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Reportagem Especial 2 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, SEXTA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2016 A OPERAÇÃO Fonte: Polícia Federal. PASSO A PASSO PÓ PRETO Polícia interdita Porto de Tubarão Por determinação da Justiça, a Polícia Federal suspendeu por tempo indeterminado a atividade de minério de ferro e carvão mineral TADEU BIANCONI/ VALE PORTO DE TUBARÃO: retomada da operação vai depender de a Vale apresentar um plano de contingenciamento E m cumprimento a uma deci- são da Justiça, a Polícia Fe- deral interditou ontem o Porto de Tubarão, em Vitória, por causa do pó preto, suspendendo por tempo indeterminado a ativi- dade econômica de minério de ferro e carvão mineral. O Complexo Portuário de Tuba- rão é formado pelos terminais para embarque de minério de ferro e pelotas (Píer II) e pelo Terminal de Praia Mole (TPM), por onde é feita a importação de carvão mineral. A interdição foi feita nesses locais. A retomada da operação vai de- pender da Vale, que administra o Porto de Tubarão, apresentar um plano de contingenciamento, que será analisado pela Justiça. Nesse plano, segundo destacou o delegado de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Vi- tor Moraes Soares, deve conter me- didas eficazes para evitar a emissão de poeira de carvão no ar e de pó de minério no mar de Vitória. Ele esclareceu que não houve in- terdição na ArcelorMittal. No en- tanto, a empresa não poderá exer- cer atividade econômica no porto, uma vez que ela é cliente da Vale e traz o carvão usado na usina side- rúrgica por meio do complexo. Além de cumprir o mandado, po- liciais terão a missão de fiscalizar se não houve violação nos lacres fei- tos ontem. Se isso acontecer, a de- cisão prevê multa diária de 2/30 avos do faturamento mensal, o que equivale a cerca de R$ 500 mi- lhões, considerando que a receita bruta da Vale no terceiro trimestre de 2015 foi de R$ 23,74 bilhões. Em sua decisão, proferida na úl- tima terça-feira, o juiz federal titu- lar da 1ª Vara Federal Criminal – Seção Judiciária do Estado, Mar- cus Vinicius Figueiredo de Oliveira Costa, ressaltou que “diligência re- cente dos policiais federais, pro- movida em 25/11/2015 por via ma- rítima junto ao Complexo Portuá- rio de Tubarão e registrada na mí- dia, demonstra que a prática lesiva ao meio ambiente remanesce.” O juiz também citou em sua de- cisão que nas apurações realizadas nos arredores do Píer II e TPM foi feita “assustadora filmagem.” Ele declarou que a interdição do porto foi necessária até que “cesse a ati- vidade criminosa”, referindo-se a um suposto crime ambiental. No complexo há também o Ter- minal de Produtos Diversos (TPD), no qual ocorre o embarque de grãos e o desembarque de ferti- lizantes e ainda pelo Terminal de Granéis Líquidos (TGL), que ope- ra na movimentação de combustí- vel. Porém, nesses dois casos, não houve interdição das atividades. OPINIÕES A decisão foi extremamente ousada, baseada em elementos colhidos nas investigações Vitor Moraes Soares, delegado É simples: a condicionante para liberar o Porto de Tubarão é que eles parem de poluir o meio ambiente Decio Ferreira Neto, delegado Equipe Em uma lancha da Polícia Federal, sete po- liciais saíram na manhã de ontem da sede da PF, em São Torquato, Vila Velha, e foram para o Porto de Tubarão, em Vitória. TERMINAL DE PRAIA MOLE > O PRIMEIRO alvo foi o Terminal de Praia Mole, on- de a lancha encostou na escada e os policiais desceram, por volta das 8h30. No local, informa- ram ao gestor do terminal sobre a interdição. PÍER DE PRAIA MOLE > LACRES foram co- locados em 4 des- carregadores de navio (guindastes) usados para des- carregar carvão. A polícia diz que o produto cai no mar e é levado pelo ar. PÍER II > DEPOIS, OS POLICIAIS foram para o Píer II, onde chegaram por volta das 11 horas. O trajeto durou cinco minutos, de lancha. No local, lacraram as correias transportadoras, uma espécie de esteira que transpor- ta o minério de ferro até os carre- gadores de navio, que fazem o embarque do produto nas em- barcações. O produto acaba caindo no mar e é levado pelo vento, segundo a polícia. 700 METROS é a extensão do Píer II, segundo a polícia, – o que equivale a 7 cam- pos de futebol – e a es- teira tem mais de 700 metros. PÍER II COLETA Enquanto parte da equipe esta- va em terra, o perito circulou de lancha com outros agentes fazendo cole- tas de materiais da água, ti- rando fotos e filmando a “chu- va de minério lançada ao mar”. PORTO DE TUBARÃO PORTO DE PRAIA MOLE ES ES N Oceano Atlântico Vitória FOTOS: POLÍCIA FEDERAL

Reportagem Especial · Granéis Líquidos (TGL), que ope-ra na movimentação de combustí-vel. Porém, nesses dois casos, não houve interdição das atividades. O P I N I Õ ES

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Page 1: Reportagem Especial · Granéis Líquidos (TGL), que ope-ra na movimentação de combustí-vel. Porém, nesses dois casos, não houve interdição das atividades. O P I N I Õ ES

Reportagem Especial2 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, SEXTA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2016

A OPERAÇÃO

Fo n t e : Polícia Federal.

