Requalificação do Espaço Público Urbano

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    Requalificao do Espao Pblico Urbano

    Caso de estudo Bairro Olival de Fora

    Ins Neto Capaz Coutinho Fernandes

    Dissertao para obteno do Grau de Mestre em

    Arquitectura Paisagista

    Orientador: Doutor Lus Paulo Almeida Faria Ribeiro

    Co-orientador: Mestre Arquitecta Paisagista Catarina Gonalves Rodrigues Vieira

    Conde

    Jri:

    Presidente: Doutor Francisco Manuel Cardoso de Castro Rego, Professor Associado doInstituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa.

    Vogais: Doutor Lus Paulo Almeida Faria Ribeiro, Professor Auxiliar do Instituto Superior de

    Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa;

    Mestre Selma Beatriz de Almeida Nunes da Pena Baldaia, Assistente do Instituto Superior

    de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa na qualidade de especialista.

    Lisboa, 2012

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    Agradecimentos

    Ao meu orientador, Professor Lus Paulo Faria Ribeiro

    minha co-orientadora, Arquitecta Catarina Conde

    Ao Urbanista, Luis Sousa

    minha Me

    Ao meu Pai

    minha Irm

    minhaAv

    Aos meusAvs

    Ao Antnio

    Ao Tony

    Ao Miguel

    Ao Joo

    Ao Srgio

    Ana

    Concha, Marta, Mauro, Rita ePi

    Rita L., David, Manuele Z

    A todos, um enorme e sincero OBRIGADO!

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    Resumo

    O espao pblico constitui, por excelncia, o espao da vida comunitria. Actualmente,

    procura-se a introduo de valores que, de alguma forma, foram esquecidos ou aparentam

    ter sido.

    A crescente procura e preocupao, por parte dos cidados, por espaos cada vez mais

    qualificados, leva a que os espaos pblicos sejam adequadamente projectados aquando do

    planeamento urbano. Em qualquer altura, mas sobretudo em tempos conturbados, tal como

    os dias que actualmente vivemos, os cidados escolhem inevitavelmente o espao pblico

    para se fazerem ouvir.

    O presente trabalho pretende demonstrar que a qualidade por vezes perdida em

    determinadas zonas pode ser novamente adquirida atravs da requalificao. Tendo em

    considerao as caractersticas inerentes ao espao pblico, possvel projectar espaos

    que possibilitem a vida comunitria, que muitas vezes inexistente na sociedade actual.

    Os cidados ento cada vez mais exigentes em relao qualidade do seu espao

    pblico; atravs do projecto de Arquitectura Paisagista os espaos pblicos podem, neste

    caso, voltar a adquirir qualidade.

    Palavras-chave: Espao pblico, Projecto de Arquitectura Paisagista, Requalificao,Avaliao da qualidade, Indicadores de qualidade.

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    Abstract

    The public space is, par excellence, the space for the community life. Currently, the

    introduction of values is demanded, although some of those values appear to have been

    forgotten.

    As far as citizens are concerned, their growing demand and care for more qualified areas

    leads to taking public spaces into account when urban planning is put up. At any time, but

    especially in troubled periods, as those we live today, people will inevitably choose to be

    heard in the public space.

    This study aims to demonstrate that the quality formerly present in some areas can be

    gained again through requalification. Regarding the specific characteristics of the public

    space, spaces can be designed in order to make community life possible, which is often

    lacking in today's society.

    The citizens are more demanding about the quality of the public space; through the

    project of Landscape Architecture, the public spaces, in this case, get quality back.

    Keywords: Public space, Landscape Architecture project, Requalification, Quality

    assessment, Quality indicators.

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    Extended Abstract

    Public space, the space of the societies' life par excellence, since Ancient Greece and

    Rome, has always existed even though not as we know it today. Continued changes

    occurred in the social, economic and environmental context, changing the habits of citizens

    and these changes being reflected in public space. It was in the Industrial Revolution that the

    public space has changed more, keeping its changes until the present, with one of its

    greatest "discoveries," the motor car.

    The motor car has brought us a range of solutions in transportation, causing yet what

    would become one of the biggest problems of nowadays. Cities became developed

    depending on the car, leaving the citizens at the background, forgetting that they are built by

    the people and people need space and public space - to do it.

    One of the great concerns in today's society is the demanding for public space, the space

    that rightfully belongs to the citizens, the space where society becomes visible and where

    each individual has his own place. One persues the returning to the rhythm of the past. But

    once the public space is consolidated, we need to re-invent it and (re)qualify it.

    Nowadays, cities are facing with the problem of overpopulation, causing the migration of

    citizens to the suburbs. Not as an absolute rule, but on a regular basis, it's the lower class

    people that tend to migrate to the suburbs, creating lower quality neighborhoods and

    reflecting the need for redevelopment. In a decade marked by a huge lack of economic and

    social resources but also social, redeveloping the public space in those areas is of major

    importance.

    Therefore, this paper comes up in this perspective, trying to show that, as far as public

    spaces are concerned - even though poor but full of meaning - one can reinvent them and

    reclassify them.

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    ndice

    1. Introduo ......................................................................................................................... 1

    2. Metodologia ....................................................................................................................... 3

    3. Espao Pblico .................................................................................................................. 4

    3.1. Conceito ....................................................................................................................... 4

    3.2. Evoluo do Espao Pblico ........................................................................................ 4

    3.3. Critrios do Espao Pblico ......................................................................................... 6

    3.4. Tipologias de Espao Pblico .....................................................................................14

    3.5. Espaos Pblicos Sustentveis ...................................................................................16

    3.6. Concluses .................................................................................................................18

    4. Requalificao do Espao Pblico Urbano .......................................................................19

    4.1. Conceito de Requalificao .........................................................................................19

    4.2. Programas de Interveno de Requalificao do Espao Pblico Urbano ..................20

    4.3. Mtodos de Avaliao da Qualidade do Espao Pblico .............................................22

    4.3.1. Mtodo de Avaliao - Project for Public SpacesDiagrama do Lugar .................22

    4.3.2. Mtodo de AvaliaoUrban Design Alliance - Placecheck ..................................27

    4.3.3. Mtodo de AvaliaoO Cho da Cidade - Checklist ...........................................29

    4.4. Concluses .................................................................................................................31

    5. Requalificao e Projecto de Arquitectura Paisagista .......................................................32

    5.1. Ambiente urbano e qualidade de vida .........................................................................32

    5.1.1. Conceito de Ambiente Urbano ...............................................................................32

    5.1.2. Conceito de Qualidade de Vida ..............................................................................33

    5.1.3. Conceito de Qualidade do Ambiente Urbano .........................................................34

    5.2. Espaos Verdes UrbanosComponente do Ambiente Urbano ..................................37

    5.2.1. Evoluo dos Espaos Verdes Urbanos ................................................................37

    5.2.2. Benefcios dos Espaos Verdes Urbanos ..............................................................37

    5.2.2.1. Benefcios Ecolgicos .......................................................................................37

    5.2.2.2. Benefcios Sociais ............................................................................................37

    5.2.2.3. Benefcios Estticos .........................................................................................37

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    5.3. Dimenses Humanas do Espao Pblico ....................................................................41

    5.4. Indicadores de Qualidade do Ambiente Urbano ..........................................................44

    5.5. Concluses .................................................................................................................44

    6. Caso de EstudoBairro Olival de Fora............................................................................456.1. Localizao e Enquadramento do Bairro Olival de Fora ..............................................45

    6.2. Gnese do Bairro Olival de Fora .................................................................................46

    6.3. Caracterizao do Bairro Olival de Fora ......................................................................47

    6.3.1. Populao ..............................................................................................................47

    6.3.2. Habitao ...............................................................................................................48

    6.3.3. Equipamentos, servios e condies de vida .........................................................48

    6.3.4. Principais problemas ..............................................................................................49

    6.4. Programa de Reabilitao Urbana ..............................................................................49

    6.5. Cartas de anlise do local ...........................................................................................50

    6.5.1. Estrutura Verde ......................................................................................................50

    6.5.2. Espao Pblico ......................................................................................................51

    6.5.3. Tipologia dos Edifcios ...........................................................................................51

    6.5.4. Usos dos edifcios ..................................................................................................52

    6.6. Seleco e clculo dos Indicadores de Qualidade Ambiental ......................................53

    6.7. Proposta de Requalificao do Espao Pblico do Bairro Olival de Fora ....................55

    6.7.1. Intenes ...............................................................................................................55

    6.7.2 Proposta .................................................................................................................56

    7. Concluso ......................................................................................................................621

    8. Referncias bibliogrficas ................................................................................................62

    ANEXOS ................................................................................................................................ I

    Anexo A: Mtodo de avaliaoUrban Design Alliance - Placecheck ................................. I

    Anexo B: Mtodo de avaliaoO Cho da Cidade - Checklist ........................................ IX

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    Lista de Quadros

    Quadro 1Tipologias de Espao Pblico (fonte: Brando, 2008) ........................................ 14

    Quadro 2Sntese dos programas de interveno no Espao Pblico ............................... 21

    Quadro 3Checklist das caractersticas gerais do espao pblico (fonte: Brando, 2002) . 30

    Quadro 4 Componentes e respectivos factores da qualidade do ambiente urbano (fonte:

    Partidrio, 2000) ................................................................................................................... 36

    Quadro 5 Benefcios proporcionados pelo material vegetal (adaptado de: Almeida, 2006)

    ............................................................................................................................................. 38

    Quadro 6Dimenses Humanas do Espao Pblico Urbano (adaptado de Alves, 2003) ... 43

    Quadro 7Indicadores seleccionados para o Bairro Olival de Fora .................................... 54

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    Lista de Figuras

    Figura 1As dimenses da Sustentabilidade (adaptado de: Benson e Roe, 2007) ............ 12

    Figura 2Diagrama do Lugar (adaptado de Project for Public Spaces) .............................. 24

    Figura 3Ilustrao dos inmeros benefcios ecolgicos das rvores (fonte: Almeida (2006)

    ............................................................................................................................................. 39

    Figura 4 Localizao do Bairro Olival de Fora | Vialonga (fonte: www.bing.com/maps/,

    2011 ..................................................................................................................................... 46

    Figura 5Zona de interveno | Bairro Olival de Fora (fonte: www.bing.com/maps/, 2011. 46

    Figura 6Carta de Anlise | 01 | Estrutura Verde................................................................ 50

    Figura 7Carta | 02 | Espao Pblico ................................................................................. 51Figura 8Carta | 03 | Tipologias dos Edifcios ..................................................................... 52

    Figura 9Carta | 04 | Usos dos Edifcios. ............................................................................ 52

    Figura 10AnteProjecto | 05 | Plano Geral ...................................................................... 56

    Figura 11Situao actual - estacionamento central (foto de autor, 2011). ........................ 57

    Figura 12Situao actualcaldeiras das rvores (foto de autor, 2011)............................ 57

    Figura 13Situao actual dos limitestaludes (foto de autor, 2011) ................................ 58

    Figura 14Situao actualreas ajardinadas de enquadramento (foto de autor, 2011) .. 59

    Figura 15Situao actualmobilirio urbano (foto de autor, 2011) .................................. 60

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    Lista de Abreviaturas

    apudCitao indirecta, retirada de fonte citada pelo autor da obra consultada.

