12
REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO 9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013 I nternational Law for Humankind: To- wards a New Jus Gentium intitula-se o primeiro Curso Geral de direito internacional Público ministrado por um jurista brasileiro desde a fundação da Academia de direito internacional da Haia em 1923. Os Cursos Gerais são ministrados por acadêmicos de grande experiência e notoriedade. Tratam com profundidade da evolução e das tendên- cias do direito internacional, abordan- do os grandes eixos da matéria segundo os quais é estruturado o pensamento ju- rídico. O professor e juiz da Corte in- ternacional de Justiça, Antônio Augusto Cançado Trindade, brinda a Academia de direito internacional da Haia com seu Curso Geral de direito internacio- nal Público, ministrado entre julho e agosto de 2005, cuja versão abreviada é ora comentada. 1 A presente obra possui extrema rele- vância no contexto dos escritos nacionais e internacionais sobre o tema, buscando ultrapassar a visão interestatal e volunta- rista do direito internacional, predomi- nante nos dias atuais, 2 para resgatar o primado da razão da humanidade sobre a razão de estado, constante do pensamen- to dos pais fundadores dos séculos XVi e 379 : 17 Paula Wojcikiewicz Almeida RESENHA DA OBRA INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND:TOWARDS A NEW JUS GENTIUM, de AnTôniO A. CAnçAdO TRindAde REVIEW OF THE BOOK INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND: TOWARDS A NEW JUS GENTIUM, BY ANTÔNIO A. CANÇADO TRINDADE RESENHA A. A. CANÇADO TRINDADE. INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND: TOWARDS A NEW JUS GENTIUM. MARTINUS NIJHOFF PUBLISHERS, 2010.

RESENHA DA OBRA INTERNATIONAL LAW FOR … · primeiro Curso Geral de direito internacional Público ministrado por um jurista brasileiro desde a fundação da Academia de direito

  • Upload
    buihanh

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

I nternational Law for Humankind: To-wards a New Jus Gentium intitula-se oprimeiro Curso Geral de direito

internacional Público ministrado porum jurista brasileiro desde a fundaçãoda Academia de direito internacionalda Haia em 1923. os Cursos Gerais sãoministrados por acadêmicos de grandeexperiência e notoriedade. tratam comprofundidade da evolução e das tendên-cias do direito internacional, abordan-do os grandes eixos da matéria segundoos quais é estruturado o pensamento ju-rídico. o professor e juiz da Corte in-ternacional de Justiça, Antônio Augusto

Cançado trindade, brinda a Academiade direito internacional da Haia comseu Curso Geral de direito internacio-nal Público, ministrado entre julho eagosto de 2005, cuja versão abreviada éora comentada.1

A presente obra possui extrema rele-vância no contexto dos escritos nacionaise internacionais sobre o tema, buscandoultrapassar a visão interestatal e volunta-rista do direito internacional, predomi-nante nos dias atuais,2 para resgatar oprimado da razão da humanidade sobre arazão de estado, constante do pensamen-to dos pais fundadores dos séculos XVi e

379:17

Paula Wojcikiewicz Almeida

RESENHA DA OBRA INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND:TOWARDS A NEW JUS GENTIUM,

de Antônio A. CAnçAdo trindAde

REVIEW OF THE BOOK INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND:TOWARDS A NEW JUS GENTIUM, BY ANTÔNIO A. CANÇADO TRINDADE

RESENHA

A. A. CANÇADO TRINDADE. INTERNATIONAL LAW FOR

HUMANKIND: TOWARDS A NEW JUS GENTIUM. MARTINUS

NIJHOFF PUBLISHERS, 2010.

RESENHA DA OBRA INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND: TOWARDS A NEW JUS GENTIUM:380

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

XVii, como F. de Vitoria (ReleccionesTeológicas, 1538-1539), F. Suárez (DeLegibus ac Deo Legislatore, 1612), A.Gentili (De Jure Belli, 1598), H. Grotius(De Jure Belli ac Pacis, 1625), S. Pufendorf(De Jure Naturae et Gentium, 1672) e C.Wolff (Jus Gentium Methodo ScientificaPertractatum, 1749), dentre outros.3

trata-se de um marco na doutrina brasi-leira e internacional, pois a tradição jus-naturalista do direito internacional,apesar de nunca ter desaparecido, haviasido sufocada pelo positivismo volunta-rista. A obra marca, portanto, o renasci-mento contínuo do direito natural,valorizando a concepção universalista dodireito internacional no mundo de hoje,tal qual presente no ideal dos pais fun-dadores da disciplina. Cançado trindadereconhece que, apesar de o mundo con-temporâneo ser distinto da época naqual foram redigidos os escritos dos paisfundadores, “(...) a aspiração humanapermanece a mesma, qual seja, a daconstrução de um ordenamento inter-nacional aplicável tanto aos estados (eorganizações internacionais) quantoaos indivíduos, consoante certos pa-drões de justiça”.4

