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Resenha # Wright Mills - A Elite e o Poder

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Trilateral no mundo, E...11/9 - O que os Media não disseramDr.Barnett Rubin: o verdadeiro risco

é o Pakistão!...a Russia de PutinGato Fedorento vs Sócrates e

Hamlet

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sexta-feira, janeiro 18, 2008

Wright Mills - A Elite e o PoderINTRODUÇÃO

As teorias defendidas por Wright Mills são bastante pertinentes para a análise dosistema de poder vigente nos E.U.A (e em todo o mundo). Assentes na relaçãoexistente entre “Elite e Massas”, o autor da obra “A Elite do Poder” defende que aestrutura do poder Norte-Americana é caracterizada pela existência de um oligopólioconstituído pelas elites política, económica e militar. Para melhor fundamentar esta ideia,Mills recorre á análise do processo de desenvolvimento histórico dos E.U.A,considerando que o complexo de poder nem sempre é equilibrado, dependendo daconjuntura. Os estudos realizados pelo sociólogo merecem especial atenção no actual contextohistórico, em que o poder dos Estados tende a diminuir, não só do ponto de vistaexterno, mas também internamente. A multiplicação dos centros de poder, verif icado nopós Segunda Guerra Mundial, e que sofreu um processo de aceleração exponencialcom o f im da guerra fria, contribuiu para que os Estados tenham cada vez maiordif iculdade no exercício pleno da sua soberania. Este fenómeno é particularmentevisível na área da economia, tendo-se registado a emergência de entidades privadasque, actualmente, detêm índices de P.I.B superiores aos de muitos Estadosdesenvolvidos. Num contexto de globalização, o poder das grandes empresastransnacionais acaba por inf luenciar determinantemente a acção dos Estados. Assim, importa estabelecer relações entre estes factos, e o profundo sentimento dedescrença nos actuais sistemas políticos. A existência de grupos que são a tal pontoprivilegiados pelo poder político, que chegam mesmo a absorvê-lo, coloca em causa aideia de democracia: o governo do povo, e não de alguns elementos, ditos seusrepresentantes, em nome do povo.

I TECNOCRACIA E OS GRUPOS DE PRESSÃO

Com o f im da Segunda Guerra Mundial, é declarada universalmente a vitória dademocracia sobre o totalitarismo, embora o mundo estivesse dividido em dois blocospolíticos e ideológicos rivais. Os direitos humanos e as liberdades individuaisfundamentais foram proclamadas como arauto de uma nova ordem mundial, que seriamaterializada na Organização das Nações Unidas. No entanto, a partir desta data (emais propriamente com a queda do Muro de Berlim e f im do mundo bipolar), tem-severif icado um processo de regressão dos princípios democráticos. Como defendemMarcel Prélout e Georges Lescuyer ´ Precisamente na altura em que, devido aoabandono do adversário, é declarada vitoriosa a guerra contra o totalitarismo, ademocracia exprime-se com uma dif iculdade crescente. ‘ . A despolitização assume-se como um facto incontornável das novas sociedades pós-modernas. O Estado tende mais para ser uma administração das coisas, do que umgoverno de pessoas, impondo-se a tecnocracia como a única ideologia sobrevivente.A ideia de um governo da técnica, ou, mais precisamente, dos técnicos, remonta áAntiguidade Clássica com Sócrates e Platão, embora seja com a industrialização, queganha notoriedade teórica. Entre os principais autores que reflectiram sobre apossibilidade da existência de uma sociedade em que a racionalidade se confundiacom o tecnicismo, é de referir Henri de Saint-Simon. A seu ver a França transformou-se numa grande manufactura, e a Nação Francesa numa grande oficina. Estamanufactura geral deve ser dirigida da mesma maneira que as fábricas privadas. “ OEstado reduz-se assim a um organismo responsável pelo controlo da boa organização

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“VARIAÇÕES INFÍMAS PODEM ALTERAR IRREVERSIVELMENTE O PADRÃO DOS ACONTECIMENTOS” UMASIMPLES MISTIFICAÇÃO DOS ECONOMISTAS AMERICANOS, FAZENDO TÁBUA RASA DA DISTINÇÃO ENTRE OVALOR DE USO E O VALOR DE TROCA DAS MERCADORIAS, CIENTIFICAMENTE DADA A CONHECER ÁHUMANIDADE POR KARL MARX EM “O CAPITAL” MOLDOU O MUNDO DO PÓS-GUERRA TAL E QUAL OCONHECEMOS.

