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Resenha do livro Violência Urbana

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Page 1: Resenha do livro Violência Urbana

RESENHA

Violência Urbana, de Paulo Sérgio Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida.

Coleção “Folha Explica”. São Paulo: Publifolha, 2003.

O livro “Violência Urbana”, com 96 páginas, foi lançado pela Publifolha em

2003 como parte da coleção “Folha Explica” que oferece obras breves sobre várias

áreas do conhecimento, em linguagem acessível, resumindo assuntos considerados

importantes na atualidade brasileira.

Paulo Sérgio Pinheiro (fundador do Núcleo de Estudos da Violência da

Universidade de São Paulo - NEV-USP) com Sérgio Adorno, em 1987) e Guilherme

Assis de Almeida, pesquisador do mesmo Núcleo, descrevem as definições de

“violência” (capítulo 1. “O que é a violência”), situam esse mesmo fenômeno no

contexto urbano, focando as grandes cidades brasileiras (capítulo 2. “Violência

urbana e brasileira”) e, por fim, apresentam estratégias e iniciativas voltadas a conter

ou minimizar os efeitos da violência urbana em um país que já concentra mais de

80% de sua população em cidades (capítulo 3. “Perspectivas de superação”).

Partindo da definição ampla de violência compartilhada pela Organização

Mundial da Saúde (OMS), que associa a intencionalidade ao uso ilegítimo de força

para causar qualquer tipo de dano, analisam o fenômeno como um problema

mundial, porém manifesto no Brasil de forma mais intensa em razão das

desigualdades que o processo recente de democratização do país não conseguiu

superar.

Indicam a existência de uma violência característica nas cidades brasileiras,

especialmente nas metrópoles, potencializada pelas circunstâncias definidas como

“legado do autoritarismo” que inclui deficiências no aparato policial (violência policial

e corrupção), no Poder Judiciário (ineficiência), na legislação (imobilismo da classe

política) e na incapacidade, de forma geral, dos governos alcançarem soluções, por

omissão ou conivência em face do problema.

Sustentam seus argumentos nos índices considerados elevados e

“epidêmicos” da criminalidade em comparação com outros países, especialmente os

homicídios – não obstante basearem-se em dados de 2002 (do Mapa da Violência

III, de Jacobo Waiselfisz). Os dados utilizados já se encontram desatualizados por

mais recentes estudos, dentre eles o próprio Mapa da Violência 2012 – “Os novos

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padrões da violência homicida no Brasil” também de Jacobo Waiselfisz; segundo

esse estudo mais recente, o estado de São Paulo, por exemplo, apresentou níveis

de homicídio abaixo de 10 por 100.000 habitantes ao ano.

Não obstante essa desatualização em uma área extremamente dinâmica

como o é a segurança pública e a sua percepção pela sociedade, fato é que o país

vem passando por transformações econômicas e sociais importantes no início do

século que refletem nos indicadores criminais e na sensação de segurança de um

modo geral. Mas, os autores estão corretos na conclusão de que o crescimento

econômico não se refletirá em menos manifestações de violência, caso a distribuição

de renda e de oportunidades continue produzindo as desigualdades e injustiças tão

bem descritas na obra, comprovadas por dados oficiais particularmente da fonte

IBGE.

Nesse mesmo prisma, ponto interessante da análise do quadro brasileiro da

violência urbana demonstrada é a identificação das vítimas preferenciais que são os

pobres (p. 45) e, no caso dos homicídios em particular, os jovens de 15 a 24 anos,

faixa etária em que também se encontra a maior parte dos autores de delitos.

Confirma-se uma relação econômica clara no aspecto da incidência que prejudica os

menos favorecidos, não obstante os estudos indicarem que o crime é um fato social,

na mesma concepção de Durkheim (“Nenhum fator isolado pode explicar por que

alguns indivíduos se comportam com violência em relação a outros e por que a

violência prevalece em algumas comunidades e não em outras”). Enfim, quem mais

sofre com a violência e a criminalidade, de um modo geral, são os pobres.

Quanto às perspectivas de superação, preconizam os autores um

envolvimento maior dos cidadãos pela participação na busca de soluções, o que

significa o fortalecimento da sociedade civil e da democracia em última instância

com o exercício pleno da cidadania. Algumas iniciativas bem sucedidas nessa

direção indicam que a violência não é apenas questão de Polícia ou da Justiça

Criminal, mas de interesse e de responsabilidade de toda a sociedade. Para tanto,

também serão necessárias inovações legislativas que produzam condições

favoráveis para uma prevenção eficaz à violência nas suas diversas formas de

manifestação.

A sustentação de uma “cultura de paz” refletida na não-violência nas relações

humanas consiste em um plano ideal defendido num grande movimento

internacional contemporâneo identificado na obra. As respostas para as demanda de

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uma sociedade de concentração urbana passariam pela ação cidadã de cada

indivíduo associada a uma intervenção ágil e eficiente dos governos, especialmente

na área da segurança pública. Este é o grande desafio da atualidade para o país.

Adilson Luís Franco Nassaro

01.05.2012