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REPRESENTAÇÃO DA MULHER NAS CAPAS DA REVISTA “ELLE” Jéssica Miranda Euflausino (Faculdade Maringá) Ronaldo Nezo (Faculdade Maringá) [email protected] Resumo Nesta pesquisa serão abordados os temas feminismo e machismo por meio da análise das quatro capas da edição de dezembro de 2015 da revista de moda Elle. O objetivo é mostrar a necessidade de discutir sobre tais assuntos em toda a mídia. O estudo, de abordagem histórico-semiótica, retoma algumas noções presentes em estudos feministas. Pode-se concluir ao final do artigo que, apesar de ainda haver um longo caminho a ser percorrido, os meios de comunicação tradicionais estão se atentando às transformações e lutas sociais e, aos poucos, fazendo refletir acerca das temáticas envolvendo a mulher e a liberdade de seus corpos. Palavras-chave: Elle; Feminismo; Moda; Mulher Negra; Vestuário Feminista. Introdução Em uma sociedade que vive de aparências, parece ser uma conquista para as lutas feministas quando uma revista de moda – um dos maiores segmentos de formação do imaginário de perfeição – aborda um tema que remete ao empoderamento das mulheres e a liberdade de seus corpos. A presente pesquisa surgiu da necessidade de responder a problemática: “Qual a importância de uma revista internacionalmente conhecida tratar de assuntos como feminismo?”. Acredita-se, ao atentar ao contexto histórico em questão, que as edições em estudo tenham sofrido exponencial adesão e repercussão, principalmente nas mídias digitais, em mesmo ou maior patamar das edições “tradicionais” da marca.

REPRESENTAÇÃO DA MULHER NAS CAPAS DA REVISTA “ELLE” · negativas. As frases ainda configuram a busca pelos direitos das mulheres, direitos esses de igualdade perante os conquistados

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Page 1: REPRESENTAÇÃO DA MULHER NAS CAPAS DA REVISTA “ELLE” · negativas. As frases ainda configuram a busca pelos direitos das mulheres, direitos esses de igualdade perante os conquistados

REPRESENTAÇÃO DA MULHER NAS CAPAS DA REVISTA “ELLE”

Jéssica Miranda Euflausino (Faculdade Maringá)

Ronaldo Nezo (Faculdade Maringá)

[email protected]

Resumo

Nesta pesquisa serão abordados os temas feminismo e machismo por meio da análise das quatro capas da edição de dezembro de 2015 da revista de moda Elle. O objetivo é mostrar a necessidade de discutir sobre tais assuntos em toda a mídia. O estudo, de abordagem histórico-semiótica, retoma algumas noções presentes em estudos feministas. Pode-se concluir ao final do artigo que, apesar de ainda haver um longo caminho a ser percorrido, os meios de comunicação tradicionais estão se atentando às transformações e lutas sociais e, aos poucos, fazendo refletir acerca das temáticas envolvendo a mulher e a liberdade de seus corpos.

Palavras-chave: Elle; Feminismo; Moda; Mulher Negra; Vestuário Feminista.

Introdução

Em uma sociedade que vive de aparências, parece ser uma conquista para as

lutas feministas quando uma revista de moda – um dos maiores segmentos de

formação do imaginário de perfeição – aborda um tema que remete ao

empoderamento das mulheres e a liberdade de seus corpos.

A presente pesquisa surgiu da necessidade de responder a problemática:

“Qual a importância de uma revista internacionalmente conhecida tratar de assuntos

como feminismo?”.

Acredita-se, ao atentar ao contexto histórico em questão, que as edições em

estudo tenham sofrido exponencial adesão e repercussão, principalmente nas

mídias digitais, em mesmo ou maior patamar das edições “tradicionais” da marca.

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Desenvolvimento

O machismo e o sexismo são conceitos antigos de superioridade do homem

acima da mulher e que definem os papéis e lugares sociais de ambos os sexos,

fazendo com que ainda hoje existam diferenças relacionadas a vantagens, cargos

(principalmente de liderança), salários etc. (MENDES; SILVA, 2015, p. 90).

O machismo é cultural no Brasil, situação ainda mais visível quando

percebemos que até algumas mulheres ainda vivem de forma muitas vezes

misógina e patriarcal, segundo Wolf (1992).

Por outro lado, as mídias são ferramentas que explicitam um modo de vida e

uma aparência perfeita a ser seguida, principalmente pelas mulheres (FERNANDEZ,

PRITCHARD, 2012). Wolf (1992) conceitua que uma revista feminina não é

simplesmente uma revista, mas um material de construção social, pois traz uma

cultura, beleza e corpos ideais próprios.

