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RESOLUÇÕES DO 1º Congresso do POR Partido Operário Revolucionário ASSAS EM DEFESA DA REVOLUÇÃO E DITADURA PROLETÁRIAS

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RESOLUÇÕESDO 1º Congressodo POR

PartidoOperárioRevolucionário ASSAS

EM DEFESA DA REVOLUÇÃO E DITADURA PROLETÁRIAS

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1º Congressoda

TendênciaPelo Partido

OperárioRevolucionário

Resoluções Político-Programáticas

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Apresentação

Apresentamos aqui as Resoluções Político-Programáticas do 1ºCon-gresso da Tendência pelo Partido Operário Revolucionário, documentocentral do congresso que unificou a outrora Tendência Quarta Internacio-nalista e a Tendência pelo POR. Mais do que uma simples unificação, ocongresso estabeleceu um patamar qualitativamente superior de elabora-ção política das correntes, ao estabelecer de maneira clara a diferenciaçãoprogramática em relação aos outros agrupamentos políticos da esquerda,especialmente no que diz respeito à formulação estratégica de ditadura doproletariado, recentemente abandonada pela Organização Causa Operária(OQI), da qual provimos. Essa clarificação nos coloca de modo preciso atarefa de lutar pela construção do Partido Operário Revolucionário, o quesó pode ser feito’ a partir da estratégia da revolução e ditadura proletárias, eda tática correspondente.Nossa tendência surge diante de umquadroondehá predominância do frentismo eleitoreiro e, por isso, nossas colocações,que são opostas a ele (defendemos a frente de luta antiimperialista), ten-dem inicialmente a nadar na contracorrente da maré democratizante. Coma publicação de nossa Resolução, que contém uma avaliação e um posici-onamento revolucionário diante da crise capitalista mundial, da crise do re-gime político no Brasil, das estratégias burguesa, democrático-reformista erevolucionária para a crise, do avanço do movimento operário e da crise desua direção, e da necessidade de construiro partido revolucionário, chama-mos o ativismo combativo à discussão sobre questões fundamentais para odesenvolvimento da luta independente do movimento operário no sentidorevolucionário, o que só pode ser feito se for tomada como tarefa essenciala construção do PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO.

SãoPaulo, 1 e2 de junhode1989.

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I. A CRISE É MUNDIAL

Ocapitalismo mundial está em crise. Trata-se do impasse crescente docapitalismo imperialista. O relativo equilíbrio alcançado no pós-guerra ce-deu lugar a uma nova etapa da convulsão e conflitos intercapitalistas. Asforças produtivas se recompuseram num patamar mais elevado, refor-çou-se a concentração dos meios de produção e circulação, e o capital fi-nanceiro atingiu grande proporção. Agora, o potencial produtivo entrounovamente emplena contradição coma propriedade burguesa em sua for-ma monopolista dominante. A divisão do globo ocorrida no pós-guerraestá largamente superada Ochoque entre a necessidade de expansão do ca-pital fortemente concentrado e as fronteiras nacionais, volta a se agudizarainda mais neste momento.

A pretensão dos governos burgueses de “unificar” a Europa num sómercado e a América do Norte como Canadá, incluindo o México, revela adimensão da crise.Atentativa de formar grandes blocos econômicos poten-ciará ainda mais a guerra comercial, tanto interna quanto e eternamente aeles. Os desequilíbrios comerciais entre os grandes países como os EstadosUnidos, Alemanha, Japão, Inglaterra, etc e os confrontos comerciais decor-rentes atestam a crescente competição inter-imperialista. O maior impériomundial, os Estados Unidos, se encontra em estado de retrocesso. A estag-nação, as tendências recessivas e o agigantamento do parasitismo financeiro,presentes na economia norte-americana, sãoparte integrante de umfenôme-no de ordem mundial e de caráter estrutural. O “crak” de outubro de 87 naBolsa de Nova York, que “queimou” bilhões de dólares em questão de ho-ras, foi uma manifestação de grande porte da crise industrial e da supremaciado capital especulativo. Aquebra do mercado de ações tem por base a crisede superprodução e o artificialismo do capital financeiro. O abalo de WallStreet não foi uma ocorrência isolada e pontual. Pelo contrário, resultou dadesagregação das relações econômicas financeiras mundiais, perante as quaisos Estados Unidos mantém a hegemonia. E, dado esse peso hegemônico,ainda que debilitado, a putrefaçãonorte-americana expressa a decadência ge-ral do capitalismo e as suas convulsões atingema todos.Nestas circunstanci-as de desmoronamento do sistema, a disputa do capital monopolista, poralargar as fronteiras, se torna mais feroz.

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Toda movimentação da burguesia em torno da “Perestroika” de Gor-bachov vem neste sentido. O imperialismo exige concessões mais profun-das da burocracia estalinista, para manter a política pró-imperialista da“convivência pacífica” Ele visa ampliar os limites do capital sufocado. Oregime de propriedade dos estados socialistas, existente em uma parcelasignificativa do mundo, se choca frontalmente com o estreitamento domercado mundial. Um primeiro passo exigido ao Kremelin diz respeito àabertura para a penetração do capital e restabelecimento parcial da grandepropriedade capitalista, tanto na indústria quanto na agricultura.Essa ofen-siva temcomo estratégia incorporar, numa fase inicial, os países socialistasmais propensos à integração na esfera capitalista. A eliminação total dasconquistas da Revolução Russa, entre elas, o Estado Operário (burocrati-zado) é o retrocesso mais desejado pelo imperialismo, pois implicaria naquebra das tendências revolucionárias internacionais de combate anticapi-talista e de luta pela revolução política nos países dominados pela burocra-cia estalinista. Acrise do capitalismo vem sendo imposta e assimilada já háalgum tempo pelas economias socializadas através da política reacionáriada burocracia. Desta forma, a expansão por toda parte das forças centrífu-gas, da crise imperialista traz à tona a extraordinária incompatiblidade dodesenvolvimento das forças produtivas com a ordem burguesa e expõe anecessidade de ampliar as relações de opressão nacional.

A submissão dos países semicoloniais, por sua vez, também se tornouinsuficiente. O grau de exploração e saque pelo imperialismo deve serampliado. Regiões inteiras foram arrastadas à condição de indigentes. Oempobrecimento da América Latina cresceu violentamente no último pe-ríodo. Na década passada houve estagnação e retrocesso de suas forçasprodutivas. O sucateamento industrial e a redução de seus mercados inter-nos atingiram uma situação calamitosa. Igualmente, a queda de participa-ção da América Latina no mercado mundial foi drástica. Inúmeros itens dematéria prima tiveram seus valores super-rebaixados no mercado externo.Porexemplo, a quebra do ramodamineraçãonaBolívia se deveu, emgran-de medida, à desvalorização dos preços, controlados pelo imperialismo.Não obstante, a expropriação de riquezas líquidas para os bancos credoresalcançoumontantes históricos.Umpaís comooBrasil, que manteve consi-derável superávit comercial, voltou sua economia, nos últimos tempos,

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para o objetivo de pagar os banqueiros. Adívida externa comparece comoumgarrote que sufoca os países atrasados.Esse processo deve se agudizar.

Para a crise de superprodução, o imperialismo não tem outra saída se-não se lançar, de maneira mais poderosa ainda, à destruição de parte as for-ças produtivas mundiais e à escravização, sob outras bases, dos países maisdébeis. A atual relação de submissão dos povos oprimidos já não satisfazos apetites rapinas do grande capitalmonopolista.As forças produtivas dassemicolônias devem retroceder em maior magnitude. As tendências histó-ricas do capitalismo de destruir.maciçamente as riquezas criadas compare-ce emplena ação no atual impasse do imperialismo.Exige-se a inauguraçãode uma nova fase de recolonização As política econômico-financeiras deretração da presença do Estado na economia, queda de investimentos esta-tais, redução do déficit público através de demissões massivas de funcioná-rios, redução do orçamento destinado aos serviços essenciais (educação,saúde, etc), confisco salarial e enfraquecimento da economia popular estãovoltadas a provocar uma grande depressão. As burguesias nacionais e seusgovernos vêm cedendo passo a passo à imposição recessionista. A sua im-plementação abre as portas para a imposição recolonizadora, que compati-biliza a quebra de ramos da produção nacional com o alargamento daocupação imperialista, mediante a desvalorização dos ativos, desestatiza-ção e reconcentração do capital nas mãos das metrópoles. Essa é a tendên-cia fundamental da crise mundial.

A putrefação do capitalismo tem arrastado as massas para a pobreza.ampliando e agudizando a miséria absoluta. Milhões e milhões de trabalhadores estão sendo literalmente mutila dos como força de trabalho pelo de-semprego e pelos reduzidos salários Os planos econômicos aplicados nospaíses atrasados, como Brasil, Argentina, Peru, Bolívia, etc se caracterizamporreforçaro carátermonopolista da economia, de onde se origina a eleva-ção insuportável do custo de vida e o incremento da opressão da classeoperária pelos consórcios capitalistas. Da noite para o dia, os governospró-imperialistas expropriam parcela dos salários, bloqueando a reposiçãodas perdas inflacionárias e elevando os preços. Os choques econômicos, jácorriqueiros, são ataques profundos às condições de vida dos trabalhado-res Eles respondem à necessidade do capital putrefato de continuar a suareprodução e arrastar sua agonia, reforçando a dependência dos assalaria-

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dos à minoria burguesa e o abismo das desigualdades sociais.Essas contradições têmobrigado o proletariado e as massas a polariza-

rema luta de classes, que assume características revolucionárias.Emritmose particularidades diferentes, se desenvolvem movimentos explosivos,próprios do amadurecimento de uma situação revolucionária mundial, quedecorre da desintegração dos países capitalistas e do extraordinário cresci-mento da pobreza. A revolução nicaraguense e a guerra civil em El Salva-dor resultaram dessa situação, bem como a ocupação de Granada pelastropas yankis. Os recentes acontecimentos trágicos na Venezuela, os mor-tíferos confrontos no Peru, a violência estatal e paramilitar na Colômbia e“La Tablada” na Argentina são expressões das tendências à guerra civil. Aexpansão das greves gerais, o estado permanente de ascenso grevista, osconfrontos coma polícia, o fenômenodas ocupações de fábrica e a prolife-ração das lutas camponesas marcam toda América Latina e Central.

Assim, a revolta dos trabalhadores vem estremecendo os regimes de-mocratizantes, que substituíramas ditaduras militares donosso continente.Empouco tempo, eles se mostraramdependentes do imperialimo e deixa-ramde esconder sua vocação genocida.E quantomais se desagregam,maisdesfecham a violência estatal contra as massas.

Nas partes do mundo mais golpeadas pela crise mundial, a militariza-ção das greves e toda ordem de reação estatal se constituem nos recursosprincipais de sustentação da burguesia no poder e de controle imperialista;isto é, os mecanismos democratizantes de submissão do proletariado setornaram pouco eficazes. A disseminação armarentista, uma das maioresde todos os tempos, o fluxo de fantásticos recursos para a indústria bélica ea multiplicação dos focos de guerra se somam à gestação da guerra civilcontra as massas eminúmeros países emque a mutilação das forças produ-tivas chega à barbárie.Omassacre nas Malvinas foi umato de opressão na-cional pela força militar e se inscreve na ofensiva bélica de conjunto doimperialismo.As experi6ncias históricas comprovamque quando se alastraa miséria dos trabalhadores em todo o globo e quando o imperialismo esti-mula as ações militares, como por exemplo, no Oriente Médio, é porque asua crise estrutural atingiu um ponto de considerável ebulição. A crise quehoje se manifesta tem seus paralelos nos períodos mais negros da fase im-perialista e coloca frente a frente a barbárie capitalista e seu antídoto, a re-

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volução proletária.

