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1 Amanda Meincke Melo Lara Schibelsky Godoy Piccolo Ismael Mattos Andrade Ávila Cláudia de Andrade Tambascia (organizadores) Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade Aplicadas em Interfaces para Analfabetos, Idosos e Pessoas com Deficiência Resultados do Workshop IHC 2008 - VIII Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais 1ª Edição CPqD Campinas, SP 2009

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Amanda Meincke Melo Lara Schibelsky Godoy Piccolo Ismael Mattos Andrade Ávila Cláudia de Andrade Tambascia

(organizadores)

Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade Aplicadas em Interfaces para Analfabetos, Idosos e Pessoas com Deficiência Resultados do Workshop

IHC 2008 - VIII Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais

1ª Edição

CPqD

Campinas, SP 2009

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CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações Rodovia Campinas/Mogi-Mirim, km 118,5 – 13086-902

Campinas – SP – Brasil Tel.: 0800-7022773

1ª edição – abril de 2009

Editores Amanda Meincke Melo

Lara Schibelsky Godoy Piccolo Ismael Mattos Andrade Ávila

Cláudia de Andrade Tambascia

Reprodução autorizada, desde que citada a fonte de referência da publicação e os autores dos artigos.

Distribuição gratuita.

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Apresentação

É com grande satisfação que compartilhamos esta compilação de artigos apresentados e discutidos durante o workshop “Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade aplicadas em interfaces para analfabetos, idosos e pessoas com deficiência”. O evento ocorreu em outubro de 2008, em Porto Alegre - RS, integrado ao IHC'2008 – Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais.

O primeiro capítulo desta publicação apresenta os objetivos e os resultados alcançados com o workshop, sumarizando as principais contribuições de cada trabalho. Os capítulos subseqüentes trazem os artigos na forma em que foram submetidos pelos autores.

Desejamos profundamente que este material possa contribuir à reflexão sobre acessibilidade, usabilidade e inteligibilidade visando à promoção da qualidade da experiência do cidadão brasileiro no acesso indiscriminado ao conhecimento e à participação na sociedade mediados por Tecnologias de Informação e Comunicação.

Os organizadores.

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Sumário

Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade aplicadas em interfaces para analfabetos, idosos e pessoas com deficiência – Resultados do Workshop..................3 Amanda Meincke Melo, Lara Piccolo, Ismael Ávila, Claudia de Andrade Tambascia

Personas para Caracterização da Experiência de Uso de Tecnologia pela População Digitalmente Excluída........................................................................................................ 15 Lucia Filgueiras, Stefan Martins, Danilo Correa, Alexandre Osorio

XLupa – Um Ampliador de Tela com Interface Adaptativa para Pessoas com Baixa Visão................................................................................................................................... 23 Jorge Bidarra, Clodis Boscarioli, Claudia Brandelero Rizzi

O Selo Não Garante a Acessibilidade............................................................................... 31 Horácio Pastor Soares, Simone Bacellar Leal Ferreira, Luiz Carlos Monte

Tornando os Requisitos de Usabilidade mais Aderentes às Diretrizes de Acessibilidade.................................................................................................................... 43 Simone Bacellar Leal Ferreira, Ricardo Rodrigues Nunes, Denis S. Silveira, Horácio Pastor Soares

Avaliando a Qualidade Afetiva de Sistemas Computacionais Interativos no Cenário Brasileiro ............................................................................................................................ 55 Elaine Hayashi, Vânia Neris, Cecília Baranauskas, Maria Cecília Martins, Lara Piccolo, Rosely Costa

Sumarização Automática para Simplificação de Textos: Experimentos e Lições Aprendidas ......................................................................................................................... 63 Paulo R. A. Margarido, Thiago A. S. Pardo, Sandra M. Aluísio

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Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade aplicadas em interfaces para analfabetos, idosos e

pessoas com deficiência – Resultados do Workshop

Amanda Meincke Melo1 [email protected]

Lara S. G. Piccolo2 [email protected]

Ismael Ávila2 [email protected]

Claudia de Andrade Tambascia2 [email protected]

1 Faculdade Comunitária de Campinas – Unidade 3

2 Fundação CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações

Palavras-chave

Usabilidade, Acessibilidade, Inteligibilidade, Inclusão digital

Resumo

O workshop “Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade aplicadas em interfaces para analfabetos, idosos e pessoas com deficiência”, integrado ao IHC'2008 – Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais teve como objetivo promover o debate acerca de desafios que permeiam o desenvolvimento de interfaces que incluam pessoas social e digitalmente excluídas no Brasil. Este artigo sumariza os resultados do workshop, refletindo sobre as contribuições dos trabalhos apresentados durante o evento.

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Introdução

Conforme enunciado pela Sociedade Brasileira de Computação, propor soluções que permitam o “Acesso participativo e universal do cidadão brasileiro ao conhecimento” (BARANAUSKAS e DE SOUZA, 2006) é um grande desafio a pesquisas em computação do Brasil. Conceber soluções inclusivas mediadas por Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) no contexto brasileiro passa pela compreensão das necessidades do cidadão no uso de sistemas de informação interativos, nos mais variados cenários.

Além das barreiras em decorrência das deficiências sensoriais, física e mental, o baixo nível de escolaridade representa também uma grande barreira eminente ao uso pleno de computadores no Brasil. Cerca de metade da população tem alfabetização insuficiente para uma utilização autônoma e desenvolta de grande parte dos conteúdos e das interfaces computacionais hoje existentes.

A construção de ambientes, produtos e serviços inclusivos, que considerem as necessidades de toda a população, na maior extensão possível, é urgente na sociedade contemporânea (BRASIL, 2004; BRASIL, 2006; MANTOAN e BARANAUSKAS, 2006; MELO, 2007; PICCOLO et al, 2007). Diante disso, é pertinente investigar aspectos de usabilidade, acessibilidade e inteligibilidade em soluções de interface que tragam melhores resultados em termos de facilidade no uso de computadores por um público analfabeto ou com baixo letramento, idoso e/ou com algum tipo de deficiência, tirando proveito das habilidades e capacidades que este já possui e que utiliza em seu dia-a-dia. Assim, barreiras iniciais ao uso de computadores podem ser transpostas, além de visar a uma crescente autonomia na interação humano-computador. O trato com um público tão rico em diferenças exige reflexões sobre métodos e técnicas de IHC – Interação Humano-Computador, inclusive no que diz respeito à abordagem e ao seu engajamento no design e na avaliação de sistemas interativos.

Diversas iniciativas de pesquisa têm surgido no Brasil com o objetivo de entender e propor soluções para a inclusão digital do cidadão brasileiro. Dentre essas iniciativas está o projeto STID1, que tem como um de seus principais objetivos a proposição de um modelo de interação para serviços de governo eletrônico adequado para analfabetos e pessoas com deficiências visuais e auditivas. Os desafios enfrentados na execução do projeto STID e as experiências adquiridas por diversos grupos de pesquisa envolvidos motivaram a proposição deste workshop.

Assim, o workshop “Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade aplicadas em interfaces para analfabetos, idosos e pessoas com deficiência” foi proposto e integrado ao IHC'2008 – Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais. Seu objetivo foi reunir diferentes iniciativas para compartilhar experiências e visões de diversas áreas envolvidas nessa linha de pesquisa, promovendo um debate acerca de desafios que

1 O projeto STID – Soluções de Telecomunicações para Inclusão Digital está em desenvolvimento pelo CPqD e é financiado pelo Fundo pelo Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações – FUNTTEL, do Ministério das Comunicações.

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permeiam o desenvolvimento de interfaces que incluam digitalmente pessoas socialmente excluídas no Brasil.

Pesquisadores que realizam trabalhos relacionados à temática do workshop tiveram a oportunidade de apresentar publicamente suas contribuições, possibilitando o registro de questões, problemas, idéias e soluções relacionados ao modo de construir e de avaliar sistemas interativos, ao desenvolvimento de tecnologias assistivas para grupos específicos de usuários e ao entendimento sobre acessibilidade, usabilidade e inteligibilidade na Web.

Este artigo resume os resultados do workshop, iniciando pela apresentação de sua organização, passando à síntese das contribuições dos trabalhos apresentados e, finalmente, às considerações finais.

Organização do Workshop

A fim de nortear as discussões e estimular a reflexão e o debate pelos participantes durante toda a extensão do workshop, foram propostas algumas questões base durante a abertura do evento:

• Como conciliar usabilidade, acessibilidade e inteligibilidade? Qual o impacto de soluções de acessibilidade/inteligibilidade sobre aspectos de usabilidade em interfaces e conteúdos digitais? Como isso afeta o conceito de “interface universal”?

• A condição do analfabeto pode ser encarada como um tipo de deficiência? O que diferencia esse segmento da população em relação ao das pessoas com deficiência? Como contextualizar conceitos e soluções estrangeiros para o cenário brasileiro?

• Em que medida a oferta de ferramentas assistivas pode garantir autonomia aos usuários? Normas e padrões são suficientes para a garantia da usabilidade, da acessibilidade e da inteligibilidade?

Na seqüência, o workshop foi dividido em quatro sessões: as três primeiras dedicadas à apresentação dos trabalhos e a última às reflexões finais e encerramento, conforme descrito na Tabela 1.

Abertura e proposição de questões para debate

Artigo 1: Personas para caracterização da experiência de uso de tecnologia pela população digitalmente excluída.

Sessão 1 Artigo 2: xLupa – Um ampliador de tela com interface adaptativa para pessoas com baixa visão

Intervalo

Artigo 3: O selo não garante acessibilidade Sessão 2 Artigo 4: Tornando os requisitos de usabilidade mais aderentes às diretrizes de

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Tabela 1. Distribuição das apresentações no workshop (Continua)

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Artigo 5: Avaliando a qualidade afetiva de sistemas computacionais interativos no cenário brasileiro Sessão 3

Artigo 6: Sumarização automática para simplificação de textos

Intervalo

Sessão 4 Reflexões finais e encerramento

Tabela 1. Distribuição das apresentações no workshop (Conclusão)

A subseção a seguir descreve o método de trabalho para condução do workshop, registro e síntese das contribuições.

Método de Trabalho

Os trabalhos foram apresentados em sessões de cerca de 30 minutos cada, incluindo aproximadamente 10 minutos para discussões e questionamentos. As contribuições de cada trabalho foram registradas, durante as apresentações, em Quadros de Avaliação, adaptados de Melo (2007, p. 53), servindo como referência para a síntese realizada na sessão de reflexões finais e encerramento.

Quadros de avaliação são artefatos construídos para analisar um determinado sistema de informação e entender o que é esperado do sistema futuro (SIMONI, 2003, p. 50). Têm sido utilizados como artefatos de articulação de problemas na Semiótica Organizacional para organizar interesses, questões e problemas de partes interessadas em um problema focal, com o objetivo de discutir novas idéias e possíveis soluções (BARANAUSKAS et al, 2005; BONACIN et al, 2006, p. 49; SIMONI et al, 2005, p. 140; SIMONI et al, 2007).

A utilização desse artefato permitiu uma visão clara das contribuições relacionadas com os conceitos de acessibilidade, usabilidade e inteligibilidade (e muitas vezes a forte relação entre eles), e também identificar os principais problemas levantados por cada um dos trabalhos, bem como propostas de soluções. As Tabelas 2, 3 e 4, apresentadas na subseção de registro das contribuições, ilustram a instanciação desse artefato com algumas questões e propostas de soluções que surgiram durante as apresentações.

Na sessão destinada às reflexões finais e encerramento, para cada trabalho, foi compartilhada com os participantes uma questão que resumiria sua idéia principal. Essas questões foram avaliadas preliminarmente pelo(s) respectivo(s) autor(es) presentes e serviram como ponto de partida para que idéias e soluções relacionadas a cada questão fossem registradas no quadro branco da sala. Para encerrar as atividades, os participantes foram convidados a responder ou comentar individualmente, em uma folha de papel, a questão-chave do workshop: “Como abordar de maneira coordenada acessibilidade, usabilidade e inteligibilidade do design de sistemas interativos aplicadas em interfaces para analfabetos, idosos e pessoas com deficiência?”

Registro das Contribuições

Algumas das principais questões apresentadas relacionadas à acessibilidade, à usabilidade e à inteligibilidade, bem como propostas de soluções, foram registradas no Quadro de Avaliação organizado nas Tabelas 2, 3 e 4.

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Questões / Problemas Idéias / Soluções

Como entender quais as habilidades e limitações dos usuários, em suas diferenças? (Artigo 1)

Analisar a relação do sujeito com as TICs (Tem em casa? Tem experiência? Quando precisa ou quando quer? Gosta? Acha fácil/difícil? Facilita sua vida ou atrapalha?) (Artigo 1)

Quais as necessidades das pessoas com baixa visão? Quais as principais características esperadas para um ampliador de telas típico? (Artigo 2)

Proposição de ampliador de telas para estudantes do ensino fundamental em software livre. (Artigo 2)

Sites governamentais estariam realmente acessíveis ou haveria apenas uma preocupação em mostrá-los aderentes à legislação? Qual o modelo mental dos desenvolvedores para o que significa promover acessibilidade na Web? Como garantir a acessibilidade durante a manutenção dos sites? (Artigo 3)

Combinar técnicas para avaliação de acessibilidade de sites. Mudar cultura das pessoas no desenvolvimento e manutenção de sites acessíveis. Não restringir o conceito de acessibilidade para pessoas com deficiência visual. Criar cotas e exigências legais para requisitos de acessibilidade. (Artigo 3)

Garantir acessibilidade não implica necessariamente usabilidade. Importância da consistência das interfaces, especialmente para o deficiente visual. (Artigo 4)

Alinhar requisitos de usabilidade e acessibilidade. Modelar dificuldades e habilidades dos usuários para nortear o modelo conceitual da interação. Propor mudanças graduais, progressivas para não perder a consistência em uma manutenção. (Artigo 4)

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Como o público-alvo, dentro da sua diversidade, pode entender, perceber e interagir com sistemas computacionais? (Artigo 5)

Acesso universal como uma experiência afetiva inclusiva. (Artigo 5)

Tabela 2. Quadro de Avaliação com registro das contribuições para Acessibilidade

Questões / Problemas Idéias / Soluções

Como caracterizar para os projetistas o grupo de usuários? Como levar resultados de “estudo de campo” aos projetistas? (Artigo 1)

Aplicação do modelo de Personas (segmentação da população/arquétipos) para simplificar informações obtidas com a pesquisa de campo. (Artigo 1)

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Como adaptar uma ferramenta assistiva às necessidades do usuário? (Artigo 2)

Fazer o monitoramento do usuário e aplicação de algoritmos para adaptação automática ao perfil do usuário. Oferecer a visualização em alto contraste (preto / branco). (Artigo 2)

Tabela 3. Quadro de Avaliação com registro das contribuições para Usabilidade (Continua)

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O paradigma tradicional de avaliação de interfaces de usuário, envolvendo eficiência e cumprimento de tarefas, seria adequado e suficiente para avaliar o uso de sistemas computacionais por aqueles que não são familiarizados com a linguagem digital? (Artigo 5)

A construção “afetiva boa” favorece a interação com sistemas computacionais. Avaliar a qualidade afetiva em sistemas interativos. (Artigo 5)

Tabela 3. Quadro de Avaliação com registro das contribuições para Usabilidade (Conclusão)

Questões / Problemas Idéias / Soluções

Escolaridade indica muito pouco sobre o nível de letramento de uma pessoa. (Artigo 1)

Analisar a relação do sujeito com as TICs (Tem em casa? Tem experiência? Quando precisa ou quando quer? Gosta? Acha fácil/difícil? Facilita sua vida ou atrapalha?) (Artigo 1)

A simplicidade é uma qualidade importante das interfaces: como a acessibilidade pensada como “diminuir a carga cognitiva” pode “impactar” no “emburrecimento” do usuário? (Artigo 4)

O design não deve promover o “emburrecimento” do usuário. (Artigo 4)

Como separar cognição e afetividade em uma avaliação? (Artigo 5)

Aspectos da afetividade do usuário com relação ao sistema são determinantes da apropriação da tecnologia (Contribuições ao design socialmente responsável) (Artigo 5)

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Como melhor a inteligibilidade de textos complexos? (Artigo 6)

Proposta de aplicação da sumarização (Artigo 6)

Tabela 4. Quadro de Avaliação com registro das contribuições para Inteligibilidade

Síntese das Contribuições

Os trabalhos apresentados contribuíram à temática do workshop sob diferentes perspectivas: construção de conhecimento e entendimento sobre o público-alvo, design e avaliação de sistemas Web-acessíveis, desenvolvimento de tecnologias assistivas, abordagem da qualidade afetiva no design de sistemas interativos e simplificação de textos. As questões que seguem visam a resumir as principais idéias suscitadas pelos trabalhos apresentados:

• Como aproximar o projetista, não envolvido em estudo de campo, com a diversidade do público-alvo? (sobre o modelo de personas)

• Selo não garante acessibilidade. Como mudar a cultura de desenvolvimento/manutenção de sites governamentais? Como disseminar a “cultura da acessibilidade” visando à promoção de soluções adequadas ao usuário?

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• Acessibilidade não implica necessariamente usabilidade. Como alinhar acessibilidade a requisitos não funcionais de usabilidade?

• Quais as principais características esperadas para um ampliador de telas que atenda às necessidades das pessoas com baixa visão?

• Como tratar aspectos da afetividade do usuário com relação ao sistema, dado que são determinantes na apropriação da tecnologia? (contribuição ao design socialmente responsável)

• Como promover a inclusão digital de pessoas com baixa escolaridade por meio de sumarização automática de textos?

Uma das questões levantadas durante o workshop diz respeito a como aproximar projetistas não envolvidos em estudo de campo à diversidade do público-alvo. O modelo de personas, caracterizado por histórias de vida que expressam experiências de uso de tecnologias, é apresentado como uma possível abordagem a essa questão. Este modelo é considerado conveniente para comunicar ao projetista resultados de estudos sobre usuários, cujos dados tendem a ser numerosos e complexos (FILGUEIRAS et al, 2009). Pode ser complementado com outras experiências como: o próprio projetista ir a campo, o design participativo, a humanização da formação dos designers, e o conceito do Design Universal permeando disciplinas que tratam do projeto de interfaces.

