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RESENHAAÇÃO ECONÔMICA E ESTRUTURA SOCIAL: O PROBLEMA DA IMERSÃOMark Granovetter
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RESENHA
AÇÃO ECONÔMICA E ESTRUTURA SOCIAL: O PROBLEMA DA
IMERSÃO
(Mark Granovetter)
O problema hobbesiano da ordem social para o qual ele encontra solução na formação
de um estado autocrático autoritário constituído a partir de um contrato social no qual os
indivíduos abdicam de seu poder particular em prol de uma convivência não beligerante,
encontrando, a partir de então e das relações sociais que se estabeleceram, transformações
institucionais e comportamentais a fim de evitar a “guerra de todos contra todos”, como
hipoteticamente haveria de ter sido em algum estado anterior ao estabelecimento da vida
societal, o que Hobbes chamou “estado natureza”.
No artigo Ação Econômica E Estrutura Social: O Problema Da Imersão, Granovetter
afirma que é neste ponto que economistas e sociólogos divergem quanto à influência das
relações sociais em relação ao comportamento e as instituições, principalmente no que
concernem as sociedades pré-mercantis e modernas. Enquanto sociólogos apontam para o fato
de que as relações sociais exerceram grande influência no comportamento dos indivíduos em
sociedades pré-mercantis e que, com o advento da modernidade, a esfera econômica tornou-se
autônoma, alheia de certa forma às relações sociais, economistas apontam para o lado oposto,
no qual a racionalidade e o interesse pessoal sempre orientaram o comportamento, relegando
o papel das relações sociais tanto nas sociedades modernas como em sociedades anteriores.
Assim, o que defendem os economistas é, portanto, que indivíduos atomizados buscando seus
próprios interesses de forma racional sempre orientaram os comportamentos e instituições de
forma mais efetiva que as relações sociais tanto hoje como outrora, em sociedades pré-
mercantis.
Para os economistas clássicos e neoclássicos, a atomização faz-se necessária para a
existência de um mercado competitivo embasado na concorrência perfeita. Para estes
economistas, a livre concorrência regularia o mercado, independentemente de relações
sociais. As relações pessoais não influenciariam em decisões econômicas ou de mercado, daí
resultariam, portanto, ações sociais subsocializadas, indivíduos agindo racionalmente
buscando unicamente interesses próprios. Alguns autores citados por Granovetter que
escrevem sob essa perspectiva são Furubotn e Pejovich, 1972; Alchian e Demsetz, 1973;
Lazear, 1979; Rosen, 1982.
Rompendo com o atomismo e enfatizando o contexto social no qual os atores se
encontram, economistas neo-institucionalistas acabam enviesando por uma abordagem que
Granovetter, por sua vez, denuncia como sendo supersocializada. Sob essa perspectiva, a
socialização tem a incumbência de interiorizar nos indivíduos normas e valores, e estes, por
serem especialmente sensíveis às opiniões alheias, são resignados e obedientes. Economistas
como Harvey Leibenstein (1976) e Gary Becker (1976), que adotam essa perspectiva e,
segundo Granovetter (2007, p. 8), apesar de levarem “as relações sociais verdadeiramente a
sério [...] se abstraem da história das relações e de sua posição relativamente a outras
relações”, como resultado, as relações descritas resumem-se em relações entre papeis formais,
sem conteúdo individualizado.
Contudo, Granovetter argui que tanto a perspectiva subsocializada como a
supersocializada compartilham uma mesma concepção atomizada do ator social. A primeira
como resultada da busca utilitarista por interesses próprios e a segunda devido à interiorização
dos padrões comportamentais que minimizam os efeitos das relações sociais existentes sobre
os comportamentos.
Como alternativa teórico-metodológica, Granovetter propõe uma análise de rede que
considere não somente os papéis formais, estilizados, mas as interações reais e concretas entre
indivíduos e grupos. Para ele, as relações sociais e as redes de relações interpessoais
condicionam as ações dos atores sociais - a questão da imersão -, ou seja, “os
comportamentos e as instituições a serem analisados são tão compelidos pelas contínuas
relações sociais que interpretá-los como sendo elementos independentes representa um grave
mal-entendido” (2007, p.4), portanto, a imbricação de redes de relações sociais é o que
caracteriza o mercado e não a livre concorrência entre atores atomizados. Contudo, ele afirma
que o nível de imersão do comportamento econômico em sociedades pré-mercantis não era
tão substancialmente contrastante com os níveis de imersão encontrados nas sociedades
modernas, em contrapartida, ele afirma também que o nível de imersão é consideravelmente
maior do que sustentam os economistas.
Destarte, sua proposta para uma abordagem da imersão situa-se “entre a abordagem
supersocializada da moralidade generalizada e a abordagem subsocializada dos dispositivos
institucionais impessoais ao identificar e analisar padrões concretos de relações sociais”
(2007, p.15). Segundo essa abordagem, é a estrutura social que determina cada situação sem
produzir previsões generalizáveis de ordem ou desordem universal.
Granovetter afirma que a imbricação entre as relações sociais e as transações
econômicas de todo tipo inviabilizam a existência de qualquer modelo teórico de mercado
atomizado e anônimo, pois as relações sociais acabam por operar de maneira preponderante
no que pode haver começado como transações puramente econômicas.
Como afirma Granovetter
Os atores não se comportam nem tomam decisões como átomos fora de um contexto
social, e nem adotam de forma servil um roteiro escrito para eles pela intersecção
específica de categorias sociais que eles porventura ocupem. Em vez disso, suas
tentativas de realizar ações com propósito estão imersas em sistemas
concretos e contínuos de relações sociais (2007, p.9).
Portanto, a abordagem da imersão proposta por Granovetter evita os extremos da sub-
e supersocialização da ação humana ao afirmar que a maior parte do comportamento está
intrinsecamente conectado a redes de relações interpessoais. Assim, ambas as teorias, tanto a
perspectiva supersocializada de obediência passiva como a perspectiva subsocializada
atomística da escolha racional, mostram-se incompatíveis com a perspectiva da imersão
apresentada por Granovetter.