    CM-VFXCmara Municipal de Vila Franca de Xira.

    EEA EuropeanEnvironment Agency's.

    OCDEOrganizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico.

    POLISPrograma de Requalificao Urbana e Valorizao Ambiental de Cidades.

    PPSProject for Public Spaces.

    PRAUDPrograma de Recuperao de reas Urbanas Degradadas.

    PROCOMSistema de Incentivos a Projectos de Urbanismo Comercial.

    PROQUAL Programa Integrado de Qualificao das reas Sub-urbanas da rea

    Metropolitana de Lisboa.

    PRUPrograma de Reabilitao Urbana.

    URBCOM- Sistema de Incentivos a Projectos de Urbanismo Comercial.

    http://www.eea.europa.eu/http://www.eea.europa.eu/
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    1. Introduo

    O espao pblico, local por excelncia da vida das sociedades, tem vindo a evoluir desde

    a Grcia e Roma Antigas, assumindo-se sempre como um lugar de referncia nos diferentes

    contextos histricos e culturais, sempre existiu.

    Sucessivas modificaes no contexto social, econmico e ambiental ocorreram, alterando

    os hbitos dos cidados e tendo essas alteraes vindo a ser reflectidas no espao pblico.

    com a Revoluo Industrial que o espao pblico mais se alterou profundamente,

    mantendo essa alterao at aos dias de hoje, com uma das suas grandiosas

    descobertas, o automvel.

    O automvel trouxe-nos uma panplia de solues, a nvel do transporte, acarretando no

    entanto o que viria a ser um dos maiores problemas dos dias de hoje. As cidades passaram

    a desenvolver-se em funo dos automveis remetendo os cidados para segundo plano,

    esquecendo que so eles que fazem as cidades e que para tal necessitam de espao,

    espao pblico qualificado.

    Na sociedade actual uma das grandes preocupaes recuperar e garantir o espao dos

    cidados, o espao que seu por direito, onde a sociedade se torna visvel e onde cada

    indivduo tem o seu lugar prprio. Procura-se recuperar cadncia de outrora.

    Considerando que o espao pblico se encontra consolidado, h que reinvent-lo e

    (re)qualific-lo.

    Actualmente, os centros das cidades deparam-se com o problema da concentrao e por

    vezes da sobrepovoao, o que provocou um xodo por parte dos cidados para as zonas

    perifricas. No sendo regra mas acontecendo com bastante frequncia, na periferia que

    se encontram os bairros com menor qualidade, consequncia de um crescimento rpido e

    nem sempre bem planeado, e se v o espao pblico carente de requalificao

    Numa poca em que se verifica uma elevada falta de recursos econmicos e tambm

    sociais, a ideia de requalificar o espao pblico essencialmente destes locais adquire uma

    elevada importncia.

    A consciencializao deste problema levou a que diversos programas de requalificao

    do espao pblico tenham surgido nos ltimos anos.

    Assim, nesta perspectiva que surge a presente dissertao, tentando demonstrar que,

    no caso dos espaos pblicos mais carenciados de qualidade mas repletos de significados,

    possvel reinvent-los e requalific-los.

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    O trabalho desenvolvido s foi possvel com a colaborao do Municpio de Vila Franca

    de Xira, especificamente com a Diviso de Quintas Municipais e Espaos de Lazer do

    Departamento de Qualidade Ambiental e Sustentabilidade, com a co-orientao da

    Arquitecta Paisagista Catarina Conde.

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    2. Metodologia

    Para a realizao da presente dissertao, em primeiro lugar procurou-se analisar os

    conceitos relativos ao espao pblico, um bom entendimento das caractersticas inerentesao espao pblico serviu de base fundamentao do objectivo final, uma proposta de

    requalificao do espao pblico (captulo 6).

    Em seguida procedeu-se anlise dos programas acerca desta temtica existente em

    Portugal at presente data; servindo assim, para reforar a ideia de que o espao pblico

    merece ser alvo de ateno devido importncia que possui no domnio da vida dos

    cidados. No entanto, os programas implantados deveriam ser alvo de avaliaes regulares

    a fim de se conhecer o estado do espao pblico, alvo de determinado programa/projecto;

    no s por parte das entidades responsveis mas tambm por parte de quem os vive, oscidados. Seria certamente bastante til que existissem essas avaliaes de forma a tornar

    mais simples a interveno por parte das entidades gestoras na resoluo de eventuais

    problemas.

    De forma a quantificar a qualidade do ambiente urbano do caso prtico, o Bairro Olival de

    Fora, procedeu-se seleco e respectivo clculo dos indicadores seleccionados.

    Todos estes passos tiveram o intuito de sustentar a proposta de requalificao

    apresentada.

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    3. Espao Pblico

    El espacio pblico es el de la representacin, en el que la sociedad se hace visible.

    Jordi Borja

    3.1. Conceito

    O conceito de espao pblico estudado e definido por diversas reas, desde a

    Arquitectura, Arquitectura Paisagista Geografia passando obrigatoriamente pela

    Sociologia. So diversos os autores que se focam nesta temtica discutindo e atribuindo

    uma elevada importncia ao conceito.

    Em termos gerais quando se pensa em espao pblico, conseguimos defini-lo como um

    espao fsico ao qual qualquer cidado poder e dever ter livre acesso. Pensa-se, em

    primeira instncia, nos parques e jardins urbanos, nas ruas e praas, mas tambm nos

    centros comerciais, que embora sejam de domnio privado, o seu acesso pblico. Mas

    espao pblico mais do que isso.

    De acordo com Borja (2001), gegrafo e urbanista, o espao pblico no meramente o

    espao vazio entre edifcios e ruas, nem um espao vazio considerado pblico por razes

    exclusivamente jurdicas. mais do que isso. um espao multifuncional que serve de

    palco sociedade; um espao fsico, simblico e poltico onde as relaes sociais seestabelecem. Borja, afirma tambm, que contar a histria do espao pblico contar a

    histria da prpria cidade, e que a qualidade da cidade poder ser avaliada atravs do seu

    espao pblico, pois indica a qualidade de vida dos cidados e o seu grau de cidadania.

    Diversos autores, como Indovina (2002 apudAntunes, 2009), Lynch (1960apudAntunes,

    2009) e Jacobs (1961 apudAntunes, 2009) reiteram a definio de Borja, enfatizando o

    valor estruturante do espao pblico, afirmando que a cidade o espao pblico. Em todas

    as pocas, sociedades e regimes polticos, o espao pblico, considerado o espao onde

    o poder se torna visvel, onde a sociedade tem melhor oportunidade de se expressar, e tambm nele que o simbolismo colectivo se materializa. (Brando e Remesar, 2004).

    3.2. Evoluo do Espao Pblico

    O conceito de que a cidade possui um espao dedicado aos cidados e vida enquanto

    comunidade no actual, existe desde h muitos sculos. No pretendendo apresentar uma

    descrio exaustiva da evoluo do espao pblico, apresenta-se um breve resumo acerca

    desta temtica.

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    A gora Grega e o Frum Romano so talvez os primeiros espaos projectados de que

    h registo claro, com o intuito de serem espaos pblicos, espaos feitos para os cidados

    que possibilitem a sua vida enquanto sociedade. A gora consistia num espao pblico

    localizado no centro da Polis onde os cidados se reuniam para debater questes inerentes

    sociedade. Era o espao onde actividades polticas, comerciais e religiosas tinham lugar.

    O Frum semelhana da gora encontrava-se no centro da cidade rodeado por edifcios

    pblicos do centro simblico e por edifcios pblicos importantes. Era o espao da cidadania,

    da poltica, da religio e do comrcio, tal como na Grcia Antiga (vila, 2011).

    Posteriormente, na Idade Mdia, a cidade um espao fechado, delimitado por muralhas

    e contendo um castelo. Entrava-se atravs da sua porta e deambulava-se por ruas

    estreitas que iriam terminar em praas. A praa torna-se o elemento do espao pblico;

    alis , um concentrado de recursos econmicos e especificidades culturais que

    caracterizam as diversas cidades e como tal funcionou desde a poca medieval at aos

    nossos dias (Favacchio, 2002, pp. 13). A praa resultava de um vazio na estrutura urbana e

    funcionava como um largo onde se desenvolviam actividades sociais e comerciais. A cidade

    medieval cresceu e desenvolveu-se sem ordem pensada e estruturada, onde se ligavam os

    seus diversos elementos que constituam o espao pblico. (Almeida, 2006).