A obra é composta por textos sele-cionados e atualizados por Cançado trin-dade, redigidos no período de 1999 a2005, que resultam de ensinamentosministrados pelo autor ao longo das últi-mas três décadas. É, portanto, fruto dereflexões pessoais acumuladas durantetoda uma vida dedicada à teoria e práti-ca do direito internacional. Cançadotrindade dirige-se, de forma positiva econfiante, às futuras gerações de juristas

internacionalistas, atentos para as aspira-ções da comunidade internacional nostempos atuais. Figura como leitmotiv dapresente obra a constatação de que odireito internacional é um corpus jurisorientado para atingir as necessidades easpirações dos seres humanos e dahumanidade de modo geral. A com-preensão de seu substrato é essencialpara sua correta abordagem. o autoradverte: não se trata de um manual dedireito internacional, mas sim de umaobra crítica que transcende o direitopositivo, reunindo temas selecionados eapresentados de acordo com o leitmotivque a permeia. o autor se preocupa emrestaurar valores em um momento deevidente crise e negligência dos mesmose confia, para tanto, no papel de umdireito internacional universalista ehumanizado, fiel ao pensamento dos paisfundadores da disciplina e às necessida-des da comunidade internacional.

Parte-se do pressuposto de que adimensão puramente estatal do direitointernacional afigura-se ultrapassada eque a personalidade jurídica internacio-nal foi expandida para reconhecer comosujeitos não apenas as organizaçõesinternacionais, mas também os indiví-duos. o novo jus gentium deste início doséculo XXi ou Direito Internacional para ahumanidade, consoante a recta ratio,5

assenta-se obrigatoriamente sobre essasbases, centrando-se nas aspirações enecessidades legítimas da humanidade –civitas maxima gentium.6

A obra é composta de oito partes,que se encadeiam logicamente com vis-tas à construção de um novo jus gentium.

381:PAULA WOJCIKIEWICZ ALMEIDA17

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

Cançado trindade inicia suas considera-ções em um capítulo preliminar no qualapresenta uma sólida análise acerca dasbases necessárias para a compreensão donovo Direito Internacional para a Humani-dade, traçando sua evolução histórica. Aconstrução doutrinária valoriza e resga-ta o legado dos escritos dos pais funda-dores do direito internacional nosséculos XVi e XVii, sobretudo F. deVitoria, F. Suárez e H. Grotius, além deA. Gentilli e S. Pufendorf, que sustenta-vam o ideal de uma civitas maxima regidapelo direito das gentes.7

em seguida, Cançado trindade aden-tra na identificação das característicasbásicas do novo jus gentium, capaz deatingir as necessidades e aspirações dahumanidade, que marca o início do sé-culo XXi. Sua característica básica prin-cipal consiste no reconhecimento deque a ordem jurídica internacional ul-trapassou a ótica puramente interestatalpara abarcar igualmente indivíduos, or-ganizações não governamentais e outrasentidades da sociedade civil, além deestados e organizações internacionais.não se trata de uma concepção nova,pois o jus gentium clássico já abarcava,em sua evolução histórica, a humanida-de como um todo, não se limitando àótica interestatal. Segundo o autor, o jusgentium atual possui a finalidade de res-gatar o ideal de universalidade presenteno pensamento dos pais fundadores dodroit des gens, de onde extrai suas raízesmais profundas. A concepção universa-lista do direito internacional consideraque os estados não foram originalmen-te concebidos como sujeitos exclusivos

do direito internacional. Para Cançadotrindade, as fundações do novo jus gen-tium são, portanto, independentes davontade estatal, pois derivam da consciên-cia universal, do sentimento de justiça ede bases éticas, incorporando valores hu-manos essenciais, que prevalecem comrelação à raison d’Etat. o novo jus gen-tium, atualmente caracterizado comosendo o Direito Internacional para a hu-manidade, é assim imbuído de uma di-mensão temporal com o objetivo deadaptar-se progressivamente às necessi-dades e aspirações da humanidade.

A segunda parte da obra abarca asfundações do direito internacional, reme-tendo ao papel e à importância dos princí-pios básicos da disciplina, que formam osubstrato da própria ordem jurídica.Como uma manifestação da consciênciajurídica internacional, fonte material porexcelência do direito internacional naspalavras de Cançado trindade, os princí-pios do direito internacional inspiram oprocesso de adoção, interpretação e apli-cação das normas jurídicas. de acordocom o autor, os princípios gerais do direi-to fornecem os próprios fundamentos dodireito internacional Público e, por isso,não deveriam ser negligenciados pela dou-trina contemporânea.8 o reconhecimen-to do papel fundamental dos princípiosconduz ao reconhecimento de princípiosconsiderados indispensáveis, como o juscogens, que traduz a ideia de uma justiçaobjetiva.9 Cançado trindade sustenta aimportância dos princípios, que per-meiam o sistema jurídico e transcendemo direito positivo internacional. elesrefletem a idée de droit e a idée de justice.

RESENHA DA OBRA INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND: TOWARDS A NEW JUS GENTIUM:382

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

A partir de tais considerações, o autorafirma a validade permanente dos princí-pios gerais do direito internacional queconformam a aplicação de suas normas,como o princípio fundamental da proibi-ção do uso da força, previsto no artigo 2(4) da Carta da onU. A validade contínuade tal princípio reafirma a primazia dodireito internacional sobre a força, con-forme exposto no capítulo iV da segundaparte da presente obra,10 tendo em vistaas inúmeras tentativas de desconstruçãodo direito internacional nos temposatuais em situações que envolvem o uso daforça fora dos parâmetros estabelecidospela Carta da onU.

