Resenha Ronald Dworkin

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  • 7/30/2019 Resenha Ronald Dworkin

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    Breve dados biogrficos sobre

    Ronald Dworkin Ronald Dworkin (nasceu nos Estados Unidos em 11 de

    dezembro de 1931) foi um filsofo do Direito norte-americano. Foi professor de Teoria Geral do Direito na

    University College London e na New York UniversitySchool of Law. Ele conhecido por suas contribuiespara a Filosofia do Direito e Filosofia Poltica. Sua teoriado direito como integridade uma das principais visescontemporneas sobre a natureza do direito. Faleceuem 14 de fevereiro de 2013.

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    A JUDICIALIZAO DA POLTICA: RONALD

    DWORKIN Nos moldes de uma concepo jurdico-formalista, os

    Poderes Executivo e Legislativo sobrepem-se aoJudicirio na formao de polticas publicas e na prpria

    conduo do Estado, no cabendo ao Judicirio aparticipao - legitima e democrtica em decisespublicas. Entretanto, dada a complexidade do mundocontemporneo, exige-se um Judicirio maisparticipativo, capaz de decidir conflitos de diversasmatizes que surgem em sociedade. Em face dessarealidade, alteram-se as funes clssicas dos juizes,que se tornam tambm responsveis pelas polticas deoutros poderes estatais, passando a orientar as suasatuaes de forma a assegurar a integridade daConstituio e dos direitos dos cidados nas

    democracias contemporneas.

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    Conceito de Judicializao da poltica expanso dos poderes do Judicirio sobre aspolticas legislativas ou executivas do Estado,que s tem lugar porque o sistema democrticopermite tal atuao sobre os atos dos outrospoderes, da-se o nome de judicializao dapoltica. O fundamento da judicializaao dapoltica reside, assim, no primado da

    supremacia da Constituio. Destarte, oJudicirio, quando atua no mbito poltico, no

    invade a esfera de outros poderes, mas apenasgarante a respeitabilidade a Constituio.

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    Proposta: resguardar os princpios e

    as instituies democrticas Essa supremacia se justifica pela necessidade

    de preservar certos ncleos de direitos, comoos direitos fundamentais dos cidados,confiando sua guarda as cortesconstitucionais. Com um papel maisparticipativo, o Judicirio passa no a criar lei,funo essa exercida pelo Poder Legislativo,

    mas, ao contrrio, passa a resguardar osprincpios e as instituies democrticas.

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    Incumbncia do Judicirio Assim, a judicializaao da poltica como

    fenmeno social nas sociedadescontemporneas passa a introduzir uma novacaracterizao para os conflitos sociais namedida em que transfere para o Judicirio aincumbncia de resolver conflitos antesadstritos aos poderes institucional e

    democraticamente constitudos para tanto.Essa releitura de atuao dos poderes doEstado traz a lume uma serie de discussesacerca do papel do Judicirio ante as

    democracias contemporneas.

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    ABORDAGEM DE DWORKINACERCA DA JUDICIALIZAO DA

    POLTICA Representante de uma democracia liberal

    contempladora da autonomia privada, Dworkin conferesupremacia aos direitos fundamentais frente a

    soberania popular. Para Dworkin, os direitosfundamentais devem restringir a soberania do povo afim de se resguardar os direitos e as liberdadesindividuais. Isso porque nem sempre uma lei pautadana vontade de uma suposta maioria ser uma lei justa;nem sempre essa lei contemplara os direitos individuaise o direito a igual respeito e considerao - critica ademocracia majoritria e a autodeterminao do povoque podem conduzir a prpria degradao de seusdireitos. Democracia no , para Dworkin, a simplesobedincia a regra de maioria.

  • 7/30/2019 Resenha Ronald Dworkin

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    Teses do liberalismo Duas so as teses primordiais do

    liberalismo enquanto filosofia poltica

    normativa: 1) "Estado deve proteger umconjunto de direitos fundamentais doscidados"; 2) o "Estado deve ser neutrono que se refere as condies de boa

    vida a que o cidados devotem lealdadee que se empenhem em realizar." VITA,Alvaro de. Justia Liberal. Sao Paulo:Paz e Terra, 1993, p. 12.

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    Liberalismo progressista Ronald Dworkin representante de um

    liberalismo progressista. Para ele, a garantia dos

    direitos individuais a funo mais importante dosistema jurdico. Mas o seu liberalismo no dotipo conservador. A sua crtica ao positivismo

    jurdico - que a manifestao por excelncia dateoria jurdica liberal tradicional - e a crtica aoutilitarismo - que at hoje tem sido uma dasmanifestaes da filosofia poltica liberal - oconduzem a um liberalismo progressista pautadoem fundamentao igualitria, i.e., liberalismo

    igualitrio.