    Na cidade Renascentista, a rua constitui o elemento estruturante da organizao da

    cidade, servindo como elo de ligao e acesso de todos os pontos da cidade. nesta altura

    que as rvores comeam a ser inseridas no traado da cidade por razes funcionais,

    estticas e climticas. A praa deixa de ser um vazio resultante da malha urbana e passa a

    ser um ponto central desenhado e projectado da cidade, onde os principais edifcios e

    monumentos eram erguidos. Continua, no entanto, a ser um espao de elevado valor

    poltico e social e tambm artstico e simblico. Apresenta-se como um cenrio, espao

    decorado e embelezado, simbolizando competncia e prestgio. (Almeida, 2006, pp. 135).

    A partir do Barroco o quarteiro ganha um novo valor na forma, desenho e integrao da

    malha urbana. O quarteiro limitado por vias que delimitam edifcios e lotes. Os

    alinhamentos de rvores ao longo das ruas continuam nesta poca a constituir umaimportante alterao desde o Renascimento, assumindo uma elevada importncia na

    definio de eixos e da monumentalidade dos edifcios. (Almeida, 2006)

    no sculo XIX, que o desenvolvimento de novas tecnologias e o crescente interesse

    pela cincia ganha expresso impulsionando a Revoluo Industrial. A nova era trouxe

    naturalmente alteraes s cidades e, consequentemente, ao espao pblico. Uma das

    consequncias foi a concentrao de populao nas cidades. Os significados de outrora do

    espao pblico perderam-se passando a criao do espao a ser feita com princpios

    utilitrios e funes especificas a determinadas classes (Favacchio, 2002). certo que osjardins j existiam, mas nesta altura que se tornam num importante elemento urbano e que

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    surge a Arquitectura Paisagista. O conceito de espao verde, com utilidade colectiva e local

    de convvio social, remonta a um passado antigo (). A apropriao pblica dos espaos

    verdes da cidade surge, principalmente, depois da Revoluo Industrial, em sintonia com as

    crescentes preocupaes higienistas em melhorar a qualidade de vida na cidade industrial.

    (Almeida, 2006, pp. 131).

    A revolta contra a industrializao manifestou-se, dizendo os entendidos, que se deveria

    retornar ao natural, favorecendo a qualidade no que se refere gua, iluminao natural,

    jardins e espaos de recreio. Assim, a cidade industrial comea a ser posta em causa. A

    reflexo sobre as cidades industriais leva a que o espao pblico seja por vezes privilegiado

    em funo da circulao e outras vezes em funo da vida comunitria. No Modernismo, o

    espao pblico segue a linha orientadora que define este movimento, a funo. Surgem

    espaos fragmentados e destruturados, como espaos residuais entre os edifcios, muitos

    deles sem alma, onde o seu uso era s um.

    J na dcada de 80 volta-se a questionar esta construo do espao pblico, voltando

    necessidade de criar espaos onde seja possvel a existncia de uma maior qualidade de

    vida. (Francisco, 2005)

    Actualmente tenta-se renovar o(s) espao(s) pblico(s), de forma a criar espaos com

    alma e onde os cidados voltem a fazer a sua vida social, sendo dada uma maior

    importncia identidade do local e participao pblica.

    3.3. Critrios do Espao Pblico

    Sendo o espao pblico o espao de excelncia para a formao das comunidades,

    torna-se imperativo que este contenha determinadas caractersticas/critrios gerais para que

    possibilite o desenvolvimento da vida social.

    De acordo com Brando (2002), as caractersticas/critrios gerais essenciais que o

    espao pblico deve contemplar a fim de garantir que um espao de vivncia e onde torna

    possvel a vida social dos cidados so: A Identidade, B Continuidade |Permeabilidade, C Segurana | Conforto | Aprazibilidade, D Mobilidade |

    Acessibilidade, E Incluso e Coeso Social, F Legibilidade, G Diversidade |

    Adaptabilidade, HResistncia | Durabilidadee, por fim, ISustentabilidade.

    Em seguida apresenta-se cada uma das caractersticas detalhadamente.

    A -Identidade

    Um lugar possui a sua prpria identidade, estando relacionada com as caractersticas.Advm da forma como os indivduos se apropriam e relacionam com o lugar. Locais com

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    identidade prpria so aqueles que facilmente nos recordamos e onde existe uma relao

    equilibrada do Homem com o meio envolvente.

    Para a identidade dos lugares concorrem diversos elementos, nomeadamente:

    - Fsicos e biolgicos: clima, gua, flora, solo e a fauna;

    - Humanos (scio-econmicos, culturais, histricos e ambientais): arquitectura, elementos

    urbanos (pavimentos, fontes, mobilirio urbano e iluminao), escala, cor, textura, costumes

    e tradies, arte e artesanato, demografia, actividades econmicas estruturantes, materiais

    e mtodos construtivos, recursos internos e outros fenmenos.

    Existe um grupo de conceitos que aparecem ligados ao prprio conceito de identidade na

    tentativa de um melhor entendimento (Brando, 2008):

    - Memria colectiva construda por vrias layers. Cada pessoa possui a sua memria

    individual e a memria colectiva, isto , a capacidade de recordar o meio envolvente. uma

    soma de referncias ligadas ao passado, a pessoas e acontecimentos especiais, a

    alteraes tcnico-econmicas (fbricas, energia e transportes) e a hbitos culturais

    relacionados com o espao. O espao fsico possui um interesse especial para cidados

    que vivam no mesmo stio h muitos anos. O desaparecimento de uma rua, edifcio ou

    rvore pode ser um acontecimento bastante marcante.

    - Uso e apropriao do espao A apropriao de um espao significa que os cidados

    se identificam com o lugar e com os objectos. Se os cidados se identificarem com o

    espao, tero cuidados e preocupaes que, se no se identificassem, no teriam; e

    certamente a sua conduta ser de conservar, manter, cuidar e vigiar.

    - Esprito do lugar Esprito do lugar ou Genius Loci segundo Norberg-Schulz, o

    conceito que define que um lugar significa muito mais do que a sua localizao. O Lugar

    est cheio de significados. Este conceito resulta da combinao das necessidades humanas

    com o stio natural. O Genius Lociconfere a esse lugar um carcter nico que o distingue

    dos outros. (Magalhes, 2001).

    O esprito do lugar pode encontrar-se em diversos elementos urbanos tais como, a

    paisagem, a arquitectura, o ambiente e os hbitos. Ser que todos os lugares tm o seuprprio esprito? Ou ser que de esprito do lugar que a maioria dos stios carece?

    - Reduo da identidade, cidadeespectculo e publicidadeActualmente, nas cidades,

    os monumentos perderam destaque relativamente publicidade; os monumentos foram

    sendo substitudos por painis publicitrios de grandes dimenses, o que faz com que

    ofusquem o que deveria se alvo de ateno. Quando o espao deixa de ser realidade

    cultural e se transforma em produto transaccionvel (o que vende), necessita de uma

    aparncia de diferenciao competitiva, mas que na realidade corresponde reduo da

    sua prpria identidade. (Brando, 2008, pp. 17)

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    - Organizao simblica do espao arte e democraciaA toponmia, os momentos, a

    arquitectura so elementos que nos permitem facilmente reconhecer o simbolismo do

    espao pblico. Numa democracia a construo simblica do espao pblico faz-se atravs

    da participao dos cidados no seu desenho. J nos regimes totalitrios a simbologia do

    espao pblico imposta aos cidados sem que possam intervir na deciso comum.

    B -Continuidade | Permeabilidade

    Para que o tecido urbano possua uma estrutura coerente e no uma estrutura

    fragmentada, com espaos desligados e desconectados, o conceito de continuidade revela-

    se de extrema importncia. A continuidade deve ser garantida ao nvel da estrutura verde,

    das redes de circulao (pedonal, rodoviria e ciclvel), do saneamento e dos servios

    pblicos (transportes, iluminao, etc.)

    A permeabilidade, definida como a possibilidade de ligao visual e fsica com a

    envolvente, contribui para a conexo das diversas estruturas constituintes do espao

    urbano.

    C -Segurana | Conforto | Aprazibilidade

    Um espao pblico que seja confortvel, seguro e aprazvel, que funcione eficazmente

    para toda a populao, dever ter em conta diversos aspectos estruturais. As

    acessibilidades, a manuteno, a resistncia ao vandalismo, a iluminao, bem como a

    escolha de mobilirio urbano e dos equipamentos devem ser tidos em considerao ao

    longo de todo o processo.

    O conforto dos espaos pblicos depende essencialmente dos seguintes factores:

    - Climaa temperatura, a humidade, a insolao, a precipitao e o vento;

    - Qualidade acsticao espao dever ser protegido do rudo atravs da vegetao, da

    sua implantao, do pavimento, etc.

    - Qualidade visualpontos de iluminao natural e artificial, pontos de abertura visual;

    - Qualidade do ara vegetao o grande filtro do ar, melhora em muito a qualidade do

    ar;

    - Qualidade ergonmica dos equipamentos e do espaoos equipamentos implantados

    devem ter como principal objectivo o conforto dos cidados visando a sua permanncia;

    - Seguranaparte do conforto experienciado pelos cidados passa pela segurana do

    espao;

    - Conservao e limpeza do espao um local limpo e conservado, seguramente

    promover o conforto dos cidados;

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    - Vegetao a vegetao torna-se um elemento fulcral do espao pblico, tal como j

    foi referido, por servir de filtro do ar e por ser uma barreira do som, mas tambm porque

    possibilita zonas ensombradas e de conforto, regulando o microclima e tambm a vegetao

    e podendo tornar-se um ponto marcante de um lugar;

    - guapode ser utilizada na sua forma natural ou em formas construdas e contribui, tal

    como a vegetao, para a regulao do microclima do lugar; no entanto, necessrio ter em

    conta cuidados de segurana na sua concepo;

    - Materiais de construopelas suas caractersticas fsicas, tambm contribuem para o

    conforto, segurana e aprazibilidade do espao.

    D -Mobilidade | Acessibilidade

    Os espaos pblicos devem ser acessveis, fsica e socialmente, a todas as pessoas;

    devem estar preparados para permitir o usufruto por parte de todos os cidados, idosos,

    crianas, invisuais, pessoas que se deslocam em cadeiras de rodas ou com auxlio de

    canadianas, etc, possibilitando condies de usufruto iguais ou semelhantes s dos demais

    utentes.