A terceira parte da obra adentra naformação do direito internacional, rea-valiando a teoria das fontes formais dodireito internacional para demonstrarseu caráter não exaustivo e sua insufi-ciência nos tempos atuais.11 Cançadotrindade sinaliza que a formação dodireito internacional contemporâneonão pode se restringir unicamente àsfontes formais, o que decorreria de umpositivismo analítico anacrônico, masdeve buscar sua legitimidade – opiniojuris communis – no atendimento do inte-resse público e na realização das necessi-dades da comunidade internacionalcomo um todo.12 isso porque o novo jusgentium emana da consciência jurídicauniversal e transcende a vontade dosestados enquanto sujeitos de direitointernacional. Assim sendo, o autor sus-tenta que as fontes formais do direitointernacional devem ser analisadas con-juntamente com a fonte material dodireito internacional por excelência,

qual seja, a consciência jurídica universalou communis opinio júris.13 Cançado trin-dade identifica manifestações da cons-ciência jurídica universal no direito dostratados, na cláusula Martens, na juris-prudência internacional e nas resoluçõesda onU.

os sujeitos de direito internacionalsão abordados na quarta parte da obra,que tem como objetivo demonstrar aexistência de um processo de humaniza-ção do direito internacional, repercutin-do na expansão da personalidade jurídicainternacional. Para Cançado trindade, ainquestionável expansão da personalida-de jurídica internacional caracteriza onovo jus gentium. o fenômeno do surgi-mento das organizações internacionaisdeterminou o fim do monopólio do esta-do, alterando globalmente a estrutura dodireito internacional. Além das organi-zações internacionais, o autor resgata acondição da pessoa humana como sujeitode direito interno e internacional (e nãoapenas na qualidade de ator), na linha dopensamento jurídico internacional dasegunda metade do século XX e do pro-cesso de humanização do direito inter-nacional contemporâneo.14 Cançadotrindade denuncia a doutrina positivistaclássica e sustenta que os indivíduos sãoindiscutivelmente sujeitos de direitos eobrigações que emanam diretamente dodireito internacional, exercendo umpapel fundamental no processo de for-mação da communis opinio juris. São elesos destinatários primordiais das normasjurídicas internacionais e nacionais.15

Segundo o autor, o reconhecimento dapersonalidade jurídica internacional –

383:PAULA WOJCIKIEWICZ ALMEIDA17

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

ativa e passiva – dos indivíduos caminhaparalelamente com o necessário reco-nhecimento de sua capacidade jurídicapara reivindicar direitos no plano inter-nacional.16 tais considerações conduzemnaturalmente ao acesso direto lato sensu àjustiça internacional – droit au Droit –por meio do direito de petição individualno nível internacional (jus standi) e dodireito à realização da justiça no nívelinternacional.17 Com efeito, o direito deacesso à justiça lato sensu traduz o direitoa uma ordem jurídica capaz de protegerefetivamente os direitos fundamentais dapessoa humana.18 Marca, como sustentao autor, a emancipação do indivíduo comrelação a seu próprio estado e a primaziada raison de l’humanité perante a raisond’État. Constitui, para Cançado trinda-de, o mais importante legado do pensa-mento jurídico internacional da segundametade do século XX.19 Além dos indi-víduos, a humanidade é igualmente con-siderada como sendo um sujeito dedireito internacional, pois permeia ocorpus juris da disciplina. A dificuldadereside na construção conceitual derepresentação legal de humanidade queleva à consolidação da capacidade jurídi-ca internacional.

na quinta parte da obra, Cançadotrindade busca construir o direito inter-nacional para a Humanidade, o novo jusgentium, partindo de construções concei-tuais em curso que reafirmam seu cará-ter universal. trata-se de reconhecer,como sublinha o autor, a emergência deconsiderações relativas à ordem pública,que se refletem nas construções concei-tuais das normas imperativas do direito

internacional em geral, dos direitos fun-damentais inderrogáveis e das obriga-ções erga omnes de proteção em sua dupladimensão. Para Cançado trindade, osconceitos de jus cogens e de obrigaçõeserga omnes de proteção – horizontais everticais – já integram o universo con-ceitual do direito internacional, na linhada visão universal do droit des gens pro-posta pelos pais fundadores da disciplina.o conceito de jus cogens, que transcendeo domínio do direito dos tratados paraabarcar, dentre outros, a responsabilida-de internacional dos estados, é conside-rado pelo autor como um dos pilares donovo jus gentium. Além do jus cogens, sãocitados outros conceitos que tambémemergem do novo jus gentium do iníciodo século XXi, como sendo fruto daconsciência jurídica universal. tais cons-truções conceituais acabam por reco-nhecer as limitações dos estados no quetange ao atendimento das necessidadese aspirações da humanidade. dentre asconstruções conceituais abordadas peloautor, figura a responsabilidade estatalpor crimes internacionais e a jurisdiçãouniversal. em seu âmbito, verifica-seem jurisprudência recente a comple-mentaridade entre a responsabilidadeinternacional dos estados e a responsa-bilidade dos indivíduos por crimesinternacionais.20 Salienta que o princí-pio da jurisdição universal, que ultra-passa as fronteiras da territorialidade eda nacionalidade, já traz em si mesmoa ideia da complementaridade e daexistência de interesses fundamentaisque devem ser protegidos pela comu-nidade internacional.

