Resenha Da Obra- Uma Questão de Princípio (Ronald Dworkin)

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Resenha da Obra: Uma Questo de Princpio (Ronald Dworkin)RIBEIRO, Ana Paula Brando.Resenha da Obra: Uma Questo de Princpio (Ronald Dworkin). Portal Jurdico Investidura, Florianpolis/SC, 18 Out. 2008. Disponvel em:investidura.com.br/biblioteca-juridica/resenhas/filosofiadodireito/1345. Acesso em: 08 Set. 2015Ana Paula Brando Ribeiro*A presente obra formada por seis partes. A primeira delas - O fundamento poltico do Direito (DWORKIN, 2005, p. 3) estuda o papel que as convices polticas devem desempenhar nas decises que os vrios funcionrios e cidados tomam sobre o que o Direito e quando ele deve ser imposto e obedecido.Alm disto, nesta mesma parte, o autor prope uma diferenciao entre os termos princpio e poltica.A parte dois - O Direito como interpretao (DWORKIN, 2005, p.175) sustenta a afirmao de que a anlise jurdica fundamentalmente interpretativa, e, ainda, a tese de que o direito se assemelha literatura, principalmente vista esta sobre a hiptese esttica.A terceira parte - Liberalismo e Justia (DWORKIN, 2005, p.269) volta-se para as questes de teoria poltica que se encontram no pano de fundo (leia-se, paradigma), explorando, desta forma, o presente estado da teoria liberal.A viso econmica do Direito, trabalhada na quarta parte da obra, (DWORKIN, 2005, p.351) prope, novamente, uma juno das teorias poltica e jurdica, enfatizando a necessidade de se efetivar o direito de cada pessoa, singularmente considerada.Por sua vez, as duas ltimas partes - A discriminao inversa (DWORKIN, 2005, p.437) e - A censura e a liberdade de imprensa (DWORKIN, 2005, p.497) buscam ilustrar ovalorprtico e a importncia da distino entre argumentos de princpio e de poltica.A presente exposio da obra no se far a partir de uma anlise isolada de cada uma de suas partes, tendo em vista que o seu entendimento se faz a partir de uma interpretao extensiva. Tal exposio ser feita de forma seqencial, concatenada, uma vez que partir das principais consideraes do autor, de suas principais conceituaes, para se chegar aosexemplos prticos colocados pelo mesmo.Dworkin inicia sua obra partindo de uma questo que h muito se discutiram a respeito e muito j se perguntaram, mas, sobre a qual nunca obtiveram uma resposta precisa: o que o Direito? Esta uma indagao que permeia os pensamentos dos mais clebres pensadores.Esta falta de resposta ou, como queira alguns, a pluralidade de respostas que se encontra para o termo, deve-se justamente ao fato de sua complexidade.O autor, nessa obra, prope um conceito para o termo que, aparentemente simplista em sua semntica, possui tamanha complexidade que somente se faz possvel entend-lo por meio dos casos concretos. Para o referido autor, Direito princpio.Partindo deste conceito, que somente obtido a partir da leitura de sua obra como um todo, faz-se mister estabelecer uma diferenciao entre dois termos que se encontram presentes em toda a sua obra, quais sejam: princpio e poltica.Princpios, na viso de Ronald Dworkin, seriam, de forma objetiva, os direitos individuais que cada um possui. Por sua vez, poltica o conjunto de metas utilizadas para se alcanarem estes princpios - leia-se direitos individuais. Estas metas somente sero consideradas vlidas desde que afirmativas destes direitos individuais. Desta forma, o direito pblico somente ser de todos se, e somente se, for de cada um.A partir destes conceitos, Dworkin, em seu capitulo trs, intitulado Princpio, Poltica e Processo (DWORKIN, 2005, p.105)expe a assertiva de que toda deciso, seja ela judicial ou no, ser necessariamente poltica. Tal afirmativa parte do pressuposto de que o juiz, assim como qualquer indivduo, formado por uma gama de pr-conceitos, de pr-compreenses, de vises de mundo, conforme Gadamer j lecionava. Desta forma, no existe deciso neutra, mas antes, deciso imparcial. Sendo assim, o juiz, ao proferir uma sentena e, consequentemente, optar por uma das partes, realiza uma tarefa poltica. Ou seja, querendo ou no, deve ele se posicionar e fundamentar sua deciso; deciso esta que, alm de pertencer a uma lgica binria do certo ou errado, do sim ou do no, , conforme dito, formada por toda uma bagagem de pr-conceitos, prpria de toda pessoa.Posteriormente a esta colocao, Dworkin expe a