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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR DE PESSOAS EM RODOVIAS JOSÉ CARLOS VICENTE Itajaí, junho de 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR DE PESSOAS EM RODOVIAS

JOSÉ CARLOS VICENTE

Itajaí, junho de 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR DE PESSOAS EM RODOVIAS

JOSÉ CARLOS VICENTE

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc Marcos Alberto Carvalho d e Freitas

Itajaí, junho de 2009

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus, pois Dele vem a nossa existência,

Agradeço a minha família, pela compreensão nas horas de ausência, em virtude da realização

deste,

Agradeço ao Professor Marcos, pelas aulas já ministradas e pela sua dedicação e auxílio pondo

um fim a esse tormento.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha esposa Joana, que sempre me animou e me deu força;

A minha linda flor Gabriella, que pertence ao jardim dessa família. Jóia linda reluzente que

enfeita minha vida;

A meu pai (in memorian) Sr. José e a minha mãe

Sra. Olivia;

E aos meus irmãos, Márcia, Abel e Kátia;

Aos colegas da turma companheiros da história, professores e funcionários;

Vocês estarão guardados no meu peito e na memória.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, junho de 2009

José Carlos Vicente Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando José Carlos Vicente, sob o título

RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR DE PESSOAS EM

RODOVIAS, foi submetida em 17 de junho de 2009 à banca examinadora

composta pelos seguintes professores: Marcos Alberto Carvalho de Freitas

(Presidente da Banca) e Emanuela Cristina A. Lacerda (Examinadora), tendo a

mesma sido aprovada.

Itajaí, junho de 2009

Professor MSc Marcos Alberto Carvalho de Freitas Orientador e Presidente da Banca

Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC Apelação Cível ART. Artigo CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002 CDC CPC

Código de Defesa do Consumidor Código de Processo Civil

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 DJ Diário da Justiça DES. DF

Desembargador Distrito Federal

EXMO. Excelentíssimo J. MG

Julgamento Minas Gerais

Nº. Número P. Página REL. REsp

Relator Recurso Especial

RJ RS SP

Rio de Janeiro Rio Grande do Sul São Paulo

SR. Senhor STF Supremo Tribunal Federal STJ Superior Tribunal de Justiça T. TAC TJDF

Turma Tribunal de Alçada Cível Tribunal de Justiça do Distrito Federal

TJMG TJRS

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

TJSC TJSP

Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

VOL. Volume § Parágrafo

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Contrato

O Contrato é um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade

de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos.

Gonçalves [2007, p. 3].

Contrato de Adesão

É aquele em que os contraentes não discutem as cláusulas, é de adesão porque

um dos pactuantes predetermina, ou seja, impõe as cláusulas de negócio jurídico.

Gagliano [2007, p. 121].

Contrato de Transporte

Contrato de Transporte é aquele em que uma pessoa ou empresa se obriga,

mediante retribuição, a transportar, de um local para outro, pessoas ou coisas

animadas ou inanimadas. Diniz [2006, p. 471].

Incolumidade

A palavra incolumidade significa a condição de estar ileso, isento de perigo, dano

ou ofensa, tanto a pessoa natural quanto a coisa pública ou privada. Guimarães

[2000, p. 98].

Passageiro

É a pessoa que vai ser transportada. Diniz [2006, p. 493].

Responsabilidade

A palavra responsabilidade tem sua origem no verbo latino respondere,

significando a obrigação que alguém tem de assumir com as conseqüências

jurídicas de sua atividade. Gagliano [2006, p. 1].

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Responsabilidade Civil

Aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou

patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, por

pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples

imposição legal. Diniz [2006, p. 40].

Responsabilidade Contratual

Atribui-se ao descumprimento ou má prestação de uma atividade à qual alguém

estava obrigado em virtude de liame contratual [...]. Diniz [2006, p. 138].

Responsabilidade Extracontratual

É quando a responsabilidade não deriva de Contrato. Nesta, o agente infringe um

dever legal, pois não há nenhum vínculo jurídico existente entre a vítima e o

causador do dano, quando este pratica ato ilícito. Gonçalves [2007, p. 26].

Responsabilidade Objetiva

Responsabilidade esteada na teoria do risco. É através dessa teoria que, aquele

que, através de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros deve ser

obrigado a reparar. Rodrigues [2001, p. 11-12].

Responsabilidade Subjetiva

Responsabilidade Subjetiva é a decorrente de dano causado em função de ato

doloso ou culposo. Gagliano [2006, p. 13].

Transportador

Transportador ou condutor é aquele que se obriga a entregar a coisa ou o

Passageiro. Venosa [2007, p. 317].

Transporte de Pessoas

Transporte de pessoas é aquele que decorre da condução de Passageiros,

acompanhados ou não de bagagem, com bilhete expedido pelo Transportador ou

terceiro por ele autorizado. Lisboa [2002, p. 242].

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SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................... XI

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ........................................ .............................................. 4

RESPONSABILIDADE CIVIL ............................ ................................. 4

1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS ............................................................................... 4

1.2 CONCEITO ....................................................................................................... 7

1.3 ELEMENTOS FORMADORES DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................... 8

1.3.1 AÇÃO E OMISSÃO (CONDUTA HUMANA) ........................................................... 10

1.3.2 DANO ............................................................................................................ 12

1.3.3 NEXO DE CAUSALIDADE .................................................................................. 15

1.3.4 CULPA ........................................................................................................... 18

1.4 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL . ............... 22

1.5 RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA ......... ............................... 24

1.6 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL ......... .............................. 28 CAPÍTULO 2 ........................................ ............................................ 30

CONTRATO DE TRANSPORTE DE PESSOAS ................. ............. 30

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS ............................................................................. 30

2.2 CONCEITO DE CONTRATO .......................................................................... 31

2.3 CONTRATO DE TRANSPORTE DE PESSOAS ............. ............................... 32

2.3.1 SUJEITOS DO CONTRATO DE TRANSPORTE .......... .............................. 37

2.3.2 PROVA DO CONTRATO DE TRANSPORTE ............. ................................ 38

2.3.3 NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE TRANSPORTE . ................... 39

2.3.4 CONTRATO DE ADESÃO .......................... ................................................. 40

2.4 DIREITOS E DEVERES DO TRANSPORTADOR ........... ............................... 42

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2.5 DIREITOS E DEVERES DO PASSAGEIRO .............. ..................................... 46 CAPÍTULO 3 ........................................ ............................................ 53

RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR ........... ........ 53

3.1 EVOLUÇÃO ...................................... .............................................................. 53

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL NO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PESSOAS ............................................................................................................. 57

3.2.1 DAS CLÁUSULAS DE INCOLUMIDADE E DE NÃO INDENIZAR .................................. 60

3.2.2 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR ............................. 64 3.2.2.1 Culpa exclusiva da vítima ................. ................................................................ 65 3.2.2.2 Caso fortuito e força maior ............... ................................................................ 68

3.2.3 FATO DE TERCEIRO ......................................................................................... 70

3.3 TRANSPORTE GRATUITO ........................... ................................................. 73 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................. ................................ 80

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ..................... ..................... 82

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RESUMO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito tem

por objetivo o estudo acerca do tema: Responsabilidade Civil do Transportador de

Pessoas em Rodovias. Para tanto, é de suma importância que se estude todos os

elementos que compõem esta atividade, desde seu mais conhecido surgimento.

O presente trabalho foi dividido em três capítulos, iniciando-se no Capítulo 1 o

estudo acerca do tema Responsabilidade Civil, delineando sobre este seus

aspectos históricos, conceito, elementos formadores, distinção entre

Responsabilidade Contratual e Extracontratual e Responsabilidade Objetiva e

Subjetiva. O Capítulo 2 tem como objeto o estudo do Contrato de Transporte de

Pessoas, descrevendo as disposições legais que estão dispostas do Código Civil

que regem a relação entre Transportador e Passageiro. Por derradeiro, o Capítulo

3 teve como objeto de estudo o tema principal deste trabalho, qual seja, a

Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Pessoas, e o que é

necessário para que configure esta Responsabilidade em caso de dano

experimentado pelo Passageiro, e em quais circunstâncias fica o Transportador

desobrigado de indenizar a vítima envolvida no evento danoso.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo da

Responsabilidade Civil do Transportador de Pessoas em Rodovias e, como

Objetivos: institucional, produzir uma monografia para obtenção do grau de

bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí; geral, analisar a

Responsabilidade Civil em decorrência de danos causados em pessoas que se

utilizam desse meio de transporte, qual seja, o transporte rodoviário.

São objetivos específicos do presente trabalho o

delineamento tanto na parte legal, doutrinária e jurisprudencial da

Responsabilidade Civil, do Contrato de Transporte de Pessoas e da

Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Pessoas.

A justificativa para o estudo do tema encontra-se na sua

grande importância para a vida social, tendo em vista ser o transporte de pessoas

uma atividade econômica de tamanha proporção que acaba gerando inúmeros

conflitos de interesses, pois são inúmeras pessoas que se utilizam dos mais

variados meios de transportes para se locomoverem.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da

Responsabilidade Civil no contexto geral, exceto as excludentes desta, que é

objeto de estudo no capítulo 3.

No Capítulo 2, tratou-se de estudar os Contratos de

transporte, com todas suas peculiaridades, que rege os direitos e obrigações

tanto do Transportador quanto do transportado.

Encerrou-se a pesquisa no Capítulo 3, discorrendo sobre o

tema principal desta monografia, qual seja, a Responsabilidade Civil do

Transportador no Transporte de Pessoas em Rodovias, tanto no transporte

oneroso quanto no gratuito.

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2

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados de cada capítulo, seguidos da estimulação à continuidade dos

estudos e das reflexões sobre a Responsabilidade Civil do Transportador no

Transporte de Pessoas em Vias Terrestres.

Para dar impulso a presente pesquisa, formulou-se as

seguintes indagações:

a) Em relação ao passageiro e transportador, quais são

as suas obrigações?

b) Havendo dano ao passageiro, no transcurso realizado

por terceiros, de quem será a responsabilidade?

c) Havendo transporte não oneroso, o transportador terá

alguma responsabilidade sobre o passageiro?

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

1- Para haver o dever de ressarcir o dano, é necessário,

além da comprovação deste, ser observado o nexo de causalidade e a conduta

que levou a sofrer o prejuízo.

2- Para a fixação do valor a ser indenizado, leva-se em

conta de como ocorreu o fato, devendo ainda ser levado em conta a proporção da

culpa da vítima, onde o juiz fixará o quantum de maneira equitativa ?

3- As excludentes de Responsabilidade Civil nos

Contratos de transportes terrestres são as da Responsabilidade Civil ?

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Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação1 foi utilizado o Método Indutivo2, na Fase de Tratamento de

Dados o Método Cartesiano3, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente4, da Categoria5, do Conceito Operacional6 e da Pesquisa

Bibliográfica7.

1 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

2 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . p. 104.

3 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

4 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 62.

5 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 31.

6 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . p. 45.

7 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 239.

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CAPÍTULO 1

RESPONSABILIDADE CIVIL

1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

Ao ingressar no estudo da Responsabilidade Civil, é

necessário que se faça um estudo histórico de sua origem, com destaque aos

pontos mais essenciais.

Historicamente, nos primórdios da civilização humana, instrui

Diniz [2006, p. 10] que dominava a vingança coletiva, que se caracterizava pela

reação conjunta do grupo contra o agressor pela ofensa a um de seus

componentes.

A sociedade primitiva, segundo Venosa [2003, p. 18], reagia

com a violência, [...] princípio este que é da natureza humana, qual seja, reagir a

qualquer mal injusto perpetrado contra a pessoa, a família ou grupo social.

Posteriormente, segundo Diniz [2006, p. 10], esta vingança

evoluiu para uma reação individual, isto é, vingança privada, em que os homens

faziam justiça pelas próprias mãos, sob a égide da Lei de Talião, [...] sintetizada

na fórmula “olho por olho, dente por dente”.

Acrescenta Aguiar Dias [1979, p. 23] quando diz: Dominava

então a vingança privada, forma primitiva, selvagem talvez, mas humana, da

reação espontânea e natural contra o mal sofrido; solução comum a todos os

povos nas suas origens, para a reparação do mal sofrido.

Assim também entende Gagliano [2006, p. 10] quando

leciona que [...] nas primeiras formas organizadas de sociedade, [...] é

compreensível, mesmo que rudimentar, a vingança privada, como lídima reação

pessoal contra o mal sofrido.

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5

Estabelece assim Gonçalves [2007, p. 6]: Nos primórdios da

humanidade, entretanto, não se cogitava do fator culpa. O dano provocava a

reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Não imperava ainda o direito.

Dominava, então, a vingança privada.

Para Lisboa [2002, p. 179-180] a vingança importava na

reparação de um dano com a prática de outro dano. Impossibilitava, de fato,

qualquer consideração sobre a noção de culpa, uma vez que equiparava a prática

de um delito a outro, fundada na lei de talião.

Segundo Diniz [2006, p. 11], para coibir abusos, o poder

público intervinha apenas para declarar quando e como a vítima poderia ter o

direito de retaliação, produzindo na pessoa do lesante dano idêntico ao que

experimentou.

Nesse sentido, acrescenta Aguiar Dias [1979, p. 24]: Depois,

o uso consagra em regra jurídica o talião. O legislador se apropria da iniciativa

particular, intervindo para declarar quando e em que condições têm a vítima o

direito de retaliação.

Naquela época, não havia qualquer menção a culpa, mas ao

dano, pois o que se julgava era o prejuízo. Para Lisboa [2002, p. 181], a

introdução do conceito de culpa somente é perceptível com a edição da legislação

aquiliana, [...] que inseriu a culpa como elemento indispensável de

Responsabilidade.

Acrescenta ainda: A Lex Aquila de dammo, fixou a

necessidade de existência da culpa para que se viabilizasse a reparação do dano

causado. Com ela, surgiram as penas proporcionais ao prejuízo.

Quanto a idéia de culpa, ensina Diniz [2006, p. 11]:

A Lex Aquila de dammo veio a cristalizar a idéia de reparação pecuniária do dano, impondo que o patrimônio do lesante suportasse os ônus da reparação, em razão do valor da res, esboçando-se a noção de culpa como fundamento da

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responsabilidade, de tal sorte que o agente se isentaria de

qualquer responsabilidade se tivesse precedido sem culpa.

Sobre Lex Aquila, leciona Venosa [2003, p. 18] que:

A Lex Aquila é o divisor de águas da responsabilidade civil, pois esse diploma atinge dimensão ampla [...] como remédio jurídico de caráter geral, e, desse modo, surge a moderna concepção da responsabilidade extracontratual. O sistema romano de responsabilidade extrai da interpretação da Lex Aquila o princípio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados,

independentemente da relação obrigacional preexistente.

E finaliza seu ensinamento relatando que a Lex Aquila foi um

plebiscito aprovado [...] que possibilitou atribuir ao titular de bens o direito de obter

o pagamento de uma penalidade em dinheiro de quem tivesse destruído ou

deteriorado seus bens.

Sobre Lex Aquila, contribui Gomes [2001, p. 22] lecionando

que:

A Lex Aquilia inicia a construção da responsabilidade extracontratual, tendo dentre seus fundamentos o damnum injuria datum, que consistia na destruição ou deteriorização da coisa alheia por fato ativo que tivesse atingido a coisa corpore et corpore, sem direito ou escusa legal, tendo em vista a reparação

do dano.

Nesse sentido, Diniz [2006, p. 11-12] acrescenta que:

Esta lei estabeleceu as bases da responsabilidade extracontratual, criando uma forma pecuniária de indenização do prejuízo, [...], todavia, mais tarde, o Estado passou, então, a intervir nos conflitos privados, fixando o valor dos prejuízos, obrigando a vítima a aceitar a composição, renunciando a vingança. Todavia, a responsabilidade civil também evoluiu, [...] baseando-se o dever de reparação não só pela culpa, hipótese em que será subjetiva, como também pelo risco, caso em que passará a ser objetiva,

ampliando-se a indenização de danos sem existência de culpa.

Entretanto, segundo Diniz [2006, p. 13], é preciso deixar

bem claro que a culpa continua sendo o fundamento da Responsabilidade Civil,

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que o risco não a anulou, constituindo-se, ao seu lado, também como fundamento

da Responsabilidade Civil.

1.2 CONCEITO

A idéia de Responsabilidade, segundo Gomes [2001, p. 19]

está profundamente ligada com o senso de justiça, o qual de uma maneira ou de

outra sempre esteve nas comunidades humanas.

Diante desse tema, para melhor compreensão, é necessário

que se faça um breve relato da origem da expressão Responsabilidade.

De acordo com Gagliano [2006, p. 1]:

A palavra responsabilidade tem sua origem no verbo latino respondere, significando a obrigação que alguém tem de assumir com as conseqüências jurídicas de sua atividade, contendo, ainda, a raiz latina de spondeo, fórmula através da qual se

vinculava no Direito Romano, o devedor nos contratos verbais.

Estabelece da mesma forma Diniz [2006, p. 39]:

O vocábulo responsabilidade é oriundo do verbo latino respondere, designando o fato de ter alguém se constituído garantidor de algo. Tal termo contém, portanto, a raiz latina spondeo, fórmula pela qual se vinculava, no direito romano, o

devedor nos contratos verbais.

Na mesma linha de raciocínio, Stoco [1999, p. 59] leciona

que:

A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém por seus atos danosos. E define então responsabilidade como sendo o resultado da ação pela qual o homem expressa o seu comportamento, em face desse dever ou obrigação, enfatizando a afirmação de que toda a teoria da responsabilidade

é aquele que impõe a quem causa dano o dever de reparar.

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Nesse diapasão, Diniz [2006, p. 40] conceitua

Responsabilidade como o dever de reparar dano decorrente de fato de que se é

autor direto ou indireto, ou por fato seu, ou pelo fato das pessoas ou coisas que

dele dependam.