PASSO A PASSO

PÓ PRETO

Polícia interdita Porto de TubarãoPor determinação daJustiça, a PolíciaFederal suspendeu portempo indeterminado aatividade de minério deferro e carvão mineral

TADEU BIANCONI/ VALE

PORTO DE TUBARÃO: retomada da operação vai depender de a Vale apresentar um plano de contingenciamento

Em cumprimento a uma deci-são da Justiça, a Polícia Fe-deral interditou ontem o

Porto de Tubarão, em Vitória, porcausa do pó preto, suspendendopor tempo indeterminado a ativi-dade econômica de minério deferro e carvão mineral.

O Complexo Portuário de Tuba-rão é formado pelos terminais paraembarque de minério de ferro epelotas (Píer II) e pelo Terminal dePraia Mole (TPM), por onde é feitaa importação de carvão mineral. Ainterdição foi feita nesses locais.

A retomada da operação vai de-pender da Vale, que administra oPorto de Tubarão, apresentar umplano de contingenciamento, queserá analisado pela Justiça.

Nesse plano, segundo destacou odelegado de Combate ao CrimeOrganizado da Polícia Federal, Vi-tor Moraes Soares, deve conter me-didas eficazes para evitar a emissãode poeira de carvão no ar e de pó deminério no mar de Vitória.

Ele esclareceu que não houve in-terdição na ArcelorMittal. No en-tanto, a empresa não poderá exer-cer atividade econômica no porto,uma vez que ela é cliente da Vale etraz o carvão usado na usina side-rúrgica por meio do complexo.

Além de cumprir o mandado, po-liciais terão a missão de fiscalizar senão houve violação nos lacres fei-tos ontem. Se isso acontecer, a de-cisão prevê multa diária de 2/30avos do faturamento mensal, o queequivale a cerca de R$ 500 mi-lhões, considerando que a receitabruta da Vale no terceiro trimestrede 2015 foi de R$ 23,74 bilhões.

Em sua decisão, proferida na úl-tima terça-feira, o juiz federal titu-lar da 1ª Vara Federal Criminal –Seção Judiciária do Estado, Mar-cus Vinicius Figueiredo de OliveiraCosta, ressaltou que “diligência re-cente dos policiais federais, pro-movida em 25/11/2015 por via ma-rítima junto ao Complexo Portuá-rio de Tubarão e registrada na mí-dia, demonstra que a prática lesivaao meio ambiente remanesce.”

O juiz também citou em sua de-cisão que nas apurações realizadasnos arredores do Píer II e TPM foifeita “assustadora filmagem.” Eledeclarou que a interdição do portofoi necessária até que “cesse a ati-vidade criminosa”, referindo-se aum suposto crime ambiental.

No complexo há também o Ter-minal de Produtos Diversos(TPD), no qual ocorre o embarquede grãos e o desembarque de ferti-lizantes e ainda pelo Terminal deGranéis Líquidos (TGL), que ope-ra na movimentação de combustí-vel. Porém, nesses dois casos, nãohouve interdição das atividades.

O P I N I Õ ES

“A decisão foiex t re m a m e n te

ousada, baseada emelementos colhidosnas investigações”Vitor Moraes Soares, delegado

“ É simples: aco n d i c i o n a n te

para liberar o Portode Tubarão é queeles parem de poluiro meio ambiente ”Decio Ferreira Neto, delegado

Eq u i p eEm uma lancha da Polícia Federal, sete po-

liciais saíram na manhã de ontem da sede daPF, em São Torquato, Vila Velha, e foram parao Porto de Tubarão, em Vitória.

TERMINAL DE PRAIA MOLE> O PRIMEIRO alvo foi o Terminal de Praia Mole, on-

de a lancha encostou na escada e os policiaisdesceram, por volta das 8h30. No local, informa -ram ao gestor do terminal sobre a interdição.

PÍER DEPRAIA MOLE

> L ACRES foram co-locados em 4 des-carregadores denavio (guindastes)usados para des-carregar carvão. Apolícia diz que oproduto cai no mare é levado pelo ar.

PÍER II> DEPOIS, OS POLICIAIS foram para o Píer II, onde

chegaram por volta das 11 horas. O trajeto duroucinco minutos, de lancha. No local, lacraram ascorreias transportadoras, umaespécie de esteira que transpor-ta o minério de ferro até os carre-gadores de navio, que fazem oembarque do produto nas em-barcações. O produto acabacaindo no mar e é levado pelovento, segundo a polícia.

70 0M ET RO Sé a extensão do Píer II,segundo a polícia, – oque equivale a 7 cam-

pos de futebol – e a es-teira tem mais de 700

metros.

PÍER II

C O L E TAEnquanto parteda equipe esta-va em terra, operito circuloude lancha comoutros agentes fazendo cole-tas de materiais da água, ti-rando fotos e filmando a “chu -va de minério lançada ao mar”.

PORTO DET U B A R ÃO

PORTO DEPRAIA MOLE

ES

ESN

OceanoAtlântico

Vitória

FOTOS: POLÍCIA FEDERAL

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Reportagem Especial

VITÓRIA, ES, SEXTA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2016 ATRIBUNA 3

TRECHOS DA SENTENÇA

Po l u e n t e s“A disseminação de poluentes na re-

gião metropolitana da Grande Vitória,em decorrência da falta ou insuficiên-cia de mecanismos sustentáveis naatividade dessas empresas, é fato no-tório que perdura anos a fio. Sequer sefariam necessárias maiores incursõestécnicas para aferir o incômodo trazi-do aos moradores de Vitória e arredo-res pelo conhecido 'pó preto', que in-vade de forma visível praias, residên-cias e outros ambientes”.