II. O CARÁTER ESTRUTURAL DACRISE NO BRASIL

Acrise noBrasil é uma manifestação particularda crise geral capitalista.Não se trata de umacontecimento isolado e conjuntural. Ela se condicionaao tremendo bloqueio econômico a -escala mundial e às tendências opres-sivas do imperialismo. Acrise de superprodução é um fenômeno mundial,que afeta o organismo econômico comoumtodo, ainda que emproporçãoe intensidade diferenciada em cada país. O Brasil faz parte indissociáveldesse organismo, conformado sob a égide do capital financeiro. A sua es-truturação tardia ocorreu nas condições gerais da etapa superior do capita-lismo (imperialismo). Atualmente, a sua subordinação às economiasavançadas é infinitamente maior, bemcomo a influência do capital imperi-alista exportador é mais poderosa. A sólida interdependência existente en-tre os países semicoloniais e as potências dominantes se constitui numacaracterística fundamental da conformação mundial do capitalismo.Histo-ricamente, foi o que determinou a constituição das economias que combi-namas formas mais atrasadas comas mais avançadas de produção, como éo caso do Brasil que convive com um pólo industrial moderno, altamenteconcentrado e regionalizado, entrelaçado.comuma esfera produtiva poucodesenvolvida e disseminada. A mesma lei de desenvolvimento desigual ecombinado que sustenta a estrutura mundial capitalista se reproduz na for-mação das economias semicoloniais. Tanto o desenvolvimento quanto oatraso do Brasil estão subordinados ao funcionamento dessa lei.Oaumen-to da concentração de capitais nas mãos de poucos países imperialistas re-forçou e reforça o atraso das semi-colônias e sufocou e sufoca suas forçasprodutivas profundamente dependentes. Essa relação de interdependênciano organismo econômico das nações oprimidas com as opressoras confe-re, simultaneamente, um caráter geral e particular para as crises nacionais,como a de nosso país.

Aomesmo tempo emque a crise econômica doBrasil é umelo da cade-ia de superprodução e da extraordinária concentração monopolista mundi-ais é também o resultado do baixo desempenho econômico e da

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insuficiência de desenvolvimento capitalista. Trata-se, evidentemente, deuma potente contradição desagregadora. Há um imperativo da economiabrasileira crescer. Está colocada a necessidade de expansão industrial, utili-zação do vasto território pouco explorado, uma grande ampliação do mer-cado interno e o aproveitamento da riquíssima força de trabalhodisponível.Enfim,unificarharmonicamente o campo e a cidade para o ple-no desenvolvimento das forças produtivas do país. Esta seria a rota para sesuperar a baixíssima renda per-capita, o reduzido produto interno bruto,comparado aos países adiantados, e integrar uma multidão humana nomercado consumidor. Porém, nesta fase de domínio imperialista, isso nãoé possível. O contrário ocorre. Sob o peso da crise internacional, desde1970, a economia entrou num processo de desaceleração, passou pela es-tagnação e mergulhou na recessão. A última década a burguesia consideracomo perdida e estima que a próxima não terá destino melhor. Neste qua-dro, verificamos o agravamento da contradição entre o pólo concentradode riqueza e o da miséria. Regiões inteiras, como a do Nordeste que abriga4Omilhões de pessoas, têm sido empurradas para o atraso. Aparticipaçãodos assalariados

na renda nacional decresceu barbaramente desde 1950, formando vas-tos bolsões de miséria, ampliando a pobreza absoluta e reduzindo drastica-mente as possibilidades da economia popular.Na agricultura, ampliou-se ocultivo de produtos exportáveis emmãos de poucos latifundiários e emde-trimento do plantio de cereais de consumo interno, provocando a alta in-controlável dos preços dos alimentos. Em contrapartida, se fortaleceu areduzida oligarquia industrial e financeira, consorciada e dependente dogrande capital imperialista, e, junto a ela, se consolidou e ampliou o domí-nio do latifúndio, mais vasto e concentrado. Os monopólios estatais, colo-cados a serviço do parasitismo burguês, se estagnaram e estão emretrocesso. Os investimentos estatais foram reduzidos a nada.

Nesse momento, a crise alcança umpatamarelevadíssimo, isto é, o acú-mulo dos impasses sucessivos, desde 1970, ganha proporções desagrega-doras, que ameaçam conduzir o país a um retrocesso histórico, como jáocorre com a Argentina, Peru, etc. Há uma confluência de vários fatores,potenciados nestes últimos dez anos, que são a falência financeira do Esta-do nacional, mergulhado numa dívida interna e externa que abarca uma

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grande parte do PIB, o descontrole e desequilíbrio crescente das atividadeseconômico-financeiras, a abrangente especulação, a queda da taxa de in-vestimento, uma evasão de divisas semprecedentes e uma alta de custo devida disparada. Essa confluência tem agido poderosamente sobre as ten-dências recessivas, obrado a favor da quebra de pequenos e médios produ-tores e estimulado o parasitismo financeiro. A“irracionalidade” capitalistano Brasil chega ao extremo. Enquanto a taxa de inversão cai, a burguesiagira no mercado especulativo 10O bilhões de dólares. Enquanto o Estadodeixa de aplicar, é ele quemsustenta todo parasitismo comaltas taxas de ju-ros. Desta forma, se artificializa a economia como um todo, as ações nãotêm valor real assegurado, o dólar dispara e a moeda se desvaloriza brutal-mente.Neste quadro, a quebra financeira do Estado reflete o caráter estru-tural da crise.Como se pode constatar, a contradição existente entre o pólofortemente concentrado e hegemônico e o restante do país atrasado, po-tencialmente produtivo, nada mais expressa senão a contradição existenteentre as forças produtivas prontas para crescer e as relações de propriedadecapitalista sob o domínio monopolista, que as contêm. Opaís tem um po-tencial objetivo, mas está bloqueado por compor um organismo mundialem declínio e se constituir no elo mais débil da inter-relação.

A necessidade do imperialismo de desafogar as forças produtivas le-va-o a descarregar a crise sobre as semi-colônias, fazendo estourar suascontradições, isto é, as banes contraditórias de seu desenvolvimento de-pendente. Já há duas décadas, as potenciais vêmapertandoo cerco utilizan-do-se da rapina financeira praticada pelas altas taxas de juros internacionaise ditando medidas econômicas de retrocesso e incremento da extração damais valia. A drenagem de uma parcela significativa de capital financeiropara as metrópoles serviu para adiar uma crise de maiores proporções nashostes imperialistas e para desencadear a falência geral dos Estados semi-coloniais. Entretanto, esse processo deve ser ampliado para uma nova fasede recolonização. O imperialismo exige a reconcentração da economia e atransferência dos monopólios estatais e empresas privadas para seu con-trole direto.Adestruição de forças produtivas nas semi-colônias, provoca-da pela quebra industrial, é uma condição para a política imperialistaconseguir domar temporariamente a revolta geral das forças produtivasmundiais contidas. Embora a burguesia nacional possa manobrar para

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retardar e amenizar esse processo, não há como conter seu avanço. As ca-racterísticas da crise presente são típicas do impasse histórico do regime ca-pitalista de produção. No seu âmbito, a única saída possível é a que ocapital imperialista apresenta: destruir parte das forças produtivas, elevar aconcentração monopolista e alastrar a miséria das massas. Isto é, não seapresenta como viável qualquer saída reformista à crise estrutural.

III. A ESTRATÉGIAREVOLUCIONÁRIA PARA A CRISE

Odesenvolvimento da luta de classes na maioria dos países e a tendên-cia crescente à polarização revolucionária do proletariado indicam o apo-drecimento das bases do regime capitalista e o avançado estado deamadurecimento das condições objetivas para a revolução proletária mun-dial. A necessidade da revolução socialista internacional emerge com todaforça nesta situação de afundamento contínuo do capitalismo imperialistae de aumento das atividades das massas. Aestratégia do internacionalismorevolucionário tem raízes nessas contradições. É a única que pode organi-zar o movimento das massas para derrubar a burguesia do poder, e tam-bém realizar as transformações políticas nos países socialistas, opostas àburocracia e ao restabelecimento do capitalismo.

Aestratégia para a solução da crise estrutural no Brasil não é senão a dointernacionalismo, isto é, da revolução e ditadura proletárias. Não existeoutra possibilidade para derrotar a linha de recolonização do imperialismoe de barbarização do país.Oimperialismo só poderá ser liquidado se o pro-letariado se estruturar em torno do objetivo de rompimento com a opres-são nacional e de expropriação da grande propriedade capitalista,transformando-a em socialista.

Os reformistas, com seu antiimperialismo nacionalista, concebema vi-abilidade do desenvolvimento independente do.Brasil e a superação da cri-se sem que se ponha abaixo a classe burguesa e sem que se toque nomonopólio industrial. Tal perspectiva omite o essencial na relação do paísoprimido comoopressor, isto é, que sua economia está completamente in-tegrada à mundial.Oimperialismo está presente noBrasil não só pela forçapolítica, mas principalmente pelo domínio dos ramos fundamentais da

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produção. Ele tem um peso determinante em nossa economia atrasada.Diante de tal realidade, não temo menor sentido pensar a superação da

crise brasileira simplesmente através de medidas econômicas e planos degoverno alheios às relações monopolistas mundiais que se sobrepõem àsfronteiras nacionais e impedemqualquer reforma progressiva de peso.Pre-tender libertar: as forças produtivas no quadro do capitalismo, a despeitoda situação de crise de superproduçãomundial, é completamente utópico ereacionário, porque desarma o proletariado com a cantiga do antiimperia-lismo e coloca a burguesia nacional ou a pequena burguesia como fator desolução do impasse. Os adversários ou renegados da revolução e ditaduraproletárias fecham os olhos para o caráter estrutural da crise (ou a tornaminconseqüente) e consideram a sua gravidade a partir de políticas e situa-ções conjunturais, que certamente são reais, mas não determinantes.

A marca particular do estrangulamento econômico no

Brasil é que este não só recebe a descarga do apodrecimen-

to das metrópoles, como carrega as catástrofes oriundas do

seu escasso desenvolvimento capitalista. A estrutura lati-

fundiária, de um lado, e, de outro, a existência de milhões

de camponeses ligados à pequena propriedade se constitu-

em num obstáculo para se retirar o país do atraso e realizar

um avanço qualitativo da produção.

Sem dúvida, a libertação das forças_ produtivas é a ta-

refa fundamental colocada pela situação. Não se trata de

retomar o crescimento, elevando alguns pontos nos índi-

ces, e sim dar um grande salto na capacidade produtiva.

Esse objetivo responde à necessidade de superar o caráter

semicolonial do país e seu grande atraso econômico. So-

mente assim as massas poderão ser arrancadas da profun-

da pobreza e indigência. Isso depende de se colocar na

ordem do dia a resolução das tarefas democráticas pen-

dentes, que são a independência do país em relação à

opressão imperialista, revolução agrária e ingresso das

massas à civilização.

Mas essas transformações só ocorrerão se o proletaria-

do e as massas romperem o quadro de domínio dos mono-

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pólios e do capital financeiro. A ruptura com o

imperialismo, o confisco dos latifúndios e a criação das

condições materiais para a produção dos pequenos agri-

cultores não se darão senão revolucionando a base de toda

contradição, isto é, a propriedade capitalista. A existência

de um pólo industrial concentrado e de um sistema finan-

ceiro estruturado possibilita impulsionar as transforma-

ções democráticas combinando-as com as socialistas. Os

meios de produção monopolizados e o capital financeiro,

uma vez estando sob o controle do proletariado, reunirão

as melhores condições para desentranhar as forças produ-

tivas. Por essas razões, a revolução proletária se impõe ple-

namente.

