

Beijing. Neste encontro, em que pela primeira vez um investigador do CEIC-UCAN

participou, houve uma discussão franca e aberta da cooperação China – Africa entre os

académicos e investigadores chineses e os africanos2.

O sucesso na implementação daquelas oito iniciativas depende não só da

disponibilização dos recursos por parte da China e da sua boa vontade de ver o

continente desenvolvido, mas também do engajamento, envolvimento e

comprometimento dos países africanos.

Como já decorreram 11 meses depois da Cimeira e do anúncio destas acções a questão

importante a analisar refere-se ao seu cumprimento e ao engajamento dos países

africanos. Utilização dos fundos e comprometimento político, não sendo a mesma

coisa, são, no entanto, faces da mesma moeda para o sucesso dos programas e acções.

No caso especial de Angola será que os departamentos ministeriais relacionados a

cada uma das iniciativas conhecem-nas? Se sim, o que estão fazer para envolver o

sector privado? O CEIC está já a trabalhar no sentido de estabelecer contactos com as

instituições públicas que possam estar envolvidas na implementação das 8 acções e os

resultados serão apresentados no próximo relatório.

Para a concretização plena e eficiente destas iniciativas é crucial a participação do

sector privado nacional. Se a China associa o seu sector privado na implementação

deste programa de cooperação, os países africanos também o deverão fazer, numa

convergência profícua entre o privado e o público e no respeito pelas propostas

programáticas contidas nos planos de desenvolvimento

O que se quer alcançar com cada uma das iniciativas? Para uma melhor compreensão

vamos apresentar e analisar resumidamente cada iniciativa.

2 Cf o artigo “O modelo chinês como inspiração (e não cópia) na definição da filosofia de desenvolvimento para África” publicado no Expansão de 3 de Agosto de 2018.

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3.- Descrição das 8 iniciativas

1. Promoção industrial e agrícola

Os países africanos precisam da industrialização para que deixem de ser

exportadores líquidos de matéria-prima e passem a ser exportadores de produtos com

maior valor agregado, como é o caso dos produtos industriais. A média do peso do

sector industrial no PIB em África é de cerca de 10%, de acordo com a UNIDO3, o que

contrasta com a Europa (15%), América Latina (13%), Ásia (22%) e a própria China

(30%).

Neste sentido a China pretende encorajar empresas chinesas a aumentar

investimentos em África, construir e modernizar zonas industriais e de promoção de

comércio, implementar 50 programas de assistência agrícola para modernizar o sector

e ajudar a alcançar a segurança alimentar até 2030. Há ainda a pretensão de enviar

para o continente 500 peritos seniores em agricultura para formar jovens

investigadores africanos em agro-ciência e empreendedorismos em agro-negócios.

Para a promoção industrial e agrícola vai se usar o fundo para o

desenvolvimento China-África e o Fundo para cooperação industrial e criar

empréstimos especiais para o desenvolvimento das pequenas e médias empresas em

África.

2. Conectividade de infra-estruturas

África é o Continente com a mais baixa inter-conectividade de infraestruturas

ao nível de transportes, electricidade e telecomunicações. A União Africana está ciente

deste facto e lançou, em conjunto com o Banco Africano de Desenvolvimento, um

ambicioso Programa de Desenvolvimento de Infraestruturas em Africa (PIDA- Program

for Infrastructure Development in Africa 2012-2040). Neste programa identificou-se

que o the African Regional Transport Infrastructure Network (ARTIN) apresenta um

custo de ineficiência económica avaliado em USD 172 mil milhões, devido ao mau

funcionamento da rede rodoviária e do sistema de transporte aéreo, bem como aos

elevados custos associados.

O PIDA integra os sectores de Energia, Transporte, Telecomunicações e ICT,

sistema transfronteiriço de Água, ligando as principais cidades do Continente,

aproveitando as comunidades económicas regionais. Este programa terá um custo

total previsto até 2040 de cerca de USD 360 mil milhões. Os países membros irão

cofinanciar, integrando o sector privado.