possibilidade da desobedincia civil (DWORKIN, 2005, p.153) como instituto democrtico. Em sua exposio, o autor utiliza-se de exemplos, por meio dos quais ele procura demonstrar que desobedincia civildifere-se de atividade criminosa. Sendo assim, ele deixa claro que o fato de que uma pessoa, individualmente considerada, no concordar com determina deciso judicial no se trata de atividade ilcita. Da mesma forma, o fato de que esta mesma pessoa considere injusto o valor dos impostos cobrados pelo Estado no configura crime. Tudo isso possvelem um Estado Democrticode Direito que leve em conta os princpios, ou seja, que busca preservar o direito individual de cada um e que disponha de meios para v-los efetivar. O que a coisa certa para as pessoas que acreditam que uma deciso poltica errada ou imoral? Estas e outras perguntas so lanadas por Dworkin como forma de propor reflexes acerca do tema.Seqencialmente, o autor, na segunda parte de sua obra - O Direito como interpretao (DWORKIN, 2005, p.175) deixa claro que o Direito, ou melhor, o conceito deste instituto jurdico deste ser visto como um conceito interpretativo, numa concepo de integridade. A partir desta viso de integridade, que ser mais detalhada adiante, Dworkin expe uma questo: No existe mesmo nenhuma resposta certa em casos controversos? ou quando no existe nenhuma resposta certa para uma questo de Direito? (DWORKIN, 2005, p.175). Antecipando o pensamento do autor, faz-se necessrio deixar claro que existe sim uma resposta certa para uma questo de Direito. E, consequentemente, existe tambm uma resposta errada. Entretanto, esta resposta certa ou errada no nica. Ela varia conforme cada caso concreto. Da mesma forma, no existe necessariamente um caso fcil ou um caso difcil, mas antes, existe um caso concreto. Dependendo da maneira como ele colocado, um caso fcil pode vir a se tornar um caso difcil, assim como um caso difcil pode vir a se tornar um caso fcil. Portanto, no existe uma diferenciao rgida entre caso fcil e caso difcil, bem como entre regras e princpios, uma vez que tal diferenciao somente se faz possvel dentro de um contexto especfico. A idia de que algumas questes jurdicas no tm nenhuma resposta certa, porque a linguagem jurdica s vezes imprecisa (DWORKIN, 2005, p.188), resultada razo dos juristas discordarem quanto s tcnicas de interpretao e justificao usadas para responder tais questes. Ou seja, a resposta certa ou errada somente obtida a partir da anlise do contexto especfico.Neste sentido, Dworkin expe que o Direito se assemelha literatura (DWORKIN, 2005, p.217). Ele diz que esta semelhana ocorre quando h uma interpretao flexvel do Direito. Ou seja, ele se assemelha na medida em que esteja pronto a reformular solues que no se adequam mais quele paradigma. Nesta parte, pode-se lembrar das colocaes de Gadamer, quando o mesmo diz que o sentido atual do texto deve ser contextualizado a partir da histria, no como mera repetio do passado, mas no sentido de atualizao do texto jurdico, enquanto fuso de horizontes de sentido entre o texto originrio e o interprete atual (DWORKIN, 2005, p.219).Alm disso, assim como a hiptese esttica da literatura, que objetiva, atravs da leitura e interpretao encontrar no texto aquilo que de melhor ele lhe oferece, alm de se mostrar como a melhor obra de arte que este mesmo pode ser, deve o intrprete do Direito, igualmente, buscar em cada disposio jurdica aquilo que de melhor ela pode oferecer a um caso concreto (DWORKIN, 2005, p.221).Vivemos em uma sociedade plural, demasiadamente complexa, ou seja, uma sociedade colcha de retalhos. Nesta sociedade, no h como se criar um livro de regras que abarque todas as situaes pelas quais a sociedade venha a passar. Desta forma, faz-se mister um Estado Democrtico de Direito centrado nos direitos individuais. Por saber o juiz que o livro de regras pobre demais, simplista e insuficiente demais para uma sociedade plural como a nossa, deve este juiz ultrapassar o legalismo. Entretanto, para que isto ocorra, no pode este mesmo juiz INVENTAR o Direito, mas antes, flexibilizar ou adaptar o Direito. Segundo o autor, isto no se trata de INVENO e sim de DESCOBERTA. Descoberta aqui entendida como aplicar o melhor direito para o casoem concreto. Nestevis, quando se fala em poder discricionrio do juiz, no se fala em inveno, tendo