O seu conteúdo histórico econômico, no Brasil semico-

lonial, obriga a fundir a revolução democrática nacional,

com a revolução socialista, compondo uma mesma unida-

de. A revolução proletária traz no seu bojo tanto a reforma

agrária, quanto a coletivização socialista. Ela permitirá a:

subsistência dos pequenos agricultores arruinados e o

acesso às terras a milhares de camponeses e, ao mesmo

tempo, colocará a grande propriedade industrial e financei-

ra sob o controle operário. O fundamental nesta combina-

ção está em que os objetivos democráticos se condicionam

à revolução socialista. Esta abrirá as portas para reformas

estruturais democráticas que; mais tarde se dissolverão

com o avanço do sistema socializado. Desta forma, a revo-

lução proletária transforma as tarefas democráticas da re-

volução em socialistas.

O seu conteúdo político e social está em que ela é nacio-

nal e se materializa na ditadura proletária. A maioria naci-

onal oprimida, constituída pelo proletariado, camponeses

pobres, pequenos proprietários e classe média urbana se-

mi-proletária, terá de se levantar como uma só força para

romper os 1aços da opressão nacional, expropriar a classe

capitalista e tomar o poder pela via insurrecional. O levante

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da maioria, para esse fim, terá êxito sob a direção do prole-

tariado, que destruirá o Estado burguês e instalará um go-

verno operário e camponês, que será um instrumento do

regime estatal proletário, isto é, da ditadura proletária ba-

seada na maioria explorada contra a minoria exploradora.

Aburguesia nacional, principalmente o grande capital, não só não podedarumsalto nas forças produtivas, libertandoopaís da opressão nacional esolucionando o problema da terra, como se constitui na correia de trans-missão das exigências do imperialismo. Tanto é que tem levantado comoperspectiva a abertura domercado, a conversão da dívida externa, a entregade ativos fixos e a desestatização. Apequena burguesia, por seu turno, nãoé uma classe possível de colocar tarefas históricas devido às suas relaçõesde dependência com a burguesia o proletariado é a força social em condi-ções de apresentar a saída antiimperialista e anticapitalista para o estado ca-lamitoso da sociedade burguesa.

Acriação das condições políticas para a revoluçãonacional e social pas-sa necessariamente pela estruturação do proletariado como classe indepen-dente, prganizãda em torno da estratégia da revolução e ditaduraproletárias e pelo estabelecimento das bases da aliança operária e campone-sa. A aliança do proletariado com a maioria explorada surge pelas condi-ções da estrutura social dopaís atrasado e pela natureza das transformaçõesnacionais.Ofundamental é que tal aliança de classe se constitua nomeio deproletariado aprofundar a polarização classista, imprimir seu programa detomada do poder e ganhar a direção da maioria oprimida.

Está eliminada, portanto, como solução da crise, qualquervariante inter-mediária à estratégia do imperialismo é à do proletariado.Aburguesia nacio-nal ainda que tenha interesses próprios a defender, depende da política doimperialismo de destruição das forças produtivas, como forma de “reabilita-mento” posteriordo capitalismo.As tentativas pequeno-burguesas de levan-tar as bandeiras do reformismo democrático cairão inevitavelmente sob adependência da grande burguesia. A revolução proletária se impõe como oinstrumento para a solução da crise histórica do capitalismo, porque atravésdela as massas conseguirão se erguer contra o imperialismo e os latifúndios,expropriar o grande capital e organizar a economia sob novas bases.

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IV. A CRISE DE REGIME

Aprincipal característica da crise política é que o desmoronamento dogoverno Sarneyvaimuito alémde umimpasse específico de governabilida-de da camarilha que ocupa o poder do Estado, Aquebra de governabilida-de exprime uma crise do regime político, isto é, que afeta os fundamentosdo Estado burguês. Se se tratasse limitadamente da perda de rumo das for-ças que dirigem a máquina estatal, teríamos o fracasso de uma fração bur-guesa em detrimento de outra. A sua substituição poderia ser o suficientepara recompor a centralização, reorientar o norte político-econômico e su-perar o impasse. Não faltam reformistas, sindicalistas e democratizantesque vêem assimo quadro crítico. Não obstante, a realidade é bemdiferen-te. As rupturas ocorridas no interior da Nova República, o seu naufrágio eo estilhaçamento dos partidos burgueses têmpor detrás a monumental de-sagregação do regime de dominação.Aingovernabilidade forma parte des-sa desagregação e sobre ela atua como poderosa força centrífuga.

A “Nova República”, que foi constituída pela ditadura militar, entrourapidamente em parafuso, quando prometia abrir uma nova etapa de esta-bilização, não apenas porque foi dominada por uma fração oligárquicacontinuísta, mas, emprimeira instância, porque se chocou de frente comacrise estrutural do capitalismo. O fato da burguesia ser obrigada, sob aproteção do imperialismo, a realizar a transição democrática de forma apreservar as bases’ do antigo regime militar, retocando-o com se-mi-reformas constitucionais, demonstrou a impossibilidade de se livrardasraízes da crise política. Aabertura de uma etapa convulsiva e de desorgani-zação da vida econômica do país tornou o regime militar superado diantedo rompimento das relações de classe, impostas pela contra-revolução de64/68. Esse processo, ao contrário de ter se dissipado, desenvolveu-se emgrande magnitude. No último período do governo Sarney, as contradiçõesse agigantaram através do acúmulo sucessivo de crise sobre crise.

Ogoverno Sarneyfoi tipicamente experimental. Fruto de uma soluçãode compromisso, se compôs por intermédio da aliança dos dois maiorespartidos oficiais. Ela respondia à estratégia tancredista de restabelecimentoda unidade nacional cindida coma quebra da centralização burocrática mi-litar do Estado.Antes se tratava da unidade da classe burguesa sob a forma

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de ditadura militar contra as massas. Depois, o problema era restabelecê-lapor intermédio das relações “democráticas”, readaptando seus vínculos dedominação com os explorados. Desta forma, a “Nova República” nasceusobo signo daAliançaDemocrática, capitaneada peloPMDB,que logo ex-pôs sua impotência frente à crise econômica, que destroçou sua estratégiademocratizante como umcastelo de cartas.Assimteve lugaros mais díspa-res experimentalismos, que se estenderamdesde os planos econômicos he-terodoxos -.uma mistura de interesse de frações da burguesia nacional comos do imperialismo - aos planos mais ortodoxos, isto é, pró-imperialistas.Emtodos esses casos a burguesia se manifestoudividida, porque nenhumadas variantes atendia aos interesses gerais e nempodia solucionarde fato osmales da economia.

As tentativas de estabilização, ao inverso, acelerarama dinâmica da cri-se e avolumaram seu potencial convulsivo. O Plano Verão teve um poderde divisão interburguesa extraordinário, pois colocou a FIESP e a CNI ematrito, distanciou momentaneamente o governo do Parlamento ultraenca-brestado e colocou o Estado e a classe burguesa em rota de colisão com amaioria nacional, dando lugar à combativa greve geral de 48 horas e o de-sencadeamento de uma das maiores ondas grevistas conhecidas no país.Emtodos os experimentos, o que teve emtela foramas tentativas de semi-resistência às pressões imperialistas, de umlado, e de acatamento a orienta-ção das metrópoles, de outro. As tímidas rejeições de Funaro ao FMI semostraram inócuas. E a linha francamente pró-imperialista de Maílsonveio nummomento de muita dispersão da burguesia e encontrou nas mas-sas umvigoroso oponente. A fração da grande burguesia, associada ao im-perialismo, apoiou o Plano na esperança de se avançar rapidamente noleilão das estatais, abrir mercado para o capital estrangeiro, reestruturar opoderde financiamento doparasitismodos investidores domercadode ca-pitais e abocanhar uma maior fatia da mais valia. Entretanto, essa fraçãonão galvanizou todo potencial da burguesia nacional e o apoio completodos maiores partidos burgueses, envoltos numprocesso de divisão interna,agravada com os resultados das eleições municipais. Diferentemente dosdemais planos, esse último foi uma decisão isolada do governo, premidopelo descontrole e submetimento a uma forte pressão desintegradora. Amanobra do pacto social foi água abaixo e acabou distanciando os apanin-

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guados do Planalto na nova aventura pró-imperialista. Apesar disso, a ori-entação voltada à execução da estratégia de recolonização do imperialismoe de retrocesso dás forças produtivas continua a ser a tendência geral da si-tuação, que coloca a permanência da polarização das classes.

Esses fatos demonstraram que a bancarrota do governo Sarneyé o re-sultado de sua impotência em unir a burguesia em torno de qualquer umadas variantes apresentadas. Tornou-se imprestável para os seminacionalis-tas.Não conseguiu ir a fundonas medidas pleiteadas pela FIESP, apesardecolocá-las em foco. Serviu ao imperialismo às meias, ainda que tenha avan-çadono entreguismo.E armoucontra si ummovimento de massas tenden-te a se transformar em luta política, encabeçada pelo proletariadorevolucionário. Essa mecânica explica o porquê do governo Sarneypassartodo tempo administrando sua própria crise. Não houve um só momentoemque descansou dos tremendos choques, a ponto de volta e meia evocaro golpismo.Neste instante decretou a lei de greve que faz inveja aos fascis-tas, e ameaça desfechar o Estado de Defesa para brecar o ascenso grevistaFica claro que a agudização do fenômeno da crise política está em que emtorno da abertura democratizante, as várias frações da burguesia e as clas-ses antagônicas se colocaram em conflitos de diferentes teores. A fraçãopró-imperialista agiu motivada pela tendência internacional do capital.Aquela mais ligada ao processo estatizante e ao mercado interno passou ase defender contra mudanças desmesuradas a favor da recolonização. Oespectro de uma quebradeira geral das pequenas e médias empresas colo-cou esse setornuma posição de rejeição à via recessionista.Oimperialismointensificou o cerco de sua estratégia, utilizando-se da divida externa. E oproletariado aproveitou para deslanchar a luta de classes. Enquanto aburguesia se dividiu, o proletariado ganhou emunidade, o que confereum caráter explosivo para a situação. A estratégia de construção daunidade nacional, articulada pelas forças burguesas, conclui num esfa-celamento ainda maior.

O comportamento da burguesia em relação à Constituinte foi uma dascomprovações mais definitivas da sua falência histórica. Não só não se co-locou pela resoluçi1o das tarefas nacionais, como entravou mudanças mí-nimas, chegando a deixar a regulamentação da Constituição para o futuroCongresso Nacional. Desta forma, a Constituinte, que foi propagandeada

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como o centro e o ápice da democratização, acabou sob a tutela dos gene-rais, preservou os interesses já implantados do imperialismo e serviu àUDRemsua luta contra os camponeses.Aquilo que deveria sero palco dasgrandes questões se mostrou cabalmente reacionário. Os partidos demo-cratizastes tanto puseramemrelevo sua esterilidade, quanto expressaramaposição social reacionária da burguesia.Embora aConstituinte não atraíssea atenção da maioria nacional, porque emnenhummomento refletiuo des-locamento das massas, foiuma experiência decisiva para demonstrara invi-abilidade da burguesia encabeçar qualquer movimento progressivo detransformação democrático burguês. Asubmissão do PMDB aos militaresna campanha das diretas já havia exposto essa questão, mas com a Consti-tuinte a experiência se completou como definitiva.

A burguesia semi-colonial está concretamente diante de um processorevolucionário que se gesta no seio da crise e não tem come se colocar nadireção domovimento nacional.Não pode apresentaros meios para a con-secução de reformas estruturais, porque se acha submetida aos opressoresestrangeiros e entrelaçada à oligarquia fundiária. Em razão da sua situaçãode classe semi-oprimida pelo imperialismo, chega a esboçar alguma resis-tência em relação a alguns pontos mais caros para seus interesses. Masquando empurrada à borda do abismo da crise econômica e confrontadacomo crescimento social do proletariado, se solda comos opressores naci-onais na defesa dos interesses mais gerais capitalistas. Em função dissoacompanha a tendência dominante mundial de estagnação e mutilação dasforças produtivas. A posição reacionária da burguesia nacional expressaseu completo esgotamento coma classe dominante. A fonte da crise políti-ca atual reside precisamente neste fenômenohistórico.É ela que determinaseu conteúdo e confere o caráter de crise de regime.

