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I SERlE: Estudos & Volume 1: Merodos (> Teen/cos noPrsquisa Etnobiolagico e Etnoecol6jico O'ganizadores: U[yues Paulino de Albuquerque, Reinaldo Farias Paiva de lucena Fernandes Cruz da Cunha Vol ume 2: Zooteroplo: OsAnimais naMedicina Popular Brasi/eiro Organizadores: EraldoMedeiros Costa Heto &. ROmuia Romeu da NObregaAtves Volume 3: EtllOeco/oglo em Perspectlva: Natureza, Culturoe COilservot;do Organizadores: Angelo GiuseppeChavesAlves, Francisco Jose Bezen-a Souto &. Nivaldo Peroni Vol ume 4: AEtnozoologlo no Brosll: Importane/a, Statusatuol e Perspectivas Organizadores: ROmuia Romeu da NObrega Alves, Wedson de Medeiros Silva Souto ft Jose da Silva Mourao Vo lume 5: ASp.E'ctos HIst6rlcO$ no Pesqu/sa Etnob/alaska Organizadora: Maria Franco Trindade Medeiros Volume 6: Agroblodlversldade no Brasil: El(pluienc/as e Caminhosda Pesquisa Organizadores: Lin Chau Min!l. Maria Christina deMelloAmorozo & Carolina Weber Kffuri

Répteis e as Populações Huanas

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Artigo descrevendo relação dos répteis com a sociedade urbana.

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Page 1: Répteis e as Populações Huanas

I SERlE: Estudos & Avan~os

Volume 1: Merodos (> Teen/cos noPrsquisa Etnobiolagico e Etnoecol6jico O'ganizadores: U[yues Paulino de Albuquerque, Reinaldo Farias Paiva de lucena Fernandes Cruz da Cunha

Volume 2: Zooteroplo: OsAnimais naMedicina Popular Brasi/eiro Organizadores: EraldoMedeiros Costa Heto &. ROmuia Romeu da NObregaAtves

Volume 3: EtllOeco/oglo em Perspectlva: Natureza, Culturoe COilservot;do Organizadores: Angelo GiuseppeChavesAlves, Francisco Jose Bezen-a Souto &. Nivaldo Peroni

Volume 4: AEtnozoologlo no Brosll: Importane/a, Statusatuol e Perspectivas Organizadores: ROmuia Romeu da NObrega Alves, Wedson de Medeiros Silva Souto ft Jose da Silva Mourao

Volume 5: ASp.E'ctos HIst6rlcO$ no Pesqu/sa Etnob/alaska Organizadora: Maria Franco Trindade Medeiros

Volume 6: Agroblodlversldade no Brasil: El(pluienc/as e Caminhosda Pesquisa Organizadores: Lin Chau Min!l. Maria Christina deMelloAmorozo & Carolina Weber Kffuri

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Rômulo Romeu da Nóbrega Alves Wedson de Medeiros Silva Souto José da Silva Mourão
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Page 5: Répteis e as Populações Huanas

Primeira edição publicada em 2010 por

NUPEEA

www.nupeea.com

Copyright© 2010

Impresso no Brasil/Printed in Brazil

Capa: Pablo Reis

Foto da capa: Índios caçadores do Xingu, Pará (2009)

Autor: Juarez Carlos Brito Pezzuti Revisão: os autores

Editor chefe: Ulysses Paulino de Albuquerque

Editora associada: Cecília de Fátima Castelo Branco Rangel de Almeida

Comissão Editorial

Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco)

Elba Lucia Cavalcanti de Amorim (Universidade Federal de Pernambuco) Elba Maria Nogueira Ferraz (Instituto Federal de Educação- PE)

Elcida Lima de Araújo (Universidade Federal Rural de Pernambuco) Laise de Holanda Cavalcanti Andrade (Universidade Federal de Pernambuco)

Maria das Graças Pires Sablayrolles (Universidade Federal do Pará) Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina) Nivaldo Peroni (Universidade Federal de Santa Catarina)

Valdeline Atanázio da Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

A Etnozoologia no Brasil : importância, status atual e perspectivas / organizadores Rômulo Romeu da Nóbrega Alves, Wedson de Medeiros Silva Souto, José da Silva Mourão. -- Recife : NUPEEA, 2010.

Bibliografia

1. Etnozoologia I. Alves, Rômulo Romeu da Nóbrega. II. Souto, Wedson de Medeiros Silva. III. Mourão, José da Silva.

10-11087 CDD-595.796

Índices para catálogo sistemático:

1. Etnozoologia 595.796

Page 6: Répteis e as Populações Huanas

A Etnozoologia no Brasil: importância, status atual e perspectivas

6 Répteis e as populações

humanas no Brasil:uma

abordagem

etnoherpetológica

Rômulo R. N. Alves1, Gentil A. Pereira-Filho2, Kleber da S. Vieira2, Gindomar

G. Santana3, Washington L. S. Vieira2, Waltécio O. Almeida4

1Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba, Av. das

Baraúnas, 351 / Campus Universitário, Bodocongó, 58109-753, Campina

Grande-PB, Brasil. e-mail: [email protected].

2Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia), Laboratório

Herpetológico do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade

Federal da Paraíba, 58051-900, João Pessoa, PB, Brasil.

3Bolsista de Desenvolvimento Científico Regional (DCR/CNPq/FAPERN).

Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia, Laboratório de Ecologia e

Conservação da Biodiversidade (LECOB), Centro de Biociências, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Lagoa Nova, 59072-970, Natal, RN, Brasil.

e-mail: [email protected]

4Bolsista Produtividade da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento

Científico e Tecnológico – FUNCAP. Departamento de Química Biológica,

Universidade Regional do Cariri, Rua Cel. Antônio Luiz 1161, CEP 63100-

000, Crato – CE, Brasil, e-mail: [email protected]

Apresentação Os répteis são utilizados de diferentes modos por

populações humanas. No Brasil são atualmente

reconhecidas 721 espécies de répteis, muitas dessas

espécies interagem com comunidades humanas, seja por

sua utilidade ou pelo risco que possam representar as

pessoas. Em áreas rurais e urbanas do país, produtos

Correspondência: Rômulo Romeu da Nóbrega Alves, Departamento de Biologia, Campina Grande, PB;

Avenida das Baraúnas, 58109-753, Brasil ([email protected])

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Page 7: Répteis e as Populações Huanas

Alves et al.

derivados de répteis como couro, dentes, gordura, carne

e ossos possuem igualmente valor alimentar, ornamental,

medicinal e mágico-religioso. Soma-se também a esse

conjunto o fato dos répteis serem ainda usados como

animais de estimação e atração em zoológicos. Apesar

disso, são poucos os estudos etnoherpetológicos

realizados no país e isso limita a elaboração de

estratégias adequadas de conservação para muitas

espécies, considerando que tais estudos são fundamentais

dentro de uma perspectiva conservacionista. Procuramos

nesse capítulo apresentar uma análise das relações entre

populações humanas brasileiras com algumas espécies

de répteis nativas. Enfocamos o valor utilitário que tais

populações humanas dão aos répteis e às relações

conflituosas associadas a esse grupo zoológico.