    Por vezes ambos os conceitos so confundidos, necessrio clarific-los. Melo (2005)

    define acessibilidade como a maior ou menor facilidade em se alcanar determinados

    destinos desejados (servios e actividades) e mobilidade como a maior ou menor

    capacidade de deslocao para atingir tais objectivos.

    De acordo com o Conceito Europeu de Acessibilidade (2005) um meio fsico (meio fsico

    natural e meio fsico construdo) acessvel dever ser:

    - Respeitador dever incluir todos os tipos de cidados, ningum se dever sentir

    marginalizado;

    - Segurodever ser isento de perigos para todos os cidados;

    - Saudveldever estar isento de riscos para a sade dos cidados;

    - Funcional dever ser desenhado e projectado de forma a cumprir o objectivo para o

    qual foi elaborado sem problemas ou dificuldades;

    - Compreensvela percepo e compreenso do espao fulcral para que os cidados

    se orientem sem qualquer dificuldade, sendo necessria uma informao clara (sinaltica) e

    a disposio dos espaos funcional e coerente;

    - Estticodever ser esteticamente agradvel ao maior nmero de pessoas possvel.

    com base nestes dois conceitos que surge o conceito de desenho inclusivo. definido

    como o desenvolvimento de produtos e ambientes que permitam a utilizao por pessoas

    de todas as capacidades. Tem como principal objectivo contribuir, atravs da construo domeio, para a no discriminao e incluso social de todas as pessoas. Simes & Bispo

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    (2006) fulcral que o desenho inclusivo esteja sempre presente no pensamento dos

    projectistas do espao pblico.

    Ambos os critriosmobilidade e acessibilidadedependem de diversos factores:

    - Localizao e distribuio dos usos;

    - Oferta de meios de transportes;

    - Condicionamentos da locomoo (obstculos com que nos deparamos as barreiras

    fsicas, a topografia do terreno, o pavimento, etc.);

    - Solues de apoio/suporte s pessoas com mobilidade reduzida, idosos e deficientes;

    - Grupos etrios que utilizam cada espao as crianas e os idosos possuem menor

    mobilidade;

    - Gneroos homens possuem maior mobilidade que as mulheres;

    - A categoria scio-economica e os rendimentos as classes mais elevadas possuem

    maior poder de mobilidade;

    - Cultura algumas culturas encaram com maior naturalidade o facto de terem que

    percorrer maiores distncias. O conceito de distncia e declive varia com o contexto

    geogrfico e cultural de cada comunidade.

    Aps a definio e o entendimento dos dois conceitos, entende-se que essencial que o

    espao pblico:

    - Promova a coexistncia entre diferentes tipos de deslocao (pedonal, ciclvel e

    automvel);

    - Evite a criao de barreiras arquitectnicas;

    - Promova a segurana;

    - Delimite determinados espaos (parques infantis, recintos desportivos, etc.);

    - Contribua para circulao confortvel em zonas com acentuados declives;

    - Possibilite a circulao de veculos de servios de emergncia entre outros

    (ambulncias, carros de bombeiros, proteco civil, etc.).

    E -Incluso | Coeso social

    Os espaos pblicos so espaos de encontro entre pessoas, devero por isso potenciar

    as relaes humanas. Assim, devem poder ser utilizados por todas as pessoas

    independentemente do sexo, raa, idade, etnia, convico poltica, crena religiosa e nvel

    etrio.

    Nos ltimos anos tem-se assistido a uma enorme presso exercida sobre o espao

    pblico por parte de diversos agentes econmicos e concessionrios, sendo que muitas das

    funes atribudas no trazem qualquer benefcio social. Veja-se, por exemplo, o caso dasesplanadas beira Tejo, que esto completamente dirigidas a determinado estatuto social,

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    H -Resistncia | Durabilidade

    A resistncia e durabilidade dos materiais e equipamentos utilizados so de extrema

    importncia para a longevidade do espao. necessrio considerar quem sero os

    utilizadores do espao, as funes s quais so destinados e a intensidade da suautilizao. Infelizmente ainda necessrio uma vigilncia e a afixao de regras de

    utilizao para que a durao dos equipamentos seja a maior possvel. Quando se projecta

    determinado espao a qualidade de equipamentos e materiais deve ser tida em conta e os

    factores humanos e biticos devem ser sempre ponderados.

    I -Sustentabilidade

    O conceito de sustentabilidade tem sido alvo de muita ateno nos ltimos anos. Sendoum conceito com diversas definies, mais ou menos complexas, muito se tem desenvolvido

    acerca deste tema. A definio que mais unanimidade rene pelos estudiosos do conceito

    refere que a sustentabilidade s conseguida se as trs dimenses social, ambiental e

    econmica estiverem reunidas (figura 1) (Benson e Roe, 2007). Por dimenso social

    entende-se a equilibrada distribuio dos recursos entre as geraes actuais e as futuras. A

    dimenso ambiental pressupe uma viso ecologista de forma a conservar e proteger o

    meio ambiente de que dependemos garantindo a perpetuao da vida humana. Por fim, a

    dimenso econmica visa o desenvolvimento econmico com a crescente preocupao daqualidade de vida pessoal sem prejudicar as condies de vida de terceiros ou das geraes

    futuras. (Fonseca, Pimentel e Vasconcelos, 2005). Contudo, a sustentabilidade no pode

    nem deve ser avaliada com base em solues nicas. Cada caso um caso diferente.

    necessrio entender bem os objectivos e o contexto. Uma soluo pode ser sustentvel ou

    no consoante a situao em que nos encontramos.

    Figura 1 As dimenses da Sustentabilidade (adaptado de: Benson e Roe, 2007)

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    As propostas e solues para os espaos pblicos devem sempre conduzir

    sustentabilidade da interveno, tendo em considerao:

    - A utilizao razovel e integrada dos recursos naturais;

    - A possibilidade de utilizao de fontes energticas alternativas (tais como solar e elica)

    para a iluminao, rega, etc.;

    - Fomentando a utilizao de materiais locais e amigos do ambiente;

    - A escolha dos equipamentos e material adequado s necessidades do espao

    (intensidade de utilizao, capacidade de carga do territrio);

    - As acessibilidades;

    - A optimizao da utilizao em termos de conforto e segurana;

    - A manuteno dever ter como objectivo a optimizao de custos.

    O planeamento, projecto e gesto de espao(s) pblico(s) dever considerar os aspectosabordados nos pargrafos anteriores. O espao pblico com qualidade dever no s ser

    potenciador de integrao social, mas tambm dever ser um espao aberto a todos os

    indivduos, sejam eles da mesma religio, ideologia poltica, idade, raa ou sexo, pois a

    sociedade feita de pessoas diferentes mas, ao mesmo tempo iguais.

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    3.4. Tipologias de Espao Pblico

    O espao pblico pode ser classificado em tipologias, consoante a sua funo e

    utilizao. Entre as varais classificaes existentes na metodologia encontrada optou-se

    pela apresentada por Brando (2008), uma vez que integra critrios de ordem

    estrutral/espacial e de utilizao, os quais se considera determinantes no processo de

    projectar e desenhar estes espaos. Brando apresenta assim quinze tipologias essenciais

    de acordo com seis referncias estruturais e que se descrevem no quadro 1.

    Quadro 1 Tipologias de Espao Pblico (Fonte: Brando, 2008)

    Espao Traado EncontroCirculao

    Largos, praasRuas, avenidas

    Espao Paisagem LazerNaturezaContemplao

    Jardins, parquesMiradouros, panoramas

    Espao - Deslocao TransporteCanalEstacionamento

    Estaes, paragens, interfacesVias-frreas, auto-estradasParking, silos

    Espao Memria SaudadeArqueologia

    Memoriais

    CemitriosIndustrial, agrcola, servios

    Espaos monumentais

    Espao Comerciais Semi-interioresSemi-exteriores

    Mercados, Centros comerciais,arcadasMercado levante, quiosques,toldos

    Espaos gerados Por edifcios,

    Por equipamentos,

    Por sistemas

    Adro, passagem, galeria, ptioCulturais, desportivos,religiosos, infantisIluminao, mobilirio,

    comunicao, arte.

    O presente trabalho no pretende estudar exaustivamente todas as tipologias de espao

    pblico existentes, pelo que apenas se apresenta uma breve descrio das tipologias que

    existentes.

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    EspaoTraado

    O espao - traado por excelncia o espao de circulao e encontro entre transeuntes,

    espao onde a vida em sociedade toma lugar.

    Ruas e avenidas - destinam-se essencialmente circulao e permanncia dos

    cidados e tambm circulao e estacionamento de veculos. Trata-se de um espao

    multifuncional que possibilita a coexistncia de cidados e veculos. No entanto tem-se

    assistido na ltima dcada ao crescimento da preocupao com o trfego rodovirio, em

    detrimento do trfego pedonal.

    Praas, largos e pracetas so espaos, por excelncia, da cidade tradicional, que

    podem adquirir diversas formas e dimenses. So normalmente delimitados por edifcios e

    predomina o pavimento destinado ao trfego pedonal. As praas e largos so zonas deconvergncia e de grande sentido de centralidade. As pracetas possuem formas mais

    pequenas que as praas e, por norma, so zonas onde existe menor permeabilidade e

    acessibilidade.

    EspaoPaisagem

    O espao paisagem alm de ser espao de encontro, tambm espao de lazer e

    contemplao.

    Parques urbanos so reas de grandes dimenses (dezenas de hectares) que,

    normalmente, o olhar no abrange na totalidade, constitudas por zonas verdes, passeios,

    equipamentos desportivos, fontes, tanques, quiosques, etc. So zonas onde existem

    variedade de actividades para todas as pessoas. Servem normalmente a cidade dada a sua

    dimenso.

    Jardins pblicos a sua dimenso menor que os parques urbanos, so igualmente

    constitudos por zonas verdes de recreio e lazer e contm diversos equipamentos, tais

    como, quiosques, tanques, fontes, etc. Dada a sua dimenso, normalmente, a sua rea de

    influncia o nvel do bairro.

    reas ajardinadas de enquadramento so zonas sobrantes aproveitadas para

    enquadrar edifcios, infra-estruturas, equipamentos. Normalmente, so zonas verdes sem

    uso definido.