Embora a temática Acessibilidade na Web já esteja em pauta há alguns anos, inclusive na esfera governamental, estudo recente indica que a cultura de implementação de acessibilidade está longe da ideal (SOARES e FERREIRA, 2009). O uso de verificadores de acessibilidade de sites é insuficiente quando realizado de modo isolado e pontual para validar a acessibilidade de um site. Entretanto, esta é uma estratégia ainda bastante comum, afinal, como modificar a cultura atual de desenvolvimento e de manutenção de sites governamentais e disseminar uma “cultura da acessibilidade” que vise à promoção de soluções adequadas ao usuário final? A força da lei e a demanda da comunidade e do mercado são consideradas impulsionadoras para abordar essas questões. Instrumentos de trabalho adequados (ex.: processos, ferramentas) e inteligibilidade do tema para os próprios designers também podem constituir parte da solução.

Ferreira et al (2009) reforçam a necessidade de acessibilidade e usabilidade estarem alinhadas desde e a definição dos requisitos não funcionais para o desenvolvimento de um sistema. Requisitos Não-Funcionais de Usabilidade, relacionados à entrada de dados e à exibição da informação, são propostos como ponto de partida para realizar o alinhamento com diretrizes de acessibilidade Web. A idéia subjacente é que, por se tratarem de propriedades emergentes de sistemas interativos altamente inter-relacionados, acessibilidade, inteligibilidade e usabilidade necessitam ser abordadas de forma coordenada.

Tecnologias assistivas são importantes componentes para promover o acesso e o uso universais de sistemas interativos por grupos de usuários com necessidades específicas. Para que seu design seja feito de forma apropriada, faz-se necessário investigar de forma profunda as necessidades e preferências de um determinado grupo de usuários (ex.: pessoas com baixa visão, cegos, surdos, pessoas com mobilidade reduzida, etc.), tendo-se em mente um público diverso mesmo dentro de um grupo específico. O trabalho de Bidarra et al (2009) faz emergir a seguinte questão: quais as principais características esperadas

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para um ampliador de telas que atenda às necessidades das pessoas com baixa visão? Indicam como características importantes para uma tecnologia assistiva dessa natureza a qualidade da imagem, o controle do usuário sobre o uso da tela e a adaptação da ferramenta ao perfil do usuário.

Hayashi et al (2009) investigam como contemplar a afetividade no design de sistemas interativos voltados à inclusão digital. Indicam a necessidade de referenciais que vão além da avaliação da performance e da realização de tarefas, propondo um método de avaliação da interação que contempla questões de afetividade. A afetividade tem estreita relação com a motivação no processo de alfabetização e este aspecto necessita ser mais bem compreendido por designers de modo a ser adequadamente apropriado no processo de design de sistemas socialmente responsáveis. A relação entre conforto e afetividade é outra questão que necessita investigação nesse cenário.

A sumarização automática para a simplificação de textos tem o potencial de beneficiar uma ampla faixa de usuários e Margarido et al (2009) apresentam lições aprendidas de experimentos realizados com diferentes métodos de sumarização e usuários com variados níveis de letramento. Durante o workshop, participantes sugeriram a avaliação de outras mídias para apoiar a sumarização (ex.: áudio, mídia impressa, leitor de telas etc). A avaliação do “grau” de inteligibilidade do conteúdo e o experimento com textos que usem a linguagem do cotidiano dos usuários foram considerados importantes fatores a serem considerados em pesquisas que envolvam a sumarização automática em cenários de inclusão digital.

As reflexões sobre as questões-chave resumiram, na perspectivas de cada participante, idéias para favorecer a articulação entre acessibilidade, usabilidade e inteligibilidade no design de sistemas interativos inclusivos. Destacam-se as seguintes idéias:

• Aproximar usuários ao processo de design e desenvolvedores ao cotidiano dos usuários, para que se construa uma compreensão da experiência do usuário como ela é vivenciada, de forma holística, sem fragmentá-la;

• Extrapolar o nível técnico e operacional da acessibilidade, usabilidade e inteligibilidade, considerando-se a dimensão afetiva da interação;

• Ferramentas de projeto capazes de capturar a experiência do usuário em representações úteis;

• Comprometer-se com o desenvolvimento de produtos e de processos inclusivos, na perspectiva do Design Universal;

• Promover a troca de experiência entre os profissionais envolvidos com o design de sistemas interativos;

• Trabalhar na formação de designers e professores (acessibilidade no ciclo básico dos cursos; aproximar professores à realidade das empresas, aprendizagem baseada em problemas);

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• A comunidade de IHC brasileira ficar atenta aos novos desafios que emergem em decorrência da ubiqüidade dos sistemas computacionais, aliando teoria (ex.: formação, aculturamento) e prática (ex.: experimentação, trabalhos em campo) para promover uma experiência positiva do usuário (ex.: conforto, qualidade afetiva, satisfação no uso);

• Aspectos de IHC como fatores qualitativos em licitações, com base em regulamentação ou leis.

Considerações Finais

O workshop “Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade aplicadas em interfaces para analfabetos, idosos e pessoas com deficiência” permitiu um rico intercâmbio de idéias entre pesquisadores que atuam nessa linha de pesquisa. Os trabalhos apresentados trouxeram resultados que reforçam a percepção de que os três temas centrais do workshop ainda necessitam um grande investimento investigativo a fim de que as dimensões da usabilidade, da acessibilidade e da inteligibilidade estejam cada vez mais presentes nos projetos de interfaces e sistemas computacionais. Os pesquisadores, no workshop, reforçam a necessidade de tratar esses três aspectos de forma sistemática e articulada, visto que têm um grande peso na efetiva apropriação das novas tecnologias pelos vários segmentos da população brasileira.

Assim, um importante passo na direção de abordar de maneira coordenada esses três conceitos foi a realização deste workshop, possibilitando enfatizar, dentro da comunidade brasileira de IHC, a importância desses aspectos e, sobretudo, suas inter-relações. As questões base inicialmente propostas, as discussões ensejadas por cada trabalho e as experiências compartilhadas pelos participantes contribuíram a um melhor entendimento conjunto desses conceitos e a uma maior consciência da importância dessas três dimensões.

Agradecimentos

Agradecimentos aos participantes do workshop, ao projeto “Todos Nós – Unicamp Acessível” (PROESP2003/CAPES), à organização do IHC'08; ao CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, e ao FUNTTEL.

Referências [1] BARANAUSKAS, M. C. C.; DE SOUZA, C. S. Desafio 4: Acesso participativo e universal do

cidadão brasileiro ao conhecimento. Computação Brasil, Porto Alegre, v. 23, p. 7-7, Set./Out. 2006.

[2] BARANAUSKAS, M. C. C.; SCHIMIGUEL, J.; MEDEIROS, C. B.; SIMONI, C. A. Guiding the process of requirement elicitation with a semiotic approach – a case study. In: HCI INTERNACIONAL, 11, 2005, Las Vegas. Proceedings… New Jersey: Lawrence Erlbaum. p. 100-110.

[3] BIDARRA, J., BOSCARIOLI, C., RIZZI, C. B. xLupa – um ampliador de tela com interface adaptativa para pessoas com baixa visão. In: MELO, A. M., PICCOLO, L. S. G., ÁVILA, I. M. A, TAMBASCIA, C. A. (Org.). Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade Aplicadas em Interfaces para Analfabetos, Idosos e Pessoas com Deficiência: Resultados do Workshop. Campinas: CPqD, 2009. p. 23-30.

[4] BONACIN, R.; SIMONI, C. A. C.; MELO, A. M.; BARANAUSKAS, M. C. C. Organisational

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Semiotics: guiding a service-oriented architecture for e-government. In: BARANAUSKAS, M. C. C.; LIU, K. (Ed.). INTERNATIONAL CONFERENCE ON ORGANISATIONAL SEMIOTICS, 1., 2006, Campinas. Proceedings… Campinas: Unicamp/IC. p. 47-58.

[5] BRASIL. Casa Civil da Presidência da República. Decreto n. 5.296 de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 3 de dezembro de 2004. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/ 2004/Decreto/D5296.htm>. Acesso em: 17 dez. 2006.

[6] ______. Ministério das Relações Exteriores. Decreto n. 3.956 de 8 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 9 de outubro de 2001. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm>. Acesso em: 20 dez. 2006.

[7] FERREIRA, S. B. L., SILVEIRA, D. S., NUNES, R. R., PASTOR, H. S. Tornando os requisitos de usabilidade mais aderentes às diretrizes de acessibilidade. In: MELO, A. M., PICCOLO, L. S. G., ÁVILA, I. M. A, TAMBASCIA, C. A. (Org.). Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade Aplicadas em Interfaces para Analfabetos, Idosos e Pessoas com Deficiência: Resultados do Workshop. Campinas: CPqD, 2009. p. 43-54.

[8] FILGUEIRAS, L., MARTINS, S., CORREA, D., OSORIO, A. Personas para caracterização da experiência de uso de tecnologia pela população digitalmente excluía. In: MELO, A. M., PICCOLO, L. S. G., ÁVILA, I. M. A, TAMBASCIA, C. A. (Org.). Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade Aplicadas em Interfaces para Analfabetos, Idosos e Pessoas com Deficiência: Resultados do Workshop. Campinas: CPqD, 2009. p. 15-22.

[9] HAYASHI, E., NERIS, V., BARANAUSKAS, C., MARTINS, M. C., PICCOLO, L., COSTA, R. Avaliando a qualidade afetiva de sistemas computacionais interativos no cenário brasileiro. In: MELO, A. M., PICCOLO, L. S. G., ÁVILA, I. M. A, TAMBASCIA, C. A. (Org.). Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade Aplicadas em Interfaces para Analfabetos, Idosos e Pessoas com Deficiência: Resultados do Workshop. Campinas: CPqD, 2009. p. 55-62.

[10] MANTOAN, M. T., BARANAUSKAS, M. C. Todos Nós – Unicamp Acessível. In: Diferentes Contextos de Educação Especial/Inclusão Social/PROESP. Santa Maria: Pallotti, 2006. p. 45-60.

[11] MARGARIDO, P. R. A., PARDO, T. S., ALUÍSIO, S. M. Sumarização automática para simplificação de textos: experimentos e lições aprendidas. In: MELO, A. M., PICCOLO, L. S. G., ÁVILA, I. M. A, TAMBASCIA, C. A. (Org.). Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade Aplicadas em Interfaces para Analfabetos, Idosos e Pessoas com Deficiência: Resultados do Workshop. Campinas: CPqD, 2009. p. 63-73.

[12] MELO, A. M. Design inclusivo de sistemas de informação na web. 2007. xxiv, 339 p. Tese (Doutorado em Ciência da Computação) – Instituto de Computação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

[13] PICCOLO, L. S. G., MELO, A. M., BARANAUSKAS, M. C. C. Accessibility and Interactive TV: design recommendations for the Brazilian scenario. In: IFIP TC13 CONFERENCE IN HUMAN-COMPUTER INTERACTION, 10., 2007, Rio de Janeiro. Proceedings... Heidelberg: Springer, 2007.

[14] SIMONI, C. A. C. A prática de desenvolvimento de software e a abordagem da Semiótica Organizacional. 2003. xvii, 256 p. (Mestrado em Ciência da Computação) – Instituto de Computação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.

[15] SIMONI, C. A. C.; MELO, A. M.; BARANAUSKAS, M. C. C. Towards a social-based process for information system development: a case study. In: CHARREL, P.; GALARRETA, D. (Ed.). INTERNATIONAL WORKSHOP ON ORGANISATIONAL SEMIOTICS, 8., 2005, Toulousse. Proceedings… Application of Organisational Semiotics to Project Management and Risks

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Management in Complex Projects. Tolousse: Université Toulousse 2 Mirail. p. 135-150.

[16] ______. Towards a social-based process for information system development: a case study. In: CHARREL, P.; GALARRETA, D. (Ed.). Project Management and Risk Management in Complex Projects: Studies in Organizational Semiotics. Heidelberg: Springer, 2007. p. 177-192.

[17] SOARES, H. P., FERREIRA, S. B. L. O selo não garante a acessibilidade. . In: MELO, A. M., PICCOLO, L. S. G., ÁVILA, I. M. A, TAMBASCIA, C. A. (Org.). Usabilidade, Acessibilidade e Inteligibilidade Aplicadas em Interfaces para Analfabetos, Idosos e Pessoas com Deficiência: Resultados do Workshop. Campinas: CPqD, 2009. p. 31-42.

[18] TAMBASCIA, C., ÁVILA, I., PICCOLO, L. S. G., MELO, A. M. Usabilidade, acessibilidade e inteligibilidade aplicadas em interfaces para analfabetos, idosos e pessoas com deficiência. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE FATORES HUMANOS EM SISTEMAS COMPUTACIONAIS, 8., 2008, Porto Alegre. Workshop... Porto Alegre: SBC, 2008.

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Personas para Caracterização da Experiência de Uso de Tecnologia pela

População Digitalmente Excluída

Lucia Filgueiras1 [email protected]

Stefan Martins1 [email protected]

Danilo Correa1 [email protected]

Alexandre Osorio2 [email protected]

1Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

2Fundação CPqD

Palavras-chave

Inclusão Digital, Personas, Tecnologia de Informação e Comunicação

Resumo

Neste artigo, apresentam-se resultados de uma pesquisa de campo que investigou como a população de excluídos digitais manipula as tecnologias de informação e comunicação mais comuns. Os resultados são apresentados na forma de personas, caracterizadas por histórias de vida que expressam a experiência de uso com essas tecnologias.

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Introdução

As iniciativas de inclusão digital objetivam, por diversos meios, igualar as condições de acesso das populações aos produtos de tecnologia de informação e comunicação (TICs). Visando informar o mercado produtor de soluções, algumas pesquisas relevantes mostram, de forma quantitativa, o comportamento dos usuários do computador e daqueles que o querem ser [2].

A pesquisa relatada neste artigo foi executada no âmbito do projeto STID (Soluções de Telecomunicações para Inclusão Digital), financiado com recursos do Ministério das Comunicações. O projeto STID objetiva o planejamento de alternativas para a implantação de projetos governamentais de inclusão digital no Brasil, avaliando e desenvolvendo soluções e tecnologias baseadas em serviços e plataformas de telecomunicações. A metodologia adotada no projeto inclui uma taxonomia que define três níveis básicos de barreiras à inclusão digital, a saber: (a) conectividade – acesso a equipamentos e rede, (b) usabilidade e acessibilidade, e (c) inteligibilidade – adequação ao perfil cultural e lingüístico dos usuários [6]. Uma quantidade razoável de iniciativas de inclusão digital foram ou estão sendo executadas, no Brasil e no resto do mundo [6], no entanto existe uma grande lacuna de soluções inovadoras que abordem de modo integrado os três níveis de barreiras.

Há também um déficit de soluções inovadoras de inclusão digital para deficientes e analfabetos, que formam uma parte substantiva da população brasileira [7]. O público-alvo do projeto STID é constituído por pessoas com deficiência visual, com deficiência auditiva, pessoas com baixo letramento (analfabetas ou alfabetizadas rudimentares), idosos e trabalhadores rurais.

Neste trabalho, foram realizadas entrevistas em profundidade com 36 pessoas pertencentes ao público-alvo do projeto, com o objetivo de identificar a experiência de uso das TICs mais comuns a essa população.

Visando uma melhor comunicabilidade dos resultados, que são de natureza qualitativa, aos projetistas e desenvolvedores das soluções, optou-se por apresentar os resultados na forma de uma família de personas [5].

Este artigo apresenta inicialmente a metodologia usada para a pesquisa. A seguir, relata o modelo de personas obtido. Finalmente, discute-se o uso do modelo como subsídio ao projeto de interação para inclusão digital.

Metodologia

O objetivo final da pesquisa era o de identificar como pessoas do público-alvo manipulavam o computador e as TICs mais comuns: telefone fixo e celular, TV, rádio, DVD, caixa eletrônico e urna eletrônica.

Dada a natureza qualitativa dos resultados desejados, desenvolveu-se um protocolo de entrevista semi-estruturada sobre o tema do uso das TICs, acompanhado de uma entrevista estruturada para determinação do perfil do entrevistado.

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A escolha das cidades que abrigariam os testes-piloto do projeto STID foi baseada em critérios como a forte presença do público-alvo, a demanda por serviços públicos de saúde (um dos serviços a serem implementados no projeto) e a distribuição eqüitativa da população entre as zonas rural e urbana. Questões de ordem prática, como o custo de implantação dos telecentros onde serão testadas as soluções de inclusão e a dificuldade de acesso ao município também foram consideradas. Após uma primeira etapa de seleção, onde o levantamento de indicadores demográficos, sociais e de custos de implantação levaram a uma lista de municípios elegíveis, seguiu-se uma etapa de visitas, após a qual os municípios de Bastos (SP) e João Alfredo (PE) foram selecionados.

Além desses dois municípios, o protocolo de pesquisa também foi aplicado nos municípios de Araraquara (SP), Campinas (SP), Itatiba (SP) e São Paulo (SP), por possuírem iniciativas de atendimento a pessoas com deficiências visuais e auditivas.

A entrevista em profundidade apóia pesquisas qualitativas, pois seu caráter exploratório visa coletar os fatos, razões e relações relacionados aos objetivos da mesma [4]. Neste caso, o objetivo das entrevistas foi o de provocar a reflexão dos entrevistados a respeito do uso das TICs, de forma que fosse possível identificar habilidades e dificuldades, barreiras, desejos e iniciativas. Desta forma, as questões buscavam saber, para cada item, qual a experiência, se o entrevistado gostava ou não de utilizar, se tinha alguma dificuldade, qual a razão ou necessidade que motivava o uso e como a TIC facilitava a sua vida.

