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Acrónimos e Siglas
ANBA – Academia Nacional de Belas Artes.
APJL – Arquivo Pessoal de Joaquim Lopes.
BACAG – Boletim da Associação Cultural dos Amigos de Gaia.
BNP – Biblioteca Nacional de Portugal.
C-MTL/GDM – Casa-Museu Teixeira Lopes/Galerias Diogo de Macedo.
CDFAUP – Centro de Documentação da Faculdade de Arquitetura da Universidade do
Porto.
CGDVC – Caixa Geral de Depósitos de Viana do Castelo.
CP-MA – Casa dos Patudos-Museu de Alpiarça.
EBAP – Escola de Belas Artes do Porto (ou Academia de Belas Artes do Porto 1836-
1950).
EDIPM – Escola de Desenho Industrial Passos Manuel.
ESBAP – Escola Superior de Belas Artes do Porto (1950-1992).
FAUP – Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.
FBAUP – Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
FCG – Fundação Calouste Gulbenkian.
FIMS – Fundação Instituto Marques da Silva.
FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
LACGEBAP – Livro das Atas de Conferências Gerais da Escola de Belas Artes do
Porto.
LMAA – Livros de Matrícula nas Aulas da Academia.
MAB – Museu do Abade de Baçal.
MEF – Missões Estéticas de Férias.
MGV – Museu Grão Vasco.
MJM – Museu José Malhoa.
MMEHPV – Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim.
MNSR – Museu Nacional Soares dos Reis.
MQS – Museu da Quinta de Santiago.
PA – Processo de Aluno.
SNBA – Sociedade Nacional de Belas Artes.
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Agradecimentos
O sucesso de um trabalho de investigação tem sempre como base o cruzamento
feliz de notícias, de informações e, mesmo, de pessoas. Os encontros físicos ou virtuais
permitem, frequentemente, aproximar obras que estão distantes e emanar luz sobre
dados pouco claros. Estas interceções, mais ou menos casuais, mais ou menos
planeadas, afiguram-se, muitas vezes, como alavancas do trabalho, fatores de impulso e
de motivação, sobretudo nos momentos em que a pesquisa não dá frutos ou o projeto
parece perder o seu sentido.
Deste modo, tornou-se imperioso dedicar um espaço desta dissertação ao
reconhecimento do apoio prestado por algumas das pessoas com quem contactei e que
de certo modo ajudaram na progressão e, por vezes, na própria definição dos rumos e
dos caminhos deste trabalho de investigação. Os parágrafos seguintes registam os meus
agradecimentos de caráter mais pessoal e os de fação mais institucional, ainda que,
repetidamente, as esferas informal e formal se tenham fundido. No entanto, é importante
sublinhar que por detrás de cada instituição há vários nomes e identidades que, não
sendo aqui mencionados, constituíram elementos chave para permitir que eu chegasse à
pessoa indicada para dar resposta ao meu pedido ou necessidade. A não referência
destes elementos cruciais deve-se a não ter conseguido obter a sua identificação. Em
todo o caso, espero que esta explicação deixe espaço para o seu reconhecimento, pois na
minha memória de investigação não estão esquecidos.
Ainda antes de dedicar algumas palavras a quem auxiliou na construção deste
projeto, deixo um agradecimento geral à Faculdade de Letras da Universidade do Porto
(FLUP) e, particularmente, ao Mestrado em História da Arte Portuguesa e ao seu corpo
docente pela possibilidade que me concederam de desenvolver um trabalho que une o
prazer intelectual da investigação científica à ligação emotiva com o tema e a uma
realização pessoal que encontra neste texto escrito a sua concretização plena.
Agradecimentos Pessoais
Agradeço…
Ao Professor Doutor Luís Casimiro, orientador desta dissertação de mestrado, por ter
aceite este projeto – exterior ao seu campo de investigação – e que, por isso, se
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apresentou como um Desafio. Obrigada pelo Acolhimento. Obrigada pelas Palavras.
Obrigada por Acreditar.
À Professora Doutora Lúcia Rosas, docente da unidade curricular de Seminário de
Projeto I, primeira entusiasta deste empreendimento, por ter sido ouvinte e pelas
indicações preciosas que serviram de rampa de lançamento para toda a investigação.
Obrigada pela Sinceridade. Obrigada pela Honestidade.
À Professora Doutora Maria Clara Paulino, docente da unidade curricular de Seminário
de Projeto II, pelos desafios colocados. Obrigada pelas Questões e não só pelas
Respostas.
À Professora Doutora Leonor Soares por todos os ensinamentos prestados no 1º Ciclo
de Estudos em História da Arte e no 2º Ciclo de Estudos em História da Arte Portuguesa
tão valiosos para a minha maturação enquanto aspirante a investigadora. Obrigada pela
Disponibilidade. Obrigada pelos (Sor)risos.
À Dra. Natália Fauvrelle, coordenadora dos Serviços de Museologia do Museu do
Douro e coordenadora do catálogo sobre o pintor Joaquim Lopes publicado por esta
instituição, pela ponte estabelecida entre mim e a família de Joaquim Lopes. Obrigada
pela Generosidade. Obrigada pela Partilha.
À D. Hélia Lopes Guedes, ao Sr. José Borges Guedes e restante família pela abertura
das portas de casa e do arquivo pessoal de Joaquim Lopes, sem o qual este trabalho
teria, necessariamente, uma outra forma. Obrigada pela Hospitalidade. Obrigada pelo
Ânimo. Obrigada pelas Conversas.
Ao Solar Condes de Resende, em particular na pessoa do seu Diretor, Dr. Joaquim
António Gonçalves Guimarães, por apoiar este projeto e por compartilhar informações e
saberes. Obrigada pelo Interesse.
Ao Artur Vasconcelos, doutorando em História da Arte Portuguesa (FLUP), pela
facultação de novos dados que abriram novas perspetivas para este projeto de
investigação. Obrigada pela Camaradagem.
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À Joana Brito pela simpatia com que respondeu a todos os pedidos. Obrigada pela
Doçura.
Aos Pais por alimentarem este que foi um Sonho. Obrigada pelo(s) Incentivo(s).
Ao Márcio por estar Sempre! Obrigada por Seres-me.
Agradecimentos Institucionais
Agradeço…
Ao Arquivo da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), na pessoa
da Dra. Isabel Barroso.
Ao Museu da FBAUP, na pessoa da Dra. Cláudia Garradas.
À Fundação Instituto Marques da Silva (FIMS), na pessoa da Dra. Paula Abrunhosa.
Ao Palácio da Bolsa/Associação Comercial do Porto, na pessoa da Dra. Filipa Guedes.
À C-MTL/GDM, na pessoa da Dra. Raquel de Martino.
Ao Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), na pessoa da Dra. Elisa Soares.
À Divisão de Documentação Fotográfica do Instituto dos Museus e da Conservação, na
pessoa da D. Tânia Olim.
À Fundação Caixa Geral de Depósitos-Culturgest, na pessoa da Dra. Isabel Corte-Real.
À Área de Reproduções da Biblioteca Nacional de Portugal, na pessoa da Dra. Ana
Sabido.
Ao Museu Municipal Santos Rocha, na pessoa da Dra. Ana Paula Cardoso.
Ao Museu de Artes Decorativas de Viana do Castelo, na pessoa da Dra. Suzana Branco.
Ao MMEHPV, na pessoa da sua Diretora Dra. Deolinda Carneiro.
Ao Dr. Francisco Nepomuceno, responsável pelo Projeto Domus Ivstitiae.
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À FAUP, na pessoa da Dra. Teresa Godinho.
Ao Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, na pessoa da Dra. Cláudia Cerqueira.
Ao Museu Municipal de Ovar, na pessoa do Dr. Ricardo Nunes.
Ao Museu da Cidade de Lisboa, na pessoa da Dra. Lurdes Garcia.
À Casa dos Patudos-Museu de Alpiarça (CP-MA), na pessoa do Dr. Nuno Prates.
À Reitoria da Universidade do Porto, na pessoa do Dr. Manuel Janeira.
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Reflexão Prévia
«Pode olhar-se inocentemente para um pintor depois de ter visto toda a sua obra e, sobretudo, depois de
ter lido as dezenas de textos sobre ele publicados?»1
A presente reflexão antecipa-se a qualquer introdução ou explicação do trabalho
que se segue e, por isso, afigura-se como preliminar. A citação que introduz este
balanço inicial reflete o sentimento que resta após meses de investigação e que se afirma
aquando da escrita do trabalho, aquando do cruzamento de dados, aquando do processo
de seleção de informação, onde tanto ficará por dizer. Saber dominar este sentimento,
acalmá-lo e superá-lo é, provavelmente, a única forma de não permitir que ele bloqueie
ou impeça o desenvolvimento harmonioso das ideias e das frases. Aceitar que muitos
elementos irão ser postos de parte e um sem número de conclusões serão adiadas. Esta
consciência levou-me a projetar esta dissertação como um caminho definido pelas
questões pontualmente esboçadas. Um percurso de indagação capaz de suscitar
curiosidade intelectual sobre uma obra em aberto, com inúmeros campos de
investigação possíveis.
Ao longo de um ano e seis meses de investigação, considero que li muito sobre
Joaquim Lopes. Contactei com artigos mais e menos eruditos. Comprovei a diversidade
do trabalho do pintor. Tive acesso a uma multiplicidade de fontes. Aquilo que me
absorve até este momento são, efetivamente, perguntas. Questões em torno da sua obra.
Do seu percurso. Esta pesquisa – sobre o trabalho de um pintor – fez-me refletir, ainda
mais profundamente, sobre como posso eu classificar ou definir a obra de alguém.
Como posso eu justificar este ou aquele aspeto para o qual, frequentemente, nem o
próprio artista tem explicação. Tais ponderações não foram impeditivas da
concretização de uma investigação sólida e consistente. As dúvidas constituíram um
meio de evolução deste projeto e penso que poderão contribuir para uma renovação na
forma de olhar a obra e o exercício da sua análise.
A angústia – patente na escrita de um trabalho desta dimensão – é simultânea ao
desejo de tentar avançar, um pouco mais, naquilo que se conhece. Um desejo constante
que atravessa todas as etapas do projeto. Um desejo que é, acima de tudo, um desejo de
partilha.
1 CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da
Moeda, 1999, p. 9. ISBN 972-27-0981-X.
14
Introdução
Introdução: ponto a ponto.
Desde setembro de 2010 até este momento, o projeto sobre o pintor Joaquim
Lopes foi conhecendo diferentes formas, à medida que a pesquisa progredia e novas
perspetivas de abordagem da problemática surgiam. Estes ajustes e adaptações
confirmaram algo que foi claro logo a partir das primeiras leituras efetuadas sobre o
tema e que se relaciona com a riqueza do objeto de estudo em questão. O facto de haver
poucos estudos dedicados a Joaquim Lopes faz com que quem parta para a sua análise
se situe, em várias circunstâncias, num terreno algo virgem, onde a liberdade de
investigação se alia a uma certa insegurança dada a escassez de bases ou alicerces. Nos
subpontos seguintes, procurarei expor aquela que foi a minha linha de pensamento ao
longo da investigação, justificando os avanços e os recuos nas opções metodológicas.
Apresentação do Projeto
O tema central deste projeto foi – e manteve-se ao longo de toda a investigação
como uma constante – o trabalho do pintor Joaquim Lopes. Naturalmente que as
primeiras pesquisas bastaram para compreender que o tempo disponível não era
suficiente para tratar globalmente a atividade do pintor. Uma abordagem tão ampla
acabaria por não conseguir tratar com a devida profundidade cada etapa da vida do
artista e cada uma das funções profissionais que ele exerceu. Além disso, este projeto
teve sempre como pressuposto assumir-se como um objeto de debate e discussão e não
como um repositório de dados recolhidos sem função e finalidade aparentes.
Assim, defini como meta da minha investigação propor um novo olhar, ou
mesmo, um primeiro olhar aprofundado sobre a obra deste artista, demonstrando a
diversidade de linguagens passíveis de serem encontradas nos seus trabalhos. O facto de
Portugal não ter seguido os mesmos ritmos e lógicas da pintura europeia no despontar
do século XX faz com que seja necessário adequar as interpretações da pintura
portuguesa desta época a essa realidade e, inclusive, criar uma terminologia própria,
adequada ao contexto nacional.2 A tese deste trabalho pretende, então, demonstrar –
2 Esta última observação não constituiu uma finalidade deste projeto. No entanto, espero que este trabalho
possa servir de mote a outras investigações que se debrucem sobre a pintura deste período, com o objetivo
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através de uma série de recursos – a riqueza plástica da obra de Joaquim Lopes,
conseguida através da apreensão e da fusão de uma diversidade de influências que o
artista soube gerir de uma forma muito pessoal.
Paralelamente às questões e à linha mais indagadora deste projeto, ele
apresentará em espaços bem definidos elementos condensadores de informação que
permitirão orientar o leitor que pretenda ficar com uma visão mais objetiva e sintética,
por exemplo, das exposições em que Joaquim Lopes participou ou dos
museus/instituições que possuem obras deste artista. A preocupação na sistematização
de dados foi transversal a todo o projeto, e acredito que um objetivo bem sucedido, que
permitirá que, daqui em diante, um investigador que deseje trabalhar este pintor possa já
debruçar-se sobre um aspeto da sua obra, uma vez que já tem acesso a uma visão de
conjunto e, acima de tudo, já possui uma perceção das fontes e dos locais que lhe
podem vir a ser úteis para a sua pesquisa.
Estado da Arte
A exposição do estado da arte, relativamente a este estudo, ocupou alguns dos
primeiros meses desta investigação e ficará, de certo modo, patente ao longo deste
trabalho. Ao expor algum do material consultado e utilizado na preparação e construção
desta dissertação, o leitor ficará familiarizado com aquilo que, até ao momento, já foi
escrito sobre o pintor Joaquim Lopes, seja em notícias de jornal da época, seja em
reflexões mais recentes. Porém, importa sublinhar uma ideia já adiantada nesta
introdução e que se prende com a escassez de estudos inteiramente dedicados a este
artista. Aliás, o único trabalho que se debruçou exclusivamente sobre a figura deste
pintor foi, efetivamente, o catálogo intitulado Mestre Joaquim Lopes, publicado em
2009 pelo Museu do Douro.3 Esta escassez relevou a pertinência de um estudo
atualizado e profundo sobre o artista, reunindo informações que permitiram criar uma
base de dados sólida para futuras investigações.
O estado da arte constituiu uma etapa importante do processo de pesquisa,
principalmente pelas questões que a bibliografia levantou e pelas linhas de investigação
que se abriram. As consultas bibliográficas tiveram necessariamente de se expandir para
de promover olhares renovados sobre artistas igualmente pouco estudados e, talvez, igualmente presos em
descrições secas e mudas, face à riqueza plástica dos seus trabalhos. 3 MESTRE Joaquim Lopes. [Catálogo]. Peso da Régua: Fundação Museu do Douro, 2009.
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além da figura de Joaquim Lopes, atentando no contexto nacional e internacional em
que o pintor viveu, e trabalhando de perto com documentação da época, nomeadamente
jornais e revistas que noticiavam exposições e outras iniciativas que envolviam o artista.
Este contacto com fontes diversificadas constituiu uma característica transversal a toda
a investigação e estará patente no tipo de material de que farei uso no decorrer desta
dissertação.
Metodologia(s) e Fontes Consultadas
Tal como já foi apresentado, a investigação partiu de um levantamento
bibliográfico que se revelou insipiente no respeitante à figura do pintor, salvo algumas
exceções que serviram de ponto de partida para a definição do plano de trabalho. Desta
maneira, a consulta bibliográfica inicial – tal como a que foi constante a todo o processo
de investigação – procurou conhecer aquilo que já tinha sido escrito sobre Joaquim
Lopes, mas também aquilo que o próprio escreveu. Além disso, foram feitas leituras de
apoio relacionadas com os movimentos artísticos do despontar do século XX, a nível
nacional e internacional. Os estudos sobre teoria/análise da imagem foram também
fulcrais para a concretização dos objetivos a que me propus, uma vez que a
decomposição da obra será uma vertente importante deste trabalho.4
O passo seguinte prendeu-se com a definição das bibliotecas e arquivos a
consultar. A Biblioteca Central da FLUP e a Biblioteca do Departamento de Ciências e
Técnicas do Património (FLUP) constituíram os primeiros locais onde a investigação
decorreu, em pesquisas de bibliografia mais generalizada. A partir destas, pude partir
para a consulta de bibliotecas e arquivos mais específicos, numa investigação já mais
direcionada e próxima da problemática tratada neste projeto, pelo que vale a pena
partilhar de que bibliotecas e arquivos se trata e, sobretudo, o que foi possível colher de
alguns deles.
Algumas das bibliotecas e arquivos consultados para a recolha de dados
especificamente ligados a Joaquim Lopes foram:
Fundo Local e Regional da Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia.
4 A propósito da «decomposição da obra», vale a pena mencionar que nesta dissertação a leitura das
pinturas será sempre feita a partir da perspetiva do observador. Logo, quando me referir, por exemplo, aos
campos esquerdo ou direito de um quadro, tomo por base o ponto de vista do observador.
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Arquivo e Biblioteca da FBAUP.
Biblioteca do MNSR.
Arquivo Pessoal de Joaquim Lopes (APJL), em posse da Família.
No arquivo da FBAUP, é possível consultar o processo de Joaquim Lopes,
enquanto aluno e professor da instituição. No arquivo pessoal do pintor, em posse da
sua família, é possível tomar contacto com uma pluralidade de documentos que não
consegui consultar na totalidade. Neste sentido, vale a pena demorar-me na análise do
conteúdo deste arquivo, uma vez que as opções metodológicas estiveram mais presentes
nesta etapa do processo de investigação. Se até aqui o levantamento bibliográfico e
documental não me tinha obrigado a fazer qualquer seleção e, logo a tomar qualquer
opção, ao deparar-me com um arquivo tão vasto, foi necessário adequar a consulta deste
acervo ao tempo disponível para a investigação e à finalidade do projeto.
O ponto de partida para esta pesquisa foi a consulta de periódicos com
artigos/notícias sobre Joaquim Lopes, com artigos escritos pelo artista e, ainda, outros
jornais guardados pelo pintor, porque o seu conteúdo lhe suscitara algum interesse.5 Fiz
um registo de todas as notícias consultadas com o objetivo de, assim, criar uma base de
dados sobre o que foi dito sobre Joaquim Lopes nos jornais entre as décadas de dez e
cinquenta do século XX. A correspondência assumiu-se como um núcleo atrativo, mas
impossível de incluir na minha investigação, dado o tempo disponível para a mesma. De
qualquer forma, tive a oportunidade de contactar e auxiliar na construção da lista que
regista a identidade de cada uma das pessoas que se correspondeu com Joaquim Lopes e
de quem a família preserva as cartas. Tal já me permitiu ter uma panorâmica da
diversidade de contactos que o pintor teve com figuras das mais diversas áreas de
atividade e com funções sociais bastante distintas.
Outra documentação importante diz respeito aos catálogos das exposições onde
Joaquim Lopes participou, e que a família conserva. Através destes catálogos foi
possível não só listar as exposições onde a obra do pintor esteve presente – construindo,
mais uma vez, uma tabela que funcionará como base de dados –, mas também
conseguir, em alguns casos, apurar qual/quais a(s) técnica(s) da(s) obra(s) do pintor
presente(s) em cada exposição. Isto permite ter uma noção das presenças mais
5 A citação de notícias e artigos em jornais ou outros periódicos seguiu as normas propostas em REIS,
Felipa Lopes dos – Como elaborar uma dissertação de Mestrado segundo Bolonha. Lisboa: PACTOR,
2010, p. 124. ISBN 978-989-693-000-4.
18
frequentes do pintor com quadros a óleo ou com desenhos, servindo, mais uma vez, de
indicador passível de ser útil para futuros estudos que não consigam aceder a alguns
destes catálogos de exposições.
Durante esta etapa da investigação, tive ainda acesso a alguma bibliografia
produzida por Joaquim Lopes e que veio completar aquela que eu já tinha reunido em
outras etapas da pesquisa. Para além destes elementos, tive a possibilidade de enriquecer
o meu trabalho e alimentar o meu processo de investigação através do contacto com os
álbuns de fotografias do artista e de alguns dos seus objetos pessoais, sobretudo ligados
à sua atividade como pintor.
O arquivo pessoal de Joaquim Lopes constitui a fonte principal deste trabalho,
uma vez que aí consegui encontrar uma multiplicidade de documentos relacionados com
o artista, sendo que alguns deles foram preservados e guardados pelo próprio. Deste
modo, foquei a minha atenção na sua consulta, tentando extrair daí o máximo de dados
e informações. Neste sentido, o levantamento e a recolha da obra plástica do pintor,
propriamente dita, foi sendo realizada através da pesquisa via Internet e da consulta de
catálogos de obras online. Assim, o contacto com museus detentores de trabalhos do
artista não foi uma prioridade. Primeiramente, acredito que as obras em posse de
museus constituem objetos de estudo para as próprias instituições em questão, pelo que
a sua divulgação é também da responsabilidade destes organismos. Logo, procurei
privilegiar obras menos conhecidas em posse de instituições que não estão diretamente
ligadas à área cultural, trabalhos disponíveis em leiloeiras e pinturas pertencentes a
coleções particulares.
Porém, procurei fazer um levantamento das obras existentes em cada museu para
dar resposta ao objetivo de criar uma base de dados em relação às instituições detentoras
de trabalhos do pintor. Sempre que possível, aos dados técnicos sobre a obra agreguei
um registo visual do(s) trabalho(s) em questão. No que diz respeito aos contactos
diretos com as obras, efetuei os que eram viáveis. Vale ainda a pena mencionar que
durante a consulta do arquivo pessoal do pintor, houve a oportunidade de semanalmente
contactar com as obras do artista em posse da sua família. Esta experiência foi deveras
enriquecedora e superou a deslocação a qualquer museu. Esta possibilidade constituiu
uma mais-valia para o trabalho e devo-a à disponibilidade da família do pintor.
A pesquisa através da Internet é o último recurso abordado, sendo que se
assumiu como uma constante no projeto e algo de transversal na investigação. Para além
19
dos catálogos online de leiloeiras, consegui aceder a vários catálogos online de
alfarrabistas, o que me permitiu contactar com uma outra vertente do trabalho do artista,
a qual diz respeito à ilustração de livros. A pesquisa online foi fundamental para
aprofundar o conhecimento sobre esta faceta da sua atividade, bem como para tomar
contacto com estas mesmas ilustrações.
Título da dissertação
As palavras que servem de título a este trabalho – Joaquim Lopes. Questões de
estilo em torno da obra do pintor. – merecem uma explicação em particular, pelo
significado que comportam. O título da dissertação pretende reforçar a perspetiva de
problematização – transversal a todo o projeto – e sensibilizar o leitor para as perguntas
que irão pontuar o texto. Além disso, introduz o conceito de «estilo» que deve ser
contextualizado e esclarecido à luz deste trabalho. O termo empregue acarreta
pressupostos que não se adequarão na totalidade ao âmbito desta dissertação. A noção
de «estilo» nem sempre é bem aceite no domínio da História da Arte, pelo que deve
ficar bem explícita a finalidade com que é utilizada. Neste sentido, e para clarificar o
modo como este conceito vai ser abordado nas páginas deste trabalho, citarei uma
passagem da autoria de Laurent Gervereau que define a forma como entendo e aplicarei
o termo «estilo» nesta dissertação – «A análise estilística […] continua a ser
indispensável. […] antes de se associar o ícone à produção de outros criadores […],
devem interrogar-se os constituintes plásticos específicos do objecto de análise.»6 –.
O «estilo» situa-se, então, nas características dos constituintes plásticos
específicos de uma obra e, de certa maneira, de um artista. O «estilo» – nesta linha de
pensamento – não é mais do que o modo como cada um explora as soluções plásticas
que conhece, que aprende, que domina. É a forma como, por exemplo, um pintor
interioriza informação e é capaz de, posteriormente, a materializar de uma maneira que
será sempre individual, por mais integrado que ele esteja num movimento. São questões
de «estilo», como poderiam ser questões plásticas. Questões, no fundo, em torno da
matéria que compõe um quadro ou um painel. De um modo mais livre do que canónico,
a noção de «estilo», no contexto deste trabalho, não deve ser vista senão como uma
palavra que reúne em si a cor, a linha e a forma que compõem uma qualquer pintura.
6 GERVEREAU, Laurent – Ver, Compreender, Analisar as imagens. Lisboa: Edições 70, fevereiro de
2007, pp. 50 e 51.
20
Estrutura do Trabalho
A organização interna da presente dissertação encontrou alguma inspiração no
estudo de Laura Castro intitulado Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental.7 O
trabalho citado constituiu, de resto, no contexto deste projeto, uma matriz e uma
referência constantes, não só por acreditar que ele partilha alguns pressupostos com o
meu plano de investigação, como também por apresentar uma estrutura e uma lógica, no
encadeamento das ideias, que me atraiu verdadeiramente. Neste sentido, o trabalho de
Laura Castro serviu como alicerce, num projeto onde as bases eram escassas e, por isso,
fez por as encontrar em textos menos óbvios, porque não diretamente relacionados com
o tema principal. Todavia, a linha cronológica que Laura Castro segue no índice do seu
estudo não será, exatamente, aquela que aplicarei na arrumação de conteúdos do meu
trabalho. Não que não siga, igualmente, uma perspetiva de evolução cronológica, mas
julgo que esta não poderá ser tão metódica e sistemática.
Tendo em conta as ideias expostas anteriormente, dividi a minha dissertação em
seis capítulos principais que seguidamente apresento.
1 – Ao encontro de Joaquim Lopes.
2 – O «estraga papel».
3 – Academia: Formação ou Deformação?
4 – Joaquim Lopes: Um Pintor sem Estilo?
5 – A Tela Escrita.
6 – Produção Artística de Joaquim Lopes.
Experimentalismo e Afirmação/Afirmação e Experimentalismo.
O primeiro capítulo deste trabalho tem como objetivo uma apresentação de
Joaquim Lopes, aproximando o leitor à sua obra. No fundo, este será um capítulo breve
que procura, essencialmente, debruçar-se mais sobre o trabalho do pintor e sobre as
questões que nortearam a investigação. Os segundo e terceiro capítulos pretendem já dar
a conhecer aquele que foi o percurso inicial do pintor, olhando um pouco as suas
origens e, de forma mais demorada e analítica, a sua passagem enquanto aluno, pela
Escola de Belas Artes do Porto (EBAP). Este último ponto, desenvolvido no terceiro
capítulo, será uma etapa de grande importância, uma vez que a formação académica do
7 CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental.
21
artista é um aspeto amplamente sublinhado e abordado em alguns dos trabalhos
consultados. Daí que tenha optado por conferir ao título do capítulo o tom de uma
questão, uma vez que este será um espaço para observar a prestação de Joaquim Lopes
como estudante, mas também para debater a influência dos ensinamentos recebidos na
determinação do(s) rumo(s) e do(s) caminho(s) da sua obra.
No quarto capítulo procurarei dar resposta ou, mais concretamente, proporei
respostas para a problemática que serviu de base a este projeto. Neste ponto, o leitor
será convidado a distanciar-se um pouco daquilo que foi o percurso do pintor –
interrompendo-o na altura em que este conclui a sua formação académica – para ficar a
conhecer alguns dados sobre o contexto, nomeadamente artístico, nacional e
internacional. Apesar de, nesta etapa da dissertação, o leitor ainda não estar
familiarizado com a obra do pintor, acredito ser o momento ideal para introduzir
algumas noções acerca do ambiente artístico do país e além fronteiras. Estes princípios
– em torno das circunstâncias artísticas no despontar do século XX português e europeu
– irão ser cruzados com palavras do próprio Joaquim Lopes, quando este debatia as
questões da função da arte e como esta deveria ser estilisticamente. Neste momento,
poderei conduzir o leitor para cronologias mais distanciadas do que aquelas em que foi
deixado, isto é, quando o pintor conclui os seus estudos na EBAP. Porém, a
sistematização do seu percurso será disponibilizada em quadros cronológicos em anexo
que servirão justamente para orientar a leitura. Todavia, não deixarei de, textualmente,
no decorrer do corpus desta dissertação, fazer um percurso pelas diferentes atividades
que o artista vai exercendo.
O quinto capítulo será dedicado à apresentação da atividade de Joaquim Lopes,
para lá das suas ocupações como pintor. Sem aprofundar todas as iniciativas em que o
artista se envolveu, neste ponto procurarei exaltar algumas das funções assumidas pelo
pintor, nomeadamente como professor, conferencista e autor de monografias e artigos.
Para completar as informações avançadas neste capítulo, em anexo figurará uma
listagem de dados que sintetiza alguns desses feitos. O objetivo deste ponto é o de
demonstrar como Joaquim Lopes foi um dinamizador cultural, não só através da sua
pintura, mas também através das suas palavras. Assim, os seus contributos para o meio
artístico nacional foram plurais e transversais – tanto numa perspetiva prática, como
teórica – e, por isso, merecem ser conhecidos.
22
O capítulo seis refletirá um conjunto de conceções alcançadas ao longo dos
pontos que o antecedem. Neste sentido, tenderá a ser um capítulo menos questionador e,
talvez, de mais descoberta. Um espaço mais visual, mas não tanto analítico. Nesta etapa,
pretendo expor a diversidade da obra de Joaquim Lopes. A multiplicidade de técnicas (e
estéticas) que ele pôs em prática nos seus exercícios plásticos será comprovada através
da subdivisão deste capítulo em técnicas artísticas, apresentando para cada uma delas
exemplos dos trabalhos que o pintor realizou. Além disso, este espaço da dissertação
servirá para apresentar alguns dados e algumas ligações que foram apurados com esta
investigação e que irão permitir avançar no conhecimento de algumas das peças
artísticas exibidas. Naturalmente que o desenvolvimento destes capítulos redundará
numa conclusão final que, neste caso particular, não deixará de ter o seu caráter
inconclusivo. Um projeto que assentou em questões e encontrou nestas o seu
pressuposto e a sua principal razão e justificação, não poderia apresentar senão
Conclusões, Conquistas e Caminhos. O dossier complementar e anexo ao corpus desta
dissertação ostentará um sumário próprio e individual que explicará a organização
interna desse volume.
Difusão de Resultados
A inclusão deste último item na abertura deste trabalho deve-se ao facto de
julgar fundamental expor os resultados práticos que esta investigação teve e poderá vir a
ter. Ao longo desta introdução, repetidamente referi a ideia deste projeto se apresentar
como um ponto de partida. Também neste sentido mencionei, frequentemente, a ideia
desta dissertação servir, em certa medida, como uma base de dados, capaz de orientar
quem futuramente deseje debruçar-se sobre o trabalho do pintor Joaquim Lopes, mas já
focado num aspeto da sua atividade. O ecoar da expressão «base de dados» foi
premeditado e justifica-se por, efetivamente, ter procurado com perseverança e
empenho cumprir esta finalidade do projeto que se prende, de certo modo, com este
ponto ligado à difusão de resultados. A sistematização de dados relacionados com a
vida e sobretudo com a obra do artista serão um exemplo da difusão de alguns dos
resultados objetivos da pesquisa levada a cabo.
Paralelamente a alguns quadros que pretenderão organizar informações
relacionadas com o percurso de vida do pintor e da obra produzida, há ainda um desejo
de apresentar visualmente um número considerável de trabalhos do artista. Muitas das
23
suas obras ainda não estão acessíveis online e, por isso, a construção de um dossier em
forma de catálogo visual poderá ser bastante útil para suscitar o interesse do leitor por
alguns dos trabalhos do pintor e por algumas das técnicas plásticas que este
experimentou. Outro aspeto fundamental na divulgação das conclusões deste estudo
será a da partilha das fontes primárias consultadas, nomeadamente dos periódicos.
Acredito que esta vertente revelar-se-á de grande importância, pois orientará pesquisas
futuras que, de outro modo, apenas conseguiriam definir as suas consultas a partir do
arquivo pessoal do pintor.
Assim, através deste levantamento de fontes, o investigador poderá selecionar os
documentos a analisar consoante os seus interesses, sem necessitar de fazer uma
pesquisa integral de cada periódico durante uma cronologia extensa. Algumas destas
pesquisas consistiram, precisamente, na consulta de alguns periódicos, respeitantes a
vários anos, para assim tentar encontrar referências a Joaquim Lopes. Periódicos como o
Boletim da Associação Cultural dos Amigos de Gaia ou O Tripeiro são casos
ilustrativos desta circunstância, assim como a Ocidente, Revista Portuguesa. Neste
último caso, foram consultados os fascículos desta revista desde o ano da sua primeira
edição (1938) até ao ano de 1957 (um ano após a morte de Joaquim Lopes).
* * *
Para lá do exercício intelectual, o presente projeto procurou nunca perder de
vista a sua utilidade. O tempo e a extensão de páginas disponíveis não poderiam esgotar
o tema, nem a investigação deve, no meu entender, ter como fim esgotar um assunto. As
problemáticas recuperam-se com olhares renovados e ávidos de descobrir algo novo,
mesmo em objetos que parecem já não poder guardar quaisquer segredos. Com este
trabalho, espero partilhar o ânimo que acalentou esta investigação e o entusiasmo que
acompanha a escrita destas palavras que se vão organizando em ritmos mais ou menos
harmoniosos, mas desejosos de encontrar o seu próprio sentido. Encarei todas as leituras
e consultas como viagens. Por isso, apresento esta dissertação como um percurso pelos
percursos de Joaquim Lopes. Um caminho percorrido pelo simples gosto de caminhar.
24
1 - Ao encontro de Joaquim Lopes.
«O tema é que nos sugere a técnica a empregar.»8
Joaquim Lopes
Diário do Norte, 1955
Joaquim Lopes fez pintura histórica e mitológica. Coloriu os costumes em telas
de romarias e de festas tradicionais. Pintou paisagens e marinhas. Esboçou retratos e
desenhou inúmeras figuras humanas. Experimentou temáticas sacras. Delineou,
esporadicamente, motivos florais. Do espólio visual que reuni do pintor, apenas não
descobri qualquer natureza-morta. Facto curioso numa atividade artística que parece ter-
se definido pela exploração transversal de temáticas fazendo, igualmente, uso de
diversos recursos técnicos. Talvez a natureza-morta não tenha inspirado o pintor. Talvez
ainda haja alguma natureza-morta do artista por conhecer.
Por vezes, são cenários como estes que despertam a curiosidade e que poderão,
inclusive, não trazer dados novos para o conhecimento do pintor. Em todo o caso,
reflexões como as anteriormente partilhadas nascem da pesquisa e do cruzar de dados
sobre o percurso de um artista. Entre constâncias e exceções, tentam traçar-se linhas,
mas nem sempre estas são retas e suficientemente esclarecedoras. De todo em todo,
merecem ser esboçadas ainda que sempre com um caráter provisório. Julgo, ainda, que
esta é a melhor forma de partir ao encontro de Joaquim Lopes, apresentando-o ao leitor.
A amplitude do trabalho do artista foi a ideia que mais fortemente retive de toda a
pesquisa efetuada e que penso ser premente sublinhar neste trabalho. Isto, porque tal
perspetiva é globalmente desconhecida e contribui para a síntese da obra do artista em
uma ou duas temáticas, em uma ou duas técnicas utilizadas.
No estudo sobre Júlio Resende, Laura Castro afirma que o pintor nunca foi um
artista incómodo.9 Tal descrição pode ser, confortavelmente, aplicada à figura de
Joaquim Lopes que terá sido muito mais incómodo nas suas funções enquanto professor
8 Mestre Joaquim Lopes recorda Columbano e as Missões Estéticas de Férias. Diário do Norte, Ano VI,
Nº 2033, Porto, 22/03/1955. 9 «Resende nunca foi um artista incómodo. Mas nunca isso resultou de transigências ou concessões de
oportunidade a interesses vários. Todo o propósito parece ter residido na busca de uma pintura verdadeira
que se impôs por ela própria, na sua especificidade.» CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da
Pintura Ocidental.
25
e diretor da EBAP10
(a partir de 1950 ESBAP11
) do que propriamente como artista
através da sua obra plástica. No entanto, em diversos artigos e notícias cruzei-me com
passagens que exaltam os seus contributos como pintor inquieto – «Temperamento dos
mais inquietos e raros de artista, […]»12
– ou irrequieto na sua vontade de evoluir e
fazer evoluir – «[…] Joaquim Lopes nunca pára. Nervoso, propulsor de vontades,
trabalhando sempre, […]»13
–. Das frases destacadas, é lícito concluir que o artista não
foi um pintor acomodado, porém, tal não o torna uma figura incómoda, até pelo respeito
que granjeou nos meios artísticos que frequentou e onde soube sempre conviver com os
demais.
As proximidades entre o estudo de Laura Castro e a presente dissertação já
foram apresentadas e explicadas na introdução da mesma. No entanto, através da
consulta de tal trabalho, consegui mesmo estabelecer alguns paralelismos entre as
considerações que Laura Castro faz sobre a figura de Júlio Resende e as perspetivas que
eu própria construí acerca de Joaquim Lopes. Nesta espécie de apresentação do artista e
da sua obra posso descrever a pintura de Joaquim Lopes como Laura Castro descreve a
de Resende dizendo que a sua pintura é uma «pintura feita de gente»14
. A obra deste
artista – ainda que profundamente plural, como já fiz notar – conserva, sempre, um
sentido humano, coerente com a sua formação enquanto pintor e com a sua moral
enquanto homem.
Júlio Resende – e permitam-me continuar com uma correlação improvável, e
eventualmente até sem sentido para alguns, entre este e Joaquim Lopes – nasce em
1917. Tinha Joaquim Lopes trinta e um anos. Resende entra para a EBAP como aluno
em 1937. Joaquim Lopes matricula-se pela primeira vez na EBAP em 1906. Trinta e um
anos distanciam as suas formações artísticas, iniciadas por ambos com vinte anos de
idade. Em todo o caso, a distância que os separa não é suficiente para ver diferenças
claras nos panoramas artísticos que, afinal, ambos partilharam, inclusive
10
Terá sido graças «à insistência, à teimosia e até à irreverência do Mestre Joaquim Lopes» que o
empreendimento da construção da nova Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP) foi possível,
isto segundo o próprio ministro da Educação Nacional, à época, o Dr. Fernando Pires de Lima. Cf. A
homenagem ao pintor Joaquim Lopes e a exposição de motivos cinegéticos foram os principais números
do primeiro dia das Festas de Amarante. O Comércio do Porto, 03/06/1967. 11
Escola Superior de Belas Artes do Porto (1950-1992). 12
A Escola Superior de Belas Artes do Porto vai prestar homenagem póstuma a mestre Joaquim Lopes. O
Primeiro de Janeiro, 05/06/1956. 13
Mestre Joaquim Lopes pediu a demissão de professor da Escola de Belas Artes do Porto. Diário de
Lisboa, 21/07/1952. 14
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 18.
26
geograficamente. Encontrar razões ou justificações para esta realidade será, talvez,
sempre e em qualquer sentido, um exercício pouco produtivo. Falar da estagnação e dos
ambientes «cinzentos e obsoletos»15
, nomeadamente do Porto artístico, é um exercício
que tentarei substituir por um outro mais dedicado à exploração dos bons exemplos,
indicadores de quem procurou operar a mudança.
Em 1916, Joaquim Lopes expõe como membro do grupo Os Phantasistas. Em
1943, participa na mostra d’Os Independentes16
. No contexto da vida do artista, estas
incursões – algo contestatárias da Academia – são diluídas num percurso visto como
integrado na norma e seguidor do cânone. Aliás, a presença do pintor em outras
exposições, como as que tinham lugar no Salão Silva Porto, faz com que ele seja
incluído – quanto a mim falsamente – numa linha de artistas continuadores e repetidores
de uma técnica e estética já esgotadas, como o excerto seguinte sintetiza.
«Aí expunham discípulos e continuadores da geração naturalista
afirmada ao longo das três últimas décadas do século XIX, muitas vezes em
exposições colectivas, em que a distinção de tendências não seria fácil, tal era a
quantidade de artistas reunida e a disparidade de obras apresentadas. Margarida
Matias refere-se expressivamente a estes artistas como um exército de
«honnêtes gens de l’art», que pouco avançara em relação ao ensinamento dos
mestres Marques de Oliveira ou Artur Loureiro.»17
A disparidade das obras apresentadas indicia uma discrepância de valor e de
qualidade, mas igualmente uma distância em termos das propostas plásticas. A
participação de Joaquim Lopes nestes mesmos eventos, acredito que tenha contribuído
para o agudizar desta discrepância, pois defendo a sua presença como uma presença não
incómoda, mas também não acomodada e que, como Laura Castro afirma, num meio
nacional onde a descendência naturalista era inevitável alguns conseguiram renovar as
suas linguagens através de lições mais ou menos assimiladas da pintura além
fronteiras.18
Joaquim Lopes é, para mim, um destes casos de proposta de renovação,
ainda que sem cisão, ainda que sem choque. Alguém que consensualmente foi acolhido
por grande parte da imprensa da época, ainda que tal possa ser justificado por alguns
com o facto dos jornais e periódicos daquela altura estarem dominados por um gosto já
ultrapassado, à semelhança da própria Academia. A recetividade à arte do pintor não era
15
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 22. 16
«Trata-se de artistas de tendências diversas unidos por uma recusa de hábitos académicos rotineiros.»
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, pp. 44 e 45. 17
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, pp. 24 e 25. 18
Ibidem, p. 39.
27
motivada pelas suas propostas rotineiras, mas antes pela solidez dos seus trabalhos. Os
vários adjetivos que o vão caracterizando – e cuja recolha seria interessante pela
variedade terminológica passível de ser encontrada – apontam sempre no sentido da
consistência das suas propostas. Alguém que, olhando para trás, não deixava de olhar
para a frente.19
Assim, a sua individualidade e o facto de ter trazido um estilo original
são algumas das considerações tecidas pela imprensa acerca do pintor.20
As viagens físicas e literárias de Joaquim Lopes são um outro marco importante
para a compreensão da profundidade da sua obra. Muitos artigos atentam na sua
dimensão de estudante, mesmo quando já professor e mestre. O pintor foi, na realidade,
um investigador que buscou em livros e recortes de jornais a fonte para dar substância e
base à sua pintura. Se ela tem muito de intuitivo, como que arrancado de dentro do
artista, há um pensar a obra que advém do pintor-professor, da norma que usa não como
fim, mas como método para atingir o seu fim. E é aqui que reside alguma da
personalidade do artista, alguma da singularidade da sua pintura que não pode,
efetivamente, permanecer desconhecida e limitada a descrições frequentemente
pejorativas. As suas obras tornam-se uma fonte mais rica para conhecer o pintor, do que
propriamente os inúmeros artigos que ele escreveu e onde nem sempre dá a conhecer
tão bem a sua faceta de artista. Tal como Laura Castro refere – a obra pintada é a
melhor resposta –.21
Já referi que o Homem constitui uma presença importante nas telas do pintor.
Aliado a este surge um outro tema/valor que se afirma recorrentemente e que diz
respeito à Terra. A ligação à terra física, à terra geográfica e, ainda, à terra imaginária
marca indiscutivelmente muitos dos trabalhos do artista, onde encontramos
frequentemente o retrato de cidades e vilas ou a atmosfera de campos anónimos que não
deixam de transmitir a força da terra que, aliás, o pintor prolonga em trabalhos de figura
humana onde usa tons terrosos. Esta dimensão física não é comum a todos os seus
trabalhos que em algumas propostas – sobretudo em aguarelas – apresentam uma
dimensão mais fluida e até etérea da cor.
Joaquim Lopes fez pintura histórica e mitológica. Coloriu os costumes em telas
de romarias e de festas tradicionais. Pintou paisagens e marinhas. Esboçou retratos e
19
Barreto, Costa. Decadência? Inquérito. O Comércio do Porto, 15/05/1951. 20
Mais adiante nesta dissertação, a análise detalhada de alguns dos periódicos consultados ajudará na
exposição de alguns dos trechos ilustrativos deste acolhimento da obra e da figura de Joaquim Lopes. 21
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 87.
28
desenhou inúmeras figuras humanas. Experimentou temáticas sacras. Delineou,
esporadicamente, motivos florais. Do espólio visual que reuni do pintor, apenas não
descobri qualquer natureza-morta. Facto curioso numa atividade artística que parece
ter-se definido pela exploração transversal de temáticas fazendo, igualmente, uso de
diversos recursos técnicos. Talvez a natureza-morta não tenha inspirado o pintor.
Talvez ainda haja alguma natureza-morta do artista por conhecer.
A repetição do parágrafo que levou o leitor ao encontro de Joaquim Lopes deve-
se ao facto de o considerar adequado para encerrar este primeiro capítulo, em jeito de
preâmbulo. Nestas linhas, levantei questões e pistas acerca de alguns dos debates que
foram surgindo em torno do percurso do artista, como membro de uma geração pouco
inovadora e também vista, no meu parecer, com algum preconceito.
«Em relação a numerosos pintores aponta-se a unidade e a escassa variação
como garantes de uma marca inconfundível.».22
A marca inconfundível ou, pelo menos, identitária de Joaquim Lopes é
certamente a da diversidade. Uma diversidade que introduzi através da abordagem da
pluralidade dos temas que o pintor tratou, mas que, na verdade, estará patente em muitas
outras das opções que ele tomou, nomeadamente estilísticas, fruto, também, das amplas
influências que recebeu, quase contraditórias entre si. Quando o pintor afirma que é o
tema que sugere a técnica a empregar, ele admite o tema como matriz condutora do seu
trabalho. O tema está intimamente ligado ao sentido humano e atento da sua obra que
vive de uma observação analítica que supera a contemplação dos campos naturalista ou
a captação dos efeitos lumínicos impressionista. O pintor alia as questões de estilo às
questões da própria existência que são comuns a muitos dos seus trabalhos. Sem
esquecer os projetos e encomendas oficiais onde o artista seguiu, necessariamente, as
indicações de terceiros, os trabalhos do pintor assumem um caráter indagador e
reflexivo, convidativo à entrada do espetador na obra. Naturalmente que uma pintura tão
diversa como a de Joaquim Lopes, não pode resumir-se em algumas palavras ou mesmo
resumir-se de todo, uma vez que para cada valor transversal, encontraremos uns outros
tantos dissonantes. Porém, é nesta encruzilhada, onde nunca o pintor se perdeu, que
reside um dos motivos de interesse em estudar o seu trabalho.
22
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 89.
29
Felizmente, às minhas palavras juntam-se muitas outras escritas ou proferidas ao
longo do tempo. Essas, por vezes, conseguem, de forma mais eficaz, sintetizar não as
obras, mas os princípios do homem que as executou. Talvez por alguns dos autores
dessas palavras o terem conhecido. Talvez pelo trato direto simplificar a forma de olhar
as coisas e as pessoas. Talvez porque quem investigue todo o percurso de um artista,
fique sem defesas e recursos para apresentar uma só perspetiva, sem com isso sentir que
está a aniquilar os vários eus que existem naquele pintor, que existem, afinal, em
qualquer ser humano.
«A sabedoria era para si [Joaquim Lopes] como a entendia Maeterlinck
– compreender a vida, o impossível no possível, mesmo as energias ùnicamente
dependentes da nossa personalidade. É preciso ser um eterno estudante – dizia –
para aprender a saber ver, a saber ouvir e a saber desenhar, bases primordiais da
cultura humana. Simples por índole e por temperamento, não escondia o que
era, não se negava. Dava-se todo, inteiro, de corpo e alma à Arte […]».23
23
Sousa, Alberto de. A exposição póstuma de Mestre Joaquim Lopes. O Homem, o Pintor, o Mestre.
Novidades, 15/07/1956.
30
2 - O «estraga papel».
Estraga papel, rapaz, estraga muito papel!…
2.1 - Um caminho inesperado.
A frase que abre este capítulo e se encontra sintetizada no título do mesmo é, por
vezes, reproduzida em alguns artigos de jornal24
e referida por Joaquim Lopes quando o
artista fala sobre as suas memórias de infância. Desde cedo, o pintor ouviu este conselho
de quem reconhecia, algo de especial, nas suas experiências artísticas de criança. Não
defendo com isto a existência de um talento inato ou de um dom enviado por qualquer
entidade. No entanto, o interesse de Joaquim Lopes pelo desenho foi algo que o
acompanhou desde jovem e que certamente sensibilizou quem via os seus rabiscos
evoluírem e ganharem formas harmoniosas.
Neste espaço da dissertação, pretendo apresentar de um modo objetivo e
sistemático o percurso de Joaquim Lopes até à sua entrada na EBAP. Uma vez que em
diversos periódicos já proliferam referências acerca da sua vida adulta, deixarei para
esta etapa do trabalho a exaltação de algumas passagens da sua infância e juventude que
me parecem mais relevantes, tendo em conta o rumo que, posteriormente, a sua vida
tomou. Em todo o caso, remeto para a leitura do capítulo inicial do catálogo sobre
Joaquim Lopes, da autoria de Natália Fauvrelle, e que apresenta, precisamente, alguns
apontamentos biográficos sobre o pintor.25
Joaquim Francisco Lopes nasceu em 1886, tal como Kokoschka; no mesmo ano
em que Gauguin tem a sua primeira estadia em Pont Aven, na Bretanha; na mesma data
em que Van Gogh vai para Paris e se encontra com Toulouse-Lautrec, Pissarro,
Gauguin e Seurat.26
O eco das pesquisas destes representantes maiores das linguagens
impressionista, pós-impressionista e expressionista, tardaria a chegar a Portugal. Aliás,
talvez nunca tenha chegado na sua plenitude, mas tenha, sim, sido deturpado pelas
interpretações individuais de cada artista que ia trazendo das suas viagens ao estrangeiro
24
Príncipe, César. Joaquim Lopes «Estraga muito papel». Jornal de Notícias, 30/07/1991. 25
FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, pp. 9 a 35. 26
HESS, Walter – Documentos para a compreensão da pintura moderna. Lisboa: Edição «Livros do
Brasil», julho de 2001, p. 252.
31
referências e novas práticas. Enquanto isso, o gosto naturalista era importado e
amadurecido até à exaustão.
Como criança, «O pequeno Joaquim preferia encher páginas de papel mata-
borrão com desenhos…»27
a estudar a música que a avó paterna, Ana Rodrigues
Simões, com quem Joaquim Lopes foi criado, lhe incutia. Anos mais tarde, em 1944, o
artista diria a um jornal que se não tivesse sido pintor, teria sido escultor ou músico.28
Terá sido esta referência à música, uma reminiscência do violão e da guitarra29
que,
gentilmente, a Avó Ana lhe ofereceu na infância? Ou este é o pensamento do homem de
cinquenta e oito anos, conhecedor e apreciador do som das cordas de Guilhermina
Suggia, como prova o facto de ter estado presente no funeral da violoncelista?30
Acredito que as memórias dos seus tempos de criança e nomeadamente da sua Avó
Ana, tenham estado no seu subconsciente aquando desta resposta para o Jornal de
Notícias. Nas suas obras, o artista não recorda as suas origens; elas são-lhe inerentes. A
postura do pintor é definida pela sua história de berço, pela educação mais privilegiada
que pôde ter no seio dos avós paternos e pelo facto de nunca ter esquecido os seus pais e
irmãos que, afinal, moravam na mesma rua da casa de seus avós.
«Como Espinosa, Joaquim Lopes desejava e procurava ser modesto, simples,
sereno, resignado ao sofrimento, sem orgulho e humildade excessivas.»31
Este comportamento retilíneo e seguro de si manifestou-se quando o seu avô
paterno faleceu e o futuro pintor – que tinha aulas particulares de instrução primária
desde os 7 anos com o senhor Correia – teve de ir trabalhar para auxiliar nas despesas
domésticas. Entre 1897 e 1915, grosso modo, através do seu tio materno, José Pinto Jr.,
pintor decorador de cofres, Joaquim Lopes começa a trabalhar. Em alguns estudos
encontrei menção à Casa Tomaz Cardoso32
, como tendo sido a fábrica onde o pintor
27
FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 10. 28
Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 18/08/1944. 29
FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 10. 30
http://suggia.weblog.com.pt/arquivo/180823.html. 15-06-2012 23:10. 31
Sousa, Alberto de. A exposição póstuma de Mestre Joaquim Lopes. O Homem, o Pintor, o Mestre.
Novidades, 15/07/1956. 32
À data localizada no Nº 395 da Rua Direita (Vila Nova de Gaia) conforme indicado por Gonçalves
Guimarães. Cf. GUIMARÃES, Gonçalves – Memória histórica dos antigos comerciantes e industriais de
Vila Nova de Gaia. 1ª ed. Vila Nova de Gaia: Associação Comercial e Industrial de Vila Nova de Gaia,
1997, pp. 141 e 163.
32
iniciou atividade.33
Outras fontes aludem a uma serralharia pertencente a Manuel
Correia (O Batuca)34
, como o local onde o artista começou a pintar ornamentos em
cofres.35
Esta primeira atividade profissional explicará alguns dos pormenores
decorativos que pontuam muitas das suas obras, ao longo do tempo. A linha curvilínea e
sinuosa que dança em painéis de azulejo ou ilustrações de livros tem, muito
provavelmente, a sua origem ou referência nesta primeira incursão do artista pelo
mundo das tintas e das formas. Acredito que o jovem pintor, apesar de novo, terá
apreciado esta primeira experiência artística que permitiu que ele passasse dos desenhos
em papel mata-borrão para realizações mais complexas.
Em 1901, Joaquim Lopes conclui a Instrução Primária.36
Neste mesmo período,
sensivelmente, inicia a frequência do Curso Noturno de Pintor Cerâmico na Escola de
Desenho Industrial Passos Manuel (EDIPM). Aí, tem formação em Desenho, Pintura e
Modelação.37
Este ano parece fulcral no percurso de aprendizagem do pintor que
começa, precisamente a partir de 1901, a fazer os primeiros trabalhos para Fábricas
como as do Agueiro, do Carvalhinho e do Cavaco38
, pintando azulejos e decorando
baixelas39
. A ligação à atividade azulejar não sendo central na produção artística do
pintor, acompanhará a sua evolução plástica, sendo que passados trinta anos sobre a
data referida, ou seja em 1931, Joaquim Lopes assume uma importante encomenda de
painéis de azulejo, desta feita para o Rossio de Viseu.
