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1 RESPONSABILIDADE LEGAL E SOCIAL PARA A PROMOÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO Na leitura histórica das relações entre o capital e o trabalho percebe-se o quanto foi colocado em segundo plano os temas e as questões relacionadas com a segurança e a saúde do trabalhador. Embates de natureza econômica e política arrastaram-se ao longo de séculos e arrastam-se no século XXI, sem atender ao auspicioso ponto de equilíbrio, pelo menos no social, com vistas ao resgate da dignidade e natureza do Ser. Centenas de textos e livros foram e serão escritos com o objetivo maior de despertar a sensibilidade dos poderosos para o respeito ao mais carentes, todavia os cinco E ditam a regra do homem lobo do próprio homem, senão vejamos: escravidão, exploração, extorsão, exclusão e exceção, da lida do escravo ao assalariado, da exploração de mulheres e crianças pelo lucro desenfreado, da extorsão representada pela monetização dos riscos, leia-se adicionais de insalubridade e periculosidade, da exclusão, o robô roubando os já parcos empregos no século XXI, e a exceção de ter um emprego ou trabalho sem a garantia de direitos fundamentais. Da mítica de Adão e Eva no Éden que, pela perspectiva religiosa, recebem lá nos primórdios, a punição por terem descumprido um mandamento de Deus, punição exteriorizada na lida do trabalho, e mais tarde, em outros estádios da história, na Grécia e em Roma, quando se utilizava o tripalium para domar os animais e submeter pela força os escravos rebeldes, segue-se o sofrimento e martírio dos trabalhadores, se projetando no servo de gleba da Idade Média, nos proletários dos séculos XVIII e XIX e hoje nas figuras dos assalariados e trabalhadores informais. Falar em segurança e saúde para os trabalhadores, durante séculos pretéritos e mesmo nos dias atuais, ainda soa como heresia socialista para muitos que operam as engrenagens do mercado e do capitalismo vociferante, no que resulta, em contrapartida, qual dádiva de última bóia num mar de desigualdades, defesas jurídicas através do estabelecimento de diplomas legais e políticos que buscam garantir, ao menos no papel, o estrita e minimamente necessário para a sobrevivência do Ser.

Responsabilidade Legal e Social Para a Promoção Da Segurança e Saúde Do Trabalho

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Segurança do Trabalho

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    RESPONSABILIDADE LEGAL E SOCIAL PARA A PROMOO DA SEGURANA E SADE NO TRABALHO

    Na leitura histrica das relaes entre o capital e o trabalho percebe-se o

    quanto foi colocado em segundo plano os temas e as questes relacionadas com

    a segurana e a sade do trabalhador. Embates de natureza econmica e poltica

    arrastaram-se ao longo de sculos e arrastam-se no sculo XXI, sem atender ao

    auspicioso ponto de equilbrio, pelo menos no social, com vistas ao resgate da

    dignidade e natureza do Ser.

    Centenas de textos e livros foram e sero escritos com o objetivo maior de

    despertar a sensibilidade dos poderosos para o respeito ao mais carentes,

    todavia os cinco E ditam a regra do homem lobo do prprio homem, seno

    vejamos: escravido, explorao, extorso, excluso e exceo, da lida do

    escravo ao assalariado, da explorao de mulheres e crianas pelo lucro

    desenfreado, da extorso representada pela monetizao dos riscos, leia-se

    adicionais de insalubridade e periculosidade, da excluso, o rob roubando os j

    parcos empregos no sculo XXI, e a exceo de ter um emprego ou trabalho sem

    a garantia de direitos fundamentais.

    Da mtica de Ado e Eva no den que, pela perspectiva religiosa, recebem

    l nos primrdios, a punio por terem descumprido um mandamento de Deus,

    punio exteriorizada na lida do trabalho, e mais tarde, em outros estdios da

    histria, na Grcia e em Roma, quando se utilizava o tripalium para domar os

    animais e submeter pela fora os escravos rebeldes, segue-se o sofrimento e

    martrio dos trabalhadores, se projetando no servo de gleba da Idade Mdia, nos

    proletrios dos sculos XVIII e XIX e hoje nas figuras dos assalariados e

    trabalhadores informais.

    Falar em segurana e sade para os trabalhadores, durante sculos

    pretritos e mesmo nos dias atuais, ainda soa como heresia socialista para

    muitos que operam as engrenagens do mercado e do capitalismo vociferante, no

    que resulta, em contrapartida, qual ddiva de ltima bia num mar de

    desigualdades, defesas jurdicas atravs do estabelecimento de diplomas legais

    e polticos que buscam garantir, ao menos no papel, o estrita e minimamente

    necessrio para a sobrevivncia do Ser.