OEstado burguês se encontra em total contradição coma necessidadede desenvolvimento das bases materiais da sociedade. A sua função se re-duz a sustentar a ditadura da classe burguesa. Em situação de crise, a rebe-lião das forças produtivas contra a propriedade dos meios de produção, edistribuição atinge, os fundamentos estatais e ressalta seu caráter reacioná-rio. Isto é, o estado passa a exercer o papel exclusivo de destruição das for-ças produtivas e de violência reacionária contra as massas. Ao se chocarfrontalmente comas forças produtivas, tende a se desintegrar colocando a

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necessidade de sua superação pela revolução proletária. A crise governa-mental é um sintoma dessa desintegração; é uma extensão da crise do regi-me político.

Aburguesia tudo faz para dar a aparência de uma simples crise de polí-tica conjuntural. E as direções pequeno-burguesas se negamver a amplitu-de do desmoronamento do regime burguês, para apresentaro democráticoreformismo com alternativa à estratégia da revolução. Entretanto, o des-moronamento contínuo dos pilares do Estado (governo, Congresso, parti-dos), que caminha por atingir seu último reduto, as forças armadas,exprime com clareza o amadurecimento de uma situação revolucionária.Trata-se, evidentemente, de umprocesso emandamento, cujo ritmo pode-rá se acelerarou retardardependendo de inúmeros fatores; entre eles a fun-damental estruturação independente do proletariado e a conduta de suasdireções.Muitas manobras deverão ser realizadas pela burguesia para evitaro agravamento da crise, mas os fatores reunidos indicamque o curso geraldos acontecimentos não poderá ser mudado, a não ser pela revolução oucontra-revolução, que são as duas forças presentes desde agora na situação.Cabe ao proletariado a tarefa de aplainar o terreno para a chegada de umacrise diretamente revolucionária, construindooprograma da emancipação,formando os organismos de poder de massa (soviets) e aprimoramento dasua tática revolucionária para a tomada do poder.

V - O EIXO REVOLUCIONÁRIO DASITUAÇÃO

Ogrande ascenso grevista é o eixo revolucionário da situação.Olevan-te de massa tem permitido aos trabalhadores se deslocarem da influênciapolítica da burguesia, se unificarem contra ela e se defrontarem com oEstado. Através da ação direta, o proletariado vem se destacando como aprincipal força pelo seu radicalismo e pelo métodos ofensivos às relaçõesde propriedade. Apequena burguesia semi-proletarizada, por sua vez, temevoluído progressivamente para as formas de luta da classe operária. Nocampo, igualmente, a luta direta pela terra se acirrou e cresceu a violênciados fazendeiros. A evolução do movimento grevista, desde as massivasações metalúrgicas do ABCD em 79/80, indica um profundo deslo-

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camento do proletariado e das massas para posições de confronto classista.De 695.930 grevistas em 1982, houve um salto para 12.047.000, em 1987.Estima-se em 89 cerca de 30 milhões. Segundo dados oficiais, ocorreram9.413 greves no período de 4 anos e 4 meses do governo Sarney. Oquadroconfigurado atualmente é este: o ascenso grevista se espalhou, atingindo osrincões mais distantes dos centros industriais. Agreve geral de 48 horas foiutilizada como manifestação nitidamente política contra Sarneye a opres-são de classe, ultrapassando em muito a greve geral de 1986. Em algumasregiões até barricadas foramlevantadas.Depois dela, a onda grevista conti-nuou insistindo.Armou-se melhores condições ainda para uma greve geralpor tempo indeterminadoAssinalou-se a via da greve comocupação e commanifestações de rua.Essas características são de amadurecimento políticoobjetivo das massas embora tenhamsofridomuitas derrótas econômicas.

O avanço massivo das greves um respondido à evolução da criseeconômica e do regime político.Conforme o governodespejamais agressi-va, ente a crise sobre os assalariados, is as tendências revolucionárias seacentuaram através de mudanças nos métodos da ação direta. A divisãocorporativa e a concorrência entre os próprios explorados, criadas peloscapitalistas e mantidas pela burocracia sindical, começama se romper, dan-do lugar à unidade de classe. As greves passivas se tornam ativas, de-sencadeando movimentos de rua e de ocupações dos locais de trabalho(Volta Redonda, Manesmann, etc). Arepressão passa a ser encarada comoum obstáculo a ser enfrentado. As massas se colocam numa atitude de sa-crifício, alongando admiravelmente as greves e enfrentando as demissões.Aburocracia sindical mais à esquerda começa a ter dificuldade em contro-lar a agressividde dos trabalhadores, que extrapolamos limites da disciplinacorporativa e democrático-burguesa. Assim, a luta de classe salta das suasformas elementares, moleculares para as mais elevadas de ação de massa,piquetes de choque, arrastões, barricadas e ocupações pela força das fábri-cas. Os movimentos da pequena burguesia semiproletarizada se formamem gigantescas passeatas e se direcionam para o choque contra o gover-no-patrão.

Em contraposição, a burocracia sindical se esforça por reduzir o im-pacto dos deslocamentos de classe, utiliza o garrote democratizaste, seapóia nas ameaças golpistas para amedrontar a faixa mais atrasada, e busca

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a negociação corporativa como meio de esvaziar a unidade classista. Devi-do a enorme impopularidade dos partidos burgueses democratizantes, ogoverno não tem outro recurso senão militarizar as greves. Enquanto aburguesia puder derrotar as revoltas isoladas, o seu governo as tolera, masquando se tornam um levante geral e colocam o proletariado como dire-ção, este evoca abertamente a ditadura de classe.Aameaça comogolpe mi-litar, com a decretação do “Estado de Defesa” e desfecha a perseguição àscorrentes à esquerda do movimento operário. A burocracia sindical, quetem interesse de casta a preservar, serve de correia política para as pressõesditatoriais do governo, trabalhandopordesarmaro confronto.Aquebra dacontinuidade da greve, geral teve sua causa no freio burocrático.E tambémo que aconteceu em toda presente jornada de luta, em que a burocraciacentrista da CUT jogou umpapel de quebra das greves, principalmente noABCD.E oPCB,PCdoB,PVfizeramcampanha aberta contra a radicaliza-ção operária e em defesa do Estado democrático.

Aconstituição de ummovimento de maioria nacional põe emcheque apolítica econômica de Sarney.Aameaça domovimento de massa a esse go-verno é um dos fatores de instabilidade do regime político. Essa é a razãofundamental da enorme campanha burguesa contra o grevismo e a violên-cia das greves. E, também, por reduzir o seu potencial revolucionário, ca-nalizando-o para o conduto eleitoral, isto é, para as manobras burguesas dademocracia como instrumento de substituição de Sarneyporum“governolegítimo” e como meio pacífico para a solução dos agudos confrontos declasse.Ao contrário, o fortalecimento do eixo grevista e das ocupações, emoposição aos limites disciplinadores da burocracia sindical e do democra-tismo eleitoreiro, é uma tarefa fundamental para a defesa estratégica da re-volução e ditadura proletárias. A coesão do eixo grevista e a ampliação daluta pela terra se constituem no principal meio para transformar as tarefasdemocráticas e nacionais em alavanca para o combate contra o grande ca-pital e pela tomada do poder pela via direta. Toda linha que enfraqueça oeixo revolucionário da situação ou que o dissipe deve ser rechaçada intran-sigentemente, pois se coloca na posição da anti-revolução ou da con-tra-revolução.

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VI - A ESTRATÉGIA POLÍTICABURGUESA

As eleições são o campo próprio da política burguesa. Trata-se de ummecanismo formativo do aparato estatal. Através delas a burguesia utilizaas massas, de quando emquando, para eleger o parlamento e o governo epara aparentar a existência da soberania popular.Oparlamento e o gover-no eleitos, na realidade, exercem o poder dos capitalistas contra as mas-sas. A democracia formal é manejada como um disfarce para a ditadurade classe. $ uma das formas dos exploradores sustentar e praticar o seupoder despótico. Ao mesmo tempo emque forma parte do regime políti-co, funciona também como meio de engano e de subordinação do prole-tariado às relações do Estado. Enquanto os assalariados se encaixaremnos moldes eleitorais e apoiarem os partidos burgueses, carecerão de in-dependência de classe e o Estado permanecerá a salvo. Isso significa queos trabalhadores estão ludibriados com as possibilidades da democraciaformal e não descobriramsuas próprias forças. Essa é a razão pela qual aseleições e o parlamentarismo são os principais recursos políticos para oscapitalistas preservarem a sua dominação pela “via pacífica”. A eventualutilização da luta eleitoral pela vanguarda proletária não transforma aseleições em um canal para se chegar ao poder, pois elas não são o campopróprio de luta da classe operária.

Ainda sob o regime militar, os trabalhadores se lançaram à ofensivagrevista, mas permaneceram imediatamente no plano sindicalista. A cam-panha das diretas não chegou a se assentar em lutas grevistas. Pelo contrá-rio, os partidos democratizantes deram a ela uma característica pacífica einstitucional. Por essa razão, foi muito mais um movimento de classemédia. Durante algum tempo, o proletariado caminhou atrás do PMDB,ludibriadopela retórica democratizante “reformista”.OPMDB,de partidominoritário, se tornou hegemônico nacionalmente. Obteve uma posiçãoprivilegiada junto às massas ao dirigir a campanha das diretas. Mas, empouco tempo, revelou sua face capitalista. Quebrou esse movimento aosubmetê-lo ao parlamento e ao desviá-lo da tarefa central de derrubar a di-tadura militar. Assim, impediu que o proletariado, através do ascenso gre-vista, se colocasse à cabeça de um amplo movimento pela derrocada da

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ditadura. A “Nova República”, parida nesse processo, logo se voltoutaxativamente contra os assalariados. No transcurso da abertura polí-tica a classe trabalhadora pôde tirarmuitas lições das experiências comos democratizantes. A estratégia democrática revelou ser uma armapara os capitalistas descarregarem a crise sobre a maioria e as eleiçõesum meio de controle político.

Por intermédio dos recursos democráticos burgueses, os partidos oficia-is, apoiados pelos estalinistas na frente democrática, lograram utilizar a pe-quena burguesia como ponta de lança da estratégia de acordo nacional. Osgolpes da crise econômica e a necessidade do capital sobreviver à custa doempobrecimento das massas desmascararam, rapidamente, a ilusória viabili-dade de umaverdadeira democracia deEstado e sobre as possibilidades de sesolucionar as condições catastróficas através da via parlamentar, da negocia-ção sindical e do pacto social.Não tardoupara o governo da Aliança Demo-crática se desmancharnumgoverno de ditadura civil e os partidos burguesesrevelarem a ausência total de raízes populares. O desmantelamento do go-verno da AD deu lugar a uma significativa quebra partidária, refletida nocrescimento eleitoral do PT nas municipais. Mas o fundamental é que essaquebra ocorreu numa situação de evolução política do operariado e de pola-rização de classes na qual a burguesia se encontra dividida e os exploradosmais coesos.Tal evolução significa que oproletariado caminhano sentidodese lançar ao combate político antiimperialista e antiburguês, levantando umprograma próprio através do método dueto de ação.

Tanto a fragmentação burguesa quanto o ascenso grevista têm origemna manifestação da crise estrutural.Oenfraquecimento político-ideológicodos capitalistas junto às massas favorece enormemente o crescimento docombate. Àmedida que a centralização das forças burguesas do Estado setorna mais frágil, mais as massas ganham confiança nos seus métodos deluta e se distanciam da política burguesa. Embora as frações patronais seunam inevitavelmente perante o perigo de um movimento nacional, noatual estágio, permanecem ainda fraturados, o que favorece a conquista deposições pelo proletariado na luta de classes. Esse é o grande problematanto para a burguesia quanto para o proletariado. Aos exploradores, aquestão se resume na reconstrução da unidade do Estado, na recuperaçãodo poder do regime político e, portanto, no rompimento da coesão nacio-

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nal grevista.Aos trabalhadores, trata-se de golpear ainda mais o regime po-lítico, avançando na ação direta e na sua auto-organização.

