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Representação elaborada por estudantes de direito da UEPB e encaminhada ao Ministério Público da Paraíba, a fim de que o órgão interviesse na greve declarada pelos docentes da universidade, pedindo, na justiça, a decretação de sua ilegalidade.
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROMOTOR DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA
(CURADORIA DA EDUCAÇÃO)
Lorenna Raysse de Macedo Barbosa, (qualificação).Lucas Rafael Galdino de Araújo Lucena, (qualificação).Mayza de Araújo Batista, (qualificação).Rafaella Mayana Alves Almeida Cardins, (qualificação).Ayrton Magno de Oliveira, (qualificação).Jimmy Matias Nunes, (qualificação).Lorena Sales Araújo(qualificação).Divalcy Reinaldo Ramos Cavalcante, (qualificação).Jefferson Ferreira Lino, (qualificação).Felipe Robalinho Cavalcanti Barbosa, (qualificação).Francisco Eudo Brasileiro Júnior, (qualificação).Raquel de Góes Pontes, (qualificação).Mônica Jannine Alencar Nobrega, (qualificação).Jáder Melquíades de Araújo, (qualificação);Wollney Niermeson Ribeiro Félix, (qualificação).Maria Isabel da Silva Salú, (qualificação).Marília Andrade Bezerra, (qualificação).Morgana Rosa Leite Gurjão, (qualificação).Camile Viana Leal, (qualificação).Caio Ricardo Gondim Cabral de Vasconcelos, (qualificação), apresentamo-nos diante
de V. Ex.a para oferecer a seguinte:
R E P R E S E N T A Ç Ã O
com fulcro no art. 127, caput, e art. 129, I e III, ambos da Constituição Federal, no art. 5º, II, “c”, da Lei Complementar nº. 75/93, e no art. 6º da Lei 7.347/85, requerendo, desde já, a manifestação do Ministério Público Estadual, no sentido de buscar, junto ao Tribunal de Justiça da Paraíba, a decretação da ilegalidade da greve dos docentes da Universidade Estadual da Paraíba; o que fazemos nos seguintes termos e fundamentos jurídicos.
I – HISTÓRICO DA GREVE DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
Em 21 de fevereiro de 2013, apenas três dias após o início das atividades
acadêmicas semestrais da Universidade Estadual da Paraíba, a Associação dos Docentes da Universidade
Estadual da Paraíba – ADUEPB, entidade sindical dos professores da UEPB, convocou para o dia 26 de
fevereiro assembleia da categoria para deliberar acerca da possibilidade de paralisação das atividades da
categoria.
Na pauta de deliberação, estavam incluídos temas tais como o crescimento
quantitativo da UEPB, a precarização da educação, as más instalações físicas da universidade, bem como
o reajuste salarial em percentual de 17,7%.
Ocorre que, na assembleia, à representação sindical aprouve declarar greve por
tempo indeterminado, até que suas reivindicações fossem atendidas pela Administração da UEPB ou pelo
Estado da Paraíba – situação em que se encontra até o momento.
Apresenta-se, a seguir, fundamentação jurídica que embasa a incompatibilidade
da greve com o Ordenamento jurídico pátrio.
II – DA AUSÊNCIA DE CAUSA JUSTIFICADA PARA A GREVE
II.1 - Da Suficiente Remuneração dos Docentes
Ab initio, impende ressaltar que, a despeito de suscitarem os grevistas
reivindicações para que retornem às atividades, tais pedidos não são legítimos, posto que são infundados e
abstratos.
De fato, entre as reivindicações, exigem os grevistas aumento salarial no
patamar de 17,7%, alegando que seus salários estão defasados, e que o percentual exigido serviria apenas
como forma de devolver o valor real dos vencimentos dos docentes.
Todavia, tal argumentação não merece prosperar. Decerto, a verdade é que a
remuneração dos docentes da Universidade Estadual da Paraíba é a melhor das universidades públicas da
região Nordeste, conforme se percebe da leitura do último Edital de contratação de docentes - em que o
salário inicial para o cargo de professor doutor T-40 era no importe de R$ 6.126,52 (seis mil cento e vinte
e seis reais e cinquenta e dois centavos)1.