Foi usado o conceito de sense-making de Dervin [3] como orientação para as intervenções do entrevistador durante a entrevista. Segundo essa autora, durante a vida de uma pessoa, várias barreiras lhe são impostas e transpostas de acordo com suas características, motivações e conhecimento. O sense-making usa entrevistas em profundidade que tentam colocar a pessoa em uma determinada situação para compreender quais são as estratégias para transpor as barreiras.

A forma de entrevista utilizada foi a micro-moment time-line, que consiste em perguntar ao entrevistado sobre algum momento específico de uma situação no qual ele viveu ou teve participação ativa. Esse momento da vida do entrevistado deve ser detalhado passo-a-passo, compreendendo-se as forças que o impulsionaram a avançar na direção de seus objetivos e aquelas que se opuseram ao movimento.

Foram entrevistados 36 participantes, sendo 19 idosos, 8 pessoas com deficiência visual, 5 pessoas com deficiência auditiva, 10 analfabetos plenos, 12 pessoas com letramento rudimentar. Observe-se que a amostragem não teve a intenção de estratificação da população brasileira ou de qualquer outro segmento. Ao contrário, buscou-se apenas a cobertura dos perfis desejados, com um número de amostras que permitisse a triangulação das opiniões. A seleção dos sujeitos foi feita, portanto, por conveniência, identificando-se representantes dos perfis de interesse nas comunidades visitadas.

A escolha do modelo de personas para representar os resultados foi feita com base em experiências anteriores [1], que mostraram que esse modelo é conveniente para comunicar ao projetista o resultado de estudos de usuários. Os dados produzidos por estudos costumam ser tão numerosos e complexos que os projetistas tendem a ignora-los no desenvolvimento de soluções. O modelo de personas, ao contrário, traz maior comunicabilidade aos resultados.

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O conjunto de personas foi obtido aplicando-se um algoritmo de clustering aos dados da população pesquisada; em seguida, foram associados nomes e imagens de acordo com os objetivos do projeto. O modelo mental de uso das TICs, histórias de vida e metas foram produzidos com dados extraídos de análise qualitativa sobre as entrevistas em profundidade.

A Família de Personas

A família de personas definida para representar a população alvo possui histórias de vida ancoradas em histórias reais contadas pelos entrevistados, que caracterizam o grupo populacional. Estas histórias foram bastante simplificadas neste artigo, por questões de espaço, restando apenas a caracterização do uso das TICs.

D. Lulu (deficiência visual)

Maria de Lourdes Moreira Silva (D. Lulu) tem 49 anos, é divorciada, católica, nascida em Ibaté (SP). Não declara sua renda familiar. Estudou até a 8ª. série e trabalhou como costureira por toda a vida, até ficar cega. Atualmente está aprendendo o Braille com entusiasmo. Está motivada para usar o computador, mas não sabe ainda para que serve. Sabe que o computador é bom. Tem idéia que possa conversar por e-mail com os filhos e ouviu falar que a Internet pode ser interessante para quem como ela, está ficando velha e sozinha, alheia às coisas.

D. Lulu tinha telefone em casa, mas devido ao custo da assinatura, preferiu trocar por um celular. Comprou um modelo básico, mas quer um que tem síntese de voz. Na associação, colocaram pontinhos de cola nas teclas SND e CLR, muito pequenas. As demais ela reconhece pela posição. Apesar disso, prefere fazer as chamadas do orelhão quando está em casa. Quando compra o cartão, pede para o dono da venda perfurar o canto superior esquerdo.

D. Lulu vota regularmente. Enquanto ainda enxergava um pouco, baseava-se nas cores e posição dos botões. Nas últimas eleições tem usado números em Braille. O rádio é o companheiro de noite e dia de D. Lulu. Não gosta muito de música, prefere ouvir notícias. Comprou um CD player, para ouvir os trabalhos da associação. D. Lulu tem uma TV velha, com controle remoto. Ela sabe usar as teclas de trocar de canal e mexer no volume. As outras a atrapalham um pouco, porque quando ela erra, às vezes não sabe o que acontece com a TV. A solução é desligar e ligar de novo. Não tem DVD, mas já assistiu a filmes na casa da filha. Ela mesma não se arrisca a mexer no controle nem no aparelho.

O caixa eletrônico é o tormento de D. Lulu. Todo mês ela recebe um dinheiro do filho e precisa sacar no caixa. Tem medo de pedir ajuda e não sabe usar sozinha. Em geral, pede para um funcionário já conhecido. Soube que iriam dar fones de ouvido, mas ela tem medo de não aprender.

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S. Biu (Analfabeto)

Severino Ferreira Mendes (S. Biu) tem 63 anos, é viúvo, católico, reside em Surubim (PE). Sua renda mensal é de cerca de R$550,00. S. Biu foi matriculado na escola, mas largou no primeiro ano porque não aprendia.

Telefone fixo não passa pela cabeça de S. Biu. É muito caro. Quando precisa falar os filhos, pede à filha que ligue. Porque só usa para falar, porque não sabe fazer uma ligação. Gostaria que instalassem um orelhão perto da venda, para servir a todos. No Natal ganhou um celular da filha. Está tentando decorar a posição dos números. Ela preparou o celular para ele ligar: um número é o do filho mais velho, até o dela, a caçula, que é o último. Mas ele se embaralha, e prefere esperar a visita dela para falar com os filhos. Atender, sim, é só apertar o botãozinho verde.

S. Biu nunca tinha visto um computador de perto, só nas lojas. Quando a filha caçula fez um curso, ele foi à escola e ficou maravilhado com as coisas que viu no computador. Gostaria muito de dar um de presente para os netos, para eles aprenderem mais. Ele se acha muito velho para isso. S. Biu não votava por ser analfabeto. Com a urna eletrônica, aprendeu como votar pela TV e ele achou fácil. Leva um papel no bolso que a filha prepara. Digita os números, aperta o botão verde e só.

S. Biu tem um rádio portátil que usa durante o dia na lida do campo. Fica sempre sintonizado na Rádio Vitória. O neto tem um som com CD, mas S. Biu não usa. Ele prefere a televisão que ganhou do filho. Assiste jornal, novela, missa, o que passar. Sabe mudar os canais no controle, mas prefere mexer direto no aparelho. Há dias em que liga logo pela manhã, às 5:30 e não desliga, porque acaba dormindo na frente da TV. Quem desliga é o neto. Quando vai à casa da irmã na cidade, assiste no DVD os filmes que ela aluga. Tem vontade de ter um, mas ainda não teve dinheiro.

S. Biu precisaria ir todo mês ao banco receber a pensão da sua esposa falecida. Mas quem vai é a filha Rita, pois ele tem medo de mexer naquela máquina. Só vai lá quando a menina avisa que precisa recadastrar o cartão.

Adalberto (letramento rudimentar)

Adalberto de Lima Oliveira tem 58 anos, é casado e trabalha como entregador em Matão (SP). Evangélico, foi trabalhador rural até os 56 anos de idade. Recentemente, mudou-se para a cidade, porque sua esposa é cardíaca e precisa de atenção constante. Adalberto estudou apenas até a segunda série, mas sempre foi inteligente e curioso. Como precisava manter anotações da produção leiteira, continuou capaz de ler e escrever coisas simples mesmo sem ter estudado muito. Gosta de ler a Bíblia e freqüenta os cultos.

Adalberto não tem telefone fixo em casa por conta do alto custo. Quando precisa, liga do orelhão. É comum ele ter que fazer isso, por conta de seu “bico” de entregador. Comprou seu celular no ano passado e anda com ele o tempo todo. Recebe ligações, principalmente do trabalho, mas evita fazer por causa do preço, embora não tenha dificuldades para operar

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o aparelho. Usa uma agenda de bolso, mas assim que o filho vier visitá-lo, pretende pedir para ele o ensinar a gravar os números. Sabe que tem muita coisa ainda a aprender no celular, inclusive os torpedos. Adalberto gosta de ver as pessoas usando o computador na loja. Ele queria aprender, para melhorar sua condição de trabalho, mas se acha velho e pensa que com o pouco estudo que teve, não seria muito fácil.

Adalberto acha importante votar para o Brasil melhorar. Nunca teve problemas com a urna, nunca errou, mas se precisasse ele saberia corrigir o voto. Escuta o rádio sempre que pode. Às vezes, no trabalho, fica escutando as notícias da cidade no radinho de pilha. Em casa tem um som mais sofisticado, com CD, em que ouve música caipira para lembrar a vida na fazenda.

Adalberto gosta de assistir ao jornal à noite, mas também curte um filme. Usa o controle remoto para ligar, desligar e mexer nos canais, mas não sabe dos outros recursos da TV. Adalberto não tem DVD, mas gostaria de ter.

Adalberto opera sua conta corrente pelo caixa eletrônico. Sabe fazer saques, tirar extrato e consultar o saldo. Já fez depósitos para a loja, mas nessa hora prefere pedir ajuda para o atendente do banco. Acha que os bancos estão complicando muito as senhas, daqui a pouco ele vai ter que anotar num papel para não esquecer.

José Carlos (surdo)

José Carlos Medeiros de Freitas tem 31 anos, é casado, natural de Uruçuca (BA). Não tem religião e não deseja revelar sua renda familiar. José Carlos nasceu surdo. Sua mãe percebeu isso cedo. Quando a família se mudou para São Paulo, José Carlos tinha 6 anos. Ela procurou a ajuda de uma instituição especialista, porque José Carlos tinha sérias dificuldades na escola. Foi uma boa mudança, pois o garoto estudou e conseguiu concluir o curso técnico em Patologia Clínica. Inteligente e sociável, fala Libras e está integrado à comunidade surda. É capaz de ler lábios mas não está muito interessado em se oralizar. Trabalha num laboratório de análises clínicas. Procura ler para melhorar o Português.

José Carlos tem telefone em casa, mas ele mesmo não usa. Quando precisa fazer uma ligação, pede para a esposa ou mesmo para o filho mais velho. No trabalho, é a secretária, que atende para ele e lhe passa os recados por escrito. Em geral, José Carlos se comunica com a família por SMS. Usa também para se comunicar com os amigos do futebol.

José Carlos usa bem o computador no trabalho, preenchendo os resultados das análises. Às vezes, fica confuso com alguns termos da Intranet e comunicados que recebe por e-mail da Diretoria. Ele tem ainda dificuldade com o Português e recorre sempre ao dicionário. Usa bem o MSN, mas na empresa é proibido. José Carlos vota com orgulho e civilidade. Nunca teve qualquer problema no uso da urna. Só lamenta os mesários não conversarem em Libras.

Na casa de José Carlos há três aparelhos de som. O do quarto do filho mais velho fica tão alto que José Carlos pode sentir a vibração nas janelas da casa. Várias vezes já brigaram porque ele desliga o aparelho do filho. Enquanto a família se junta para assistir à novela no

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sábado à noite, José Carlos fica na sua poltrona da sala, dicionário ao lado, lendo o jornal ou estudando. Finge que não está assistindo mas tenta entender a trama que prende a família. Espera ter recursos para comprar a TV por assinatura assim que se formar. O DVD é paixão, depois do futebol. Gosta de filmes de ação, que assiste com legendas – e dicionário.

José Carlos usa normalmente os caixas eletrônicos. Acha que eles o livraram do freqüente constrangimento de ter que se explicar para o caixa do banco que não entende Libras.

Atitude Perante as TICS

Além dos dados de natureza qualitativa representado pelas personas, a entrevista permitiu a obtenção de um indicador de Atitude geral perante as TICs, obtido pela composição das respostas às questões sobre a motivação de uso, sobre a apreciação da TIC, sobre a dificuldade percebida e sobre o benefício da tecnologia. Colocando-se as tecnologias em ordem de aceitação, podem-se comparar as TICs na população, conforme a Tabela 1. As tecnologias mais aceitas têm número de ordem menor.

TICs Deficiente.

visual Deficiente auditivo Analfabeto Rudimentar

Caixa eletrônico 8 4 6 5 DVD 7 3 8 6

Computador 6 1 7 3 Telefone fixo 4 6 4 7

Telefone celular 5 5 5 4 Urna eletrônica 3 3 3 3

Rádio/CD player 2 7 2 1 TV 1 2 1 2

Tabela 1. Colocações das tecnologias quanto à atitude geral

Observa-se que embora haja tendências de aceitação, cada população tem seu conjunto de tecnologias que considera mais adequada. Inspirando-se nesses resultados, um projetista pode, por exemplo, inferir que um projeto de interação para um usuário surdo deve considerar tecnologias que permitam imagens, legendas e que permitam a troca de mensagens instantâneas, ao passo que o projeto para usuários analfabetos deve possuir recursos sonoros e com controles de fácil memorização, como o rádio e a urna eletrônica.

Conclusões

O modelo de personas apresentado mostra que o uso das TICs é bastante diversificado para cada segmento da população. Portanto, conhecer as diferenças sobre a experiência de uso é essencial para o projeto de um modelo de interação adequado.

O perfil de uso das TICs sugere que uma solução de acesso universal precisa ser uma solução de convergência, que valorize as forças de cada dispositivo na interação.

Como o projeto STID pretende apresentar soluções que possam ser implantadas em âmbito nacional, o modelo de usuários torna-se uma ferramenta importante de apoio às equipes de desenvolvedores de futuras implantações, que podem não ter participado das etapas de

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pesquisa de campo e que por isso podem não conhecer bem as características e necessidades específicas do público-alvo do projeto.

Créditos e Agradecimentos

A arte é de Marly Bolina. Agradecemos a contribuição dos pesquisadores Plinio Aquino Jr. e João Paulo Boletta, do Grupo de Estudos de Interação do LTS-EPUSP. Agradecemos o apoio dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de João Alfredo e dos Empregados Rurais de Bastos, Associação ParaDV de Araraquara, Instituto Phala de Itatiba e Centro Cultural Louis Braille de Campinas.

Referências

[19] Aquino Jr., P. T.; Filgueiras, L. V. User modeling with personas. In CLIHC '05, vol. 124. ACM, NY, 277-282.

[20] Balboni, M.; Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação no Brasil 2007. CGI Brasil, 2008. Disponível em www.cetic.br. Acesso em 01/07/2008.

[21] Dervin, B.; Foreman-Wernet, L. Sense-Making methodology reader. Selected writings of Brenda Dervin. Hampton Press, Cresskill, NJ. 2003.

[22] Mattar, F. N.; Pesquisa de Marketing. Atlas, 1999.

[23] Pruitt, J.; Adlin, T. The persona lifecycle. Morgan Kaufmann, 2006.

[24] Tambascia, C. et. al; Mapeamento de Soluções – Projeto STID. CPqD, 2006. Disponível em www.cpqd.com.br/img/mapeamento_de_solucoes_ab.pdf. Acesso em 01/07/2008.

[25] Ávila, I. et. al; Modelagem de Uso – Projeto STID. CPqD, 2006 – disponível em www.cpqd.com.br/file.upload/modelagem_de_uso_aa.pdf. Acesso em 01/07/2008.

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XLupa – Um Ampliador de Tela com Interface Adaptativa para Pessoas com Baixa Visão

Jorge Bidarra [email protected]

Clodis Boscarioli [email protected]

Claudia Brandelero Rizzi [email protected]

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

Palavras-chave

xLupa, Ampliador de Tela, interface adaptável ao usuário.

Resumo

Dentre as ações de inclusão trabalhadas por diversos grupos de pesquisa em todo o mundo, estão aquelas cujo objetivo é contribuir para a melhoria da qualidade do acesso a informações aos indivíduos com necessidades especiais, por meio de recursos computacionais. O Projeto xLupa está inserido neste contexto. É uma ferramenta cujo principal objetivo é propiciar a usuários de baixa visão a ampliação da tela do computador através de interações amigáveis que lhes viabilize autonomia e independência. Este artigo faz uma síntese das principais funcionalidades do xLupa e de sua avaliação, bem como descreve os próximos passos deste trabalho, em andamento.

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Introdução

Ao longo da história, a sociedade vem desenvolvendo lenta, mas progressivamente, comportamentos e atitudes positivas em relação às pessoas com deficiência. Os avanços perpetrados nesse sentido são facilmente verificados, bastando para tanto, acompanhar a seqüência histórica que tem início no total abandono desses indivíduos à sua própria sorte, passando mais tarde para o processo de exterminação, assumindo contornos caritativos, segregacionistas, assistencialistas, e, nos dias de hoje, culminando, como se refere [1] em ações inclusivas. Trata-se de um novo paradigma cuja premissa básica é descobrir meios de facilitar o acesso de todos, indistintamente, ao conhecimento.

As tecnologias assistivas são um meio eficaz para a qualidade de vida das pessoas com necessidades especiais [4]. Os ampliadores de tela, em específico, propiciam uma melhoria real nas condições de acesso ao conhecimento por parte de pessoas com baixa visão. Sem esse recurso, tais indivíduos não apenas ficam impossibilitados de ler e aprender, mas também de participar de uma vida muito próxima à considerada “normal” pela sociedade.

Um dos grandes desafios da sociedade contemporânea está em encontrar soluções para os problemas enfrentados pelas pessoas com alguma deficiência. Vários estudos foram realizados no sentido de identificar caminhos que possam resultar em descobertas de soluções eficientes e acessíveis para esses usuários. As tecnologias de uma maneira geral e em particular computacionais têm sido uma forte aliada nesse processo.

O principal objetivo do Projeto xLupa, iniciado em 2004, é desenvolver um ampliador de tela digital para GNU/Linux com a utilização do Projeto de Acessibilidade GNOME.

Como objetivo específico, busca-se, nessa etapa do desenvolvimento, ampliar a ferramenta xLupa, com a inserção de novas funcionalidades, com foco na acessibilidade e usabilidade, assegurando que ela seja capaz de se adaptar ao usuário de forma mais autônoma e inteligente.