Um golpe militar e a centralização ditatorial seria o remédio mais efi-caz. Mas falta à reação preparar o terreno. As condições para um ato deforça dessa natureza não estão plenamente dadas, embora, possam cederlugar a aventuras. Aburguesia terá ainda de jogar comas armas democrá-ticas disponíveis, contando para isso com a colaboração dos democrati-zantes de esquerda. Nesse sentido, as eleições presidenciais terão umpapel extraordinário para se lançar uma ofensiva burguesa contrária aoprocesso de cisão de sua organização estatal e ao levante nacional grevis-ta. O caminho será o de apresentar a perspectiva de um novo governoburguês, apoiado popularmente e destinado a promover umpacto nacio-nal. Isto é, um governo que reconstitua minimamente a centralização es-tatal, para se reabastecer e voltar à carga contra as massas. Essapossibilidade conjuntural poderá se concretizar mediante o desvio doeixo grevista, o reavivamento das ilusões democráticas na pequena bur-guesia e na camada mais atrasada do proletariado.

Autilização democrática da pequena burguesia, nestas eleições, contrao proletariado é uma questão central de tática burguesa para recrear o eixorevolucionário em pleno desenvolvimento. A ofensiva reacionária contraas greves ativas vem nesse sentido. A volta da classe trabalhadora ao leitopassivo ou a uma situação de compasso de espera é uma condição para aburguesia tomar respiro e rearmar o seu exército político em frangalhos.

Opostamente, se as eleições se processarememmeio ao combate dire-to das massas, não poderão ter o efeito desarticulador dos explorados e es-truturados dos exploradores. Num clima de paz social, os partidosburgueses terão maiores chances para utilizar o poder de corrupção políti-ca, de distração dos reais problemas e de negação dos passos de inde-pendência política conquistados pelo proletariado. Embora qualquer go-verno que saia das eleições será de crise, isso não justifica o mínimo de re-trocesso ou de atraso no avanço da luta de classes. Uma quebra, pormomentânea que seja, na trajetória de superação das ilusões na política de-mocrática burguesa resulta num obstáculo ao caminhar independente doproletariado.Umrecuo das massas, sob a pressão dos democratizantes, re-dundará na abertura de espaço para as forças da reação.

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As dificuldades dos partidos, que encabeçaramouque apoiaramos pla-nos antioperários da “Nova República”, ematrair os trabalhadores nas ele-ições residem na presença do monumental movimento de massa. Oimpasse eleitoral burguês não tem origem fundamentalmente nas relaçõesdemocráticas e simno despreendimento das massas que se movemno sen-tido oposto da camisa de força institucional burguesa. Autilização das ilu-sões democráticas e as promessas golpistas são o ingrediente para esvaziaro ascenso. E tudo será feito para se barraro processo de divisão dos princi-pais partidos e apresentá-los comoo seguro da democracia. Para isso, o po-der econômico será utilizado mais do que nunca. No terreno eleitoral, nãose deve descartar o reerguimento dos velhos democratizantes. Como vál-vula de escape, a burguesia conta coma alternativa do PDT, que, pelo fatode se esconder sob o manto da “Nova República” e, ao mesmo tempo, sevestir de oposição social-democrata, se apresenta apta para a meta de es-trangulamento político dos trabalhadores.

Resta o PTcomo uma peça contraditória. Nas municipais, uma impor-tante parcela dos oprimidos se deslocou para o partido como resultado deuma virada à esquerda.Nos locais onde a luta de classes mais evoluiu, o PTgalvanizou o deslocamento dos oprimidos. Oproblema que se coloca paraos capitalistas é o de pressionar com todos os dados possíveis para que oPT se adapte a fundo na política eleitoral se submeta à disciplina estatal. Asua política de democratização facilita as pressões burguesas. É do interes-se da patronalque oPTestruture umembrião de frente populardemocrati-zante e que, por essa política, se apresente como umgargalo afunilado parao movimento grevista e para a independência de classe do proletariado.

Uma vez que o PTteminfluência decisiva no interiorda CUT, e essa seconstituiu na direção nacional dos explorados, a sua completa integraçãonas instituições cortaria o processo de organização própria dos trabalhado-res. Independente doPTganharounão as eleições, a sua inserção no âmbi-to eleitoral em detrimento do desenvolvimento do eixo grevista e a suadefesa da estratégia democrática são aguardados pela burguesia, pois pode-rá vir a ser um trunfo para o Estado nas circunstâncias de explosão dascontradições e de perda do controle burguês dos choques de classe, .o quejá vem ocorrendo. Caso o PT se transforme, de fato, num elemento depolarização nas eleições, o que essencialmente contará é se a polarização se

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dará entre o pólo da reação e o da revolução, o que seria uma anomalia noquadro eleitoral. Na realidade, resta uma possível polarização entre duasestratégias democratizantes que anulariam, no final das contas, o ímpetorevolucionário das massas. Esta possibilidade torna mais premente àdefesa da utilização revolucionária das eleições, em contraposição ao de-mocratismo pequeno burguês.

Os magnatas aceitamo PT,mesmo à contra vontade, até o limite da es-tratégia de defesa do Estado e de respeito à propriedade privada. Eles sa-bem perfeitamente, como a vanguarda militante consciente também osabe, por experiência histórica, que os partidos democratizantes de esquer-da não poderão dirigir conseqüentemente o movimento de emancipaçãosocial do proletariado. Poderão fazer parte do aprofundamento da crise doregime, mas não terão como solucioná-la, porque implicaria na destruiçãorevolucionária do poderburguês.Aluta da burguesia, neste sentido, não seconcentrará apenas na reestruturação de seus partidos senis, mas tambémno objetivo de transformar o PT em uma barreira para o combate diretodos assalariados. À vanguarda proletária cabe a tarefa de rejeitar o campoeleitoral como instrumento burguês de reerguimento do regime em crise,se opor ao frentismo eleitoreiro, à estruturação da frente popular e voltartodo esforço para o impulso do movimento grevista, pela frente revolucio-nária antiimperialista e pela estratégia de tomada revolucionária dopoder.

VII.-. A ESTRATÉGIADEMOCRATIZANTE DO PT

A corrente Articulação, que dirige o PT, rejeita a estratégia da revolu-ção e ditadura proletárias como a única via possível para se derrotar o im-perialismo e a burguesia associada, implantar as tarefas nacionais e realizarsimultaneamente as transformações socialistas. Por essa razão, descarta atática revolucionária correspondente ao objetivo de tomada do poder pelainsurreição de massa.Apesar de negar a teoria do etapismo, que prevê umaprimeira fase da revolução democrática burguesa muito bem definida emrelação à revolução socialista, não faz outra coisa senão readaptá-la. A rea-daptação consiste em que a Articulação elabora a concepção de que da es-tratégia de democratização do Estado burguês o partido poderá extrair os

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meios para mudanças socialistas. A. condição para se chegar ao socialismoé dada por uma etapa de reformas políticas, econômicas e sociais. Nestafase, de democratização e reformas do capitalismo, as massas acumulariamforças, tendo oPTcomo governo, e poderiamapoiaro partido no seu con-flito com a classe burguesa. O socialismo seria uma estratégia evolutiva dademocratização e da participação popularno poderdoEstado. Isso explicaporque a Articulação nega terminantemente unir as tarefas nacionais edemocráticas comas de cunho socialistas. Escorada numempirismobanal,defende que seria aplicável, na atual situação, somente um programa de-mocrático-popular que se resume na democratização do Estado e da eco-nomia e no estabelecimento de um novo tipo de relação com os credoresimperialistas.Atarefa de expropriação da grande propriedade é impensávelneste momento. Na verdade, é impensável em toda e qualquer circunstân-cia para os democratizantes da Articulação. Pormais que se esforcem, nãotêm como esconder essa orientação etapista e social-reformista.

Ofato é que a essência da política traçada pela direçãomajoritária se re-sume na estruturação doPTcomouma esquerda nacional adaptada às con-dições do atual estágio da crise. Trata-se, como a própria Articulaçãoqualifica, de uma alternativa democrático-popular para dirigir o Estadoburguês. Nessa visão, o PT desponta como uma possibilidade de governoque fecharia o ciclo da chamada “transição conservadora” e abriria umpro-cesso de democratização e reformas, destinadas a tirar o país do precipício.Assim, amparado na estratégia democrático-popular, o PT se apresentacomo um substituto dos partidos burgueses democratizantes, que faliramnos seus propósitos de ergueruma ampla democracia social representativa.Dela decorre a falácia do conteúdo antiimperialista, antimonoplista e anti-latifundiário do governo democrático popular, que a materializa. Não temporque esse governo de esquerda democrática ser um instrumento de rup-tura com o Estado e com o capitalismo, como pretendem os pseu-do-trotskistas ou como querem os etapistas oriundos do estalinismo(PRC). Um governo democrático, alçado ao poder pelo voto, não é umgoverno revolucionário apoiadonas massas organizadas, e não poderá vir asêlo. Ele é o produto da estratégia de adaptação do PTao Estado, que, tan-to pelo programa reformista quanto pela tática traçada (o eleitoralismo), osubmete aos liames do poder estatal e às relações de propriedade imperan-

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tes e de opressão nacional.Não é por outra razão que a Articulação, “contraditoriamente”, afirma

que as reformas estruturais, porexemplo a reforma agrária, demandarão lu-tas sociais, mas deverão ser implantadas de forma democrática, isto é, atra-vés do parlamento e da ação governamental.Ooposto seria a expropriaçãorevolucionária que se opõe a “forma democrática”, porque as massas a efe-tuampela luta direta de classe.Mas oPTpensa, comseugoverno democrá-tico, combinar as pressões sociais, limitadas aos ditames da propriedadecapitalista, com a ação democrática (parlamentar) para obter reformas econcessões da classe burguesa. Tal perspectiva coloca o PT numa posiçãode conciliação de classe. Por um lado, pretende se apoiar na inevitável mo-bilização social para reunir forças a favor de reformas negociadas(democrática) e de resistência parcial à opressão nacional, por outro, se es-tribar nas relações de propriedade para disciplinar a ação das massas aoquadro democrático.

Isso explica porque a tática de coligação e a orientação voltada porconstituírem um governo de coalizão com setores da burguesia (PMDB,PDT, PSDB) ocupam uma função de destaque na resolução do V Encon-tro. AArticulação admite a existência de uma fração burguesa progressivainteressada em reformas e a sua imprescindível participação no governodemocrático popularcomoavalista do seucaráterde conciliação de classes.A noção de que o governo democrático seria sustentado pela aliança doproletariado comos pequenos e médios produtores está colocada de pontacabeça. Na verdade, trata-se de um governo enraizada nos setores da bur-guesia média, representantes de uma parcela do capital nacional encurrala-da pelos monopólios, e na pequena burguesia mono: arruinada. Oproletariado e as massas empobrecidas servem de acento para tal governopequeno burguês conseguir acionar a máquina estatal, que permanecerásob o controle do grande capital e da tutela militar. O exposto desnuda autopia dos social-reformistas de esvaziar o Estado de suas funções de dita-dura burguesa, de livrá-lo da portentosa presença dos monopólios e colo-cá-lo a serviço de um capitalismo popular. Se no novo “etapismo” não setemaburguesia nacional comoa classe destinada a fazera revolução demo-crática burguesa em compensação se concebe uma aliança com as fraçõesdo capital nacional como condição para as reformas, retomada do cresci-

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mento econômico (mercado interno) e negociação da dívida externa. Apretensão desta diretriz é espantosa, pois encampa oobjetivo de emancipa-ção nacional sempretender a quebra do poderburguês. Se, de umponto devista, essa posição revela a impotência da própria burguesia nacional de de-senvolver a economia de forma independente (a ponto do PT pretendertutelá-la com um governo pequeno-burguês) de outro, acobertada pelo“socialismo reformista”, prepara o caminho da derrota do movimento re-volucionário, o qual vem amadurecendo desde a década de 70.