RESENHA DA OBRA INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND: TOWARDS A NEW JUS GENTIUM:384

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

Cançado trindade resgata, na sextaparte da obra, considerações básicas dehumanidade que fornecem ilustraçõesacerca da emergência de um novo jusgentium, em diversas áreas do direito in-ternacional. tais considerações básicassão indispensáveis no momento atual,marcado por uma crise profunda de va-lores, e já se encontram no corpus juris dodireito internacional contemporâneo.estão presentes nos instrumentos dedireito internacional contemporâneo,na jurisprudência internacional e nadoutrina internacional considerada lúci-da pelo autor. Merecem, segundo ele,maior atenção e cultivo pela doutrina in-ternacionalista com vistas à construçãode um novo jus gentium, que resgata a po-sição central do ser humano e da huma-nidade. dentre os capítulos do direitointernacional nos quais as consideraçõesbásicas de humanidade se fazem presen-tes, especial atenção é dada a temascomo desarmamento, direito dos trata-dos, responsabilidade de estados, suces-são de estados, território, direitodiplomático e consular e, finalmente,convergências entre as três vertentes deproteção da pessoa humana, quais se-jam, o direito internacional dos direi-tos Humanos, do direito internacionalHumanitário e do direito internacionaldos refugiados.21

de suma importância é a sétimaparte da obra, que avalia o estado atual eas perspectivas de solução pacífica decontrovérsias, reiterando a necessidadede uma jurisdição compulsória.22 Can-çado trindade cita diversos meios com-plementares de solução pacífica das

controvérsias, destacando a desnecessi-dade de esgotamento das possibilidadesde negociação antes do recurso a outrosmeios de solução pacífica. Sublinha aambivalência entre o princípio da solu-ção pacífica das controvérsias previsto naCarta da onU e a prerrogativa das par-tes em disputa no sentido de adotar osmecanismos de solução pacífica livre-mente. tal ambivalência conduz à vulne-rabilidade da solução das controvérsiasinternacionais, que ficam sujeitas aovoluntarismo estatal. reitera o autorque os meios de solução pacífica não selimitam ao voluntarismo estatal, forne-cendo exemplos que ilustram tal tese.Com efeito, há atualmente uma flagran-te diminuição da liberdade de escolhaacerca dos meios de solução pacífica dascontrovérsias internacionais à disposiçãodos estados. isso ocorre em função deprevisões em tratados multilaterais dis-pondo acerca dos mecanismos a seremobrigatoriamente utilizados. É que osmecanismos de solução pacífica das con-trovérsias internacionais transcendem osinteresses dos estados em questão,envolvem interesses gerais da comunida-de internacional e devem ser analisadossob essa ótica. tendo em vista tais consi-derações, Cançado trindade conclui quequalquer estudo sobre o assunto deverápartir, prioritariamente, do princípiogeral da solução pacífica das controvér-sias internacionais para, então, avaliar alivre escolha das partes no que tange aosmeios, que consiste em simples prerroga-tiva. nessa linha, o autor lembra o antigoideal da jurisdição compulsória como umamanifestação da busca da comunidade

385:PAULA WOJCIKIEWICZ ALMEIDA17

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

internacional pela realização da justiçano nível internacional.

Cançado trindade destaca o fato deque a cláusula facultativa de jurisdiçãoobrigatória, presente nos estatutos daCorte Permanente de Justiça internacio-nal e da Corte internacional de Justiça,foi resultado da iniciativa do jurista bra-sileiro raul Fernandes, que pretendiaencontrar um equilíbrio para o impasseocorrido no seio do comitê de juristasde 1920. tal cláusula teve inicialmenterepercussão positiva, sofrendo posteriordeclínio sob a égide da Corte interna-cional de Justiça. o autor resgata os tra-vaux préparatoires para sublinhar o usodistorcido da cláusula por diversos esta-dos, o que retirou sua eficácia e esvaziousua finalidade. isso porque a elaboraçãodo estatuto da Corte internacional deJustiça não levou em consideração osprogressos da comunidade internacio-nal, refletindo a concepção voluntaristado direito internacional dos anos 1920,marcada por uma dimensão puramenteinterestatal. Para Cançado trindade, talconcepção não mais se coaduna com odireito internacional contemporâneo.Para sustentar tal tese, recorre à expe-riência da Corte interamericana dedireitos Humanos e da Corte europeia dedireitos Humanos, cujas cláusulas facul-tativas de jurisdição obrigatória, reco-nhecidas como sendo cláusulas pétreas,não admitem outras limitações alémdaquelas expressamente previstas nos tra-tados de direitos Humanos em questão.Por esse motivo, sustenta que a inserçãode reservas ou limitações nas cláusulasfacultativas de jurisdição obrigatória,

apesar de não ser expressamente proibida,representa uma distorção da concepçãooriginal encontrada nos referidos tra-vaux préparatoires.