Em julho de 1906, o artista conclui o curso industrial que há cinco anos
frequentava na EDIPM, dirigida por Torquato (por vezes, também escrito Torcato)
Pinheiro. Interessante o significado que esta formação terá tido para Joaquim Lopes. No
seu arquivo pessoal, por entre os recortes de jornal que guardou, encontrei uma notícia
que, não tendo data visível ou assinalada, intitulava-se precisamente – O Pintor
33
FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 10. 34
Serralharia situada em Vila Nova de Gaia. 35
Gomes, J. Costa. Joaquim Lopes – Artista que honra V. N. de Gaia. Boletim da Associação Cultural
dos Amigos de Gaia, Nº 5, outubro de 1978, p. 4. 36
«Instrução Pública. // Instrução Primária – 1º Grau. // Certifico que Joaquim Francisco Lopes filho de
José Francisco Lopes natural de Villar do Paraízo está Bem habilitado no 1º grau de instrução primária
preceituado no artigo 2º do decreto nº 8 de 24 de Dezembro de 1901, e nos termos do respetivo
programma. // Villa Nova de Gaya, 5 de Julho de 1906 // O Professor da escola Augusto Gomes
d’Oliveira» Arquivo FBAUP. Processo de Aluno de Joaquim Francisco Lopes. 37
A descarga do bacalhau em plena Ribeira vista pelo mestre Joaquim Lopes. Diário da Manhã,
10/03/1956. 38
Gomes, J. Costa. Joaquim Lopes – Artista que honra V. N. de Gaia. Boletim da Associação Cultural
dos Amigos de Gaia, Nº 5, outubro de 1978, p. 4. 39
FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 11.
33
Torquato Pinheiro. 1850-1910 (Recordações)40
–. O artigo era dedicado a Joaquim
Lopes que o terá conservado também por aquilo que a EDIPM, na pessoa do seu diretor,
terá significado para si enquanto jovem aspirante a pintor.41
O seu empenho e,
naturalmente, as suas aptidões artísticas contribuíram para que concluísse o curso com
20 valores. As aprendizagens que retirou desta experiência – independentemente da
qualidade do ensino da escola que frequentou, e que nesta investigação não me dediquei
a apurar – foram seguramente valiosas para o artista, porque lhe permitiram um
primeiro contacto formativo com áreas como a do Desenho, a da Pintura e a da
Modelação. Pelas escolhas posteriores do artista, parece-me lícito afirmar que terão sido
o desenho e a pintura as disciplinas que mais o atraíram.
2.2 - Um caminho inevitável.
Se a aptidão de Joaquim Lopes pelas artes se manifestou era ele ainda criança, o
seu crescimento numa família parca em recursos podia tê-lo obrigado a desviar o seu
rumo, a adiar o seu talento, como tantas vezes acontece. No entanto, o oposto parece ter
sucedido, quando são as próprias experiências profissionais do artista a ir ao encontro
não só das suas capacidades, como dos seus gostos. Desta forma, o inesperado e o
esperado cruzaram-se naquele que se assumiu, afinal, como um caminho inevitável. A
noção de caminho – mais do que percurso – possui, neste contexto, um significado e
uma simbologia verdadeiramente expressivos e especiais. Isto, porque o delinear de
ilusões e projetos de juventude se fazia, sobretudo, a percorrer trajetos pouco definidos
e planeados.
«Quantas vezes, em noites de verão, o saudoso Manuel Martins, o
Diogo de Macedo, o António de Azevedo e quem estas linhas escreve, íamos de
longada até Oliveira do Douro, aproveitávamos para românticamente ver o luar
do alto da encosta de Avintes […]
Se não gastávamos todo o tempo com os nossos sentimentais e ingénuos
devaneios […] era certo subirmos até ao alto da colina, onde continuávamos a
viver idênticas quimeras, a levantar projectos mais sentidos que realizáveis, até
40
Bugalho, Mem. O Pintor Torquato Pinheiro. 1850-1910 (Recordações). O Comércio do Porto, Nº 173. 41
A sensibilidade de Joaquim Lopes para com a formação industrial que, afinal, foi aquela que num
primeiro momento recebeu e o aproximou do mundo artístico, é comprovada por algumas das iniciativas
que vai tomando ao longo da sua atividade, nomeadamente, como professor. Assim, em 1930, o pintor
participará numa conferência ao lado de docentes da Escola Industrial Passos Manuel (Vila Nova de
Gaia), onde foi aluno e ao lado, igualmente, de docentes da Escola Industrial Faria de Guimarães (Porto),
onde o artista foi professor entre 1925 e 1930. Cf. «Rafael Bordalo e a Ceramica das Caldas». A
conferência da Srª D. Julieta Ferrão. O Primeiro de Janeiro, 62º Ano, 12/04(?)/1930.
34
que, já de madrugada, regressávamos a casa com a alma em festa e o cérebro a
transbordar de ilusões.»42
O deambular pelas cidades convidava ao esboçar de ideias e ideais. No artigo
onde encontrei o excerto citado, li algumas passagens dedicadas às vivências artísticas
de e em Vila Nova de Gaia – naquele tempo –, como menciona Joaquim Lopes. A
propósito deste tempo – que na minha perspetiva se refere a uma cronologia algo
alargada, onde a própria geração do pintor se inclui –, o artista fala sobre as longas
caminhadas e sobre os sonhos que alimentavam cada passo dado.
«Apesar de tudo, os moços e os homens válidos de então não
desanimavam nem desistiam de fazer todos os sacrifícios pelo ideal que
sonhavam – se sacrifício podia chamar-se às canseiras que voluntária e
alegremente empreendiam. Na realidade, para esses jovens, um único fim
existia na vida: ser artista. O resto não contava. Assim, enquanto iam
auscultando os pais e parentes amigos para o possível consentimento de entrar
na velha Academia Portuense de Belas Artes, na medida em que iam tateando
os primeiros passos na arte do desenho, também tìmidamente deixavam crescer
a cabeleira, já naquele tempo a perder de moda entre poetas e artistas, e
substituiam a gravata vulgar pela negra e larga fita da «Lavallière».
Dentro em pouco (água mole em pedra dura tanto bate até que fura…) a
teimosia até certo ponto desculpável dos pais era vencida e o primeiro aspecto
do sonho do neófito era satisfeito com a entrada na Escola e no ambiente tão
fervorosamente desejado.»43
Estes sonhos assentavam, essencialmente, na ambição da formação escolar, no
fundo, da profissionalização daquilo que, até ao momento, estes jovens executavam ou
como passatempo ou como ofício ainda com caráter amador. Este era o caso de Joaquim
Lopes que, por entre a instrução industrial e a atividade como pintor de cofres, ansiava –
como ansiou até morrer – saber mais, sempre mais. O modo apaixonado como escreve,
em 1952, este artigo com passagens tão vivas e que são, ao mesmo tempo, pessoais e
impessoais, próximas e distantes, corrobora o entusiasmo que a Academia sempre lhe
suscitou.
Em dezanove de outubro de 1906, Joaquim Lopes faz o seu primeiro pedido de
matrícula à EBAP. Munido de sonhos e ambições, o artista encara a Academia como
sempre encarou a Arte, ou seja, com o olhar e o espírito de um eterno estudante. «Ir
mais além» foi algo que definiu a sua aspiração como artista, por isso a sua obra
42
Lopes, Joaquim. Arte. Avintes e os seus artistas. Caminho Novo. Edição Especial, Nº único, Avintes,
01/12/1952, p.3. 43
Ibidem.
35
apresenta-se como um repositório de influências e reflexões. Nunca fechado a novas
propostas e perspetivas – ao contrário daquilo que frequentemente é referido acerca da
sua postura –, o pintor assumiu-se sempre como um aprendiz, ainda que atento,
questionador e crítico. No entanto, esta sua faceta não lhe retirou a capacidade de ouvir,
ponderar, ajuizar.
Assim, com vinte anos de idade, Joaquim Lopes ruma à EBAP na busca de um
ensino que lhe confira outras habilitações e capacidades e, acima de tudo, aperfeiçoe as
aptidões que desde cedo lhe foram reconhecidas. Porém, o pintor não deixa de trabalhar.
Paralelamente à sua atividade como estudante da Academia, o artista irá continuar a
pintar azulejos, caixas artísticas, retratos44
. Não por devoção ou prazer. Estes trabalhos
servirão para pagar os seus estudos, para assegurar a sua subsistência enquanto
estudante. Tal nunca perturbou o pintor. Convicto das suas vontades, firme nos seus
propósitos, o artista fitou os seus objetivos com uma determinação que fez com que não
vacilasse perante qualquer obstáculo. Pelo contrário, tais trabalhos tê-lo-ão ajudado a
aplicar as técnicas que diariamente lhe iam sendo ministradas na EBAP e que iam
encontrando, nesses pequenos exercícios paralelos, o seu melhor exame. Alguém o
descreve, por isso, como um «operário no campo artístico»45
.
44
Gomes, J. Costa. Joaquim Lopes – Artista que honra V. N. de Gaia. Boletim da Associação Cultural
dos Amigos de Gaia, Nº 5, outubro de 1978, p. 4. 45
Ibidem, p. 4.
36
3 - Academia: Formação ou Deformação?
«– Se visse uma fada que lhe pediria?
– Que me ensinasse a pintar!»
Entrevista a Joaquim Lopes. Eva, setembro de 1942.46
3.1 – A matriz essencial: o Desenho Histórico (1906-1910).
O trecho citado na abertura deste ponto do trabalho provém de uma entrevista
dada por Joaquim Lopes, e poderia integrar-se, comodamente, na cronologia que nesta
etapa irei abordar. A entrada do artista para a EBAP revelava o seu desejo de aprender,
neste caso, a pintar, uma vez que a sua prática profissional e as suas aptidões desde cedo
apontaram mais para as linhas e cores do que para a materialidade das formas
esculpidas. Todavia, o excerto transcrito data de 1942. Tinha o pintor cinquenta e seis
anos de idade e criara, neste mesmo ano, a Academia Vieira Portuense – a funcionar no
Palácio de Cristal –, onde regia o Curso de Desenho.47
Em todo o caso, depois de tantas
provas prestadas e de ele próprio já ensinar a pintar, o artista conservou o mesmo
espírito e humildade do jovem que timidamente entra para um mundo novo e
desconhecido, como lhe deve ter parecido a EBAP, em 1906. A declaração do pintor,
analisada nestas linhas, demonstra também como a Academia não foi para ele um fim
em si mesmo, mas antes uma passagem – enquanto aluno – e uma eterna referência –
enquanto artista –.
As memórias académicas de Joaquim Lopes dividir-se-ão entre um infinito
reconhecimento dos seus professores como Mestres48
e um sentimento de camaradagem
nutrido pelos seus colegas49
. Tais memórias ficarão patentes em artigos e livros, onde
46
Seguidamente, apresento a transcrição completa do excerto citado. «E, apesar de tudo, duma tão
grande simplicidade que, à pergunta: // – Se visse uma fada que lhe pediria? // Respondeu num «élan»
sincero, que não mente: // - Que me ensinasse a pintar!» Cf. “Se visse uma fada o que lhe pediria?”. Eva,
Lisboa, 09/1942. 47
FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 25. 48
Os eternos Mestres de Joaquim Lopes foram José de Brito (1855-1946) seu professor de Desenho e,
sobretudo, João Marques da Silva Oliveira (1853-1927) diretor da EBAP e seu professor de Pintura. Cf.
Gomes, J. Costa. Joaquim Lopes – Artista que honra V. N. de Gaia. Boletim da Associação Cultural dos
Amigos de Gaia, Nº 5, outubro de 1978, p. 4. Datas consultadas na secção Alumni do sítio oficial da
Universidade do Porto. https://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=122498. 15-06-2012
23:24. 49
Alguns dos seus companheiros de aventuras académicas e artísticas foram Diogo de Macedo (1889-
1959), Henrique Moreira (1890-1979), Joaquim Martins, Manuel Marques (1890-1956), António de
Azevedo. Cf. Gomes, J. Costa. Joaquim Lopes – Artista que honra V. N. de Gaia. Boletim da Associação
Cultural dos Amigos de Gaia, Nº 5, outubro de 1978, p. 4.
37
recorrentemente presta homenagem a docentes e amigos cujo trabalho merece, no seu
entender, destaque e tributo. A emoção – que sempre o prendeu e ligou aos inúmeros
empreendimentos em que se envolveu – comprova-se através dos bons relacionamentos
que o pintor cultivou no seio da Academia. «[…] Joaquim Lopes distinguiu-se, também,
pela sua educação esmerada, muito apreciada no convívio social, e pelo seu coração
bondoso de inexcedível afectividade.»50
. O pintor nunca terá ambicionado – mais do
que qualquer outra pessoa – ser um homem perfeito ou isento de erros. Preocupava-o
mais ser um companheiro ideal e um artista devotado às causas que plástica e
socialmente o inquietavam. Do apoio material e imaterial que prestou a colegas e
alunos51
nunca esperou retorno; pretendia apenas a recompensa de que, com essas
ajudas, o panorama artístico florescesse um pouco mais.
O pedido de matrícula no primeiro ano de Desenho Histórico é feito por Joaquim
Lopes em 1906 e validado pelo secretário que atestava a sua aceitação – o Mestre José
de Brito –.52
Este registo marca o ponto de partida da viagem do artista como estudante
da EBAP. Tal percurso tem a sua meta no ano de 1915. Neste ponto do trabalho, optarei
por analisar o trajeto do pintor, dividindo-o em dois momentos diferentes que dizem
respeito, segundo a minha perspetiva, a dois períodos distintos da sua formação. O
presente subcapítulo dedica-se ao estudo dos anos compreendidos entre 1906 e 1910,
durante os quais o artista frequenta aulas como as de Desenho Histórico, Perspetiva e
Anatomia Artística, sendo que o subponto seguinte se debruça sobre as suas
experiências letivas posteriores, ou seja, entre 1910 e 1915. Para uma melhor
compreensão das próximas páginas, remeto para a consulta do catálogo sobre o pintor,
particularmente para a leitura do seu segundo capítulo da autoria de Cláudia Garradas.53
José Maria Soares Lopes (1888-1921) e João Marçal. Cf. FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim
Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 12.
Heitor Cramez (1889-1967) Cf. GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor
na Escola de Belas Artes do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 37.
Datas consultadas na secção Alumni do sítio oficial da Universidade do Porto.
https://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=122498. 15-06-2012 23:11. 50
Faleceu ontem Mestre Joaquim Lopes ilustre professor e pintor de arte. O Primeiro de Janeiro,
26/03/1956. 51
«[…] outros, […] dele receberam tintas, empregos, conselhos extremosos ou, alternadamente,
incómodas invectivas sem rodeios […]». Cf. Alves, João. «Morreu o Homem» Professor Joaquim Lopes.
Jornal de Notícias, 11/05/1956. 52
«Ano lectivo de 1906 a 1907 // A 19 de Outubro de 1906 foi matriculado no 1º ano de Desenho o
estudante Joaquim Francisco Lopes filho de José Francisco Lopes natural de Vilar do Paraíso, concelho
de Gaia […] // Morador no Lugar da Ilha. // Secretário: José de Brito». Cf. Arquivo FBAUP. Livros de
matrícula nas aulas da Academia. Desenho Histórico (de 1904 a 1923). Nº 164; 66v, 104v, 134v, 150. 53
GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes do
Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, pp. 37 a 47.
38
Para dar resposta às exigências do proposto para esta etapa da dissertação
tornou-se necessário consultar o Arquivo da FBAUP onde – entre outros documentos
com interesse – é possível encontrar o Processo de Aluno (PA) de Joaquim Francisco
Lopes, o Livro das Atas de Conferências Gerais da Escola de Belas Artes do Porto54
(LACGEBAP) com informações sobre o artista e os Livros de Matrícula nas Aulas da
Academia (LMAA) também com dados úteis acerca das disciplinas frequentadas pelo
pintor na EBAP. Através da análise destas fontes foi possível ficar a saber mais sobre o
rumo académico que o artista seguiu por entre as normas da Academia e as suas
escolhas individuais.
Durante o período cronológico – em estudo neste momento – decorrem quatro
anos letivos.55
O acesso aos pedidos e registos de matrículas do artista permitiu-me
tomar contacto com as aulas que o pintor terá frequentado. Entre os anos letivos de
1906/1907 e 1909/1910, o artista inscreveu-se nos primeiro, terceiro, quarto e quinto
anos do curso de Desenho Histórico.56
A frequência do segundo ano é omissa, mas
estará justificada no LACGEBAP, onde é referido que o pintor terá sido distinguido com
a classificação de dezasseis valores – a qual dirá respeito ao primeiro ano do curso –,
tendo, posteriormente, realizado o exame de segundo ano, no qual obtém a mesma
classificação.57
Uma pesquisa acerca da legislação e organização do ensino académico
na EBAP, no contexto destas cronologias, poderá elucidar com mais clareza estas
questões. Em todo o caso, tomando por base os documentos analisados, julgo ser seguro
afirmar que o artista terá optado por se autopropor ao exame de segundo ano, fazendo
uso de uma possibilidade que legalmente seria válida e adequada para alunos cuja
prática profissional na área do desenho já os pudesse habilitar a avançar no curso com
mais celeridade. Este era, claramente, o caso do pintor.
Durante os anos letivos abordados, Joaquim Lopes assiste, para além das aulas
de Desenho Histórico, às disciplinas de Perspetiva, de Anatomia Artística e, ainda, de
Arquitetura Civil. Em relação às aulas de Perspetiva58
e de Anatomia59
, apenas
54
Arquivo FBAUP. Livro das Atas de Conferências Gerais da Escola de Belas Artes do Porto (de 31 de
agosto de 1897 a 15 de agosto de 1922) Nº 115; fls. 45. 55
O período cronológico, sob apreciação neste subcapítulo, toma em consideração os anos letivos de
1906/1907, 1907/1908, 1908/1909 e 1909/1910. 56
Arquivo FBAUP. Livros de matrícula nas aulas da Academia. Desenho Histórico (de 1904 a 1923). Nº
164; 66v, 104v, 134v, 150. 57
Arquivo FBAUP. Livro das Atas de Conferências Gerais da Escola de Belas Artes do Porto (de 31 de
agosto de 1897 a 15 de agosto de 1922) Nº 115; fls. 45. 58
Arquivo FBAUP. Livros de matrícula nas aulas da Academia. Perspetiva (de 1904 a 1917). Nº 169;
11v.
39
encontrei registo da sua frequência no ano letivo de 1907/1908, onde o pintor se
matricula no terceiro ano das mesmas. Estas seriam, por isso, aulas complementares ao
curso principal de Desenho Histórico. No que diz respeito à sua inscrição no primeiro
ano de Arquitetura Civil, esta foi uma ambição do artista, desde a sua entrada na EBAP,
mas que só concretiza no ano letivo de 1909/1910.60
Isto porque, aquando da sua
entrada na Academia, o artista decide inscrever-se em aulas noturnas de Francês e de
Português, numa escola industrial localizada em Vila Nova de Gaia.61
A
incompatibilidade de frequentar as aulas de arquitetura e as de línguas obrigou o pintor
a tomar uma decisão, fazendo uma das várias escolhas que foram pautando o seu
caminho dentro e fora da EBAP. Joaquim Lopes arquiteta o seu percurso a régua e
esquadro, delineando o trilho a seguir, determinando com clareza as metas imediatas e
sabendo adiar empreendimentos secundários. O discernimento do pintor evidencia,
acima de tudo, a certeza e a convicção que sempre o acompanharam. A sua
individualidade fica também manifestada na afirmação das suas opções pessoais,
alheias, muitas vezes, ao rumo de colegas ou às indicações de professores.
O estabelecimento do estudo de Francês e de Português como uma prioridade
revela também algumas das ambições do artista. O pintor terá reconhecido nas línguas
os pilares essenciais para uma formação ampla e para uma futura atividade artística
sólida. As razões que estiveram na base deste seu estudo – paralelo, ou talvez não, ao
mundo das Belas Artes – não são conhecidas, na medida em que, em nenhuma das
fontes consultadas, encontrei alguma consideração proferida pelo artista acerca desta
sua experiência. Em todo o caso, a perspetiva de um futuro artístico consciente e ativo
seria suficiente para o pintor reconhecer a necessidade de conhecer um idioma
estrangeiro que lhe desse acesso a bibliografia internacional e a viagens além-fronteiras,
assim como a necessidade de dominar a sua língua materna de modo a poder registar
por escrito aquilo que não conseguisse exprimir plasticamente. Do meu ponto de vista, o
artista terá desejado, desde cedo, alargar o seu campo de atividade para lá das telas, não
tendo escrito sobre arte ou ensinado durante largos anos por mera casualidade. Os livros
59
Arquivo FBAUP. Livros de matrícula nas aulas da Academia. Anatomia – Voluntários (de 1837 a
1917). Nº 166; 72. 60
Arquivo FBAUP. Processo de Aluno de Joaquim Francisco Lopes. Pedido de matrícula. «Illu. ᵒ e x. ᵒ
Snr. Director Marques de Oliveira // Joaquim Francisco Lopes, natural da freguezia de Villar do Paraízo,
de 23 annos de edade, morador no Lugar da Ilha que tendo sido aprovado no 4º anno de desenho
histórico, deseja matricular-se no 5º do mesmo curso e no 1º de arquitetura civil, por isso // Pede a Vª. Exª
se digne diferir-lhe // E. R. M. cê // Porto 1 de Outubro de 1909 //Joaquim Francisco Lopes». 61
FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 11.
40
e a docência terão sido componentes de grande valor para o pintor, pelo empenho e pelo
gosto que demonstrou na sua execução. Escrever e Ensinar não terão sido atividades
paralelas à pintura, mas, antes, atividades integradas no todo que era, para ele, o mundo
da Arte. Da mesma forma, as aulas de Francês e de Português não foram acessórias à
formação artística do estudante, mas sim complementares ao todo que, para ele, era o
mundo da Cultura.
A passagem do artista pela aula de Arquitetura Civil foi breve – durando apenas
um ano letivo –, mas não deixou de ter implicações relevantes para o pintor e para a sua
obra. A frequência desta disciplina terá possibilitado, desde logo, um primeiro contacto
entre o artista e o professor de Arquitetura, José Marques da Silva (1869-1947) –
alguém com quem Joaquim Lopes multiplicará contactos e encontros ao longo da sua
vida artística –. Além disso, a apreensão de noções básicas e gerais de arquitetura terá
estado por detrás de algumas obras e projetos, onde o artista pensa e planifica o trabalho
numa perspetiva arquitetónica. A estrutura que sustenta muitas das suas pinturas revela
este seu interesse recorrente e intrínseco pela arquitetura das formas. Tal será
desenvolvido mais adiante, quando abordar as suas propostas plásticas e analisar
algumas das suas obras.
Paralelamente à atividade letiva, alguns alunos da Academia procuravam
traduzir as suas aptidões artísticas em ferramentas de ação social. Joaquim Lopes era
aluno da EBAP e, por natureza própria, atento ao meio que o envolvia. Assim, em 1909,
o artista alia-se a uma iniciativa que unia a causa artística às fragilidades dos mais
carenciados. Uma agregação de contributos que encontrou forma numa publicação com
fins solidários. Uma brochura – única – à qual foi dado o título de Miséria e cujo
produto total das suas vendas reverteu a favor dos «pobres do Douro».62
A pequena
revista reuniu diversos colaboradores63
, aos quais se junta o artista com um desenho
datado – com exatidão – de 16 de fevereiro de 1909. O pintor retratou uma criança que
tristemente fita o chão. O tema reflete, naturalmente, as preocupações inerentes a este
62
MISÉRIA. [Catálogo] Número-único publicado sob a direcção de Ariosto Silva e por iniciativa de
alunos da Academia Portuense de Belas-Artes e cujo produto total será entregue na redacção do Primeiro
de Janeiro para ser distribuído pelos pobres do Douro. Porto: [s. n.], 1909. 63
Por esta ter sido uma publicação única e, eventualmente, não estar acessível e disponível em muitos
locais de consulta, julguei pertinente e oportuno, enunciar os vários colaboradores que participaram nesta
iniciativa solidária. Os intervenientes nesta brochura foram Dr. Manuel Laranjeira, Dr. Alfredo Pimenta,
Oldemiro Cezar, Leonardo Coimbra, Pedro Victorino, Simões de Castro, João Gonçalves, Emmanuel
Ribeiro, Vaz Passos – com colaboração literária – e D. Maria Ribeiro, José Maria Soares Lopes, Antonio
d’Azevedo, Rodrigues Junior, Joaquim Lopes, Henrique Moreira, Diogo de Macedo, J. Araujo Correia,
Mattos Lopes, Manoel Martins – com desenhos inéditos. Cf. MISÉRIA. [Catálogo].
41
projeto – os pobres, as crianças, os mais desprotegidos –. O semblante mudo e fechado
da menina tem algo em comum com o das figuras representadas no óleo «As
Abandonadas», da autoria do pintor, e que foi reproduzido na década de cinquenta na
Prometeu. Revista Ilustrada de Cultura.64
A iniciativa de 1909 terá representado a primeira participação do pintor no meio
sócio-artístico portuense. Para além dos seus exercícios académicos e dos seus
compromissos profissionais, esta atividade terá permitido ao artista ir conquistando
autonomia e contactos, ir conhecendo e ir sendo reconhecido. A assinatura do pintor –
que se desenha na zona inferior do trabalho reproduzido na brochura Miséria – revela,
ainda, a caligrafia cuidada e ondulante que, durante alguns anos, definiram a rubrica do
artista. Ela já se sintetiza – J. Lopes – abandonando o Joaquim F. Lopes que ainda
encontramos, por exemplo, num dos primeiros desenhos que efetuou na EBAP.65
Em
todo o caso, esta não é a marca identificativa do artista que mais tarde conheceremos.
Preservando a síntese – J. Lopes –, a assinatura do pintor caminha, gradualmente, rumo
a uma maior simplificação e geometrização… Talvez como a sua própria pintura… Mas
tais problemáticas merecerão destaque em outros espaços desta dissertação.
Recuando aos convívios e às amizades que as reuniões artísticas poderiam
proporcionar e proporcionaram, com efeito, ao pintor, vale a pena dar conta de um caso
concreto que ilustra e corrobora esta perspetiva. Entre os diversos intervenientes na
publicação Miséria, encontrei os nomes de Emanuel Ribeiro, Pedro Vitorino e Joaquim
Lopes. Os dois primeiros participaram com colaborações literárias, enquanto Joaquim
Lopes, como é sabido, apresentou um desenho. Num outro setor de investigação deste
meu projeto – relacionado com livros ilustrados pelo pintor – tive acesso a um trabalho
da autoria de Emanuel Ribeiro que cruza estas três personalidades. Na obra Água
Fresca66
, encontrei reunidos os três nomes supra mencionados. O estudo é da
responsabilidade de Emanuel Ribeiro que, juntamente com Joaquim Lopes, realiza
desenhos para retratar algumas das passagens do livro. O Dr. Pedro Vitorino foi um dos
delegados para tirar as fotografias.67
64
Prometeu. Revista Ilustrada de Cultura, Números 2, 3 e 4, março de 1951-1952. 65
Cf. GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes
do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 37, Fig. 33. 66
RIBEIRO, Emanuel – Água Fresca: apontamentos sobre a olaria nacional. Porto: Tipografia Sequeira. 67
A coincidência de nomes – entre os membros da iniciativa de 1909 e a publicação Água Fresca – deu à
autora deste trabalho segurança suficiente para avançar com este cruzamento de dados. Os nomes de
Emanuel Ribeiro e do Dr. Pedro Vitorino (Joaquim Pedro Vitorino Ribeiro, 1882-1944) diriam respeito a
42
Regressando aos conteúdos e programas da Academia, o curso de Desenho
Histórico assentava, sobretudo, na lógica da análise do modelo vivo e da produção da
cópia. Algumas das aulas que o compunham, sustentam esta mesma perspetiva. A
frequência de disciplinas como as de desenho linear de figuras copiadas por estampas,
de cópia de modelos em gesso e do estudo do modelo vivo68
constituíam uma matriz
que determinava a prática dos alunos na Academia e o seu método de trabalho,
enquanto futuros artistas. O facto do curso de desenho ser obrigatório para os estudantes
da EBAP poderem progredir e seguir o seu rumo dentro da escola, revelava a
valorização que a Academia atribuía ao estudo e à prática do desenho.
A cópia e o uso do modelo vivo serão as duas heranças que Joaquim Lopes
guardará, mais declaradamente, desta sua formação inicial na EBAP. Em todo o caso,
tal não significa que o exercício da cópia e o uso do modelo fossem aplicados de um
modo académico. O pintor parte da observação de paisagens ou do olhar sobre modelos
vivos para a concretização de muitos dos seus trabalhos. Porém, a atenção que o artista
presta às imagens que analisa é uma atenção crítica e seletiva. Não lhe interessa a cópia
exata, nem o retrato fiel do modelo. O pintor procura, antes, uma inspiração, um registo
de cor, uma forma muscular. Este é um caminho que progressivamente vai percorrendo,
à medida que consegue adequar os ensinamentos colhidos na EBAP às novas propostas
plásticas que ia conhecendo e ambicionando desenvolver por si próprio.
No contexto da Academia, o desenho era, de facto, uma matriz essencial. Uma
base para o percurso de qualquer aluno, independentemente do rumo que pretendesse
seguir daí em diante. Como estudante, Joaquim Lopes apreendeu essa referência; como
artista soube doseá-la na medida em que ela lhe era útil, sem lhe castrar a expressão. Tal
fica já explícito em alguns dos trabalhos que realiza na EBAP.69
Nestes desenhos, o
traço do artista é, muitas vezes, de uma expressividade que se afirma livre de alguns dos
cânones associados ao desenho académico.
dois dos filhos de Joaquim Vitorino Ribeiro, pintor e colecionador. Na publicação Miséria, Pedro
Vitorino não é, ainda, referido como «Doutor», uma vez que só se viria a formar em Medicina no ano de
1919. Disponível em http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=1005913. 15-06-2012
23:12. 68
Cf. GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes
do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 38. 69
Ver alguns dos primeiros desenhos de Joaquim Lopes na EBAP em GARRADAS, Cláudia – Joaquim
Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes,
pp. 37 a 43.
43
O estudo da anatomia humana e das linhas que definem as zonas musculares e
nervosas é, por exemplo, um dos campos de investigação mais importantes na formação
do pintor, tendo em conta a sua obra e aquilo que mais tarde fará em algumas
composições – daí o interesse em passar pela aula do terceiro ano de Anatomia Artística
–. Um conhecimento mais profundo do corpo humano permitir-lhe-á desenvolver
estudos individuais de personagens em esforço físico, onde a representação da tensão
corporal se torna evidente. Este será, na minha perspetiva, um dos pontos fortes da
pintura de figura humana em Joaquim Lopes pelo que, neste sentido, a matriz
académica se revela de grande interesse e validade.
«Onde o Mestre nos mostra a sua faceta individualista é na maneira de indicar o
desenho, nas águas tintas e nas aguarelas plenas de força e espontaneidade.»70
. Esta
opinião de Alberto de Sousa prova como o artista ficou conhecido como pintor, mas
como foi reconhecido pelas suas capacidades de desenhista, evidentes nos seus óleos,
pastéis e aguarelas. O seu percurso – bastante individual e autónomo – ainda nos
corredores da EBAP determinou a identidade da sua obra. Experiências pontuais, como
a frequência do primeiro ano de Arquitetura Civil, poderão justificar algumas das
particularidades e singularidades da sua pintura. Uma atividade atenta à luz e à mancha
de cor, mas que nunca se libertou da linha e do traço, que nunca abandonou, afinal, a
matriz essencial do Desenho Histórico. No entanto, esta última não foi uma matriz
inflexível e determinadora do rumo do artista. Foi, antes, ele próprio a determinar a
influência que ela teria sobre o seu espírito. Com sagacidade, Joaquim Lopes soube
retirar o que lhe era mais proveitoso de cada ensinamento. Foi assim como aluno, como
pintor, como professor. Experimentar para conhecer. Dar a conhecer para experimentar.
3.2 – A libertação contida: a Pintura Histórica (1910-1915).
Entre os anos letivos de 1910/1911 e 1914/1915, Joaquim Lopes frequenta os
cinco anos da aula de Pintura Histórica.71
O artista transita do lápis a carvão para os
pincéis sob a orientação do professor Marques d’Oliveira72
– alguém que estima e
70
Sousa, Alberto de. A exposição póstuma de Mestre Joaquim Lopes. O Homem, o Pintor, o Mestre.
Novidades, 15/07/1956. 71
Arquivo FBAUP. Livros de matrícula nas aulas da Academia. Pintura (de 1837 a 1923); Nº 165; 141,
144, 147v, 151v, 156. 72
O nome completo do professor de pintura da EBAP era João Marques da Silva Oliveira. Nesta
dissertação, optei por referi-lo pelos dois nomes que mais o celebrizaram – Marques e Oliveira –.
44
admira, preservando-o como uma referência desde os tempos da Academia –. Este
período de formação na EBAP – que no contexto do presente capítulo defini como
sendo um segundo momento da passagem do pintor pela Academia – aproxima o artista
da atividade que mais frequentemente praticará – a pintura –.
Nesta fase, merece ser feita referência a dois trabalhos escritos da autoria de
Joaquim Lopes relacionados com a vida e obra do próprio Marques d’Oliveira. Para
além de eles constituírem uma homenagem àquele que, para o artista, foi um verdadeiro
Mestre, em ambas as publicações encontrei passagens de grande interesse, que revelam
Marques d’Oliveira nas suas facetas de pintor e docente. Por esta razão, remeto para a
consulta destas duas obras, das quais procurei retirar alguns excertos que ilustrem aquilo
que o leitor pode encontrar numa análise mais detalhada destes dois exemplares
escritos.73
«Não é sem o mais justificado orgulho que aproveito o ensejo para
recordar o numeroso grupo de alunos da minha geração que, estudando o
desenho do modelo vivo na mesma sala (aula de pintura) e ouvindo com
respeito e entusiasmo as lições que Marques de Oliveira prestava aos seus
alunos, bem honrados se sentiam quando Ele, de passagem, lhes fazia alguma
correcção, lhes dava um conselho. […]
[…]
O contacto com os alunos mais adiantados na pintura e as lições ditas
em voz alta aos seus discípulos permitiam-nos partilhar dos ensinamentos, e,
porventura, acrescentar-lhe o prestígio. […]»74
A citação anterior regista as memórias que Joaquim Lopes reteve das aulas de
Pintura, regidas por Marques d’Oliveira. As recordações do artista falam também sobre
os esboços – rápidos e intuitivos – que o Mestre incentivava os seus alunos a
realizarem.
«Marques de Oliveira, seguindo o exemplo augusto dos mestres do
passado, desenhando, pintando, e ensinando, honestamente, procurava deles
aproximar-se. E se em tudo que tocou não raro atingiu, pelo talento e persistente
investigação, culminâncias difíceis de alcançar, foi, porventura, nos esboços que
maior poder de vibratilidade conquistou.
Era tal o interesse dado a esta espécie de estudos que na sua aula da
Escola de Belas Artes do Porto, dirigindo-se aos alunos, não deixava de lhes
perguntar pelo seu album de apontamentos, que sempre desejava ver e folhear.
E se por infelicidade os encontrava desprevenidos, o que lamentàvelmente
Habitualmente, o pintor é nomeado Marques de Oliveira. No entanto – tendo em conta o seu nome
completo – o correto será mencioná-lo como Marques da Oliveira ou, simplificando a forma, Marques
d’Oliveira. 73
Cf. LOPES, Joaquim - Marques de Oliveira. Porto: Portucalense Editora, 1954. e Cf. LOPES, Joaquim
(org. e prefácio) OLIVEIRA, Marques – Diário de Viagem. Porto: Livraria Figueirinhas, 1955. 74
LOPES, Joaquim (org. e prefácio) OLIVEIRA, Marques – Diário de Viagem, pp. 16 e 17.
45
algumas vezes acontecia, então era ele o primeiro a tirar do bolso o seu
inseparável caderno de negras e lustrosas capas para mostrar um ou outro dos
leves esboços nele contidos, alguns deles feitos em plena rua, sem recear
movimentos mais ou menos apressados das figuras. E aconselhava, com
entusiasmo para que lhe seguissem o belíssimo exemplo.»75
A prática do desenho – em apontamentos breves e expressivos – era, assim, algo
estimulado pela Academia e que justifica o facto de Joaquim Lopes, ao longo do seu
percurso artístico, ter sempre explorado e recorrido ao estudo do movimento, como base
para composições mais complexas. Paralelamente às influências técnicas e plásticas que
o pintor recebeu de Marques d’Oliveira, as linhas seguintes relatam os debates teóricos
em torno de escolas e princípios estéticos que o professor da EBAP não deixava de
promover junto dos seus alunos.
«Dotado de excepcional talento, Marques de Oliveira, para ser, como na
realidade foi, um singular professor, não lhe faltou aquele natural espírito crítico
que tanto o notabilizou e que o levava a ver num relance o conjunto duma obra
marcando-lhe os pontos vulneráveis. Raramente essa crítica deixava de ser ao
mesmo tempo repassada de superiores conhecimentos, espirituosa sem
vislumbres de deselegante mordacidade, sempre eloquente, serena e construtiva.
[…]
Era compreensível que à sensibilidade do grande professor, formado em
escolas e princípios estéticos quase impossíveis de serem admitidos em alguns
aspectos considerados insuficientes na perfeita correcção da forma, não
agradassem algumas das peças hoje consideradas obras-primas. Porém, o que
Marques de Oliveira bem conhecia e conscienciosamente estudava, discutia-o
de maneira serena mas convicta. […]»76
As palavras escritas por Joaquim Lopes, acerca daquele que foi o seu professor
de Pintura, multiplicam-se, daí que os textos transcritos representem, apenas, um breve
apontamento que procura dar a conhecer registos onde o pintor refletiu, mais
demoradamente, sobre a personalidade de Marques d’Oliveira, enquanto docente da
BAP, uma vez que é a ligação Mestre (Marques d’Oliveira) e Aluno (Joaquim Lopes)
que neste subcapítulo é desenvolvida.
Perceber a força que a Academia teve no rumo artístico e nas opções plásticas de
Joaquim Lopes é um desafio, pois apesar de existirem fontes escritas pelo próprio artista
onde ele reflete sobre esta problemática – como de resto são exemplo os dois trabalhos
sobre Marques d’Oliveira, citados anteriormente –, estes são sempre registos que devem
ser analisados com alguma cautela.
75
LOPES, Joaquim (org. e prefácio) OLIVEIRA, Marques – Diário de Viagem, pp. 13 e 14. 76
LOPES, Joaquim - Marques de Oliveira, pp. 34 e 35.
46
Considero que o pintor escreveu inserido numa corrente diferente daquela que
plasticamente defendeu. Esta ideia pode parecer controversa, mas, na verdade, tem a sua
raiz numa análise simples da obra plástica e escrita do artista. Habitualmente, o pintor
construiu os seus artigos e monografias numa perspetiva biográfica, onde a finalidade
transversal a todo o trabalho era a de distinguir um artista, segundo o autor, digno de
admiração e reconhecimento. Neste sentido, o discurso de exaltação que por vezes
assume, relaciona-o com um método ultrapassado de historiar arte, na medida em que
não analisa criticamente as propostas do artista. Em todo o caso, creio que as biografias
do pintor tinham como objetivo principal apresentar de forma solta e descomprometida
um artista menos conhecido ou que merecesse ser recordado. Tal facto não significava
que o biografado fosse uma personalidade genial, mas era a sua faceta mais válida que
Joaquim Lopes pretendia dar a conhecer. O pintor assume, em outro tipo de publicações
e artigos, um olhar mais severo e atento à realidade artística, onde, aí sim, pretende
dissecar as problemáticas plásticas que o inquietavam. Este último ponto será
desenvolvido noutro capítulo desta dissertação.
«Marques de Oliveira, ainda que integrado na arte do seu tempo – como
anteriormente referi – de algum modo vivendo as revolucionárias inquietações
de seus mais velhos camaradas: os Impressionistas, não desprezava úteis e
antigas expressões, […]»77
Através deste excerto, podemos perceber o modo como Joaquim Lopes via o
docente da EBAP – alguém que, por entre as obrigações académicas e as suas
experiências individuais, conduziu o seu caminho entre o passado e o futuro, a norma e
a exceção –. Inevitavelmente, encontro alguma proximidade com o próprio percurso de
Joaquim Lopes que, do mesmo modo, foi capaz de jogar a sua obra entre estruturas mais
clássicas e apontamentos vanguardistas. Este rumo ambivalente, constituído por
múltiplas direções que o pintor segue paralelamente, poderão ter a sua origem na
Academia e no exemplo do Mestre Marques d’Oliveira.
A biografia do Mestre é marcada por uma referência constante a uma obra do
biografado. «Céfalo e Procris»78
é um dos trabalhos que o autor admira79
e que é, até
hoje, tida como uma pintura de grande interesse pelo confronto entre um tema clássico e
um fundo paisagístico simplificado. Sem pretender analisar as propostas de Marques
77
LOPES, Joaquim - Marques de Oliveira, p. 21. 78
http://mnsr.imc-ip.pt/Data/ContentImages/IMG_GRA5a.jpg. 15-06-2012 23:13. 79
LOPES, Joaquim - Marques de Oliveira, pp. 57 e 58.
47
d’Oliveira e esta sua obra em particular – temas que não constituem a problemática
deste projeto de investigação –, a afinidade que Joaquim Lopes parece partilhar com a
pintura, revela-se com algum interesse se tivermos em conta um trabalho que ele viria a
realizar em 1930. «Ajax e Cassandra» – segunda prova do concurso para a cadeira de
Pintura da EBAP80
– é uma obra que tem em comum com «Céfalo e Procris» a
representação de um tema mitológico, mas também o contraste entre desenhos
académicos e fundos simplificados, entre anatomias estudadas e manchas de cor
esboçadas. Nesta solução ficará claro de que modo a Academia e particularmente as
aulas de Pintura de Marques d’Oliveira terão formado Joaquim Lopes no sentido da
exploração das contraposições do passado com o presente, do clássico com o moderno,
do Mestre com o Aluno.
As semelhanças entre os dois artistas parecem suceder-se quando, por exemplo,
Joaquim Lopes escreve:
«Marques de Oliveira, como acontece com alguns dos nossos artistas,
teve, por vezes de se desdobrar em modalidades de realização que nem sempre
se ajustavam ao seu temperamento. Assim no vasto conjunto dos seus trabalhos,
não é difícil encontrar, ao lado dum excelente estudo de paisagem, um esboço
magistral, modalidade em que raramente por outros colegas chegou a ser
atingido, um retrato, uma gravura ou telas de ampla composição decorativa.
Desta maneira, o seu culto e honesto espírito, vivendo em permanente
inquietação, levava-o a profundar não só a técnica da aguarela – em que, como
Pousão, chegou a definir primacial lugar – mas ainda a da gouache, da litografia
e da gravura a água-forte, de que chegou a obter esplêndidos ensaios.
Desenhador poderosíssimo, sem deixar de pertencer-se e às leis estéticas do seu
tempo se ajustar, sempre o artista conseguiu num simples estudo reunir a mais
fina cor, onde o rosa e oiro intimamente se fundiam.»81
Tal como Marques d’Oliveira, também Joaquim Lopes procurou trabalhar e
experimentar diversas técnicas, inserindo-se nas correntes estéticas vigentes, sem estas o
dominarem, isto é, sem deixar de pertencer-se82
. O espírito crítico era incentivado pelo
próprio Marques d’Oliveira que o achava essencial na formação de um bom pintor.
«Marques de Oliveira teve a grande virtude de aos seus discípulos, e a
quantos das suas lições se aproximaram, ensinar a ver e comparar com
clarividente nitidez, ao mesmo tempo que neles despertava e desenvolvia o
espírito crítico, qualidades por Ele justamente consideradas primaciais no
verdadeiro artista. Segundo a sua criteriosa maneira de ver, no desenho residia a
80
Cf. GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes
do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, pp. 39 e 40. 81
LOPES, Joaquim – Marques de Oliveira, p. 34. 82
Ibidem.
48
fundamental força da obra de arte. Assim se exercia aquela superior organização
de pintor durante as exigentes lições que aos seus numerosos alunos da velha
Academia de S. Lázaro ministrava, sem, todavia, colocar em inferior posição o
estudo da cor e opulência da matéria. […]»83
Neste excerto fica, mais uma vez, claro como o desenho era, no contexto da
Academia, a matriz essencial. Por isso, mais adiante, Joaquim Lopes acrescenta:
«[Marques d’Oliveira] xigia que o aluno construísse sòlidamente, e só
depois, sem mesquinhos alindamentos, sobre forte esboço utilizasse as cores,
que na mesma incisiva composição, haviam de desenvolver-se. Para isso, nunca
deixou de aconselhar que, mesmo pintando, o fizéssemos desenhando com os
pinceis, marcando planos e volumes, […]»84
O método de trabalho – descrito na passagem anterior e transmitido por Marques
d’Oliveira aos seus alunos – explica o porquê da pintura de Joaquim Lopes ter sido
sempre uma pintura atenta ao plano e ao volume, à linha e ao desenho como sua base. A
narração de outros episódios ocorridos na aula do Mestre – onde, inclusive, o professor
faz algumas considerações sobre os trabalhos do aluno Joaquim Lopes – é desenvolvida
pelo autor em outras páginas da biografia de Marques d’Oliveira.85
Joaquim Lopes
conta ao leitor as histórias e lições que guardou na sua memória, demonstrando o papel
relevante que o Mestre teve para si como referência no campo da pintura, mas também
como docente. Joaquim Lopes vê em Marques d’Oliveira um exemplo, quanto à forma
de ensinar, de transmitir conhecimentos, de veicular saberes com emoção e entrega.
«Algumas vezes, o Mestre aconselhava os discípulos: – «mesmo que as
telas ou tábuas destinadas aos seus estudos sejam de reduzidas dimensões não
deixem de, para isso, utilizar pincéis de número mais ou menos elevado: –
«façam esboços pequenos com broxas grandes – concluía com firmeza».»86
O conselho do Mestre bem poderá ter contribuído para o recurso – relativamente
frequente – de Joaquim Lopes às pochades. Estudos de pequena dimensão, onde o
pintor explorava expressivamente as potencialidades da cor, dos empastamentos de tinta
e dos registos imediatos.87
As referências a Marques d’Oliveira, ora como pintor, ora
como Mestre, são concluídas com um parágrafo onde Joaquim Lopes sintetiza a sua
83
LOPES, Joaquim – Marques de Oliveira, p. 50. 84
Ibidem, p. 51. 85
Ibidem, pp. 51 a 54. 86
Ibidem, p. 62. 87
Ver referência a pochades como «Depois da Leitura», «Estudo» e «Ao Espelho» em Gusmão, Adriano
de. Na S.N.B.A. O Salão de inverno. Seara Nova, 15/01/1944.
49
admiração para com o professor, cuja atividade multidisciplinar ter-lhe-á servido de
inspiração.
«O incomparável autor de tantas obras de rara beleza foi um mestre na
verdadeira acepção que esta dignificante palavra encerra, porque a par do extraordinário
realizador jámais deixou de subsistir o pedagogo e o crítico, […]»88
. O reconhecimento
do Mestre, por parte de Joaquim Lopes, funde-se com um sentimento de gratidão que
me leva a considerar que mais do que a aula de Pintura Histórica em si, aquilo que
interferiu verdadeiramente na formação do artista foi o seu contacto pessoal com
Marques d’Oliveira. Por isso, se justifica o desenvolvimento dado a esta relação.
Efetivamente, não terá sido o curso de Pintura que permitiu ao artista experimentar uma
liberdade contida, mas antes o facto de esta ser conduzida por alguém que – como
deixei patente – soube criar em cada norma a exceção necessária para cada aluno seguir
o seu rumo. Podemos, até, considerar o desenho como essa régua disciplinadora, sendo
a cor o pulsar mais forte das emoções, o vibrar mais alto dos sentimentos individuais.
Após as transcrições das palavras do próprio Joaquim Lopes, julgo que ficou
esclarecida a influência que este seu segundo período na EBAP terá tido para si
enquanto futuro pintor. O desenho manteve-se como matriz essencial, como estrutura
indispensável. A cor, as tintas, os pincéis já esboçaram alguma liberdade criativa,
permitindo pequenos voos, ainda que contidos, ainda que dirigidos. Em todo o caso, os
últimos cinco anos do artista na Academia terão sido cruciais na definição dos seus
projetos que – com o conhecimento de Marques d’Oliveira – ter-se-ão estendido
definitivamente para além do cavalete, contemplando o ensino, a escrita, a promoção da
arte em diferentes formas e direções.
Em 1915, Joaquim Lopes concluiu, então, o Curso de Pintura Histórica com
dezassete valores e distinção.89
Pouco significará esta classificação final em comparação
com todos os ensinamentos teóricos e práticos que o pintor pôde colher do contacto com
Marques d’Oliveira. Através das palavras do artista, consegui perceber como o Mestre
foi para ele uma referência na vida artística, encaminhando-o em palavras e silêncios,
em gestos e olhares. Para o pintor, «Marques de Oliveira não era um académico, como
alguns pretendiam ou ainda pretendem.»90
. Para Joaquim Lopes, ele trazia em si um quê
88
LOPES, Joaquim – Marques de Oliveira, p. 68. 89
Cf. GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes
do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 38. 90
LOPES, Joaquim – Marques de Oliveira, p. 54.
50
de inconformismo. Sem ser rebelde, havia nele algo que quebrava a regra, que ia de
encontro às convenções. Algo que permitia aos seus discípulos serem alunos, e livres.
Joaquim Lopes usufruiu dessa liberdade. Preservou-a. E conferiu-a, anos mais tarde, aos
seus próprios alunos91
. Uma liberdade contida, é certo, por cânones e regulamentos,
diretivas superiores e, talvez, preconceitos. Mas uma liberdade suficiente para o artista
seguir outros, sem deixar de pertencer-se92
.
3.3 – Aparições públicas: as Primeiras Exposições.
Em 1913, um artigo do periódico A Montanha falava sobre a Exposição de Arte
do Centro Republicano Democrático. Os expositores eram, para o autor do artigo, «Os
Novos».93
Estes eram os alunos da EBAP. Companheiros de aventuras académicas e
plásticas, os estudantes expunham, em conjunto, naquela que foi, possivelmente, uma
das primeiras apresentações públicas de Joaquim Lopes e da sua obra. No entanto, antes
de me deter nesta experiência inicial do pintor, gostaria de dedicar algumas linhas a
mostras mais privadas – no seio da Academia –, onde o artista não deixou de figurar.
Entre 1907 e 1909, terá participado em exposições promovidas pela EBAP, cujo
objetivo era o da apresentação dos trabalhos escolares realizados pelos alunos. No ano
letivo de 1908/1909, o pintor exibe um desenho na 18ª Exposição dos Trabalhos
Escolares dos Alunos da EBAP. O exercício a carvão e a giz branco sobre papel
representa uma estátua de reminiscência clássica94
, constituindo um exemplo claro do
desenho académico como matriz essencial da formação na EBAP. A recetividade
positiva a este seu trabalho merecerá atenção no subcapítulo seguinte por se enquadrar
na problemática que ele pretende abordar.
Joaquim Lopes começa a expor, ainda como aluno da Academia, no ano de
1913. A primeira mostra coletiva em que o pintor participa – ao que a presente
investigação conseguiu apurar – data do dia dezasseis de maio, do referido ano. A
91
«[…] muitas vezes lhes facultou [aos alunos] os meios de se revelarem sem lhes impor escola, ja que,
divisionismo, naturalismo, cubismo, expressionismo ou futurismo, tudo o que tivesse o cunho da arte, por
igual o entusiasmava e interessava.» Cf. Regueiro, A. Braz. Mestre Joaquim Lopes. Notícias de Coura,
Ano I, Nº 6, 15/06/1956. 92
LOPES, Joaquim – Marques de Oliveira, p. 34. 93
Os Novos. Exposição de Arte no Centro Republicano Democrático. A Montanha. 17/05/1913. 94
Para análise da obra e consulta de mais informações sobre a mesma – Cf. GARRADAS, Cláudia –
Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes do Porto. In MESTRE Joaquim
Lopes, pp. 36 e 37.
51
organização da apresentação pública esteve a cargo dos próprios estudantes da EBAP e
teve lugar no Salão do Centro Republicano do Porto. O artista não só exibiu trabalhos
seus, como foi membro da Comissão de Alunos da Academia de Belas-Artes,
promotora da Exposição de Pintura, Escultura e Arquitetura.95
O eco desta mostra,
assim como da obra de Joaquim Lopes, não deixou de se fazer sentir nos periódicos da
época. Alguns dos trabalhos que apresentou mereceram referência por parte da
imprensa96
, e deixaram certas impressões acerca das características das propostas
plásticas do artista. A apreciação da sua obra por cronistas e jornalistas fê-lo ser
adjetivado de colorista. O jogo entre as tintas e as superfícies parece ter sido aquilo que
mais ressaltou dos trabalhos expostos, para quem visitou o espaço. Ao contrário do que
acontecerá mais tarde – quando as suas qualidades de bom desenhador são
recorrentemente exaltadas – aquilo que mais claramente surpreendeu e captou a atenção
dos observadores foi a cor e, sobretudo, o uso e o domínio que o artista aparentava ter, e
tinha realmente, sobre elas.
Sete meses volvidos, Joaquim Lopes voltará a expor – novamente numa mostra
coletiva –, ainda que desta vez só um artista o acompanhasse: Diogo de Macedo. A
amizade e cumplicidade artística que uniam os dois camaradas, encontraram, na Galeria
da Santa Casa da Misericórdia (Porto), o espaço para apresentarem os seus trabalhos. O
catálogo da «1ª Exposição de Diogo de Macedo e Joaquim Lopes» compõe a sua capa,
entre outros elementos, com uma citação de Eugène Carrière : «La transmission de la
pensée par l’art, comme la transmission de la vie, est œuvre de passion et d’amour.»
Desta forma, os dois artistas apresentavam-se ao público. Apaixonados pela Arte.
Entregues à missão de serem seus servidores. Um romantismo que nada tem de
romântico incontrolado97
, senão de juventude, de graça ingénua e, acima de tudo, de
profunda ambição.
A vinte e quatro de dezembro de 1913 – data da abertura da presente exposição
analisada –, Joaquim Lopes dá a conhecer vinte e sete pinturas da sua autoria. Sobre
95
A exposição promovida pelos alunos da Academia de Belas-Artes do Porto. Mundo Ilustrado,
08/06/1913. 96
Algumas das obras de Joaquim Lopes presentes na exposição e mencionadas em alguns dos periódicos
consultados foram «Praia da Aguda» (vendida ao Dr. Manuel de Castro), «Retrato de Ariôsto Silva»,
retrato de «Clementina» e «Natália». 97
«[…] este Homem [Joaquim Lopes] foi incansável, probo, digno, sincero e generoso. Nunca nos
apercebemos de ter sido alguma vez um romântico incontrolado, como se afirma no catálogo da sua
retrospectiva na Escola Superior de Belas Artes.» Cf. Sousa, Alberto de. A exposição póstuma de Mestre
Joaquim Lopes. O Homem, o Pintor, o Mestre. Novidades, 15/07/1956.