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da produção”. Na lógica da sua f iliação em Saint-Simon, a teoria de Augusto Comte é também deinspiração tecnocrática. Com a sua visão de uma humanidade, cujo processo dedesenvolvimento passa, históricamente, por três estádios (teológico, metafísico, ecientíf ico), Comte desenvolveu o pensamento do seu mestre, defendendo asubstituição dos regimes orientados pelas considerações subjectivistas dos políticos,por um regime no qual a direcção pertenceria a administradores qualif icados pelosaber científ ico. A aplicação do ideal tecnocrático, tal como demonstrou James Burnham, gera aemergência de uma nova era, caracterizada pelo amplo poder dos organizadores.Estes possuem competências técnicas e científ icas muito avançadas, sendoresponsáveis pela direcção geral e global do trabalho de produção. Nas palavras deRougier ´ Alimentar uma população, construir casas, aquecer, iluminar, vestir, fornecertrabalho e manter uma moeda estável, são tudo problemas técnicos que a ciênciaeconómica e as disciplinas sociais estão suficientemente avançadas para resolversem a intervenção de sistemas apriorísticos ou de princípios pré-concebidos. ‘ . O facto dos tecnocratas poderem facilmente ascender á classe política, leva a quecertos teóricos considerem que esta nova classe de dirigentes técnicos constitui umaminoria organizada que tende a impor o seu poder a uma maioria desorganizada. Comoafirma o Professor Adriano Moreira, a tecnocracia para a matriz marxista baseia-senum ´ processo político de transferência de poderes, causado pelos efeitos negativosdo capitalismo, para esta nova espécie de bouc-émissaire que seriam os tecnocratas. ‘. Este processo torna-se mais pertinente, a partir do momento em que se verif ica aplanetização dos fenómenos políticos, e em que os Estados, por um lado, se vêmconfrontados com a emergência de novos poderes actuantes nas esferas internas einternacionais, poderes estes que assumem antigas responsabilidades e funções,outrora monopólio dos Estados; e por outro lado, são sujeitos a processos deintegração em instituições supranacionais. Assim, assistimos a uma nova realidadeque é constituída por tecnocracias supranacionais que se impõem ás tecnocraciasnacionais, e em que ambas estabelecem relações cada vez mais próximas comtecnocracias privadas. Estas últimas englobam-se na categoria de grupos de pressão, ou seja, instituiçõesprivadas unidas por interesses e objectivos comuns, e responsáveis peloempreendimento de acções realizadas junto de qualquer autoridade, com vista ainf luenciar as suas decisões. Constituem assim um dos principais intervenientes naluta pelo poder, chegando mesmo, de acordo com as teorias de vários autores, ainf luenciar determinantemente o processo político, e a tornar-se parte integrante domesmo. Num contexto de globalização económica e f inanceira, em que o sistema capitalistapassa a usufruir de ampla mobilidade dos seus factores de produção, econsequentemente, de custos diferenciados que permitem aumentar a rendibilidadedos investimentos, as grandes empresas assumem-se como um dos mais importantesgrupos de pressão da actualidade.

II O DESENVOLVIMENTO DA ELITE DO PODER NORTE-AMERICANA

Um dos principais autores que debruçou os seus estudos sobre a estrutura do poderfoi o sociólogo Wright Mills. Na sua principal obra “A Elite do Poder”, o teórico defendeque na sociedade Norte-Americana, a grande maioria da população ´...é circunscritaaos mundos em que vivem...‘ , realidades estas conduzidas por ´...forças que nuncapoderão compreender ou governar.‘ . A velha dicotomia entre a Elite e a Massa,teorizada por Pareto, Michels ou Mosga, é recuperada por Wright Mills, sendo o teóricoapologista da existência de um grupo privilegiado que reúne poder suficiente parainf luenciar o destino das pessoas comuns. No entanto, este grupo privilegiado não é homogéneo, encontrando-se o poderdisperso por três instituições: as elites política, económica e militar. Segundo Mills,todas as outras instituições são secundárias na análise do poder nos E.U.A, sendoestas completamente subordinadas pelos poderes atrás citados, ´ As instituiçõesreligiosas, educativas e familiares não são autónomas do poder nacional; pelocontrário estas áreas descentralizadas são cada vez mais moldadas pelos grandestrês...‘ . Para demonstrar a inf luência exercida por estes poderes no seio da sociedade Norte-Americana, Wright Mills recorre a uma análise histórica, defendendo que o processode desenvolvimento histórico assenta na acção dos poderes político, militar eeconómico. Conforme o autor ´...as mudanças no sistema do poder dos E.U.A nãoenvolveram desafios importantes aos princípios que o legitimam. Mesmo quando foramsuficientemente decisivos para serem apelidados de revoluções, não envolveram orecurso aos canhões de um navio (...), ou aos mecanismos de um Estado policial (...).As mudanças na estrutura do poder Norte-Americano são baseados em mudançasinstitucionais nas posições das ordens política, militar e económica.‘ . Assim, podemos

