Respiração trompete

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/25/2019 Respirao trompete

    1/4

    Respirao - Parte IArtigo publicado na Revista Magnficas

    Por Fernando Dissenha

    Introduo

    Os leitores do meu primeiro artigo j esto familiarizados com o nome do grande artistaArnold Jacobs, ue foi um dos maiores especialistas no ensino de instrumentos de metalno mundo! "epois de mais de cin#enta anos de e$peri%ncia, Jacobs sintetizou aimport&ncia do estudo da respirao da seguinte maneira'()tima musica pode ser feitasem um con*ecimento espec+fico do corpo! "a mesma maneira ue, um motoristacomum no necessita saber sobre a mec&nica do carro para dirigir! ntretanto, para um

    piloto profissional, o con*ecimento da parte mec&nica do carro muito importante! Amesma abordagem se aplica ao con*ecimento sobre respirao! .o dia-a-dia, no necessrio pensar em como respirar corretamente! /oda0ia, para uma ati0idade mais

    especifica como tocar um instrumento, o con*ecimento da respirao pode serbenfico1! 23rederi4sen, 5667, p!668!

    Ar como Combustvel

    O ar um gs e$istente na atmosfera terrestre, constitu+do por o$ig%nio 29:;8,nitrog%nio 2$ido de carbono, arg?nio,e outros gases nobres! @uando respiramos, o o$ig%nio absor0ido e, depois de serealizarem as trocas necessrias para gerar energia indispens0el manuteno da 0ida,e$pelimos o gs carb?nico resultante das ueimas org&nicas! Busicalmente falando, oar tambm o (combust+0el1 para os lbios produzirem 0ibraCes ue, amplificadas deacordo com propriedades acDsticas de cada instrumento, geram o som! Para o professorE*ris Fe44er - com uem estudei na Juilliard Gc*ool - o sopro funciona como o arco

    para os instrumentistas de corda! Gem mo0imento do arco no e$iste som, pois as cordasno 0ibram! Gimilarmente, sem o sopro 0ibrando os lbios, no e$iste som! Para asati0idades cotidianas, usamos somente uma peuena poro da nossa capacidaderespirat>ria! 3re#entemente 2e felizmenteH8 nem precisamos pensar nisso! O nossocorpo cuida automaticamente de tomar o ar necessrio e de como utiliza-lo da formamais eficiente! As e$ig%ncias da mDsica 2frases, durao de notas, din&micas,articulaCes, etc!8 nos obrigam a ter um controle maior sobre como sopramos!

    Inspirao

    A inspirao - tomada de ar - pode ser feita pelo nariz ou pela boca! "e0er+amos semprerespirar pelo nariz, ue purifica, umedece e auece o ar, tornando-o ideal para ainspirao! Buitas 0ezes, porm, de acordo com as necessidades musicais, precisamostomar ar rapidamente e a inspirao pelo nariz lenta! A tomada de ar pela boca resultaem uma uantidade maior de ar inalado em menor tempo! Alguns e$celentes mDsicostambm usam respiraCes rpidas pelo nariz no meio das frases, ou ainda tomam ar pela

    boca e nariz simultaneamente! m ponto importante na inspirao e manter a gargantarela$ada o tempo todo para reduzir a frico do ar ao m+nimo! A mel*or forma dedemonstrar o rela$amento necessrio da garganta fazer um bocejo! Repare uando

    bocejar a sensao de abertura e rela$amento da garganta! A l+ngua tambm no de0eimpedir a tomada de ar! $perimente inspirar posicionando a l+ngua como se esti0esse

  • 7/25/2019 Respirao trompete

    2/4

    falando (i1, (%1, (1, e finalmente (a1! Progressi0amente poss+0el sentir ue obloueio passagem do ar diminui por conse#%ncia, mais ar inspirado! O famosoprofessor James Gtamp sugeria aos alunos utilizar a pala0ra (up1 2soa (ap1, emportugu%s8 no momento da inspirao!

    Diafragma

    O diafragma o mDsculo ue separa a ca0idade abdominal da torcica! @uandocontra+do, o diafragma desce, aumentando a ca0idade do peito e diminuindo a pressointerna do ar, ue por conse#%ncia, entra nos pulmCes! O funcionamento do diafragmase assemel*a ao de um pisto de antigos borrifadores caseiros de inseticida! @uando o

    pisto pu$ado para trs, a presso interna do reser0at>rio do l+uido diminui e, uandoo pisto empurrado para frente - como para espirrar o inseticida - a presso internaaumenta! Para uma respirao mais profunda, as costelas so ele0adas e e$pandidas!Peuenos aumentos em 0olume podem ser obtidos ainda com adicional ele0ao dascostelas por mDsculos localizados nas costas e pescoo! Pode-se obser0ar tambm ue