em vista que a deciso deste encontra-se envolta pelos princpios, entendidos estes como direitos individuais das partes envolvidas.E quais princpios seriam esses?Dworkin no fala em hierarquia entre princpios, mas considera que existem dois dentre eles que representam o cerne do ordenamento jurdico e, por meio dos quais se desencadeiam todos os demais. So eles: a igualdade e a liberdade. Tais princpios sero mais bem compreendidos a partir da colocao do pensamento de Dworkin, na parte trs Liberalismo e Justia da presente obra, que segue abaixo.Na parte trs de seu livro Liberalismo e Justia Dworkin lana a idia do que venha a ser o liberalismo. Para o referido autor, de forma objetiva, liberalismo seria considerar a todos como iguais (DWORKIN, 2005, p.281).Tal concluso parte da idia de princpios, exposta do incio da obra. Isto porque, segundo o mesmo, todos os direitos individuais devem ser considerados; desta forma, para que exista igualdade, necessrio se faz tratar a cada pessoa, individualmente considerada, com igual considerao e respeito. Somente desta forma ser possvel obter a liberdade. Assim sendo, igualdade a sombra da liberdade ou, no h que se falar em liberdade sem que os direitos individuais de cada pessoa sejam respeitados.Dworkin critica a viso simplista de igualdade tratar a todos como iguais bem como a viso complexa do mesmo instituto tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida em que se desigualam (DWORKIN, 2005, p.320). A primeira idia de igualdade simplista demais par a sociedade plural na qual vivemos. J a segunda, ela falha em um aspecto: qual o critrio diferenciador ou medidor de igualdade ou desigualdade? Tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida em que se desigualam algo indeterminado, raso demais, para no dizer abstrato (DWORKIN, 2005, p.324).Em face disto, Dworkin prope a idia de que igualdade significa tratar a todos de forma igual, e no igualmente, como dizem alguns. Como exposto, tratar igualmente ou desigualmente algo muito vago, muito indeterminado. Ao passo que tratar de forma igual, percebe-se que esta igualdade refere-se a cada pessoa, individualmente considerada (DWORKIN, 2005, p 327).Em seu captulo 11 (DWORKIN, 2005, p.329) Um Estado Liberal deve patrocinar a arte? o autor deixa claro que no se pode impor critrio de vida boa `as pessoas. Se todas so iguais e, portanto, se todas so livres, cabe a cada uma, a partir de sua viso de mundo, de seus prprios pr-conceitos escolherem aquilo que de melhor lhes compete. Pode o Estado ditar qual o gosto artstico de uma pessoa? Pode uma autoridade dizer que a exposio do quadro Aristteles contemplando Homero mais importante que seassistira umapartidadefutebol? (DWORKIN 2005, p.331). A resposta clara: no. Se igualdade considerar cada um de forma igual e, por conseqncia, possuir cada um a sua liberdade, a escolha de arte ou de vida boa compete nica e exclusivamente a cada pessoa em particular.Partindo da assertiva acima que o autor critica a viso econmica do Direito, em seus captulos 12 e 13.A riqueza no pode ser considerada um valorem si. Muitopelo contrrio,a questo da maximizao da riqueza ou, ainda, a questo da viso utilitarista do Direito, para Dworkin, , sem sobra de dvidas, um atentado ao prprio Estado Democrtico de Direito. No se trata de um problema de ganho. Trata-se de respeito aos direitos individuais. Assim sendo, a idia do maior bem ao maior nmero de pessoas trata-se de algo descabido, frente ao paradigma do Estado Democrtico de Direito. No se pode, por exemplo, ponderar a igualdade e a liberdade para preservar a segurana nacional. Estes dois princpios so inegociveis e, portanto, no aceitam relativizao. O Judicirio, por exemplo, visto sobre estas perspectiva, no deve realizar suas atividades com base no interesse coletivo. Uma deciso judicial no tem por fim satisfazer a maioria, mas antes, garantir os direitos individuais de cada um, ou seja, deve tratar as partes com igual considerao e respeito buscando uma soluo justa para aquele caso, e no para uma coletividade.Da, Dworkin ter falado em esferas de justia e ter, por conseguinte, colocado fim idia de que exista um conceito positivo de justia. Como se percebe, tal conceituao deve ser feita a partir da anlise de cada caso concreto, obedecidos os princpios da igualdade e liberdade, que