Interesses econômicos“Não se trata de episódio isolado (se

referindo às constatações da PolíciaFederal), e sim de uma conjunturaconsolidada, que impõe à populaçãolocal danos concretos e recorrentes,protela medidas mais eficazes porparte das empresas responsáveis,pretere o direito à saúde e ao meio am-biente e privilegia interesses econômi-cos, sem primar por critérios de sus-tentabilidade mais coerentes”.

Doenças respiratórias“O material produzido (resultados

de estudos epidemiológicos sobre po-luição do ar e saúde realizados na re-gião da Grande Vitória) apresenta oresultado de pesquisas realizadas naregião e conclui pela existência de ín-dices mais elevados de doenças respi-ratórias e cardiovasculares em bairrosadjacentes à Ponta de Tubarão”.

Balneabilidade“Ao longo dos anos, acostuma-se a

sociedade ao 'pó preto' e às inexisten-tes condições de balneabilidade nomar de Vitória. Morre a vida, e levaconsigo as chances de regeneraçãodo ecossistema, fazendo pesar a po-luição como estéril legado deixado agerações cujo 'direito ao meio ambien-te ecologicamente equilibrado' foi so-lenemente prometido pelo constituin-te originário”.

Fonte: Marcus Vinicius Figueiredo de OliveiraCosta, juiz federal titular da 1ª Vara FederalCriminal no Estado.

PÓ PRETO

“Vi uma chuvade minériono mar”Ainda com o corpo brilhando

após participar da operaçãode interdição no Porto de

Tubarão, o perito criminal federalAndré Bittencourt dos Santos, de-clarou à imprensa: “Vi uma chuvade minério caindo no mar.”

Ele e o delegado Decio FerreiraNeto — responsável pelas investi-gações — classificaram as imagensflagradas no Complexo de Tuba-rão em novembro de 2015, quandofoi feita a primeira vistoria, e as deontem, como impressionantes.

O juiz federal Marcus ViniciusFigueiredo de Oliveira Costa tam-bém destacou isso em sua decisão,dizendo que o teor dos arquivosimpressiona, face à quantidade dematerial lançado livremente aomar e levado pelo vento durantecarregamentos de navios.

O perito criminal, que ontem co-

ANTONIO COSME/AT

Em 1990, atividadestambém foram suspensas

Não foi a primeira vez que as ati-vidades da Vale e da CompanhiaSiderúrgica de Tubarão (CST),atual ArcelorMittal, foram parali-s a d a s.

No dia 29 de agosto de 1990, areportagem de A Tribuna publi -cou a notícia de que o governadordo Estado à época, Max Mauro,determinou a interdição das em-presas até que se comprometes-sem a reduzir o nível de poluição.

Na época, a medida foi adotadacomo retaliação, já que as empre-sas se negaram a assinar um termode compromisso já acertado com ogoverno do Estado. Pelo termo,elas deveriam adotar medidas pa-ra reduzir os poluentes emitidos.

A Companhia Vale do Rio Doce,nome da empresa naquele perío-do, assinou termo de compromis-so no dia 1º de setembro de 1990 evoltou a operar.

Já a CST, assinou acordo no dia 5de setembro, após a vinda do mi-nistro da Infraestrutura Ozires Sil-va ao Estado. Pelo termo, a empre-sa teria de reduzir a poluição emtrês anos.

CAPA E REPORTAGEM DE A TRIBUNA sobre a interdição das empresas

RECLAMAÇÕES DE MORADORES

Crises de asmaLEONARDO DUARTE/AT

Limpeza diáriaHá cinco anos morando em Jar-

dim da Penha, Vitória, a administra-dora Aliandra Karla Freitas de Oli-veira, 36, e a filha Manuela OliveiraTorres, de 7 anos, convivem com opó preto em casa.

Segundo Aliandra, de alguns me-ses para cá a situação piorou. “Se aporta da varanda ficar aberta, to-dos os dias dá para ver na mesa devidro a quantidade de pó. De um diapara o outro ele já se acumula e temde limpar todos os dias.”

LEONARDO DUARTE/AT

Após se mudar da orla de Camburi,em Vitória, para Itaparica, em Vila Ve-lha, a artesã Cláudia Santos, 50, acre-ditava que iria se ver livre do pó pretocom o qual conviveu durante muitosanos. Para sua surpresa, a situaçãopermaneceu a mesma e, segundo ela,o pó só tem aumentado.

“Tenho asma e durante muito tempofiz tratamento para saber o motivo detantas crises. O médico descobriu queera realmente o pó preto. Uso cons-tantemente medicamento para a asmae descongestionantes. Além disso, acasa tem de ser limpa todos os dias.”

letou água do mar para análises decontaminação na região, disse queo minério fica na superfície daágua e é carregado com o ventopara a maré. “Com certeza, a áreacosteira é atingida. A gente aindanão fez uma avaliação muito ex-tensa para verificar até que pontoesse material consegue chegar,mas que atinge o litoral, atinge.”

