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1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Centro de Ciências Biológicas e da Saúde TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR Resiliência: revisão bibliográfica na base Scielo Alice Kindi 4070964-7 São Paulo 2012

Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR

Resiliência: revisão bibliográfica na base Scielo

Alice Kindi 4070964-7

São Paulo

2012

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Resiliência: revisão bibliográfica na base Scielo

Alice Kindi

Trabalho de Graduação Interdisciplinar, orientado

pela Prof. Dra. Vânia Conselheiro Sequeira.

São Paulo

2012

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Resumo:

Por que algumas pessoas conseguem se desenvolver diante de adversidades e outras

não? O que possibilita com que algumas pessoas superem as adversidades de forma positiva, de

forma a continuar seu desenvolvimento? Para compreender e discutir essas interrogações, se

desenvolveu o conceito de resiliência. Resiliência seria a capacidade do individuo, de

desenvolver habilidades de superação para enfrentar as adversidades e ou eventos traumáticos,

sendo transformado por estes, conseguindo superá-los (CYRULNIK, 2004). O objetivo deste

estudo foi analisar os artigos disponíveis na base de pesquisa Scielo sobre resiliência, buscando

compreender o que foi produzido sobre este conceito nos últimos anos. Foi feito um levantamento

de artigos publicados sobre nessa base de dados em setembro de 2011. Foram encontrados 196

artigos de diferentes temáticas com a palavra-chave resiliência. Optou-se por analisar os artigos

em português publicados nos últimos três anos (2009, 2010 e 2011). Foram encontrados 39

artigos em português com a palavra-chave “resiliência” e foram descartados os artigos que não

faziam um estudo do tema, apenas citavam o assunto. 16 artigos foram resumidos

detalhadamente e analisados por meio da análise de conteúdo. Os artigos foram organizados em

torno de temas que se destacaram e que serviram de organizadores para análise: fatores de

proteção e adversidade, resiliência e adolescentes, resiliência e o idoso, resiliência e moradores

de rua, resiliência e profissionais e, resiliência e psicoterapia. Nos últimos anos, resiliência vem

sendo compreendida como um processo dinâmico que envolve a interação entre fatores sociais e

intrapsíquicos, que se desenvolve ao longo da vida, a partir dos fatores de proteção. Os fatores

de proteção podem ser divididos em três categorias: individuais, familiares e relacionados ao

apoio do meio ambiente. O apoio social contribui fundamentalmente para o bem-estar do

indivíduo e minimiza o efeito provocado pelas situações adversas, e diz respeito à família e ao

meio no qual o indivíduo está inserido. Verificou-se que a resiliência está longe de se referir

apenas aos traços individuais, mas está diretamente relacionada ao lugar social e político

ocupado pelo individuo, sua família e comunidade. Constou-se a necessidade de medidas de

apoio mais amplas à população que vive em condições de adversidade, para que se possa

transformar a condição vivida e propiciar recursos para o enfrentamento das situações adversas.

Palavras-chave: resiliência, fatores de proteção, adversidade, apoio social.

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SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 5

1.1. Apresentação ....................................................................................................................................... 5

1.2. Objetivo Geral ...................................................................................................................................... 5

1.3 Objetivos específicos ........................................................................................................................... 5

II. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................................... 6

2.1. Histórico do conceito ..................................................................................................................... 6

2.2. Resiliência - Boris Cyrulnik ........................................................................................................... 7

2.3. Traumas:.......................................................................................................................................... 8

2.3.1 Aspectos internos: ..................................................................................................................... 9

2.3.2. Aspectos ambientais: .............................................................................................................. 10

2.3.3. Posicionamento subjetivo ....................................................................................................... 10

2.4. Fatores de risco e protetores ........................................................................................................... 11

2.4.1. Fatores de risco ou eventos adversos: ............................................................................ 11

2.4.2. Fatores protetores ............................................................................................................... 13

2.5 Diferentes percepções sobre o conceito ......................................................................................... 14

III. MÉTODO ........................................................................................................................................... 17

3.1. Procedimento de coleta do material .......................................................................................... 18

3.2. Procedimento de análise de dados ........................................................................................... 19

IV. DADOS .............................................................................................................................................. 19

V. ANÁLISE DE DADOS .......................................................................................................................... 72

5.1 Moradores de rua e Resiliência ........................................................................................................ 73

5.2 Resiliência e o Idoso .......................................................................................................................... 75

5.3 Adolescentes e Resiliência ............................................................................................................... 78

5.4 Fatores Protetores X Adversidade ................................................................................................... 83

5.4.1 O apoio social como fator de proteção .................................................................................... 85

5.4.2 A família como fator de proteção .............................................................................................. 87

5.5 Resiliência e profissionais ................................................................................................................. 89

5.6 Psicoterapia e Resiliência ................................................................................................................. 92

VI. CONCLUSÃO ................................................................................................................................... 95

VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 98

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I. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação

Observando o comportamento humano e a forma singular que cada ser humano reage as

mesmas situações, pode-se perguntar: Por que algumas pessoas conseguem se desenvolver

diante de adversidades e outras não? O que possibilita com que algumas pessoas superem as

adversidades de forma positiva, de forma a continuar seu desenvolvimento? Para compreender e

discutir essas interrogações, a psicologia apresenta desenvolveu o conceito de resiliência.

Resiliência seria a capacidade do individuo, de desenvolver habilidades de superação para

enfrentar as adversidades e ou eventos traumáticos, sendo transformado por estes, mas,

conseguindo superá-los.

Enquanto algumas pessoas conseguem superar e construir caminhos positivos diante de

situações e fatos difíceis, outras acabam se submetendo aos obstáculos com mais facilidade,

fazendo com que suas vidas sejam circundadas pelo trauma vivido. Atualmente este tema está

sendo estudado e alguns trabalhos visam entender os fatores que promovem a resiliência, de

forma que as pessoas possam conseguir se desenvolver de forma plena e saudável, mesmo

vivendo eventos traumáticos.

Este projeto busca analisar o que foi produzido sobre o conceito de resiliência na base

Scielo, nos últimos anos. A justificativa desse trabalho é acadêmica, para formação da aluna como

pesquisadora, mas também dentro de uma temática inovadora que demanda novos estudos.

1.2. Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho é analisar os artigos disponíveis na base de pesquisa Scielo

sobre resiliência, buscando compreender o que foi produzido sobre este conceito nos últimos anos.

1.3 Objetivos específicos

- Mapear, os artigos sobre resiliência na base de pesquisa Scielo, tendo como foco artigos

que discutem esse conceito com seres humanos.

- Analisar os artigos que discutam o conceito resiliência, sistematizando seus conteúdos.

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II. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Histórico do conceito

Segundo PINHEIRO (2004), a origem da palavra resiliência vem do latim resiliens.

Significa saltar para trás, recuar, voltar, encolher-se, romper. Pela origem inglesa, resilient remete à

idéia de elasticidade e capacidade rápida de recuperação.

De acordo com Tavares (2001 apud PINHEIRO) pode-se discutir a origem do termo sobre

três perspercivas: física, médica e psicológica. A resiliência sobre o ponto de vista físico seria

referente à qualidade de resistência de um material ao choque, que lhe permite voltar a sua forma

ou posição inicial. Sob o ponto de vista médico seria a capacidade de um individuo resistir a uma

doença, sozinho, sem intervenção medicamentosa. Por fim, a resiliência sob o ponto de vista

psicológico, seria uma capacidade que as pessoas, tanto individualmente, quanto em grupo têm de

resistirem a situações adversas sem perder o equilíbrio inicial, ou seja, refere-se à habilidade de se

acomodar e reequilibrar constantemente.

Assim, a psicologia define resiliência como a capacidade que tem um ser humano de

enfrentar e de se recuperar psicologicamente, quando submetido às adversidades, violências e

catástrofes na vida (PINHEIRO, 2004).

Flach (1991) atribui-se o uso do termo em 1966, visando descrever as forças psicológicas

e biológicas exigidas para atravessar com sucesso as mudanças na vida. Para ele, o indivíduo

resiliente é aquele que tem habilidade para reconhecer a dor, perceber seu sentido e tolerá-la até

resolver os conflitos de forma construtiva (PINHEIRO, 2004).

De acordo com Pinheiro (2004), é possível notar uma divisão na opinião dos autores

quanto à origem da resiliência. Alguns defendem que a versatilidade e flexibilidade são

características das pessoas resilientes, enquanto outros a apontam como sendo traço de

personalidade e temperamento do individuo.

De acordo com Assis (2003, apud LUCAS e GASPARINI 2006), o conceito de resiliência

vem se complexificando e evoluindo ao longo das décadas. Antes entendido como sinônimo de

invulnerabilidade, mais tarde como capacidade de adaptação individual em um ambiente

desajustado. Nos últimos anos essa noção está sendo abordada como um processo dinâmico

que envolve a interação entre fatores sociais e intrapsíquicos, de risco e de proteção. Ou seja, um

processo psicológico que se desenvolve ao longo da visa a partir dos fatores de risco versus

fatores de proteção.

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Sendo assim, a resiliência está atrelada a dois grandes fatores: o da adversidade, dos

eventos desfavoráveis, estressantes, das ameaças e dos perigos. E o outro, como sendo o fator da

proteção, que diz respeito a forças, competências, capacidade de reação e invulnerabilidade. A

combinação resultante desses fatores resulta em uma reconstrução singular diante do sofrimento

causado pela adversidade.

De acordo com Assis, Pesce e Avanci (2006), a resiliência pode ser entendida como uma

capacidade de metamorfosear as adversidades da vida. Esta capacidade existe desde que o

homem é homem e precisa superar ou transformar as adversidades com as quais se depara.

Algumas pessoas conseguem superar e construir caminhos positivos diante de situações e/ou

fatos difíceis, porém, outras se submetem aos obstáculos com mais facilidade, fazendo com que

suas vidas sejam circundadas pelo trauma provocado por tais situações. (ASSIS, PESCE,

AVANCI, 2006).

Resiliência é um processo interativo entre a pessoa e o seu meio, não nasce com o sujeito

e tampouco é uma aquisição exclusivamente de fora para dentro. É um processo que irá fortalecer

e capacitar o indivíduo para lidar com as adversidades de uma forma positiva. A resiliência não é

um estado adquirido e imutável, é um processo que deve ser construído continuamente ao longo

da vida por isso é importante que o indivíduo elabore os conflitos retome o seu desenvolvimento

de forma saudável (ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006).

O ser humano, ainda embrião, já está exposto a adversidades. Ainda no período intra-

uterino, o ambiente ecológico criado pela mãe afeta o bebê, de forma diferenciada. Antes de

completar oito meses os canais sensoriais do bebê estão bem desenvolvidos, o que permite a

comunicação entre ele e o mundo, representado pela mãe. Nesse período ele já possui

habilidade de percepção e representação das sensações alimentadas por uma sensorialidade. O

bebê já possui um perfil de comportamento, definido por seu padrão genético e pelas trocas que

fez com o mundo, representado pela mãe. (CYRULNIK 2000 apud ASSIS, PESCE, AVANCI,

2006).

O ser humano se defronta com circunstâncias adversas mesmo antes de nascer e vai

defendendo-se dela ao longo de toda a sua existência, dependendo da sua capacidade de

elaborar e superar problemas e reformular-se continuamente. Dessa forma, adversidades mudam

as vidas e acabam modificando o seu rumo (ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006).

2.2. Resiliência - Boris Cyrulnik

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“Eu me sai dessa”, admiram-se os resilientes, que depois de um ferimento

reaprenderam a viver, mas essa passagem da sombra para a luz, a escapada do

porão ou a saída do túmulo implicam a necessidade de reaprender a viver uma

outra vida (CYRULNIK, 2004, p 3).

Boris Cyrulnik, neurologista, etólogo, psiquiatra, psicanalista é um grande pesquisador do

conceito de resiliencia na França. Para ele resiliência é a capacidade de se adaptar a diferentes

meios e de superar adversidades. A resiliência é sistêmica, dinâmica e se dá nas interações entre

a pessoa em permanente desenvolvimento, seu ambiente e as pessoas de seu entorno

(SEQUEIRA, 2009).

Cyrulnik destaca a resiliência como um processo de superação que se dá no encontro

com o outro, resultante de uma interação de fatores pessoais, ambientais, institucionais e sociais.

O autor ressalta que a resiliência não é apenas um processo de adaptação. É mais do que voltar

ao estado anterior a situação traumática. É a partir desta situação, elaborar novos caminhos e

refazer-se do trauma vivido. É a ressignificacão do trauma vivido em direção à retomada do

desenvolvimento (SEQUEIRA, 2009).

Para Cyrulnik a história da mãe e suas relações atuais ou passadas participam da

constituição dos traços de temperamento da criança que está prestes, ou acabou de nascer. O

recém-nascido é apanhado por um mundo de sensorialidade já historizada, e é neste que ele

deverá se desenvolver (2004 apud ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006).

2.3. Traumas:

“O primeiro golpe, no real, provoca a dor do ferimento ou a dilaceração da falta. O

segundo, na representação do real,., faz surgir o sofrimento de ter sido humilhado,

abandonado.”(Cyrulnik, 2004, p 4). A palavra trauma vem do grego: ferida e deriva de furar, que

designa ferida com efracção cutânea (LAPLANCHE, 1967; PONTALIS, 1986, apud SEQUEIRA,

2009). Esse termo aparece na obra de Freud com a descoberta da histeria (1895/1995) e vai

sendo modificado até os dias de hoje. O acontecimento traumático desorienta o sujeito, fazendo

com que este perca a noção de quem é. Porém, só se fala em traumatismo, depois da

representação interna que o sujeito faz desse acontecimento. (SEQUEIRA, 2009)

De acordo com Cyrulnik (2004 p.4) o primeiro golpe vem do real, provoca a dor do

ferimento ou a dilaceração da falta, mas o segundo golpe vem da representação do real, que faz

surgir o sentimento de ter sido humilhado, abandonado, violentado.

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Cyrulnik (2004 apud ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006) destaca a importância das

mudanças provocadas pelos traumas, que não podem ser revertidos, pois deixam um traço

cerebral e afetivo que permanece quando a criança retoma seu ciclo de desenvolvimento. Porém,

estes podem ser reelaborados e ressignificados, reduzindo o impacto causado por estes traumas,

estresses e infortúnios.

É possível falar em traumatismo apenas quando ocorre uma violação envolvendo o

sujeito, que faz com que o mesmo se fragilize e tenha dificuldades em sua representação do

acontecimento traumático. A natureza do episódio traumático pode corresponder ao biológico,

afetivo e histórico. Em cada um desses níveis é possível uma resiliência (ASSIS, PESCE,

AVANCI, 2006).

Para Cyrulnik (2004) todo estudo sobre a resiliência deveria abordar três planos: a

aquisição de recursos internos impregnados no temperamento, já nos primeiros anos de vida, no

decorrer das interações pré-verbais; o significado que um golpe adquire na história do ferido e em

seu contexto familiar e social; e a possibilidade de encontrar lugares de afeto, de atividades e de

palavras que a sociedade dispõe, às vezes, em torno do ferido, oferecendo-lhe tutores de

resiliência que lhe permitirão retomar um desenvolvimento marcado pelo ferimento. “Esse

conjunto, constituído por um temperamento pessoal, um significado cultural e um apoio social,

explica a surpreendente variabilidade dos traumatismos” (CYRULNIK, 2004, p.7)

2.3.1 Aspectos internos:

A variabilidade dos traumatismos pode ser explicada por um conjunto de fatores:

temperamento pessoal, significado cultural e apoio social.

Algumas crianças traumatizadas conseguem resistir e superar adversidades. Isso pode

ser explicado através da associação de alguns fatores: recursos internos afetivos e

comportamentais nos primeiros anos de vida; e a disposição de recursos externos sociais e

culturais (SANTOS e ALVES, 2006).

A palavra “temperamento” hoje significa uma disposição para experimentar as coisas do

mundo, para expressar raiva ou prazer de viver. Refere-se a uma força vital que impele a

encontrar algo, uma sensorialidade, uma pessoa ou um episódio. Pode-se dizer que os

determinantes genéticos existem, o que não significa que o homem seja determinado

geneticamente (SANTOS e ALVES, 2006).

As pessoas percebem e reagem às situações de maneiras diferentes. O significado das

vivencias e acontecimentos, é dado pelo contexto em que este ocorre. Depende do contexto

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cultural e da história do indivíduo, o que faz com que um evento possa ter significados diversos

para cada pessoa. Essas diferenças individuais distinguem o modo como estas pessoas

enfrentam os problemas e adversidades. Para uma pessoa um evento pode ser experenciado

como uma adversidade e para outra o mesmo evento pode ser visto como um desafio. Portanto,

mais importante do que conhecer o evento sofrido é necessário entender como o individuo reagiu

a este evento.

2.3.2. Aspectos ambientais:

As aquisições que a criança fará em um meio depende muito mais do ambiente em que

ela está inserida do que dela própria. Portanto, se mudarmos a criança de ambiente ela muda

suas aquisições (SANTOS e ALVES, 2006).

Nota-se que as adversidades mais perturbadoras para as crianças são as que provocam

um rompimento do apoio parental. Estudos com crianças em situação de guerra mostraram que a

forma com que as figuras de apego reagem e se expressam à catástrofe, tem grande influência

sobre as emoções das crianças, podendo afligir ou acalmá-las. Uma situação intensa ou crítica

que não altera as pessoas que cuidam da criança acaba provocando menos estragos psíquicos

do que situações aparentemente menos graves que abalam e mudam o cuidador da criança,

destruindo este referencial afetivo que lhe dá suporte. O meio em que a criança está inserida e a

bolha afetiva que a envolve no dia-a-dia são os principais fatores que podem fazer com que a

criança teça a resiliência, ou seja destruída pela adversidade (CYRULNIK, 2004 apud ASSIS,

PESCE, AVANCI, 2006).

Assim os fatores de resiliência dependem do tipo de agressão, do significado que a

criança lhe atribui e da maneira pela qual sua bolha afetiva é envolvida. Se o meio permitir, diante

de um evento estressante, a parte sadia da personalidade da criança pode expressar-se e

retomar o desenvolvimento, reduzindo o ferimento causado (SANTOS e ALVES, 2006).

2.3.3. Posicionamento subjetivo:

Uma pessoa que foi agredida precisa mudar a imagem que tem do agressor para reparar

essa perda. Sua memória precisa mudar a conotação afetiva. As crianças que foram

maltratradas, abandonadas e traumatizadas antes mesmo de aprenderem a falar adquirem um

distúrbio da emoção, as modificações ocorridas por causa do trauma impedem o controle

emocional. Essas crianças desesperam-se em qualquer situação de separação, sobressaltam

ao menos ruído, sentem medo e acabam sendo frias, buscando sofrer menos. Para que estas

crianças tornem-se resilientes é necessário que estas aprendam a se expressar

emocionalmente de outra forma (SANTOS e AVES, 2006).

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Conforme Cyrulnik (2004 apud SANTOS e AVES, 2006), um entre três adolescentes

traumatizados muda o seu estilo de apego e se torna sereno na adolescência. Essa superação

positiva se dá a partir do momento em que os adolescentes param de sofrer com o traumatismo e

lhe atribuem um novo sentido. Quase todas as crianças maltratadas que se tornaram serenas na

adolescência encontraram uma autonomia precoce. Esses adolescentes demonstram procurar

por algo que lhes daria um rumo, estabelecem metas que acreditam poder alcançar. De acordo

com Santos e Alves (2006) a criação de sentido pode ser representada por palavras chaves

como: projeto, esperança, potência.

2.4. Fatores de risco e protetores

Compreende-se resiliência como o conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que

possibilitam o desenvolvimento de uma vida sadia, mesmo vivendo em um ambiente não sadio

(PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004). A resiliência não nasce com o sujeito e nem é

desenvolvida por ele. É um processo interativo entre a pessoa e o meio. Entende-se que a

resiliencia é uma forma individual de resposta ao risco, que pode ser vivida de maneiras diversas

por diferentes pessoas. A resiliencia não é um atributo fixo do individuo, ou seja, não há pessoas

resilientes de forma geral e sim, pessoas que em determinadas situações reagiram de forma

resiliente. A resiliencia é um processo resultante da combinação entre o individuo, seu ambiente

familiar, social e cultural. (RUTTER, 1987 apud PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).

2.4.1. Fatores de risco ou eventos adversos:

De acordo com PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA (2004), os fatores de risco, tanto

crônicos como agudos podem estar afetando a capacidade de resiliência das crianças e

adolescentes. Como exemplo, pode-se citar: condições de pobreza, rupturas na família, vivência

de algum tipo de violência, experiências de doença na própria criança ou adolescente, doença na

família e perdas importantes.

Eventos de risco, são eventos considerados como obstáculos individuais ou ambientais

que aumentam a vulnerabilidade da criança, no sentido de aumentar a probabilidade de gerar

resultados negativos em seu desenvolvimento. Atualmente, considera-se que o risco é um

processo e que o número total de fatores de risco a que uma criança foi exposta, o período de

tempo, o momento e contexto da exposição ao risco, são mais importantes do que uma única

exposição grave. (ENGLE, CASTLE, MENON, 1996 apud PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA,

2004). Sendo assim, entende-se que o que determinada situação é a visão subjetiva do individuo,

a sua percepção pode atribuir ao evento o sentido de um evento estressor ou de um perigo, ou

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então, como sendo apenas um desafio. (YUNES, SZYMANSKI, 2001 apud PESCE, ASSIS,

SANTOS e OLIVEIRA).

Não há um numero de eventos de vida negativos suficientes ou necessários para

desenvolver a capacidade de resiliência do indivíduo. É necessário considerar a heterogeneidade

dos tipos de eventos e como o evento afetou o individuo, mais do que como o individuo

respondeu a uma determinada situação. (GARMEZY, 1996; LUTHAR, CUSHING, 1999;

LUTHAR, ZIGLER, 1991 apud PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).

Garmezy (1988, apud PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004 ) sugere que eventos

agudos podem ser muito mais desastrosos do que condições crônicas a que o indivíduo já está

habituado. Um exemplo desse tipo de evento pode ser a perda ou separação de pessoas

queridas. Ao investigar fatores de risco familiares Garmezy identificou que a presença de um ou

de nenhum evento estressor na vida do individuo produz um aumento de um por cento nas

chances de uma desordem psiquiátrica na criança. Já, dois eventos estressores aumentam em

cinco por cento a possibilidade de desordem e três estressores aumentam as chances para seis

por cento. Quatro ou mais eventos estressores aumentam em vinte e um por cento a

probabilidade de a criança vir a desenvolver uma desordem psiquiátrica. Já o acumulo de

eventos aumenta para trinta e três por cento a ocorrência de problemas psiquiátricos em crianças

(PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).

Seguindo essa linha de cronicidade de eventos Rutter (1981 apud PERCE, ASSIS,

SANTOS e OLIVEIRA) ressalta que eventos agudos podem relembrar que eventos agudos

podem provocar efeitos negativos em curto prazo, mas não necessariamente em longo prazo.

Assim sendo, uma criança que fica hospitalizada por uma semana geralmente não implica em

seqüelas posteriores. Porém, pessoas que já estão expostas a adversidade crônica podem ter

mas dificuldade para lidar com eventos agudos. Por exemplo, no caso de uma pessoa que foi

hospitalizada repetidas vezes, isso pode ter um efeito maior quando associado a adversidades

psicossociais do que em circunstâncias mais favoráveis de vida.( PESCE, ASSIS, SANTOS e

OLIVEIRA, 2004)

Nota-se que o período de vida em que o evento ocorre, bem como a situação enfrentada,

são extremamente relevantes quando pensa-se em diferentes níveis individuais de tolerância ao

estresse. Cada pessoa pode reagir ao evento de risco de uma forma diferente, de acordo com a

forma como este a afeta. Ou seja, algumas pessoas são perturbadas por pequenas mudanças,

outras por eventos maiores, outras ainda quando a exposição a este evento é mais prolongada e

algumas podem alcançar esse limite de tolerância com o acumulo de eventos estressores no dia

a dia. (SAVOIA, 1999 apud PERCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).

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Independente da forma como se constitui o risco, é possível aprender formas de

enfrentamento a partir da convivência com pessoas que já vivenciaram situações parecidas e as

ultrapassaram com sucesso. De acordo com Luthar, Antoni e Koller (1991, 2000 apud PESCE,

ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004) a resposta ao risco é descrita em termos de vulnerabilidade

e resiliência.

2.4.2. Fatores protetores

Para compreender a resiliência é muito importante entender a importância dos fatores de

risco. Além disso, é fundamental entender também a importância dos fatores ou mecanismos de

proteção que o individuo dispõe internamente ou aprende do meio em que vive.

Conforme Brooks, 1994; Emery e Forehand (1996, apud PESCE, ASSIS, SANTOS e

OLIVEIRA, 2004) muitos autores dividem os fatores de proteção em três categorias: fatores

individuais, fatores familiares e fatores relacionados ao apoio do meio ambiente. Os fatores

protetores individuais seriam a auto-estima positiva, o auto-controle, a autonomia e características

de temperamento flexível e afetuoso. Como fatores familiares, pode-se citar a estabilidade, coesão,

respeito mútuo e apoio. Já os fatores relacionados ao apoio do meio ambiente estão associados ao

bom realcionamento com amigos, professores, pessoas significativas para a criança, que tenham

um papel de referência segura para a criança, fazendo com que esta se sinta querida e amada.

(PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).

“A presença de um fator de proteção pode determinar o surgimento de

outros fatores de proteção em algum outro momento. Portanto,

compreender de que forma esses mediadores agem para atenuar os

efeitos negativos do estresse ou do risco é tarefa tão complexa quanto

determinar o que é fator de adversidade para cada ser humano.” (PERCE,

ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004)

Os fatores de proteção são essenciais para modificar a resposta do individuo frente aos

fatores de risco. Estes tem como função reduzir o impacto dos riscos, o que altera a exposição da

pessoa frente à situação adversa. Os fatores de proteção também reduzem as reações negativas

em cadeia que seguem a exposição da pessoa à situações de risco. Além disso, tais fatores

proporcionam com que o indivíduo mantenha a autoestima e autoeficácia, através de relações de

apego seguras e do cumprimento de tarefas com sucesso, criando oportunidades para que os

efeitos do estresse sejam revistos. (RUTTER, 1987 apud PERCE, ASSIS, SANTOS e

OLIVEIRA, 2004).

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Os mecanismos de proteção são tomados como o ponto chave para restabelecer o

equilíbrio perdido diante de fatores potencialmente geradores de desequilíbrio.

2.5 Diferentes percepções sobre o conceito

O termo resiliência, originalmente, vem da física referindo-se à "propriedade pela qual a

energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora da

deformação elástica" (FERREIRA, 1975 apud JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003). Como

exemplo que ilustra essa característica pode-se citar, o elástico, que após ser esticado e

submetido a uma tensão inicial, volta ao seu estado anterior. Porém, quando o conceito de

resiliência se aplica ao ser humano, este tem um sentido que é maior do que à volta ao estado

anterior, superação, ou de acordo com alguns autores (BLUM, 1997; RUTTER, 1987 apud

JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003), adaptação, diante de uma dificuldade considerada um risco

ou adversidade. Significa a construção de novos caminhos de vida a partir de um enfrentamento

dessas situações traumáticas. Sendo assim, não se fala de resistência como na física, mas de

uma capacidade de se sair bem diante de eventos estressores. (JUNQUEIRA e DESLANDES,

2003).

A resiliência pode ser vista como resultado da interação entre aspectos individuais e

contextos sociais, entre quantidade e qualidade dos acontecimentos decorrentes ao longo da

vida e os chamados fatores de proteção existentes na família e no meio social. (LINDSTROM,

2001 apud JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003).

Kotliarenco et al. (1997, apud JUNQUEIRA e DESLANDES) sintetizam a resiliência como

a interação entre atributos pessoais, os apoios do sistema familiar e aqueles provenientes da

comunidade.

As clínicas psicológica e psicanalítica constatam há muito tempo que algumas crianças

que sofreram maus-tratos passam por esse evento com sofrimento, mas não apresentam o

quadro de consequências descritas pela literatura especializada, o que demonstra que lhes é

possível encontrar caminhos para reconstrução de suas próprias vidas. É exatamente sobre

esses aspectos que o campo da Psicologia se debruça, buscando entender a elaboração

simbólica diante do sofrimento humano, empregando outros conceitos e definições

terminológicas. (JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003)

Assim, o debate que existe em torno do conceito de resiliência, a capacidade de

desenvolvê-la e a complexidade que este conceito agrega, está relacionado a uma discussão

sobre um tema central dentro da saúde coletiva, a conexão entre o individual, singular e coletivo.

Junqueira e Deslandes (2003) discutem o conceito de resiliência a partir de uma visão crítica,

Page 15: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

15

abordando contradições, avanços e limitações. Elas pretendem refletir sobre as possíveis

contribuições do conceito para intervenção no campo dos maus-tratos contra crianças e

adolescentes (JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003).