Nas próximas seções, apresentamos o xLupa em suas principais funcionalidades, bem como, discutimos aspectos principais de sua interface e avaliação. Por fim, apresentamos algumas conclusões desta pesquisa, em andamento.

Funcionalidades do xLupa

Em sua versão atual, o xLupa é capaz de capturar a tela com rastreamento de mouse, permitindo que o usuário não só controle o nível de ampliação das imagens, como também determine a taxa de tela útil a ser usada para a ampliação. Três grandes preocupações de nossa equipe merecem destaque. A primeira delas refere-se à qualidade das imagens. A segunda diz respeito à proteção da janela de visualização. A terceira decorre da necessidade de dotar o xLupa da capacidade de se “adaptar”, automaticamente, ao perfil do usuário. Quanto à qualidade das imagens, dois algoritmos foram implementados: “Interpolação Bilinear” e “Vizinho mais Próximo” [5]. O primeiro deles com a função de suavizar os contornos da imagem ampliada. O segundo, atuando sobre a definição das cores a serem aplicadas sobre cada pixel da imagem.

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Quando da ativação da ferramenta, todas as imagens ampliadas são, inicialmente, submetidas ao algoritmo do vizinho mais próximo. A partir daí, a qualquer instante, ao usuário é permitido aplicar sobre essas imagens o algoritmo de interpolação bilinear, ou então, optar pela execução dos dois algoritmos, concomitantemente. Essa estratégia possibilitou uma considerável melhora na qualidade da definição das imagens; porém, a sua aplicação depende do tipo de deficiência visual do usuário. Há casos em que essa não é uma boa solução, conforme pudemos observar junto aos usuários

Além da porcentagem da tela útil destinada à ampliação, o xLupa permite ainda que, por meio de um menu de configuração, o usuário escolha uma das duas opções para a exibição das imagens ampliadas: ou à direita do monitor de vídeo ou em parte da sua área superior. Por uma restrição técnica, todo o controle de ampliação ainda é feito a partir da porção da tela contendo as imagens originais (sem ampliação), uma limitação cuja solução já está sendo providenciada.

Quanto à capacidade do xLupa “aprender” e de se “adaptar” ao perfil de cada usuário, a solução encontrada foi aplicar a técnica do Raciocínio Baseado em Casos (RBC), cuja idéia básica [9] é resolver problemas a partir do que um sistema já sabe a respeito de soluções que tenham sido aplicadas sobre problemas semelhantes ocorridos anteriormente. Das razões que nos levaram a optar pelo RBC, duas delas foram decisivas para a escolha: o tempo demandado para o sistema “aprender” o perfil do usuário e o fato de o xLupa trabalhar sobre um domínio típico, cujos novos problemas tendem a ser uma repetição de problemas já ocorridos em situações anteriores.

A adaptabilidade do xLupa ao usuário via RBC pode ser assim resumida: Uma vez ativado o ampliador, apresenta-se para o usuário um conjunto de janelas, cada qual, contendo uma mesma imagem, porém submetida a diferentes valores de parâmetros de configuração, relativos ao contraste, foco, tamanho da fonte e fator de ampliação. Essas exibições são montadas com base em valores de referência extraídos da oftalmologia, tomando por base as classes de acuidade visual e habilidade de leitura estimada [3]. Para a definição dos valores apropriados para cada usuário, estes devem selecionar aquela janela cuja imagem melhor se adapte às suas condições visuais. É com base nessa escolha que o RBC consegue descobrir a faixa de acuidade visual de cada indivíduo usuário. O sistema usa essa informação para resolver o tipo de ampliação que deve ser aplicada sobre as imagens que serão exibidas como saída. Esse procedimento de escolha das imagens só precisa ser executado na primeira vez de uso do ampliador pelo usuário. A partir de então, a cada nova execução, o xLupa aplica os últimos valores de parâmetros determinados pelo usuário no último acesso à ferramenta.

Capturada a primeira configuração, o xLupa passa a monitorar a resposta do usuário, para saber se a solução atende ou não às suas expectativas. Passado esse tempo, caso não tenha havido qualquer alteração nos parâmetros de configuração da ampliação, o sistema assumirá que essa solução é adequada ao usuário em questão, registrando esse fato em sua base de casos. Caso contrário, qualquer alteração promovida em pelo menos um de seus parâmetros fará com que um novo caso seja gerado, com a sua inserção na base de casos. Em qualquer tempo, alterações podem ser feitas pelos usuários, quanto ao brilho, contraste, ampliação, como mostrado nas telas de configurações (Figuras 1 e 2).

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Figura 1 – Tela com opções de ajustes de ampliação e posição do menu xLupa

Figura 2 – Tela para ajustes de cor, brilho e contraste

Interface e Avaliação

Embora existam vários ampliadores de tela disponíveis para uso, a abordagem adotada para o desenvolvimento do xLupa se diferencia dos outros pelo conjunto de funcionalidades apresentadas, sendo a principal delas a possibilidade de a ferramenta “aprender” e se “adaptar” ao perfil do usuário. Para a construção da ferramenta, um trabalho comparativo foi desenvolvido, envolvendo alguns dos mais importantes ampliadores existentes, com destaque para o Gnopernicus [6].

Para realizar esta avaliação, inicialmente, contou-se com estudantes da rede pública de educação com baixa visão (crianças, adolescentes e adultos). Definido o conjunto de indivíduos que efetivamente faria parte da avaliação, eles dela participaram, sempre acompanhados e orientados por professores especializados, que desenvolvem suas atividades no regime de contra turno, no Centro de Apoio Pedagógico (CAP), um setor vinculado ao Núcleo Regional de Educação do município de Cascavel (Paraná).

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Com o intuito de capturar informações a respeito das habilidades desses alunos, elaboramos um primeiro questionário no qual questões pertinentes ao uso e à percepção desses estudantes foram observadas. Os testes, bem como o preenchimento do questionário se deram a partir do uso de ampliadores de tela disponíveis no mercado, em especial, o Zoomtext [10].

Com base nas respostas fornecidas, devidamente organizadas, deu-se início às definições dos requisitos funcionais e não funcionais do sistema xLupa. Dentre os aspectos mais relevantes, dois requisitos não funcionais mereceram maior atenção. Um deles relacionado ao conforto do usuário face ao uso da ferramenta. O outro, à adaptabilidade da ferramenta ao perfil de cada usuário. Quanto ao primeiro requisito, vários aspectos foram trabalhados, dentre os quais a preocupação em garantir uma melhor qualidade das imagens ampliadas.

Atualmente, o xLupa vem sendo testado por estudantes da rede pública de educação com baixa visão nos municípios de Cascavel e Medianeira. Esses estudantes foram observados com base na faixa etária em que se enquadravam. Nesse sentido, organizamos (mas, apenas para efeito de observação; pois, na verdade, eles não foram fisicamente separados ao longo do processo avaliativo) três grupos, assim distribuídos: Grupo 1 – estudantes com até 14 anos; Grupo 2 – estudantes entre 15 e 18 anos e Grupo 3 - estudantes acima de 18 anos. Com isso, o fator maturidade do indivíduo contou como um dado importante e, portanto, considerado na análise das respostas fornecidas ao questionário sobre a utilização do xLupa.

Importa enfatizar que, para garantir as condições favoráveis para uma boa avaliação, todos os estudantes foram convidados a se submeter a um exame oftalmológico criterioso, o que foi feito, por nossa solicitação, por oftalmologistas, professores do Hospital Universitário da nossa universidade. Essa medida foi importante porque dentre esses estudantes, a grande maioria não contava com um laudo oftalmológico atualizado; muitos, inclusive, declararam só terem feito avaliação oftalmológica uma única vez na vida; e em certos casos, apenas quando ainda eram crianças.

Quanto à ampliação de imagens, a experiência adquirida no desenvolvimento do programa xLupa mostrou que a operação de zoom-in, embora útil, não atende a todas as necessidades das pessoas com visão reduzida. Estas necessidades podem ser agrupadas em duas categorias, uma de origem fisiológica e outra, operacional. Dentre as necessidades fisiológicas podem-se citar: ajuste de brilho, contraste, alteração de cores e realce de bordas. Dentre as necessidades operacionais, estão a ampliação de tela inteira e a configuração de cores. A Figura 3 ilustra, a título de exemplo, uma ampliação de tela na navegação web, com contraste preto (fundo) e branco (frente).

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Figura 3 – Tela com exemplo de utilização do xLupa

A interação do usuário com os sistemas computacionais tornou-se tão importante quanto o processamento realizado pelos mesmos, ainda mais no contexto das Tecnologias Assitivas, que objetivam principalmente a inclusão social e digital. Para [2], desenvolver artefatos que capacitem pessoas com deficiências de forma a facilitar as ações de seu dia-a-dia é uma tarefa complexa, pois envolve não apenas as pessoas com tais necessidades, como todas as pessoas que estão em seu entorno. Nesse pressuposto, vêm-se trabalhando no projeto e na avaliação da interface do xLupa, de acordo com as necessidades de seus usuários, com base nos conceitos de usabilidade e acessibilidade estabelecidos pela área de Interação Humano-Computador (IHC), como descrito em [8].

Conclusões

Em sua versão atual, o xLupa é capaz de capturar a tela com rastreamento de mouse, permitindo que o usuário não só controle o nível de ampliação das imagens, como também determine a taxa de tela útil a ser usada para a ampliação.

Um dos diferenciais dessa solução está na sua capacidade de “adaptação” ao perfil do usuário, cujos testes vêm revelando um significativo grau de satisfação. Uma das principais preocupações com o xLupa é dotá-lo de uma interface amigável. Essa preocupação se relaciona diretamente com um dos principais objetivos do xLupa, que é fornecer uma interface de configuração e uso que possibilite aos alunos com baixa visão o máximo de autonomia e independência.

A partir da análise das respostas obtidas nos questionários aplicados aos usuários finais, concluímos que o computador é mais utilizado para leituras e edições de textos. Ainda que bastante disseminada, a internet, para esses alunos, ainda não é um recurso muito explorado. Chama a atenção que, para o grupo com o qual trabalhamos, embora não tivéssemos feito qualquer restrição nesse sentido, o tamanho mais requisitado para a fonte começa em 16, com a maior concentração em fontes de tamanho 20. Acrescente-se a esse fato que a grande maioria dos usuários solicitou um fator de ampliação de 3 vezes o tamanho da imagem original.

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Também, como já era de esperar – a literatura médica, há muito, já faz esse indicativo –, a maioria dos usuários prefere o contraste preto e branco. Além disso, o fator luminosidade suplanta os que têm fotofobia. Quanto ao foco, também prevalece o uso de ponteiro de cursor como marcador e orientador dos escritos no monitor.

Os testes realizados até o momento com a versão corrente junto a alunos de baixa visão apontam para a necessidade de alguns cuidados, bem como a necessidade de inserção de outros recursos, relacionados ou não com a ampliação de imagens. Foi relatado pelos professores colaboradores externos, especializados na área da educação especial, notadamente na área da baixa visão, que muitas crianças, embora conseguindo com o uso da ferramenta progressos notáveis em suas tarefas escolares, demonstram que com a associação de novos recursos certos obstáculos poderiam ser mais facilmente transpostos por elas.

Algumas dessas funcionalidades já se mostram objeto para futuras versões da ferramenta, sendo que uma das principais diz respeito ao leitor de tela. Uma das principais diz respeito ao leitor de tela. Outras ações estão em curso para a construção de um AMbiente COmputacional de Recursos Educacionais Integrados (AMCOREI), cujas características básicas permitirão a agregação e também a articulação entre diferentes ferramentas, com um propósito tipicamente educacional, voltado, porém não restrito, a alunos com necessidades educacionais especiais.

Pretende-se continuar com as avaliações de usabilidade já iniciadas, seguindo diretrizes de [7], visando obter melhorias de forma a propiciar acessibilidade efetiva no ambiente. Por fim, vale registrar que uma nova versão da ferramenta acaba de ser liberada para os nossos colaboradores externos, com alguns recursos solicitados já contemplados.

Referências

[1] Bueno, J.G.S. Educação Especial Brasileira – Integração/Segregação do Aluno Diferente. São Paulo: Educ, 1993.

[2] Carmien, S. and Kintsch, A. Dual User Interface Design As Key To Adoption For Computationally Complex Assistive Technology. In Proceedings of 29th Annual RESNA Conference Proceedings, Technology and Desabilities, 2006Chorianopoulos, K., Spinellis, D. 2006. User interface evaluation of interactive TV: a media studies perspective. Universal Access in the Information Society 5, 2, pp. 209-218, Springer, Heildelberg.

[3] Colembrander, A Reabilitação de baixa visão. In: Veiztman, S. (editor). Visão subnormal. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2000. p. 92-93Morris, J. 1995. Observations: SAM: the Self-Assessment Manikin An Efficient Cross-Cultural Measurement of Emotional Response. Journal of Advertisement Research, November/December.

[4] Cook and Hussey. Assistive Technologies: Principles and Practices. Mosby – Year Book, Inc., 1995. Schenkman, B.N.;Jonsson, F.U. 2000. Aesthetics and preferences of Web pages. Behaviour & Information Technology 19, 5, 367–377.

[5] Gonzalez, R.C. and Woods, R.E. Digital Image Processing. Prentice Hall, New Jersey, 2002.

[6] INTRODUCING TO GNOPERNICUS [site]. URL: <http://www.baum.ro/gnopernicus.html>. Acesso em: 18 de maio de 2007.

[7] Rubin, J. (ed). Handbook of Usability Testing: How to Plan, Design, and Conduct Effective Tests. Wiley; 1st edition, 1994.

[8] Souza, C.; Leite, J.; Prates, R.; Barbosa, S. Projeto de Interfaces de Usuários: Perspectivas Cognitivas e Semióticas. Apostila do Curso de Projeto de Interfaces de Usuário –

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Departamento de Informática, PUC-Rio. Rio de Janeiro – RJ, 1999.

[9] Von Wangenheim, C.G; Von Wangenheim, A. Raciocínio Baseado em Casos. Barueri, SP: Manole, 2003. 293p.

[10] ZOOMTEXT Home Page do Projeto. URL <http://www.synapseadaptive.com/aisquared/zxmain.htm. Acesso em: 15 de maio de 2006>.

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Requisitos de Usabilidade Aderentes à Diretrizes de Acessibilidade

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O Selo Não Garante a Acessibilidade

Horário Pastor Soares [email protected]

Simone Bacellar Leal Ferreira [email protected]

Luiz Carlos Monte [email protected]

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Palavras-chave

Acessibilidade, Selo de Acessibilidade, Validador

Resumo

O presente trabalho apresenta os resultados de uma avaliação da acessibilidade na Web de sites de organizações públicas federais que, a priori, se adequaram às recomendações do governo brasileiro e, portanto, estariam aderentes à legislação que determina que os mesmos sejam acessíveis. Apesar de exibirem o selo de acessibilidade, a análise tem por objetivo verificar se, de fato, foram eliminadas as barreiras que impedem que pessoas com diferentes tipos de deficiências tenham acesso aos conteúdos.

Metodologicamente, foram aplicados testes nas 56 homepages do setor público listadas no diretório nacional de sites acessíveis do “daSilva” − programa avaliador de acessibilidade Web brasileiro. Os resultados mostram que não basta a aplicação de diretrizes objetivando um selo de garantia da acessibilidade, pois com o passar do tempo e a manutenção, a maior parte dos referidos sites não manteve a aprovação obtida anteriormente.

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Introdução

Com o objetivo de tornar a Web mais acessível a qualquer pessoa, diversos países desenvolveram estudos objetivando promover maior acessibilidade à rede. Em 1999, o W3C (World Wide Web Consortium), comitê que regula os assuntos ligados à Internet, criou um grupo de trabalho, o WAI (Web Accessibility Initiative) — responsável por elaborar um conjunto de diretrizes (WCAG 1.0) — para tornar os sites acessíveis às pessoas com deficiência e às que usam a Internet em condições especiais de ambiente, equipamento, navegador e outras ferramentas Web [2].

Com base nas recomendações do W3C/WAI, foram desenvolvidos softwares chamados de programas avaliadores que analisam o nível de acessibilidade de sites. Quando um site é aprovado pelo programa avaliador, existe uma orientação do governo brasileiro para se colocar um selo certificando o nível de acessibilidade alcançado. No caso de sites brasileiros, o eMAG [3] (Modelo de Acessibilidade para o desenvolvimento e a adaptação de conteúdos do governo na Internet) determina que estes sejam avaliados pelo programa avaliador daSilva [11].

O problema é que o selo em si não garante o acesso universal, pois tornar um site acessível deve ser um processo contínuo e ininterrupto, com avaliações automáticas e manuais [4].

Com foco nesse problema, foi realizada uma avaliação dos sites de algumas organizações públicas federais que exibem o referido selo de acessibilidade. Essa análise teve por objetivo averiguar in loco se os sites eliminaram as barreiras de acessibilidade. Os resultados dos testes mostraram que não basta a aplicação de algumas diretrizes visando um selo de garantia para acessibilidade, pois, em sua maioria, os sites apresentaram problemas que não são avaliados pelos programas avaliadores. Além disso, com o decorrer do tempo e manutenção evolutiva, a maior parte dos sites não manteve a aprovação obtida anteriormente.

Acessibilidade na Web

A acessibilidade na Web é a característica de permitir o acesso às informações e/ou serviços via Web, em igualdade de condições, a qualquer hora, local, ambiente, dispositivo de acesso e por qualquer tipo de visitante, independentemente de sua capacidade motora, visual, auditiva, mental, computacional, cultural ou social [5] [10].

Benefícios da Acessibilidade na Web

A Internet desempenha um papel fundamental no cotidiano de pessoas com deficiência, pois permite que elas criem novas formas de relacionamento, formas alternativas de diversão, encontrem oportunidades de trabalho, acessem informações que antes só podiam ser obtidas com a mediação de terceiros, entre outras facilidades [1] [8] [9].