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    O primeiro documento legal que abordou o tema da responsabilidade dos

    mais poderosos para com os mais fracos foi elaborado por Hamurabi, rei de

    Babilnia (aproximadamente de 1792 a 1750 a C.), unificando o direito

    costumeiro sumrio e arcdio. O Cdigo de Hamurabi apresenta 282 artigos que

    so ditos da proteo da propriedade, da famlia, do trabalho e da vida humana.

    Nos artigos deste instrumento legal precursor pode-se verificar a existncia

    de preceitos e sanes imediatas para neutralizar as ilicitudes e limitar os

    desmandos dos mais fortes contra os mais fracos. Especificamente tratando da

    responsabilidade no mundo trabalho, Hamurabi no artigo 229 incisivo: "Se um

    arquiteto constri para algum e no o faz solidamente e a casa que ele

    construiu cai e fere de morte o proprietrio, esse arquiteto dever ser morto", e

    emenda no artigo 230 "Se fere de morte o filho do proprietrio, dever ser morto

    o filho do arquiteto", ressaltando a importncia da responsabilidade do

    empreendedor para consigo mesmo e terceiros.

    As duras sanes estabelecidas no Cdigo de Hamurabi levam quase

    sempre a reflexes sobre um paradoxo nelas existentes, se procuravam proteger

    vida, porque no medem limites para tir-la dos infratores da lei? As

    circunstncias contextuais exigiam que essa norma fosse impregnada de fora e

    coao ou j naquela poca o poder oriundo dos mais abastados necessitava ser

    enfrentado com rigor e severidade pelo dirigente do povo?

    Sculos se passaram e na busca de salvaguardar a integridade fsica dos

    trabalhadores, principalmente mulheres e crianas, foi concebido na Inglaterra,

    ps-revoluo industrial, o Factory Act 1833, conhecido como Lei das Fbricas,

    manifestao plena de indignao da sociedade inglesa contra as injustias e

    abusos cometidos pelos burgueses contra os proletrios, nascia assim o primeiro

    instrumento legal de responsabilizao direta dos empregadores. Anos depois a

    Encclica Rerum Novarum, do Papa Leo XIII, exorta os empresrios a respeitar

    a dignidade dos trabalhadores.

    A criao da Organizao Internacional do Trabalho OIT, no ano de

    1919, procurou fazer vir tona as lamrias da populao trabalhadora do incio

    do sculo XX, drasticamente mutilada pela Primeira Guerra Mundial,

    corroborando, desta forma, para a gestao dos primeiros diplomas legais e

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    polticos que iriam subsidiar outras reivindicaes ao longo de todo o sculo.

    Tanto na Europa quanto na Amrica do Norte, as primeiras medidas visando

    proteo do trabalhador s foram adotadas em cumprimento de leis que

    responsabilizavam os empresrios.

    No Brasil, os antecedentes da legislao brasileira em matria de

    segurana e sade no trabalho apontam a existncia de muitos diplomas legais

    com iniciativas prevencionistas. O incio dessas manifestaes se d pelo

    Decreto 1.313, de 17/01/1891, do Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, na

    Primeira Repblica, j instituindo proibies nas fbricas em prol da segurana

    no trabalho. Ressalta-se tambm o Decreto-lei 3.724 de 15/01/1919, considerada

    a primeira lei de acidentes de trabalho do Brasil, o Decreto-lei 5.452, de

    11/05/1943, que instituiu a Consolidao das Leis do Trabalho CLT, o

    Decreto-lei 7.036, de 10/11/1944, que obriga as empresa com mais de cem

    empregados a constiturem Comisses Internas de Preveno de Acidentes

    CIPA e a Lei 6.514, de 22/12/1977 que alterou o Captulo V, Ttulo II da CLT,

    tratando da Segurana e da Medicina do Trabalho.