Introdução Os répteis são utilizados de diferentes modos por populações

humanas. Diversos estudos mostram que desses se aproveita ovos,

carne, sangue e gordura (óleo). A carapaça, pele e ossos fornecem a

matéria-prima de ornamentos, ferramentas, remédios e objetos mágico-

religiosos (Franke & Telecky 2001; Fitzgerald et al. 2004; Zhou &

Jiang 2004; Frazier 2005; Alves 2006a; Alves et al. 2006; Alves &

Pereira Filho 2007; Alves & Santana 2008; Alves et al. 2008). Em

algumas localidades são considerados verdadeiras pragas, motivando

seu extermínio pelas pessoas por serem considerados seres malignos, ou

por representarem perigo à saúde dos humanos ou de seus animais

domésticos (Alves et al. 2009a; Alves et al. 2009b; Santos-Fita et al.

2010). A percepção humana dos répteis é caracterizada, por vezes, pelo

extremo. Certas culturas os consideram fascinantes, us crocodilo

(Sebek) e temiam a grande serpente do mundo dos mortos (Apófis). O

próprio espírito do Nilo era um deus-serpente e simbolizava o poder do

faraó (Moreno et al. 2006). Na cultura ocidental a serpente é uma

criatura envolta por mitos, lendas e crendices das quais a mais

conhecida trata da maldição sofrida por Adão e Eva no Éden, onde uma

serpente leva a humanidade a perder o paraíso (Leeming 2003).

O significado simbólico dos répteis se altera quanto ao tipo de

relação que os humanos mantiveram e mantém com esses animais

(Campbell et al. 1991; Leeming 2003; Alves & Pereira Filho 2007;

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Page 8: Répteis e as Populações Huanas

Répteis e as populações humanas no Brasil

Alves et al. 2008; Alves et al. 2009a; Pough et al. 2004). O elemento

místico pode gerar uma perspectiva positiva de conservação ou negativa

quando a imagem do animal é temida e odiada por sua associação ao

mal, como acontece especialmente a muitas espécies de serpentes (ver

Dodd Jr 1993; Vizotto 2003). Em várias culturas tais visões antagônicas

se sobrepõem e resultam tanto em amor, quanto ódio a esses animais.

No Brasil são atualmente reconhecidas 721 espécies de répteis,

destes 679 pertencem aos Squamata com 67 anfisbenídeos, 371

serpentes e 241 lagartos. Além desses, há ainda seis espécies de jacarés

e mais 36 de quelônios descritas (Bérnils 2010). Muitas dessas espécies

interagem com comunidades humanas, seja por sua utilidade ou pelo

risco que possam representar as pessoas. Em áreas rurais e urbanas do

Brasil, produtos derivados de répteis como couro, dentes, gordura,

carne e ossos possuem igualmente valor alimentar, ornamental e

medicinal. Soma-se também a esse conjunto o fato dos répteis serem

ainda usados como animais de estimação e atração em zoológicos.

As diferentes formas de relacionamento entre as culturas humanas

e répteis constitui o objeto de estudo da Etnoherpetologia, uma

subdivisão da Etnozoologia (Speck 1946; Goodman & Hobbs 1994;

Bertrand 1997; Das 1998). No Brasil são poucos os estudos

etnoherpetológicos (Alves 2006a; Alves et al. 2007a; Alves & Pereira

Filho 2007; Alves & Santana 2008; Alves et al. 2009a; Santos-Fita et

al. 2010) e isso limita a elaboração de estratégias adequadas de

conservação para muitas espécies, considerando que tais estudos são

fundamentais dentro de uma perspectiva conservacionista. Procuramos

nesse capítulo apresentar uma análise das relações entre populações

humanas brasileiras com algumas espécies de répteis nativas.

Enfocamos o valor utilitário que tais populações humanas dão aos

répteis e às relações conflituosas associadas a esse grupo zoológico. As

informações aqui disponibilizadas foram compiladas da literatura e

também obtidas através de visitas a diversas áreas urbanas e rurais,

onde os autores realizaram vários estudos de caráter zoo e

etnozoológico.

O uso dos répteis pelas populações humanas no

Brasil A vasta extensão territorial do Brasil abriga diversas

comunidades humanas com tradições e costumes particulares. A

importância e utilidade que essas mesmas comunidades atribuem às

espécies de répteis locais parecem ser proporcionais à diversidade

cultural de cada região. Uma mesma espécie de lagarto, por

125

Page 9: Répteis e as Populações Huanas

Alves et al.

exemplo, pode ser utilizada de diferentes formas e finalidades. O

uso como fonte alimentar, na medicina popular, ornamentação,

religião, fabricação de peças para vestuário e artesanato são o

destino principal para algumas espécies de répteis brasileiras.

Embora não seja tão comum como acontece com aves e mamíferos,

répteis são também criados em cativeiro como animais de estimação.

De um modo geral, é possível falar numa conexão com pelo menos

64 espécies de répteis com comunidades humanas em todo país.

Exemplos de répteis utilizados no Brasil são mostrados na figura 1.

Alimentação As populações humanas têm consumido répteis nas diferentes

partes do planeta e em todas as épocas, utilizando a carne deste

grupo de animais como importante fonte de proteína. Um fato

curioso é que, embora sirvam de alimento também em zonas

temperadas, foi observado que o consumo de certas espécies de

répteis tem sido mais intenso nas regiões tropicais e subtropicais

(Klemens & Thorbjarnarson 1995). A explicação para isso se deve a

baixa diversidade de espécies encontrada nessas zonas e à pequena

quantidade de calorias que estes animais oferecem, estando menos

sujeitos à caça do que animais cuja carne e derivados são

considerados hipercalóricos, como bovinos, suínos e aves (Torres et

al. 2000).