Um dos princípios básicos de acessibilidade preconiza a flexibilidade para atender variados tipos de necessidades, situações e preferências. Esta flexibilidade acaba por beneficiar as empresas que investem em acessibilidade e também a todas as pessoas que usam a Web.

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Programas Avaliadores de Acessibilidade

Com base nas recomendações do W3C/WAI, foram desenvolvidos programas que detectam o código HTML e analisam seu conteúdo, verificando se está ou não de acordo com o conjunto de diretrizes estabelecidas; no final, são gerados relatórios elencando-se uma lista dos problemas encontrados — que devem ser corrigidos para que o site possa ser considerado “acessível” [5] [6].

Durante a avaliação, além dos erros, esses softwares apresentam avisos, que são na verdade verificações/recomendações que devem ser analisadas manualmente pelos desenvolvedores — isso porque os programas não podem testar todas as diretrizes e assegurar a conformidade em cada um dos itens do site [12].

Selo de Acessibilidade Web

Pelo decreto lei nº 5.296 [7], quando um site tem sua acessibilidade aprovada por um programa avaliador, este deve receber um selo de certificação [3].

Metodologia

O estudo teve caráter exploratório e foi composto de nove etapas: (a) pesquisa bibliográfica e documental; (b) escolha dos sites de administração pública que seriam avaliados; (c) validação automática de acessibilidade; (d) validação automática de padrões Web; (e) avaliação de contraste; (f) testes de impressão; (g) teste de acesso com dispositivo móvel; (h) avaliação do tempo de download; (i) análise dos resultados dos testes.

(a) Pesquisa bibliográfica e documental: num primeiro momento, buscou-se compreender o princípio de acessibilidade e suas implicações para sites de Internet. Em um segundo momento identificou-se as principais metodologias e ferramentas para avaliação.

(b) Escolha dos sites públicos: utilizou-se como base os sites na atividade Governo/ Setor Público listados do Diretório Nacional de Sites Acessíveis do avaliador de acessibilidade brasileiro, o daSilva [13]. Para uma instituição fazer parte desse diretório, é preciso ter ao menos uma página aprovada pelo avaliador. Foram feitas duas análises: uma primeira mais abrangente em todas as 56 homepages listadas no diretório nacional de sites acessíveis do daSilva, mais especificamente na atividade Governo/Setor Público. E uma segunda análise mais detalhada, porém com escopo reduzido, onde foram avaliados os catorze sites da esfera federal. Essas homepages foram escolhidas pelo fato de serem organizações federais e com informações e serviços de interesse de todos os estados da federação.

(c) Validação automática de acessibilidade: como existem diferenças relevantes entre as ferramentas de avaliação automática de acessibilidade, principalmente na sua adequação aos padrões Web [20], para obter um resultado mais consistente, os sites foram testados em mais de um avaliador. Na análise mais abrangente, as 56 homepages foram testadas com o daSilva e o Hera [16]. Nas de esfera federal, além das ferramentas já citadas, foram utilizados os avaliadores Truwex [17] e Eval Access 2.0 [18]. Todas as ferramentas aplicadas nos testes fazem parte da lista de ferramentas do WAI para avaliar acessibilidade.

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(d) Validação automática de padrões Web: validações com uso de dois softwares — um para validação das folhas de estilo - CSS Validation Service e outro para os códigos (X)HTML - Markup Validation Service, ambos providos pelo W3C [2].

(e) Avaliação automática de contraste: foi utilizado o software Colour Contrast Analyser [21], indicado pelo WAT-C - Web Accessibility Tools Consortium, para analisar se os contrastes entre as cores aplicadas na página estão acessíveis segundo uma fórmula sugerida pelo W3C [14].

(f) Teste de impressão: foram aplicados testes para avaliar a qualidade e acessibilidade do resultado impresso. As impressões foram classificadas como — boa qualidade (páginas que apresentaram resultado otimizado para impressão, com todas as áreas bem distribuídas no papel, sem cortes e textos bem acessíveis); baixa qualidade (páginas que não foram otimizadas para impressão, mas todo seu conteúdo é impresso); inacessível (não foram preparadas para impressão e quais partes das áreas de conteúdo não são impressas). Nos testes utilizou-se a opção de “visualizar impressão” dos navegadores Internet Explorer 7.0 e Firefox 2.0.

(g) Teste de acesso com dispositivo móvel: as homepages foram testadas com um smartphone modelo Motorola Moto Q, com Windows Mobile 6.0, navegador Internet Explorer e acesso a Internet via Vivo Zap. O objetivo foi avaliar se as páginas estavam preparadas para o acesso a partir de dispositivos móveis. Foram classificadas como — boa qualidade (preparadas para o acesso, imagens acessíveis e navegação otimizada); baixa qualidade (não foram preparadas para o uso em dispositivos móveis e podem apresentar barreiras); inacessível (áreas de conteúdo inacessíveis/indisponíveis).

(h) Avaliação do tempo de download das páginas: o objetivo dessa avaliação foi analisar se os sites ofereciam acesso facilitado para todos os usuários, independente de suas velocidades de conexão. A ferramenta utilizada foi o Web Page Speed Report [15], que emite um detalhado relatório sobre a velocidade de download em segundos para as conexões: 14.4k, 28.8k, 33.6k, 56k, ISDN 128k e T1 1.44Mbps. [15]. Dez segundos é o tempo médio que um usuário aguarda uma página carregar; se a homepage for lenta, todos poderão inferir que navegar pelo restante do site será uma experiência lenta e cara [22].

(i) Análise dos resultados: primeiramente foram apurados os resultados dos testes citados no item (c) dessa metodologia que abrangeram dois grupos de sites — todos os 56 sites do diretório Nacional de Sites Acessíveis do Governo/Setor Público do daSilva [13] e as catorze homepages de esfera federal. Em seguida foram analisados os outros itens da metodologia, mas com foco apenas nos sites das organizações federais.

Análise dos Resultados

Resultado dos testes com o daSilva nas homepages da atividade governo/setor público

Das 56 páginas listadas no diretório, quatro não foram avaliadas pelo daSilva por apresentarem repetidos erros. Foram então testadas 52 e, desse total, catorze foram aprovadas sem erros de prioridade 1, 2 e 3. Dessas, quatro utilizavam estruturas em frames

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onde todas as páginas carregadas foram reprovadas pelo daSilva. As homepages aprovadas representam aproximadamente 20% do total de páginas avaliadas.

Das 42 homepages reprovadas pelo daSilva, onze não apresentaram nenhum erro de prioridade 1, sete nenhum erro de prioridade 2 e, dezenove, nenhum erro de prioridade 3. Quinze páginas analisadas apresentaram barreiras de acessibilidade em todas as três prioridades.

Resultado dos testes com o Hera nas 56 homepages da atividade governo/setor público

Das 56 páginas listadas no diretório, duas não foram avaliadas pelo Hera por apresentarem repetidos erros. Das 54 homepages avaliadas, nenhuma foi aprovada pelo Hera.

Dezessete não apresentaram erros de prioridade 1, três não apresentaram erros de prioridade 3 e apenas uma não apresentou erro de prioridade 2. Trinta e cinco páginas apresentaram erros nas três prioridades.

O objetivo desses primeiros testes com os avaliadores Hera e daSilva era avaliar se os sites listados no Diretório Nacional de Acessibilidade ainda se mantinham válidos no daSilva e verificar se, apesar de aderentes às diretrizes do WCAG 1.0 [7], apresentariam diferenças significativas em seus resultados.

Levando-se em conta que, para ser incluído no diretório de acessibilidade os sites precisam ter ao menos sua homepage aprovada pelo daSilva, e apenas 20% desse grupo se manteve sem erros, conclui-se então que os outros 80% apresentaram problemas na manutenção da acessibilidade.

Nos testes com o Hera, além de reprovar as dez páginas aprovadas pelo daSilva, os resultados apresentaram relevantes diferenças entre esses avaliadores.

Resultados dos testes com os avaliadores automáticos: Hera, daSilva e Eval nas 14 homepages da atividade governo/setor público federal

Essas homepages faziam parte dos sites listados no diretório de acessibilidade e já testadas com o Hera e daSilva. Além desses avaliadores, também foram testadas pelos Truwex e Eval. Apesar dos quatro avaliadores serem aderentes às diretrizes de acessibilidade, todos apresentaram resultados distintos. Hera, Truwex e Eval não aprovaram nenhuma das catorze páginas, enquanto o daSilva aprovou uma homepage.

Corroborando com a primeira análise, os resultados reforçam para a importância da avaliação da acessibilidade por mais de um avaliador automático.

Resultado dos testes de validação dos padrões Web

Validação (X)HTML(W3C– Markup Validation Service)

Todas as catorze homepages de âmbito nacional foram reprovadas pela ferramenta de avaliação automática de código (X)HTML do W3C [19]. Apenas uma homepage apresentou menos de 10 erros.

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Validação de CSS (W3C – CSS Validation Service)

Assim como na validação do código (X)HTML, todas as catorze homepages foram reprovadas pelo validador de CSS (W3C – CSS Validation Service) [20]. Dessas, apenas quatro páginas apresentaram menos de 10 erros.

Um site sem aderência aos padrões Web pode aumentar o tempo de carregamento das páginas, comprometendo sua semântica e portabilidade para diferentes navegadores e dispositivos.

Conformidade com os padrões não significa necessariamente que o site seja acessível, mas a não observância destes pode representar barreiras ao acesso em diferentes navegadores, plataformas e dispositivos.

Resultado dos testes de contraste

Nos testes aplicados com o software Colour Contrast Analyser [21], com exceção de uma homepage, todas as outras treze páginas apresentaram algum problema de baixo contraste.

Os avaliadores automáticos de acessibilidade não testam o contraste entre as cores de uma página. Apesar disso, o baixo contraste pode tornar-se uma barreira para pessoas com diferentes deficiências visuais, usuários com dispositivos de tamanho reduzido e monocromáticos.

Das treze páginas reprovadas, dez apresentaram problemas de contraste entre a cor dos textos e cor de fundo. O baixo contraste em fontes com tamanho reduzido pode prejudicar a leitura dos textos.

O contraste entre as cores do texto e do fundo da tela em parte do site do Superior Tribunal Militar, por exemplo, é insuficiente para torná-las acessíveis para pessoas com deficiência segundo a fórmula sugerida pelo W3C [14] (ver Figura 1).

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Figura 1 - teste de contraste na homepage do Superior Tribunal Militar

Resultado dos testes de impressão

Das catorze homepages analisadas, apenas duas foram classificadas com “boa qualidade” de impressão. Dez outras páginas com “baixa qualidade” e duas como “inacessíveis”, pois deixaram de imprimir áreas relevantes do conteúdo (ver Figura 2).

Figura 2 - parte do teste de impressão da homepage da FUNAI com textos inacessíveis

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Resultado dos testes com dispositivo móvel

Das catorze homepages analisadas, nenhuma recebeu a classificação “boa qualidade”. Todas as páginas não estavam preparadas para o acesso a dispositivos móveis. Oito foram classificadas com “baixa qualidade” e quatro como “inacessíveis”.

As homepages inacessíveis não ofereceram acesso à parte do conteúdo ou apresentaram significativas barreiras para o acesso e navegação.

Os resultados mais inacessíveis vieram das páginas que utilizaram estruturas em frames (ver Figuras 3 e 4).

Figura 3 - homepage da FUNAI com estrutura em frames inacessível em um dispositivo móvel

Figura 4 - homepage da Auditoria Interna do Ministério Público da União: apenas o frame “rodapé” é carregado no dispositivo móvel

Avaliação do tempo de download das páginas

Mesmo para usuários de banda larga, arquivos na Internet excessivamente pesados podem representar barreira significativa ao uso. Mas essa barreira pode se tornar intransponível e economicamente inviável para usuários de Internet com linha discada e com dispositivos móveis com banda e processamento limitados.

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Além do tempo para carregar as páginas, esse aplicativo também calcula o número de requisições feitas ao servidor (http Requests) e o tamanho em bytes resultado do somatório dos arquivos que compõem uma página, por exemplo: HTML, CSS, JavaScript, applets, imagens etc.

Como resultado, apenas duas páginas levaram menos de 20 segundos para carregar, cinco páginas levaram entre 21 e 40 segundos e o restante ficou acima dos 70 segundos em uma conexão discada de 56k, velocidade pouco provável e acima da média para a maioria dos usuários desse serviço.

O excessivo tempo pode representar uma barreira ao acesso, seja pelo tempo de espera elevado ou pelo custo. (ver Tabela 1).

Homepage HTTP Requests

Total de Bytes

Conexão 56K em segundos

1 Auditoria Interna do Min. Público da União 41 143222 36,75”

2 Senado Federal 33 126422 26,075”

3 Min. do Meio Ambiente 35 362810 79,31”

4 FUNAI 54 85809 27,9”

5 Ministério da Justiça 26 154994 36,09”

6 Ag. Nacional de Transportes Terrestres 123 1313358 286,35”

7 BNDES 49 387949 87,12”

8 CDES 62 453188 102,72”

9 Portal Gov. Eletrônico - - -

10 M. Relações Exteriores 23 104784 25,48”

11 M. Ciência e Tecnologia 16 42519 11,67”

12 Sup.Tribunal Militar 32 470853 100,24”

13 Cont. Geral da União 21 68624 17,88”

14 Min. Desenv. Agrário 57 302019 111,72”

Tabela 1 - teste de velocidade de download

O portal do Governo Eletrônico não foi avaliado nesse teste de performance em função de repetidos erros de permissão em seu domínio.

Conclusões

Analisando os resultados dos diferentes testes, concluiu-se que não se pode confiar apenas nos resultados dos avaliadores automáticos de acessibilidade, menos ainda quando se trata da validação por apenas um desses programas.

A validação automática é importante no processo de desenvolvimento de sites acessíveis, mas não é infalível, nem deve substituir uma avaliação humana com especialistas em acessibilidade e usuários com e sem deficiência que representem parte significativa do público-alvo. Um teste automático pode avaliar apenas algumas das diretrizes de

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acessibilidade, não todas. Sozinhos, esses softwares não podem ser usados para validar a acessibilidade, assim como o selo aplicado em um site não pode garantir sua acessibilidade.

A partir dos resultados dos testes de impressão e dispositivos móveis, pode-se concluir que a acessibilidade para os sites avaliados resume-se ao acesso às informações na Internet por um computador com monitor.

As técnicas de acessibilidade não foram de fato incluídas nos processos de criação e manutenção de sites, sendo ainda preciso investir em capacitação e conscientização de gestores e desenvolvedores sobre a importância da acessibilidade. É preciso derrubar o mito que acessibilidade é apenas um custo a mais no projeto e serve somente para pessoas com algum tipo de deficiência.

Pode-se concluir ainda que, isoladamente, o decreto lei nº 5.296 não é capaz de conscientizar a administração pública sobre a importância da acessibilidade e que, em sua maioria, os sites do governo estão gastando verbas e esforços em uma acessibilidade volátil, baseada em um selo sem garantias.

Referências [1] Harrison, S. M. - Opening the eyes of those who can see to the world of those who can't: a

case study - Technical Symposium on Computer Science Education - Proceedings of the 36th SIGCSE technical symposium on Computer science education – 2005.

[2] Web Accessibility Initiative (WAI) http://www.w3.ogr/wai

[3] Modelo, e-MAG. Modelo de Acessibilidade - Recomendações de Acessibilidade para a Construção e Adaptação de Conteúdos do Governo Brasileiro na Internet - Departamento de Governo Eletrônico, 2005. http://www.governoeletronico.gov.br/acoes-e-projetos/e-MAG.

[4] Ferreira, S.B.L; Santos, R.C. & Silveira,D.: Panorama da Acessibilidade na Web Brasileira - Trabalho publicado nos anais da conferência do ENANPAD – Encontro Nacional dos Programas de Pós Graduação em Administração – Rio de Janeiro – Set 2007

[5] Spelta, L. L. O papel dos leitores de tela na construção de sites acessíveis. In: ATIID (Acessibilidade, Tecnologia da Informação e Inclusão Digital), 2003, São Paulo. Anais. http://www.fsp.usp.br/acessibilidade/cd/atiid2003/artigos/oficinas/O1leitorestela.pdf

[6] Nevile, Liddy “Adaptability and accessibility: a new framework” - Proceedings of the 19th conference of the computer-human interaction special interest group (CHISIG) of Australia on Computer-human interaction: citizens online: considerations for today and the future - Canberra, Australia - Vol. 122 - Pg: 1 – 10 – 2005.

[7] Enap – Material do curso de “e- MAG - Modelo de Acessibilidade de Governo Eletrônico” – ministrado pela Escola Nacional de Administração Pública - janeiro 2007.

[8] WCAG - Web Content Accessibility Guidelines 1.0 (W3C) http://www.w3.org/TR/WAI-WEBCONTENT/

[9] Takagi, H., Asakawa, C., Fukuda K. & Maeda J.: Accessibility designer: visualizing usability for the blind - ACM SIGACCESS Conference on Assistive Technologies - Proceedings of the ACM SIGACCESS conference on Computers and accessibility – 2004.

[10] Petrie,H.,Hamilton,F.,King,N.& PavanP. - Remote usability evaluations with disabled people - Proceedings of the SIGCHI conference on Human Factors in computing systems. Canada. 2006.

[11] Acessibilidade do Brasil. http://www.acassodigital.org.br

[12] Queiroz, M.A., Acessibilidade Legal

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http://www.acessibilidadelegal.com

[13] Diretório Nacional de Sites Acessíveis, daSilva, http://www.daSilva.org.br/?blogid=1&catid=1&atividade=Governo/Setor%20Público.

[14] Techniques For Accessibility Evaluation And Repair Tools (W3C). http://www.w3.org/TR/AERT#color-contrast.

[15] Web page speed report - Web Site optimization. http://www.websiteoptimization.com/services/analyze/wso.php

[16] HERA. Avaliador automático de acessibilidade. http://www.sidar.org/hera/index.php.pt

[17] Truwex - Avaliador automático de acessibilidade. http://www.erigami.com/Truwex/.