corroboram a democracia.Mas, o que vem a ser a democracia? Deciso da maioria?Governo do povo?Para o autor, democracia definitivamente no significa deciso ou vontade da maioria. No se pode considerar tal instituto como sendo a deciso da maioria porque, conforme exposto, se assim fosse no se estaria preservando os direitos individuais de cada um. Ou seja, no se estaria tratando a todos de forma igual e, por conseguinte, estar-se-ia tolhendo a liberdade de cada indivduo. Portanto, sem igualdade e sem liberdade, no h que se falar em democracia ouem Estado Democrticode Direito. Mas, por outro lado, democracia significa sim governo do povo. Tal expresso realmente ampla, mas Dworkin, em sua obra, busca demonstrar que ela se efetiva a partir do momento em que todos os cidados, individualmente considerados, se vem naquele projeto poltico como parceiros e co-responsveis pelo sucesso do mesmo.Na parte cinco de sua obra (DWORKIN, 2005, p.437) A discriminao inversa -, Dworkin lana mo de alguns exemplos para demonstrar que a questo de se destinar, por exemplo, um nmero de vagas aos negros nas faculdades no se trata de aumentar ainda mais a discriminao desta classe. Procura-se, outrossim, pr fim a todo um estigma que acompanha estas pessoas desde a poca da escravido. Estas aes de forca tarefa, como so chamadas pelo autor (DWORKIN, 2005, p.437), tratam-se de uma convenincia social que buscam promover uma conscincia na sociedade e ao prprio negro. Da, dizer que toda poltica de ao afirmativa deve ser passageira. O que justifica, ento, o fato de um branco que, a princpio nada tem a ver com este problema, ter que, de certa forma, perder um direito individual? Dworkin diz que isto se trata de um problema nacional e somente desta forma que se poder tratar a todos como iguais, na medida em que se est buscando preservar o direito de cada um e no, necessariamente, da classe negra ou da classe branca da sociedade.Por fim, na parte seis de sua obra (DWORKIN, 2005, p.495) A censura e a liberdade de imprensa -, Dworkin deixa claro, logo de incio, que um problema da teoria liberal determinar at que ponto as pessoas devem ter o direito de fazer algo errado. Dworkin diz que, sendo um indivduo considerado igual s outras pessoas, na medida em que possui seus direitos individuais, consequentemente este mesmo indivduo livre o bastante para expor, por exemplo, sua forma de pensar acerca das decises judiciais, da poltica vigente ou sobre qualquer outro assunto (DWORKIN, 2005, p.498). Assim sendo, a priori pode-se fazer tudo. Entretanto, a partir do momento em que este pensamento colocado na arena pblica, em que ele passa pelo espao pblico, ou seja, em um momento a posteriori que se poder dizer que determinado posicionamento fere algum indivduo ou no. Sendo tal resposta afirmativa, percebe-se que disto resultaria em uma afronta ou atentado ao princpio da igualdade, uma vez que no se estaria tratando a todos com igual considerao e respeito. Uma vez ofendido este princpio, igualmente estar o princpio da liberdade. E, sendo os dois o cerne do ordenamento jurdico e, por sua vez, sendo estes os desencadeadores dos demais princpios, no h que se falar em democracia e, muito menos,em Estado Democrticode Direito (DWORKIN, 2005, p.534).Portanto, a partir da obra Uma Questo de Princpio, pode-se concluir que, para Dworkin, se existe um conceito para o instituto Direito, esse deve ser entendido como um conceito interpretativo numa concepo de integridade ou, para resumir, o Direito princpio. Assim sendo, ele deve analisado com base em cada caso concreto. Para ele, normas e princpios, casos fceis e casos difceis no possuem uma diferenciao rgida. Tudo depende do contexto. Mais ainda: expe o referido autor que no existe ponderao entre princpios[1]. Isto porque Dworkin trabalha o Direito como integridade, conforme j exposto. Por fim, ele deixa claro que este Direito, enquanto princpio, somente se realizar de forma efetiva a partir do momento em que o intrprete leia-se aqui, aplicador do Direito fornecer uma deciso pautada pela anlise daquele caso concreto, de maneira tal que todos os indivduos formadores daquela lide sejam tratados com igual considerao e respeito.REFERNCIA BIBLIOGRFICA:DWORKIN, Ronald.Uma Questo de Princpio. Trad. Luis Carlos Borges. 2 ed. So Paulo: Martins Fontes, 2005