52
estas, sucedem-se comentários e pareceres em jornais e revistas. As telas do pintor são
descritas como «impressivas»98
. «A figura e a paisagem»99
, «a anatomia e o desenho»100
merecem a atenção do público visitante, mas são «as cores e a luz»101
que cativam o
espetador. No Janeiro102
, debatem-se, ainda, «as indecisões de cor» que marcariam as
manchas do artista. Seriam estas indecisões as inseguranças do pintor, ainda aluno da
EBAP, ou seriam estas ditas indecisões as reticências que eternamente Joaquim Lopes
deixaria em muitos dos seus trabalhos, parecendo que algo ficou por dizer, alguma linha
por traçar ou alguma cor por espalhar? Tais indecisões podem, igualmente, ser
relacionadas com o facto de o artista apresentar soluções novas, que muitos não
conheceriam e que – entre a surpresa e a admiração – não saberiam dissociar, com
justiça, a imperfeição, do ainda estudante, da vanguarda e da novidade que, mais ou
menos timidamente, ele desejava esboçar.
O ano de 1914 reservou a Joaquim Lopes mais duas exposições coletivas, onde o
artista teve possibilidade de se apresentar e de se fazer representar através das suas telas.
Uma destas mostras diz respeito à 7ª Exposição Anual da Sociedade Nacional de Belas
Artes (SNBA) que teve lugar no Ateneu Comercial do Porto.103
As referências que
encontrei aos trabalhos expostos do pintor não são em grande número, principalmente
se comparadas a algumas das que mencionei anteriormente, a propósito de outros
eventos artísticos. A causa subjacente será, provavelmente, a de se tratar de um certame
de arte onde participam vários artistas – com carreiras mais consolidadas e percursos
mais reconhecidos – que nas notícias da imprensa se sobreporiam aos mais novos
aspirantes104
.
Em todo o caso, algumas críticas merecem ser referidas. A propósito dos seus
quadros, os jornais falam da «largueza da concepção» e do «temperamento
impressionista»105
que tais obras transmitem. A um ano de concluir a sua formação na
98
Exposição de escultura e pintura. Comércio do Porto, 25/12/1913. 99
Exposição de Diogo de Macedo e Joaquim Lopes. Janeiro, 27/12/1913. 100
1ª exposição de Diogo de Macedo e Joaquim Lopes. A Tarde, 29/12/1913. 101
Ibidem. 102
Exposição de Diogo de Macedo e Joaquim Lopes. Janeiro, 27/12/1913. 103
Cf. Sociedade de Bellas-Artes. A exposição do Ateneu Comercial. Janeiro, 10/11/1914. 104
Num dos periódicos consultados, Joaquim Lopes é descrito como um artista aspirante e promissor.
«Os quadros de Joaquim Lopes merecem-me deferência por se tratar de um novo que poderá realisar,
visto que tem qualidades.» Cf. Lacerda, Aarão de. A Exposição da Sociedade de Belas Artes do Porto. A
Águia. Revista quinzenal ilustrada de literatura e crítica, Nº 35, novembro de 1914, p.145. 105
Cf. Arte. Sociedade de Bellas-Artes. O recorte de jornal consultado no APJL, apenas fazia alusão ao
título da notícia, sem indicar o nome do periódico a que estava associado, nem a data – que presumi
situar-se no ano de 1914 dado o tema (7ª Exposição da SNBA) que a ocupa –. Por esta razão, apenas pude
53
EBAP, Joaquim Lopes parecia ter já as suas propostas plásticas bem direcionadas, uma
vez que temos vindo a assistir a algum consenso no respeitante às críticas e às
observações de jornalistas e cronistas. A sugestão da cor, através da pincelada larga e
dos efeitos de sugestão impressionista assumem-se, logo à partida, como traços da
pintura do artista. Se alguns dos autores destes artigos não tinham formação específica
no campo das artes e as suas considerações seguiam, regra geral, os seus instintos e
perceções, a verdade é que tais sensibilidades devem, também, ser tidas em conta. Não
pretendo delas retirar conclusões absolutas, mas sim percecionar a recetividade e o olhar
que as obras do artista foram recebendo, ao longo do tempo. Neste sentido, as telas do
pintor não chocavam a opinião pública da época, mas não deixavam de marcar e,
mesmo, demarcar, um espaço no contexto das exposições, inclusive, numa exposição
concorrida e recheada como a da SNBA106
.
Neste mesmo ano de 1914, Joaquim Lopes beneficiaria, ainda, de uma outra
exposição, desta feita em companhia de um outro comparsa da sua juventude artística –
Soares Lopes –.107
Tendo por base os trabalhos desenvolvidos no âmbito de uma bolsa
artística recebida pelos dois artistas – a qual será debatida no subcapítulo seguinte –, os
pintores inauguram a sua mostra a cinco de novembro, no Salão d’ O Comércio do
Porto. As obras de Joaquim Lopes relacionam-no com Millet108
, na sua faceta «rude e
simples».109
Características que, anos mais tarde, serão igualmente referidas em outro
periódico110
e que revelam algumas das constâncias nas propostas do pintor. Nos seus
trabalhos, o artista sempre privilegiou a representação de figuras comuns, sem
anatomias de proporções plenamente harmoniosas, mas antes reais, próximas do
observador, palpáveis e concretas. O pintor não teme tratar rostos angulosos ou tezes
severamente queimadas pelo sol. E é, por isso, segundo alguns autores, mais áspero que
referir o título da notícia, como forma de citar os dados incluídos no texto do corpus principal do
trabalho. 106
Nesta 7ª edição da exposição da SNBA terão estado presentes cerca de quinhentos trabalhos entre
telas, esculturas, aguarelas, desenhos e projetos. Cf. A exposição de Belas Artes. Ilustração Portugueza,
Nº 431, Lisboa, 25/05/1914, p. 663. 107
«Estes dois grandes artistas [Joaquim Lopes e José Maria Soares Lopes], que começavam então a ser
conhecidos, trabalharam afanosamente e, em princípio de Novembro do mesmo ano, fizeram no salão de
O Comércio do Porto uma exposição de quadros de paisagens geresianas, que a imprensa da época
enalteceu pelo seu excepcional valor.» Cf. MAIA, Celestino- O Gerês e as suas termas. Porto: [s. n.],
1947, p. 25. 108
Jean-François Millet (1814-1875). 109
Méds, H. Exposição de Soares Lopes e Joaquim Lopes. Povo de Gaia, 10/11/1914. 110
«Para muitos, o Artista foi, acima de tudo, paisagista. […] Joaquim Lopes, homem forte e rude, nunca
cultivou o «bonitinho», o amável. Eram suas figuras fortes e rudes como ele.» Cf. Sérgio, Octávio. O
Pintor Joaquim Lopes e a sua notabilíssima acção no meio artístico portuense. O Norte Desportivo,
12/04/1956.
54
Millet, pois «[…] os seus trabalhadores não repousam á hora socegada de Angelus
como em Millet, mas nos momentos cálidos do dia, em que a terra afogueada queima
[…]»111
.
Porém, as suas soluções plásticas suscitam outras considerações. A sua «Serra
do Gerês» possui, segundo Méds, uma «poesia suave e mística como os frescos de
Puvis de Chavannes».112
A suavidade de tons que, por vezes, o autor português explora
permite fazer a ponte com alguns dos trabalhos do artista francês. Além disso, as obras
do pintor português convidam, recorrentemente, a alguma divagação e questionação por
parte do espetador, assim como os trabalhos de Puvis de Chavannes113
. A propósito
desta mesma exposição no Salão d’O Comércio do Porto, o periódico Povo de Gaia
refere, ainda que – «Para ele [Joaquim Lopes] a impressão é tudo. O acabamento, não
passa d’abilidade.»114
–. Mais uma vez, é o registo rápido e a captação momentânea da
imagem que permanecem como elementos definidores da obra do artista. Um trabalho
que vive da anotação de aspetos de cor, luz e movimento – valores associados pelos
jornais da época a influências impressionistas – e da sugestão indireta e não totalmente
clara de ideias e perspetivas – características que fazem os periódicos aproximá-lo de
certas propostas de caráter simbolista –.
No ano em que Joaquim Lopes conclui o seu Curso de Pintura na EBAP, há
notícia de uma outra exposição em que o artista terá estado presente. Partindo da
referência constante no dicionário Portuguese 20th century artists115
, fiquei a saber de
uma mostra coletiva que teve lugar em Ponta Delgada, neste mesmo ano. Através da
consulta do estudo A Museologia na Ilha de São Miguel (1974-2008)116
, consegui
clarificar um pouco melhor de que exposição se tratou.117
Joaquim Lopes terá, então,
111
Lacerda, Aarão de. Os quadros de Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 21/05/1925. 112
Méds, H. Exposição de Soares Lopes e Joaquim Lopes. Povo de Gaia, 10/11/1914. 113
Pierre Puvis de Chavannes (1824-1898). 114
Méds, H. Exposição de Soares Lopes e Joaquim Lopes. Povo de Gaia, 10/11/1914. 115
LOPES, Joaquim Francisco. In PORTUGUESE 20th century artists. A biographical dictionary. Dir.
Michael Tannock. Chichester: Chichester Press, 1978. 116
SOUSA, Sílvia Maria Borba Fonseca e – A Museologia na Ilha de São Miguel: 1974-2008.
http://repositorio.uac.pt/handle/10400.3/620. 15-06-2012 23:14. 117
«Em Ponta Delgada promoveram-se várias exposições de pintura, com artistas nacionais e locais,
tendo as aquisições e ofertas constituindo o primeiro núcleo de pintura do museu.» SOUSA, Sílvia Maria
Borba Fonseca e – A Museologia na Ilha de São Miguel: 1974-2008, p. LXXVII.
http://repositorio.uac.pt/handle/10400.3/620. 15-06-2012 23:14. Tendo em conta o excerto transcrito,
equacionei a hipótese de Joaquim Lopes estar representado na coleção do Museu Municipal Dr. Carlos
Machado, o qual à data da exposição de 1915 estava, precisamente, a rechear as suas coleções. Neste
sentido, foi estabelecido o contacto com o Museu que na pessoa da Dra. Sílvia Massa me esclareceu de
que não havia qualquer obra do artista no acervo do Museu. Em todo o caso, é provável que o pintor
55
exposto na mostra coletiva «Belas-Artes» que teve lugar no Paço Fonte Bela.118
Algumas notícias de 1915 devem referir-se a esta mesma apresentação pública, apesar
de nenhuma delas indicar o nome da exposição ou o local onde foi realizada. O
Janeiro119
e a Lucta – únicos periódicos analisados com referências a esta mostra – não
desenvolvem quaisquer opiniões acerca da presença de Joaquim Lopes, mencionando
apenas o facto de o pintor ter exposto seis telas120
.
Até 1915, as aparições públicas de Joaquim Lopes dividem-se entre a sua
presença em mostras de arte e a sua participação em algumas publicações. Em 1910, por
exemplo, colabora no número um da Apollon – revista publicada por alunos da EBAP e
cujo segundo número, em fevereiro de 1910, será mesmo editado sob a direção de
Diogo de Macedo e do próprio Joaquim Lopes –. Estes serão os dois únicos números
que a publicação conhecerá – tendo ocupado os dois primeiros meses do ano – sendo
que, em ambos, o pintor colabora com desenhos que ilustram e acompanham textos e
artigos.121
No entanto, o meio dos certames artísticos seria o mais propício ao
estabelecimento de contactos e, acima de tudo, à apresentação da sua obra que, como
nestes parágrafos ficou claro, o foi representando e dando a conhecer.
tenha vendido alguma obra nesta mostra, pelo que o artista deverá estar representado, possivelmente,
numa coleção particular da ilha açoriana. 118
SOUSA, Sílvia Maria Borba Fonseca e – A Museologia na Ilha de São Miguel: 1974-2008, p.
LXXVIII. http://repositorio.uac.pt/handle/10400.3/620. 15-06-2012 23:14. 119
xposição d’Arte. Janeiro, 13/05/1915. 120
Painéis, bonecos e mamarrachos. A Lucta, 09/07/1915. 121
No primeiro número da revista, Joaquim Lopes ilustra o poema «Canção» da autoria de Duarte Solano,
com uma composição descomprometida de flores e vegetação. Cf. Apollon, Nº 1, janeiro de 1910. A
ligação entre os textos de Duarte Solano e as ilustrações de Joaquim Lopes manter-se-á quando, mais
tarde, o pintor vier a executar um desenho para a obra «Corôa de Rosas» da autoria de Duarte Solano.
O número dois da publicação conta com um desenho do pintor que acompanha as «Palavras de Auguste
Rodin». Tendo por base o contexto em que o esquisso se insere, este deve tratar-se de um retrato do
próprio Rodin. Cf. Apollon, Nº 2, fevereiro de 1910.
56
As páginas anteriores apresentaram alguns denominadores comuns que
permitem que sejam traçadas algumas constantes, relativamente às cronologias
abordadas neste subcapítulo. Nos anos iniciais da sua atividade pública, Joaquim Lopes
participa sempre em exposições coletivas, tendo de esperar por maio de 1916 para
conhecer a sua primeira mostra individual. Entre exibições mais ou menos concorridas,
o artista parece ter tido sempre um lugar reservado em artigos e notícias que mais ou
menos demoradamente se debruçaram sobre a obra do pintor. As menções, por vezes
bastante incisivas, apontavam para uma presença de influências impressionistas que,
afinal, o artista já explorava, ainda antes de fazer a sua viagem a Paris – habitualmente
referida como o momento chave em que o pintor contacta com as manifestações
impressionistas e as incorpora na sua técnica122
–.
Importa ainda referir que as exposições citadas, bem como as suas datas de
abertura e os locais onde tiveram lugar, devem sempre ser alvo de uma revisão, pois
através da minha pesquisa foi possível perceber que há novos indicadores que surgem
constantemente trazendo luzes e dados inéditos sobre esta problemática, tornando-a, por
isso, um campo aberto, em permanente (re)construção. Em alguns dos periódicos
referidos ao longo deste subcapítulo, é possível encontrar a reprodução de telas que
Joaquim Lopes expôs nas mostras descritas. Em todo o caso, para apresentar, pela
primeira vez nesta dissertação, um pouco da sua obra, optei por selecionar um trabalho
seu datado de 1912 com o qual me cruzei no sítio oficial da leiloeira Palácio do Correio
Velho.
122
Cf. GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes
do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, pp. 38 e 39.
57
FFiigguurraa 11
Título: Barcos na praia - Costa Nova.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre cartão.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1912 (canto inferior direito).
Dimensões: 22cm (altura) x 32 cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: <http://www.pcv.pt>123
123
Sítio oficial da leiloeira: <http://www.pcv.pt>. A obra «Barcos na praia – Costa Nova» esteve presente
no Leilão 223, Especial VII, com o número de lote 0047.
58
O trabalho apresentado aproxima-se, do meu ponto de vista, de algumas das
associações feitas entre as propostas de Joaquim Lopes e as soluções de Puvis de
Chavannes. Não pelo tema propriamente dito, mas pela suavidade das cores – sobretudo
dos tons que se espalham pelo céu – que retém algum do espírito que encontramos nos
exercícios de Chavannes. Uma certa quietude que não será transversal à obra do artista
português que, inclusive, explorará com frequência o movimento e a instabilidade como
alicerces da sua pintura. Todavia, a ponte entre o pintor português e o artista francês
merece ser tida em conta, uma vez que Joaquim Lopes, n’O Primeiro de Janeiro do ano
de 1942, afirma que, para ele, Puvis de Chavannes está entre os maiores mestres
contemporâneos de Paris.124
As Primeiras Exposições contêm em si, algo de embrionário daí que, na minha
perspetiva, valha a pena voltar sempre a elas. Nestas iniciativas está, muitas vezes, o
gérmen que alimentará tudo o que daqui em diante o artista fará ou procurará fazer na e
da sua carreira. Entre um percurso mais individual e solitário e um caminho mais
iluminado e ostensivo, as mostras públicas d’Os Novos125
têm uma faceta de inestimável
valor para quem estuda tais exposições e que é, precisamente, a da construção de uma
imagem pública. Não que tal signifique ou conduza à conclusão de que as mostras –
coletivas ou individuais – de um jovem pintor ou escultor sejam definidoras de toda a
sua obra ou rumo plástico. Aquilo que estas exposições inaugurais poderão, talvez,
determinar com alguma segurança, são as ambições do artista, o que ele deseja ser no
panorama cultural em que se insere.
A partir desta consideração, posso apontar Joaquim Lopes como um pintor que
procurava evoluir sem, ao mesmo tempo, colocar esta premissa de inovação como fim
último da sua obra. Para ele, o fundamental seria que cada uma das suas propostas fosse
consistente com o que – no momento exato em que construía a obra – ele sentia ser o
rumo indicado para a mesma. Daí que a heterogeneidade das suas propostas artísticas,
nunca tenha sido algo que o constrangesse. N’Os Paisagistas da Escola do Porto nas
124
Segundo o pintor, os maiores mestres contemporâneos de Paris eram Rodin (François-Auguste-René
Rodin 1840-1917), Bartholomé (Paul-Albert Bartholomé 1848-1928), Puvis de Chavannes, Carrière
(Eugène Anatole Carrière 1849-1906) e Besnard (Albert Besnard 1849-1934). Cf. Conferências. Na
Escola de Belas Artes do Pôrto. O Primeiro de Janeiro, 07/02/1942.
O interesse de Joaquim Lopes pelo trabalho de Puvis de Chavannes poderá, ainda, ser ilustrado pela
conferência que o pintor português lhe dedica, a qual teve lugar na EBAP. Cf. Lima, Fernando de Araújo.
Recordando um amigo morto: Mestre Joaquim Lopes. Boletim da Associação Cultural dos Amigos de
Gaia, Nº 5, outubro de 1978, p. 11. 125
Os Novos. Exposição de Arte no Centro Republicano Democrático. A Montanha. 17/05/1913.
59
Colecções do Museu pode ler-se que o pintor «[…] no campo da arte não se pode dizer
homem realizado – pintou a óleo, pintou a pastel, a aguarela.»126
. Pois esta exploração
técnica, temática, em suma, plástica transversal e marcante desde o começo ao fim do
percurso de Joaquim Lopes terá sido, provavelmente, aquilo que mais o concretizou,
enquanto artista.
A diversidade de linguagens da sua obra – que nas exposições analisadas já era
patente – demonstrava o artista insatisfeito, mas cuja insatisfação era a sua razão de
pintar. Procurar incessantemente não a forma, mas as formas; não a cor, mas as cores;
não a solução, mas as soluções. Assim se define, desde 1913, Joaquim Lopes, logo nas
suas primeiras aparições públicas. Apenas com a certeza do trabalho e do empenho
como métodos privilegiados para progredir, o seu conhecimento cresce com as leituras e
as experiências falhadas. Nada é garantido para o artista. Nada é seguro, nem certo, para
quem atravessa duas guerras mundiais. Também de fome e de dor nos fala a (sua) arte.
Como fala de indecisões e de incertezas que não são só plásticas. Há nas suas telas as
dúvidas e medos do homem atento à Vida. Há nas suas telas as dúvidas e medos do
homem atento ao Homem – «Acho que o aspecto rígido da arte objectiva tende a ser
temperado pela centelha espiritual. Mas sabe-se lá… sabe-se lá o que virá depois da
guerra?!...»127
–.
3.4 – (Re)conhecimento individual: o Primeiro Prémio; a Primeira Bolsa.
A passagem pela Academia fez Joaquim Lopes evoluir enquanto aluno e definir-
se enquanto artista. Na EBAP, o estudante aprendeu a construir a obra. Nas exposições,
o pintor descobriu como desconstruí-la publicamente. Deste modo, o artista foi
encontrando a sua individualidade. Num processo lento – que ele nunca pretendeu
apressar –, o artista privilegiou a autorreflexão como meio de determinar a forma como
se apresentaria ao público. Para se dar a conhecer mais verdadeiro e próximo da sua
realidade, o pintor teria necessariamente de se sentir seguro das suas opções, convicto
dos seus ideais. A força da sua pincelada e do rasto de cor que ela prolonga tem muito
desta certeza interior que sempre moveu o artista. Foi a partir dela que cada obra
nasceu, que cada apresentação pública se concretizou.
126
OS PAISAGISTAS da Escola do Porto nas Colecções do Museu. Porto: MNSR, 1983, p. 27. 127
Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 18/08/1944.
60
O estudo que Joaquim Lopes apresenta na 18ª Exposição dos Trabalhos
Escolares dos Alunos da EBAP concedeu ao pintor a oportunidade de receber o segundo
galardão no Concurso ao Prémio Pecuniário de Desenho. O trabalho laureado serviu,
primeiramente, como resposta ao exame final do quarto ano do Curso de Desenho
Histórico, cujo Professor e Secretário era José de Brito. A prova exigia aos alunos a
realização do desenho sombreado de uma estátua copiada do gesso. O tempo disponível
para a execução do exercício era de dez dias úteis.128
Para tal, o artista selecionou uma
cópia a gesso do Discóbolo. O seu desenho foi aprovado e apreciado, por José de Brito,
com a classificação de 15 valores.129
A consulta do Catálogo da 18ª exposição dos alunos da EBAP130
confirma como
é esta mesma obra – o desenho a partir da cópia a gesso do Discóbolo – que Joaquim
Lopes exibe no «Concurso anual ao premio pecuniário em desenho histórico, que consta
de um estudo sombreado, copia do gesso, executado em dez sessões»131
. É, então, este o
trabalho condecorado com o segundo prémio no valor de 20$00 reis132
, e reproduzido
no texto de Cláudia Garradas – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na
Escola de Belas Artes do Porto – publicado no catálogo sobre Mestre Joaquim Lopes133
.
Neste sentido, o título «Desenho por estátua» atribuído ao estudo134
, pode tornar-se
mais completo indicando-se – desenho a partir de cópia a gesso do Discóbolo –.
O prémio académico simbolizava o reconhecimento das aptidões artísticas do
autor como aluno e desenhador. Todavia, esta era ainda uma aceitação no seio da EBAP
e do pintor com perfil de estudante. No entanto, não tardaria a chegar a oportunidade do
artista – ainda como aluno da Academia – experimentar um ambiente afastado da
litoralidade portuense. Em 1914, uma bolsa de estudo condu-lo ao Gerês e,
posteriormente, a uma exposição em parceria com Soares Lopes – sobre a qual dei conta
128
CATÁLOGO da 18ª exposição dos trabalhos escolares dos alumnos da Escola Portuense de Bellas-
Artes considerados dignos de distincção no Anno lectivo de 1908-1909. [S. l.]: Coimbra Imprensa da
Universidade, 1909. 129
«Joaquim Francisco Lopes // 112 – Discobulo, estudo do antigo, cópia do gesso, pelo qual obteve 15
valores, no exame final.» Cf. CATÁLOGO da 18ª exposição dos trabalhos escolares dos alumnos da
Escola Portuense de Bellas-Artes considerados dignos de distincção no Anno lectivo de 1908-1909, p. 14 130
CATÁLOGO da 18ª exposição dos trabalhos escolares dos alumnos da Escola Portuense de Bellas-
Artes considerados dignos de distincção no Anno lectivo de 1908-1909. 131
Ibidem. 132
«Joaquim Francisco Lopes // 170 – Mesmo estudo [Discóbulo], pelo qual foi julgado digno do 2º
segundo prémio, 20$00 reis» Cf. CATÁLOGO da 18ª exposição dos trabalhos escolares dos alumnos da
Escola Portuense de Bellas-Artes considerados dignos de distincção no Anno lectivo de 1908-1909, p.
21. 133
Cf. GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes
do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 36. 134
Ibidem, p. 37.
61
no subcapítulo anterior –. A paisagem serrana sensibilizou o artista para os matizes e as
geometrias dos rochedos. Por isso, alguns o consideraram «um pintor da Montanha».135
A partir desta viagem, as paisagens do artista dividir-se-ão entre as memórias geresianas
e os registos captados à beira-rio136
.
O pensionato artístico – que tinha como destino o Gerês – foi oferecido pel’O
Comércio do Porto a dois dos melhores alunos da EBAP: Joaquim Lopes e Soares
Lopes. As viagens e a estada estavam asseguradas, sendo que os bolseiros apenas teriam
de oferecer, em contrapartida, um dos trabalhos realizados durante a sua fuga artística, à
instituição promotora deste projeto.137
Joaquim Lopes respirou durante quinze dias138
as
aragens das fragas, dos rios e dos carvalhos.139
Apesar de eu não ter observado
pessoalmente propostas como «Serra do Gerêz» – em posse da Casa Museu Fernando
de Castro –140
, acredito que o artista tenha sido sensível às particularidades da terra que
Adolfo Correia da Rocha – sob o pseudónimo de Miguel Torga – tão bem descreveu.
«Gerês, 16 de Agosto de 1955 – O dia inteiro a ruminar o banquete de
ontem, pantagruélico festim de serras e horizontes que teve como iguaria
suprema a descida do Velão ao cair da tarde. […]
[…] Fascinação de artista rendido à beleza viril de uma paisagem onde
sempre me apetece parir ou morrer, e gratidão somática por ter nascido nela.
A terra tem um senão: a mudez. E o poeta é um homem de perguntas.
Desde que me conheço que me dilacera o cilício de a interrogar sem esperança.
[…]»141
Joaquim Lopes não nasceu transmontano, mas cedo se sentiu tocado pelo lirismo
dos campos, apresentando-se como um «pintor em cujo ser cohabitam um aldeão e um
poeta; um aldeão que ama fervorosamente a terra, um poeta que sabe traduzir, em linhas
135
Guimarães, Domingos. Um pintor de Montanha. A exposição de Joaquim Lopes. Comércio do Porto,
26/07/1918. 136
«Numa manhã de primavera adiantada, com os raios solares a varrer de poalha álacre todo aquele
conjunto paisagístico único, os meus olhos depararam com Mestre Joaquim Lopes, cavalete na sua frente,
encimado pelo característico guarda-sol (adorno que hoje nenhum pintor usa) espalhando na tela à sua
frente pequenas pinceladas rectangulares que marcavam o perfil colorido de um cargueiro, tendo por
fundo um apontamento esfumado do casario tripeiro, ao qual se prolongava parte de perfil acinzentado da
ponte de D. Luís.» Cf. Gomes, J. Costa. Joaquim Lopes – Artista que honra V. N. de Gaia. Boletim da
Associação Cultural dos Amigos de Gaia, Nº 5, outubro de 1978, p. 3. A descrição transcrita refere-se,
possivelmente, à obra «Descarga do bacalhau» reproduzida em MESTRE Joaquim Lopes, p. 172. 137
Cf. GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes
do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 38. 138
Ibidem. 139
Cf. Diário VII (20-5-1953/3-10-1955) In TORGA, Miguel – Diário. Vols V-VIII (1949-1959). Rio de
Mouro: Círculo de Leitores, maio de 2001, p. 700. ISBN 972-42-2488-0. 140
Título da obra: «Serra do Gerêz». Instituição detentora da obra: Casa Museu Fernando de Castro.
Número de inventário: 153. Técnica e Suporte: Óleo sobre cartão. 141
Cf. Diário VII (20-5-1953/3-10-1955) In TORGA, Miguel – Diário. Vols V-VIII (1949-1959), p. 725.
62
e cores, o seu sonho […]»142
. A mudez dos cenários serranos terá sido, igualmente,
inquietadora e aterradora pelo contraste que assumia com o bulício das imagens sonoras
que o jovem pintor de 28 anos trazia na sua memória citadina.143
O caráter telúrico da
obra de Joaquim Lopes – já abordado neste trabalho – terá nascido nestas viagens e terá
sido explorado em outras tantas. O contacto com a Natureza mais intocada, permitiu ao
pintor conhecer outras paisagens e, sobretudo, reconhecer nelas outros valores, menos
ligados ao movimento da cidade, e mais próximos do silêncio místico dos campos ou
montanhas. Deste modo, a primeira bolsa recebida pelo artista terá representado um
ingrediente essencial na definição do seu percurso, sendo que daqui em diante os
montes e vales pontuaram a sua obra.
Ao longo da investigação, não me cruzei com palavras de Joaquim Lopes que
descrevessem as sensações que a paisagem geresiana lhe transmitiu. Em todo o caso,
julgo que o excerto, que transcrevo, poderá ajudar a delinear as principais características
e marcas de um cenário tocante, até este momento, para escritores e artistas:
«Gerês, 6 de Agosto de 1955 – Há sítios do mundo que são como certas
existências humanas: tudo se conjuga para que nada falte à sua grandeza e
perfeição.
Este Gerês é um deles. Acumularam-se e harmonizaram-se aqui tais
forças e contrastes, tão variados elementos de beleza e de expressão, que o
resultado lembra-me sempre uma espécie de genialidade da natureza.»144
A fragilidade e a rudeza deste palco montanhoso comoveu, desde logo, Veloso
Salgado – uma das mentes embrionárias do projeto da bolsa recebida por Joaquim e
Soares Lopes –. Em O Gerês e as suas termas145
, Celestino Maia conta como terá
nascido este projeto de pensionato artístico, tendo por base as informações que Joaquim
Lopes lhe facultou.
«Segundo me informou mestre Joaquim Lopes, deve ter sido Veloso
Salgado quem, em convivência no Gerês, sugeriu ao conhecido democrata Dr.
José de Castro, que foi presidente de ministério e aquista das Termas, a criação
duma «Bolsa de Arte» para levar ao Gerês missões estéticas de estudo. Esta
bolsa, cuja administração foi confiada ao director de O Comércio do Porto,
Prof. Bento Carqueja, só uma vez foi utilizada, mas de modo tão notável que o
142
Guimarães, Domingos. Um pintor de Montanha. A exposição de Joaquim Lopes. Comércio do Porto,
26/07/1918. 143
A propósito dos sons… «[…] Por detrás das pedras roladas e das ravinas, pulsa o mesmo coração
inquieto da vida. A solução, portanto, consiste apenas em auscultá-lo com a finura de ouvido que é
obrigatória nas consultas citadinas. […]». Cf. Diário VII (20-5-1953/3-10-1955) In TORGA, Miguel –
Diário. Vols V-VIII (1949-1959), p. 700. 144
Cf. Diário VII (20-5-1953/3-10-1955) In TORGA, Miguel – Diário. Vols V-VIII (1949-1959), p. 722. 145
MAIA, Celestino – O Gerês e as suas termas, 1947.
63
facto merece especial relevo. Subsidiados por ela e enviados pela Academia
Portuense de Belas-Artes, estiveram no Gerês, em Setembro de 1914, os
finalistas desta Academia considerados mais distintos: Joaquim Lopes e José
Maria Soares Lopes.»146
A expressão «missões estéticas» – presente no excerto citado – revela como esta
experiência terá simbolizado a semente daquilo que, anos mais tarde, seria instituído e
oficializado na Academia, com regularidade anual.147
Esta mesma perspetiva é
partilhada por Joaquim Lopes em 1943, numa entrevista que concede ao jornal O
Primeiro de Janeiro. No ano em que o artista dirigirá e organizará a VII Missão Estética
de Férias em Bragança, o pintor diz como a bolsa que recebeu enquanto aluno serviu de
embrião para o projeto das Missões Estéticas.148
O entusiasmo que o artista nutriu, ao
longo dos anos, pela realização de uma iniciativa deste género fica patente em algumas
das passagens da sua conversa com o periódico portuense.
«[Joaquim Lopes] – […] Nunca mais, porém, essa benéfica e simpática
iniciativa [das bolsas de estudo/Missões Estéticas] me saiu do pensamento. Foi
com grande satisfação que, alguns anos depois, soube da realização de cursos de
férias para pintores espanhois. Efectuaram-se na região de Paolar – Espanha. Li,
com vivo interêsse, as referências às exposições realizadas pelos estagiários
após o seu regresso a Madrid. Principalmente a revista «Blanco y Negro» dava-
lhes grande relêvo.
[Entrevistador] – Nunca pensou em promover alguma coisa de
semelhante?
[Joaquim Lopes] – Decorridos cêrca de vinte anos, com a minha entrada
para a Escola de Belas-Artes, tentei organizar um dêsses cursos de férias.
Dirigi-me ao vereador do pelouro da Instrução da Municipalidade do Pôrto, que,
vendo com muita simpatia a iniciativa, me declarou, porém, não haver verba
para tal… […]»149
O empenho de Joaquim Lopes para com este projeto fica claro no trecho
anterior, o qual demonstra o envolvimento do artista na tentativa de promover, junto dos
alunos, espaços e oportunidades para desenvolverem, mais proficuamente, as suas
aptidões artísticas. Tal revela, igualmente, como terá sido proveitosa a bolsa que o
pintor recebeu em 1914 para a sua própria evolução. Daí que o artista pense ser da
máxima importância estimular tais práticas nos estudantes. Esta visão assenta, também,
na perspetiva que se afirmava à época e estava relacionada com o convite, à saída da
146
MAIA, Celestino – O Gerês e as suas termas, p. 25. 147
Cf. TRINIDAD MUÑOZ, Antonio – Missões Estéticas de Férias Y Paisaje Portugués: Dominguez
Alvarez, p. 5. http://www.apha.pt/boletim/boletim3/pdf/AntonioTrinidad.pdf. 15-06-2012 23:29. 148
Missões Estéticas de Férias. 5 minutos de conversa com o Mestre Pintor Joaquim Lopes. O Primeiro
de Janeiro, 30/06/1943. 149
Ibidem.
64
Academia, para pintar mais direta e proximamente a realidade em movimento, em vida.
O trabalho de campo – que uma atividade como as Missões incentiva – concretizava de
forma bastante explícita este desejo de incitar o contacto entre os alunos e a natureza,
sobretudo com as terras mais virgens.
Em 1936, o decreto-lei nº 26.957 certificava a realização de escapadas artísticas
sob a designação de Missões Estéticas de Férias (MEF).150
Em 1937, tinha lugar a I
MEF em Tomar, sob a direção do arquiteto Raul Lino.151
Nesta missão, houve um
convidado de honra, um dos entusiastas do projeto – Joaquim Lopes –.152
No entanto,
estas problemáticas não se enquadram nas cronologias deste capítulo, pelo que para um
conhecimento mais aprofundado das circunstâncias que envolveram a criação e
definição das MEF é sugerida a consulta de estudos específicos153
.
Assim, o reconhecimento de Joaquim Lopes foi algo de gradual, condizente com
a sua personalidade e formação. Persistindo no trabalho, o artista procurou as
oportunidades e encontrou-as no seu empenho, primeiro como aluno e bolseiro. Tais
experiências iniciais permitiram-lhe ser congratulado publicamente, enquanto ele
próprio se aceitava a si mesmo, seguindo, até ao fim, o seu caminho pelos trilhos da
razão e da autocrítica. O esforço que empregou em cada projeto, em cada desafio foi
sendo premiado pelo elogio mais ou menos explícito da crítica e das instituições.
Também por isso, enquanto agente cultural, procurou dedicar os seus trabalhos e
escritos a personalidades que, segundo ele, mereciam ser agraciadas e justamente
honradas. Também por isso, após a sua morte, muitas palavras e frases giraram em
torno do seu nome, em jornais e revistas, notícias e artigos.
O reconhecimento pelo reconhecimento não lhe interessaria. No entanto, este –
em último caso – é o indicador mais imediato do interesse e do valor daquilo que cada
um produz. Joaquim Lopes não concebia a arte como um exercício de egoísmo ou de
prazer pessoal. O pintor criava no recolhimento para depois partilhar no meio público,
no espaço de uma sala ou de um salão. O local pouco importava, quando estava em
150
Cf. TRINIDAD MUÑOZ, Antonio – Missões Estéticas de Férias Y Paisaje Portugués: Dominguez
Alvarez, p. 1. http://www.apha.pt/boletim/boletim3/pdf/AntonioTrinidad.pdf. 15-06-2012 23:29. 151
Ibidem, p. 3. http://www.apha.pt/boletim/boletim3/pdf/AntonioTrinidad.pdf. 15-06-2012 23:29. 152
Esquecidos do mundo, um grupo de artistas vive e trabalha há quinze dias no convento de Cristo.
Diário de Lisboa, 28/08/1937. 153
Cf. TRINIDAD MUÑOZ, Antonio – Missões Estéticas de Férias Y Paisaje Portugués: Dominguez
Alvarez. http://www.apha.pt/boletim/boletim3/pdf/AntonioTrinidad.pdf. 15-06-2012 23:29.
Cf. XAVIER, Pedro do Amaral – Educação artística no Estado Novo: as missões estéticas de férias e a
doutrinação das elites artísticas. http://www.apha.pt/boletim/boletim4/artigos/PedroXavier.pdf. 15-06-
2012 23:30.
65
causa a oferta de uma imagem, de uma ideia, de um instante. Estes momentos de
compartilha terão sido sempre, para o artista, os verdadeiros reconhecimentos não de si,
mas da sua obra – aquilo que mais o inquietava enquanto pintor –. O artista não
almejava ser reconhecido como homem, preferindo a vaidade de ser reconhecido como
pintor, professor, autor. Porque eram múltiplas as suas atividades. Porque a todas as
homenagens ou prémios, o artista apenas soube responder com trabalho, mais trabalho,
sempre trabalho. Deste modo, olhando a sua obra e, desde logo o seu percurso inicial,
permanece a convicção de que por detrás de cada medalha se somam horas de labuta e,
por isso, «O tempo chegava-lhe para tudo …»154
.
3.5 – EBAP: por entre a norma, a exceção.
O presente capítulo foi iniciado com uma questão – «Academia: Formação ou
Deformação?» –. O desafio para estas páginas foi, pois, simples – responder à pergunta
enunciada, de maneira a perceber de que modo a EBAP interferiu no rumo plástico da
obra de Joaquim Lopes –. As várias etapas deste percurso escrito tentaram demonstrar o
que a Academia deu e impôs ao artista. O que ele, voluntária e involuntariamente, dela
retirou. E do que ele claramente abdicou. Os primeiros passos do pintor no mundo
artístico – de um modo cada vez mais profissional e sabedor – assumiram-se, desde
logo, como consistentes e bem sucedidos, com reconhecimento académico e, também,
público. A instrução era seguida, em paralelo, por provas de mérito, onde o artista
procurava apresentar a sua obra, apresentando-se a ele mesmo. Conhecer o meio das
belas artes, reconhecendo-se a ele próprio como membro recente desse meio, como
novo agente ativo da cultura em Portugal. Ainda aluno, Joaquim Lopes carregava em si
todas estas consciências, vistas por ele como verdadeiras responsabilidades, com caráter
de missão.
O facto de o pintor ter cumprido as suas obrigações académicas, nunca
significou que a EBAP tenha sido um limite para ele ou a sua área restrita de atividade.
Era, no entanto, uma figura carismática da Academia que, enquanto estudante, já se
evidenciava – «Incluído, mas não confundido, na grande massa escolar […] lá fui
encontrar, pela primeira vez, o Joaquim Lopes, perfeitamente integrado na vida da
154
Ferreira, Jaime. Além de professor e pintor o Mestre Joaquim Lopes a quem a Escola de Belas Artes
vai prestar homenagem póstuma evidenciou-se como um dos maiores amigos das artes e dos artistas. O
Norte Desportivo, 27/05/1956.
66
Escola.»155
–. Perfeitamente integrado, mas não preso a ela. Como ficou explícito ao
longo dos subcapítulos anteriores, o artista balançou o seu caminho dentro e fora da
Academia, com uma harmonia perspicaz. A sua personalidade não o convidava à
subversão, mas nos «[…] bancos escolares era o primeiro a ter coragem, a apoiar
empresas e a manifestar opiniões.»156
.
A EBAP foi, por isso, uma matriz importante no trajeto do pintor, sem ter tido
sobre ele um peso suficiente para deformar, sobretudo, os seus interesses e ideais. Não
pretendo aqui averiguar a qualidade da instrução ministrada pela Academia em geral,
mas apenas compreender como os seus métodos e valores de ensino influenciaram
Joaquim Lopes, interferindo positiva ou negativamente nas opções plásticas do artista.
Muitas vezes, a EBAP – como instituição académica – era associada ao culto e à
preservação de valores ultrapassados e não ao incremento da novidade, do espírito
crítico, do desassossego inventivo. Em todo o caso, tal não significava que fosse a única
ferramenta deformadora da educação artística nacional. Para a definição das obras e dos
artistas, houve sempre um instrumento com grande repercussão: a crítica. Algumas
vezes pouco esclarecida, ela – como o pintor referia pontualmente157
– pecava pela falta
de cultura e de conhecimento dos seus responsáveis. Em textos e artigos, «A
terminologia utilizada e os padrões valorativos revelam uma manutenção de códigos
académicos, reiterados sem qualquer criatividade ou perspicácia.»158
.
As raízes do pensamento académico alastravam, por isso, muito para além do
edifício da instituição. O academismo não era, somente, uma tendência dos académicos,
mas uma espécie de gosto consensual que a imprensa – como pretensa representante de
uma vontade pública – desejava alimentar. Talvez mais do que os docentes da EBAP –
ainda tidos como verdadeiros Mestres –, era este género de barómetro da opinião
pública que mais severa e cruelmente desvirtuava as propostas dos artistas mais jovens.
A propósito desta tendência, merece ser feita referência a uma notícia que reprovava,
precisamente, as influências parisienses recebidas por Joaquim Lopes.159
O trecho
155
Azevedo, Rogério. O pintor Joaquim Lopes. O Tripeiro, Ano XII, V Série, Nº 11, março de 1957, p.
324. 156
Macedo, Diogo de. Evocando Joaquim Lopes. Notas de Arte. Ocidente. Revista Portuguesa Mensal,
Vol. L, Nº 217, maio de 1956, p. 181. 157
«[…] [Joaquim Lopes alegava] que conhecia, por seu lado, muitos escritores que nada sabiam de
Arte.» Cf. Lima, Fernando de Araújo. Recordando um amigo morto: Mestre Joaquim Lopes. Boletim da
Associação Cultural dos Amigos de Gaia, Nº 5, outubro de 1978, p. 10. 158
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 26. 159
Cf. Hamilton. A exposição de pintura Joaquim Lopes, na Misericórdia. O Debate, 11/05/1920.
67
tomava como base uma exposição do pintor160
, propondo a análise de alguns dos
quadros exibidos. Sobre obras como «Paço/Paços de Silgueiros» ou «Bois ao sol», o
autor emite alguns pareceres. O primeiro trabalho, segundo Hamilton, sugere uma
pincelada de «maneira demasiado larga quási-cubista»161
. A segunda proposta apresenta
os «animais sem desenho, cor, perspectiva ou naturalidade, feitos à espátula»162
. O
timbre de censura destes juízos fica confirmado quando o autor destas palavras
menciona, mesmo, o desprezo que o artista teria pelo desenho.163
Neste sentido, Paris – a sua arte e os seus artistas – afigurava-se,
frequentemente, como uma espécie de AntiCristo, na medida em que as novas correntes
plásticas que professava iam contra uma ideologia académica portuguesa prezada com
devoção religiosa. Foi esta veneração o motor de atrasos culturais, pois serviu de
obstáculo à afirmação de jovens conhecedores de outros horizontes, defensores de novas
vontades. Joaquim Lopes não terá sido indiferente a comentários como os transcritos,
ainda que a firmeza do seu caráter não o tenha deixado vacilar perante qualquer
observação denegridora do seu trabalho. Em todo o caso, a não aceitação aberta e
sincera dos projetos dos artistas mais novos, terá contribuído para o adiamento da
evolução da própria arte portuguesa. Dano para a História da cultura nacional, mas
também para Joaquim Lopes que – como A Pátria refere – «[…] é um artista ansioso de
modernismo, peiado, torcido pelo meio – porque precisa de vender […].»164
. Para o
pintor, a arte foi sempre o seu trabalho, uma fonte de rendimento. Por isso, a sua obra
teria de ser acolhida pelo ambiente onde estava inserida.
Mais do que a Academia, terá sido o contexto cultural do país que tentou
deformar o pintor. Como ele dizia, «[…] [em Portugal], temos de tocar várias teclas
[…]»165
. Este «meio pequeno e acanhado»166
– como, por vezes, chamava à terra da
qual nunca abdicou – obrigava qualquer artista que quisesse ser aceite a adaptar-se a um
programa nacional, marcado por determinadas formas de conceber e, mesmo, por
determinadas formas de pensar. O exercício de compatibilizar dois universos opostos
160
A mostra em questão trata-se da IV Exposição de Pintura de Joaquim Lopes, inaugurada a 04 de maio
de 1920, na Galeria da Santa Casa da Misericórdia (Porto). 161
Cf. Hamilton. A exposição de pintura Joaquim Lopes, na Misericórdia. O Debate, 11/05/1920. 162
Ibidem. 163
Ibidem. 164
A exposição de pintura de Joaquim Lopes. A Pátria, 29/05/1920. 165
Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 18/08/1944. 166
LOPES, Joaquim – Henrique Pousão. Porto: [Imp. Social], 1955. (Separata da Revista do Norte.
Porto, Nº 7).
68
foi algo de transversal a muitos dos artistas que, assim, conseguiram afirmar-se e traçar
um caminho no mundo artístico português. Mais ou menos fiéis a si próprios, os
estudantes tinham, desde logo, consciência desta noção de cânone que regulamentava
em exposições e mostras – o que era aceite. O que agradava. O que era adequado –.
Na minha perspetiva, Joaquim Lopes foi por entre a(s) norma(s) do seu tempo,
uma das exceções. Na EBAP, o artista respeitou a legislação que suportava o
funcionamento da instituição. Nas aulas, cumpriu os exercícios e provas que lhe eram
exigidas. No entanto, nunca assumiu o saber académico como doutrina. Na escola,
encontrou referências que admirou. Contudo, nunca explorou idolatrias. O seu lado
pacato e sério oscilava com a sua fação segura e combativa. Tais ingredientes cruzaram-
se, permitindo ao pintor tocar várias teclas, sendo que o instrumento era sempre o
mesmo: a pintura. A EBAP teve, então, acima de tudo a mais-valia de o preparar para a
realidade do meio artístico português.
Assim, creio que na obra de Joaquim Lopes se encontra, fundamentalmente, o
artista. O pintor não reteve a sua experiência na EBAP como uma fonte de saber a que
deveria recorrer sempre, talvez por ter, desde estudante, procurado explorar as paisagens
que repousavam fora do edifício escolar. Em todo o caso, a carreira do artista, enquanto
professor, passará mais tarde por esta instituição. Há, nesse sentido, um retorno que
revela, possivelmente, uma feliz recordação de juventude. Essa centelha que, afinal,
permanece, leva-me a afirmar que a sua passagem pela Academia, não determinando a
sua obra, desperta em si – como homem, como pintor – o élan das aventuras artísticas
na EBAP. Em si ficou sempre algo de Academia.
69
4 – Joaquim Lopes: Um Pintor sem Estilo?
«– Não existe, em Arte, um modo definitivo.»
Entrevista a Joaquim Lopes. Diário do Norte, 21/08/1950.167
4.1 – Viajar para Ver.
Em 1950, Joaquim Lopes é convidado a falar sobre «as artes chamadas
modernistas»168
. A propósito destas faz algumas considerações sobre práticas artísticas.
Segundo o pintor, existe «Arte definitiva, sim»169
, mas «Modos definitivos da Arte,
não»170
. Mais adiante na entrevista, apresenta o seu parecer acerca de todas as pesquisas
plásticas contemporâneas.
«Acho que é uma procura que não encontrou modo estável. O próprio
Picasso está em mutação constante. A influência dos grandes não morrerá. Há-
de voltar sempre. Quando estive em Paris em 1919 as grandes influências eram
Ingres e Cézanne. Várias obras dessa época de Picasso atestam um sintetismo
próximo parente de Ingres.»171
O excerto transcrito atesta o respeito de Joaquim Lopes por todas as inquietações
que conduzem a novas propostas ou resultados. No entanto, considera que nem todas as
descobertas são, em si, Arte definitiva, mas antes Modos de arte, como tal passageiros.
A noção de Arte definitiva, utilizada pelo pintor, dirá respeito a soluções plásticas como
as de Ingres, as quais terão uma consistência que as torna eternas referências. Outras
«tentativas passageiras»172
poderão ser modos de arte – profícuos para o enriquecimento
da História da Arte – sem com isso serem modelos imortais.
As linhas anteriores dão a conhecer um pouco mais do pensamento de Joaquim
Lopes e introduzem – através das suas próprias palavras – um dos episódios importantes
da sua vida: a viagem a Paris, em 1919. Neste capítulo – partindo desta primeira jornada
internacional do artista –, interromperei o percurso cronológico, até ao momento
seguido no trabalho, e levantarei algumas questões – no meu ponto de vista, essenciais –
para debater com profundidade as soluções plásticas propostas pelo pintor. Deste modo,
tentarei cruzar a obra do artista com as suas viagens, as realidades nacional e europeia e,
167
Nogueira, Goulart. Mestre Joaquim Lopes fala da Arte. Diário do Norte, Porto, 21/08/1950. 168
Ibidem. 169
Ibidem. 170
Ibidem. 171
Ibidem. 172
Ibidem.
70
naturalmente, com as principais referências que ele foi acolhendo e assimilando na sua
memória visual.
Entre 1915 – ano em que conclui a sua formação na EBAP – e 1919 – ano em
que viaja para Paris –, o pintor investe na produção de obra e, sobretudo, na sua
exposição pública. Entre o período cronológico balizado, o artista terá estado presente
em cerca de sete mostras coletivas173
e terá promovido duas exposições individuais174
.
Como foi abordado e desenvolvido no capítulo anterior, estes espaços permitiam ao
artista dar a conhecer-se através do seu trabalho, definindo a cada passo, em cada obra o
rumo que pretendia para a sua pintura. As impressões captadas pelos visitantes destes
certames foram, como habitualmente, registadas e refletidas nos mais diversos
periódicos que, à época, reservavam sempre um lugar para a divulgação da atividade
artística, para aquilo que estava em voga.
Para Joaquim Lopes, o ano de 1916 é inaugurado com a exposição d’Os
Phantasistas175
. A heterogeneidade das sugestões plásticas propostas pelos artistas
intervenientes denotava a juventude de grande parte dos participantes e o desejo de
mudança que cada um transportava em si. A mesma perceção de diversidade, nas
propostas artísticas, ia sendo transmitida e assinalada por jornais e revistas que, no
contexto destas mostras coletivas, foram guardando lugar para uma menção mais ou
menos breve a Joaquim Lopes. Acerca da 8ª Exposição de Belas-Artes176
, por exemplo,
A Lanterna comenta que o pincel do artista «afirma-se-lhe cada vez mais»177
. Neste
sentido, a individualidade dos exercícios plásticos do pintor permanece como uma
característica que lhe é recorrentemente associada. Em 1917, novas mostras se
avizinham. Em junho, o 1º Grande Certame de Arte178
não só acolhe Joaquim Lopes
como expositor, mas também o apresenta como membro da organização estando
integrado nos Principais Corpos Gerentes da Junta Patriótica do Norte – organismo
promotor do certame – na função de Secretário da Comissão Artística179
. Algumas das
críticas públicas apontam alguma hesitação nas propostas do pintor, enaltecem a
173
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p. 34. 174
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p. 33. 175
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 34 e 43. 176
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p. 34. 177
A 8ª exposição de Belas-Artes. A Lanterna, 10/06/1916. 178
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p.34. 179
JUNTA Patriótica do Norte: sinopse da sua obra: 1916-1918. Porto: Junta Patriótica do Norte, [1931].
71
importância conferida pelo artista ao estudo prévio e elogiam a sua pincelada colorista e
pessoal.180
Paralelamente, as exposições individuais permitiam um olhar exterior mais
centrado na obra do artista. Em 1918, a Exposição de Pintura de Joaquim Lopes181
ecoou, igualmente, na imprensa que o considerava um pintor da Natureza, sobretudo, da
montanha182
. Apesar da diversidade temática da obra do artista, é um facto que, numa
fase inicial, serão os seus olhares sobre a paisagem aqueles que mais atrairão o público
visitante das suas mostras. É também interessante verificar, como a propósito desta sua
exposição, são feitas algumas considerações sobre Paris – destino de Joaquim Lopes em
1919 e tema deste subcapítulo –. «[…] Ao lado de paysagens, que se nos afiguram
pintadas por artistas da «butte» ou de Montparnasse, de uma côr que jamais vimos
n’esta boa terra portugueza […]»183
–. Nesta passagem, Domingos Guimarães aprecia
os valores cromáticos dos trabalhos do pintor, nos quais vislumbra já características
próprias da pintura francesa. Isto, antes do artista português realizar a sua viagem. No
entanto, a perceção tida pelos críticos em relação à cidade de Paris não era a mais
favorável, como os excertos seguintes comprovam.
«Joaquim Lopes teve a felicidade, que ele talvez cuide desdita, de não
ter sahido nunca do paiz. Só temperamentos fortes, essencialmente pessoaes, é
que podem resistir às mil solicitações perturbadoras e desvairantes de um
empório de arte como Pariz; os outros, que lá vão aprender, quando se não
fazem pasticheurs dos artistas em voga, ou se tornam mediocres audaciosos,
deseducam, pelo menos, a sua visão, perdem o sentimento da paysagem e da
figura da nossa terra, desnacionalisam a sua arte, que passa a ser feita pelo
receituário francez.»184
A perspetiva veiculada na transcrição anterior é prolongada em outras linhas do
artigo, onde o autor chega mesmo a considerar que o Estado português deveria facultar
bolsas para toda a Europa, retirando o foco do núcleo parisiense.
«Eu penso que o Estado deverá, de preferencia a largos pensionatos de
aprendizagem artistica em Pariz, crear numerosas Bolsas de Estudo, que
facultem aos artistas, que deram provante testemunho da sua capacidade, longas
viagens de estudo pelos museus da Europa.»185
180
O grande certame do Palácio de Cristal V. Janeiro, 22/06/1917. 181
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 33 e 41. 182
Guimarães, Domingos. Um pintor de montanha. A exposição de Joaquim Lopes. Comércio do Porto,
26/07/1918. 183
Ibidem. 184
Ibidem. 185
Ibidem.
72
No entanto, seriam os horizontes parisienses que Joaquim Lopes viu aos trinta e
três anos. O ano de 1919 torna-se, por isso, um marco no percurso do artista. Desde
logo, em março, quando expõe em Lisboa186
. Esta mostra será importante a vários
níveis. Ela não só terá impacto no trajeto do pintor, como no meio artístico nacional,
pelas questões que levantará. No entanto, detenhamo-nos, primeiramente, no resultado
final da exposição. O artista apresentou setenta e quatro obras187
. Destas, terá
conseguido vender um terço que lhe rendeu cinco contos – dinheiro suficiente para
alimentar três meses de vida artística em Paris –.188
Como sempre, com trabalho e por
trabalho, lutou e conquistou cada objetivo.189
Ainda a propósito desta mostra, vale a pena dar conta da repercussão que ela
assumiu no plano nacional. Um artigo d’O Século coloca a pergunta – «Lisboa e o
Porto. Porque se desconhecem o povo e os artistas das duas cidades?» –.190
Na verdade,
a ida de artistas portuenses a Lisboa e o oposto não era algo muito frequente no meio
das belas artes, como a próxima consideração demonstra – «Sr. Joaquim Lopes, o
primeiro artista portuense que realisa na Sociedade Nacional de Belas Artes a sua
exposição de pintura a óleo.»191
–. A iniciativa do pintor foi, por isso, amplamente
louvada pela imprensa que admirou a sua vasta obra192
e as suas paisagens nuas,
extensas, áridas, monótonas, frias193
.