Historicamente o conceito é recente visto que a maioria das definições sobre resiliência

foram publicadas a partir dos anos 90. Estas definições nem sempre seguem uma descrição

conceitual detalhada e alguns autores a definiram em termos mais operacionais, porém não

existe um consenso a cerca deste fato. (JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003)

Segundo Kotliarenco et al., (1997 apud JUNQUEIRA e DESLANDES) a resiliência pode

ser definida como uma habilidade para suportar a adversidade, adaptar-se, recuperar-se, e

aceder a uma vida significativa e produtiva. Significa a habilidade de enfrentar efetivamente

circunstancias da vida extremamente estressantes, superá-las e ser transformado por estas. A

resiliência é parte do processo evolutivo, sendo assim, deve ser promovida desde a infância.

Refere-se a uma combinação de fatores que permitem o enfrentamento e a superação de

adversidades da vida, é produto de um conjunto de fatores sociais e intrapsíquicos que

possibilitam que um indivíduo tenha uma vida sã em um meio insano. (KOTLIARENCO et al.,

1997 apud JUNQUEIRA e DESLANDES).

Munist et. al. 1998, definem a resiliência como capacidade do ser humano de fazer frente

às adversidades da vida, de superá-las e de ser transformado positivamente por elas (MUNIST et

al 1998 apud JUNQUEIRA e DESLANDES 2003). Diz respeito à capacidade do indivíduo utilizar

fatores protetores para se sobrepor à adversidade, crescendo e desenvolvendo-se apesar de ter

vivido uma situação desfavorável. É desenvolver competências apesar de ter sido criado em

circunstancias que aumentam a possibilidade deste individuo desenvolver patologias mentais ou

sociais. É equivalente a uma capacidade resultante da resistência à destruição, para reconstruir-

se diante de situações adversas. É o equilíbrio resultante de fatores de risco, fatores protetores e

a personalidade do ser humano. A resiliência é um processo dinâmico entre o individuo e o seu

externo, é o enfrentamento de situações adversas, saindo das mesmas fortalecido, embora tenha

sido exposto a fatores de risco. O que enfatiza as potencialidades e recursos pessoais que

propiciam tal superação e enfrentamento. (MUNIST et al 1998 apud JUNQUEIRA e

DESLANDES 2003).

De acordo com Junqueira e Deslandes 2003, os autores Blum, 1997; Herrenkohl et al.,

1994; Rutter, 1987; Steinhauer, 2001, enchergam a resiliência num sentido mais adaptativo, ou

seja, como a capacidade de o indivíduo de recuperar e manter um comportamento após um

dano. Esta capacidade seria adquirida nas relações que restabelecem vínculos afetivos e de

confiança. É também proveniente de características pessoais do indivíduo que lida melhor com

Page 16: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

16

situações adversas extraindo destas um aprendizado e desenvolvendo assim, uma capacidade

de adaptar-se de uma forma esperada pela sociedade. (BLUM, 1997; HERRENKOHL et al.,

1994; RUTTER, 1987; STEINHAUER, 2001 apud JUNQUEIRA e DESLANDES 2003)

Há quem defina a resiliência em um sentido de superação do trauma, ou seja, esta

experiência é elaborada simbolicamente e faz parte da historia do individuo ou grupo colaborando

para o fortalecimento destes e preparando-os para enfrentas novas situações. Segundo essa

perspectiva, Bouvier (1999 apud JUNQUEIRA e DESLANDES) define a resiliência como sendo a

capacidade de se recuperar e manter um comportamento adaptado após um dano.

Boris Cyrulnik (1999 apud JUNQUEIRA E DESLANDES 2003) também compartilha desta

visão, ele indica que a capacidade de se adaptar a diferentes meios e superar problemas

distintos de forma a construir-se como sujeito na adversidade é resiliência. Ainda de acordo com

Cyrulnik esta é dinâmica, sistêmica e se dá nas interações entre a pessoa em constante

desenvolvimento, seu ambiente e as pessoas que a cercam.

Haynal, 1999 (apud JUNQUEIRA e DESLANDES 2003) define a resiliência como

capacidade de atribuir significado a um evento traumático.

De acordo com Junqueira e Deslandes 2003, ambos os discursos, tanto adaptação e

superação precisam ser desmistificados. A resiliência funciona como um fator protetivo, porém

não necessariamente é uma experiência agradável. Uma pessoa que desenvolveu a resiliência

diante de um evento traumático não indica necessariamente que esta superou todos estes

eventos. Ou seja uma pessoa não é resiliente a toda e qualquer situação e nem a todo o

momento. (CYRULNIK, 1999 apud JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003) A resiliência não é um

processo definitivo ou linear, o mesmo individuo pode ser resiliente diante de uma situação e não

o ser diante de outra. Dessa forma, não podemos definir as pessoas como resilientes ou não-

resilientes, pois a resiliência é uma capacidade do sujeito desenvolvida em determinados

momentos e situações, de acordo com as circunstancias em que se encontra.

Segundo Junqueira e Deslandes 2003, Kotliarenco et al. (1997) definem a resiliência

apoiando-se na dualidade entre vulnerabilidade-proteção. De acordo com eles a vulnerabilidade

seria uma dimensão contínua do comportamento, que se move a partir de uma adaptação que

pode ser mais ou menos efetiva diante do estresse. A proteção seria o conjunto de influências

que faz com que modifique ou melhore a resposta do indivíduo diante de algum perigo que

predispõe a um resultado não adaptativo. Munist et al. (1998 apud JUNQUEIRA E DESLANDES),

ressaltam que, embora os pontos de vista de risco e de resiliência sejam diferentes, são aspectos

Page 17: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

17

complementares. Percebê-los como um conjunto possibilita um olhar do todo, o que permite uma

maior flexibilidade e fortalecimento na aplicação dos conceitos na promoção da saúde.

Junqueira e Deslandes (2003) apontam que Slap (2001) define a resiliência a partir da

interação de quatro elementos, são estes: fatores individuais, contexto ambiental, acontecimentos

ao longo da vida e fatores de proteção. Estes fatores juntos compõem os recursos que protegem

o adolescente e lhe possibilitam o bem-estar. (SLAP 2001, apud JUNQUEIRA e DESLANDES

2003)

“O desafio à pesquisa e às ações de promoção é, portanto, entender como se compõe

cada elemento desse "banco" e qual interação entre eles levaria à resiliência em cada situação

particular.” (JUNQUEIRA e DESLANDES 2003 p.230).Entretanto, esse não é um ponto

consensual entre os autores, trata-se de um conjunto singular de fatores que produzem a

resiliência e que podem não estar presentes em certas situações. O conceito de resiliência

transformou-se num terreno de múltiplas interpretações. A leitura adaptativa pode significar a

conformidade diante da violência e/ou uma perspectiva individualista de lidar com o problema. Na

visão funcionalista, a capacidade de adaptação do individuo indica uma certa conformidade e ao

que lhe é estabelecido. A acomodação pode ser um processo gerado a partir da coerção, do

compromisso, da tolerância ou conciliação que visa diminuir uma situação de conflito entre

indivíduos ou grupos. (JUNQUEIRA e DESLANDES 2003).

De acordo com Lindstrom (apud JUNQUEIRA e DESLANDES 2003) a resiliência não

produz adolescentes melhores, apenas mais capazes de lidar com situações difíceis já que este

não tem necessariamente interesse em conceitos como humanidade, empatia ou solidariedade.

A resiliência pode ainda ser vista de forma "estigmatizadora", ou seja como uma

capacidade e habilidade desenvolvida apenas pelos mais competentes, mais fortes, o que faz

com que os demais sejam considerados não-resilientes (JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003).

III. MÉTODO

Segundo Silva (...) “a pesquisa é um dos possíveis caminhos de enfrentamento da

questão social: afina e reafina os recursos analíticos, captura o significado político-ideológico dos

fatos, produz conhecimentos da realidade na qual intervém e subsidia a ação.” (2005a p.15 apud

BRETAN, 2008)

A partir desta perspectiva, as pesquisas sobre produção de conhecimento têm um

importante papel, pois permitem avaliar a organização dos pesquisadores junto a núcleos ou

centros de pesquisa. (BRETAN, 2008)

Page 18: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

18

Conforme Held um determinado discurso (inclusive o científico), numa perspectiva

crítica, pode ser mistificador, apresentando os dados da experiência social como imediatos,

desvinculados do processo que os produziu. A análise dessa produção pode contribuir para se

construir novas bases de consciência social e de ação (apud JUNQUEIRA e DESLANDES,

2003).

Esse projeto trata-se de uma pesquisa sobre a produção de conhecimento sobre o conceito

de resiliência expressa em artigos científicos disponíveis na biblioteca científica eletrônica Scielo

nos últimos anos.

3.1. Procedimento de coleta do material

Em setembro de 2011 foi realizada uma busca na base de dados Scientific Eletronic Library –

Scielo (www.scielo.br) com a palavra-chave Resiliência. Foram levantados um total de 196

artigos de diferentes temáticas com essa palavra-chave.

Essa pesquisa tem como objetivo analisar a produção sobre resiliência na base citada,

porém como são muitos artigos optou-se por analisar a produção do último triênio em língua

portuguesa.

Em 2011, foram publicados 12 artigos, desses artigos, 7 estavam escritos em português,

3 em espanhol e 2 em inglês. Dentre os 7 artigos escritos em português, foi observado que 4 não

faziam um estudo do tema resiliência, apenas citavam o assunto. Optamos por analisar apenas

os artigos cujo tema da resiliência tenha sido minimamente contemplado. Assim, selecionamos

para análise três artigos publicados em 2011 que faziam referência direta ao tema no título ou

nas palavras chaves.

Foram encontrados 34 artigos publicados em 2010, desses artigos, 16 estavam escritos

em português, 14 em espanhol e quatro em inglês. Dentre os 16 artigos em português,

observamos que 5 desses artigos publicados faziam referência ao conceito de resiliência

relacionando-o a aspectos da terra, à sustentabilidade, à conservação do solo e agronomia. Por

não tratarem o conceito sob uma perspectiva humana ou psicológica estes artigos foram

excluídos. Além disso, um desses artigos se referia à resiliência sob um olhar da veterinária,

relacionando-o à adaptações e alterações histológicas de animais, este também foi excluído por

não contemplar nosso tema de interesse. Quatro desses artigos não faziam referência direta ao

tema de resiliência. Sendo assim, foram selecionados para análise 6 artigos publicados em 2010

que faziam referência direta ao tema de resiliência.

Page 19: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

19

Em 2009 foram publicados 31 artigos que puderam ser encontrados a partir da palavra

chave resiliência. 16 desses artigos estavam escritos em português, 9 em espanhol e 6 em

inglês. Dos artigos escritos em português 50% não faziam referência direta ao tema de resiliência

e os outros 50%, um total de 8 artigos, foram selecionados para análise por referirem-se à

diretamente resiliência no título ou nas palavras chaves dos artigos.

3.2. Procedimento de análise de dados

A proposta para este projeto é a realização de uma análise de conteúdo qualitativa. Para

isso torna-se necessário que seja realizada uma organização da análise. Esta pode ser dividida

em três fases cronológicas: pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados,

interferência e exploração (BADIN, 2009).

A pré-análise é a leitura “flutuante” para a escolha de documentos que serão utilizados

para análise. Constitui-se das regras de recorte, categorização e codificação e formulação de

hipóteses e objetivos. A exploração de material é uma fase que consiste essencialmente em

operações de codificação, decomposição e enumeração em função das regras previamente

formuladas. O tratamento dos resultados obtidos e interpretação, é constituído por operações

estatísticas, síntese e seleção de resultados, interferências e interpretação.

IV. DADOS

4.1 COSTA, M.G.R.; NORONHA, S/ CARDOSO, P.S.; MORAES,P.N.T; CENTA, M.L. Resiliencia: a

nova perspectiva na promoção da saúde da família:: Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.14,

n.2, Mar./Apr. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-

81232009000200018&lang=pt

Resumo:

Foi realizado um estudo descritivo a respeito de alguns conceitos da resiliência, buscando

um entendimento, considerando os pressupostos de promoção de saúde, no contexto do Programa

de Saúde da Família (PFS). Observou-se que não há um consenso sobre esse tema, mas este

apresenta aspectos relativos à promoção da saúde. O artigo busca destacar o entendimento

moderno de promoção de saúde ilustrando aspectos que se relacionam à resiliência. Considerando

que a promoção de saúde é uma das atribuições do PSF, o estudo contextualiza a criação desse

programa, enfatizando a atuação de profissionais dessa área a sua relação com o tema, buscando a

promoção de saúde e trabalhando com a resiliência.

Método:

Page 20: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

20

Revisão bibliográfica o tema da resiliência buscando extrair subsídios que pudessem

instrumentalizar os profissionais da equipe multiprofissional da Saúde da Família na utilização

correta da resiliência como nova perspectiva na promoção da saúde junto às famílias.

Referencial teórico:

Notou-se que a utilização do conceito resiliência nos espaços médico-psico-social é recente.

Inicialmente, a resiliência era entendida como a capacidade de resistência e de vivenciar

prolongadas situações de estresse sem apresentar qualquer tipo de dano emocional eou cognitivo.

Atualmente, essa concepção ainda é presente nos estudos sobre o tema, porém é menos freqüente,

dando lugar a um conceito que procura abranger outras dimensões mais atentas às condições

sociais e menos deterministas

Inicialmente, pensava-se existir condições inatas para resistir e ter imunidade a

adversidades estressantes e não se tornar vítima. A partir da década de 1990, foi se ampliando os

estudos sobre a resiliência e diversos estudiosos passaram a reconhecer a resiliência como um

fenômeno comum e presente no desenvolvimento de qualquer ser humano. Outros estudiosos

enfatizam a necessidade de cautela no uso naturalizado do termo, sendo freqüentemente referido

por processos que explicam a "superação" de crises e adversidades em indivíduos, grupos e

organizações. A partir de uma revisão crítica das publicações sobre resiliência no final dos anos

noventa, verifica-se que o conceito não apresenta uma definição consensual, sendo caracterizado

em termos mais operacionais do que descritivos.

Alguns autores (YUNES, M.A.M, 2001;PINHEIRO,D.P.N, 2004 apud COSTA, M.G.R.;

NORONHA, S/ CARDOSO, P.S.; MORAES,P.N.T; CENTA, M.L., 2009 ) consideram a resiliência

como sendo a capacidade do sujeito lidar com a adversidade, não sucumbindo a ela, alertando para

a necessidade de relativizar, em função do indivíduo e do contexto, o aspecto de superação de

eventos potencialmente estressores apontado em algumas definições de resiliência. “Defendendo

que o termo resiliência traduz conceitualmente a possibilidade de superação num sentido dialético,

representando não uma eliminação, mas uma ressignificação do problema” (COSTA, M.GR;

NORONHA, S.; CARDOSO,P.S; MORAES, T.N.P; CENTA,M.L; 2009)

A resiliência surge, como uma estratégia, habilidade e competência para enfrentar as

adversidades da vida e ser capaz de superá-las, adaptar-se e recuperar-se, sendo transformado por

elas.

Discussão:

Page 21: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

21

Várias situações, muitas vezes relacionadas a problemas sociais, como: condições de

pobreza, rupturas na família, vivência de algum tipo de violência, experiências de doença crônica

ou aguda do próprio indivíduo ou da família e outras perdas importantes podem ser consideradas

como fatores de risco e podem afetar a capacidade de resiliência em indivíduos e famílias.

A visão subjetiva de um individuo sobre certa situação, sua percepção e interpretação

define o evento estressor como sendo, ou não, uma condição de estresse. Eventos considerados

como risco podem aumentar a vulnerabilidade da família e seu desenvolvimento. Observou-se que

certos atributos da pessoa têm uma associação positiva com a possibilidade de enfrentar os

fatores de risco no cotidiano, de aproveitar os fatores protetores, de ser resiliente, sendo crítico e

sujeito ativo na sociedade.

Os fatores protetores possuem quatro funções principais: 1) reduzir o impacto dos riscos,

fato que altera a exposição da pessoa à situação adversa; 2) reduzir as reações negativas em

cadeia que seguem a exposição do indivíduo à situação de risco; 3) estabelecer e manter a auto-

estima e auto-eficácia, através de estabelecimento de relações de apego segurança [favor rever a

construção] e o cumprimento de tarefas com sucesso; 4) criar oportunidades para reverter os

efeitos do estresse.

O apoio social contribui para o bem-estar do indivíduo e amortece o efeito provocado pelas

situações adversas surgidas. Diversas referências documentam os benefícios físicos e psicológicos

do apoio social e relatam um melhor ajustamento dos sujeitos com apoio social a acontecimentos

indutores de "estresse". Estes se recuperam mais rapidamente da doença recentemente

diagnosticada, diminuindo o risco de mortalidade a doenças específicas e acabam usufruindo de

um qualidade de vida mais satisfatória.

As relações familiares funcionam como promoção da vida e bem-estar social, favorecendo

o desenvolvimento das potencialidades de cada um e do grupo com relação a individualidade e

manutenção do ambiente físico e simbólico favorável às trocas e ao crescimento grupal e pessoal.

O PSF ( Programa de Saúde da Família) como estratégia surgiu para romper com o modelo

hegemônico assistencialista, curativista, medicamentoso e hospitalocêntrico, pautado na compra de

serviços e na especialização das ações de saúde. Este indica que o individuo seja visto de maneira

integral e que seja acompanhado continuamente. As ações devem visar a promoção de saúde e à

proteção de doenças garantindo a qualidade de vida à população de sua abrangência.

Propõe-se que nesta atenção continuada à população, deve ser considerada a história de

vida dos sujeitos, que deverão ser capazes de participar juntamente com a equipe

multiprofissional, intervindo no enfrentamento dos problemas de saúde vividos. Assim, essa

participação deve ir além da construção da proposta de assistência individual ou coletiva, bem

Page 22: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

22

como da representação organizada de sua comunidade nos diferentes níveis do SUS, conferências

e conselhos de saúde. Desta forma, o PSF passa a se constituir numa estratégia inovadora no

cenário dos serviços de saúde, priorizando as ações de promoção, proteção e recuperação da

saúde das pessoas e das famílias de forma integral e contínua.

Estas possibilidades envolvem as possibilidades da família no enfrentamento da doença e

de riscos, e a possibilidade de intervenção da equipe. Entende-se que, somente assim, os

profissionais possam estar intervindo junto os usuários que vivem em estado fragilizado,

angustiante, frustrante e de impotência diante das dificuldades encontradas, resistindo e criando

meios de valorizar a vida, construindo o sentido do cuidar, do respeito, da troca, do sorriso, da

solidariedade.

Ao longo do tempo, o PSF vem se mostrando como excelente estratégia de intervenção e,

visando melhor atuar na comunidade que assiste, encontra-se aberto para propostas inovadoras.

Nesse sentido, as autoras visualizaram a possibilidade de trabalhar com a resiliência, utilizando-a

como nova perspectiva na promoção de saúde. A abordagem focada na resiliência, utilizada pelo

PSF parece fomentar uma adequada rede de apoio social. A “rede de apoio social” é compreendida

pelos recursos estruturais e humanos disponíveis em uma localidade. No caso do PSF corresponde

a sua área de abrangência.

A promoção da saúde tem se tornado cada vez mais presente na prática dos profissionais

de saúde e, na atualidade, é incluída como componente de destaque na organização de novos

modelos de prestação de serviços no campo da saúde pública, como é o caso do Programa de

Saúde da Família.

A promoção, diferentemente da prevenção, caracteriza-se por um conjunto de intervenções

que têm como objetivo a eliminação permanente ou pelo menos duradoura da doença, tentando-se

eliminar suas causas mais básicas e não apenas evitar que se manifestem. Assim, o conceito

moderno de promoção de saúde contempla atividades voltadas tanto à grupos sociais, como à

indivíduos, por meio de políticas públicas abrangentes na busca de melhores condições de saúde.

Desta forma, entende-se que estratégias de promoção da saúde podem modificar estilos

de vida e as condições sociais, econômicas e ambientais que determinam a saúde. Este

movimento pela promoção da saúde revela que a resiliência é um conceito importante nessa área

de conhecimento. A resiliência foi instaurada no campo da promoção da saúde, discutindo-se hoje

a ampliação do conceito para além dos indivíduos, por intermédio de expressões como escolas

resilientes ou comunidades resilientes.

Conclusão:

Page 23: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

23

A resiliência é um conceito complexo e amplo contemplado em vários contextos e

abordagens. Nesse sentido, entende-se a resiliência como o conjunto de processos sociais e

intrapsíquicos que possibilitam o desenvolvimento de uma vida sadia, mesmo vivendo em um

ambiente não sadio. Dessa forma, não pode se pensar a resiliência como característica inata do

ser humano e nem com atributo adquirido ao longo do seu desenvolvimento, mas sim como um

processo interativo entre a pessoa e o meio, sendo vivenciado de maneiras diferentes e por

pessoas diferentes. A equipe multi profissional de saúde da família pode tornar-se um fator de

proteção junto à família, identificando possíveis fatores de risco ao passo que se mostra como rede

de apoio/proteção. Ao exercer esse papel, busca-se fortalecer a resiliência, promovendo saúde.

4.2 SORIA, D.A.C; BITTENCOURT, A.R.; MENEZES, M.F.B; SOUSA, C.A.C.S; SOUZA, S.R.

Resiliência na área da Enfermagem em Oncologia: Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v.

22, n. 5 SetOut 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

21002009000500017&lang=pt

Resumo:

Este estudo buscou mapear a produção cientifica nacional e internacional sobre Resiliencia

na Enfermagem em Oncologia e discutir a aplicabilidade do conceito na assistência. Foram

encontrados 116 artigos e selecionados cinco artigos que abordam a resiliência vinculada à

Enfermagem em Oncologia. Verificou-se uma lacuna na utilização do conceito na Enfermagem em

Oncologia na América Latina, e uma incipiência nas produções internacionais além da necessidade

de realização de outras pesquisas nessa área que discutam e reflitam sobre essa temática.

Método:

O estudo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática sem meta análise. Foram

analisadas algumas bases de dados (Pub Med, Medline, Literatura Latino-Americana e do Caribe

em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados de Enfermagem) e em sites da Oncology

Nursing Society e da International Society of Nurses in Cancer Care por se tratar das principais

sociedades internacionais de enfermagem oncológica. As palavras pesquisadas foram: resiliência

e enfermagem; resiliência, câncer e oncologia; resiliência, enfermagem, câncer e oncologia. Foram

encontrados 116 artigos. Destes, foram selecionados cinco para análise com autoria de

enfermeiras e/ou que foram publicados em periódicos de enfermagem. Os artigos foram

categorizados em um quadro analítico que continha: bases de dados, descritor, ano, fonte, título,

tipo do estudo, concepção de resiliência, e a área da oncologia na qual a temática estava inserida.

Após a construção deste quadro foi realizada uma discussão dos resultados dando ênfase à

aplicabilidade do conceito de resiliência na enfermagem em oncologia.

Page 24: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

24

Referencial teórico:

Considerando a perspectiva psicossocial a resiliência é definida como a capacidade de

reagir diante das dificuldades e adversidades de uma forma positiva, superando-as e mantendo o

equilíbrio dinâmico durante os desafios que ativam e desenvolvem a personalidade possibilitando

ao sujeito superar-se às pressões, desenvolvendo auto-proteção e autoconfiança.

A resiliência não deve ser apenas um atributo individual, deve estar presente também nas

instituições e organizações de forma a gerar uma sociedade mais resiliente.

Do ponto de vista da Psicologia e da Sociologia a resiliência é a capacidade da pessoas

resistirem à situações adversas sem perder o equilíbrio inicial, é a capacidade de se desestabilizar

e estabilizar-se novamente.

Os fatores de risco devem ser pensados como processo e não como variável em si,

relacionando os fatores de risco com os eventos negativos da vida, que quando presentes

aumentam a probabilidade de o individuo apresentar problemas físicos, sociais ou emocionais.

A combinação de dois ou mais estressores pode diminuir a possibilidade de conseqüências

positivas no desenvolvimento, e, a presença de estressores adicionais pode aumentar o impacto

de outros estressores já presentes.

A resiliência tem sido abordada com enfoque na compreensão da relação entre fatores de

risco e vulnerabilidade e fatores de proteção inerentes ao individuo e ao ambiente nas situações do

cotidiano.

Há também um enfoque dos estudos realizados em torno da auto-estima. Estes apontam

que o desenvolvimento da capacidade de resiliência no sujeito passa pela mobilização e ativação

de suas capacidades de auto-regulação e auto-estima. Sendo assim, ajudar as pessoas a

descobrir suas capacidades é uma maneira de torná-las mais confiantes e resilientes para

enfrentar a vida cotidiana incluindo as situações adversas que fazem parte desta.

O câncer, independente da sua etiologia é reconhecido como uma doença crônico-

degenerativa, que atinge milhões de pessoas no mundo independente de sua classe social,

religião ou cultura. O impacto do diagnostico de câncer é geralmente aterrador, pois esta doença é

conhecida por ser dolorosa, incapacitante e mortal. Apesar dos recentes avanços no diagnostico e

tratamento este estigma permanece.

Diante do diagnostico de câncer e do estigma provocado pela doença, é um desafio

colocar a resiliência como um conceito aplicável ao entendimento do processo de adoecimento e

recuperação, considerando a escassez de abordagens da temática e a produtiva fonte de

subsídios para investigação e intervenção para a saúde e a enfermagem na área de oncologia.

O importante para compreensão da resiliência é tentar conhecer como as características

protetoras se desenvolveram e de que modo modificaram o percurso pessoal do indivíduo.

Discussão:

Page 25: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

25

O objetivo deste estudo foi um esforço no sentido de mapear a produção cientifica nacional

e internacional sobre a resiliência na Enfermagem em Oncologia e discutir sua aplicabilidade na

assistência.

Foram selecionados cinco artigos que abordavam a resiliência relacionando-a à área de

Enfermagem em Oncologia. Estes representaram 4,3% do total de artigos encontrados.

Um destes artigos não estava disponível online e, portanto, não foi analisado, apenas

contabilizado

Neste estudo verificou-se que a abordagem de resiliência em Enfermagem inicia-se a partir

de 1998 com maior enfoque nos periódicos americanos e europeus, abordando a temática na área

de Pediatria Oncológica.

Verificou-se que nas publicações da enfermagem brasileira (base BDENF) a abordagem

de resiliência em oncologia é inexistente. Dentre os cinco estudos analisados, quatro utilizavam a

abordagem qualitativa na aproximação do conceito. Mesmo que um dos artigos não estava

disponível online notou-se que seu título estava relacionado à Enfermagem eu Cuidados Paliativos

vinculado à resiliência. Apenas um dos estudos era quantitativo, utilizando a resiliência como um

indicador correlacionado com a escala de Esperança, que entende a resiliência como auto-estima,

autoconfiança e autotranscendência.

Observou-se um pequeno acréscimo na temática na Enfermagem em Oncologia a partir de

2005, através de publicações de dois aritgos e dois livros internacionais. Os principais enfoques

associados à resiliência foram a resistência emocional e física, enfrentamento e proteção ante a

situação de adoecimento por câncer.

Além disso, a resiliência aparece incluída na agenda de pesquisas da Oncology Nursing

Society (ONS) e está inserida nos estudos psicossociais, comportamentais, de comunicação e na

abordagem da família de pessoas com câncer. Recentemente a ONS publicou um artigo que

aborda o risco da ocorrência de fadiga entre enfermeiras atuantes na oncologia, citando a

resiliência como um fator de proteção. Destaca-se também a inclusão da resiliência na revista

oficial da ONS, que tem um número temático com artigos relacionados à sobrevida das crianças

com câncer.

Quanto à concepção de resiliência os cinco artigos apresentam visões bastante distintas:

Um dos artigos a descreve como sendo uma força interna dos pacientes em radioterapia que não

se revela apesar das necessidades advindas do tratamento; o segundo artigo refere-se à

resiliência como “dispositivo para tratamento ante a situação de adoecimento por câncer na

Page 26: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

26

adolescência.”; já o terceiro artigo percebe a resiliência como “fator da sustentabilidade e das

relações maritais após terapia hormonal pós prostatectomia”.; o estudo quantitativo refere-se à

resiliência correlacionando-a com a escala de esperança e que pode ser entendida como auto-

estima, autoconfiança e auto transcendência.

Na assistência de enfermagem em Oncologia reflexões sobre a resiliência criam

possibilidades de ampliação dos modos de ver e fazer o exercício assistencial e gerencial de

enfermagem.

Apesar de existirem pesquisas e estudos sobre resiliência na enfermagem o conteúdo de

produção cientifica sobre resiliência ainda é considerado escasso.

Conclusão:

Foi verificado que existe uma lacuna na utilização do conceito de resiliência na área de

Enfermagem em Oncologia na America Latina e incipiência em produções internacionais.

Acredita-se que a resiliência pode ser um conceito significativo para o redimensionamento

das pesquisas na Enfermagem em Oncologia, contribuindo para reflexões na assistência, gerencia,

ensino e pesquisa.

Através dos dados encontrados identificou-se a necessidade de familiarização das

enfermeiras relacionadas à importância da resiliência no enfrentamento de doenças como o

câncer, favorecendo a adesão do paciente ao tratamento e ao plano de cuidados de enfermagem.

Outra aplicabilidade do conceito nesta área refere-se a importância da construção de

resiliência nos profissionais atuantes na área, visando a superação diante da exposição aos fatores

de risco existentes no contato presente com a terminalidade, finitude, dor e desesperança

apresentados no paciente com câncer.