Cançado trindade anuncia: “the timehas come to overcome definitely the regrettablelack of automatism of the international juris-diction” (p. 581). reconhece que apesardos avanços ocorridos na área do direitointernacional dos direitos Humanos,ainda existem importantes resistências naesfera interestatal para a aceitação do idealda jurisdição obrigatória, que reflete anecessidade da comunidade internacionalatualmente.23 entretanto, considera quealgumas resistências já foram vencidascomo demonstra a experiência do tri-bunal de Justiça da União europeia; daCorte europeia de direitos Humanosapós a entrada em vigor do Protocolon. 11; do tribunal Penal internacional; eda Convenção das nações Unidas sobre odireito do Mar de 1982. o autor fornecetais exemplos para demonstrar que a ideiade jurisdição compulsória já está presenteem algumas áreas do direito internacio-nal, sendo uma manifestação do reco-nhecimento de que a ótica voluntaristaencontra-se ultrapassada. Corrobora talafirmação o fato de que diversos tratadosinternacionais preveem cláusulas compro-missórias estabelecendo o recurso obriga-tório à jurisdição da Corte internacionalde Justiça para a solução das controvérsiasatinentes à sua interpretação e aplicação.Cançado trindade sugere que uma inclu-são sistemática de cláusulas compromissó-rias no âmbito de tratados internacionaiscontribuiria para expandir o escopo dajurisdição compulsória.

RESENHA DA OBRA INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND: TOWARDS A NEW JUS GENTIUM:386

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

na mesma linha, o autor sublinha ocaráter positivo da multiplicidade de tri-bunais internacionais no direito interna-cional contemporâneo, o que indica umaexpansão da jurisdição internacional,conjuntamente com o processo de des-centralização da ordem jurídica interna-cional para além da ótica puramenteinterestatal.24 o processo de “jurisdicio-nalização” do direito internacional refor-ça a primazia do direito internacionalsobre a força, confortando o jusinterna-cionalista sensato. de fato, Cançado trin-dade vê com bons olhos o fenômeno damultiplicação dos tribunais internacio-nais. o referido fenômeno (i) reflete umanecessidade da comunidade internacio-nal contemporânea, (ii) contribui para oantigo ideal de realização da justiça inter-nacional, e (iii) reafirma a posição dos in-divíduos como sujeitos de direitointernacional. tais considerações corro-boram o processo histórico de humaniza-ção do direito internacional, conducenteao novo jus gentium.

Para o autor, a função jurisdicional éguiada, sobretudo, pelo ideal de realiza-ção da justiça,25 que não constitui umanoção abstrata. ora, não é possível jul-gar casos envolvendo violações gravesdos direitos humanos e do direito inter-nacional humanitário sem atentar paraos valores humanos fundamentais, já queo direito e a ética são indissociáveis, con-trariamente aos postulados da doutrinapositivista.26 Um tribunal internacionalnão pode permanecer indiferente ao so-frimento humano, privilegiando a raisond’État e denegando justiça aos indivíduossob sua jurisdição. Cançado trindade

afirma que “a busca da justiça deve serpreservada como objetivo último; asse-gurar justiça às vítimas compreende, in-ter alia, permitir que elas possam buscare obter justiça pelos crimes sofridos”.27

Contrariamente ao positivismo forma-lista presente em grande parte dos jul-gados da Corte internacional de Justiça,28

o autor adere a uma visão principista ten-dente a aplicar um direito internacionalevolutivo e atento aos valores da humani-dade, na busca da realização da justiça.29

A última parte da obra anuncia asperspectivas para o futuro. Cançadotrindade retoma o legado do ciclo dasConferencias Mundiais das nações Uni-das ao longo dos anos 1990 até o ano de2001. As Conferências contribuírampara desenhar a agenda social internacio-nal do início do século XXi, em conso-nância com as preocupações do direitointernacional contemporâneo e com asaspirações da comunidade internacio-nal. Analisa o exercício da codificação eo progressivo desenvolvimento do di-reito internacional na perspectiva his-tórica, além de trazer lições e projeçõespara o futuro. Pondera que o processode codificação é guiado por necessida-des jurídicas da comunidade internacio-nal (e não apenas dos estados) queevoluem através dos tempos e, por essemotivo, tende a ser complexo, dinâmi-co e multifacetado. A codificação e o de-senvolvimento progressivo do direitointernacional caminham pari passu,apontando para a universalização do di-reito internacional. o autor insiste queo direito internacional contemporâneonão pode mais confinar-se nos rígidos

387:PAULA WOJCIKIEWICZ ALMEIDA17

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

postulados do direito internacionalconvencional tradicional, devendo serdotado de um corpus juris objetivo e darexpressão à opinio juris communis emana-da da consciência jurídica universal.

Cançado trindade fundamenta-seem quantidade expressiva de referênciasbibliográficas e jurisprudenciais direta eindiretamente relacionadas ao direitointernacional em mais de 50 páginas, oque enriquece sobremaneira o presentelivro. As obras e os casos jurispruden-ciais foram cuidadosamente selecionadose organizados de acordo com as partes ecapítulos do livro, de forma a facilitar aoleitor o aprofundamento dos temas con-siderados mais relevantes. o amor à disci-plina e o zelo com os leitores e discípulostransparecem e perpassam toda a obra, oque a torna sensivelmente humanizada.“there is reason for hope and confiden-ce in the future of international Law”,assegura Cançado trindade em seu epí-logo. A mensagem de confiança deixadapelo autor em sua obra merece ser reto-mada: as novas gerações de juristasinternacionalistas devem fomentar arevitalização das fundações e princípiosbásicos do direito internacional con-temporâneo, testemunhando a expansãoda personalidade jurídica internacional,com a primazia do direito internacionalsobre a força, na busca da realização dajustiça com o objetivo de deixar ummundo melhor para nossos descenden-tes. Segundo Cançado trindade, os sal-tos qualitativos na evolução do jus gentiumsão alcançados em momentos de crise,como testemunha o desenvolvimentohistórico do direito internacional.30