A China vai cooperar com a União Africana no sentido de apoiar o seu plano

continental de infraestruturas, incentivando as empresas chinesas a participarem no

desenvolvimento de infraestruturas no Continente usando a modalidade de

investimento-construção e operacionalização, ou outros modelos convenientes entre

3 http://stat.unido.org/country-profile/economics/CHN ( 3 de Junho 2019)

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as partes. O foco será na energia, nos transportes, telecomunicações e ICT e

aproveitamento de recursos hídricos transfronteiriços. O desenvolvimento do mercado

aéreo único continental (Single African Air Transport Market) com a abertura de mais

voos directos entre a África e a China será uma outra aposta desta inciativa. Para isso a

the Asian Infrastructure Investment Bank, the New Development Bank, and the Silk

Road Fund serão mobilizados para financiar os projectos.

3. Facilitação do Comércio

A China tem sido essencialmente importadora de produtos de base e matéria-

prima dos países africanos, mas no âmbito desta iniciativa quer aumentar as

importações de produtos acabados. Além da política de tarifa zero praticada já há

alguns anos, foi promovida a Feira Internacional de Importações na China no final do

ano 2018, onde os países participaram para exibir os seus produtos. A segunda edição

desta Feira está prevista para novembro do ano 2019. Em junho de 2019 foi criada a

Exposição Económica-Comercial China/África, na qual Angola participou como país

convidado de honra. Perspectiva-se implementar 50 programas de facilitação do

comércio no Continente. Pretende-se ainda apoiar a Zona Continental de Comércio

Livre que os países africanos estão a implementar.

4. Desenvolvimento verde ou ecológico

Neste eixo, a China pretende promover 50 projectos que visam o

desenvolvimento verde e a protecção ecológica e ambiental em África. Ainda

estabelecer intercâmbios e a cooperação sobre a mudança climática, os oceanos, a

prevenção e controlo da desertificação e a protecção da vida selvagem. Será criado um

Centro de Cooperação Ambiental China-África, conduzindo pesquisas conjuntas sobre

questões ambientais. Será ainda fundado um Centro de Bamboo China – África para

ajudar a produzir produtos deste material.

5. Capacitação de quadros e técnicos

É verdade que África deverá seguir o seu próprio caminho de desenvolvimento

mas aprendendo com os que já trilharam pelo mesmo caminho será mais fácil. Neste

sentido a China compartilhará mais de suas práticas de desenvolvimento com a África.

Dez “Luban Workshops” serão instalados em África para fornecer treino vocacional

para jovens africanos. A China apoiará a abertura de um Centro de Cooperação em

Inovação China-África para promover a inovação e o empreendedorismo dos jovens. A

China fornecerá à África 50.000 bolsas de estudo do Governo e 50.000 oportunidades

de treino para seminários e workshops, e convidará 2.000 jovens africanos para visitar

a China em busca de intercâmbios. Mas é importante que tais bolsas estejam

disponíveis não só para o sector público mas também para o sector privado.

6. Cuidados de saúde

Pretende-se implementar e actualizar 50 programas de assistência médica para

o Continente e apoiar o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças e a

construção de hospitais de amizade China-Africa. A China vai formar mais médicos

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especialistas para trabalharem em África e enviar mais equipas médicas para atender

às necessidades da população.

7. Intercâmbio entre pessoas (interacção do povo chinês e africano por meio da

cultura, desporto e ciência)

Para melhorar o intercâmbio com África, a China estabeleceu um Instituto de

Estudos Africanos e pretende actualizar e implementar o plano conjunto de pesquisa e

intercâmbio. As Universidades africanas que estejam à altura poderão albergar ou

sediar Institutos Confúcio. No âmbito da cultura e do desporto, serão realizados 50

eventos culturais, desportivos e turísticos conjuntos. A Silk Road International Leaque

of Theaters, a Silk Road International Museum Alliance e a Network of Silk Road Art

Festival, estão abertos para receber africanos para participar e exibir as suas

actividades culturais e artísticos. Grupos turísticos chineses serão incentivados a

escolher países africanos como destino turístico.

8. Paz e Segurança

A China decidiu criar um Fundo de Paz e Segurança China-África para

impulsionar a cooperação em paz, segurança e manutenção da ordem. A China

continuará a prestar ajuda militar à UA e apoiar os países da região do Sahel e os que

fazem fronteira com o Golfo de Aden e o Golfo da Guiné na defesa e segurança e

combate ao terrorismo.

Cinquenta programas de assistência de segurança serão lançados para

promover a cooperação China-África sob a iniciativa Rota de Seda, e em áreas de

manutenção da ordem, missões de paz da ONU, combate à pirataria e combate ao

terrorismo.