O desafio imposto pela resiliência para a Oncologia é expandir a utilização do conceito,

visando a promoção de bem-estar e qualidade de vida dos pacientes e profissionais.

Ressalta-se que este é um estudo preliminar, e recomenda-se que sejam realizadas novas

pesquisas com o objetivo de ampliar a discussão sobre resiliência na Enfermagem em Oncologia.

4.3 SORIA, D.A.C; BITTENCOURT, A.R.; MENEZES, M.F.B; SOUSA, C.A.C.S; SOUZA,

S.R. Resiliência na área da Enfermagem em Oncologia: Acta Paulista de Enfermagem, São

Paulo, v. 22, n. 5 SetOut 2009. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002009000500017&lang=pt

Resumo:

Este estudo buscou mapear a produção cientifica nacional e internacional sobre Resiliencia

na Enfermagem em Oncologia e discutir a aplicabilidade do conceito na assistência. Foram

Page 27: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

27

encontrados 116 artigos e selecionados cinco artigos que abordam a resiliência vinculada à

Enfermagem em Oncologia. Verificou-se uma lacuna na utilização do conceito na Enfermagem em

Oncologia na América Latina, e uma incipiência nas produções internacionais além da necessidade

de realização de outras pesquisas nessa área que discutam e reflitam sobre essa temática.

Método:

O estudo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática sem meta análise. Foram

analisadas algumas bases de dados (Pub Med, Medline, Literatura Latino-Americana e do Caribe

em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados de Enfermagem) e em sites da Oncology

Nursing Society e da International Society of Nurses in Cancer Care por se tratar das principais

sociedades internacionais de enfermagem oncológica. As palavras pesquisadas foram: resiliência

e enfermagem; resiliência, câncer e oncologia; resiliência, enfermagem, câncer e oncologia. Foram

encontrados 116 artigos. Destes, foram selecionados cinco para análise com autoria de

enfermeiras e/ou que foram publicados em periódicos de enfermagem. Os artigos foram

categorizados em um quadro analítico que continha: bases de dados, descritor, ano, fonte, título,

tipo do estudo, concepção de resiliência, e a área da oncologia na qual a temática estava inserida.

Após a construção deste quadro foi realizada uma discussão dos resultados dando ênfase à

aplicabilidade do conceito de resiliência na enfermagem em oncologia.

Referencial teórico:

Considerando a perspectiva psicossocial a resiliência é definida como a capacidade de

reagir diante das dificuldades e adversidades de uma forma positiva, superando-as e mantendo o

equilíbrio dinâmico durante os desafios que ativam e desenvolvem a personalidade possibilitando

ao sujeito superar-se às pressões, desenvolvendo auto-proteção e autoconfiança.

A resiliência não deve ser apenas um atributo individual, deve estar presente também nas

instituições e organizações de forma a gerar uma sociedade mais resiliente.

Do ponto de vista da Psicologia e da Sociologia a resiliência é a capacidade da pessoas

resistirem à situações adversas sem perder o equilíbrio inicial, é a capacidade de se desestabilizar

e estabilizar-se novamente.

Os fatores de risco devem ser pensados como processo e não como variável em si,

relacionando os fatores de risco com os eventos negativos da vida, que quando presentes

aumentam a probabilidade de o individuo apresentar problemas físicos, sociais ou emocionais.

A combinação de dois ou mais estressores pode diminuir a possibilidade de conseqüências

positivas no desenvolvimento, e, a presença de estressores adicionais pode aumentar o impacto

de outros estressores já presentes.

A resiliência tem sido abordada com enfoque na compreensão da relação entre fatores de

risco e vulnerabilidade e fatores de proteção inerentes ao individuo e ao ambiente nas situações do

cotidiano.

Page 28: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

28

Há também um enfoque dos estudos realizados em torno da auto-estima. Estes apontam

que o desenvolvimento da capacidade de resiliência no sujeito passa pela mobilização e ativação

de suas capacidades de auto-regulação e auto-estima. Sendo assim, ajudar as pessoas a

descobrir suas capacidades é uma maneira de torná-las mais confiantes e resilientes para

enfrentar a vida cotidiana incluindo as situações adversas que fazem parte desta.

O câncer, independente da sua etiologia é reconhecido como uma doença crônico-

degenerativa, que atinge milhões de pessoas no mundo independente de sua classe social,

religião ou cultura. O impacto do diagnostico de câncer é geralmente aterrador, pois esta doença é

conhecida por ser dolorosa, incapacitante e mortal. Apesar dos recentes avanços no diagnostico e

tratamento este estigma permanece.

Diante do diagnostico de câncer e do estigma provocado pela doença, é um desafio

colocar a resiliência como um conceito aplicável ao entendimento do processo de adoecimento e

recuperação, considerando a escassez de abordagens da temática e a produtiva fonte de

subsídios para investigação e intervenção para a saúde e a enfermagem na área de oncologia.

O importante para compreensão da resiliência é tentar conhecer como as características

protetoras se desenvolveram e de que modo modificaram o percurso pessoal do indivíduo.

Discussão:

O objetivo deste estudo foi um esforço no sentido de mapear a produção cientifica nacional

e internacional sobre a resiliência na Enfermagem em Oncologia e discutir sua aplicabilidade na

assistência.

Foram selecionados cinco artigos que abordavam a resiliência relacionando-a à área de

Enfermagem em Oncologia. Estes representaram 4,3% do total de artigos encontrados.

Um destes artigos não estava disponível online e, portanto, não foi analisado, apenas

contabilizado

Neste estudo verificou-se que a abordagem de resiliência em Enfermagem inicia-se a partir

de 1998 com maior enfoque nos periódicos americanos e europeus, abordando a temática na área

de Pediatria Oncológica.

Verificou-se que nas publicações da enfermagem brasileira (base BDENF) a abordagem

de resiliência em oncologia é inexistente. Dentre os cinco estudos analisados, quatro utilizavam a

abordagem qualitativa na aproximação do conceito. Mesmo que um dos artigos não estava

disponível online notou-se que seu título estava relacionado à Enfermagem eu Cuidados Paliativos

vinculado à resiliência. Apenas um dos estudos era quantitativo, utilizando a resiliência como um

indicador correlacionado com a escala de Esperança, que entende a resiliência como auto-estima,

autoconfiança e autotranscendência.

Page 29: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

29

Observou-se um pequeno acréscimo na temática na Enfermagem em Oncologia a partir de

2005, através de publicações de dois aritgos e dois livros internacionais. Os principais enfoques

associados à resiliência foram a resistência emocional e física, enfrentamento e proteção ante a

situação de adoecimento por câncer.

Além disso, a resiliência aparece incluída na agenda de pesquisas da Oncology Nursing

Society (ONS) e está inserida nos estudos psicossociais, comportamentais, de comunicação e na

abordagem da família de pessoas com câncer. Recentemente a ONS publicou um artigo que

aborda o risco da ocorrência de fadiga entre enfermeiras atuantes na oncologia, citando a

resiliência como um fator de proteção. Destaca-se também a inclusão da resiliência na revista

oficial da ONS, que tem um número temático com artigos relacionados à sobrevida das crianças

com câncer.

Quanto à concepção de resiliência os cinco artigos apresentam visões bastante distintas:

Um dos artigos a descreve como sendo uma força interna dos pacientes em radioterapia que não

se revela apesar das necessidades advindas do tratamento; o segundo artigo refere-se à

resiliência como “dispositivo para tratamento ante a situação de adoecimento por câncer na

adolescência.”; já o terceiro artigo percebe a resiliência como “fator da sustentabilidade e das

relações maritais após terapia hormonal pós prostatectomia”.; o estudo quantitativo refere-se à

resiliência correlacionando-a com a escala de esperança e que pode ser entendida como auto-

estima, autoconfiança e auto transcendência.

Na assistência de enfermagem em Oncologia reflexões sobre a resiliência criam

possibilidades de ampliação dos modos de ver e fazer o exercício assistencial e gerencial de

enfermagem.

Apesar de existirem pesquisas e estudos sobre resiliência na enfermagem o conteúdo de

produção cientifica sobre resiliência ainda é considerado escasso.

Conclusão:

Foi verificado que existe uma lacuna na utilização do conceito de resiliência na área de

Enfermagem em Oncologia na America Latina e incipiência em produções internacionais.

Acredita-se que a resiliência pode ser um conceito significativo para o redimensionamento

das pesquisas na Enfermagem em Oncologia, contribuindo para reflexões na assistência, gerencia,

ensino e pesquisa.

Page 30: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

30

Através dos dados encontrados identificou-se a necessidade de familiarização das

enfermeiras relacionadas à importância da resiliência no enfrentamento de doenças como o

câncer, favorecendo a adesão do paciente ao tratamento e ao plano de cuidados de enfermagem.

Outra aplicabilidade do conceito nesta área refere-se a importância da construção de

resiliência nos profissionais atuantes na área, visando a superação diante da exposição aos fatores

de risco existentes no contato presente com a terminalidade, finitude, dor e desesperança

apresentados no paciente com câncer.

O desafio imposto pela resiliência para a Oncologia é expandir a utilização do conceito,

visando a promoção de bem-estar e qualidade de vida dos pacientes e profissionais.

Ressalta-se que este é um estudo preliminar, e recomenda-se que sejam realizadas novas

pesquisas com o objetivo de ampliar a discussão sobre resiliência na Enfermagem em Oncologia.

4.4 CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C.; Auto-Regulação, Resiliência e Consumo de Substâncias

na Adolescência: Contributos da Adaptação do Questionário Reduzindo de Auto-Regulação.

Psicologia, Saúde e Doenças, Lisboa, v. 10, n. 2, 2009. Disponível em:

http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-

0862009000200005&lang=pt

Resumo:

O estudo realizado neste artigo tem o objetivo de analisar a relação entre auto-regulação,

consumo de substâncias e resiliêcia na adolescência a partir do questionário reduzido de auto-

regulação.

O estudo mostrou que existe uma relação entre a autorregulação e o consumo de

substâncias e entre o estabelecimento de objetivos e a resiliência e uma relação moderada entre o

controle de impulsos e a resiliência.

Referencial teórico:

De acordo com pesquisas realizadas, as experiências de consumo de substâncias

ocorrem, geralmente no início da adolescência (CALLEJA, SEÑORÁN E GONZALEZ,1996 apud

CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009). Diversas teorias têm sido desenvolvidas para explicar

este fenômeno, entre elas: o modelo de crenças de saúde (BECKER, 1974 apud CASTILLO, J. A.

G. D.; DIAS, P. C., 2009), a teoria da aprendizagem social (BANDURA, 1977 apud CASTILLO, J.

A. G. D.; DIAS, P. C., 2009), o modelo das vulnerabilidades individuais(KAPLAN,1980 apud

Page 31: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

31

CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009), o modelo dos factores de risco e de proteção

(HAWKINS, CATALANO E MILLER, 1992 apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C.).

A teoria de Hawkins, Catalano e Miller, tem maior destaque pois, durante três décadas,

pesquisaram o maior número de fatores que colocavam o sujeito em maior risco ao consumo de

substâncias. Quanto maior o número de fatores de risco, maior a probabilidade que o indíviduo tem

para o consumo na adolêscencia.

Porém, Dillon (2007 apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009), apresentou algumas

limitações à teoria dos fatores de risco, entre elas “a dificuldade em distinguir quando os fatores

são causas ou apenas fatores correlacionados (FARRINGTON, 2000 apud CASTILLO, J. A. G. D.;

DIAS, P. C., 2009). Dessa forma, novas teorias surgiram para reforçar a teoria de Hawkins. Entre

elas a teoria que se foca na promoção de fatores de proteção e resiliência, deixando de lado os

factores de risco e se preocupando com o psicológico do indivíduo e seu desenvolvimento

saudável (FERGUS E ZIMMERMAN, 2005 apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009).

“Indivíduos resilientes são capazes de operacionalizar um esquema em que percebem, por

exemplo, o consumo de substâncias como um risco para si mesmo e assim evitam esse

comportamento; estabelecem outros objetivos focados na resiliência; e tentam fortalecer o seu

sentido de eficácia para manter estas decisões em prática” (DILLON, 2007 apud CASTILLO, J. A.

G. D.; DIAS, P. C., 2009). Dillon et.al(2007) apresenta alguns fatores que estão relacionados com a

resiliência, entre eles a auto-regulação. A Auto-regulação é um processo em que o indivíduo

assume um papel ativo na construção do seu destino (REIDER, WIT, 2006 apud CASTILLO, J. A.

G. D.; DIAS, P. C., 2009), através da ativação, monitorização, inibição, preservação e adaptação

do comportamento, emoções e estratégias cognitivas para alcançar os objetivos desejados

(BARKELEY, 1997; DEMETRIOU, 2000; DIAZ e FRUHAUF, 1991; LENGUA, 2003; NOVAK,

CLAYTON, 2001 apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009).

Já o autocontrole tem um papel fundamental na medida em que o sujeito deve resistir às

tentações imediatas para atingir objetivos a longo prazo.

Método:

Os autores realizaram uma pesquisa com alunos de escolas secundárias do norte de

Portugal, utilizando o Questionário Reduzido de Auto-Regulação (CAREY, NEAL e COLLINS, 2004

apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009) O instrumento constitui-se de 31 itens para a obter

um índice total de auto-regulação, que posteriormente foi dividido em dois fatores: Controle de

Page 32: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

32

Impulsos e Estabelecimento de Objetivos (NEAL e CAREY, 2005 apud CASTILLO, J. A. G. D.;

DIAS, P. C., 2009). Para a avaliação de Resiliência se utilizou a Escala da Resiliência adaptada

para a populacao de Portugal (VARA, SANI, 2006 apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009).

A avaliação do consumo de substâncias foi realizada através de questões sobre o consumo atual

como: “atualmente você consome algum tipo de substancia?”, “você consome álcool? Tabaco?”,

“Quantos cigarros você fumou no ultimo mês?”.

Participaram do estudo 248 alunos do ensino secundário, com idades entre 14 e 19 anos,

em sua maioria de sexo feminino de escolas secundárias do norte de Portugal.

Discussão:

No estudo da relação entre autorregulação, sexo e idade se percebeu apenas diferenças

na subescala controle dos impulsos, que foi mais elevada nas meninas. Porém, com relação a

idade não se encontraram diferenças significativas.

Do total da amostra 31 participantes disseram consumir tabaco atualmente (12,9%) e 42

consomem álcool (16,9%). Os indivíduos que consomem tabaco ou álcool apresentam uma

pontuação significativamente mais baixa nas escalas Controle dos Impulsos e Estabelecimento de

Objetivos.

Verificou-se que 188 adolescentes não consumiram qualquer cigarro (88,68%), 15

consumiram de 1 a 5cigarrospor dia (7,08%) e 9 adolescentes consumiram mais de 6 cigarros

(4,24%). No estudo da relação entre o consumo de cigarros e as dimensões da autorregulação,

verificou-se uma diminuição das pontuações médias nas subescalas de Controle de Impulsos

(M=52,42 entre os sujeitos que não consumiram, M=45,73 nos que consumiram entre 1 e 5, até

aos M=46,67 entre os sujeitos que consumiram mais de 6 cigarros por dia) e Estabelecimento de

Objetivos (dos 65,69 entre os sujeitos que não consumiram, 60,85 dos que consumiram entre 1 e

5, e 59,70 entre os adolescentes que consumiram mais de 6 cigarros por dia). As diferenças

encontradas foram estatisticamente significativas em ambas as subescalas: Controle de Impulsos

e Estabelecimento de Objetivos.

De acordo com as respostas verificou-se que 132 adolescentes não consumiram bebidas

alcoólicas durante o último mês (64,08%), 61 consumiram 1 a 5 bebidas alcoólicas (29,61%) e 13

adolescentes consumiram mais de 6 bebidas no último mês (6,31%). Os adolescentes que

consumiram bebidas alcoólicas, apresentaram pontuações médias inferiores nas subescalas de

Controle de Impulsos (dos 53,28 dos sujeitos que não consumiram, 48,84 nos que consumiram

entre 1 e 5, até aos 47.08 dos que consumiram mais de 6 bebidas alcoólicas no último mês) e

Page 33: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

33

Estabelecimento de Objetivos (M= 66,55 entre os sujeitos que não consumiram, M=62,82 dos que

consumiram entre1 e 5,e M=61,46 entre os adolescentes que consumiram mais de 6 bebidas

alcoólicas no último mês). Também foram encontradas diferenças estatisticamente significativas

em ambas as subescalas.

Perceberam-se também correlações moderadas entre Resiliência e o Controle de

Impulsos. Além disso, perceberam-se elevadas correlações entre resiliência e o Estabelecimento

de Objetivos.

Conclusão:

No estudo da relação entre autorregulação e consumo de substâncias, verificou-se que os

sujeitos que consomem álcool e tabaco e os que relataram o consumo intensivo dessas

substâncias no ultimo mês apresentaram pontuações mais baixas nas subescalas Estabelecimento

de Objetivos e Controle de Impulsos.

Encontrou-se, uma correlação moderada entre resiliência e o controle de impulsos e

elevada entre resiliência e o estabelecimento de objetivos. Percebe-se, portanto, a importância do

estudo da autorregulação no desenvolvimento dos adolescentes.

4.5 SILVA, M. R. S.; LACHARITÉ, C.; SILVA, P. A.; LUNARDI, V. L.; FILHO, W. D. L.; Processos

que sustentam a resiliência familiar: um estudo de caso. Texto e contexo – enfermagem,

Florianópolis, v. 18, n. 1, Jan/Mar 2009. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072009000100011&lang=pt

Resumo:

Foi realizado em estudo com uma família que vive em condições de adversidade,

buscando identificar fatores que proporcionam à família superar tais adversidades de maneira

positiva. Foi observada a capacidade do pai responder às necessidades dos filhos com

sensibilidade e o quanto isso é um fator de proteção para o enfrentamento das condições adversas

e desafios do dia-a-dia dessa família.

Método:

Foi desenvolvido um trabalho com uma família constituída por: pai (51 anos) e cinco filhos,

sendo quatro do sexo masculino (28, 21, 11 e 9 anos) e uma filha de 22 anos, casada com três

filhos. A coleta dos dados foi realizada através de entrevistas semi-estruturadas, realizadas

inicialmente na casa-abrigo onde os dois filhos mais novos estiveram institucionalizados durante

Page 34: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

34

um ano e, posteriormente, no domicílio da família. Em algumas ocasiões estas foram realizadas

nas dependências de um Ambulatório de Saúde Mental que o pai frequentava. Estas entrevistas

realizadas entre 2005 e 2007 foram gravadas, transcritas e o material submetido à análise de

conteúdo.

Referencial teórico:

A resiliência tem sido objeto de estudo em diversas áreas do conhecimento. As ciências

sociais e da saúde a entende como capacidade de amenizar ou evitar os efeitos negativos que

situações consideradas com alto potencial de risco podem causar sobre a saúde e o

desenvolvimento das pessoas, da família e inclusive da comunidade.

A resiliência tem sua importância potencializada quando num contexto de adversidades

sociais, políticas e econômicas, bem como um contexto de adversidades sociais, políticas e

econômicas que se agravam cada vez mais nos centros urbanos, principalmente nas regiões

menos favorecidas. Assim, a resiliência anuncia a possibilidade de as pessoas se desenvolverem

bem apesar de viverem num contexto com alto potencial de risco. É importante ressaltar que isso

não significa necessariamente que pessoas que passaram por situações adversas sejam mais

resilientes.

A resiliência pressupõe a maneira de administrar as adversidades, reconhecendo o seu

potencial de risco, sem perder a capacidade de mobilizar recursos para enfrentar estas situações.

A resiliência pode ser considerada como uma trajetória de vida que se constrói de maneira

gradativa a partir de uma seqüência de eventos adversos vivenciados, que possibilitaram uma

administração dessas adversidades, de uma maneira que se encontre respostas e soluções para

tais.

Assim, a resiliência pode ser entendida como um fenômeno complexo que é construído na

interação do sujeito com os diversos contextos em que vive ao passar por situações adversas.

Discussão:

O objetivo deste estudo foi identificar os processos no plano individual e familiar que

acabam propiciando com que os efeitos negativos das adversidades sejam evitados ou

amenizados.

O estudo foi realizado com uma família constituída por: pai (51 anos) e cinco filhos, sendo

quatro do sexo masculino (28, 21, 11 e 9 anos) e uma filha de 22 anos, casada com três filhos. O

Page 35: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

35

pai é viúvo dos dois primeiros casamentos e separado do terceiro, com quem teve os dois últimos

filhos de 11 e 9 anos. Esses dois meninos passaram um ano institucionalizados em uma casa-

abrigo para menores por terem sido vitimas de abuso sexual praticado por um vizinho e devido à

falta de condições da família para protegê-los.

O pai, principal responsável pelos menores é alcoolista e a mãe é portadora de um

transtorno mental grave, já foi internada diversas vezes em hospitais psiquiátricos e hoje vive em

outra cidade com sua família de origem e não tem contato com os filhos.

A família encontra-se numa situação econômica de extrema pobreza, pai não tem emprego

fixo e a maior parte da renda da família vem da coleta de materiais reciclável realizada pelo pai e

pela execução de alguns serviços gerais de vez em quando. Além disso a família conta com

fromas de auxilio que recebe de dois serviços sociais comunitários que monitoram o processo de

reinserção familiar dos garotos. Os dois meninos freqüentam regularmente a escola pública desde

que retornaram para casa e apresentam um bom rendimento escolar.

A coleta dos dados foi realizada através de entrevistas semi-estruturadas, realizadas

inicialmente na casa-abrigo onde os dois filhos mais novos estiveram institucionalizados durante

um ano e, posteriormente, no domicílio da família. Em algumas ocasiões estas foram realizadas

nas dependências de um Ambulatório de Saúde Mental que o pai freqüentava. Estas entrevistas

realizadas entre 2005 e 2007 foram gravadas, transcritas e o material submetido à análise de

conteúdo.

O processo vivenciado entre as pessoas e o ambiente pode funcionar como proteção para

as situações de risco. Assim, foram apontadas algumas competência evidenciadas ao longo do

estudo que podem ter sido construídas à partir de uma vivencia com do pai com os filhos e/ou do

pai com o ambiente. Esses dois funcionam de forma complementar.

Foi observado que o pai possui uma capacidade de responder às necessidades

emocionais e físicas dos filhos, capacidade percebida durante o acompanhamento com a família.

O pai afima que as crincas devem ser tratadas com respeito, carinho e conversa.

Vários estudos apontam a importância do contexto afetivo e do suporte familiar do qual a

criança vive como fatores protetores para o desenvolvimento da capacidade de resiliência.

Já o fato de o pai conseguir responder às necessidades dos filhos mesmo em um ambiente

com diversas restrições vai ao encontro da literatura que considera que a precariedade das

condições de vida gera estresse e insegurança podendo afetar a dignidade dos pais, sua paciência

e disponibilidade para com os filhos.

Page 36: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

36

Outro fator observado foi a capacidade do pai para criar um espaço relacional que permita

a expressão do potencial dos filhos. Esse fato mostra que o pai tem a capacidade de ver e projetar

a família no futuro em uma condição melhor. O pai estimula os filhos a estudarem dizendo-lhe que

assim eles terão uma melhor condição de vida.

Compartilhar emoções e opiniões que demonstram a preocupação de um membro da

família com o outro é um fator de proteção. Ajuda a resolver a resolver conflitos e reduzir a tensão

vivida pelos mesmos.

A família em estudo vive em um espaço relacional que permite interações positivas entre o

pai e os filhos, que inclui a expressão de opiniões, sentimentos e preocupações. Tal fato parece

estimular a confiança dos membros da família na capacidade de sobreviver os desafios que

enfrenta. Pode-se considerar a existência de um fator de proteção pois impulsiona o

desenvolvimento de autonomia e reconhece o papel do filho como um dos provedores da família.

Foi observado também a capacidade do pai para aceitar ajuda no exercício de seus papeis

tanto da família mais distante (avó, irmã, tia dos meninos) quanto da rede de apoio formal (posto

de saúde, serviço de acompanhamento casa-abrigo). Essa capacidade proporciona uma sensação

de segurança e de pertencimento à comunidade e ao mundo social, o que é de extrema

importância para o enfrentamento de situações adversas.

O tempo compartilhado em família que tem uma importância bastante significativa, pois

favorece a importância que uma pessoa tem para a outra, os valores que vão sendo passados de

geração em geração e o lugar que cada um dos membros ocupa na família. Assim, a realização

partilhada de atividades mutuamente gratificantes entre o pai e os filhos inclui os momentos de

lazer como caminhar na praia aos domingos, passear na praça, ver televisão juntos e dormir.

Esse tempo compartilhado é um recurso através do qual a família elabora os problemas

cotidianos e cria um sentido para a situação em que vive e desenvolve estratégias para enfrentar o

dia-a-dia.

Dessa forma pode-se considerar que a realização de atividades mutuamente gratificantes,

compartilhadas pelos membros da família é um fator de proteção, pois estabelece rotinas que dão

continuidade à vida da família e qualificam o tempo que seus membros compartilham.

Conclusão:

Esse estudo aponta apenas os processos que mostram a importância de se trabalhar

promovendo as capacidades individuais e coletivas que ajudam a minimizar as situações de

risco.

Page 37: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

37

Percebeu-se que a intervenção dos profissionais não deve estar apenas nas crianças

como no genitor e/ou cuidados destas, principalmente porque na infância e adolescência o

desenvolvimento dos filhos está muito atrelado à qualidade de interações que estes vivenciam,

principalmente na família.

Em uma situação de pobreza ou ambientes de adversidades que dificilmente mudam no

curto prazo, a capacidade do pai preservar seu vinculo, com uma rede social efetiva e agir de

maneira sensível com seus filhos, pode reduzir os efeitos negativos e riscos de um ambiente

adverso, funcionando com fatores de proteção no desenvolvimento das crianças.

Porém, para que a relação pais-filhos possa se desenrolar dessa forma, relacionando-se

de forma sensível em contextos desfavoráveis é necessário que estes pais também vivenciem este

tipo de experiência.

4.6 BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H.; Eventos estressores e estratégias

de coping em adolescentes: implicações na aprendizagem. Psicologia Escolar e Educacional,

Campinas, v. 13, n. 2, Jul/Dez 2009. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572009000200014&lang=pt

Resumo:

O artigo relaciona eventos de vida estressores, estresse e estratégias de coping em

adolescentes, discutindo as possíveis implicações desses fatores na aprendizagem.

Método:

Revisão bibliográfica

Referencial teórico:

Anteriormente o prejuízo na capacidade de aprender era atribuído a déficits cognitivos.

Porém, nos últimos anos, este tem sido associado à exposição de eventos estressores

específicos (BRANCALHONE, FOGO, WILLIAMS, 2004; LIPP, 2004; LIPP, NOVAES, 2000;

SBARAINI, SCHERMANN, 2008 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H.,

2009).

O período da adolescência é muito marcado por conflitos relacionados à identidade, pela

perspectiva de futuro e pelas transformações corporais. Assim, o estresse pode se manifestar a

partir das modificações sociais, cognitivas e biológicas vivenciadas neste processo.

Page 38: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

38

O evento estressor por si só não é determinante para a manifestação de sintomas de

estresse ou de patologias, depende da forma como o individuo exposto a tais eventos reagirá. O

impacto do evento estressor pode ser bastante variável dependendo do processo de resiliência,

que facilita a superação das adversidades.

Dente as variáveis que contribuem para uma maior resiliência pode-se destacar as

estratégias de coping, que são os esforços feitos pelo indivíduo para tentar lidar com as situações

estressoras (DELL´AGLIO, 2003; DELL´AGLIO, HUTZ, 2002 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER,

L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).

O estresse é desenvolvido quando o individuo avalia as dificuldades que vivencia como

sendo maiores do que a capacidade dele em superá-las, que impossibilita de resistir e criar

estratégias para lidar com elas. Esta diferença entre as demandas do ambiente e os recursos

pessoais do individuo para resistir ao estímulo estressor pode trazer prejuízos como alterar a

qualidade de vida, diminuir a motivação necessária nas atividades diárias, provocar a sensação

de incompetência, promovendo uma queda na auto-estima.

Discussão:

Este artigo explora as relações entre eventos de vida estressores , estresse e estratégia de

coping em adolescentes. Devido as especificidades dessa fase de desenvolvimento o estudo

discute as possíveis implicações destes fatores na aprendizagem. São descritos aspetos

psicossociais e neurobiológicos associados ao estresse, além do papel da resiliência no

enfrentamento de situações adversas.

Cada individuo reage aos eventos estressores de maneiras diferentes, o que depende das

condições psicológicas que ele dispõe e da sua capacidade de resiliência. Assim, não é a

gravidade do evento que determina a resposta do indivíduo e sim a avaliação que cada pessoa

faze do estímulo estressor (FELTEN, 2002; RUTTER, 1987 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER,

L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).