Por isso, irá colher material naIlha do Boi e Curva da Jurema pa-ra saber se a poluição atingiu essaspraias, como ocorre em Camburi.

Decio Ferreira falou que irá ouvirdepoimentos de diretores da Vale egestores do Píer II e Terminal dePraia Mole, previsto para fevereiro.

O delegado ressaltou que já ouviucidadãos afetados pelo pó preto e oentão presidente da CPI do Pó Pre-to da Câmara de Vitória, o vereadorDavi Esmael. “Esses depoimentos

também foram importantes para opedido de interdição do porto.”

Decio frisou que, além da multa,se houver violação dos lacres cabeprisão por crime de desobediência.A pena é de 15 dias a seis meses.

Ele ainda explicou que as investi-gações em torno do assunto come-çaram em 2013, pela Polícia Civil,mas que a Justiça Estadual ques-tionou a competência e o inquéritofoi enviado à Polícia Federal.

Para ele, talvez agora o problemado pó de minério seja resolvido,

diante da responsabilidade crimi-nal. “As punições na esfera cívelnão tinham eficácia, era multa irri-sória pelo tamanho do que a em-presa produz.”

Ele destacou que não há estudoque comprove a origem desse pópreto. “O que vimos aqui, nas in-vestigações ao Complexo de Tuba-rão, coletando esse material daágua, de fato isso contribui.”

Sem citar nomes, disse que ou-tras empresas responsáveis por po-luir o ar e mar serão investigadas.

Reclusão de 1 a 5 anos> ART. 54. Causar poluição de qual-

quer natureza em níveis tais que re-sultem ou possam resultar em danosà saúde humana, ou que provoquema mortandade de animais ou a des-truição significativa da flora:

> § 2º SE O CRIME: V - ocorrer por lan-çamento de resíduos sólidos, líqui-dos ou gasosos, ou detritos, óleos ousubstâncias oleosas, em desacordocom as exigências estabelecidas emleis ou regulamentos: Pena - reclu-são, de um a cinco anos.

O QUE DIZ A LEI

PERITO CRIMINAL André Bittencourt ficou sujo deminério de ferro enquanto coletava água do mar.

C E N AS

A LANCHA usada pela Polícia Federal na operação deontem também ficou repleta de minério de ferro.

AGENTES federais se impressionaram com o que vi-ram. Um deles gritou em vídeo: “Chuva de minério”.

ANDRÉ BITTENCOURT, perito criminal, com material colhido na operação

POLÍCIA FEDERAL

“Sequer se fariamn e ce s s á r i a s

maiores incursõestécnicas para aferir oincômodo trazido aosmoradores ”

“Ao longo dos anos,acostuma-se a

sociedade ao pó preto eàs inexistentes condiçõesde balneabilidade nomar de Vitória”

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Reportagem Especial

4 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, SEXTA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2016

O P I N I Õ ES

“Todo excessode poluição é

prejudicial quandose tratam dep robl e m a srespiratórios ”Mário Tironi Júnior,pneumologista infantil

“Todos sãoafetados pela

poluição. Ela causadoenças comorinite, bronquitee agrava asmas”Carlos Alberto Gomes,pneumologista e pres. da Ames

PÓ PRETO

E m p re s a smultadas emR$ 68 milhõesPrefeitura de Vitóriaaplicou multa para Valee ArcelorMittal, novalor de R$ 34,2milhões para cadauma das empresas

Vale e ArcelorMittal recebe-ram cinco multas cada umapor causa da poluição do ar

em Vitória. O valor total das mul-tas aplicadas pela Prefeitura de Vi-tória foi de R$ 68,4 milhões, sendoque cada uma das empresas rece-beu a multa de R$ 34,2 milhões.

A maior multa dada às empresasfoi de R$ 30,5 milhões, por provo-car continuamente poluição comgrande impacto ambiental, comriscos à saúde e ao meio ambiente.Outra multa foi de R$ 2,06 mi-lhões, por fazer os níveis de polui-ção ultrapassarem o estabelecidoem lei. Uma terceira multa foi dadacomo agravante por continuidade,com valor de R$ 1,05 milhão.

Segundo o prefeito de Vitória,Luciano Rezende, a punição esta-va sendo planejada antes da publi-cação do decreto que aumentou o

valor das multas por danos am-bientais, na segunda-feira.

“Demonstramos a rejeição e oclamor da cidade para que isso nãoaconteça mais. Temos uma polui-ção fora dos padrões”, afirmou.

Segundo Luciano Rezende, ostécnicos da Secretaria Municipalde Meio Ambiente produziramlaudos e embasaram em aspectostécnicos e jurídicos para que asmultas não sejam derrubadas.

“Estamos usando todos os meiospossíveis para conter a poluição. In-clusive, o de cessar a atividade atéque os índices de poluição caiam.Essas medidas vão deixar o custode poluir em Vitória mais alto.”

A procuradora municipal de Vi-tória, Flávia Marchezini, afirmouque todas as multas foram baseadasem pareceres técnicos e científicos.“Antes, as multas não foram feitaspois não existiam padrões estabele-cidos por lei. Com a lei municipalde qualidade do ar, agora as empre-sas podem ser multadas.”

Após o recebimento das notifi-cações, as empresas terão duasinstâncias para recurso, com prazode 20 dias em cada uma delas.

A Vale foi notificada na tarde deontem e afirmou que vai avaliar a

notificação para se manifestardentro do prazo estipulado. A Ar-celorMittal informou que aindanão recebeu a notificação.