[18] EvalAccess 2.0 – Web service tool for Evaluating web accessibility. http://sipt07.si.ehu.es/Evalaccess2/.

[19] Markup Validation Service. (X)HTML / W3C. http://validator.w3.org/.

[20] CSS Validation Service /W3C. http://jigsaw.w3.org/css-validator/

[21] Colour Contrast Analyser (JuicyStudio), http://juicystudio.com/services/colourcontrast.php.

[22] Nielsen, J., Tahir, M. Homepage Usabilidade – 50 Websites Descontruídos, p. 15-30, 2002.

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Tornando os Requisitos de Usabilidade mais Aderentes às Diretrizes de Acessibilidade

Simone Bacellar Leal Ferreira1 [email protected]

Ricardo Rodrigues Nunes1 [email protected]

Denis Silva da Silveira2 [email protected]

Horário Pastor Soares1 [email protected]

1Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

2Programa de Engenharia de Produção COPPE/UFRJ

Palavras-chave

Acessibilidade, Usabilidade, Deficientes Visuais

Resumo

As interfaces com o usuário devem poder ser acessadas por qualquer pessoa, independentemente de suas capacidades físico-motoras e perceptivas, culturais e sociais. A presente pesquisa tem por objetivo mostrar que a obtenção de aplicativos Web acessíveis vai além de projetar sites em conformidade com as diretrizes de acessibilidade; questões de usabilidade devem ser consideradas. Foram observadas interações entre deficientes visuais e sites e os problemas de usabilidade encontrados foram analisados, com base em uma taxonomia dos requisitos não-funcionais de usabilidade. Posteriormente alinhou-se essa taxonomia com as diretrizes de acessibilidades com a finalidade de auxiliar os profissionais de sistemas na identificação de problemas de acessibilidade e usabilidade que podem ser solucionados ou minimizados durante a definição dos requisitos e assim, facilitar a interação de deficientes visuais com a Internet e garantir sites com conteúdo compreensível e navegável.

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Introdução

O avanço da Tecnologia da Informação, em especial da Internet, gerou nos sistemas uma necessidade de fornecer informações com qualidade; essa demanda torna a interface com o usuário uma parte fundamental nos sistemas de informação já que é através dela que os usuários interagem para executarem suas tarefas. Logo, é importante que ela seja fácil de ser usada e que atenda as expectativas e necessidades de todos os usuários [4].

Obter interfaces que satisfaçam a muitos usuários não é trivial, uma vez que existe uma diversidade de pessoas com necessidades distintas. As interfaces devem ser acessadas por qualquer pessoa, independentemente de suas capacidades físico-motoras e perceptivas, culturais e sociais [18]. Ou seja, as interfaces devem ser projetadas em conformidade com as diretrizes de acessibilidade e com foco na usabilidade. Para isso, deve-se dar especial atenção aos requisitos relacionados à entrada de dados e à exibição de informação, de modo a garantir que a interação satisfaça aos Requisitos Não-Funcionais (RNF) de qualidade, inclusive seu caráter “amigável” e “acessível”.

No Brasil, de acordo com o censo de 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 14,5% da população possui algum tipo de deficiência, sendo que desse grupo, 48,1% apresenta deficiência visual [10]. Esses valores indicam que desenvolver sistemas acessíveis não é altruísmo e, que embora tenha um lado social importante, é economicamente viável e deve ser considerado por todos que queiram fazer negócios na Web [22]. No entanto, ao se projetar sistemas, é raro encontrar equipe que se preocupe em alinhar a acessibilidade com a usabilidade [5].

A presente pesquisa tem por objetivo mostrar que a obtenção de aplicativos Web acessíveis vai além de projetar sites em conformidade com as diretrizes de acessibilidade; questões de usabilidade devem ser consideradas. Foram observadas interações entre deficientes visuais e sites e os problemas de usabilidade encontrados foram analisados com base em uma taxonomia dos RNF de usabilidade [4]. Posteriormente foi feito o alinhamento dessa taxonomia com as diretrizes de acessibilidades a fim de auxiliar os profissionais de sistemas a identificar possíveis problemas de acessibilidade e usabilidade que podem ser solucionados ou minimizados durante a definição dos requisitos, e assim, facilitar a interação de deficientes visuais com a Internet e garantir sites com conteúdo compreensível e navegável. A opção de se considerar os deficientes visuais objeto de estudo deveu-se ao fato da Web ter facilitado a vida dessas pessoas.

Acessibilidade

Acessibilidade é o termo geral usado para indicar a possibilidade de qualquer pessoa usufruir todos os benefícios de uma vida em sociedade, entre eles, o uso da Internet [18][16]; essa definição, proposta inclusive pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, apesar de forte impacto, é fundamental, pois acessibilidade só existe quando todos conseguem acessar esses benefícios [22].

O termo acessibilidade na Internet é usado, de forma ampla, para definir o acesso universal a todos componentes da rede, como chats, e-mail entre outros. Já o termo acessibilidade na Web, ou e-acessibilidade, refere-se especificamente ao componente Web, conjunto de páginas em linguagem HTML; a acessibilidade na Web representa o direito de acesso à rede de informações e eliminação de barreiras arquitetônicas, de comunicação, de acesso

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físico, de equipamentos e programas adequados, de conteúdo e apresentação da informação em formatos alternativos [2].

A Web desempenha um papel fundamental no avanço que a Internet representa no cotidiano das pessoas com deficiências, facilitando a vida deles; permite que eles criem novas formas de relacionamento, encontrem oportunidades de trabalho e formas alternativas de diversão [22] [20]. Mas apesar de indubitavelmente importante, a acessibilidade digital e na Web não é simples. As pessoas com deficiências possuem limitações sensoriais e motoras que devem ser compensadas de alguma forma, a fim de viabilizar o acesso delas aos recursos computacionais. Para isso, as organizações necessitam adaptar seus hardwares e seus softwares [8]. O problema é que essa adaptação requer um conhecimento técnico que faz com que as organizações não dediquem esforços ao processo de acessibilização [2].

Com relação à acessibilidade de Sistemas de Informação, existem quatro dificuldades com que podem se deparar usuários com necessidades especiais: uso do mouse; utilização do teclado; visualização do monitor e obtenção de sons de dispositivos de áudio.

Usabilidade Alinhada com as Diretrizes de Acessibilidade

A usabilidade é a característica que determina se o manuseio de um produto é fácil e rapidamente aprendido, dificilmente esquecido, não provoca erros operacionais, oferece um alto grau de satisfação para seus usuários e, eficientemente resolve as tarefas para as quais ele foi projetado [19]. Uma aplicação orientada à usabilidade não necessariamente é orientada à acessibilidade, e vice-versa. Ou seja, ela pode ser de fácil uso para usuários comuns, mas inacessível para os com necessidades especiais [7].

A facilidade que um usuário tem em interagir com uma interface está ligada aos aspectos de usabilidade, mas é também função da capacidade desse usuário detectar, interpretar e responder apropriadamente às informações do sistema. No ambiente computacional, grande parte da informação é apresentada na forma visual, o que faz com que a capacidade de usar computadores dependa muito de uma cadeia complexa de processos visuais [15].

Como a visão passou a ser a principal forma de se interagir com os sistemas, não importa quão bem projetada seja a interface, ela não estará de acordo com o modelo conceitual dos usuários deficientes visuais e sempre constituirá uma barreira para eles. Esses usuários necessitam de uma tecnologia assistiva capaz de captar as interfaces e torná-las acessíveis. Tecnologia assistiva é o termo usado para identificar qualquer ferramenta, como uma bengala, ou um recurso, como um treinamento em Braile, utilizado para proporcionar ou ampliar as habilidades funcionais das pessoas com alguma deficiência e assim promover maior autonomia [3]. No caso do acesso de uma pessoa com deficiência visual acentuada ou total à Internet é feito de um programa leitor de tela (screen readers), aplicativos associados a programas sintetizadores de voz [5] [22]. Logo, as interfaces devem ser projetadas de modo que, quando acessadas por um leitor de tela, forneçam interações amigáveis. Elas devem oferecer seqüências simples e consistentes de interação, mostrando as alternativas a cada passo, sem confundir nem deixar o usuário inseguro, que deve poder se fixar só no problema que deseja resolver [4].

Visando o acesso universal a todos, no final dos anos 90, esforços começaram a ser desenvolvidos para promover a acessibilidade em aplicativos Web. No entanto, até o momento, sem muito foco na usabilidade, isto é, na simplificação da navegação e interação; conseqüentemente, problemas de usabilidade persistem [12]. Atualmente, através do comitê

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internacional W3C (World Wide Web Consortium), que regula assuntos ligados à Internet, encontram-se um conjunto de catorze diretrizes para a Acessibilidade do Conteúdo da Web (WCAG 1.0) [27].

A verificação de acessibilidade de sites é feita através de programas que detectam o código HTML e analisam seu conteúdo, verificando se está dentro do conjunto das regras; no final, geram uma lista dos problemas que devem ser corrigidos para que o site seja considerado acessível. Destacam-se: WebXact, o Hera e o brasileiro daSilva.

Contudo, é importante ressaltar que pessoas com necessidades especiais desenvolvem habilidades específicas. Por exemplo, deficientes visuais usam as combinações das teclas de tal forma que uma pessoa com visão não conseguiria simular. Logo, para se obter um site de acesso universal orientado à usabilidade, além de verificá-lo através de programas avaliadores, é fundamental que se considerem as dificuldades e habilidades dos usuários, pois estas norteiam o modelo mental de suas interações e, ao serem consideradas, contribuem para tornar a interação do deficiente harmoniosa.

Com relação à acessibilidade, os problemas de usabilidade, em geral ocorrem por três motivos: muito foco na conformidade com as diretrizes de acessibilidade e não na usabilidade; muitos programas avaliadores dependem somente de técnicas de verificação sintática dos sites para detectar a acessibilidade e, com isso, os erros detectáveis se limitam à camada de descrição de tags (etiquetas) e não consideram aspectos de usabilidade; por fim, os avaliadores de acessibilidade desconsideram o fato que raramente os usuários escutam a saída falada de forma passiva. Eles se movimentam pelas páginas usando combinações de teclas e, através desse processo, criam seus modelos mentais [24].

Metodologia

O estudo, de caráter exploratório, teve quatro etapas:

(a) Escolha da Categoria de Usuários: para objeto de estudo optou-se pelos usuários com deficiências visuais; essa decisão foi devido ao fato de a Internet contribuir para melhorar a qualidade de vida dos deficientes visuais, permitindo que acessem informações que antes só podiam ser obtidas com a ajuda de uma pessoa [8].

(b) Pesquisa Bibliográfica e Estudo da Taxonomia dos RNF de Usabilidade: num primeiro momento, buscou-se compreender o princípio de acessibilidade e suas implicações para sites. Nessa etapa, algumas instituições forneceram diferentes softwares destinados a usuários deficientes visuais. Esses softwares foram usados para navegar em sites “comuns”, como jornais, e aprofundar a observação e análise de aspectos levantados na literatura.

(c) Pesquisa de Campo: foi conduzida uma pesquisa de campo no Instituto Benjamin Constant (IBC), órgão do Ministério da Educação, fundado em 1854, no Rio de Janeiro. Trata-se de um centro de excelência e de referência em matéria de estudos relacionados a deficiências visuais, e tem por principal objetivo promover a educação e integração do deficiente visual em toda a sua amplitude [9]. Durante a pesquisa de campo, que durou três meses, foram realizadas atividades de observação em diferentes setores do instituto e foram feitas várias entrevistas informais e seis entrevistas em profundidade com funcionários, alunos e ex-

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alunos da instituição, que hoje atuam nela, sendo a maior parte composta de deficientes visuais.

(d) Escolha do Método de Análise de Usabilidade e Alinhamento da Taxonomia dos RNF de Usabilidade com as Diretrizes de Acessibilidade: estudou-se diversas formas de se analisar a usabilidade de sites. Optou-se pela análise seguindo a taxonomia de Ferreira e Leite [4] dos RNF de usabilidade. Essa taxonomia foi escolhida por estar sendo usada na análise de usabilidade de sites. Depois, procurou-se alinhar os requisitos de usabilidade com as diretrizes de acessibilidade a fim de auxiliar os profissionais de Sistemas de Informação na identificação de problemas de acessibilidade e usabilidade que podem ser solucionados ou minimizados durante a definição dos requisitos.

Requisitos não-Funcionais de Usabilidade

Engenharia de Requisitos procura sistematizar o processo de definição de requisitos dos softwares. A necessidade da sistematização decorre da complexidade dos sistemas em demandar total compreensão do problema antes de buscar a solução. A Engenharia de Requisitos tem por finalidade propor métodos, técnicas e ferramentas para facilitar o trabalho de determinar o que se espera do sistema [4].

Os requisitos podem ser funcionais (RF) ou não-funcionais (NRF). Os RF descrevem o que o sistema faz, isto é, suas funções. Já os RNF, entre eles, os de usabilidade, dizem respeito à qualidade do sistema, descrevem suas facilidades e ligam-se aos fatores humanos, que algumas vezes são negligenciados pela Engenharia de Software. Desconsiderar esses fatores na definição de requisitos constitui-se uma das razões da insatisfação do usuário com o produto.

A construção de sistemas que consideram aspectos relacionados às características dos usuários e à qualidade do sistema é difícil por vários motivos. O principal deles provavelmente reside na definição de requisitos, primeira etapa no desenvolvimento do sistema e que possui impacto na qualidade (ou falta de qualidade) do desenvolvimento e do produto [21]. A taxonomia dos RNF de usabilidade foi criada por Ferreira e Leite [4] com a finalidade de sistematizar o processo de definição desses requisitos e de reduzir os problemas de usabilidade. A Tabela 1 mostra a taxonomia que, nesse artigo, foi usada para alinhar a análise de usabilidade com as diretrizes de acessibilidade.

Requisitos Relacionados à Entrada de Dados

a) Mecanismos de Ajuda

b) Prevenção de Erros

c) Tratamento de Erros

Requisitos Relacionados à Exibição da Informação

a) Consistência

b) Níveis de Habilidade e Comportamento Humanos

c) Feedback

d) Percepção Humana Tabela 1. Taxonomia dos RNF de Usabilidade [4] (continua)

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e) Metáforas

f) Minimização de Carga de Memória

g) Eficiência no Diálogo, Movimento e Pensamentos

h) Classificação Funcional

i) Manipulação Direta

j) Exibição Exclusiva de Informação Relevante

k) Rótulos, Abreviações e Mensagens Claros

l) Uso Adequado de Janelas

m) Projeto Independente da Resolução do Monitor. Tabela 1. Taxonomia dos RNF de Usabilidade [4] (conclusão)

Taxonomia dos RNF de Usabilidade Alinhada com as Diretrizes de Acessibilidade

Requisitos Relacionados à Apresentação da Informação

A informação pode ser apresentada de diversas maneiras: textos, imagens, sons entre outras. Independentemente da forma, a informação não deve apresentar-se incompleta, ambígua nem ininteligível. É necessário obedecer a certos requisitos ao se construir interfaces eficientes no que diz respeito às informações exibidas. Para exemplificar o alinhamento proposto, são apresentadas práticas relacionadas aos requisitos “consistência” e “níveis de habilidade e comportamento humanos”, que facilitam a interação através de tecnologia assistiva, como um leitor de tela.

a) Consistência

É uma das principais características de usabilidade da interface; reduz a frustração provocada por comportamentos inesperados do sistema e permite a generalização do conhecimento de um aspecto do sistema para os outros, isto é, possibilita que o usuário aprenda tarefas e estenda esse conhecimento para partes do sistema semelhantes, sem ter que reaprender o novo programa [19].

Na interface consistente, menus, comandos de entrada, as apresentações de informação e as funções têm apresentação, codificação e comportamento semelhantes. Deve-se: manter uma uniformidade na codificação da combinação de teclas de atalhos; exibir as mensagens nas mesmas posições lógicas; preservar a disposição de elementos, como itens nos menus; padronizar o emprego de maiúsculas e, finalmente, disponibilizar sempre comandos globais, como “Sair”, “Salvar”, “Ajuda”, etc.

Consistência com relação à disposição e apresentação da informação

Os leitores de tela captam, analisam o código HTML da página, e linearizam os elementos do conteúdo na mesma ordem em que aparecem no código. Todos os elementos da tela, como links e figuras, são concatenados em uma coluna, na mesma ordem seqüencial em

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que aparecem no código. Ou seja, a ordem em que um elemento da tela aparece para o usuário que usa leitor de tela é diferente da ordem em que ele aparece em um navegador. As pessoas com deficiência visual percebem a página como se fosse um texto que eles podem ler linha por linha (via das setas) ou link por link (através da tecla tab) [17]. Logo, se deve tomar cuidado com a posição dos elementos. O código deve ser consistente de modo a garantir que os elementos aparecerão sempre na mesma ordem ao longo das diversas interfaces que constituem o sistema.

Deve-se relacionar a localização dos elementos no navegador e sua posição no código; um elemento importante pode ocupar uma posição de destaque na página exibida no navegador, mas ao ser analisado pelo leitor, por se encontrar no fim do código, pode ser um dos últimos elementos notados, ou seja, ele só será percebido depois de informações menos relevantes [12].

Consistência com relação ao comportamento:

Muitos sites apresentam recursos em algumas de suas páginas, mas, sem qualquer motivo, não os mantêm em outras em que seriam pertinentes, ou se os mantêm, os fazem com nomes distintos. Por exemplo, em alguns sites de comércio, como no Submarino, é comum encontrar em algumas telas um mecanismo de busca com a opção de busca de acordo com um critério, inexistente em outras partes onde um critério semelhante poderia ser aplicado. Nesse site, na seção destinada à venda de CDs, existe uma “busca por artista”. Naturalmente, essa opção não caberia em todo o site, mas em algumas seções, como Livraria, poderia existir um mecanismo de busca semelhante, substituindo o critério “artistas” por “autores”. Isso daria um comportamento padronizado Uma boa prática de usabilidade seria não incluir esse ou adaptá-lo nas em fosse pertinente.