No Brasil pelo menos 26 espécies de répteis são utilizadas

como alimento e da mesma maneira que ocorre em outros países

(Klemens & Thorbjarnarson 1995), existe uma variação considerável

na preferência alimentar das populações humanas por tartarugas,

jacarés, lagartos e serpentes.

Tartarugas, jabutis e cágados

Os quelônios são os preferidos para consumo alimentar, com 21

(58,3%) das 36 espécies registradas no Brasil. No cardápio estão

incluídos alguns cágados, jabutis e tartarugas marinhas e de água

doce. Quelônios são em geral utilizados como alimento

principalmente na região norte do país onde sua riqueza de espécies

é maior. Vários estudos apontam para o fato que quelônios

amazônicos vêm sendo historicamente consumidos pelas populações

humanas locais e transformados em produto no comércio regional

(Smith 1976; Pezzuti et al. 2004; Rebêlo et al. 2005; Alves &

Santana 2008; Pezzuti 2009; Pezzuti & Chaves 2009). Isso tem

afetado profundamente o hábito alimentar e a cultura das pessoas

dessa região. Klemens & Thorbjarnarson (1995) fizeram uma revisão

126

Page 10: Répteis e as Populações Huanas

Répteis e as populações humanas no Brasil

mundial sobre répteis de importância alimentar para humanos ,

destacando a importância do uso de quelônios como fonte protéica

para populações costeiras e ribeirinhas. No Brasil, as tartarugas de

água doce como Podocnemis expansa (tartaruga da Amazônia) e P.

unifilis (tracajá), cuja distribuição é ampla e simpátrica em

diferentes áreas da bacia amazônica, são muito utilizadas como

alimento na região norte do país.

Registros também mostram que a situação não é diferente para

tartarugas marinhas, e todas as espécies que ocorrem no país foram

ou são usadas como alimento. No litoral norte do estado da Bahia,

por exemplo, quatro espécies serviam como fonte alimentar para

indígenas e como insumo para pescadores artesanais dessa zona

costeira (Costa-Neto 2001). A Praia de Siribinha, uma importante

área reprodutiva de tartarugas, é apontada nesse estudo como bom

local de pesca. Os indivíduos eram apanhados especialmente durante

a época de postura, quando as fêmeas subiam à praia para desovar.

Segundo moradores locais, as tartarugas eram mantidas suspensas

por até dois dias até serem finalmente abatidas.

Com o aumento da pressão extrativista na costa brasileira , as

tartarugas marinhas tiveram um grande declínio de suas populações

e isso implicou na inclusão desses répteis na lista dos animais

ameaçados de extinção (Ministério do Meio Ambiente 2008). O

consumo da carne de tartarugas e o uso do seu casco para fazer

armações de óculos, pentes, pulseiras, anéis e colares, como também

a retirada de ovos era algo comum no cotidiano dos habitantes

locais. Atualmente, a pesca às tartarugas é proibida por lei federal

(Lei de Crimes Ambientais, no. 9605, de 12/2/98), que pune o

infrator com prisão inafiançável.

As tartarugas são usadas mundialmente como alimento (Balazs

1983; Allen 2007; Rudrud 2010). Diversas comunidades costeiras

tradicionais pescam tartarugas para sua subsistência e comércio. Os

índios Miskito que vivem na costa oriental da Nicarágua, por

exemplo, são muito dependentes das tartarugas verdes (Chelonia

mydas). Esses répteis fornecem recursos como carne, couro, gordura

(óleo), casco e "calipee", uma substância gelatinosa encontrada

junto à carapaça e que é a base para a sopa de tartarugas

(Nietschmann 1974). Em algumas ilhas do Pacifico, as tartarugas

marinhas são reverenciadas como animais sagrados e servidas como

comidas cerimoniais, sendo culturalmente valorizadas em relação a

todos os animais marinhos (Rudrud et al. 2007).

127

Page 11: Répteis e as Populações Huanas

Alves et al.

Figura 1. Exemplos de répteis utilizados por populações humanas no

Brasil. A -Chelonoidis carbonaria (jabuti), B - Podocnemis expansa

(tartaruga da Amazônia), C - Tupinambis merianeae (teiú, tejo, tejuaçú), D-

Iguana iguana (camaleão), E - Boa constrictor (jibóia) e F - Caudisona

durissa (cascavel).

Jacarés

Outro grupo de répteis apontado por alguns pesquisadores como parte

do cardápio das comunidades tradicionais brasileiras são os Crocodylia.

128

Page 12: Répteis e as Populações Huanas

Répteis e as populações humanas no Brasil

Embora sejam poucos os trabalhos em etnozoologia a mencionar jacarés

como alimento humano, alguns trabalhos têm mostrado que praticamente

todas as espécies que ocorrem no Brasil são consumidas (Klemens &

Thorbjarnarson 1995; Verdade 2004; Alves & Rosa 2006; Alves & Rosa

2007b; Alves & Rosa 2007a; Alves et al. 2007b; Valsecchi & Amaral

2009).

Lagartos

Há registro que pelo menos quatro espécies de lagartos servem de

alimento para populações humanas no Brasil. São estas a Ameiva ameiva

(calango bico doce), Tupinambis merianeae (teiú, tejo, tejuaçú), T. teguixin

(teiú, tejo, tejuaçú, jacuraru) e Iguana iguana (sinimbú, camaleão). As três

últimas espécies citadas são as mais comumente usadas como alimento em

suas áreas de ocorrência, tanto no Brasil como em outros países. Fitzgerald

(1994) afirma que espécies do gênero Tupinambis são muito caçadas para

consumo na Argentina, Paraguai e partes da Bolívia. O teiú é considerado

iguaria, tendo o sabor da sua carne comparado ao da carne de frango. De

forma similar, o consumo e a comercialização da carne de I. iguana

também têm uma grande aceitação na América tropical (Klemens &

Thorbjarnarson 1995), compondo a dieta de muitas pessoas que usam sua

carne e ovos como uma fonte principal de proteína. No Brasil, o consumo

de camaleões e teiús tem sido registrado não apenas em zonas rurais, mas

também em centros urbanos (Marques & Guerreiro 2007; Alves et al.

