Resenha: BORRILLO, Daniel. Homofobia - Revista Bagoas

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  • 8/9/2019 Resenha: BORRILLO, Daniel. Homofobia - Revista Bagoas

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    A citao acima traz consigo os elementos usados por Daniel Borrillo,pesquisador argentino radicado na Frana, para construirHomofobia, assim comoa preocupao terica de seus estudos em uma perspectiva mais ampla. O autorapresenta como uma das formas de prevenir a homofobia a publicizao doselementos que constituem e reproduzem os valores que a constroem, podendo seulivro ser considerado um recurso pedaggico em prol da desconstruo daideologia homofbica. Para realizar isso, esquadrinha a construo, a legitimaoe as formas de expresso da homofobia na vida em sociedade.

    O livro est dividido em quatro captulos. O primeiro utilizado parafins conceituais e de definio de questes mais amplas, sendo a homofobiasubdividida em categorias e relacionada com outras formas de discriminao epreconceito. No segundo, so expressas as origens da homofobia, com ospressupostos greco-romanos, judaico-cristos e ateno especial igrejacatlica contempornea. As doutrinas heterossexistas e a ideologiahomofbica, apresentadas nas perspectivas da clnica, da antropologia, doliberalismo, do estalinismo e do holocausto gay, so alvo do terceiro captulo,que esquadrinha como todas essas ideologias auxiliam na construo e nalegitimao da homofobia.

    BORRILLO, Daniel. Homofobia.

    Espanha: Bellaterra, 2001.

    Felipe Bruno Martins FernandesMestre em Educao Ambiental pela Fundao Universidade Federal doRio Grande. Doutorando do Programa de Ps-Graduao Interdisciplinar

    em Cincias Humanas da Universidade Federal de Santa [email protected]

    La accin pedaggica [da preveno dahomofobia] deber comenzar por denunciar elconjunto de cdigos culturales y estructurassociales que transmitem los valores que refuerzanlos prejuicios y la discriminacin con respecto alos gays e las lesbianas.

    Borrillo (2001, p. 118)

    213Felipe Bruno Martins Fernandesn. 03 | 2009 | p. 213-219

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    J no quarto captulo, o autor realiza um apanhado de elementos quedeterminam as causas da homofobia, apresentando como se constroem aidentidade masculina, a diferenciao sexual, a personalidade homofbica, a

    internalizao da homofobia e as formas como se estabelece o medo dadesintegrao social (um dos smbolos mximos da naturalizao dahomofobia). As concluses so utilizadas para propor aes e maneiras de agirque possam garantir outras formas de relaes sociais e a superao do atualquadro homofbico na Frana.

    importante frisar que o contexto ao qual o autor se refere o francsdo incio do sculo XXI e que os exemplos utilizados para isso refletem essepanorama. Porm, possvel pensarmos suas consideraes tericas quanto srelaes sociais mais amplas, incluindo aqui o contexto brasileiro (e suaspolticas de insero da homofobia no Estado). Esta resenha ir se deter nasreflexes de Borrillo sobre a homofobia como uma problemtica quetranscende o individual e o coletivo, estando incrustada nas representaessociais sobre a sexualidade.

    O autor define homofobia como

    la hostilidad general, psicolgica y social, respecto a aquellosy aquellas de quienes se supone que desean a individuos desu propio sexo o tienen practicas sexuales con ellos. Formaespecfica del sexismo, la homofobia rechaza tambin atodos los que no se conforman con el papel predeterminadopor su sexo biolgico. Construccin ideolgica consistente enla promocin de una forma de sexualidad (hetero) endetrimento de otra (homo), la homofobia organiza unajerarquizacin de las sexualidades y extrae de ellaconsecuencias polticas (BORRILLO, 2001, p. 36).

    A homofobia, segundo Borillo, agrega em sua expresso sentimentosde repulsa ou hostilidade a pessoas que possuem um desejo por outras domesmo sexo (ou, ao menos, apresentam essa possibilidade). Essa repulsa levada a cabo quando esse ser (quase ontolgico) posto na posio de umoutro, tido nesse caso como inferior ou anormal. Essa desproporo entre um eufalante e outro anormal, distante e praticamente irreconhecvel, um paradoxoimportante, j que alimenta a lacuna constitutiva de um ideal e de um real.

    Tal lacuna relacionada com outras formas de infravalorao, comoo racismo, a xenofobia, o classismo, j que todas sustentam em sua formaouma diferena natural expressa atravs da segregao do que venha a ser o

    outro. A base dessas dicotomias que so causas das discriminaes est na

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    1ser dominados. Essa argumentao corroborada por Borrillo, uma vez queesse autor refora a questo da masculinidade pautada pelo sexismo e pelahomofobia.

    Esses dois aspectos tambm so engendrados nas estruturas queregulamentam a vida civil, uma vez que os plenos direitos so inacessveis aoshomossexuais. Estes, relegados ao diferencialismo, acionam discursos deateno diferenciados, que os tiram do lugar de sujeito universal de direito e oscolocam no hall dos particulares, em regime de exceo. Isso refora e inculca ahomofobia na raiz da esfera dos direitos, alm de unir o perigo dadesintegrao psicossocial da raa humana, fazendo a represso dahomossexualidade aparecer como uma necessidade de manuteno do social,em sua legtima defesa.

    Relegada ao privado (pelo liberalismo), ao corpo e ao desejo (pelamedicina e psicanlise), s normas e formas de organizao sociais (pelaantropologia), ao medo ou inferiorizao (pelos indivduos homossexuais), ahomossexualidade se constitui como um regime que necessita ser expresso deforma discreta para em nenhum momento balanar as estruturas pblicas. Agarantia de direitos civis levar a cabo o sexismo e a homofobia, colocando emxeque as estruturas construdas para a legitimao da dominao. Para o autor,a educao e o sistema jurdico possuem papel fundamental na mudana de

    perspectiva. Este livro pode ser considerado uma tentativa para tal mudana.

    1 Welzer-Lang (2001) apresenta as casas dos homens de nossa sociedade, espaos masculinos por excelncia,onde se aprende, de forma pedaggica, a ser homem e o que necessrio fazer para isso.

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    Referncias

    WELZER-LANG, Daniel. A construo do masculino: dominao das mulheres ehomofobia. Florianpolis. Revista Estudos Feministas, Universidade Federal de Santa

    Catarina, v. 9, n. 2, 2001.FERNANDES, Felipe Bruno Martins (Dir.). Homofobia, lesbofobia, transfobia.Florianpolis, Ncleo de Identidades de Gnero e Subjetividades, vdeo, NTSC, 8 min.,son., color., 2008.

    219Felipe Bruno Martins Fernandesn. 03 | 2009 | p. 213-219