    Ao destacar essa legislao basilar, faz-se necessrio destacar que, em

    matria de legislao sobre segurana e sade no trabalho, o Brasil acumula

    excelentes experincias jurisprudenciais e doutrinrias, todavia, entre o disposto

    na norma ptria, enquanto preceito legal e o seu cumprimento pelas empresas,

    na prtica cotidiana, existe um enorme fosso de arbitrariedades que vem sendo

    legado s novas geraes. Por enquanto, ainda encontra-se alicerada na cultura

    a pecha de "se levar vantagem em tudo" e ao arrepio da lei. O renomado poltico

    brasileiro Rui Barbosa retratou esse triste cenrio num poema que mostra a

    vergonha do cidado de ser honesto numa sociedade em que para se prosperar

    tem que ser desonesto. Legislao tem, falta seu cumprimento.

    Na hierarquia de nossa legislao, a comear pela Constituio Federal, no

    seu Ttulo III, quando trata dos Direitos Sociais, a carta magna assegura no

    artigo 7 que "So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros

    que visem melhoria de sua condio social", Inciso XXII "Reduo dos riscos

    inerentes ao trabalho por meio de normas de sade, higiene e segurana" e

    Inciso XXVIII "Seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador,

    sem excluir, a indenizao a que este est obrigado, quando incorrer em dolo ou

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    culpa". Desta forma, a partir da prpria Carta Magna, tem-se o mandamento

    assecuratrio de garantias fundamentais para o trabalhador brasileiro.

    Logo abaixo, na legislao ordinria, o artigo 157 da Consolidao das Leis

    do Trabalho CLT, estabelece que cabe s empresas: 1 "Cumprir e fazer

    cumprir as normas de segurana e medicina do trabalho", o artigo 19, da Lei

    8.213, de 2410711991, que trata dos benefcios da Previdncia Social,

    estabelece no seu pargrafo primeiro que: "A empresa responsvel pela

    adoo e uso das medidas coletivas e individuais de proteo e segurana da

    sade do trabalhador" e no seu pargrafo terceiro que: " dever da empresa

    prestar informaes pormenorizadas sobre os riscos da operao a executar e do

    produto a manipular". Outras leis tambm so categricas em matria de

    responsabilizao por danos como o Estatuto do Menor e do Adolescente, a Lei

    de Proteo Ambiental e o Cdigo de Defesa do Consumidor.

    Durante muitos anos a responsabilidade primria do empregador perante

    as questes atinentes segurana e sade do trabalhador foi maquilada. Usaram

    artifcios como avaliaes simplistas e reducionistas que atribuam, na sua

    grande maioria, como sendo as principais causas de acidentes e doenas do

    trabalho o ato inseguro do trabalhador. Era comum o uso de cartaz com a frase:

    "Mantenha a sua ateno no trabalho", a responsabilidade era repassada para a

    parte mais fraca na relao capital versus trabalho, mesmo sendo visualizado no

    cartaz a falta de medidas de proteo coletiva e individual do trabalhador e a

    proteo coletiva da prpria mquina. Resqucio desta prtica ficou tambm

    presente, por longo perodo, no formulrio de comunicao de acidentes do

    trabalho, denominado CAT, exigido pela previdncia social para concesso de

    benefcios quando dos infortnios laborais.

    Diante do contexto pretrito, entende-se a necessidade de melhores

    esclarecimentos sobre a responsabilidade legal do empregador nos casos de

    acidentes e doenas decorrentes do trabalho, de forma didtica e que propicie

    amplo entendimento at mesmo por pessoas no acostumadas com o juridiqus.

    O conceito mais simples de responsabilidade vem de Ren Savatier, jurista

    francs, quando diz: "responsabilidade a obrigao de poder incumbir uma

    pessoa a reparar o dano causado a outra, por fato prprio ou por fato de pessoas

    ou coisas que dela dependam", por acrscimo, obviamente, no se pode

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    responsabilizar o incapaz.

    No mbito da responsabilidade podem-se visualizar trs principais teorias

    que norteiam as decises judiciais. A primeira teoria da responsabilidade

    objetiva, sendo imediata a indenizao sem uma necessidade preliminar de

    apurao de dolo ou culpa do agente causador do dano, sendo muito utilizada

    nas relaes entre seguradoras e segurados. A segunda teoria da

    responsabilidadesubjetiva, mais freqente no contexto organizacional, pois

    requer a apurao e comprovao de dolo ou culpa do agente causador do dano,

    cabendo o nus da prova a quem alegar o dano.

    A terceira teoria estabelece a responsabilidade por fato de terceiros. O

    Inciso III do Artigo 932 do Cdigo Civil em vigor, estabelece que so tambm

    responsveis pela reparao civil: "o empregador ou comitente, por seus

    empregados, serviais e prepostos, no exerccio do trabalho que lhes competir,

    ou em razo dele". Coube a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal, atravs

    da Smula 341, criar a presuno de culpa (at que prove o contrrio) do

    empregador e assim reverter o nus da prova nos casos em que observe que

    uma das partes supera em condies e poder a outra parte.