Os autores distinguem estratégias de coping de estilo de coping. O primeiro refere-se a um

processo situacional que inclui ações cognitivas dirigidas a um episódio de estresse específico

enquanto estilos de coping refere-se a um processo disposicional relacionada a trações de

personalidade do indivíduo. As estratégias de coping, situacionais, podem mudar conforme o

momento e o estágio da situação estressante. Sendo assim, estas podem ser classificadas na

emoção, referente aos esforços para administrar ou regular as emoções negativas associadas ao

episodio de estresse, ou, focalizados no problema, que são os esforços do indivíduo para mudar

aspectos do ambiente, pessoa ou relação estressante (DELL´AGIO, HUTZ, 2002 apud

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39

BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009). Sendo assim, nas situações

consideradas modificáveis a pessoa tende a utilizar estratégias focalizadas no problemas

enquanto em situações entendidas como imutáveis as pessoas tendem a utilizar estratégias

focalizadas na emoção. Ambas as estratégias, focalizadas no problema e focalizadas na

emoção, são utilizadas em praticamente todas as situações estressantes. (COMPAS, 1987 apud

BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).

Na adolescência tem sido sugerido um aumento do estresse. Nesse período, os eventos

estressores incluem: discussões com colegas, amigos e familiares, imagem corporal, incertezas

sobre o futuro entre outros (SEIFFGE-KRENGE, 2000 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S;

KRISTENSEN, C. H., 2009). Estudos revelaram que problemas escolares e familiares são

comuns nessa etapa da vida (KRISTENSEN, LEON, D´INCAO, DELL´AGLIO, 2004 apud

BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009). Segundo Aysan (2001 apud

BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009), testes e provas de avaliação

acadêmica bem como a ansiedade causada por estes pode tornar-se uma importante fonte de

estresse para os adolescentes, principalmente quando o desempenho influencia oportunidades

futuras relacionadas à vida profissional.

Nas pesquisas sobre coping em crianças e adolescentes observou-se diferenças entre

gêneros e idades. Por exemplo, a vulnerabilidade ao estresse depende do estressor envolvido,

na comparação entre gêneros. (CALAIS, COLS. 2003 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S;

KRISTENSEN, C. H., 2009). Meninos costumam utilizar estratégias competitivas enquanto que as

meninas utilizam estratégias pró-sociais. Outro estudo mostrou que os meninos acabam tendo

um perfil mais voltado para a busca de apoio externo, enquanto que as meninas apresentam um

perfil mais autodirecionado (CÂMARA, CARLOTTO, 2007 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L.

S; KRISTENSEN, C. H., 2009). Em outra pesquisa (KRISTENSEN, SCAEFER E BUSNELO,

2009) constatou-se que os meninos tendem a utilizar mais estratégias de afastamento e

aceitação de responsabilidade do que as meninas. Por outro lado, Dell’Aglio e Hutz (2002 apud

BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009) mostraram que entre crianças

de 8 a 10 anos de idade, as estratégias de busca de apoio social são as mais utilizadas, sem

diferenças quanto ao gênero.

Compas, Banez, Malcarne & Worsham, (1991 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S;

KRISTENSEN, C. H., 2009) verificaram que as estratégias de coping focalizadas no problema

são adquiridas mais cedo (até 8 ou 10 anos) enquanto que as estratégias focalizadas na emoção

aparecem mais tarde, no final da infância ou início da adolescência.

Page 40: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

40

A aprendizagem ocorre durante todo o ciclo vital. O impacto negativo que os diferentes

eventos estressores causam na vida do adolescente é evidenciado, também, na aprendizagem. A

aprendizagem ocorre tanto em ambientes formais como a escola e ambientes acadêmicos quanto

em ambientes informais, fora desses contextos. Alguns estudos recentes evidenciam a influencia

de eventos estressores no desempenho escolar dos estudantes (BRANCALHONE, 2004; LIPP,

2004; LIPP, NOVAES, 2000; SBARAINI, SCHERMANN, 2008 apud BUSNELLO, F. B.;

SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009) Dentre esses fatores, o ambiente escolar parece

ser mais significativo no desempenho acadêmico dos estudantes do que questões relacionadas

ao contexto familiar (Rutter, 1989 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H.,

2009). Sendo assim, as dificuldades de aprendizagem tem sido associadas a fatores

relacionados à família, como por exemplo: a escolaridade dos pais, a importância que os pais dão

à aprendizagem, condições socioeconômicas, problemas de drogadição, alcoolismo,

desemprego; e à escola, como: condições físicas da sala de aula, condições pedagógicas,

material didático e relacionamento com o professor. (ENUMO, FERRÃO, RIBEIRO,2006;

OATLEY, NUNDY, 2000 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).

Observou-se na literatura revisada uma divergência de opinião dos autores na tentativa de

estabelecer uma relação entre causa e efeito entre os problemas emocionais e o fracasso

escolar. Alguns autores (GUAY, BOIVIN, HODGES, 1999 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L.

S; KRISTENSEN, C. H., 2009) sugerem que os problemas psicológicos induzem as dificuldades

acadêmicas, enquanto que outros (GOLDENSTEIN, PAUL, SANFILIPO, 1985; MARTINEZ,

SEMRUD-CLIKEMAN, 2004 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H.,

2009) afirmam que as dificuldades acadêmicas e o fracasso escolar acabam prejudicando o

funcionamento psicossocial, uma vez que torna o individuo vulnerável ao desajustamento escolar

e a problemas emocionais.

Conclusão:

Este estudo visou explorar os aspectos envolvidos na aprendizagem relacionando eventos

estressantes, estresse e estratégias de coping utilizadas pelos adolescentes em situações

adversas.

Verificou-se que apenas a exposição a um evento estressor não é pré-condição para o

desenvolvimento do estresse. Alguns fatores como a capacidade de resiliência e estratégias de

coping eficientes, proporcionam ao indivíduo um enfrentamento adequado de tais situações,

proporcionando um crescimento positivo. Porém, quando o individuo não dispõe de recursos para

lidar com as situações adversas, estas podem impactar sua vida de uma maneira negativa,

Page 41: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

41

podendo inclusive, repercutir no processo de aprendizagem e gerar um baixo desempenho

escolar.

Ressalta-se a importância de outros estudos que priorizem o entendimento dos fatores que

possam estar implicados nos processos de aprendizagem, permitindo a elaboração de ações

direcionadas no sentido de minimizar o impacto das situações adversas que impactam no

aprendizado e no desempenho escolar.

4.7 ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D; Histórias de vida de moradores de

rua, situações de exclusão social e encontros transformadores: Saude &Sociedade, São Paulo,

v.18, n. 2 Abr./Jun 2009. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902009000200009&lang=pt

Resumo:

Este estudo busca analisar as características do processo de transformação propiciado pelo

“encontro transformador” entre dois moradores de rua e uma professora. Entende-se por

“encontro transformador” uma interação de pessoas que possibilita a transformação destas, no

sentido de retomar o rumo e o sentido da vida, promovendo a resiliência. Assim, este artigo

mostra como se deu um “encontro transformador” a partir do acolhimento da professora, do

resgate de historias de vida e de processo criativos dos moradores de rua.

Método:

Foi realizado um estudo de 1998 a 2003 que acompanhou as trajetórias de vida de seis

moradores de rua e de duas professoras aposentadas (não moradoras de rua) que os

amparavam e lhes ministaravam aulas se alfabetização e ensino fundamental.

O estudo baseou-se na hipótese de que haveria uma interação especifica entre os seres

humanos que poderia possibilitar uma ”transformação” nos envolvidos, despertando

potencialidades. Além disso, essa interação chamada de “encontro transformador” poderia

despertar-lhes o sentido da vida, o rumo de suas existências de forma a promover a resiliência.

Neste artigo buscou-se reter alguns aspectos de “encontro transformador” entre dois dos

moradores de rua observados e uma das professoras que acabou se tornando um ponto de apoio

positivo em suas vidas.

Para análise e interpretação dos dados, foram utilizados conceitos da Psicologia, Geografia,

Antropologia, Sociologia e Direito.

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42

Referencial teórico:

Alguns dos moradores de rua observados moravam em cabanas improvisadas ou albergues.

Nestes ambientes, vivendo em grupo e sem proteção estes acabavam muitas vezes se

entregando à embriaguez, às drogas, a violência, e à exposição à criminalidade.

Ao longo deste estudo observou-se um aumento desta população, bem como, um aumento

no uso e no tráfego de drogas. Esse modo de viver acabou por desenvolver em muitos uma

indiferença, depressão, drogas e mendigância.

Porém, apesar do sucesso dessa configuração psíquica para a sobrevivência nas prisões e

nas ruas, ficou evidente ainda uma insatisfação e uma procura por si mesmo por parte dos

moradores de rua. Assim, foi necessário o estabelecimento do sentimento positivo de confiança

(ERIKSON, 1976 apud ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009) para

que eles pudessem se olhar e se reconhecerem como sujeitos desejantes. “Suas potencialidades

estavam à espera de outro significativo que pudesse acompanhá-los no processo de

autorrealização” (ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009).

Discussão:

As professoras saíram dos seus circuitos de relacionamentos indo ao encontro do morador

de rua, aceitando-o tal qual ele se apresentava, fazendo com que este se sentisse

incondicionalmente aceito. Assim, o morador de rua pôde confiar nelas, abrindo-se para a

transformação.

Durante as aulas da professora Silvia, eram fornecidos folhas e lápis coloridos e revistas e

gravuras para serem utilizados pelos moradores de rua em seus processos criativos.

Observou-se o processo de transformação de Marcos e de Soviético, ambos moradores de

rua, porém com histórias de vida distintas. Em ambos os casos observou-se que o processo

criativo fez parte do processo de transformação. As produções criativas puderam satisfazer as

necessidades de expressão da psique, de forma que o sujeito pôde criar-se a cada instante ao

impulso das forças em movimentos (SILVEIRA, 1982 apud ALVAREZ, A. M. S.; ALVARENGA,

A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009).

Sendo assim, percebeu-se que o processo criativo acabou por expressar emoções, traumas,

sonhos e desejos que propiciaram o processo de transformação. No caso de Marcos, observou-

se uma transformação através da recuperação de sua historia de vida passada seguida por uma

busca de sentido na vida. Em Soviético o processo de transformação se deu quando este

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43

conseguiu confiar no ambiente, de forma a flexibilizar o seu falso self para então, resgatar e

constituir o seu self verdadeiro.

Os momentos de encontro foram proporcionados pelo processo de “encontro transformador”

que envolveu a capacidade da professora ir até o sujeito, encontrá-lo e trazê-lo de volta

(BENJAMIN, 1988 apud apud ALVAREZ, A. M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009).

Conclusão:

Os sujeitos de observação deste estudo, ignorados pela maioria dos cidadãos, criaram

estratégias de defesa, de sobrevivência física e psiquica e acabaram criando ou despertando a

honestidade no espaço de confiança junto ao próximo. Eles sentiram-se recebidos como pessoas

humanas, o que fez com que este encontro fosse prazeroso para eles.

As professoras conseguiram promover o retorno à esperança e à transformação para a

vida destes moradores de rua. Porém, além de ações deste tipo identificou-se a necessidade de

medidas de apoio mais amplas para esta população, envolvendo outros segmentos da sociedade

brasileira. Aponta-se a responsabilidade do Estado na consolidação da cidadania além da

instrução de políticas publicas que introduzam um tratamento diferenciado e especial aos grupos

sociais que sofrem de um padrão discriminativo (PIOVESAN, 2003 apud ALVAREZ, A. M. S.;

ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009).

É necessário que se promova a inclusão social dos moradores de rua através e ações

afirmativas, que busquem remediar um passado discriminatório, objetivando acelerar o processo

de igualdade (PIOVESAN, 2003 apud ALVAREZ, A. M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D,

2009). Porém, além disso é necessário também cuidar para que tais ações não agravem mais as

barreiras entre os moradores de rua e os demais cidadãos brasileiros.

4.8 PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S.; A resiliência em estudantes do ensino médio:

Psicologia Escolar e Educacional, Campinas, v.14, n.1, Jan/Jun 2010. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572010000100010&lang=pt

Resumo:

Foi realizada uma pesquisa quantitativa com uma amostra de 140 alunos do ensino Médio de

uma escola pública de Porto Alegre. O objetivo foi avaliar a resiliência nos estudantes com

variáveis sociodemográficas além da contribuição da escola em seu desenvolvimento pessoal.

Foram utilizados um questionário para levantamento das variáveis sociodemográficae e sociais e

a Escala de Resiliência, que constitui-se de três dimensões: Independência e Determinação,

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44

resolução de ações e valores e Autoconfiança e Capacidade de adaptação às situações. Os

resultados mostraram que quanto maior a renda familiar menor a média na dimensão de

“independência e determinação”. Identificou-se uma associação positiva entre a dimensão da

Resolução de ações e valores com a percepção de que a escola contribui para o

desenvolvimento pessoal.

Referencial teórico:

De acordo com Rutter (1999 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010) a

resiliência é um fenômeno de superação de estresse e de adversidades e não se constitui numa

característica ou traço individual. Poletto (2007 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M.

S. 2010) indica que o termo refere-se à capacidade humana de superar adversidades que é

resultante da interação dos fatores de risco e proteção.

A definição do conceito evolui do indivíduo, com os traços de personalidade, para a família,

construção relacional, e posteriormente, para as redes sociais mais amplas, visão ecológica.

(Souza & Cerveny, 2006 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010).

Os autores Papalia e Olds (2000 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010)

explicam que alguns fatores de proteção podem contribuir para a resiliência. Estes fatores

geralmente estão relacionados à personalidade da criança, à família, às experiências de

aprendizagem, à exposição reduzida ao risco e às experiências compensadoras proporcionadas,

por exemplo, por um ambiente escolar favorável.

De acordo com Poletto (2007 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010) a

escola pode atuar diretamente na promoção de resiliência no momento em que desenvolve e

incentiva as capacidades da criança. Porém, por outro lado a escola pode representar um fator

de risco para o desenvolvimento saudável.

A base da resiliência já aparece na infância e tem de ser considerada na construção da

resiliência na adolescência (LINDSTRON, 2001 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO,

M. S. 2010).

De acordo com Garcia (2001 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010) existem

três tipos de resiliência: social, acadêmica e emocional. A social tem como fatores de proteção o

fato de ter um grupo de amigos e um sentimento de pertencimento, além de modelos sociais que

promovem uma aprendizagem construtiva. A resiliência acadêmica pode ser propiciada pela

escola, que pode fortalecer as habilidades de resolução de problemas e a aprendizagem de

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45

novas estratégias. A escola tem sido vista como um dos ambientes mais ricos para a promoção

de resiliência.

Conforme Pesce e cols. (2005 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010) a

resiliência constitui-se de três dimensões: 1) A resolução de ações e valores, que indica as ações

relacionadas a energia, persistência, disciplina. E os valores que dão sentido a vida como

amizade, realização pessoal e significado da vida; 2) a independência e determinação, que

refere-se a capacidade de resolução de situações difíceis, a capacidade de lidar com diversas

situação ao mesmo tempo, e aceitação de adversidades; 3) autoconfiança e capacidade de

adaptação a situações, que refere-se a acreditar que se pode resolver seus problemas e que isso

depende mais do indivíduo por si só do que de outros, além de realizar ações contra sua

vontade.

Método:

Para a realização da pesquisa foi utilizada uma amostra com 140 alunos do Ensino Médio de

uma escola pública de uma cidade metropolitana de Porto Alegre (RS). 55% do público eram

meninas com em média 17,9 anos. 97,3% dos alunos mora com os pais ou algum familiar. A

maioria informa renda superior a 3 salários mínimos (72,1%).

Para a realização da pesquisa foram utilizados 2 instrumentos autoaplicáveis: o questionário para

levantamento de variáveis sócio-demográficas, escolares e psicossocial que tinha como base o

referencial teórico sobre resiliência. O segundo instrumento foi a Escala de Resiliência de

Wagnild e Young que avalia a adaptação psicossocial positiva em face de eventos de vida

importantes.

Discussão:

Este estudo buscou contribuir para o conhecimento do conceito de resiliência investigando a

relação entre variáveis sócio-demográficas, escolares e a contribuição da escola para a

resiliência de estudantes do Ensino Médio de uma escola pública.

Como resultado desse estudo, obteve-se uma média mais alta na dimensão “Resolução de ações

e valores” seguida pela “Autoconfiança e capacidade de adaptação” nas situações. A menor

média foi a de “independência e determinação”. Verificou-se também que quanto mais elevada a

renda familiar menor a independência e determinação. Além disso, quanto maior a percepção de

que a escola contribui para o desenvolvimento pessoal maior é a dimensão de resolução de

ações e valores. Não foi identificada a associação das variáveis pesquisadas com a dimensão de

“autoconfiança e capacidade de adaptação às situações”.

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46

Sapienza e Pedromônico (2005 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S., 2010)

relacionam risco, proteção e resiliência. Considera-se que as adversidades não são isoladas.

Estas envolvem fatores políticos, sócio-econômicos, ambientais, culturais, familiares e genéticos.

Sendo assim, quando os fatores de risco associam-se de maneira interativa estes aumentam a

probabilidade de comprometer negativamente o desenvolvimento do indivíduo.

Por outro lado, existem também os fatores de proteção dizem respeito aos recursos pessoais os

sociais que acabam diminuindo o impacto do risco. Estes acabam atuando como um “escudo” a

favor do desenvolvimento humano. Esta capacidade de enfrentar os fatores de risco e usufruir

dos fatores protetores torna o indivíduo resiliente. Assim, resiliência pode ser considerada

também um fator de proteção para o próprio indivíduo. As principais características encontradas

em crianças e adolescentes resilientes são: bom funcionamento intelectual, sociabilidade e

expressão adequada, autoconfiança e auto-estima elevada, talentos e fé. Estas crianças

apresentam em seus contextos vantagens socioeconômicas, conexões com redes familiares

ampliadas e apoiadoras além de práticas parentais competentes. Fora do contexto familiar estas

crianças mantêm vínculos com adultos e organizações pró-sociais e freqüentam a escola.

Segundo Padovani (2006 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S., 2010), a

resiliência surge, como um processo construído a partir da interação da pessoa com o meio.

Independentemente de qual for o contexto (família, instituição ou escola), este pode configurar-se

como risco ou proteção. Porém esta configuração dependerá da qualidade das relações que os

ambientes proporcionarem, ou seja, quando houver conexões positivas entre os contextos, maior

a probabilidade de promoção da resiliência e de favorecer uma melhor qualidade de vida e

adaptação/saúde das pessoas e da sociedade (POLETTO, KOLLER, 2008 apud PELTZ, L.;

MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S., 2010).

A vulnerabilidade é composta por elementos que agravam a situação de risco impedindo

respostas satisfatórias diante de situações adversas. A vulnerabilidade apresenta-se em três

planos: 1) Individual: relacionado a comportamentos não conscientes ou “involuntários”; 2) Social:

relacionado ao acesso a informações, a serviços de saúde e condições de bem estar social; 3)

Institucional: relacionado a ações desenvolvidas por instituições que visam diminuir oi eliminar os

riscos que tornam os indivíduos mais vulneráveis. (PADOVANI, 2006 apud PELTZ, L.; MORAES,

M.G.; CARLOTTO, M. S., 2010).

De acordo com Sapienza e Pedromônico (2005 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO,

M. S., 2010). Existem períodos de vida nos quais o indivíduo está mais vulnerável. A

adolescência é um deles já que neste período ocorrem mudanças físicas e psicológicas, é a fase

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47

do desenvolvimento na qual o indivíduo tem que lidar com uma variedade de situações novas.

Assim, de acordo com alguns estudiosos os adolescentes apresentam uma alta vulnerabilidade.

Conclusão:

A escola pode promover ou não o desenvolvimento da capacidade de resiliência, depende das

interações que ocorrem na instituição e o que é construído nesta relação indivíduo-sociedade.

Porém para que a pessoa consiga ter sucesso na escola é de extrema importância que esta

tenha uma família, uma instituição ou uma rede de apoio que a ajude a manter suas

necessidades afetivas, sociais e cognitivas. (PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S,

2010)

Através do resultado desta pesquisa percebeu-se que a escola tem uma participação

fundamental nos contextos de valorização e desenvolvimento dos jovem, principalmente na

resolução de ações e construções de valores. Esta, juntamente com a família, ajuda a promover

a cidadania e a construção de sujeitos conscientes que reconhecem sues direitos e

correspondem com os deveres da sociedade. Se a escola apresentar as experiências como

desafios e não como ameaças esta acaba promovendo a resiliencia construindo interações

positivas e compondo uma rede de apoio para o indivíduo.

Destacou-se que a literatura sobre resiliência no Brasil é incipiente, o que dificulta a comparação

entre os estudos nacionais. Hoje a influencia de aspectos culturais e contextuais sobre a

resiliência é bastante clara, o que destaca mais a necessidade de serem realizados mais estudos

nacionais sobre este tema.

4.9 RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.;

SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M; Envelhecer atuando: bem-estar subjetivo, apoio social e resiliência

em participantes de grupo de teatro: Factal: Revista de Psicologia, Rio de Janeiro, v.22, n.3,

Jan/Dec 2010.

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-

02922010000900010&lang=pt

Resumo:

Foi realizada uma pesquisa com 12 idosos participantes do grupo de teatro “Os mais vividos”. O

estudo teve como objetivo investigar o bem-estar subjetivo, averiguar a resiliência, a percepção

do suporte social e correlacioná-los. Os resultados indicaram que os participantes avaliaram seu

bem-estar subjetivo como positivo. Percebeu-se que quanto maior a idade do participante, maior

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48

o grau de resiliência apresentada por idéias de determinação e independência. Quanto maior o

tempo de participação no grupo, maior a vitalidade, e quanto maior a percepção de suporte

social, maior o numero de afetos positivos exerimentados. Além disso, mostrou-se que quanto

maior o número de afetos negativos experenciados, maior a capacidade de resiliência.

Método:

Participantes: 12 idosos com média de 68 anos, participantes do grupo “Os mais vividos” do Sesc

Uberlândia – MG. 91, 67% eram mulheres. 50% dos idosos viviam sozinho, sendo 58,33%

responsáveis pelo seu próprio sustento.

Foram aplicados os seguintes instrumentos: Ficha de Informações sócio-demográficas e Medida

de bem-estar subjetivo (Escala de Vitalidade, Escala de Afetos Positivos e Negativos,Escala de

Satisfação com a Vida, Escala de Resiliência, Escala de Percepção de Suporte Social).

Como resultados, pode-se observar uma correlação significava entre resiliencia e idade, ou seja,

quanto maior a idade, maior o grau de resiliência apresentado por idéias de independência e

determinação. Percebeu-se também que quanto maior o tempo no grupo, maior o resultado

apresentado no quesito vitalidade. Também houve correlação entre afetos positivos e suporte

social. Ou seja, quanto maior a percepção de suporte social, maior o número de afetos positivos

experimentados. Além disso, percebeu-se que quanto maior o escore de afetos positivos, maior o

escore de satisfação com a vida. E, quanto maior o escore de afetos negativos, maior o escore

de resiliência, ou seja, quanto mais se experenciam afetos negativos, mais se tornam resilientes.

Referencial teórico:

O bem estar subjetivo refere-se a avaliação que a própria pessoa faz à partir de um

julgamento sobre a satisfação que sente com relação a sua vida de uma forma geral ou em

alguns domínios específicos. O bem-estar subjetivo diz respeito à felicidade, satisfação, estado

de espírito e qualidade de vida. Diencer (2000 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES,

G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010) afirma que

estudos indicam que a felicidade e satisfação com a vida são extremamente importantes para se

viver bem.

De acordo com Freire (2000 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.;

ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010) a vida pode ser

satisfatória quando há disposição para enfrentar desafios, lutar pelos direitos e colocar em prática

projetos viáveis dentro das condições pessoais do ambiente que vive, quando a pessoa conta

com uma rede de suporte social.

Page 49: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

49

O bem-estar subjetivo refere-se ao âmbito da experiência privada. O afeto positivo é

referente ao entusiasmo da pessoa, que pode ser subdividido em alegria, afeição e orgulho. O

afeto positivo é considerado um fator de proteção frente a situações de estresse, já que pessoas

que mantém estados emocionais positivos apresentam manos problemas físico. O afeto negativo,

refere-se à angustia, pouca motivação, subdividindo-se em vergonha, culpa, tristeza, raiva e

ansiedade.

A vitalidade subjetiva é outro indicador de bem-estar referente a sentir-se vivo, alerto e ter

energia para si (CHAVES, 2003 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.;

ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010.) É um conceito que

faz parte do pleno funcionamento do individuo e inclui mais que senso de bem esta, inclui amor,

ser eficiente, e ter algo a realizar (RYAN; FREDERICK, 1997 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA,

A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010).

Pessoas com maior nível de bem-estar subjetivo são indivíduos mais resilientes e

apresentam maior capacidade de lidar com advesidades, conseguindo transformá-las e superá-

las (SILVA Et. al. 2003 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES,

F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010).

De acordo com Pinheiro (2004 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.;

ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010) a resiliência é

definida como habilidade que o indivíduo tem de reconhecer a dor, perceber seu sentido e tolerá-

la de resolvendo seus conflitos de forma construtiva. A resiliência pode ser traduzida como a

capacidade de lidar de forma consistente com os desafios e dificuldades, reagir de forma flexível

diante das situações desfavoráveis, conseguindo apresentar diante de tais situações uma atitude

otimista e perseverante. (YUNES;SKYMANSKY, 2001 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.;

NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010).

Existem concepções esteriotipadas, veiculadas pela mídia, que referem-se à idade adulta

avançada e velhice como uma fase de vida marcada por pouca capacidade de resiliência. Porém

alguns pesquisadores (RYFF, 1989; DIENER e SUH, 1998; FREIRE, 2001; CAPRARA e

STECA,2005; KAROLY e RUEHLMAN, 2006; LARANJEIRA, 2007 apud RESENDE, M.C.;

FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU,

S.A.M, 2010) apontam a resiliência como fator de grande importância no envelhecimento

psicológico como fenômeno na ocorrência natural e como característica que pode ser promovida

por interações favoráveis com as redes sociais. O apoio social fornece aos indivíduos ajuda

emocional, material, e;ou de informação para o enfrentamento de situações que geram tensão

Page 50: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

50

emocional. É um processo recíproco que beneficia tanto quem recebe apoio como quem oferece,

proporcionando a ambos mais sentido no controle de suas vidas.

Siqueira (2008 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES,

F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010) afirma que existem diferentes

tipo de apoio proporcionado pelas redes sociais: 1) suporte emocional: refere-se ao que as

pessoas fazem ou dizem como conselhos, ouvir problemas, transmitir empatia e confiança; 2)

suporte instrumental, refere-se a ajudas tangíveis e práticas, como ajudas com tarefas

domésticas, provisões de transporte, empréstimos de dinheiro; 3) suporte informacional, referente

a receber dos outros noções com as quais o indivíduo possa guiar e orientar suas ações para

solucionar um problema ou tomar alguma decisão.

Discussão:

Os idosos participantes indicaram níveis de adaptação psicossocial positiva frente a eventos de

vida importantes, avaliada pela resiliência, sendo no "Fator 1", que indica resoluções de ações e

valores que dão sentido à vida como amizade, realização pessoal, satisfação e significado da

vida), "Fator 2" indica idéias de independência e determinação; "Fator 3", indicando

autoconfiança e capacidade de adaptação à situação.

Percebeu-se uma correlação significativa do Fator 2 de resiliência com a idade, ou seja, quanto

maior a idade, maior o grau de resiliência apresentado por idéias de independência e

determinação. Houve também uma correlação significativa entre o tempo de participação no

grupo e vitalidade, ou seja, quanto maior o tempo no grupo, maior a vitalidade. Observou-se uma

correlação entre afetos positivos e suporte social, quanto maior a percepção de suporte social,

maior o número de afetos positivos experimentados.

Outra constatação foi que quanto maior o escore de afetos positivos, maior o escore de

satisfação com a vida e quanto maior o escore de afetos negativos, maior o escore do Fator 2 de

resiliência. Assim, quanto mais sentimentos positivos apresentam, maior o nível de satisfação

com a vida, como também quanto mais experienciam afetos negativos, maior a capacidade de

resiliência. Além disso, o apoio social pode amenizar os efeitos do estresse na vida do idoso, é

uma experiência pessoal e subjetiva que leva a um maior senso de satisfação com a vida.

Conclusões:

Os participantes dessa pesquisa relatam bem-estar subjetivo positivo indicado por

satisfação com a vida, afetos positivos e vitalidade. Os participantes que apresentaram maior

satisfação com a vida foram os que recebiam mais suporte afetivo, ou seja, participar do

Page 51: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

51

grupo Os Mais Vividos proporcionou aos seus integrantes sentimentos de compreensão, atenção

e companheirismo. O apoio social é considerado capaz de gerar efeitos benéficos tanto para a

saúde física como mental, e está relacionado diretamente com o bem-estar.

A capacidade das pessoas de administrar produtivamente suas relações com os outros

promove uma melhor visão positiva que elas têm sobre elas mesmas, sobre sua vida e sobre o

futuro. E, quanto mais sentimentos positivos apresentados, maior o nível de satisfação com a

vida.

Além disso, mostrou-se que quanto mais as pessoas experenciam afetos negativos, mais

estas se tornam resilientes. O que indica que a pessoa desenvolve esta capacidade durante a

vida, mediante a exposição, enfrentamento e superação de situações adversas.