A acepção que se faz de Responsabilidade, portanto, está

ligada, segundo Gagliano [2006, p. 2], ao surgimento de uma obrigação derivada,

ou seja, um dever jurídico sucessivo, em função da ocorrência de um fato jurídico

lato sensu.

Com base nessas considerações, Diniz [2006, p. 40],

apregoa que se poderá definir a Responsabilidade Civil como:

A aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma

coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

A Responsabilidade Civil vem definida por Rodrigues [2001,

p. 6] como a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo

causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela

dependam.

A Responsabilidade Civil para Stoco [2007, p. 112] é, uma

instituição enquanto assecuratória de direitos, e um estuário para onde acorrem

os insatisfeitos, os injustiçados e os que se danam por comportamento dos

outros.

Entretanto, há elementos que são indispensáveis para que

haja a formação da Responsabilidade Civil, e, com isso, o dever de reparar o

dano. O estudo desses elementos segue no item a seguir.

1.3 ELEMENTOS FORMADORES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Feita a introdução ao objeto de estudo deste capítulo,

necessário se faz agora apresentar, os seus elementos básicos.

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Desta forma, Gagliano [2006, p. 23] declina seu

ensinamento de que, ao consultarmos o artigo 186 do Código Civil, base

fundamental da Responsabilidade Civil, consagradora do princípio de que a

ninguém é dado causar prejuízo a outrem, temos que:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que

exclusivamente moral, comete ato ilícito.

O artigo acima transcrito implica a existência de alguns

pressupostos, que, segundo Rodrigues [2001, p. 14], são ordinariamente

necessários, para que a Responsabilidade Civil emerja.

Ao se analisar o artigo 186 do Código Civil, Gagliano [2006,

p. 23] diz que:

É esse artigo a base fundamental da responsabilidade civil, consagradora do princípio de que a ninguém é dado causar prejuízo a outrem; e extraem-se os seguintes elementos ou pressupostos gerais da responsabilidade civil: a) a conduta humana (positiva ou negativa), b) o dano ou prejuízo e c) o nexo

de causalidade.

Nesse mesmo entendimento, Diniz [2006, p. 40] diz que a

Responsabilidade Civil requer: a) existência de uma ação, b) ocorrência de um

dano moral ou patrimonial e, c) nexo de causalidade entre o dano e a ação.

Assim também entende o Tribunal de Justiça de Santa

Catarina:

CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. ILICITUDE DO ATO IDEMONSTRADA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS. Sabe-se que para haver indenização por ato ilícito, necessário é que se façam presentes, a um só tempo, o ato (causa), o dano (conseqüência), a culpa ou o dolo e o nexo de causalidade. (AC nº. 2000.017014-3, de São Domingos. Relator:

Des. Luiz Carlos Freyesleben, Data da decisão: 4/12/2003).

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Desta forma, verifica-se que, para a configuração de que o

prejuízo sofrido pela vítima deve ser ressarcido, deve haver, conforme se apurou

os elementos caracterizadores da Responsabilidade Civil, tais quais passam a ser

expostos individualmente.

1.3.1 Ação e Omissão (Conduta Humana)

A conduta humana, seja por ação ou omissão, é um dos

elementos formadores que caracterizam a Responsabilidade Civil.

Nesse sentido, Diniz [2006, p. 43-44] apregoa que a ação,

elemento constitutivo da Responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo

ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio

agente ou de terceiro [...].

Nesse mesmo sentido, leciona Gagliano [2006, p. 27]:

[...] a ação (ou omissão) humana voluntária é pressuposto necessário para a configuração da responsabilidade civil. Trata-se, em outras palavras, da conduta humana, positiva ou negativa, guiada pela vontade do agente, que desemboca no dano ou

prejuízo.

Sobre o elemento ação, Stoco [2007, p. 129] ensina que:

O elemento primário de todo ato ilícito é a conduta humana e voluntária no mundo exterior. Esse ilícito, como atentado a um bem juridicamente protegido, interessa a ordem normativa do Direito justamente porque produz um dano. Não há

responsabilidade sem um resultado danoso.

E ainda, ao analisar a Responsabilidade Civil, acrescenta

que: Não há Responsabilidade Civil sem determinado comportamento humano

contrário à ordem jurídica. Ação e omissão constituem, por isso mesmo, tal como

no crime, o primeiro momento da Responsabilidade Civil.

Entretanto, o núcleo fundamental, portanto, da noção de

conduta humana á a voluntariedade, que, conforme Gagliano [2006, p. 27] resulta

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exatamente da liberdade de escolha do agente imputável8, com discernimento

necessário para ter consciência daquilo que faz. Por isso, não se pode

reconhecer o elemento “conduta humana”, pela ausência do elemento volitivo [...].

Sobre a conduta voluntária, Stoco [2007, p. 129] acrescenta

que:

A voluntariedade da conduta não se confunde com a projeção da vontade sobre o resultado, isto é, o querer intencional de produzir o resultado; de assumir o risco de produzi-lo; de não querê-lo, mas, ainda assim, atuar com afoiteza, com indolência ou com

incapacidade manifesta.

Conforme Gagliano [2006, p. 30], freqüentemente, a doutrina

aponta a ilicitude como aspecto necessário da ação humana voluntária, primeiro

elemento da Responsabilidade Civil.

Assim também entende Venosa [2003, p. 22] quando diz

que, o ato de vontade, contudo, no campo da Responsabilidade deve revestir-se

de ilicitude. O ato ilícito traduz-se em um comportamento voluntário que transgride

um dever.

Sobre ação por omissão, Gonçalves [2007, p. 41] leciona

que, para que se configure a Responsabilidade por omissão, é necessário que

exista o dever jurídico de praticar determinado fato (de não se omitir) e que

demonstre que, com a sua prática, o dano poderia ter sido evitado.

Eis também o ensinamento de Diniz [2006, p. 44]:

O comportamento do agente poderá ser uma comissão ou uma omissão. A comissão vem a ser a prática de um ato que não se deveria efetivar, e a omissão, a não observância de um dever de

agir ou da prática de certo ato que deveria realizar-se.

8 Sobre agente imputável, Gonçalves [2007, p. 17] ensina que: Para que alguém pratique um ato ilícito e seja obrigado a reparar o dano causado, é necessário que tenha capacidade de discernimento.

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Nesse sentido, Stoco [2007, p. 130] dispõe que: A omissão é

uma conduta negativa. Surge porque alguém não realizou determinada ação. A

sua essência está propriamente em não se ter agido de determinada forma.

Da conduta omissiva ou comissiva de alguém, eis que pode

resultar um dano, elemento formador da Responsabilidade Civil que vem a seguir.

1.3.2 Dano

Ver-se-á agora o elemento dano, que também é um

pressuposto caracterizador da obrigação ao dever de indenizar.

O dano, segundo Gomes [2001, p. 27], é o elemento

essencial para a formação da obrigação de indenizar. O dano advém de uma

lesão a um direito ou a um interesse amparado por lei.

Nesse mesmo sentido, Gagliano [2006, p. 35] dispõe que, é

indispensável a existência de dano ou prejuízo para a configuração da

Responsabilidade Civil. [...] o dano é requisito indispensável para a sua

configuração, qual seja, sua pedra de toque.

Ainda sobre dano, Gonçalves [2007, p. 337] leciona que:

Não se pode falar em Responsabilidade Civil ou em dever de indenizar se não

houver dano.

Esclarece Venosa [2003, p. 28] que: Na noção de dano está

sempre presente a noção de prejuízo. Somente haverá possibilidade de

indenização, como regra, se o ato ilícito ocasionar dano.

Compartilhando desse pensamento, apregoa Stoco [2007, p.

128] que, a doutrina é unânime em afirmar, como não poderia deixar de ser, que

não há Responsabilidade sem prejuízo. O prejuízo causado pelo agente é o dano.

Desta forma, para que haja o dever de ressarcimento por

parte do agente, imperiosa é a demonstração de que do fato resultou prejuízo.

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Sobre o tema, eis entendimento da 1ª turma do Superior

Tribunal de Justiça:

Processual civil. Ação ordinária visando o ressarcimento de prejuízos. Inexistência da comprovação efetiva do dano. Improcedência. Para viabilizar a procedência da ação de ressarcimento de prejuízos, a prova da existência do dano efetivamente configurado é pressuposto essencial e indispensável. Ainda mesmo que se comprove a violação de um dever jurídico, e que tenha existido culpa ou dolo por parte do infrator, nenhuma indenização será devida, desde que, dela, não tenha decorrido prejuízo. A satisfação, pela via judicial, de prejuízo inexistente, implicaria, em relação à parte adversa, em enriquecimento sem causa. O pressuposto da reparação civil esta, não só na configuração de conduta "contra jus", mas, também, na prova efetiva dos ônus, já que se não repõe dano hipotético. Recurso improvido. Decisão por maioria de votos. (REsp. 20386/RJ. Recurso Especial 1992/0006738-7. Relator (a): Ministro DEMÓCRITO REINALDO. Órgão Julgador: T1 - Primeira Turma. Data do Julgamento: 23/05/1994. Data da Publicação/Fonte: DJ

27/06/1994 p. 251).

Partindo dessa premissa, Diniz [2006, p. 64] norteia seu

entendimento no sentido de que:

O dano é um dos pressupostos da responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, visto que não poderá haver ação de indenização sem a existência de um prejuízo. Isto é assim porque a responsabilidade resulta em obrigação de ressarcir, que, logicamente, não poderá concretizar-se onde nada há que

reparar. Não pode haver responsabilidade civil sem a existência

de um dano a um bem jurídico, sendo imprescindível a prova real

e concreta dessa lesão.

Nesse sentido, corrobora Venosa [2003, p. 28] que:

O dano ou interesse deve ser atual e certo; não sendo indenizáveis, a princípio, danos hipotéticos. Sem dano ou sem interesse violado, patrimonial ou moral, não se corporifica a indenização. A materialização do dano ocorre com a definição de

efetivo prejuízo suportado pela vítima.

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Igual entendimento é apresentado por Gagliano [2006, p.

39], quando diz que: Somente o dano certo, efetivo, é indenizável. Ninguém

poderá ser obrigado a compensar a vítima por um dano abstrato ou hipotético9.

E no mesmo norte, ensina Lisboa [2002, p. 199]: O dano

deve ser certo, isto é, fundado em um fato determinado. É inviável a

Responsabilidade Civil do agente por mero dano hipotético ou eventual, pois não

há como se reparar algo que pode sequer vir a acontecer.

Nesse sentido, extrai-se da jurisprudência do Tribunal de

Justiça de Santa Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL - RESPONSABILIDADE CIVIL - DANO MORAL - EMISSÃO IRREGULAR DE FATURAS TELEFÔNICAS - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE PREJUÍZO - DEVER DE INDENIZAR AFASTADO - SENTENÇA REFORMADA - DESPROVIMENTO DO RECURSO DO AUTOR - PROVIMENTO DO APELO DO RÉU. Somente haverá possibilidade de indenização se o ato ilícito ocasionar dano. O dano deve ser atual e certo; não são indenizáveis danos hipotéticos. Sem dano, patrimonial ou moral, não se corporifica a indenização. A materialização do dano ocorre com a definição do efetivo prejuízo suportado pela vítima. (Sílvio de Salvo Venosa in Direito Civil: Contratos em espécie e responsabilidade civil, vol. 3, São Paulo: Atlas, 2001, p. 510). (Apelação Cível nº. 2003.014710-1, de São João Batista. Relator: Des. Mazoni Ferreira. Data da Decisão:

18/11/2004).

Os danos, na lição de Gomes [2001, p. 29], podem ser

patrimoniais ou morais, estes não se distinguem pela sua essência, mas pelos

efeitos que produzem.

E esclarece que:

O dano patrimonial é aquele que pressupõe sempre ofensa ou diminuição de certos valores econômicos. No dano moral, há uma ofensa a um direito, mas sem prejuízo material. O dano moral

9 Segundo Gomes [2001, p. 29-30], o dano hipotético é aquele que não se submete a uma probabilidade objetiva e razoável de concretização.

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atinge valores inapreciáveis da pessoa, como a honra, a imagem,

causando uma dor injusta à pessoa.

Segundo Gagliano [2006, p. 40-41], a doutrina costuma

classificar o dano em patrimonial e moral. O dano patrimonial traduz lesão aos

bens e direitos economicamente apreciáveis do seu titular. Ainda sobre dano

patrimonial, convém analisar-se sob dois aspectos: a) o dano emergente: é o

efetivo prejuízo experimentado pela vítima, ou seja, o que ele perdeu; b) os lucros

cessantes: é aquilo que a vítima deixou de lucrar por força do dano, ou seja, o

que ele não ganhou.

Partindo do primeiro pressuposto da Responsabilidade Civil,

que é a ação, e desta, quando praticada em desconformidade com preceitos

jurídicos, resulta em algum tipo de dano. É necessário que se verifique o caminho

percorrido desde a ação ou omissão por parte do agente até o resultado

decorrente de seu ato, eis que surge outro elemento formador da

responsabilidade civil, o nexo de causalidade, que será estudado a seguir.

1.3.3 Nexo de Causalidade

O nexo de causalidade é também elemento que deve estar

inserido na comprovação que caracteriza a prática do dano, eis que, com sua

inocorrência, é totalmente incabível uma almejada decisão requerendo recompor

o prejuízo sofrido, pois é o vínculo entre a conduta e o resultado.

Na lição de Gonçalves [2007, p. 329], um dos pressupostos

da Responsabilidade Civil, é a existência de um nexo causal entre o fato ilícito e o

dano produzido. Sem essa relação de causalidade, não se admite a obrigação de

indenizar.

O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de

causalidade, para Venosa [2003, p. 39] é:

O liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame de relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. Se a vítima, que

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experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o

ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida.

Para que surja a obrigação de reparar, Rodrigues [2001, p.

17] aponta que, mister se faz a prova de existência de uma relação de

causalidade entre a ação ou omissão culposa do agente e o dano experimentado

pela vítima.

A Responsabilidade Civil não pode existir sem a relação de

causalidade entre o dano e a ação que o provocou, pois, segundo Diniz [2006, p.

110], tal nexo representa, portanto, uma relação necessária entre o evento

danoso e a ação que o produziu [...].

Desta forma, o dano só pode gerar Responsabilidade

quando for possível estabelecer um nexo causal entre ele e o seu autor, pois o

nexo causal é um elemento que interliga um ato (ação ou omissão) ao resultado

danoso sofrido pela vítima.

Sobre nexo de causalidade Stoco [2007, p. 151] pondera

que:

Não basta que a vítima sofra um dano, que é o elemento objetivo do dever de indenizar, pois se não houver um prejuízo, a conduta antijurídica não gera obrigação de indenizar. É necessário que se estabeleça uma relação de causalidade entre a injuricidade da ação e o mal causado. Assim, não basta que uma pessoa tenha contravindo a certas regras; é preciso que sem esta contravenção,

o dano não ocorreria.

Assim sendo, o nexo causal se torna indispensável, sendo

fundamental que o dano tenha sido causado pela culpa do sujeito, pois, o nexo de

causalidade revela a causa do dano, identificando o fato que o produziu.

Na lição de Gomes [2001, p. 33], a não formação do nexo de

causalidade ou o seu rompimento impedem a formação de Responsabilidade Civil

e, por conseguinte a obrigação de indenizar.

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Nesse sentido, extrai-se da jurisprudência do Tribunal de

Justiça de Santa Catarina:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. AUSÊNCIA DE PROVA ACERCA DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO INVOCADO PELO AUTOR. INCIDÊNCIA DO ART. 333, I, DO CPC. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR INEXISTENTE. Para caracterização da responsabilidade civil subjetiva devem coexistir o ato ilícito, o dano, o nexo causal e a culpa. À míngua de quaisquer desses requisitos legais, não medra a pretensão indenizatória. (Apelação cível nº. 2004.014913-1, Des. Relator:

Luiz Carlos Freyesleben, Data da Decisão: 30/06/2005).

Destarte, para que se tenha êxito em demanda judicial

indenizatória, depende, sempre, da prova do dano e do nexo de causalidade. Não

existindo a prova do ato ilícito imputado ao agente e, em conseqüência não

configurado o nexo causal, deve ser julgado improcedente o pedido de

indenização por danos morais e/ou materiais.

Todavia, ao que se refere ao rompimento de nexo causal,

Stoco [2007, p. 152] apregoa que os autores cogitam da culpa exclusiva da

vítima, a ocorrência de caso fortuito ou de força maior, em que a responsabilidade

desaparece, por força do velho princípio casus a nullo paestantur10.

Nesse sentido, extrai-se da jurisprudência do Tribunal de

Justiça de Minas Gerais:

DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL - INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS E LUCROS CESSANTES NÃO CARACATERIZADOS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA AFASTADA - EQUIPAMENTO DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADO DANIFICADO - QUEDA DE UMA FOLHA DE COQUEIRO DO OUTRO LADO DA RUA SOB FIAÇÃO ELÉTRICA - Embora a concessionária esteja submetida à responsabilidade objetiva, não sendo necessária a comprovação de culpa na conduta lesiva, exclui-se a obrigação de indenizar quando rompido o nexo de causalidade entre a ação ou omissão e

10 Trata-se, em verdade, em casos que inexiste relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o resultado danoso. Stoco [2007, p. 152].

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o dano. Na hipótese, está presente uma das causas excludentes da responsabilidade em face do rompimento do nexo de causalidade: a força maior. Apelo desprovido. (APELAÇÃO CÍVEL Nº. 1.0024.02.872998-6/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO. SR. DES. SCHALCHER VENTURA. Data do Julgamento: 16/08/2007. Data da Publicação:

14/09/2007).

Desta forma, deve ser comprovado que houve um nexo de

causa entre a ação e/ou omissão e o dano experimentado pela vítima, pois o nexo

de causalidade é um dos elementos formadores da Responsabilidade Civil.

Por conseguinte, deve restar comprovada que a conduta do

agente foi contrária a modos de diligências, eis que surge outro elemento

formador da Responsabilidade Civil, a culpa, que será estudada a seguir.

