Resenha Critica - A Importacao Do Romance e Suas Contradicoes Em Alencar

7/18/2019 Resenha Critica - A Importacao Do Romance e Suas Contradicoes Em Alencar

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

Literatura Brasileira IV

Resenha Crítica: A importação do romance e suas

contradições em Alencar , de Roberto Schwarz

Lucas Amorim dos Santos

N. USP: 71!"##



$nteressado em a%a&iar as obras do 'achado da (rimeira )ase (or um %i*s

crítico+metodo&-ico ue a&iasse /)orma &iter0ria e /(rocesso socia& 2%i*s esse,

di-a+se de (assa-em, a&tamente dia&*tico e de -rande (oder de )o-o crítico3,

Roberto Schwarz, em Ao Vencedor as Batatas, (roduziu uma (rosa densa,

a)iada e de e4trema ar-5cia 6 merecendo, (ortanto, es(ao (ri%i&e-iado na

me&hor tradi8o do ensaísmo brasi&eiro.

9m(reendendo uma an0&ise est*tica (ro)unda, ue e%ita o historicismo raso,

os )orma&ismos andinos ou o mar4ismo %u&-ar e, ao mesmo tem(o, trazendo

bai&a )ortes in)&u;ncias de esuerda ue )izeram (arte da )orma8o inte&ectua&

de Schwarz 6 Candido, Adorno, <en=amin, 'ar4 6, Ao Vencedor as Batatas

re)&ete sobre os /inícios do romance brasi&eiro e ana&isa as conseu;nciasartísticas do )en>meno de im(orta8o do romance euro(eu (ara um (aís

rec*m+inde(endente 2mas, (arado4a&mente, de(endente em uase tudo da

9uro(a3, escra%ista, semi+co&onia&, desunido e 0rido de institui?es (o&íticas,

educacionais, =urídicas, cientí)icas e cu&turais de e)ici;ncia.

A importação do romance e suas contradições em Alencar *, certamente, um

dos te4tos mais im(ortantes =0 escritos sobre o romancista cearense 2e um dos

mais sinceramente destruti%os tamb*m, (ois Schwarz n8o hesita em dizer ue

boa (arte dos traba&hos do autor * /boba-em3, e um e4ce(ciona& traba&ho ue

se-ue risca uma dica de ouro (ra se )azer Literatura Com(arada 2e ue

(arece estar esuecida ho=e em dia3: &er a obra &iter0ria considerando o

/(rob&ema de )i&ia8o de te4tos e de )ide&idade a conte4tos1. $sto *, ao in%*s de

sim(&esmente &er A&encar e a(ontar os romancistas euro(eus ue in)&uenciaram

sua obra 2o u; o crítico de )ato )az, uando cita <a&zac, @eui&&et e umas

@i&ho, (or e4em(&o3 6 mero traba&ho deteti%esco e de cote=o de temas e )ormas,ainda ue bastante re&e%ante +, Schwarz d0 um (asso a mais e, ciente de ue

<rasi& n8o * 9uro(a, chama aten8o (ara a mat*ria histrica do conte4to

naciona& in)&uindo e (&asmando esta )orma im(ortada euro(eia.

Se-undo o crítico, /o romance e4istiu entre ns antes de ha%er romancistas

brasi&eiros e isso resu&tou na )ecunda8o da ima-ina8o de autores e &eitores

1 Antonio Candido “De cortiço a cortiço” O discurso e a cidade São Paulo,Duas Cidades. 1993 pg.124



brasi&eiros (or )ormas e temas ue n8o tinham seu (* histrico )i4o no (aís.

$m(ortando+se o romance, muito da ideo&o-ia euro(eia 2ideias i&usrias da

bur-uesia como &iberdade, i-ua&dade, )raternidade, &ibera&ismo econ>mico3 %eio

a reboue. 'as como =0 sabemos, no <rasi&, estas ideias est8o /)ora do &u-ar,

-raas combina8o (ecu&iar 2e simbitica3 da (r0tica do )a%or e do sistema

escra%ista.

Assim, temas do romance euro(eu como a carreira socia&, a )ora disso&%ente

do dinheiro, o anta-onismo entre %oca8o e -anha+(8o 2e&encados (or

Schwarz3 e (ersona-ens (rototí(icos da cena romanesca euro(eia, como

/sub&imes %iscondessas, arri%istas )u&minantes, &adr?es i&ustrados, ministros

e(i-ram0ticos, (rínci(es imbecis, cientistas %ision0rios ma& e4istiam no <rasi&$m(eria& e, uando e4istiam, esta%am somente na ima-ina8o ou muito

modi)icados (e&as nossas (ecu&iaridades histricas.

Para Schwarz, em Senhora, como em outros romances, A&encar (arece

acertar na /)ora mim*tica, mas dei4a a dese=ar uanto sua /)ora artística.

B romance, se-undo o crítico, cont*m duas /es)eras di)erentes e ue

resu&tam em contra+senso: em uma es)era, Aur*&ia e as (ersona-ens =o%ensd8o um tom de seriedade (redominante no romance. a histria da com(ra de

um marido e do (oder disso&%ente do dinheiro e do se4o 2tema ba&zauiano (or

e4ce&;ncia3 ue )unciona como mo&a (ro(u&sora do enredo, de&ineando a cur%a

dram0tica do romance. Aur*&ia Camar-o * uma =o%em ue tem uma ideia )i4a

atr0s da testa e o )rio ca&cu&ismo necess0rio (ara a&can0+&a 6 um Deathc&i)) de

saias. B romance * en-enhosamente estruturado como (artes de uma

transa8o comercia&. Por estes as(ectos, e (or outros ue Schwarz e&enca, a

)orma do romance euro(eu * &atente em Senhora.