No verão de 1919, Joaquim Lopes parte, então, para Paris onde frequentará a
Académie de la Grande Chaumière.194
Considero que esta viagem de estudo pode
subdividir-se em quatro estados de ação: ver, conhecer, apr(e)ender e ser. Tal percurso
não é integralmente percorrido em solo francês, mas concluído já em Portugal, onde
todos os conhecimentos se consolidam. No entanto, há uma cadência no processo de
aprendizagem que se inicia com o olhar atento, crítico e seletivo de Joaquim Lopes. Ao
186
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p. 33. 187
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p. 41. 188
FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 15. 189
Joaquim Lopes considera a sua primeira exposição individual em Lisboa o momento mais feliz da sua
carreira. Mestre Joaquim Lopes recorda Columbano e as Missões Estéticas de Férias. Diário do Norte,
Ano VI, Nº 2033, Porto, 22/03/1955. 190
Salgueiro, Mário. Lisboa e o Porto. Porque se desconhecem o povo e os artistas das duas cidades?. O
Século, 19/03/1919. 191
Exposição Joaquim Lopes. Ilustração Portugueza, Nº 684, Lisboa, 31/03/1919. 192
As exposições de Joaquim Lopes e Higino de Mendonça. O Século, 19/03/1919. 193
Vianna, A. A exposição de pintura de Joaquim Lopes. A Opinião, 25/03/1919. 194
Cf. FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 15. e GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de
Belas Artes do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 39.
73
longo da investigação, não tive acesso a muitos escritos do pintor acerca da sua
passagem por Paris. Em todo o caso, nesta dissertação já referi pontualmente os nomes
de alguns artistas franceses que foram considerados verdadeiros mestres pelo pintor
português.195
No excerto transcrito no início deste capítulo, Joaquim Lopes fala
precisamente sobre as duas grandes influências que se manifestavam em Paris, quando o
pintor lá esteve: Ingres196
e Cézanne197
. Numa página do Diário do Norte de 1955, o
artista expressa, ainda, a sua admiração pela obra «Virgem de Alsácia» de Bourdelle.198
FFiigguurraa 22
Título: La Vierge d’Alsace [Virgem da Alsácia].
Autor: Émile Antoine Bourdelle (1861-1929).
Material: Pedra.
Localização da obra: Niederbruck, Alsace, France.
Fonte da imagem: http://www.flickr.com/photos/masevauxtourisme/4454039383/sizes/l/in/photostream/
Sobre o tempo passado no meio parisiense podemos perguntar: O que terá visto
o pintor? Quais as impressões que recebeu da paisagem natural e humana? Quais as
cores que o marcaram? Quais as diferenças que terá detetado entre a realidade
portuguesa e francesa?199
O impacto das viagens, na obra de um artista, é algo que o
195
Rodin, Bartholomé, Puvis de Chavannes, Carrière e Besnard. Cf. Conferências. Na Escola de Belas
Artes do Pôrto. O Primeiro de Janeiro, 07/02/1942. 196
Jean-Auguste Dominique Ingres (1780-1867). 197
Paul Cézanne (1839-1906). 198
Mestre Joaquim Lopes recorda Columbano e as Missões Estéticas de Férias. Diário do Norte, Ano VI,
Nº 2033, Porto, 22/03/1955. 199
«Outro depoimento não seria de esperar de quem chegara a Paris ido de uma cidade cuja vida cultural
desconhecia outros sobressaltos para lá dos provocados pelos «Independentes». » Cf. CASTRO, Laura –
Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 53.
74
investigador indaga, procurando, através de palavras e declarações, escrutinar de que
forma é que um outro país, uma outra cultura agem diretamente no modo de conceber o
seu trabalho. No caso sob análise, é indiscutível que a viagem a Paris, a frequência da
Académie de la Grande Chaumière, os contactos estabelecidos e os locais visitados
terão tido uma importância crucial para o amadurecimento da técnica e da formação
artística de Joaquim Lopes.
Paralelamente aos nomes já mencionados, existem mais referências a artistas
franceses cuja obra é vista como uma possível influência para Joaquim Lopes.200
O
pintor português regista, igualmente, em artigos e entrevistas a sua admiração por
autores como Delacroix201
e por «pintores-escritores» como Maurice Denis202
ou
Jacques-Émile Blanche203
. O artista partilha, ainda, a importância que livros, como
L’Oeuvre (1886) de Émile Zola204
, tiveram para si.205
Elementos como estes ajudam a
definir o papel desta viagem no crescimento de Joaquim Lopes, enquanto artista. Além
disso, abrem porta ao cruzamento do trabalho do pintor português com os exercícios
que alguns destes artistas realizaram – num mesmo tempo e num mesmo espaço –.206
Nesta fase do trabalho privilegiei, efetivamente, os indicadores que poderão
servir de pontos de partida a futuras investigações e que, no contexto desta dissertação,
colocam o leitor numa situação muito semelhante àquela que Joaquim Lopes terá vivido
em Paris. Recém-chegado, o pintor terá sido inundado por nomes de artistas e por obras
que vorazmente desejaria conhecer. Daí que conhecer seja o ponto seguinte deste
capítulo, após um primeiro momento constituído sobretudo por sugestões. A próxima
etapa será menos indagadora e mais assertiva, girando fundamentalmente em torno de
todas as teorias que envolveram os movimentos de transição e de arranque para o século
XX.
200
Berthe Morisot (1841-1895), Henri-Jean-Guillaume Martin (1860-1943), Henri Eugène Augustin Le
Sidaner (1862-1939), Édouard Manet (1832-1883), Oscar-Claude Monet (1840-1926), Georges-Pierre
Seurat (1859-1891). 201
Ferdinand Victor Eugène Delacroix (1798-1863). 202
Maurice Denis (1870-1943). 203
Jacques-Émile Blanche (1861-1942). 204
Émile-Édouard-Charles-Antoine Zola (1840-1902). 205
Cf. Nogueira, Goulart. Mestre Joaquim Lopes fala da Arte. Diário do Norte, Porto, 21/08/1950. e
Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 18/08/1944. 206
Este desafio afasta-se do âmbito deste projeto, pelo que fica sugerido como uma problemática de
interesse que merece ser analisada. Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II,
Dossier de Anexos, pp. 4 a 9.
75
Do Ver para o Conhecer. Do olhar analítico para o espírito que procura saber
mais, que busca formação, que aprende com os outros. Por entre os sistemas doutrinais
e os cânones que regem as práticas, há sempre a individualidade de um caminho que se
faz através de escolhas pessoais – de olhares ponderados –. Parar para observar e sentir
torna-se, por isso, uma etapa tão vital como qualquer outra no processo de construção da
ideia, no processo de definição do trajeto. Só assim se explica a importância de, em
primeiro lugar, olhar a obra, a cor, a linha. Por isso, antes de aprofundar teorias ou de
registar influências, vale a pena apresentar um óleo de Joaquim Lopes, anterior ao ano
de 1919, ou seja, anterior à sua ida a Paris. O trabalho em questão foi selecionado
devido ao uso arrojado que, na minha perspetiva, o pintor fez da cor num suporte de
cartão. Esta obra prova que não é a estada em Paris, por si só, que opera mudanças na
técnica do artista, mas é antes a sua abertura à novidade e a sua busca pela pintura que
admira, que o conduz a incutir, gradualmente, novos valores nos seus exercícios
plásticos. Um caminho de Ver e Conhecer para Experimentar.
FFiigguurraa 33
Título: [Paisagem].
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre cartão.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1917 (canto inferior direito).
Dimensões: 19cm (altura) x 14cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: http://www.cml.pt207
207
Sítio oficial da leiloeira Cabral Moncada Leilões: <http://www.cml.pt>. A obra [Paisagem] esteve
presente no Leilão 107 (Antiguidades e Obras de Arte. Pintura, Pratas e Joias), na Sessão Única de
01/06/2009, com o número de lote 108.
76
4.2 – Viajar para Conhecer.
1919 é um ano chave neste capítulo, pois a viagem do pintor rumo a Paris
servirá de ponto de partida para uma série de discussões que ajudarão a contrapor a
realidade portuguesa com o contexto europeu – nomeadamente com o ambiente francês
–. Estes debates apoiarão igualmente o entendimento das problemáticas relacionadas
com os movimentos artísticos, as teorias que lhes estão subjacentes e, naturalmente, os
valores que os definem. A objetividade dos algarismos, que situam cronologicamente
num mesmo ponto diferentes geografias, não está tão presente quando analisamos
fenómenos culturais. Tomando por base a perspetiva de muitos investigadores que
descrevem o Portugal dos inícios do século XX como um meio de Naturalismo e
Naturalismos208
, resta perguntar, então, «O que era Paris?»209
.
A deslocação a Paris, em 1911, de um grupo de jovens artistas liderado por
Manuel Bentes é descrita por José-Augusto França que reflete precisamente sobre as
dificuldades destes artistas portugueses em conhecerem a cidade e a sua produção
artística atualizada.210
O prolongamento do século XIX211
e do Naturalismo em
Portugal justificam esta incapacidade dos artistas – mesmo dos mais jovens – em
olharem as propostas modernas.212
Cronologicamente, Joaquim Lopes inclui-se nesta
geração que, nascida entre 1881 e 1893, tanto trouxe novas soluções, como optou por
uma via de trabalho naturalista, em defesa dos valores oitocentistas.213
Como pintor, ele
não deixou de se situar neste impasse cultural214
. Sensível como tantos outros artistas
portugueses aos «[…] mitos artísticos da «Natureza» e do «Amor», entre a visão directa
do mundo físico e um vago simbolismo […]»215
, Joaquim Lopes contribuiu também
208
Cf. TAVARES, Cristina de Sousa Azevedo – Naturalismo e naturalismos na pintura portuguesa do
séc. XX e a Sociedade Nacional de Belas-Artes. Dissertação de Doutoramento em História da Arte
apresentada na Faculdade de Ciências Sociais Humanas da Universidade Nova de Lisboa em 1999. 209
Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, 3ª ed. Lisboa: Bertrand
Editora, 1991.p. 31. 210
«[…] num Paris que, na verdade, jamais saberiam o que era, esteticamente […]» Cf. FRANÇA, José-
Augusto – A Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, pp. 30 e 31. 211
«Os exemplos sobejam, triste, mesquinha e estupidamente, e, com eles, o século XIX […] espraia-se,
esvai-se, estrebucha – mas perdura na mentalidade portuguesa sob um outro que dificilmente se define e
numera, e cujo início se não determina.» Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século
XX: 1911-1961, p. 515. 212
Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, p. 31. 213
Ibidem, pp. 151 e 152. 214
«[…] ao mesmo tempo, novecentista e oitocentista, em neutralização permanente, até que seja possível
sair do impasse; […]». Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, p.
516. 215
Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, p. 31.
77
com a novidade, por exemplo, trabalhando a luz – em Portugal, «jamais entendida
picturalmente»216
–.
«A influência de Paris prolongava-se inevitavelmente na vida artística
nacional, como lugar onde se recebia mais inspiração do que lições, pois, desde
o romantismo, a aprendizagem fora secundária e sobretudo aproximativa, em
desfasamento cronológico. Agora, com a individualização crescente das
relações, não se tratava de aprender uma «escola», mas de entender um ritmo
cultural […]»217
O excerto anterior retrata com clareza o que era Paris para os jovens artistas
portugueses. Uma cidade que fica como a promessa de algo que nunca chega a
concretizar-se.218
A saudade219
de uma liberdade que os artistas portugueses não
rejeitavam, mas também não conquistavam.220
Paris era, assim, como um sonho
impossível, uma realidade temporária.221
Em todo o caso, algumas das aprendizagens
colhidas no meio parisiense eram já trazidas para Portugal, propondo uma cisão, ainda
que tímida, com o passado nacional, uma rutura – ainda que receosa – com a tradição
retrógrada e muda. Porém, a abolição da «lei do eterno recomeço»222
só em meados da
centúria é que se tornará uma realidade.223
A libertação de uma condição
«provinciana»224
. A passagem do «campo» para a «cidade».225
Conquistas que
percorreram gerações e que foram conhecendo o tempo pelo lado de fora.226
216
«[…] a incapacidade de uma cultura presa à tradição portuguesa oitocentista no que respeita ao uso da
luz, jamais entendida picturalmente». Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX:
1911-1961, p. 519. 217
Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, p. 520. 218
«Cerca de 1910, Paris adquiria uma nova importância aos olhos dos jovens pintores portugueses […]
outros horizontes em que entravam, de maneira assaz confusa, novidades estéticas de que, em Lisboa ou
no Porto, recebiam apenas pálidos ecos. […] tímidos e não se sentindo preparados para as aventuras de
um meio que nada tinha a ver com o seu, cujas diferenças eram mais de natureza que de grau, viam-se
desamparados e não ousavam arredar-se dos caminhos batidos.» Cf. FRANÇA, José-Augusto – A arte e a
sociedade portuguesa no século XX: 1910 a 1980. 2ª ed. Lisboa: Livros Horizonte, 1980, pp. 11 e 12. 219
Cf. Méds, H. Saudades das violetas. Povo de Gaia, 20/12/1914. Texto escrito em Paris, em 1913, e
dirigido aos artistas Joaquim Lopes e Henrique Moreira. Este artigo evoca memórias e lembranças,
retratando a realidade parisiense. 220
«[…] uma abulia de quem foi capaz de ser «original uma só vez, que é a inevitável», e, depois, de
«viver parasita de si mesmo», […] amante da artificialidade do progresso, não reagindo contra ele como
um «campónio», mas também não o admitindo naturalmente como um «citadino», e antes amando-o por
ser novidade, moda, produto ou efeito de grande cidade…» Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em
Portugal no século XX: 1911-1961, p. 520. 221
«[…] o tempo teria de contar mais do que o espaço – fosse este português e real, ou parisiense e
mítico.» Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, p. 525. 222
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Da Pintura Portuguesa. Lisboa: Edições Atica, imp. 1990, pp. 31 a 35. 223
«[…] assim escapavam a uma «lei do eterno recomeço», fatalidade da cultura nacional, verificava-se
não já uma importação de valores em sentido único, mas um acordo dialogal – e, mesmo, nos casos mais
notáveis e raros, uma exportação. Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX:
1911-1961, p. 526. 224
Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, p. 527.
78
«[…] três gerações se sucederam, uma propondo, outra digerindo e esquivando-
se, a terceira voltando a propor.»227
. Joaquim Lopes integra-se na linhagem de artistas
que sobretudo propõem, mas trazendo de Paris sugestões que individualmente foi
digerindo com o fim de abandonar algumas – que o país, talvez, não fosse capaz de
aceitar228
– e de interiorizar outras, assumindo-as como soluções plásticas fixas e
características da sua pintura. No entanto, os seus contributos nem sempre são
reconhecidos. A propósito de modernistas como Cristiano Cruz ou Almada
Negreiros229
, José-Augusto França escreve as seguintes palavras.
«Mas não entenderiam também as mutações os contemporâneos de uns
e de outros que foram a Paris pela mesma altura – o Miguéis ou o Franco, dos
Cinco Independentes, um Heitor Cramês, um Joaquim Lopes, mais tímidos ou
mais ousados de cor, fechados em carreiras nacionais.»230
A classificação dos artistas portugueses ativos nestas cronologias viveu e vive
essencialmente da comparação entre a produção plástica que cada um realizou. Estes
confrontos conduzem, muitas vezes, à construção de juízos de valor sobre a qualidade
do trabalho de cada artista e sobre o maior ou menor contributo que cada um deu para a
evolução da arte nacional – seja qual for o significado deste conceito de evolução –.Tal
é, quanto a mim, um ponto de partida prejudicial para o aprofundamento, sem
preconceitos, destas problemáticas.231
Neste sentido, este é um dos principais aspetos
que pretendo tocar com este exercício de reflexão. O trecho citado apresenta aquilo que
225
«[…] ou entre o «campo» que o simbolismo oitocentista representava ainda nos primeiros anos 10 e a
«cidade» que, ao princípio dos anos 60, se pôde começar a merecer…» Cf. FRANÇA, José-Augusto – A
Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, p. 528. 226
«De geração em geração, Portugal novecentista tinha conhecido o tempo pelo lado de fora.» Cf.
FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, p. 525. 227
Cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XX: 1911-1961, p. 530. 228
«A evolução do gosto público era lenta e difícil, ou impossível […]» Cf. FRANÇA, José-Augusto –
Os anos vinte em Portugal: estudos de factos sócio-culturais. Lisboa: Presença, 1992, p. 150. 229
Cristiano Cruz ou Almada Negreiros representaram, neste contexto, uma das secções do triângulo
representativo da vida espiritual de que Kandinsky nos fala. «Em todas as secções do triângulo, podem-se
descobrir artistas. Aquele que consegue olhar para além dos limites da sua secção é um profeta para os
que o rodeiam. Ele ajuda a empurrar a carroça recalcitrante.» KANDINSKY, Wassily – Do Espiritual na
Arte. 8ª ed. Alfragide: D. Quixote, fevereiro de 2010, p. 30. 230
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Os anos vinte em Portugal: estudos de factos sócio-culturais, p. 154. 231
«Dizia eu que muito gostei de algumas «paisagens» de Joaquim Lopes – pintadas num retardado
«impressionismo» … – de que dantes não gostava! Indagando do que haveria mudado, concluí que agora
as estava apreciando desinteressadamente de quaisquer preconcebidas implicações sociológicas; enquanto
dantes, quando ele as pintava ao mesmo tempo que nós nos expressávamos abstractamente, me sentia
condicionado nesse apreço pela sensação de que ele estava «atrasado», desinserido dum clima social
condicionante.
Ora, aquela minha noção de «atraso» – que o tempo desvaneceu – atribuo hoje à condição peculiar de
relativa informação universalista do autor […] penso que aquelas «paisagens» «melhoraram» com a
informação que estes anos de distância me deram. Porque as obras são as mesmas!» Cf. Rocha, Arlindo.
Joaquim Lopes – a obra e o apreciador. O Primeiro de Janeiro, 31/05/1978 (quarta-feira).
79
são dados factuais incontestáveis, mas que lamentavelmente colocam os artistas
«fechados em carreiras nacionais» numa situação ingrata, levando muitos autores a
considerá-los, por isso, menos interessantes para a narração da História da Arte
Portuguesa.232
A combinação de valores modernos e naturalistas deverá, assim, ser vista como
uma solução da arte portuguesa, fruto de uma dada conjuntura – já esboçada neste
subcapítulo – e que merece ser estudada na sua dimensão artística233
e, também,
sociológica234
. Os salões nacionais mais afamados – porque acolhiam grande parte das
exposições da época – são um barómetro do gosto artístico vigente.235
A paisagem e a
pintura de género são as tipologias mais comuns e confirmam o prolongamento da
estética oitocentista em solo português.236
Todavia, vale a pena olhar as obras e perceber
como cada artista, tomando por base temáticas de agrado geral, inovava e se exprimia
com linguagens, por vezes, já mais vanguardistas e conscientes da atualidade ou, pelo
menos, já mais integradas no idioma plástico do século XX.237
O atraso em relação à
arte europeia e a tendência em nacionalizar todas as formas de expressão conduziam a
uma «mistura de valores» que era mesmo promovida e admitida.238
A própria imprensa
– como tem vindo a ficar claro ao longo deste trabalho – espelhava esta inclinação para
o propagar de modas.
A morte dos Naturalismos poderá ter ocorrido cerca de 1920239
, a década que
recebe alguns dos artistas portugueses que, durante 1919, viajaram por terras francesas.
Estes dois acontecimentos não coincidiram no tempo por mero acaso. A geração que na
década de 1910 visita Paris, regressa com novas ideias e luzes que, embora já
232
«[…] o valor real e proporcional de várias artes nacionais que lhe aparecem [ao historiador]
marginalmente, sem dúvida por vício de informação mas também porque elas (e os seus artistas) têm
apenas, historicamente valor local, mesmo que outro pudessem merecer ou ambicionar.» Cf. FRANÇA,
José-Augusto – História da Arte Ocidental: 1780-1980. Lisboa: Livros Horizonte, 1987, p. 8. 233
«Mas agora isso mesmo nos permite apreciar melhor a combinação dos valores em causa, quer do lado
moderno quer do lado naturalista.» Cf. FRANÇA, José-Augusto – Os anos vinte em Portugal: estudos de
factos sócio-culturais, p. 378. 234
«As nações têm de justificar no tempo a sua existência. Negarem-se a ele, ignorá-lo, não o entender,
são formas de não existir.» Cf. FRANÇA, José-Augusto – Da Pintura Portuguesa, p. 25. 235
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Os anos vinte em Portugal: estudos de factos sócio-culturais, p. 379. 236
Ibidem, p. 380. 237
«Essas raízes [das grandes Artes nacionais] é preciso descobrir de onde vêm e onde estão cravadas;
isto é, é preciso aprofundar bem quem somos, esclarecer a nossa cultura e estudar afincadamente os
nossos Artistas tanto modernos como antigos. Só então deixaremos de ser provincianos deslumbrados por
Paris.» Cf. Alves, João. Portugal e a Pintura Europeia. Lusíada. Revista Ilustrada de Cultura. Vol. 3, Nº
12, maio de 1960, p. 389. 238
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Os anos vinte em Portugal: estudos de factos sócio-culturais, p. 383. 239
Ibidem, p. 390.
80
ultrapassadas em França, permitiram ao meio português romper com as tão prezadas
práticas naturalistas. A luz, que até esse momento se definia «picturalmente em termos
naturalistas sem tratamento ou desejo impressionista»240
, passará precisamente a ser
uma luz mais plástica, isto é, mais estimuladora de efeitos cromáticos e de certo modo
mais leve, animada e intuitiva.241
Este é, em todo o caso e ainda, um período de indefinição – «Os anos 20
aparecem-nos ali «um pouco (ou muito) difusos», em baixa-tensão, ténues e esgarçados,
sem continuidade discursiva, sem consistência própria, sem força criativa […].»242
–. O
rompimento com os ideais naturalistas não é sinónimo de uma recuperação do atraso
artístico que Portugal apresentava face a outros países.243
Daí que a análise de artistas e
obras desta época tenha de reger-se por valores próprios, autónomos daqueles que
orientam as soluções plásticas europeias, independentes de artista para artista. O
percurso isolado que Portugal seguiu fez com que o seu meio artístico se pautasse por
uma forte individualidade.244
Neste sentido, a produção plástica de cada artista tem um
cunho muito pessoal, que importa ter em conta e compreender à luz do caminho trilhado
por cada um.245
Só assim poderemos analisar tais trabalhos. Só assim poderemos
contextualizá-los.246
240
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Os anos vinte em Portugal: estudos de factos sócio-culturais, p. 391. 241
«Pode-se entender o Impressionismo e os seus precursores como o começo de um movimento de
libertação. Foi essa a grande época de preparação para a procura da única realidade – a luz.» Cf. HESS,
Walter – Documentos para a compreensão da pintura moderna, p. 126. 242
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Os anos vinte em Portugal: estudos de factos sócio-culturais, p. 472. 243
«De qualquer modo, Portugal perdeu, nesses anos que são atravessados pelos novos expressos da
civilização, o comboio da história […]» Cf. FRANÇA, José-Augusto – Os anos vinte em Portugal:
estudos de factos sócio-culturais, p. 472. 244
«[…] a sociedade portuguesa [desta] época onde os profundos e nunca alterados constrangimentos
culturais em nada estimulavam a inovação. […] os percursos interrompidos, a involução de energias
iniciais, o sentido periférico e provinciano dos Salões portugueses, progressivamente mais fechados e
ignorantes das rupturas internacionais que se acentuaram a partir da última década do século.» Cf.
SILVA, Raquel Henriques da – Romantismo e Pré-naturalismo. In HISTÓRIA da Arte Portuguesa.
Lisboa: Temas e Debates, 1995-1999, vol. 3, p. 338. 245
«[…] estabelecer genealogias que, em aparelhos cronológicos tão rigorosos quanto possível, permitam
observar a dinâmica das correntes estéticas, em jogos reais de exportação e importação – ou seja (e é
termo e conceito abundantemente usado) as influências. Mesmo que esta sejam sempre, nos casos mais
importantes filtradas e combinadas com valores culturais (gostos, tendências, necessidades) autóctonos.»
Cf. FRANÇA, José-Augusto – História da Arte Ocidental: 1780-1980, p. 8. 246
«Mas as outras [fontes de informação sobre a produção artística], de países marginais, […] fazem
entender as suas vozes em longuras de onda nacionais (como é o caso da arte portuguesa, sempre mal
tratada em panoramas gerais) como escutá-las e, nas voltas das bibliografias por demais nacionais […]
como acreditá-las na qualidade que legitimamente apresentem, ou numa sempre possível, embora rara,
originalidade, que, sem projeção, não tem função nem categoria históricas?
A solução, ou as soluções, são necessariamente empíricas, na impossibilidade prática de levar tal
informação a um máximo divisor comum […]» Cf. FRANÇA, José-Augusto – História da Arte
Ocidental: 1780-1980, p. 8.
81
Deste modo, Joaquim Lopes aparece, muitas vezes, como um conciliador de
uma série de movimentos e propostas que marcaram a Europa, na passagem do século
XIX para o século XX.247
Ele parece ter algo de Courbet248
no retrato dos costumes
rurais, no olhar sobre os camponeses e na captação das paisagens, partilhando, ainda,
com o artista francês os ideais republicanos.249
Como alguns jornais ajuizavam – e foi
exposto num outro capítulo desta dissertação –, no início do seu percurso artístico, o
pintor português tem igualmente certas afinidades com Millet, sobretudo no registo dos
trabalhos no campo250
, ainda que numa proposta convictamente naturalista. Da mesma
forma que Corot251
, também Joaquim Lopes preparou Portugal para uma «nova
aproximação da natureza […] dando um sentido original à relação luz-atmosfera»252
que, neste caso, não antevia o Impressionismo – como anteviu Corot –, pois era já o
Impressionismo amadurecido, e até ultrapassado, que ele trazia como autêntica
novidade para o seu país.
O parágrafo anterior demonstra como o artista português terá percorrido, através
da sua pintura, diversas referências que, afinal, ainda apresentavam uma linguagem
bastante em voga em Portugal. «Os pintores de Barbizon faleceram pelos anos 60 e 70
[1860 e 1870], como os dois principais para a definição das preocupações espirituais ou
naturalistas da «escola» – Rousseau e Daubigny.»253
Se em França, a segunda metade
do século XIX já enterrava os seus expoentes naturalistas e se preparava para abraçar os
anúncios impressionistas254
, é sabido que em Portugal os ritmos pulsaram de uma outra
forma, pelo que acredito que Joaquim Lopes não recupera, nem pretende recuperar o
atraso estilístico em que o país vivia – até porque, talvez, não tivesse plena consciência
dessa desatualização –, mas procura sim fazer uma síntese que o conduz até ao
Impressionismo e a outras práticas posteriores.
247
«Porque, na devida altura, os pintores das gerações anteriores não acertaram com o seu tempo, tem um
pintor novo de fazer o trabalho deles, e não chega a fazer o próprio.» Cf. FRANÇA, José-Augusto – Da
Pintura Portuguesa, p. 32. 248
Jean Désiré Gustave Courbet (1819-1877). 249
Cf. FRANÇA, José-Augusto – História da Arte Ocidental: 1780-1980, p. 121. 250
Ibidem, p. 124. 251
Jean-Baptiste-Camille Corot (1796-1875). 252
Cf. FRANÇA, José-Augusto – História da Arte Ocidental: 1780-1980, p. 124. 253
Ibidem, p. 127. 254
«Tal como a técnica de justaposição de manchas de cor virguladas na «Paisagem da floresta de
Fontainebleau» (1860, Valenciennes), que ensinou a Monet e a Sisley, vindos a Barbizon, um
«impressionismo» ali se anunciava» Cf. FRANÇA, José-Augusto – História da Arte Ocidental: 1780-
1980, p. 127.
82
Em todo o caso, mesmo o Naturalismo – ou, no caso português, os Naturalismos
– já antevia e incluía em si algumas sugestões inovadoras como provam as manchas de
cor mais livres255
e, assim, mais abstratas256
e os trabalhos mais expressivos que aplicam
a matéria de um modo pastoso.257
O Impressionismo adivinhava-se a cada novo efeito.
Ele trará, sobretudo, o olhar sobre o movimento258
, a sensibilidade face à passagem do
Tempo.259
Durante vários anos, este será o problema central em torno do qual girarão
diversas correntes estéticas. A partir desta etapa, a arte perde crescentemente a norma e
a possibilidade de ser prevista. O processo, mais do que o fim, ganhará, gradualmente,
importância para o artista e para o espetador. O ato de procurar ou de investigar será o
elemento que dará sentido à obra.
Estes valores fizeram-me incluir, sem muitas reticências, Joaquim Lopes nesta
lógica de olhar o processo artístico e não neste movimento propriamente dito. Será
impossível filiá-lo em qualquer corrente estética, uma vez que a definição de um dado
movimento na Europa, grosso modo, não é equivalente à forma como ele se manifestou
em Portugal. Neste sentido, o Impressionismo serve de base260
para ligar a sua obra com
alguma tendência estilística, apenas para, assim, existir um suporte sobre o qual poderei
realizar muitas outras considerações e voos. Além disso, alguns dos fundamentos que
originam o Impressionismo261
partilham, na verdade, afinidades com princípios que
encontramos na pintura de Joaquim Lopes. De todo em todo, as inquietações que
povoaram o despontar do século XX foram múltiplas e relacionadas entre si, daí que
classificar um artista seja um processo demasiado complexo e, até mesmo, redutor.262
255
«Yesterday’s taste for smooth surfaces was the outward sign of an aspiration to order and
impersonality, today’s taste for rough ones that of an aspiration to freedom and singularity.» Cf.
SYLVESTER, David – About Modern Art. Critical Essays 1948-2000. London: Pimlico, 2002, p. 49. 256
Cf. FRANÇA, José-Augusto – História da Arte Ocidental: 1780-1980, p. 128. 257
Ibidem, p. 129. 258
«No impressionismo, justamente, o peso [da cor] está ausente: é a imponderabilidade que reina ali,
juntamente com a diafaneidade. [...] a cor não existe, foge, recusa-se, toma como disfarce as águas, o céu,
o próprio ar.» Cf. FRANÇA, José-Augusto – Situação da pintura ocidental. Lisboa: Edições Atica, imp.
1958, p. 14. 259
Cf. FRANÇA, José-Augusto – História da Arte Ocidental: 1780-1980, p. 139. 260
«Loin de voir dans l’Impressionnisme un «mouvemente» de courte durée, j’y vois donc le point de
départ d’une enquête qui, à travers les jeux capricieux de la mode et les compromis nécessaires avec la
tradition, se poursuit encore sous nos yeux.» Cf. FRANCASTEL, Pierre – Art et technique aux XIXe et
XXe siècles. [S. l.]: Denoel/Gonthier, imp. 1975, p. 126. 261
Cf. algumas informações acerca do contexto em que nasce o Impressionismo. FRANÇA, José-
Augusto – História da Arte Ocidental: 1780-1980, p. 143. 262
«A vital tendência do homem para a unidade e o desesperado esforço do espírito humano para a
simplificação levam a generalidade das pessoas, mesmo iniciadas ou competentes, a falar das Artes e da
Pintura em particular de modo dedutivo, através das ideias que têm procurado sistematizar as
83
Neste sentido, tendo como alicerce a prática impressionista, procurarei seguir
todas as suas mutações enquanto encontrar aí «consequências plásticas»263
para a obra
de Joaquim Lopes. Sem preconceito ou receio de o associar a movimentos de
vanguarda, tenho, contudo, consciência que deles o artista terá sempre feito uma
interpretação pessoal e um uso adaptado à realidade e à liberdade nacionais. A
passagem do pintor por diferentes correntes estéticas é uma realidade e um facto comum
a grande parte dos artistas, sobretudo àqueles que, de forma crítica, reveem
constantemente a sua obra. A propósito desta ideia, vale a pena citar o exemplo de
Cézanne.
«A imagem histórica de Cézanne fixou-se assim através de Denis, e, a
um «período impressionista», de 1872 a 77 […], viu-se suceder um «período
construtivo», até 1887, e, a seguir, um «período sintético» […], quando, na
realidade da experiência pictórica em questão, impressão, construção e síntese a
todo o momento estão presentes […]»264
O trajeto de Cézanne esteve em permanente transformação, fruto de uma revisão
contínua dos seus paradigmas. Neste sentido, mais útil do que o inserir num ou noutro
movimento265
é, efetivamente, explorar a diversidade que pautou o seu caminho. Tal é o
que defendo com a apresentação da pluralidade estilística em Joaquim Lopes, abrindo
espaço para diferentes interpretações e leituras, pois julgo ser este um dos pontos fortes
do seu trabalho. A minha proposta metodológica baseia-se, assim, na análise da pintura
pelo que ela é em si266
, aceitando a perspetiva de João Alves de que «A Arte é o
conjunto das obras materiais que a representam e não das teorias ou doutrinas que a
explicam.»267
. No entanto, o olhar sobre a obra terá, necessariamente, de ser crítico e
informado, sob pena de não sermos capazes de destrinçar os valores plásticos com os
quais nos deparamos. Além disso, a ideia de rever uma produção artística – mesmo que
já amplamente analisada – não é vazia de sentido, se tivermos em conta que um
manifestações da Arte e dar-lhes sentido.» Cf. Alves, João. Portugal e a Pintura Europeia. Lusíada.
Revista Ilustrada de Cultura. Vol. 3, Nº 12, maio de 1960, p. 381. 263
Cf. SILVA, Raquel Henriques da – Romantismo e Pré-naturalismo. In HISTÓRIA da Arte Portuguesa,
p. 337. 264
Cf. FRANÇA, José-Augusto – História da Arte Ocidental: 1780-1980, p. 200. 265
«[…] a tendência para de imediato colocar nesta novidade, neste desconhecido, [neste artista] uma
etiqueta que o vai matar.» Cf. KANDINSKY, Wassily – Gramática da Criação. Lisboa : Edições 70,
fevereiro de 2008, p. 38. 266
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Situação da pintura ocidental, p. 37. 267
Alves, João. Portugal e a Pintura Europeia. Lusíada. Revista Ilustrada de Cultura. Vol. 3, Nº 12, maio
de 1960, p. 381.
84
exercício plástico é um objeto de conhecimento e, como tal, um elemento em
transformação, pelo menos na sua faceta imaterial.
O não incremento de espírito crítico junto do público268
, e mesmo dos estudiosos
destas matérias, poderá ter contribuído para o atraso estilístico em que viveu o país,
durante vários anos. A inexistência de uma apreciação atenta do panorama nacional terá
incentivado os artistas a propagarem soluções plásticas sem novidade através da mera
aplicação de uma determinada receita que alimentava o gosto geral, mesmo o da dita
crítica.269
Atualmente, parece-me importante, da mesma forma, olhar o artista e a obra
não só de uma perspetiva histórica – num sentido narrativo –, mas também observá-la
de um ponto de vista mais individualizado, sensível ao que ela nos diz, despreocupado
em relação a movimentos e tendências técnicas.270
«Chegou-se ao extremo limite da relação mundo-pintura. Ir mais além,
ultrapassar esse limite, é andar já para fora de relação: passar para o lado do mundo sem
pintura – ou para o lado da pintura sem mundo.»271
Foi neste sentido que o primeiro
passo impressionista foi dado. Um movimento que não funcionou como movimento.272
Uma plástica que não copiou, mas sugeriu.273
Uma pintura pela pintura. O corte desta
corrente com certos paradigmas do passado274
não foi – nem podia ainda ser – total275
,
mas a sua estética foi seguramente nova – «[…] on se trouve en présence non pas d’une
catégorie de l’esprit mais d’un «montage» esthétique.»276
–. Ela não é sensação, é
impressão.277
Ela não é realidade, mas aparência.278
Ela é uma estética, ainda que em
268
«[…] uma massa inerte de público, sem hábitos de ver e, por isso mesmo, sem cultura artística.» Cf.
FRANÇA, José-Augusto – Da Pintura Portuguesa, p. 20. 269
«Uma das aflições da vida artística portuguesa é a falta total de crítica de arte.» Cf. FRANÇA, José-
Augusto – Da Pintura Portuguesa, p. 19. 270
«O crítico de arte ideal seria pois […] aquele que tenta sentir o modo como esta ou aquela forma actua
e que depois comunicasse ao público as suas conclusões.» Cf. KANDINSKY, Wassily – Gramática da
Criação, p. 24. 271
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Situação da pintura ocidental, p. 14. 272
«Nunca os artistas impressionistas proclamaram implícita ou explicitamente a sua fé numa doutrina
comum: […] encontramo-los separados […]. O seu primeiro dogma é, evidentemente, a independência.»
Cf. FRANCASTEL, Pierre – O Impressionismo. Lisboa: Edições 70, 1988, pp. 12 e 13. 273
«O impressionismo nunca aspirou ser uma reprodução servil do mundo exterior; sempre pretendeu
sugerir.» Cf. FRANCASTEL, Pierre – O Impressionismo, p. 42. 274
«A ruptura realizada pelos impressionistas, por exemplo, foi de certa forma traumática, visto que o
movimento levou muitos anos para ser aceito pelo grande público, e mesmo pela maioria dos críticos e
artistas.» Cf. ZAMBONI, Silvio – A Pesquisa em Arte. Um paralelo entre Arte e Ciência. 2ª ed.
Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2001, p. 36. 275
Cf. FRANCASTEL, Pierre – Art et technique aux XIXe et XXe siècles, p. 125. 276
Ibidem, pp. 9 e 10. 277
«Sensação, neste sentido, é o contrário de impressão: à lentidão com que aquela se perfaz opõe-se à
rapidez desta, o seu caráter fugidio.» Cf. FRANÇA, José-Augusto – Situação da pintura ocidental, p. 13.
85
construção: «un montage». Assim, a obra vale por aquilo que sugere. O pintor vale por
aquilo que tem a sugerir. Não é a descoberta que o artista valoriza, mas sim a procura.
Daí que os trabalhos deste período devam, igualmente, ser lidos sob este ângulo. A
ousadia, em muitos destes autores, não está no que realizam, mas no que esboçam.279
A
indecisão, a hesitação e o recuo são passos que plasticamente refletem o artista pensante
em diálogo com a obra. Uma pintura que questiona é, quanto a mim, a grande conquista
destes impulsionadores modernos.
O impressionismo assume o uso da luz280
como uma técnica281
, mas o primeiro
elemento que analisa é o espaço transformando-o numa «não-forma»282
. Neste sentido,
ele balançará, na sua análise, a luz e a forma, a cor e a linha, Monet e Cézanne.283
Das
impressões sensoriais de um Degas284
, às impressões construtivas de um Renoir285
, as
propostas impressionistas apresentam aqueles que viriam a ser os dois rumos da
produção artística do século XX286
, grosso modo.287
Por um lado, as vanguardas trarão a
liberdade intuitiva, o acaso, a expressão individual; por outro lado serão capazes de
racionalizar a estrutura da obra, pensá-la arquitetonicamente, renovar a conceção de
forma, volume e espaço288
. Uma certa espiritualidade parece unir estes dois caminhos.
Uma espiritualidade que talvez seja a herança mais perdurável do Impressionismo.
278
VENTURI, Lionello – Para compreender a pintura: de Giotto a Chagall. Lisboa: Editorial Estúdios
Cor, 1968, p. 156. 279
«Vemo-lo [a Manet] mais como um realizador do que como um inovador – o que não o diminui como
pintor, se entendermos que o valor de uma obra de arte não se mede apenas pela sua ousadia e
originalidade, mas pelo conjunto dos seus méritos e pelo equilíbrio harmonioso das suas múltiplas
qualidades.» Cf. FRANCASTEL, Pierre – O Impressionismo, p. 34. 280
«[…] in their theories [in Impressionists’ theories] they imagined that the subjetive phenomena they
were painting were the objetive behavior of light and spoke of light as the unifying element in
experience.» Cf. SYLVESTER, David – About Modern Art. Critical Essays 1948-2000, p. 93. 281
«A luz deixou de ser apenas mais um elemento da realidade para se tornar um princípio de estilo. O
impressionismo nascera.» Cf. VENTURI, Lionello – Para compreender a pintura: de Giotto a Chagall,
p. 156. 282
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Situação da pintura ocidental, pp. 60 e 61. 283
«[…] se o impressionismo esteve ligado à elaboração de quatro grandes noções: a luz, a cor, a forma e
movimento, ficou numa situação de impasse em dois domínios. Monet e Degas perseguiram quimeras e
os verdadeiros construtores da nova ordem foram Cézanne e Renoir.» Cf. FRANCASTEL, Pierre – O
Impressionismo, p. 93. 284
Edgar Hilaire Germain Degas (1834-1917). 285
Pierre-Auguste Renoir (1841-1919). 286
«Cézanne, o «divisionista» Seurat e o «simbolista» Gauguin são considerados como os precursores da
pintura abstracta em França.» Cf. VENTURI, Lionello – História da Crítica de Arte. Lisboa: Edições 70,
2007, p. 271. 287
«Impressionism is the great divide. In a sense there is a larger gulf between Courbet and Monet […]»
Cf. SYLVESTER, David – About Modern Art. Critical Essays 1948-2000, p. 128. 288
Noções como as de «espaço-forma» ou «espaço ambíguo» decorrerão destas primeiras experiências
impressionistas. No entanto – e apesar de julgar a abordagem de tais conceitos pertinente no contexto das
cronologias e problemáticas tratadas neste trabalho –, não irei explorar estas noções por elas merecerem
86
O presente subcapítulo deteve-se na segunda etapa da viagem de Joaquim Lopes
a Paris – a etapa do conhecimento –. Não tendo acesso àquilo que o pintor terá estudado
em solo francês, neste ponto do trabalho procurei expor aquilo que, neste momento, é
referido em estudos e reflexões acerca dos ritmos artísticos destas cronologias, neste
caso, balizadas geograficamente entre Portugal e França. Os contextos e as teorias não
pretendem ser um fim, mas um mote para a análise mais visual a que o próximo
subcapítulo convida. Dos conceitos e das noções técnicas e estéticas, o pintor terá
passado à aplicação prática dos mesmos. Após a aprendizagem em Paris, o artista terá
encontrado em Portugal o espaço para interiorizar todas as novidades recolhidas,
iniciando a terceira fase da sua viagem – a fase da apreensão dos saberes obtidos –.
Paralelamente ao espólio de exercícios parisienses do pintor em posse do Museu
da FBAUP289
e de uma aguarela pertencente ao Museu Grão Vasco290
, cruzei-me com
um desenho – disponível num catálogo online da Leiloeira Côrte Real – que optei por
apresentar pela graça e delicadeza reveladas no tratamento da linha.
uma explanação prévia profunda que me afastaria das verdadeiras finalidades desta dissertação. Para
aprofundar tais conceitos Cf. FRANÇA, José-Augusto – Situação da pintura ocidental, pp. 64 e 65. 289
O Museu da FBAUP deterá no seu acervo cerca de três desenhos da autoria do artista e executados em
Paris. Dois destes trabalhos – Modelo nu feminino sentado (FBAUP Nº inv 98. DES. 97) e Modelo nu
feminino sentado (FBAUP nº INV. 98.des.98) – estiveram presentes na Exposição «5 Séculos de Desenho
na Coleção da Faculdade de Belas Artes» no Núcleo do Museu Nacional de Soares dos Reis. 290
Retrato de Mulher (N.º de Inventário: 2626).
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=207932. 15-06-
2012 23:33.
87
FFiigguurraa 44
Título: Nu.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Desenho duplo sobre papel.
Assinatura e Data: Assinado e datado de Paris, 1919 (canto inferior esquerdo).
Dimensões: 29,5cm (altura) x 22,5cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: http://www.leiloeiracortereal.pt291
Este trabalho poderá não ser o mais ilustrativo dos conhecimentos colhidos por
Joaquim Lopes em Paris – nomeadamente da formação recebida na Académie de la
Grande Chaumière, pois neste exercício não encontramos o registo rápido, nem a
procura da captação do instante –, em todo o caso, a sua simplicidade tem algo de
cativante. A perna que se cruza e quase se sobrepõe ao outro membro inferior cria um
ritmo que é, quanto a mim, o tema deste exercício. O rosto da figura feminina é anulado,
uma vez que não é o elemento sob exame. A anatomia – as suas linhas e as suas
cadências – é o que o pintor deseja verdadeiramente explorar neste estudo que
discretamente guarda em si importantes considerações. Este não é já o desenho
académico do aluno, mas a reflexão esboçada do pintor que segue viagem. Um caminho
de Conhecer e Apreender para Pintar.
291
Sítio oficial da Leiloeira Côrte Real, Lda: <http://www.leiloeiracortereal.pt>. A obra «Nu» teve o
número de lote 701.
88
4.3 – Viajar para Apre(e)nder.
Em novembro de 1919, já regressado de Paris, Joaquim Lopes expõe
coletivamente no 2º Grande Certame de Arte292
, onde a única notícia de jornal, que
refere o evento, fala sumariamente sobre a destreza técnica do pintor.293
Será necessário
aguardar por maio de 1920, para encontrarmos descrições mais alongadas sobre os
trabalhos que o artista exibe na IV Exposição de Pintura de Joaquim Lopes294
. A
imprensa considera que a mostra apresenta os progressos do pintor e que algumas das
suas paisagens assumem uma luz e cor líricas.295
A Pátria afirma mesmo que «O
contraste entre as telas mais antigas [do artista] e as de caráter mais moderno, é
flagrante.»296
, adiantando que o que marcou a exposição foi a feição moderna que a arte
do pintor vai tomando com sinceridade, honestidade e prudência297
. O periódico
acrescenta que, em algumas telas e efeitos, a sua pincelada parece «Quasi-cubismo»298
.
O catálogo da exposição individual de Joaquim Lopes de 1920 abre com o
poema Elogio da Pintura de Narciso d’Azevedo299
, que alude – não inocentemente – às
lições de sombra e luz de um mestre colorista300
. Lições espalhadas um pouco por cada
tela de Joaquim Lopes, mas mais espelhadas nas Impressões de Paris – nas visões
registadas dos Monumentos do Jardim de Luxemburgo e do Jardim do Carroussel – e
nas aguarelas correspondentes a estudos da Académie de la Grande Chaumière.301
Os
valores impressionistas aplicados quer pela sua razão estética, quer pela sua faceta
técnica302
parecem, efetivamente, ser aqueles que mais claramente o pintor denuncia nas
suas obras, pelo menos neste período muito próximo do seu regresso de Paris.
No entanto, a tal proposta quase-cubista, anteriormente referida, denota já a
sensibilidade do artista para outras questões sobre as quais terá igualmente refletido em
terras parisienses. Para compreender tais problemáticas, teremos de reter algumas ideias
292
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p. 34. 293
Cf. Grande certame de arte II. Comércio do Porto, 23/11/1919. 294
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 33 e 41. 295
Cf. Quadros de Joaquim Lopes. Comércio do Porto, 09/05/1920. 296
Cf. A exposição de pintura de Joaquim Lopes. A Pátria, 29/05/1920. 297
Ibidem. 298
Ibidem. 299
Transcrição de uma das estrofes que compõe o poema - «Pintar é eternizar fugaz momento, // ’
erguer aos Deuses com deslumbramento // A vida num ritual de Forma e Côr.» Elogio da Pintura,
Narciso d’Azevedo. Cf. IV EXPOSIÇÃO de Pintura de Joaquim Lopes. [Catálogo] Porto: [s. n.], maio de
1920. 300
«Ao ar livre o bom mestre colorista, // Philosopho tirando a epicurista, // Dá as suas lições de sombra e
luz.» Cf. IV EXPOSIÇÃO de Pintura de Joaquim Lopes. [Catálogo]. 301
Cf. IV EXPOSIÇÃO de Pintura de Joaquim Lopes. [Catálogo]. 302
Cf. FRANÇA, José-Augusto – História da Arte Ocidental: 1780-1980, p. 156.
89
acerca de Cézanne. O artista francês tornará a natureza num «pretexto de sugestão
material»303
. Tal como Joaquim Lopes, lutará e hesitará entre uma atitude de recuo ou
de avanço estilístico – «A luta que Cézanne manteve com ele próprio, até cerca de 1870,
mostra-no-lo hesitante entre o respeito pelo passado e o sentimento de uma visão
original.»304
–. O seu percurso não é, assim, linear – como já referimos neste capítulo –
pelo que as suas propostas vão sofrendo mutações ao longo do tempo. Porém, – no
contexto deste nosso caso de estudo – importa talvez fixar a perspetiva que o excerto
seguinte veicula: «O que faltou aos impressionistas foi o momento intermediário da
construção e do ideal geométrico, no qual o poder intelectual de Cézanne encontrou o
elemento essencial do seu estilo, fazendo dele como que um esqueleto para sustentar e
organizar a sensibilidade.»305
Como o trecho defende, Cézanne trará para a atmosfera impressionista a solidez
que ela não propunha. Neste período, o artista francês não se liberta ainda da matriz
impressionista, mas modifica-a, tornando-a em algo novo e diferente. Este estilo – que é
seu – pode, por isso, ser nomeado «cézannismo» e entendido como uma «tentativa de
construção através da pincelada de cor»306
. Acredito que o percurso de Joaquim Lopes
passará por este cézannismo, quando «A ausência de pormenorização numa obra [já]
não se deve a uma influência de circunstâncias atmosféricas e lumínicas […], mas deve-
se antes a uma procura do elementar.»307
. A uma pincelada consensualmente curta,
nervosa, densa e decidida308
, é pertinente somar o ingrediente construtivo que julgo
também definir a técnica do pintor.309
303
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Situação da pintura ocidental, p. 139. 304
FRANCASTEL, Pierre – O Impressionismo, p. 52. 305
VENTURI, Lionello – Para compreender a pintura: de Giotto a Chagall, p. 187. 306
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 73. 307
Ibidem, p. 75. 308
«[Joaquim Lopes] é um pintor de «pincelada alternadamente longa ou curta, nervosa, densa e decidida,
que dá, às vezes, aos seus trabalhos um aspecto áspero» e que mostra um bom domínio da composição,
sempre animada e colorida.» Cf. LOPES Joaquim. In DICIONÁRIO da pintura portuguesa. Org. Mário
Tavares Chicó, Armando Vieira Santos, José-Augusto França. Lisboa: Estúdios Cor, 1973, p. 212. 309
«[…] pela intromissão de novas técnicas, [Joaquim Lopes] conseguiu tirar novos estremecimentos do
nosso velho naturalismo e soerguê-lo pela construção.» Alves, João. Os Pintores de 1900. Lusíada.
Revista Ilustrada de Cultura, Vol. III, Nº 9, dezembro de 1956, p. 20.
90
Todavia, antes de explorar com mais profundidade o pincel construtor de
Joaquim Lopes, reservarei para estes parágrafos o estabelecimento de alguns outros
paralelismos com artistas e obras que poderão ter sido referências importantes para o
pintor português, privilegiando as menções a artistas menos conhecidos ou aos quais
não associamos tão imediatamente uma dada imagem. Gustavo Bacarisas y Podestá310
é
um artista espanhol cuja obra é, em alguns dos periódicos consultados, relacionada com
propostas do artista português.311
Sem aprofundar a produção artística de Gustavo
Bacarisas – como aliás não farei em relação a grande parte dos pintores que venha a
mencionar –, o exercício que proponho para estas páginas é o de contrapor obras que,
quanto a mim, exemplifiquem de que forma um dado artista pode relacionar-se com
Joaquim Lopes. Neste caso, irei estabelecer uma ponte entre as obras «Desnudo
feminino»312
do artista espanhol e o óleo «Figura feminina reclinada» do artista
português. Os traços comuns entre os dois trabalhos situam-se, sobretudo, na afinidade
temática, na postura corporal das duas mulheres e numa certa harmonia de tons.
310
Gustavo Bacarisas y Podestá (1873-1971). 311
Joaquim Lopes. Pintor Impressionista. Jornal de Notícias, 25/04/1935. 312
http://www.artvalue.com/auctionresult--bacarisas-podesta-gustavo1873-desnudo-
femenino1792838.htm. 15-06-2012 23:35.
91
FFiigguurraa 55
Título: Figura feminina reclinada.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1943 (canto inferior esquerdo).
Dimensões: 59cm (altura) x 89cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: http://www.cml.pt313
FFiigguurraa 66
Título: Desnudo femenino [Nu feminino].
Autor: Gustavo Bacarisas y Podestá.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinado (canto inferior esquerdo). Não datado.
Fonte dos dados técnicos relativos à obra: http://www.artvalue.com/auctionresult--bacarisas-podesta-
gustavo-1873-desnudo-femenino-1792838.htm
Fonte da imagem:
http://www.google.pt/imgres?um=1&hl=pt-
PT&biw=1280&bih=705&tbm=isch&tbnid=BSskY6fBGCyfpM:&imgrefurl=http://maestrosdelretrato.bl
ogspot.com/2007/12/gustavo-
bacarrisas.html&docid=U1sfFfhDdkrDRM&imgurl=http://4.bp.blogspot.com/_NEiC7RM8v7s/TUsPG13
XBnI/AAAAAAAADoU/LO9xt5dJ_oM/s1600/bacarrisas.jpg&w=600&h=482&ei=0hTBT-
_2ONPc8gP154XfCg&zoom=1
313
Sítio oficial da leiloeira Cabral Moncada Leilões: <http://www.cml.pt>. A obra «Figura feminina
reclinada» esteve presente no Leilão 103 (Antiguidades e Obras de Arte. Pintura, Pratas e Joias), na
Sessão Única de 09/02/2009, com o número de lote 219.
92
Em 1923, O Comércio do Porto314
relaciona uma tela de Joaquim Lopes –
«Rapariga dos Dióspiros» – com a «maneira forte» do pintor húngaro Segismundo de
Nagy315
. Esta maneira forte de que fala o jornal dirá respeito, possivelmente, à
intensidade dos efeitos de cor que o artista húngaro desenvolve em alguns dos seus
trabalhos e que o pintor português pontualmente explorará. Este dado permite-me
introduzir uma outra perspetiva, por vezes apresentada, a propósito da plástica de
Joaquim Lopes. Refiro-me às influências fauvistas que lhe são associadas. Julgo que
esta associação terá como base a observação de obras onde o artista ousa nas
tonalidades, aplicando sobretudo vermelhos e alaranjados garridos e arrojados. Como
em relação a qualquer outra corrente, o pintor português não pode ser incluído no
movimento fauvista, nem considerar-se que este o tenha influenciado de forma
declarada. Em todo o caso, considero que o artista se encontrou mais verdadeiramente
nas manchas de cor livres pelo que, neste sentido, ele partilha algumas afinidades com o
Fauvismo que, afinal, «sacudiu a tirania do Divisionismo.»316
.