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    Liberais versus conservadores,

    segundo Dworkin Ressalte-se que Dworkin afasta a distino usual entre

    Liberais x conservadores. Segundo ele, comum distinguiros juizes entre os que obedecem a constituio(conservadores) e os que tentam reform-la segundo suasprprias convices (liberais). Assim formulada, essa distinocarece tanto de fundamento, uma vez que nega a naturezainterpretativa do Direito, como de utilidade. Prope reformul-la pela subdiviso dos compartimentos: 1) quanto interpretao, em juizes conservadores, que buscamfidelidade as intenes dos fundadores ou dos juizes datradio da suprema corte e liberais, que no buscam talfidelidade; 2) quanto s convices polticas assumidaspelos juizes, em juizes conservadores e liberais. Mesmo assim,e possvel que algum juiz no seja completamenteclassificvel em tais compartimentos. DWORKIN, Ronald. O

    imprio do Direito.Traduo de Jefferson Luiz Camargo. SoPaulo: Martins Fontes, 1999, pp. 429-430.

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    Concepes de Dworkin sobre os

    paradigmas liberais Numa democracia constitucional concebida em

    paradigmas liberais, deve-se, sobretudo, assegurar agarantia aos direitos fundamentais dos cidados,atribuindo-se respeitabilidade Constituio e adinmica de direitos nela materializada. A Constituio,documento no qual se declaram os direitosfundamentais dos cidados que se impem ante osprocessos majoritrios de formao da vontade poltica,tem como escopo primordial proteger os direitos eliberdades individuais que asseguram a autonomiamoral dos indivduos -validade das normas e princpiosconstitucionais. Isso significa que os direitosconstitucionalmente assegurados devem serinterpretados como comandos impositivos, e no comosimples valores que, em algumas hipteses especificas,

    tem preferncia em relao aos demais.

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    Papel da Constituio, segundo

    Dworkin A Constituio resguarda certos direitos fundamentais,

    da mesma forma em que impede interfernciasindevidas - fruto de eventuais procedimentosmajoritrios de formao da vontade poltica - nessembito de proteo constitucional. Dessa forma,nenhuma diretriz poltica, nem objetivo social coletivo,pode sobrepor-se a um autentico direito individual -direito esse no apenas jurdico, mas tambm moral. Osdireitos individuais adquirem, pois, relevncia frente aosdireitos coletivos. Dworkin, ao conferir esse sentido devalidade aos princpios jurdicos, critica a funodiscricionria dos juizes defendida pelos positivistas,uma vez que ela no resguarda, de forma tima, orespeito aos direitos fundamentais. Enuncia, portanto, atese da resposta correta ao direito, mesmo nos casos

    difceis - propugna que o sistema jurdico tenha umafuno garantidora de direitos.

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    Dworkin antiutilitarista A teoria de Dworkin antiutilitarista e

    individualista. Na base das teorias utilitaristasse encontram fins coletivos aos quais devem

    ser subordinados os direitos individuais.Dworkin recusa o utilitarismo porque este noleva os direitos individuais a serio. Sustentaque os objetivos sociais apenas so legtimosse respeitam os direitos dos individuos. Uma

    verdadeira teoria do direito deve darprioridade aos direitos individuais frente aosobjetivos sociais. Segundo Dworkin, a justia uma questo de direito individual, no,isoladamente, uma questo de bem

    publico".DWORKIN, O Imperio do Direito, p. 39.

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    Direito como integridade Caso se admita a discricionariedade judicial,

    ento os direitos individuais ficamdesprotegidos merc dos juzes. Sendo

    assim, para a garantia dos direitos individuais,Dworkin defende, contrariamente aopositivismo, que ante o caso difcil seabandone o problema irracionalidade e aosentimento subjetivo do juiz. Para que o juiz

    chegue racionalidade bem elaborada (respostacerta), ter que construir um raciocnio jurdicocaracterizado por um exerccio deinterpretao construtiva.A esse procedimentoconstrutivo ( de interpretao) Dworkin d o

    nome de direito como integridade.

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    A argumentao jurdica, segundo

    Dworkin A critica do pressuposto da distino rgida entre direito e a moral

    um dos focos da critica de Dworkin ao positivismo. Segundo ele, odireito no se resume a um conjunto de normas, mas incorporaprincpios decorrentes da moralidade poltica. A argumentao jurdica

    invoca e utiliza princpios que os tribunais desenvolvem medianteprocesso de argumentao e de criao de precedentes. Estesprincpios so especificamente morais. Como conseqncia, aargumentao jurdica depende da argumentao moral no sentido deque os princpios morais tem um importante papel na argumentao

    jurdica. Assim, defende que a tese central do positivismo - separaoentre direito e moral - falsa. Por essa tese, h autores que

    interpretam sua obra como uma nova verso do Jusnaturalismo. MasDworkin recusa o modelo de argumentao tpico do naturalismo,porque no cr na existncia de um direito natural que sejaconstitudo por um conjunto de princpios unitrios, universais eimutveis. Parte do pressuposto de que a argumentao moral secaracteriza pela construo de um conjunto consistente de princpios.