2009a; Alves et al. 2009b).

Camaleões são animais muito apreciados por comunidades pesqueiras

da Ilha do Marajó, estado do Pará, que comem sua carne e seus ovos (Alves

RRN, observação pessoal), e nas feiras públicas de Feira de Santana, na

Bahia, onde exemplares de I. iguana e Tupinambis sp. foram encontrados

com seus corpos expostos em bancadas e as carnes moqueadas (Marques &

Guerreiro 2007).

Serpentes

Os registros na literatura mostram que poucas espécies de serpentes

são usadas como alimento no Brasil. Dessas, podemos citar Boa constrictor

(jibóia), Eunectes murinus (sucuri, cobra sucurijú, cobra grande) e

Caudisona durissa (cascavel). Marques & Guerreiro (2007) registraram um

elo trófico inusitado entre seres humanos/cascavéis nas feiras públicas de

Feira de Santana, Bahia, onde ―espetinhos‖ da carne dessa serpente eram

vendidos ao preço de R$ 1,50. Isso aparentemente reflete o padrão norte-

americano, onde, no sudoeste dos Estados Unidos e no México, a carne de

cascavel (Crotalus spp.) é muito popular e sua venda tem se expandido em

áreas urbanas (Klemens & Thorbjarnarson 1995). A comercialização da

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Page 13: Répteis e as Populações Huanas

Alves et al.

carne de serpentes na América do Norte e no semiárido nordestino mostra

que tal costume não é exclusivo do sudeste asiático, como sugeriram

(Klemens & Thorbjarnarson 1995). Alves et al. (2007b) destacam ainda

que o consumo de répteis está associada à crendice medicinal associada a

animais, uma situação confirmada por Freire (1996) ao menos no estado de

Alagoas, onde a carne da cascavel é usada no tratamento da lepra. Já o

consumo de jibóia (B. constrictor) foi registrado por Fita et al. (2010) no

município Pedra Branca, Bahia.

O pequeno número de espécies de serpentes usadas como alimento no

Brasil não surpreende, tendo em vista o aspecto negativo associado a esses

animais nos mitos, lendas e crendices populares. Rea (1981) afirma que

não apenas as serpentes, mas também aqueles animais com forma

semelhante são rejeitados pelo aspecto desagradável, cuja aparência

provoca verdadeiro horror. O resultado de um trabalho feito com

populações ribeirinhas assentadas às margens do Rio Negro (Amazonas,

Brasil) apontou o poraquê (Electrophorus electricus) como o peixe mais

rejeitado para consumo pelos entrevistados, tanto pelo cheiro forte -"é

muito pitiú" - como pela aparência do corpo - "dá uma impressão que é

cobra [serpente]" (Silva 2007).

Medicina popular Os répteis têm sido utilizados na medicina popular desde o início da

colonização do Brasil, como atestam documentos históricos (Silva et al.

2004; Almeida et al. 2005; Alves et al. 2007b). von Martius (1939) em sua

viagem pelo interior do Brasil, no século XIX, registrou uma lista de

remédios naturais utilizados por nativos sulamericanos, como a gordura

fresca de jacaré que servia para aliviar o reumatismo (Costa-Neto 2005).

Atualmente, a gordura das espécies Cayman latirostris (jacaré-de-papo-

amarelo), Melanosuchus niger (jacaré-açú) e Paleosuchus palpebrosus

(jacaré-coroa) é ainda usada com a mesma finalidade pelas comunidades

rurais e urbanos (Alves & Rosa 2006; Alves & Rosa 2007a; Alves & Rosa

2007b; Alves et al. 2007b). Outras espécies de répteis utilizados na

medicina popular desde o Brasil colônia incluem a Iguana iguana

(camaleão, sinimbu), C. durissa (cascavel) e Micrurus ibiboboca (cobra

coral).

São tratados cerca de 100 tipos diferentes de doenças com

derivados de répteis. A farmácia natural inclui 47 espécies de répteis que

podem ser usada no tratamento de várias patologias. Os produtos derivados

de T. merianae e T. teguixin são indicados para o tratamento de uma porção

de doenças. Já a serpente Eunectes murinus é considerada afrodisíaca,

antiinflamatória, anti-reumática, antiasmática, trombocitopênica e útil no

tratamento de doenças venéreas e de pele (Alves et al. 2007b). Diferentes

130

Page 14: Répteis e as Populações Huanas

Répteis e as populações humanas no Brasil

maneiras de preparar e administrar remédios animais têm sido registradas.

Partes duras, como ossos, chocalhos e pele de serpentes geralmente são

secas ao sol, raladas e moídas em pó, sendo então administradas como chá

ou tomadas durante as refeições, enquanto a gordura e óleo são ingeridos,

ou usados como uma pomada, de acordo com a doença tratada (Alves &

Rosa 2006; Alves & Rosa 2007a; Alves & Rosa 2007b; Alves et al.

2007b).

Os répteis que se movem lentamente - "lerdos" - são usados como

calmante no tratamento de pessoas hiperativas, agressivas ou que tenham

sido traídas pelo cônjuge (―dor de corno‖). Nestes casos são aplicados

produtos derivados dos répteis, por exemplo, a água e pó do lagarto

―tamanquaré‖ (Uranoscodon superciliosus). Geralmente existe uma

associação entre características biológicas do animal com a posologia

(Alves 2006b; Alves 2008) igualmente observada por (Radbill 1976) ao

afirmar que a magia homeopática, ou imitativa, é presumida pelos xamãs

ou curandeiros a partir das qualidades atribuídas aos animais. Acredita-se

que a transferência de tais qualidades aos humanos se dá por inalação,

ingestão ou aplicação direta de partes do corpo destes animais.

É importante abrir um parêntese, pois como acontece com todo

produto natural, além de seu papel medicinal os répteis possuem muitas

vezes significado mágico-religioso, refletindo diferentes visões sobre saúde

e doença das diferentes culturas do país. O curandeirismo no Brasil se

confunde, portanto, com as crenças pelos rituais e o magismo oriundo da

medicina tradicional de origem na prática religiosa africana misturada com

elementos indígenas. Isso marcou profundamente o costume zooterápico

brasileiro.