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afirmar que, segundo o teórico, o desenvolvimento histórico nos E.U.A, para além deser fruto da acção de uma Elite, é também um processo inf luenciado pela distribuiçãodos poderes entre as instituições que constituem a Elite. Do século XVIII (independência dos E.U.A) até á primeira metade do século XIX, aselites política, económica, e militar encontravam-se unif icadas de uma maneira bastantesimples, verif icando-se uma certa “volatilidade da Elite”, isto é, o indivíduo com poderpertencia simultaneamente ás três instituições, sendo a passagem de funções eposições feita facilmente, ´O importante facto desta época é que a vida social, asinstituições económicas, a corporação militar, e a ordem política coincidem, e oshomens que eram políticos, também exerciam papéis importantes na economia...‘ . Noentanto, é necessário referir que a Elite não era una, coesa e centralizada, sendoconstituída por uma pluralidade de indivíduos que detinham simultaneamente os trêspoderes, apenas a nível local. Em parte, foi a existência de vários centros do poderdivididos e rivais que terá originado a Guerra Civil Americana. A partir da segunda metade do século XIX, o poder económico assume-se comosupremo. Esta supremacia iniciou-se formalmente com as eleições para o Congressoem 1866, tendo sido consolidado com a aprovação da Amenda Décima Quarta porparte do Supremo Tribunal, e que dava uma maior protecção aos grupos económicos,face aos interesses do Estado. Este período testemunhou a transferência de poder deiniciativa do governo para este tipo de grupos, tendo sido marcado por grandesescândalos de corrupção e de “compra” de Senadores e Juízes. Como defende WrightMills ´O facto de ambos os governos, Estadual e Federais, serem limitados no seupoder para regular, signif icava que eram, eles próprios regulados pelos grandesinteresses económicos. Os seus poderes eram desorganizados, enquanto que ospoderes dos grupos económicos e f inanceiros estavam concentrados e interligados.‘ . Com rendimentos e um número de empregados superiores aos de alguns EstadosFederais, as grandes empresas Norte-Americanas acabaram por controlar partidospolíticos, por “comprar” leis, ou por inf luenciar determinantemente a acção política demuitos Congressistas. Assim, a ordem económica suplementou a ordem política que,por sua vez, subordinava a ordem militar que, com o f im da Guerra Civil, havia perdidobastante importância. No entanto, o crescimento do poder da economia acabou em Outubro de 1929. Empoucos dias (em poucas horas até), as cotações bolsistas perderam o que haviamganho em vários meses e anos. A crise de 1929, em parte, foi causado pela expansãoexponencial da economia: não existe qualquer dúvida de que o aumento de produçãoconstitui um factor benéfico para a indústria. Contudo, um ritmo de expansãodemasiado rápido poderá acarretar dif iculdades de transição e adaptação. Embora a crise económica fosse mundial, os E.U.A encontravam-se entre os maisduramente afectados, visto a sua economia ser totalmente baseada na livreconcorrência. O desprezo por medidas de segurança social, contribuiu para que nadaprotegesse a população activa contra o desemprego e outras vicissitudes sociais,provocadas pela crise económica, encontrando-se esta dependente da caridadeprivada e do altruísmo dos grandes magnatas . A agudização das desigualdades sociais contribuiu para que em 1932, o entãoPresidente Hoover perdesse as eleições para o Democrata Franklin Delano Roosevelt.O novo Presidente e a sua Administração iniciaram a sua actividade em plenaconfusão, confusão essa que, pela sua própria amplitude, continha os germes dumrenovamento e proporcionava á nova equipa oportunidades únicas para provar o seuvalor político. Atingida pelo pânico, a população estava pronta a seguir quem tomasse,enfim, a responsabilidade de agir. Nos primeiro cem dias de governação, Rooseveltadoptou imediatamente um grande número de medidas e de reformas que faziam partedo seu plano de recuperação económica e social do país, o New Deal. Os agricultores receberam um auxílio federal, empréstimos em dinheiro, e aautorização de aumentar o preço dos seus produtos. Organizou-se com um orçamentoconsiderável, um sistema de protecção social moderno e eficaz, dando-se especialrelevância á assistência á população mais necessitada. Ao mesmo tempo, foiaprovada uma nova lei para a Bolsa, cujo principal objectivo era evitar quaisquerformas de especulação excessiva. No entanto, a iniciativa mais revolucionária do New Deal foi o NIRA (National IndustryRecovery Act). Esta lei procurava uma colaboração entre os agentes privados e oEstado, de modo a estimular o desenvolvimento económico. Este implicava, segundo asdoutrinas Keynesianas em voga na época, o aumento dos salários, e a diminuição dodia de trabalho: quanto maior fosse o número de pessoas a trabalhar, maior seria opoder de compra dos E.U.A . A realização deste programa, obviamente suscitou resistências. Uma vez passado opânico, o poder económico ressentiu-se da regulamentação das suas actividadesprivadas por parte do poder político. Face a esta situação, e inicialmente, numerososempresários entraram em luta com a Administração Roosevelt, que demonstrava opor-se radicalmente ao individualismo tradicional dos E.U.A, e ao laissez faire, não menostradicional da sua economia. Concentraram o seu poder no apoio ao PartidoRepublicano que, durante o New Deal, denunciou as medidas inconstitucionaisaplicadas pelos Democratas.