No caso de uma pessoa com visão, isso é um ponto negativo; ela vai precisar de um tempo até perceber, através de uma análise visual, que o mecanismo de busca não existe em todas as seções. Mas esse problema se torna crítico quando o usuário for um deficiente visual. Como ele não consegue enxergar o site, ele terá que ficar percorrendo o mesmo com o leitor sem saber se o mecanismo foi omitido.

Consistência com relação às atualizações

Deve-se estender o princípio de uniformidade a todas interfaces do site. Mas, diferentemente dos aplicativos não destinados a Web, os sites são dinâmicos; isto é, sofrem atualizações, nem sempre realizadas pela equipe que o desenvolveu. Essa atualização pode causar inconvenientes a alguns usuários, como por exemplo, as pessoas com deficiência visual.

Os sites podem sofrer dois tipos de alterações: o primeiro, mais comum, consiste apenas em atualizar o conteúdo sem modificar o layout, como ocorre nos jornais. Isso não causa estranheza ao deficiente; o segundo tipo, mais problemático, ocorre quando o projeto do site é alterado. Isso leva o usuário cego a ter que reaprender o nome e posição dos elementos da página. Embora eles não considerem isto um obstáculo, alguns deficientes que participaram dessa pesquisa [29], [31] e [32] mencionaram que facilitaria se houvesse alguma indicação. Uma entrevistada relatou que, quando a página de seu provedor foi modificada, ela e seu marido, também cego, ficaram sem saber o que estava acontecendo, em dúvida se era uma falha do programa ou um erro cometido por eles [32]. Uma sugestão é colocar uma identificação, na página, do número e da data da versão atual.

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Consistência com o uso de ícones, imagens e outros elementos

A diretriz de acessibilidade 1.1 do W3C [27] determina que toda informação não textual seja acompanhada de um texto. Para isso coloca-se o atributo “alt” (alternate text), fornece um texto alternativo associado à imagem e cujo conteúdo é lido pelo leitor de tela; na maioria dos navegadores, o conteúdo do “alt” é exibido para o usuário comum quando ele passa o mouse por cima da imagem ou quando a página está sendo carregada e a imagem ainda não foi exibida, o texto do “alt” aparece até que a figura o substitua. Se os textos desse atributo forem apropriadamente escritos, podem fornecer informações sobre as imagens [7] [8]. No entanto, quando um site contém uma imagem sem o atributo “alt”, dependendo do leitor, essa imagem pode ser detectada. Alguns leitores nada acusam, outros indicam a existência de uma imagem, mas sem dar nenhuma informação do porque da figura [22].

Um ícone, em termos de acessibilidade, deve ser projetado de acordo com o que é determinado para as imagens. É comum os sites usarem diversos nomes ou ícones para um mesmo assunto, ação ou objeto. Por exemplo, alguns sites usam imagens diferentes de carrinhos para indicar a ação de “comprar”, confundindo o usuário com visão; seria melhor usar um único ícone. Da mesma forma, com relação à acessibilidade, deve-se usar o mesmo texto para o atributo “alt” de modo que o deficiente visual identifique o elemento sempre pelo mesmo nome.

Outro problema é a adoção de ícones parecidos, com diferenças sutis, para funções diferentes. Naturalmente, com atenção, o usuário percebe a pequena diferença entre os ícones, mas pode se confundir. Igualmente, adotar a prática de escolher textos parecidos para o atributo “alt”, apesar de alinhada com as diretrizes de acessibilidade, pode trazer problemas de usabilidade, pois o usuário terá que prestar atenção no nome falado para perceber a diferença.

Outra boa prática de usabilidade é identificar o texto que descreve um link de forma informativa e útil [8]; esse texto é captado pelo leitor de tela e permite que o deficiente saiba para que serve o link. Logo, identificar links simplesmente com frases como “clique aqui” ou “próximo” constitui um obstáculo para usuários que dependem de leitores [22]. Como nos ícones, os nomes devem ser padronizados.

Uso consistente e adequado da combinação de cores

A cor, elemento fundamental na comunicação, interfere nos sentidos, emoções e intelecto; como pode ser usada deliberadamente para atingir um objetivo, recomenda-se atenção na escolha de suas combinações. Cores apropriadas contribuem para a rápida e correta assimilação da informação. O impacto na eficácia da interface depende da relevância da cor para a execução de uma tarefa, bem como da situação e do ambiente em que se executa a tarefa [13].

O projetista deve precaver-se contra a adoção de cores inadequadas, a fim de evitar levar ao usuário informação incompleta, ambígua ou ininteligível. Em alguns sites, a escolha das cores se faz aparentemente de forma impensada, sem preocupação com a consistência, focando só na estética. Essa negligência torna a navegação confusa.

A cor também deve ser escolhida de forma a facilitar a interação dos deficientes visuais que ainda possuem algum resíduo de visão. Isso porque os deficientes visuais não usam o mouse para navegar, já que esse dispositivo exige coordenação visual (mira) [22]. Eles utilizam a tecla tab e combinações de teclas, chamadas teclas de atalho, também utilizadas

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por pessoas com visão para agilizar tarefas [12]. O problema é que essa combinação de teclas requer mais um aprendizado, o que faz com que deficientes visuais que ainda mantenham alguma visão residual prefiram usar esse resíduo de visão. Deve-se selecionar a cor de forma que o contraste entre fundo e texto facilite a leitura [7].

b) Níveis de Habilidade e Comportamento Humanos

O processo de produção de um software depende do fator social. Logo, é fundamental levar em conta o tipo de formação e o meio social dos usuários do sistema. Para criar produtos úteis para um grupo de pessoas, faz-se necessário identificar e compreender esse grupo: procurar conhecer como as pessoas realizam suas tarefas e o que tipo de imposições e limitações que estão sujeitas [4].

Modelos mentais são representações existentes na mente das pessoas, externalizadas através dos modelos conceituais, usadas para explicar, simular, predizer ou controlar objetos no mundo. A elaboração de um modelo conceitual do usuário depende de sua personalidade, seu conhecimento e sua experiência prévia e baseia-se nas suas expectativas, objetivos e compreensão a respeito do sistema. Um usuário cria seu modelo a partir de “objetos” que já conhece no seu dia-a-dia; ele procura relacionar os elementos computacionais com esses “objetos” familiares, em uma tentativa de melhor entender a máquina [21].

Usuários com deficiências navegam em um ambiente bem diferente das pessoas sem deficiências. Eles relacionam os elementos computacionais com “objetos” de seu dia-a-dia, desenvolvidos para suprir suas necessidades. Além disso, desenvolvem habilidades especiais, como uma excelente audição; raramente eles ficam aguardando de forma passiva a saída falada; eles se movimentam pelas páginas usando combinações complexas de teclas. Através desse processo criam seus modelos e tentam navegar de forma autônoma.

Todos esses fatos acrescentam dificuldade na interação e por isso deve-se projetar a interface visando acomodar diferentes personalidades ou, uma personalidade típica dos usuários finais [7]. Uma das maneiras de se acomodar personalidades distintas é projetando-se sistemas em conformidade com as diretrizes de acessibilidade. O critério de acessibilidade indica a facilidade com que alguma coisa pode ser utilizada, visitada ou acedida de um modo geral por todas as pessoas. Para promover a acessibilidade, usa-se certas facilidades que ajudam a retirar os obstáculos ou barreiras de acessibilidade do ambiente, conseguindo que estas pessoas com deficiências realizem a mesma ação que uma pessoa sem nenhum tipo de deficiência [3].

Interfaces acessíveis facilitam o acesso tanto por pessoas com muita experiência como por novatos. Menus, formulários e prompts são boas ferramentas para os principiantes, pois os ajudam a entender a linguagem do sistema. Bom exemplo disso encontra-se nos caixas eletrônicas de bancos, dotados de interfaces orientadas para prompts e formulários com a finalidade de torná-las acessíveis às pessoas sem experiência computacional. Mas tais facilidades muitas vezes revelam-se lentas para os mais experientes, que preferem usar teclas de função e comandos do teclado (aceleradores). Assim, uma interface deve permitir ambas as formas de entrada de comandos [6].

Um elemento importante é a Language tag, atributo que indica o idioma utilizado em um documento ou em uma parte de um documento. Leitores de tela detectam automaticamente a language tag e escolhem o sintetizador de voz adequado para a leitura nesse trecho.

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Considerações Finais

O presente trabalho teve por objetivo alinhar os RNF de usabilidade com as diretrizes de legislação de acessibilidade. Esse alinhamento tem por finalidade auxiliar os profissionais de sistemas na identificação de possíveis problemas de acessibilidade e usabilidade que podem ser solucionados ou minimizados durante o processo de definição dos requisitos e assim, facilitar a interação de deficientes visuais com a Internet e garantir sites com conteúdo compreensível e navegável.

Foi feita uma pesquisa de campo no IBC, referência no Brasil em matéria de educação e reeducação de deficientes visuais, com a finalidade de se conhecer esses usuários. A escolha de deficientes visuais foi devido à Internet ter contribuído para melhorar a qualidade de suas vidas, permitindo que criem novas formas de relacionamento, encontrem oportunidades de trabalho e formas alternativas de diversão. A pesquisa de campo permitiu compreender como esses usuários percebem e interagem com sites e identificou barreiras que precisam superar para acessar a informação. Com o conhecimento adquirido foram identificados os tipos de imposições e limites a que estão sujeitos, o que possibilitou uma compreensão de suas necessidades e habilidades especiais.

Feito isso, selecionou-se taxonomia dos RNF de usabilidade para avaliar a usabilidade de sites [4]. Essa taxonomia, criada com a finalidade de sistematizar o processo de definição desses requisitos e de reduzir os problemas de usabilidade, têm sido utilizada na análise de usabilidade de sites e pode auxiliar os projetistas na etapa de definição de requisitos. Posteriormente, alinhou-se a análise de usabilidade com as diretrizes de acessibilidade com a finalidade auxiliar os profissionais de sistemas de informação na identificação e na solução de possíveis problemas de acessibilidade e usabilidade que podem ser minimizados. Com isso, percebeu-se que a obtenção de aplicativos Web acessíveis vai além de projetar páginas Web em conformidade com as diretrizes de acessibilidade; questões de usabilidade devem ser consideradas.

Referências

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[27] W3C. XHTML2 working group page. <http://www.w3.org/MarkUp/>. 16/2/2008.

Entrevistas

1. Cerqueira, Maria de Fátima Carvalhal – ex aluna do IBC(cega) – 09/07/2006.

2. Coube, José Elias - Professor de Informática do IBC(cego) – 31/06/2006.

3. Ferreira_B, Gerson F. – Coordenador Geral de Informática do IBC (cego) – 10/06/2006.

4. Hilderbrandt, Hercen – Professor de Informática do IBC (cego) – 29/06/2006.

5. Livramento, M.L. – Revisora de Textos da Imprensa Braille do IBC (cega) – 05/07/2006.

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Avaliando a Qualidade Afetiva de Sistemas Computacionais Interativos no Cenário Brasileiro

Elaine Hayashi1 [email protected]

Vânia Neris1 [email protected]

Cecília Baranauskas1 [email protected]

Maria Cecilia Martins1 [email protected]

Lara Piccolo2 [email protected]

Rosely Costa2 [email protected]

1Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

2Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações - CPqD

Palavras-chave

Qualidade afetiva, avaliação, design universal

Resumo

Métodos de avaliação de interface de usuário têm tradicionalmente enfatizado questões de performance e, tipicamente, envolvido um conjunto homogêneo de usuários em seu contexto de trabalho. No cenário brasileiro, onde cerca da metade da população é excluída digitalmente, outras qualidades do sistema podem interferir na interação do usuário. Este artigo propõe um método de avaliação que contempla questões relacionadas à qualidade afetiva de um sistema computacional voltado à inclusão digital. O método apresentado pode contribuir para o entendimento da relação dos usuários não alfabetizados digitalmente com a tecnologia.

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Introdução

Projetar e desenvolver sistemas computacionais interativos para um grupo representativo da sociedade brasileira implica em considerar questões relacionadas ao analfabetismo digital e, conseqüentemente, à inclusão digital. Até 2007, 47% da população brasileira nunca havia usado um computador e cerca de 59% não havia tido acesso à Internet [4]. Nessa parcela que nunca utilizou um computador estão 84% dos analfabetos, 93% das pessoas acima dos 60 anos e 72% das classes D e E [4]. A disponibilidade de estudos que consideram esse público-alvo excluído digitalmente ainda é escassa [1] e, conseqüentemente, há pouca informação a respeito de como esse público, dentro da sua diversidade, entende, percebe e interage com sistemas computacionais.

Chorianopoulos e Spinellis [3] discutem a limitação de metodologias da engenharia de usabilidade tradicional para contextos que extrapolam o cenário bem comportado de escritório. Ainda, a grande maioria dos métodos de avaliação de interface e interação é oriunda de contextos de países desenvolvidos e está voltada para um público letrado, alfabetizado digitalmente e com familiaridade com o computador. Assim, entendemos que o paradigma tradicional de avaliação de interfaces de usuário, envolvendo eficiência e cumprimento de tarefas, pode não ser adequado e suficiente para avaliar o uso de sistemas computacionais por aqueles que não são familiarizados com o alfabeto digital.

Evidências empíricas obtidas por pesquisas nas áreas de Interação Humano-Computador e em Sistemas de Informação sugerem que a percepção da afetividade ou qualidade hedônica de uma interface tem impacto positivo na maneira como os usuários percebem a usabilidade de um sistema [7]. Especialmente, sistemas que despertam sentimentos positivos de afeto são mais regularmente utilizados, mais fáceis de aprender, influenciam escolhas futuras de compra e produzem resultados mais harmoniosos [8]. Neste trabalho, adaptamos um framework proposto para avaliar respostas emocionais de usuários de TV [3] para o contexto do cenário em questão, e aplicamos o método de avaliação gerado para investigar a qualidade afetiva da interação, conforme descrito a seguir.

Um Método de Avaliação da Qualidade Afetiva de Sistemas

Qualidade afetiva pode ser definida como o potencial de um objeto ou estímulo em causar mudanças no estado afetivo do sujeito. O método proposto baseia-se em Chorianopoulos e Spinellis [3], que propuseram e discutiram um framework para avaliação de interfaces de usuário para aplicações de TV interativa. Esses autores comparam a definição tradicional de usabilidade com a do acesso universal, que enfatiza a diversidade na população de usuários, no domínio de aplicação e no contexto de uso e propõem olhar o acesso universal como uma experiência afetiva inclusiva.

O framework original [3] tem base em Norman [6], que descreve três níveis distintos para mecanismos mentais: (1) o nível visceral, que seria a parte do cérebro que possibilita reação automática a estímulo externo, (2) o nível comportamental que contém os processos que controlam nosso comportamento cotidiano e (3) o nível reflexivo, que é a parte contemplativa do cérebro. Cada nível poderia ser associado a diferentes classes de construtos, que poderiam ser empregados para avaliar as diferenças entre respostas emocionais a alternativas de design de interfaces de usuário.

Como no original, a base do processo de avaliação é composta de três construtos (Estados de Sentimento, Engajamento e Gosto) relativos aos níveis de Norman para os mecanismos

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mentais. Como instrumentos de medida para esses construtos, estamos propondo o uso individual de SAM (Self Assessment Manikin), logs de sessões de interação e SAM-síntese (uso coletivo de SAM). A Figura 1 ilustra as bases do método.

SAM é um instrumento iconográfico utilizado na área de mídias para registrar respostas emocionais para uma variedade de estímulos, tais como experiências mediadas, produtos e serviços [5]. Nessa adaptação, o SAM foi utilizado em dois momentos: como instrumento de registro do estado de sentimento imediato individual; e em um segundo momento, como instrumento de registro da reflexão do grupo sobre a experiência interativa, que chamamos de SAM-síntese. Escolhemos o SAM, por se tratar de um instrumento de avaliação iconográfico, que não demanda leitura, mostrando-se adequado ao perfil dos usuários em questão.

Como medida das respostas comportamentais dos sujeitos em seu envolvimento com a aplicação – Engajamento –, utilizamos como instrumento os registros de interação com a aplicação (logs). Outros dados relevantes dos três níveis de respostas emocionais dos sujeitos também foram registrados em vídeo.

Aplicação do Método

Para a formação do grupo de participantes, foram convidadas pessoas entre jovens e adultos, de diversas classes sociais e diferentes graus de letramento e acesso a meios digitais, tentando manter as proporções as mais próximas possíveis dos dados estatísticos sócio-econômicos. Pessoas que não haviam tido contato com o computador anteriormente trabalharam em conjunto com outras que dominavam o seu uso, em atividades propostas para identificação de suas habilidades e da maneira como fazem sentido de serviços de governo na Web. Este grupo representativo do cenário brasileiro foi chamado de Cenário*[2] e as atividades foram realizadas em um Telecentro.

A dinâmica de avaliação foi iniciada com a projeção de dois vídeos de demonstração sobre os protótipos de sistemas de governo eletrônico que seriam avaliados: Cidadão-Saúde e Cidadão Aposentadoria. Os vídeos exibiam passo a passo como fazer uso dos recursos básicos dos protótipos, chamando visualmente e auditivamente a atenção para recursos da interface de usuário propostos para facilitar o acesso e a interação. Com isso, os

Figura 1 - Bases para avaliação da qualidade afetiva - adaptado de [3]

logs

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participantes, principalmente os digitalmente iletrados, obtiveram informações importantes para navegação pelas telas e elementos de interação existentes nos protótipos.