    Alm dessas trs teorias, faz-se necessrio ressaltar que para se

    estabelecer a responsabilidade no contexto organizacional trs requisitos so

    fundamentais, o dolo ou a culpa, o nexo de causalidade e o dano sofrido pela

    vtima. O dolo e a culpa so modalidades de atos ilcitos. O nexo de causalidade

    exprime a relao necessria entre a causa e o efeito. O dano sofrido pela vtima

    estabelecer o interesse e o quantum da contenda jurdica.

    Diante da terminologia jurdica faz-se necessrio, para salvaguardar a

    travessia at o entendimento da responsabilidade, a escolha de alguns termos

    para concatenao didtica do assunto. O Direito, stricto sensu, requer, para sua

    realizao, o comportamento ou ato humano. Quando este comportamento no

    afronta ou contraria a lei diz-se que um comportamento ou ato lcito.

    Entretanto, quando este comportamento atinge algum ou alguma coisa, diz-se

    que este comportamento ou ato ilcito.

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    ATO ILCITO todo ato que produz leso a um bem jurdico, seja por uma

    ao ou omisso. Em algumas situaes especiais definidas em lei, o Juiz pode

    excluir a ilicitude do ato, como no caso da legtima defesa, exerccio regular de

    um direito, estado de necessidade ou mesmo quando ocorre a permisso tcita

    do prejudicado. O Artigo 927 do Cdigo Civil vigente assegura que: "Aquele que,

    por ato ilcito, causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo".

    O ato ilcito se apresenta no mundo jurdico sob duas modalidades. Ele

    poder se manifestar como DOLO, quando o agente quer o resultado ou assume

    o risco de produzi-lo, que possui como exemplo mais recente, o ato dos

    terroristas contra as duas torres do World Trade Center em Nova York. No

    contexto organizacional o ato ilcito proveniente de dolo mais difcil de ocorrer,

    ou seja, a hiptese de um trabalhador premeditar uma armadilha contra outro,

    colocada em segundo plano, porm, a Lei 8.213191 da Previdncia Social,

    quando faz a conceituao de acidente do trabalho, assegura a extenso do conceito

    para os atos de agresso motivada por disputa no local de trabalho, o que

    poderia, hipoteticamente, resultar numa atitude dolosa.

    Outra modalidade de ato ilcito a CULPA, materializada quando o agente

    d causa ao resultado por negligncia (falta de ateno), imprudncia (excesso

    de confiana) ou impercia (falta de habilitao ou qualificao). No mbito

    organizacional esta a modalidade de ato mais freqente em detrimento da

    segurana e sade dos trabalhadores. A negligncia poder ser encontrada na

    falta de ateno dos supervisores, chefias, encarregados, diretores e demais

    prepostos da empresa quanto elaborao de ordens de servios ou instrues

    fundamentais para a execuo do servio com segurana e sade, no descaso

    com as recomendaes da Comisso Interna de Preveno de Acidentes CIPA,

    que muitas das vezes j vem noticiando incidentes, e at mesmo na conivncia

    das chefias com funcionrios mais antigos que do mau exemplo em relao ao uso de

    medidas de proteo coletiva e individual necessrias para realizao dos

    servios.

    A imprudncia no contexto organizacional se verifica muitas vezes pelo

    excesso de confiana. Poder ocorrer com trabalhadores mais antigos

    resistentes s mudanas, principalmente quando estas mudanas envolvem

    novos hbitos ou prticas para a execuo do trabalho. Nasce da a necessidade

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    de treinamento e imperiosa orientao contnua por parte das chefias, buscando

    sensibilizao quanto importncia de se fazer o correto para prevenir acidentes

    e doenas.

    A impercia se verifica pela falta de habilitao ou qualificao. Nesta

    situao, normalmente o trabalhador desviado de funo e obrigado a executar

    tarefas ou servios para os quais no foi devidamente preparado. Nesta situao

    observa-se o quanto o trabalhador manipulado no ambiente organizacional,

    sendo em muitas situaes ainda responsabilizado pelo acidente ou doena

    contrada. Com o aumento cada vez maior do nmero de desempregados,

    verifica-se proporcionalmente um aumento da precarizao do trabalho pelo fato

    dos trabalhadores ficarem atemorizados e no exigirem seus direitos.

