Resenha - RAZOES PRÁTICAS - Capítulo I - Espaço Social e Espaço Simbólico

  • Upload
    roddox

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/24/2019 Resenha - RAZOES PRTICAS - Captulo I - Espao Social e Espao Simblico

    1/2

    RESENHA

    RAZOES PRTICAS: SOBRE A TEORIA DA AO

    CAPTULO I: ESPAO SOCIAL E ESPAO SIMBLICO

    (PIERRE BOURDIEU)

    Neste captulo, Bourdieu apresenta as noes de espao social e espao simblico

    como modelos tericos, sempre sujeitos aos exames - tericos e empricos - de uma pesquisa

    que mobilize diferentes mtodos que, tradicionalmente, so tidos como opostos - oposies

    estas que, para ele, so desprovidas de sentido - e, principalmente, historicamente situada e

    datada. Segundo ele, somente com a imerso em uma particularidade de uma realidade

    emprica que se pode apreender a lgica mais profunda do mundo social[...] para constru-

    lo [...] como uma figura em um universo de configuraes possveis (2008, p. 15).

    Bourdieu apresenta o espao social como sendo o local (virtual terico) onde se

    organizam e se relacionam as diferenciaes dispostas topologicamente de acordo com as

    posies sociais - conceito que no existe de forma absoluta, ou seja, s pode ser tomado

    quando levado em conta o universo relacional -, as disposies (ou habitus) - homologia de

    atividades ou bens que no podem ser atribudos a este ou quele grupo determinado seno

    em um dado recorte espacial e temporal bem comoem uma dada situao de ofertade bens e

    prticas possveis (2008, p. 18) - e as tomadas de posies(escolhas).

    A noo de espao est intrinsecamente ligada ideia de diferenciao, e a

    distribuio dos indivduos ou grupos dentro do espao social se d de acordo com a

    incorporao dos agentes de dois capitais fundamentais, a saber, o capital econmico e o

    capital cultural, que so, por sua vez, princpios de diferenciao. A proximidade entre os

    agentes no espao social est assim ligada posse equivalente destes dois capitais. Por sua

    vez, quanto maior a disparidade entre estes dois capitais, maior a distncia social entre

    agentes.

    Ao estabelecer uma relao entre a posse destes capitais e as prticas efetivas,

    Bourdieu aponta para o fato de que a cada classe de posies corresponde uma classe de

    habitus (2008, p.21) que intermediam a relao entre posio e ao, posto que a

    predisposio a decises de mesmo tipo so condicionadas pela posio ocupada no espaosocial. Nas palavras de Bourdieu, o habitus esse princpio gerador e unificador que

  • 7/24/2019 Resenha - RAZOES PRTICAS - Captulo I - Espao Social e Espao Simblico

    2/2

    retraduz as caractersticas intrnsecas e relacionais de uma posio em um estilo de vida

    unvoco, isto em um conjunto unvoco de escolhas de pessoas, de bens, de prticas (2008,

    p.22).

    Sendo o habitus um princpio diferenciado e diferenciador de prticas, princpio

    gerador de prticas distintas e distintivas, ele estabelece os fundamentos das distines das

    prticas sociais, sistemas categoriais condicionantes - no determinante - do modo de pensar,

    perceber e apreciar, portanto esquemas de classificao e diviso. O habitus, associado a

    diferentes posies e prticas sociais, funciona, assim, como signos distintivos, diferenas

    constitutivas de sistemas simblicos. Contudo, essa diferena s se torna signo distintivo

    quando produto da incorporao da estrutura de diferenas objetivas (2008, p.23)

    homlogas entre os pertencentes de uma mesma classe e percebida por algum capaz de

    estabelecer a diferena.

    Todavia, faz-se mister salientar que o indivduo no um epifenmeno dos

    condicionantes sociais que adota de maneira servil o papel social a ele delegado devido

    posio especfica que este ocupe dentro do espao social. O que h, so atores racionais

    realizando prticas que reproduzem ou transformam as estruturas sociais, racionalidade esta

    que no seno a operao prtica do habitus.

    Para Bourdieu, a construo do espao social possibilita a arquitetao de classes

    tericas relativamente homogneas da perspectiva dos dois principais determinantes das

    prticas - capital econmico e cultural- e das propriedades da decorrentes. As classes, assim

    concebidas - como classes potenciais, inexistentes na realidade objetiva -, existem como algo

    a se fazer- no como um dado - em um espao social que espao de diferenas.

    Em suma, para Bourdieu, o que existe um espao social que engloba o indivduo

    como um ponto que no seno um ponto de vista. Perspectiva esta, adotada a partir da

    posio assumida na estrutura de distribuio de diferentes tipos de capitais (o espao social)

    que comanda as representaes desse espao e as tomadas de posio. Realidade primeira e

    ltima j que o espao social comanda ate as representaes que os agentes sociais podem ter

    dele (2008, p.27).