I N D E N I Z AÇÃOO vereador e presidente da CPI

do Pó Preto na Câmara de Verea-dores de Vitória, Davi Esmael, vaiencaminhar ofício à prefeitura pa-ra que ela peça indenização deR$ 3,2 milhões por gastos comsaúde de moradores de Vitória.

Luciano Rezende, ao ser ques-tionado sobre o assunto, não des-cartou a possibilidade, porém pre-feriu não comentar se vai entrar ounão com a ação contra a empresa.

COMPLEXO DE TUBARÃO: após o recebimento das notificações, as empresas terão duas instâncias para recurso

A m b i e n ta l i s ta squerem rigornos controlesde emissões

A decisão da Justiça de interdi-tar o Porto de Tubarão foi come-morada por ambientalistas que lu-tam para acabar com o pó preto naregião metropolitana. Mas elesacreditam que ainda é necessáriodiscutir e ampliar os controles am-bientais das empresas de Tubarão.

“Queremos soluções, levar paraníveis aceitáveis a qualidade do are do mar. O enclausuramento (mé-todo para a contenção do materialparticulado) é conhecido desde oséculo passado, mas como temcusto elevado, preferiram não fa-zer. Precisamos continuar cobran-do, para que a decisão não caia.Não queremos fechar a empresa,mas solução para a poluição”, afir-mou o presidente da Juntos SOSAmbiental, Eraylton Moreschi.

Para o presidente da AssociaçãoAmigos da Praia de Camburi, Pau-lo Pedrosa, é necessário mudar apostura das empresas no parqueindustrial de Tubarão.

“Estamos felizes com a interdi-ção, uma vez que as empresas nãoquerem fazer o que precisa parasanar os problemas. Temos gastosdiariamente com remédios, limpe-za das casas. O parque industrialtem de ter indústrias limpas, essa éa nossa vontade.”

Pó preto pode causar 10 doençasQuem convive constantemente

com o pó preto em alguns bairrosda Grande Vitória está mais susce-tível a doenças, principalmente dosistema respiratório. Segundo mé-dicos, a poluição está ligada ouagrava pelo menos 10 doenças.

O presidente da Associação Mé-dica do Estado (Ames), o pneumo-logista Carlos Alberto Gomes, afir-mou que todos que moram na re-

gião sofrem com os efeitos da po-luição. “Não só o minério é nocivo àsaúde, mas também os gases, comodióxido de enxofre, expelido da pe-lotização do minério.”

Segundo ele, essa poluição é res-ponsável por problemas como rini-te, bronquite, sinusite, além de de-sencadear asma e tosse crônica.

O presidente da Associação Bra-sileira de Alergia e Imunopatolo-

“A legislaçãonacional

aceita poluição setevezes mais altaque o estabelecidopela OMS”José Carlos Perini,presidente da Asbai

“E n c l a u s u ra ra produção é

técnica conhecidahá muitos anos,mas não fazempelo alto custo”Eraylton Moreschi, pres. daJuntos SOS Ambiental

“O parqueindustrial de

Vitória tem de terindústrias limpas.Essa é nossavo n t a d e ”Paulo Pedrosa, pres. da Ass.dos Amigos da P. de Camburi

AS MULTAS PARA CADA EMPRESA

R$ 272.653,52Deixar de cumprir deliberações doCondema em relação à emissão depoeira, névoas e gases.

R$ 272.653,52Baseada em denúncia de morador, poroperar atividade com potencial polui-dor em desacordo com a legislação.

R$ 1.050.209,66Agravamento por continuidade da in-

fração denunciada anteriormente.

R$ 2.061.144,58Contribuir para que o ar atinja níveisou categoria de qualidade inferior aosfixados em lei.

R$ 30.580.054,68Provocar continuamente a degrada-ção ou poluição de elevado impactoambiental que apresente risco para asaúde pública e o meio ambiente.

gia, José Carlos Perini, afirmouque, mesmo pequenas quantida-des são responsáveis por doençasrespiratórias e cardiovasculares.

“A OMS (Organização Mundialda Saúde) é clara, material particu-lado, mesmo em padrões aceitáveis,causam doenças respiratórias co-mo asma, agravamento de enfisemapulmonar, doenças pulmonaresobstrutivas crônicas. Também cau-

sam aumento do risco de enfarte domiocárdio, pois leva a problemascirculatórios, já que a poluiçãocompete com o ar que respiramos.”

O pneumologista infantil e pe-diatra Mário Tironi Júnior enfati-zou que quem tem problemas res-piratórios deve ter cuidados emcasa, evitando tapetes, cortinas,além de passar o pano úmido nochão, no lugar de varrer.

TOTAL: R$ 34.236.715,96

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Reportagem Especial

VITÓRIA, ES, SEXTA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2016 ATRIBUNA 5

PÓ PRETO

Paralisação ameaçadois mil empregosDois mil. Esse é o número de

empregos que podem estarem risco com a paralisação

das atividades no Píer II (minériode ferro) e no Píer de Carvão(Praia Mole) do Porto de Tubarãodeterminada pela Justiça, segundoo presidente do Sindicato dos Fer-roviários do Espírito Santo (Sind-fer), João Batista Cavaglieri.

Algumas das principais funçõessão operador de sala de controle,operador de equipamentos móveis,arqueadores de navio e eletricistas.