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No entanto, a médio prazo, os grandes grupos económicos acabaram por aceitar ereconhecer o poder político, tendo recorrido a uma nova estratégia. A solução deveriapassar por colaborar com este, de modo a, e em contrapartida, assegurar aprossecução de certos interesses. Segundo Wright Mills ´Á medida que o directórioNew Deal ganhava poder político, a elite económica, que num certo período, tinhalutado contra o desenvolvimento do governo (...), acabou por a ele se juntar, nos seusníveis mais elevados.‘ . O New Deal de Roosevelt constituiu um sistema de poder baseado na existência derelações entre diversos grupos de pressão e blocos de interesses organizados,relações essas controladas pelo poder político. Podemos afirmar que na históriaAmericana, a década de trinta pertenceu ao poder político: os grandes gruposeconómicos foram contestados e suplementados, tendo a estrutura do poder passadoa ser orquestrada por políticos que, no entanto, não desprezaram por completo opoder económico. No entanto, o eclodir da Segunda Guerra Mundial veio a originar profundas mutaçõesno relacionamento das instituições do poder Norte-Americano. O bombardeamento dabase Americana de Pearl Harbor localizada no Pacíf ico, por parte da aviação imperialJaponesa, apenas veio a confirmar a participação inevitável dos E.U.A na luta contraas forças do Eixo. Para tal, foi necessário, por um lado, o aumento da produção de equipamento earmamento militar, e por outro lado, o recrutamento maciço de soldados a ingressarnas f ileiras do Exército. Assim, ter-se-á verif icado a passagem de uma estrutura dopoder assente na primazia do poder político sobre os poderes económico e militar, parauma estrutura do poder, onde, necessariamente, estes últimos sobrepõem-se sobre asinstituições políticas. Nas palavras de Wright Mills ´O capitalismo Americano é, agora,em parte, um capitalismo militarizado, e a mais importante relação entre a grandeempresa e o Estado, baseia-se na coincidência de interesses entre as altas patentesmilitares e os grandes empresários, que os engrandece, e subordina o papel dosmeros homens políticos. ‘ . A queda das potências totalitaristas Alemã e Japonesa, contudo, não provocouquaisquer alterações no equilíbrio dos poderes no sistema Norte-Americano. A divisãodo mundo do pós Segunda Guerra Mundial em dois blocos ideológicos rivais apenasacentuou e consolidou o poder do directório económico e militar, ou, conforme aspalavras do Presidente Eisenhow er, do complexo militar e industrial. Os membros do Congresso, no passado hostis á elite militar, demonstravam ter emgrande consideração o papel desempenhado pelos oficiais. O próprio Presidente nãopoderia, na prática, nomear o staff do Departamento de Estado ou os Embaixadores,sem consultar os seus conselheiros militares. Segundo Mills, o aumento do podermilitar constitui uma forte ameaça aos princípios democráticos ainda prevalecentes nasociedade Norte-Americana. De acordo com o sociólogo ´ Os senhores da guerra, (...) estão a tentar plantarf irmemente a sua metafísica, na globalidade da população.‘ . Num estado aparente deguerra permanente e de ameaça do “império do mal soviético”, os E.U.A não poderiamser mais considerados uma democracia verdadeiramente genuína, visto esta serassente em princípios pluralistas e no consentimento do desacordo, precisamente oque não é permitido pela disciplina militar. O McArthismo e a caça ás bruxas,constituíram dois fenómenos exemplif icativos da falta de genuinidade da democraciaAmericana do pós Segunda Guerra Mundial. Contudo, e ao mesmo tempo, a existência de um largo sector militar era um factorextremamente pertinente para o desenvolvimento económico. Por um lado, importa terem conta que o sector militar empregava centenas de milhares de pessoas (durante operíodo da guerra fria, um grande número de bases Norte-Americanas foramimplementadas por todo o mundo ocidental, nomeadamente na Europa reconstruída); epor outro lado, é necessário destacar o importante papel desempenhado pelainstituição militar no desenvolvimento económico: podemos afirmar que os lucros dasgrandes companhias de equipamento e armamento militar, como a Lockehead ou aBoeing, dependiam da manutenção do clima de guerra iminente. A afirmação do poderio do complexo militar e industrial conduziu a um profundodesequilíbrio da balança de poderes no sistema Norte-Americana. Vários Presidentes(Eisenhow er por exemplo), chegaram mesmo a exprimir publicamente o perigo daconcentração dos poderes nestas elites organizadas. Alguns teóricos defensores dateoria da conspiração no assassinato do Presidente John Fitzgerald Kennnedy,consideram que os acontecimentos registados em Dallas a 22 de Novembro de 1963foram causados pela reacção á tentativa de dominação das elites económica e militar,por parte do poder político. Num dos seus livros, escrito durante os seis meses deimobilidade impostos por uma intervenção cirúrgica, Profils in Courage, Kennedyobservara ´ Apenas os que são corajosos serão capazes de tomar decisões difíceis eimpopulares. ‘ . No entanto, a queda do Muro de Berlim em finais do século XX acabou com osvestígios da bipolaridade política e ideológica existentes nas últimas décadas, tendoditado o f im do complexo militar e industrial Norte-Americano. Este terá sido substituídopor um novo complexo meramente industrial, que tende a secundarizar os outros

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poderes, chegando mesmo a utilizá-los como meras instituições defensoras dos seusinteresses particulares.