Financiamento

Para garantir a implementação destas oito iniciativas, a China disponibilizará

USD 60 mil milhões de financiamento em forma de assistência governamental, assim

como investimento e financiamento por instituições financeiras e empresas. Incluirá

USD 15 mil milhões em doações, empréstimos sem juros e empréstimos concessionais;

USD 20 mil milhões em linhas de crédito; criação de um fundo especial de USD 10 mil

milhões para financiamento do desenvolvimento e um fundo especial de USD 5 mil

milhões para financiar importações de África. As empresas chinesas serão ainda

encorajadas a fazerem pelo menos USD 10 mil milhões em investimentos no

Continente nos próximos três anos.

Até que ponto as oito iniciativas estão em harmonia com os objectivos

estabelecidos no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN 2018-2022)?

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5.- Principais eixos do Plano de Desenvolvimento Nacional E Relação entre as

iniciativas

Os principais objectivos de desenvolvimento económico e social de Angola de médio

prazo estão espelhados no PDN 2018-2022 elaborado pelo novo Governo que saiu das

eleições de 2017, liderado pelo Presidente João Lourenço. Este documento foi

produzido em harmonia com os compromissos assumidos ao nível da União Africana,

com a Agenda 2063, e ao nível das Nações Unidas, com a Agenda 2030 dos Objectivos

de Desenvolvimento Sustentável.

Os objectivos de desenvolvimento definidos no PDN estão agrupados em seis eixos de

desenvolvimento prioritários: 1) Desenvolvimento Humano e Bem – Estar; 2)

Desenvolvimento Económico Sustentável, Diversificado e Inclusivo; 3) Infraestruturas

Necessárias ao Desenvolvimento; 4) Consolidação da Paz, Reforço do Estado

Democrático e de Direito, Boa Governação, Reforma do Estado e Descentralização; 5)

Desenvolvimento Harmonioso do Território; 6) Garantia da Estabilidade e Integridade

Territorial de Angola e Reforço do seu papel no contexto regional e internacional.

O primeiro eixo Desenvolvimento Humano e Bem-estar agrega os sectores da

educação, saúde, desenvolvimento de recursos humanos, cultura, desporto entre

outros. O que o Governo angolano pretende alcançar neste eixo está em harmonia

com o que a China definiu nas iniciativas relativas aos cuidados de saúde, formação de

quadros e técnicos, intercâmbio cultural e desportivo. Tendo em conta que Angola

precisa de fundos para poder alcançar os objectivos fixados neste eixo e a China está

disponível para conceder empréstimos para apoiar o desenvolvimento dos países

africanos nestas áreas.

Quanto ao eixo das Infraestruturas Necessárias ao Desenvolvimento que inclui os

sectores de transporte e logística, energia eléctrica, água, saneamento e

telecomunicações, o que o Executivo pretende alcançar está de acordo com o que está

definido na 2ª iniciativa que a China lançou concernente à interconectividade de

infraestruturas em África. Angola sendo a segunda maior economia da SADC precisa

fortalecer o seu papel garantindo que as suas infraestruturas sejam conectáveis com as

dos seus vizinhos como o caso do Congo Democrático, da Zâmbia e da Namíbia. Nesta

questão específica das infraestruturas é necessário que as negociações com a China

sejam feitas ao nível da SADC ou mesmo da União Africana para garantir que tenham o

mesmo padrão.

O eixo do Desenvolvimento Económico Sustentável, Diversificado e Inclusivo

contempla, entre outras, as questões da sustentabilidade ambiental (parte da zona sul

do país enfrenta sérios problemas de seca e desertificação), produção nacional,

substituição das importações e promoção das exportações do sector não mineral,

aumento da competitividade, da produtividade e a geração de emprego. Estes

objectivos estão em harmonia com as iniciativas referentes à Promoção Industrial,

Desenvolvimento verde ou ecológico e a Facilitação do Comércio. A produção

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industrial em Angola é baixa, cerca de 5,5% do PIB e a sua exportação é quase

inexistente. No âmbito da promoção industrial e a exportação de produtos

manufacturados, Angola pode aprender com a experiência chinesa.

Para o PDN 2018-2022 a diversificação e o fomento da produção constituem um eixo

central para o desenvolvimento económico sustentável, diversificado e inclusivo. Por

tal motivo, o apoio da China na implementação de programas de assistência agrícola e a

modernização do sector com a formação de jovens investigadores em agro-ciência e

empreendedorismo em agro-negócios pode fomentar a produção de recursos naturais

endógenos e a promoção do desenvolvimento de fileiras de produção alimentar.