Cavaglieri afirmou que a catego-ria vai ficar alerta para evitar quedurante a paralisação nas ativida-des no porto haja demissões.

O presidente do Sindicato dosMetalúrgicos do Espírito Santo(Sindimetal), Roberto PereiraSouza, afirmou que a categoriatambém está receosa. “Te m o soperadores, soldadores, mecâni-cos, eletricistas e muitos outrosfuncionários trabalhando no por-to. E o fato de parar o porto, trava

tudo. Claro que existe o receio.Queremos evitar que haja um cor-te de pessoal”.

O presidente do Sindicato dosTrabalhadores Portuários, Portuá-rios Avulsos e com Vínculo Em-pregatício nos Portos do EspíritoSanto (Suport-ES), Ernani PereiraPinto, também teme. “Vai criaruma cadeia de problemas, inclusi-ve para os trabalhadores”, frisou.

Para o presidente do Centro Ca-pixaba de Desenvolvimento Me-talmecânico, Antônio Falcão deAlmeida, a suspensão das ativida-des terá como consequência a pa-rada na produção da Vale. “A me-

dida inibe a produção de minério.A Vale produz para exportar. Senão pode exportar, onde vai esto-car a produção?”, perguntou.

Questionado sobre se a PolíciaFederal considerou o prejuízoeconômico que a empresa terácom a medida, o delegado deCombate ao Crime Organizado daPolícia Federal, Vitor Moraes Soa-res, salientou que a instituição nãotem vinculação particular.

“Acho importante deixar regis-trado o papel republicano da Polí-cia Federal. O que quero dizer comisso? A Polícia Federal não temvinculação particular. Ela trabalhapara o bem da sociedade”, disse.

E completou: “Ninguém aquideixa de reconhecer, obviamente,os efeitos econômicos positivosque o complexo portuário traz pa-ra o Estado. Entretanto, o trabalhoda Polícia Federal é técnico e temque apurar, independente de inte-resses privados, se há ocorrênciade crime”.

THIAGO COUTINHO - 26/06/2015

ERNANI PEREIRA: interdição vai causar problemas para os trabalhadores

COMO FUNCIONA O PORTO Multas contratuais podemchegar a R$ 103 mil por dia

Além do prejuízo com a suspen-são das atividades do Píer II (mi-nério de ferro) e no Píer de Carvão(Praia Mole) do Porto de Tubarão,a Vale terá de se preocupar compossíveis multas contratuais poratrasos na entrega aos clientes.

Segundo o advogado especiali-zado em Direito Marítimo e Por-tuário Werner Braun Rizk, elaspodem chegar a US$ 25 mil (R$103 mil) por dia.

“A Vale, além de operadora, é ex-portadora, e tem contratos com ar-madores do navio e com compra-dores do exterior. Os atrasos po-dem gerar multa”, explicou.

Uma delas é chamada “demur -rag e” ou “de te n ti on ”. “É a multapor hora de atraso. Quando para aoperação do porto, o primeiro cus-to que incide é esse”, disse Rizk.

Segundo ele, a extensão dos pre-

juízos econômicos é difícil de sermensurada. “Se houver 10 naviosem fila, por exemplo, um vai atra-sando o outro. Até normalizar aoperação pode demorar”, frisou.

O presidente do Sindicato dasIndústrias Metalúrgicas e de Ma-terial Elétrico do Estado do Espíri-to Santo (Sindifer), Manoel deSouza Pimenta, destacou que é di-fícil estimar, no momento, qual oprejuízo diário da mineradoracom as paradas.

Ele mencionou outros prejuízos.“O estoque (de minério) que a Valecostuma ter não é suficiente paramuitos dias. Se os píeres não foremliberados, as usinas vão parar deproduzir, de recolher impostos. Éuma intranquilidade para os tra-balhadores e mais um imbrógliosem necessidade”, criticou Pimen-ta.

D I V U LG AÇ ÃO

WERNER RIZK diz que mineradora pode ser punida por atrasos na exportação

“A Vale produz paraexportar. Se não

pode exportar, onde vaiestocar a produção?”Antônio Falcão, pres. do Centro deDesenvolvimento Metalmecânico

120 MILHÕESDE TONELADAS DE PRODUTOS SÃO MOVIMENTADAS NOS SEISTERMINAIS DO COMPLEXO DE TUBARÃO

2Píeres no Termi-nal de Tubarão –

minério

1Terminal de Gra-

néis Líquidos(TGL) – com -

b u s t í ve i s

2Píeres no Termi-nal de ProdutosDiversos (TPD)– grãos e fertili-

zantes

1Terminal dePraia Mole

(TPM) – car vão

SÃO ELES:

> SÃO CINCO VIRADORES DE VAGÕEScom capacidade de 7 mil tonela-d a s / h o ra .

> O PÁTIO DO COMPLEXO tem capaci-dade de estocar cerca de 4 milhõesde toneladas de minério e pelotas.

PÁT I O

E N T E N DA

Fo n t e : Va l e

N AV I O S> O PORTO DE TUBARÃO recebe cerca

de 1.200 navios por ano, entre eles,os maiores graneleiros do mundo, osValemax, com capacidade para 400mil toneladas.

I N AU G U R AÇÃO> QUANDO FOI INAUGURADO, em 1966,

podia receber navios de 150 mil tone-

ladas, embora a maioria da frota naépoca tivesse, no máximo, 60 mil to-neladas.