Tal remuneração chega a superar a paga pela Universidade de São Paulo -
USP2, a mais renomada instituição de ensino brasileira, segundo recentes rankings internacionais. Nesta
Instituição de Ensino Superior, um professor doutor inicia sua carreira ganhando 5.193,32 (cinco mil,
cento e noventa e três reais e trinta e dois centavos), cerca de R$1.000 reais a menos que um colega da
UEPB de mesmo título.
Vê-se, portanto, que os salários pagos pela universidade paraibana estão longe
de ser considerados irrisórios, a ponto de poderem ensejar um movimento grevista. Pelo contrário,
superam os pagos pelas melhores universidades do Brasil, que detém, em sua maioria, um orçamento
infinitamente maior que o da UEPB, a exemplo da USP, que se encontra ainda situada numa metrópole
com um dos mais elevados custos de vida do país.
Não se está dizendo, todavia, que os professores paraibanos devam ter seus
soldos reduzidos, ou desmerecendo a classe. Longe disso: apenas nos insurgimos contra o motivo da
greve.
Não têm razão os grevistas em afirmarem que são mal-pagos pelo governo
paraibano. Já foi demonstrado que estão entre os professores universitários mais valorizados do país. E
isso num Estado feito o nosso, pobre de fundos, quando comparado com outros integrantes da Federação.
Para se ter ideia, um paraibano médio fechou o ano de 2010 ganhando o menor salário de todo o
Brasil: R$ 626,80, conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego.3
Aduzir, portanto, que carecem os docentes de reajuste salarial chega a ser
afrontoso ante toda a comunidade paraibana, a real financiadora da Instituição de Ensino Superior
paraibana, que com tão parcos recursos vive a duras penas, encontrando-se, ainda, privada de desfrutar
dos serviços gratuitos prestados pela UEPB.
1 http://santaritafm.com/index.php?option=com_content&view=article&id=356:universidade-estadual-da-paraiba-abre-230-vagas-para-professor-salario-de-r-8577-inscricoes-ate-171211&catid=41:concurso
2 http://www.direito.usp.br/faculdade/arquivos_concursos/antigos/edital_fd_11_2012.pdf
3 http://www.fsindical.org.br/portal/noticia.php?id_con=11326
II.2 - Do Viés Político da Greve
É de se mencionar, outrossim, que a greve desponta como sendo de um viés
político, e não classista. O movimento deflagrou-se poucos meses após as eleições e escolha do novo
reitor da universidade, sendo apontado o professor Antônio Rangel Júnior para tal função, pelo
governador da Paraíba, Ricardo Coutinho.
Na corrida pelo cargo, saiu derrotado o candidato José Cristovão de Andrade,
em segundo lugar, perdendo justamente para o candidato nomeado pelo Chefe do Executivo Estadual.
Andrade, como é conhecido, é justamente o presidente da Associação de Docentes da Universidade
Estadual da Paraíba, sendo o líder do movimento grevista reclamado aqui.
Salta à vista que, das reinvidicações suscitadas pela classe paralisada, constem
tópicos tais como a manutenção de salas de aula em campi do interior do Estado, pugnando também por
melhorias na infraestrutura da UEPB, e também lutando contra a “precarização da educação” - esta última
uma vaguíssima reivindicação, que incumbe mais à classe docente que à Administração da UEPB...
Dos temas acima, à exceção da última, conforme mencionado, percebe-se que
dizem respeito a competências e faculdades exclusivas da Reitoria.
Ora, tais reivindicações apenas apontam para supostas evidências de que estaria
o presidente da ADUEPB com intenções de interferir no cargo a que foi postulante derrotado, valendo-se
da posição que ora ocupa para atender suas pretensões.
Recrudescem tais suspeitas o fato de que o presidente do Sindicato sairia
beneficiado em tendo suas pretensões atendidas ou não. Decerto, caso o atual Reitor atenda as
reivindicações da ADUEPB, Andrade sairia fortalecido como líder da associação; todavia, em sendo as
exigências denegadas, o ex-postulante ao cargo de reitor sairia engrandecido como um nome que poderia
ter agido de forma melhor que Rangel, seu adversário político.
É de se mencionar que a busca da satisfação de interesses precipuamente
pessoais não condiz com o direito de greve. De fato, assim determina a Lei da Greve (Lei nº. 7.783/89),
ressaltando o caráter eminentemente coletivo da manifestação laboral:
Art. 5º A entidade sindical ou comissão especialmente eleita representará os interesses dos trabalhadores nas negociações ou na Justiça do Trabalho.