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    EspaoDeslocao

    Parques de estacionamento em quarteires e em zonas edificadas normalmente o

    estacionamento concentra-se nas ruas, sendo no centro do quarteiro ou em filas ao longa

    da rua.

    3.5. Espaos Pblicos Sustentveis

    De acordo com Antunes (2009, pp. 12) existem diversas questes a colocar quando se

    aplica o conceito de sustentabilidade no planeamento e gesto dos espaos pblicos:

    - Como que o conceito de sustentabilidade se traduz numa viso e num plano de

    gesto de espaos pblicos?

    - O que um espao pblico sustentvel?- Quando que se afirma que um espao pblico sustentvel?

    - Quais sero as caractersticas distintivas desses espaos?

    No existem respostas definitivas as estas questes, a aplicao da sustentabilidade

    abordada e entendida de maneira distinta, de espao pblico para espao pblico. No

    entanto, Beatley e Manning (1997 apud Antunes, 2009) e Newman e Jennings (2008 apud

    Antunes, 2009) formulam um conjunto de princpios fundamentais de sustentabilidade a ter

    em conta nos espaos pblicos. Os princpios para espaos pblicos sustentveis so dez,

    e so os abaixo descritos:

    PRINCIPIO UM: Viso de longo prazo

    O conceito de sustentabilidade tem como preocupao a perpetuao dos recursos da

    gerao actual e das geraes vindouras, sendo por conseguinte necessrio adoptar uma

    perspectiva de longo prazo. H que ter tambm uma perspectiva tica e de

    responsabilidade, no que diz respeito preservao dos recursos e das possibilidades

    futuras.

    PRINCIPIO DOIS: Minimizao da pegada ecolgica

    Pegada ecolgica mede a rea de solo necessria para produzir e fornecer os recursos

    naturais que satisfaam as necessidades de determinada populao ou actividade. Adoptar

    este princpio implica pensar que os recursos so finitos e que necessrio limitar os

    impactos ambientais e o consumo dos recursos naturais.

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    PRINCIPIO TRS: Reconhecimento dos limites ecolgicos

    necessrio o (re)conhecimento da capacidade de sustentao dos prprios sistemas

    naturais e ecolgicos de forma a tornar sustentvel o espao pblico.

    PRINCIPIO QUATRO: Espaos de recuperao e regenerao ambiental

    Ser sustentvel, mais do que manter o estado actual das coisas.Implica reunir esforos

    na melhoria das condies naturais e na regenerao de ambientes degradados, de forma a

    deixar s geraes vindouras um ambiente natural e construdo em melhores condies do

    que se encontra no presente. Os espaos pblicos devem constituir espaos de

    recuperao e regenerao ambiental por excelncia. (Antunes, 2009, pp. 13) .

    PRINCIPIO CINCO: Sentido de lugar e de comunidade

    Um espao pblico sustentvel deve respeitar o passado histrico, os valores culturais e

    humanos e o carcter da comunidade em que se encontra, estando em consonncia com o

    ambiente natural, de forma a criar um sentido de ligao e de pertena por parte dos seus

    utilizadores.

    PRINCIPIO SEIS: Qualidade de vida

    O espao pblico sustentvel dever potenciar a qualidade de vida a todas as pessoas

    da sua comunidade, tendo em conta as diferentes necessidades dos utilizadores e

    promovendo comportamentos positivos do ponto de vista ambiental e social.

    PRINCIPIO SETE: Equidade e incluso social

    O espao pblico sustentvel dever ser um espao aberto a todos os grupos sociais,culturais, econmicos e tnicos garantindo a incluso social e igualdade de todos.

    PRINCIPIO OITO: Eficincia e viabilidade econmica a longo prazo

    Ser sustentvel dever levar adopo de critrios econmicos na concepo e gesto

    do espao pblico articulados com os objectivos sociais e ambientais de forma a garantir a

    perpetuao deste no tempo. Devem procurar-se solues de custo reduzido e eficazes

    para atingir determinado objectivo.

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    PRINCIPIO NOVE: Participao

    Os cidados tm o direito de ter uma voz activa nas decises que devem ser tomadas

    relativamente ao seu espao pblico. O seu envolvimento permite que conheam os seus

    recursos naturais de forma a conseguir expressar a sua opinio no que diz respeito ssolues a tomar.

    PRINCIPIO DEZ: Governana e cooperao

    A gesto sustentvel dos espaos pblicos deve assentar no estabelecimento de

    parcerias de colaborao activa entre as autoridades pblicas, as empresas, as associaes

    no governamentais e os cidados em geral. (Antunes, 2009, pp. 13-14) Tomar decises

    no um processo simples, existem diversos aspectos a ser considerados; assim, nochegam as autoridades pblicas para o fazer, necessrio contar com mais agentes.

    3.6. Concluses

    O conceito de espao pblico evoluiu ao longo dos sculos voltando a adquirir, nos dias

    de hoje, o mesmo valor que possua no tempo de Roma e Grcia Antigas. crucial devolver

    aos cidados o espao que foram perdendo, em muito devido ao aparecimento do

    automvel. Os espaos pblicos foram sendo deixados para trs no sendo sequer

    contemplados ao nvel do planeamento urbano.

    A tendncia actual passa por voltar a qualific-los, ou seja, a requalific-los. Hoje os

    cidados reconhecem que os seus espaos necessitam voltar a ter qualidade para o

    desenvolvimento da sociedade.

    A crescente preocupao em voltar a qualificar o que j existente, e que por diversos

    motivos foi perdendo qualidade, levou a que em Portugal e tambm a nvel europeu, existam

    cada vez mais programas de requalificao de espaos degradados nomeadamente, os

    espaos que por direito so dos cidados.

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    4. Requalificao do Espao Pblico Urbano

    Com a crescente preocupao em recuperar o espao pblico e devolv-lo aos cidados,

    surgiram diversos conceitos ligados aos processos de requalificao, tais comoregenerao, revitalizao e reabilitao. Muitas vezes os conceitos so utilizados de forma

    incorrecta. Muitos projectistas e tcnicos da rea confundem a essncia dos conceitos. Por

    vezes atribuem a um processo de requalificao o nome de revitalizao. Foram criados e

    executados diversos programas cujo objectivo visava a requalificao do espao pblico.

    4.1. Conceito de Requalificao

    Moreira (2007) afirma que o termo requalificao recente em Portugal, aparecendo no

    final dos anos 80, sendo que, at 1998, nos vocabulrios urbansticos publicados, os

    conceitos utilizados diversificavam entre revitalizao, recuperao ou reabilitao,

    aparentemente designando o mesmo processo.

    A autora define requalificao urbana de acordo com o documento VALIS - Valorizao

    de Lisboa em 1990, que se refere ao significado do conceito como recuperar o sentido da

    ubicao residencial das populaes, atravs de mltiplas aces e medidas, que vo da

    infra-estruturao valorizao da imagem interna e externa, passando pela proviso dos

    adequados servios e pela equidade no acesso ao emprego. Todos os caminhos, da novarua ou da nova aldeia devero levar Metrpole, sem traumas de regresso(s). A estratgia

    deve levar a aces que permitam descobrir e qualificar a alma dos lugares, pela nossa

    memria, pela vivncia, pelo patrimnio o que se herdou e importa valorizar, como

    tambm o que se deve construir no esprito do tempo.(Moreira, 2007, pp. 118)

    Acrescenta que a requalificao urbana inclui aspectos de carcter econmico,

    ambiental, fsico e social. A requalificao pretende criar as condies necessrias ao

    desenvolvimento de actividades econmicas rentveis, proporcionando emprego aos seus

    habitantes permitindo assim a sua incluso ao nvel produtivo. Pretende dissipar o ciclo depobreza a que certas reas parecem estar destinadas, alterando assim a percepo social

    que se tem das mesmas. Ao nvel ambiental, a requalificao, prende-se com o conceito de

    qualidade de vida, devendo o espao pblico proporcionar aos seus habitantes a melhor

    qualidade, criando as condies fsicas necessrias.

    Tambm o relatrio final de Politicas Pblicas de Revitalizao Urbana: Reflexo para

    formulao estratgica e operacional das actuaes a concretizar no QREN (2005),

    apresenta uma definio mais simplificada do conceito em estudo. Refere que a

    requalificao urbana principalmente um instrumento para a melhoria das condies devida das populaes, promovendo a construo e recuperao de equipamentos e infra-

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    estruturas e a valorizao do espao pblico com medidas de dinamizao social e

    econmica. (Guerra, 2005, pp. 21)

    A Requalificao urbana procura reintroduzir as qualidades urbanas, as acessibilidades e

    a centralidade de uma determinada rea, provocando a sua mudana ao nvel paisagstico,

    cultural, social e econmico.

    Assim, na presente dissertao adoptou-se o conceito de requalificao pois apresenta-

    se como um conceito abrangente.

    4.2. Programas de Interveno de Requalificao do Espao Pblico Urbano

    Programas como o URBAN, POLIS, PRU, PRAUD, PROQUAL e URBCOM, entre outros,

    provam a importncia atribuda aos espaos pblicos, no s a nvel nacional, mas tambm

    a nvel Europeu, em matria de requalificao, seja na vertente social, ambiental, cultural ou

    econmica. Portugal j conta com diversas intervenes a este nvel. A maioria dos

    programas incidiram directamente no objectivo da requalificao do espao pblico, sendo

    que outros incidiram de maneira menos directa (veja-se o programa URBCOM que atravs

    da dinamizao comercial pretende que o espao pblico envolvente tambm seja

    melhorado); no entanto, o espao pblico um ponto fulcral dos programas.

    No presente captulo faz-se um resumo, sem pretender ser exaustivo, de alguns dos

    programas de requalificao que foram postos em prtica em Portugal (Quadro 2).