EFICIÊNCIA> É CONSIDERADO o mais eficiente do

mundo em termos de giro de pátio.

D I V E R S I F I CAÇÃO> SUA INAUGURAÇÃO foi o trampolim

para que o Espírito Santo pudessediversificar suas atividades – umavez que a economia do Estado eracentrada no café – , atuando em ou-tros atrativos industriais e comer-ciais.

E X P O RTAÇÃO> A VALE é a maior exportadora global

de minério de ferro

Os Terminais Portuáriosdo Complexo de Tubarão operam com:

MINÉRIODE FERRO

C A RVÃO S OJA

E AINDA:pelotas, calcário,rocha fosfática,manganês, coque,antracito, farelo desoja, milho, cloretode potássio, ureia,enxofre, entre ou-tros.

PÍER II> O PÍER II do Terminal de Tubarão, um

dos que foram interditados, recebenavios com porte bruto máximo de405 mil toneladas; comprimento to-tal máximo 365 metros e calado má-ximo de 22,30 metros.

PÍER DECARVÃO DO TPM> O OUTRO LOCAL interditado, o píer de

carvão do TPM tem dois berços to-talizando 716 metros, com 705 me-tros de cais acostável. Ele é especia-lizado em operações de descarga denavios, sobretudo carvão siderúrgi-co, coque e antracito.

> O TPM ATENDE às principais plantassiderúrgicas de Minas Gerais e Espí-rito Santo, como a ArcelorMittal Tu-barão, a Usiminas e a Açominas.

AS CARGAS SÃO TRANSPORTADASPOR TRÊS LINHAS DEDESEMBARQUE, COMDOIS DESTINOS POSSÍVEIS:> UM É A ARCELORMITTAL TUBARÃO,

cuja planta industrial fica ao lado doterminal.

> O OUTRO são os pátios de armazena-gem do próprio terminal, onde sãoescoadas pela Estrada de Ferro Vitó-ria a Minas.

ÁREAS INTERDITADAS

Page 5: Reportagem Especial · Granéis Líquidos (TGL), que ope-ra na movimentação de combustí-vel. Porém, nesses dois casos, não houve interdição das atividades. O P I N I Õ ES

Reportagem Especial

6 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, SEXTA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2016

PÓ PRETO

Vale vai recorrerà Justiça Federal

Dizendo-se “s u r p re s a ” com anotificação da Polícia Fede-ral sobre a decisão da Justi-

ça Federal que determinou a sus-pensão das atividades no Píer II(minério de ferro) e no Píer deCarvão (Praia Mole) do Porto deTubarão, ontem, a mineradora Va-le informou, em nota, que vai acio-nar a Justiça.

A empresa alegou que a medidajudicial traz prejuízos para a eco-nomia capixaba e até para a do es-tado de Minas Gerais. O minérioproduzido lá é enviado para oComplexo de Tubarão.

“Tal medida paralisa as ativi-dades de exportação e importa-ção da Vale no Espírito Santo,provocando grande impacto naeconomia do Estado, com refle-xos em Minas Gerais”, disse a

D I V U LG AÇ ÃO

Prejuízo para a prefeituraA paralisação das atividades dos

dois píeres do Porto de Tubarão —o Píer II (minério de ferro) e o Píerde Carvão (Praia Mole) — vai tra-zer reflexos não só para a Vale,clientes e fornecedores, mas tam-bém para a Prefeitura de Vitória,por exemplo, com pagamentos deimpostos relativos às operações.

Questionada sobre os valores deimpostos que deixaria de receberpor isso, a prefeitura informou que“o sigilo fiscal garantido por lei im-pede que a Prefeitura de Vitóriainforme qualquer valor de impos-to gerado pelas empresas.”

Por outro lado, a administraçãomunicipal afirmou que “toda re-dução de produção gera impacto

f i n a n c e i ro.”

E X P O RTAÇ Õ ESPara se ter uma ideia da impor-

tância do minério para a economiacapixaba, o produto é um dos prin-cipais itens da pauta de exporta-ção. No ano passado, foi enviadopara outros países o equivalente aUS$ 3,46 bilhões (R$ 13,14 bilhõesna cotação de ontem), 35% do totaldas exportações capixabas.

A China é o principal mercado erecebe 19% do volume exportado.O problema é que a economia chi-nesa passa por uma desaceleração— o Produto Interno Bruto (PIB)teve crescimento de 6,9% em 2015,o mais baixo desde 1990.

Medida não afeta produçãode imediato, afirma Arcelor

Cliente da Vale que recebe car-vão no Terminal de Praia Mole, aArcelorMittal informou, por meiode nota, que a suspensão das ativi-dades do Píer de Carvão “não afetade imediato as suas atividades.”

A empresa explicou que é clien-te da Vale e não operadora dos ter-minais com atividades suspensas.

“A ArcelorMittal informa quenão é operadora portuária dos ter-minais de minério e carvão (Píer IIe Píer Praia Mole, respectivamen-te) do Porto de Tubarão; e simcliente dos serviços de descarrega-mento de carvão, realizados pelaVa l e ”, disse a empresa em nota.

A ArcelorMittal também foi no-

tificada pela Justiça sobre a sus-pensão das atividades.

APOIOA Vale recebeu apoio do Fórum

das Entidades e Federações (FEF),que, por meio de nota, manifestoupreocupação com o que chamoude “medida extrema”.