Como reflexo disto, as revistas de moda – mídia que estabelece certo vínculo

emocional com o leitor, de acordo com o discorrido por Benetti (2013) – ditam

tendências e informações sobre beleza, saúde e entretenimento voltadas a este

público. Tais conteúdos fazem parte do processo de criação das representações

sociais – uma verdade pessoal e interpretativa –, que são construídas dentro do

convívio social, de maneira coletiva (ABRANCHES et al., 2017, p. 553).

Vejamos a seguir as capas publicadas pela Elle:

Figura 1: Capas da edição de dezembro de 2015

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Analisando o plano de expressão das capas no nível topológico, segundo

Floch (1995), percebemos que as quatro mulheres têm o físico que a sociedade

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atual considera o ideal: um corpo esquelético, denominado de “mito da beleza” por

Wolf (1992) e inatingível para muitas brasileiras (conhecidas, geralmente, pelas

curvas de seus corpos).

A magreza das modelos é evidente nas quatro capas, mesmo em tal

manifesto feminista, pois vivemos na sociedade da lipofobia, segundo Del Priori

(2000). Sociedade esta que busca diversos tratamentos estéticos e dietas dos mais

variados tipos a fim de se encaixar no padrão estético proposto pelos instrumentos

midiáticos.

As tarjas vermelhas são colocadas propositalmente em lugares estratégicos

da imagem, como na linha dos seios e da pelve para direcionar o olhar do leitor da

revista. Além de marcar tais regiões do corpo das mulheres, estão em cores

contrastantes para chamar atenção para ambas os elementos textuais.

Os rostos das modelos estão direcionados para o centro óptico, dando a

impressão que estão olhando diretamente para os olhos dos leitores, a fim de fixar o

olhar e fazê-lo percorrer por mais tempo em cada elemento apresentado. Além

disso, as poses representam a independência e a força da mulher (CASTRO 2017,

p. 44).

As roupas também fazem parte da construção de sentido do manifesto e

caracteriza a manifestação do crescente individualismo da mulher. As roupas

escolhidas representem o gosto pessoal do que elas querem transmitir (CASTRO,

2017, p. 45). São peças curtas, decotadas e com recortes estratégicos, deixando

seios, ombros e pernas a mostra.

As frases em destaque em cada uma das capas se configuram em favor do

manifesto feminista que a revista está defendendo. A escolha foi dada em

consequência de uma sociedade que ainda precisa ser alertada sobre a clara

necessidade de não legalidade de se inferiorizar a mulher, em qualquer âmbito de

sua vida, por ser crime, além de ser carregado de tantas outras conotações

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negativas. As frases ainda configuram a busca pelos direitos das mulheres, direitos

esses de igualdade perante os conquistados pelos homens. Considerações finais

O estudo em desenvolvimento permitiu percebermos que o caminho para o

fim do machismo e desconstrução da imagem estereotipada (e idealizada) de beleza

na sociedade ainda é longo. Ao mesmo tempo, podemos perceber que os meios de

comunicação tradicionais estão aderindo tal luta, apesar de ainda esbarrarem nos

modelos de beleza e padrões de perfeição.

A revista Elle, por sua vez, acertou na aposta da edição de 2015, pois abriu

espaço para discussões na mídia a respeito da problemática que envolve. Observa-

se ainda a lacuna que fica, talvez para outro estudo, sobre a aparição de uma

modelo negra em uma das capas, sendo necessário adentrar no tema “feminismo

negro”.

Referências ABRANCHES, M. et al. Ideal, saudável e submisso: o corpo feminino em capas de revistas. (Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde). 10. Rio Paraíba: Universidade Federal de Viçosa, 2017. BENETTI, M. Revista e jornalismo: conceitos e particularidades. In. TAVARES, Frederico Mello B; SCHWAAB, R. (Org.). A revista e seu jornalismo. Porto Alegre: Penso, 2013. CASTRO, L. O Feminismo está na moda: as capas do manifesto feminista da revista Elle Brasil. Prâksis, Rio Grande do Sul, v. 1, a. 14, p. 37-50, jan. / jun. 2017. FERNANDEZ, S., PRITCHARD, M. (2012). Relationships between self-esteem, media influence and drive for thinness. Eating Behaviors,13, 321–325. FLOCH, J-M. Sémiotique, marketing et communication. 2. ed. Paris: PUF, 1995.

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MENDES, O. M.; SILVA, M. C. As marcas do machismo no cotidiano escolar. Caderno Espaço Feminino. Minas Gerais, v. 28, n. 1, p. 90-99, 2015. WOLF, N. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.