O fundamental a se compreender é que frente à crise capitalista todas asclasses objetivamente se movimentam numa ou noutra direção. A grandeburguesia age em conformidade com a natureza da etapa monopolista, des-truindo e bloqueando as forças produtivas. Esta é a sua forma de dar conti-nuidade ao regime de exploração do trabalho. A camada mais poderosa docapital nacional reflete essa posição, pois não há nenhuma revolução demo-crática que possa fazer.Acamadamais baixa do capital é completamente im-potente e está amarrada à hegemoniamonopolista.Porcima temde suportaro peso dos magnatas e por baixo é acossada pelo proletariado. A pequenaburguesia, por sua conformação social, não tem como encabeçar um movi-mento independente frente ao capital.E reluta empassarpara o lado dopro-letariado. Por isso serve de base social, até certo ponto, para as direçõespequeno-burguesas ascenderem como força política, facilitadas pelo impas-se burguês e pelo apoio da burocracia sindical centrista, que controla omovi-mento operário, procurando mantê-lo no atraso. AArticulação, com todo oseu arsenal democratizante reformista, expressa tais relações de classe no in-teriorda crise.E está conseguindoprogredir,mesmo comumapolítica com-pletamente impotente, graças à confluência desses fatores.

O proletariado, pelo contrário, se distingue completamente. Emboraesteja sob um relativo controle das direções burocráticas, insurge cada vezmais ameaçador, extrapolando a demarcação do “status quo”. Objetiva-mente se projeta como classe revolucionária capacitada a dirigiro poderdoEstado emaliança coma maioria oprimida e contra os capitalistas.Umdosprimeiros traços concretos que indicamessa posição histórica do proletari-ado é como este tem se colocado emconfronto coma propriedade capita-lista e o Estado, isto é, como força que interfere diretamente na economia.Nestas jornadas grevistas, o conflito aberto pelos petroleiros, as ocupações

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metalúrgicas de fábricas e os arrastões de massas põemde manifesto o pa-pel revolucionário do proletariado.Nenhuma outra classe pode substituir aburguesia no Estado, senão o proletariado. E essa tarefa somente se reali-zará pela revolução. A derrubada da burguesia do poder político se daránum processo social em que as tarefas nacionais surjam para as massascomoumimperativo para tiraro país do atraso e damiséria.Desta forma, oproletariado levanta que tais objetivos não terão lugar dentro do capitalis-mo e não estarão voltados para reformá-lo. Eles servirão, sim, de ponto deapoio para tomar o poder e serem transformados cm socialistas.

Aestratégia pequeno-burguesa do governo democrático popular e a tá-tica eleitoralista são um antídoto a esse objetivo histórico do proletariado.Em hipótese alguma pode passar como fazendo parte dele. Para isso háque se delimitar claramente as três principais linhas de classe perante a cri-se: 1) a da grande burguesia (destruição das forças produtivas e desnaciona-lização); 2) a da pequena-burguesia acomodada (o reformismodemocratizante); 3) a do proletariado (revolução nacional e social e ditadu-ra proletária). Avanguarda classista logrará ajudar o proletariado a se cons-tituir como força hegemônica caso leve a fundo o combate contra todainfluência burguesa e pequeno-burguesa. Essa última é a que mais oferecedificuldades porque se veste de socialista, se liga à burocracia incrustada nomovimento operário e corrompe a vanguarda como eleitoralismo.Ainter-venção no PT deve se concentrar solidamente no desenvolvimento da li-nha do programa e da estratégia revolucionária, oposta frontalmente àestratégia e a política do V Encontro.

VIII - O MOVIMENTO SINDICAL

O proletariado deu passos significativos na sua organização indepen-dente. A transformação generalizada dos sindicatos em instrumentos demassa é um dos aspectos mais importantes desse avanço. O movimentosindical já não se restringe a alguns ramos da produção. Ele abarca milhõesde trabalhadores dos mais variados setores e continua em pleno cresci-mento..Aafluência emgrande escala aos sindicatos representa umprofun-do deslocamento das massas, provocadopela intensificação da opressão declasse, pelo acúmulo da miséria e pela desagregação capitalista.Agrandiosa

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corrida dos assalariados às assembléias e manifestações não apenas têmpressionado no sentido da desburocratização dos sindicatos, como postoobjetivamente a necessidade da quebra do corporativismo sindical. A ten-dência e unificação dos combates e à explosividade verificada na greve ge-ral de 48 horas são expressões dessa necessidade.Aburocracia sindical, dosmais variados matizes, está sendo poderosamente pressionada pela eclosãosimultânea de inúmeras greves. E, diante das iniciativas governamentais demais arrocho, se vê obrigada a lançar mão da greve geral. Entretanto, nãovai a fundo na tarefa de unificação das campanhas e não desenvolve todapotencialidade existente na greve geral. Constantemente, trabalha pelacontenção grevista até onde pode e aproveita de sua posição de direçãopara retroceder a luta geral a formas moleculares, já superadas pelo própriomovimento e pela crise. Isso diz respeito não só ao “sindicalismo de resul-tado” de direita, que abertamente sabota a ação unitária de massa,mas tam-bémà posição majoritária da CUT.Ofato é que o levante generalizado dostrabalhadores vemcolidindo, de umlado, coma burocracia organicamentepró-patronal da CGT, e de outro,menos intensamente coma burocracia re-formista da CUT, que concebe o sindicalismo adaptado aos estritos limitesdo capitalismo. Uma ampla unificação das massas e o combate centralizadopermitiriamà classe trabalhadora superar a divisão imposta pelos capitalistase sustentada pela burocracia sindical. Por essa razão, tal fenômeno de massase choca aomesmo tempo, contra a política opressiva dogoverno e a políticasindical burocrática reformista. E coloca umdos problemas estratégicos de-cisivos para golpeara ofensiva patronal e a disciplina corporativa das lideran-ças burocráticas: o da estruturação nacional do proletariado como dirigenteda maioria explorada e da centralização do movimento de massa emcontra-posição à centralização estatal da burguesia. Este é o centro da luta no movi-mento sindical e da vanguarda revolucionária.

Nas atuais circunstâncias, não há como se levantar essa questão senão apartirdaCUT,pois ela é umadas grandes conquistas domovimentooperá-rio. ACUT resultou do processo de ascenso e de crise política da burgue-sia. A retomada das greves em 79/80 rompeu o quadro de domínioincontestável do capital. Oaparelho sindical estatizado pelos governos mi-litares veio abaixo.Aburocracia reacionária perdeu seupredomínio. Surgiua corrente dos “autênticos”, apoiada no ascenso. O impulso das greves

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obrigou a uma progressiva diferenciação no movimento operário. De umlado, se alinhou a velha burocracia e os estalinistas na CGT;de outro as no-vas lideranças, que construíram a CUT. ACGT foi articulada com o claropropósito de preservar as relações de estatização dos sindicatos, a tal pontoque, nesse momento, está sob o controle total da direita pró-imperialista(Magri/Medeiros). ACUT foi fruto das necessidades de organização clas-sista nacional, assentada na luta de classes. Por essa razão, se implantou ra-pidamente em todo país, enquanto a CGT não deixou de ser um aparelhovazio, cuja força reside em alguns sindicatos fundamentais sob o controleda camarilha que sobreviveu.

Aconstrução daCUTfoiumaobra progressiva dos autênticos (lulistas)porque deu forma organizativa à tendência objetiva de independência doproletariado e à necessidade de centralização nacional. Não obstante, a li-derança lulista tinha e temseus fins próprios, que não coincidemcomoob-jetivo estratégico do proletariado de emancipação social. Tais propósitosse resumemna obtenção de postos de interlocução entre o movimento dasmassas e a burguesia. Isso confere ao lulismo uma característica de buro-cracia centrista, pois se apóia na luta dos trabalhadores não para avançar aocombate anticapitalista, mas para negociar alguns pequenos benefícioscom os exploradores. A luta reivindicatória, que deve ser um meio para oproletariado se organizar contra o poder capitalista, se torna um fim em simesmanas mãos da burocracia centrista.Não é outra a razão da direção cu-tista considerar a greve, primordialmente, como fimde negociação comoscapitalistas e não como um instrumento para impor derrotas à burguesiapela força e para se preparar o terreno da luta pelo poder. Essa orientaçãoburocrática conciliadora chega ao ponto de, em certas circunstâncias, re-nunciar à defesa elementar das reivindicações dos assalariados. Agreve ge-ral de 48 horas, por exemplo, só foi acionada quando a direção da CUTesgotou todas as negociações como governo e quando finalmente o parla-mento apoiou o Plano Verão. Quando não houve outro jeito, então, a gre-ve foi decretada comlimites. E não é que não se deva negociar emhipótesealguma, mas a negociação deve ser um subproduto do choque direto e ummeio para ampliar o confronto. Quando é utilizada para se evitar o embateoupara reduzí-lo emsua força, se constituinuma mera chave da política re-formista de conciliação de classe. Um outro fator que indica a posição re-

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formista da burocracia centrista é a linha de atenuaro ímpeto dos conflitos.Se os trabalhadores assumissem a orientação de não fazer os piquetes decombate (propunha-se piquetes de convencimento) e não arrebentar osônibus, a força da greve geral de 48 horas seria bemmenor.Esse pacifismo,enquanto a burguesia golpeia os trabalhadores pela violência, é típica dosocial reformismo.

O centrismo burocrático do lulismo ganhou fisionomia mais acabadacoma estruturação da política democratizante do PT.Adefesa que se faziada autonomia dos sindicatos frente aos partidos políticos se consagrou emuma peça do burocrático-reformismo. Do ponto de vista econômico, aCUT é tida como um meio de negociar migalhas. Politicamente, serve debase para a estratégia eleitoralista da Articulação. O mesmo acontece como PT. Opartido se esconde por detrás da CUTpara não encabeçar as lutasdiretas. E já se afunda no parlamentarismo para negociar institucionalmen-te os interesses da classe trabalhadora. Rompe-se a unidade da luta econô-mica com a política no interior do movimento operário. O encadeamentoentre a luta por reformas e o combate anticapitalista é totalmente desfeito.Contrapõe-se, assim, ao pressuposto revolucionário de que somente asmassas mobilizadas e radicalizadas podem impor conquistas e que elas nãopoderão sermantidas senão se amplia a luta rumo ao poder. Essa constata-ção comprova que a divisão entre a luta institucional para o PT e luta eco-nômica para a CUT, na verdade se constitui numa política para submeter aCUTà estratégia democratizante reformista.E ela é impossívelpelo fato daCUT, inclusive, não ir à fundo na defesa das condições de vida das massas,negando-se a utilizar todo potencial grevista da situação. Emlugarde com-bate os dirigentes da Articulação já apregoam em praça pública a fantasiade que os trabalhadores poderão ter suas reivindicações atendidas por umgoverno democrático-popular.E, emsuas teses para oCongressoRegionalGSP, defendemque aCUTdeva serumsustentáculo doprograma e do go-verno democrático popular.Essa proposição torna aCUTuminstrumentogovernamental e avalista de um programa reformista. Trata-se de uma ou-tra forma de submissão dos sindicatos ao Estado. A estatização dos orga-nismos de classe pode se dar, pela força militar ou pela via democrática.Inevitavelmente, o reformismo e os objetivos democratizantes do PTcon-duzem à quebra das conquistas alcançadas pela CUT.