O Museu da Cidade, em Lisboa, possui em reserva uma «Menina dos
Dióspiros»317
de Joaquim Lopes; trata-se precisamente da obra aqui em discussão. Na
ficha de inventário da instituição, o ano de 1928 é indicado como a data da realização
do óleo. Porém, julgo que tal se deva a um lapso na leitura dos números assinalados
pelo pintor no canto inferior esquerdo da tela. O algarismo oito corresponderá, na
realidade, ao dígito três. Isto, porque o artigo d’O Comércio do Porto, que refere a obra,
data de 1923318
e indica ainda que a mesma terá estado presente na 12ª Exposição da
SNBA, realizada nesse mesmo ano319
. Além disso, já em 1926 há notícia da Câmara
Municipal de Lisboa ter adquirido este trabalho320
, neste caso no contexto da exposição
individual que Joaquim Lopes leva a cabo na SNBA, nessa cidade321
.
314
Cf. Exposição da Sociedade de Bellas-Artes. Comércio do Porto, 11/05/1923. 315
Segismundo de Nagy (1872-?). 316
Cf. HESS, Walter – Documentos para a compreensão da pintura moderna, p. 73. 317
A imagem e os dados técnicos relativos a esta obra foram cedidos pela Dra. Lurdes Garcia –
Coordenadora Técnica da Direção Municipal da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa – através do
pedido efetuado pelo endereço: <[email protected]>. 318
Cf. Exposição da Sociedade de Bellas-Artes. Comércio do Porto, 11/05/1923. 319
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 35 e 44. 320
Marçal, Rafael. Exposições de Joaquim Lopes e Dulce Sousa. O Radical, 08/03/1926. 321
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 33 e 41.
93
Para confrontar visualmente o exercício plástico enunciado de Joaquim Lopes
com o trabalho de Segismundo de Nagy, decidi selecionar uma obra do pintor húngaro
que fizesse uso de tons ofuscantes, uma vez que o destaque dado pela imprensa à tela
«Rapariga dos Dióspiros»322
se deveu sobretudo à paleta viva que ela apresentava323
. Na
minha perspetiva, os dois artistas – tal como as duas obras comparadas – aproximam-se
sobretudo cromaticamente, na exploração de pigmentos e tintas de valores fortes – que,
neste caso, coincidentemente, se espalham e desenvolvem pelas vestes das figuras
femininas –. Em todo o caso, o exercício do pintor húngaro vai um pouco mais longe
em relação àquilo que, em 1923, Joaquim Lopes deseja propor.
322
Quando fizer referência à obra em análise, irei utilizar o título «Rapariga dos Dióspiros», uma vez que
é assim que a pintura é referida em catálogos de exposições tais como o catálogo RELAÇÃO dos quadros
que expõe Joaquim Lopes no Salão Silva Porto. [Catálogo] Porto: [s. n.], maio de 1925 – onde o quadro é
o terceiro trabalho a ser nomeado na listagem dos óleos apresentados na mostra – e o catálogo Relação
dos quadros que expõe Joaquim Lopes na Sociedade Nacional de Belas Artes. [Catálogo] Lisboa: SNBA,
fevereiro de 1926 – em que a tela volta a aparecer na terceira posição da lista de obras expostas –. Por
esta razão, não adotarei a designação proposta na ficha de inventário da obra e da responsabilidade do
Museu da Cidade – «Menina dos Dióspiros». 323
Cf. Sociedade de Belas Artes II. Primeiro de Janeiro, 10/05/1923.
94
FFiigguurraa 77
Título: Rapariga dos Dióspiros.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinada e datada de 1923
(canto inferior esquerdo).
Dimensões: 93,5cm (altura) x 72cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos
relativos à obra: Museu da Cidade.
FFiigguurraa 88
Título: Mother and Child [Mãe e Filho].
Autor: Segismundo de Nagy.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinada (canto inferior direito). Não
datada.
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra:
http://leonardjoel.com.au/lot_details.php?lot=258659&aucti
on=379
95
Em 1926, Joaquim Lopes viaja até Espanha – país que, de resto, visitará
frequentemente ao longo da sua vida324
–. Esta sua jornada de 1926 será relatada pelo
próprio em artigos que escreve em junho e julho deste ano para o periódico Diário do
Porto.325
Nestes textos, o pintor faz referência a uma série de artistas espanhóis cuja
obra conhece na sua estada em Espanha.326
Sobre estes, faz algumas apreciações
interessantes. Considera Ignacio Zuloaga y Zabaleta um artista incompreendido em
Espanha e descreve Hermenegildo Anglada Camarasa como um finíssimo colorista.327
Julga Daniel Vázquez Díaz um dos mais inteligentes expressionistas328
e aponta
Adelardo Covarsí Yustas como um divisionista de talento329
.
Neste ponto do trabalho, apresentarei uma obra em particular, por ela ter
merecido uma menção especial por parte de Joaquim Lopes, num dos textos que
escreveu para o jornal portuense.330
Assim, não irei colocá-la em contraponto com
qualquer trabalho do artista português, pois a evidência que lhe confiro no contexto
deste subcapítulo deve-se sobretudo ao facto de Joaquim Lopes a ter julgado digna de
destaque num dos seus artigos. O artista português admirou a correção do seu desenho,
a harmonia da cor e do conjunto, a sua simplicidade e o seu caráter expressivo. Segundo
324
«[…] um ano antes de ter rebentado a última guerra em Espanha, havendo eu [Joaquim Lopes] visitado
o seu salão – tarefa agradabilíssima a que de dois em dois anos me votava – […]». Cf. LOPES, Joaquim -
Do Regionalismo ao Nacionalismo na Arte. Porto: Imprensa Portuguesa, 1940, p. 41. 325
Cf. Lopes, Joaquim. Por Espanha. Diário do Porto, 25/06/1926; Lopes, Joaquim. Por Espanha II.
Primeira visita á Exposição Nacional de Belas Artes. Diário do Porto, 29/06/1926; Lopes, Joaquim. Por
Espanha III. Segunda visita á Exposição Nacional de Belas Artes nos Palácios do Retiro. Diário do Porto,
30/06/1926; Lopes, Joaquim. Por Espanha IV. Segunda visita á Exposição Nacional de Belas Artes nos
Palácios do Retiro. Diário do Porto, 02/07/1926; Lopes, Joaquim. Por Espanha V. A brilhante
representação dos paisagistas espanhois na Exposição Nacional de Belas Artes. Diário do Porto,
05/07/1926; Lopes, Joaquim. Por Espanha VI. A brilhante representação dos paisagistas espanhois na
Exposição Nacional de Belas Artes. Diário do Porto, 08/07/1926. 326
Os artistas sobre quem Joaquim Lopes fala nos artigos redigidos para o Diário do Porto são: Adelardo
Covarsí Yustas (1885-1951); Antonio Ortiz Echagüe (1883-1942); Daniel Vázquez Díaz (1882-1969);
Eduardo Chicharro y Agüera (1873-1949); Eduardo Martínez Vásquez (1886-1971); Eduardo Rosales
Martínez (1836-1873); Eugenio Hermoso Martínez (1883-1963); Francisco Aldona; Hermenegildo
Anglada Camarasa (1871-1959); Ignacio Zuloaga y Zabaleta (1870-1945); Joaquín Mir Trinxet (1873-
1940); José Luis Gutiérrez Solana (1886-1945); Juan Ángel Gómez Alarcón (1882-?); Mariano José
Maria Bernardo Fortuny y Marsal (1838-1874); Pedro Serra Farnes (1890-1974); Ramón de Zubiaurre
Aguirrezábal (1882-1969); Roberto Fernández Balbuena (1890-1966); Valentín de Zubiaurre
Aguirrezábal (1879-1963). 327
Lopes, Joaquim. Por Espanha II. Primeira visita á Exposição Nacional de Belas Artes. Diário do
Porto, 29/06/1926. 328
Lopes, Joaquim. Por Espanha III. Segunda visita á Exposição Nacional de Belas Artes nos Palácios do
Retiro. Diário do Porto, 30/06/1926. 329
Lopes, Joaquim. Por Espanha IV. Segunda visita á Exposição Nacional de Belas Artes nos Palácios do
Retiro. Diário do Porto, 02/07/1926. 330
Lopes, Joaquim. Por Espanha III. Segunda visita á Exposição Nacional de Belas Artes nos Palácios do
Retiro. Diário do Porto, 30/06/1926.
96
o pintor, a obra apresenta um misto de sabor quinhentista e de romanticismo de Goya331
na interpretação dos costumes.332
O trabalho a que Joaquim Lopes se refere intitula-se
«Lavanderas extremeñas» e em 1926 recebeu a Medalha de Ouro do Circulo de Bellas
Artes333
.
FFiigguurraa 99
Título: Lavanderas extremeñas [Lavadeiras estremenhas].
Autor: Eugenio Hermoso Martínez.
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra:
http://roble.pntic.mec.es/~jtrinida/ambiente.htm
Na senda de referências que marcaram o percurso de Joaquim Lopes, existem
ainda outros nomes que merecem menção. Joaquín Sorolla y Bastida334
é um outro
artista espanhol que o pintor português conhece e pelo qual nutre um profundo
interesse. Neste caso, vale a pena apontar algumas ideias relacionadas com o percurso
deste artista, na medida em que considero que entre ele e o pintor português existem
proximidades estilísticas que merecem ser exploradas. Também Sorolla introduziu
gradualmente na sua pintura valores plásticos mais expressivos, explorando uma
331
Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828) foi uma referência importante para Joaquim Lopes,
uma vez que nos seus textos e escritos fala, frequentemente, sobre o artista espanhol. Nos relatos desta
mesma viagem, demonstrará o seu interesse pelo trabalho do pintor nascido em Espanha. Cf. Lopes,
Joaquim. Por Espanha. Diário do Porto, 25/06/1926. A propósito da simpatia de Joaquim Lopes por
Goya, cito um excerto que sintetiza alguns dos valores da pintura do artista espanhol que acredito terem
atraído plasticamente o artista português – «Goya’s space is a lifeless void; the figures float because they
have no density. All his figures are weightless: their feet placed on the ground, they do not so much stand
on it as brush it, like marionettes. The space is like space in dreams, the figures like figures in dreams.
The fantastic scenes become nightmarish because they have the quality, the atmosphere, of dreams. And
the royal portrait group, say, no less than the witches’ Sabbaths, appears to be happening in a dream.» –.
Cf. SYLVESTER, David – About Modern Art. Critical Essays 1948-2000, p. 257 332
Lopes, Joaquim. Por Espanha III. Segunda visita á Exposição Nacional de Belas Artes nos Palácios do
Retiro. Diário do Porto, 30/06/1926. 333
http://roble.pntic.mec.es/~jtrinida/ambiente.htm. 15-06-2012 23:37. 334
Joaquín Sorolla y Bastida (1863-1923).
97
pincelada vigorosa, e empastamentos que julgo serem muito semelhantes aos
desenvolvidos por Joaquim Lopes.
No entanto, vale a pena analisar as palavras que Joaquim Lopes dedica a este
artista espanhol. Em 1934 – no contexto da viagem do pintor português a Espanha,
Itália, Bélgica, França e Holanda335
–, o artista regista algumas das suas reflexões sobre
a pintura espanhola, tomando por base a sua visita a Madrid, em junho do referido ano.
O pintor percorre exposições e museus, como a Casa-Museu Sorolla. Talvez tendo
como suporte visual o espólio desta casa-museu, o artista português tece uma série de
considerações a propósito de Sorolla considerando-o o primeiro artista espanhol a ter
em atenção os efeitos da luz na Natureza. Joaquim Lopes descreve-o como sendo dono
de «expressivos impulsos, de audaciosos arremetidos de técnica». Como o artista
português, Sorolla tratou assuntos históricos e religiosos que, segundo Joaquim Lopes,
seriam temas que o pintor «certamente não sentia». Além disso – e tal como ele próprio
– Sorolla também trabalha composições de grandes dimensões. Porém, o dado mais
importante sobre o pintor – partilhado pelo artista português – diz respeito à última fase
da arte do artista espanhol, marcada pelo uso de tons puros em manchas largas e
nervosas.336
A curiosidade de Joaquim Lopes pelo trabalho de Sorolla prolonga-se para lá
desta viagem de 1934. No APJL, encontrei um recorte do jornal Diário de Notícias
datado de 1948, o qual dizia respeito a um artigo escrito por João de Lisboa sobre o
artista espanhol.337
O conteúdo deste texto alimenta, ainda mais, a minha perspetiva de
que os dois artistas partilham, efetivamente, traços em comum. Ambos têm uma arte
forte, com técnica e personalidade, e valores cromáticos interessantes que denotam o
domínio dos pintores sobre a sua plástica. Os dois artistas produziram uma quantidade
avultada de obra, a qual apresenta uma diversidade temática assinalável que girou em
335
Em 1934 – possivelmente durantes os meses de junho e julho (Cf. Lopes, Joaquim. Viagem de estudo
(Alguns apontamentos, junho/julho de 1934). In ARTE Portuguesa. Boletim da Escola Superior de Belas
Artes do Porto. Porto: [s. n.], 1952.) –, o pintor português terá viajado por Espanha, Itália, Bélgica,
França e Holanda como bolseiro da Junta de Educação Nacional. «O objetivo principal [desta viagem] era
estudar os Primitivos, das quatro primeiras nações citadas, de modo a verificar prováveis analogias que
eram apontadas para alguns dos mestres portugueses, como Nuno Gonçalves e Grão Vasco.» Cf.
FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim Lopes,
pp. 19 e 20. 336
O presente parágrafo foi construído com os apontamentos de Joaquim Lopes publicados em – Lopes,
Joaquim. Viagem de estudo (Alguns apontamentos, junho/julho de 1934). In ARTE Portuguesa. Boletim
da Escola Superior de Belas Artes do Porto. 337
Cf. Lisboa, João de. Agora em spanha… O Pintor Sorolla a sua casa e a sua obra. Evocação de 1900.
Diário de Notícias, 25/12/1948.
98
torno de assuntos como o campo, o povo e o trabalho, ou mais concretamente o
trabalhador.338
«Os homens, os montanheses, impressionam pelo hieratismo escultórico
das figuras – em que há, como nas mulheres, modernismo do melhor, do eterno – pelo
anguloso dos traços, em que os olhos vivem mais na distancia do que nas orbitas.» A
frase citada dirige-se ao trabalho de Sorolla, mas poderia adaptar-se a exercícios do
pintor português como os que seguidamente exponho. Nestes exemplos, encontramos o
tal hieratismo escultórico das figuras e os mesmos traços angulosos de que fala João de
Lisboa. Também os homens construídos por Joaquim Lopes são considerados «fortes e
rudes»339
.
FFiigguurraa 1100
Título: Ceifeiro.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Sanguínea sobre papel.
Assinatura e Data: Assinado (zona inferior). Não datado.
Dimensões: 44cm (altura) x 26cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra:
http://www.arvorecoop.pt/fotos/gca/1258626907leilao_arvore_2.pdf340
338
Cf. Lisboa, João de. Agora em spanha… O Pintor Sorolla a sua casa e a sua obra. vocação de 1900.
Diário de Notícias, 25/12/1948. 339
«Para muitos, o Artista foi, acima de tudo, paisagista. […] Joaquim Lopes, homem forte e rude, nunca
cultivou o «bonitinho», o amável. Eram suas figuras fortes e rudes como ele.» Cf. Sérgio, Octávio. O
Pintor Joaquim Lopes e a sua notabilíssima ação no meio artístico portuense. O Norte Desportivo,
12/04/1956. 340
Catálogo online do Leilão de Obras de Arte da Cooperativa Árvore: <
http://www.arvorecoop.pt/fotos/gca/1258626907leilao_arvore_2.pdf>. A obra «Ceifeiros» esteve presente
no Leilão, na sessão de 26/11/2009, com o número 66.
99
FFiigguurraa 1111
Título: Ilustração do poema «A Moça Terra Latina» da autoria de Alberto Ayres Gouvêa, presente na
obra Alegre Vinho, de António Corrêa d’Oliveira341
.
Autor: Joaquim Lopes.
Assinatura e Data: Assinado (canto inferior direito). Não datado.
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: D’OLIV IRA, António Corrêa – Alegre
Vinho. Da Academia das Sciencias de Lisboa. Da Academia Brazileira. Edição Brinde da Casa Ramos
Pinto.342
No seguimento das reflexões de Joaquim Lopes sobre a pintura espanhola, o
artista português destaca uma obra de Sorolla cujo título seria «Praia de Valença».343
A
minha pesquisa permitiu-me concluir que o pintor espanhol possui diversas manchas
esboçadas em torno de areais valencianos, pelo que não me foi possível precisar com
exatidão a que trabalho se referiria o artista português. Em todo o caso, optei por
reproduzir, na figura 12, um dos registos que Sorolla fez destas praias, o qual se
caracteriza por uma pincelada expressionista que, como vimos anteriormente,
caracteriza, segundo Joaquim Lopes, uma fase da pintura do artista espanhol. É esta
341
D’OLIV IRA, António Corrêa – Alegre Vinho. Da Academia das Sciencias de Lisboa. Da Academia
Brazileira. Edição Brinde da Casa Ramos Pinto. 342
A consulta desta publicação de António Corrêa d’Oliveira e o acesso à ilustração de Joaquim Lopes
foram possíveis graças à disponibilidade e gentileza do Dr. Joaquim António Gonçalves Guimarães. 343
Lopes, Joaquim. Viagem de estudo (Alguns apontamentos, Junho/Julho de 1934). In ARTE
Portuguesa. Boletim da Escola Superior de Belas Artes do Porto.
100
técnica que penso que inspira o pintor português em alguns dos trabalhos onde, da
mesma forma, explora o pincel, não de um modo tão impressionista ou construtivo –
«cézanneano» –, mas de uma maneira mais pessoal e emotiva. Penso que tal é o caso da
obra «Paisagem» que apresento depois da reprodução da «Playa de Valencia» de
Sorolla. O óleo de Joaquim Lopes explora as potencialidades do suporte em madeira,
apresentando uma mancha livre, onde – como no trabalho de Sorolla – a expressão
através da cor, mas principalmente através da pincelada, é o grande tema da pintura em
questão.
FFiigguurraa 1122
Título: Playa de Valencia [Praia de Valencia].
Autor: Joaquín Sorolla y Bastida.
Assinatura e Data: Assinado (canto inferior direito). Não datado.
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: http://www.joaquin-sorolla-y-
bastida.org/Beach-of-Valencia-large.html
FFiigguurraa 1133
Título: Paisagem.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre madeira.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1941, Porto (canto inferior direito).
Dimensões: 21cm (altura) x 15cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra:
http://www.leiloeiraportoantigo.com/v1/catalogos/p17a32.pdf344
344
Catálogo online da Leiloeira Porto Antigo:
101
A última referência que apresentarei diz respeito a um artista que em nenhum
estudo ou reflexão encontrei posto em paralelo com Joaquim Lopes, mas que eu própria
considero ter propostas plásticas semelhantes a algumas das construídas pelo pintor
português. Augustus John345
possui uma pincelada distinta da do artista português, mas
algumas das suas obras sugerem efeitos e ambiências próximas das exploradas por
Joaquim Lopes. É, sobretudo, nesta perspetiva que estabeleço pontes entre os dois
artistas, acreditando que esta pode ser uma outra referência à qual poderemos aludir
quando quisermos cruzar os exercícios do pintor português com as sugestões de outros
artistas. Para concretizar esta ligação que instituo entre os autores, colocarei a par duas
pinturas que partilham uma mesma atmosfera. No caso exposto, as correspondências
avolumam-se, uma vez que os artistas solucionam de um modo análogo a representação
dos tecidos presentes nas telas.
<http://www.leiloeiraportoantigo.com/v1/catalogos/p17a32.pdf>. A obra «Paisagem» esteve em leilão,
com o número 250. 345
Augustus Edwin John (1878-1961).
102
FFiigguurraa 1144
Título: A saia amarela.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinada e datada de 1933
(canto superior esquerdo).
Instituição detentora da obra: MNSR (Inv.
151 Pin CMP/MNSR).
Fonte dos dados técnicos relativos à obra:
MNSR.
Fonte da imagem: Teresa Santos
(autora do trabalho)
FFiigguurraa 1155
Título: Madame Suggia.
Autor: Augustus John.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Data: [1920 – 1923].
Dimensões: 186,7cm (altura) x 165,1cm (largura)
Fonte da imagem e dos dados técnicos
relativos à obra:
http://www.tate.org.uk/art/artworks/john-
madame-suggia-n04093
103
O presente subcapítulo procurou explorar as viagens plásticas que o espetador
pode fazer a partir das obras de Joaquim Lopes. Em relação aos artistas e aos trabalhos
que invoquei nestas páginas, eles devem ser vistos não como influências, pois em
nenhum dos casos tive acesso a declarações de Joaquim Lopes que denunciassem uma
ou outra influência, mas antes como referências, alusões a outras propostas que
partilham algo com as do artista português. Entre os nomes recolhidos nas publicações
consultadas, e aquilo que eu própria tentei acrescentar aos exemplos já avançados, julgo
ter conseguido comprovar com casos concretos como a produção artística de Joaquim
Lopes é vasta e plural. Neste sentido, reafirmei perante o leitor a minha convicção de
que nele nunca encontraremos apenas um valor unitário e singular que lhe seja
transversal. O seu trajeto apresentará certas características contínuas, mas nunca uma
variável exclusiva. Uma constância como a sua individualidade – sempre presente em
cada projeto seu – não deixou de se fazer acompanhar de muitas outras valias.
A próxima etapa – que concluirá o ponto quatro desta dissertação – reforça esta
noção de heterogeneidade plástica em Joaquim Lopes. Sem estabelecer fases ou
períodos na pintura do artista, é importante perceber de que forma ela se transforma –
ganhando alguns atributos e perdendo outros –. Além disso, é indispensável reconhecer
nestas mutações o mérito da reflexão – um bem maior alcançado pela arte do século XX
–. A finalidade da etapa seguinte será a de, mais uma vez, encaminhar o leitor pelos
diferentes rumos que o pintor seguiu. Depois de viajar para ver e conhecer, o artista
albergou em si os saberes necessários para planear o seu trilho. Um caminho de
Apreender e Ser para Afirmar.
4.4 – Viajar para Ser.
O último espaço deste capítulo pretende servir de remate à viagem iniciada com
a questão – Joaquim Lopes: Um Pintor sem Estilo? –. Ao longo das páginas anteriores
foi possível perceber de que forma a diversidade plástica marcou não só a produção
artística do pintor, como a de muitos artistas portugueses que lhe foram
contemporâneos. Neste sentido, demonstrei como a aproximação de um artista a uma
corrente estética pode fazer-se por filiação efetiva a esse movimento ou, então, apenas
por razões estilísticas ou, até, ideológicas partilhadas com o mesmo. O facto de o pintor
seguir uma técnica cultivada por uma determinada corrente artística, não implica que os
104
seus trabalhos sejam plasticamente semelhantes às soluções propostas por esse
movimento de que ele apenas colheu um ou outro aspeto técnico. Assim, procurei
contrariar as tendências anti-históricas que fazem crer que «les œuvres sont le produit
de théories affrontées et incarnées par des groupes.»346
De uma formação de raiz naturalista – ou tardo-naturalista – a uma viagem da
qual trouxe noções impressionistas e pós-impressionistas, Joaquim Lopes explorou a
diluição de contornos e valores informalistas como a afirmação do suporte – deixando,
em alguns dos seus trabalhos, espaços sem qualquer cor – que já Aurélia de Sousa347
e
António Carneiro348
tinham anunciado. Atravessou as manchas mais expressivas e
aplicou uma pincelada construtiva, cada vez mais «cézanneana». As pinturas que
seguidamente apresento ilustram esta mesma pluralidade. De uma «Paisagem» mais
convencional, a uma série de pinturas de gosto impressionista – no «Jardim de
Marzovelos»349
–, passando por uma mancha mais livre e terminando com um óleo,
onde as tintas desenham planos e arquitetam uma «Manhã na montanha». Este percurso
não é necessariamente cronológico, uma vez que estas diferentes linguagens se
fundiram, frequentemente, nos exercícios do pintor, coexistindo num mesmo trabalho.
Nesta linha de pensamento, o interesse desta análise reside em tornar mais visíveis e
claros os vários estilos técnicos e estéticos que o artista dominou.
346
FRANCASTEL, Pierre – Art et technique aux XIXe et XXe siècles, p. 119. 347
Maria Aurélia Martins de Sousa (1866-1922). 348
António Teixeira Carneiro Júnior (1872-1930). 349
A esta série de três pinturas poderia ser adicionado o óleo sobre madeira – «Recanto do Jardim de
Marzovelos» – em posse da Casa-Museu Almeida Moreira (C-MAM) e reproduzido em SILVA, Alcina –
A presença de Joaquim Lopes no Museu Grão Vasco. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 77.
105
FFiigguurraa 1166
Título: Paisagem.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinado e datado [1927] (canto inferior esquerdo).
Dimensões: 57cm (altura) x 79,7cm (largura).
Instituição detentora da obra: MNSR (Nº Inventário: 537 Pin).
Fonte dos dados técnicos relativos à obra: MNSR350
e Divisão de Documentação Fotográfica/IMC351
.
Fonte da imagem: Divisão de Documentação Fotográfica/IMC.352
Fotografia por: Carlos Monteiro (julho de 1994).
350
Informações cedidas pela Dra. Elisa Soares – Técnica Superior do MNSR -. 351
Informações cedidas pela D. Tânia Olim – em nome da Divisão de Documentação Fotográfica/IMC -,
através do pedido efetuado pelo endereço: <[email protected]>. 352
Imagem cedida pela D. Tânia Olim – em nome da Divisão de Documentação Fotográfica/IMC -,
através do pedido efetuado pelo endereço: <[email protected]>.
106
FFiigguurraa 1177
Título: Jardim antigo - Marzovelos.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1921 (canto inferior esquerdo).
Dimensões: 57cm (altura) x 80cm (largura).
Instituição detentora da obra: Museu Grão Vasco (MGV) (Nº Inventário: 2314).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: www.matriznet.imc-ip.pt353
FFiigguurraa 1188
Título: Jardim de Marzovelos.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Pastel sobre cartão.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1921 (canto inferior direito).
Dimensões: 37cm (altura) x 54cm (largura).
Instituição detentora da obra: Museu Grão Vasco (MGV) (Nº Inventário: 2316).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: www.matriznet.imc-ip.pt354
353
Imagem e dados técnicos disponíveis em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=208549. 15-06-
2012 23:38.
107
FFiigguurraa 1199
Título: Recanto do Jardim de Marzovelos (Viseu).
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1921 (canto inferior direito).
Dimensões: 30,2cm (altura) x 40,8cm (largura).
Instituição detentora da obra: Casa dos Patudos-Museu de Alpiarça (CP-MA) (Nº Inventário: CP-MA
85.298).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: CP-MA.355
354
Imagem e dados técnicos disponíveis em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=209065. 15-06-
2012 23:39. 355
A imagem e os dados técnicos relativos a esta obra foram cedidos pelo Dr. Nuno Prates – Conservador
da Casa dos Patudos-Museu de Alpiarça – através do pedido efetuado pelo endereço:
108
FFiigguurraa 2200
Título: [Sem título].
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre platex e cartão.
Assinatura e Data: Assinado (canto inferior direito). Não datado.
Dimensões: 12cm (altura) x 18cm (largura).
Instituição detentora da obra: Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: http://cam.gulbenkian.pt.356
FFiigguurraa 2211
Título: Manhã na montanha.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre contraplacado.
Assinatura e Data: Assinado, com dedicatória - «Para José Praia do J. Lopes» - (canto inferior
esquerdo). Datado de 1920.
Dimensões: 31cm (altura) x 41cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: http://www.pcv.pt.357
356
Imagem e dados técnicos disponíveis em:
http://cam.gulbenkian.pt/index.php?article=66923&visual=2&langId=1&ngs=1&queryParams=,autor|Lo
pes Joaquim&queryPage=0&position=1. 15-06-2012 23:40.
109
Ao longo das últimas páginas, o leitor foi assistindo à construção da resposta à
pergunta que iniciou este capítulo. Tendo em conta os ritmos tão próprios da arte
nacional – que defini e sublinhei com profunda firmeza pelo interesse da sua
compreensão –, é claro o porquê de, na maioria dos casos, não conseguirmos adjetivar
com um só termo ou valor o contributo plástico de um artista. No entanto, e como
também terá ficado explícito, tal não significa que por um lado a pluralidade de um
percurso seja algo desfavorável ou que, por outro lado, a individualidade na apreensão
dos conceitos e na sua utilização prática seja algo desvantajoso. Em Joaquim Lopes, a
combinação de diferentes propostas e referências artísticas não lhe retira o estilo, ou
seja, a «maneira de ser» artística. «Estilo é sempre estilo de vida: maneira de cada um
dar nascença a si próprio, maneira de cada um saber morrer, e, entre uma e outra baliza,
cuja importância varia sem medida, maneira de existir. Ou, mais gravemente, maneira
de ser.»358
Assim, estamos perante um pintor com várias «maneiras de ser», com diversas
formas de encarar a obra, o tema, o estilo. Os distintos momentos da sua existência
serviram precisamente para se revisitar, e depois de um período de afirmação, seguir-se-
á um outro de puro ensaio. Ser – não era para o pintor um objetivo, pois tal implicava a
estagnação numa forma definitiva –. Para ele, o fundamental era descobrir e descobrir-
se através da pesquisa e do trabalho que via como uma longa estrada sem limite ou
barreira. Um caminho de Ser e Rever para Caminhar.
357
Sítio oficial da leiloeira Palácio do Correio Velho: <http://www.pcv.pt>. A obra «Manhã na
montanha» esteve presente no Leilão 193 (Antiguidades), na Primeira Sessão de 18/06/2008, com o
número de lote 0162. 358
Cf. FRANÇA, José-Augusto – Situação da pintura ocidental, p. 85.
110
5 – A Tela Escrita.
«Parar é um mal. É o pior mal.»
Entrevista a Joaquim Lopes. Diário do Norte, 24/01/1951.359
5.1 – A palavra que dirige.
O quinto capítulo desta dissertação pretende abordar sumariamente a ocupação
profissional de Joaquim Lopes, não na sua faceta de pintor, mas em outros aspetos que
constituíram igualmente atividades da sua vida. Para ele, parar era um mal. O pior mal.
Por esta razão, os seus ofícios estendem-se para lá da materialidade dos pincéis e das
tintas, encontrando, nos papéis de jornais e revistas, uma tela onde, ao invés de pintar,
escrevia incessantemente palavras.360
Na impossibilidade de analisar detalhadamente
todas as iniciativas e conquistas que o artista alcançou, construí em anexo uma listagem
de dados que sintetiza alguns dos feitos do pintor.361
Neste sentido, o presente capítulo
servirá para destacar algumas das suas atividades, sobretudo as que não se encontram
diretamente relacionadas com os seus contributos enquanto artista, mas antes ligadas ao
seu papel de dinamizador cultural.
A carreira docente de Joaquim Lopes começou em outubro de 1919 como
professor provisório da Escola Industrial Infante D. Henrique.362
Ao longo da sua vida,
o artista ocupou funções de docência em diversas escolas e colégios.363
No entanto, o
presente ponto centrar-se-á apenas numa dessas instituições – a EBAP – e nos afazeres
que ela trouxe ao pintor. É a 7 de junho de 1930 que o artista toma posse como
Professor da Cadeira de Pintura.364
A primeira notícia consultada que regista este facto
data de catorze de março de 1930 e é publicada pelo Diário Popular.365
Alguns
periódicos consideraram a aceitação do pintor como docente da EBAP uma «justa
consagração».366
Enquanto professor, foi um escultor, pois modelou a matéria em bruto
que cada estudante continha em si. Isto, sem alterar a natureza e a verdade de cada um. 359
Na Escola de Belas Artes vai ser inaugurado um novo pavilhão. Diário do Norte, 24/01/1951. 360
«As suas [de Joaquim Lopes] férias ou lazeres eram novas maneiras de trabalhar, que as inquietações
do seu espírito lhe impunham: ao largar mãos dos pincéis, escrevia ou lia.» Azevedo, Narciso de. Mestre
Joaquim Lopes. Gazeta Literária. Revista Mensal, Vol. IV, Nº 44, abril de 1956, pp. 46 e 47. 361
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 21 a 32. 362
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p. 29. 363
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p. 29. 364
Arquivo FBAUP. Processo do pintor Joaquim Francisco Lopes como Professor e Diretor da
EBAP/ESBAP. 365
Macedo, Diogo de. VII - O pintor Joaquim Lopes. Diário Popular, 14/03/1930. 366
Guedes, Marques. Justa Consagração (Carta de Lisboa). O Primeiro de Janeiro. [março de 1930].
111
«[…] [Joaquim Lopes] facultou [aos alunos] os meios de se revelarem sem lhes impor
escola, ja que, divisionismo, naturalismo, cubismo, expressionismo ou futurismo, tudo o
que tivesse o cunho da arte, por igual o entusiasmava e interessava.»367
O mesmo entusiasmo e interesse, que nutria por tudo o que tivesse o cunho da
arte, acalentava pelas MEF, como já foi veiculado neste trabalho.368
A primeira Missão
que o professor organizou e dirigiu teve lugar em 1940, em Viana do Castelo.369
A IV
MEF iniciou-se a um de agosto e decorreu até setembro. No segundo dia do mês de
arranque da iniciativa, Joaquim Lopes realizou um discurso inaugural que abriu
oficialmente as atividades.370
Alguns jornais locais, mas também portuenses, vão dando
conta do ambiente vivido em Viana do Castelo. Porém, só em meados de setembro é
que o público teve acesso aos frutos e resultados desta Missão. No dia vinte e um deste
mês, o periódico Notícias de Viana anuncia a inauguração da exposição dos trabalhos
da MEF, que teve lugar no Salão Nobre do Governo Civil desta cidade. Nesta ocasião, o
professor fez uma palestra371
intitulada: Do Regionalismo ao Nacionalismo da Arte, a
qual viria a ser publicada.372
Os exercícios dos estudantes373
em Missão voltariam a ser
expostos cerca de três meses mais tarde, desta vez em Lisboa. Em outubro, O Primeiro
de Janeiro comunica que será na primeira quinzena de dezembro que uma sala da
SNBA irá acolher os trabalhos dos jovens alunos.374
A recetividade às propostas
apresentadas na mostra foi assinalável e o sucesso desta MEF ficou espelhado em
notícias de jornal que associaram tal êxito ao contributo do docente como seu
organizador e diretor.375
367
Regueiro, A. Braz. Mestre Joaquim Lopes. Notícias de Coura, Ano I, Nº 6, 15/06/1956. 368
Em 1955, Joaquim Lopes lamenta a extinção das MEF. «Rememorando: // - Acabaram, no entanto,
com as Missões Estéticas de Férias. Foi pena! // Conformando-se: // - Tudo o que é bom… morre.»
Mestre Joaquim Lopes recorda Columbano e as Missões Estéticas de Férias. Diário do Norte, Ano VI, Nº
2033, Porto, 22/03/1955. 369
Para saber mais sobre a IV MEF. Cf. TRINIDAD MUÑOZ, Antonio - Missões Estéticas de Férias Y
Paisaje Portugués: Dominguez Alvarez. http://www.apha.pt/boletim/boletim3/pdf/AntonioTrinidad.pdf.
15-06-2012 23:41. 370
IV Missão Estética de Férias. A Aurora do Lima, Viana, 02/08/1940. 371
IV Missão Estética de Férias. Notícias de Viana, Viana, 21/09/1940. 372
LOPES, Joaquim - Do Regionalismo ao Nacionalismo da Arte. 373
«Lista aprovada dos estagiários e académicos agregados na IV MEF: Agostinho António Salgado de
Andrade, Mamede Fernandes Portela, David Pereira de Sousa, Bruno Alves Reis, Joaquim do Couto
Tavares, Joaquim da Costa Rebocho, Jorge Escalço Valadas, Celestino de Sousa Alves, Joaquim Martins
Correia, José Fernandes da Silva, Luiza de Matos e Silva.» Cf. XAVIER, Pedro do Amaral – Educação
artística no Estado Novo: as missões estéticas de férias e a doutrinação das elites artísticas, p. 11. http://www.apha.pt/boletim/boletim4/artigos/PedroXavier.pdf. 15-06-2012 23:42. 374
Missão Estetica de Ferias. O Primeiro de Janeiro, 08/10/1940. 375
A Exposição da Missão Estética de Férias, constitue um verdadeiro sucesso. Primeiro de Janeiro,
07/12/1940.
112
Em 1943, Joaquim Lopes – subdiretor da EBAP (1940 - 1945)376
– é encarregue
de organizar e dirigir uma outra Missão, desta feita em Bragança. A VII MEF decorreu
durante os meses de agosto e de setembro. Neste caso, a exposição dos exercícios dos
estudantes377
teve lugar no Museu do Abade de Baçal (MAB). Duas salas da instituição
receberam cerca de oitenta trabalhos.378
A MEF foi solenemente encerrada com uma
conferência de Joaquim Lopes379
: A Arte, elemento de atracção, conquista e elevação
social, a qual viria a dar origem a uma publicação.380
Nos primeiros dias de dezembro, a
SNBA acolheu em Lisboa os exercícios dos alunos presentes na VII Missão.381
Alguma
imprensa destaca a existência de «muitas manchas de cor» entre os trabalhos
apresentados.382
A sensibilidade para os tons da paisagem e o seu registo em pochades
poderá ter sido uma influência do professor.
Na EBAP, o percurso de Joaquim Lopes foi marcado pelas funções de docência
– assumindo e acumulando a regência de diferentes cadeiras ao longo do seu trajeto383
–
, e também pelas responsabilidades que adotou como diretor. Desde 1945384
que o
professor assumiu os serviços de direção da EBAP. Todavia, só em 1948 a sua atividade
como diretor foi oficialmente reconhecida pela Direção Geral de Ensino Superior de
Belas Artes.385
O professor assumiu o cargo de chefia até 1952. A oito de julho desse
ano, o seu pedido de exoneração das funções de diretor é oficialmente aceite pelo
376
Arquivo FBAUP. Processo do pintor Joaquim Francisco Lopes como Professor e Diretor da
EBAP/ESBAP. 377
«Lista aprovada dos estagiários e académicos agregados na IV MEF: Celestino de Sousa Alves, Maria
Luísa de Sousa Tavares, Alfredo Le Mettre de Carvalho, Celeste Ribeiro, João Fragoso (desistiu), Renato
Juvêncio da Rocha Torres, Mamede Fernandes Portela, António da Assunção Sampaio, Altino Maia,
António Cândido da Silva, António José Fernandes (desistiu), Augusto Gomes de Oliveira, Serafim
Pereira Teixeira.» Cf. XAVIER, Pedro do Amaral – Educação artística no Estado Novo: as missões
estéticas de férias e a doutrinação das elites artísticas, p. 11.
http://www.apha.pt/boletim/boletim4/artigos/PedroXavier.pdf. 15-06-2012 23:42. 378
A «Missão Estética de Férias», em Bragança. Aurora do Lima, Viana do Castelo, 28/09/1943. 379
Em Bragança, encerrou-se a 7ª Missão Estética de Férias com uma sessão solene, conferência e
inauguração de trabalhos de artes. O Primeiro de Janeiro, 01/10/1943. 380
Lopes, Joaquim. A Arte, elemento de atração conquista e elevação social. Gazeta Literária. Revista
Mensal, Vol. IV, Nº 45, maio de 1956. 381
A Exposição da 7ª Missão Estética de Férias foi ontem inaugurada pelo Ministro da Educação
Nacional. Diário da Manhã, 05/12/1943. 382
O Sr. Ministro da Educação Nacional inaugurou, ontem, a Exposição da 7ª Missão Estética de Férias,
na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa. O Primeiro de Janeiro, 05/12/1943. 383
Arquivo FBAUP. Processo do pintor Joaquim Francisco Lopes como Professor e Diretor da
EBAP/ESBAP. 384
Em 29 de março de 1945, com a exoneração do diretor da EBAP – Aarão Soeiro Moreira Lacerda –,
Joaquim Francisco Lopes passa a assumir a direção da Escola. Cf. Arquivo FBAUP. Processo do pintor
Joaquim Francisco Lopes como Professor e Diretor da EBAP/ESBAP. 385
Em fevereiro ou março de 1948, Joaquim Francisco Lopes assume a direção, já oficialmente
reconhecida pela Direção Geral de Ensino Superior de Belas Artes. Cf. Arquivo FBAUP. Processo do
pintor Joaquim Francisco Lopes como Professor e Diretor da EBAP/ESBAP.
113
Ministério da Educação Nacional.386
No entanto, ele não deixa de ensinar e de estar, por
isso, ligado à Escola.
Como professor, e principalmente como diretor, procurou a evolução da
estrutura material e pedagógica da ESBAP, através de uma série de iniciativas que em
anexo tentei sintetizar.387
Neste espaço, privilegiarei algumas impressões deixadas pelos
periódicos da época, dando assim uma imagem da sua perceção pública, enquanto
docente e diretor. A descrição que seguidamente transcrevo, retrata o dia a dia de
Joaquim Lopes, no seu gabinete – «ali consome horas a fio debruçado sobre a carreira
dos seus alunos, para que seja melhor o futuro que os espera na vida prática.»388
–.
Como membro da direção, o desenvolvimento da escola em prol dos seus estudantes era
uma preocupação para si. Neste sentido, o professor respirava projetos e ambições.
Seguidamente, destaco uma ideia que ele partilhou em 1951 com o Jornal de Notícias.
«O Director das Belas Artes aquece, falando do estabelecimento que o
formou e que dirige:
– Numa Escola como esta é indispensável um Museu e uma sala de
Exposições. Não calcula as maravilhas artísticas que guardamos e figurarão
nesse Museu, umas de autores nacionais, outras de autores estrangeiros.
Só de material italiano, temos aqui especimes em quantidade, dos mais
valiosos, dos séculos XVI até ao século XVIII. Não mostrar essas joias de arte
aos alunos e ao publico, é mais que um crime – é um pecado.»389
A escolha desta citação deveu-se à atualidade do seu conteúdo. O plano
esboçado pelo professor reflete sobre a necessidade de tornar público o espólio da
ESBAP. Tal pensamento terá estado subjacente à delineação da mostra 5 Séculos de
Desenho na Coleção da Faculdade de Belas Artes390
, inaugurada no ano corrente.
Passados cerca de sessenta anos sobre a observação de Joaquim Lopes, ela mantém-se
pertinente, o que denota o seu lado ponderado como diretor da ESBAP e a sua faceta
sensível como dinamizador cultural. O professor – cujas palavras dirigiram alunos,
Missões, uma Escola – encontrou na docência uma outra forma de realização pessoal, a
386
«8 de Julho de 1952 // Diário do Governo nº 163, 2ª série, de 11 de Julho de 1952 // Ministério da
Educação Nacional // Diretor-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes // Por portaria 4 do corrente,
Joaquim Francisco Lopes é exonerado por seu pedido.» Cf. Arquivo FBAUP. Processo do pintor Joaquim
Francisco Lopes como Professor e Diretor da EBAP/ESBAP. 387
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 21 a 32. 388
Na Escola de Belas Artes vai ser inaugurado um novo pavilhão. Diário do Norte, 24/01/1951. 389
A Escola de Belas Artes do Porto terá em breve um museu e uma sala de exposições alem de um
pavilhão de arquitectura – diz-nos Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, Porto, 20/01/1951. 390
[Exposição] 5 Séculos de Desenho na Coleção da Faculdade de Belas Artes. Porto. Núcleo do Museu
Nacional de Soares dos Reis, 23 de março a 20 de maio de 2012.
114
par da pintura. Em abril de 1956, Joaquim Lopes daria a sua última lição na ESBAP.391
A propósito da aproximação deste momento, a dez de março de 1956, o pintor declara
que tal era «o caminho para o fim…».392
Joaquim Lopes morreu a vinte e cinco de
março deste mesmo ano, sem ter conseguido proferir a sua derradeira aula.
5.2 – A palavra que proclama.
Os contributos de Joaquim Lopes – dentro e fora da EBAP – não se ficaram pela
direção de uma Escola e pela orientação de alunos em Missões. Ao longo da sua
carreira, dedicou muitas das suas palavras à evocação de artistas, sobretudo
portugueses.393
Proferiu conferências e participou em homenagens, proclamando em
cada iniciativa o seu amor pela Arte.394
Mais uma vez, neste subcapítulo não pretendo
aprofundar nenhuma destas iniciativas em particular, senão apresentar sumariamente
algumas daquelas que mais o envolveram e que, em certa medida, definiram a sua
atividade neste setor das palestras e das consagrações. Tal como em relação ao seu
percurso académico como professor e diretor, também os seus discursos e tributos se
encontram elencados em anexo.395
Joaquim Lopes esteve envolvido em conferências dedicadas a artistas como
António Carneiro,396
Artur Loureiro,397
Cândido da Cunha,398
Joaquim Vitorino
Ribeiro.399
Destas palestras resultaram, muitas vezes, artigos que alguns dos periódicos
391
Cf. GARRADAS, Cláudia – Joaquim Lopes (1886-1956). Aluno e Professor na Escola de Belas Artes
do Porto. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 44. 392
A descarga do bacalhau em plena Ribeira vista pelo mestre Joaquim Lopes. Diário da Manhã,
10/03/1956. 393
«Vários discursos e outras conferências compôs [Joaquim Lopes] no intento de elevar o nosso nível
estético. Com esta finalidade participava com entusiasmo ou organizava homenagens a vários artistas.»
Azevedo, Narciso de. Mestre Joaquim Lopes. Gazeta Literária. Revista Mensal, Vol. IV, Nº 44, abril de
1956, p. 47. 394
«Não devemos pôr em dúvida a benéfica influência das artes na vida e na perfectibilidade do homem.
Ela torna-o melhor, completa-o, aperfeiçoa-lhe os sentidos, a observação surge-lhe mais pronta e nítida,
resultando desse conjunto de qualidades uma força de carácter e uma superioridade verdadeiramente
dignificadoras.» Lopes, Joaquim. A Arte, elemento de atracção conquista e elevação social. Gazeta
Literária. Revista Mensal, Vol. IV, Nº 45, maio de 1956, p. 77. 395
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 23 e 24. 396
O Pintor António Carneiro. Palestra por Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 04/02/1942. 397
Solenidades comemorativas do centenário do nascimento de mestre Artur Loureiro. O Primeiro de
Janeiro, Porto, 12/02/1953. 398
Conferência na Assembleia Barcelense pelo Ilustre Mestre Joaquim Lopes. O Barcelense, Ano 41, Nº
2087, 07/04/1951. 399
Cf. O artista Joaquim Vitorino Ribeiro é hoje evocado numa conferência do mestre Joaquim Lopes.
Diário do Norte, 20/07/1949. e «O pintor portuense Joaquim Vitorino Ribeiro» pelo professor Joaquim
Lopes no Museu de Etnografia e História do Douro Litoral. O Comércio do Porto, 23/12/1949.
115
da época publicaram. É o caso do discurso a propósito de António Carneiro, que deu
origem ao texto – «António Carneiro. Grande artista e maior pintor intelectual do seu
tempo. (1872-1930)» – difundido em abril de 1942, pela Ocidente, Revista
Portuguesa.400
Também será este o periódico que publica, em janeiro de 1952, as
palavras que Joaquim Lopes proferira, no ano anterior, em relação a Cândido da Cunha.
Neste caso, o artigo foi editado no formato de separata, intitulando-se – «O Pintor
Cândido da Cunha» –.401
Em seguida, apresento uma fotografia que diz respeito à
conferência sobre este artista, a qual teve lugar no Salão de Festas da Casa de Recreio
de Barcelos402
. Na imagem, é possível ver o conferencista em pleno discurso.
FFiigguurraa 2222
Conferência sobre o pintor Cândido da Cunha.
Barcelos, 31 de março de 1951.403
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à fotografia: APJL.
400
Lopes, Joaquim. António Carneiro. Grande artista e maior pintor intelectual do seu tempo. (1872-
1930). Ocidente, Revista Portuguesa, Vol. XVI, Nº 48, abril de 1942, pp. 481 a 491. 401
Lopes, Joaquim. O Pintor Cândido da Cunha. Ocidente, Revista Portuguesa, Vol. XLII, Nº 165,
janeiro de 1952, pp. 5 a 13. 402
Conferência na Assembleia Barcelense pelo Ilustre Mestre Joaquim Lopes. O Barcelense, Ano 41, Nº
2087, 07/04/1951. 403
Apesar de no verso da fotografia a data da mesma não estar indicada com precisão, mas somente
apontada como sendo – «março/abril de 1951» –, a consulta de alguns periódicos (Cf. Conferência na
Assembleia Barcelense pelo Ilustre Mestre Joaquim Lopes. O Barcelense, Ano 41, Nº 2087, 07/04/1951.
e Lopes, Joaquim. O Pintor Cândido da Cunha. Ocidente, Revista Portuguesa, Vol. XLII, Nº 165, janeiro
de 1952, p. 5.) permitiu-me concluir que a conferência sobre Cândido da Cunha ter-se-á realizado no dia
31 de março de 1951, pelas 21 horas. Por esta razão, optei por incluir na legenda da figura mais
informações acerca da data do evento, para além daquelas que na própria fotografia eram indicadas.
116
O reconhecimento do mérito de alguns artistas fez com que Joaquim Lopes
promovesse, frequentemente, homenagens que procuravam evocar e celebrar a memória
e o trabalho de figuras que considerava virtuosas. Assim, encontramo-lo envolvido nas
comemorações de centenários como os de Artur Loureiro,404
José de Brito,405
Marques
de Oliveira,406
Silva Porto,407
, Soares dos Reis.408
O seu empenhamento na celebração
dos vultos que julgava merecedores de tributo era tal que tornava essa consagração uma
verdadeira causa de justiça. Foi assim que se dedicou, por exemplo, ao processo de
aquisição e restauro da Casa-Oficina de Soares dos Reis. Este empreendimento – que
envolveu diversas personalidades e se desenrolou durante vários anos – foi contando
com a participação de Joaquim Lopes que, como confessou ao Diário do Norte, se
apaixonou pelo caso desde 1913.409
A dedicação de Joaquim Lopes à defesa dos artistas não se limitou à divulgação
das suas obras e à recordação das suas histórias de vida. O entusiasta lutou por direitos –
como o direito a uma pensão – para as viúvas e famílias enlutadas de pintores e
escultores. Em 1931, o Diário de Notícias faz referência à iniciativa de um grupo de
artistas em apoio da viúva e da filha de Soares dos Reis. Joaquim Lopes participou neste
movimento, merecendo destaque na imprensa pelo empenho que assumiu durante todo
o processo.410
Cerca de dez anos mais tarde, Joaquim Lopes estaria envolvido num
outro empreendimento, desta vez em prol de uma pensão para os descendentes de Artur
Loureiro. Mais uma vez, um grupo de artistas toma a iniciativa de lutar pelos direitos
dos familiares enlutados, entregando, a catorze de janeiro de 1941, uma representação
404
O Centenário do Nascimento de Mestre Artur Loureiro foi comemorado com uma romagem à
sepultura do saudoso pintor, e com uma solenidade na Escola Superior de Belas Artes do Porto. O
Comércio do Porto, 12/02/1953. 405
Joaquim Lopes fez parte da Comissão Executiva da Homenagem. Cf. CATÁLOGO da Exposição do
Centenário do Pintor José de Brito (1855 - 1946). Porto: ESBAP, 1956. 406
FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 29. 407
Um monumento a Silva Porto no Jardim de São Lázaro será inaugurado em 1950, em comemoração do
primeiro centenário do nascimento do grande Artista. Diário do Norte, Porto, 10/11/1949. 408
Lacerda, Aarão de. O Ano Artístico. O Comércio do Porto, 01/01/1947. 409
Entre abril e maio de 1951 seria inaugurada a Casa de Soares dos Reis em Vila Nova de Gaia. A
propósito deste assunto, Joaquim Lopes teceu alguns comentários, seguidamente transcritos.
«Pessoalmente, o caso tem-me apaixonado desde 1913. Uma vez inaugurada, será o fruto de enormes
canseiras que tenho tido em honra do nome do Homem e do Artista que ali viveu, trabalhou e morreu.
[…]
– Para que aquela casa tenha a sua verdadeira função cultural, vou lá instalar dois alunos da Escola,
actuais ou antigos, dando-lhes todo o material necessário para ali poderem trabalhar. […]
– A casa terá, assim, a sua vida própria, que será a continuação da vida que teve, senão, já, quanto ao
Génio que albergou, pelo menos quanto ao trabalho que a criou e dignificou. […]». Na Escola de Belas
Artes vai ser inaugurado um novo pavilhão. Diário do Norte, 24/01/1951. 410
O Porto dia-a-dia. A Cidade. Junta Geral do Distrito. Diário de Notícias, 28/03/1931.
117
assinada por todos os membros do protesto ao Ministro da Educação Nacional, Prof. Dr.
Mário Figueiredo, onde veiculavam a sua posição face a esta questão.411
Nas suas palavras, Joaquim Lopes nunca esqueceu os fazedores de arte. Foi um
defensor dos que entendia terem mérito e não se cansou de prestar tributo a quem,
segundo ele, era merecedor de tal. A palavra que proclamou a sua admiração por
escultores e pintores revela o respeito que sempre nutriu pelos seus pares, sobretudo
pelos Mestres do passado. Reconhecer o contributo dos artistas terá sido, para Joaquim
Lopes, um meio de dar vida ao seu sentimento mais profundo – o sentimento de justiça
–. «Por certo, poucos artistas souberam ser tão agradecidos ao passado, como ele fora
nessa tarefa evocativa e na sua obra de pintor.»412
5.3 – A palavra desenhada.
A escrita foi um outro veículo de concretização interior para Joaquim Lopes.
Através dela, o autor tornou-se uma referência no meio artístico – já não só como pintor
–, mas também como alguém que, através dos seus artigos e textos, divulgava eventos e
informações que colocavam o público em geral a par daquilo que acontecia no mundo
das artes. Em revistas de teor mais específico, como em jornais de temáticas diversas, o
autor não deixou de contribuir com as suas palavras nos mais variados periódicos, de
forma a que a arte chegasse a mais leitores. Como o próprio afirmava – «Que a arte
jamais deixe de existir no primeiro plano duma bem dirigida educação […]»413
–.
As reflexões de Joaquim Lopes tiveram, por isso, o mérito de divulgar o nome e
a obra de muitos artistas. Grande parte dos seus trabalhos – quer as monografias, quer
os breves artigos publicados – teve como mote o percurso de um escultor ou pintor. Tal
decorre, naturalmente, da sua forma de pensar a História da Arte – vista, neste caso,
como História dos Artistas –. Em todo o caso, estes escritos de caráter mais descritivo
serviram de estratégia para atrair os leitores e para os sensibilizar gradualmente para o
411
A favor da família do saudoso pintor Artur Loureiro. O Primeiro de Janeiro, 14/01/1941. 412
MACEDO, Diogo – A Joaquim Lopes. In CATÁLOGO da Exposição Joaquim Lopes (1886 - 1956).
Porto: ESBAP, junho de 1956, p. 6. 413
Lopes, Joaquim. A Arte, elemento de atracção conquista e elevação social. Gazeta Literária. Revista
Mensal, Vol. IV, Nº 45, maio de 1956, p. 77.
