RESENHA - CHOAY, Françoise. a Alegoria Do

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    JULHO DE 2002 145

     VEREDAS - REVISTA CIENTÍFICA DE TURISMO ANO I N° 1

    Monumentos e

    MemóriaCHOAY, Françoise. A alegoria do

    patrimônio. Trad. de Luciano VieiraMachado. São Paulo: EstaçãoLiberdade/ Editora da UNESP, 2001,284 p.

    Uma das pedras de toquedo turismo cultural é, semdúvida, a visitação a monu-mentos históricos e artísticos,geralmente agrupados no quese convencionou definir, noBrasil, como Patrimônio Histó-rico. E um grande problemanesta área no Brasil, nosúltimos anos, tem sido a ges-tão, associada à preservação,de bens patrimoniais utiliza-dos como atrativos turísticos.Em muitos casos, no afã degerar renda, agregar valor aum determinado roteiro e, dealguma forma, criar alterna-tivas econômicas para certas

    comunidades, “aproveitando-se” a existência de ummonumento, esquece-se oóbvio: discutir o que fazdaquele monumento um

     patrimônio, tentar compre-ender como ele toma parte davida do lugar, como se dão asrelações entre ele e apopulação local. Quase sem-pre isso ocorre por absolutafalta de embasamento teórico

    em relação ao tema.Com o lançamento da edi-ção brasileira de L’allégoriedu patrimoine, de FrançoiseChoay, com um atraso de noveanos em relação à sua pri-meira edição francesa, final-mente se torna mais acessívelesta obra fundamental para oentendimento de questõesteóricas relativas ao universo

    da preservação patrimonial. Olivro não se trata de ummanual de restauro, nem tam-pouco de roteiro para a criaçãode atrativos turísticos de fun-do histórico. Então, por quaismotivos ele interessaria aosprofissionais de Turismo?

    A verdade é que A ale-goria do patrimônio  nosmostra, de modo crítico edidático, como se deu a evo-lução do conceito de monu-mento  ao longo da Históriaocidental e, mais ainda, comoeste conceito está associadoao imaginário e à memória daspopulações que convivem comdeterminados bens patrimo-niais, além de discutir asrelações entre o poder públicoe a instituição de monumen-tos.

    Desse modo, o livro se ini-cia, na Introdução, com umadiscussão sobre os conceitos

    de patrimônio e monumento,relacionando-os à construçãoda identidade histórica e àmemória local. O primeiro ca-pítulo, intitulado Os huma-nismos e o monumento anti-go, nos remete à Antigüidadegreco-romana e à IdadeMédia, desnudando as formaspelas quais o monumento to-mava parte na vida cotidianados povos europeus até as

    portas do Renascimento. Osegundo capítulo, A época dosantiquários: monumentosreais e monumentos figura-dos, aborda a transmudaçãodo monumento  em alegoria,primeiro sob a égide da Re-nascença e depois na opulên-cia do Barroco, mostrando arelação deste processo com oHumanismo, o surgimento das

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    RESENHA

    nações européias como Es-tados e, já no século XVIII,

    com a Ilustração  e o AntigoRegime. O terceiro capítulo, ARevolução Francesa, trataespecificamente do modocomo aquele momento histó-rico tratou os monumentos,num primeiro instante, comoelementos de representaçãodo poder absolutista e clerical,destruindo e depredando boaparte deles e, depois, alçando-os à posição de símbolos da

    nacionalidade francesa, espe-cialmente no período napoleô-nico. No capítulo seguinte,  Aconsagração do monumentohistórico (1820-1960), Choaydescreve como se deu oprocesso de construção doconceito de monumentohistórico, desde o Romantismodo século XIX até o Pós-Guerras de meados do séculoXX. Em  A invenção do patri-mônio urbano  fica clara aimportância de Haussmann1 ,o reformulador da Paris dooitocentos, para a demarcaçãoe apartamento definitivo entreas “cidades do passado” e as

     “cidades do presente”, ou seja,a separação entre mundo rural- ligado ao passado - e vidaurbana - ligada à modernida-de da Revolução Industrial. Nosexto capítulo, intitulado O

     patrimônio histórico na era da

    indústria cultural , FrançoiseChoay mostra as relações quese construíram, no mundopós-moderno, entre a indús-tria cultural - baseada no si-mulacro - e o  patrimônio ,discutindo a forma como suaconservação passa, muitasvezes, apenas pelo interesseeconômico-financeiro e, não

    mais, por sua relação com aidentidade de uma determina-

    da população ou sua relevân-cia histórico-cultural. Por fim,em sua conclusão,  A compe-tência de edificar , a autoraretoma algumas questõestratadas ao longo do livro ediscute-as tendo como panode fundo a cultura de massado final do século XX,criticando a crescente inflaçãode bens patrimoniais por quepassa o mundo contemporâ-

    neo.Um detalhe à parte em A

    alegoria do patrimônio  ésua iconografia. As ilustraçõesdo livro, mesmo sendo apenasem preto e branco, clarificamos conceitos e idéias presen-tes em suas páginas, tornandosua compreensão mais ime-diata.

    Esses são os motivos quefazem ser a leitura deste livro

    uma tarefa imprescindívelàqueles que lidam com osmonumentos e bens patrimo-niais no Brasil, quer sejamprofissionais da área de res-tauro, quer sejam da indústriado Turismo.

    Carla Mary S. Oliveira

    Pesquisadora do LABTUR-IESPe Professora da Graduação em

    Turismo do IESP

    ***

    1  Georges EugèneHaussmann (1809-91), urbanista francêsque extensivamenteredesenhou Paris sobo reinado de NapoleãoIII (1852-70). Seusprojetos incluíram aconstrução de novos emais largos bulevares,a instalação da esta-ção ferroviária fora daárea central da cidade,e novos parques - emparticular, o Bois de

    Boulogne. Grandessetores da Paris me-dieval foram varridospor sua reconstruçãoda cidade. As formasdominantes nos proje-tos de Haussmanneram as de largos elongos bulevares,pontuados por praçascirculares, propiciandovistas soberbas dosprincipais monumen-tos parisienses, taiscomo a Ópera e o Arcodo Triunfo. Suas ino-vações tiveram umaforte influência emmuitos dos projetos dereurbanização do iníciodo século XX efetiva-dos na Europa, naAmérica Latina (espe-cialmente Brasil eArgentina), e em mui-tas colônias francesasentão espalhadas pelomundo.