4.10 SIMÕES, C.; MATOS, M.G.; FERREIRA, M.; TOMÉ, G; Risco e resiliência em adolescentes

com necessidades educativas especiais: Desenvolvimento de um programa de promoção da

resiliência na adolescência: Psicologia, Saúde & Doenças, Lisboa, v.11 n.1, 2010. Disponível

em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-

00862010000100008&lang=pt

Resumo:

Foi realizado um amplo estudo que teve como objetivo conhecer os comportamentos e estilos de

vida dos adolescentes com necessidades educativas especiais através de um estudo quantitativo

e qualitativo. Além disso, desenvolveu-se um programa de promoção de saúde e resiliência

direcionado a pais, professores e técnicos, bem como uma sessão experimental deste programa.

Método:

O projeto “Risco e resiliência em adolescentes com necessidades educativas especiais” dividiu-

se em quatro etapas:

1) Aplicação do questionário buscando conhecer os fatores e comportamentos associados à

saúde e à resiliência (questões sociodemográficas, comportamentos e estilos de vida dos

adolescentes, escala de acontecimentos de vida, escala de resiliência) – estudo quantitativo

– Participaram deste estudo 494 sujeitos de 143 escolas do ensino regular. 57, 7% sexo

masculino e 42,3% sexo feminino. 23,7% referia-se como tendo dificuldade de aprendizagem,

9,7% deficiência motora, 9,5% problema na fala ou comunicação, 6,7% deficiência visual,

5,5% deficiência auditiva e 8,1% doença crônica. ¼ dos alunos não referiu ter problemas e

10% refere-se a outros, como perturbações no desenvolvimento.

Page 52: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

52

2) Disseminação dos resultados obtidos (encontros regionais de grupos de discussão com

adolescentes com NEE) – estudo qualitativo – objetivo de aprofundar os dados obtidos no

estudo quantitativo. Foram realizados grupos focais com 33 alunos com NEE, de 10 a 16

anos.

3) Desenvolvimento de um programa de intervenção direcionado a pais, professores e outros

técnicos, tendo como base a promoção de saúde e da resiliência. Este programa foi

fundamentado em aspectos teóricos de referências bibliográficas na área da saúde e da

resiliência, bem como aspectos obtidos nos estudos das fases anteriores.

4) Formação de pais e técnicos no âmbito do programa desenvolvido, possibilitando a

participação ativa neste processo – foram realizadas 5 ações de formação em cinco regiões

com uma média de 15 participantes. Esta ação teve duração de 10 horas (divididas em 2 ou

3 dias).

RESULTADOS:

1ª etapa: verificou-se que adolescentes com NEE passam por etapas do desenvolvmento

semelhantes às dos adolescentes sem NEE. De forma geral, observou-se que os garotos têm

maior tendência para comportamentos de risco (como envolvimento em lutas e consumo de

drogas ilícitas) enquanto as garotas apresentam mais sintomas psicológicos e uma maior

tendência a terem problemas relacionados à sua imagem corporal. Com relação à idade,

mostrou-se que adolescentes mais novos praticam mais atividades físicas, falam mais facilmente

com o pai, tem mais tempo para eles mesmos, fazem mais atividades que gostam, divertem-se

mais com os amigos e tem uma melhor percepção sobre sua saúde. Em contrapartida os

adolescentes mais velhos consomem tabaco, bebidas alcoólicas e maconha mais

frequentemente, sentem-se mais tristes e sozinhos, ficam mais tempo na Internet, e referem mais

freqüentemente que gostariam de alterar alguma coisa no corpo e que já tiveram relações

sexuais.

Ao comparar adolescentes com NEE aos adolescentes sem NEE, as diferenças ficam ainda mais

evidentes. Os adolescentes com NEE revelam mais dificuldades de comunicação com os pais e

maiores dificuldades na escola. Estes praticam menos atividade física, têm menos amigos e

afirmam com mais freqüência que os professores consideram que eles têm uma capacidade

acadêmica inferior à média. Referem menos frequentemente que se sentem felizes, são mais

vezes provocados na escola, sentem mais pressão com os trabalhos de casa e apresentam pior

percepção sobre sua saúde.

O estudo mostrou que todos os recursos externos (família, escola, comunidade, pares) e

recursos internos (autoconceito) constituem-se como fatores de proteção para o bem-estar.

Page 53: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

53

Assim, adolescentes com níveis mais elevados de recursos apresentam níveis de bem-estar mais

elevados. Porém, verificou-se que apenas os recursos na família e o autoconceito apresentam

um efeito moderador do impacto dos acontecimentos de vida negativos no bem-estar geral. Ou

seja, apenas estes fatores parecem manter os níveis de bem-estar independentemente dos

níveis de acontecimentos de vida negativos.

2ª etapa: Os resultados do estudo qualitativo vão de encontro aos resultados obtidos no estudo

quantitativo. Verificou-se que adolescentes com NEE referem-se a interesses, necessidades e

problemas comuns a esta fase da vida. Com relação aos comportamentos associados à saúde

observou-se que as questões levantadas envolvem uma alimentação pouco equilibrada,

experimentação de substancias, envolvimento em comportamentos de bulliyng, preenchimento

do tempo livre com atividades sedentárias como ver TV e jogar no computador, problemas

emocionais e com o corpo e iniciação de atividade sexual. Neste estudo confirmou-se que

adolescentes com NEE possuem menos amigos que adolescentes sem NEE, bem como o fato

dos adolescentes com NEE valorizarem muito a escola, o que também foi verificado no estudo

qualitativo.

3ª etapa: O programa desenvolvido tinha como objetivo a promoção de competências pessoais e

sociais determinantes para autonomia, resiliência e inclusão dos jovens com NEE. Este

apresentou 10 componentes: Recursos externos (família, pares, escola, comunidade); Ligações

afetivas; Expectativas elevadas; Oportunidades de participação; Recursos internos; Cooperação

e comunicação; Empatia; Resolução de problemas; Auto-eficácia; Autoconhecimento; Objetivos e

aspirações e Auto-estima.

4ª etapa: 60% dos participantes considerou que a formação foi muito útil e muito interessante

enquanto o restante afirmou que foi útil e interessante. A maioria dos formandos disse ter

adquirido conhecimento nas áreas da adolescência e da resiliência.

Discussão:

Durante a vida, as pessoas se debatem com diversas situações que ameaçam o seu

equilíbrio. Quando se consegue responder aos problemas da vida de forma positiva, e quando se

consegue lidar com sucesso diante da adversidade, existe uma capacidade de resiliência.

(GAMERZY, 1999; MASTER et. al., 1999; RUTTER, 1996; WERNER, SMITH, 2001 apud

SIMÕES, C.; MATOS, M.G.; FERREIRA, M.; TOMÉ, G.; 2010).

A capacidade de resiliência nas crianças e adolescentes envolve habilidade de

ultrapassar fatores de risco aos quais estão expostas, evitando conseqüências negativas como

problemas de comportamento, problemas emocionais e dificuldades acadêmicas (HAUSE,

Page 54: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

54

VIEYRA, JACOBSON, WERTEIB, 1985 apud SIMÕES, C.; MATOS, M.G.; FERREIRA, M.;

TOMÉ, G, 2010).

As pessoas resilientes possuem algumas características que lhes permite ultrapassar

adversidades: capacidade de tomada de decisões, capacidade de comunicação, assertividade,

empatia, auto-controle, auto-estima, auto-eficácia, otimismo, bom humor, flexibilidade,

inteligência, boa saúde física e mental. Estas características podem ser consideradas como

fatores de proteção individuais que colaboram para que a resposta diante de situações adversas

seja mais efetiva.

A resiliencia é um processo bastante importante ao longo de toda a vida principalmente

no confronto com situações difíceis. A adolescência é considerada uma etapa difícil devido às

múltiplas transformações que ocorrem neste momento da vida. Nesta etapa surgem vários

desafios: a adaptação à uma nova condição biológica, a conquista de autonomia, a progressão

acadêmica. Além disso, o adolescente precisa se sentir valorizado como pessoa, sentir-se útil,

fazer escolhas informadas e acreditar num futuro com oportunidades reais.

Os adolescentes com Necessidades Educativas Especiais podem ter mias dificuldades

para lidar com estas condições de desafios, principalmente quando o ambiente não é visto como

facilitador para isto. Um estudo (ANDERSON, CLARK, 1982 apud SIMÕES, C.; MATOS, M.G.;

FERREIRA, M.; TOMÉ, G, 2010) mostrou que adolescentes com deficiência motora revelam falta

de independência, de controle sobre suas vidas, e dificuldades de adaptação na transição da

escola para a vida adulta. Outro estudo do Health Behaviour in School-aged

Children/Organização Mundial de Saúde (HBSC/OMS) realizado em Portugal (MATOS, EQUIPA,

2003 apud SIMÕES, C.; MATOS, M.G.; FERREIRA, M.; TOMÉ, G ) mostrou que os adolescentes

que têm problemas de saúde como deficiência ou doença crônica que freqüentam o Ensino

Médio são mais vítimas de bullying, e acabam ficando mais sozinhos na escola, se sentindo

menos felizes do que os adolescentes que não apresentam estes tipos de problemas.

Sendo assim, fica evidente é fundamental que seja feita algum tipo de intervenção o mais

cedo possível buscando promover fatores de proteção que permitam a estes adolescentes lidar

positivamente com os desafios e com as adversidades da vida. Para que esta intervenção seja

eficiente é fundamental a realização de uma pesquisa dos fatores associados a este processo

junto aos adolescentes com Necessidades Educativas Especiais.

Neste sentido foi desenvolvido o projeto “Risco e resiliência em adolescentes com necessidades

educativas especiais” objetivou conhecer os comportamentos e estilos de vida dos adolescentes

Page 55: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

55

NEE, buscando desenvolver um programa destinado à promoção da saúde e resiliência

direcionado a pais e professores.

Conclusão:

O conceito de resiliência tem uma especial importância para os adolescentes com

Necessidades Educacionais Especiais, para que eles consigam superar os múltiplos desafios que

lhes confrontarão. Para que tenham um desenvolvimento positivo, é de extrema importância a

promoção de fatores de proteção e de resiliência no contexto familiar, escolar e comunitário, bem

como recursos pessoais (competências pessoais e sociais).

Este estudo destaca a importância da família e do autoconceito que se mostraram ser

verdadeiros fatores de resiliência, por conseguirem manter os níveis de bem estar global

elevados, apesar da presença de eventos adversos.

Diante dos resultados obtidos desenvolveu-se um programa de promoção da saúde e da

resiliência tendo como base a promoção de ligações afetivas e o reforço de expectativas positivas

e o desenvolvimento de competências pessoais e sociais.

A aplicação do programa junto aos pais, professores e técnicos indica que o programa

contribui para aquisição de conhecimentos relacionados à adolescência, à resiliência e à

aquisição de competências que promovam fatores de proteção e resiliência junto a estes

adolescentes.

4.11 LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M.; Resiliência oculta: a construção social do conceito e suas

implicações para práticas profissionais junto a adolescentes em situação de risco: Psicologia:

reflexão e crítica, Porto Alegre; v. 23, n. 3, 2010. Disponível em:

http://www.scielo,br/scielo.php?scrigt=sci_arttext&pid=S0102-79722010000300008&lang=pt

Resumo:

O objetivo deste artigo é apresentar e discutir os principais conceitos de resiliência baseado na

abordagem de Michael Ungar. O artigo apresenta e discute o conceito de hidden resilience, ou

resiliência oculta como uma forma alternativa de resiliência, que também pode ser um caminho

para o fortalecimento pessoal e para a promoção de bem-estar.

Método:

Page 56: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

56

Revisão bibliográfica dos principais conceitos de resiliência baseado na abordagem de Michael

Ungar.

Referencial teórico:

Em seus estudos mais recentes Ungar define o conceito de resiliência como sendo a capacidade

dos indivíduos navegarem por recursos que mantém bem-estar. Em segundo lugar refere-se à

capacidade dos ambientes físicos e sociais oferecerem tais recursos. Em terceiro lugar, refere-se

à capacidade dos indivíduos, suas famílias e comunidades negociarem recursos culturalmente

significativos a serem partilhados. É o processo de navegação através de recursos disponíveis e

a negociação por recursos a serem proporcionados de forma valorizada pelos adolescentes,

envolvendo tanto o individuo e seus ambientes, em um processo dinâmico, conduzindo a bem

estar. (UNGAR et al., 2008 apud LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M).

A Resiliência é um estado dinâmico de tensão entre os indivíduos, as famílias, comunidades e,

culturas, e não um estado permanente do individuo.

Discussão:

O objetivo deste artigo é apresentar e discutir os principais conceitos de resiliência baseado na

abordagem de Michael Ungar, devido ao fato de não haver uma publicação em português do seu

material.

As considerações de Michael Ungar podem ser muito úteis aos leitores de língua portuguesa,

pois muitos de seus questionamentos sobre a literatura de resiliência são baseados na literatura

da língua inglesa.

Ungar entende a resiliência como sendo “associada à capacidade do individuo navegar seu

caminho em direção a recursos de bem-estar”, bem como a capacidade de suas comunidades

oferecerem estes recursos de forma culturalmente significativas (UNGAR, BROWN,

LIEBENBERG, CHEUNG, LEVINE, 2008 apud LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M, 2010). Sendo

assim, a resiliência é vista como um processo definido pelas comunidades como funcionamento

saudável e socialmente aceito, como também a capacidade de suas comunidades preverem

recursos significativos.

O autor questiona as metodologias de pesquisas utilizadas para o estudo da resiliência e a sua

definição, muitas vezes articulada com resultados positivos esperados para o estudo da

experiência de populações minoritárias e marginalizadas.

Page 57: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

57

Ungar levanta outro questionamento referente à fragilidade dos estudos de resiliência e a sua

implicação prática de pesquisa propiciada por uma possível falta de significação do desenho

metodológico da pesquisa e desconsideração de uma interpretação de dados mais articulada

com a cultura que está sendo estudada.

Michael Ungar critica os limites de uma abordagem mais individualizante de resiliência, que não

leva em consideração os problemas estruturais da sociedade e a ausência de políticas publicas

necessárias para que as famílias e comunidades se fortaleçam e possam propiciar a resiliência

nas crianças e adolescentes para o enfrentamento das adversidades. Assim a resiliência está

longe de se referir apenas aos traços individuais, esta está diretamente relacionada ao lugar

social e político ocupado pelo individuo, sua família e comunidade. Essa maneira menos

individualizante de conceber a resiliência minimiza a tendência de atribuir o sujeito de forma

singular e de culpabilizá-Io por seu insucesso.

O estudo de Ungar mostra que os processos de navegação das crianças e adolescentes em

direção a recursos protetivos dependerá da qualidade dos recursos que têm maior relevância

para eles, assim como da capacidade de negociação com aqueles que fornecem os recursos aos

quais as crianças e adolescentes percebem que são necessários para seu bem-estar.

Ungar ampliou o conceito de resiliência, criando o termo hidden resilience, resiliência oculta, que

relaciona comportamentos específicos associados ao perigo, fora dos padrões, delinquência e

desordem que funcionam como caminhos não padronizados de acesso à saúde que podem estar

presentes nas vidas de jovens e adolescentes de alto risco. A resiliência oculta se manifesta

quando se utiliza formas não convencionais para o fortalecimento da identidade e para promoção

da resiliência. Assim, os comportamentos não convencionais como uso de drogas, associação a

gangs, trabalho infantil, entre outros, não são apenas sinais de vulnerabilidade como podem ser

manifestações culturalmente e contextualmente significativas e resiliência. Uma forma oculta, que

muitas vezes é negligenciada por profissionais que não fazem parte do contexto e da

comunidade desses jovens.

O conceito de resiliência oculta traz a possibilidade de diferentes e inesperados caminhos de

acesso a este fenômeno. Refere-se a tentar obter o melhor dos recursos disponíveis e acessíveis

no sentido de propiciar a resiliência. Como exemplo, pode-se pensar em um adolescente que não

frequenta a escola, mas esse fato não o impede de desenvolver relacionamentos significativos,

auto-valorização, independência e reconhecimento da comunidade que podem ser obtidos

através de sua participação como membro de um grupo de moradores de rua, ou em gangs ou

através de um trabalho (BOTELHO, 2008; INVENVERNIZZI, 2003; LlBÓRlO, PESSOA, 2008;

LIEBEL, 2004; UNGAR, 2007; WOODHEAD, 2004 apud LlBÓRlO, R. M. C.; UNGAR, M, 2010).

Page 58: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

58

Se se pretende oferecer para este adolescente formas mais "convencionais" de acesso à

resiliência, esta substituição deve ser realizada através de soluções realistas, acessíveis e

significativas para ele e para sua comunidade. Assim, este deve ter os mesmos benefícios que

obtinha com a utilização de recursos não convencionais na utilização de recursos "convencionais"

a serem oferecidos. Essa concepção implica nas intervenções, na resistência ao atendimento e

na condução de uma prática profissional que leve em conta as diferentes formas de acesso a

resiliência.

A pesquisa Intemational Resilience Project (IRP) realizada em 14 comunidades nos cinco

continentes examinou padrões de coping e processos protetivos nas vidas de aproximadamente

1500 adolescentes expostos a situações de risco, avaliados conforme consultores da pesquisa

dos diferentes países, que apresentavam distintas realidades culturais. Dentre os ricos

encontram-se: pobreza, guerra, deslocamento social, desintegração cultural, genocídios,

violência, marginalização, abuso de álcool e drogas, quebra dos vínculos familiares, doenças

mentais nas crianças e/ou pais e gravidez precoce. Foram obtidos dados qualitativos junto a 89

jovens de 12 a 23 anos, do sexo masculino e feminino de diferentes regiões do mundo: Canadá,

África do Sul, Colômbia, Palestina, China, Israel, Estados Unidos, Gambia e Rússia. Estes

estavam expostos a no mínimo três situações de riscos significativos de acordo com sua cultura e

possibilitou a heterogeneidade dos contextos culturais nos quais os adolescentes buscavam os

recursos para sustentar seu próprio bem-estar.

A partir desta pesquisa (lRP), verificou-se sete temas em comum que apareceram nas narrativas

dos 89 adolescentes participantes: acesso a recursos materiais, experiências de justiça social,

acesso a relacionamentos interpessoais que oferecem apoio, identidade pessoal desejável,

senso de coesão, experiências de poder e controle pessoal, aderência cultural. Ao serem

resolvidos de diversas formas, estes auxiliavam o adolescente em seu caminho para um

desenvolvimento psicossocial "positivo", associado com bem-estar e resiliência, conforme

critérios de suas culturas e contextos. A resolução das tensões é um processo dinâmico e pode

encaminhar os adolescentes em direção a processos de resiliência, por caminhos convencionais

ou não convencionais, relacionados à resiliência oculta.

Foi levantado que não há evidências que uma forma de resolver as sete tensões é melhor do que

outra, o que indica que cada jovem encontra maneiras únicas de obter sucesso na superação das

tensões. Assim, não há critério objetivo para avaliar "resultados positivos", porque esta avaliação

pode ser influenciada por aspectos pessoais, e o sujeito é quem avalia se sua vida pode ser

entendida como sendo ou não "bem-sucedida", num determinado período.

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59

Conclusão:

Ao elaborarem-se políticas publicas ou projetos de intervenção na fase da infância e

adolescência em situação de risco, deve-se atentar-se à estruturação dos serviços, sistemas de

atendimento, para que estes possam atender às necessidades e desejos que as crianças e

adolescentes obtêm nas condições consideradas adversas pelos profissionais, pois não é bem

sucedida uma intervenção que não considere o lugar ocupado pela situação de risco, como por

exemplo, situação de rua, trabalho infantil, e gangs na vida do sujeito.

As intervenções devem valorizar a aderência cultural, enfrentar os preconceitos e demais

injustiças sociais, favorecer a expressão de poder e controle pessoal, autodeterminação, oferecer

oportunidade de se estabelecer relacionamentos significativos e construir identidades

fortalecidas. Além disso, deve-se atentar à forma como os profissionais que atuam em projetos

sociais encaram comportamentos não convencionais, não aceitos socialmente, que são

apresentados pelos jovens e crianças com os quais trabalham.

Ungar sugere que se olhe com mais rigor e proximidade os significados que podem estar

invisíveis pelos usuários dos serviços disponíveis, como a resiliência oculta que também é uma

forma possível de se fortalecer pessoalmente e de alcançar o bem-estar.

4.12 BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A.; A resiliência em

trabalhadores da área da enfermagem. Estudos de Psicologia, Campinas, v.27 n.2, Abr/Jun

2010. Disponível em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-

00862010000100008&lang=pt

Resumo:

Foi realizada um pesquisa quantitativa com enfermeiros e auxiliares de enfermagem da rede

pública de saúde. Os instrumentos utilizados foram: uma ficha de dados sociodemográficos e o

Questionário do Coeficiente de Resiliência. O objetivo do estudo foi investigar o nível de

resiliência dos trabalhadores de enfermagem buscando conhecer suas fraquezas e fortalezas

diante das adversidades as quais estão submetidos.

Referencial teórico:

O termo resiliência aparece em contraposição aos termos invencibilidade e invulnerabilidade que

apresentam resistência absoluta frente ao estresse. Yunes (2001 apud BELANCIERI, M. F.;

BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A., 2010) ressalta que a resiliência é a

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60

capacidade de superar adversidades, não significando que o individuo saia da crise ileso, como

sugerem os termos invencibilidade e invulnerabilidade.

De acordo com Ralha-Simões (2001 apud BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.;

GASPARELO, E. A., 2010) a resiliência pode ser entendida como a capacidade pessoal de

enfrentar adversidade, não no sentido se resistir, mas de ultrapassá-la e superá-la de forma

eficiente.

Conforme Trombeta e Guzzo (2002 apud BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.;

GASPARELO, E. A., 2010) a presença de fatores de risco não prediz psicopatologias, porém a

presença de fatores de proteção pode promover a resiliência.

Ressalta-se que desenvolver a resiliência não significa que a pessoa deva superar todas as

experiências traumáticas. O indivíduo pode ser resiliente em algumas situações e não em outras.

Acredita-se que o sujeito pode desenvolver a resiliência ao longo de sua vida, quando ele se

apropria de sua realidade, transformando-a e, ao mesmo tempo, transformando-se com ela.

Método:

Foi realizado um estudo quantitativo com pesquisadores da área de enfermagem, como

enfermeiros e auxiliares de enfermagem, da rede pública. Para isso, foi utilizada uma ficha de

dados sociodemográficos, que visava a coleta dos dados pessoais e profissionais, e o

Questionário do Coeficiente de Resiliência-RQ-Test, que visava a avaliar os níveis de resiliência.

Discussão:

A enfermagem é a categoria que tem mais contato com o ambiente de saúde e com os doentes.

É parte integrante e fundamental nas equipes de saúde e constitui-se o maior grupo de

trabalhadores na área. O ambiente de trabalho da enfermagem é constituído por vários

elementos estressores, o que pode acabar comprometendo a saúde e a qualidade de vida dos

trabalhadores.

Dentre os 430 trabalhadores da área de enfermagem da rede pública de saúde, 53,2%

responderam à coleta de dados, sendo destes, 90,4% mulheres e 9,6% homens.

A maioria dos trabalhadores trabalha 40 horas semanais (76%) e alguns (13,5%) trabalham mais

de 70 horas semanais, o que é bastante preocupante.

Page 61: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

61

25,8% dos participantes mantêm dois ou mais empregos visando complementar a renda familiar.

Conforme Belancieri (2003 apud BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.;

GASPARELO, E. A., 2010) esses fatos podem comprometer a saúde e, consequentemente, a

qualidade de vida do trabalhador da área de enfermagem.

A maioria dos participantes tem entre 31 e 50 anos, é casada, com casa própria, possui filhos, é

católica e possui um nível médio/técnico de escolaridade. A maioria é auxiliar de enfermagem,

trabalha na área há mais de 17 anos e apresenta um salário entre R$ 600,00 e R$ 1500,00.

Os níveis de resiliência aparecem constituídos de sete fatores: regulação das emoções, controle

dos impulsos, otimismo, análise causal, empatia, autoeficácia e exposição, em seus aspectos

positivos e negativos.

Observou-se que a maioria dos participantes encontra-se abaixo da média (56,8%) em relação ao

fator regulação das emoções, porém no fator controle dos impulsos a maioria dos participantes

está acima da média (83%). Já no fatores otimismo (79,5%), análise causal (77,8%), empatia

(66,8%), autoeficácia (47,2%) e exposição (51,5%), a maioria encontra-se na média.

De acordo com Reivich e Shatté (2001 apud BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.;

GASPARELO, E. A., 2010) pessoas que não tem habilidade para regular suas emoções têm mais

dificuldades para construir e manter relacionamentos. Para ser resiliente o sujeito precisa

expressar suas emoções de forma adequada, sejam elas positivas ou negativas.

Notou-se que os trabalhadores da área de enfermagem estão submetidos a condições

estressantes em seus ambientes de trabalho. Estas, aliadas à dificuldade na regulação das

emoções e do excessivo controle dos impulsos podem propiciar uma redução na capacidade de

resiliencia.

Demonstrou-se que os sujeitos resilientes são otimistas e acreditam que as coisas podem

melhorar. Assim, o otimismo e a autoeficácia geralmente caminham juntos.

O fator análise causal refere-se à flexibilidade cognitiva das pessoas para identificar as causas de

seus problemas. É a capacidade de ser realista e não culpar as outras pessoas por seus erros,

visando preservar sua autoestima.

O fator empatia refere-se à capacidade da pessoa de ler os indícios de estados emocionais de

outras pessoas através da interpretação da linguagem não verbal. As pessoas que não

desenvolveram esta habilidade não são capazes de se colocar no lugar dos outros. Esta

capacidade é importante nas funções de gerenciamento, nas quais é necessário identificar

Page 62: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

62

técnicas para motivação dos colaboradores, bem como a valorização do outro. O estudo revelou

que a capacidade de empatia dos participantes encontra-se na média, o que mostra que eles

possuem a habilidade de se colocar no lugar no outro.

O fator exposição refere-se à capacidade de expor-se, explorando os seus limites, na busca de

atenção e feedback de outras pessoas. Nesta pesquisa os sujeitos encontram-se dentro da

média em relação a esse fator.

Ressalta-se que os resultados encontrados nesse estudo foram bastante semelhantes aos

resultados encontrados em outros estudos anteriores.

Sugere-se que para melhorar a capacidade de resiliência nos trabalhadores da área de

enfermagem se possa promover uma reflexão do processo saúde-doença desde sua formação,

expandindo-se para especialização e aprimoramentos, desenvolvendo suas habilidades internas

necessárias para o fortalecimento da resiliência. (BELANCERIE, CAPPO BIANCO 2004 apud

BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A., 2010).

Defendem-se mudanças nas características internas e externas visando desenvolver novas

estratégias de enfrentamento de situações estressantes através da promoção da resiliência no

contexto da saúde.

Conclusão:

A partir deste estudo pôde-se observar que a maioria dos trabalhadores da área de enfermagem

é constituída de mulheres, 90,4%. A maioria dos participantes da pesquisa apresentou uma

discrepância entre os fatores regulações de emoções e controle de impulsos. Regulações de

emoções encontrou-se abaixo da média (56,8%) enquanto que controle de impulsos ficou acima

da média (83%). Isso pode acabar resultando em um elevado consumo de energia, prejudicando

as atividades laborais dos trabalhadores.

Os fatores otimismo (79,5%), análise causal (77,8%), empatia (66,8%), autoeficácia (47,2%) e

exposição (51,5%), ficaram na sua maioria, acima da média.

Tais resultados podem estar associados ao perfil sociodemográfico dos participantes,

especialmente nos quesitos carga horária e salário. Sendo assim, percebe-se como urgente a

aprovação do Projeto de Lei 2.295/2000, a fim de aprovar e regulamentar a jornada de 30 horas

semanais de trabalho na área da enfermagem.

Page 63: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

63

Destacou-se também a resistência dos trabalhadores da área de enfermagem em responder aos

instrumentos de pesquisa. Apesar da rotina intensa de trabalho e da grande demanda de

pacientes, entende-se que há uma falta de envolvimento coletivo para a construção de uma

categoria profissional mais forte. Assim, discutir o caráter social e político da prática dos

trabalhadores de enfermagem e refletir sobre a importância de sua participação nos rumos da

profissão, pode minimizar o estado de alienação observado.

Essas medidas podem proporcionar uma melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores da

área de enfermagem além de promover uma melhoria na assistência à saúde dos usuários da

Rede Municipal de Saúde.

4.13 MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN, J. S.; Psicoterapia de criança com alopecia areata

universal: desenvolvendo a resiliência. Paidéia, Ribeirão Preto, v. 20, n. 46, May/Ago 2010.

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

863X2010000200013&lang=pt

Resumo:

Este artigo apresenta um estudo de caso de uma criança portadora de alopecia areata universal,

vitiligo e transtorno de ansiedade generalizada. A paciente foi atendida durante cinco anos em

uma clínica-escola de psicologia. A psicoterapia tinha como objetivo diminuir os sintomas e

promover o desenvolvimento de habilidades para o enfrentamento da doença crônica. Durante o

processo, a paciente demonstrou adaptar-se positivamente à doença, diminuir os sintomas de

ansiedade e o desenvolver comportamentos resilientes que indicaram a alta terapêutica.