    os >rgos do corpo logo abai$o do diafragma ficam com menor espao, o ue causauma e$panso do di&metro da cintura! K importante enfatizar esse ponto, pois uandoafirmo ue de0emos utilizar em primeiro lugar a parte bai$a dos pulmCes para respirar,no estou me referindo ob0iamente a tomar ar na cintura! Alis, isso umaimpossibilidade f+sicaH A e$panso da cintura um resultado da contrao do diafragmano momento da inspirao! A utilizao inicial da parte bai$a dos pulmCes tambmdefendida pelo professor alemo Balte Lurba! Ge o indi0+duo s> respirar com (o peito1- parte alta dos pulmCes - ele usar somente uma parte da capacidade total dos pulmCes!Algo como usar somente uma parte de uma esponja como e$plica o professor Lurba! Geno usada, a outra parte da esponja ficar dura, uebradia e estragar com o tempo pelafalta de uso! /ome cuidado tambm para ue seu corpo no o engane na inspirao!$plico mel*or' muitos instrumentistas realizam todos os mo0imentos fisicamentecorretos na tomada de ar, mas infelizmente pouco ar entra nos pulmCes! .o tentesimplesmente e$pandir o corpo - pense em tomar para e$pandi-lo! Alerto tambm ue ofumo inadmiss+0el para ualuer instrumentista de sopro com ambio de umacarreira longa e uma 0ida saud0el!

    Quantidade de Ar

    m 9::5, em uma master class em Go Paulo, P*ilip Gmit* - grande artista da3ilarm?nica de .o0a Mor4 - usou uma abordagem esporti0a para e$plicar uanto ar

    necessrio para tocar! le comparou a uantidade de ar a ser tomada com tacadas em umjogo de golfe! Ge a bola est no green - regio pr>$ima do buraco - no * necessidadede uma grande tacada! K a situao, por e$emplo, de tocar uma nota de curta durao noregistro mdio do instrumento! Por outro lado, se temos uma longa frase musical,

    podemos pensar como um full sNing - balano total do corpo - o ue semel*ante e auma tacada de centenas de metros! .o * necessidade de sempre se tomar o m$imo dear para tocar! K arriscado, porm, calcular o m+nimo de ar ue ser usado para uma

    passagem musical! embre-se sempre ue alguma (surpresa musical1 pode acontecer,especialmente nos finais de frase! Alm do mais, o ar tem ue manter todas as funCesf+sicas e mentais do corpo! K sempre recomend0el tomar mais ar do ue 0oc% imaginaue 0ai precisar!

  • 7/25/2019 Respirao trompete

    3/4

    Respirao - Parte IIArtigo Publicado na Revista Magnficas

    PorFernando Dissenha

    Expirao

    Eomo j mencionei na primeira parte desse artigo 2Re0ista Bagn+ficas 58, o nossocorpo cuida automaticamente da inspirao e da e$pirao! Para ati0idades cotidianas, ae$pirao passi0a - baseada na elasticidade dos pulmCes - suficiente! ntretanto,uando tocamos um instrumento de sopro, necessitamos de um controle maior dauantidade e da 0elocidade ue o ar soprado! O nosso corpo j tem (programas1

    prontos para realizar essa tarefa!Eomo 0oc% apaga as 0elas de um bolo de ani0ersrioQ A resposta fcil' soprando! oc%no precisa pensar como seu corpo far essa tarefa! oc% 0ai simplesmente tomar muitoar, e soprar continuamente para realizar esse (produto1! O seu corpo automaticamente

    decidir ue mDsculos sero utilizados para cumprir o ue 0oc% deseja fazer!sse (programa1 tambm funciona uando tocamos um instrumento de sopro' tomamosar e pensamos como uma frase de0e soar! Bais uma 0ez, o corpo se encarregar demo0er o ar necessrio para ue esse (produto1 ue imaginamos 2frase musical8, sejacriado! sse conceito, c*amado de Sind and Gong 2ento e Belodia8, a base de toda a

    pedagogia de Arnold Jacobs e outros e$celentes artistas de instrumentos de sopro nomundo! Infelizmente, alguns professores ainda ensinam o conceito eui0ocado de(suporte diafragmtico1 2sic8! Parece >b0io, mas uando e$piramos, os mDsculos dainspirao no de0em ser ati0ados! A tenso no diafragma no momento da e$piraogera um conflito de funCes no corpo, podendo disparar uma situao c*amadacientificamente de Banobra de alsal0a! sse fen?meno ocorre uando a glote fec*ada e os mDsculos e$pirat>rios so ati0ados ao m$imo, aumentando assim a

    presso intra-abdominal e intratorcica! ssa e$pirao forada contra a glote fec*ada usada no esporte 2le0antamento de pesos8, na medicina 2como ferramenta paradiagnosticar anomalias no corao8, e em outras ati0idades ue e$igem uma aplicaorpida de fora por um per+odo curto! Para os instrumentistas de sopro, a Banobra dealsal0a muito prejudicial, e de0e ser e0itada a todo custo!