Tais suspeitas foram não foram criação dos que agora representam, mas, sim,
são frutos de notícias que circulam na mídia estadual, dando conta de que o presidente da ADUEPB
estaria provocando, com a greve, o atual Reitor e então concorrente Rangel Júnior:
“Para Andrade, que brigou muito para estar no lugar de Rangel, ‘a reitoria tem
que ir ao governador Ricardo Coutinho cobrar mais recursos se não está
considerando suficiente o que tem’. Andrade não diz abertamente, mas insinua
que Rangel Júnior foi pro-reitor de planejamento da antecessora Marlene Alves
e que ficou calado quando ela brigava com o governo por mais recursos
simplesmente para não se prejudicar quando da indicação por parte do
governador”.4
Em assim sendo, tem-se que o movimento grevista em comento aponta para
interesses individuais, e não coletivos - estes últimos sim, defendíveis por meio de paralisação de trabalho.
III - DA ILEGALIDADE DO MOVIMENTO GREVISTA
III.1 - Da Violação ao Princípio da Continuidade
Ademais, merece destaque o fato de que o levante se enche de ilegalidade ao
afrontar, além das razões acima expostas, um dos princípios basilares ao qual a administração pública está
submetida: o princípio da continuidade.
Sobre o tema, salutar é a lição do professor José dos Santos Carvalho Filho5:
4 http://www.paraiba.com.br/2013/03/14/13292-em-greve-por-melhores-salarios-aduepb-provoca-reitor-agora-aguente
5 FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 24ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
“Os serviços públicos buscam atender aos reclamos dos indivíduos em determinados setores sociais. Tais reclamos constituem muitas vezes necessidades prementes e inadiáveis da sociedade. A consequência lógica desse fato é o de que não podem os serviços públicos ser interrompidos, devendo, ao contrário, ter normal continuidade.”(destacou-se)
No presente caso, a greve interrompe, integralmente, a prestação de serviços
públicos de educação. Trata-se de uma das mais importantes funções que o Estado Brasileiro atribuiu
para si, outorgando, inclusive, uma natureza de direito social - intangível por ser cláusula pétrea:
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)”
Outrossim, a educação aparece em diversos outros dispositivos da Carta Magna,
o que só demonstra a sua importância:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...)
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;
Omissis
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
(...)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
Não pode o movimento grevista interromper a prestação dos serviços de ensino,
nem servir de obstáculo ao exercício do direito à educação. Ao atuar assim, o levante confronta a própria
Constituição Brasileira.
Ademais, há clara violação também ao que estatui a Lei de Greve. Tal norma
dispõe em seu artigo 11 que “Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os
trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.”
Esse dispositivo, plenamente aplicável ao caso concreto, como aponta a
jurisprudência firma do Superior Tribunal de Justiça, não foi respeitado. A greve fez suspender todas as
atividades de ensino que a universidade proporcionava, deixando milhares de alunos, em todo o
Estado, sem poder usufruir de seu direito fundamental.
A informação de paralisação total, além de poder ser facilmente constatada
através dos veículos de comunicação no Estado6, encontra-se presente no próprio endereço eletrônico da
ADUEPB, que em uma matéria defende a “GREVE GERAL” e “paralisação das atividades”7.
Decerto, a violação ao princípio da continuidade é motivo bastante para a
declaração de ilegalidade de greve na Educação Pública. Tal idéia é consensual entre os Tribunais Pátrios.