1.3.4 Culpa

O elemento culpa será o último elemento formador da

Responsabilidade Civil a ser estudada.

A exigência da culpa como pressuposto da

Responsabilidade Civil representou, na lição de Gagliano [2006, p. 121], um

grande avanço na história da civilização, onde a resposta ao mal causado era

difusa, passando-se a exigir um elemento subjetivo que pudesse viabilizar a

imputação psicológica do dano ao seu agente.

Um dos pressupostos para caracterizar a Responsabilidade

pela reparação do dano, segundo Rodrigues [2001, p. 16], é a culpa ou dolo do

agente que causou o prejuízo. De modo que, para que a Responsabilidade se

caracterize, mister se faz a prova de que o comportamento do agente causador

do dano tenha sido doloso ou pelo menos culposo.

Dispõe Diniz [2006, p. 42] que a regra básica é que a

obrigação de indenizar, pela prática de atos ilícitos, advém da culpa.

Em sentido amplo, Venosa [2003, p. 23] ensina que culpa é

a inobservância de um dever que o agente devia conhecer e observar.

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E acrescenta:

A culpa é a falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o desprezo, por parte do agente, do esforço necessário para observá-la, com resultado não objetivado, mas previsível, desde que o agente se detivesse na consideração das

conseqüências eventuais de sua atitude.

No ordenamento jurídico brasileiro, segundo Diniz [2006, p.

44], vigora a regra geral de que o dever ressarcitório pela prática de atos ilícitos

decorre de culpa. Portanto, o ato ilícito qualifica-se pela culpa. Não havendo

culpa, não haverá, em regra, qualquer responsabilidade.

Nesse sentido, extrai-se da jurisprudência do Tribunal de

Justiça de Santa Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS CAUSADOS POR ACIDENTE NO TRÂNSITO - ADOLESCENTE QUE ATRAVESSA RODOVIA FEDERAL, NO PERÍODO NOTURNO - MOTORISTA DE ÔNIBUS QUE NÃO CONSEGUE EVITAR O ATROPELAMENTO - OMISSÃO DE SOCORRO NÃO CONFIGURADA - DESEJO DE ESPERA POR ATENDIMENTO ESPECIALIZADO - AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE CULPA DO PREPOSTO DA EMPRESA DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS - REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL NÃO EVIDENCIADOS - INTELIGÊNCIA DO ART. 159 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916, APLICÁVEL À ESPÉCIE - ÔNUS DA PROVA QUE INCUMBIA AO AUTOR - ART. 333, I, DO CPC - DESPROVIMENTO DO RECURSO. Em rodovias estaduais e federais, cuja velocidade é superior à empregada nas estradas urbanas, o dever de diligência cumpre ao pedestre, que deve tomar um extremo cuidado ao atravessá-las, estando afastada a previsibilidade por parte do motorista e, por conseqüência, a sua culpabilidade, sobretudo quando observa as normas básicas de trânsito. (Apelação Cível Nº. 2005.019505-0 de Balneário Camboriú. Des. Relator: Sérgio Izidoro Heil. Data da Decisão:

30/09/2005).

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Sendo assim, a culpa é um dos pressupostos da

Responsabilidade Civil, pois somente haverá obrigação de ressarcir se o sujeito

tiver procedido com culpa.

Sobre o elemento culpa, eis o que apregoa Gonçalves

[2007, p. 295]:

Para que haja obrigação de indenizar, não basta que o autor de fato danoso tenha procedido ilicitamente, violando um direito de outrem ou infringindo uma norma jurídica. É essencial que ele tenha agido com culpa: por ação ou omissão voluntária, por negligência ou imprudência, como se expressamente se exige no

art. 186 do Código Civil.

A culpa, na lição de Gomes [2001, p. 34], é dividida em

culpa lato sensu e culpa strictu sensu. A culpa em lato sensu compreende o dolo,

que é a intenção de realizar um ilícito, a conduta do agente é dirigida

voluntariamente para a prática do dano; e a culpa em strictu sensu, onde o dano é

produzido por o sujeito não ter se conduzido de forma diligente.

Nesse mesmo sentido, Venosa [2003. p. 23] discorre que a

noção de culpa em sentido estrito é a conduta voluntária contraria ao dever de

cuidado imposto pelo Direito, com a produção de um evento danoso involuntário,

porém previsto ou previsível.

Diante do exposto, pode-se dizer que o dolo consiste na

vontade de cometer uma violação de direito, e a culpa, na falta de diligência.

A culpa em sentido estrito abrange a imprudência, a

negligência e a imperícia. Para tanto, eis o conceito de Gonçalves, [2007, p. 298-

299] para essas três categorias:

A imprudência é conduta positiva, consistente em uma ação da qual o agente deveria abster-se, ou em uma conduta precipitada. A negligência consiste em uma conduta omissiva por não tomar as precauções necessárias ao praticar uma ação. A imperícia é a incapacidade técnica para o exercício de uma determinada

função, profissão ou arte.

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Sobre o elemento culpa, de um modo geral, têm-se os

breves dizeres de Venosa [2003, p. 25], que a culpa, sob os princípios

consagrados da negligência, imprudência e imperícia contém uma conduta

voluntária, mas com resultado involuntário, a previsão ou a previsibilidade e a falta

de cuidado devido, cautela ou atenção.

Ainda sobre o elemento culpa, o evento danoso pode derivar

de culpa concorrente, o que, para Rodrigues [2001, p. 165], a Responsabilidade

se atenua, pois o evento danoso defluiu tanto de sua culpa – do agente – quanto

da culpa da vítima.

A culpa concorrente é aspecto que interessa na fixação da

indenização. Venosa, [2003, p. 28] leciona que, constatado que ambos partícipes

agiram com culpa, ocorre a compensação. Cuida-se, portanto, de imputação de

culpa a vítima, que também concorre para o evento.

Sobre o tema, o Código Civil traz dispositivo expresso a

respeito:

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento

danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a

gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Nesse sentido, extrai-se da jurisprudência do Tribunal de

Justiça de Santa Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL. REPARAÇÃO DE DANOS. ACIDENTE DE CIRCULAÇÃO. ABALROAMENTO DE VEÍCULO QUE INICIAVA CONVERSÃO DE MANOBRA À ESQUERDA, SEM AS DEVIDAS CAUTELAS. EXCESSO DE VELOCIDADE, TODAVIA, DO SEGUNDO VEÍCULO. CULPA CONCORRENTE CARACTERIZADA. Responsabilidade civil. Ação de reparação de dano causado em acidente de veículos. Motoristas que em via urbana fazem manobras de conversão à esquerda e de ultrapassagem sem observância das regras de trânsito. Concorrência de culpa. É de ser reconhecida concorrência de culpas dos condutores quando o acidente de veículos ocorre por inobservância das regras de conversão à esquerda e de ultrapassagem do Código Nacional de Trânsito. (Apelação cível

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Nº. 98.017039-7 de Lauro Müller. Des. Relator: Vanderlei Romer.

Data da Decisão: 15/03/2001).

Desta forma, havendo concorrência de culpas para o evento

danoso, a Responsabilidade deve ser dividida.

Nesse sentido, Stoco [2007, p. 144], destaca que:

A melhor doutrina é a que propõe a partilha dos prejuízos em partes iguais se forem iguais as culpas ou não for possível provar o grau de culpabilidade [...]; em partes proporcionais aos seus

graus de culpa, quando estas forem desiguais.

Com o elemento culpa, encerra-se por aqui o estudo dos

elementos formadores da Responsabilidade Civil. Entretanto, eis que surgem

outros temas que mereçam abrigo neste trabalho, é o caso da Responsabilidade

Contratual e Extracontratual, que seguem no item a seguir.

1.4 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

Uma pessoa pode causar prejuízo a outrem por descumprir

uma obrigação contratual, obrigação esta que pode ser proveniente por força de

lei ou por acordo entre as partes. Desta forma temos a Responsabilidade

Extracontratual e Contratual, respectivamente.

Sobre o tema, Rodrigues [2001, p. 8], aponta que é de

grande relevância a distinção entre Responsabilidade Contratual e

Extracontratual, pois uma pessoa pode causar prejuízo a outra tanto por

descumprir uma obrigação contratual como por praticar outra espécie de ato

ilícito.

Nesse mesmo sentido, eis lição de Gonçalves [2007, p. 26]:

Na Responsabilidade Extracontratual, o agente infringe um dever legal, e, na

contratual, descumpre o avençado, tornando-se inadimplente.

Quanto a Responsabilidade Contratual, Diniz [2006, p. 138],

leciona que esta se atribui ao descumprimento ou má prestação de uma atividade

à qual alguém estava obrigado em virtude de liame contratual [...].

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Quando a Responsabilidade não deriva de Contrato,

segundo Gonçalves [2007, p. 26], diz-se que ela é extracontratual. Neste caso,

aplica-se o disposto no artigo 186 do Código Civil. Todo aquele que causa dano a

outrem, por culpa em sentido estrito ou dolo, fica obrigado a repará-lo.

O artigo 927 do Código Civil dispõe sobre a

Responsabilidade Extracontratual:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano

a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Desta forma, conforme o artigo acima citado entende-se

que, aquele que por uma ação ou omissão, causar dano a outrem, decorrente de

ato ilícito, tem o dever de reparar.

Sobre Responsabilidade Contratual e Extracontratual,

Venosa [2003, p. 21] ensina que:

[...] tanto a responsabilidade contratual como a extracontratual com freqüência se interpenetram e ontologicamente não são distintas: quem transgride um dever de conduta, com ou sem contrato, pode ser obrigado a ressarcir o dano. O dever violado será o ponto de partida, não importando se dentro ou fora de uma

relação contratual.

Partindo desse ensinamento, necessário se faz citar o

pensamento de Rodrigues [2001, p. 9], o qual dispõe:

[...] tanto na configuração contratual como na da aquiliana vários pressupostos são comuns. Numa e noutra mister se faz a existência do dano, a culpa do agente e a relação de causalidade entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela

vítima.

Diante do que foi exposto sobre Responsabilidade

Contratual e Extracontratual, quanto em matéria de prova, destaca-se o que

leciona Rodrigues [2001, p. 10]:

Na responsabilidade contratual, demonstrado pelo credor que a prestação foi descumprida, o onus probandi se transfere para o

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devedor inadimplente, que terá que evidenciar a inexistência de culpa de sua parte, ou a presença de força maior, ou outra excludente da responsabilidade capaz de eximi-lo de dever de indenizar, enquanto, se for aquiliana a responsabilidade, caberá a vítima o encargo de demonstrar a culpa do agente causador do

dano.

Igualmente leciona Diniz [2006, p. 130-131]:

O ônus da prova, na responsabilidade contratual, competirá ao devedor, que deverá provar, ante o inadimplemento, a inexistência de sua culpa ou a presença de qualquer excludente do dever de indenizar. Na responsabilidade extracontratual, o onus probandi

caberá a vítima, ela é que terá provar a culpa do agente.

Ante uma situação que resulte em dano, é imprescindível

que se identifique quem é o autor da ação ou omissão. No vasto campo da

Responsabilidade Civil, Venosa [2003, p. 12] apregoa que, o que interessa saber

é identificar aquela conduta que reflete na obrigação de indenizar. Nesse âmbito,

uma pessoa é responsável quando suscetível de ser sancionada,

independentemente de ter cometido pessoalmente um ato antijurídico.

Com isso, eis que surge a Responsabilidade Objetiva e, por

força de objeto de estudo, será acrescentado a Responsabilidade Subjetiva, as

quais seguem no item a seguir.

1.5 RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA

Para haver o dever de indenizar, devem estar presentes os

requisitos essenciais, quais sejam, a ação ou omissão voluntária, a relação de

causalidade ou nexo causal, o dano e, finalmente, a culpa.

Quanto ao elemento específico da culpa, Venosa [2003, p.

13] destaca que:

A tendência jurisprudencial cada vez mais marcante de alargar seu conceito. Surge, daí, a noção de culpa presumida. Esse fundamento fez surgir a teoria da Responsabilidade Objetiva, [...] que desconsidera a culpabilidade. [...] da teoria da culpabilidade levou a criação da teoria do risco, que sustenta ser o sujeito

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responsável por riscos ou perigos na atuação que promove, ainda

que coloque toda diligência para evitar o dano.

A teoria do risco é a da Responsabilidade Objetiva. Segundo

Rodrigues [2001, p. 11], por essa teoria, aquele que, através de sua atividade,

cria um risco de dano para terceiros, deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua

atividade e o seu comportamento sejam isentos de culpa.

Assim também leciona Gomes [2001, p. 39]: A

Responsabilidade Civil objetiva baseia-se fundamentalmente no risco que uma

atividade oferece a coletividade e nos danos que dessa atividade possam provir.

Nesse sentido, cita-se o parágrafo único do artigo 927 do

Código Civil, o qual dispõe:

Art. 927. [...] Parágrafo único: Haverá a responsabilidade de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano

implicar, por sua natureza, riscos para o direito de outrem.

A partir do dispositivo acima descrito, Venosa [2003, p. 14]

leciona que, o magistrado poderá definir como objetiva, ou seja, independente de

culpa, a Responsabilidade do causador do dano no caso concreto.

Nesse mesmo sentido, prescreve Rodrigues [2001, p. 11]:

Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha

este último agido ou não culposamente.

Na Responsabilidade Objetiva, Diniz [2006, p. 131] proclama

que: É irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez

que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima e a

ação do agente para que surja o dever de indenizar.

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Nesse sentido, extrai-se do Tribunal de Justiça de Santa

Catarina:

ACIDENTE DE TRÂNSITO - INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS - BURACO EM RODOVIA ESTADUAL - DEINFRA - RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA - TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO - INTELIGÊNCIA DO ART. 37, § 6º, CRFB - CULPA EXCLUSIVA DO MOTORISTA - NÃO COMPROVADA - SENTENÇA MANTIDA - APELAÇÃO CÍVEL IMPROVIDA. De acordo com o artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, o Brasil adotou a teoria do risco administrativo quanto à responsabilidade civil do Estado, sendo esta objetiva. Ou seja, o ente público deve indenizar os danos causados a terceiros, independentemente de demonstração da culpa, diante da comprovação do nexo de causalidade entre o fato e o dano. E ainda, salienta-se que a responsabilidade do ente público somente é afastada na hipótese de o evento lesivo ter sido provocado por culpa da própria vítima ou de terceiro, ou então em virtude de caso fortuito ou força maior. (Apelação cível nº. 2006.027924-9 de Otacílio Costa. Des. Relator: Sérgio Roberto Baasch Luz. Data da Decisão:

29/03/2007).

Desta forma, a obrigação de reparação do dano, na

Responsabilidade Objetiva, é decorrência da simples existência deste e da

relação de causalidade. Conforme Gomes [2001, p. 40] a culpa não atua na

formação da Responsabilidade de indenizar [...].

Para configurar a Responsabilidade Objetiva, basta somente

que se comprove que de uma ação ou omissão restou um dano, independente se

o agente agiu ou não com culpa.

Entretanto, a Responsabilidade Subjetiva, segundo Gagliano

[2006, p. 13], é a decorrente de dano causado em função de ato doloso ou

culposo.

Nessa linha de raciocínio, Diniz [2006, p. 131] entende que a

prova da culpa do agente será necessária para que surja o dever de reparar.

Assim também entende Gomes [2001, p. 25]: O traço

caracterizador da Responsabilidade Subjetiva é a culpa, sem ela não há dever de

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reparação. Os elementos da Responsabilidade Civil subjetiva são o dano, o nexo

de causalidade e a culpa.

Nesse sentido, colhe-se do Tribunal de Justiça de Santa

Catarina:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. AUSÊNCIA DE PROVA ACERCA DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO INVOCADO PELO AUTOR. INCIDÊNCIA DO ART. 333, I, DO CPC. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR INEXISTENTE. O ônus da prova incumbe ao autor quanto ao fato constitutivo do seu direito, a teor do artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil. Para caracterização da responsabilidade civil subjetiva devem coexistir o ato ilícito, o dano, o nexo causal e a culpa. À míngua de quaisquer desses requisitos legais, não medra a pretensão indenizatória. (Apelação Cível nº. 2004.014913-1 da Capital. Des.

Relator: Luiz Carlos Freyesleben. Data da Decisão: 30/06/2005).

A culpa é o elemento essencial e caracterizador da

Responsabilidade Subjetiva. Para Gomes [2001, p. 34], somente haverá

obrigação de ressarcir se o sujeito tiver precedido com culpa.

Entretanto, Rodrigues [2001, p. 11] pondera que: Realmente

se diz subjetiva a Responsabilidade quando inspira na idéia de culpa. De modo

que a prova da culpa do agente causador do dano é indispensável para que surja

a dever de indenizar.

No que concerne ao ônus de prova na Responsabilidade

Subjetiva, extrai-se do Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

INDENIZATÓRIA. ACIDENTE DE CIRCULAÇÃO. CULPA DO ACIONADO NÃO SUFICIENTEMENTE DEMONSTRADA. IMPROCEDÊNCIA. SENTENÇA CONFIRMADA. INSURGÊNCIA RECURSAL DESPROVIDA. É do autor da ação o ônus de provar os fatos constitutivos do direito subjetivo que pretende ver resguardado, assumindo ele o risco de ver negada a tutela jurisdicional buscada, acaso não logre comprovar os fatos alegados e que emprestam sustentáculo a esse direito (Apelação

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Cível nº. 97.000312-9, de Lages, rel. Des. Trindade dos Santos.

Data decisão: 18/02/1999).

Diante do explanado, em matéria de Responsabilidade Civil

subjetiva, tornou-se esclarecido que, é indispensável à comprovação da culpa do

agente pela comissão ou omissão que resulte em dano, para que a vítima

progrida no seu direito de ser ressarcida.

Entretanto, tanto no Direito Civil quanto em todas as áreas

do direito, para toda regra existe uma exceção, e em se tratando de

Responsabilidade Civil não é diferente.