    Conhecendo o ato ilcito, suas modalidades dolosa e culposa, pergunta-se:

    qual modalidade de ato ilcito se verifica com maior nfase no ambiente

    organizacional? Notadamente que o ato ilcito culposo. Para o ato ilcito

    culposo existe um excelente remdio, a educao contnua e atualizada,

    destinada sensibilizao de todos os integrantes de uma organizao.

    Para que o trabalhador possa reclamar a proteo jurisdicional do Estado

    buscando a responsabilizao da empresa, numa situao em que ele se

    encontre prejudicado por acidente ou doena decorrente do trabalho, faz-se

    necessrio que ele possua os meios necessrios e suficientes para provar o que

    alegar. PROVA significa demonstrar, reconhecer, formar juzo de alguma coisa. A

    prova nesta situao poder ser demonstrada atravs de testemunhas, por meio

    de documentos, pela confisso do autor da ofensa ou com o uso de percia. No

    mundo organizacional costume a prova ser preparada com o uso de

    testemunhas ou documentos. Para os profissionais que atuam na rea de

    segurana e sade no trabalho, faz-se necessrio o uso de provas materiais

    consistentes, ou seja, provas documentais, fotos, gravaes que assegurem

    suadefesa numa situao de conflito e acusaes, principalmente quando

    envolver acidentes com leses graves ou a morte de um trabalhador.

    O direito muito importante para a realizao humana e deve ser buscado

    perseverantemente, contudo, se o ofendido ou prejudicado se resignar ou no

    acreditar no seu pleito perante a justia, com o tempo, este direito prescreve, ou

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    seja, se extingue, em vista do no exerccio dele. Ento se d a PRESCRIO.

    No Cdigo Civil anterior, a prescrio da ao de indenizao nos casos de

    acidentes e doenas decorrentes do trabalho era vintenria. O artigo 177 era

    taxativo: "As aes pessoais prescrevem, ordinariamente, em vinte anos,

    contados da data em que poderiam ter sido propostas". Entende-se, portanto, a

    ligao que existe entre o que estabelecia, em matria de prescrio, o Cdigo

    Civil anterior e as Normas Regulamentadoras 7 (PCMSO), 9 (PPRA) e 18

    (PCMAT) do Ministrio do Trabalho, quando tratam da obrigatoriedade de se

    manter registros e dados sobre sade e segurana mesmo aps o desligamento

    do trabalhador.

    A responsabilidade civil difere da penal, naquela busca-se a reparao ou

    ressarcimento do dano, quando por ato ilcito causado a outrem. Trata-se de uma

    norma de Direito Privado, a reao da sociedade representada pela

    indenizao. Como matria de interesse privado, se o prejudicado se resignar a

    sofrer o prejuzo e se mantiver inerte diante da agresso, nenhuma conseqncia

    advir para o causador do dano.

    Hoje, com o novo Cdigo Civil, Lei 10.406, de 10/01/2002, no pargrafo

    terceiro do artigo 206, inciso V, a pretenso de reparao civil foi reduzida para

    trs anos. Da mesma forma o Cdigo Civil em vigor define nos artigos: 186 e 187

    os atos ilcitos; 927 a 932, obrigao de indenizar; 934 ao regressiva, ou seja,

    o empregador efetua o pagamento da indenizao civil por ser o responsvel

    primrio, entretanto, poder propor uma ao regressiva contra quem deu causa

    ao acidente; 942 o comprometimento dos bens do autor da ofensa.

    Ocorrendo a morte de um trabalhador devido a um acidente ou doena

    decorrente do trabalho em seja provado dolo ou culpa do empregador, o custo

    com a indenizao civil muito elevado, necessariamente o montante a ser pago

    aos seus dependentes ou herdeiros, independentemente de penso

    previdenciria ou crditos trabalhistas, acrescido por penso civil de dois

    teros do que a vtima recebia em vida, indenizao cumulativa por dano moral,

    pagamento retroativo data do acidente, honorrios advocatcios e nus da

    sucumbncia, ou seja, custas cartoriais. Quando ocorre a invalidez permanente

    do trabalhador, a indenizao civil vitalcia acrescida do pagamento de

    despesas mdico-hospitalares, com medicamentos e aparelhos protticos, desde

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    a data do acidente, no presente e no futuro.

