Requisitos para a caracterização do dano moral

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  • 7/30/2019 Requisitos para a caracterizao do dano moral

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    Requisitos para Caracterizao do Dano Moral

    Alessandro Meyer da Fonseca*

    O instituto do dano moral cujo direito a reparabilidade durante muitos anos foi objeto de

    debates pelos doutrinadores, foi definitivamente adotado pela nossa Constituio de 1988,sendo expresso na Carta Magna no Artigo 5, incisos V e X, o direito a reparao por danos

    morais sofridos, sendo este instituto uma garantia dos direitos individuais.

    Este instituto de grande importncia para todo o direito, e que se bem trabalhado e bem

    demonstrado pode se encaixar em praticamente todas as reas do direito, suscita hoje nova

    discusso: O que necessrio para se caracterizar o dano moral?

    Neste breve artigo teo comentrios apenas a respeito do que entendo ser efetivamente

    dano moral, aquele dano capaz de gerar a responsabilidade e o dever de indenizar, no

    adentrando na seara da valorao deste dano, assunto este, tambm tormentoso e fcil de se

    verificar na discrepncia de valores de condenaes a ttulo de danos morais nos julgados

    brasileiros.

    Para a configurao do dano moral, com seus aspectos preventivo e pedaggico, faz-se

    necessria a demonstrao dos seguintes pressupostos: a) ao ou omisso do agente; b)

    ocorrncia de dano; c) culpa e d) nexo de causalidade

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    Somente haver direito a indenizao por danos morais, independentemente da

    responsabilidade ser subjetiva ou objetiva, ser houver um dano a se reparar, e o dano moral

    que pode e deve ser indenizado a dor, pela angstia e pelo sofrimento relevantes que

    cause grave humilhao e ofensa ao direito de personalidade.

    Atualmente vemos a banalizao do instituto do dano moral, principalmente e sede de

    juizados especiais, onde qualquer simples discusso, qualquer espera em uma fila, qualquer

    fato que sequer foge a normalidade, que quando muito se caracterizam como mero

    constrangimento, geram aes de indenizaes por danos morais sem fundamento, e

    algumas dessas aes so julgadas procedentes sem a aferio dos requisitos essenciais da

    responsabilidade civil e do prprio dano moral.

    Essa enxurrada de aes por supostos danos morais, instituto este que a partir da

    Constituio Federal de 1988 tomou-se de grande relevncia no ordenamento jurdico

    brasileiro, no pode ser desvirtuado, chegando-se ao ponto da banalizao, incentivando a

    j famosa industria do dano moral.

    Transcrevo algumas opinies relevantes sobre a caracterizao do dano moral:

    Alguns fatos da vida no ultrapassam a fronteira dos meros aborrecimentos ou

    contratempos. So os dissabores ou transtornos normais da vida em sociedade, que no

    permitem a efetiva identificao da ocorrncia de dano moral. Um acidente de trnsito, por

    exemplo, com danos meramente patrimoniais, constitui um transtorno para os envolvidos,

    mas, certamente, no permite a identificao, na imensa maioria dos casos, da ocorrncia

    de dano moral para qualquer deles. (...).

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    (...)

    A dificuldade da doutrina tem sido circunscrever, nos limites de uma definio, os

    elementos comuns pertinentes imensa gama de modalidades de danos morais, incluindo

    os prejuzos resultantes de agresses ao direito vida, integridade fsico-psquica,

    honra, liberdade, intimidade, vida privada, imagem, tanto de pessoas fsicas quanto

    de pessoas jurdicas.

    Exatamente em funo da diversidade de bens jurdicos suscetveis de serem atingidos,

    passou-se a classificar os danos morais em subjetivos e objetivos. O dano moral subjetivo

    aquele que atinge a esfera da intimidade psquica, tendo como efeito os sentimentos de dor,

    angstia e sofrimento para a pessoa lesada. Em contrapartida, o dano moral objetivo

    aquele que atinge a dimenso moral da pessoa na sua esfera social, acarretando prejuzos

    para a imagem do lesado no meio social, embora tambm possa provocar dor e sofrimento.

    (...).

    Os simples transtornos e aborrecimentos da vida social, embora desagradveis, no tm

    relevncia suficiente, por si ss, para caracterizarem um dano moral. Deve-se avaliar, no

    caso concreto, a extenso do fato e suas conseqncias para a pessoa, para que se possa

    verificar a ocorrncia efetiva de um dano moral. (...). (1)

    Na tormentosa questo de saber o que configura o dano moral cumpre ao juiz seguir a

    trilha da lgica do razovel, em busca da sensibilidade tico-social normal. Deve tomar por

    paradigma o cidado que se coloca a igual distncia do homem frio, insensvel e o homem

    de extremada sensibilidade. Nessa linha de princpio, s deve ser reputado como dano

    moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhao que, fugindo normalidade, interfira

    intensamente no comportamento psicolgico do indivduo, causando-lhe aflio, angstia e

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    desequilbrio em seu bem estar, no bastando mero dissabor, aborrecimento, mgoa,

    irritao ou sensibilidade exacerbada.(2)

    Os danos morais implicam dor, vexame, sofrimento e profundo constrangimento para a

    vtima, e resultam da violao da sua intimidade, honra, imagem e outros direitos de

    personalidade. Tal se configura em razo de ato ilcito ou do desenvolvimento de atividades

    consideradas de risco, pela ocorrncia de distrbios na psique, na tranqilidade e nos

    sentimentos da pessoa humana, abalando a sua dignidade. (3)

    Por fim, transcrevo a palavras do Juiz Amauri Lemos:

    "(...) qualquer briga, qualquer descumprimento de um contrato, est gerando processos de

    indenizao por dano moral. Claro que, como j expliquei, cada qual sabe sua dor, mas h

    situaes em que explicita a inteno de conseguir qualquer valor que seja, pelo simples

    fato, por exemplo, da no entrega de uma revista o tempo aprazado.(...) o instituto do dano

    moral vem sofrendo um grande desvirtuamento, ou seja, alguns profissionais do direito

    esto exagerando a sua configurao, ingressando com aes, em nmeros cada vez

    maiores, com pedidos de ressarcimento por danos morais em cifras absurdas. (4)

    Assim, no qualquer dissabor ou constrangimento que deve ser alado ao patamar de

    dano moral, devendo o dano moral ser visto e entendido como uma dor, vexame,

    sofrimento ou humilhao que, fugindo normalidade, interfira intensamente no

    comportamento psicolgico da pessoa, causando-lhe sofrimento, angstia e desequilibro em

    seu bem-estar e a sua integridade psquica, deve, portanto, existir um dano a se reparar.

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    Citaes:

    (1) Paulo de Tarso Vieira, Responsabilidade civil no cdigo do consumidor e a defesa do

    fornecedor; So Paulo : Saraiva, 2002

    (2) Srgio Cavalieri Filho, Programa de Responsabilidade Civil, Ed Atlas, 2007;

    (3) Patrcia Ribeiro Serra Vieira, artigo No Limite Banalizao do Dano Ameaa

    Garantias Constitucionais, Revista Consultor Jurdico, 03/09/2003;

    (4) sentena proferida no Processo n 005.2003.004901,1 Vara Cvel da Comarca de Ji-

    Paran RO, onde foram partes Maria Aparecida Ludgero Passarini e Grupo de

    Comunicao Trs S/A.

    *Advogado e Professor Universitrio, formado em direito pela UFMT, especialista em

    Processo Civil, ps-graduando em Direito Amb

    [email protected]

    OAB/MT N 7057

    Disponvel em: . Acesso em: 13 mar. 2008.