No que diz respeito ao eixo da garantia da Estabilidade e Integridade Territorial de

Angola e Reforço do seu papel no contexto Regional e Internacional, para além da

segurança e defesa do território nacional, o país está também preocupado com a

segurança na região dos Grandes Lagos e na SADC, regiões de que faz parte. Estes

objectivos estão em harmonia com os da oitava iniciativa sobre a Paz e Segurança que

a China pretende ver no Continente, sendo Angola um país estratégico nas regiões

onde está inserida poderá aproveitar melhor a cooperação com a China neste sentido.

Neste eixo também se incluem os processos de adesão nas zonas de livre comércio da

SADC e por consequência a tripartida (SADC, COMESA e EAC) e na Zona de Comércio

Livre Continental para melhor facilitar as trocas comerciais com os países africanos. A

iniciativa relacionada com a Facilitação do Comércio, poderá ser bem explorada no

sentido de Angola poder fazer parte destas zonas de comércio livre aprendendo com a

experiência de abertura da economia chinesa que já dura há 40 anos.

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6. Análise das Relações Económicas e Comerciais

A cooperação de Angola com a República Popular da China nos últimos anos tem sido

muito importante para o financiamento da reconstrução nacional, o que envolve a

construção e reconstrução de várias infraestruturas económicas e sociais em todo

território nacional. Esta reconstrução tem permitido o país alavancar o seu

crescimento económico e o subsequente desenvolvimento. De todo financiamento

externo que Angola usa para financiar a reconstrução e construção de infraestruturas,

boa parte vem da China.

PROGRAMA DE INVESTIMENTOS PÚBLICOS - 2015

FINANCIAMENTO EXTERNO DO PIP - 2015

FONTE DE FINANCIAMENTO VALORES em Kwanzas VALORES em USD %

China 66.189.923.116,00 398.734.476,60 70,48%

Banco Mundial 984.566.293,00 5.931.122,25 1,05%

BNDES Brasil 24.416.687.754,00 147.088.480,45 26,00%

Portugal (Cosec) 1.313.517.522,00 7.912.756,16 1,40%

União Europeia 44.555.660,00 268.407,59 0,05%

Desembolso de L. De Créditos 968.451.450,00 5.834.044,88 1,03%

Total 93.917.701.795,00 565.769.287,92 100% Fonte: Programa de Investimento Público 2015, Governo de Angola

Como se pode ver na tabela acima, por exemplo só em 2015, 70% dos valores

provenientes do estrangeiro que financiaram os investimentos públicos tiveram como

origem a China. Isto é fruto da cooperação bilateral entre os dois países.

Este financiamento vindo especificamente do Eximbak da China financiou em mais de

90% as construções do Hospital Materno Infantil do Dundo, dos centros de saúde do

Lucapa e do Cuilo, do sistema de abastecimento de água do município do Nzange,

todos na província da Lunda Norte e do hospital municipal do Saurimo na província da

Lunda Sul. As duas províncias são as principais produtoras de diamantes em Angola.

A instalação da central do Ciclo Combinado do Soyo na província do Zaire, com uma

potencial total prevista de 750 MW, dos quais 500 MW para o ciclo simples com

turbinas a gás e mais 250 MW com turbinas a vapor, também foi financiamento em

96% pelo crédito chinês e a construção do projecto está a ser feita pela empresa China

Machinery Engineering Corporation (CMEC). A primeira turbina foi inaugurada pelo

então vice-presidente da república Engenheiro Manuel domingos Vicente no dia 17 de

Agosto de 2017, em representação do Presidente José Eduardo dos Santos. Segundo a

Empresa Pública de Produção de Electricidade (Prodel) “a Construção desta

infraestrutura de grande importância para o desenvolvimento económico e social do

país, teve o seu início em 2014 e o valor se estima em cerca de 930 milhões de Dólares

financiados pelo Banco Industrial e Comercial da China. A empreitada do projeto

envolve ainda a construção de uma linha eléctrica até à capital do país, ao longo de

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mais de 400 quilómetros, com 1.500 torres”4. Este ciclo vai fornecer energia não só

para Luanda, mas também para algumas províncias do norte do país.