118
universo das artes e mesmo para a situação dos artistas e das suas famílias que, como
vimos no subcapítulo anterior, nem sempre era tida em consideração pelo país.414
Neste sentido, as palavras de Joaquim Lopes debruçaram-se mais sobre o
caminho de pintores e escultores do que sobre o próprio rumo do seu trabalho. Deste
modo, e apesar do autor ter uma produção escrita vastíssima, quem investiga a sua obra
não tem acesso a um número considerável de pensamentos do artista, nem acesso a
muitas passagens onde o pintor medite sobre si. Assim, as ilações que conseguiremos
retirar, acerca do modo como o pintor se via a si mesmo, provirão sobretudo das
palavras que escreve a propósito de outros artistas e onde, em breves trechos, deixa
escapar uma ou outra consideração mais pessoal e, por isso, mais ilustrativa da sua
opinião. Em todo o caso, subsiste a questão relativa ao valor que o estudioso deve
atribuir às declarações que um artista faz – direta ou indiretamente – sobre si próprio.
Laura Castro refletiu sobre esta problemática, ao longo das linhas que a seguir
transcrevo.
«[…] importa ainda referir o argumento que considera o depoimento do
artista como insubstituível, sempre que a ele haja acesso, para entender a obra
em causa. […] No entanto, o que é declarado [pelo artista] pode não constituir a
parcela mais importante para a compreensão histórica de qualquer fenómeno, o
artístico incluído. Os silêncios da documentação permitiram, muitas vezes,
avanços consideráveis na investigação. Eles são tão expressivos como as
presenças e tão ostensivos como as declarações formais da intenção. Ora, se o
depoimento de um artista é importante porque radica numa autenticidade
paralela à da criação artística, ele pode não coincidir com o discurso
histórico.»415
O excerto citado alerta para a ambivalência que o valor da palavra do artista
pode ter no contexto de um trabalho de investigação. Ela pode auxiliar no entendimento
de uma obra, mas pode não ajudar na compreensão do fenómeno artístico em si. Por
esta razão, a análise do contributo plástico de Joaquim Lopes – situada nesta dissertação
essencialmente ao longo do quarto capítulo – não se centrou nas palavras do próprio,
não só por estas serem em número reduzido, no que diz respeito ao exercício da
autorreflexão, mas também por ter julgado que alguns dos seus escritos não espelhavam
414
«Com o seu muito observar e ler, o eminente Professor transpôs o ambiente da Escola Superior de
Belas Artes do Porto e difundiu o magistério artístico por jornais e revistas. Não escrevia por ligeirezas de
pretensão, mas por uma imperiosa necessidade de levar até ao povo ledor o interesse pelo ensino e pela
Arte. Os seus escritos eram sempre elucidações, ensinamentos que em rigor correspondiam a proveitosas
lições. Considerava uma necessidade aproximar o povo das artes para engrandecimento da vida social,
[…]» Azevedo, Narciso de. Mestre Joaquim Lopes. Gazeta Literária. Revista Mensal, Vol. IV, Nº 44,
abril de 1956, p. 47. 415
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, pp. 12 e 13.
119
exatamente aquilo que como pintor ele defendeu, exerceu e alcançou.416
Como é dito a
propósito de Courbet – «Sa vision est plus moderne que sa théorie»417
–. Como teórico,
Joaquim Lopes parece não ter ido tão longe como foi, de facto, na sua visão plástica
espelhada, de resto, nas obras que produziu.
Deste modo, as notícias de jornal que o artista preservou – e que tematicamente
não estão diretamente ligadas a empreendimentos onde o pintor se envolveu – tornam-se
mais explicativas da sua conduta e, portanto, da sua obra. Nestes artigos, conseguimos
perscrutar quais terão sido os parágrafos, frases ou palavras que captaram a atenção do
artista, até porque, por vezes, esses trechos se encontram destacados pelo próprio.
Considero e defendo, por isso, que tais elementos são mais ilustrativos das perspetivas
de Joaquim Lopes enquanto pintor, do que os trabalhos que escreveu e cuja finalidade
principal era a de relatar a vida e obra de uma figura ilustre. No seu espólio de recortes
de jornal, o pintor guardou notícias relacionadas com diferentes eventos artísticos e
personalidades muito distintas – portuguesas e estrangeiras, mestres do passado e
vanguardistas do seu presente418
– o que demonstra o interesse do pintor por se manter
atualizado, conservando com o mesmo empenho um artigo sobre um artista que
apreciava e uma notícia sobre um artista que não admirava.
Acredito que nas palavras desenhadas por Joaquim Lopes, bem como nas que
dirigiram alunos e nas que proclamaram o valor de artistas, o autor sempre procurou dar
resposta a dois ímpetos que o moviam – o sentido de justiça e o sentido de liberdade –.
Tal não terá sido fácil para alguém que trabalhou sob um regime ditatorial – a bem da
Nação – e que era obrigado a declarar-se «integrado na ordem social estabelecida pela
Constituição Política de 1933, com ativo repúdio do comunismo e de todas as ideias
subversivas».419
Sem analisar ideologicamente um homem que foi pintor, professor e
416
«Embora [Joaquim Lopes] pareça a alguns artistas de nova senha estrangeira que a sua história é a de
um reaccionário e seja de crer que outras descobertas na fase de indecisão o tivessem determinado
diferentemente, talvez aqueles se enganem na sua infabilidade tanto como ele próprio se terá enganado no
cepticismo absoluto com que resistiu aos modernistas.» Alves, João. Os Pintores de 1900. Lusíada.
Revista Ilustrada de Cultura, Vol. III, Nº 9, dezembro de 1956, p. 20. 417
FRANCASTEL, Pierre – Art et technique aux XIXe et XXe siècles, p. 134. 418
Joaquim Lopes guardou notícias de artistas com propostas plásticas modernas e avançadas, sobretudo
se comparadas às do pintor português. Alguns dos artistas a que me refiro são: André Dunoyer de
Segonzac, Charles Despiau, Georges Braque, James Ensor, Lasar Segall, Marina Caram, Pablo Picasso. 419
Arquivo FBAUP. Processo do pintor Joaquim Francisco Lopes como Professor e Diretor da
EBAP/ESBAP. Enquanto funcionário da EBAP, Joaquim Lopes teve de emitir – entre outros documentos
oficiais – declarações que continham o excerto transcrito no corpo do texto. Tais escritos encontram-se no
seu processo e têm as seguintes datas: 12/11/1945, 26/10/1946 (Na declaração existe uma gralha em
relação ao ano do documento. No escrito a data indicada é a de 1956, sendo que o ano correto será o de
1946, uma vez que na data assinalada no original, Joaquim Lopes já tinha falecido.), 31/10/1947,
120
diretor, mas não político, julgo ser fundamental não esquecer os contextos em que
artistas como Joaquim Lopes desenvolveram os seus trabalhos e atividades. O ataque e
a supressão da liberdade seriam um obstáculo para qualquer criativo. Talvez por isso,
encontremos o seguinte texto do Diário de S. Paulo sublinhado pelo pintor – «[…]
todos os totalitarismos, quaisquer que sejam os nomes que ostentam, atacam e
suprimem a livre expressão de pensamento […]»420–.
Joaquim Lopes ensinou, homenageou e escreveu num período em que não era
realmente livre. A sua palavra desenhou-se, frequentemente, ondulante e ambígua, com
a forma a que os tempos obrigavam. Talvez não nos tenha dito tudo aquilo que
desejava, mas não deixou de lançar pistas, nas palavras tão simples e tão profundas que
povoam alguns dos seus textos, e que ao longo deste trabalho já citei. Certo é que o
pintor nunca abdicou da liberdade universal e inextinguível do pensamento. Daí que,
nas palavras de outros autores, seja possível encontrar menção a algumas das suas
reflexões. Em 1982, por exemplo, Jaime Ferreira recorda o pintor. E lembra as palavras
que um dia Joaquim Lopes lhe disse.
«Joaquim Lopes sabia, e dizia-me um dia, que a acção da obra de arte
não deve limitar-se ao simples e passageiro prazer dos olhos que a contemplam.
É necessário – afirmava – que a obra de arte seja permanentemente motivo de
cultura, dando ao espírito, sem esforço, conhecimentos que o levam a descobrir
e a amar as coisas e aspectos, às vezes bem simples, mas que anteriormente se
conservavam ignoradas e, portanto, incompreendidas.»421
18/02/1948, 30/11/1948, 15/12/1950. A expressão – «a bem da Nação» – era também um termo
recorrentemente utilizado na documentação oficial, que precedia a assinatura do autor do escrito. 420
Diário de S. Paulo, 09/10/. O título e o ano da notícia não estavam identificados no recorte de jornal
guardado por Joaquim Lopes. No entanto, através do cruzamento de dados com outro espólio presente no
APJL, julgo que este artigo poderá situar-se cronologicamente entre os anos de 1951 a 1955. 421
Ferreira, Jaime. Recordar o Mestre Joaquim Lopes. O Tripeiro, Série Nova, Ano I, Nº 6, maio de
1982.
121
6 - Produção Artística de Joaquim Lopes.
Experimentalismo e Afirmação/Afirmação e Experimentalismo.
«A vida, sabe, não presta se não há luta.
É preciso lutar, lutar sempre, para vencer.»
Entrevista a Joaquim Lopes. Diário do Norte, 22/03/1955.422
6.1 – A Obra: ensaiada, amadurecida e renovada.
Neste último capítulo do trabalho, pretendo deixar ao leitor uma referência mais
visual da atividade pictórica de Joaquim Lopes que, afinal, tenho vindo a descrever e a
problematizar ao longo desta dissertação. Os exercícios plásticos – selecionados para
figurar nesta etapa do trabalho – foram escolhidos por ilustrarem algumas das leituras
propostas na presente dissertação, mas também por haver uma necessidade real de
restringir o número e a diversidade dos trabalhos, concebidos pelo artista, a expor neste
capítulo. Assim, reservei para anexo aguarelas, desenhos e ilustrações que dão a
conhecer uma outra faceta da produção artística do pintor, guardando para os subpontos
seguintes propostas que exemplificam o trabalho de Joaquim Lopes na pintura de
azulejo e na pintura a óleo. Apesar de os exercícios a óleo terem sido aqueles que mais
utilizei como mote e objeto de análise para e das minhas investigações, o azulejo
revestiu um papel essencial nesta pesquisa quando, efetivamente, consegui cruzar
algumas das composições a óleo com cenas reproduzidas em azulejo. Logo, a
abordagem de certos painéis de azulejo afigurou-se-me, neste contexto, como sendo
incontornável.
A aproximação às obras sob análise não tenciona centrar-se nem de forma
exaustiva, nem exclusiva na sua descrição técnica, mas antes partir para considerações
pessoais que vão ao encontro das questões que cada trabalho suscitou. Em todo o caso, a
investigação bibliográfica teve em consideração esta valência de observação da pintura,
não deixando, por isso, de ter em linha de conta estudos que se dedicam precisamente à
análise da obra, em diversas vertentes. Neste sentido, importa sublinhar a influência e a
422
Mestre Joaquim Lopes recorda Columbano e as Missões Estéticas de Férias. Diário do Norte, Ano VI,
Nº 2033, Porto, 22/03/1955.
122
relevância de reflexões como as de Bernard Dunstan em A Composição em Pintura423
e
as de Laurent Gervereau em Ver, Compreender, Analisar as imagens424
.
Este ponto da dissertação serve também para fazer referência a projetos de
trabalho de Joaquim Lopes com os quais me cruzei durante a investigação, em menções
mais ou menos alargadas acerca dos mesmos, mas em relação aos quais não consegui
esclarecer, em tempo útil425
, de que empreendimentos se tratava, no que diz respeito ao
tipo de obra em questão, isto é, que género de técnica foi utilizada na execução de dado
trabalho ou no que concerne à sua realização efetiva, ou seja, se de esboço os planos
passaram à sua concretização prática. Esta realidade que também marcou o desenrolar
da pesquisa pode ser ilustrada através de dois exemplos.
Uma das situações não inteiramente clarificadas relaciona-se com a «Casa do
Monte» – também conhecida como «Casa Amarela» – situada na freguesia de Cesar.
Este edifício, construído nos primeiros anos do século XX, conta «com ricas
ornamentações pictóricas do conhecido e cotado pintor Joaquim Lopes»426
, as quais se
desenvolverão no seu interior. Apesar da disponibilidade da Junta de Freguesia desta
vila em acompanhar-me à casa, tal não foi possível concretizar-se. Assim, não apurei de
que forma se desenvolveram as ornamentações do pintor, como é que estas se
apresentam e se o artista as terá executado por encomenda do proprietário da casa ou se
o seu nome terá sido indicado por um colega ou conhecido.
FFiigguurraa 2233
«Casa do Monte» ou «Casa Amarela».
Freguesia de Cesar. Concelho de Oliveira de Azeméis.
Fonte da imagem:
http://freguesiadecesar.blogspot.pt/2010/09/casa-do-monte-ou-casa-amarela.html.
423
DUNSTAN, Bernard – A Composição em Pintura. Lisboa: Editorial Presença, 1982. 424
GERVEREAU, Laurent – Ver, Compreender, Analisar as imagens. 425
A noção de «tempo útil» deve ser entendida como a consciência do tempo disponível para o
cumprimento do projeto de investigação – desde a pesquisa, propriamente dita, à escrita da dissertação –. 426
http://freguesiadecesar.blogspot.pt/2010/09/casa-do-monte-ou-casa-amarela.html. 15-06-2012 23:47.
123
Um outro caso não deslindado alude aos desenhos de Joaquim Lopes publicados
na obra – Água Fresca – de Emanuel Ribeiro, já mencionada nesta dissertação. Neste
trabalho, os esboços do pintor são indicados como sendo «estudos para os painéis de
azulejo do Balneário de Caldelas».427
Por meio da pesquisa realizada através da Internet,
considerei como hipótese mais provável que o balneário a que o autor se refere diga
respeito à atual estância minhota das Termas de Caldelas. Isto, porque no sítio oficial
desta estância,428
há indicação de que os seus balneários terão sofrido uma remodelação
em 2005, mantendo a traça original, o que denota que se tratava de construções já com
alguns anos de existência, passíveis de terem recebido tais painéis de Joaquim Lopes.
Tal não me foi possível confirmar.429
A produção artística de Joaquim Lopes foi reconhecida e, por isso, premiada e
medalhada, ao longo dos anos, em diferentes eventos e concursos.430
A sua obra
ensaiada, amadurecida e renovada seguiu dois ritmos – os compassos do
experimentalismo e os da afirmação –. Os trabalhos apresentados neste capítulo
comportam esta mesma dualidade. A arrumação cronológica, por décadas, das
composições esboçadas pelo pintor e aqui expostas, não pretende conduzir a uma leitura
evolutiva da produção do artista, assumindo-se meramente como um «recurso
operatório».431
Percorrendo os anos, vemos como o pintor foi diverso na sua técnica;
mas constante no seu olhar sobre o mundo real, comum, quotidiano. Um olhar que,
como a sua pintura, ensaiou, amadureceu e sobretudo se renovou.432
427
RIBEIRO, Emanuel - Água Fresca: apontamentos sobre a olaria nacional. 428
http://www.termasdecaldelas.com/. 15-06-2012 23:48. 429
O pedido de informações acerca da posse, por parte daquele espaço, de algum painel de azulejo da
autoria do pintor, foi efetuado para o email <[email protected]> nos dias catorze (09:38) e
vinte um (10:59) de maio do ano corrente, sem ter obtido até ao dia quatro de junho (16:36) do presente
ano qualquer resposta ou esclarecimento por parte daquela empresa. 430
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 24 e 25. 431
«O tratamento da obra por décadas corresponde à mera necessidade de arrumação dos assuntos.
Optou-se por esclarecer o percurso do artista, recorrendo ao fator cronológico como ordenador de
situações e balizador de desenvolvimentos. Valendo este como simples recurso operatório, […]»
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 13. 432
«Whether painting people or still life or landscape, he [Bonnard] painted what was near to him – his
surroundings and his intimates. He painted whatever belonged to his personal life, and he painted it the
way he saw it in the ordinary course of events […]» Cf. SYLVESTER, David – About Modern Art.
Critical Essays 1948-2000, p. 137.
124
6.2 - Azulejo.
Anos 20
Neste subcapítulo da dissertação, debruçar-me-ei sobre a atividade de Joaquim
Lopes no campo da azulejaria, abordando, desde já, dois dos trabalhos que o pintor
desenvolveu neste ofício, os quais foram realizados na passagem da década de vinte
para a década de trinta. Os afazeres em questão dizem respeito aos azulejos ostentados
ao longo das naves laterais da Igreja Matriz de Vilar do Paraíso. Os painéis datam de
1928 e 1931, e foram pintados pelo artista ao serviço da Fábrica do Agueiro. A sua
colocação na igreja teve lugar entre os anos de 1931 e 1932. No painel do lado do
Evangelho encontra-se representada a «Anunciação à Virgem», enquanto a composição
do lado da Epístola trata a «Adoração dos Pastores».433
FFiigguurraa 2244
Título: Anunciação à Virgem (lado da Evangelho da Igreja Matriz de Vilar do Paraíso).
Autor: Joaquim Lopes (ao serviço da Fábrica do Agueiro).
Técnica e Suporte: Pintura sobre azulejo.
Assinatura e Data: Assinado (Fca
do Agueiro, Gaia) e datado de [1928] (canto inferior direito do painel
ovalado).
Fonte dos dados técnicos relativos à obra:
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=19979 e Teresa Santos (autora do
trabalho).
Fotografia: Teresa Santos (autora do trabalho).
433
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=19979. 15-06-2012 23:48.
125
FFiigguurraa 2255
Título: Adoração dos Pastores (lado do Epístola da Igreja Matriz de Vilar do Paraíso).
Autor: Joaquim Lopes (ao serviço da Fábrica do Agueiro).
Técnica e Suporte: Pintura sobre azulejo.
Assinatura e Data: Assinado (Fca
do Agueiro, Vila Nova de Gaia) e datado de [1931] (canto inferior
direito do painel ovalado).
Fonte dos dados técnicos relativos à obra:
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=19979 e Teresa Santos (autora do
trabalho).
Fotografia: Teresa Santos (autora do trabalho).
As linhas suaves que delineiam ambas as composições são um traço da pintura
sobre azulejo do autor e exaltam as suas qualidades como desenhador. Nestes trabalhos,
encontramos uma graciosidade no tratamento dos temas que transmite uma sensação de
paz e de serenidade, que está em harmonia com os episódios representados. A gradação
de tons e o uso de zonas de luz e de contraluz revelam o domínio que o artista tinha da
pintura, neste caso, sobre azulejo. O interesse destas obras reside, sobretudo, no modo
como o pintor foi capaz de controlar diferentes linguagens, sem perder o respeito pelo
desenho – aquilo que para si era um valor fundamental em qualquer bom artista –. A
visita a esta igreja permitiu-me ficar a conhecer o seu interior, que exibe, ainda, na
parede sobre o cruzeiro um «[…] painel azulejar delimitado por cercadura de acantos
auriculares e albarradas a envolver a imagem da "Última Ceia" ao centro.»434
Este
434
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=19979. 15-06-2012 23:49.
126
trabalho é da autoria de Francisco de Macedo e também foi realizado ao serviço da
Fábrica do Agueiro.
Todavia, o interior deste espaço sacro reservava, ainda, outros motivos de
interesse para este projeto de investigação. Ao observar a organização interna da sua
arquitetura, atentando em alguns dos pormenores que a compõem, dei-me conta de que
ela partilhava algumas semelhanças com o interior de uma capela esboçada por Joaquim
Lopes num desenho aguarelado em posse da C-MTL/GDM. Este exercício sobre papel
não está datado e na ficha de inventário encontra-se apenas identificado como «Interior
de Igreja», não avançando nenhuma informação relativamente ao edifício a que diz
respeito. Em todo o caso, o cruzamento entre o interior desta igreja – onde Joaquim
Lopes trabalhou – e aquele que esboçou na mancha em posse da C-MTL/GDM parece-
me suficientemente sólido para, assim, não só poder afirmar que a aguarela em questão
se reporta ao interior da Igreja Matriz de Vilar do Paraíso, como adiantar um
enquadramento cronológico que estará, provavelmente, balizado entre os meados da
década de vinte e os primeiros anos da década de trinta da centúria de novecentos. Isto,
tendo em linha de conta as datas em que o artista pintou os azulejos para aquele espaço.
Neste sentido, este exercício plástico poderá ter mesmo servido como um estudo
da arquitetura que iria receber os painéis compostos pelo pintor. Porém, importa alertar
para a assinatura constante na aguarela – no seu canto inferior direito – a qual apresenta
uma caligrafia mais próxima das constantes nos trabalhos que o pintor realiza para a
EBAP, ainda como aluno, ou seja entre 1906 e 1915, do que propriamente das exibidas
em desenhos produzidos a partir de 1925, grosso modo. Em todo o caso, existem
trabalhos do artista realizados nos anos dez do século XX, onde ele já apresenta uma
assinatura mais sintética, «J. Lopes», pelo que a datação de uma obra através da rubrica
do pintor não é algo muito seguro, pois na verdade o artista vai variando o modo como
assina os seus trabalhos ao longo de uma mesma década. Assim, tomando em
consideração as leituras múltiplas que posso fazer com os dados recolhidos até ao
momento, julgo que a ideia a reter é a de que a exploração da conexão entre estes dois
objetos – um real e outro desenhado – é legítima e, acima de tudo, passível de dar frutos
interessantes, sobretudo para aprofundar o conhecimento sobre a obra em posse da C-
MTL/GDM. Seguidamente, apresento os dois trabalhos em paralelo, com algumas
imagens de pormenor.
127
FFiigguurraa 2266
Interior da Igreja Matriz de Vilar do Paraíso (vista geral para a capela-mor).
Fotografia: Teresa Santos (autora do trabalho).
FFiigguurraa 2277
Título: Interior de Igreja.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Aguarela e lápis sobre papel.
Assinatura e Data: Assinado (canto inferior direito). Não datado.
Dimensões: 32,3cm (altura) x 34,5cm (largura).
Instituição detentora da obra: C-MTL/GDM (Nº Cad.: 521).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: C-MTL/GDM.435
435
A imagem e os dados técnicos relativos a esta obra foram cedidos pela Dra. Raquel de Martino –
Técnica Superior de Museologia da C-MTL/GDM.
128
FFiigguurraa 2266 AA ((ppoorrmmeennoorr)).. FFiigguurraa 2277 AA ((ppoorrmmeennoorr))..
FFiigguurraa 2266 BB ((ppoorrmmeennoorr)).. FFiigguurraa 2277 BB ((ppoorrmmeennoorr))..
129
FFiigguurraa 2266 CC ((ppoorrmmeennoorr)).. FFiigguurraa 2277 CC ((ppoorrmmeennoorr))..
FFiigguurraa 2266 DD ((ppoorrmmeennoorr)).. FFiigguurraa 2277 DD ((ppoorrmmeennoorr))..
130
As imagens em confronto ilustram as correspondências que estabeleci entre o
interior da Igreja Matriz de Vilar do Paraíso e a aguarela de Joaquim Lopes. A
organização interna de ambos os espaços parece, efetivamente, seguir a mesma lógica e
perfil, pelo que esta correlação hipotética se encontra fundamentada, ainda que possa vir
a comprovar-se não ser verdadeira. Esta experiência serviu de mote para a colocação em
paralelo de algumas obras do artista, as quais – mesmo que tecnicamente diferentes –
podem apresentar afinidades compositivas. Tal perspetiva alerta também para uma
valência do trabalho de investigação, nomeadamente para o trabalho de investigação
sobre um artista, que, talvez, nem sempre seja tida em atenção e que se relaciona,
precisamente, com este cruzamento entre as propostas e soluções de um artista, as quais
são, por vezes, analisadas de um modo demasiado compartimentado e não interligado, o
que poderá impossibilitar o acesso a algumas conclusões enriquecedoras para a
evolução do saber acerca de dado artista.
No seguimento desta pesquisa acerca da produção azulejar de Joaquim Lopes, na
década de vinte da centúria de novecentos, tomei ainda conhecimento de um outro
trabalho atribuído ao pintor, o qual se encontra no jazigo de Albano Moreira da Silva436
situado no Cemitério Paroquial de Vilar do Paraíso, anexo à Igreja Matriz que tenho
vindo a analisar. Alguns artigos indicam que este painel, realizado ao serviço da Fábrica
do Carvalhinho, é da autoria do pintor.437
Uma vez que o campo da azulejaria e, em
particular, este trabalho não foi o alvo da minha investigação, referirei e apresentarei tal
obra neste contexto, de modo a divulgá-la – dado que até ao momento ela está
reproduzida em poucas publicações – esperando que esta menção abra caminho para um
olhar mais demorado sobre este painel, esclarecendo com mais exatidão a sua autoria,
além de outros dados relativos à sua feitura. Em todo o caso, importa salientar que a
obra em questão data de 1928, ou seja, reporta-se ao mesmo ano em que Joaquim Lopes
inicia os seus trabalhos na igreja contígua ao cemitério. Porém, não é ao serviço da
mesma fábrica que realiza esta pintura, pese embora o facto de o artista ter trabalhado
tanto para a Fábrica do Agueiro como para a Fábrica do Carvalhinho.
436
Cf. FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 11. 437
Cf. Gomes, J. Costa. Azulejaria Gaiense sua expansão e existência. Boletim da Associação Cultural
dos Amigos de Gaia, Nº 15, novembro de 1983, p. 50. e Gomes, J. Costa. Azulejos do Mestre Joaquim
Lopes. Boletim da Associação Cultural dos Amigos de Gaia, 5º Vol., Nº 33, junho de 1992, p. 40.
131
FFiigguurraa 2288
Título: Ecce Homo (lado esquerdo do painel) e Deposição no túmulo (lado direito do painel).
Autor: Joaquim Lopes (ao serviço da Fábrica do Carvalhinho).
Técnica e Suporte: Pintura sobre azulejo.
Assinatura e Data: Assinado (F.ca
do Carvalhinho, Porto) e datado de 1928 (canto inferior esquerdo do
painel).
Fotografia: Teresa Santos (autora do trabalho).
Nesta composição, descobrimos uma linha que parece ser mais rígida do que a
que desenha os painéis do interior da Igreja Matriz de Vilar do Paraíso, analisados
anteriormente, mas não deixamos de encontrar uma certa suavidade na definição dos
rostos das personagens representadas. Sem pretender posicionar-me face à questão desta
obra ter saído, ou não, das mãos de Joaquim Lopes, prefiro apresentá-la como exemplo
de um conjunto de azulejaria que lhe é associado e cuja história da sua encomenda e
fabrico valerá a pena averiguar e ficar a conhecer mais a fundo. Neste sentido, a sua
inclusão no contexto desta dissertação deseja, como tantos outros espaços e pontos deste
trabalho, suscitar investigações posteriores, capazes de aprofundarem saberes e dissipar
dúvidas, que, no âmbito de um projeto inserido num segundo ciclo de estudos, seriam
impossíveis de desfazer na totalidade, tendo em conta o tempo disponível para toda a
pesquisa.
132
Anos 30
Na década de trinta, Joaquim Lopes responde a uma importante encomenda da
Comissão de Iniciativa de Turismo de Viseu. Em 1931, o pintor trabalha num painel de
azulejo destinado à Praça do Rossio desta cidade ou, mais concretamente, «ao muro de
suporte da rampa que leva ao Soar de Cima e define o Jardim das Mães».438
A pintura
dos azulejos foi executada ao serviço da Fábrica do Agueiro. Este trabalho merece
atenção não só pelo facto de o ter conseguido cotejar com um óleo que o artista esboça
em 1936 – o qual analisarei mais adiante –, mas também pela temática etnográfica e
regional que, de resto, marcou algumas das composições do pintor.
Este último aspeto conotou a obra de Joaquim Lopes com determinados valores,
nomeadamente com uma certa exaltação de valores nacionalistas, e anulou,
frequentemente, todas as outras propostas plásticas que o artista também desenvolveu, e
reduziu o seu trabalho a este género, onde, aparentemente, apenas retratou cenas de
costume, pelo seu simples interesse cultural. Todavia, o «[…] regionalismo não deve
ver-se apenas sensível aos aspectos anedóticos, mas sobretudo como um valioso
pretexto para exercícios de forma e mancha.»439
. Esta ideia alerta para uma outra faceta
do registo de feiras e romarias. O tema é um mote para, na realidade, o artista explorar
efeitos de luz, cor e forma.440
A diversidade de texturas e padrões, que caracteriza os vestuários e acessórios
típicos de um local, permite, recorrentemente, aceder àquilo que pode ser designado
como «experiência pictórica» e o que o excerto citado definiu. Em alguns dos exercícios
em que Joaquim Lopes olhou as festas tradicionais, ele procurou, justamente, o lado
plástico da mancha humana, sempre agitada e em movimento, nestes contextos. O
painel do Rossio de Viseu representa o bulício da vida quotidiana, mas atenta em
alguma figuras típicas que são enquadradas por medalhões emoldurados. O olhar,
centrado num qualquer tipo, consegue ser simultaneamente particular e universal. Há
algo de único e específico em cada personagem que, ao mesmo tempo, representa um
ser coletivo, uma espécie de verdade global – «O retrato de um camponês de Cézanne é
438
Cf. FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim
Lopes, p. 11. 439
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 39. 440
«[Algumas telas] Aproveitam os aspetos anedóticos relacionados como vestuário dos camponeses,
seus acessórios de trabalho e animais que os acompanham para, através da sua geometrização, permitirem
que a experiência pictórica se sobreponha ao conteúdo regional veiculado pelas obras.» CASTRO, Laura
– Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 90.
133
extremamente individualizado e, todavia, universal como uma consciência moral.»441
–.
Os significados por detrás destas construções – supostamente apenas ilustrativas de um
dado orgulho patriótico – são, afinal, múltiplos, sendo, por isso, imprescindível
descodificar a plástica que reside, muitas vezes, sob o tema.
FFiigguurraa 2299
Título: Painel da Praça do Rossio de Viseu.
Autor: Joaquim Lopes (ao serviço da Fábrica do Agueiro).
Técnica e Suporte: Pintura sobre azulejo.
Data: 1931.
Fonte da imagem: http://www.geolocation.ws/v/P/21737076/viseu-azulejos-en-la-praa-da-repblica-/en.
A fotografia anterior oferece uma visão panorâmica do conjunto de azulejos que
se desenvolve ao longo do muro que conduz ao Soar de Cima. A imagem ilustra os
ritmos alternados da composição, que oscila entre a representação de um grupo e o
retrato de uma personagem isolada. Além disso, o desenho organiza-se e adapta-se às
dimensões e formas do espaço que o acolhe e que vai também variando, seguindo as
linhas da rampa que ostenta esta parede azulejada. Em seguida, outro trabalho de
Joaquim Lopes relacionado com este painel azulejar é um óleo elaborado em 1936, para
a Caixa Geral de Depósitos de Viana do Castelo (CGDVC). A mancha, apesar de
retratar os costumes e trajes típicos de Viana do Castelo, possui, na minha perspetiva,
traços em comum com a composição presente no conjunto de azulejos de Viseu.
Antes ainda de confrontar os dois trabalhos no que concerne às suas
semelhanças, importa deixar algumas notas relativamente à pintura de 1936. Este óleo
conheceu outras residências, tendo estado durante algum tempo no Museu Municipal de
Viana do Castelo, segundo indicava uma notícia de 1967 que também alertava para o
facto de o trabalho se estar a degradar «num qualquer espaço» do museu.442
Atualmente,
441
VENTURI, Lionello – Para compreender a pintura: de Giotto a Chagall, p. 190. 442
Joaquim Lopes. Notícias de Viana, 3ª série, Ano IX, Nº 640, Viana do Castelo, 10/07/1967.
134
o trabalho encontra-se na Coleção da Caixa Geral de Depósitos, mais concretamente nas
reservas da Culturgest de Lisboa. Através do contacto estabelecido com a referida
Fundação, foi possível ficar a saber que a obra sofreu uma intervenção de restauro em
1989, sendo que, até ao presente ano, não tinha voltado a ser desenrolada.443
Este é um
aspeto relevante e merece ser aqui mencionado, uma vez que a instituição se prontificou
a desenrolar a tela – não obstante as suas grandes dimensões – para proceder ao seu
registo fotográfico, de modo a este me ser cedido e, assim, eu poder concretizar a
comparação visual entre os dois trabalhos. Seguidamente, apresento uma imagem deste
óleo «A Feira de Ponte de Lima»444
.
FFiigguurraa 3300
Título: A Feira de Ponte de Lima.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Data: 1936.
Dimensões da tela original: 355cm (altura) x 754cm (largura).
Instituição detentora da obra: Coleção Caixa Geral de Depósitos (Nº Inv.: 276097).
Fonte dos dados técnicos relativos à obra: Culturgest e Ficha de Restauro Nº 255/89.445
Fonte da imagem: Cortesia Coleção da Caixa Geral de Depósitos.
443
Tendo em conta as dimensões da tela (355cm (altura) x 754cm (largura)), a mesma encontra-se
enrolada, de forma a preservá-la e a acondicioná-la no espaço. 444
«Feira de Ponte de Lima» é o título concedido à obra na ficha de restauro da mesma. Nas publicações
consultadas, encontrei este trabalho como sendo habitualmente designado «Feira» ou «A Feira». Uma vez
que o cenário desta composição é, efetivamente, Ponte de Lima, e no seu fundo há, inclusive, uma
sugestão do próprio rio Lima, no contexto desta dissertação, irei adotar «A Feira de Ponte de Lima» como
o título identificativo desta tela. 445
A imagem, os dados técnicos e a ficha de restauro relativos a esta obra foram cedidos pela Dra. Isabel
Corte-Real – Conservadora da Coleção da Caixa Geral de Depósitos – através do pedido efetuado pelo
endereço: <[email protected]>.
135
Atendendo à baixa resolução da fotografia reproduzida, ela foi propositadamente
alongada, para assim ser dada uma melhor visão de conjunto, ainda que distorcendo as
formas e as proporções dos seus elementos constitutivos. A extensão do óleo torna
complexa a sua leitura em largura, pelo que esta imagem pretende, sobretudo,
demonstrar como a composição é ampla. Nos próximos espaços, exibirei algumas
parcelas desta tela, em paralelo com extratos do painel de azulejos de Viseu. A
dificuldade em captar um registo fotográfico deste trabalho levantará, igualmente,
obstáculos quanto à legibilidade de alguns dos trechos de tela que irei expor. Em todo o
caso, penso que o exercício sensibilizará o leitor para algumas proximidades entre as
duas obras, que se distanciam em cerca de cinco anos, tendo sido o conjunto de azulejos
concebido primeiramente, pelo que poderá ter sido este empreendimento a servir de
inspiração para o óleo de 1936. As imagens – contrapostas de seguida – unem-se,
sobretudo, pelas posturas corporais das personagens representadas.
FFiigguurraa 2299 AA ((ppoorrmmeennoorr)).. FFiigguurraa 3300 AA ((ppoorrmmeennoorr))..
Fonte da imagem:
http://htunes.blogspot.pt/2010/11/paineis-de-azulejos.html.
136
FFiigguurraa 2299 BB ((ppoorrmmeennoorr)).. FFiigguurraa 3300 BB ((ppoorrmmeennoorr))..
Fonte da imagem: http://fotografiaminhalma.blogspot.pt/2011/08/vise
u.html.
FFiigguurraa 2299 CC ((ppoorrmmeennoorr)).. FFiigguurraa 3300 CC ((ppoorrmmeennoorr))..
Fonte da imagem: http://azulejosnaminhaterra.blogspot.pt/2012_01
_01_archive.html.
137
Os paralelismos estabelecidos poderiam ter sido estendidos por mais alguns
exemplos. Porém, optei por confrontar apenas as imagens que tinham resolução
suficiente para o leitor conseguir acompanhar as analogias propostas. As comparações
apresentadas baseiam-se, sobretudo, na repetição das posições em que algumas figuras
são colocadas, como as duas jovens retratadas nas figuras «29 A» e «30 A» – as quais,
de resto, revelam uma solução muito característica em Joaquim Lopes, quando este
representa figuras sentadas –. A sugestão dos joelhos é elaborada com uma demarcação
dos mesmos nas vestes das personagens, salientando esta zona da anatomia que, assim,
tem um predomínio muito especial em representações como estas.446
Nas restantes contraposições, percebemos que há pontos comuns que validam o
presente exercício, sem com ele pretender indiciar que o painel do Rossio de Viseu
possa ter servido de suporte para o óleo de 1936. Todavia, o pintor poder-se-á ter
deixado influenciar pelas poses e atitudes de algumas das personagens que animam os
seus azulejos de 1931, as quais preservaria, aliás, em desenhos onde esboçara e
estudara, previamente, as figuras que comporiam este painel. Mais uma vez, este
confronto procura desvendar uma linha de pesquisa que possa interligar as várias obras
produzidas pelo pintor, ao longo da sua vida.
446
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p. 10, fig.
54.
138
6.3 - Óleo.
Anos 10
Após ter sido cumprida a incursão por alguns dos trabalhos em azulejo que
Joaquim Lopes realizou, neste subponto da dissertação olharei alguns óleos produzidos
pelo pintor. A seleção das pinturas a analisar foi orientada pelo critério de revelar a
diversidade da obra do artista. Assim, procurei incluir quadros com diferentes temáticas
e com tratamentos compositivos distintos. Além disso, tive a preocupação em
reproduzir pinturas menos conhecidas e divulgadas. Mantendo a estrutura temporal
orientada por decénios – como meio de organizar esta etapa do texto –, este percurso
deseja servir, mais uma vez, como um caminho pelas linguagens desiguais que o pintor
foi falando através da sua pintura.
O trabalho, que irá ilustrar estes anos dez do século XX, diz respeito a um óleo,
onde se vê representada a figura de São Roque, pois a pintura destinava-se à Capela de
São Roque, localizada na Póvoa de Varzim.447
As notícias consultadas, que mencionam
este painel, datam de 1917.448
Assim, este foi, provavelmente, o ano de execução da
obra ou, pelo menos, o ano em que esta foi instalada na igreja em questão. Dado não ter
conseguido situar o trabalho no interior da capela – tal como esta se apresenta
atualmente –, decidi contactar o MMEHPV. Por ser um museu local, possivelmente
poder-me-ia elucidar quanto ao paradeiro do painel e, de facto, através deste contacto,
consegui ficar a saber que a obra se encontra em depósito temporário neste mesmo
museu. A diretora do espaço facultou-me uma fotografia do trabalho – a qual tinha sido
tirada aquando da realização do Inventário do Património Móvel da Igreja – e adiantou-
me que o painel se destinava a «cobrir a boca da tribuna».449
O interesse desta obra reside, sobretudo, no modo como o pintor trata um tema
religioso que, como já foi exposto neste trabalho, não foi um assunto que tenha ocupado
grande parte da sua pintura e, também, na forma como a plástica do artista se apresenta
nos seus primeiros anos de atividade. A leitura que me foi possível fazer do longo
painel cuja fotografia não consegue englobar a sua totalidade conduz-me a salientar o
447
Capela de São Roque, também conhecida como Capela de São Tiago.
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=25237. 15-06-2012 23:50. 448
Cf. Almeida, Martins de. Um painel de S. Roque. Comércio do Porto, 19/07/1917. e Um painel de
Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 19/07/1917. 449
A imagem, os dados técnicos e as informações adicionais relativos a esta obra foram cedidos pela Dra.
Deolinda Carneiro – Diretora do Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim – através
do pedido efetuado pelo endereço: <[email protected]>.
139
rigor do desenho como um dos valores expressos em cada elemento representado na
tela. As cores, sendo provavelmente a componente mais afetada pelo mau estado de
conservação da obra, são tratadas com uma suavidade assinalável sem, no entanto, eu
conseguir estabelecer um paralelismo direto entre esta solução e qualquer outro trabalho
do artista. Em todo o caso, este painel comprova como o pintor não receou, desde
jovem, esboçar composições de dimensões consideráveis, atrevendo-se a aceitar e a
fazer frente a projetos ambiciosos como este.
FFiigguurraa 3311
Título: Painel de São Roque.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Data: 1917.
Assinatura: Assinado (canto inferior direito).
Inscrições: «Offerecido por Ignacio Jose de Faria» (canto inferior direito).
Depósito temporário: MMEHPV.
Fonte dos dados técnicos relativos à obra: MMEHPV e outras fontes450
.
Fonte da imagem: MMEHPV.
450
Cf. Almeida, Martins de. Um painel de S. Roque. Comércio do Porto, 19/07/1917; Um painel de
Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 19/07/1917; FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes:
apontamentos biográficos. In MESTRE Joaquim Lopes, p. 15.
140
Anos 20
A década de vinte será representada por dois trabalhos relevantes para a
compreensão da plástica de Joaquim Lopes, e também para o conhecimento de algumas
das mais importantes encomendas a que o pintor respondeu com composições
elaboradas e complexas, pelas dimensões e número de personagens que apresentam. A
inclusão, neste mesmo ponto do texto, de duas obras afastadas tematicamente e distintas
quanto à liberdade de expressão plástica que revelam, denota o modo como o pintor
soube adequar a sua técnica a cada exercício que realizou ao longo da sua vida. Não há,
por isso, na sua pintura espaço para a monotonia da cor, da forma ou da linha, pois o
artista encontrou na heterogeneidade o caminho para se definir nos diferentes palcos da
vida artística.
O primeiro óleo a analisar intitula-se «Unhais da Serra» e pertence à coleção da
CP-MA, onde é acompanhado por outros dois trabalhos do artista, um deles também
representando a paisagem montanhosa de Unhais da Serra. O catálogo, correspondente à
mostra individual que o pintor realiza em 1927, no MGV (Viseu)451
, menciona duas
obras designadas «Paisagem – Unhais da Serra (nº 15 do catálogo)»452
e «Unhais da
Serra (nº 18 do catálogo)».453
Apesar de não poder afirmar, com total segurança, que se
trata do mesmo óleo – até porque o artista nomeava, frequentemente, da mesma forma
trabalhos distintos, mas que tivessem em comum objetos e temas –, julgo que estes
poderão ser efetivamente os mesmos, visto que um deles – indicado com o nº 18 – é
referido como pertencendo ao «Snr. José Relvas», tratando-se, certamente, de José de
Mascarenhas Relvas cuja coleção constitui o núcleo principal do espólio de obras da
CP-MA. Em todo o caso, importa mencionar que, neste mesmo catálogo, o nome de
José Relvas aparece como sendo igualmente detentor de um outro trabalho – «Um dia
de chuva (nº 17 do catálogo)» – que não pertence à coleção da CP-MA.
Neste sentido, podemos equacionar se esta «paisagem chuvosa» não poderá
corresponder a uma das pinturas designadas pelo CP-MA como «Unhais da Serra». No
entanto, continuamos a ter conhecimento de que existem dois óleos que ilustram estes
451
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 33 e 42. 452
No catálogo – QUADROS de Joaquim Lopes, Salão Silva Porto. [Catálogo:] Porto: [S. n.], 1928. –
encontrei, novamente, uma «Paisagem (Unhaes da Serra) (nº 44 do catálogo)», sem proprietário
identificado e que, como tal, possivelmente corresponde à pintura identificada com o nº 15 no catálogo da
exposição de 1927 no MGV. 453
RELAÇÃO dos quadros que expõe Joaquim Lopes no Museu Regional de Grão Vasco. [Catálogo]
Viseu: [s. n.], junho de 1927.
141
horizontes montanhosos, daí que esta seja uma questão que deve ficar em aberto, de
modo a clarificar se as duas obras «Unhais da Serra» dizem, efetivamente, respeito aos
óleos em posse da CP-MA e, nesse caso, qual o paradeiro da pintura «Um dia de
chuva», pertencente à coleção de José Relvas, mas não inserida no espólio da CP-MA.
Terá sido esta obra vendida, ainda em vida, por José Relvas? Terá ele oferecido o
trabalho a um outro museu ou colecionador? Encontrar-se-á esta pintura num outro
espólio designada com um outro título?
A pintura comentada enquadra-se na linha de trabalhos que propus salientar
nesta dissertação, e relaciona-se com exercícios onde o pintor explora uma pincelada
mais construtiva, suscetível de ser associada a um olhar «cézanneano» sobre as linhas e
as formas. Nesta obra, a matéria é aplicada de forma a definir os volumes. As paisagens
montanhosas – como é o caso da representada nesta mancha – estimulam, de um modo
particular, esta tentativa de tornar mais arquitetónica a construção da pintura, ou seja,
racionalizar o esboço da obra, observando com mais atenção os traços principais,
capazes de assumir a estrutura do trabalho final. As cores dividem-se entre os tons
privilegiados pelo pintor – tão seus característicos e tão difíceis de serem definidos,
dada a fusão tão harmoniosa dos pigmentos –. Porém, penso ser merecedor de destaque
o «[…] agradável cor-de-rosa a que Fialho chamava molho de aurora boreal.»454
e «o
violáceo de Joaquim Lopes»455
. Os tons azuis e roxos equilibram-se ao nível da
temperatura da cor e marcam a paleta do pintor em algumas obras, sobretudo nas que
captam panoramas serranos. Nesta mancha, o artista explora habilmente o suporte de
madeira, sobre o qual a pintura se desenvolve. Esta base possibilita ao pintor pesquisar
outras texturas e efeitos que conferem aos exercícios realizados uma outra faceta
sensorial – mais tátil, menos visual –.
454
Na exposição de “Os Fantasistas”. Os Modernistas. A Lanterna, 08/01/1916. 455
Guimarães, Corrêa d’Oliveira. duardo Viana, príncipe da cor. O Primeiro de Janeiro, 21/03/1984.
142
FFiigguurraa 3322
Título: Pintura campestre – «Unhais da Serra».
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre madeira.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1925 (canto inferior direito).
Inscrições: «Unhais da Serra» (canto inferior direito).
Dimensões: 29,5cm (altura) x 41,8cm (largura).
Instituição detentora da obra: CP-MA (CP-MA 85.441).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: CP-MA.456
456
A imagem e os dados técnicos relativos a esta obra foram cedidos pelo Dr. Nuno Prates – Conservador
da Casa dos Patudos-Museu de Alpiarça – através do pedido efetuado pelo endereço:
143
O trabalho que irei expor em seguida data já do final dos anos vinte da centúria
de novecentos e teve um eco especial por parte da imprensa. Em 1929, Joaquim Lopes
compõe o painel – «Justiça de D. Pedro I» – encomendado pela Câmara de Braga para a
sala de audiências do seu tribunal distrital.457
A composição tomou por base uma
passagem da Crónica de Fernão Lopes que o periódico Diário do Minho não deixou de
transcrever.458
A obra e os respetivos estudos estiveram em exposição no Salão Silva
Porto entre vinte e sete de julho e um de agosto de 1929,459
tendo o painel sido muito
apreciado – « […] O seu número de admiráveis estudos de linha e de cor, expostos
conjuntamente com o painel, mostram o artista insatisfeito que sempre foi o mestre
Joaquim Lopes.»460
–. As figuras de traços fortes e vigorosos461
mereceram o olhar de
alguns jornais que admiraram o trabalho que mostra, de novo, o domínio do artista face
a registos de narrativas longas e com múltiplas personagens.
Atualmente, a tela encontra-se no vestíbulo principal do Palácio de Justiça de
Braga/Tribunal da Comarca de Braga, tendo transitado do antigo para o novo edifício
em 1997, ano em que a obra foi limpa e restaurada. O acesso a estas informações, bem
como ao registo fotográfico do painel, foi possível através da inventariação do
património judiciário levada a cabo pelo Projeto Domus Ivstitiae, do qual contactei um
dos responsáveis. Esta tela soma aos valores do bom desenho e da boa cor – que, até ao
momento, já repetidamente associei ao pintor – a representação de um trabalho de
entalhe e relevo, visível na cadeira onde o rei se encontra sentado, bem como a projeção
exímia de uma fina arquitetura que é perspetivada com grande correção. Os rostos das
figuras unem-se pela dureza das linhas que os compõem, mas cada personagem assume
o seu lugar, afirma a sua expressão assaz individualizada. Este será um dos méritos de
Joaquim Lopes, principalmente quando trata painéis de largas dimensões, historiados e
onde as inúmeras figuras retratadas não deixam de estar interligadas e, acima de tudo,
personalizadas.
457
O painel «Justiça de D. Pedro I». Comércio do Porto, 27/07/1929. 458
A passagem da Crónica de Fernão Lopes, associada ao painel de Joaquim Lopes, e transcrita pelo
Diário do Minho é a seguinte – «Não valeu, estando el-rei em Braga, rogo de quantos com ele andavam,
que pudesse escapar a vida a Alvaro Rodrigues de Grade, um dos bons escudeiros de Antre Douro e
Minho, e bem aparentado, porque cortou os arcos de uma cuba de vinho a um pobre lavrador, que logo el-
rei lhe mandou cortar a cabeça, tanto que o soubesse.» –. “Justiça de D. Pedro I”. Painel para a sala de
audiências do Tribunal de Braga. Diário do Minho, 03/08/1929. 459
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, p. 33. 460
Moreira, A. Mestre Joaquim Lopes. Novidades no Porto, 08/08/[1929]. 461
O painel «Justiça de D. Pedro I». O Comércio do Porto, 28/07/1929.
144
FFiigguurraa 3333
Título: Justiça de D. Pedro I (vestíbulo principal do Palácio de Justiça de Braga/Tribunal da Comarca de
Braga).
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: [Óleo] sobre tela.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1929 (canto inferior direito).
Dimensões: 250cm (altura) x 490cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: Projeto Domus Ivstitiae462
.
462
A imagem e os dados técnicos relativos a esta obra foram cedidos pelo Dr. Francisco Nepomuceno –
um dos responsáveis pelo Projeto Domus Ivstitiae – através do pedido efetuado pelos contactos
telefónicos constantes no endereço eletrónico: http://www.dgaj.mj.pt/DGAJ/sections/tribunais/inst-
equipamentos/projeto-domvs-ivstitiae. 17-06-2012 17:36.
145
Anos 30
O núcleo dos anos trinta ficará, no contexto deste capítulo, marcado por
trabalhos onde Joaquim Lopes se mostrou mais expressivo, quer através do modo como
tornou a sua pincelada mais gestual, quer através do uso que fez de tons mais profundos,
convidativos a uma certa interioridade. Estas pinturas afastar-se-ão dos assuntos sacros,
paisagísticos e históricos que, neste subponto, tenho vindo a abordar, para exibir outras
propostas que diferem temática e plasticamente dos exemplares até então analisados.
Nestes exercícios, o pintor aplicará, de um modo geral, tons mais escuros. Todavia, os
resultados finais serão verdadeiramente diversos, tendo em conta que se trata de obras
com intencionalidades diferentes e, acima de tudo, com suportes distintos, os quais,
como já vimos, têm uma importante influência na determinação da pintura tal como ela
se apresenta.
O primeiro segmento de imagens que apresentarei corresponde a dois estudos
que exibem uma predominância de tons terrosos e uma ambiência ocre, exalada dos
apontamentos alaranjados que o pintor pincelou em alguns pontos da obra e que emitem
tanta energia no contexto desta pintura. O artista empregou nesta mancha a matéria de
forma retilínea e definiu as faces em traços austeros e direitos. No entanto, este trabalho
não deixa de transmitir toda a carga emotiva que reside na força das cores e no modo
como as personagens se afirmam no espaço – com a sua dureza física e moral –. Neste
sentido, pode dizer-se que há «[…] um entendimento goyesco do rosto, acentuando o
seu lado mais dramático.»463
. Mais uma vez, o suporte em madeira auxilia na construção
desta pintura mais texturada, que tanto apela à tatibilidade do observador, como é
compreensível ao olhar as próximas imagens.
463
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 94.
146
FFiigguurraa 3344
Título: Estudo (coleção particular).
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre madeira.
Assinatura e Data: Assinado (canto inferior esquerdo) e datado de 193?.
Dimensões: 62cm (altura) x 40cm (largura).
Fonte dos dados técnicos relativos à obra: Dados recolhidos a partir da obra em questão.
Fotografia: Teresa Santos (autora do trabalho).
FFiigguurraa 3355
Título: Estudo (coleção particular).
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre madeira.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1934 (canto superior esquerdo).
Dimensões: 34cm (altura) x 45cm (largura).
Fonte dos dados técnicos relativos à obra: Dados recolhidos a partir da obra em questão.
Fotografia: Teresa Santos (autora do trabalho).
147
O conhecimento destes dois esboços levou-me a indagar como seria a pintura a
que estes exercícios deram origem. Neste sentido, revi algumas das obras,
nomeadamente as que se encontram em propriedade de museus e outros espaços, tendo-
me cruzado com um trabalho, em posse do MAB, o qual revela um ambiente e uma
organização em tudo próximos dos avançados por estas manchas. O óleo sobre tela é
denominado – «À Lareira» – não estando, porém, datado, o que ajudaria na correlação
entre todos estes trabalhos. Contudo, julgo que as semelhanças no enquadramento das
personagens e mesmo na apresentação das figuras são suficientes para assegurar que a
pintura do MAB é, efetivamente, a conclusão dos vários estudos que o pintor foi
fazendo desta composição. Em todo o caso, colocarei em confronto uma montagem dos
dois estudos já expostos com a obra das coleções do MAB para que o leitor possa tirar
as suas próprias conclusões.
MMoonnttaaggeemm ddaass ffiigguurraass 3344 ee 3355..
FFiigguurraa 3366
Título atribuído pelo MAB: À Lareira.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Data: Não datado.
Dimensões: 89cm (altura) x 116cm (largura).
Instituição detentora da obra: MAB (Nº Inv.: 290).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: www.matriznet.imc-ip.pt464
464
Imagem e dados técnicos disponíveis em:
http://www.matriznet.imc-ip.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=34641. 15-06-2012
23:53.
148
IN PULVIS…
«[…]
Em casal de serras arde o castanheiro,
Lampada de pobres a fazer serão;
De redor no grande, festival braseiro,
A velhinha, o velho, o lavrador trigueiro,
A mulher, os filhos, o bichano e o cão.
[…]
Tem o velho ao collo o seu netinho
doente;
[…]
A velhinha resa, resa afervorada…
[…]
E a dos olhos garços pastorinha bella
Fia no seu fuso linho por córar;
É trigueiro o linho, trigueirnha é ella…
Rodopia o fuso… quando fôr donzella, Já
terá camisas para se ir casar!
[…]
No vetusto escano o lavrador sombrio
Pensa na courela… Santo Deos, Jesus!
[…]
Ronronando ao lume, dorme o cão e o
gato.»