Uso Mágico-religioso Os répteis são utilizados dentro de uma perspectiva mágico-

profilática cujo objetivo principal é afastar as doenças de ―origem não

natural‖, e as crenças populares geralmente afetam a forma como e quais

espécies são usadas na zooterapia (Alves & Rosa 2006). Essa prática

incorpora a percepção de forças sobrenaturais nas doenças bem como em

seus tratamentos; nesse contexto, preparam-se soluções à base de animais,

amuletos são construídos e encantamentos realizados. Por exemplo, a

finalidade mística pode envolver amuletos para proteger o usuário do "mau

olhado" ou ainda contra picadas de cobra como é o caso dos dentes de

jacarés C. latirostris, M. niger e P. palpebrosus no Brasil (Costa-Neto

2005; Alves & Pereira Filho 2007; Alves et al. 2007b). Na Nigéria,

também é comum animais e suas partes serem transformados em amuletos

131

Page 15: Répteis e as Populações Huanas

Alves et al.

para melhorar a saúde do enfermo, já no Senegal o camaleão Chamaeleo

senegalensis é usado para bloquear a energia negativa de detratores.

O uso de répteis em rituais é feito buscando promover inicialmente a

boa saúde da comunidade e não apenas a de um indivíduo em particular,

como naqueles casos citados anteriormente (Ajayi 1978). Para isso, existe a

imolação dos animais nas festas populares com o objetivo pacificador ou

invocativo (Adeola 1992; Sodeinde & Soewu 1999; Léo Neto et al. 2009).

A cabeça da píton africana (Python sebae) é usada para invocar e proteger

a aldeia contra a ação malfazeja das bruxas. Em regiões secas da Nigéria os

produtos de origem animal são usados em solenidades como funerais ou

quando membros tribais adquirem status de líder. No Brasil, essa forma de

uso muitas vezes está associada às religiões afro-brasileiras.

Nem todo ritual mágico-religioso ou místico-religioso envolve morte

como elemento básico, e a associação dos répteis a alguns mitos e

crendices são positivas numa visão protecionista. Um bom exemplo é a

prática do culto da serpente que persiste na Índia, África central, Oceania,

Grécia, Egito, Roma e Oriente. Nestes cultos as pessoas veneram serpentes

e suas pinturas, ou ainda formas serpentiformes pintadas em diferentes

locais. Tais pessoas passam a tratar as serpentes como divindades

protetoras cujo simbolismo quase sempre indica a fecundidade da terra, a

força criativa terrestre, ou são as guardiãs de segredos herméticos e o

próprio infinito (Biedermann 1996). Suas representações podem ser vista

em vários lugares do mundo. Particularmente em Camarões e Congo

(África Equatorial), as serpentes são espíritos florestais, portadoras da alma

de sábios e responsáveis por conduzir ao caminho da retidão (Cascudo

1962).

No Brasil das 16 espécies de répteis usadas em rituais mágicos-

religiosos (Tabela 1), a maioria (nove espécies, 56,3%) são de serpentes

(Alves 2006b; Alves & Pereira Filho 2007; Alves 2008; Léo Neto et al.

2009). Elas podem ser centrais em mitos, como na cultura dos nativos do

Rio Negro, Amazonas, onde representam a criação humana (Azevedo &

Azevedo 2003). Espécies aquáticas como a sucuri e algumas espécies de

peixes (poraquê, tucunaré e o mussum) são consideradas entidades

protetoras, sendo chamadas "mães de peixe" em algumas localidades (Silva

2007) por se acreditar que protegem os peixes. Reichel-Dolmatoff (1971)

afirmou que as serpentes aquáticas ocupam uma posição especial em

relação aos peixes, sendo consideradas suas progenitoras. Elas aparecem no

começo da estação chuvosa quando os peixes sobem para desovar nas

cabeceiras, e protegem a desova (Ribeiro 1995). O aspecto positivo desses

mitos pode contribuir na preservação das espécies em determinadas

regiões, ainda que o costume varie entre os diferentes grupos humanos

(Silva 2007).

132

Page 16: Répteis e as Populações Huanas

Répteis e as populações humanas no Brasil

As espécies de répteis brasileiras e seus derivados são comumente

vendidas em mercados ou lojas especializadas em artigos místicos e

procurados principalmente por seguidores de cultos afro-brasileiros. Os

animais são ocasionalmente vendidos inteiros ou retalhados (separados por

carne, pele, cauda, olhos, cabeça, dente, cloaca, gordura, chocalho e

carapaça) (Figura 2), sendo que um único espécime fornece a matéria-

prima a ser utilizada para muitos fins (Alves 2006b; Alves & Pereira Filho

2007). Muitas vezes o uso de alguns répteis no Brasil é semelhante aqueles

da África, refletindo claramente a influência africana quando servem para

invocação ou conciliação com deuses (Orixás). A cabeça de B. constrictor

(jibóia) ilustra bem esse fato, sendo usada com a mesma finalidade daquela

da P. sebae, por exemplo.

Figura 2. Exemplos de répteis e partes derivadas comercializadas para fins

medicinais e mágico-religiosos na cidade de São Luís, MA. A -

Tamanquaré (Uranoscodon superciliosus), B - guizo de cascavel

(Caudisona durissa), cabeças de jibóia (Boa constrictor) e jacaré (Cayman

sp), C e D - Couro de jacaré (Cayman sp.). Fotos: Rômulo Alves.

Além de animais inteiros ou suas partes, produtos derivados de

répteis (águas, perfumes e pó) são comercializados nas cidades brasileiras.

Águas ou perfumes são produtos que contêm partes dos répteis imersos em

133

Page 17: Répteis e as Populações Huanas

Alves et al.

líquidos como o álcool, água de rosas, ou soluções que contenham outros

materiais vegetais. As águas "ou" perfumes "são misturados com água

durante o banho ou utilizados como um perfume após o banho. Acredita-se

que este procedimento vai tornar o usuário capaz de alcançar sucesso

financeiro e no amor (Alves 2006b; Alves & Pereira Filho 2007). O pó é

produzido a partir de animais ou suas partes, que são secas ao sol e

trituradas até a obtenção de um pó fino. Espécies de répteis utilizados para

a elaboração de "águas" ou "perfumes" e ―pó‖ são B. constrictor (jibóia),

U. superciliosus (tamaquaré), Chelonoidis carbonaria (jabuti) e C.

denticulata (jabuti).