Referencial teórico:

A psicoterapia de orientação psicanalítica sustenta-se no pressuposto de que os conflitos

internos inconscientes estão diretamente relacionados aos sintomas (SOURS, 1996 apud

MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN, J. S, 2010). Assim, um distúrbio psicológico é entendido

como um obstáculo ao desenvolvimento emocional do indivíduo, que pode se caracterizar como

imaturidade da capacidade de relacionar-se com as pessoas e com o ambiente. A psicoterapia

objetiva visa desfazer esse obstáculo permitindo que o desenvolvimento "tenha lugar onde

anteriormente não era possível" (WINNICOTT, 1986/1996, apud MENEZES, M.; LÓPEZ, M.;

DELVAN, J. S, 2010).

A psicoterapia lúdica e a orientação sistemática aos pais são as formas mais utilizadas para

atingir a superação de conflitos das crianças. O terapeuta, ao favorecer o surgimento de

Page 64: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

64

comportamentos mais adaptados na criança através da psicoterapia e da orientação aos pais,

está auxiliando o desenvolvimento de comportamentos resilientes na criança.

O desmame, a retirada de fraldas são exemplos de tarefas evolutivas da infância e são desafios

que requerem que a criança desenvolva mecanismos de adaptação. A doença crônica infantil

pode levar certas crianças a enfrentas maiores dificuldades e podem estar associadas ao

desenvolvimento ou surgimento de psicopatologias (CASTRO, JIMÉNEZ, M. 2002 apud

MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN, J. S, 2010).

Conforme Bianchini e DellAglio (2006 apud MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN, J. S, 2010) a

relação entre a resiliência e a situação de doença é entendida como a capacidade do indivíduo

lidar com a doença e suas limitações, colaborando e aderindo ao tratamento e assim, readaptar-

se e sobreviver de forma positiva.

Método:

Foi realizado um estudo de caso do processo psicoterapêutico de uma criança do sexo feminino,

com diagnóstico de alopecia areata universal, vitiligo e transtorno de ansiedade generalizada.

O atendimento começou em 2002, quando a paciente tinha cinco anos e terminou em 2007. O

material clínico analisado foi constituído a partir da sistematização dos registros do atendimento.

Discussão:

O objetivo do estudo é relatar e discutir a experiência clínica e o desenvolvimento de

comportamentos resilientes da paciente portadora de doenças crônicas como alopecia areata

universal e vitiligo, durante os cinco anos em que esteve em psicoterapia em uma Clínica-Escola

de Psicologia.

A paciente, filha única, apresentou a primeira queda de cabelos aos oito meses de idade.

Durante este período seus pais vivenciaram uma crise conjugal e separaram-se

temporariamente. Neste período a mãe apresentou sintomas depressivos.

De acordo com Sacristán, Oyola e Andaluz (2000 apud MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN, J.

S, 2010), a presença de separações, maus tratos e transtornos mentais nos genitores está

associada a uma maior probabilidade de a criança apresentar dificuldades psicológicas na

infância e adolescência.

Page 65: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

65

Logo depois o casal voltou a conviver e mudu-se de cidade. A criança passou a apresentar

repilamento parcial, que alternava com a queda de cabelos, estes episódios passaram a ser um

constante na vida da paciente.

Além disso, a paciente também apresentava manchas pelo corpo, vitiligo, localizadas no rosto,

braços e abdômen.

Durante as entrevistas de avaliação identificou-se que os pais demonstravam culpa e

superproteção devido a dificuldade de lidar com a doença da filha.

Identificou-se também que a despigmentação da pele se acentuava em períodos de ansiedade e

estresse elevado, como apresentações e festas escolares.

Foi diagnosticado que a paciente possuía um transtorno de ansiedade generalizada e por conta

disso ela passou a toma Fluoxetina.

Durante o primeiro ano de psicoterapia a paciente usava chapéus ou toucas que a protegiam dos

olhares provocados pela ausência de cabelos.

Neste primeiro ano, foram realizadas intervenções que visavam estimular o fortalecimento da

auto-estima na criança e nos pais, bem como a aceitação da aparência física para desenvolver

os comportamentos mais adaptativos diante dos aspectos físicos e sociais relacionados a

doença. Os temas abordados no encontros de orientação aos pais eram desenvolvimento da

autonomia da criança e o enfrentamento da doença crônica e da ansiedade.

Durante o segundo ano o novo terapeuta introduziu o tema presença e ausência da cabelos

através de livros, recortes e outros. A paciente demonstrava-se irritada quando o tema cabelos

surgia nas sessões e passou a raiva e esperança de que seus cabelos crescessem. Estes

sentimentos, simbolizados, indicaram uma maior capacidade de representação do conflito.

No terceiro ano, a paciente aceitou a transição do terapeuta com mais tranquilidade e

demonstrou aceitar as atividades que incluíam desenhos sobre seus sentimentos e o uso de

figuras para compor histórias propostas pelo terapeuta. Em uma das sessões a paciente disse

estar pronta para conversar sobre cabelos e sobre o impacto da ausência dos mesmos em sua

vida. Durante este ano observou-se uma diminuição dos comportamentos de superproteção por

parte dos pais, e uma maior aceitação da condição da filha.

No quarto ano de psicoterapia a paciente começou a expressar seus pensamentos e sentimentos

em relação a possibilidade de usar perucas ao invés de toucas ou chapéus. A paciente indicou

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66

apresentar menos comportamentos ansiosos e maior flexibilidade para mudanças. Em função da

remissão dos sintomas de ansiedade, a medicação foi suspensa por ordem médica.

Durante o quinto ano, tanto a paciente como seus pais apresentaram comportamentos mais

adaptativos em relação à doença. A paciente demonstrou mais autonomia e relatou sentir-se

melhor em relação à não ter cabelos e à vergonha de ser diferente. Durante o processo de

psicoterapia, a paciente demonstrou ter capacidade para lidar com tais adversidades, o que

sugere o desenvolvimentos de características resilientes. Acredita-se que durante a psicoterapia

estas características puderam emergir.

A paciente demonstrou ter se beneficiado do processo psicoterapêutico, paesar das contentes

trocas de terapeutas. As habilidades para enfrentar doenças crônicas, o reconhecimento de suas

limitações, a adesão ao tratamento e o suporte social e familiar, ou seja, características

resilientes, puderam ser estimuladas e desenvolvidas rpomovendo a adaptação da paciente de

forma positiva.

Observou-se que os fatores de proteção da paciente foram ampliados através da psicoterapia e

da orientação dos pais.

Assim, após estes cinco anos de tratamento psicoterapêutico, o atendimento foi encerrado. Nota-

se que durante este processo a paciente desenvolveu comportamentos resilientes que

potencialmente estavam nela e que foram incrementados através da psicoterapia.

Conclusão:

Crianças resilientes são aquelas que passaram por sérios traumas e que apresentam uma

diminuição ou até ausência do diagnóstico psicopatológico. A criança resiliente é aquela que

apresenta maturidade diante da situação conflitante e consegue se adaptar em sua vida

cotidiana.

Sugere-se que o psicólogo clinico infantil, através da psicoterapia, reafirme para a criança e

importância da sua autoestima, o respeito por seu próprio corpo, reforce o diálogo e a tolerância

da família, possibilitando o desenvolvimento de aspectos positivos de adaptação e a prevenção

de psicopatologias.

4.14 NORTE, C. E.; SOUZA, G. G. L.; PEDROZO, A. L.; SOUZA, A. C. F. M.; FIGUEIRA, I.;

VOLCHAN, E.; VENTURA, P. R.; Impacto da terapia cognitivo-comportamentas nos fatores

neurobiológicos relacionados à resiliência; Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 38, n. 1,

Page 67: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

67

2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-

60832011000100009&lang=pt

Resumo:

Realizou-se um estudo de caso com um homem de 45 anos que sofreu dois assaltos com arma

de fogo. Este tentou um tratamento farmacológico com proxetina, porém, não respondeu

adequadamente ao tratamento. Sendo assim, o paciente foi encaminhado para um tratamento de

psicoterapia cognitivo-comportamental que promoveu um redução dos sintomas de transtorno de

estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, afeto negativo, apoio social e promoção da

resiliência.

Referencial teórico:

Existem muitos estudos sobre os estados psicológicos negativos, porém, pouca atenção tem sido

dada aos estados positivos. A psicologia positiva é um campo crescente de pesquisa sobre

aspectos positivos e bem-estar. A psicologia positiva e a resiliência tem sido negligenciadas

como foco de tratamento no campo terapêutico apesar da vasta literatura sobre o assunto.

O estudo dos fatores psicofisiológicos tem sido fundamental para entender uma adaptação bem-

sucedida ao estresse. Estudos recentes dos autores trouxeram evidências de que a recuperação

cardíaca de um estresse psicossocial agudo depende de predisposições individuais como o tônus

vagal cardíaco e o traço de resiliência. A literatura indica que o hormônio de-

hidroepiandrosterona (DHEA) pode ser um possível fator de resiliência e de proteção ao estresse.

Alguns estudos mostram que a mudança no comportamento é considerado um tratamento

psicológico efetivo para o transtorno de estresse pós-traumático.

Método:

O estudo foi realizado com um homem de 45 anos, que sofreu duas vezes assaltos com armas

de fogo no banco, onde trabalhava como tesoureiro.

Na avaliação clinica ele foi diagnosticado com transtorno de estresse pós traumático, depressão

maior, transtorno de pânico e transtorno obsessivo compulsivo. O paciente recebeu tratamento

com paroxetina durante 32 meses e apresentou remissão total dos sintomas de transtorno de

pânico e transtorno obsessivo-compulsivo e remissão parcial dos sintomas de estresse pós-

traumático e depressão maior. Os sintomas do transtorno de estresse pós-traumático

caracterizam-se por: pesadelos recorrentes, flashbacks, pensamentos intrusivos relacionados ao

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68

trauma, entre outros. Estes sintomas se mantiveram e o paciente foi encaminhado para a terapia

cognitivo comportamental.

Durante todo o tratamento com a terapia cognitivo-comportmental, o paciente manteve a

medicação, paroxetina (40 mg/dia). O tratamento psicológico foi conduzido a partir da

psicoeducação, relaxamento e treino de respiração, exposição imaginária, exposição gradual in

vivo, reestruturação cognitiva e prevenção de recaída. O estudo foi conduzido em uma clínica

ambulatorial, em um contexto de constante exposição a eventos traumáticos, especialmente

assalto à mão armada.

Para avaliação clínica foram utilizados os seguintes instrumentos: PTSD Checklist-Civilian (PCL-

C), Inventário Beck de Depressão (BDI), Inventário Beck de Ansiedade (BAI), Escala de Afeto

Positivo e Negativo – Versão Traço (PANAS-T), Escala Ego-Resiliency e Escala de Apoio Social

do Medical Outcomes Study.

Discussão:

O objetivo deste estudo foi levantar evidências com relação aos fatores relacionados à resiliência

no parâmetros psicométricos e biológicos como medida de eficácia em ensaios clínicos.

Este estudo de caso demonstra o impacto da terapia cognitivo comportamental nas variáveis

autonômicas e neuroendócrinas, bem como nas escalas relacionadas à resiliência, sintomas e

predisposições afetivas.

A terapia cognitivo-comportamental promoveu uma redução nos parâmetros psicométricos

desfavoráveis como os sintomas de transtorno de estresse pós-traumático, depressão e

ansiedade e dos escores de afeto negativo. Paralelamente houve uma redução nos níveis

fisiológicos basais da frequência cardíaca, frequência respiratória, condutância da pele e cortisol

salivar.

Ressalta-se que a terapia aumentou os escores de apoio social e resiliência, níveis basais do

tônus vagal cardíaco e o hormônio de-hidroepiandrosterona, fatores relacionados à resiliência de

uma forma geral. Levando em consideração que o tratamento com terapia cognitivo-

comportamental foi iniciado após 32 meses de tratamento farmacológico com paroxetina (que

não obteve os resultados esperados) os efeitos observados neste estudo sugerem fortemente

que a melhora do paciente tenha sido causada pela TCC.

Tais resultados destacam a importância da terapia cognitivo-comportamental, ajudando o

paciente a atenuar os aspectos negativos do transtorno, e ainda, auxiliando na construção de

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69

algumas características como resiliência, apoio social e uma fisiologia saudável. O aumento dos

recursos positivos pode também auxiliar a neutralizar os sintomas negativos e a prevenir futuras

recaídas.

Este estudo de caso mostra que a resiliência deve ser considerada como mais um fator

importante para medir a eficácia em ensaios clínicos. A eficácia terapêutica é comumente focada

em um único domínio de desfecho, priorizando a redução de sintomas psicopatológicos e acaba

negligenciando a avaliação de outros fatores importantes como qualidade de vida e resiliência. A

avaliação de diversos fatores é essencial, considerando que isso captura a complexidade e a

riqueza do sofrimento associado ao transtorno de estresse pós traumático, estendendo a

avaliação de acordo com a dimensão dos sinais e sintomas.

Conclusão:

Como principal diferencial desse estudo destaca-se a avaliação simultânea dos parâmetros

psicométricos, psicofisiológicos e comportamentais relacionados ao sofrimento e bem-estar em

um contexto de intervenção psicoterapêutica.

4.15 RIBEIRO, P. M.; GUALDA, D. M. R.; Gestação na adolescência: a construção do processo

Saude-Resiliência; Revista Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, abr/jun 2011.

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-

81452011000200020&lang=pt

Resumo:

O estudo tem como objetivo compreender a vivencia das adolescentes durante a gestação e o

processo de nascimento de seu filho. Para isso foi feita uma pesquisa qualitativa através de

entrevistas semi-estruturadas com adolescentes no processo de gestação. As entrevistas foram

transcritas e criadas em forma de narrativas, o que propiciou a organização de categorias.

Verificou-se o desenvolvimento da resiliência nas adolescentes durante o processo de gravidez e

superação das adversidades.

Referencial teórico:

Hoje, os estudos mais recentes sobre gestação na adolescência apontam uma mudança de

interpretação dessa situação. A gravidez e a maternidade rompem com a trajetória de vida que as

famílias esperam para suas filhas, ou seja, que estas obtenham uma formação escolar, consigam

um trabalho, atinjam a independência financeira, para depois, constituir uma família.

Page 70: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

70

A gravidez na adolescência está frequentemente associada a um contexto de desvantagem

sócia. Esta ocorrência acontece em um âmbito de restritas oportunidades e poucas opções de

vida e interrupções na trajetória escolar.

No intuito de buscar uma forma humanizada do cuidar no processo da gestação na adolescência,

utilizou-se a Antropologia Médica, que fundamenta a abordagem compreensiva e o acesso às

vivências, aos significados e às experiências vividas pelas adolescentes.

Neste estudo, utilizou-se um enfoque anglo-saxônico ou psicobiológico da resiliência que dá

importância à interação pessoa-ambiente e às diferentes formas nas quais os indivíduos

respondem ante as ameaças e aos desafios do meio.

Método:

O estudo realizou uma pesquisa qualitativa ancorada na Antropologia Médica. Os participantes

da pesquisa eram adolescentes entre 10 e 19 anos que estavam em idade gestacional de 4 a 20

semanas e que haviam iniciado o acompanhamento pré-natal. O estudo foi realizado em um

município do sul de Minas Gerais.

Foram realizadas vária entrevistas semi-estruturadas com cada colaboradora, pretendendo-se

acompanhar todo o processo gestacional, parto, puerpério e a nova vida da mãe adolescente.

Discussão:

O objetivo desse estudo é compreender a vivencia das adolescentes durante a gestação e o

processo de nascimento de seu filho.

O processo de análise de dados começou através da transcrição das entrevistas que levou a

construção de narrativas e identificação dos tons vitais. Essas narrativas, criadas a partir das

entrevistas foram categorizadas em um processo de sistematização de dados.

Foram selecionadas sete categorias principais e suas subcategorias:

1) Identidade e Situação Familiar: refere-se à identificação da adolescente no contexto

familiar. Esse estudo mostrou que o grupo de colaboradoras fazia parte de famílias com a

presença de pai, mãe e irmãos.

2) Planejamento da gravidez: subdividiu-se entre as colaboradoras que desejavam a

gravidez e as que não desejavam e acabaram engravidando.

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71

3) Descobrir-se Grávida: subdividia-se em constatação da gestação e comunicação da

gravidez aos familiares.

4) Suporte social durando o processo: esta categoria subdividia-se em: reconciliação após

quebra de relacionamento com a família; apoio dos pais e familiares; apoio e participação

do companheiro; e apoio material e financairo.

5) Mudança de comportamento

6) Vivência do papel materno

7) Perspectivas para o futuro: subdividido em planos em relação à criação dos filhos e

planos pessoais.

Este estudo mostrou que a trajetória da gestação na adolescência levou à construção da

resiliência. As adolescentes vivenciaram situações adversas, como expulsão da casa paterna,

brigas, desentendimentos familiares, mas foram capazes de desenvolver atributos pessoais, a

partir de uma figura de confiança, alguém de seu entorno que elas acreditavam amar-lhes

incondicionalmente, como sogras, mães ou companheiros.

As adolescentes relataram que a responsabilidade pela gestação e pela criação da nova família

foi um evento muito positivo em suas vidas. Elas desenvolveram esses atributos pessoais

durante a experiência da gestação e após o parto, pois as situações de adversidade não são

estáticas, estas mudam e requerem mudanças nos comportamentos resilientes. Este fato se

evidenciou durante toda a gestação por este ser um processo que muda constantemente e

portanto, exige mudanças no comportamento resiliente.

A gestação acaba exigindo da adolescente uma superação de conflitos, medos e

insegurança, mas, ao mesmo tempo, propicia a preparação e o aprendizado das

adolescentes na construção do seu projeto de vida. Entende-se que a "superação" é

também um processo, pois permite que a adolescente se saia fortalecida, transformada e

vencedora de situações adversas.

A leitura dos dados acabou resultando na elaboração de três temas:

a) Suporte Social: percebeu-se que a partir do apoio recebido, as adolescentes conseguem

desenvolver habilidades resilientes e vivenciam a gestação com capacidade para criar

expectativas em relação aos filhos e ao futuro. Este estudo mostrou uma maior aceitação

por parte dos pais das adolescentes durante a gravidez e após o nascimento dos bebês,

o que demonstra a mudança de comportamento dos pais diante da gestação na

adolescência. Sendo assim, nota-se que o suporte social é extremamente importante

para a adolescente, visto que nenhuma das colaboradoras ficou desamparada durante

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72

todo o desenvolvimento da gestação, parto, puerpério e na nova vida com sua família

nuclear.

b) Mudança: essa mudança que ocorre na vida das adolescentes é revelada como um

acontecimento positivo, que traz felicidade e satisfação apesar das adversidades. Essa

mudança vivida faz com que a adolescente tenha mais autonomia quando o processo é

vivenciado de forma resiliente, propiciando uma maior independência, responsabilidade,

sugurança e uma confiança no futuro.

c) Mesmo sendo adolescente, sou mãe e gosto de ser assim: o ser mãe-adolescente é

valorizado pelo grupo e é verbalizado de forma positiva. As colaboradoras se revelaram

cuidadoras responsáveis e se sentem felizes como tal. Elas relatam que a gestação

possibilitou o amadurecimento e o domínio da situação por parte da adolescente.

A gestação não foi verbalizada como um acontecimento negativo que impossibilitasse ou

prejudicasse a trajetória de vida das adolescentes. A gravidez acabou propiciando mudanças de

comportamento, amadurecimento, mudanças familiares e desenvolvimento dos fatores resilientes

que propiciaram a construção da resiliência. Essas adolescentes gestantes vivenciaram o

desenvolvimento do processo gestacional, elaboraram os fatores da resiliência, foram capazes de

superar as adversidades e se tornaram mães adolescentes conscientes do seu papel e

responsáveis.

Conclusão:

O apoio dos pais e o ajuste da família à situação de gestação das adolescentes foi extremamente

importante na construção da resiliência por parte das adolescentes estudadas.

A gestação foi entendida pelas adolescentes como um acontecimento positivo que acabou

propiciando o amadurecimento e autonomia das mesmas.

V. ANÁLISE DE DADOS

De um total de 16 artigos analisados, 43,75% foram publicados no ano de 2009; 37,5%

foram publicados no ano de 2010 e 18,75% publicados em 2011.

Quanto ao local de publicação de artigos, 56,25% foram publicados no Estado de São

Paulo: destes, 44,4% foram publicados em Campinas, 44,4% na cidade de São Paulo e 11,1% em

Ribeirão Preto; 18,75% do total de artigos foram publicados no Rio de Janeiro, 12,5% no Rio

Grande do Sul e 12,5% foram publicados em Portugal (Lisboa).

Em relação ao tipo de pesquisa utilizada nos artigos, 37.5% foram empírico qualitativo,

31,25% foram empírico quantitativo, 6,25% foram quantitativos e qualitativos e 25% foram teóricas.

Page 73: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

73

Quanto aos sujeitos de pesquisa, 25% artigos utilizaram adolescentes, 25% utilizaram

documentos, 12,5% utilizaram moradores de rua, 12,5% utilizaram idosos, 6,25% utilizaram

trabalhadores da área de enfermagem, 6,25% utilizaram uma família que vive em condições de

adversidade, 6,25% utilizaram um homem que passou por situações traumáticas e 6,25%

utilizaram uma criança com alopecia areata universal.

A partir dos temas encontrados nos artigos organizou-se algumas categorias que serão

analisadas ao longo deste trabalho.

5.1 Moradores de rua e Resiliência

Conforme os autores PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA (2004), os fatores de risco,

tanto crônicos como agudos podem afetar a capacidade de resiliência. Como exemplo, pode-se

citar: condições de pobreza, rupturas na família, vivência de algum tipo de violência, experiências

de doença na própria criança ou adolescente, doença na família e perdas importantes. Sendo

assim, a situação de rua é considerada um evento de risco que pode afetar a capacidade de

resiliência, aumentando a vulnerabilidade dos sujeitos que se encontram em tais condições.

Foram encontrados dois artigos que discutem a situação do morador de rua, ambos os

artigos foram escritos pelos autores ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, um

no ano de 2009 e outro em 2011. Observou-se nos artigos que os sujeitos em situação de rua

eram ignorados pela maioria dos cidadãos. Esses seres humanos vivem situações existenciais

extremas, morando nas ruas, em barracos ou albergues.

ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D (2011) afirmam que os

moradores de rua consideravam a sua situação de morar na rua como uma situação difícil de sair.

As relações desenvolvidas, o uso de drogas, o abandono e a exclusão os empurrava cada vez

mais para as sarjetas. Assim, os autores observaram que vários moradores de rua acabaram

mergulhando na indiferença, drogas, depressão e mendicância, criando padrões de conduta que

lhes permitiam sobreviver no ambiente destrutivo ao qual estão expostos.

ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D (2009) identificaram que em

alguns moradores de rua observados havia a presença de certa unidade psíquica que acabou lhes

permitindo sobreviver nas prisões e nas ruas. Esta seria um falso self, aspecto que se sobrepõe e

oculta o verdadeiro self e que acaba sendo muito bem sucedido. Porém, o sucesso desse falso self

não foi suficiente para permitir a extinção da insatisfação e da procura de si mesmos. As

potencialidades deles estavam a espera de um “outro significativo" que pudesse acompanhá-los no

processo de autorrealização.

Flach (1991) atribui-se o uso do termo resiliência em 1966, visando descrever as forças

psicológicas e biológicas exigidas para atravessar com sucesso as mudanças na vida. (PINHEIRO,

2004). Sendo assim, pode-se destacar a criação do falso self como uma força psicológica para

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74

poder lidar com as condições adversas. Contudo, esta por si só não pode configurar essa reação

como sendo uma forma de resiliência uma vez que os moradores de rua observados não se

sentiam satisfeitos com este falso self, viviam buscando sua verdadeira identidade e não viam

sentido em suas vidas.

Assis, Pesce e Avanci (2006), afirmam que a resiliência pode ser entendida como uma

capacidade de metamorfosear as adversidades da vida. É uma capacidade existe desde que o

homem é homem e precisa superar ou transformar as adversidades com as quais se depara.

(ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006).

A Resiliência é um processo que fortalece e capacita o individuo para lidar com as

adversidades de uma forma positiva. É um processo interativo entre a pessoa e o seu meio, não

nasce com o sujeito e tampouco é uma aquisição exclusivamente de fora para dentro. (ASSIS,

PESCE, AVANCI, 2006). Pode-se dizer que os moradores de rua estudados, em ambos os artigos,

acabaram lidando com a adversidade e conseguindo sobreviver a esta, escondendo-se atrás de

um falso self. Porém, os sujeitos poderiam lidar com as adversidades de forma positiva,

transformando-se e fortalecendo-se.

Com esse objetivo buscou-se promover um “encontro transformador” entre os moradores

de rua observados e uma professora que pudesse se tornar um ponto de apoio positivo em suas

vidas. Esta professora saindo do seu circuito de relacionamento, indo ao encontro do morador de

rua e aceitando-o tal qual ele se apresentava, fez com que este se sentisse incondicionalmente

aceito, dessa forma o morador de rua pôde confiar nela, abrindo-se para a transformação.

(ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009)

Os pesquisadores relatam que fornecia-se folhas, lápis coloridos, revistas e gravuras para

serem utilizados pelos moradores de rua em seus processos criativos. Estes foram de grande

importância para o processo de transformação destes moradores de rua. Nos casos analisados,

observou-se que o processo criativo fez parte do processo de transformação. O processo criativo

propiciou a expressão de emoções, traumas, sonhos e desejos que propiciaram o processo de

transformação (ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009).

A experiência relatada no artigo de ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C.

S.A.D, 2009 confirma o que diz o autor Cyrulnik, que destaca a resiliência como um processo de

superação que se dá no encontro com o outro, resultante de uma interação de fatores pessoais,

ambientais, institucionais e sociais. Ele destaca que a partir deste encontro, o sujeito pode elaborar

novos caminhos e refazer-se do trauma vivido, ressignificando o trauma vivido em direção à

retomada do desenvolvimento (SEQUEIRA, 2009).

Foi justamente o que aconteceu com os moradores de rua observados por ALVAREZ, A.M.

S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009, estes puderam resgatar sua historia de vida e

passar para uma busca de sentido na vida. Observou-se que através da confiança no ambiente foi

possível que os sujeitos flexibilizassem o seu falso-self para então resgatar e constituir o seu

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75

verdadeiro self. Através desta experiência pode-se entender que estes sujeitos conseguiram

ressignificar as condições vividas e encontrar novos significados para suas vidas, o que mostra-se

coerente com a teoria de Cyrulnok apresentada anteriormente.

No outro artigo encontrado (ALVAREZ, A. M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D,

2011) o “encontro transformador” se deu sem cobranças propiciando com que o morador de rua

conseguisse iniciar um processo de flexibilização, desconstruindo suas defesas, foi assim que suas

psiques permitiram rever os seus conteúdos congelados e, “através da percepção do amor vindo

por parte da professora”, se proporcionou a constituição de aspectos fundamentais do self e das

potencialidades. Assim, diante deste encontro os sujeitos constituíram potencialidades, aspectos

fundamentais do self, que até então estavam sem realização. Esses novos conteúdos internos

foram considerados pontos de apoio que os alavancaram na resistência à criminalidade, e lhes

indicaram um sentido de vida, um rumo que dissesse não à violência, a morte ou a cisão psíquica,

o que lhes favoreceu a resiliência.

De acordo com CYRULNIK (2004 apud ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006), o meio em que a

criança está inserida e a bolha afetiva que a envolve no dia-a-dia são os principais fatores que

podem fazer com que a criança teça a resiliência, ou seja destruída pela adversidade. Acredita-se

que o mesmo processo pode ser aplicada para os moradores de rua.

Assim, percebe-se a necessidade de medidas de apoio mais amplas à população que vive

em situação de rua, promovendo uma inclusão social que possa transformar a condição vivida por

esta, propiciando recursos para o enfrentamento da situação adversa, bem como colaborando para

o desenvolvimento da capacidade de resiliência dessa população, para que esta possa enxergar

um rumo e um sentido na vida, o que pode ser considerado um primeiro passo para a promoção de

mudança dessa condição.

5.2 Resiliência e o Idoso

Dentre os artigos estudados, dois utilizaram idosos como sujeitos de pesquisa e ambos

fizeram estudos quantitativos. No primeiro artigo, FORTES, T. F. R; PORTUGUES, W. M.;

ARGIMON, I. I. L., 2009 houve a aplicação da Escala de Resiliência e utilizaram os escores dos

instrumentos Percepção Subjetiva de Queixa de Memória e Miniexame do Estado Mental. No

segundo artigo, de RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.;

ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010 aplicou-se um questionário

sociodemográfico e Medida de bem-estar subjetivo.

Ambos os estudos visavam o estudo da resiliência do idoso e sua relação com as variáveis

sócio-demográficas como gênero, idade, renda e escolaridade. Os dois estudos ressaltaram a

importância e a necessidade de redes sociais e apoio para a qualidade de vida do idoso. Verificou-

Page 76: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

76

se que uma rede de apoio provoca um efeito significativo na vida dos idosos tendo uma grande

influencia na qualidade de vida deles.