A Construção do Hospital da cidade de Mbanza Kongo, capital da província do Zaire,

está a ser construída com financiamento do Eximbank da China. E a reabilitação e

reforço dos sistemas de abastecimento de água na província do Namibe foi financiado

também pelo Eximbank.

As infraestruturas acimas mencionadas representam uma pequena amostra que como

o financiamento chinês tem contribuído significativamente para o desenvolvimento do

país. Mas muitos acreditam que, tendo em conta os montantes disponibilizados pela

cooperação com a China, o desenvolvimento económico-social do país deveria ser

superior ao que se verifica hoje, mostrando assim que poderia ter havido uma melhor

gestão dos recursos disponibilizados.

As relações comerciais entre Angola e China são muito fortes em virtude do volume de

exportações e importações entre os dois países.

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80.000

2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 1ºTrim

Exportações de Petróleo (USD milhões)

Exportações de petróleo a China Exportações totais de petróleo

% China nas exportações totais

Fonte: BNA

A China tem sido desde 2007 o principal parceiro comercial de Angola no que diz

respeito às exportações de petróleo bruto, ultrapassando os Estados Unidos, com 26%

das exportações para China e 24 % para os EUA5. Na tabela acima é possível observar o

aumento da percentagem de petróleo que é exportado para este gigante asiático. Em

2012 dos USD 68,8 mil milhões de exportações de petróleo, 49,6% foi para China.

Mesmo com a diminuição das exportações totais, devido a baixa de preços do

petróleo, a percentagem que vai para China continua a aumentar, em 2018 foi 65% e

no primeiro trimestre de 2019, 68%6. A China é o destino principal das exportações

4 http://www.prodel.co.ao/index.php/pt/14-portugues/destaque-noticias/270-inauguracao-a-central-do-ciclo-combinado-do-soyo-i 5 Nos anos antes de 2007, cerca de 40% das exportações iam para os EUA. 6 Em 2012 a exportação de petróleo para os EUA foi de 9%, em 2018 3% e no primeiro trimestre 2019, 2%.

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petrolíferas angolanas em grande parte devido aos empréstimos que têm como

garantia o petróleo.

No que diz respeito as importações de Angola, China tem sido nos últimos anos um dos

principais fornecedores de bens. No top 10, tem ocupado os três primeiros lugares,

despontando com Portugal e Singapura. Por exemplo em 2012 ocupou o terceiro lugar

(9%), depois de Portugal (16%) e da Singapura (11%). Em 2015 e 2018 foi o principal

fornecedor de bens (14%), em segundo lugar ficou Portugal (13%).

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2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 1ºTrim

Importações de Bens (USD milhões)

Importações vindos da China

Importações totais de bens

% importações da china nas importações totais

Fonte: BNA

No primeiro trimestre de 2019, China foi o segundo fornecedor de bens (13%) depois

da França (36%), que pela primeira vez aparece a liderar. Como se pode observar no

gráfico acima, em média 12% das importações de bens de Angola veem da China.

Comparando o valor de que Angola obtém ao exportar petróleo para China com os

valores que paga ao importar da China, nota-se que o saldo comercial neste caso é

positivo a favor de Angola, conforme mostra o gráfico abaixo.

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2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 1ºTrim

Exportações a China VS Importações da China (USD milhões)

Exportações de petróleo a China Importações vindos da China Saldo Comercial

Fonte: BNA e cálculo dos autores (Saldo comercial)

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As receitas de exportações de Angola são em média 10 vezes superiores aos valores de

importações que paga a China, tornando assim positivo o saldo comercial a favor de

Angola. As relações comerciais entre os dois países são caracterizadas, usando os

termos da economia internacional, como sendo inter-ramos. Pois Angola venda a

China matéria-prima, o petróleo bruto, e a China vende a Angola produtos industriais

acabados com maior valor agregado.

Para que no longo prazo as relações sejam duradoras e saudáveis é indispensável que

Angola venham também exportar para China produtos acabados com maior valor

agregado e não somente o petróleo. Para tal a China poderia ajudar Angola a

desenvolver a capacidade industrial no sentido de produzir bens que sejam

exportáveis, tendo em consideração a experiência chinesa.

A China ocupa um papel fundamental na economia angolana, por ser principal parceiro

comercial e o principal e maior credor externo do Estado.