Outro produto derivado de répteis que é muito apreciado no comércio

popular são os "patuás". Trata-se basicamente de amuletos usados ao redor

do pescoço, colados sobre a roupa ou mantidos no bolso ou carteira. São

objetos de forma quadrada ou redonda feitos em couro ou material sintético

que no seu interior portam restos de animais como pele de serpente ou olho

de boto (Sotalia fluviatilis, S. guianensis ou Inia geoffrensis) (Alves &

Rosa 2008). Segundo os donos de lojas em que este material é

comercializado, tais amuletos são bastante populares entre clientes que

procuram boa sorte no amor e sucesso financeiro (Alves 2006b; Alves &

Pereira Filho 2007).

Existe uma grande sobreposição na utilização de espécies assim como

uma mesma espécie pode ser utilizada para várias finalidades mágicas

religiosas. Por exemplo, B. constrictor pode ser vendida em partes: pele,

cauda, cloaca, olhos, cabeça, fezes, gordura e dentes, além de servirem

como matéria prima para produção de águas e pó. O uso desses produtos

tem várias indicações, tais como sucesso no amor, sucesso financeiro, com

jogo de apostas, com viagens e relações comerciais (Alves 2006b; Alves &

Pereira Filho 2007).

Répteis como animais de estimação

Nas ultimas décadas, a demanda mundial para répteis

comercializados em pet shops tem aumentado. Segundo Hoover (1998), os

répteis são os animais de estimação em moda por causa da maior

disponibilidade e variedade de espécies, do incremento das técnicas de

criação em cativeiro, das maiores restrições ao comércio de outras espécies

de animais e, principalmente, porque, pelos seus hábitos, necessitam menos

cuidados que mamíferos e aves.

No Brasil, há pelo menos 17 espécies de répteis usados como pets,

sobretudo quelônios (sete espécies, 41,17%), mas também lagartos e

serpentes. Algumas espécies exóticas fazem parte da lista de répteis de

estimação comercializadas no Brasil. Dentre os lagartos, exemplos de

134

Page 18: Répteis e as Populações Huanas

Répteis e as populações humanas no Brasil

espécies que são comumente utilizadas são T. merianeae (teiú) e I. iguana

(camaleão).

Dos quelônios usados como pets, as duas espécies de jabutis C.

carbonaria e C. denticulata estão entre as espécies mais criadas, fato que

pode estar associado ao fato de se tratarem de animais dóceis, rústicos,

fáceis de serem capturados e, possivelmente, também por estarem

associados à crendice popular de que quem os possui em casa se previne

contra doenças como bronquite e asma (Alves et al. 2009a). Segundo

Fitzgerald (1989) e Lopes (1991), Chelonoidis sp. é o réptil mais

freqüentemente comercializado, tanto em mercados e feiras no Brasil

quanto no mercado internacional, com destinação para pet shops, coleções

privadas e zoológicos.

Em trabalho sobre répteis descartados por mantenedores particulares

e entregues ao Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios

(RAN), em Goiânia, estado de Goiás, constataram que as espécies mais

comuns foram: Trachemys scripta (tigre d’água americano ou tartaruga de

orelha vermelha), espécie exótica originária do sul dos Estados Unidos, e T.

dorbigni (tigre d’água brasileiro), endêmica no sul do Rio Grande do Sul

(Souza et al. 2008). Ambas são muito procuradas como animais de

estimação e, em geral, comercializadas ilicitamente. Essa comercialização

ocorre quando as tartarugas estão com 4 ou 5 cm de comprimento, embora

possam atingir cerca de 30 cm na fase adulta. A primeira é a mais

comumente encontrada no comércio nacional de pets, apesar de sua

importação estar proibida desde 1991. A segunda, embora endêmica no Rio

Grande do Sul, encontra-se disseminada em outros estados brasileiros

(Souza et al. 2008).

Dentre as serpentes, a preferência por espécies da família Boidae,

principalmente a jibóia (B. constrictor), talvez esteja relacionada ao fato de

não serem peçonhentas, oferecendo assim menos riscos durante sua

manipulação. Entretanto, espécies peçonhentas são criadas, mas em menor

freqüência. Conforme destaca Souza et al.(2008), a manutenção de

serpentes peçonhentas exóticas em casa, oferece sério risco de mordidas

para as quais não existe soro específico no Brasil, o que pode acarretar a

morte. No caso dos jacarés, embora também sejam criados como pets,

principalmente filhotes, animais desse grupo não são tão comuns como

lagartos, quelônios, e serpentes não peçonhentas.

A maior parte dos espécimes usados como animais de estimação são

adquiridos através do comércio clandestino, portanto representando uma

prática ilegal. Além de grave problema intrínseco, o comércio ilegal de

animais silvestres acaba gerando um problema secundário quando a pessoa

que o comprou, motivada por medo de punição, por arrependimento ou

simplesmente por perder o interesse em criá-lo, decide não mais ficar com

135

Page 19: Répteis e as Populações Huanas

Alves et al.

o animal. Nesse momento, o proprietário tem duas opções para desfazer- se

do animal: (1) a tentativa de devolução ou a doação para uma instituição

que possa abrigá-lo ou dar-lhe uma destinação segura, ou (2) o abandono

do animal em um lugar aleatório, sem qualquer critério ou preocupação

(Souza et al. 2008).

A soltura indiscriminada também pode criar outros problemas

ecológicos, sobretudo quando se trata de espécies não nativas. A introdução

de espécies exóticas, como a tartaruga de orelha vermelha ou tigre d’água

americano (T. scripta) pode provocar danos à biota local. Segundo Ribeiro

(2004), esse quelônio: (1) compete por alimento com espécies nativas, (2)

exerce predação (por exemplo sobre girinos, pequenos peixes e

invertebrados), (3) pode entrar em processo de hibridização com outras

espécies do mesmo gênero e (4) introduzir parasitas e doenças. Todos esses

fatores podem resultar no desequilíbrio das populações locais.

Outro problema é que, quando submetidos à condições estressantes

decorrentes de captura, transporte, colocação em novo ambiente, mudança

alimentar, manejo ou exposição em pet shops, os animais sofrem queda da

capacidade imunológica, podendo desenvolver quadros infecciosos. Em

geral, os répteis são portadores assintomáticos de Salmonella spp. e, nas

situações descritas acima, o processo infeccioso é ativado, com

conseqüente eliminação desse parasita pelas fezes. Uma vez tendo sido

eliminada por animais infectados, a Salmonella apresenta alta resistência

no ambiente. Dessa forma, não somente o contato direto com o animal, mas

também a manipulação do local em que é mantido pode levar à infecção

humana (Grespan 2001; Fornazari 2009).