Tudo o que até agora foi estudado, restou na certeza de

que, todo aquele que causar dano a outrem, fica obrigado a reparar. Eis que

surge a exceção a regra, pois teremos danos que foram provocados sem a

conduta voluntária do agente. Diante de uma situação dessas, e devidamente

comprovada, o agente fica imune de reparar o dano, pois está diante de uma

excludente de Responsabilidade, objeto de estudo a seguir.

1.6 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

As causas excludentes de Responsabilidade são

circunstâncias que exoneram a parte ativa de ver-se obrigado a reparar um dano

que se deu não por sua culpa, mas por fatores alheio a sua vontade.

Para que se possa impor a alguém a obrigação de indenizar

o prejuízo experimentado por outrem, Rodrigues [2002, p. 163] enfatiza que:

É mister que haja uma relação de causalidade entre o ato culposo praticado pelo agente e o prejuízo sofrido pela vítima. Pois, ao estudar as excludentes da Responsabilidade, [...] a mera existência de uma delas envolve a negação do liame da

causalidade, e sem ele, não há obrigação de indenizar.

As causas excludentes de Responsabilidade Civil, como

bem ensina Gagliano [2006, p. 101], devem ser entendidas como todas as

circunstâncias que, por atacar um dos elementos ou pressupostos gerais da

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Responsabilidade Civil, rompendo o nexo causal, terminam por fulminar qualquer

pretensão indenizatória.

Excludentes de Responsabilidade, como bem ensina Gomes

[2001, p. 187], são causas que eliminam a obrigação de indenizar não obstante a

existência do dano. A exclusão de Responsabilidade atua sobre os elementos

constitutivos da Responsabilidade, basicamente sobre o nexo de causalidade.

Para Rodrigues [2002, p. 164] são excludentes da

Responsabilidade: a culpa da vítima, o fato de terceiro, o caso fortuito ou de força

maior e, atuando exclusivamente no campo contratual, a cláusula de não

indenizar.

O estudo individual das excludentes de Responsabilidade

será objeto de apreciação no capítulo 3.

O próximo capítulo tratará de estudar os Contratos em geral,

passando por seus aspectos históricos, conceitos, princípios, classificação,

formação, interpretação e extinção, ao passo que, diante desse estudo, chegar-se

ao Contrato de Transporte.

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CAPÍTULO 2

CONTRATO DE TRANSPORTE DE PESSOAS

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

Neste capítulo tratar-se-á do instituto do Contrato, dando

ênfase ao objeto deste estudo, qual seja, o Contrato de Transporte de Pessoas.

Quanto ao Contrato, Gagliano [2007, p. 1] leciona que se

trata da espécie mais importante e socialmente difundida de negócio jurídico,

consistindo, sem sombra de dúvidas, na força motriz das engrenagens

socioeconômicas do mundo.

Logo em seguida, o autor expõe ainda que:

Desde os primórdios da civilização, quando se abandona o estágio da barbárie, experimentando certo progresso espiritual e material, o contrato passou a servir, enquanto instrumento por excelência de circulação de riquezas, como a justa medida dos interesses contrapostos. Ao invés de utilizar violência para perseguir os seus fins, o homem passou a recorrer às formas de contratação, objetivando imprimir estabilidade às relações jurídicas que pactuava, segundo, é claro, os seus próprios

propósitos.

Mas, afinal, quando o Contrato surgiu?

Para Gagliano [2007, p. 2], não se pode fixar, ou identificar,

ao longo da história, uma data específica do surgimento do Contrato. O que se

pode buscar, sim, é um período em que a sua sistematização jurídica se tornou

mais nítida, mais detectável pelo estudioso do direito ou pelo investigador da

história.

E sobre o surgimento do Contrato de Transporte, Venosa

[2007, p. 314] declina seu entendimento discorrendo que essa modalidade de

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Contrato surge no curso da história quando a civilização atinge determinado

estágio que faz brotar a necessidade de intercâmbio de pessoas e coisas.

Diante do exposto, restou esclarecido que não se estabelece

uma data específica quanto ao surgimento do Contrato, estabelece-se tão

somente uma época em que este instituto começou a ser utilizado.

Sendo assim, para melhor compreensão do instituto do

Contrato, necessário é conceituá-lo, que vem a seguir.

2.2 CONCEITO DE CONTRATO

No que diz respeito a conceituar, Gagliano [2007, p. 11]

declara que não é tarefa fácil, pois, quem a fizer, poderá pecar, imaginando que a

sua definição é a mais perfeita ou a mais verdadeira. E, com isso, o autor

conceitua Contrato como sendo:

Um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social e da boa-fé objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir,

segundo a autonomia das suas próprias vontades.

Na lição de Diniz [2006, p. 24], Contrato é o acordo de duas

ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer

uma regulamentação de interesse entre as partes, com o escopo de adquirir,

modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial.

O Contrato, para Gonçalves [2007, p. 3], é um acordo de

vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar,

transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos.

Acrescentando ainda que: O Contrato é uma espécie de

negócio jurídico que depende, para a sua formação, da participação de pelo

menos duas pessoas. É, portanto, negócio jurídico bilateral ou plurilateral.

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Sobre negócio jurídico bilateral, Lisboa [2002, p. 89-90]

ensina que:

Todo negócio jurídico é constituído por um vínculo intersubjetivo que obriga as partes ao cumprimento daquilo que foi entre elas ajustado, [...]. Esse liame que sujeita as partes ao cumprimento de obrigações recebe o nome de sinalagma. E, o Contrato bilateral ou sinalagmático prevê a existência de obrigações recíprocas para

ambas as partes.

Assim também entende Diniz [2006, p. 87] ao ensinar que:

Os Contratos são bilaterais quando um dos contraentes é simultânea e reciprocamente credor e devedor do outro, pois produz direitos e obrigações para ambos, tendo por característica principal o sinalagma, ou seja, a dependência recíproca de

obrigações; daí serem também denominados sinalagmáticos.

De igual norte, Sampaio [2002, p. 36] também leciona que:

Nos Contratos bilaterais ou sinalagmáticos, surgem obrigações para ambas as

partes, que assumem, simultaneamente, a dupla posição de devedor e credor.

Sendo assim, o Contrato é uma espécie de negócio jurídico,

e exige, para a sua formação a presença de pelo menos duas pessoas, que se

obrigam a cumprir o que fora ajustado.

Diante da conceituação do que é Contrato, passar-se-á ao

estudo do Contrato de Transporte de pessoas.

2.3 CONTRATO DE TRANSPORTE DE PESSOAS

Inicialmente, conceituar-se-á o que é transporte ou

transportar.

Na lição de Stoco [2007, p. 281], transportar, do latim

transportare, significa, no sentido vulgar da palavra, conduzir ou levar de um lugar

para outro. Transporte exprime movimento, ou seja, a ação de conduzir ou levar

coisas ou pessoas em aparelhos adequados, de um lugar para outro, seja por

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meios próprios, ou através de terceiros e – por intermédio destes – mediante

Contrato ou gratuitamente.

Para Lisboa [2002, p. 241], transporte é o Contrato por meio

do qual uma pessoa física ou jurídica (Transportadora) se obriga a conduzir

pessoas ou coisas para determinado destino, mediante o pagamento respectivo

do interessado.

E sobre transporte de pessoas, Lisboa [2002, p. 242] dispõe

que é aquele que decorre da condução de Passageiros, acompanhados ou não

de bagagem, com bilhete expedido pelo Transportador ou terceiro por ele

autorizado.

No que concerne ao Contrato de Transporte, Venosa [2007,

p. 313] discorre que: É o negócio pelo qual um sujeito se obriga, mediante

remuneração, a entregar coisa em outro local ou a percorrer um itinerário para

uma pessoa.

Para Diniz [2006, p. 471], o Contrato de Transporte é aquele

em que uma pessoa ou empresa se obriga, mediante retribuição, a transportar, de

um local para outro, pessoas ou coisas animadas ou inanimadas.

O Contrato de Transporte é disciplinado no Código Civil

pelos artigos 730 a 756 (do art. 734 a 742 diz respeito ao transporte de pessoas,

e do art. 743 a 756 trata do transporte de coisas). O artigo 730 também traz um

conceito de Contrato de Transporte. Eis sua redação:

Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante

retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas.

Portanto, o Contrato de Transporte, na lição de Stoco [2007,

p. 284], obriga o Transportador, desde que remunerado, a conduzir ou transportar

o Passageiro de um local determinado ao seu destino.

Pode-se agora então definir o que é Contrato de Transporte

de pessoas.

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O Contrato de Transporte de pessoas, para Diniz [2006, p.

492], é aquele em que o Transportador se obriga a remover uma pessoa e sua

bagagem de um local para outro, mediante remuneração

Diante do exposto, verifica-se que para configurar um

Contrato de Transporte, necessário que se faça mediante remuneração, pois, em

nossos dias, ocorre o transporte gratuito ou por mera cortesia ou amizade,

modalidade esta que não se subordina às normas do Contrato de Transporte, em

face do disposto no artigo 736 do Código Civil:

Art. 736. Não se subordina às normas do Contrato de Transporte

o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia.

Somente deve ser considerado transporte gratuito aquele

que, na lição de Venosa [2007, p. 324], seja totalmente desinteressado, sem

direito algum à retribuição pecuniária.

Sobre o artigo acima citado, Diniz [2006, p. 492] ensina que,

caso o Passageiro, que fora conduzido gratuitamente, vier a sofrer uma lesão, só

poderá acionar o Transportador, provando sua negligência, imprudência ou

imperícia, para haver uma reparação de danos.

Para Venosa [2007, p. 325], o transporte gratuito faz

referência aos Contratos benéficos, e desse modo, afasta-se a Responsabilidade

Objetiva destinada ao transporte oneroso. Destarte, o Transportador gratuito que

venha causar que venha a causar dano à pessoa [...] deve indenizar, se a vítima

provar que agiu com dolo ou culpa grave.

Atualmente, a questão é tema da súmula 145 do STJ:

No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao

transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.

Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência do STJ:

RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE DE SIMPLES CORTESIA (OU BENEVOLO). DOLO OU CULPA GRAVE. QUEM

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OFERECE TRANSPORTE POR SIMPLES CORTESIA SOMENTE RESPONDE PELOS DANOS CAUSADOS AO PASSAGEIRO EM CASO DE DOLO OU CULPA GRAVE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (REsp 54.658/SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 12/12/1994, DJ

13/03/1995 p. 5307).

Assim, em qualquer que seja a situação, o transportado

deverá, além de comprovar o dano e a ação/omissão da agente causador, provar

que o mesmo agiu com dolo ou culpa grave, para então ter direito à reparação de

seus danos.

Caso o transporte, mesmo que realizado a título gratuito, vier

a auferir vantagens, mesmo que indiretas, não se considera transporte gratuito, é

o que determina o parágrafo único do artigo 736 do Código Civil:

Art. 736. [...] Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens

indiretas.

Alguns exemplos podem ser invocados acerca dessa

circunstância. Stoco [2007, p. 436] discorre que pode ser o caso do patrão que

fornece condução aos seus funcionários no trajeto do trabalho a residência e vice-

versa.

Outro exemplo é trazido por Diniz [2006, p. 492], dizendo

que essa modalidade de transporte ocorre quando uma agência de turismo coloca

a disposição dos turistas, nos dias de estada, gratuitamente ônibus para passeio,

com o intuito de ampliar seus serviços, angariando mais clientes.

Ainda sobre transporte gratuito, ressalta-se o que prevê o

artigo 39 da Lei nº. 10.741/03 – Estatuto do Idoso -, que assegura a gratuidade do

transporte para pessoas com idade superior a 65 (sessenta e cinco) anos.

Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica

assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos

urbanos e semi-urbanos, [...].

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Sobre este artigo 39 do Estatuto do Idoso, Coelho [2007, p.

393], declina seus ensinamentos discorrendo que:

Igualmente não é gratuito o Contrato de Transporte por ônibus urbano e semi-urbano em que o Passageiro está dispensado por lei de qualquer pagamento em razão da idade. Mesmo havendo a gratuidade do serviço, a empresa Transportadora continua auferindo as mesmas vantagens que a motivaram a se dedicar à prestação de serviço público, não se podendo falar então de

Contrato gratuito de transporte.

Acrescenta-se ainda os artigos 731 e 732 do Código Civil

das normas regulamentadoras que está sujeito o Contrato de Transporte.

Art. 731. O transporte exercido em virtude de autorização,

permissão ou concessão, rege-se pelas normas regulamentares e pelo que for estabelecido naqueles atos, sem prejuízo do disposto neste Código. Art. 732. Aos Contratos de transporte, em geral, são aplicáveis,

quando couber, desde que não contrariem as disposições deste Código, os preceitos constantes da legislação especial e de

tratados e convenções internacionais.

Quanto ao artigo 731, Stoco [2007, p. 285] enfatiza que essa

ressalva é absolutamente necessária, pois o transporte constitui atividade

privativa do Estado, explorado por ele próprio ou através de autorização,

permissão ou concessão [...].

Por outro lado, em conformidade com o artigo 732 do Código

Civil, Venosa [2007, p. 314] expõe que a intenção do legislador do presente

Código foi de estabelecer as regras gerais do Contrato de Transporte, que

deverão ser aplicadas em derrogação aos princípios que contrariem a vasta

legislação pretérita sobre transportes.

Merece também total amparo neste estudo a relação de

transporte cumulativo. Sobre o tema, o Código Civil assim determina em seu

artigo 733:

Art. 733. Nos contratos de transporte cumulativo, cada

transportador se obriga a cumprir o contrato relativamente ao

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respectivo percurso, respondendo pelos danos nele causados a pessoas e coisas. § 1º O dano, resultante do atraso ou da interrupção da viagem, será determinado em razão da totalidade do percurso. § 2º Se houver substituição de algum dos transportadores no decorrer do percurso, a responsabilidade solidária estender-se-á

ao substituto.

Na lição de Gonçalves [2007, p. 458-459], ocorre o

transporte cumulativo quando vários transportadores realizam o transporte, por

trechos, mediante um único bilhete que estabelece a unidade. Ressaltando que,

para considerar-se cumulativo o transporte, é preciso que haja unidade da relação

contratual a que se vinculam os diversos transportadores.

A luz do artigo 733 do Código Civil, Stoco [2007, p. 291]

leciona que significa que cada Transportador integrante do grupo é responsável

pelo transporte no trecho que lhe foi confiado.

Ao passo de que já fora estabelecido o que é Contrato de

Transporte de pessoas, ver-se-á quem são seus sujeitos.

2.3.1 Sujeitos do Contrato de Transporte

Os sujeitos do Contrato de Transporte são os que

efetivamente relacionam-se, tanto quem oferece ou quem utiliza o serviço de

transporte.

Nessa modalidade de Contrato, segundo Diniz [2006, p.

493], há dois contraentes: o Transportador, que é a pessoa que se compromete a

fazer o transporte; e o Passageiro, que se propõe a ser transportado, pagando

certo preço.

Por quanto, se expressa Venosa [2007, p. 317] no sentido

de que tanto no transporte de coisas quanto no transportes de pessoas, o

Transportador ou condutor é aquele que se obriga a entregar a coisa ou o

Passageiro.

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Sobre a capacidade das partes na relação contratual de

transporte, Diniz [2006, p. 493] ressalta que ambos devem ser capazes, e os

Passageiros menores deverão ser representados por seus pais.

2.3.2 Prova do Contrato de Transporte

Para ter o direito de viajar, o Passageiro adquiri um bilhete

de passagem, que, segundo Diniz [2006, p. 494], poderá ser nominativo ou ao

portador, e dará direito a quem se apresentar com ele de ser transportado; é,

portanto, um título de legitimação, que atesta a vontade do adquirente de ser

transportado de um lugar para outro, e a do Transportador de realizar o

transporte.

Sobre a prova do Contrato de Transporte, Venosa [2007, p.

329] leciona que o bilhete de passagem, ou simplesmente passagem, emitido

pelo Transportador ou seu mandatário, é a prova do Contrato de Transporte de

pessoas.

Nesse mesmo sentido, Diniz [2006, p. 494] ensina que o

bilhete de passagem constitui a prova do Contrato de Transporte, e sua falta,

irregularidade ou perda não prejudica a existência e eficácia do Contrato.

Assim também entende Venosa [2007, p. 329] quando

prescreve que, como o documento possui apenas finalidade probatória, sua falta,

ausência ou perda não induz invalidade ou inexistência do Contrato, porque se

admite prova por outros meios.

Isso ocorre porque, segundo Diniz [2006, p. 495], o bilhete é

usual em certos meios de transporte, como em trens, em ônibus para viagens de

longo percurso, porém, em outros é substituído pelo depósito de importância em

lugares indicados, como em caixinhas metálicas, ou pelo pagamento feito

diretamente ao representante do Transportador.

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39

2.3.3 Natureza jurídica do Contrato de Transporte

Quanto à natureza jurídica, Diniz [2006, p. 472-473]

classifica o Contrato de Transporte como sendo bilateral, oneroso, comutativo,

consensual.

Conforme sua classificação o Contrato de Transporte é

bilateral por originar obrigações tanto para o Transportador como para o

Passageiro [...]. O Transportador deverá remover a pessoa de um lugar para

outro, e o Passageiro terá de pagar o preço ajustado, que é a passagem [...].

Na lição de Gonçalves [2007, p. 454] o Contrato de

Transporte é bilateral porque gera obrigações recíprocas.

Tem-se também a classificação exposta por Venosa [2007,

p. 315], qual seja: É negócio bilateral, consensual, oneroso, típico, de duração,

comutativo e não formal. De acordo com sua classificação, é consensual porque

se aperfeiçoa com o simples acordo de vontades.

A consensualidade existe, pois, segundo Diniz [2006, p.

473], visto que se aperfeiçoa pelo mútuo consentimento dos contraentes.

Quando se trata de negócio jurídico consensual, Gagliano

[2007, p. 128] expõe que são todos aqueles que a ordem jurídica não exige

nenhuma forma especial para a sua celebração.