Até o primeiro trimestre de 2019, o stock de dívida total de Angola com a China estava

avaliada em USD 22 821 milhões, representado 48% do total da dívida externa. Com

parando com 2017, em que a dívida era de USD 23 205 milhões (53,5% do total), nota-

se uma redução, evidencia de que Angola está a cumprir com o serviço da dívida.

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2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 1ºTrim

Dívida Externa (USD milhões)

Divida Externa a China Divida Externa total % da China na Divida Total

Fonte: BNA

Agora é crucial que estes empréstimos estejam a ser aplicados em sector que

garantem o aumento da produtividade e competitividade da economia nacional de

modo que venham gerar retornos que irão permitir fazer face ao serviço da dívida.

A economia angolana está neste momento a atravessar a fase mais críticas da sua

história recente, com três recessões sucessivas em 2016-2018. Precisa de

investimentos para impulsionar a actividade económica e garantir a geração de

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emprego para mais de 3,6 milhões de pessoas que estão desempregadas

(representando uma taxa de desemprego de 28,8%)7.

Da mesma forma que logo após ao fim da guerra civil, China mostrou-se disponível

para financiar o processo de reconstrução nacional, as evidências mostram que está de

igual modo disponível hoje para ajudar o país sair da situação que se encontra. As 8

acções propostas pelo Presidente Xi Jiping no âmbito do FOCAC, analisadas acima,

visam o desenvolvimento dos países africanos e Angola poderia aproveitar tais

recursos. Mais uma vez reiteramos que nessa nova fase de cooperação é indispensável

o envolvimento, por parte do Governo angolano, do empresariado privado nacional

para que se beneficie dos recursos e que sejam aplicados em projectos rentáveis

económica e financeiramente de modo a gerar rendimentos suficientes para a

economia nacional.

Em Outubro de 2018, o Governo chinês por meio do Banco de Desenvolvimento da

China abriu uma nova linha de crédito de USD 2 mil milhões para financiar projectos

prioritários propostos pelo Governo de Angola.

Quanto à execução das linhas de créditos anteriores não há dados disponíveis. Os

ficheiros de execução de receitas do Orçamento Geral do Estado (OGE) publicado pelo

Ministério das Finanças de Angola dão conta que o último ano em que foram usados as

linhas de créditos foi em 2013. Desde então não há registo de utilização de linhas de

créditos no OGE.

O volume de trocas comerciais entre os dois países justifica a possibilidade de existir

um acordo de conversão monetária, de modo que os agentes económicos passem a

utilizar as respectivas moedas, ao invés das principais moedas (USD e Euro), nas

transações comerciais. Os dois Governos, em conjuntos dos respectivos Bancos

Centrais, devem estudar a melhor forma de implementar tal acordo de modo a gerar

benefícios mútuos entre as partes.

Um caso de sucesso de investimento privado chinês

A primeira iniciativa diz que o Governo chinês irá incentivar os empresários a

direcionarem os seus investimentos em África. Em Angola já há empresários chineses

que estão a realizar investimentos no sector do comércio, construção civil e na

pequena indústria e na agricultura.

O Guangde International Group, LDA, que já investiu no país mais de USD 230 milhões,

é um exemplo de investimentos privados chineses que está a gerar emprego e

contribuir para o aumento da produção nacional, da substituição de importações e

aumento das exportações do sector não mineral. Este grupo é o dono dos shoppings

VIDA GUDE, que vende diversos produtos, incluindo mobílias que eles próprios

fabricam em Angola, na Fábrica de mobília. O shopping emprega cerca de 200

nacionais e boa parte deles inscritos na Segurança Social.

7 INE, INDICADORES DE EMPREGO E DESEMPREGO INQUÉRITO SOBRE DESPESAS, RECEITAS E EMPREGO EM ANGOLA, IDREA 2018 - 2019

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Guangde Internacional Group, LDA tem em funcionamento 11 unidades fabris em

Luanda, empregando 1 185 angolanos oriundos de várias províncias. Tendo em conta

os empregos gerados nos shoppings VIDA GUDE, o número total sobe para 1 385. Com

a entrada em funcionamento da fábrica de baterias, que vai empregar 400 nacionais e

50 chineses, o número total de empregos directos gerados pelo grupo aumenta para 1

785 nacionais.

A fábrica de baterias vai produzir não só para o mercado nacional, mas essencialmente

para exportar para a região da SADC, o que vai contribuir no aumento das exportações

e gerar moeda estrangeira para o país. A unidade vai começar a produzir em Setembro

de 2019, todos os equipamentos já estão a ser montados.