Os répteis como seres nocivos às populações

tradicionais Os répteis ao mesmo tempo em que apresentam amplo valor utilitário

podem ser também encarados como animais daninhos e associados ao mal,

considerados verdadeiras pragas e por esses motivos caçados e mortos

(Alves et al. 2009b). Nesse contexto, uma determinada espécie pode ser

abatida por se tratar de uma praga e ter seus subprodutos aproveitados para

diferentes finalidades. Um bom exemplo são os teiús (T. merianae ou o T.

teguixin) que são comumente mortos para evitar que comam ovos e filhotes

de galinha. Os subprodutos do consumo de teiús são aproveitados na

ornamentação e medicina popular (Nishida et al. 2004; Alves & Rosa

2006; Alves et al. 2009a; Confessor et al. 2009; Ferreira et al. 2009; Alves

et al. 2010). As serpentes peçonhentas como a cascavel (C. durrisa), coral

(Micrurus sp.) e jararaca (Bothropoides leucurus) são mortas como medida

preventiva, pois podem morder animais domésticos ou pessoas. Os seus

136

Page 20: Répteis e as Populações Huanas

Répteis e as populações humanas no Brasil

subprodutos (chocalho, gordura) são depois aproveitados principalmente

como remédios (Alves & Rosa 2006).

No caso das serpentes peçonhentas, estas podem causar a morte de

caprinos, ovinos e bovinos causando prejuízos significativos para os

criadores rurais. Trinca & Ferrari (2006), em trabalho realizado no Estado

do Mato Grosso, Brasil, relatam que alguns caçadores locais são a favor do

extermínio de todos os predadores com potencial para atacar os humanos

ou os animais domésticos, mesmo que estes predadores vivam no seu

ambiente natural e longe dos humanos. Isso é reforçado pelo fato de muitas

pessoas acreditarem que todas as cobras sejam perigosas e agressivas

(Marcum 2007).

Ainda que reconheçam que nem todas as serpentes representem

perigo, as pessoas normalmente se referem a elas através de palavras

pejorativas como feio, repugnante, repulsivo, cruel, traiçoeiro, vicioso,

vingativo, ofensivo, etc. (Araújo 1978), que são termos usados para

designar atitudes ou traços da personalidade humana. Uma pesquisa

realizada no semi-árido paraibano por Alves et al. (2009b) atesta que

moradores locais não matam apenas serpentes venenosas mas igualmente

indivíduos não-venenosos, porque despertam neles medo e repugnância, ou

simplesmente por acreditarem que são potencialmente perigosas. As

populações locais também costumam incluir anfisbenídeos na lista por

terem uma morfologia similar às serpentes. Em trabalho realizado no

município de Pedra Branca, Bahia, Santos-Fita et al. (2010) registraram

que os moradores locais têm um comportamento negativo forte em relação

as serpentes, matando-as sempre que possível.

A explicação mais lógica para tamanha antipatia está nos mitos

associados às serpentes, que alimenta o medo natural das pessoas por esses

animais. No folclore de muitos povos abundam lendas, fábulas e contos

onde a serpente sempre aparece como um animal astuto e de má índole

(Vainer 1945). Estas narrativas quase sempre são fruto de interpretações

incorretas dos fatos, que permaneceram arraigadas no inconsciente popular

ao longo das gerações e que são difíceis de apagar. Isso é mitigado pela

presença de algumas lendas nas quais as serpentes não são vistas como

animais malignos. Por causa das mudanças periódicas de pele, as serpentes

simbolizam a saúde e a vida nova para algumas culturas, e sua presença nas

habitações é interpretado como bom augúrio, prognosticando a chegada da

felicidade (Santos 1987).

Muitos répteis são abatidos por serem considerados potencialmente

perigosos e os dados da literatura mostram que um total de 29 espécies de

jacarés, serpentes e lagartos brasileiros são freqüentemente mortos por esse

motivo (Marques 1995; Alves et al. 2009b; Santos-Fita et al. 2010). Tudo

isso reforça a afirmação de Marques (1995), na qual a conexão do homem

137

Page 21: Répteis e as Populações Huanas

Alves et al.

com o componente zoológico é repleta de contradições e ambigüidades,

uma vez que a fauna nativa tanto pode se constituir em fonte de recursos

quanto na possibilidade de riscos para o homem e seus animais domésticos.

Os conflitos entre homem e animais não se restringe aos répteis, se

estendendo a outros grupos, tais como mamíferos, sobretudo os carnívoros

(Conover 2002; Graham et al. 2005; Marshall et al. 2007; Alves et al. 2009b;

Inskip & Zimmermann 2009). Conflitos ocorrem quando as necessidades e o

comportamento de animais se chocam com os objetivos dos seres humanos,

ou quando os desejos humanos geram impactos negativos para a vida

selvagem. Estas relações podem ocorrer quando animais selvagens danificam

colheitas, ferem ou mata animais domésticos, ameaçando ou matando

pessoas (Kaltenborn et al. 2006; Treves et al. 2006). Conexões conflitantes

entre vida selvagem e comunidades humanas despertam muito interesse e

representam um grande desafio para os conservacionistas, que procuram

encontrar uma saída que beneficie ambas as partes.

Tabela 1. Espécies de répteis e respectivas finalidades de uso ou relações

conflituosas no Brasil. A- alimentar, M- medicinal, MR- mágico religioso,

AE- animais de estimação, O- Ornamento e decoração, RC- Relação

conflituosa.