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    Quadro 2 Sntese dos programas de interveno no Espao Pblico

    Programas Data Objectivos

    PRAUD 1988 -

    Apoiar os municpios na reabilitaoou renovao de reas urbanas.Divide-se em duas vertentes:PRAUD- OBRAS, que financia

    operaes de reabilitao ourenovao de reas urbanasdegradadas, nomeadamenteespaos pblicos, edifcios comidentidade histrica ou cultural, infra-estruturas, equipamentos, e oPRAUD-GTL, que visa ofinanciamento de aces depreparao e/ou acompanhamentodas operaes de reabilitao ourenovao das reas urbanas.

    URBAN 19941999 URBAN I

    20002006 URBAN II

    Requalificar e revitalizar as reas

    urbanas, centros de cidade e suasperiferias, onde existe uma forteexpresso de degradao, sinais dedepresso, problemas econmicos eurbanos, desemprego edeteriorizao da qualidade de vidagerando fenmenos de inseguranae excluso social.

    Programa de

    Reabilitao Urbana

    1997 - 2003

    Requalificao e revitalizao dasreas urbanas que apresentemproblemas econmicos, sociais,urbanos, de desemprego e

    degradao da qualidade de vida etambm problemas de exclusosocial e insegurana.

    Programa Polis 2000at ao presente

    Melhorar a qualidade de vida nascidades, atravs de intervenesnas vertentes urbansticas eambiental, melhorando aatractividade e competitividade deplos urbanos que tm um papelrelevante na estruturao doSistema Urbano Nacional.

    PROQUAL

    O objectivo principal promover

    a requalificao de reassuburbanas degradadas, atravs dareabilitao do espao pblico, doapoio educao, formao einsero profissional, da acosocial, do aumento da rede deequipamentos sociais eda dinamizao de iniciativaseconmicas locais.

    URBCOM 2000 - 2006

    Tem como principais objectivos amodernizao das actividadesempresariais do comrcio e dealguns servios, qualificando ou

    requalificando o respectivo espaopblico envolvente.

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    Constata-se que a preocupao em voltar a qualificar o espao pblico relativamente

    recente, sendo que os programas com maior visibilidade nacional, nomeadamente os

    programas URBAN e POLIS, surgem no ano 2000. Por parte dos tcnicos e decisores

    polticos houve uma maior consciencializao da importncia que o espao pblico teve,

    tem e sempre ter no desenvolvimento social de qualquer sociedade, qualquer que seja a

    poca.

    O objectivo central de todos estes programas at data colocados em prtica em

    Portugal manifesta-se o mesmo: a requalificao a todos os nveis do espao que se

    entende como palco da vida, o espao pblico. Os programas incidem essencialmente em

    reas urbanas degradadas onde urgente recuperar o espao vital da vida social.

    O espao pblico, como j foi referido, o agente essencial a qualquer sociedade, a sua

    qualificao, ou neste caso a sua requalificao, um elemento chave para o bom e

    saudvel funcionamento das pessoas enquanto sociedade.

    4.3. Mtodos de Avaliao da Qualidade do Espao Pblico

    Embora no exista em Portugal uma obrigatoriedade legislativa acerca da avaliao da

    qualidade dos espaos pblicos, vrios trabalhos acerca deste tema j se encontram

    publicados.

    Os programas de requalificao de Espaos Pblicos devem ser pensados e

    estruturados, de forma a maximizar a eficcia da sua aplicao. Assim sendo, devem ser

    elaborados por equipas multidisciplinares que visem a abrangncia de todas as questes

    necessrias sua elaborao.

    Apresenta-se em seguidas trs mtodos de avaliao desenvolvidos por trs entidades e

    que nos fornecem dois tipos de avaliao. As duas primeiras avaliaes so dirigidas

    essencialmente aos cidados, servem de elemento avaliativo a qualquer cidado acerca do

    seu(s) espao(s) pblico(s), e o terceiro mtodo de avaliao dirige-se essencialmente aos

    responsveis polticos e tcnicos das autarquias locais, que gerem e controlam todo o

    planeamento do espao pblico, e tambm aos projectistas do desenho urbano.

    4.3.1. Mtodo de Avaliao - Project for Public SpacesDiagrama do Lugar

    Project for Public Spaces (PPS) uma organizao sem fins lucrativos, que tem como

    objectivo ajudar os cidados a criar e a manter os seus espaos pblicos, de modo a tornar

    mais forte e coesa a sua comunidade (Annimo, s/ data).

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    Segundo a PPS, os bons espaos pblicos so aqueles onde as trocas sociais e tambm

    econmicas ocorrem, onde existe uma grande fuso cultural. Quando os espaos pblicos

    funcionam bem, servem de palco vida pblica.

    Assim, a PPS, colocou a questo: o que faz um espao pblico ser bem sucedido

    enquanto outro falha? Aps a avaliao de milhares de espaos pblicos por todo o

    Mundo, a PPS constatou que existem quatro qualidades essenciais, para o sucesso de

    determinado espao: as acessibilidades, a possibilidade de realizar actividades, o

    confortoe a imagemdo espao, e por fim a possibilidade de ser um local onde se possa

    socializar (Annimo, s/ data).

    Para que os cidados possam avaliar, positiva ou negativamente, os seus espaos

    pblicos, a PPS desenvolveu o Diagrama do Lugar, uma ferramenta disponvel e acessvel a

    qualquer um.

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    Figura 2 Diagrama do Lugar (adaptado de Project for Public Spaces)

    A utilizao do diagrama simples, pode e deve ser feita por qualquer cidado. O centro

    do diagrama LUGAR - representa um local conhecido (uma rua, uma praa, um edifcio)

    que poder ser avaliado de acordo com os quatro critrios principais ACESSOS,

    ACTIVIDADES, CONFORTO e SOCIABILIDADE. Fora dos principais critrios, encontram-se

    diversos aspectos intuitivos ou qualitativos que podem ser utilizados na apreciao de um

    lugar. Por fim, encontramos diversos aspectos quantitativos que podem ser utilizados paraformular estatsticas ou ser utilizados em pesquisas.

    Conforto

    Diverso

    Activo

    Vital

    Especial

    Real

    Usvel

    Autctone

    Celebrao

    Sustentvel

    VALORES

    Propriedade de empresas locais

    Padres de utilizao

    Valores do local

    Valores de renda

    Venda a retalho

    INDICADORES

    Segurana

    Limpeza

    Verde

    Percorrivel

    Sentvel

    Espiritual

    Encantador

    Atractivo

    Histrico

    VALORES

    Estatsticas criminais

    Avaliao do saneamento

    Condies dos edifcios

    Dados ambientais

    INDICADORES

    Diversidade

    Administrao

    Cooperao

    Socivel

    Orgulho

    Amistoso

    Interactivo

    Acolhedor

    VALORES

    N de mulheres, crianas e idosos

    Redes sociais

    Voluntariado

    Utilizao nocturna

    Vida nas ruas

    INDICADORES

    Continuidade

    Proximidade

    Conexo

    Legvel

    Percorrivel

    Conveniente

    Acessvel

    VALORES

    Dados do trfego

    Modo de quebra

    Usos de trnsito

    Actividades pedestres

    Padres de uso de estacionamento

    INDICADORES

    LUGAR

    Acessos Actividade

    Acessos

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    No entanto, os quatro critrios principais apresentam questes que devem ser

    consideradas:

    AcessibilidadesPara que um espao pblico seja bem sucedido dever ser de fcil acesso e circulao,

    dever ser facilmente visto de todos os pontos, de fora para dentro e de dentro para fora.

    Questes a serem consideradas:

    - o espao visto de qualquer distncia? O seu interior visvel?

    - Existem boas ligaes entre o espao e os edifcios adjacentes? Os indivduos desses

    edifcios utilizam o espao?

    - Podem as pessoas caminhar facilmente at l chegar? Ou tm que se mover entre os

    carros?

    - Os passeios levam as pessoas at s reas adjacentes?

    - Est o espao preparado para pessoas com mobilidade condicionada?

    - As estradas e os caminhos nos espaos levam as pessoas onde elas querem ir?

    - Existe uma grande variedade de transportes que as pessoas possam escolher para

    chegar at l?

    - Esto os parques de estacionamento convenientemente localizados (junto dos correios,

    parques, bibliotecas, etc.)?

    Conforto e Imagem

    O sucesso de um espao pblico em muito depende da sua boa imagem e do conforto

    que oferece. O conforto inclui no s a segurana e a limpeza, como tambm a

    disponibilidade de lugares para sentar, o que na maioria das vezes subestimado.

    Questes a serem consideradas:

    - O local causa uma boa primeira impresso?

    - Existem mais mulheres do que homens?

    - Os lugares para sentar so suficientes? Esto convenientemente localizados? As

    pessoas tm possibilidade de escolha, seja ao sol ou sombra?

    - Os espaos esto limpos? Quem responsvel pela manuteno? O que fazem e

    quando fazem?

    - O espao seguro? Existem seguranas a percorrer o espao? Se existe, qual o seu

    horrio e o que fazem para manter a segurana?

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    - As pessoas tiram fotografias?

    - Os veculos dominam o espao pedonal?

    Usos e Actividades

    As actividades que um espao dever proporcionar aos seus cidados so uma base

    bastante importante. Um espao sem actividades, ser um espao vazio onde as pessoas

    possivelmente no iro nem tero vontade de voltar.

    Princpios a ter em mente ao avaliar os usos e actividades de um lugar:

    - Quantas mais actividades existirem e os cidados tiverem oportunidade de participar,

    melhor;

    - Dever existir um bom equilbrio entre mulheres e homens (as mulheres so maiscriticas acerca dos espaos pblicos);

    - O espao dever ser utilizado por pessoas de todas as faixas etrias, desde os mais

    jovens aos mais velhos;

    - Dever ser utilizado durante todo o dia;

    - Um espao que pode ser utilizado por pessoas individualmente ou em grupo, melhor

    que um espao que s possibilite uma das opes;

    - A gesto do espao importante para o seu sucesso.

    Questes a serem consideradas:

    - As pessoas utilizam o espao ou est vazio?