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Acolocação, sem subterfúgio, de que a CUTserá umpilar do governodemocrático popular tema virtude de expor toda questão estratégica até hápouco tempo velada ideologicamente pela própria Articulação.Acontradi-ção existente, na origemda CUT, entre as tendências objetivas do proleta-riado em se organizar independentemente e a política burocrática centristado lulismo vem à tona, no presente, com muita clareza. A CUT represen-tou, perante a estatização autoritária, ummovimento de libertação dos sin-dicatos. A continuidade desse processo dependia da evoluçãorevolucionária da principal camada dirigente dos autênticos. Entretanto,seus interesses de aristocracia operária e de casta conduziram-na para a po-lítica pequeno-burguesa da intelectualidade do PT, Acristalização dos ob-jetivos democratizantes entre esses dirigentes os leva a minar os patamaresde independência já conquistados pelo movimento operário e os colocacomo agentes de estruturação de novas relações de atrelamento ao Estado.Do ponto de partida do processo de independência, no qual os “autênti-cos” jogaram um papel progressivo, chegam agora a um ponto de res-tabelecimento relativo dos vínculos de submissão.Oaprofundamento des-sa política ampliará o caráterburocrático e os interesses estranhos ao prole-tariado.Aagudeza da luta de classes não tempermitido acelerarmuito essamarcha, mas, no último período, essa mesma situação de choque brutaltemobrigado a Articulação a se definirmais precisamente emdefesa da de-mocracia burguesa, do Estado de Direito e do eleitoralismo. A força al-cançada por essa corrente começa a lhe permitir agir como fatordisciplina-dore ordenadordos embates classistas. Isso é, facilita-lhe jogarmais decisi-vamente contra o ascenso generalizado e a estruturação de ummovimentorevolucionário de maioria nacional. Essa é sua tendência geral. Isso nãoquer dizer que não possa, sob pressão, fazer viradas para a esquerda, semcontudo modificar seus pressupostos reformistas. Muitos elementos con-correrão para que ela assuma forma mais acabada. Mas, sem dúvida, entreeles os objetivos eleitorais do governo democrático popular têm importân-cia especial. No 3ºConcut já se fez sentir o peso dessa orientação. AArti-culação apetrechou a CUTpara o democratismo, desarmou-a perante umasituação de ascenso, reduziu a democracia sindical, burocratizou seu funci-onamento, dificultou mais a influência das bases nas decisões, bloqueou odesenvolvimento das oposições sindicais e diminuiu o poder de seu Con-

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gresso como ferramenta de intervenção na acelerada crise do país.A política reformista não tem raízes no proletariado. Ela é oriunda da

burguesia e da pequena burguesia. O reformismo pequeno-burguês, defato, é um derivado do reformismo burguês. A burocracia sindical, que sedestaca da sua própria classe, serve de correia de transmissão desses estra-nhos ideais para o interior do movimento operário. Do proletariado o queorigina é a política de independência de classe, isto é a da luta revolucioná-ria. Fora dela é impensável sustentar a independência dos sindicatos e daCUT frente ao Estado. A linha da CUT impressa pela Articulação vem defora e exprime a adaptação das direções sindicais ao capitalismo. Agenera-lização das greves começa a se esbarrarmais seriamente nessa política, queimpede as massas de apoderarem mais solidamente dos sindicatos e utili-zá-los para construir organismos superiores de centralização e combate.Ao mesmo tempo emque as massas se lançampara se assenhorar dos seusorganismos, a burocracia tira-lhes a direção revolucionária. Basta ver a po-lítica de esvaziamento do movimento pelas comissões de fábrica, o isola-mento das que existem, seu encabrestamento burocrático e a quebra degreves empleno avanço. Aevolução da burocracia centrista para a integra-ção mais funda nas relações do Estado atesta a impossibilidade do refor-mismo, por mais esquerdista que seja, de sustentar posições deindependência diante do capital. Pelas condições econômicas atuais, emlu-gar nenhum do mundo capitalista o ‘reformismo pode jogar um papel mí-nimo de progresso. Num país semi-colonial, como o Brasil, onde o lugarpreponderante é o do capital monopolista, a burguesia nacional é débil e oproletariado socialmente forte, não cabe absolutamente a existência de sin-dicatos reformistas independentes. Pelas mesmas razões, a viabilidade deuma ampla democracia do Estado, sob a qual as massas possam conhecerreformas sociais é materialmente impossível. Desta maneira, os objetivosda Articulação apenas conduzirão ao sacrifício de todo movimento, caso oproletariado não consiga, empouco tempo, por empé uma direção classis-ta. Contra isso, impõe-se a defesa de uma política sindical revolucionária,que desenvolva a CUT e os sindicatos em meio à luta de classes, quepossibilite criar amplas organizações de massa e que defenda a estratégia dogoverno proletário. Fora dessa linha é falso pregar a independência, a de-mocracia sindical, o antiburocratismo e a unidade de ação dos explorados.

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IX - SUPERAR A CRISE DE DIREÇÃO

A fusão do movimento operário, que se organiza na defesa das reivin-dicações elementares, comoprograma e a estratégia da revolução socialistaé urna tarefa a ser trabalhada em contraposição ao reformismo imperante.Isso significa construir o partido operário revolucionário que ainda nãoexiste no país. O PT, ao ser lançado, inaugurou uma via de construção deum partido operário independente, que se se construísse como tal, evolui-ria emdireção de umpartido revolucionário internacionalista. Mas o triun-fo em toda linha do socialismo reformista da Articulação liquidou essapossibilidade. Isto é, se concebeu um programa e uma política opostos àluta pelo programa operário junto aos explorados. O objetivo essencial desuperar a crise de direção provocada pelo estalinismo, aliado do nacionalis-mo, foi rejeitado pela Articulação. Mais do que isso, ela ressuscitou, comtodo tipo de adaptação, as colocações centrais do estalinismo e donaciona-lismo burguês. A força alcançada pela Articulação, graças à cooptação daburocracia sindical centrista, é responsável, em grande parte, pelo enormeatraso na construção de uma linha socialista no seio do proletariado. Acri-se capitalista chegoua grandes proporções, as massas evoluíramconsidera-velmente, mas se acham em atraso em relação às tarefas colocadasobjetivamente pela crise, e a formação da vanguarda emtorno da estratégiamarxista é incipiente. Aausência de uma direção revolucionária, estrutura-da sob um programa anticapitalista é o maior obstáculo à constituição doproletariado como dirigente do movimento nacional das massas.

Acontribuição das correntes pseudo-trotskistas para obstaculizaro de-senvolvimento do embrião do partido revolucionário tem também seupeso na balança.ACS, a DS e o Trabalho, cada uma sua maneira, se torna-ramtributárias do governo democrático popular e embrenharam-se no cir-co eleitoralista montado pela Articulação.Os revisionistas do Programa deTransição agemcomoverdadeiros amortecedores ao se constituíremnumasemi-oposição à Articulação. Se existem inúmeras diferenças entre essascorrentes, ao formularem suas posições sob o governo democrático popu-lar e ao defenderem o movimento social em função das eleições, se unememtorno da mesma estratégia da Articulação. Antes se escudavamna con-signa do governo dos trabalhadores, velando-o com o conteúdo do socia-

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lismo pequeno burguês. Agora adotam o governo democrático popular,expondo assim o verdadeiro sentido democrático e eleitoreiro do governodos trabalhadores. Essas correntes se reivindicam do socialismo, mas ne-gama sua essência estratégica, a ditadura do proletariado. Nisso consiste oseu oportunismo, altamente prejudicial porque retarda e destrói o avançopolítico de uma parcela militante que se destaca na luta. Por essa razão, aconstrução de uma corrente pelo partido revolucionário passa poruma ba-talha programática constante contra todas as variantes do reformismo ecentrismo pequeno-burguês.

AorganizaçãoCausaOperária (OQI) teve uma importante intervençãodurante um período e foi responsável por traçar uma linha principista nosprimórdios do PT. Entretanto, nos últimos tempos, vem renunciando-a emanifestandoo traço característico comumdo centrismoda negação da di-tadura do proletariado. A sua estratégia do governo dos trabalhadoresmostrou serdistinta da ditadura doproletariado.No interiordo importantechoque aberto pela formulação do governo democrático popular e peloscondicionamentos democratizantes da situação política, a OQI levanta aconsigna do governo dos trabalhadores da cidade e do campo e o “progra-ma” para as eleições e para candidatura de Lula.Dirige toda sua linha para amaterialização de umgoverno dos trabalhadores através da candidatura doPT. Nessa virada, o fundamental está em que concebe a possibilidade deumgoverno eleito vir a ser instrumento para a revolução.AOQI armou-seda idéia de que a via eleitoral é um instrumento para a constituição de, umgoverno revolucionário, que coado tal serviria de ponto de apoio para a to-mada do poder. Tal governo não teria o poder, mas, pelo fato de possuir oprograma de transição e de se apoiarnas massas, serviria de meiopara a lutapelo poder. Quer dizer que um governo anticapitalista surgiria de ummovimento eleitoral (tendo sempre para a OQI as massas mobilizadas pordetrás) para colocarna ordemdo dia uma crise diretamente revolucionária.Desta forma, a bandeira do governo dos trabalhadores da cidade e do cam-po ganha concretude, para a OQI, na situação de crise frente à possibi-lidade de Lula arrebataruma grande virada eleitoral das massas, que expres-sarão seu descontentamento no campo eleitoral.Aluta pela realização des-sa possibilidade no terreno eleitoral tem o valor de preparação dascondições para a tomada do poder. Uma vez que o país atravessa uma

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situação pré-revolucionária, a conquista do governo no campo eleitoralaplainaria o terreno para a revolução. Por essa razão, o concreto é a defesado governo os trabalhadores e não a ditadura do proletariado, pois esta se-ria propagandismo abstrato. Tomada do ponto de vista eleitoral, para sechegar ao, governo e não ao poder, de fato, -não apenas seria propagandis-mo abstrato como tambéma mais completa estupidez. Entretanto, a estra-tégia da ditadura proletária, levantada em defesa do desenvolvimento doeixo revolucionário da situação, contra a enorme pressão democratizante econtra o engodo da via eleitoral para se atingir ‘um’ governo dos trabalha-dores (ou governo democrático popular) ganha a concretude na interven-ção. E não por que se coloque a tomada imediata do poder, mas porqueapresenta a via revolucionária, em certo grau colocada objetivamente peloascenso da classe operária, como o único caminho real de se chegar ao go-vernooperário e camponês e instauraro poderdamaioria explorada contraa minoria exploradora. A estratégia final da ditadura proletária não serveapenas para o momento insurreicional. Pelo contrário, se ela for tomadanesse sentido se tornaria, aí sim,uma abstração.Na verdade, ela condicionatodo desenvolvimento político do partido junto às massas. Semisso não hácomo preparar o terreno pari a chegada da crise diretamente revolucioná-ria. Se se fala que é necessário amadurecer política e organizativamente oproletariado para a evolução da etapa pré-revolucionária, então é impres-cindível defender desde já a ditadura do proletariado conectada com ospassos concretos domovimento de massas, que porora tempor suporte asreivindicações econômicas. Ao se tratar das eleições, onde jorra todo tipode demagogia democratizante, mais imperativo ganha a colocação daestratégia revolucionária. Ao contrário, a OQI, ao pretender dar materiali-dade ao seu governo dos trabalhadores através da luta eleitoral, faz oposi-ção à ditadura proletária. Com isso, se aproxima de toda a esquerdarevisionista do trotskismo e alimenta a estratégia democratizante da Arti-culação. Fundamentalmente, por ser incapaz de golpeá-la na questão cen-tral do poder e do método. Com seu ataque às posições do POR e com adefesa de um governo instituído pelos mecanismos democráticos, a OQIabriu mão de toda uma tradição de resistência ao eleitoralismo. As conse-qüências são profundas, pois o programa defendido perde completamenteseu sentido. A substancia do Programa de Transição somente tem vigor

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sob a estratégia da revolução e ditadura proletária, aliás não pode haver oprograma revolucionário sem a correspondente estratégia e tática.