Conforme Kotliarenco et al. (1997, apud JUNQUEIRA e DESLANDES) a resiliência é

propiciada de uma a interação entre atributos pessoais, os apoios do sistema familiar e aqueles

provenientes da comunidade. Sendo assim, os artigos estudados conseguiram abordar estas três

esferas, buscando uma maior abrangência e entendimento da resiliência e da qualidade de vida

dos idosos.

Os autores FORTES, T. F. R; PORTUGUES, W. M.; ARGIMON, I. I. L., 2009 destacam

que a maior parte dos idosos pesquisados eram do sexo feminino, o que pode indicar que as

mulheres acabam vivendo mais do que os homens. Além disso eles obsevaram que a

hospitalização era um fator frequente na vida dos idosos estudados, a maioria possuía duas ou

três hospitalizações prévias no último ano. Porém, a média obtida para a Escala de Resiliência foi

de 84,9, uma média alta, que indica que os idosos pesquisados conseguiram enfrentar as

adversidades que surgiram em suas vidas.

FORTES, T. F. R; PORTUGUES, W. M.; ARGIMON, I. I. L., 2009 verificaram que a alta

capacidade de resiliência não apareceu relacionada à renda mensal econômica, essa

característica apareceu independentemente da classe econômica do pesquisado. Destacou-se

também que quanto mais queixas relacionadas à problemas de memória, menor os índices obtidos

na escala de resiliência, verificou-se uma associação significativa e inversa. Observou-se também

uma correlação significativa entre Escala de Resiliência e Miniexame do Estado Mental, ou seja,

quanto maior o desempenho cognitivo, maior a capacidade resiliência.

Tais resultados indicam que a saúde e o desempenho cognitivo estão relacionados a

capacidade de resiliência, quando mais saudável for idoso e quanto maior for o seu desempenho

cognitivo maior a probabilidade de ele apresentar altos índices na escala de resiliência. Identificou-

se assim, que problemas de memória e dificuldades no desempenho cognitivo estão diretamente

relacionados à baixa capacidade de lidar com adversidades.

RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.;

SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010 fizeram um estudo com participantes de um grupo de teatro.

Eles identificaram uma correlação entre a idade e a resiliência e ideias de independência e

determinação, ou seja, quando maior a idade maior o grau de resiliência. É interessante ressaltar

que esta ralação não foi observada por FORTES, T. F. R; PORTUGUES, W. M.; ARGIMON, I. I. L.,

2009 que verificaram em seu estudo que a resiliência não estava relacionada com a idade dos

participantes.

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77

Além disso, RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.;

ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010 identificaram que quanto maior o tempo de

participação dos idosos no grupo de teatro, maior a vitalidade. Acredita-se que esta correlação é

verdadeira devido ao fato de que os idosos que participam há mais tempo do grupo sentem-se

parte dele, ou seja, sentem-se pertencentes ao grupo e acabam possuindo uma relação mais

sólida com os demais. Essa relação é entendida como um suporte social e, como os autores do

artigo verificaram, quando maior a percepção de suporte social, maior o numero de afetos positivos

experimentados.

RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.;

SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010 ainda constataram que quanto maior o escore de afetos

positivos, maior o escore de satisfação com a vida e quanto maior o escore de afetos negativos

vivenciados, maior foi resultado do escore do fator de resiliência. Pode-se pensar, que devido aos

afetos negativos vividos, o sujeito teve que desenvolver uma alta capacidade de resiliência, para

poder conseguir superá-los.

Este suporte social que pode amenizar os efeitos do estresse na vida do idoso, leva a um

maior senso de satisfação com a vida. Boris Cyrulnik destaca que a resiliência é um processo de

superação que se dá no encontro com o outro, resultante de uma interação de fatores pessoais,

ambientais, institucionais e sociais (SEQUEIRA, 2009). Dessa forma, pode-se entender que o

suporte social, as redes, o grupo de teatro constituem-se como sendo um interação, um “encontro

com o outro” e que acabam propiciando uma maior capacidade de enfrentamento de adversidades,

uma capacidade de resiliência.

Hoje, a população idosa é bem mais expressiva, o aumento da capacidade de resiliência

dessa população é muito bem vinda, já que terão que enfrentar eventos estressores ou situações

adversas típicas dessa fase da vida. Verificou-se que a resiliência não depende de fatores pessoais

pré-determinados, mas é uma capacidade que pode ser desenvolvida por todos os seres vivos.

Ressalta-se a importância do suporte afetivo, social, dos sentimentos de compreensão,

atenção e companheirismo que, no artigo de RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.;

ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010, acabaram

proporcionando uma maior satisfação com a vida dos participantes. O apoio social está diretamente

relacionado com o bem-estar e é considerado capaz de gerar efeitos benéficos tanto para a saúde

física como mental.

Pode-se concluir que quando mais as pessoas conseguem administrar produtivamente

suas relações com os outros melhor será a visão positiva que elas têm sobre elas mesmas, sobre

sua vida e sobre o futuro. ou seja, quanto mais sentimentos positivos apresentados, maior o nível

de satisfação com a vida. Por outro lado, nota-se que quanto mais afetos negativos experenciados,

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78

maior a capacidade de resiliência. Essa análise indica que a pessoa pode desenvolver a

capacidade de resiliência durante a vida, mediante a exposição, enfrentamento e superação de

situações adversas.

ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006 já fizeram esta constatação afirmando que a resiliência é

um processo interativo entre a pessoa e o seu meio, não nasce com o sujeito, nem é uma aquisição

exclusivamente de fora para dentro. Resiliência é um processo que deve ser construído

continuamente ao longo da vida, não é um estado adquirido e imutável. Por isso é tão importante

que o individuo elabore os conflitos retome o seu desenvolvimento de forma saudável.

5.3 Adolescentes e Resiliência

Conforme Lindstrom (apud JUNQUEIRA e DESLANDES 2003) a resiliência não produz

adolescentes melhores, esta produz apenas adolescentes mais capazes de lidar com situações

difíceis, já que estes não têm necessariamente interesse em conceitos como humanidade,

empatia ou solidariedade.

Dentre os artigos analisados, foram encontrados cinco artigos que abordavam

diretamente o tema de adolescentes e o relacionavam à resiliência. Destes, dois foram pesquisas

empírico quantitativa, um pesquisa empírico qualitativa, um pesquisa empírico qualitativa e

quantitativa um, pesquisa teórica. Quatro deles tiveram adolescentes como sujeitos de pesquisa

e o quinto realizou uma pesquisa bibliográfica que abordava o tema da adolescência.

Castillo, J. A. G. D.; Dias, P. C. (2009) realizaram um estudo que buscou analisar a

relação entre auto regulação, consumo de substâncias e resiliência na adolescência. O artigo de

Busnello, F. B.; Schefer, L. S; Kristensen, C. H. (2009) relaciona eventos de vida estressores,

estresse e estratégia de coping em adolescentes, discutindo as possíveis implicações destes na

aprendizagem. Já Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M. S. (2010) realizam uma pesquisa

quantitativa com o objetivo de avaliar a resiliência nos estudantes, as variáveis

sociodemográficas e a contribuição da escola no desenvolvimento pessoal. Simões, C.; Matos,

M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G; (2010) realizam um estudo que tem como objetivo conhecer os

comportamentos e estilos de vida dos adolescentes com necessidades educativas especiais.

Além disso, desenvolvem um programa de promoção de saúde e resiliência direcionado a pais,

professores e técnicos, bem como, uma sessão experimental do programa. Por outro lado, o

artigo de Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R., (2011) buscou compreender a vivência das

adolescentes durante a gestação e o processo de nascimento de seu filho.

De uma forma geral, todos os artigos encontrados ressaltam que a adolescência é

considerada uma etapa difícil devido às diversas transformações físicas e psicológicas que

ocorrem neste momento. É durante esta etapa que surgem vários desafios, como lidar com essa

Page 79: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

79

variedade de situações novas, adaptação às novas condições biológicas, a conquista de

autonomia e a progressão acadêmica. Sendo assim os adolescentes acabam sendo um público

que normalmente apresentam uma alta vulnerabilidade.

É sugerido que na adolescência existe um aumento do estresse. Nesse período, os

eventos estressores incluem: discussões com colegas, amigos e familiares, imagem corporal,

incertezas sobre o futuro entre outros (SEIFFGE-KRENGE, 2000 apud BUSNELLO, F. B.;

SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009). Além disso, revelou-se que problemas escolares e

familiares são comuns nessa etapa da vida (KRISTENSEN, LEON, D´INCAO, DELL´AGLIO, 2004

apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).

Segundo Aysan (2001 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H.,

2009), os testes e as provas de avaliação acadêmica, bem como a ansiedade causada por estes

pode tornar-se uma importante fonte de estresse para os adolescentes, principalmente quando o

desempenho influencia oportunidades futuras relacionadas à vida profissional.

Pode-se dizer que o impacto negativo que os diferentes eventos estressores causam na

vida do adolescente é evidenciado, também, na aprendizagem. A aprendizagem ocorre tanto em

ambientes formais como a escola, quanto em ambientes informais, fora desses contextos

(ENUMO, FERRÃO, RIBEIRO,2006; OATLEY, NUNDY, 2000 apud BUSNELLO, F. B.;

SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).

Através da pesquisa realizada, Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M. S, (2010) aponta-se

que a escola pode, ou não, promover o desenvolvimento da capacidade de resiliência, isso

depende das interações que ocorrem na instituição e o que é construído nesta relação indivíduo-

sociedade. Mas, para que o adolescente possa ter sucesso na escola é de fundamental que ele

tenha uma família, uma instituição ou uma rede de apoio que a ajude a manter suas

necessidades afetivas, sociais e cognitivas.

Simões, C.; Matos, M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G, (2010) constataram que os adolescentes

com Necessidades Educativas Especiais podem ter mias dificuldades para lidar com estes

desafios que surgem na adolescência, principalmente quando o ambiente não é visto como

facilitador para isto. Dessa forma, os autores ressaltam que é necessário se fazer algum tipo de

intervenção o quanto antes com o objetivo de promover nestes adolescentes fatores de proteção

que os permita lidar positivamente com os desafios e adversidades da vida. Visando a efetividade

de tal intervenção é fundamental a realização de uma pesquisa dos fatores associados a este

processo junto aos adolescentes com Necessidades Educativas Especiais.

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80

Conforme Kotliarenco et al. (1997 apud JUNQUEIRA e DESLANDES), a resiliência é

parte do processo evolutivo, e, sendo assim, deve ser promovida desde a infância. É produto de

um conjunto de fatores sociais e intrapsíquicos que possibilitam o enfrentamento e a superação

de adversidades da vida.

Simões, C.; Matos, M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G; (2010) relatam que as pessoas

resilientes possuem algumas características que lhes permite ultrapassar adversidades,

características que podem ser consideradas como fatores de proteção individuais que colaboram

para que a resposta diante de situações adversas seja mais efetiva, por exemplo: capacidade de

tomada de decisões, capacidade de comunicação, assertividade, empatia, autocontrole,

autoestima, autoeficácia, otimismo, bom humor, flexibilidade, inteligência, boa saúde física e

mental.

Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M. S., (2010) verificaram que as principais

características encontradas em crianças e adolescentes resilientes são: bom funcionamento

intelectual, sociabilidade e expressão adequada, autoconfiança e autoestima elevada, talentos e

fé. Os autores verificaram que tais crianças apresentaram em seus contextos vantagens

socioeconômicas, conexões com redes familiares ampliadas e apoiadoras além de práticas

parentais competentes. Notou-se também que estas crianças mantêm vínculos fora do contexto

familiar, com adultos, organizações pró-sociais e também frequentam a escola.

Busnello, F. B.; Schefer, L. S; Kristensen, C. H., (2009) identificaram que a exposição a

apenas um evento estressor não é pré-condição para o desenvolvimento do estresse. A

capacidade de resiliência e estratégias de coping eficientes proporcionam ao indivíduo um

enfrentamento adequado de tais situações, proporcionando um crescimento positivo. Contudo, se

o indivíduo não dispõe de recursos para lidar com as situações adversas, estas podem impactar

sua vida de uma maneira negativa, podendo inclusive, repercutir no processo de aprendizagem e

gerar um baixo desempenho escolar.

Conforme Lindstrom (2001 apud JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003), a resiliência pode

ser vista como resultado da interação entre aspectos individuais e contextos sociais, entre

quantidade e qualidade dos acontecimentos decorrentes ao longo da vida e os chamados fatores

de proteção existentes na família e no meio social.

Cyrulnik (2004 apud SANTOS e AVES, 2006) destaca um entre três adolescentes

traumatizados muda o seu estilo de apego e se torna sereno na adolescência. De acordo com o

autor, essa superação positiva se dá a partir do momento em que os adolescentes param de

sofrer com o traumatismo e lhe atribuem um novo sentido.

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81

Sendo assim, ressalta-se claro a importância da rede social, da família e dos vínculos

estabelecidos pelos adolescentes fora do contexto familiar, que funcionam como um fator de

proteção para estes, colaborando intensamente para a promoção de resiliência. Estes inclusive

podem colaborar para que os adolescentes a atribuam um novo sentido na adversidade

vivenciada, proporcionando a superação positiva destas.

O estudo de Simões, C.; Matos, M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G; (2010) destaca também a

importância da família e do autoconceito que se mostraram ser verdadeiros fatores de resiliência,

por conseguirem manter os níveis de bem estar global elevados, apesar da presença de eventos

adversos.

Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R. (2011) ressaltaram em seu estudo, que o apoio dos pais

e o ajuste da família à situação de gestação das adolescentes foi extremamente importante na

construção da resiliência por parte das adolescentes estudadas. Por causa deste apoio, a

gestação pode ser entendida pelas adolescentes como um acontecimento positivo que acabou

propiciando o amadurecimento e autonomia das mesmas.

O estudo de Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R. (2011) mostrou que a trajetória da gestação

na adolescência levou à construção da resiliência. As adolescentes vivenciaram situações

adversas, como expulsão da casa paterna, brigas, desentendimentos familiares, mas foram

capazes de desenvolver atributos pessoais, a partir de uma figura de confiança, alguém de seu

entorno que elas acreditavam amar-lhes incondicionalmente, como sogras, mães ou

companheiros.

Desta forma as adolescentes puderam desenvolver atributos pessoais durante a

experiência da gestação e após o parto. A gestação acaba exigindo da adolescente uma

superação de conflitos, medos e insegurança, da mesma forma que propicia a preparação e o

aprendizado das adolescentes na construção do seu projeto de vida. Esta "superação" foi

entendida como um processo, permitindo que a adolescente se saia fortalecida, transformada e

vencedora de situações adversas.

Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R. (2011) destacaram a importância do suporte social para

a adolescente, visto que nenhuma das colaboradoras ficou desamparada durante todo o

desenvolvimento da gestação, parto, puerpério e na nova vida com sua família nuclear. Ressalta-

se que essa mudança vivida faz com que a adolescente tenha mais autonomia quando o

processo é vivenciado de forma resiliente, propiciando uma maior independência,

responsabilidade, segurança e uma confiança no futuro.

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82

Assis, Pesce e Avanci (2006) afirmam que a resiliência pode ser entendida como uma

capacidade de metamorfosear as adversidades da vida. Algumas pessoas conseguem superar e

construir caminhos positivos diante de situações e/ou fatos difíceis, porém, outras se submetem

aos obstáculos com mais facilidade, fazendo com que suas vidas sejam circundadas pelo trauma

provocado por tais situações. (ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006).

E foi assim, conforme verificaram Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R. (2011), que as

adolescentes puderam superar as adversidades e construir caminhos positivos através da

gestação, visto que a gestação não foi verbalizada como um acontecimento negativo que

impossibilitasse ou prejudicasse a trajetória de vida das adolescentes, elas tiveram a capacidade

de promover mudanças no seu comportamento, amadurecer, promover mudanças familiares,

desenvolvendo resilientes que propiciaram a construção da resiliência.

Por outro lado, através do resultado da pesquisa de Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M.

S, (2010) percebeu-se também a fundamental participação que a escola tem nos contextos de

valorização e desenvolvimento dos jovens, principalmente na resolução de ações e construções

de valores. Esta, junto da família, pode ajudar a promover a cidadania e a construção de sujeitos

conscientes capazes de reconhecerem seus direitos e corresponderem aos deveres da

sociedade. Visto que, se a escola conseguir apresentar as experiências como desafios e não

como ameaças, esta pode promover a resiliência construindo interações positivas e compondo

uma rede de apoio para o indivíduo.

Verificou-se também que quanto maior a percepção dos adolescentes de que a escola

contribui para o desenvolvimento pessoal maior é a capacidade de resolução de ações e valores

dos mesmos. (PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S, 2010).

Observou-se na literatura analisada por Busnello, F. B.; Schefer, L. S; Kristensen, C. H.,

(2009) uma divergência de opinião dos autores na tentativa de estabelecer uma relação entre

causa e efeito entre os problemas emocionais e o fracasso escolar. Alguns autores (GUAY,

BOIVIN, HODGES, 1999 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009)

sugerem que os problemas psicológicos induzem as dificuldades acadêmicas, enquanto que

outros (GOLDENSTEIN, PAUL, SANFILIPO, 1985; MARTINEZ, SEMRUD-CLIKEMAN, 2004

apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009) afirmam que as

dificuldades acadêmicas e o fracasso escolar acabam prejudicando o funcionamento

psicossocial, uma vez que torna o individuo vulnerável ao desajustamento escolar e a problemas

emocionais.

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83

Busnello, F. B.; Schefer, L. S; Kristensen, C. H., (2009) ressaltam a importância de outros

estudos que priorizem o entendimento dos fatores que possam estar implicados nos processos

de aprendizagem, para que se possam realizar ações direcionadas, que visem minimizar o

impacto das situações adversas que acabam comprometendo o aprendizado e o desempenho

escolar.

No estudo da relação entre autorregulação e consumo de substâncias, notou-se que os

adolescentes que consomem álcool e tabaco e os que relataram o consumo intensivo dessas

substâncias no ultimo mês apresentaram pontuações mais baixas em Estabelecimento de

Objetivos e Controle de Impulsos. Estes adolescentes, que consomem tabaco ou álcool

apresentam uma pontuação significativamente mais baixa nas escalas Controle dos Impulsos e

Estabelecimento de Objetivos. Portanto, percebe-se a importância do estudo da autorregulação

no desenvolvimento dos adolescentes (CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009).

Já a pesquisa realizada por Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M. S., (2010) mostrou que

quanto mais elevada a renda familiar menor a independência e determinação dos adolescentes.

O que pode indicar que devido a renda familiar elevada o adolescente acabe se acomodando

pois não tem a necessidade de ser independente ou determinado para conquistá-la.

Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M. S, (2010) destacam que a literatura sobre resiliência

no Brasil é incipiente, o que dificulta a comparação entre os estudos nacionais. Hoje se percebe

que a influencia de aspectos culturais e contextuais sobre a resiliência é evidente, o que destaca

ainda mais a necessidade de serem realizados mais estudos nacionais sobre este tema.

5.4 Fatores Protetores X Adversidade

O conceito de resiliência vem se complexificando e evoluindo com o passar do tempo.

Antes a resiliência era entendida como sinônimo de invulnerabilidade, mais tarde foi sendo

entendida como capacidade de adaptação individual em um ambiente desajustado. Nos últimos

anos essa noção está sendo abordada como um processo dinâmico que envolve a interação

entre fatores sociais e intrapsíquicos, de risco e de proteção, sendo um processo psicológico que

se desenvolve ao longo da vida a partir dos fatores de risco versus fatores de proteção. (ASSIS

2003, apud LUCAS e GASPARINI 2006)

Assim, a resiliência está atrelada a dois fatores, o da adversidade e ao fator de proteção.

O primeiro refere-se aos eventos adversos,

às ameaças, aos perigos e aos eventos estressantes, já o segundo, refere-se às forcas,

competências e à capacidade de reação diante da vulnerabilidade. Esses dois eventos juntos

resultam em uma reconstrução singular do sofrimento causado pela adversidade.

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84

Ao estudar os artigos encontrados percebeu-se a presença de diversos eventos adversos

vivenciados pelos sujeitos das pesquisas e como os fatores protetores acabam contribuindo e

propiciando a construção da resiliência.

O artigo de Costa, M.G.R.; Noronha, S; Cardoso, P.S.; Moraes,P.N.T; Centa,

M.L.(2009) realizou um estudo descritivo a respeito de alguns conceitos da resiliência, buscando

um entendimento, considerando os pressupostos de promoção de saúde, no contexto do

Programa de Saúde da Família (PFS). Conforme os autores várias situações, muitas vezes

relacionadas a problemas sociais, como: condições de pobreza, rupturas na família, vivência de

algum tipo de violência, experiências de doença crônica ou aguda do próprio indivíduo ou da

família e outras perdas importantes podem ser consideradas como fatores de risco e podem

afetar a capacidade de resiliência em indivíduos e famílias.

Costa, M.G.R.; Noronha, S; Cardoso, P.S.; Moraes,P.N.T; Centa, M.L.(2009) sugerem

que a visão do individuo sobre certa situação, sua percepção e interpretação define o evento

estressor como sendo, ou não, uma condição de estresse. Observou-se que certos atributos da

pessoa têm uma associação positiva com a possibilidade de enfrentar os fatores de risco no

cotidiano, de aproveitar os fatores protetores, de ser resiliente, sendo crítico e sujeito ativo na

sociedade.

Essa percepção vem de encontro com SANTOS e ALVES (2006) que afirmam que os

fatores de resiliência dependem do tipo de agressão, do significado que a criança lhe atribui e da

maneira pela qual sua bolha afetiva é envolvida. Se o meio permitir, diante de um evento

estressante, a parte sadia da personalidade da criança pode expressar-se e retomar o

desenvolvimento, reduzindo o ferimento causado.

Costa, M.G.R.; Noronha, S; Cardoso, P.S.; Moraes,P.N.T; Centa, M.L.(2009) indicam que

os fatores protetores possuem quatro funções principais: reduzir o impacto dos riscos, fato que

altera a exposição da pessoa à situação adversa; reduzir as reações negativas em cadeia que

seguem a exposição do indivíduo à situação de risco; estabelecer e manter a auto-estima e auto-

eficácia, através de estabelecimento de relações de apego segurança e o cumprimento de

tarefas com sucesso; e, criar oportunidades para reverter os efeitos do estresse.

De acordo com Brooks, 1994; Emery e Forehand (1996, apud PESCE, ASSIS, SANTOS

e OLIVEIRA, 2004) é possível dividir os fatores de proteção em três categorias: fatores

individuais, fatores familiares e fatores relacionados ao apoio do meio ambiente. Os fatores

protetores individuais seriam a auto-estima positiva, o auto-controle, a autonomia e

características de temperamento flexível e afetuoso. Como fatores familiares, pode-se citar a

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85

estabilidade, coesão, respeito mútuo e apoio. Já os fatores relacionados ao apoio do meio

ambiente estão associados ao bom relacionamento com amigos, professores, pessoas

significativas para a criança, que tenham um papel de referência segura para a criança, fazendo

com que esta se sinta querida e amada. (PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).

5.4.1 O apoio social como fator de proteção

Conforme Rutter (1987 apud PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004) a resiliência é

um processo resultante da combinação entre o individuo, seu ambiente familiar, social e cultural.

Nos artigos estudados, percebeu-se também que o apoio social contribui para o bem-

estar do indivíduo e minimiza o efeito provocado pelas situações adversas.

Conforme Cyrulnik (2004) todo estudo sobre a resiliência deveria abordar três planos: a

aquisição de recursos internos impregnados no temperamento; o significado que um golpe

adquire na história do ferido e em seu contexto familiar e social; e a possibilidade de encontrar

lugares de afeto, de atividades e de palavras que a sociedade dispõe, às vezes, em torno do

ferido, oferecendo-lhe tutores de resiliência que lhe permitirão retomar um desenvolvimento

marcado pelo ferimento.

No estudo realizado por Libório, R. M. C.; Ungar, M.(2010) entende-se a resiliência como

sendo “associada à capacidade do individuo navegar seu caminho em direção a recursos de

bem-estar” alinhada à capacidade de suas comunidades oferecerem estes recursos de forma

culturalmente significativas (UNGAR, BROWN, LIEBENBERG, CHEUNG, LEVINE, 2008 apud

LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M, 2010). Assim, a resiliência é vista como um processo definido

pelas comunidades como funcionamento saudável e socialmente aceito, como também a

capacidade de suas comunidades preverem recursos significativos.

Libório, R. M. C.; Ungar, M.(2010) ressaltam que a resiliência está longe de se referir

apenas aos traços individuais, esta está diretamente relacionada ao lugar social e político

ocupado pelo individuo, sua família e comunidade. Observa-se que esta maneira menos

individualizante de conceber a resiliência minimiza a tendência de atribuir o sujeito de forma

singular e de culpabilizá-Io por seu insucesso.

Ungar ampliou o conceito de resiliência, criando o termo hidden resilience, resiliência

oculta, que relaciona comportamentos específicos associados ao perigo, fora dos padrões,

delinquência e desordem que funcionam como caminhos não padronizados de acesso à saúde

que podem estar presentes nas vidas de jovens e adolescentes de alto risco. A resiliência oculta

se manifesta quando se utiliza formas não convencionais para o fortalecimento da identidade e

Page 86: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

86

para promoção da resiliência. Os comportamentos não convencionais como uso de drogas,

associação a gangs, trabalho infantil, entre outros, não são apenas sinais de vulnerabilidade

como podem ser manifestações culturalmente e contextualmente significativas e resiliência. Uma

forma oculta, que muitas vezes é negligenciada por profissionais que não fazem parte do

contexto e da comunidade desses jovens. (LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M.,2010)

Por outro lado, Menezes, M.; López, M.; Delvan, J. S.(2010) sugerem em seu artigo, que

o psicólogo clínico infantil, através da psicoterapia, pode reafirmar para a criança e importância

da sua autoestima, o respeito por seu próprio corpo, reforçar o diálogo e a tolerância da família,

possibilitando o desenvolvimento de aspectos positivos de adaptação e a prevenção de

psicopatologias. Desta forma, pode-se inferir que a psicoterapia também é entendida como uma

forma de apoio social e consequentemente, configura-se como um fator de proteção para o

paciente.

Já as autoras Costa, M.G.R.; Noronha, S; Cardoso, P.S.; Moraes,P.N.T; Centa,

M.L.(2009) visualizaram a possibilidade de trabalhar com a resiliência utilizando-a como nova

perspectiva na promoção de saúde. A abordagem focada na resiliência, utilizada pelo PSF

parece propiciar ao usuário uma adequada rede de apoio social. A “rede de apoio social” é

compreendida pelos recursos estruturais e humanos disponíveis em uma localidade. No caso do

PSF corresponde a sua área de abrangência. (COSTA, M.G.R.; NORONHA, S; CARDOSO, P.S.;

MORAES,P.N.T; CENTA, M.L., 2009)

Sendo assim, entende-se que estratégias de promoção da saúde podem modificar estilos

de vida e as condições sociais, econômicas e ambientais que determinam a saúde. A resiliência

foi instaurada no campo da promoção da saúde, discutindo-se hoje a ampliação do conceito para

além dos indivíduos, por intermédio de expressões como escolas resilientes ou comunidades

resilientes. Além disso, aponta-se que a equipe multi profissional de saúde da família pode tornar-

se um fator de proteção junto à família, identificando possíveis fatores de risco ao passo que se

mostra como rede de apoio e proteção. (COSTA, M.G.R.; NORONHA, S; CARDOSO, P.S.;

MORAES,P.N.T; CENTA, M.L., 2009).

Porém, os autores Libório, R. M. C.; Ungar, M.(2010) ressaltam que ao elaborarem-se

políticas publicas ou projetos de intervenção na fase da infância e adolescência em situação de

risco, deve-se atentar-se à estruturação dos serviços, sistemas de atendimento, para que estes

possam atender às necessidades e desejos que as crianças e adolescentes obtêm nas

condições consideradas adversas pelos profissionais, pois não é bem sucedida uma intervenção

que desconsidere o lugar ocupado pela situação de risco, como por exemplo, situação de rua,

trabalho infantil, e gangs na vida do sujeito.

Page 87: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

87

Sendo assim, aponta-se que as intervenções devem valorizar a aderência cultural,

enfrentar os preconceitos e demais injustiças sociais, oferecer oportunidade de se estabelecer

relacionamentos significativos e construir identidades fortalecidas (LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR,

M., 2010).

5.4.2 A família como fator de proteção

As relações familiares funcionam como promoção da vida e bem-estar social,

favorecendo o desenvolvimento das potencialidades de cada um e do grupo com relação a

individualidade e manutenção do ambiente físico e simbólico favorável às trocas e ao crescimento

grupal e pessoal.

Conforme Santos e Alves (2006), o fato de algumas crianças traumatizadas conseguirem

resistir e superar adversidades pode ser explicado através da associação de alguns fatores:

recursos internos afetivos e comportamentais nos primeiros anos de vida; e a disposição de

recursos externos sociais e culturais.