Quanto a sua onerosidade, Diniz [2006, p. 472] prescreve

que esta classificação lhe é essencial, pois o serviço de transporte é atividade

econômica de fim lucrativo.

Na lição de Gonçalves [2007, p. 454], o Contrato de

Transporte é oneroso, uma vez que a obrigação do Transportador é assumida

mediante remuneração a ser prestada pelo alienante.

Para Venosa [2007, p. 316] é oneroso porque as partes

buscam vantagens recíprocas, o destino para o Passageiro e o preço para o

Transportador.

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40

No que concerne a classificação comutatividade, Diniz

[2006, p. 472] ensina que ocorre porque as prestações da ambas as partes

contraentes já estão certas, não ficando na dependência de algum evento futuro e

incerto.

De igual norte prescreve Venosa [2007, p. 316] quando diz

que é comutativo porque as partes conhecem as obrigações respectivas de início,

não dependendo de evento futuro e incerto.

Para Gagliano [2007, p. 117], fala-se em Contrato

comutativo quando as obrigações de equivalem, conhecendo os contraentes as

suas respectivas prestações.

Quanto a tipicidade, duração e não formalidade do Contrato

de Transporte, Venosa [2007, p. 316] assim expõe:

Atualmente é típico após sua inclusão no vigente Código; é de o de duração pois sua execução necessita sempre de um lapso temporal para ser cumprido; é não solene, uma vez que não

depende de forma prescrita para ser concluído.

Neste mesmo sentido, porém acrescentando ao Contrato de

Transporte de pessoas a classificação de Contrato de adesão, Gonçalves [2007,

p. 454] diz que tal Contrato é não solene, pois não depende de forma prescrita na

lei, sendo válida a celebração verbal.

Sobre a classificação de Contrato de Adesão, será visto a

seguir.

2.3.4 Contrato de adesão

Contrato de Adesão é aquele em que os contraentes não

discutem as cláusulas. Sobre esse tipo de Contrato, Gagliano [2007, p. 121]

ensina que é de adesão porque um dos pactuantes predetermina, ou seja, impõe

as cláusulas de negócio jurídico.

Rodrigues [2004, p. 44] vai mais além e assim define esta

modalidade de Contrato:

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Contrato de adesão é aquele em que todas as cláusulas são previamente estipuladas por uma das partes, de modo que a outra, no geral mais fraca e na necessidade de contratar, não tem poderes para debater as condições, nem introduzir modificações

no esquema proposto.

Nos Contratos de Adesão, segundo Diniz [2006, p. 97],

inexistem a liberdade de convenção, uma vez que um contratantes se limita a

aceitar as cláusulas e condições previamente redigidas pelo outro, aderindo a

uma situação contratual já definida em todos os seus termos. Esses Contratos

ficam, portanto, ao arbítrio exclusivo de uma das partes – o policitante11 -, pois o

oblato12 não pode discutir ou modificar o teor do Contrato ou as suas cláusulas.

O Código de Defesa do Consumidor traz em seu artigo 54

uma definição de Contrato de Adesão.

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido

aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu

conteúdo.

Com isso, Coelho [2007, p. 76] ensina que não há margem

para negociação. Se o consumidor quiser contratar, resta-lhe apenas a alternativa

de concordar com as condições de negócios do fornecedor.

Na lição de Gonçalves [2007, p. 453], o Contrato de

Transporte é típico Contrato de Adesão, que é uma categoria de Contrato em que

as partes não discutem amplamente as suas cláusulas.

11 O policitante é aquele que suscita a formação do contrato por intermédio de uma declaração unilateral de vontade que, salvo disposição em contrário, tem por característica fundamental vinculá-lo aos termos da proposta por ele feita. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4992>. Acesso em: 25 abr. 2009. 12 Oblato é considerado como a pessoa a quem é direcionada a proposta de um contrato, que será aceita ou não, dependendo da sua manifestação de vontade. A expressão é sinônimo de aceitante ou aderente, normalmente utilizada em contratos de adesão. A manifestação de aceitação do oblato é necessária ao aperfeiçoamento do contrato, mas consiste somente na aceitação ou não das cláusulas contratuais já propostas e de autoria exclusiva do policitante, Disponível em : <http://pt.wikipedia.org/wiki/Oblato>. Acesso em: 25 abr. 2009.

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42

E continua sua lição definindo Contrato de Adesão:

No Contrato de adesão as cláusulas são previamente estipuladas por uma das partes, às quais a outra simplesmente adere. Há uma espécie de preponderância da vontade de um dos contratantes. Há neles um regulamento, previamente redigido por um deles, e

que o outro aceita ou não.

No mesmo sentido, Stoco [2007, p. 284] também declina seu

entendimento de que o Contrato de Transporte constitui típico Contrato de

Adesão. Portanto, o Passageiro simplesmente adere na hora da celebração do

Contrato e as partes não discutem as cláusulas contratuais, como normalmente

ocorrem nos demais Contratos.

Ocorrendo o Contrato de Adesão, Rodrigues [2004, p. 44]

discorre que o tomador dos serviços ou aceita tudo em bloco ou recusa tudo por

inteiro.

Entretanto, para um fiel cumprimento do Contrato de

Transporte, as partes devem seguir normas de condutas, que serão vistas a

seguir.

2.4 DIREITOS E DEVERES DO TRANSPORTADOR

O Transportador, segundo Coelho [2007, p. 395], deve

organizar a atividade econômica de prestação de serviços de transporte para

poder cumprir satisfatoriamente suas obrigações contratuais e ter meios para

respeitar os direitos do outro contratante.

O Transportador, na lição de Gonçalves [2007, p. 467], tem

o direito de exigir o pagamento do preço, tendo em vista que o Contrato de

Transporte é oneroso. A obrigação de realizar o transporte corresponde à de

pagar a retribuição sob a forma de passagem [...].

Na falta de pagamento do valor da passagem, Diniz [2006,

p. 509] apregoa que o Transportador tem o direito de reter a bagagem e outros

objetos do Passageiro para garantir-se desse pagamento.

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43

Sobre a retenção da bagagem e objetos, o Código Civil

prevê tal legalidade por parte do Transportador em seu artigo 742, que assim

dispõe:

Art. 742. O Transportador, uma vez executado o transporte, tem

direito de retenção sobre a bagagem de passageiro e outros objetos pessoais deste, para garantir-se do pagamento do valor da passagem que não tiver sido feito no início ou durante o

percurso.

Em se tratando de bagagem, o Transportador tem o direito

de exigir do Passageiro a declaração escrita do valor da bagagem, que, para

Diniz [2006, p. 509], serve para fixar o limite máximo da indenização havendo

perda ou extravio.

Igual previsão está disposta no parágrafo único do artigo 734

do Código Civil:

Art. 734. [...]

Parágrafo único. É lícito ao Transportador exigir a declaração do

valor da bagagem a fim de fixar o limite da indenização.

Se, porventura o Passageiro não embarcar ou desistir da

viagem, Gonçalves [2007, p. 468] expõe que o Transportador tem o direito de

reter até 5 % da importância a ser restituída. A retenção é autorizada a título de

multa compensatória.

O § 3º do artigo 740 do Código Civil autoriza essa retenção:

Art. 740. [...] § 3º [...] o transportador terá direito de reter até cinco por cento da importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa compensatória.

Também terá direito o Transportador de não aceitar

Passageiro que não se encontre em boas condições de saúde ou higiene. Isto

está disposto no artigo 739 do Código Civil:

Art. 739. O Transportador não pode recusar Passageiros, salvo os casos previstos nos regulamentos, ou se as condições de higiene

ou de saúde do interessado o justificarem.

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Para Gonçalves [2007, p. 469] o Transportador tem o direito

de alegar a força maior como excludente de sua Responsabilidade por dano às

pessoas transportadas e suas bagagens. É o que dispõe o artigo 734 do Código

Civil:

Art. 734. O Transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força

maior [...].

O autor acima citado ensina que a alegação da força maior

também pode ser alegada no descumprimento de horário ou itinerário por parte

do Transportador. Cita-se o art. 737 do Código Civil:

Art. 737. O Transportador está sujeito aos horários e itinerários

previstos, sob pena de responder por perdas e danos, salvo

motivo de força maior.

Por outro lado, na lição de Diniz [2006, p. 503], uma vez

celebrado o Contrato de Transporte de pessoas, tem o Transportador a obrigação

de efetuar o transporte de um local para outro com cuidado, exatidão e presteza

no tempo e no modo convencionados. Esta previsão está contida no artigo 737 do

Código Civil, citado acima.

Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência do STJ:

O contrato de transporte constitui obrigação de resultado. Não basta que o transportador leve o transportado ao destino contratado. É necessário que o faça nos termos avençados (dia, horário, local de embarque e desembarque, acomodações, aeronave etc.) (REsp. Nº 151.401 - SP 1997⁄0072987-7. REL.: MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS. Data Julgamento:

17/06/2004).

Em qualquer Contrato de Transporte de pessoas, na lição de

Coelho [2007, p. 395], a principal obrigação do Transportador é a de recolher no

ponto de origem e levar ao ponto de destino a pessoa a ser transportada. A

pessoa transportada tem o direito à idoneidade ao qual corresponde a obrigação

do Transportador de se aparelhar de modo a reduzir ao mínimo possível os

acidentes de transporte.

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Na lição de Gonçalves [2007, p. 469], o Transportador

responde objetivamente pelos danos causados às pessoas transportadas e suas

bagagens, salvo motivo de força maior, isto de acordo com o artigo 734 do Código

Civil, já citado.

O autor ainda acrescenta:

A obrigação fundamental do transportador é a de transportar o passageiro a coberto de riscos. Trata-se de obrigação contratual e de resultado, estando implícita a cláusula de incolumidade. A Responsabilidade pelos danos é objetiva, somente admitindo-se as excludentes que rompem o nexo causal, como a força maior,

culpa exclusiva da vítima [...].

O Transportador tem o dever de concluir a viagem, caso vier

a ser interrompida, nos moldes do artigo 741 do Código Civil:

Art. 741. Interrompendo-se a viagem por qualquer motivo alheio à vontade do Transportador, ainda que em conseqüência de evento imprevisível, fica ele obrigado a concluir o transporte contratado em outro veículo da mesma categoria, ou, com a anuência do Passageiro, por modalidade diferente, à sua custa, correndo também por sua conta as despesas de estada e alimentação do

usuário, durante a espera de novo transporte.

Sobre o artigo acima citado, Diniz [2006, p. 508] ensina que:

O Transportador assumiu uma obrigação de resultado, e se, a viagem se interromper por motivo alheio à sua vontade (caso fortuito, força maior) ou por fato imprevisível, deve o Contrato ser concluído em outro veículo, da mesma categoria, ou se o Passageiro anuir, de outra diferente, a sua custa, correndo também por sua conta as despesas de estada e alimentação do

usuário, durante a espera do novo transporte.

Se a viagem interromper-se por qualquer razão, mesmo que

alheio à vontade do Transportador ou derivado de fato imprevisível, Coelho [2007,

p. 397] discorre que é obrigação dele providenciar a continuidade do transporte

em outro veículo da mesma categoria. Em qualquer caso, todas as despesas com

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alimentação e estada do Passageiro durante a interrupção do transporte são de

Responsabilidade do empresário Transportador.

Concernente ao Contrato de Transporte cumulativo, o

Transportador deverá, relativamente ao seu percurso, responder solidariamente

pelos danos pessoais que nele se derem. O Contrato de Transporte cumulativo

tem previsão legal no Código Civil em seu artigo 733, já citado anteriormente.

Sobre o transporte cumulativo, Diniz [2006, p. 507] leciona

no sentido de que cada Transportador se obriga a cumprir o Contrato

relativamente ao respectivo percurso, e o dano advindo de atraso ou de

interrupção da viagem será determinado em razão da totalidade do percurso, e

não apenas em uma ou outra etapa.

Por derradeiro, Gonçalves [2007, p. 469] leciona de que

compete ao Transportador concluir a viagem contratada, nos moldes do artigo

741 do Código Civil, já citado.

Se o Transportador tem direitos e obrigações no que tange

ao Contrato de Transporte, o Passageiro também os tem, vejam-se a seguir.

2.5 DIREITOS E DEVERES DO PASSAGEIRO

O que se pode dizer ser o primeiro direito do Passageiro,

seria o de exigir o cumprimento do Contrato de Transporte, Coelho [2007, p. 395]

leciona que em qualquer Contrato de Transporte de pessoas, a principal

obrigação do Transportador é a de recolher no ponto de origem e levar ao ponto

de destino a pessoa a ser transportada.

Durante o trajeto, como bem enfatiza Gonçalves [2007, p.

470], o Passageiro tem o direito de ser conduzido são e salvo ao destino

convencionado. Isto porque, com a venda da passagem, o Transportador assume,

implicitamente, a obrigação de conduzir o Passageiro ao seu destino, são e salvo.

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Diante do direito de ter o Passageiro de ser conduzido

incólume ao seu destino, eis julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACIDENTE OCORRIDO NO INTERIOR DO ÔNIBUS. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL CONSUMERISTA. INCOLUMIDADE DO PASSAGEIRO ATÉ O DESTINO. VERIFICAÇÃO DO DANO.- OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. Com o embarque do Passageiro a empresa Transportadora assume a obrigação de conduzi-lo incólume até seu destino, sendo responsável por qualquer dano que porventura venha a ocorrer, configurando-se uma obrigação de resultado, ante à responsabilidade contratual consumeirista existente. (Apelação Cível nº. 2003.019540-8 de Forum Distrital do Estreito. Relator:

Carlos Prudêncio. Data: 06/03/2007).

Diniz [2006, p. 510] entende da mesma forma, dizendo que,

uma vez apresentado o bilhete de passagem, o Passageiro tem o direito de exigir

o transporte e não pode sofrer qualquer discriminação.

Outro direito do Passageiro é o de rescindir o Contrato antes

de iniciar a viagem, recebendo o valor da passagem, desde que feita a

comunicação ao Transportador em tempo de ser renegociada. Este direito é

declarado pelo artigo 740 do Código Civil:

Art. 740. O Passageiro tem direito a rescindir o contrato de

transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação

ao transportador em tempo de ser renegociada.

Como bem ensina Gonçalves [2007, p. 470], o artigo 740 do

Código Civil não menciona qual é esse prazo para ser dado o aviso ao

Transportador.

No entanto, o Decreto nº. 2.521/98, que dispõe sobre

serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de Passageiros,

vem sendo também aplicado ao transporte intermunicipal, e que estabelece, em

seu artigo 69, o prazo de 03 (três) horas antes da partida.

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Art. 69 . O usuário poderá desistir da viagem, com obrigatória

devolução da importância paga, ou revalidar a passagem para outro dia e horário, desde que se manifeste com antecedência

mínima de três horas em relação ao horário de partida.

Entretanto, se o Passageiro desistir da viagem depois de

iniciada, Gonçalves [2007, p. 470] ressalta que o Passageiro terá direito à

restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado

que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar. E quando o Passageiro

não comparece ao embarque nem avisa previamente a empresa, pode ainda

assim o Passageiro obter a restituição do valor pago, se provar que outra pessoa

foi transportada em seu lugar. Estes direitos estão dispostos respectivamente nos

§§ 1º e 2º do artigo 740 do Código Civil:

Art. 740. [...] § 1º Ao Passageiro é facultado desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar. § 2º Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será

restituído o valor do bilhete não utilizado.

Cabe também ao Passageiro o direito de ocupar o lugar

mencionado no seu bilhete, ou, se o bilhete não mencionar lugar certo, ocupar

qualquer um do veículo. Isso ocorre, segundo Diniz [2006, p. 510], já que o

Transportador não poderá vender bilhetes em número superior ao dos lugares

existentes. Mas, segundo a autora, em certos tipos de transportes coletivos, para

facilitar o tráfego de pessoas, será permitido ao condutor transportar um número

de pessoas superior ao dos assentos existentes.

Ao Passageiro também lhe é conferido o direito de exigir que

o Transportador conclua a viagem interrompida por motivo alheio a sua vontade,

mas, como bem lembra Gonçalves [2007, p. 471], deve ser em outro veículo da

mesma categoria, ou de modalidade diferente se houver concordância do usuário,

e responda por todas as despesas provenientes desse fato.

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No decorrer do transporte, caso o Passageiro venha a sofrer

dano moral ou patrimonial, Diniz [2006, p. 512] leciona que este poderá acionar o

Transportador pelos danos decorrentes do transporte.

Nesse sentido, eis julgado do Tribunal de Justiça de Santa

Catarina:

Tratando-se de empresa dedicada ao transporte de pessoas, é conclusivo que a falta de disponibilidade de seu veículo gera efeitos patrimoniais negativos, cabendo, pois, ao causador do dano, indenizar a vítima pela renda que deixou de auferir. (Apelação Cível nº. 2000.017352-5 de Araranguá. Relator: Luiz

Carlos Freyesleben. Data: 07/04/2005).

Tendo o Passageiro direitos de pleitear ressarcimento por

danos causador pelo Transportador, é necessário que se saiba qual é o prazo

para fazê-lo. A jurisprudência tem se manifestado no sentido de que quando o

serviço é prestado de forma ineficiente, classificada como defeito na prestação do

serviço, cabe o prazo previsto no artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor.

Assim se extrai da jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça:

PROCESSO CIVIL, CIVIL E CONSUMIDOR. TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PESSOAS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. PRESCRIÇÃO. PRAZO. ART. 27 DO CDC. NOVA INTERPRETAÇÃO, VÁLIDA A PARTIR DA VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO CIVIL. Com o advento do CC⁄02, não há mais espaço para discussão. O art. 734 fixa expressamente a responsabilidade objetiva do transportador pelos danos causados às pessoas por ele transportadas, o que engloba o dever de garantir a segurança do passageiro, de modo que ocorrências que afetem o bem-estar do viajante devem ser classificadas de defeito na prestação do serviço de transporte de pessoas. Como decorrência lógica, os contratos de transporte de pessoas ficam sujeitos ao prazo prescricional específico do art. 27 do CDC. Deixa de incidir, por ser genérico, o prazo prescricional do Código Civil. Recurso especial não conhecido. (REsp Nº 958.833 - RS 2007⁄0130788-1. REL.: MINISTRA NANCY

ANDRIGHI. Data Julgamento: 08/02/2008).