Anegação pela OQI da defesa inconfundível da estratégia revolucioná-ria, principalmente agora que o reformismo vem à tona com todo seu Po-tencial e suas variantes esquerdistas, ameaçando encetar umduro golpe noavanço conquistado pelas massas, faz parte da dificuldade do proletariadoem superar a crise de direção. Essa dificuldade deita suas raízes profundasna contra-revolução burocrática do estalinismo, que provocou no mundointeiro um retrocesso histórico nos patamares alcançados pelo marxismointernacionalista coma Revolução Russa.Adegenerescência do PCB, logononascedouro, impediupor todo umperíodo a colocação do partido revo-lucionário internacionalista. Atualmente, o capitalismo retomou a dimen-são de crise histórica, provocando urna grande derrocada do estalinismo.Odeclínio do estalinismo aparece a olhos vistos. Tornou-se bem evidenteseu papel de sustentação da ordem burguesa. Entretanto, a crise do PCBnão abriu espaço apenas para o nascimento do partido revolucionário,mastambém para todo tipo de variante pequeno-burguesa centrista, que trazpara o interior do movimento operário a impotência política da pequenaburguesia frente à tarefa de destruição do capitalismo.Tal fenômeno expli-ca, em parte, a extraordinária dispersão das correntes políticas.

O zig-zag da OQI, que vem ocorrendo há algum tempo, é produtoda incapacidade de sua direção suportar o peso dos acontecimentoscontundentes da crise capitalista. Essa incapacidade reside na não in-corporação de fato da estratégia da ditadura proletária, isto é, do Pro-grama da IV Internacional.

Aconstrução do partido operário revolucionário surge como neces-sidade premente, pois, de um lado, o proletariado cresce em força obje-tiva diante da burguesia em crise, de outro, se consolida a posiçãodemocrático-reformista no PT. A luta pela independência do proletari-ado se colocará commaior intensidade.Ganha mais força e importânciaa necessidade da luta pela formação das direções revolucionárias nomovimento operário e elas só poderio se estrutural plenamente median-te o partido revolucionário.

A tendência POR nasce nesta circunstância extremamente difícil paraorganizar a vanguarda em torno da tarefa de construção do Programa e de

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elevação das massas no sentido da estratégia proletária. O seu surgimentoocorre numa situação em que o maior impedimento para o movimento demassa se transformar em força anticapitalista consciente se concentra napresença marcante das direções burocráticas democratizantes, que arras-tamatrás de si as correntes do socialismo pequeno-burguês,Nesse quadro,a debandada estratégica prematura da OQI rompe importantes conquistasalcançadas na luta contra a esquerda democratizante, colocando-a a beirade uma descaracterização total. A tendência POR é engendrada por essacrise brutal perante a qual só alcançamos a devida compreensão observan-do o potencial revolucionário depreendido pelo proletariado e o bloqueiosofrido pela ausência do partido operário. Tanto a sua fraqueza quanto asua força residem nessa contradição. A fraqueza comparece no fato de terde iniciar a formação do programa e de quadros, nas condições de reduzidainfluencia no movimento político da classe operária; a fortaleza está nacompreensão de que a degenerescência esquerdista tem sua fonte na inca-pacidade destas correntes de se conformarem sob a espinha dorsal da es-tratégia da ditadura proletária e dos métodos de luta que o proletariado, nasua ação, exige para derrotar o poder burguês. Essa situação obriga aT.PORa dar a máxima atenção às formulações das bases programáticas nopróximo período, sem as quais não poderá começar a existir. E elas só po-derão ser alcançadas pela luta política no interior do movimento operário,no sentido da superação da crise de direção. A experiência da vanguardacom os democratizantes reverterá para o partido operário caso a batalhapelo programa e por uma orientação política revolucionária seja dada emtodas as situações possíveis. A derrocada do reformismo e do centrismoserá inevitável e dela nascerão as melhores condições para progredir o par-tido do proletariado. 0 delineamento de uma política de. resistência à ondademocratizante e de ofensiva no assentamento da estratégia será decisivopara o embrião do partido se fortalecer no terreno de luta de classes.

X - DESENVOLVER AS CONSIGNAS

As reivindicações econômicas, como reposição salarial, aumento real,reajuste automático mensal e salário mínimo real atraemo interesse imedi-ato das massas. Motivados pela reposição salarial milhões de assalariados

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saíram em greve. O piso salarial do DIEESE também mobilizou um im-portante setor ligado ao funcionalismo. O conjunto integrado dessasreivindicações se opõe à depreciação de mais de 50% dos salários, à supe-rexploração e ao mecanismo inflacionário de confisco. Elas servem comodefesa das condições mínimas das massas e como ponto de partida para aluta anticapitalista.Aelas aCUT, emsua plataforma, agrega as bandeiras denão pagamento da dívida externa e reforma agrária sob o controle dostrabalhadores. Em conjunto, essas consignas têm grande valor para unifi-car as massas, como um primeiro passo; levá-las ao confronto com os ex-ploradores e para permitir a colocação das tarefas de expropriação, semindenização dos grandes ramos da produção e do capital financeiro. Aten-dência objetiva dos trabalhadores é a de caminharpara uma maior centrali-zação do combate. E ela passará pela assimilação prática da plataforma deluta pelos trabalhadores. Isso exige a defesa diuturna de tal plataforma,como fator de mobilização e organização independente da classe trabalha-dora. É necessário, portanto, desenvolver jun. to às reivindicações as for-mas de ação direta (greves, ocupações, manifestações, piquetes) eorganização de massa permanente (comitês, conselhos, comissões fabris.Aunidade de ação das massas, tendo à cabeça o proletariado, as levará a sechocar frontalmente com os mecanismos de opressão (Estado, forças ar-madas, parlamento, etc) e com as relações capita. listas de propriedade.Esse passo é fundamental para amadurecer a tarefa de expropriação e to-mada do poder pela via revolucionária.

A burocracia democratizante não só combate a ligação de tal platafor-ma como programa operário de expropriação, como rompe a própria uni-dade das consignas elementares, tornando-as quase sem valor para acentralização da luta dos trabalhadores. Ela acaba por impedir que as mas-sas empunhem as bandeiras estabelecidas nos congressos da CUT tornan-do-as formais. A burocracia sindical e os reformistas não podemsobreviver semse apoiar nos trabalhadores. Por isso, admitemsob pressãoas reivindicações e até certo ponto a mobilização. Mas, para manterem ocontrole das massas e compareceremcomouminstrumento de negociaçãoconfiável frente aos olhos da burguesia, são obrigados a bloquear odesenvolvimento prático das consignas colocadas pela situação. Por exem-plo, levantama reposição salarial para obter trocados, pois afinal de contas

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algumresultado temde apresentar.Não apenas não vão a fundo na mobili-zação pela reposição, como desfazem a ligação desta com a escala móvel ecomo saláriomínimo real.Nopaís há cerca de 19 milhões de trabalhadoresque vivemdo salário mínimo e outros tantas até 3 mínimos, no entanto, ostrabalhadores não se levantaramgeneralizadamente contra essa escravidãosalarial devido ao fato da burocracia e reformistas esvaziarem o seu pesonas lutas. Por duas vezes, os parlamentares do PTvotarama favor do salá-rio mínimo de fome, depois de miseráveis conchavos no Congresso.Apo-lítica salarial recémvotada é uma caricatura da escalamóvel, isto é, preservao mecanismo do arrocho via inflação. Pois lá estiveram os petistas searrastando por detrás dela. Tais exemplos demonstram muito bem o con-teúdoda política democratizante e sua funçãode freio das lutas de massa.

Se isso se passa com as reivindicações mínimas de existência da forçade trabalho, o que dirá, então, comaquelas de cunho antiimperialista e anti-latifundiária? Para a Articulação, sequer se coloca o não pagamento da divi-da externa. Ela posiciona-se pela renegociação com ás governosimperialistas e chama as burguesias nacionais dos países oprimidos, atravésde seus governos, a fazerem uma frente de devedores para pressionar poruma nova ordemmundial capitalista. Essa formulação contraria completa-mente os objetivos da luta pelo não pagamento, que faz parte de um con-junto de tarefas do movimento da maioria nacional. O mesmo se passacom a reforma agrária. Ao invés de ser uma consigna para os camponesescombateremos latifundiários e se aproximaremde uma aliança como pro-letariado, ao contrário, é transformada em um ponto de negociação parla-mentar e estatal em torno dos chamados latifúndios improdutivos.Desarma-se, assim, a luta pela expropriação e pelo controle da terra peloscamponeses. Em seu lugar se pretende implantar a linha conciliadora e pa-cifista dos assentamentos agrários sob o regime capitalista de produção. AArticulação dá a entender que o impasse dos assentamentos (controladospela Igreja) se deve à inexistência de um governo democrático popular. Esacam a conclusão histórica valiosa, para encobrir o seu leviano democra-tismo, de que as reformas democráticas num país atrasado e oprimidocomo o Brasil conduz ao socialismo.De fato, a luta de massa pela posse daterra e por sua nacionalização e a de expulsão do imperialismo conduzemao desalojamento da burguesia do poder, possibilita a formação de umgo-

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verno operário e camponês e a transformação das tarefas democráticas emsocialistas. Não obstante, a tentativa reformista de substituir a força revo-lucionária das massas pela formação de um governo eleito que iria realizarmudanças paliativas não conduz ao socialismo, mas sim à con-tra-revolução, ao golpe militar.

Estas duas linhas opostas deixamclaro que os interesses dos campone-ses pela reforma agrária dependemestritamente da abertura de umproces-so revolucionário, o qual por sua vez depende do amadurecimento doprograma e estratégia proletárias. As consignas agrárias e antiimperialistas,bem comer as mais elementares, ao serem circunscritas ao campo do naci-onal-reformismo tornam-se sem valor para a iniciativa própria das massase as desarmam do papel de protagonista das transformações. E por issoque o PT, para se constituir uma frente democratizante com outros parti-dos e para se mostrar inofensivo ao capital, foiobrigado inclusive a retroce-der em posições formais quanto à questão agrária, dívida externa,estatizações. E, também, não é por outra razão que a CUT tenha tido umaredução de seupotencial capaz de desenvolver a fundo as consignas de lutano seio das massas e servirde canal para a constituição da aliança operária ecamponesa.Desta forma, a tarefa de aglutinar as massas emtorno das con-signas organicamente ligadas, comoumprimeiro passo de combate antiim-perialista continua de pé, e somente poderá ser desenvolvida através davanguarda que se diferencia do reformismo, que se ponha a formar o pro-grama de transição e que intervenha solidamente no movimento dos traba-lhadores, dando vigência às consignas e ajudando a evolução das massas.

O ponto de partida está na defesa prática da plataforma de reivindica-ções de reposição total e completa das perdas, aumento geral dos salários,salário mínimo real, escala móvel dos salários, reforma agrária sob controledos trabalhadores e não pagamento da dívida externa. A ela se acrescentaas consignas políticas de total liberdade política e sindical, direito irrestritode greve, direito a organização dos comitês de autodefesa armados contra aviolência policial e para militar, pelo fimde todo aparelho repressivo, direi-to de organização e ocupação das fábricas, liberdade política sindical paraos soldados e marinheiros, eleição pelas tropas de todos os cargos de co-mando.Esse rol de consignas e tarefas se interligamàs de expropriação dosramos fundamentais da produção e comercialização, estatização do

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sistema financeiro, monopólio estatal do comércio exterior e nacionaliza-ção de todas as terras. Todos eles se condicionam ao objetivo da ditaduraproletária, que deverá ser explicada constantemente e colocada como aúnica possibilidade de realizar o programa de transformações reais. Deconjunto esses pontos servemde base para a intervenção agitativa e propa-gandística, para defender a formação da frente revolucionária antiimperia-lista e para o início da tarefa histórica de formação de um Programa deTransição para a revolução no Brasil.

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