Conclui sua obra atualíssima demons-trando um profundo sentimento de con-fiança na nova geração de juristasinternacionalistas para a construção donovo jus gentium desse novo século.

trata-se de uma obra indubitavel-mente perene, fruto das reflexões pes-soais de Cançado trindade acumuladasnas últimas três décadas, como acadêmicoe juiz internacional, que resgata e dá vidaà consciência jurídica universal, cons-truindo um novo jus gentium para a huma-nidade. A obra é desenvolvida em torno depostulados que se articulam conforme seuleitmotiv – o direito internacional é um cor-pus juris orientado para atingir as necessida-des e aspirações dos seres humanos e dahumanidade – e flui de forma crítica e po-sitiva, trazendo uma mensagem de con-fiança e esperança nas gerações futuras.Como latino-americanos e brasileiros, or-gulhamo-nos de ter entre nós o professor ejuiz Antônio Augusto Cançado trindade, oprimeiro jusinternacionalista brasileiro aministrar o Curso Geral de Direito Interna-cional Público desde a fundação da Acade-mia de direito internacional da Haia.International Law for Humankind: Towards aNew Jus Gentium é uma obra que não me-rece reparos em função de sua qualidadeexcepcional e constitui uma contribuiçãovaliosíssima para o estudo do direito inter-nacional, sendo, portanto, indispensávelpara todos aqueles que pretenderem obteruma visão lúcida do direito internacionalcontemporâneo, que leva em conta as ne-cessidades e aspirações da humanidade,sem ignorar a carga histórica propugnadapelos pais fundadores e, sobretudo, semcorrer o risco de confundir-se com visões

RESENHA DA OBRA INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND: TOWARDS A NEW JUS GENTIUM:388

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

míopes tão presentes em momentos decrise de valores. É de leitura obrigatóriapara uma geração de juristas internacio-nalistas guiada por valores, que é capaz de

enxergar o ser humano para além das amar-ras da soberania estatal e de resgatar sua po-sição central enquanto sujeito de direitointerno e internacional.

NOTAS

o texto original do Curso Geral de direito1internacional ministrado pelo professor AntônioAugusto Cançado trindade foi publicado no Recueil desCours da Academia da Haia em 2005: A. A. CAnçAdotrindAde, International Law for Humankind: Towards aNew Jus Gentium - General Course on Public InternationalLaw - Part I, 316 recueil des Cours de l’Académie dedroit international de la Haye, 2005; International Law forHumankind: Towards a New Jus Gentium - General Course onPublic International Law - Part II, 317 recueil des Cours del’Académie de droit international de la Haye, 2005.

A corrente doutrinária que conduzia à2personificação do estado no direito internacionalinspirou-se, sobretudo na filosofia do direito de Hegel,que acabou por influenciar a evolução do direitointernacional no final do século XiX e no início do séculoXX. Segundo Cançado trindade, “as Universidades não sóbrasileiras como de tantos outros países, encontram-sehoje infestadas de positivistas e realistas, o que explica opreocupante declínio no cultivo da ciência jurídica e dasciências sociais”, in A. A. CAnçAdo trindAde, AHumanização do Direito Internacional, Belo Horizonte, ed.del rey, 2006, p. 21.

Association internationale Vitoria-Suarez,3Vitoria et Suarez – Contribution des Théologiens au DroitInternational Moderne, éd. Pédone, Paris, 1939, pp. 169-170; LAUterPACHt (H.), “the Grotian tradition ininternational Law”, 23 British Yearbook of InternationalLaw, 1946, pp. 1-53; et V. P. GUGGenHeiM, “Contributionà l’histoire des sources du droit des gens , 94 Recueil desCours de l’Académie de Droit International de La Haye, 1958,pp. 21-25.

A. A. CAnçAdo trindAde, A Humanização4do Direito Internacional, op. cit., p. 14.

Para maiores detalhes acerca da relação entre a5recta ratio e o jus gentium, vide A. A. CAnçAdotrindAde, A Humanização do Direito Internacional, op.cit., pp. 6-16.

o autor lista desenvolvimentos recentes do6direito internacional que demonstram a preocupaçãocom os seres humanos, como a existência de áreas dodireito internacional voltadas para a proteção dosdireitos Humanos; a invocação da ‘humanidade’ em tratadosinternacionais; a construção jurisprudencial de tribunaisinternacionais contemporâneos que leva em consideraçãopreocupações de seres humanos e humanidade; e a práticade estados e organizações internacionais e outros sujeitosde direito internacional que leva em consideração asnecessidades e aspirações dos seres humanos e humanidadecomo um todo.

Vide A. A. CAnçAdo trindAde, A7Humanização do Direito Internacional, op. cit., pp. 8-16.

Vide Corte idH, Condição Jurídica e os Direitos8dos Migrantes Indocumentados, 2003, Voto concordante dojuiz A. A. CAnçAdo trindAde no parecer n. 18,par. 44 e 46.