As fábricas de mobília e os sofás usam a madeira nacional em toro, que depois de

processada é transformada em mobílias e contraplacados e os refugos para a fábrica

de caixas de papel. Parte da mobília já está a ser exportada para o Congo Democrático

e para Namíbia.

Unidades fabris das Empresas Guangde International Group, LDA

Unidade Fabril Produtos e modelo Produção diária

Fábrica de Chapa 0.28 0.30 0.35 0.4 0.45 0.5 0.6 50 mil metros

Fábrica de Colchão Solteiro, casal e king size 26 jogo*600pcs – 1000 pcs

Fabrica de Manilha DN300*2000 DN400*2000 DN500*2000 60pcs

Fábrica de Esponja 12# 16# 18# 20# 30# 40# 50 mil m3

Fábrica de Mobiliário Mesa cadeira cama estante rack roupeiro 300 jogos

Fábrica de Contraplacado 18 cm 15 cm 12 cm 9cm 7cm 5cm 20jogos*5000pcs

Fábrica de esferovite Caixas térmicas 10 mil

Fábrica de Sofá Cabedal, pano e tecido 30 Jogos*50pcs

Fábrica de caixa de papel Caixa de peixe, ovo, água, mobília 100 mil

Fábrica de Blocos 12# 16#, lancil, pavimento 300 mil pcs

Fazenda Vegetais, hortaliças, galinhas, porcos 2 mil kg

Fábrica de Baterias Todos os modelos e tamanhos 6 a 10 mil pcs

A fazenda produz alimentos que serve para abastecer o refeitório geral e todos os

trabalhadores nacionais e chineses alimentam-se dos produtos que vem dela. A

produção não é destinada a venda, mas sim para o consumo dos funcionários das

unidades fabris do grupo.

Apesar de todos os investimentos que já realizaram e o número de empregos gerados,

ficamos a saber que o grupo não tem benefícios fiscais e paga direitos aduaneiros na

importação da matéria-prima e outros materiais (não produzida no país), que usa na

produção, o que onera ainda mais a produção nacional. Há uma toda necessidade de

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20

se garantir que iniciativas como estas tenham isenção total na importação de matéria-

prima de não produção local, para garantir a competitividade dos produtos nacionais

em relação aos importados.

Tivemos a oportunidade de visita as unidades fabris e ficamos surpreendidos pela

positivo a forma de organização, a higiene e a localização de cada unidade no campo. A

empresa queixa-se da fiscalização demasiada de vários organismos do Governo, que ao

invés de fiscalizar e sugerir melhorias, só o fazem com objectivo único de multar e

cobrar “gasosa”.

Os empresários chineses tem sido alvos de roubos por marginais e sentem-se

inseguros. Isso pode diminuir a vontade e a disposição de outros investidores que

desejam apostar no mercado nacional. É necessário que se garanta segurança pública

e jurídica destes homens e mulheres de negócio que estão dispostas a produzir no

país.

Dados da AIPEX8 revelam que a China está liderar o conjunto de países que apresenta

propostas de investimento em Angola. Esta informação pode evidenciar que classe

empresarial privada chinesa está interessada em investir no país e vê Angola como um

mercado com futuro, tendo em conta a sua posição na região da SADC. Mesmo alguns

empresários chineses que já operam no país no sector da construção civil estão a

investir em outros sectores como o da agricultura e a indústria transformadora, como

o caso do grupo Guangde International.

As condições laborais dos trabalhadores angolanos nas empresas chinesas, em geral as

de construção civil, têm sido alvos de muitas críticas por muitas pessoas na sociedade.

Mas um estudo recente, publicado este ano, sobre Condições de Emprego em Angola9

feito pelos investigadores Carlos Oya e Fernandes Wanda revela que “as práticas nas

empresas chinesas mudaram muito nos últimos 10 anos” e as mesmas estão a

empregar mais mão-de-obra local do que nos anos anteriores.

O estudo ainda mostra que em comparação com as empresas angolanas e outras

ocidentais que operam nos sectores de construção civil e na indústria de materiais de

construção, as empresas chinesas são as que mais empregam pessoal nacional não

qualificado, que em geral são mais jovens e relativamente mais pobres, muitos deles

provém do centro-sul do país e encontram o primeiro emprego nestas empresas.