    - utilizado por pessoas de diversas idades?

    - As pessoas esto em grupo?

    - Quantos tipos de actividades pessoas a passear, a ler, a comer, a relaxar, a praticar

    desporto - ocorrem?

    - Que zonas so utilizadas? E que zonas no esto a ser utilizadas?- Existe opo de escolha nas actividades?

    - Nota-se a presena de uma equipa de gesto? Ou qualquer pessoa responsvel pela

    gesto do espao?

    Sociabilidade

    Esta uma qualidade difcil de alcanar, mas uma vez atingida, torna-se uma

    caracterstica inconfundvel.

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    Questes a serem consideradas:

    - este um espao que escolheria para se reunir com os meus amigos?

    - As pessoas esto em grupos?

    - As pessoas conhecem-se pelo nome ou pelo rosto?- As pessoas trazem os seus amigos ou familiares para este espao?

    - As pessoas esto felizes? Estabelecem contacto visual umas com as outras?

    - As pessoas utilizam o espao regularmente e por escolha prpria?

    - Existe uma grande diversidade de idades e de culturas que reflectem a comunidade?

    - As pessoas apanham o lixo quando o encontram no cho?

    O mtodo de avaliao da associao Project for Public Spaces, um mtodo muito

    simples mas bastante eficaz. Baseia-se em questes de fcil percepo por parte dos

    cidados, constituindo assim um mtodo de avaliao para a comunidade, possibilitando

    que sejam detectados os problemas existentes e de forma a que possam formular solues

    para os seus espaos pblicos. No pretende ser um mtodo direccionado aos projectivas

    mas sim aos cidados que vivem dia a dia os espaos.

    4.3.2. Mtodo de AvaliaoUrban Design Alliance - Placecheck

    A Urban Design Alliance, uma organizao de parceria entre o governo e diversas

    entidades inglesas que tem origem no Reino Unido, desenvolveu na dcada de 90, atravs

    de Robert Cowan, o Placecheck, um mtodo de avaliao s qualidades de um lugar, que

    tinha como objectivo mostrar as alteraes necessrias, contando com os cidados para

    alcanar esse objectivo (Cowan, s/ data).

    Tal como o modelo desenvolvido pela associao PPS, o mtodo Placecheck pode ser

    utilizado pelo comum cidado, podendo tambm ser usado por entidades profissionais. O

    mtodo composto por trs fases de perguntas.

    Na primeira fase constituda por trs questes simples mas pertinentes, que podem

    recolher informao bastante importante, nomeadamente:

    O que gosta neste lugar?

    O que no gosta neste lugar?

    O que precisa de ser melhorado?

    Em seguida, a segunda fase coloca quinze questes mais especficas. As primeiras seis

    procuram perceber quais as pessoas/entidades que devem ser envolvidas neste processo e

    de que forma devem ser envolvidas. As restantes nove questes focam-se na experincia e

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    uso atribudo a cada lugar por parte dos cidados. Apresentam-se em seguida as questes

    que devem ser colocadas:

    Relativamente s pessoas/entidades que devem ser envolvidas no processo e de que

    forma devem ser envolvidas:

    Quem necessita de estar envolvido nas melhorias do lugar?

    Quais os recursos locais disponveis para que os cidados se queiram envolver no

    processo?

    Que outros mtodos podem ser utilizados para desenvolver as ideias sobre as

    melhorias a fazer ao lugar?

    Como podemos retirar o mximo partido de outros programas e recursos?

    Como podemos aumentar a nossa vista panormica?

    Que outras iniciativas podem ajudar a melhorar o lugar?

    Relativamente experincia e uso atribudo a cada lugar por parte dos cidados:

    Como podemos tornar este lugar mais especial?

    Como podemos tornar este lugar mais verde?

    Como podem as ruas e os espaos pblicos ser mais seguros e agradveis para os

    transeuntes?

    De que outra forma podem os espaos pblicos ser melhorados?

    Como pode o lugar ser mais acolhedor e de fcil utilizao?

    Como pode o lugar ser adaptado ou adaptvel a futuras alteraes?

    Como podem os recursos disponveis serem melhor utilizados?

    O que pode ser feito para aproveitar ao mximo os transportes pblicos?

    Como pode ser melhorado o sistema de acessos?

    Estas quinze questes podem ou no, ser suficientes para extrair toda a informao

    necessria acerca do lugar. Assim, a terceira e ltima fase deste mtodo, consiste em que

    cada uma das questes da segunda fase (acima descritas) possua uma srie de questes

    mais especficas. Pretende ser bastante abrangente fazendo com que a avaliao do local

    seja a mais pormenorizada possvel. Devido sua elevada extenso (sendo mais de cem

    questes) apresenta-se em anexo (anexo A) as questes referentes terceira e ltima fase

    deste mtodo de avaliao.

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    Quadro 3 Checklist das caractersticas gerais do espao pblico (fonte: Brando, 2002)

    Pontos fortes Pontos fracosAvaliao

    (1-5)

    IdentidadeCarcter e significado do espao; forma

    como os utentes aderem, se relacionam e seapropriam do espao.

    Continuidade | PermeabilidadeIntegrao no contexto e na malha urbana,contribuindo para a fluidez e coerncia visualdo local a redes e servios.

    Segurana | Conforto | AprazibilidadeQualidades fsicas, funcionais e formais doespao, visando a qualidade do uso.

    Vegetao, luz, equipamento.

    Mobilidade | Acessibilidade |PermeabilidadeFacilidade de ligaes fsicas; adequao adiferentes tipos de deslocao; separao devias, delimitaes.

    Incluso, Coeso socialConsiderao de expectativas enecessidades, sem excluso no uso do

    espao, de qualquer grupo social. Controloda privatizao do espao.

    LegibilidadeCaractersticas fsicas, formais e funcionaisque contribuem para a rpida e fcilcompreenso do espao.

    Diversidade | AdaptabilidadeFlexibilidade e versatilidade para aadaptao a usos diversos e a possveisalteraes futuras.

    Resistncia | DurabilidadeAdequao dos materiais e equipamentos ssolicitaes do uso, desgaste, vandalismo,clima, etc. Manuteno minimizada.

    SustentabilidadeGesto equilibrada dos recursos consumidos(instalao, energia, manuteno) comcriao de valor (benefcio econmico,ambiental e social). Optimizao do uso do

    solo e dos transportes pblicos.

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    O mtodo de avaliao proposto por Brando (2002) est direccionado essencialmente

    para os tcnicos que projectam o espao pblico. A avaliao da qualidade do espao

    pblico feita atravs deste mtodo bastante completa e descritiva podendo ser os

    problemas encontrados de forma mais precisa.

    4.4. Concluses

    Com a recuperao e requalificao do espao pblico, as ruas e praas, jardins e

    parques urbanos atraem cada vez mais os cidados. Assiste-se a uma crescente

    mobilizao para o espao pblico outra vez.O quadro acima descrito (Quadro 2) deixa

    patente a preocupao em requalificar os espaos pblico degradados.A qualidade do espao pblico avaliada atravs das caractersticas (referidas no

    captulo 2), estando os cidados cada vez mais exigentes e despertos para o(s) seu(s)

    espao(s) pblico(s).

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    5. Requalificao e Projecto de Arquitectura PaisagistaActualmente, o aumento da populao nas cidades uma enorme preocupao em todo

    o Mundo. De acordo com Agncia Europeia do Ambiente, estima-se que 75% da populao

    europeia viva em reas urbanas, no se verificando sinais de abrandamento desta evoluo,sendo que se estima que em 2020 atinja cerca de 80% (EEA, 2010). Este crescimento

    populacional nas reas urbanas traz consequentemente mais e maiores impactos

    ambientais nas cidades. Dado este facto, nos ltimos anos, temas como a qualidade de vida

    urbana e a qualidade do seu ambiente, tm sido estudados e desenvolvidos na perspectiva

    de encontrar polticas eficazes ao nvel do planeamento urbano e suas estratgias.

    A requalificao das cidades e em particular do seu espao pblico, atravs de reas

    como a Arquitectura Paisagista, em muito contribuem para melhorar a qualidade do

    ambiente urbano e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida dos seus cidados.

    5.1. Ambiente urbano e qualidade de vida

    A qualidade de vida urbana e a sade dos seus habitantes em grande medida

    indissocivel da qualidade do ambiente das cidades. So conceitos distintos que se fundem

    quando se fala em qualidade do espao pblico das cidades. O ambiente urbano

    desempenha um papel fundamental na qualidade de vida, quer ao nvel fsico, social emental dos cidados. Uma cidade como um ambiente saudvel ter, teoricamente, cidados

    mais felizes e saudveis. No entanto, a acelerada degradao do ambiente urbano, atravs

    da poluio atmosfrica, da m qualidade da gua, do rudo e da perda de zonas

    naturalizadas, traz pesadas consequncias sade das populaes. A Organizao

    Mundial da Sade estima que as doenas causadas devido a factores ambientais

    correspondam entre 15 a 20% do total de mortes. Segundo a Agncia Europeia do

    Ambiente, os elementos ambientais fundamentais para uma boa qualidade de vida so a

    qualidade do ar, baixos nveis de rudo, a qualidade da gua, o bom desenho urbano comespaos pblicos e espaos verdes de alta qualidade e um microclima (EEA, 2010).

    5.1.1. Conceito de Ambiente Urbano

    Antes de definir o conceito de ambiente urbano interessa definir o conceito de ambiente

    que nos levar a entender o conceito de ambiente urbano. De acordo com a Lei de Bases

    do Ambiente portuguesa, ambiente o conjunto dos sistemas fsicos, qumicos, biolgicos

    e suas relaes e dos factores econmicos, sociais e culturais com efeito directo ou

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    indirecto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida do homem.(Lei

    n 11/87, 7 de Abril, pp. 1387).