Os Simples, Guerra Junqueiro
Os estudos, apresentados anteriormente, não foram associados a qualquer título,
uma vez que a sua identificação também foi alvo de pesquisa. A indicação, dada pelos
proprietários das obras, é a de que elas diriam respeito aos esboços que o pintor fez
sobre a publicação «Os Simples» de Guerra Junqueiro. No entanto, ao procurar
afinidades entre esta publicação e as últimas composições expostas, dei-me conta de que
os óleos debatidos constituem um retrato fiel do poema «In Pulvis» que a edição de «Os
Simples» integra. Tal não levantaria questões, caso o artista não tivesse, nos catálogos
de diferentes exposições, estudos onde se debruça ora sobre o poema «In Pulvis», em
particular, ora sobre o livro «Os Simples», em geral. As proximidades entre o poema
mencionado e os esboços exibidos são, de facto, numerosas, levando-me a questionar se
os óleos discutidos não dirão na verdade exclusivamente respeito aos estudos de «In
Pulvis». Para que o leitor possa compreender os desafios que estes trabalhos colocaram,
irei contrapor alguns versos do dito poema com o óleo em posse do MAB, o qual
assumo como a obra resultante dos estudos expostos anteriormente.
FFiigguurraa 3366 AA
As passagens selecionadas descrevem, precisamente, as personagens retratadas
no óleo de Joaquim Lopes. As posições corporais e as atividades que cada figura
protagoniza encontram-se descritas nas palavras de Guerra Junqueiro. O velho segura o
neto ao colo, junto à mulher que reza e segura entre as mãos as contas de um rosário.
149
Perto deles, o lavrador apoia a cabeça na mão enquanto pensa, e no campo inferior da
tela o cão dorme. Na pintura, vemos, ainda, duas jovens que costuram, trabalhando uma
delas o linho em volta do fuso. O cruzamento dos registos escrito e visual foi de tal
modo flagrante, que não pude ficar indiferente a tais dados que permitem clarificar a
minha perspetiva, a minha leitura de que o óleo poderá corresponder ao poema «In
Pulvis».
A próxima obra a ser analisada reporta-se já ao final da década de trinta – 1939 –
e pertence à FIMS. Esta pintura levantou diversas questões ao longo da investigação,
que neste caso foi levada em paralelo com a do Dr. Artur Vasconcelos – doutorando em
História da Arte Portuguesa (FLUP) – dedicada ao estudo de algumas das obras em
posse da FIMS. O trabalho em questão retrata uma figura masculina que, num primeiro
momento, nos levou a equacionar três cenários possíveis: poderia tratar-se de um
autorretrato do pintor, do retrato de uma dada personalidade ou, simplesmente, da
representação de um homem cujos traços teriam por base os de um modelo. A pesquisa
foi seguida individualmente, com alguns debates coletivos que iam procurando eliminar
hipóteses e tentar alcançar alguma conclusão que não só ajudasse a identificar o quadro,
como a justificar a sua inclusão na coleção artística do arquiteto Marques da Silva.
Antes de mais, importa referir que, no respeitante à minha investigação, não
consegui chegar a dados suficientemente fortes para me posicionar de um modo seguro
e convicto face a qualquer das possibilidades. Em todo o caso, apresentarei um cenário e
uma explicação viável para a obra em causa, sem com isso encerrar qualquer outra
interpretação. Após o cruzamento de documentos e imagens, optei por traçar um
caminho passível de nos conduzir ao óleo em causa. Todavia, paralelamente a este
exercício de descoberta «da verdade» ou «de uma verdade» por detrás desta tela,
importa não esquecer o valor plástico que a pintura tem em si, independentemente de se
tratar de um autorretrato, de um retrato ou da representação de um modelo.
Neste óleo, o artista isola a figura num fundo escuro de zonas baças e brilhantes.
O recurso a esta base é relativamente comum na obra do pintor, lembrando, inclusive,
algo do tenebrismo espanhol. O artista utiliza-a principalmente nos retratos, de que aliás
é exemplo o «Retrato de D. Raquel Soares dos Reis» pintado, precisamente, em 1939.465
Na tela sob análise, o domínio do pintor face aos fundos negros permite que a mesma
não se afunde na monotonia de uma só cor de suporte, mas antes faça exaltar a figura
465
A pintura encontra-se em posse do MNSR (Nº Inv.: 1238 Pin).
150
cuja camisa branca sobressai, sendo o ponto de luz da obra e, por isso, o elemento
central de todo o quadro que conduz, depois, o olhar do observador até ao rosto
enigmático do homem que parece abandonado naquele enquadramento algo mudo.
FFiigguurraa 3377
Título: Sem título.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1939 (canto superior esquerdo).
Dimensões: 51cm (altura) x 42,3cm (largura).
Instituição detentora da obra: FIMS.
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: FIMS466
.
466
A imagem e os dados técnicos relativos a esta obra foram gentilmente cedidos pela FIMS, por
intermédio da Dra. Paula Abrunhosa.
151
Perante esta pintura, sinto-me confrontada com uma sensação de «presença
humana», o que não implica que este óleo diga respeito a um retrato, como confirma
David S. – «Not being distracted by the temptation to define character allowed Cézanne
to concentrate all his attention on achieving the most precise and complete sensation of
a human presence, of the way someone in reality appears in space.»467
–. Na realidade,
o descomprometimento face à não representação de alguém em particular, permite que o
artista possa explorar e definir a figura do modo que entender, sem ser necessária uma
base de verdade em relação ao modelo que posa diante de si. Esta perspetiva serviu
como suporte do meu percurso rumo à interpretação desta tela. Afigurando-se-me como
pouco provável este trabalho configurar um autorretrato – não só pelas poucas
parecenças que lhe reconheci com a figura de Joaquim Lopes,468
como pela data em que
a obra foi realizada469
–, a questão pôs-se-me sempre entre as hipóteses de ser um
retrato ou a representação de um modelo.
A minha experiência de pesquisa levou-me a contactar com alguns trabalhos
onde o pintor, tendo por base um modelo, desenvolveu pinturas que, num primeiro
olhar, poderiam ser tomadas como retratos dada a postura com que as personagens eram
representadas.470
Neste sentido, e sabendo que o recurso a modelos por parte de
Joaquim Lopes era comum, pois até em familiares e amigos encontrava inspiração,
procurei em algumas das suas composições descortinar algum rosto que se aproximasse
do desenhado neste óleo. Considerei que esta pesquisa tinha sido bem sucedida quando
me cruzei com o estudo isolado de uma das figuras masculinas representadas no painel
«Mercado da Fruta», pintado em 1928 pelo artista.471
O esboço do homem foi
reproduzido num fascículo do Boletim da Associação Cultural dos Amigos de Gaia
(BACAG),472
e o seu rosto de linhas bem marcadas, o cabelo revolto e o olhar fixo
pareceram-me, na verdade, poderem ser aqueles que onze anos mais tarde o pintor volta
a retratar. Seguidamente, contraponho as duas figuras em questão para o leitor
estabelecer as suas próprias analogias.
467
Cf. SYLVESTER, David – About Modern Art. Critical Essays 1948-2000, p. 443. 468
A família de Joaquim Lopes dispôs-se a ver a obra numa reprodução a cores em papel, não tendo
reconhecido semelhanças físicas significativas com o pintor. 469
A pintura data de 1939, ano em que Joaquim Lopes completaria cinquenta e três anos de idade, sendo
que o homem representado na tela parece ser consideravelmente mais jovem. 470
A obra «A saia amarela» (MNSR Inv. 151 Pin CMP/MNSR) ilustra como um modelo pode ser
representado num enquadramento que em tudo é próximo do de um retrato. 471
Para ver imagens do painel consultar: FAUVRELLE, Natália – Mestre Joaquim Lopes: apontamentos
biográficos. In MESTRE Joaquim Lopes, pp. 16 e 17, figs. 13 e 14. 472
Cf. Vaz, Isolino. Joaquim Lopes – Mestre Insigne e Professor Exigente. Boletim da Associação
Cultural dos Amigos de Gaia, Nº 5, outubro de 1978, p. 9.
152
FFiigguurraa 3377 AA
FFiigguurraa 3388
Título: Estudo de figura para o painel «Mercado da Fruta».
Autor: Joaquim Lopes.
Data: [1928].
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: BACAG.
A inclusão desta obra na coleção de Marques da Silva exigia da minha pesquisa
um olhar sobre o próprio percurso do arquiteto, de modo a perceber em que
circunstância é que ele a terá adquirido. Marques da Silva está presente na exposição
que, em 1941, Joaquim Lopes realiza no Salão Silva Porto,473
mas a consulta do
catálogo relativo a esta mostra não é suficiente para esclarecer se esta pintura está entre
as exibidas.474
Em todo o caso, parece-me que a obra terá sido comprada por uma
questão de gosto, e não por este trabalho retratar alguém que o arquiteto estimasse –
fosse Joaquim Lopes ou qualquer outra personalidade –. Porém, sublinho o facto de os
dados apresentados decorrerem de uma determinada linha de raciocínio que segui e
apresentei ao leitor, havendo naturalmente muitas outras linhas possíveis e, como
473
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 33 e 42. 474
CATÁLOGO dos Quadros que expõe Joaquim Lopes no Salão Silva Porto. Porto: [s. n.], 1941.
153
sempre, só uma real. A comprovação ou a negação do meu ponto de vista terá, ao
mesmo nível, desfechos positivos na medida em que aproximarão o investigador da
verdade dos factos, qualquer que ela seja. Deste modo, este ponto do trabalho – acima
de qualquer outro – deve ser efetivamente tido em conta como um espaço de
problematização, no qual se apresentaram sobretudo metodologias e estratégias de
abordagem possíveis para o esclarecimento de algumas destas dúvidas.
Anos 40
No seguimento do ponto anterior, decidi destacar, nesta década de quarenta,
trabalhos onde o pintor usou, sobretudo, tons escuros, conseguindo em cada caso uma
solução muito particular e individual. Os exemplos que trago a este espaço dizem
respeito a retratos – tipologia que neste capítulo ainda não tinha abordado –.
Salvaguardando as devidas diferenças entre as pinturas que irei analisar, há algo em
comum entre todas elas e que não passa, simplesmente, pela opção por um fundo negro.
Os retratados, ilustres, exibem uma pose e uma seriedade que conferem às obras uma
ambiência muito especial, uma vez que quando as olhamos sabemos de antemão, e
mesmo não reconhecendo as personalidades representadas, que as figuras pintadas são,
seguramente, dignas de respeito e de admiração. É interessante verificar, como nestes
exercícios, Joaquim Lopes abandona ou relega, em certa medida, para segundo plano os
aspetos da plástica e da técnica em prol de um trabalho que sirva, sobretudo, os
retratados. Reconhece-se a sua pintura, mas estes exemplos não são ilustrativos das
obras que o artista realiza, fundamentalmente, para debater as questões da cor e da
forma que o inquietavam. Em todo o caso, estes trabalhos pertencem e afirmam-se com
notoriedade no contexto da produção artística do pintor, pelo que devem ser
atentamente observados.
Os dois óleos, que analisarei em primeiro lugar, serão vistos em paralelo pois,
neste caso, confrontarei trabalhos que retratam a mesma figura; são estilisticamente
próximos, dizendo, no entanto, respeito a pinturas diferentes, realizadas, inclusive, em
anos distintos. Esta justaposição serve, sobretudo, para evitar futuras dúvidas
relativamente às obras onde Joaquim Lopes retratou Marques da Silva, e para
demonstrar de que maneira elas se ligam ou afastam. A tela mais antiga data de 1941 e
encontra-se no Centro de Documentação da Faculdade de Arquitetura da Universidade
154
do Porto (CDFAUP). Este trabalho esteve presente na Exposição dos 75 anos da
Universidade do Porto,475
ocasião em que terá sido transferido da FBAUP para o
edifício da FAUP.476
O outro retrato reporta-se ao ano em que Marques da Silva faleceu
– 1947 – e está integrado nas coleções da FIMS.477
Plasticamente, o retrato de 1941 é declaradamente um retrato de pose, enquanto
o de 1947 é uma mancha muito mais emotiva, onde é revelada a estima de Joaquim
Lopes pelo amigo falecido. O artista expressa, de um modo bastante claro, os diferentes
estados de espírito que anteciparam a planificação destas pinturas. O óleo de 1941
descreve com grande exatidão a imagem do arquiteto, definindo com rigor a sua
anatomia, num exercício cuidadoso de desenho. A cor é aplicada de uma forma
refletida. Neste caso, o pintor não busca a expressão através da pincelada ou da textura.
Este é um exercício de profundo realismo que pretende apenas transmitir a dignidade do
retratado. A pintura de 1947 reserva já algum espaço para o pulsar dos ritmos
individuais do artista, veiculados numa tela onde já conseguimos vislumbrar a passagem
do pincel. Grande parte dos elementos constituintes de ambas as obras é a mesma, mas a
sugestão é distinta. Em 1941, o pintor cria um retrato mais distante do observador. Em
1947, ele aproxima-o, e já não é só o prezado arquiteto que representa, mas antes o
homem e o amigo. O fundo negro – que se evidencia nos dois óleos – é trabalhado de
uma forma muito diferente e, sobretudo, serve fins bastante distintos, segundo a
intenção do pintor em cada momento.
475
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 39 e 50. 476
Este retrato de 1941 esteve, também, presente na exposição que Joaquim Lopes levou a cabo no Salão
Silva Porto em 1944, tal como algumas notícias de jornal referem. Cf. Exposição de Pintura de Mestre
Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 22/05/1944. 477
A imagem e os dados técnicos relativos a esta obra foram gentilmente cedidos pela FIMS, por
intermédio da Dra. Paula Abrunhosa.
155
FFiigguurraa 3399
Título: Retrato de José Marques da Silva
(CDFAUP).
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1941
(canto superior direito).
Dimensões: 62,5cm (altura) x 46cm (largura).
Origem/Fonte: FAUP/CDUA.
Fotografia: Arménio Teixeira©.
FFiigguurraa 4400
Título: Retrato de José Marques da Silva (FIMS).
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1947
(campo central direito).
Inscrições: «A mestre/Marques da Silva».
Dimensões: 42,3cm (altura) x 33,6cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos
à obra: FIMS.
156
A outra pintura que reservei para este ponto do trabalho corresponde ao retrato
de Arnaldo Van Zeller, um dos fundadores e primeiro presidente da Associação
Comercial do Porto. O trabalho, exposto no Gabinete de Leitura/Gabinete de Trabalho
da Presidência do Palácio da Bolsa, pareceu-me um exemplo interessante, pois o óleo
parece estar entre a pose do retrato de 1941 de Marques da Silva e a expressividade do
retrato do arquiteto, de 1947. A postura que a figura assume confere alguma altivez ao
quadro, que depois se torna profundamente indagador através do forte olhar com que o
retratado nos observa. Neste caso, vemos como Joaquim Lopes parece ter-se sentido
suficientemente livre para divagar um pouco mais em torno desta figura, tirando partido
de alguns dos seus atributos, como o cabelo e o lenço branco que espreita, e que são
elementos que carregam de movimento e ritmo uma obra que num primeiro olhar parece
estática e fixa, ou seja, um mero retrato de pose.
FFiigguurraa 4411
Título: Retrato de Arnaldo Van Zeller (Gabinete de Leitura/Gabinete de Trabalho da Presidência do
Palácio da Bolsa).
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre [tela].
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1942 (canto superior direito).
Instituição detentora da obra: Associação Comercial do Porto/Palácio da Bolsa.
Fonte dos dados técnicos relativos à obra: Dados recolhidos a partir da obra em questão.
Fotografia: Teresa Santos (autora do trabalho).
157
Anos 50
O óleo, que abre este espaço, data precisamente de 1950 e marca a última década
de atividade de Joaquim Lopes. Após cerca de quarenta anos de produção artística, estes
anos cinquenta não pretendem simbolizar nem um período de maturação, nem o
culminar da pintura do artista. Na realidade, exercícios como o que apresentarei nesta
cronologia, já expostos anteriormente, devem a sua seleção ao facto de ser um trabalho
que retoma a pincelada mais construtiva do pintor e brinda o observador com uma
paleta, quanto a mim, invulgar. Em todo o caso, é inevitável não convidar o leitor a
alguma reflexão sobre o percurso efetuado pelo artista, em que de uma linguagem
naturalista e impressionista, o pintor conseguiu passar a soluções muito mais
expressivas e pessoais, como a tela «Figura feminina» demonstrará. «[…] Joaquim
Lopes, docente contemporâneo de Dordio Gomes, e como ele iniciado numa linguagem
naturalista a qual viria parcialmente e temporariamente a abandonar, em telas de
inspiração impressionista ou, por vezes, deixando o médium libertar-lhe
inesperadamente o gesto.»478
A pintura do artista tem muito de si, na medida em que crescentemente ele se
permite participar na obra, deixando a sua marca, não escondendo o vestígio do pincel,
não disfarçando o empastamento, procurando já um pouco do acaso que a arte do século
XX tanto cultivará. Os seus trabalhos valem já muito pelo seu processo de feitura, de
conceção, de planeamento. A possibilidade de aceder a alguns esboços e estudos, que
antecipavam as composições finais, é um exemplo de como o observador é convidado a
acompanhar o projeto e o percurso do pintor. Este elemento ajudou, aliás, na
compreensão do método de trabalho do artista e mesmo naquilo que ele procurava em
cada empreendimento. A análise da anatomia, da expressão ou, por vezes, de um
pormenor isolado constituinte de dada figura auxiliam no entendimento da organização
de uma obra e apoiam na sua própria leitura e interpretação.
A tela que trouxe para esta etapa da dissertação parece fundir, de um modo
curioso, a pincelada que constrói as massas com a que é gestual e expressiva. Isto,
integrado numa obra onde a paleta justapõe as cores ao gosto impressionista, mas sem
ter as mesmas preocupações com os efeitos lumínicos. Neste sentido, parece sintetizar
478
SOARES, Maria Leonor Barbosa – Pensando sobre o tema “Em redor do século XX… trajetos da
pintura e da escultura”. Apontamentos para um estudo conjunto, galego e português, sobre a prática
artística com origem a norte do Douro, p. 617. http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2934.pdf. 15-06-
2012 23:54.
158
algumas lições, sobretudo no respeitante à defesa da plástica, por si. Se anularmos o
rosto feminino – que funciona como um referente concreto da obra – teremos uma
composição marcadamente abstrata, dado o predomínio da cor, da linha e da forma
como principais fontes de interesse.
FFiigguurraa 4422
Título: Figura feminina.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Assinado e datado de 1950 (canto inferior esquerdo).
Dimensões: 37cm (altura) x 48cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: http://www.sdomingos.com.pt479
Sem data
A necessidade imperiosa de falar, no contexto deste capítulo, sobre algumas
obras, conduziu-me à criação de um setor «sem data» destinado, precisamente, aos
óleos sem ano inscrito, mas que, mesmo assim, em certos casos, procurarei situar
cronologicamente. Estas pinturas – à semelhança daquelas que tenho vindo a debater
neste ponto da dissertação – valem não só pela sua plástica e por aquilo que dão a
conhecer acerca da técnica de Joaquim Lopes, mas também testemunham alguns dos
passos que esta investigação conseguiu dar, nomeadamente no aprofundamento de
alguns dados em torno destes exercícios.
479
Sítio oficial da leiloeira São Domingos: <http://www.sdomingos.com.pt>. A obra «Figura feminina»
esteve presente no Leilão 65, na 1ª Sessão de 07/03/2011.
159
Neste sentido, a primeira obra a merecer atenção neste espaço é uma tela que
pertence à categoria de pintura religiosa. Este trabalho ocupa o segundo retábulo do lado
da Epístola da Igreja Matriz de Espinho, servindo de fundo ao Cristo esculpido por
António Teixeira Lopes. O óleo representa, de um modo interessante, como veremos, o
tema das «Almas no Purgatório», e no campo direito da tela é possível encontrar a
assinatura de Joaquim Lopes, porém, sem qualquer data de referência. Mesmo assim
tentei localizar no tempo este trabalho, uma vez que encontrei, num periódico, a notícia
da ligação do artista à pintura religiosa, num painel para o altar-mor de uma igreja da
beira-mar.480
O recorte do jornal não indicava o seu ano de publicação, todavia, neste
mesmo recorte, havia referência ao painel «Justiça de D. Pedro I» – já analisado neste
subcapítulo – e como é sabido datado de 1929.
Tendo em conta que não há registo de outra pintura religiosa a óleo da autoria do
artista, a não ser o painel de São Roque – já abordado anteriormente, e ao qual este
artigo não pode dizer respeito, uma vez que as primeiras notícias sobre o mesmo já se
reportam ao ano de 1917 –, julgo ser legítimo concluir que esta notícia se referia ao
projeto de Espinho. A Igreja de Nossa Senhora da Ajuda foi, realmente, implantada à
beira-mar, como a notícia menciona, sendo que através desta breve referência, é lícito
afirmar que este óleo do pintor data, provavelmente, do ano de 1929. Em todo o caso, o
artigo indica que a obra se destinaria ao altar-mor da igreja, apesar de não ser esse o
espaço que atualmente ocupa. Porém, este facto pode ser justificado com uma
imprecisão por parte do jornalista, autor da notícia, ou por uma alteração de planos em
relação ao destino da tela. Isto, porque o trabalho está organizado e adaptado não só às
dimensões do retábulo onde se encontra inserido, como às formas do Cristo esculpido
que se sobrepõe a alguns espaços da tela, os quais, propositadamente, não exibem
personagens.
A tela divide-se em três superfícies principais. A área inferior, onde são
representadas as almas no purgatório. A zona da direita em que um anjo liberta as almas
e, como tal, as situa num plano de ascensão. E, finalmente, no canto superior esquerdo
da pintura, a figura de Nossa Senhora do Carmo com o Menino Jesus ao colo, que
intercede pela salvação das almas. A distribuição das diferentes personagens pelo
espaço tem em conta o formato do retábulo onde a tela está inserida, e não esquece
também as dimensões e as formas do Cristo de António Teixeira Lopes, que se sobrepõe
480
Moreira, A. Mestre Joaquim Lopes. Novidades no Porto, 08/08/[1929].
160
à pintura. Os motivos de interesse plástico desta tela estendem-se, igualmente, à forma
como o pintor representou um tema sacro, fazendo-o de uma maneira mais livre do que
aquela que encontrámos, por exemplo, nos painéis de azulejo das naves laterais da
Igreja Matriz de Vilar do Paraíso.
FFiigguurraa 4433
Título: Almas no Purgatório (segundo retábulo do lado da Epístola Igreja de Nossa Senhora da
Ajuda/Igreja Matriz de Espinho).
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: [Óleo] sobre tela.
Assinatura: Assinado (zona direita).
Data proposta pela autora do trabalho: c. a. 1929.
Fonte dos dados técnicos relativos à obra:
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=793
Fotografia: Joana Brito.
Nesta obra, os rostos das figuras têm, de um modo geral, uma expressão muito
real e humanizada. Mesmo as personagens sagradas não parecem distanciar-se, nem
terem um caráter tão etéreo como seria de esperar. Em todo o caso, merecem um
tratamento distinto daquele que as almas no purgatório apresentam e onde se assumem,
claramente, como homens e mulheres, ainda afastados do patamar divino e celeste.
Algumas das faces esboçadas são claramente próximas daquelas que encontramos em
diferentes composições do pintor, quando este retrata, por exemplo, camponesas ou
agricultores. São corpos duros e reais, cuja fisicalidade ainda não os abandonou,
contrastando com a figura do anjo e de Nossa Senhora do Carmo que, embora
apresentando um lado humano, levitam e transmitem uma imaterialidade ainda não
conquistada pelas personagens a seus pés.
161
FFiigguurraa 4433 AA
Deste conjunto, destaca-se uma figura situada na zona inferior esquerda da tela,
que nos olha e interroga. Ela aparenta estar alheada de toda a composição, não
partilhando da prece das outras almas, estando, no entanto, ao nível destas. Como tal, é
uma personagem verdadeiramente indagadora e que, por isso, assume uma tal força que
traz para aquele canto da tela o centro nevrálgico de toda a composição. Ela corta uma
determinada lógica narrativa, constituindo, de certa forma, um ponto de interrogação.
Ela volta as costas ao cenário onde se integra e apoia a cabeça nas suas mãos cruzadas
como quem parece estar indiferente face a algo ou a tudo. As interpretações para a
inclusão de uma figura como esta numa pintura religiosa poderão ser múltiplas. Não irei
adiantar, nem propor nenhuma leitura, uma vez que o meu interesse vai no sentido de
demonstrar como o pintor soube ser original no arranjo destas composições marcadas
por normativas canónicas, e cuja representação podia, muitas vezes, parecer não deixar
espaço para a criatividade do artista.
162
FFiigguurraa 4433 BB ((ppoorrmmeennoorr))
A segunda obra do pintor, a analisar neste ponto do trabalho, terá sido,
provavelmente, uma das últimas pinturas que o artista compôs, datando, por isso, de
meados da década de cinquenta. A tela «Gente do Mar» – por vezes, também designada
como «Praia de Matosinhos» – pertence à Câmara Municipal desta cidade e esteve
recentemente exposta no museu da Quinta de Santiago, no contexto da mostra Fernando
Pinto de Oliveira – um homem além do seu tempo – nos 100 anos do seu nascimento.481
A brochura, alusiva a esta exibição, refere a obra de Joaquim Lopes e situa-a no ano de
1954, não obstante o óleo não ter qualquer data inscrita. Em todo o caso, podemos
apontar os anos de 1950 e 1956 como balizas temporais, onde esta obra possivelmente
se inscreve.482
A tela regista a faina dos pescadores, as vendedeiras de peixe e as mulheres que,
com crianças ao colo, aguardam a chegada dos maridos, com saúde, atirados à aventura
do mar para a sobrevivência da família. Como é habitual, o pintor condensa no mesmo
espaço uma série de figuras, cada uma com uma função e missão próprias no contexto
destas narrativas movimentadas que retratam o bulício das zonas costeiras. O quadro
481
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 40 e 52. 482
Talvez por ter sido uma obra já realizada no final da vida do pintor, ele não tenha tido oportunidade de
a apresentar publicamente. No entanto, ela esteve presente na primeira exposição individual póstuma do
artista, em junho de 1956 na ESBAP, ocupando o lugar cimeiro na listagem dos óleos exibidos e referidos
no catálogo. Cf. CATÁLOGO da Exposição Joaquim Lopes (1886 - 1956). Porto: ESBAP, junho de 1956,
p. 17.
163
vale por esta agitação e pelo modo como o pintor a constrói, fazendo uso de uma
pincelada muito impressionista em certas áreas da tela, onde a mancha curta e retangular
é justaposta com grande rigor. Porém, julgo que o motivo de maior interesse reside na
figura masculina que avança em primeiro plano, carregando cestos às costas e
desenhando, com a sua anatomia, linhas de força, sobretudo, diagonais, que empregam à
pintura um dinamismo ímpar. Este é um dinamismo tenso e quase desequilibrado o que
torna, esta personagem em particular, o centro da composição. Ela representa o domínio
do desenho e da anatomia a um nível que o artista é já capaz de o superar e desconstruir.
A prática do pintor, no tratamento destes assuntos, terá também contribuído para um
aprimoramento da sua técnica.
«Se percorrermos os títulos das obras apresentadas, verifica-se que o
estímulo para a sua criação partia dos lugares habitados ou visitados,
inaugurando uma obra marcada, de forma significativa, pelas terras em que foi
produzida. Os motivos urbanos – praças, ruas, pontes, e a fauna movente de
figuras típicas desde «vendedores de castanhas» a «homens do rio» – vão
desenhando uma obra de referente bem identificado, cujo grau de construção se
adensa à medida que a prática pictórica progride.»483
FFiigguurraa 4444
Título: Gente do Mar (Câmara Municipal de Matosinhos).
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura: Assinado (canto inferior esquerdo).
Dimensões: 179cm (altura) x 245cm (largura).
Fonte dos dados técnicos relativos à obra: Museu da Quinta de Santiago (MQS).
Fotografia: Teresa Santos (autora do trabalho).
483
CASTRO, Laura – Júlio Resende. Tentações da Pintura Ocidental, p. 77.
164
A pesquisa equacionou a possibilidade desta obra ter sido previamente esboçada
em exercícios, onde o pintor tivesse estudado algumas figuras e movimentos. As
aguarelas do artista, em posse do MGV e nomeadas «Aspecto da vida dos
pescadores»,484
são tidas como manchas onde o pintor projetou esta ampla composição
«Gente do Mar», dado que algumas das personagens e as suas posições corporais
parecem coincidir de obra para obra. A correspondência entre esta série de aguarelas e o
óleo em debate é uma hipótese viável, até porque nos catálogos de exposições póstumas
do artista, como a de 1967 na ESBAP485
, ou como a de 1978 na C-MTL/GDM486
, há
referência a algumas aguarelas intituladas «Estudo (para o Quadro «Gente do Mar»)».487
Logo, podemos concluir que o artista não só realizou estudos que serviram de base a
este quadro, como tais estudos foram maioritariamente esboçados em expressivas
aguarelas.
A presente investigação cruzou-se, ainda, com um outro trabalho que se
afigurou, igualmente, como um possível estudo da pintura em questão. A obra encontra-
se no catálogo online da leiloeira Palácio do Correio Velho e não se encontra nem
datada, nem assinada. No contexto desta dissertação, procurei apenas utilizar, no que diz
respeito a leiloeiras, as obras que estivessem assinadas. Porém, tornou-se necessário
abrir um precedente, dado o interesse desta pintura. O estudo em questão corresponde a
um tríptico, onde o pintor organiza as figuras num óleo sobre tela – numa narrativa
próxima daquela a que assistimos na obra «Gente do Mar» –. Nos catálogos de
exposições a que tive acesso, não encontrei qualquer óleo que fosse referido como
sendo um estudo prévio da obra sob análise neste momento. Todavia, obras como
«Convalescente» tiveram os seus estudos prévios realizados a óleo, o que demonstra
que o artista nem sempre compunha os seus esboços recorrendo à aguarela ou ao
desenho a lápis.
O trabalho exposto no catálogo da leiloeira apresenta, no entanto, um título que
o afasta desta temática marítima. A obra é designada como «Ceifeiros – Sebadelhe –
Foz Côa». Contudo, o painel central sugere uma figura em tudo semelhante àquela que
domina a tela «Gente do Mar», assumindo, aliás, a mesma força no contexto do tríptico,
484
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosListar.aspx?TipoPesq=3&SubTipoPesq
=3&NumPag=1&RegPag=50&Modo=1&PorAutor=68188. 15-06-2012 23:55. 485
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 38 e 48. 486
Ver Joaquim Lopes. Questões de estilo em torno da sua obra. Vol. II, Dossier de Anexos, pp. 38 e 48. 487
Cf. EXPOSIÇÃO Retrospectiva de Mestre Joaquim Lopes. [Catálogo] ESBAP: Porto, junho de 1967. e
ARTISTAS de Gaia – Pintor Joaquim Lopes. [Catálogo] Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal, 1978.
165
sobressaindo a sua tensão corporal e as linhas fortes que definem a sua anatomia. Sem
afastar a possibilidade de existir alguma outra obra, onde o pintor registe os «Ceifeiros
de Sebadelhe», creio que, neste caso, a organização que este esboço propõe é muito
semelhante à solução que Joaquim Lopes adianta na sua «Gente do Mar», sobretudo, se
compararmos as duas personagens centrais de cada um dos trabalhos. A forma como
ambas se afirmam na tela é demasiado próxima e revela que estes dois exercícios terão,
certamente, alguma ligação. Para que o leitor possa acompanhar a minha linha de
pensamento, exibirei de seguida os dois óleos que tenho vindo a comparar.
FFiigguurraa 4444 AA
FFiigguurraa 4455
Título proposto pela autora do trabalho: Estudo para o quadro «Gente do Mar».
Título atribuído no catálogo online da leiloeira: Ceifeiros – Sebadelhe – Foz Côa.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre tela.
Assinatura e Data: Não assinado e não datado.
Dimensões aproximadas: 26,5cm (altura) x 54cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos relativos à obra: http://www.pcv.pt488
488
Sítio oficial da leiloeira Palácio do Correio Velho: <http://www.pcv.pt>. A obra «Ceifeiros –
Sebadelhe – Foz Coa» esteve presente no Leilão 265 (Antiguidades), na 2ª Sessão de 17/06/2011, com o
número de lote 0374.
166
Os trabalhos que irão encerrar este ponto da dissertação foram escolhidos por
representarem exercícios onde o pintor buscou, essencialmente, a exploração das massas
de cor e da pincelada mais construtora de formas, do que pesquisadora de efeitos de luz.
As duas obras têm em comum serem óleos esboçados sobre um suporte de madeira, do
qual Joaquim Lopes conseguiu sempre, na minha perspetiva, retirar excelentes soluções,
devido ao aspeto rugoso e mais matérico que esta base sugere. Julgo que estes dois
exemplares podem servir de conclusão visual desta dissertação, uma vez que reúnem
uma série de características debatidas e avançadas ao longo do trabalho acerca da obra
do pintor. Eles mostram o artista livre de escolas e cânones, acima de tudo detido nas
suas divagações pictóricas, libertando-se no médium, situando-se entre a expressão e a
racionalização, entre o sentir e o pensar, entre a fluidez do óleo e a dureza do suporte
em madeira.
FFiigguurraa 4466
Título: Sem título.
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre contraplacado
de madeira.
Assinatura e Data: Assinado (canto inferior
direito). Não datado
Dimensões: 35cm (altura) x 28cm (largura).
Fonte da imagem e dos dados técnicos
relativos à obra: http://www.cml.pt
FFiigguurraa 4477
Título: Marinha, Foz do Douro (coleção particular).
Autor: Joaquim Lopes.
Técnica e Suporte: Óleo sobre madeira.
Assinatura e Data: Assinado (canto inferior direito). Não
datado.
Dimensões: 30cm (altura) x 41cm (largura).
Fonte dos dados técnicos relativos à obra: Dados recolhidos
a partir da obra em questão.
Fotografia: Teresa Santos (autora do trabalho).
167
O óleo – exposto num dos catálogos online da leiloeira Cabral Moncada
Leilões489
– ostenta uma paleta mais rica e viva do que o registo da Foz do Douro que
sugere o ambiente enevoado de uma marinha, da qual o pintor só captou a atmosfera,
encontrando nas geometrias dos rochedos o seu principal motivo de interesse. Nas duas
pinturas, vemos como a pincelada mais livre e colorida do artista convive em harmonia
com o desenho mais rigoroso que olha a linha e os planos com uma atenção mais
racional e arquitetónica. Na minha perspetiva, não há trabalhos que sintetizem a obra de
um artista. Porém, estes dois óleos são, pelo menos, ilustrativos da riqueza do trabalho
do pintor e das conquistas técnicas e plásticas que ele conseguiu alcançar. Após esta
longa viagem pela produção artística de Joaquim Lopes, posso considerar estes dois
exercícios um ponto final naquilo que foi possível dar a conhecer no espaço de uma
dissertação de mestrado. Os pontos de vista apresentados funcionam como olhares sobre
obras que falam por si e sobre as quais também já outros falaram. Desta jornada, a
conclusão que posso tirar, já em 1929 o Diário do Minho adiantava – «Para êle
[Joaquim Lopes] – pintar é viver.»490
–.
489
Sítio oficial da leiloeira Palácio do Correio Velho: <http://www.cml.pt>. A obra «[Sem título]» esteve
presente no Leilão 116 (Antiguidades e Obras de Arte. Pintura, Livros, Pratas e Joias.), na Sessão Única
de 29/03/2010, com o número de lote 176. 490
“Justiça de D. Pedro I”. Painel para a sala de audiências do Tribunal de Braga. Diário do Minho,
03/08/1929.
168
Conclusões, Conquistas e Caminhos.
Conclusões
Para o último espaço do corpo de texto desta dissertação, reservei algumas
palavras que pretendem rematar o percurso pela obra de Joaquim Lopes, trilhado ao
longo das páginas deste trabalho. Chamar, simplesmente, «conclusão» a este ponto,
seria negar ou fazer esquecer o caráter indagador e questionador que este projeto
procurou explorar desde a sua génese. Assim, não só de «conclusões» se fará a habitual
«Conclusão» desta dissertação. Esta etapa do trabalho dará destaque a algumas das
conquistas alcançadas pela investigação, relembrando os caminhos traçados e mantidos
em aberto para futuras pesquisas. Deste modo, tento ser fiel até ao momento final à
premissa que definiu este trabalho como um ponto de partida para outros percursos.
Uma base, mas não um fim.
Do muito que se procurou fazer, muito ficou por dizer e muito há, ainda, para
descobrir. O plano de investigação foi ambicioso, mas não se perdeu nessa ambição,
avançando e consolidando-se nas direções que pôde seguir, deixando meio percorridas
outras tantas. O tema não foi esgotado, por isso, esta pesquisa desbravou mais caminhos
do que conquistou estradas e rumos. No entanto, julgo que teve o mérito de definir com
clareza e honestidade as metas que atingiu e aquelas que ficam em suspenso, esperando
o contributo de futuros investigadores. O texto pretendeu ser crítico e consciencioso.
Não estagnar no olhar centrado sobre o particular, sem também se dissipar numa visão
de conjunto. Em todo o caso, ele deseja sensibilizar para a necessidade de assumir
outras metodologias e novas formas de abordagem no estudo dos períodos históricos e
seus artistas. Em suma, tratar um pintor deve ir além da narração biográfica da sua
história. A biografia deve servir, sim, como um auxiliar na análise da obra.
Neste sentido, este trabalho não quer servir, apenas, como um objeto de interesse
para os apreciadores de Joaquim Lopes, mas também como um estudo que ilustre uma
maneira diferente de chegar à produção artística. A experiência formativa que carrego é-
me suficiente para perceber de que modo é importante cultivar, com mais frequência, a
prática de ensaios centrados na obra de um artista e não tanto na sua narrativa de vida.
Muitas vezes, esta resume-se ao relato de aspetos anedóticos e mitificados –
glorificadores do artista –, mas que em pouco ajudam na compreensão do fenómeno
artístico em si mesmo. Rever paradigmas e os processos de observar o objeto de arte
169
conduziria a estudos menos focados na persona do artista e mais dedicados ao motivo
que os torna – os artistas – motivo de interesse: a obra de arte.
Conquistas
Neste ponto do texto, irei salientar alguns dos contributos que globalmente este
projeto conseguiu oferecer. Como já foi referido nesta dissertação, os estudos dedicados
à obra de Joaquim Lopes são, ainda, em número reduzido, pelo que penso que o trajeto
a seguir daqui em diante é o de procurar construir uma fortuna crítica sólida sobre o
tema, de modo a somarmos perspetivas e a multiplicarmos olhares. A partir deste
momento, estaremos aptos para avançar no debate do óleo ou da aguarela, sem
sentirmos uma necessidade premente de contextualizar o pintor, dá-lo a conhecer e
divulgar um pouco do tudo que fez.
Uma das fortes valias residiu não na mera divulgação de obras do artista, mas na
difusão de alguns trabalhos pouco conhecidos do pintor, os quais revelam,
precisamente, um tratamento plástico mais arrojado e distante do tardo-naturalismo que
lhe é associado. A proposta de correlação de certas obras ajudou a traçar deduções que
conduziram a resultados fundamentais para esclarecer factos e circunstâncias em torno
da produção artística do pintor. O confronto direto entre trabalhos mostrou-se um
exercício eficaz para a interpelação de obras, assumindo-se como um verdadeiro método
na explanação das ideias escritas neste relatório. No fundo, todo o projeto de pesquisa
assentou no cruzamento e sistematização de dados o mais profundamente que me foi
possível, tentando assim compensar a dispersão de informações que até ao momento
dominavam a bibliografia consultada. A arrumação de elementos tornará este
compêndio num suporte norteador de futuras pesquisas, nomeadamente no respeitante
às fontes primárias, nomeadamente aos periódicos, com interesse para o conhecimento
de Joaquim Lopes.
O sucesso deste projeto será, apenas, confirmado se as «conquistas» se
apresentarem como apoios para trabalhos vindouros. A partir desta abordagem de
âmbito mais alargado, o investigador é já capaz de selecionar uma linha de pesquisa no
contexto da obra do pintor, especializando o seu estudo, pois só assim a produção
artística do pintor poderá ser analisada com a profundidade que necessita. Contribuir
para o conhecimento da obra do artista e para o colmatar de falhas no seu estudo foram
170
duas finalidades deste trabalho que, uma vez cumpridas, constituem duas importantes
«conquistas» desta investigação.
Caminhos
Tal como neste ponto do trabalho, esta dissertação pautou-se por caminhos que
foram sendo esboçados e sugeridos ao leitor, no sentido de ele próprio ser um
interveniente crítico deste roteiro e, assim, determinar o seu percurso individual. A
escrita do texto seguiu, de resto, o método da investigação o qual foi, acima de tudo, um
método de questionação e problematização a cada passo e perante os diferentes
panoramas que se me afiguravam. A leitura crítica dos dados foi, também, uma
preocupação constante e transversal a todos os momentos da pesquisa. A procura de
verdades absolutas ou de factos incontestáveis não foi uma preocupação em nenhuma
das fases do trabalho. A atração do leitor através da colocação de perguntas e hipóteses
pareceu-me, verdadeiramente, mais cativante e capaz de estimular reflexões.
Os «caminhos» procuraram ser sempre claros ou suficientemente iluminados de
modo ao leitor percecionar o trajeto trilhado. Neste sentido, as novas perspetivas
apresentadas seguiram a par das questões que ficaram pendentes e de onde não foi
possível retirar ilações absolutamente seguras. A própria estrutura do projeto e da
dissertação denota que esta investigação foi também um caminho, cuja forma poderia
ser diferente. No entanto, este espírito «viajante» não afastou a objetividade e o rigor
desta pesquisa, que foi assertiva nas certezas e nas dúvidas, demarcando as afirmações
das hipóteses. Por estas razões, sinto que os «caminhos» traçados têm um valor
especial, na medida em que são eles que perspetivam o prolongamento deste trabalho
através de outros que o possam utilizar quer como um princípio, quer como um meio.
A presente dissertação é dada por terminada, não obstante os dados por
completar, e as dúvidas por esclarecer. Paralelamente, ela adianta ideias e teses cujo
interesse poderá residir no seu futuro rebatimento, por parte de quem consiga avançar
um pouco mais na pesquisa. Os resultados de uma investigação vivem, assim, na
efemeridade da sua difusão, do seu reconhecimento, e da sua contra-argumentação. No
entanto, se os resultados são efémeros, a investigação, essa, não morre, enquanto os
resultados surgirem, forem depostos e derem origem a novos resultados. Por isso, esta
dissertação pretende ser muito mais um meio do que uma conclusão. Um caminho rumo
a outros caminhos…
171
Bibliografia
Arquivo FBAUP
Processo de Aluno de Joaquim Francisco Lopes.
Livro das Atas de Conferências Gerais da Escola de Belas Artes do Porto (de 31 de
agosto de 1897 a 15 de agosto de 1922) Nº 115; fls. 45.
Livros de matrícula nas aulas da Academia. Perspetiva (de 1904 a 1917). Nº 169; 11v.
Livros de matrícula nas aulas da Academia. Anatomia – Voluntários (de 1837 a 1917).
Nº 166; 72.
Livros de matrícula nas aulas da Academia. Pintura (de 1837 a 1923); Nº 165; 141, 144,
147v, 151v, 156.
Livros de matrícula nas aulas da Academia. Desenho Histórico (de 1904 a 1923). Nº
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Gomes, J. Costa. Camões e os artistas de Gaia. Boletim da Associação Cultural dos
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Gomes, J. Costa. Azulejaria Gaiense sua expansão e existência. Boletim da Associação
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Gomes, J. Costa. Três lugares destacáveis na vida de Soares dos Reis. Boletim da
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Antunes, Joaquim. A Casa-Oficina de Soares dos Reis. Boletim da Associação Cultural
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Lopes, Joaquim. Artur Loureiro. Grande pintor português. (1853-1932). Ocidente,
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Ocidente, Revista Portuguesa, Vol. XIV, Nº 41, setembro de 1941.
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Lopes, Joaquim. António Carneiro. Grande artista e maior pintor intelectual do seu
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Ocidente, Revista Portuguesa, Vol. XVII, Nº 49, maio de 1942.
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Ocidente, Revista Portuguesa, Vol. XXIII, Nº 73, maio de 1944.
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Lopes, Joaquim Artigo. O Pintor Cândido da Cunha. Ocidente, Revista Portuguesa,
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Quadros de Joaquim Lopes. Revista Ema, 13/03/1926.
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O Pintor Joaquim Lopes vai a Madrid ver a grande exposição de pintura. Diário do
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Esquecidos do mundo, um grupo de artistas vive e trabalha há quinze dias no convento
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Lacerda, Aarão de. 1937 – O Ano Artístico. Artes Plásticas. Os mais importantes
acontecimentos artísticos do ano (…). Comércio do Porto, 01/01/1938.
Exposição de trabalhos do estágio artístico no Convento de Cristo. A Voz, 19/01/1938.
Exposição de trabalhos dos artistas da Missão Estética de Férias. Diário de Lisboa,
19/01/1938.
Artes Plásticas. Exposição de trabalhos da 1ª Missão Estetica de Férias, patrocinada pela
Academia de Belas Artes. Diário de Notícias, 19/01/1938.
Os trabalhos dos estagiários da Missão Estetica de Ferias, em Tomar, expostos na
Sociedade Nacional de Belas Artes. O Século, 19/01/1938.
Pamplona, Fernando de. Exposição dos trabalhos da I Missão Estética de Férias –
Outras exposições. Diário da Manhã, 21/01/1938.
Retratos dos srs. General Carmona e dr. Oliveira Salazar. O Século, Porto, 13/05/1938
(6ª feira).
O pintor Joaquim Lopes. Diário de Notícias, Lisboa, 14/05/1938.
Inaugura-se amanhã uma nova sala no Museu de Arte Contemporanea dedicada aos
artistas chamados modernistas. Diário de Lisboa, 27/07/1938.
O Primeiro de Janeiro, 01/03/1939.
Foi hoje inaugurada pelo Chefe do Estado a 36ª exposição de Belas Artes. Diário de
Lisboa, 01/04/1939.
A 36ª exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes (salão de Primavera).
Diário de Notícias, 01/04/1939.
É inaugurado amanhã o «Salon» na Sociedade Nacional de Belas Artes. O certame foi
visitado pela imprensa, sendo de encanto a impressão recebida. O Primeiro de Janeiro,
01/04/1939.
Salão da Primavera, recanto florido de Belas Artes. República, 01/04/1939.
Santos, Martins dos. 36ª exposição de pintura, escultura, arquitectura, desenho e gravura
na S. N. de Belas Artes. A Voz, 02/04/1939.
A Exposição da Sociedade Nacional de Belas-Artes. O Primeiro de Janeiro,
04/04/1939.
O Salão da Primavera. O Primeiro de Janeiro, 04/04/1939.
198
Morre em Viseu o Capitão Almeida Moreira, ilustre director do Museu de Grão-Vasco.
O Primeiro de Janeiro, 19/12/1939.
Distrito de Viseu, Nº 532, Série IV, 21/12/1939.
Em Tomar «Missão Estética». Jornal de Notícias, Porto.
A exposição anual da Sociedade de Belas Artes. Jornal de Notícias, Lisboa,
03/04/1940.
É inaugurada amanhã a Exposição Anual da Sociedade Nacional de Belas-Artes.
Primeiro de Janeiro, Lisboa, 03/04/1940.
Santos, M. Arte & Artistas. XXXVII Exposição de Pintura, Aguarela, Desenho, Pastel,
Guache, Gravura e Escultura. A Voz, Lisboa, 04/04/1940.
A 37ª exposição anual da Sociedade Nacional de Belas Artes. Diário de Lisboa,
04/04/1940.
Imagens da 37ª exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes, Diário de Lisboa,
04/04/1940.
O Chefe do Estado inaugura hoje a 37ª Exposição da Sociedade Nacional de Belas
Artes. O Século, Lisboa, 04/04/1940.
Foi inaugurada, sob a presidência do Chefe do Estado, a Exposição da Sociedade
Nacional de Belas-Artes. Primeiro de Janeiro, Lisboa, 04/04/1940.
Sempre Fixe, Lisboa, 04/04/1940.
A exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes. O Primeiro de Janeiro, 05/04/1940.
A pintura no “Salão de 1940”. Notas impressivas sôbre vários trabalhos apresentados na
exposição anual da Sociedade de Belas Artes. República, Lisboa, 08/04/1940.
O pintor Joaquim Lopes. Sempre Fixe, Lisboa, 09/05/1940.
Inaugura-se hoje no Palácio de Cristal a exposição da Sociedade Nacional de Belas
Artes. Primeiro de Janeiro, 18/05/1940.
A exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes. Primeiro de Janeiro, 19/05/1940.
A Missão Estética de Férias. O Primeiro de Janeiro, 01/08/1940.
IV Missão Estética de Férias. A Aurora do Lima, Viana, 02/08/1940.
A Missão Estética de Férias. Primeiro de Janeiro, 02/08/1940.
Encontra-se já em Viana a IV Missão Estética de Férias. Notícias de Viana, Viana,
03/08/1940.
IV Missão Estética de Férias. Diário da Manhã, 05/08/1940.
Viana do Castelo. Primeiro de Janeiro, 17/08/1940.
A Missão Estética de Férias em Viana do Castelo. Primeiro de Janeiro, 20/08/1940.
199
A Missão Estética de Férias em Viana do Castelo. Primeiro de Janeiro, 28/08/1940.
Diário da Manhã, 31/08/1940.
Missão Estética de Férias. O Primeiro de Janeiro, 02/09/1940.
Missão Estética. O Século em Viana do Castelo, 03/09/1940 (terça-feira).
Missão Estética de Férias. Janeiro, 04/09/1940.
Notas à-tôa. A Aurora do Lima, Viana do Castelo, 06/09/1940.
Viana do Castelo. Pintura seiscentista. Diário da Manhã, 06/09/1940.
Notas de Arte. Notícias de Viana, Viana, 07/09/1940.
Missão Estética de Férias. Janeiro, 10/09/1940.
Diário de Viana. O Comércio do Porto, 15/09/1940.
IV Missão Estética de Férias. Notícias de Viana, Viana, 21/09/1940.
O Comércio do Porto, 22/09/1940.
IV Missão Estética de Férias. Aurora do Lima, Viana, 24/09/1940.
Em Viana do Castelo é inaugurada hoje a Exposição de trabalhos da IV Missão Estética
de Férias. Primeiro de Janeiro, Porto, 24/09/1940.
A IV Missão Estética de Férias concluiu os seus trabalhos em Viana do Castelo. Uma
exposição de télas e uma conferencia. Jornal de Notícias, Porto, 25/09/1940.
“Do Regionalismo ao Nacionalismo na Arte”. Primeiro de Janeiro, Porto, 25/09/1940.
O encerramento dos trabalhos da IV Missão Estética de Férias. Diário de Notícias,
Lisboa, 26/09/1940.
Carta de Viana. Jornal de Notícias, Porto, 26/09/1940.
Carta de Viana do Castelo. IV Missão Estética de Férias. Novidades, Lisboa,
26/09/1940.
A exposição de trabalhos da IV Missão Estética de Férias, realizada em Viana do
Castelo, foi um acontecimento citadino. O Século, Lisboa, 26/09/1940.
Lúcio. A IV Missão Estética de Férias. Aurora do Lima, 27/09/1940.
Os trabalhos da IV Missão Estética. Notícias de Viana, Viana, 29/09/1940.
Missão Estetica de Férias. O Século em Viana do Castelo, 03/10/1940 (quinta-feira).
Notas à-tôa. A Aurora do Lima, Viana, 04/10/1940.
Carta de Viana. Várias Notícias. Jornal de Notícias, 04/10/1940.
Diário de Viana. Um lindo quadro. O Comércio do Porto, 04/10/1940.
IV Missão Estética de Férias. Um Quadro Notavel do pintor Joaquim Lopes. Notícias de
Viana, Viana, 05/10/1940.
Missão Estetica de Ferias. O Primeiro de Janeiro, 08/10/1940.
200
Uma Obra de Arte. O Primeiro de Janeiro, 11/10/1940.
Mais um quadro admiravel de Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 12/10/1940.
Notas de Arte. Notícias de Viana, 12/10/1940.
Exposição dos trabalhos realizados na IV missão estetica de Férias. O Primeiro de
Janeiro, 13/10/1940.
Trabalhos da IV Missão Estética de férias, em Viana do Castelo. A Esfera, Lisboa,
20/10/1940.
Camara Municipal. O Primeiro de Janeiro, 20/10/1940.
A exposição de trabalhos da 4ª missão estetica de ferias. Diário de Lisboa, 02/12/1940.
Os estudos da IV Missão Estética de Férias realizados em Viana do Castelo estão
patentes na Sociedade de Belas Artes. República, 02/12/1940.
Sequeira, Matos. Exposição da 4ª Missão Estética de Férias, organizada pela Academia
Nacional de Belas Artes, na S. N. B. A. O Século, 03/12/1940.
Viana do Castelo motivo de beleza plástica e decorativa. Diário de Lisboa, 05/12/1940.
A Exposição da Missão Estética de Férias, constitue um verdadeiro sucesso. Primeiro
de Janeiro, 07/12/1940.
Exposição da IV Missão Estética de Férias. Diário da Manhã, Lisboa, 13/12/1940.
Movimento a favor da família do saudoso mestre pintor Artur Loureiro. Diário de
Notícias, 10/01/1941.
Movimento a favor da família do falecido pintor Artur Loureiro. O Século no Porto,
13/01/1941 (?) (segunda-feira).
A favor da família do saudoso pintor Artur Loureiro. O Primeiro de Janeiro,
14/01/1941.
Um acto de inteira justiça prestado á memória do grande pintor Artur Loureiro. O
Comércio do Porto, 15/01/1941.
Cruz Caldas expõe… e expõe-se! O Primeiro de Janeiro, 25/02/1941.
Bibliografia. «Os Lusíadas», de Luís de Camões. O Comércio do Porto, 25/03/1941.
A exposição anual da Sociedade de Belas Artes é muito superior áquelas que se têm
realizado ultimamente. Diário de Lisboa, 25/04/1941.
A Exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes. O Primeiro de Janeiro,
25/04/1941.
Foi ontem visitado pela imprensa o salão anual da Sociedade de Belas Artes, que hoje é
inaugurado pelo Sr. Pres. Da Rèpública. Jornal de Notícias, 26/04/1941.
201
O 38º Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes que hoje se inaugura. O Diário de
Notícias, 26/04/1941.
Inaugura-se hoje, na Sociedade de Belas-Artes, o «Salon» de 1941, com a assistência do
Chefe do Estado e elemento oficial. O Primeiro de Janeiro, 26/04/1941.
A 38ª Exposição de Pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes será hoje inaugurada
pelo Sr. Pres. da Republica e por membros do Govêrno. O Século, 26/04/1941.
O Salão da Primavera de 1941. República, 26/04/1941.
A 38ª Exposição Anual da S. N. B. A. Novidades, 27/04/1941.
Foi ontem inaugurada a XXXVIII Exposição Anual de Pintura, Desenho e Escultura,
organizada pela Sociedade Nacional de Belas Artes. Novidades, 27/04/1941.