'as como o crítico bem &embra, A&encar sem(re este%e imbuído de sua

miss8o (atritica de desbra%ar &iterariamente o <rasi& 6 o sentimento

(ro-ram0tico de /descoberta e inter(reta8o do ua& Candido )a&a na

Formação. 9 do dese=o de descre%er e escre%er a (0tria, A&encar acaba (or

dei4ar in)&uir na (rosa de Senhora uma se-unda es)era ue de certa maneira

entra em desacordo com a (rimeira: os (ersona-ens (eri)*ricos e as histriassecund0rias, ue (o%oam a obra, d8o o as(ecto /t8o <rasi& do romance e



a=udam na desdramatiza8o do enredo, desa)o-ando seu tom s*rio e seu ri-or

na condu8o narrati%a, (or meio do humor, das (ersona-ens bonachonas, da

(rosa ora& e dos /causos ue desconhecem o tom -ra%e eEou mora&ista de um

romancista euro(eu con%enciona& 2A&encar, (e&o contr0rio, * bastante sim(0tico

s )ormas da %ida socia& brasi&eira oitocentista3.

B im(asse ue a obra de A&encar sem(re en)renta * o do tentar encai4ar o

<rasi& na )orma do romance euro(eu, sem )azer muitos a=ustes nesta 5&tima 6 o

ue sem(re resu&ta em contradi?es e desacordos. A e4ist;ncia da

(ersona-em Aur*&ia (ressu(?e ue ha=a uma ordem c&0ssica do mundo

bur-u;s %i-ente no (aís, mas a (resena das outras (ersona-ens (eri)*ricas

im(&ica numa ordem socia& di)erente da euro(eia 2re-ida (e&o )a%or3. A&encarnunca co&oca essas es)eras em con)&ito 2nunca as critica ou as i-nora, (ois *

admirador da so)istica8o euro(eia e do =eitinho brasi&eiro3, e sim, con%i%endo

&ado a &ado 6 (ro%ocando a )a&ta de unidade do romance e sua )raueza

artística.

'imeticamente, A&encar conse-ue ca(turar uma )ace do <rasi& me&hor ue

ua&uer autor da esco&a Rea&ista ou Natura&ista : de )ato, a %ida socia&

brasi&eira 2e, mais es(eci)icamente, )&uminense3 do s*cu&o F$F se a(oia%a em

1) uma tentati%a de c(ia das ideias &iberais e das modas euro(eias e 2)uma

sociabi&idade ca&cada na (r0tica do /)a%or. Ganto 1 uanto H esta%am

)ortemente (resentes no (aís. 9 * (ossí%e& en4er-amos sinais de 1 e H nos

seus romances 2embora e&e n8o use a (a&a%ra /)a%or ou /=eitinho3 6 (ortanto,

c(ia )ie& da rea&idade. 'as o erro )ata& de A&encar )oi sem(re uerer ma(ear a

%ida brasi&eira dando (redominIncia (ara 1, enuanto H s (ermeia as

(eri)erias da sua obra.

Geríamos ue es(erar at* o 'achado da se-unda )ase (ara ue os a=ustes

)ormais se=am dados, de maneira ue o narrador machadiano 2o senhor

(ro(riet0rio3 dei4e mostra ue, na %io&enta se&%a brasi&eira do s*cu&o F$F, a

(redominIncia tem ue ser de H, enuanto 1 * a(enas um ornamento de

c&asse ue n8o * (ara ser &e%ado t8o 0 s*rio 6 )azendo o romance -anhar

unidade, )ora artística, humor im(a-0%e& e ada(tando esta )orma euro(eia

(ara a )ide&idade do conte4to histrico brasi&eiro.



B 'achado (r*+Brás Cubas comete a&-uns des&izes artísticos ue se

asseme&ham aos de A&encar, mas tamb*m (arece acertar em a&-uns (ontos

ue o autor cearense n8o conse-uiu tocar. Schwarz trata da (rimeira )ase

machadiana na terceira (arte de Ao Vencedor as Batatas. Sobre Iaiá Garcia,

(or e4em(&o, o crítico a(onta o )ato da constru8o (rob&em0tica da

(ersona-em Luís Jarcia: o (ai de $ai0 se asseme&ha a uma (ersona-em de

Romantismo Ne-ro, com seu iso&amento e sua /ru-a sard>nica no cora8oK o

&eitor, ent8o, es(era ue a tens8o do romance aumente toda a %ez ue a

(ersona-em esti%er em cena + o u; n8o acontece, (ois uando a (ersona-em

casa+se com 9ste&a, seu as(ecto soturno * substituído (e&a )e&icidade con=u-a&,

inca(acitando a %erossimi&hana da constru8o da (ersona-em. B &eitor se

(er-unta o ue aconteceu com aue&a (ersona-em tí(ica do Romance de

esi&us8o (ra se tornar t8o sem -raa, de uma hora (ra outra.

B tema da -uerra do Para-uai ue, num romance inteiramente euro(eu,

(oderia dar em e(isdios marcantes de bata&ha, heroicidade, nobreza e

%a&entia e enriuecer o enredo com o desenro&ar da Distria, acaba (or ser

a(enas um (ano de )undo (ara a histria amorosa de or-e e 9ste&a.

Por*m, Schwarz tamb*m identi)ica em Iaiá Garcia uma es(*cie de ensaio

(ara a %ira%o&ta ue 'achado daria (oucos anos de(ois: o %ocabu&0rio das

re&a?es de )a%or est0 em (eso no &i%ro 2/obs*uio, /)a%or3 e os interesses

(5b&icos e (atriticos =0 s8o des%e&ados como interesses (articu&ares de uma

c&asse.

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