    Outra definio de ambiente -nos dada por Rau e Wooten (1980, apud Partidrio, 2000,

    pp. 40), sendo ambiente o conjunto complexo de factores fsicos, sociais, culturais,

    econmicos e estticos que afectam os indivduos e as comunidades e, finalmente

    determinam as suas formas, carcter, relaes e sobrevivncia. Neste sentido estes

    autores apresentam uma categorizao do ambiente:

    - Ambiente fsicosolo e os seus usos, clima, vegetao, reas naturais, vida selvagem,

    rudo, poluio atmosfrica e da gua, infra-estruturas e servios pblicos;

    - Ambiente socialequipamentos colectivos e comerciais, servios, centros de emprego

    e caractersticas da comunidade;

    - Ambiente esttico paisagem natural, existncia de locais com significado histrico,

    arquitectnico ou arqueolgico, reas panormicas e as caractersticas arquitectnicas dos

    edifcios;

    - Ambiente econmico base econmica da rea, nveis de emprego e desemprego,

    nveis e fontes de rendimento, regime de propriedade e valor do solo.

    As duas definies de ambiente apresentadas so semelhantes na sua essncia, ambas

    destacam a importncia da interaco entre a Natureza e o Homem. Assim, chegamos ao

    conceito de ambiente urbano; nas grandes cidades que a maioria da populao tem

    acesso ao ambiente.

    Os cidados que vivem nas grandes cidades esto por vezes, e por diversas razes,

    condicionados ao ambiente que nelas existe e podem experienciar. O ambiente urbano pode

    ento ser definido como um sistema constitudo por diversos elementos naturais clima,

    gua, vegetao, fauna, ar e por elementos construdos, ou alterados, pela interveno

    humana.

    5.1.2. Conceito de Qualidade de VidaO conceito de qualidade de vida em si mesmo um conceito subjectivo e complexo.

    Difere de indivduo para indivduo, de cultura para cultura, de poca para poca, uma vez

    que cada um de ns possui o seu prprio conceito de qualidade de vida.

    Allardt (1976, 1981apud Santos e Martins, 2002) d-nos o seu contributo propondo uma

    distino entre as condies de vida objectivas e as condies subjectivas. Allardt

    desenvolve o seu conceito com base em quatro aspectos, designadamente o nvel de vida

    relaciona-se com as necessidades materiais, tais como, as condies de habitao, etc.; a

    qualidade de vida refere-se a aspectos imateriais, ou seja, a relao do indivduo com a

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    sociedade, com a famlia, etc.; a satisfao relativo percepo subjectiva das

    condies de vida; e a felicidade resulta da percepo subjectiva da prpria qualidade de

    vida.

    Contudo, Gough (1982apudSantos e Martins, 2002) divide o conceito de qualidade de

    vida em duas partes, as necessidades e os desejos. As necessidades centram-se na esfera

    do colectivo, enquanto que os desejos centram-se no individual.

    Outra definio, proposta por Nuvolati (1998 apudSantos e Martins, 2002), baseia-se em

    cinco domnios. O primeiro domnio aborda as questes materiais colectivas em termos de

    disponibilidade de bens e servios, tais como, o comrcio existente nas cidades e a sade.

    O segundo domnio refere-se tambm as questes materiais, mas individuais, que dizem

    respeito condio de cada um enquanto indivduos, questes como o rendimento e a

    profisso. O terceiro e quarto domnio referem-se aos aspectos no materiais colectivos e

    individuais, respectivamente. Os aspectos no materiais colectivos dizem respeito por

    exemplo aos servios de ocupao dos tempos livres e os aspectos no materiais

    individuais dizem respeito a questes pessoais como a relao com a famlia e amigos. O

    quinto e ltimo domnio refere-se ao contexto geral, estabelecendo a relao entre a

    paisagem e o patrimnio histrico e arquitectnico do espao em questo.

    A Lei de Bases do Ambiente contempla igualmente o conceito de qualidade de vida

    definindo-a como o resultado da interaco de mltiplos factores no funcionamento das

    sociedades humanas e traduz-se na situao de bem-estar fsico, mental e social e na

    satisfao e afirmao culturais, bem como em relaes autnticas entre o indivduo e a

    comunidade, dependendo da influncia de factores inter-relacionados, que compreendem,

    designadamente:

    - A capacidade de carga do territrio e dos recursos;

    - A alimentao, a habitao, a sade, a educao, os transportes e a ocupao dos

    tempos livres;

    - Um sistema social que assegure a posteridade de toda a populao e os consequentes

    benefcios da Segurana Social;- A integrao da expanso urbano-industrial na paisagem, funcionando como

    valorizao da mesma, e no como agente de degradao. (Lei n 11/87, 7 de Abril, pp.

    1387).

    5.1.3. Conceito de Qualidade do Ambiente Urbano

    O conceito de qualidade do ambiente urbano surge da estreita relao entre os conceitos

    de qualidade de vida e de ambiente urbano. Para Partidrio (2000), este conceito assentaem dois aspectos fundamentais, um ligado aos aspectos do conforto humano e outro ligado

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    aos aspectos de sade pblica e segurana. Assim, o conceito implica uma relao

    indissocivel entre factores fsicos, econmicos e sociais, sendo baseado no sistema

    urbano, nos seus elementos e nas relaes que ocorrem entre eles. Tambm a Lei de

    Bases de Ambiente apresenta uma definio de qualidade do ambiente, diz que a

    adequabilidade de todos os seus componentes s necessidades do Homem. (Lei n 11/87,

    7 de Abril, pp. 1387).

    O quadro (Quadro 4) seguinte mostra os componentes e os respectivos factores que

    influenciam a qualidade do ambiente urbano.

    Quadro 4 Componentes e respectivos factores da qualidade do ambiente urbano (fonte: Partidrio,

    2000)

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    Componentes Factores

    Equipamentos Nvel de utilizao

    Frequncia de utilizao

    Acessibilidade

    Oferta de servio

    Estrutura verde urbana reas verdesrvores de enquadramento

    Gesto e manuteno

    Fauna urbana Sade pblica

    Funo ldica

    Habitao Nvel de ocupao dos fogos

    Infra-estruturas Nvel de servio

    Qualidade de servio

    Meios hdricos reas dos planos de gua

    Superfcies por actividades recreativas

    Utilizadores por actividades recreativas

    Qualidade da gua

    Valor esttico-paisagistico

    Microclima urbano Conforto trmico

    Conforto elico

    Conforto higrotrmico

    Ocupao do espao urbano reas estruturais

    Instrumentos de planeamento

    Densidade

    ndice de ocupao

    Funes urbanas

    Paisagem urbana: estrutura edificada Qualidade plsticaQualidade visual

    Estruturao funcional

    Gesto do espao edificado

    Paisagem urbana: patrimnio construdo Edifcios e reas classificados ou condicionados

    Qualidade do ar reas afectadas por tipo de poluentes

    Populao afectada por tipo de poluentes

    Trfego urbano

    Resduos slidos Produo

    Recolha

    Tratamento

    Destino finalAproveitamento

    Gesto

    Riscos naturais (sismicidade, inundaes) reas em risco

    Populao em risco

    Actividades em risco

    Rudo Populao afectada

    Trfego rodovirio

    Trfego areo

    Actividades afectadas

    Transportes colectivos urbanos Oferta

    Acessibilidade

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    5.2. Espaos Verdes UrbanosComponente do Ambiente Urbano

    5.2.1. Evoluo dos Espaos Verdes Urbanos

    At ao sculo XIX, os jardins e parques eram conhecidos por terem como principal

    funo proporcionar zonas de encontro, estadia e lazer, no estando patente os seusinmeros benefcios. Ser a partir da era industrial que o conceito de espao verde urbano

    surge, tendo como objectivo recriar a presena da natureza no meio urbano. (Magalhes,

    1992, pp. 9). Posteriormente surge o conceito de pulmo verde, ou seja, o espao verde

    com uma dimenso que permite produzir o oxignio necessrio, a fim de compensar a

    poluio do ar. O conceito de pulmo verde evolui mais tarde para um novo conceito, o

    Green Belt,uma cintura verde a rodear toda a cidade, pensando-se assim que seria possvel

    conseguir as condies necessrias a um bom ambiente urbano (Magalhes, 1992).

    J no incio do sculo XX, os conceitos anteriores deram inicio a uma nova teoria, o

    Continuum Naturale. A cintura verde (a paisagem natural) que envolvia as cidades j no

    era suficiente, pois a dimenso das cidades era tal que a paisagem natural j no se sentia.

    Assim surge a necessidade de levar a paisagem natural para dentro da cidade. Com o

    Continuum Naturale pretende-se que a paisagem envolvente penetre na cidade de forma

    tentacular e contnua, assumindo diversas formas e funes que vo desde o espao de

    lazer e recreio ao de enquadramento de infra-estruturas e edifcios, aos espaos de elevada

    produo de frescos agrcolas e proteco e integrao de linhas ou cursos de gua com

    seus leitos de cheia e cabeceiras. (Magalhes, 1992, pp. 11). Este objectivo conseguido

    atravs da gnese de novos espaos, da recuperao dos espaos existentes e da ligao

    entre eles atravs de corredores verdes. (Magalhes, 1992).

    Este conceito aparece contemplado na Lei n 11/87 de 7 de Abril, que apresenta as

    Bases do Ambiente, diz no seu artigo 5: o sistema contnuo de ocorrncias naturais que

    constituem o suporte da vida silvestre e da manuteno do potencial gentico e que

    contribui para o equilbrio e estabilidade do territrio.(Lei n 11/87, 7 de Abril, pp. 1387).

    5.2.2. Benefcios dos Espaos Verdes Urbanos

    Almeida (2006) conclui no seu trabalho, que os Espaos Verdes Urbanos trazem

    inmeros benefcios de carcter ecolgico, social e esttico, os quais se encontram no

    quadro 5. (Quadro 5)

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    Quadro 5 Benefcios proporcionados pelo material vegetal (adaptado de Almeida, 2006)

    Benefcio Descrio

    Ecolgico

    Impacto no clima urbano atravs do controlo datemperatura, do vento e da humidade. Reduoda poluio do ar, do rudo, da luminosidade eda reflexo da luz, preveno de cheias econtrolo da eroso. Instala