III A SUBVERSÃO DO PODER POLÍTICO POR PARTE DO PODER ECONÓMICO

Partindo do modelo de análise aplicado por Wright Mills em “A Elite do Poder”,poderemos tecer novas considerações sobre o actual equilíbrio de poderes nos E.U.A,e em todo o mundo. O f im da Segunda Guerra Mundial marcou o início de um processode reestruturação da ordem económica internacional: a sua concepção ocorreu emBreton Woods, no ano de 1944, tendo sido criados o Fundo Monetário Internacional, oBanco Mundial, e mais tarde assinado o Acordo Geral de Tarifas e Comércio. Mundializava-se assim, formalmente, uma perspectiva ocidental (e quaseexclusivamente Americana) das relações económicas internacionais. Estas, do pontode vista comercial, deveriam pautar-se pela idealizada concretização do livre câmbiointernacional, enquanto que, do ponto de vista monetário e f inanceiro, deveriam serreguladas por um sistema monetário assente na convertivilidade do dólar em ouro.Contudo, a crise económica da década de setenta levou a que os E.U.A optassem peloabandono do sistema de paridades f ixas, dando início ao actual sistema de câmbiosflutuantes, ainda que sujeitos a determinados regimes de gestão. A intensif icação das relações entre velhos e novos actores das relaçõesinternacionais, e a evolução da estrutura sistémica mundializada, decorrentes destes eoutros desenvolvimentos, sofreram uma aceleração exponencial com a queda do Murode Berlim em 1989. Como defende Zaki Aldi ´A democracia de mercado constitui apartir de agora a matriz do mundo, a problemática legítima do sistema internacional(...).[Mas, o ] tempo mundial não é apenas a legitimação da ideologia de mercado e doseu corolário político, a democracia. É a afirmação de que eles são organicamenteassociados a ponto de existir uma relação circular entre mercado, desenvolvimento edemocracia.‘ . A nova revolução capitalista é caracterizada, por um lado, pela total absorção doambiente externo por parte do sistema, e, por outro lado, por uma circulação dosfluxos f inanceiros totalmente livre e desregulamentada. De acordo com o ProfessorVictor Marques dos Santos ´O novo capitalismo é diferente do anterior. Assenta nafinança e na informação em tempo real. Privilegia o curto prazo (...). Favorece os maisrápidos e marginaliza aqueles que demonstram incapacidade de acompanhamento deevolução contínua dos mercados, e dos ritmos acelerados a que as transacções seprocessam.‘ . Nesta nova realidade económica mundializada, as grandes empresas transnacionaistendem a aumentar e a consolidar o seu poder na esfera internacional, optimizando osseus rendimentos através de mega-fusões e de conquistas de parcelas do mercado.O aumento do poder da elite económica mundial gera desequilíbrios na balança depoderes, sendo os Estados os principais afectados. Conforme as palavras de AlainTourraine ´O poder estava nas mãos dos príncipes, das oligarquias (...). Esta imagemdo poder não corresponde á nova realidade. O poder está em toda a parte, e, em partealguma: está na ponderação, nos f luxos f inanceiros, nos modelos de vida que segeneralizam...‘ . Embora o modelo de análise de Wright Mills possa ser aplicado no estudo politológicodo sistema internacional, em geral, e do sistema de poder dos E.U.A em particular, arealidade da década de cinquenta (a sua obra foi escrita em 1956) é bastantediferente da realidade actual. Se tivermos em conta as empresas Norte-Americanasque apresentavam um maior P.I.B em 1956, podemos verif icar que, das cinquentacitadas pela revista Fortune, apenas trinta e cinco têm, actualmente, algumanotoriedade: a terceira maior empresa dos E.U.A, a rede de supermercados Wal Mart,nem sequer existia na altura, e a companhia informática IBM, em sexto lugar na actuallista da Fortune, em 1956 não constava da lista das cinquenta maiores companhias. No entanto, e apesar do capitalismo Americano, como foi demonstrado, ter sofridomutações, seria erróneo afirmar que a acção do poder económico como grupo depressão nos E.U.A, constitui um fenómeno recente. O f inanciamento dos partidospolíticos por parte de grupos económicos, por exemplo, é um fenómeno congénito, quetem vindo a perdurar e a acentuar-se ao longo dos tempos. Não nos podemosesquecer que nos E.U.A, o modelo de partido de massas nunca vingou, dependendoas entidades partidárias das contribuições dos privados. Segundo Wright Mills ´Odinheiro permite que o poder económico do seu possuidor seja traduzido nas causasdos partidos políticos.‘ . Contudo, o f inanciamento dos partidos políticos não constitui o único meio depersuasão do sistema político por parte dos grupos de pressão económicos.Frequentemente, estas associações de interesses organizadas recorrem á utilizaçãode profissionais, responsáveis pelo exercer de lobbying junto das instituições políticas.Esta acção implica o conhecimento dos “corredores do poder”, nomeadamente, aexperiência de contacto com a tecnocracia dirigente. No caso dos E.U.A, esta traduz-se na existência de Comités especializados no Congresso Norte-Americano,