Familia /Espécies/ Nome popular A M MR AE O RC

Jacarés

Alligatoridae

Paleosuchus palpebrosus - (Cuvier,

1807) ―jacaré coroa‖, ―jacaré‖, ―jacaré-

preto‖, ―crocodilo‖

X X X X X X

Paleosuchus trigonatus - (Schneider,

1801) ―jacaré‖

X X

Caiman crocodilus – (Daudin, 1802)

―jacaré tinga

X X X X X X

Caiman latirostris – (Daudin, 1802)

―jacaré-do-papo-amarelo‖

X X X X X X

Melanosuchus niger – (Spix, 1825)

―jacare açú‖

X X X X X

Paleosuchus trigonatus - (Schneider,

1801) ―jacaré coroa‖

X X X X X X

Serpentes

Boidae

Boa constrictor – Linnaeus, 1758

―boa‖,―jibóia‖

X X X X X X

138

Page 22: Répteis e as Populações Huanas

Répteis e as populações humanas no Brasil

Corallus caninus – (Linnaeus, 1758)

―cobra papagaio‖

X X

Corallus hortolanus - (Linnaeus, 1758)

―cobra de veado‖, ―cobra veadeira‖

X X

Eunectes murinus – (Linnaeus, 1758)

―sucurujú‖, ―sucuri‖

X X X X X

Epicrates cenchria – (Linnaeus, 1758)

―salamanta‖

X X X

Epicrates assisi Machado, 1945 X X X

Colubridae

Spilotes pullatus – (Linnaeus, 1758)

―caninana‖

X X X

Leptophis ahetula – (Linnaeus, 1758)

―cobra cipó‖

X

Oxybelis aeneus – (Wagler, 1824)

―cobra cipó‖

X

Tantilla melanocephala – (Linnaeus,

1758) ―cobra rainha‖, ―cobra do

folhiço‖

X

Mastigodryas bifossatus – (Raddi, 1820)

―jaracuçú‖

X X

Dipsadidae

Boiruna sertaneja Zaher, 1996 – ―cobra

preta‖

X

Drymarchon corais (Boié, 1827) X

Oxyrhopus trigeminus – Duméril,

Bibron & Duméril, 1854 ―falsa coral‖,

―tricolor‖

X X X

Philodryas olfersii – (Lichtenstein,

1823) ―cobra verde‖

X

Philodryas nattereri – Steindachner,

1870 ―corre-campo‖

X

Xenodon merremii (Wagler, 1824) –

―focinho-de-cachorro‖

X

Liophis viridis – Günther, 1862 ―cobra

verde‖, ―cobra d’água‖

X

Pseudoboa nigra – (Duméril, Bibron &

Duméril, 1854) ―cobra preta‖

X

Sibynomorphus neuwiedii – (Ihering,

1911)

X

139

Page 23: Répteis e as Populações Huanas

Alves et al.

Viperidae

Bothrops leucurus - Wagler, 1824

―jararaca‖

X X

Lachesis muta - (Linnaeus, 1766)

―surucucu pico-de-jaca‖

X X

Caudisona durissa - (Linnaeus, 1758)

―cascavel‖

X X X X X

Bothriopsis bilineata bilineata – (Wied,

1825) ―surucucu-de-pindoba‖, ―pingo-

de-ouro‖, ―two-striped forest pitviper‖

X

Elapidae

Micrurus ibiboboca - (Merrem, 1820)

―cobra-coral‖

X

Quelônios

Chelidae

Phrynops geoffroanus – (Schweigger,

1812) ―cágado‖

X X X

Phrynops tuberosus (Peters, 1870) –

(Peters, 1870) ―cágado‖

X X X

Chelus fimbriatus - (Schneider, 1783) X X

Mesoclemmys nasuta - (Schweigger,

1812)

X X

Platemys platycephala - (Schneider,

1792)

X

Mesoclemmys tuberculata –

(Lüderwaldt, 1926) ―cágado‖, ―cágado-

d’água‖

X X

Cheloniidae X

Caretta caretta - (Linnaeus, 1758)

―tartaruga cabeçuda‖

X X

Chelonia mydas - (Linnaeus, 1758)

―tartaruga verde‖, ―aruanã‖

X X

Eretmochelys imbricata – (Linnaeus,

1766) ―tartaruga de pente‖

X X

Lepidochelys olivacea - (Eschscholtz,

1829) ―tartaruga verde‖

X X

Dermochelyidae

Dermochelys coriacea – (Linnaeus,

1766) ―tartaruga de couro‖

X X

140

Page 24: Répteis e as Populações Huanas

Répteis e as populações humanas no Brasil

Emydidae

Trachemys dorbigni (Duméril & Bibron,

1835)

X

Geoemydidae

Rhinoclemmys punctularia - (Daudin,

1801)

X X

Testudinidae

Chelonoidis carbonaria - (Spix, 1824)

―jabuti‖

X X X X X

Chelonoidis denticulata – (Linnaeus,

1766) ―jabuti‖

X X X X X

Podocnemididae

Podocnemis expansa - (Schweigger,

1812) ―tartaruga da amazônia‖

X X X

Podocnemis unifilis – Troschel, 1848

―tracajá‖

X X X X

Podocnemis sextuberculata - Cornalia,

1849

X X X

Peltocephalus dumeriliana –

(Schweigger, 1812) ―cabeçuda‖

X X X

Podocnemis erythrocephala - (Spix,

1824)

X X

Family Kinosternidae X

Kinosternon scorpioides (Linnaeus,

1758 ―muçuã‖

X X

Family Geoemydidae X

Rhinoclemmys punctularia (Daudin,

1801)

X

Lagartos

Iguanidae

Iguana iguana - (Linnaeus, 1758)

―camaleão‖, ―iguana‖

X X X

Teiidae

Ameiva ameiva – (Linnaeus, 1758)

―sardão grande‖, ―bico doce‖

X

Cnemidophorus ocellifer – (Spix, 1825)

―sardão pequeno‖, ―calanguinho‖,

―calango‖

X

Tupinambis merianae – (Duméril &

Bibron, 1839) ―tegu‖, ―tejuaçú‖, ―teiú‖

X X X X X

141

Page 25: Répteis e as Populações Huanas

Alves et al.

Tupinambis teguixin – (Linnaeus, 1758)

―tejuaçú‖

X X X X X

Tropiduridae

Tropidurus hispidus - (Spix, 1825)

―lagartixa‖, ―catenga‖, ―catexa‖

X

Tropidurus semitaeniatus – (Spix, 1825)

―lagartixa-de-lajedo‖

X

Tropidurus torquatus – (Wied, 1820)

―lagartixa‖

X

Uranoscodon superciliosus - (Linnaeus,

1758) ―tamaquaré‖

X X

Gekkonidae

Hemidactylus mabouia - (Moreau de

Jonnès, 1818) ―lagartixa‖, ―briba‖

X

Phyllodactylidae

Phyllopezus periosus Rodrigues, 1986 -

―briba‖

X

TOTAL DE ESPÉCIES

REGISTRADAS = 64

TOTAL 26 47 16 17 25 29

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