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Ao passo desses direitos, cabe ao Passageiro também

alguns deveres, para que, junto com o Transportador, concluir o Contrato sem

qualquer tipo de problemas.

Ao Passageiro, na lição de Gonçalves [2007, p. 471], cabe

pagar o preço ajustado, seja no início ou durante a viagem se assim foi

convencionado. Caso não faça o referido pagamento, poderá ter sua bagagem ou

outros objetos retidos pelo Transportador, para garantir-se este do pagamento do

valor da passagem, de acordo com o artigo 742 do Código Civil, aqui já citado.

Assim também entende Diniz [2006, p. 513] quando diz que

é dever do Passageiro pagar a importância determinada, relativa ao percurso da

viagem, de acordo com a tarifa preestabelecida.

Como bem lembra Coelho [2007, p. 400], Passageiro é a

pessoa transportada. Preceitua a lei que a pessoa transportada deve sujeitar-se

às normas estabelecidas pelo Transportador, para e execução normal do serviço.

Esta obrigatoriedade está estabelecida no artigo 738 do Código Civil:

Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas

estabelecidas pelo Transportador, constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo aos Passageiros, danifiquem o

veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço.

O regulamento do transporte é baixado unilateralmente pelo

Transportador. Aos seus termos e condições adere cada Passageiro com o

simples ato de embarcar no veículo de transporte. Coelho [2007, p. 401] ressalta

que esse regulamento visa a garantir a segurança e conforto de todos os

Passageiros durante a viagem. Enquanto se encontram sob os cuidados do

Transportador, os Passageiros devem observar as normas de conduta nele

fixadas, para que não se aumente o risco de acidentes ou danos, nem o nível de

desconforto.

Da mesma forma Gonçalves [2007, p. 471] ensina que, ao

Passageiro não é permitido causar perturbações ou incômodo aos outros

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Passageiros e não comprometer a segurança dos demais viajantes, ou prejudicá-

los, de qualquer modo.

Cabe também aqui citar o parágrafo único do artigo 738 do

Código Civil, o qual reza:

Art. 738. [...] Parágrafo único. Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atribuível à transgressão de normas e instruções regulamentares, o juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do

dano.

Sobre este parágrafo único, Gonçalves [2007, p. 471]

leciona que, caso o Passageiro transgredir normas e instruções regulamentares e,

em conseqüência, sofrer algum dano, o juiz reduzirá eqüitativamente a

indenização, na medida em que houver concorrido para a ocorrência do dano.

Ao Passageiro também lhe é incumbido o dever de

apresentar-se ao local de embarque, sendo a viagem com horário certo, antes da

hora marcada para a partida, pois, segundo Diniz [2006, p. 513], caso não o faça,

não terá o direito a ser reembolsado do preço do bilhete se, por não estar

presente no local e no horário fixados, perder a condução, salvo se provar que

outra pessoa foi transportada em seu lugar, devido a essa circunstância.

No mesmo sentido, Gonçalves [2007, p. 471] leciona que

constitui dever do Passageiro comparecer ao local de partida no horário

estabelecido ou avisar da desistência ou impossibilidade de realizar a viagem,

com a antecedência necessária para que outra pessoa possa viajar em seu lugar.

Ao Passageiro também lhe é dado a obrigação de

apresentar o bilhete de viagem quando lhe for pedido, mesmo no curso da

viagem, assim dispõe Diniz [2006, p. 514].

Tendo visto os direitos e deveres do Transportador e

Passageiro, encerra-se aqui o capítulo 2, o qual é fonte de estudo para verificar

em quais circunstâncias cabe ao Transportador o dever de reparar danos sofridos

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por Passageiros que estão sob sua Responsabilidade. O capítulo 3 tratará de

estudar o tema principal deste trabalho, qual seja, a Responsabilidade Civil do

Transportador de pessoas em rodovias, que vem a seguir.

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CAPÍTULO 3

RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR

3.1 EVOLUÇÃO

Neste capítulo ver-se-á o tema principal deste estudo, qual

seja, a Responsabilidade Civil do Transportador perante o Passageiro em caso de

danos decorrente do Contrato de Transporte.

Para tanto, necessário é um breve estudo do histórico

quanto ao surgimento desta Responsabilidade até o advento do Código Civil de

2002, e uma das primeiras normas que regeram a Responsabilidade do

Transportador encontra-se no Decreto nº. 2.681 de 07 de dezembro de 1912,

mais precisamente em seu artigo 17, o qual reza:

Art. 17. As estradas de ferro responderão pelos desastres que

nas suas linhas sucederem aos viajantes e de que resulte a morte, ferimento ou lesão corpórea. A culpa será sempre presumida, só se admitindo em contrário alguma das seguintes provas: 1ª - Caso fortuito ou força maior; 2ª - Culpa do viajante, não concorrendo culpa da estrada

Ainda em se tratando de exploração de transporte

ferroviário, este mesmo Decreto prevê em seu artigo 26 a proteção de áreas que

margeiam as estradas de ferro.

Art. 26. As estradas de ferro responderão por todos os danos que

a exploração de suas linhas causar aos proprietários marginais. Cessará, porém a responsabilidade, se o fato danoso for conseqüência direta da infração, por parte do proprietário, de alguma disposição legal ou regulamentar relativa a edificações, plantações, depósitos de materiais ou guarda de gado à beira das estradas de ferro.

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54

Sobre os artigos acima transcritos, Venosa [2003, p. 112]

destaca que tanto com relação às mercadorias, quanto aos Passageiros e

proprietários lindeiros, foi estabelecida a responsabilidade objetiva da estrada,

somente elidida se provada a culpa exclusiva da vítima, bem como caso fortuito

ou força maior.

O autor continua ensinando quando diz que as maiores

preocupações diziam respeito a incêndios que ocorriam com freqüência nas

propriedades marginais. O diploma previu, portanto, os danos aos Passageiros e

às coisas transportadas, bem como aos terceiros proprietários marginais da

estrada.

No mesmo sentido, Gonçalves [2007, p. 201] enfatiza que a

Responsabilidade do Transportador é objetiva. No direito brasileiro, a fonte dessa

Responsabilidade encontra-se no Decreto nº. 2.681 de 07 de dezembro de 1912,

que regula a Responsabilidade Civil das estradas de ferro.

E acrescenta:

Tal diploma, considerado avançado para a época em que foi promulgado, destinava-se a regular tão somente a responsabilidade civil das ferrovias. Entretanto, por uma ampliação jurisprudencial, teve sua aplicação estendida a qualquer outro tipo de transporte: ônibus, táxis, lotações, automóveis, etc.

Da mesma forma entende Venosa [2003, p. 112], quando

instrui que esse diploma legal [...] estatuiu, na verdade, a responsabilidade

objetiva das estradas de ferro.

O Decreto nº. 2.681 contem em si, segundo Gonçalves

[2007, p. 201], a obrigação de o Transportador levar, são e salvo, o Passageiro

até o local de seu destino, obrigação essa apenas elidível pelo caso de caso

fortuito, força maior e culpa exclusiva (não concorrente) da vítima.

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55

Vê-se então que a principal obrigação do Transportador é de

conduzir o Passageiro até seu lugar de destino livre de qualquer acontecimento

que lhe acarrete prejuízo.

Sobre o que fora exposto, eis julgado do Tribunal de Justiça

do Rio Grande do Sul:

RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTRATO DE TRANSPORTE. ACIDENTE DE TRANSITO. Aquele que contrata a condução de passageiros, mediante paga, tem o dever de conduzi-los, indenes, ao destino. Responsabilidade objetiva. Decreto n. 2681/1912. A indenização deve abranger os danos materiais provados, os lucros cessantes e o dano moral, tudo na medida dos prejuízos da parte. Laudo pericial, base segura para o arbitramento da pensão vitalícia. Apelos improvidos. (Apelação Cível nº. 599116597, DECIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL, TJRS, RELATOR: DES.

ANA MARIA NEDEL SCALZILLI, JULGADO EM 17/08/2000).

E ainda:

A responsabilidade do transportador é objetiva, pois a obrigação por ele assumida é de resultado, isto é, de transportar o passageiro são e salvo a seu destino, como prevê o Dec. - lei 2.681/12. Assim, o transportador é responsável pelo acidente sofrido por viajante que caiu ao descer do coletivo, desequilibrando-se em virtude de tumulto decorrente da existência de vários passageiros junto à porta. (Ap. nº 624.990-3, 6ª Câmara,

rel. Juiz Carlos Roberto Gonçalves, j. em 22.08.95, RT 728/262).

E quanto sua aplicação estendida, Venosa [2003, p. 113]

destaca que em linhas gerais, assim como em relação às ferrovias, os princípios

do velho Decreto nº. 2.681/12 continuam sendo aplicáveis a toda modalidade de

transporte terrestre, inclusive táxis.

Nesse sentido, extrai-se da jurisprudência:

ACIDENTE DE TRÂNSITO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. PERDA DE DOIS DEDOS. DEBILIDADE PERMANENTE DO MEMBRO E FUNÇÃO. Permissionária do serviço público. Responsabilidade objetiva. arts. 17 e 21 da lei 2.681/1912 e parágrafo 6º, art. 37 da Constituição Federal, Decreto 2.681/1912.

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56

Caso Fortuito e Força Maior não configurada - culpa da ré -. Obrigação de fazer o Passageiro chegar incólume ao destino. Ônibus que transporta crianças, e vem a capotar contra o meio fio, causando a mutilação de dois dedos da mão esquerda de passageira adolescente. Para a vítima o seu prejuízo se resolve através da responsabilidade objetiva e presumida do Transportador, permissionário do serviço público. (APELAÇÃO CÍVEL 5009798. DF. Em: 19/04/1999, 2ª Turma Cível Relator: NANCY ANDRIGHI Publicação no DJ: 16/06/1999 Pág.: 39).

Como visto, foi o Decreto nº. 2.681/12 o marco inicial que

incumbiu ao Transportador o dever de transportar o Passageiro até seu destino

final são e salvo, pois sua Responsabilidade é objetiva.

Eis que surge, conforme ensina Rodrigues [2002, p. 160],

outras duas hipóteses de Responsabilidade sem culpa trazidas pelo Código de

Proteção e Defesa do Consumidor (Lei nº. 8.078/90), em seus artigos 12 e 14.

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente

da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua

fruição e riscos.

Vasta é a jurisprudência que se apóia no Código de Defesa

do Consumidor para aplicar a Responsabilidade ao prestador de serviços.

Colhe-se da jurisprudência do Tribunal de Justiça de Minas

Gerais:

DIREITO CIVIL - DANO MORAL E MATERIAL - SERVIÇO DE TRANSPORTE - EXTRAVIO DE BAGAGEM - RESPONSABILIDADE OBJETIVA. A responsabilidade do transportador é objetiva, nos termos do art. 14 do CDC,

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respondendo, independentemente de culpa, pela reparação dos danos que eventualmente causar pela falha na prestação de seus serviços; Verificado o evento danoso, surge a necessidade da reparação, não havendo que se cogitar da prova do prejuízo, quando presentes os pressupostos legais da responsabilidade civil; É cabível condenação a título de dano moral em face de extravio de bagagem, haja vista o sentimento de desconforto do passageiro diante da situação humilhante e vexatória de chegar ao local do destino sem os pertences necessários para usufruir a viagem programada. (AP. CÍVEL N° 1.0024.05.803177-4 /001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE – MG - RELATOR: EXMO.

SR. DES. MOTA E SILVA. D. J. 06/12/2007).

No mesmo sentido, extrai-se da jurisprudência do Superior

Tribunal de Justiça:

A responsabilidade civil é objetiva nas relações de consumo decorrentes de prestação de serviço, conforme o art. 14, do CDC. Diante disso, para sua ocorrência, é necessária a demonstração da conduta ilícita e do nexo de causalidade, já que o dano é considerado in re ipsa. Assim, provada a negligência do prestador de serviço, este deve ser responsabilizado. (REsp. nº 712708,

Rel. Min. Carlos Alberto Direito , DJ. 28.10.2005).

Diante desse breve histórico, conclui-se que o Passageiro

está muito bem amparado pelo direito, pois raras são as hipóteses em que o

prestador de serviços não fica obrigado a reparar o dano, além do que, sua

atividade é baseada, segundo os doutrinadores, na teoria do risco.

A partir daí estudar-se-á a Responsabilidade Civil nos

Contratos de transporte rodoviário de pessoas.

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL NO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE

PESSOAS

Tendo sido firmado um Contrato de Transporte entre o

Transportador e o Passageiro, aquele tem o dever de efetuar o transporte de

maneira segura, para que não acarrete ao Passageiro qualquer tipo de prejuízo,

pois essa é sua obrigação, ou seja, levar incólume o Passageiro ao local

avençado.

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Essa Responsabilidade, na lição de Diniz [2006, p. 56] se

funda no risco, e consiste, portanto, na obrigação de indenizar o dano produzido

por atividade exercida no interesse do agente sob seu controle, sem que haja

qualquer indagação sobre o comportamento do lesante, fixando-se no elemento

objetivo, isto é, na relação de causalidade entre o dano e a conduta do seu

causador.

De modo de que a Responsabilidade Civil do Transportador

é contratual, pois, como bem ensina Gonçalves [2007, p. 200], figura o Contrato

de Transporte, que é de adesão, em que as partes não discutem amplamente as

cláusulas, como no modelo tradicional. Há uma preponderância da vontade de um

dos contraentes. E segue exemplificando:

Quem toma um ônibus, ou qualquer outro meio de transporte, tacitamente celebra um contrato de adesão com a empresa transportadora. Com o pagamento da passagem, o transportado adere ao regulamento da empresa. Esta, implicitamente, assume a obrigação de conduzi-lo ao seu destino, são e salvo. Se, no trajeto, ocorre um acidente e o passageiro fica ferido, configura-se o inadimplemento contratual, que acarreta e responsabilidade de

indenizar.

De acordo com Gomes [2001, p. 313] a Responsabilidade do

Transportador começa com a execução do serviço e cessa no momento em que,

chegado ao destino, deixa o veículo ou o local reservado ao desembarque.

E quando ocorre algum acidente, por ser objetiva a

Responsabilidade, Diniz [2006, p. 131] enfatiza que é irrelevante a conduta

culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará a existência do

nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima e a ação do agente para que surja

o dever de indenizar.

No ensinamento de Rodrigues [2002, p. 11], a atitude

culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois,

desde que exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima

e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha este último agido ou

não culposamente.

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No mesmo sentido, eis a lição de Diniz [2006, p. 59]:

Na responsabilidade objetiva, a atividade que gerou o dano é lícita, mas causou perigo a outrem, de modo que aquele que a exerce, por ter a obrigação de velar para que dela não resulte prejuízo, terá o dever ressarcitório, pelo simples implemento do nexo causal. A vítima deverá pura e simplesmente demonstrar o

nexo de causalidade entre o dano e a ação que o produziu.

Eis o que se colhe da jurisprudência do Tribunal de Justiça

de Santa Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS CAUSADOS EM ACIDENTE DE TRÂNSITO C/C LUCROS CESSANTES, DANOS MORAIS E ESTÉTICOS - TRANSPORTE DE PASSAGEIROS - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA EMPRESA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. É obrigação da empresa viária transportar o passageiro e garantir sua incolumidade até o destino final. Comprovada a ocorrência do sinistro durante a viagem, forçoso reconhecer sua obrigação de reparar os danos causados, com base na teoria da responsabilidade civil objetiva. (Ap. Cível nº. 2002.017806-9. Relator: Wilson Augusto do Nascimento. Órgão Julgador: Terceira

Câmara de Direito Civil. Data: 20/08/2004).

Desta forma, o Transportador não se exime da

Responsabilidade de indenizar, mesmo demonstrando sua ausência de culpa, e,

para isto, basta a prova do nexo causal e o dano experimentado pela vítima, eis

que surge o dever de indenizar.

Caso o Passageiro não comprove o dano, Gagliano [2006, p.

35] leciona que indispensável é a existência de dano ou prejuízo para a

configuração da Responsabilidade Civil. Sem a ocorrência deste elemento, não

haveria o que indenizar, e, conseqüentemente, Responsabilidade.

Assim adota a jurisprudência:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ACIDENTE - ÔNIBUS URBANO - FERIMENTOS EM PASSAGEIRO - EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO DE TRANSPORTE COLETIVO - TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO - RESPONSABILIDADE CIVIL

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OBJETIVA - RESPONSABILIDADE INDENIZATÓRIA - DANOS MATERIAIS NÃO COMPROVADOS. Segundo a Teoria do Risco Administrativo, a responsabilidade da empresa prestadora de serviço público de transporte coletivo urbano é objetiva. Desse modo, para que surja o dever de indenizar, basta a existência do dano e do nexo causal entre a conduta e o resultado lesivo. Ausente prova consistente de ocorrência de dano material, a mera alegação da parte, não é suficiente para o reconhecimento do direito à reparação. (TJMG. APELAÇÃO CÍVEL Nº. 1.0079.04.155287-2/001 - COMARCA DE CONTAGEM – MG -

RELATOR: EXMO. SR. DES. LUCAS PEREIRA. D.J. 10/10/2007).

Desta forma, a teoria do risco administrativo faz surgir a

obrigação de indenizar o dano, desde que comprovado. Sem a prova de que

realmente a conduta do agente não tenha causado prejuízo, não há que se falar

em indenização.

Sendo o Contrato de Transporte uma atividade de risco, em

que a Responsabilidade do Transportador é objetiva, a seguir ver-se-á cláusulas

que, embora existam em nosso ordenamento jurídico, não podem ser utilizadas

no Contrato de Transporte de pessoas.