Quanto à remuneração, o estudo revelou que as empresas chinesas pagam em média

24.993 Kwanzas por mês ao pessoal não qualificado, enquanto as empresas nacionais

e as ocidentais pagam relativamente mais, ou seja 37.181 Kwanzas. Mas ao pessoal

semi-qualificado a remuneração média mensal paga é quase a mesma entre as

empresas chinesas e as outras empresas, 63.971 Kwanzas nas chinesas e 62.671

Kwanzas nas outras.

8 http://jornaldeangola.sapo.ao/economia/propostas-de-investimentos-no-pais-atingem-os-750-milhoes-de-dolares 9 Oya e Wanda 2019, Condições de Emprego em Angola, página 40

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7.- Conclusões e recomendações

A cooperação com a China, possibilitou Angola captar recursos financeiros

consideráveis que financiaram grande parte das infraestruturas a nível nacional,

apesar de exisitência de contestação de qualidade em alguns projectos, não se pode

negar que o país beneficiou muito dum modo geral. Esta cooperação ainda permitiu a

vinda de empresários chineses com disposição em investir no aumento da produção

nacional e na geração de emprego, como é o caso do Guangde Internatinal Group.

7.1. Conclusões da análise das 8 iniciativas

a) Trata-se de um enorme e abrangente programa de cooperação com a África,

elegendo sectores de importância estratégica para o desenvolvimento do

Continente.

b) As oito iniciativas são importantes e estão em harmonia com os objectivos que

Angola definiu no seu Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN 2018-2022).

c) Tendo em conta que Angola precisa de fundos para a realização dos objectivos

definidos e que a China tem recursos para financiar as 8 acções, a conciliação

dos objectivos pode propiciar a alocação dos fundos.

7.2 Recomendações relativas às 8 iniciativas

a) Há uma oportunidade que o Governo Angolano deverá aproveitar no âmbito da

disponibilização de peritos chineses na agricultura, saúde, capacitação de

técnicos, concessão de bolsas de estudo e intercâmbio cultural.

b) As oitos acções precisam ser mais divulgadas junto das associações

empresariais angolanas e também perante a sociedade civil.

c) É importante que os Ministérios de tutela contactem o Ministério das Relações

Exteriores para que estejam informados das várias iniciativas nas respectivas

áreas.

d) Devido a complementaridade entre os objectivos do PDN e as 8 acções e a

importância que as mesmas se revestem para Angola recomenda-se que o

governo angolano elenque um órgão do governo cuja missão deverá ser

identificar quais infraestruturas deverão ser financiadas no âmbito destas

iniciativas bem como a sua implementação. Ademais, este órgão deverá ser

escrutinado pela assembleia nacional periodicamente.

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7.3 Recomendações Gerais

a) Há um número notável de empresários chineses a investir em Angola em

diversos sectores de actividade económica, em especial no sector de comércio

e da construção civil. No âmbito das relações bilaterais é importante que sejam

atraídos para Angola empresários chineses para o sector industrial e agrícola

com as devidas capacidade para produzir não só para o mercado interno, mas

também para a exportação, contribuindo assim para o aumento das

exportações não minerais de Angola. Por sua vez o Governo angolano deve

garantir a segurança e bom ambiente de negócios para todos os investidores.

b) As condições de trabalho dos nacionais em algumas empresas chinesas de

construção civil e de comércio podem ser melhoradas. Via de regra os

trabalhadores não descontam para segurança social, o que compromete a

possível futura reforma. Mas o que está a ser feito pelo Guangde International

Group é digno de ser imitados por outras empresas chinesas no país.

c) Uma outra situação prende-se com a fama da “qualidade de obras” feitas pelas

empresas chinesas. Em princípio todas as obras passaram pela fiscalização

duma terceira parte e, pelo menos, até ao momento não há provas que

empreiteiros chineses violaram termos e critérios de qualidades estabelecidos

nos contratos. Para mudar este quadro, dum lado as empresas chinesas devem

continuar a envidar esforços para garantir a qualidade das obras, do outro lado

recomenda-se uma maior interação entre a comunidade chinesa e a angolana

neste sector.

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23

CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

AVENIDA PEDRO DE CASTRO VAN DÚNEM LOY 24, BAIRRO PALANCA, MUNICÍPIO DO KILAMBA-KIAXI,

CAIXA POSTAL 2064, LUANDA, ANGOLA

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