O 38º Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes foi inaugurado, ontem, pelo Chefe
do Estado. O Comércio do Porto, 27/04/1941.
Almeida, Fausto de. Museu Municipal. Notícias da Figueira, 02/08/1941.
O Primeiro de Janeiro, 08/08/1941.
Notícias de Viana, 15/08/1941.
Araújo, José Rosa de. Notícias de Viana, 06/09/1941.
Notícias de Viana. O Século, 07/09/1941.
Politica de Espirito. Jornal de Notícias, 28/09/1941.
Mestre Joaquim Lopes. A Aurora do Lima, 03/10/1941.
Soltos. Notícias de Viana, 04/10/1941.
Diário de Viana. O Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 15/10/1941.
Exposição de quadros. O Primeiro de Janeiro, 15/10/1941.
Diário de Viana. Exposição de quadros. O Primeiro de Janeiro, 16/10/1941.
A exposição do Mestre Joaquim Lopes. Aurora do Lima, Viana, 17/10/1941.
Araújo, José Rosa de. Mestre Joaquim Lopes voltou a expor. Notícias de Viana,
18/10/1941.
Vida Artística. Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 23/10/1941.
Arquitecto Marques da Silva. Almoço de confraternização. O Barcelense, Ano 31, Nº
1595, 25/10/1941 (sábado).
A Arte no Alto-Minho pelos templos e galerias particulares. (Do interessantíssimo
relatório da IV Missão Estética de Férias, pela especial gentileza do seu Autor, vamos
publicar as partes referentes às obras de arte existentes no distrito). A Aurora do Lima,
ano 86, Viana do Castelo, 07/11/1941.
Como se educam futuros artistas. O Primeiro de Janeiro, 08/11/1941.
202
Exposição de trabalhos de Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 16/11/1941.
Exposição Joaquim Lopes. O Comércio do Porto, 16/11/1941.
Exposição Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 16/11/1941.
Exposição Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, Ano 73, Nº 315, 17/11/1941
(segunda-feira).
Vida Artística. Exposição Joaquim Lopes. Janeiro, 20/11/1941.
Azevedo, Narciso de. O Pintor Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 20/11/1941.
Exposição de quadros do mestre pintor Joaquim Lopes. O Século No Porto, 20/11/1941
(quinta-feira).
Jardim, Aurora. Exposição Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 21/11/1941.
Exposição Joaquim Lopes. O Comércio do Porto, 21/11/1941.
Mestre Joaquim Lopes inaugurou ontem uma brilhante exposição de pintura. O
Primeiro de Janeiro, 21/11/1941.
A Exposição do Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 23/11/1941.
Exposição de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 23/11/1941.
Exposição de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 24/11/1941.
Exposição de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 25/11/1941.
Azevedo, Narciso de. Numa Exposição de Pintura. O Primeiro de Janeiro, 26/11/1941.
Sequeira, Francisco Pereira de. Exposição de Joaquim Lopes no Salão Silva Pinto. A
Voz, 27/11/1941.
Exposição do Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 27/11/1941.
Exposição de Pintura de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 27/11/1941.
Encerra-se amanhã, no Silva Pôrto a admirável exposição do Mestre Joaquim Lopes.
Jornal de Notícias, 29/11/1941.
Exposição de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 29/11/1941.
Morais, Carlos de. Exposição de pintura do Mestre Joaquim Lopes no Salão Silva Porto.
Defesa de Espinho, 30/11/1941.
Exposição de Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 30/11/1941.
Exposição Joaquim Lopes. O Comércio do Porto, 30/11/1941.
Encerra-se hoje a exposição de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro,
30/11/1941.
Vieira, Sérgio Augusto. Joaquim Lopes expôs. Democracia do Sul, Évora, 06/12/1941.
Mestre Joaquim Lopes. O Minhoto, Valença, 07/12/1941.
Vida Mundial Ilustrada, 18/12/1941.
203
Ferreira, Mota. O Mestre Joaquim Lopes. O Comércio, Lisboa, 25/12/1941.
Bibliografia, «Rimas, Autos e Cartas» de Luís de Camões. O Comércio do Porto,
31/12/1941.
O Pintor António Carneiro. Palestra por Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias,
04/02/1942.
Conferências. «O Pintor António Carneiro». O Primeiro de Janeiro, 05/02/1942.
António Carneiro evocado pelo pintor Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 07/02/1942.
Conferências. Na Escola de Belas Artes do Pôrto. O Primeiro de Janeiro, 07/02/1942.
O Salão da Primavera que amanhã é inaugurado, em Lisboa, pelo Chefe do Estado foi
ontem visitado pelos jornalistas, reunindo uma excelente colaboração dos artistas
portuenses. Jornal de Notícias, 10/04/1942.
Arte e Artistas. A Voz, 11/04/1942.
O que se vê na Exposição anual das Belas Artes. República, 12/04/1942.
Salão da Primavera em Lisboa. Breves Notas Impressivas sobre os trabalhos expostos.
O Primeiro de Janeiro, 15/04/1942.
Apontamentos impressivos do “Salão da Primavera”. O Primeiro de Janeiro, Porto,
29/04/1942.
Exposição «Salão da Primavera». O Primeiro de Janeiro, 30/04/1942.
Catálogo Cómico nas Belas Artes. Sempre Fixe, Ano 16, Lisboa, 30/04/1942 (quinta-
feira).
O «Salão da Primavera». Diário de Lisboa, 10/05/1942.
Joaquim Lopes. O Minhoto, 22º Ano, Nº 26, Valença, 23/08/1942.
Mestre Joaquim Lopes. O Minhoto, Valença, 13/09/1942.
Vieira, Sérgio Augusto. Notas biográficas para estudo do Pintor Dominguez Alvarez.
Democracia do Sul, 04/10/1942.
O Primeiro de Janeiro, Ano 75, Nº 1, 01/01/1943 (sexta-feira).
A Arte e a Crítica. Jornal de Notícias, Porto, 15/01/1943.
Vieira, Sérgio Augusto. O pintor Dominguez Alvarez. Democracia do Sul, Ano 42º, Nº
7606, Évora, 30/01/1943.
O Pintor Paisagista Soares Lopes. O Primeiro de Janeiro, 03/02/1943 (quarta-feira).
Garibáldi, A. “Seara Alheia…”. Ecos de Sintra, Ano 8, Número 338, 03/03/1943.
Missão Estética de Férias a Bragança. O Primeiro de Janeiro, 23/04/1943.
Salão da Primavera. Pintura e Escultura. A Voz, Lisboa, 24/04/1943.
Abriu hoje o “Salão da Primavera”. República, Lisboa, 24/04/1943.
204
Salão da Primavera. O Primeiro de Janeiro, 04/05/1943.
Catálogo cómico. 40ª Exposição. Sempre Fixe, Ano 17, Lisboa, 06/05/1943 (quinta-
feira).
Missão Estética de Férias. O Primeiro de Janeiro, 17/06/1943.
Missão Estética de Férias. O Primeiro de Janeiro, 08/07/1943.
Estão em Bragança a fazerem o seu estágio os membros da VII missão Estética de
Férias. O Comércio do Porto, 02/08/1943.
A População bragançana acolheu jubilosamente os artistas da “7ª Missão stética de
Férias”. O Primeiro de Janeiro, 04/08/1943.
A VII Missão Estetica de Ferias. Diário de Notícias, Lisboa, 09/08/1943.
“VII Missão stética de Férias”. Jornal de Notícias, 09/08/1943.
De Bragança. A VII Missão Estetica de Ferias. Jornal de Notícias, Porto, 02/09/1943.
De Bragança. A Missão Estética de Férias. O Comércio do Porto, 02/09/1943.
Notícias de Bragança. O Comércio do Porto, 02/09/1943.
Missão estética de férias. Diário de Notícias, 03/09/1943.
Missão Estética. A Aurora do Lima, Viana, 07/09/1943.
A “Missão stética” em Bragança. O Primeiro de Janeiro, 10/09/1943.
A “Missão stética de Ferias”, em Bragança. O Primeiro de Janeiro, 26/09/1943.
A «Missão Estética de Férias», em Bragança. Aurora do Lima, Viana do Castelo,
28/09/1943.
Terminou ontem a estadia na cidade de Bragança da VII Missão Estética de Férias. O
Comércio do Porto, 29/09/1943.
Em Bragança. Foi encerrada com uma brilhante sessão a VII Missão Estética de Férias.
Jornal de Notícias, Porto, 30/09/1943.
VII Missão Estética de Férias em Bragança. Jornal de Notícias, 30/09/1943.
Em Bragança, encerrou-se a 7ª Missão Estética de Férias com uma sessão solene,
conferência e inauguração de trabalhos de artes. O Primeiro de Janeiro, 01/10/1943.
A 7ª Missão de Férias. Encerramento da Exposição dos trabalhos dos seus componentes
em Bragança. Diário de Notícias, Lisboa, 03/10/1943.
VII Missão Estética de Férias. O Comércio do Porto, 10/10/1943.
7ª Missão Estética de Férias. O Primeiro de Janeiro, 10/10/1943.
A VII Missão Estética de Férias em Bragança. Mensageiro de Bragança, Ano IV, Nº
92, 15/10/1943.
Um belo Salão de pintura na S. N. de B. A. Diário de Lisboa, 04/12/1943.
205
A exposição dos trabalhos da 7ª Missão Estética de Férias foi esta tarde inaugurada na
Sociedade de Belas Artes. República, 04/12/1943.
VII Missão Estetica de Ferias. A Voz, 05/12/1943.
A Exposição da 7ª Missão Estética de Férias foi ontem inaugurada pelo Ministro da
Educação Nacional. Diário da Manhã, 05/12/1943.
Exposição da 7ª Missão Estética de Férias – Na S. N. de Belas-Artes. Diário de
Notícias, 05/12/1943.
VII Missão Estética de Férias. Diário Popular, 05/12/1943.
A VII Missão Estética de Férias. O Comércio do Porto, 05/12/1943.
O Sr. Ministro da Educação Nacional inaugurou, ontem, a Exposição da 7ª Missão
Estética de Férias, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa. O Primeiro de
Janeiro, 05/12/1943.
A Exposição da VII Missão Estética de Férias organizada pela Academia Nacional de
Belas Artes. O Século, 05/12/1943.
O Sr. Pres. da República inaugura, hoje, em Lisboa, na Sociedade de Belas Artes o
“Salão de Inverno”. Jornal de Notícias, 30/12/1943.
«Salão de Inverno» na S. N. de Belas Artes. A Voz, 31/12/1943.
A inauguração oficial do “Salão de Inverno” realizou-se ontem. Diário da Manhã,
31/12/1943.
O Salão de Inverno da S. N. de Belas Artes foi ontem solenemente inaugurado. Diário
de Notícias, 31/12/1943.
Inaugurou-se, ontem, na Sociedade Nacional de Belas Artes o Salão Anual de 1943. O
Comércio do Porto, 31/12/1943.
O Salão de Inverno foi inaugurado ontem por um representante do Chefe do Estado. O
Primeiro de Janeiro, 31/12/1943.
Foram classificados os trabalhos expostos no Salão de Inverno da S. N. de Belas Artes
ontem inaugurado pelo representante do Chefe do Estado. O Século, 31/12/1943.
O Salão de Inverno. O Primeiro de Janeiro, 11/01/1944.
Gusmão, Adriano de. Na S.N.B.A. O Salão de Inverno. Seara Nova, 15/01/1944.
Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 04/05/1944.
Portela, Artur. O Salão da Primavera na Sociedade de Belas Artes. Diário de Lisboa,
10/05/1944.
Salão de Primavera de Pintura e Escultura. A Voz, Lisboa, 11/05/1944.
206
Portela, Artur. O Salão da Primavera. A exposição anual das Belas Artes foi hoje
inaugurada pelo Chefe do Estado. Diário de Lisboa, Lisboa, 11/05/1944.
Pinto, Augusto. Artes Plásticas. 41ª Exposição Anual da Sociedade Nacional de Belas
Artes – Salão da Primavera. Diário de Notícias, 11/05/1944.
Marques, Alfredo. O Chefe do stado inaugura hoje o “Salão Primavera” que ontem foi
visitado pela imprensa. Jornal de Notícias, 11/05/1944.
A XLI Exposição de Pintura e Escultura – Salão da Primavera – inaugura-se hoje. O
Século, 11/05/1944.
Marques, Alfredo. Foi hoje inaugurado o “Salão da Primavera”. Impressões gerais sôbre
a representação da pintura a óleo. República, Lisboa, 11/05/1944.
Pamplona, Fernando. O Salão da Primavera foi ontem inaugurado pelo Chefe do
Estado. Diário da Manhã, 12/05/1944.
Na S. N. de Belas Artes. O Salão da Primavera foi inaugurado ontem pelo Presidente da
Republica. Diário de Notícias, 12/05/1944.
A escultura no “Salão da Primavera”. República, 12/05/1944.
O salão da Primavera. A Voz, 15/05/1944.
Pacheco, Óscar (?). Cronica da Capital. Belas Artes. O Comércio do Porto, 15/05/1944.
Exposição de Mestre Joaquim Lopes. O Comércio do Porto, 16/05/1944.
Salão de Primavera. A Voz, 17/05/1944.
Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 17/05/1944.
Salão da Primavera. O Primeiro de Janeiro, 19/05/1944.
«Salão da Primavera». Nota sumária e impressiva sôbre alguns dos trabalhos expostos.
O Primeiro de Janeiro, 19/05/1944.
Taborda, A. O Salão da Primavera. O Século Ilustrado, 20/05/1944.
Exposição de Joaquim Lopes. O Comércio do Porto, 21/05/1944.
Exposição de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 21/05/1944.
Exposição de Arte. O Diário de Notícias, 22/05/1944.
Exposição de Pintura de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 22/05/1944.
Mestre Joaquim Lopes inaugurou a sua exposição. O Século, 23/05/1944.
Exposição do Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 24/05/1944.
O Pintor Joaquim Lopes no Salão Silva Porto. Jornal de Notícias, 25/05/1944.
Exposição de Joaquim Lopes. O Comércio do Porto, 25/05/1944.
Exposição de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 25/05/1944.
O Salão “da Primavera” vista pelo fotografo. O Século Ilustrado, 27/05/1944.
207
Exposição de Joaquim Lopes. O Comércio do Porto, 01/06/1944.
Exposição de mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 02/06/1944.
Exposição de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 02/06/1944.
Os premios «Silva Porto» e «Soares dos Reis» foram ontem atribuidos. Diário de
Notícias, 18 (?)/06(?)/1944.
Santos, Manuel dos. Mestre Joaquim Lopes no «Salão da Primavera». Domingo,
Lisboa, 25/06/1944.
O X «Salon» do Estoril. O Primeiro de Janeiro, 26/08/1944.
A Francisco Valença, Alfredo de Morais e Manuel Monterroso foi ontem oferecido um
almoço de homenagem. Jornal de Notícias, 10/12/1944.
Nas Belas-Artes 200 obras e 60 artistas nas paredes do «Salão de Inverno». Diário de
Lisboa, 15/12/1944.
10ª Exposição de Aguarelas e Desenhos (Salão de Inverno) – na Sociedade Nacional de
Belas-Artes. Diário de Notícias, 16/12/1944.
O «Salão de Inverno» que é hoje inaugurado pelo Chefe do Estado foi visitado pelos
jornalistas. Jornal de Notícias, 16/12/1944.
Araújo, José Rosa de. O Quadro da Misericórdia. Notícias de Viana, 17/12/1944.
O «Salão de Inverno» foi ontem inaugurado pelo Chefe do Estado. O Primeiro de
Janeiro, 17/12/1944.
Salão de inverno X Exposição 1944. O Primeiro de Janeiro, 27/12/1944.
Crónica da Capital. O Comércio do Porto, 28/12/1944.
O Primeiro de Janeiro, Ano 77, Nº1, 01/01/1945 (segunda-feira).
O Salão da Primavera abriu hoje nas Belas Artes. Diário de Lisboa, 07/04/1945.
A 42ª Exposição de Pintura e de Escultura (Salão de Primavera) na S. N. de Belas Artes.
Diário de Notícias, 07/04/1945.
Salão da Primavera. O Primeiro de Janeiro, 07/04/1945.
Nota impressiva dos trabalhos do Salão da Primavera. O Primeiro de Janeiro,
08/04/1945.
O Conservatório de Música, o Museu Soares dos Reis e a Escola de Belas Artes foram
visitados pelo Sub-Secretário da Educação Nacional. Jornal de Notícias, 08/06/1945.
Escola de Belas Artes. Jornal de Notícias, 11/11/1945.
Escola de Belas Artes do Pôrto. O Comércio do Porto, 11/11/1945.
Escola de Belas do Pôrto. O Primeiro de Janeiro, 11/11/1945.
208
O titular da cadeira de urbanística da Escola de Belas Artes do Porto deu a sua primeira
lição. O Comércio do Porto, 13/11/1945.
Na Escola de Belas-Artes do Pôrto. O Primeiro de Janeiro, 13/11/1945.
Como vivem e trabalham os artistas do Pôrto. O Século Ilustrado, 17/11/1945.
Exposição colectiva no Salão Silva Pôrto. O Comércio do Porto, 04/12/1945.
Exposição de Artes Plásticas. O Primeiro de Janeiro, 04/12/1945.
11º Salão de Inverno. Na S. N. de Belas Artes. Diário de Notícias, 20/12/1945.
Salão de Inverno. O Primeiro de Janeiro, 23/12/1945.
Ainda o Salão de Inverno. O Primeiro de Janeiro, 01/01/1946.
A XII exposição de desenho e aguarela no palácio de Belas Artes. Diário de Lisboa,
14/12/1946.
Na Escola de Belas Artes foram distribuídos prémios aos alunos mais classificados.
Jornal de Notícias, 20/12/1946.
Na Escola de Belas Artes do Porto foi feita a distribuição de prémios aos alunos.
Primeiro de Janeiro, 20/12/1946.
Salão de Inverno. Primeiro de Janeiro, 23/12/1946.
Casa-Museu Teixeira Lopes. O Comércio do Porto, 01/01/1947.
Lacerda, Aarão de. O Ano Artístico. O Comércio do Porto, 01/01/1947.
Visitas ministeriais. Diário de Notícias, 18/02/1947.
O sr. Ministro da Educação Nacional esteve na Escola de Belas Artes e no Palacete do
Campo Alegre. Jornal de Notícias, 18/02/1947.
O ministro da Educação Nacional. O Comércio do Porto, 18/02/1947.
O Sr. Ministro da Educação Nacional visitou a Escola de Belas Artes do Porto. O
Primeiro de Janeiro, 18/02/1947.
O Sr. ministro da Educação visitou a Escola de Belas Artes. O Século, 18/02/1947.
Muita paisagem pouca figura e rara composição no Salão da Primavera. Diário de
Lisboa, 12/04/1947.
O Salão da Primavera foi inaugurado pelo Chefe do Estado, na Sociedade de Belas
Artes. O Primeiro de Janeiro, 13/04/1947.
O Salão de Inverno. Uma exposição pouco substancial onde há, no entanto, obras de
relevo. Diário de Lisboa, 13/12/1947.
Salão de Inverno. O Primeiro de Janeiro, 19/12/1947.
O Primeiro de Janeiro, Ano 80º, Nº 1, 01/01/1948 (quinta-feira).
209
Consagrada a Soares dos Reis inaugurou-se nas Belas Artes a exposição do Grupo de
Artistas Portugueses. Diário de Lisboa, 20/03/1948.
As Festas do «Maio florido». O Primeiro de Janeiro, 15/05/1948.
A grande exposição da Sociedade de Belas Artes inaugurou-se hoje. Diário de Lisboa,
10/07/1948.
Portela, Artur. O Salão de Inverno nas Belas Artes. Diário de Lisboa, 11/12/1948.
O salão de Inverno nas Belas Artes. O Comércio do Porto, 14/12/1948.
A visita dos alunos da Faculdade Nacional de Arquitectura do Brasil. O Século no
Porto, 24/02 (quinta-feira).
Estudantes brasileiros de arquitectura visitam o Porto. Jornal de Notícias, 25/02/1949.
Chegaram, ontem, ao Porto, tendo sido recebidos nos Paços do Concelho, os estudantes
brasileiros de arquitectura que, desde há dias, estão em Portugal. O Comércio do Porto,
25/02/1949.
Os Estudantes Brasileiros de Arquitectura – que visitam hoje Viana do Castelo, Braga e
Guimarães – chegaram ontem a esta cidade, tendo o chefe dessa missão cultural
proferido, na Escola de Belas Artes do Porto, uma prelecção magistral. O Primeiro de
Janeiro, 25/02/1949.
Constroem-se activamente os novos pavilhões da Escola de Belas Artes do Porto.
Diário da Manhã, Lisboa, 07/03/1949.
Nobre, Roberto. Um pouco de trovoada num Salão de Primavera. O Primeiro de
Janeiro, 27/04/1949 (quarta-feira).
Seguiu para a Galiza uma excursão de alunos da Escola de Belas Artes. Jornal de
Notícias, 02/06/1949.
O artista Joaquim Vitorino Ribeiro é hoje evocado numa conferência do mestre Joaquim
Lopes. Diário do Norte, 20/07/1949.
O mestre Joaquim Lopes fez uma conferência sobre o pintor Joaquim Vitorino Ribeiro.
O Século, 21/07/1949.
Montês, António. “As Mordomas” de Mestre Joaquim Lopes. Boletim da CP, Ano 21º,
Nº 244, outubro de 1949.
Um monumento a Silva Porto no Jardim de São Lázaro será inaugurado em 1950, em
comemoração do primeiro centenário do nascimento do grande Artista. Diário do Norte,
Porto, 10/11/1949.
Na Escola de Belas-Artes do Porto. Uma notável conferência do escultor espanhol D.
Federico Marés Deulovol. O Primeiro de Janeiro, 03/12/1949.
210
O pintor portuense Joaquim Vitorino Ribeiro. O Primeiro de Janeiro, 22/12/1949.
«O pintor portuense Joaquim Vitorino Ribeiro» pelo professor Joaquim Lopes no
Museu de Etnografia e História do Douro Litoral. O Comércio do Porto, 23/12/1949.
Conferências. Joaquim de Vasconcelos e o Românico em Portugal. Jornal de Notícias,
15/02/1950.
Na Escola de Belas Artes do Porto. O Primeiro de Janeiro, 15/02/1950.
Para comemorar o centenário da descoberta do betão armado realizou-se, ontem, uma
sessão solene na Escola de Belas Artes do Porto. O Comércio do Porto, 18/02/1950.
Na Escola de Belas Artes do Porto. O Primeiro de Janeiro, Porto, 18/02/1950.
O ensino artístico nas escolas primárias foi o tema de uma palestra do Mestre Joaquim
Lopes a centenas de professores. Diário do Norte, 25/03/1950 (sábado).
Dezenas de escritores, poetas, escultores e pintores de todo o país associaram-se, ontem,
em Vila Nova de Famalicão ao acto inaugural da glorieta que perpetua, no granito e no
bronze, o nome de Júlio Brandão. O Comércio do Porto, Ano XCV, Nº 90, 03/04/1950
(segunda-feira).
A vida e a obra de Júlio Brandão foram ontem enternecidamente evocadas na sua terra
natal – Vila Nova de Famalicão –, onde se inaugurou um monumento à memória deste
insigne escritor. O Primeiro de Janeiro, Ano 82º, Nº 90, 03/04/1950.
Nobre, Roberto. A XLVII Exposição Anual da Sociedade Nacional de Belas Artes. O
Primeiro de Janeiro, 03/05/1950 (quarta-feira).
O Centenário de Silva Porto. Jornal de Notícias, 29/10/1950.
Silva Porto. O Comércio do Porto, 11/11/1950.
Conferência na Assembleia Barcelense pelo Ilustre Mestre Joaquim Lopes. O
Barcelense, Ano 41, Nº 2087, 07/04/1951.
A Visita do Ministro das Obras Públicas. Jornal de Notícias, 28/04/1951.
Visita ministerial ao Porto. O Comércio do Porto, 28/04/1951.
O Ministro das Obras Públicas na Capital do Norte. O Diário de Notícias, 28/04/1951
(sábado).
O acto da entrega – pelo ministro das Obras Públicas ao subsecretário da Educação
Nacional – do novo edifício do Liceu Feminino Carolina Michaëlis. O Primeiro de
Janeiro, 28/04/1951.
O Liceu Carolina Michaëlis. O Século, 28/09/1951.
«A Arte da Iluminura» por D. Lucas Teixeira. O Primeiro de Janeiro, Porto,
19/03/1952.
211
VIII – Salão de Arte Contemporânea dos Artistas do Norte. O Comércio do Porto,
28/06/1952.
Mestre Joaquim Lopes pediu a demissão de professor da Escola de Belas Artes do
Porto. Diário de Lisboa, 21/07/1952.
Sérgio, Octávio. A Escola de Belas Artes. Joaquim Lopes – Carlos Ramos. O Norte
Desportivo, 31/07/1952.
Oliveira, A. Lopes de. O Impressionismo nas telas do Mestre Joaquim Lopes.
Novidades, 03/08/1952.
Nasceu, há um século, no Porto Mestre Artur Loureiro que honrou a arte da pintura e
prestigiou o nome de Portugal na Europa. O Comércio do Porto, 11/02/1953.
O Centenário do Nascimento de Mestre Artur Loureiro foi comemorado com uma
romagem à sepultura do saudoso pintor, e com uma solenidade na Escola Superior de
Belas Artes do Porto. O Comércio do Porto, 12/02/1953.
Solenidades comemorativas do centenário do nascimento de mestre Artur Loureiro. O
Primeiro de Janeiro, Porto, 12/02/1953.
O Salão da Primavera referente a 1952-53 abrange quatro salas repletas. Diário de
Lisboa, 04/05/1953.
Rápido itinerário crítico entre pinturas e esculturas no Salão da Primavera. Diário de
Lisboa, 12/04/1954.
Nobre, Roberto. 50º Salão da Primavera. Primeiro de Janeiro, 28/04/1954.
Mestre Joaquim Lopes recorda Columbano e as Missões Estéticas de Férias. Diário do
Norte, Ano VI, Nº 2033, Porto, 22/03/1955.
Torres, Pinheiro. Antero de Figueiredo e a sua mensagem artística. Diário do Norte,
Ano VI, Nº 2049, 07/04/1955 (quinta-feira).
Diário do Norte, Ano VI, Nº 2114, Porto, 13/06/1955 (segunda-feira).
Guerra, Oliveira. Mestre Joaquim Lopes. O Girassol, Ano XXXII, 3ª Série, Nº 7, julho
de 1955.
Diário de Viagens de Marques de Oliveira. Diário de Lisboa, 08/09/1955.
Bibliografia «Marques de Oliveira». O Primeiro de Janeiro, 18/01/1956.
Silva Porto, Pousão, Marques de Oliveira e João Ribeiro. Diário de Lisboa, 25/01/1956.
A descarga do bacalhau em plena Ribeira vista pelo mestre Joaquim Lopes. Diário da
Manhã, 10/03/1956.
212
Entrevistas a Joaquim Lopes.
“Se visse uma fada o que lhe pediria?”. Eva, Lisboa, 09/1942.
Missões Estéticas de Férias. 5 minutos de conversa com o Mestre Pintor Joaquim
Lopes. O Primeiro de Janeiro, 30/06/1943.
Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 18/08/1944.
Nogueira, Goulart. Mestre Joaquim Lopes fala da Arte. Diário do Norte, Porto,
21/08/1950.
A Escola de Belas Artes do Porto terá em breve um museu e uma sala de exposições
alem de um pavilhão de arquitectura – diz-nos Mestre Joaquim Lopes. Jornal de
Notícias, Porto, 20/01/1951.
Na Escola de Belas Artes vai ser inaugurado um novo pavilhão. Diário do Norte,
24/01/1951.
Barreto, Costa. Decadência? Inquérito. O Comércio do Porto, 15/05/1951.
Notícias póstumas sobre Joaquim Lopes.
Lucena e Vale. Notas e Comentários. Joaquim Lopes. Beira Alta. Arquivo Provincial.
Ano XV, Nº 1, 1956.
A morte de Joaquim Lopes tarja de luto a Arte Nacional. Diário do Norte, 26/03/1956.
Morreu Joaquim Lopes pintor ilustre e professor da Escola de Belas-Artes. Jornal de
Notícias, 26/03/1956.
Última hora. Faleceu Mestre Joaquim Lopes. Novidades, 26/03/1956 (segunda-feira).
Mestre Joaquim Lopes. O Comércio do Porto, 26/03/1956.
Faleceu ontem Mestre Joaquim Lopes ilustre professor e pintor de arte. O Primeiro de
Janeiro, 26/03/1956.
Correio do Minho, 27/03/1956.
Necrologia. Falecimentos. Mestre Joaquim Lopes. Diário da Manhã, 27/03/1956.
Necrologia. O funeral do Prof. Joaquim Lopes. Diário do Norte, 27/03/1956.
Mestre Joaquim Lopes. Realiza-se hoje o seu funeral. O Primeiro de Janeiro,
27/03/1956.
Lutuosa. Professor Joaquim Lopes. Diário de Notícias, 28/03/1956.
Funerais. Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 28/03/1956.
O funeral de Mestre Joaquim Lopes. O Comércio do Porto, 28/03/1956.
Mestre Joaquim Lopes. O seu funeral foi expressiva manifestação de sentimento. O
Primeiro de Janeiro, 28/03/1956.
213
A obra de mestre Joaquim Lopes. Diário de Lisboa, 29/03/1956.
Costa, Sousa. Joaquim Lopes – Mestre Pintor, lição de amigos. O Primeiro de Janeiro,
11/04/1956.
Sérgio, Octávio. O Pintor Joaquim Lopes e a sua notabilíssima acção no meio artístico
portuense. O Norte Desportivo, 12/04/1956.
Alves, João. «Morreu o Homem» Professor Joaquim Lopes. Jornal de Notícias,
11/05/1956.
Ferreira, Jaime. Além de professor e pintor o Mestre Joaquim Lopes a quem a Escola de
Belas Artes vai prestar homenagem póstuma evidenciou-se como um dos maiores
amigos das artes e dos artistas. O Norte Desportivo, 27/05/1956.
Exposição póstuma, de homenagem a Mestre Joaquim Lopes. O Comércio do Porto,
05/06/1956.
A Escola Superior de Belas Artes do Porto vai prestar homenagem póstuma a mestre
Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 05/06/1956.
Uma exposição postuma de obras de mestre Joaquim Lopes na Escola de Belas-Artes. O
Século no Porto, 07/06/1956 (quinta-feira).
Exposição de trabalhos de Joaquim Lopes. 07/06/1956.
A exposição de trabalhos do mestre Joaquim Lopes. Diário de Lisboa, 08/06/1956.
Exposição de obras de mestre Joaquim Lopes. Diário de Notícias, 08/06/1956.
Homenagem póstuma a Mestre Joaquim Lopes. Diário do Norte, 08/06/1956.
A Exposição de alguns trabalhos de Joaquim Lopes foi ontem inaugurada. Jornal de
Notícias, 08/06/1956.
Na Escola Superior de Belas Artes foi inaugurada uma exposição póstuma de
homenagem ao mestre Joaquim Lopes. O Comércio do Porto, 08/06/1956.
Na Escola de Belas-Artes do Porto foi ontem inaugurada a exposição póstuma de
Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 08/06/1956.
Vida Artística. A exposição retrospectiva da homenagem a Mestre Joaquim Lopes. O
Primeiro de Janeiro, 10/06/1956.
Homenagem a mestre Joaquim Lopes. Sempre Fixe, 13/06/1956.
Mestre Joaquim Lopes. Jornal de Notícias, 14/06/1956.
Regueiro, A. Braz. Mestre Joaquim Lopes. Notícias de Coura, Ano I, Nº 6, 15/06/1956.
Escola de Belas-Artes do Porto. Jornal de Notícias, 16/06/1956.
Vida Artística. Exposição de quadros de Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro,
16/06/1956.
214
Vida Artística. Exposição de quadros de Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro,
17/06/1956.
Sousa, Alberto. Mestre Joaquim Lopes. A sua exposição retrospectiva na Escola
Superior de Belas-Artes. Primeiro de Janeiro. Folha das Artes e Letras, 20/06/1956.
Sousa, Alberto de. A exposição póstuma de Mestre Joaquim Lopes. O Homem, o
Pintor, o Mestre. Novidades, 15/07/1956.
Real, André. Mestre Joaquim Lopes – uma vida toda devotada à arte. Diário de
Notícias, 19/07/1956.
Real, André. Mestre Joaquim Lopes. Uma vida toda devotada à arte. Voz de Portugal,
05/08/1956.
Ronda. O Comércio do Porto, 14/08/1956.
Museu de Arte de Viana do Castelo. O Primeiro de Janeiro, 15/08/1956.
As Festas da Agonia estão a decorrer com grande brilho. Diário de Notícias,
18/08/1956.
Inauguração das novas instalações do Museu Regional. Jornal de Notícias, 18/08/1956.
O Comércio do Porto, 18/08/1956.
A inauguração das exposições. O Primeiro de Janeiro, 18/08/1956.
A Escola Superior de Belas Artes prestou homenagem póstuma ao mestre Joaquim
Lopes. O Comércio do Porto, 26/03/1957.
Faz hoje. O Primeiro de Janeiro, 26/03/1957.
Na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Homenagem à memória do Mestre
Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 26/03/1957.
Martins, José. Em memória de Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 26/03/1958.
Há 25 anos… Mestre Joaquim Lopes em Viana. O Primeiro de Janeiro, 16/10/1966.
Homenageada em Amarante a memória de Joaquim Lopes. Diário Popular, 02/06/1967.
Mestre Joaquim Lopes no Museu de Amarante. Jornal de Notícias, 03/06/1967.
A homenagem ao pintor Joaquim Lopes e a exposição de motivos cinegéticos foram os
principais números do primeiro dia das Festas de Amarante. O Comércio do Porto,
03/06/1967.
Vida Artística. Exposição de Joaquim Lopes no Museu de Amarante. O Primeiro de
Janeiro, 03/06/1967.
Vida Artística. Retrospectiva de Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro,
10/06/1967.
Vida Artística. Retrospectiva de Mestre Joaquim Lopes. Diário do Norte, 12/06/1967.
215
Retrospectiva de mestre Joaquim Lopes. Diário de Lisboa, 13/06/1967.
Arte. Exposição retrospectiva de Joaquim Lopes, na Escola Superior de Belas Artes. O
Comércio do Porto, 14/06/1967.
Vida Artística. Retrospectiva de Mestre Joaquim Lopes. Diário do Norte, 17/06/1967.
Artes plásticas. Diário de Lisboa, 19/06/1967.
Arte. Exposição retrospectiva de Mestre Joaquim Lopes, na Escola Superior de Belas-
Artes. O Comércio do Porto, 20/06/1967.
Vida Artística. Retrospectiva de mestre Joaquim Lopes na Escola de Belas-Artes. O
Primeiro de Janeiro, 22/06/1967.
Exposição de Mestre Joaquim Lopes. Diário do Norte, 25/06/1967.
Exposição retrospectiva de mestre Joaquim Lopes na Escola Superior de Belas-Artes do
Porto. Jornal de Notícias, 30/06/1967.
Arte. Exposição retrospectiva da pintura do mestre Joaquim Lopes. O Comércio do
Porto, 01/07/1967.
Joaquim Lopes. Notícias de Viana, 3ª série, Ano IX, Nº 640, Viana do Castelo,
10/07/1967.
Há 50 anos… Quadros de Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 07/05/1968.
Ferreira, Jaime. Arte. O Comércio do Porto, 23/04/1978 (Domingo).
Há 50 anos… Pintor Joaquim Lopes. P. J., 25/04/1978.
Rocha, Arlindo. Joaquim Lopes – a obra e o apreciador. O Primeiro de Janeiro,
31/05/1978 (quarta-feira).
Mestre Joaquim Lopes. O Progresso da Foz, Ano I, Nº 9, Foz do Douro, julho de 1979.
Mestre Joaquim Lopes morreu há 25 anos. O Comércio do Porto, 25/03/1981.
Há 25 anos morreu mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro, 25/03/1981.
Em louvor da música popular. P. J. Suplemento Artes e Letras, 02/09/1981.
Morreu António Cruz. O Comércio do Porto, 30/08/1983 (terça-feira).
Guimarães, Corrêa d’Oliveira. duardo Viana, príncipe da cor. O Primeiro de Janeiro,
21/03/1984.
Foi director da Escola de Belas-Artes do Porto. Mestre Joaquim Lopes nasceu há cem
anos. Diário de Lisboa, 22/04/1986 (terça-feira).
Há cem anos nasceu Mestre Joaquim Lopes. Correio da Manhã, 23/04/1986.
Pintor Joaquim Lopes nasceu há cem anos. Jornal de Notícias, 23/04/1986.
SOUSA, Alberto de. Mestre Joaquim Lopes. O Primeiro de Janeiro. Artes e Letras,
23/04/1986.
216
Príncipe, César. Joaquim Lopes «Estraga muito papel». Jornal de Notícias, 30/07/1991.
Cidade Moderna cimentada no passado. O Comércio do Porto, 28/08/1991.
Mourão, Sérgio. A acção criativa de Jaime Ferreira. Porque hoje é… Domingo, 1993.
O Janeiro, 29/01/1993 (sexta-feira).
Sinfonias coloridas de Joaquim Lopes na Degrau Arte. Público, 10/02/1993.
Novo quartel da GNR vai arrancar depois de muitos anos de adiamento. P. J.,
29/01/1996 (segunda-feira).
Duarte, João. Mestre Joaquim Lopes. JUP – Jornal Universitário do Porto. dezembro
de 2009.
Notícias e artigos da autoria de Joaquim Lopes.
Lopes, Joaquim. Por Espanha. Diário do Porto, 25/06/1926.
Lopes, Joaquim. Por Espanha II. Primeira visita á Exposição Nacional de Belas Artes.
Diário do Porto, 29/06/1926.
Lopes, Joaquim. Por Espanha III. Segunda visita á Exposição Nacional de Belas Artes
nos Palácios do Retiro. Diário do Porto, 30/06/1926.
Lopes, Joaquim. Por Espanha IV. Segunda visita á Exposição Nacional de Belas Artes
nos Palácios do Retiro. Diário do Porto, 02/07/1926.
Lopes, Joaquim. Por Espanha V. A brilhante representação dos paisagistas espanhois na
Exposição Nacional de Belas Artes. Diário do Porto, 05/07/1926.
Lopes, Joaquim. Por Espanha VI. A brilhante representação dos paisagistas espanhois
na Exposição Nacional de Belas Artes. Diário do Porto, 08/07/1926.
Lopes, Joaquim. Deve aproveitar-se o Palácio das Carrancas para Museu da cidade do
Porto? Povo do Norte, 15/04/1935.
Lopes, Joaquim. Por Valença e seu têrmo. O Minhoto, 20º ano, nº 40, 05/10/1941.
Lopes, Joaquim. A Arte no Alto-Minho pelos templos e galerias particulares II. Em
Coimbra, Valença e Monção. A Aurora do Lima, Nº 93, 05/12/1941.
Lopes, Joaquim. A Arte no Alto-Minho. Pelos Templos e Galerias particulares. III As
colecções vianesas de Alpuim e Oliveira. A Aurora do Lima, Nº 14, 06/02/1942.
Lopes, Joaquim. A Arte no Alto-Minho. Pelos Templos e Galerias, Particulares. IV A
colecção Neves. O Museu de Viana. A Aurora do Lima, Nº 36, 05/05/1942.
Lopes, Joaquim. Almeida Moreira – a sua Casa-Museu e o Museu de Grão Vasco. O
Primeiro de Janeiro, 18/12/1950.
217
Lopes, Joaquim. Artistas Avintenses. Caminho Novo. Avintes: Clube Recreativo
Avintense, 1952.
Lopes, Joaquim. Ricardo Severo. Voz de Portugal, 04/07/1954.
Galeria de Notáveis de «O Primeiro de Janeiro». Recuperação do artigo: Lopes,
Joaquim. Aurélia de Sousa. O Primeiro de Janeiro, 01/12/1983.
Notícias que interessaram a Joaquim Lopes.
Los estudantes portugueses en Madrid. El Sol, Madrid, 17/05/1922.
Battelli, Guido. Sansovino foi o introdutor da Renascença em Portugal. O Século, Ano
49º, Nº 17014, 21/07/1929 (Domingo).
Morte do pintor Alves Cardoso. Primeiro de Janeiro, 10/03/1930.
Morte do pintor António Carneiro. O Primeiro de Janeiro, 01/06/1930.
Carta de Paris. A Exposição de Arte Portuguesa. Como ela é apreciada pela imprensa da
capital francesa. Diário de Notícias, 09/07/1931.
A decapitação da Virgem da Vitória. Diário de Notícias, 26/09/1932.
A Virgem decapitada. Diário de Notícias, 03/10/1932.
A Virgem decapitada. Diário de Notícias, 04/10/1932.
Figueiredo, José de. O nosso património artístico. Diário de Noticias, 05/10/1932.
A “Virgem da Vitória”. sta obra magnífica de Soares dos Reis vai ser reproduzida em
bronze, sob a orientação artística de Mestre Teixeira Lopes. Diário de Notícias,
09/10/1932.
O Mosteiro da Batalha está sendo restaurado. Diário de Lisboa, 10/10/1932.
Os restauros do mosteiro da Batalha e o que diz a respeito deles e o sr. engenheiro
Gomes da Silva. Diário de Lisboa, 13/10/1932.
Macedo, Diogo de. Os restauros feitos no Mosteiro da Batalha. Diário de Lisboa,
15/10/1932.
O Palácio da Justiça e os artistas de Coimbra. Gazeta de Coimbra, Ano XXII, Nº 3033,
11/05/1933 (quinta-feira).
Fierens, Paul. Renoir. Les Nouvelles Littéraires, Ano 12, Nº 561, 15/07/1933 (Sábado).
Mais um documento sobre os paineis de S. Vicente. Diário de Notícias, 13/10/1933.
O sr. ministro da Justiça, que ontem veio a Coimbra inaugurar o Palácio de Justiça e
realizar uma conferência, foi alvo de significativas e calorosas manifestações. Diário de
Coimbra, Ano IV, Nº 1349, 07/05/1934 (segunda-feira).
218
XLVI – A Escada macabra da Sé-Velha. Correio de Coimbra, Ano XIII, Nº 626,
23/06/1934.
XLVI – A Escada macabra da Sé-Velha. Correio de Coimbra, Ano XIII, Nº 627,
30/06/1934.
XLVI – A Escada macabra da Sé-Velha. Correio de Coimbra, Ano XIII, Nº 628,
07/07/1934.
Salazar, Abel. Henrique Pousão e o Impressionismo. O Primeiro de Janeiro,
23/10/1934.
Salazar, Abel. Henrique Pousão e o Impressionismo. O Primeiro de Janeiro,
24/10/1934.
Salazar, Abel. Henrique Pousão e o Impressionismo. O Primeiro de Janeiro,
27/10/1934.
Salazar, Abel. Henrique Pousão e o Impressionismo. O Primeiro de Janeiro,
28/10/1934.
Salazar, Abel. Henrique Pousão e o Impressionismo. O Primeiro de Janeiro,
31/10/1934.
David, Celestino. Evora. Henrique Pousão, pintor. Diário de Notícias, 03/01/1935.
Lacerda, Aarão de. Albert Besnard II. Comércio do Porto, 27/01/1935.
Pela Arte, defendendo os interesses citadinos. Um inquérito oportuno. Deve aproveitar-
se o Palácio das Carrancas para Museu da Cidade do Porto. Povo do Norte, Ano I, Nº 6,
Porto, 01/04/1935.
Instituto de Arqueologia. Comunicações dos srs. drs. Leite de Vasconcelos, Manuel
Heleno e João Martins. Diário de Notícias, Nº 25091, 11/12/1935.
O Museu de Grão-Vasco. Diário de Notícias, Nº 25091, 11/12/1935.
Notícias e Informações. Diário de Notícias, 14/12/1935.
Lacerda, Aarão de. Crónica de Arte. A grande lição dos primitivos. O Comércio do
Porto, 31/12/1935.
Monteiro, Manuel. Dois artistas inéditos do século de quinhentos. I – Um Escultor. O
Primeiro de Janeiro, 12/02/1936.
Santos, Luís Reis. A pintura em Portugal no século XVI. “Arnaus” fresquista e “Manoel
Arnao” pintor. O Primeiro de Janeiro, 22/02/1936.
Brandão, Júlio. O pintor António Carneiro (sonetos póstumos). O Comércio de Janeiro,
04/03/1936.
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Salazar, Abel. O escultor Teixeira Lopes. O Diabo, Ano III, Nº 134, Lisboa,
17/01/1937.
Salazar, Abel. Henrique Pousão moço pintor alentejano e do seu lugar de destaque no
impressionismo europeu. O Diabo, Ano III, Nº 141, Lisboa, 07/03/1937.
Diário de Lisboa, Ano 17, Nº 5419, Lisboa, 20/12/1937.
Monteiro, Manuel. O Românico português. O Primeiro de Janeiro, Porto, 27/12/1938.
Monteiro, Manuel. O Românico português. O Primeiro de Janeiro, 04/01/1939.
Monteiro, Manuel. O Românico português. O Primeiro de Janeiro, 11/01/1939 (quarta-
feira).
Magalhães, Alfredo. Os Museus da Cidade. Carta aberta ao dr. Vasco Valente. Jornal
de Notícias, 08/03/1939.
Garcez Teixeira, F. A. O quadro «Fons Vitae» da Misericórdia. Quem é o seu autor. O
Primeiro de Janeiro, 31/03/1939.
Costa, Correia da. Um problema de iconografia sebastianista. Diário de Lisboa, Lisboa,
24/12/1939.
Uma festa elegante de beneficencia. Diário de Notícias, Lisboa, 28/12/1939.
Beirão, Sarah. O Confessionario Feminino. O Primeiro de Janeiro, 18/01/1940.
Cunha, Amadeu. Cartas do serão. Jornal de Notícias, 31/01/1941.
Teixeira, Luiz. A xposição do “Grupo do Leão” inaugura-se hoje na Sociedade
Nacional de Belas Artes. Diário de Notícias, 05/07/1941 (Sábado).
Livros e Publicações. Catálogo da Exposição do «Grupo do Leão». Primeiro de
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Cerqueira, C. O escultor Manuel Pereira. O Primeiro de Janeiro, 12/01/1942.
Azevedo, Narciso de. O valor da critica. Jornal de Notícias, 06/02/1942.
Azevedo, Narciso de. O pintor Dominguez Alvarez. Jornal de Notícias, 01/05/1942.
Em S. Mamede de Riba Tua faleceu, ontem, o insigne estatuário Mestre Teixeira Lopes.
O Primeiro de Janeiro, 22/06/1942.
Valença e o seu Património Artístico. O Primeiro de Janeiro, 15/09/1942.
Dantas, Júlio. A Arte e a Liberdade. O Primeiro de Janeiro, 17/09/1942 (quinta-feira).
Dinis, José. O fidalgo da Bandeira, José Maria Xavier de Lacerda Lobato de Abreu de
Lima. O Comércio de Gaia, Ano XII, Nº 606, 21/09/1942 (segunda-feira).
Dinis, José. O fidalgo da Bandeira, José Maria Xavier de Lacerda Lobato de Abreu de
Lima. O Comércio de Gaia, Ano XII, Nº 608, 05/10/1942 (segunda-feira).
220
Dinis, José. O fidalgo da Bandeira, José Maria Xavier de Lacerda Lobato de Abreu de
Lima. O Comércio de Gaia, Ano XII, Nº 609, 12/10/1942 (segunda-feira).
Dantas, Júlio. Arte Francesa contemporânea. O Comércio do Porto, 22/11/1942.
Recordando Eça de Queirós. O Primeiro de Janeiro, 25/11/1942.
Oliveira, Júlio de. No centenário do nascimento do notável escritor e jornalista José
Caldas. Homenagem merecida aos seus altos talentos e virtudes. O Primeiro de Janeiro,
Ano 74º, Nº 326, 28/11/1942.
Gastão, Marques. Dominguez Alvarez. Democracia do Sul, Ano 42º, Nº 7605, Évora,
29/01/1943.
Miranda, José de. Um episodio dramatico da História de Inglaterra fixado num quadro
de Vieira Portuense. Diário de Notícias, 21/04/1944.
Macedo, Diogo de. Morreu Sousa Lopes! Morreu um Artista. Diário de Notícias,
23/04/1944.
Sousa Lopes. O Comércio do Porto, 30/04/1944.
Lacerda, Aarão de. Marginália. O Alentejo consagra Mário Beirão, o seu Poeta… O
Comércio do Porto, 16/08/1944.
Salazar, Abel. Arte Modernista: Um parentesis. Sol, Ano V, Nº 76, 17/08/1946.
Ferreira, Amorim. A função social da arte. O Século, Ano 66º, Nº 23162, 17/09/1946.
Charles Despiau o grande escultor francês faleceu, ontem, em Paris. O Primeiro de
Janeiro, 31/10/1946.
Castro, D. João de. Júlio Brandão. O Primeiro de Janeiro, 27/04/1947.
Costa, Correia da. O Manuelino em Setúbal. Diário de Lisboa, 21/07/1947 (segunda-
feira).
Baltar, Gaspar. O drama da sombra com a luz. O Comércio do Porto, 22/10/1947.
Faleceu em Madrid o grande escultor Mariano Benlliure. O Primeiro de Janeiro, Porto,
10/11/1947.
Morreu ontem o pintor e caricaturista Leal da Cãmara. O Primeiro de Janeiro, Porto,
22/07/1948.
Sérgio, Octávio. Leal da Câmara no Porto. O Primeiro de Janeiro, 29/07/1948.
Costa, Correia da. Columbano ressurge no Museu de Arte Contemporânea. Comércio
do Porto, 24/08/1948.
Lisboa, João de. Agora em spanha… O Pintor Sorolla a sua casa e a sua obra.
Evocação de 1900. Diário de Notícias, 25/12/1948.
221
Morreu James Ensor, um dos maiores pintores da Bélgica. O Primeiro de Janeiro,
20/10/1949.
Santos, Reinaldo dos. A statua de Nun’Alvares. Diário de Notícias, 13/01/1950.
A pintura e a escultura não podem ser abandonadas no Ensino Superior. A Voz, Série
22, Nº 21, Lisboa, 15/04/1950.
Portela, Artur. O ensino das Belas Artes no palácio de S. Bento. Diário de Lisboa,
18/04/1950.
No Hospital Escolar de Santa Marta, Reinaldo dos Santos deu ontem a sua ultima lição.
Diário de Notícias, 23/05/1950.
Comemorações do 2º centenário da morte de D. João V. O Primeiro de Janeiro,
15/12/1950.
Silva, J. Alves da. António José da Costa – o admirável pintor portuense cuja memória é
digna de uma consagração pública. O Comércio do Porto, 19/03/1951.
Ferreirinha, Felisberto. O Poeta Júlio Brandão. Rumo – Boletim da Associação
Académica de Espinho, Espinho, Ano III, 31/05/1951.
Exposição retrospectiva de Lasar Segall. Diário de S. Paulo, 04/10/1951 (quinta-feira).
Silva, Quirino da. Lasar Segall. Diário de S. Paulo, 14/10/1951 (Domingo).
Arte italiana contemporanea. A Gazeta, São Paulo, 24/10 (quarta-feira).
Querem debate publico no recinto da Bienal. Diário da Noite, São Paulo, 30/10/1951
(terça-feira).
Silva, Quirino da. Artes Plásticas. Assim não adianta. Diário de S. Paulo, São Paulo,
09/03/1952.
Silva, Quirino da. Notas de Arte. Grupos Escolares. Diário da Noite, São Paulo,
18/03/1952 (terça-feira).
A influência da pintura portuguesa no estrangeiro. A Gazeta, São Paulo, 10/04/1952
(quinta-feira).
Centassi, René. O quinto centenário de Leonardo da Vinci. As comemorações a realizar
em Itália revestem-se de grande significado cultural. O Primeiro de Janeiro,
14/04/1952.
Isoldi, Francisco. Leonardo e a hidraulica. A Gazeta de São Paulo, 15/04/1952.
Ferreira, Jaime. Nasceu há cinco séculos o pintor Leonardo da Vinci que também foi
notável escultor, arquitecto, engenheiro, músico, anatomista, astrónomo, inventor e
filósofo. O Comércio do Porto, 15/04/1952.
Leonardo Da Vinci. O Primeiro de Janeiro, 15/04/1952.
222
Torres, Pinheiro. O centenário de Leonardo Da Vinci. Norte das Letras e das Artes,
17/04/1952 (quinta-feira).
“Pintores Portugueses do Século XVI”. Voz de Portugal, 20/04/1952.
Cyro Cavalcanti Pereira. Voz de Portugal, 20/04/1952.
Paris reencontra Salvador Dali. Folha da Manhã, São Paulo, 11/05/1952 (Domingo).
Braque e Segonzac falam de Pintura. Folha da Manhã, São Paulo, Brasil, 23/05/1952.
Folha da Manhã, São Paulo, Brasil, 23/05/1952.
Ferreira, Tito Livio. O unico e estranho amor de Da Vinci. A Gazeta, São Paulo,
31/05/1952 (sábado).
Em São Martinho da Gandra uma grande obra social fundada e amparada pelo Sr. Dr.
António Luís Gomes. Novidades, 03/06/1952 (terça-feira).
Silva, Quirino da. Camille Pissarro. Diário de S. Paulo, 27/07/1952 (Domingo).
Vieira, José Geraldo. A Exposição de Gravuras Espanholas III. Folha da Manhã, São
Paulo, 29/08/1952.
Catorze Portinari na Igreja Matriz de Batatais. Verdadeira experiencia de reação publica
em face da apresentação simultanea do acontecimento artistico religioso. Diário de S.
Paulo, São Paulo, 15/03/1953 (Domingo).
O saudosismo e Pascoaes. O Comércio do Porto, 14/04/1953 (terça-feira).
Isgorogota, Judas. História das Artes Plásticas em São Paulo. A Gazeta, São Paulo,
25/01/1954.
José Patrício Manso. O maior pintor do velho São Paulo. A Gazeta, São Paulo,
25/01/1954 (segunda-feira).
Alguma coisa para os artistas. O Século, Ano 70º, Nº 24350, 12/01/1955/6.
Régio, José. A Lição de um Mestre. O Comércio do Porto, 17/04/1955.
Artes Plásticas. Brasil. Arte sacra extravagante. Folha da Manhã, 22/05/1955
(Domingo).
Vieira, José Geraldo. Realismo e expressionismo. Folha da Manhã, 22/05/1955
(Domingo).
Jean, Ivone. Cartaz Publicitário: Nova Arte Popular. Folha da Manhã, 22/05/1955
(Domingo).
Teria agido com parcialidade o juri de seleção da III Bienal. Folha da Manhã,
22/05/1955 (Domingo).
Bugalho, Mem. O Pintor Torquato Pinheiro. 1850-1910 (Recordações). O Comércio do
Porto, Nº 173.