“Gera, em todo o meio empresa-rial, alta insegurança jurídica e po-de, inclusive, desestimular a atra-ção de novos investimentos nacio-nais e internacionais”, disse a no-ta.

Algumas das entidades do FEFsão as federações da Indústria, doComércio e dos Transportes.

D I V U LG AÇ ÃO

NAVIO noTerminal dePraia Mole:Pre f e i t u rade Vitóriavai deixarde arrecadarimpostos coma paralisaçãodos píeres

A íntegra da nota da Vale

ANÁLISE

“Suspensão deatividades aprofundadesequilíbrio financeiro”

“Quando empresas entram ematividade elas geram externalida-des, quais sejam, resultados queafetam a vida das pessoas que re-sidem em sua área de impacto.

Eles podem tanto ser positivos,melhorando a qualidade de vidadas pessoas, quanto negativos,piorando essa qualidade de vida.

As empresas de base urbana, co-mo é o caso da Vale, tendem a terum saldo negativo em suas exter-nalidades.

Por isso, devem reservar em seuorçamento anual recursos para aimplementação de medidas mitiga-doras e de redução desse impactoindesejado quando sua eliminaçãoé impossível.

Quando ali se instalou, na déca-da de 1960, a conscientização am-

biental era muito menor, quase ine-xistente, e o progresso parecia ine-xo ráve l .

Firmou-se como uma redenção,face ao intenso desemprego provo-cado pela queima dos cafezais nointerior do Estado.

Agora, o mundo é outro e a ima-gem que se projeta é de transfigu-ração marinha, doenças respirató-rias e insatisfação habitacional emsua área de influência poluidora.

Já abalada pela retração de de-manda internacional, a suspensãode suas atividades aprofunda seudesequilíbrio financeiro, e o gover-no perde arrecadação.

Mas, quem sabe faz a hora, nãoespera acontecer. E parece que aVale esperou acontecer. Infeliz-mente.”

Antônio MarcusMa c h a d o ,

economista e professoru n i ve r s i tá r i o

Decisão que suspendeatividades da empresano Estado prejudica aeconomia capixaba eaté a de Minas Gerais,justifica mineradora

“A Vale informa que recebeu comsurpresa, na manhã desta quinta-feira, 21 de janeiro, notificação daPolícia Federal sobre a decisão judi-cial que determinou 'a suspensãotemporária do exercício de atividadeeconômica por parte das empresasVale e ArcelorMittal Brasil, no Píer II(minério de ferro) e no Píer de Car-

vão (Praia Mole)'.Tal medida paralisa as atividades

de exportação e importação da Va-le no Espírito Santo, provocandogrande impacto na economia doEstado, com reflexos em Minas Ge-rais. A Vale informa que irá adotartodas as medidas judiciais cabíveispara garantir o reestabelecimento

das suas atividades na Ponta deTu b a rã o .

A empresa reforça ainda que vematuando e investindo continuamen-te em seus sistemas de controle am-biental e cumprindo rigorosamentea legislação ambiental vigente. A Va-le reitera o seu compromisso com ascomunidades da região da GrandeVitória, com o meio ambiente e comas suas operações.”

mineradora em nota.Até o fechamento desta edição,

às 23 horas de ontem, não haviadecisão judicial liberando as ativi-dades da mineradora no Estado.

Uma fonte do mercado, que pre-feriu não se identificar, destacouque o impacto será sentido por ou-tras empresas do Estado, além daVale, e de Minas Gerais, como side-rúrgicas que precisam do carvãomovimentado no Terminal dePraia Mole para alimentar seus al-t o s -f o r n o s.

“A paralisação das atividades vaitrazer impacto econômico paragrandes empresas, como Arcelor-Mittal Tubarão, no Estado, e Aço-minas e Usiminas, em Minas. Nor-malmente, elas não têm tanto esto-

que para muito tempo. Se as ativi-dades forem paralisadas por muitotempo, as siderúrgicas vão parar”,frisou a fonte.

As três empresas, segundo a fon-te, produzem quase 15 milhões detoneladas de produtos siderúrgi-cos a partir do carvão transporta-do pela Vale. Esse material vai paraa coqueria, é transformado em co-que e entra nos altos-fornos.

Por outro lado, esse mesmo es-pecialista disse que não se conse-gue parar um alto-forno de repen-te, se faltar material. “Isso pode atédeteriorar equipamentos”, disse.

E M B A R Q U ESDe janeiro a setembro do ano

passado foram embarcadas 82,5milhões de toneladas de minériode ferro da Vale pelo Porto de Tu-barão. Isso significa que o portoescoou 33% da produção total dacommodity — de 248 milhões detoneladas — pela empresa no pe-r í o d o.

Segundo a companhia, em 2014(último dado fechado disponível)houve o embarque de 106,3 mi-lhões de toneladas de minério deferro pelo Porto de Tubarão.

PARTICIPARAM DESTA REPORTAGEM Daniel Figueredo, Dayane Freitas,Eliane Proscholdt, Francine Spinassé e Tais de Hollanda

M I N E R AÇÃO da Vale: companhia diz que paralisação vai afetar empresas que dependem do Complexo de Tubarão

“Medida paralisaas atividades de

exportação e importaçãoda Vale no Espírito Santo,provocando grandeimpacto na economia”Nota da Vale