3.2.1 Das cláusulas de incolumidade e de não indeni zar

A palavra incolumidade, na lição de Guimarães [2000, p. 98],

significa a condição de estar ileso, isento de perigo, dano ou ofensa, tanto a

pessoa natural quanto a coisa pública ou privada.

No mesmo sentido, mas discorrendo sobre o Contrato de

Transporte, Gonçalves [2007, p. 205] leciona que se denomina cláusula de

incolumidade a obrigação tacitamente assumida pelo Transportador de conduzir o

Passageiro são e salvo ao local de destino.

Sobre a cláusula de incolumidade, Venosa [2003, p. 110]

apregoa que:

O contrato de transporte contém obrigação de resultado, incumbe ao transportador levar a coisa ou pessoa incólumes até o destino programado, pois a cláusula de incolumidade está implícita no

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contrato de transporte. Além da incolumidade, o contrato de transporte traz como conseqüência em seu bojo a obrigação de

custódia ou dever de segurança.

A cláusula de incolumidade, na lição de Aguiar Dias [1979,

p. 218], é inerente ao Contrato de Transporte de pessoas. Quem utiliza um meio

de transporte regular celebra com o Transportador uma convenção cujo elemento

essencial é a sua incolumidade, isto é, a obrigação para o Transportador, de levá-

lo são e salvo ao lugar do destino.

Sobre cláusula de incolumidade, eis julgado do Tribunal de

Justiça de Santa Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS - ACIDENTE OCORRIDO NO INTERIOR DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO - PERDA DO QUARTO DEDO DA MÃO ESQUERDA - RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO - RESPONSABILIDADE CONTRATUAL CIVIL E CONSUMERISTA - CARÁTER OBJETIVO - DEVERES DE SEGURANÇA E INCOLUMIDADE - OBRIGAÇÃO DE RESULTADO - PERDA DE MEMBRO - DANOS MORAIS ENVOLVENDO OFENSA BIOLÓGICA E ESTÉTICA - QUANTIFICAÇÃO - LIVRE ARBÍTRIO JUDICIAL - SENTENÇA CONFIRMADA - RECLAMO DESPROVIDO. Nos contratos de transporte, a responsabilidade civil do transportador relativamente aos passageiros é objetiva e de resultado, tendo como fim a segurança e a incolumidade destes. Tendo a empresa de transporte urbano, com o seu proceder, decepado o quarto dedo da mão esquerda da passageira, quando esta ainda iniciava a sua transposição para a rua, acarretando nesta danos biológicos, estéticos e psicológicos, descumpriu com a sua obrigação de zelar pela segurança e incolumidade daquela. (Apelação cível nº. 2002.022453-2, da Capital. Relator: Monteiro Rocha. Data:

12/06/2003).

Desta forma, a característica mais importante do Contrato de

Transporte é, sem sombra de dúvida, a cláusula de incolumidade que nele está

implícita. A obrigação do Transportador é de fim, de resultado, e não apenas de

meio. Tem o Transportador o dever de zelar pela incolumidade do Passageiro na

extensão necessária a lhe evitar qualquer acontecimento funesto. Em suma,

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entende-se por cláusula de incolumidade a obrigação que tem o Transportador de

conduzir o Passageiro são e salvo ao lugar de destino.

No que se refere sobre a cláusula de não indenizar,

Gagliano [2006, p. 118] leciona que tal cláusula trata-se de convenção por meio

da qual as partes excluem o dever de indenizar, em caso de inadimplemento da

obrigação.

Na lição de Venosa [2003, p. 50-51], trata-se da cláusula

pela qual uma das partes contratantes declara que não será responsável por

danos emergentes do Contrato, seu inadimplemento total ou parcial. Trata-se da

exoneração convencional do dever de reparar o dano.

Sobre o tema, Rodrigues [2002, p. 179] apregoa que:

A cláusula de não indenizar é aquela estipulação através da qual uma das partes contratante declara, com a concordância da outra, que não será responsável pelo dano por esta experimentado, resultante da inexecução ou execução inadequada de um contrato, dano este que, sem a cláusula, deveria ser ressarcido

pelo estipulante.

Tanto o Código de Defesa do Consumidor como a súmula

161 do Supremo Tribunal Federal proíbem expressamente a cláusula de não

indenizar no Contrato de Transporte.

O artigos 25 e 51,inciso I do CDC dispõem que:

Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista

nesta e nas seções anteriores.

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas

contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações

justificáveis.

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A súmula 161 do Supremo Tribunal Federal determina que:

Em Contrato de Transporte, é inoperante a cláusula de não

indenizar.

Por ser o Contrato de Transporte um Contrato de adesão,

eis o que dispõe o artigo 424 do Código Civil:

Art. 424. Nos Contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante

da natureza do negócio.

Ainda tem-se o que dispõe a parte final do artigo 734 do

Código Civil:

Art. 734. O Transportador responde pelos danos causados às

pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da

responsabilidade.

Sobre o tema, eis que se extrai do Supremo Tribunal

Federal:

CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR. EM CONTRATOS DE TRANSPORTES É INOPERANTE ESSA CLÁUSULA. SÚMULA Nº. 161. AGRAVO DESPROVIDO. (DJ 08-06-1961 PP-01982. DJ 08-06-1966 PP-01982. VOL-00658-02. Relator: HERMES LIMA.

Julgamento: 30/03/1966).

Desta forma, é totalmente incabível a inserção de cláusula

de não indenizar quando se trata de transporte de pessoas, pois sua aplicação é

totalmente vedada pelo direito brasileiro.

No que se refere a transporte de pessoas, o Transportador

assume total obrigação de transportar o Passageiro são e salvo até seu local de

destino, pois sua atividade é tida como de risco, e, portanto, ocorrendo qualquer

dano ao Passageiro, este deve ser obrigatoriamente indenizado.

No entanto, ocorrem situações em que o Passageiro sofre

algum tipo de dano no decorrer do Contrato de Transporte, mas esse dano

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decorreu de situação adversa da vontade das partes, eis que aparecem as

excludentes de responsabilidade civil do Transportador, que vem a seguir.

3.2.2 Excludentes de responsabilidade do Transporta dor

Como já citado no final do capítulo 2, para que se possa

impor a alguém a obrigação de indenizar o prejuízo experimentado por outrem,

Rodrigues [2002, p. 163] leciona que é mister que haja uma relação de

causalidade entre o ato culposo praticado pelo agente e o prejuízo sofrido pela

vítima.

As excludentes de Responsabilidade civil, na lição de

Gagliano [2006, p. 101] são causas que devem ser entendidas como toda

circunstância que, por atacar um dos elementos ou pressupostos gerais da

responsabilidade civil, rompe o nexo causal, que terminam por fulminar qualquer

pretensão indenizatória.

Venosa [2003, p. 40] ensina que são excludentes de

responsabilidade, que impedem que se concretize o nexo causal, a culpa da

vítima, o fato de terceiro, o caso fortuito e a força maior.

Da mesma forma entende Rodrigues [2002, p. 164] quando

apregoa que:

São excludentes da responsabilidade a culpa da vítima, o fato de terceiro, o caso fortuito ou de força maior [...], a presença de uma excludente de responsabilidade atenua ou extingue o dever de ressarcir, justamente por atenuar ou extinguir a relação de

causalidade.

O Decreto nº. 2.681/12, em seu artigo 17 dispõe que as

excludentes de responsabilidade são o caso fortuito, a força maior e a culpa do

viajante.

Art. 17 . As estradas de ferro responderão pelos desastres que nas suas linhas sucederem aos viajantes e de que resulte a morte, ferimento ou lesão corpórea.

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A culpa será sempre presumida, só se admitindo em contrário alguma das seguintes provas: 1ª - Caso fortuito ou força maior;

2ª - Culpa do viajante, não concorrendo culpa da estrada.

Sobre excludente de Responsabilidade civil, a jurisprudência

catarinense assim entende:

CIVIL. INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. CONTRATO DE TRANSPORTE. AUSÊNCIA DE CAUSA EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. DEVER DE INDENIZAR OS DANOS MATERIAIS. O contrato de transporte é regido pelas normas atinentes à responsabilidade civil objetiva, de modo que a obrigação de indenizar o contratante pela perda da carga transportada só é elidida mediante prova de caso fortuito, força maior ou culpa exclusiva da vítima. (Apelação Cível nº. 2004.020903-7. Relator: Luiz Carlos Freyesleben. Data: 23/11/2006).

Desta forma, somente provando de que o dano sofrido pela

vítima tenha advindo de causa estranho a prestação do serviço de transporte, ou

seja, caso fortuito, força maior ou culpa exclusiva da vítima, é que o

Transportador estará afastado de ser responsável pelo ressarcimento do prejuízo.

A seguir, ver-se-á cada qual individualmente.

3.2.2.1 Culpa exclusiva da vítima

A exclusiva atuação culposa da vítima vem quebrar o nexo

de causalidade, eximindo o agente da Responsabilidade Civil.

Venosa [2003, p. 40] aponta que, a culpa exclusiva da vítima

elide o dever de indenizar, porque impede o nexo causal.

Sobre culpa exclusiva da vítima, Stoco [2007, p. 185]

apregoa que, a conduta da vítima como fato gerador do dano elimina a

causalidade, [...] pois essa conduta quebra um dos elos que conduzem à

Responsabilidade do agente, ou seja, o nexo causal. Quando se verifica a culpa

exclusiva da vítima, inocorre indenização.

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Por culpa exclusiva da vítima, Diniz [2006, p. 113] ensina

que:

Havendo culpa exclusiva da vítima, exclui-se qualquer responsabilidade do causador do dano. A vítima deverá arcar com todos os prejuízos, pois o agente que causou o dano é apenas um instrumento do acidente, não se podendo falar em nexo de

causalidade entre sua ação e a lesão.

Sobre esta excludente de Responsabilidade, eis julgado do

Tribunal de Justiça do Distrito Federal:

CIVIL. REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. EMPRESA CONCESSIONÁRIA DO SERVIÇO PÚBLICO. PEDESTRE QUE SE APROXIMA DEMASIADAMENTE DA VIA POR ONDE FLUI O TRÁFEGO E É ATINGIDO POR ÔNIBUS. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. 1 - Restando configurada a culpa exclusiva da vítima, impõe-se a exclusão da responsabilidade da empresa ré. 2 - Recurso conhecido e provido. Sentença reformada, para julgar improcedente o pedido indenizatório. (TJDF – 1ª Turma de Recursos. Ap. nº. 20010111075184. Rel. Des. Leila Cristina

Garbin Arlanch, DJ 11.11.2003).

Assim, restando demonstrado que o ato lesivo se deu por

culpa exclusiva da vítima, afasta-se a responsabilidade pela indenização dos

prejuízos suportados pela vítima.

Além da culpa exclusiva da vítima, há a culpa concorrente

da vítima, que, na lição de Rodrigues [2002, p. 165], a Responsabilidade do

Transportador se atenua, pois o evento danoso deflui tanto de sua culpa, quanto

da culpa da vítima.

Quando há culpa concorrente da vítima e do agente

causador do dano, Venosa [2003, p. 40] ensina que a responsabilidade e,

conseqüentemente, a indenização são repartidas, de acordo com a intensidade

da culpa.

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67

Veja-se o que dispõe o parágrafo único do artigo 738 do

Código Civil:

Art. 738. [...] Parágrafo único. Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atribuível à transgressão de normas e instruções regulamentares, o juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do

dano.

O artigo 945 do Código Civil também trata sobre culpa

concorrente e estabelece o critério parta sua indenização.

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento

danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a

gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Desta forma, tendo a vítima concorrido para o evento

danoso, o valor da indenização será proporcional aos prejuízos.

No tocante a culpa concorrente, extrai-se da jurisprudência

do Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

INDENIZAÇÃO - ACIDENTE DE TRÂNSITO - CULPA CONCORRENTE CARACTERIZADA - REMUNERAÇÃO NÃO COMPROVADA - PENSÃO FIXADA EM SALÁRIO MÍNIMO - ABRANGÊNCIA DO DANO MORAL NOS DANOS PESSOAIS - COMPENSAÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - ART. 20 § 5º DO CPC. Havendo demonstração da não observância do dever de cuidado dos dois motoristas envolvidos em acidente de trânsito, na qual acarretou a morte de um deles, deve-se considerar a culpa concorrente no evento danoso. (Número do processo: 2.0000.00.365539-0/000(1). Relator: WILLIAM SILVESTRINI. Data do Julgamento: 20/03/2003).

Desta forma, restando demonstrada a culpa recíproca das

partes pelo evento danoso, devem ser repartidos os prejuízos causados por

ambos.

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68

Outra excludente de responsabilidade civil nos Contratos de

transportes são o caso fortuito e a força maior, que vem a seguir.

3.2.2.2 Caso fortuito e força maior

O caso fortuito e a força maior é mais um tema quando se

trata de Responsabilidade Civil, pois quando ocorridos em Contrato de

Transporte, desobriga o autor do ato danoso a ressarcir o prejuízo sofrido pela

vítima.

Sobre caso fortuito, Stoco [2007, p. 181] leciona que é o

acontecimento natural, derivado da força da natureza, ou o fato das coisas, como

o raio, a inundação, o terremoto ou o temporal. E na força maior há um elemento

humano, a ação das autoridades, como ainda a revolução, o furto ou roubo, o

assalto [...].

Da mesma forma ensina Venosa [2003, p. 42]: O caso

fortuito decorre de forças da natureza, tais como o terremoto, a inundação, o

incêndio não provocado; enquanto a força maior decorre de atos humanos, tais

como guerras, revoluções, greves [...].

Lição contrária traz Gonçalves [2007, p. 447] quando diz que

o caso fortuito decorre de fato ou ato alheio à vontade das partes: greve, motim,

guerra. Força maior é a derivada de acontecimentos naturais: raio, inundação,

terremoto.

Quanto a essa questão de entendimentos divergentes,

Gomes [2001, p. 193] ensina que:

Alguns entendem que o caso fortuito está relacionado com a atuação humana e a força maior é relativa a eventos naturais. De maneira oposta, alguns afirmam que o caso fortuito é relativo a acontecimento natural e a força maior relaciona-se com a

atividade humana.

A conceituação de caso fortuito e força maior, como se vê, é

conturbado na doutrina. A partir deles, segundo Gomes [2001, p. 193],

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desconstitui-se o nexo de causalidade entre a conduta do agente e o dano

produzido.

Por fim, Gagliano [2006, p. 111] apregoa que seria

inadmissível a pretensão de por fim à controvérsia para a definição do caso

fortuito e da força maior. Para tanto, a característica básica da força maior é a sua

inevitabilidade13; ao passo que o caso fortuito, por sua vez, tem a sua nota

distintiva na sua imprevisibilidade14.

Eis o que dispõe a artigo 393 do Código Civil:

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no

fato necessário, cujos efeitos não eram possível evitar ou impedir.

Sobre o tema, eis julgado do Superior Tribunal de Justiça:

DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TRANSPORTE RODOVIÁRIO. ROUBO OCORRIDO DENTRO DO ÔNIBUS. INEVITABILIDADE. FORÇA MAIOR. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR. PRECEDENTES. RECURSO DESPROVIDO. I - A presunção de culpa da Transportadora comporta desconstituição mediante prova da ocorrência de força maior, decorrente de roubo, indemonstrada a desatenção da ré quanto às cautelas e precauções normais ao cumprimento do Contrato de Transporte. II - Na lição de Clóvis, caso fortuito é "o acidente produzido por força física ininteligente, em condições que não podiam ser previstas pelas partes", enquanto a força maior é "o fato de terceiro, que criou, para a inexecução da obrigação, um obstáculo, que a boa vontade do devedor não pode vencer", com a observação de que o traço que os caracteriza não é a imprevisibilidade, mas a inevitabilidade. (REsp. nº. 264589/RJ. DJ 18/12/2000. Relator Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA Data da Decisão 14/11/2000 Órgão Julgador QUARTA TURMA –

STJ). 13 A inevitabilidade cinge-se à impossibilidade de o agente evitar o dano, impedir que este seja causado pelo evento, realizando-se atos de diligência e precaução. Gomes [2001, p. 193]. 14 Imprevisibilidade prende-se à impossibilidade de previsão do evento danoso. Gomes [2001, p. 193].

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Sendo assim, ocorrendo um ato que acarrete dano, estará o

autor desobrigado do devido ressarcimento se, este dano vier precedido

decorrente de caso fortuito ou força maior.

Segundo a doutrina, outra causa de excludente de

responsabilidade é o fato de terceiro, mas esta não é absorvida em nosso

ordenamento jurídico como causa de irresponsabilidade. Veja-se o item a seguir.

3.2.3 Fato de terceiro

De início, deve-se fixar o sentido do termo terceiro.

Conforme leciona Rodrigues [2002, p. 169], o terceiro pode ser definido

sucintamente como qualquer pessoa além da vítima ou do responsável.

Para Stoco [2007, p. 192], considera-se terceiro quem não é

parte no negócio jurídico, ou seja, pessoa estranha ao Contrato firmado entre as

partes, mas que interfere nessa relação para influenciar ou alterar os efeitos e o

resultado do objeto da avença.

E acrescenta:

A participação da pessoa estranha na causação do dano pode ocorrer de maneira total ou parcial [...]. Apenas no primeiro caso é que se pode caracterizar a Responsabilidade do terceiro, porque

somente então estará eliminando o vínculo de causalidade.

Nesse mesmo sentido, leciona Gagliano [2006, p. 116] que,

a princípio, desde que haja a atuação causal de um terceiro, sem que se possa

imputar participação do autor do dano, o elo de causalidade restaria rompido.

No mesmo norte, Diniz [2006, p. 114-115] declina seu

entendimento quando apregoa que:

Se alguém for demandado para indenizar um prejuízo que lhe foi imputado pelo autor, poderá pedir a exclusão de sua responsabilidade se a ação que provocou o dano foi devida exclusivamente a terceiro. Para que haja a excludente de responsabilidade por fato de terceiro, dependerá da prova de que

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o dano foi resultado de ato de terceiro, caso em que o ofensor

ficará isento de qualquer responsabilidade.