A. A. CAnçAdo trindAde, El Derecho9Internacional de los Derechos Humanos en el siglo XXI, editorialJurídica de Chile, 2001, pp. 416-429; A. A. CAnçAdotrindAde, El ejercicio de la función judicial internacional –Memorias de la Corte Interamericana de Derechos Humanos, Belo

389:PAULA WOJCIKIEWICZ ALMEIDA17

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

Horizonte, ed. del rey, 2011, pp. 73-83 e 127-132; A. A.CAnCAdo trindAde, Évolution du droit international audroit des gens – l’accès des individus à la justice internationale : leregard d’un juge, Paris, ed. Pedone, 2008, pp. 126-129.

Vide A. A. CAnçAdo trindAde, A10Humanização do Direito Internacional, op. cit., pp. 175-193.

Ibid, pp. 30-96; A. A. CAnçAdo trindAde,11O Direito Internacional em um mundo em transformação, riode Janeiro, ed. renovar, 2002, pp. 19-76.

Corte idH, Haitianos e Dominicanos de Origem12Haitiana na República Dominicana, Medidas Provisórias deProteção, 2000, Voto concordante do juiz A. A.CAnçAdo trindAde, par. 12; Corte idH, BámacaVelasquez versus Guatemala, 25 de novembro de 2000,explicação de Voto do juiz A. A. CAnçAdo trindAdena sentença sobre o mérito, par. 28 e 16.

Corte idH, Condição Jurídica e os Direitos dos13Migrantes Indocumentados, 2003, Voto concordante do juizA. A. CAnçAdo trindAde no parecer n. 18, pars.23-25 e 28-30.

Vide A. A. CAnçAdo trindAde, “Las14Cláusulas Pétreas de Protección internacional del SerHumano: el Acceso directo de los individuos a la Justiciaa nivel internacional y la intangibilidad de la Jurisdicciónobligatoria de los tribunales internacionales de derechosHumanos”, in El Sistema Interamericano de Protección de losDerechos Humanos en el Umbral del Siglo XXI – Memoria delSeminario (nov. 1999), vol. i, 2ª ed., San José de Costarica, Corte interamericana de derechos Humanos, 2003,pp. 3-68.

Vide Corte idH, Direito à Informação sobre a15Assistência Consular no âmbito das Garantias do DevidoProcesso Legal, 1999, Voto concordante do juiz A. A.CAnçAdo trindAde no parecer n. 16, par. 3-4.

Para mais detalhes, vide A. A. CAnçAdo16trindAde, A Humanização do Direito Internacional, op. cit.,pp. 129-156; A. A. CAnçAdo trindAde, El DerechoInternacional de los Derechos Humanos en el siglo XXI, op. cit.,pp. 319-376; A. A. CAnçAdo trindAde, El ejercicio dela función judicial internacional – Memorias de la CorteInteramericana de Derechos Humanos, op. cit., pp. 109-126; A.A. CAnCAdo trindAde, Évolution du droit internationalau droit des gens – l’accès des individus à la justiceinternationale : le regard d’un juge, op. cit., pp. 26-61; A. A.CAnçAdo trindAde, O Direito Internacional em ummundo em transformação, rio de Janeiro, ed. renovar, 2002,pp. 550-584.

A. A. CAnCAdo trindAde, Tratado de17Direito Internacional dos Direitos Humanos, tome iii, Porto

Alegre, Brésil, éd. S. A. Fabris, 2002, p. 524, § 187; A.A. CAnCAdo trindAde, Évolution du droit internationalau droit des gens - l’accès des individus à la justiceinternationale, le regard d’un juge, op. cit., p. 117; A. A.CAnCAdo trindAde, “el nuevo reglamento de laCorte interamericana de derechos Humanos (2000) ySu Proyección Hacia el Futuro: La emancipación del SerHumano como Sujeto del derecho internacional de losderechos Humanos”, 28 Curso de Derecho Internacional,Comitê Jurídico interamericano – oAS (2001), pp. 33-92; A. A. CAnçAdo trindAde, El Acceso Directodel Individuo a los Tribunales Internacionales de DerechosHumanos, Bilbao, Universidad de deusto, 2001, pp. 9-104; A. A. CAnçAdo trindAde, “Vers la consolidationde la capacité juridique internationale des pétitionnairesdans le système interaméricain des droits de lapersonne”, 14 Revue québécoise de Droit International,2001, n. 2, pp. 207-239; A. A. CAnçAdo trindAde,“A emancipação do Ser Humano como Sujeito dodireito internacional e os Limites da razão de estado”,in 6/7 Revista da Faculdade de Direito da Universidade doEstado do Rio de Janeiro (1998-1999), pp. 427-428 e 432-433; A. A. CAnçAdo trindAde, “el derecho dePetición individual ante la Jurisdicción internacional”,48 Revista de la Facultad de Derecho de México, UnAM,1998, pp. 131-151.

A. A. CAnçAdo trindAde, Tratado de18Direito Internacional dos Direitos Humanos, op. cit., pp. 523-524; A. A. CAnCAdo trindAde, Évolution du droitinternational au droit des gens – l’accès des individus à la justiceinternationale : le regard d’un juge, op. cit., pp. 116-119.