    .o artigo /*e "Tnamics of Lreat*ing de Ue0in UellT, o professor "a0id Eugell2.ort*Nestern ni0ersitT Bedical Gc*ool8, descre0e um interessante estudo realizadona Inglaterra com alguns cantores profissionais! 3oi obser0ado o mo0imento do

    diafragma durante o canto, utilizando um euipamento espec+fico para este fim!Primeiramente, os artistas eram orientados a cantar usando o (suporte diafragmtico1em seguida, os mesmos cantores repetiram o teste de forma supostamente errada, ouseja, sem o (suporte1! Eomo esperado, o resultado dos dois testes foi e$atamente igual!O suporte no 0em da tenso do diafragma, mas sim, do mo0imento do ar - ueacontece pela atuao dos mDsculos abdominais e peitorais!

    Menos Ar, Mais ora

    $iste uma relao in0ersa entre a uantidade de ar nos pulmCes e a fora muscular parasolt-lo! $plico mel*or' menos ar nos pulmCes significa maior esforo f+sico para

    tocar! sse conceito pode ser demonstrado usando o e$emplo de dois tubos de pastadental - um c*eio e outro uase 0azio! .o tubo c*eio, uma peuena presso dos dedos

  • 7/25/2019 Respirao trompete

    4/4

    resultar em uma sa+da rpida da pasta! Eompare agora a situao no tubo uase 0azio -0oc% pode pu$ar, esticar, enrolar e espremer o pobre tubo, e uase nada de pasta 0ai sair!K *ora de comprar um no0o tuboH$perimente testar esse conceito no seu instrumento, tocando uma longa frase, mas com

    pouco ar nos pulmCes! V medida ue o ar 0ai acabando, os mDsculos abdominais 0o

    trabal*ar cada 0ez mais! Apesar desse grande esforo muscular, somente uma peuenauantidade de ar ser mo0ida! oc% respirou pouco - o (tubo1 est 0azio! K fcil pre0erue essa coluna de ar no ser suficiente para (abastecer1 a 0ibrao de seus lbios! 2ero artigo mbocadura na Re0ista Bagn+ficas 578!Respirar bem ajuda muito nas retomadas de ar - as inspiraCes entre as frases! Eomoanalogia, pense no tanue de combust+0el de um carro! Algumas pessoas reabastecemsomente uando o tanue c*ega na reser0a, e ainda assim, colocam poucos litros! Ge0oc% dirigir em terreno +ngreme, o carro ter dificuldade para obter o combust+0el nofundo do tanue, e 0oc% pode ficar a pH oltando ao instrumento, uando 0oc% respira

    pouco - c*egando (na reser0a1 em cada frase - o esforo muscular para e$pelir o ar sermuito grande! embre-se' menos ar, mais fora! Alm disso, no recomend0el

    usarmos auele Dltimo ar dos pulmCes, tecnicamente c*amado de (ar residual1, pois inconsistente! 0ite ue o ar nos pulmCes fiue (na reser0a1, inspire mais e com maiorfre#%ncia!

    !resso e lu"ncia

    Arnold Jacobs descre0ia a diferena entre presso e mo0imento do ar da seguintemaneira' (Eom o 0ento 2sopro8, sempre e$iste presso de ar! Eom presso de ar, nemsempre e$iste 0ento1 23rederi4son, p! 5568! /este esse o conceito de presso de arcolocando o seu dedo indicador no centro dos seus lbios, forme a sua embocadura,inspire, e segure o ar por alguns segundos! @uando 0oc% soltar o dedo e e$pirar, um

    peueno estouro ir acontecer - isso o ar sob presso! .o in+cio, um grande 0olume dear ser e$pelido, mas por poucos instantes, caso no *aja um sopro cont+nuo!Para demonstrar a flu%ncia de ar coloue a palma da mo na frente da boca e sussurre(uuuuu1 - sinta o grande 0olume de ar e$alado, sob bai$a presso! Gopre agora

    pronunciando (sssss1! Repare agora a peuena uantidade de ar, mas dessa 0ez, e$aladocom muita presso!specialmente nas din&micas sua0es no registro agudo, busue sempre a sensao defluir o ar! Pretendo abordar mais o tema de estudos de flu%ncia 2floN studies8 em futurosartigos!

    Concluso

    .os festi0ais de mDsica ue participo, percebo ue os instrumentistas de sopro aindat%m muitas dD0idas sobre o correto uso da respirao! Infelizmente, o descon*ecimentoe o uso de conceitos eui0ocados atrapal*am o desen0ol0imento musical dosestudantes! K fundamental portanto, ue os professores busuem a abordagem correta

    para ensinar as comple$idades da respirao! spero ue esse artigo sir0a como maisuma fonte de pesuisa para esclarecer algumas dD0idas sobre esse assunto!