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constituídos por membros não eleitos democraticamente, mas que exercem umainfluência substancial sobre os membros do Congresso. Outro dos métodos frequentemente utilizados passa pelo recurso aos mass media. Naera da sociedade de informação, assente, segundo o Professor Victor Marques dosSantos, no ´...ambiente material de recolhimento, processamento, reprodução edisseminação das ideias consideradas fundamentais ao controlo político-económico,sócio-económico e sócio-cultural inerente, considerado imperativo para a viabilizaçãosustentada do processo.‘ , os global media cada vez mais tendem a moldar a opiniãopública. Logo, é importante que os grupos de pressão actuem sobre os meios decomunicação de massas, orientando e coordenando as principais questões emdebate, de acordo com os seus interesses particulares, ´ Neste sentido acomunicação social selecciona as perspectivas de análise, hierarquiza asproblemáticas (...), estabelece limites paramétricos do seu enquadramento, altera osprocessos de abordagem, descentra as questões fundamentais, através de tácticasde diversão...‘ . Finalmente, é importante referir os estudos realizados por Kenneth M. Goldstein. Oteórico dá especial relevância a um meio de exercer pressão sobre as instituiçõespolíticas, que denomina de grass roots lobbying. ´ Especialmente, grupos de interessee lobbying estão cada vez mais a fazer uso das novas e mais sofisticadas tecnologiaspara regar as raízes...‘ , ou seja, tem-se registado o surgimento de várias“organizações ditas da sociedade civil”, patrocinadas pelo poder económico, com vistaa proteger os seus interesses. Face á crise de representatividade dos partidos políticos (crise esta que ocorre não sónos E.U.A) que tem expressão nas elevadas taxas de abstenção, o poder económicotenta competir com os seus rivais, não nas altas instancias, mas na sociedade civil. Asrecentes manifestações de Seatle colocaram na praça pública as grandes questõessociais e ecológicas, tendo a actividade das grandes empresas transnacionais sidoposta em causa por diversos sectores da opinião pública. Em resposta a estefenómeno, os interesses económicos recorrem ao que Vaclav Havel apelidou de“poder dos sem poder”. De acordo com Kenneth Goldstein ´...grande parte dascompanhias na lista Fortune 500 contratam organizadores de massa a tempo inteiro, eplanos de acção a implementar quando necessário. Esforços que, antigamente, eramtemporários, deram origem a divisões permanentes e oficiais das companhias. ‘ A inf luência exercida por parte do grande poder económico, em relação a um poderpolítico cada vez mais enfraquecido gera, segundo a opinião de diversos analistas,graves problemas sociais e ambientais. Uma das principais reivindicações realizadaspelas grandes empresas Norte-Americanas, refere-se á criação de condições f iscaisque beneficiem as suas actividades: concessão de benefícios f iscais, de empréstimosa baixos juros e a fundo perdido, ou de fundos f inanceiros. Num país (que é o mais rico do mundo) em que não existe um sistema de segurançasocial pública, a criação de um regime de apoio ás actividades das grandescompanhias f inanciado por fundos públicos, é considerado, por alguns teóricos, umpuro acto de expropriação. Segundo Ralph Nader ´ Num contexto em que o P.N.B tendea diminuir, e, em que uma em cada cinco crianças vive na pobreza, seria de esperarque o esforço público se focasse no corte de benefícios ás grandes companhias, enão no corte de despesas de ajuda á população mais necessitada.‘ . No entanto, a acção do poder económico não visa apenas inf luenciar a política internados Estados, mas também a política externa das organizações internacionais. Aexistência de problemas globais, leva á necessidade do estabelecimento de medidas,também elas globais. O Protocolo de Quioto, assinado em 1997, no contexto daConvenção Quadro das Alterações Climáticas, poderá ser inserido nesta categoria demedidas que tentam regular e pôr termo a vicissitudes comuns a todo o mundo. Anecessidade de controlar o aquecimento global do planeta que, a longo prazo, poderáser responsável pela inundação de cidades eleitorais, pela esterilização dos terrenosmais férteis, ou por intempéries ainda mais violentas que o El Nino, conduziu áassinatura deste acordo, em que os Estados partes se comprometem a reduzir, atédata compreendida entre 2008 e 2012, cerca de 5,2% da emissão de gases. Paraentrar em vigor, o Protocolo de Quioto necessita de ser rectif icado por cinquenta ecinco Estados. Em Março de 2001, os E.U.A anunciaram que não iriam rectif icar o acordo,argumentando que as medidas consideradas iriam ter graves consequências sobre aeconomia Norte-Americana. De acordo com o Presidente George W. Bush ´ Nóstrabalharemos com os nossos aliados para reduzir os gases de efeito estufa, mas nãoaceitaremos nada que prejudique a nossa economia e afecte os trabalhadores Norte-Americanos.‘ . A posição de Bush colocou as negociações internacionais sobre as alteraçõesclimáticas numa situação complicada. Em Novembro de 2000, ainda durante aAdministração Clinton, o confronto de posição entre os E.U.A e a União Europeiaimpediu a definição das regras para a aplicação do Protocolo de Quioto. No entanto,com a recusa de rectif icação por parte dos E.U.A , todo o acordo poderá cair porterra. Muitos Estados ameaçaram não cumprir os acordos de Quioto, caso a posiçãoda Administração Bush não sofra alterações: af inal, a economia dos outros países

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também necessita de ser protegida. A atitude do governo dos E.U.A causou um certo sentimento de indignação nacomunidade internacional. As organizações ecologistas foram as mais críticas:segundo Charles Secrett, director da Friends of the Earth ´ Milhões de pessoas tantonos E.U.A, como no resto do mundo podem perder as suas casas, os seus empregose até as suas vidas por causa das alterações climáticas. Mas este político ignorante,egoísta e de vistas curtas, há muito enfiado nos bolsos de lobby petrolífero, não sepodia ralar menos.‘ . De acordo com o Centre for Responsive Politics, em 1999, asindústrias petrolíferas terão declarado ter gasto cerca de 158 milhões de dólares emactividades de lobbying.