Entretanto, a matéria não é pacificada quando esta

excludente de Responsabilidade tem no pólo ativo o Transportador. Gonçalves

[2007, p. 441] destaca que isso acontece, tendo em vista a maior atenção que

deve ter o motorista que tem a seu cargo zelar pela integridade de outras

pessoas.

Assim dispõe, com efeito, a Súmula 187 do Supremo

Tribunal Federal:

A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é ilidida por culpa de terceiro, contra o qual tem

ação regressiva.

A citada súmula transformou-se no artigo 735 do Código

Civil, que tem a mesma redação.

Diante dessa divergência quanto ao fato de terceiro ser

excludente de Responsabilidade, eis lição de Rodrigues [2002, p. 169], o qual

declara:

O fato de terceiro pode derivar do comportamento de uma pessoa que não tenha qualquer ligação com a vítima ou com o agente causador do dano, como pode ocorrer do comportamento de pessoas por quem o responsável deva responder, tais como prepostos, filhos, [...]. Neste caso, quando o dano resulta de fato do preposto, não há exoneração de responsabilidade, pois terceiro é somente aquele por quem o indigitado responsável não

responde.

Nesse sentido, extrai-se do Tribunal de Justiça de Santa

Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. TRANSPORTE RODOVIÁRIO COLETIVO. FATO DE TERCEIRO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA NÃO ELIDIDA. O transportador rodoviário de passageiros deve assegurar a incolumidade do contratante do início ao final da viagem. Destarte, envolvendo-se o

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ônibus em acidente acarretando lesões graves em passageira, a empresa de transporte deve suportar os danos advindos, não podendo ser elidida pela alegada culpa de terceiro, mas tão somente por caso fortuito, força maior ou por culpa exclusiva da vítima. (Apelação Cível nº. 2000.012282-3. Relator: Carlos

Prudêncio. Data: 24/10/2000).

No caso acima, verifica-se que, no transporte de pessoas, a

Responsabilidade é objetiva, pois, qualquer acidente ocorrido com o Passageiro

obriga o Transportador a indenizar os prejuízos causados. Neste caso, o fato de

terceiro não ilide a obrigação de indenizar.

Ao passo em que, caso o dano seja causado por terceiro

estranho na relação, há também entendimento jurisprudencial que exonera o

autor do fato a ressarcir o prejuízo, lembrando que somente se dará essa

excludente de Responsabilidade se a sua participação no evento foi total.

Nesse sentido, extrai-se jurisprudência do Superior Tribunal

de Justiça:

RESPONSABILIDADE CIVIL – TRANSPORTE DE PASSAGEIROS – ARREMESSO DE OBJETO PARA O INTERIOR DO VEÍCULO – LESÃO EM PASSAGEIRO – FATO DE TERCEIRO EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE – PRECEDENTES. I – A presunção de culpa da Transportadora pode ser ilidida pela prova de ocorrência de fato de terceiro, comprovadas a atenção e cautela a que está obrigada no cumprimento do Contrato de Transporte a empresa. II – O arremesso de objeto, de fora para dentro do veículo, não guarda conexidade com a atividade normal do Transportador. Sendo ato de terceiro, exclui a responsabilidade do Transportador pelo dano causado ao Passageiro. Precedentes. Recurso especial provido. (REsp 231.137/RS, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 29/10/2003, DJ 17/11/2003 p.

317).

Sendo assim, havendo prova contundente de que o dano foi

causado totalmente por ato de terceiro na relação, não há que se falar em

reparação de danos.

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3.3 TRANSPORTE GRATUITO

Embora o tema já ser objeto de estudo no capítulo 2,

necessário se faz aqui sua apresentação, para melhor compreensão do objeto de

estudo. Pessoas e coisas podem ser transportadas gratuitamente, ou seja,

transporta outrem ou algo em seu veículo por mero favor.

Como bem ensina Diniz [2006, p. 492], o transporte feito

gratuitamente, por amizade ou cortesia, não se subordina ao Contrato de

Transporte.

O transporte gratuito está disposto no artigo 736 do Código

Civil:

Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o

feito gratuitamente, por amizade ou cortesia.

Trata o artigo acima citado que, caso o transporte seja a

título gratuito, feito por mera amizade ou cortesia, o transporte não pode ser

remunerado nem obter vantagens indiretas com ele.

Na hipótese de transporte gratuito, Venosa [2003, p. 118]

ensina que não há vantagem para o Transportador, só respondendo ele por dolo,

ou culpa grave que ao dolo se equipara, ficando exonerado do dever de indenizar

quando ocorre culpa leve ou levíssima.

No mesmo sentido educa Gonçalves [2007, p. 222] quando

diz que o transporte gratuito, benéfico, não traz vantagens ao Transportador, é a

ele que o Contrato não favorece. Portanto, só deve ser responsabilizado, em caso

de acidente, por dolo ou culpa gravíssima, ficando exonerado de qualquer

responsabilidade em caso de culpa leve ou levíssima.

A súmula 145 do Superior Tribunal de Justiça afirma:

No transporte desinteressado, de simples cortesia, o Transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.

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Sobre o tema, eis julgado do Tribunal de Justiça de Santa

Catarina:

VÍTIMA QUE ESTAVA DE CARONA NO VEÍCULO - TRANSPORTE GRATUITO - NECESSIDADE DE CULPA GRAVE OU DOLO PARA O CAUSADOR DO DANO SER RESPONSÁVEL CIVILMENTE PELOS DANOS CAUSADOS - ALTA VELOCIDADE EMPREENDIDA PELO CONDUTOR - INFORMAÇÃO DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA CORROBORADA PELA PROVA TESTEMUNHAL - REQUERIDO QUE DEVE RESPONDER PELOS DANOS. No transporte desinteressado, de simples CORTESIA, o Transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave. - Súmula 145 do Superior Tribunal de Justiça -. (Apelação Cível nº. 1999.018573-7. Relator: Sérgio Roberto

Baasch Luz. Data: 13/12/2005).

Em se tratando de transporte gratuito, caso ocorra algum

acidente de trânsito e, restando caracterizado o dolo ou culpa grave do autor, eis

que surge o dever de indenizar.

Extrai-se da jurisprudência do Tribunal de Justiça de São

Paulo:

RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. TRANSPORTE DE CORTESIA. EMBRIAGUEZ. Caracterizada culpa grave, é devida a indenização à vítima, mesmo em se tratando de transporte gratuito ou de cortesia. (Ap. Cível nº. 947325100. Relator(a): Jayter Cortez Junior. Órgão julgador: 32ª Câmara do SEXTO Grupo (Extinto 2° TAC). Data do jul gamento:

24/08/2007. Data de registro: 27/08/2007).

E ainda:

RESPONSABILIDADE CIVIL ACIDENTE DE TRANSITO. TRANSPORTE GRATUITO. Demonstrado o excesso de velocidade e a ingestão de bebida alcoólica resta caracterizada a culpa gravíssima do condutor do veículo necessária para ensejar a obrigação de indenizar. Sentença mantida. (Ap. Cível nº. 940894200. Relator(a): Rubens Cury. Órgão julgador: 8ª Câmara (Extinto 1° TAC). Data do julgamento: 29/11/2000. D ata de

registro: 05/12/2000).

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Desta forma, incorrendo culpa grave ou dolo, responderá o

autor que, mesmo dando uma simples carona a alguém, será responsabilizado

caso provoque danos ao transportado.

Conforme leciona Venosa [2003, p. 118], a discussão que

preocupa a doutrina é fixar a natureza jurídica desse transporte, se contratual ou

extracontratual.

Na observação de Rodrigues [2002, p. 105], a

Responsabilidade do Transportador gratuito é contratual, pois trata-se de um

Contrato benéfico, em que o Transportador, por mera cortesia, propõe-se a fazer

doação de um serviço ao Passageiro, que o aceita.

Para Diniz [2006, p. 485], o Contrato de Transporte na

condução de pessoas por mera amizade ou cortesia, sem caráter obrigatório, o

Transportador terá responsabilidade extracontratual.

Eis o que dispõe o artigo 392 do Código Civil:

Art. 392. Nos Contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o Contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos Contratos onerosos, responde cada uma

das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.

Sobre o artigo acima transcrito, Venosa [2003, p. 118]

exemplifica discorrendo que, se o motorista que concede carona imprime

velocidade excessiva ao veículo e assume o risco pelo dano ou joga o auto

propositalmente contra outro, aflora o dever de indenizar. Acidentes de trânsito

comezinhos nos quais não se nota exacerbação de culpa implicam exoneração do

dever de indenizar.

Da mesma forma leciona Rodrigues [2002, p. 106] ao dizer

que, todavia, em caso de culpa leve ou levíssima, e aplicando-se a regra do art.

392 do Código Civil, o Transportador que conduz gratuitamente seu Passageiro

não está sujeito a reparar.

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Nesse sentido, extrai-se do Tribunal de Justiça de São

Paulo:

RESPONSABILIDADE CIVIL - Acidente de trânsito - Transporte gratuito desinteressado - Transportador só será civilmente responsável quando atuar com dolo ou culpa grave, inocorrente na espécie - Súmula n.° 145 do STJ - Ação improcede nte - Recurso improvido. (Ap. Cível nº. 766169000. Relator(a): Benedicto Jorge Farah. Órgão julgador: 6ª Câmara (Extinto 1° TAC). Data do julgamento: 30/03/1999. Data de registro:

12/05/1999).

Assim também entende o Tribunal de Justiça de Santa

Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. CARONA. TRANSPORTE GRATUITO. ENUNCIADO N. 145 DA SÚMULA DO STJ. RESPONSABILIZAÇÃO DO CONDUTOR. DOLO OU CULPA GRAVE AUSENTES. ÔNUS DA PROVA INOBSERVADO. RECURSO DESPROVIDO. Daquele que oferece carona a outrem, modalidade de transporte gratuito, não se pode exigir mais do que o dever ordinário de cautela na direção de veículo automotor. Eventual responsabilidade por acidente de trânsito exsurge tão-somente quando evidenciado que o condutor agiu com dolo ou com culpa grave dirigido à ocorrência do infortúnio, a teor do que dispõe o enunciado n. 145 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. (Apelação Cível nº. 2008.018390-

6. Relator: Henry Petry Junior. Data: 12/08/2008).

Restando comprovado que o agente causador do dano não

agiu com dolo ou culpa grave, fica este desobrigado a indenizar a vítima.

No entanto, caso o transporte gratuito auferir vantagens a

quem o faça, pois como bem ensina Venosa [2003, p. 121], há situações nas

quais apenas aparentemente a relação jurídica é gratuita. E segue

exemplificando:

Não se pode ser considerado gratuito o transporte de clientes realizado por estabelecimento comercial para fomentar seus negócios; não é gratuito o transporte de Passageiros feito por

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empresa aéreo para ao aeroporto e vice versa. Nesses casos, o intuito do lucro é evidente, e o transporte integra o negócio da

enpresa.

Na lição de Gonçalves [2007, p. 226], não se pode afirmar

que o transporte é totalmente gratuito quando o Transportador, embora nada

cobrando, tem algum interesse no transporte do Passageiro. É o que ocorre com

o vendedor de automóveis, que conduz o comprador para lhe mostrar as

qualidades do veículo; com o corretor de imóveis, que leva o interessado a visitar

diversas casas e terrenos à venda, etc.

Nessa mesma linha de raciocínio, Stoco [2007, p. 435] aduz

que não se considera gratuito o transporte feito pelos empregadores, quando

conduzem seus empregados ao local de trabalho.

Nesse caso, Stoco [2004, p. 420] emprega o parágrafo único

do artigo 736 do Código Civil, o qual reza:

Art. 736. [...]

Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o Transportador auferir vantagens

indiretas.

Nesse sentido, assim tem entendido o Tribunal de Justiça de

Santa Catarina:

RESPONSABILIDADE CIVIL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ACIDENTE DE TRABALHO - TRANSPORTE GRATUITO DE EMPREGADOS APÓS SERÃO - INTERESSE DA EMPRESA - VEÍCULO SEM CONDIÇÕES DE SEGURANÇA - CULPA DEMONSTRADA - RESPONSABILIDADE DA EMPRESA - DEVER DE INDENIZAR. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. No caso do transporte gratuito, de favor, existindo interesse no transporte, por parte da empresa, esta assume a responsabilidade sobre eventual acontecimento danoso provocado por seu empregado. (Apelação Cível nº. 2001.018665-9. Relator: Dionizio

Jenczak. Data: 21/05/2004).

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Caso seja afastada a gratuidade do transporte, Venosa

[2003, p. 121] apregoa que o negócio é considerado oneroso, e como tal vigora a

culpa objetiva do Transportador em causa de dano comprovado ao Passageiro.

Ainda sobre transporte gratuito, ressalta-se o que prevê o

artigo 39 da Lei nº. 10.741/03 – Estatuto do Idoso -, que assegura a gratuidade do

transporte para pessoas com idade superior a 65 (sessenta e cinco) anos.

Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos

urbanos e semi-urbanos, [...].

Sobre este artigo 39 do Estatuto do Idoso, Coelho [2007, p.

393], declina seus ensinamentos discorrendo que:

Igualmente não é gratuito o contrato de transporte por ônibus urbano e semi-urbano em que o passageiro está dispensado por lei de qualquer pagamento em razão da idade. Mesmo havendo a gratuidade do serviço, a empresa Transportadora continua auferindo as mesmas vantagens que a motivaram a se dedicar à prestação de serviço público, não se podendo falar então de contrato gratuito de transporte.

Assim como há o transporte gratuito feito por mera amizade

ou cortesia, existe também, mas sem a anuência do Transportador, o transporte

clandestino.

No transporte clandestino, o Transportador não tem

conhecimento da existência de alguém ou de alguma mercadoria. Apregoa

Venosa [2003, p. 121] que:

No transporte clandestino, o transportador não sabe que está levando alguém ou alguma mercadoria. Provada a clandestinidade, não há responsabilidade do transportador nem do prisma da responsabilidade contratual, nem do da

responsabilidade aquiliana.

Sendo assim, a responsabilidade contratual do

Transportador pressupõe a formação de um Contrato de Transporte, de modo que

afasta essa responsabilidade quando se trata de um Passageiro clandestino.

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Após tudo o que fora exposto, encerra-se aqui esta

pesquisa, que tem por objetivo a contribuição para uma melhor compreensão

sobre em quais circunstâncias deverá o Transportador ser obrigado a indenizar o

Passageiro que obteve algum prejuízo, quando este se torna vítima decorrente de

algum evento decorrente do Contrato de Transporte.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo investigar, à luz da

legislação, da doutrina e da jurisprudência, a Responsabilidade Civil do

Transportador de Pessoas em Rodovias.

Para seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi desenvolvido

em três capítulos.

O primeiro capítulo tratou de abordar a Responsabilidade

Civil num contexto geral, desde seu surgimento até os dias de hoje, estudou-se

também seus elementos formadores e sua classificação em geral, bem como

cuidou-se de estudar o surgimento da culpa; do dano, pois como visto, se faz

necessário sua presença para surja o dever de indenizar; e também do nexo

causal, que é o elemento que caracteriza o caminho percorrido desde a conduta

do agente até o dano provocado.

O segundo capítulo cuidou de estudar o Contrato de

Transporte de pessoas, dispondo os artigos da legislação que regem a relação

entre Transportador e Passageiro, bem como dos direitos e deveres tanto do

Transportador quanto do Passageiro.

Finalizando o trabalho, o terceiro capítulo estudou-se sobre

o tema principal, da responsabilidade civil do Transportador em relação ao

Passageiro, nunca esquecendo que o dever principal do Transportador é de

conduzir o Passageiro são e salvo até deu destino. Demonstrou-se ainda que a

responsabilidade do Transportador é objetiva, pois sua atividade se funda na

teoria do risco, e para que surja o dever de indenizar, basta comprovar o dano e o

nexo causal entre a ação e o dano experimentado pela vítima.

Quanto às indagações acerca da pesquisa, tornou-se

evidenciado que, para haver o dever de ressarcir o dano experimentado pela

vítima, deve-se comprovar que realmente houve o prejuízo e que este adveio de

uma conduta do Transportador, pois, e tese, sua responsabilidade é objetiva.

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Caso o evento danoso foi provocado por terceiro, o dever de ressarcir o prejuízo

continua sendo do Transportador, pois sua responsabilidade não pode ser elidida

por culpa de terceiro, e contra este cabe ação regressiva do Transportador.

No que se refere ao valor a ser indenizado, deve ser levado

em conta de como ocorreu o fato. Caso tenha ocorrido o evento danoso sem

qualquer participação da vítima, este deve ter ressarcido seu prejuízo em sua

totalidade. No entanto, se o evento danoso adveio da participação de uma ação

ou omisão da vítima, este será ressarcido na medida de sua participação.

Quanto as excludentes de responsabilidade, estas no campo

do direito civil é bastante ampla, e podendo ser argüidas em muitas situações. No

que se referem ao transporte de pessoas, as excludentes de responsabilidade

são as da Responsabilidade Civil, porém, de forma reduzida, pois estas

excludentes somente poderão ser argüidas quando ocorrer: culpa exclusiva (não

concorrente) da vítima, o caso fortuito e a força maior. Somente nestes casos é

que exonera o dever de indenizar por parte do Transportador.

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REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

AGUIAR DIAS, José. Da responsabilidade civil . 6. ed. Rio de Janeiro: Forense,

1979. 417 p.

BRASIL. Decreto nº. 2.521 de 20 de março de 1998. Dispõe sobre a exploração,

mediante permissão e autorização, de serviços de transporte rodoviário

interestadual e internacional de passageiros.

BRASIL. Decreto nº. 2.681 de 07 de dezembro de 1912. Regula a

responsabilidade civil das estradas de ferro.

BRASIL. Lei nº. 8.078 de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do

consumidor.

BRASIL. Lei nº. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

BRASIL. Lei nº. 10.741 de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o estatuto do

idoso.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº. 161. In: ______.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº. 187. In: ______.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº. 145. In: ______.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº. 187. In: ______.

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