As aquisições que a criança fará em um meio depende muito mais do ambiente em que

ela está inserida do que dela própria. Portanto, se mudarmos a criança de ambiente ela muda

suas aquisições (SANTOS e ALVES, 2006). Sendo assim, pode-se entender que a família

constitui o ambiente do indivíduo, uma vez que ela é a rede social mais próxima deste,

principalmente quando se trata de uma criança ou adolescente.

Por isso, pensou-se ser relevante levantar os artigos encontrados que discutiam a

especialmente a relação da família com o sujeito que está exposto às adversidades. Foram

encontrados três artigos que deram ênfase à família e ao seu suporte no enfrentamento de

adversidades: Silva, M. R. S.; Lacharité, C.; Silva, P. A.; Lunardi, V. L.; Filho, W. D. L.; (2009)

realizaram um estudo com uma família que vive em condições de adversidade, buscando

identificar fatores que proporcionam à família superar tais adversidades de maneira positiva;

Simões, C.; Matos, M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G;(2010) realizaram um estudo que teve como

objetivo conhecer os comportamentos e estilos de vida dos adolescentes com necessidades

educativas especiais; e Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R, (2011) que buscaram compreender a

vivência das adolescentes durante a gestação e o processo de nascimento de seu filho.

Os três artigos apontam a importância do suporte e do apoio da família como fator de

proteção que colabora para a promoção na resiliência.

O primeiro artigo (SILVA, M. R. S.; LACHARITÉ, C.; SILVA, P. A.; LUNARDI, V. L.;

FILHO, W. D. L.,2009) realiza um estudo com uma família que vive em condições de

Page 88: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

88

adversidade. A família é constituída por um pai, e cinco filhos, dois meninos menores moram com

ele. O pai é alcoolista e a mãe dos menores é portadora de um transtorno mental grave e hoje

vive com sua família de origem em outra cidade. A família se encontra em situação econômica

de extrema pobreza, o pai não tem emprego fixo, sobrevivendo da renda da coleta de materiais

recicláveis. Os meninos sofreram abuso sexual e passaram um ano institucionalizados, em uma

casa-abrigo. Neste estudo observou que o pai consegue dar conta das necessidades emocionais

e físicas dos filhos.

Cyrulnik (2004 apud ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006) afirma que o meio em que a criança

está inserida é a bolha afetiva que a envolve no dia-a-dia,isso pode fazer com que a criança teça

a resiliência.

A postura do pai, sujeito da pesquisa de Silva, M. R. S.; Lacharité, C.; Silva, P. A.;

Lunardi, V. L.; Filho, W. D. L.; (2009) pode ser entendida como um fator de proteção para esta

família uma vez que eles compartilham emoções e opiniões, demonstrando a preocupação que

um membro da família tem com o outro. Esses comportamentos ajudam a resolver e reduzir a

tensão vivenciada pela família e estimula a confiança de seus membros na capacidade de

enfrentar os problemas.

Pode-se considerar que o relacionamento dos membros dessa família atua como um

fator de proteção, ao passo que permite relações positivas entre o pai e os filhos, incluindo a

expressão de opiniões, sentimentos e preocupações.

Neste estudo (SILVA, M. R. S.; LACHARITÉ, C.; SILVA, P. A.; LUNARDI, V. L.; FILHO,

W. D. L.; 2009), percebeu-se a importância significativa do tempo compartilhado em família, que

favorece o sentimento de importância que uma pessoa tem para a outra, os valores que vão

sendo passados de geração em geração e o lugar que cada um dos membros ocupa na família.

Silva, M. R. S.; Lacharité, C.; Silva, P. A.; Lunardi, V. l.; Filho, W. D. l. (2009) puderam

perceber que esse tempo compartilhado é um recurso por meio do qual a família elabora os

problemas cotidianos e cria um sentido para a situação em que vive e desenvolve estratégias

para enfrentar o dia-a-dia.

O estudo realizado por Simões, C.; Matos, M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G;(2010) destaca a

importância da família, que se mostra um verdadeiro fator de resiliência, que consegue elevar os

níveis de bem-estar das pessoas, apesar das adversidades.

Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R (2011), mostram em seu estudo que a trajetória da

gestação na adolescência levou à construção da resiliência. As adolescentes vivenciaram

Page 89: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

89

situações adversas e desentendimentos familiares, mas conseguiram desenvolver qualidades

pessoais, por meio de uma figura de confiança, de alguém de seu entorno que elas acreditavam

amar-lhes incondicionalmente, como sogras, mães ou companheiros.

Dessa forma, na pesquisa realizada por Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R (2011) o apoio

social recebido proporcionou o desenvolvimento das habilidades resilientes. Mostrou-se também

que o suporte social é extremamente importante para a adolescente, visto que nenhuma das

colaboradoras ficou desamparada durante todo o processo da gestação.

Assim, conclui-se que o apoio dos pais e da família é extremamente importante na

construção da resiliência, o que foi constatado nos artigos estudados.

Pode-se considerar também que a realização de atividades mutuamente gratificantes,

compartilhadas pelos membros da família é um fator de proteção, pois estabelece rotinas que

dão continuidade à vida da família e qualificam o tempo que seus membros compartilham.

(SILVA, M. R. S.; LACHARITÉ, C.; SILVA, P. A.; LUNARDI, V. L.; FILHO, W. D. L.; 2009)

Sendo assim, fica evidente a importância de promover a capacidade da família de

oferecer apoio ao sujeito e ajudar a minimizar os eventos adversos, porque o desenvolvimento da

criança e/ou do adolescente está atrelado a qualidade das relações e das interações que eles

estabelecem.

No estudo de Silva, M. R. S.; Lacharité, C.; Silva, P. A.; Lunardi, V. L.; Filho, W. D. L.;

(2009) verificou-se que a capacidade do pai de preservar seu vinculo com os filhos, conseguindo

reduzir os impactos negativos do ambiente adverso.

Assim de acordo com Santos e Alves (2006) os fatores de resiliência dependem

do tipo de agressão, do significado que a criança lhe atribui e da maneira como sua bolha afetiva

lhe envolve. Se o meio permitir, diante de um evento estressante, a parte sadia da personalidade

da criança pode expressar-se e retomar o desenvolvimento, reduzindo o ferimento causado. A

família tem um papel importante nisso.

5.5 Resiliência e profissionais

A resiliência pode ser definida como uma habilidade para suportar a adversidade,

constituindo uma vida significativa. É a habilidade de enfrentar efetivamente circunstancias da

vida extremamente estressantes, superá-las e ser transformado por estas. (KOTLIARENCO et

al.,1997 apud JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003)

Page 90: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

90

A enfermagem é uma categoria profissional que tem maior contato com doentes. É parte

integrante e fundamental nas equipes de saúde e constitui-se o maior grupo de trabalhadores na

área. O ambiente de trabalho dos profissionais dessa área é constituído por vários elementos

estressores, o que pode acabar comprometendo a saúde e a qualidade de vida dos

trabalhadores.

Foram encontrados dois artigos que buscam estudar a resiliência em trabalhadores da

área de enfermagem. No primeiro, de Soria, D.A.C; Bittencourt, A.R.; Menezes, M.F.B; Sousa,

C.A.C.S; Souza, S.R., 2009, foi realizado um estudo bibliográfico que buscou mapear a produção

cientifica nacional e internacional sobre Resiliência na Enfermagem em Oncologia e discutir a

aplicabilidade na assistência aos doentes. Já no segundo artigo, de BelancierI, M. F.; BELUCI, M.

L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.; A, 2010, foi realizada um pesquisa quantitativa com

enfermeiros e auxiliares de enfermagem da rede pública de saúde , cujo objetivo era investigar o

nível de resiliência dos trabalhadores de enfermagem buscando conhecer suas fraquezas e

fortalezas diante das adversidades as quais estão submetidos.

Verificou-se que a resiliência aparece inserida nos estudos psicossociais,

comportamentais, de comunicação e na abordagem da família de pessoas com câncer. No

estudo de Soria, D.A.C; Bittencourt, A.R.; Menezes, M.F.B; Sousa, C.A.C.S; Souza, S.R., 2009,

foram encontradas concepções de resiliência muito distintas. Foi encontrada a concepção de que

a resiliência é uma força interna do paciente em radioterapia que não se revela apesar das

necessidades advindas do tratamento. Verificou-se também que a resiliência foi entendida como

um dispositivo para o tratamento de câncer. A resiliência também foi percebida como um fator da

sustentabilidade e das relações maritais após terapia hormonal pós prostatectomia”. Além dessas

concepções a resiliência também foi correlacionada com a escala de esperança, sendo entendida

como autoestima, autoconfiança e auto transcendência.

Reflexões sobre resiliência criam possibilidades de ampliação nos modos de entender e

realizar o exercício assistencial e gerencial de enfermagem. Foi identificada a necessidade de

familiarização das enfermeiras sobre a importância da resiliência no enfrentamento de doenças

como o câncer, favorecendo a adesão do paciente ao tratamento e ao plano de cuidados de

enfermagem (SORIA, D.A.C; BITTENCOURT, A.R.; MENEZES, M.F.B; SOUSA, C.A.C.S;

SOUZA, S.R., 2009).

Conforme estudo de BelancierI, M. F.; Beluci, M. L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.; A,

(2010) notou-se que existe uma divisão na opinião dos autores referente ao conceito de

resiliência, como já havia afirmado Pinheiro (2004), apontando que alguns autores defendem que

Page 91: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

91

a versatilidade e flexibilidade são características das pessoas resilientes, enquanto outros a

apontam como sendo traço de personalidade e temperamento do individuo.

Conforme de BelancierI, M. F.; Beluci, M. L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.; A, 2010 a

grande maioria dos trabalhadores da área de enfermagem da rede pública de saúde são

mulheres, 90,4%. A maioria dos trabalhadores trabalha 40 horas semanais (76%) e alguns

(13,5%) trabalham mais de 70 horas semanais, o que ultrapassa muito das condições ideais de

trabalho. Além disso, grande parte dos profissionais possuem um outro emprego, ou seja, a

maioria desses trabalhadores ultrapassa a jornada de trabalho recomendada e regulamentada

por lei. Esse fato pode propiciar fadiga e acabar comprometendo a qualidade do trabalho desses

profissionais além de comprometer a saúde e qualidade de vida do trabalhador e,

consequentemente, comprometer a sua capacidade de resiliência.

O artigo de BelancierI, M. F.; B, M. L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.; A, 2010, também

cita o risco da ocorrência de fadiga entre enfermeiras atuantes na oncologia, citando a resiliência

como um fator de proteção. A jornada de trabalho e a fadiga são assuntos bastante recorrentes

nos estudos sobre profissionais de enfermagem, o que é bastante preocupante. Conforme

Kotliarenco et al., (1997 apud JUNQUEIRA e DESLANDES) a capacidade de resiliência refere-se

a uma combinação de fatores que permitem o enfrentamento e a superação de adversidades da

vida, é produto de um conjunto de fatores sociais e intrapsíquicos que possibilitam que um

indivíduo tenha uma vida sã, mesmo em um meio insano.

Ao estudar a resiliência nos profissionais da área de enfermagem (BELANCIERI, M. F.;

BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A.; A, 2010) observou-se que no fator

regulação das emoções, a maioria dos participantes encontra-se abaixo da média (56,8%), porém

no fator controle dos impulsos a maioria dos participantes está acima da média (83%). Reivich e

Shatté (2001 apud BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A.,

2010) indicam que pessoas que não tem habilidade para regular suas emoções têm mais

dificuldades para construir e manter relacionamentos. Sendo assim, para ser resiliente o sujeito

precisa expressar suas emoções de forma adequada, sejam elas positivas ou negativas. Logo os

enfermeiros, devem desenvolver mais a habilidade de regular emoções e de construir

relacionamentos, o que lhes proporcionará um aumento da capacidade de resiliência.

Visto que os trabalhadores da área de enfermagem estão submetidos a condições

bastante estressantes em seus ambientes de trabalho, e estas, aliadas à dificuldade na

regulação das emoções e do excessivo controle dos impulsos podem propiciar uma redução na

capacidade de resiliência. Esse excessivo controle de impulsos e a dificuldade na regulação das

emoções acarretam grande gasto de energia por parte do trabalhador, uma vez que ele não pode

Page 92: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

92

exteriorizar suas emoções, especialmente no ambiente de trabalho, justificando o alto índice de

estresse entre os enfermeiros. (Belancieri, M. F.; Beluci, M. L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.,

2010)

O conceito de resiliência antes era entendido apenas como sinônimo de

invulnerabilidade, hoje este é entendido como a capacidade de adaptação individual em um

ambiente desajustado. (ASSIS 2003, apud LUCAS e GASPARINI 2006). Sendo assim, os

trabalhadores de enfermagem que vivem em difíceis condições de trabalho e convivem

diariamente com situações desajustadas relacionadas à finitude, doenças e morte tem uma

grande necessidade de desenvolver a capacidade de resiliência para lidar com essas situações

presentes em seu cotidiano.

Em ambos os artigos ficou evidente a necessidade de proporcionar condições que

propiciem aos trabalhadores da área de enfermagem o desenvolvimento da resiliência.

Ressalta-se a importância da construção de resiliência nos profissionais atuantes na área

de enfermagem, visando a superação diante da exposição aos fatores de risco existentes no

contato presente com a terminalidade, finitude, dor e desesperança apresentados no paciente

com câncer (BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A., 2010)

Entretanto, o desafio imposto pela resiliência para a enfermagem é expandir o

entendimento e a utilização do conceito, visando à promoção de bem-estar e qualidade de vida

dos pacientes e profissionais (Belancieri, M. F.; Beluci, M. L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.,

2010) .Além disso, percebe-se como urgente a aprovação do Projeto de Lei 2.295/2000, a fim de

aprovar e regulamentar a jornada de 30 horas semanais de trabalho na área da enfermagem

(BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A., 2010). Essas medidas

podem proporcionar uma melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores da área de

enfermagem e ainda promover uma melhoria na assistência à saúde dos usuários da Rede

Municipal de Saúde.

Ressalta-se também que apesar de existirem pesquisas e estudos sobre resiliência na

enfermagem o conteúdo de produção cientifica sobre resiliência ainda é considerado bastante

escasso (Soria, D.A.C; Bittencourt, A.R.; Menezes, M.F.B; Sousa, C.A.C.S; Souza, S.R., 2010).

5.6 Psicoterapia e Resiliência

Conforme Assis, Pesce e Avanci (2006) se pode falar em trauma, quando uma violação

envolvendo o sujeito acontece, que faz com que este se fragilize e apresente dificuldades na

Page 93: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

93

representação do evento traumático. A natureza do episódio traumático pode corresponder ao

biológico, afetivo e histórico e a resiliência é possível em cada um desses níveis.

Cyrulnik (2004) destaca a importância das mudanças provocadas pelos traumas que

deixam um traço cerebral e afetivo que não pode ser revertido, pois permanecem quando a

criança retoma seu ciclo de desenvolvimento. Porém, pode ser reelaborado e ressignificado,

reduzindo o impacto causado por estes traumas, estresses e infortúnios ( apud ASSIS, PESCE,

AVANCI, 2006).

Foram encontrados dois artigos que analisam o trabalho psicoterapêutico e seus

benefícios para com indivíduos que passaram por situações traumáticas: Menezes, M.; López,

M.; Delvan, J. S. (2010) realizaram um longo um estudo de caso com uma criança portadora de

alopecia areata universal, vitiligo e transtorno de ansiedade generalizada. Esta paciente foi

atendida durante cinco anos em uma clínica-escola de psicologia; Norte, C. E.; Souza, G. G. L.;

Pedrozo, A. L.; Souza, A. C. F. M.; Figueira, I.; Volchan, E.; Ventura, P. R. (2011) realizam um

estudo de caso com um homem de 45 anos que sofreu dois assaltos com arma de fogo. Este

tentou um tratamento farmacológico com proxetina, porém, não respondeu adequadamente ao

tratamento. Assim, o paciente foi encaminhado para um tratamento de psicoterapia cognitivo-

comportamental.

Ambos os artigos analisam os efeitos da psicoterapia cognitivo-comportamental no

tratamento e o desenvolvimento da resiliência nos pacientes que sofreram traumas, buscando

reduzir o impacto causado por estes.

No estudo de Menezes, M.; López, M.; Delvan, J. S. (2010) a psicoterapia teve como

objetivo diminuir os sintomas e promover o desenvolvimento de habilidades para o enfrentamento

da doença crônica. Já no estudo realizado por Norte, C. E.; Souza, G. G. L.; Pedrozo, A. L.;

Souza, A. C. F. M.; Figueira, I.; Volchan, E.; Ventura, P. R. (2011) o objetivo foi levantar

evidências com relação aos fatores relacionados à resiliência nos parâmetros psicométricos e

biológicos como medida de eficácia em ensaios clínicos.

Os dois estudos destacaram a efetividade da relação terapêutica, da confiança

proporcionada por esta e do processo psicoterapêutico cognitivo-comportamental no tratamento

com pessoas que passaram por situações estressantes e traumáticas. Ambos os pacientes

mostraram-se ter se beneficiado significativamente do processo psicoterapêutico.

Notou-se, no primeiro estudo, que características resilientes puderam ser estimuladas e

desenvolvidas promovendo a adaptação da paciente de forma positiva diante de sua doença

crônica. O reconhecimento de suas limitações, a adesão ao tratamento e o suporte social e

Page 94: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

94

familiar foram fundamentais para dar suporte ao tratamento psicoterapêutico. Durante este

processo a paciente pode desenvolver comportamentos resilientes, que ela potencialmente já

possuía e que foram incrementados com a psicoterapia. (MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN,

J. S.,2010)

No segundo estudo, a terapia cognitivo-comportamental promoveu uma redução nos

parâmetros psicométricos desfavoráveis como os sintomas de transtorno de estresse pós-

traumático, depressão e ansiedade e dos escores de afeto negativo, ao passo que se notou uma

redução nos níveis fisiológicos basais da frequência cardíaca, frequência respiratória,

condutância da pele e cortisol salivar.

Santos e Alves (2006) afirmam que algumas crianças traumatizadas conseguem resistir e

superar adversidades, o que pode ser explicado através da associação dos recursos internos

afetivos e comportamentais nos primeiros anos de vida, e a disposição de recursos externos

sociais e culturais.

Dessa forma, o artigo de Menezes, M.; López, M.; Delvan, J. S. (2010) sugere que o

psicólogo clínico infantil, reafirme para a criança e importância da sua autoestima, o respeito por

seu próprio corpo, através da psicoterapia, reforçando o diálogo e a tolerância da família,

possibilitando o desenvolvimento de aspectos positivos de adaptação e a prevenção de

psicopatologias.

Santos e Alves (2006) apontam que as crianças que foram maltratadas, abandonadas e

traumatizadas antes de aprenderem a falar, adquirem um distúrbio da emoção e as modificações

ocorridas por causa do trauma impedem o controle emocional. Tais crianças desesperam-se em

qualquer situação de separação, sobressaltam ao menor ruído, sentem medo e acabam sendo

frias, buscando sofrer menos. Contudo, para que estas crianças tornem-se resilientes é

necessário que estas aprendam a se expressar emocionalmente de outra forma.

Assim, observou-se que ambos os estudos destacam a importância da terapia cognitivo-

comportamental, que ajuda o paciente a atenuar os aspectos negativos do trauma. Ressalta-se

que o aumento dos recursos positivos pode também auxiliar a neutralizar os sintomas negativos e

a prevenir futuras recaídas.

Os estudos também abordam o tema da eficácia terapêutica que muitas vezes é focada

ma redução de sintomas psicopatológicos e acaba negligenciando, a avaliação de outros fatores

importantes como qualidade de vida e resiliência.

Page 95: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

95

VI. CONCLUSÃO

Este trabalho buscou analisar o que foi produzido sobre resiliência na base Scielo nos

últimos anos com o objetivo de analisar a produção desse período. Ao longo desse estudo foram

analisados 16 artigos que discutem o tema resiliência, a maioria foi publicada no Estado de São

Paulo. O ano de 2009 teve maior quantidade de artigos publicados (43,75%) e percebe-se que há

uma diminuição de artigos publicados desde então, no ano de 2010 foram encontrados 37,5% e

esse índice caiu para 18,75% em 2011.

Os artigos foram organizados em torno dos seguintes temas que se destacaram: fatores

de proteção versus adversidade, resiliência e adolescentes, resiliência e o idoso, resiliência e

moradores de rua, resiliência e profissionais e, resiliência e psicoterapia. Temas que apareceram

com frequência e, portanto, serviram de organizadores para a análise.

Nota-se que o conceito de resiliência vem se desenvolvendo com o passar do tempo.

Antes, entendido como sinônimo de invulnerabilidade e, depois, foi sendo entendido como

capacidade de adaptação individual em um ambiente desajustado. Nos últimos anos, vem sendo

abordado como um processo dinâmico que envolve a interação entre fatores sociais e

intrapsíquicos, de risco e de proteção, sendo um processo psicológico que se desenvolve ao

longo da vida, a partir dos fatores de proteção (ASSIS, 2003, apud LUCAS e GASPARINI, 2006).

Os fatores de proteção, conforme Brooks, 1994; Emery e Forehand (1996, apud PESCE,

ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004), podem ser divididos em três categorias: fatores individuais,

fatores familiares e fatores relacionados ao apoio do meio ambiente. A autoestima positiva, o

autocontrole, a autonomia são entendidos como fatores protetores individuais. Os fatores

familiares estão relacionados à estabilidade, coesão, respeito mútuo e apoio, enquanto que os

fatores relacionados ao apoio do meio ambiente estão associados ao bom relacionamento com

amigos, professores, pessoas significativas para o individuo, que tenham um papel de referência

segura, fazendo com que este se sinta querido e amado. (PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA,

2004).

Grande parte dos artigos estudados mostram que o apoio social contribui

fundamentalmente para o bem-estar do indivíduo e minimiza o efeito provocado pelas situações

adversas. Esse apoio social diz respeito à família e ao meio no qual o indivíduo está inserido,

como por exemplo, a escola, a comunidade e às relações sociais e afetivas de uma maneira

geral.

Nota-se que a família pode se mostrar como um verdadeiro fator de resiliência quando

consegue elevar os níveis de bem-estar das pessoas apesar das adversidades. Percebeu-se

Page 96: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

96

também a importância do tempo compartilhado em família, que favorece o sentimento de

importância que uma pessoa tem para a outra, os valores que vão sendo passados de geração

em geração e o lugar que cada um dos membros ocupa na família.

Além disso, percebe-se a importância que uma pessoa de confiança, alguém que faça

parte do entorno do sujeito, na colaboração para o desenvolvimento de qualidades pessoais e

resiliência. Sendo assim, ressalta-se a importância da rede social e dos vínculos estabelecidos

pelos adolescentes fora do contexto familiar, que funcionam como um fator de proteção para

estes, colaborando intensamente para a promoção de resiliência. Inclusive, podendo colaborar

para que os adolescentes atribuam um novo sentido na adversidade vivenciada, proporcionando

a superação positiva destas.

Foi visto também que a resiliência está longe de se referir apenas aos traços individuais,

está diretamente relacionada ao lugar social e político ocupado pelo individuo, sua família e

comunidade. Observa-se que esta maneira menos individualizante de conceber a resiliência

minimiza a tendência de atribuir ao sujeito seu insucesso (LIBÓRIO; UNGAR, 2010).

Nesse estudo ficou claro que a escola pode, ou não, promover o desenvolvimento da

capacidade de resiliência, isso depende das interações que ocorrem na instituição e o que é

construído nesta relação. A escola tem uma participação fundamental nos contextos de

valorização e desenvolvimento dos jovens, principalmente na resolução de ações e construção

de valores. Se a escola conseguir apresentar as experiências como desafios e não como

ameaças, estas podem promover a resiliência, construindo interações positivas e compondo uma

rede de apoio para o indivíduo.

Por outro lado, entende-se que a psicoterapia também pode ser entendida como uma

forma de apoio social, configurando-se um fator de proteção para o indivíduo/paciente. Menezes;

López; Delvan.(2010) sugerem em seu artigo, que o psicólogo clínico infantil, através da

psicoterapia, pode reafirmar para a criança a importância da sua autoestima, o respeito por seu

próprio corpo, reforçar o diálogo e a tolerância da família, possibilitando o desenvolvimento de

aspectos positivos de adaptação e a prevenção de psicopatologias.

Além disso, foi possível visualizar a possibilidade de trabalhar com a resiliência,

utilizando-a como nova perspectiva na promoção de saúde. Entende-se que estratégias de

promoção da saúde podem modificar estilos de vida e as condições sociais, econômicas e

ambientais que determinam a saúde. A resiliência foi instaurada no campo da promoção da

saúde, discutindo-se hoje a ampliação do conceito para além dos indivíduos, por intermédio de

Page 97: Resiliência: Revisão Bibliográfica na Base Scielo

97

expressões como escolas resilientes ou comunidades resilientes (COSTA; NORONHA;

CARDOSO; MORAES; CENTA, 2009).

Observou-se que reflexões sobre resiliência criam possibilidades de ampliação nos

modos de entender e realizar o exercício assistencial e gerencial de enfermagem. Ressalta-se a

importância da construção de resiliência nos profissionais atuantes na área de enfermagem,

visando à superação diante da exposição aos fatores de risco existentes no contato presente

com a terminalidade, finitude, dor e desesperança apresentados no paciente com câncer

(BELANCIERI; BELUCI; SILVA; GASPARELO, 2010)

Ademais, foi visto que a atuação dos trabalhadores da área de enfermagem fica

comprometida devido à extensa jornada de trabalho, a fadiga afeta a saúde e qualidade de vida

desses profissionais. Os trabalhadores da área de enfermagem estão submetidos a condições

bastante estressantes em seus ambientes de trabalho, e estas, aliadas à dificuldade na

regulação das emoções e do excessivo controle dos impulsos podem propiciar uma redução na

capacidade de resiliência. Esse excessivo controle de impulsos e a dificuldade na regulação das

emoções acarretam grande gasto de energia por parte do trabalhador, uma vez que ele não pode

exteriorizar suas emoções, especialmente no ambiente de trabalho, justificando o alto índice de

estresse entre os enfermeiros. (BELANCIERI; BELUCI; SILVA; GASPARELO, 2010). Assim, fica

evidente a necessidade de proporcionar condições melhores de qualidade de vida aos

trabalhadores da área de enfermagem.

Com relação aos estudos que relacionam resiliência e idosos, percebeu-se que a saúde e

o desempenho cognitivo estão relacionados à capacidade de resiliência, quanto mais saudável

for o idoso e quanto maior for o seu desempenho cognitivo, maior a probabilidade de ele

apresentar altos índices na escala de resiliência. Identificou-se que problemas de memória e

dificuldades no desempenho cognitivo estão diretamente relacionados à baixa capacidade de

lidar com adversidades.

Além disso, identificou-se que idosos que fazem parte de um grupo, como por exemplo,

de teatro, apresentam maior vitalidade devido ao fato de sentirem-se pertencentes a um grupo e

de possuírem uma relação com os demais participantes. Essa participação pode ser entendida

como um suporte social, e de acordo com os artigos analisados, quanto maior a percepção de

suporte social, maior o número de afetos positivos experimentados (RESENDE; FERREIRA;

NAVES; ARANTES; ROLDÃO; SOUSA, ABREU, 2010).

Com relação aos estudos relacionados aos moradores de rua e resiliência, observou-se

que estes consideravam a sua situação de morar na rua como uma situação difícil. Por isso,

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observou-se que diversos moradores de rua acabaram envolvidos com drogas e mendicância,

desenvolvendo depressão, criando padrões de conduta que lhes permitiam sobreviver no

ambiente destrutivo ao qual estão expostos.

Além disso, identificou-se que em alguns moradores de rua observados havia a presença

de certa unidade psíquica, um falso self, que acabou lhes permitindo sobreviver nas prisões e nas

ruas. Este falso self tem a função de se sobrepor e ocultar o verdadeiro self e, acaba sendo muito

bem sucedido. Porém, o sucesso desse falso self não é suficiente para permitir a extinção da

insatisfação e da procura de si mesmos. As potencialidades desses sujeitos estavam à espera de

um “outro significativo" que pudesse acompanhá-los no processo (ALVAREZ; ALVARENGA;

RINA, 2009). Foi observado que no encontro com alguém que proporcionasse uma relação

positiva de confiança, servindo como ponto de apoio para os moradores de rua, fazendo com que

estes pudessem se sentir incondicionalmente aceitos e assim, pudessem se abrir para uma

transformação. Através da confiança no ambiente foi possível que os sujeitos flexibilizassem o

seu falso-self para então resgatar e constituir o seu verdadeiro self. Através dos artigos

analisados pôde-se entender que estes sujeitos conseguiram ressignificar as condições vividas e

encontrar novos significados para suas vidas. Ressalta-se mais uma vez, a importância do

ambiente e do apoio social na construção da resiliência.

Assim, conclui-se a evidente necessidade de medidas de apoio mais amplas à população

que vive em condições de adversidade, para que se possa transformar a condição vivida e

propiciar recursos para o enfrentamento da situação adversa. Este estudo aponta também a

necessidade de ampliação de pesquisas nesta área, para estudos sobre políticas públicas que

garantam direitos à população que vive em condições adversas.

VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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