IV A SUBVERSÃO DO PODER MILITAR POR PARTE DO PODER ECONÓMICO

A queda do Muro de Berlim, e o f im do mundo bipolar, vieram a ter importantesconsequências sobre o papel desempenhado pela elite militar Norte-Americana. Afragmentação da Europa de Leste, e do Pacto de Varsóvia foram responsáveis por umnovo clima de esperança, que contrastava com o medo do “império do mal soviético”,durante décadas sustentador do complexo militar e industrial. Segundo Alan Wolfe ´...ocolapso do comunismo na União Soviética e na Europa de Leste, diminuiu a capacidadedas elites Americanas mobilizarem apoio para as despesas militares, com base noargumento da ameaça soviética. A China, que na altura em que Mills escreveu a obraera considerada uma séria ameaça, é agora vista pelos negócios Norte-Americanos,como uma fonte de potencial investimento.‘ . A consequência imediata das mutações políticas, económicas e sociais verif icadas naesfera internacional em finais do século XX, foi a diminuição de proporção daeconomia Norte-Americana dedicada á defesa. Durante a década de cinquenta, asdespesas militares absorviam cerca de 60% de todos os fundos federais, enquantoque, em finais dos anos noventa, estas proporções desceram para os 17%.Aproximadamente três milhões de Americanos prestaram serviço nas Forças Armadasdurante a guerra fria. No entanto, com o f im desta, estes índices reduziram-se parametade. Contudo, o poder militar constitui ainda uma peça bastante importante na persecuçãodos interesses dos E.U.A. Os planos geo-estratégicos em regiões como Médio Orienteou os Balcãs, são deste facto um claro exemplo. A utilização de uma vasta força deintervenção militar no Kow eit, aquando da invasão do Iraque em 1991, constituiu areacção da elite do poder Norte-Americana á instabilidade criada na região porSaddam Hussein, instabilidade esta que poderia gerar graves consequênciaseconómicas para a potência ocidental (subida dos preços do petróleo). No entanto,alguns críticos das relações internacionais advogam que as intervenções militaresincentivadas pelos E.U.A são, em parte, fruto da pressão organizada da indústriamilitar. Segundo Eduardo Galeano, a acção da NATO na Républica Federal daJugoslávia serviu de ´...vitrine gigantesca para a exibição e venda de armas.‘ . Recentemente, o poder militar Norte-Americano foi responsável pela edif icação de umplano de luta contra o narco-tráf ico na Colômbia. Entitulado de “Plano Colômbia”, esteprojecto tem como objectivo a eliminação do tráf ico de cocaína, realizado pelas FARC(Forças Armadas Revolucionárias Colombianas). Este plano inclui a concessão deequipamento logístico e militar, capaz de isolar e extinguir a acção dos guerrilheiros.Um dos métodos utilizados na “guerra da droga”, consiste na pulverização deherbicidas e pesticidas que destruam a produção dos vastos campos de cocacontrolados pelas FARC (os campos controlados pelos grupos para-militares deextrema-direita, apoiados pelo governo Colombiano não sofreram qualquer acçãodeste género). Os produtos utilizados na destruição da produção de coca, sãocomercializados pela Monsanto, tendo a empresa , com o Plano Colômbia, obtido cercade cinco biliões de dólares, em vendas. As operações de pulverização têm sido alvo de duras críticas por parte da populaçãolocal. Apesar de se recorrer á utilização de satélites que precisem os alvos a serematingidos, os pesticidas acabam, devido aos ventos, por se espalharem a campos decultivo de produtos legais. Segundo José Francisco Tenorio, representante dascomunidades indígenas afectadas ´ As nossas produções locais, o nosso únicosustento, mandioca, banana, (...), cana do açúcar e milho têm sido destruídas. Osnossos recursos (...), têm sido envenenados, os nossos peixes mortos. Hoje em dia, afome é o pão nosso de cada dia.‘ . Curiosamente, a Monsanto está também envolvida na investigação científ ica, e naprodução de produtos agrícolas resistentes aos pesticidas e herbicidas quecomercializam. A empresa não é estranha aos corredores do poder em Washington,tendo contribuído com cerca de 90 000 dólares, para a campanha presidencial doactual Presidente, George W. Bush. Outro dos factos que é necessário ter em conta na análise do poder militar nos E.U.A,é o sistema Péntagono. Desde a Segunda Guerra Mundial, esta instituição tem sidousada como mecanismo primordial para a canalização de subsídios públicos parasectores avançados da indústria, o que constitui a principal razão das poucas