  • 7/30/2019 Resenha Ronald Dworkin

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    O objetivo do direito almejar a

    integridade A luz desse procedimento, o Direito deve almejar a

    integridade, de modo a se formar um Estado ou umacomunidade que no seja regida apenas por regras,

    mas tambm por princpios que so exigncias damoralidade poltica. Atravs do Direito comointegridade, chega-se, dessa forma, a umainterpretao a ser aplicada ao caso concreto. Noaceitar a possibilidade de se chegar a umainterpretao correta do Direito significa a negao desua fora normativa, abrindo-se espao a divisionismose arbitrariedades, incompatveis com a preservao erespeito aos direitos fundamentais contemplados pelosideais democrticos.

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    O Papel dos Juzes, segundo Dworkin Dworkin e enftico, em suas abordagens sobre o tema,

    em recusar que o Poder Judicirio exera um papelpassivo nas democracias contemporneas. Ao contrario.

    Adota posio progressista ao conceb-lo como umpoder estratgico capaz de afirmar e proteger osprincpios democrticos. Segundo Dworkin, os juizesdesempenham atividade substancialmente diversa atividade desenvolvida pelos membros do PoderLegislativo, uma vez que estes foram eleitos paraconcretizar polticas publicas ditadas pela comunidade;pautam as suas atividades por princpios de poltica. Os

    juizes, ao contrario, so guiados, mesmo nos casosdifceis, por argumentos de princpios, no de poltica.

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    Sobre as decises judiciais Dworkin, analisando a importncia das decises judiciais - em

    comparao as decises legislativas - a construo do idealdemocrtico, aduz que no ha razo para se pensar que a

    transferncia de decises sobre direitos, das legislaturas paraos tribunais, prejudicar o ideal democrtico da igualdade depoder poltico. Segundo ele, os legisladores no estoinstitucionalmente em melhor posio do que os juzes paradecidir questes sobre direitos. Ao contrrio, podem os juizesser o elemento propulsor desse ideal. Para o autor, carecem

    argumentos para demonstrar que decises legislativas sobredireitos tenham mais probabilidade de serem corretas do quedecises judiciais. Afirma que a tcnica de examinar umareivindicao de direito no que diz respeito coernciaespeculativa muito mais desenvolvida em juizes do que emlegisladores.

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    0 instituto da reviso judicial O fundamento do processo de judicializao da poltica

    reside no prprio modelo de Constituio concebido porDworkin - Constituio como integridade -, que garantea indisponibilidade dos direitos e das liberdades

    fundamentais. Para a garantia dessa indisponibilidade,torna-se necessria uma alterao das funes originaisdo Poder Judicirio, que passa a examinar e decidir se oexerccio do poder de legislar esta, de fato, conduzindoao respeito aos direitos fundamentais. Em nome daintegridade da Constituio e dos direitos nasdemocracias contemporneas admite-se, assim, oinstituto da reviso judicial (judicial review), queautoriza os tribunais a declarar a inconstitucionalidadedas normas - advindas de processos polticosdeliberativos - que sejam incompatveis com os

    princpios contemplados na Constituio.

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    ConclusoNo cabe ao Judicirio a imposio de direitos sociais, mas apenas agarantia de direitos fundamentais individuais. E, para a sua proteo,atuar ate mesmo no sentido de evitar que a implementao de diretrizespolticas e/ou objetivos sociais coletivos sobreponham-se a sua

    integridade - em muitas ocasies verifica-se o processo de judicializaoda poltica para a garantia a respeitabilidade desses direitos, que do oprprio contedo a democracia. O redimensionamento do papel do

    Judicirio - que propicia a atuao das cortes em questeseminentemente polticas - no corresponde, assim, a um fenmenoestranho a tradio democrtica. Ao contrario. Corresponde a prpriapreservao de uma democracia que esteja em consonncia com a

    garantia e respeito aos direitos individuais.Extrai-se da teoria de Dworkinque a democracia somente pode funcionar, sob sua melhor luz, quando setem um sistema no qual os juizes interpretam, sob o manto daracionalidade, o cenrio jurdico de uma determinada comunidade, demodo a resguardar o conjunto de princpios que a regem, com especialnfase aos direitos individuais.

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    REFERNCIA BIBLIOGRAFIA

    DWORKIN, Ronald. Uma Questo dePrincpio. Trad. Luis Carlos Borges. 2 ed.

    So Paulo: Martins Fontes, 2005.