Segundo Cançado trindade, “without the19right of individual petition, and the consequent Accessto justice at international level, the rights set forth inhuman rights treaties would be reduced to a little morethan dead letter” (p. 237). Vide também Corte idH,Castillo Petruzzi e Outros versus Peru (objeçõesPreliminares), julgamento de 04.09.1998, série C, n.41, opinião concorrente do juiz A. A. CAnçAdotrindAde, p. 62, par. 35; A. A. CAnçAdotrindAde, A Humanização do Direito Internacional, op.cit., pp. 109-118.

Vide A. A. CAnçAdo trindAde,20“Complementarity between State responsibility andindividual responsibility for Grave Violations of Humanrights: the Crime of State revisited”, in InternationalResponsibility Today – Essays in Memory of O. Schachter (ed.M. ragazzi), Leiden, M. nijhoff, 2005, pp. 253-269.

A. A. CAnçAdo trindAde, A Humanização do21Direito Internacional, op. cit., pp. 281-352; A. A. CAnçAdotrindAde, El Derecho Internacional de los Derechos Humanosen el siglo XXI, op. cit., pp. 185-267; A. A. CAnçAdotrindAde, El ejercicio de la función judicial internacional –

RESENHA DA OBRA INTERNATIONAL LAW FOR HUMANKIND: TOWARDS A NEW JUS GENTIUM:390

REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO9(1) | P. 379-390 | JAN-JUN 2013

Memorias de la Corte Interamericana de Derechos Humanos, op.cit., pp. 185-196.

A. A. CAnçAdo trindAde, A Humanização22do Direito Internacional, op. cit., pp. 226-277; A. A. CAnçAdotrindAde, O Direito Internacional em um mundo emtransformação, op. cit., pp. 749-789.

Vide A. A. CAnçAdo trindAde, “the23relevance of international Adjudication revisited:reflections on the need and Quest for internationalCompulsory Jurisdiction”, in Towards World Constitutionalism– Issues in the Legal Ordering of the World Community (eds.r. St. J. Macdonald e d.M. Johnston), Leiden, nijhoff,2005, pp. 515-542.

Vide A. A. CAnçAdo trindAde, “the24Merits of Coordination of international Courts on Humanrights”, 2 Journal of International Criminal Justice, oxford,2004, pp. 309-312; A. A. CAnçAdo trindAde, “Laperspective transatlantique: La contribution de l’œuvredes Cours internationales des droits de l’homme audéveloppement du droit public international”, in LaConvention européenne des droits de l’homme à 50 ans – Bulletind’information sur les droits de l’homme, n. 50 (numérospécial), Strasbourg, Conseil de l’europe, 2000, pp. 8-9.

C.i.J., acórdão de 3 de fevereiro de 2012,25Immunités juridictionnelles de l’État (Allemagne c. Italie;Grèce (Intervenant)), opinião dissidente do juiz A. A.CAnçAdo trindAde, p. 3, par. 2.

C.i.J., acórdão de 3 de fevereiro de 2012,26Immunités juridictionnelles de l’État (Allemagne c. Italie;Grèce (Intervenant)), opinião dissidente do juiz A. A.CAnçAdo trindAde, p. 82, par. 289.

C.i.J., acórdão de 3 de fevereiro de 2012,27Immunités juridictionnelles de l’État (Allemagne c. Italie;Grèce (Intervenant)), opinião dissidente do juiz A. A.CAnçAdo trindAde, p. 84, par. 299.

Vide Corten (o.), “La thèse de la28déformalisation du droit international et ses limites  :l’exemple de la jurisprudence de la Cour internationalede Justice”, L’Observateur des Nations Unies, 2011-i, vol.30, pp. 75-98.

nesse sentido, afirma o juiz M. Bennouna que29“le monde du juriste n’est pas un monde aseptisé,comme le serait celui d’un pur mathématicien, opérantdans sa tour d’ivoire, il est en prise avec les réalitéssociales en amont et en aval de la norme”. Continuaafirmando que o papel da Corte internacional de Justiça“n’est pas seulement de développer une argumentationformelle mais de rendre la justice, en veillant à ce queses arrêts soient perçus comme tels” (BennoUnA(M.), “Le formalisme juridique: pour quoi faire  ? ”,L’Observateur des Nations Unies, 2011-i, vol. 30, pp. 8 e 9).

Vide igualmente CAnçAdo trindAde (A.30A.), Direito das Organizações Internacionais, 4ª edição, ed.del rey, Belo Horizonte, 2009, p. XXV.

Praia de Botafogo, n. 190, 13º andarBotafogo – 22250–040

Rio de Janeiro – RJ – Brasil

[email protected]

Paula Wojcikiewicz Almeida DOUTORA EM DIREITO INTERNACIONAL E EUROPEU PELA UNIVERSITÉ

DE PARIS 1 PANTHÉON-SORBONNE (SUMMA CUM LAUDE)

DOUTORA EM DIREITO INTERNACIONALE INTEGRAÇÃO ECONÔMICA PELA UERJ

MESTRE EM DIREITO PÚBLICO INTERNACIONALE EUROPEU PELA UNIVERSITÉ DE PARIS XI

PROFESSORA DE DIREITO INTERNACIONAL DA FGV DIREITO RIOE PESQUISADORA DO CENTRO DE JUSTIÇA E SOCIEDADE

DA FGV DIREITO RIO