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alterações que sofreu com o f inal da guerra fria. No mês passado, George W. Bushveio pedir ao Congresso, a autorização de um suplemento orçamental de 5,6 milhõesde dólares, justif icado como forma de fazer face a despesas inerentes ao sistema desaúde militar. Segundo Noam Chomsky ´ O sistema Péntagono tem muitas vantagens, em relação aoutras formas de intervenção estatal na economia. Faz com que seja o público asuportar uma grande parte do peso dos custos...‘ . A ideia de criação do Sistema deDefesa Anti-míssil (NMD), constituído por uma rede protectora de satélites e radaressobre o território Norte-Americano, e a instalação de mísseis e radares a bordo denavios e bases, para a protecção dos E.U.A e dos seus aliados, por muita polémicaque possa parecer, não constitui uma novidade. A Administração Reagan foiresponsável pelo empreendimento de um projecto bastante similar que f icou conhecidocomo “Guerra das Estrelas”, ´...vendido á opinião pública como um projecto de«defesa», e á comunidade empresarial como subsídio público á tecnologia de ponta.‘ . Embora o NMD constitua, alegadamente, um meio de protecção dos ataques dosEstados párias (Iraque, Líbia, e Coreia do Norte, por exemplo), o certo é que vaiimplicar o f inanciamento de projectos de investigação tecnológica, cujos frutospoderão, eventualmente, ser aplicados na área civil, contribuindo para odesenvolvimento económico do país (a Internet, por exemplo, foi pela primeira vezaplicada no sistema militar). Pelo demonstrado, podemos concluir que, face á inexistência de ameaças reais, a elitemilitar nos E.U.A não visa o reforço do seu poder, mas sim do poder económico.

CONCLUSÃO

A análise realizada, permite-nos concluir que a existência de uma elite do poder, sejaela económica (como o é na actualidade), política ou militar, coloca fortemente emcausa a noção de democracia. Cada vez mais o poder político encarna a forma deEstado espéctaculo, não orientando as suas acções segundo o interesse geral dapopulação, o qual constitui a legitimação do seu poder. O facto do poder político sercada vez mais dominado por um calculismo científ ico exacerbado que se nega a verpessoas, apenas números, leva-o a ser facilmente penetrável por grupos ditos dasociedade civil, que acabam por moldar a acção do Estado de acordo com os seusinteresses particulares. Como afirma George Orw ell ´ Todos os animais são iguais,mas alguns animais são mais iguais que outros.‘ . Face á existência de um poder político supostamente representativo, mas que recusaa interdição constitucional do mandato imperativo, as pessoas passam a considerar apolítica como um fenómeno que lhes é completamente transcendente. Assistimos assimá emergência de uma despolitização por indiferença, traduzida nas elevadas taxas deabstenção, na não inscrição nas listas eleitorais, ou no desaparecimento doverdadeiro debate político. As atenções dos cidadãos são dirigidas para outro tipo de assuntos, de acordo comos ditames estabelecidos pelos mass media, intervenientes parte na consolidação dopoder económico num projecto capitalista global. Segundo o Professor Victor Marquesdos Santos ´ Neste contexto, as referidas modalidades de participação processual,democrática (...) dos indivíduos, desenvolvem-se, em termos de decisão, no plano domercado de consumo.‘ . Assim, o “Penso, logo existo” de Descartes, é substituído pelo“Tenho, logo existo”. O controlo das ideias no sentido do consumismo é tal que, quando surge necessidadede apelar ao sentido de dever das pessoas como cidadãs, torna-se imperativorecorrer á linguagem do consumo, isto é, o marketing. As campanhas eleitoraisassentes no culto da imagem (tal como os velhos regimes totalitários), passam adepender da procura de fundos, o que dif icilmente concilia ef icácia e ética. Amoralização da vida política deixa de ser pertinente, e o poder torna-se cada vez maisum valor em si mesmo.

BIBLIOGRAFIA

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Today in History - December 22nd, 2013

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1785 - The American Continental Navy fleet was organized,consisting of two frigates, two brigs and three schooners. Sailorswere paid $8 a month.

1864 - After his Civil War march across Georgia, Union Gen. WilliamT. Sherman sent U.S. President Abraham Lincoln this message: "I begto present you as a Christmas present the city of Savannah."

1894 - French Capt. Alfred Dreyfus was convicted of treason by amilitary court-martial on flimsy evidence in a highly irregular trialand sentenced to life in prison for his alleged crime of passingmilitary secrets to the Germans.

1944 - Ordered to surrender by Nazi troops who had his unittrapped during the Battle of the Bulge, Gen. Anthony McAuliffe ofthe U.S. 101st Airborne Division replied with one word: "Nuts!"

1956 - The first gorilla to be born in captivity arrived into the worldat the Columbus Zoo in Ohio.

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• Público, 20 de Março, 2001 • Santos, Victor Marques dos, A Nova Economia e a Sociedade de Informação, Lisboa,ISCSP, 2001

posted by xatoo at 18.1.08

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