Se não, veja-se a seguinte decisão do Tribunal de Justiça do Piauí:
6http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2013/02/professores-entram-em-greve-por-tempo-indeterminado-na-uepb.html
7 in: http://www.aduepb.com.br/?p=2469
Cuida-se de Dissídio Coletivo de Greve, suscitado pelo Estado do Piauí e Universidade Estadual do Piauí - UESPI, em face da ASSOCIAÇÃO DE DOCENTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, regularmente qualificados na peça de ingresso às fls. 02/24.Os Suscitantes alegam que os professores da instituição de ensino superior do Estado aderiram ao movimento paradista no dia 13 de agosto de 2012, sem que houvesse causa justificada, uma vez que a remuneração da grande maioria dos professores da Universidade Estadual superam, inclusive, a remuneração dos professores das Universidades Federais e, ademais, o Governo do estado ofereceu aumento linear, a todos os professores no patamar de 40% (quarenta por cento), sendo 10% a cada ano.(...)Além do mais, diz que o movimento afronta diretamente ao princípio da continuidade do serviço público, sobretudo quando se trata da prestação dos serviços educacionais, da da a sua relevância na formação da cidadania.(...)DEPREENDE-SE QUE A LEGISLAÇÃO CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL TRATA A EDUCAÇÃO COMO BEM ESSENCIAL À SOCIEDADE, SENDO DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO E DA FAMÍLIA, SENDO, POIS, O DIREITO À EDUCAÇÃO UMA GARANTIA FUNDAMENTAL (ART. 6º, CF) E OS SERVIÇOS EDUCACIONAIS SÃO TIDOS COMO SERVIÇOS OBRIGATÓRIOS QUE DEVEM SER PRESTADOS DE FORMA CONTÍNUA E ININTERRUPTA.(...)Do exposto e o mais que dos autos consta, defiro a antecipação de tutela requestada para DETERMINAR A SUSPENSÃO DO MOVIMENTO PARADISTA DEFLAGRADO pela Associação Reclamada, em 24 (vinte e quatro) horas, sob pena de multa diária que fixo, de logo, em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), em caso de descumprimento da medida, a ser revestido em favor do Estado Reclamante.
(TJPI - Tribunal Pleno - Dissídio Coletivo de Greve nº. 2012.0001.005558-1 - Rel. Des. José James Gomes Pereira - Decisão Monocrática Concessiva de Tutela Antecipada - 29/08/2012)
A decisão foi reafirmada de forma unânime pela Corte de Justiça do Piauí,
quando do julgamento de agravo regimental interposto:
AGRAVO REGIMENTAL – DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE – APLICAÇÃO DA LEI Nº 7.783/89, CONFORME POSIÇÃO DO STF – EDUCAÇÃO DE NÍVEL SUPERIOR – ATIVIDADE ESSENCIAL – ABUSIVIDADE DEMONSTRADA – ILEGALIDADE DO MOVIMENTO – ANTECIPAÇÃO DE
TUTELA – REQUISITOS PRESENTES – RECURSO IMPROVIDO. Conforme já decidido pelo STF ao julgar o MI nº 708/DF, aplica-se aos servidores públicos civis a lei nº 7.783/89. Pela complexidade e variedade dos serviços públicos e atividades do Estado, há outros serviços públicos, cuja essencialidade não está contemplada pela Lei nº 7.783/1989. CONSIDERANDO A INOBSERVÂNCIA DAS NORMAS CONTIDAS NESSA LEI, TEM-SE COMO ILEGAL O MOVIMENTO PAREDISTA, DEVENDO, POIS, OS SERVIDORES GREVISTAS RETORNAREM AOS SEUS POSTOS DE TRABALHO.RECURSO IMPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME
Conclui-se, portanto, que não se coaduna o exercício do direito de greve em
violação ao princípio da continuidade da administração pública, sob pena de violação ao Ordenamento
Jurídico brasileiro.
III.2 - Da Violação a Direito Fundamental da Classe Estudantil
Ressalte-se, em aditivo, que a própria Lei da Greve (Lei nº. 7.783/89) veda
expressamente que o movimento grevista viole direitos ou garantias fundamentais alheios:
Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos:
(...)
§ 1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empregadores
poderão violar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem.
Omissis
De fato, nada impede que a classe docente busque, junto à Administração da
UEPB, o que ela bem entender - seja o pleito legítimo ou não. Todavia, tal ação não pode, de modo
algum, abalroar direitos fundamentais de outras classes, como a estudantil - que se encontra privada do
gozo do direito fundamental à educação, insculpido na própria Constituição Federal, conforme citado
alhures.
Em assim sendo, percebe-se haver mais uma clara violação à Lei da Greve, não
restando, data venia, outra opção ao Ministério Público que não buscar a decretação da ilegalidade da
greve dos docentes da Universidade Estadual da Paraíba.