    No campo criminal, como se trata de norma de Direito Pblico, a reao da

    sociedade representada pela pena, seja ela privativa de liberdade (deteno,

    recluso), restritiva de direito ou multa. Sabe-se que o crime praticado no mundo

    organizacional quase sempre envolve culpa e o acusado ru primrio. Nesta

    situao o juiz pode transformar a pena para que se realize uma justia

    educativa. A base legal comea nos anos quarenta do sculo XX, o artigo 132 do

    Cdigo Penal, escrito poca, j era inspirado pela quantidade de acidentes que

    ocorria e preocupava o legislador, "Expor vida ou a sade de outrem a perigo

    direto e iminente", pena: "deteno de trs meses a um ano, se o fato no

    constitui crime mais grave". importante frisar que o artigo no cita nem a leso

    corporal nem a morte para sua caracterizao legal. A exposio da vida ou da

    sade enquanto valor maior para o trabalhador que caracteriza a violao da

    lei. At hoje, infelizmente, comum observar nas cidades onde j existe vasta

    verticalizao predial um grande nmero de empregados domsticos trabalhando

    na limpeza de vidraas sem a mnima proteo.

    J o artigo 129 do Cdigo Penal assegura que: "Se resulta leso corporal

    de natureza grave ou incapacidade permanente para o trabalho", pena:

    "Deteno de dois meses a um ano", e no pargrafo stimo: "aumento de um

    tero da pena se o crime foi resultante de inobservncia de regra tcnica de

    profisso". Aqui se tem o acrscimo da pena pelo fato, principalmente, do

    causador do dano, depois de apurado o fato, ser de forma conjetural, um

    profissional da rea de segurana ou sade no trabalho, que no tenha

    observado o que determinam as normas regulamentadoras do Ministrio do

    Trabalho.

    No caso de morte do trabalhador o Cdigo Penal estabelece no artigo 121

    que: "Quando o acidente decorre de culpa grave, caracterizado em processo

    criminal, o causador do evento fica sujeito", primeiro se resulta morte do

    trabalhador: "Deteno de um a trs anos e aumento de um tero da pena se o

    crime foi resultante de inobservncia de regra tcnica de profisso". A partir de

    outubro de 1988, com advento do inciso XXVIII, do artigo stimo da Constituio

    Federal, ficou estabelecido que qualquer modalidade de culpa ser suficiente

    para apurar o delito fatal.

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    O Cdigo de Processo Penal assegura no pargrafo terceiro do Artigo

    quinto que: "Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existncia de

    infrao penal em que caiba ao pblica, poder, verbalmente ou por escrito,

    comunic-la a autoridade policial e esta, verificada a procedncia das

    informaes, mandar instaurar inqurito". Portanto, qualquer cidado pode

    manifestar sua indignao junto autoridade policial mais prxima, contra os

    abusos cometidos contra o trabalhador, principalmente quando se tratar da

    exposio de sua vida ou sade a situaes de riscos.

    No Brasil, atualmente, importantes entidades vm direcionando suas aes

    para corroborar com a diminuio dos acidentes e doenas decorrentes do

    trabalho, notadamente as delegacias regionais do trabalho, atualmente

    denominadas Superintendncias Regionais do Trabalho e Emprego SRTE,

    instaladas em todos os estados e no Distrito Federal, as organizaes

    no-governamentais que lidam na rea de resgate da cidadania e de respeito aos

    direitos humanos, a imprensa que tem destinado espao na mdia televisiva,

    falada e escrita para discusso dos acidentes e doenas do trabalho, os

    sindicatos que acrescentam s suas pautas de reivindicaes um conjunto de

    medidas em prol da segurana e sade dos trabalhadores, os conselhos

    regionais de medicina e de engenharia que criam cmaras destinadas ao

    julgamento da tica profissional no trabalho e do respeito dignidade dos

    trabalhadores, o ministrio pblico e a previdncia social que vm atuando no

    sentido de melhorar a legislao em prol da segurana e da sade de quem

    trabalha, os clientes e a prpria concorrncia que fazem um chamado ao

    comprometimento da organizao principalmente com seu pblico interno,

    assentados na lgica da qualidade e da competitividade ao afirmar que desde

    que haja qualidade na vida das pessoas que fazem os produtos e servios,

    haver qualidade nos produtos e servios que oferecem.

    Autor: Luiz Augusto Damasceno Brasil, Advogado, Pedagogo e Tecnologista da Fundacentro-CRDF. E-mail. [email protected]