Sobre o tema, em caso análogo, assim entende a Corte de Justiça Potiguar:
CONSTITUCIONAL. AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. GREVE DOS
PROFESSORES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL. PEDIDO LIMINAR,
FORMULADO PELO ESTADO, A FIM DE SUSPENDER O MOVIMENTO
PAREDISTA. RESERVA DE PLENÁRIO DECORRENTE DA RELEVÂNCIA
DA MATÉRIA. HIPÓTESE DE HARD CASE . EDUCAÇÃO. SERVIÇO
PÚBLICO ESSENCIAL. ROL EXEMPLIFICATIVO DO ART. 10 DA LEI Nº
7.783/89. PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RISCO DE
PERDA DO ANO LETIVO DEMONSTRADO, DENTRE OUTROS MEIOS,
PELO NOTICIÁRIO LOCAL. VIOLAÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL
DE ACESSO À EDUCAÇÃO. PRESENÇA DA VEROSSIMILHANÇA DA
ALEGAÇÃO E DO PERIGO NA DEMORA. DEFERIMENTO DO PEDIDO DE
ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA QUE SE IMPÕE.
1. Considerando a relevância da matéria, bem como a complexidade da
questão, considero recomendado confiar a apreciação do pedido de liminar ao
Órgão Colegiado, conforme vem decidindo sedimentadamente o Supremo
Tribunal Federal (MS 25579 MC. Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE.
Relator p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA. Julgado em 19/10/2005)
2. Os casos difíceis são as hipóteses que não encontram solução pacífica no
ordenamento jurídico, em virtude da existência de conflitos entre as diversas
normas constitucionais incidentes sobre a matéria, conforme ocorre na espécie.
3. diferentemente do movimento paredista no setor privado, a greve estatutária
traz, em si, uma pesada carga de prejuízos a população como um todo.
4. A greve dos servidores da educação, há mais de 73 (setenta e três) dias está
causando à coletividade graves danos, inclusive com risco de perda do ano
letivo, conforme já vêm sendo noticiado por diversos periódicos locais.
5. O acesso ao ensino público é direito subjetivo da sociedade, podendo
qualquer cidadão exigi-lo, inclusive judicialmente, nos termos do art. 205 da
Constituição Federal.
6. A educação de qualidade é que proporciona desenvolvimento aos seres
humanos em diversos aspectos, como, por exemplo, o intelectual e o moral.
7. O rol do art. 10 da Lei n. 7.783/89 não é numerus clausus , nos termos da
decisão proferida pelo STF no Mandado de Injunção nº 708/DF.
8. O mesmo entendimento, no sentido de incluir a educação no rol de serviços
públicos essenciais, é adotado por outros Tribunais de Justiça.
9. Estando presentes ambos os requisitos necessários à concessão da tutela
antecipada, quais sejam, a verossimilhança da alegação e o perigo na demora,
impõe-se a concessão da medida liminar.
(TJRN - Tribunal Pleno - ACO 80.497 - Rel. Des. Virgílio Macêdo Júnior - Julg.
13/07/2011)
Assim, quando há violação a direitos fundamentais de outros, inaceitável é o
exercício do direito de greve, devendo esta arbitrariedade ser prontamente repudiada, sob pena de danos
irreparáveis a direitos fundamentais dos estudantes da UEPB.
IV - DO PEDIDO
Ante todos os argumentos expostos, reitera-se o pedido inicial, para que o Órgão
Ministerial, na tutela dos direitos coletivos e difusos da sociedade, tome as medidas cabíveis para requerer
judicialmente a ilegalidade do movimento grevista impugnado, buscando o retorno imediato às atividades
da classe docente da Universidade Estadual da Paraíba, sob pena de agravamento de danos causados à
comunidade, recrudescidos com o passar do tempo.
Nesses Termos,Representamos.
Campina Grande, 18 de março de 2013
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Lucas Rafael Galdino de Araújo Lucena Lorenna Raysse de Macedo Barbosa
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Morgana Rosa Leite Gurjão Wollney Niermeson Ribeiro Félix
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Felipe Robalinho Cavalcanti Barbosa Jáder Melquíades de Araújo
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Mônica Jannine Alencar Nobrega Marília Andrade Bezerra
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Mayza de Araújo Batista Rafaella Mayana Alves Almeida Cardins
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Ayrton Magno de Oliveira Jimmy Matias Nunes
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Lorena Sales Araújo Divalcy Reinaldo Ramos Cavalcante
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Jefferson Ferreira Lino Raquel de Góes Pontes
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Maria Isabel da Silva Salú Francisco Eudo Brasileiro Júnior
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Camile Viana Leal Caio Ricardo Gondim Cabral de Vasconcelos