Em seguida, os participantes foram chamados a interagir livremente com os protótipos em grupos formados por 3 (ou 2) componentes cada, constituídos por meio de um sorteio. Os grupos ficaram em salas distintas, equipadas com notebook, webcam, mouse externo e caixa de som. Os grupos contaram com a mediação de um facilitador durante o encaminhamento de toda a atividade e exploraram durante aproximadamente 15 minutos cada um dos protótipos. Estas interações foram registradas em vídeo e também por um software de captura de tela (log). Ao fim do período de exploração livre, todos os grupos voltaram a se reunir em uma única sala, onde foi apresentado o instrumento de avaliação: SAM [5].

Para a captura dos estados de sentimento no nível visceral, cada participante recebeu um bloco com 12 SAM´s, um em cada página. Doze telas foram selecionadas para investigação de elementos de interface específicos. A cada tela projetada, os participantes marcavam com um ‘X’ a figura que melhor representava o seu sentimento imediato em relação à tela por três vezes (cada dimensão de estado de reação emocional: satisfação, motivação e sentimento de controle). Esta avaliação foi feita de maneira anônima e individual.

Como resultado, cada uma das 12 telas foi avaliada por 11 pessoas, que indicaram por meio das figuras a sua relação de afetividade, em um primeiro nível de resposta imediata (visceral), ao que lhe era apresentado.

Em seguida, o grupo todo foi dividido em grupos menores e a eles foi dada a tarefa de preparar uma demonstração sobre os sistemas. Dois grupos ficaram com o primeiro protótipo e outros dois grupos, com o segundo. Eles tiveram 30 minutos para investigar mais detalhadamente cada um dos sistemas e compartilhar suas opiniões e sentimentos. Toda interação dos grupos foi gravada e estes logs possibilitaram a análise no nível comportamental, denotando o grau de engajamento dos participantes.

A avaliação da resposta no nível reflexivo foi feita após esse período maior de contato e exploração do sistema. Após a demonstração dos grupos, foram distribuídos novos formulários com o SAM, desta vez para avaliação em grupos e os participantes puderam argumentar e negociar um julgamento comum antes de entregar o instrumento preenchido aos pesquisadores. Esta avaliação, realizada após um período de reflexão e discussão, mostrou o gosto consciente dos participantes em relação às interfaces, em oposição à avaliação visceral, que revelou a reação imediata dos participantes individualmente.

Découpage dos dados

Nível visceral: SAMs preenchidos individualmente

Com o intuito de classificar as telas evidenciando as de maior e menor aceitabilidade, tomamos as folhas de respostas e somamos os votos recebidos para cada tela analisada. A Figura 2 traz um exemplo com uma das doze telas avaliadas.

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Figura 2 - Exemplo de respostas compiladas

Para a tela do exemplo, dois participantes marcaram, em seus formulários SAM a primeira figura da primeira coluna (melhor nota para o grau de satisfação), um participante marcou a segunda, e assim por diante, de maneira que a soma dos votos de cada linha resultou em 11, o número total de participantes.

A mesma soma foi feita para todas as telas, considerando as 11 folhas de resposta. Aos votos, foram atribuídos pontos positivos (V+), negativos (V-) ou neutros (VN). A coluna central recebeu pontuação neutra. Para a primeira e segunda linhas, os votos marcados em uma imagem à direita da coluna central receberam pontos negativos. Com relação à terceira linha, o procedimento adotado foi o simétrico: as imagens à esquerda da coluna central é que receberam pontos negativos. Os votos marcados à esquerda da coluna central receberam pontos positivos (novamente, o simétrico foi feito para a última linha). Estes pontos foram somados e contabilizados em um resultado geral.

As três dimensões são igualmente importantes e foram consideradas com o mesmo peso para a classificação final. Somando-se os pontos obtidos, uma comparação pode ser feita entre votos positivos, neutros e negativos de cada categoria. Estes números fornecem uma boa indicação da reação ao objeto em análise como um todo, evidenciando a sua qualidade afetiva imediata.

A maneira adotada para contabilizar os pontos conta votos positivos e desconta votos negativos. Ou seja, a classificação das telas foi determinada pela soma dos votos positivos (obtidos nas 3 dimensões) menos a soma dos votos negativos nas três dimensões. A Tabela 1, a seguir, mostra a soma dos votos para a Tela 1.

Satisfação Motivação Domínio

V+ VN V- V+ VN V- V+ VN V-

8 1 2 6 3 2 4 5 2

Tabela 1 - Votos para a tela 1

Nível comportamental: números retirados dos logs

Para medir o nível de engajamento, foram analisadas as capturas de interação (logs) obtidas durante a fase de exploração livre e preparação para a exposição coletiva. Buscaram-se nos logs, fatores que pudessem demonstrar os níveis de atenção e interesse dos indivíduos. Assim, os seguintes critérios quantitativos foram utilizados: quantidade de telas visitadas por grupo, o tempo de interação de cada participante, quantidade de telas

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visitadas por cada participante.Esses dados coletados auxiliam no processo de levantamento de hipóteses discutido na próxima seção.

Nível reflexivo: SAMs preenchidos em grupos

Chamado de SAM-síntese, esta etapa revela o sentimento de "gostar/não gostar" dos grupos em relação ao objeto de estudo. Desta vez, os participantes preencheram o formulário após um período maior de contato com o artefato, apresentação coletiva e discussão, possibilitando uma maior reflexão sobre os elementos que compunham as telas. Preparar e fazer uma demonstração do uso do sistema permitiu aos grupos terem uma noção mais clara do nível de domínio que eles tinham em relação ao sistema. Esse quesito – domínio – pode estar relacionado à experiência dos sujeitos com o sistema, à sensação de acolhimento ou de familiaridade proporcionada pela interface ou ao grau de facilidade apresentado.

Os dois grupos que interagiram com o protótipo Cidadão-Saúde manifestaram pontuação máxima em termos de satisfação, pontuação positiva em relação à motivação, e neutralidade de um dos grupos e uma pontuação positiva em relação à dimensão domínio.

Um dos grupos que interagiu com o protótipo Cidadão-Aposentadoria manifestou pontuação positiva em termos da satisfação e motivação, com neutralidade no sentimento de domínio sobre o objeto. O outro grupo manifestou o sentimento de neutralidade em relação à satisfação, motivação e domínio.

Levantamento de Hipóteses

Com relação ao nível visceral e considerando o resultado do ranking das telas dos protótipos, foi feita uma análise classificando as telas em grupos que apresentavam proximidades na pontuação e características semelhantes. Um agrupamento como este permite evidenciar as características principais do objeto avaliado e, a partir dos elementos invariantes, levantar hipóteses sobre os fatores de sucesso - ou de insucesso - desse objeto. Foi possível observar, por exemplo, que as telas pertencentes ao grupo com menor pontuação eram aquelas com muito texto e pouco referencial iconográfico. Também apresentavam vários botões com funções diferenciadas (imprimir, concluir, onde obter).

Além disso, as telas com menor pontuação estavam relacionadas ao protótipo Cidadão-Aposentadoria, cujo conteúdo pode não ser de interesse imediato de todos, dos jovens em especial. Também, questões relacionadas ao uso de cores foram percebidas. Telas com maior contraste de cores nos botões e que permitiam maior visibilidade do conteúdo foram mais bem classificadas que outras com design semelhante, mas com botões com menor contraste de cor.

No nível comportamental, foi possível observar que a relação entre a quantidade de telas visitadas e o tempo de interação de cada participante foi diretamente proporcional à capacidade operacional de uso do mouse. Porém, as respostas positivas à relação de afetividade desses sujeitos com os protótipos sinalizam o potencial motivador para vencer as barreiras operacionais.

Durante a fase de apresentação dos grupos - atividade relacionada à avaliação no nível reflexivo - observamos que 3 dos 4 grupos foram bem sucedidos nas suas apresentações e demonstraram boa compreensão do domínio subjacente aos protótipos, via interação com os elementos de interface de usuário. Um dos grupos não conseguiu demonstrar a interação com o serviço e revelou extrema dificuldade operacional com o mouse, com a configuração

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do teclado e formato do notebook utilizado. Esse grupo evidenciou a barreira que o analfabetismo digital oferece e que precisa ser vencida no cenário real.

Os resultados obtidos no SAM-síntese refletem a observação dos grupos sobre a etapa de apresentação coletiva dos protótipos por seus pares, quando a dificuldade dos digitalmente iletrados ficou evidenciada. Para uma análise mais aprofundada seria importante considerar a curva de aprendizado de todos no uso do artefato em questão. Vale mencionar, ainda, que uma “exploração livre” realizada nos moldes propostos para a primeira etapa do processo exige mais do usuário com o perfil do nosso público do que uma “tarefa bem definida”. Também, a atividade de apresentação coletiva exige um nível de meta-cognição (reflexão sobre a reflexão) que, enquanto nos mostra aspectos da inteligibilidade dos sujeitos para o sistema, ao mesmo tempo acrescenta complexidade à atividade para esses sujeitos.

Conclusão

Em um contexto de exclusão digital, aspectos da afetividade do usuário com relação ao sistema podem ser determinantes da apropriação dessa tecnologia. Este artigo apresentou uma abordagem à avaliação que contempla questões relacionadas à qualidade afetiva de um sistema computacional voltado à inclusão digital, com um grupo representativo de usuários. A avaliação contemplou 03 níveis de respostas emocionais: visceral, comportamental e reflexivo e permitiu uma classificação de propostas de design e o levantamento de hipóteses relacionadas à qualidade afetiva das interfaces.

O método aqui apresentado é uma primeira aproximação à temática da avaliação da qualidade afetiva de interação especialmente no contexto considerado. Como tal, necessita ser ainda aprofundado e formalizado. Os resultados preliminares obtidos, entretanto, sugerem seu potencial para pesquisas na área do design socialmente responsável e no entendimento da relação dos usuários não alfabetizados digitalmente com a tecnologia. Trabalhos futuros incluem a aplicação do método em outros contextos de interação e estudos comparativos com resultados de outros instrumentos de avaliação.

Agradecimentos

Este trabalho é parcialmente financiado pela FAPESP (proc. nº. 2006/54747-6) e pelo FUNTTEL/CPqD, por meio do projeto STID. Os autores também agradecem aos colegas do NIED, InterHAD, CRJ/Casa Brasil, IC/UNICAMP e CPqD pelas discussões que contribuíram com o trabalho.

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Sumarização Automática para Simplificação de Textos: Experimentos e Lições Aprendidas

Paulo R. A. Margarido [email protected]

Thiago A. S. Pardo [email protected]

Sandra M. Aluísio [email protected]

Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional (NILC) Universidade de São Paulo São Carlos

Palavras-chave

Sumarização automática, simplificação textual

Resumo

Relata-se, neste trabalho, um experimento piloto de simplificação textual com pessoas com limitações de leitura, mais especificamente analfabetos funcionais. Para simplificar textos, nós utilizamos estratégias de sumarização automática para identificar e destacar partes importantes de um texto e gerar resumos. Demonstramos que cada técnica de simplificação tem efeitos diferentes sobre leitores de diversos níveis de letramento, mas todas auxiliam na compreensão de algum modo. Também relatamos algumas lições aprendidas.

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Introdução

Este trabalho é focado na tarefa de sumarização automática, tema de pesquisa da área de Processamento de Língua Natural (PLN). A sumarização consiste em gerar automaticamente o resumo (também chamado sumário) de um texto.

Neste trabalho, a sumarização é realizada com fins de simplificação textual, tanto para pessoas com baixo nível de alfabetização [1] e pessoas com disfunções cognitivas (devido a doenças ou lesões cerebrais) quanto para outras operações automáticas (como recuperação e extração de informações).

Primeiramente, foram conduzidos alguns experimentos para determinar a capacidade de diversos métodos de sumarização de identificar a idéia principal de um texto e de gerar bons sumários. Com estes dados em mãos, foi feito um experimento piloto para avaliar o impacto da sumarização na tarefa de simplificação com leitores de diversos níveis de letramento. Várias estratégias de apresentação dos dados obtidos durante a sumarização foram testadas.

EXPERIMENTOS

Seleção de métodos de sumarização

Para encontrar um método ideal de sumarização automática, diversos métodos foram implementados e comparados. Alguns destes métodos são clássicos na área e alguns fornecem ótimos resultados para o português do Brasil. Todos os sistemas avaliados realizam sumarização extrativa, isto é, o resumo é composto por sentenças que já existem no texto original e são extraídas na íntegra para formar o resumo. Esta técnica é dominante em métodos para o português do Brasil. A seguir há uma breve descrição dos métodos investigados.

Métodos baseados em extração de palavras-chave

Os métodos de sumarização baseados em palavras-chave são os mais antigos e foram usados abundantemente desde seu desenvolvimento, devido a sua facilidade de implementação e uso.

Os métodos selecionados para representar esta classe são apresentados em [3] e são bastante simples: dado um texto e seu respectivo conjunto de palavras-chave, qualquer sentença pertencente ao texto que contenha pelo menos uma das palavras-chave fará parte do sumário gerado.

Inicialmente, dois algoritmos de extração de palavras-chave foram utilizados [4], denominados EPC-P (Extração de Palavras-Chave por Padrão) e EPC-R (Extração de Palavras-Chave por freqüência de Radicais). O EPC-P procura no texto por construções do tipo <Nome> ou <Nome+Preposição+Nome>, assim como suas versões adjetivadas, e elege essas ocorrências como palavras-chave. O EPC-R procura no texto pelos radicais mais freqüentes, atribuindo peso maior a grupos de radicais que ocorrem no início ou no final do texto, e atribui peso maior a grupos maiores (até 3 radicais adjacentes), sendo que os radicais mais freqüentes são considerados palavras-chave.

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Além destes, dois novos métodos foram implementados com base nestes dois: antes de gerar o resumo, o número de palavras-chave presente em cada sentença é computado e as sentenças são então ordenadas; o resumo é gerado pela seleção das sentenças mais bem ranqueadas. Estes métodos serão chamados EPC-P2 e EPC-R2.

Métodos baseados em identificação de Gist

Outro sistema que foi testado é o GistSumm [5], que cria um sumário baseado em uma sentença principal, chamada Gist Sentence. Este método foi um dos primeiros a serem implementados para o português, tendo a maior precisão (em termos das medidas tradicionais de precisão e cobertura) conhecida para esta língua [2].

O algoritmo calcula a freqüência de cada radical no texto, e então calcula o peso de cada sentença, que é a soma das freqüências dos stems que as compõem. A sentença de maior peso é a Gist Sentence. Em seguida, qualquer sentença que tenha um radical em comum com a Gist Sentence e que tenha um peso acima de um threshold empírico também fará parte do sumário.

Métodos baseados em aprendizado de máquina

O método SuPor-2 [7] é baseado em uma abordagem Naïve-Bayes É atualmente o melhor sumárizador para o português brasileiro [2][6].

Seu algoritmo se baseia em diversas características para ordenar as sentenças. Algumas características já são bem conhecidas na área, como tamanho e posição de sentenças, presença de frases importantes, entre outras, e algumas características mais complexas.

Métodos baseline

Como foi feita uma comparação de diversos métodos, é importante que se tivesse uma base para comparações. Então foi implementado um sistema baseline forte (para o gênero jornalístico, principalmente) que seleciona as primeiras sentenças de um texto, e um baseline fraco, que seleciona sentenças aleatoriamente.

Avaliação dos métodos de sumarização

Uma vez que todos os métodos foram implementados/coletados, foram realizados três experimentos.

O primeiro experimento consistiu em determinar a capacidade de cada método em selecionar a sentença mais importante de um texto. Para isso, foi utilizado um corpus (conjunto de textos) de 187 textos, obtidos do jornal Folha de São Paulo, para verificar a porcentagem de sucesso de cada método. Presume-se que, uma vez que se trata de textos jornalísticos, a primeira sentença será a mais importante. Assim, foi gerado um sumário de uma sentença para cada texto e se verificou se o sumário consistia na primeira sentença. Os resultados estão dispostos na Tabela 1. Pode-se verificar que o EPC-P e o Primeiras Sentenças têm ótimos resultados, mas é importante notar que o Primeira Sentenças é extremamente dependente de gênero.

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Método Precisão Precisão manual

ROUGE

EPC-P 89% 85% 0.4722 EPC-P2 58% 60% 0.4640 EPC-R 60% 60% 0.4736 EPC-R2 39% 35% 0.4655

GistSumm 46% 50% 0.4185 SuPor-2 75% 85% 0.5839

TextRank 39% 50% 0.5426 TextRank+Thesaurus 27% 35% 0.5603 Primeiras Sentenças 96% 90% 0.4369

Aleatório 30% 25% 0.3121

Tabela 1. Performance dos métodos de sumarização

Para ter certeza que este resultado não é uma coincidência, foi feita uma verificação manual sobre uma amostra aleatória de 20 textos. Estes resultados também se encontram na Tabela 1. Neste caso, o EPC-P e o SuPor-2 se destacam, enquanto os outros métodos obtêm resultados mais limitados.

No entanto, também é importante que o método escolhido seja capaz de criar sumários informativos. Para verificar esta capacidade, foi utilizado um conjunto de métricas conhecidas como ROUGE [10], que compara um sumário automático com um sumário gerado por um humano, atribuindo-lhe uma nota entre 0 e 1. Foi utilizado um corpus diferente neste experimento, chamado TeMário [11], que consiste em 100 textos do jornal Folha de São Paulo de vários anos e seus respectivos sumários humanos. Foram utilizados sumários com 70% de compressão (ou seja, sumários com no máximo 30% do tamanho original). Neste quesito, os métodos SuPor-2 e as duas versões do TextRank se saíram melhor, enquanto os outros métodos são semelhantes.

Após esta análise, é necessário determinar qual método será usado no sistema de simplificação. Para tanto, alguns critérios foram levados em conta: (i) os resultados para seleção de sentenças principais, (ii) a nota ROUGE do algoritmo, (iii) a disponibilidade do sistema, (iv) quão fácil o sistema é de se utilizar.

Pelos critérios, temos: (i) a melhor escolha é o EPC-P; (ii) o SuPor-2 é o melhor, mas o EPC-P tem um bom desempenho; (iii) e (iv) o SuPor-2 é o pior de todos, pois é um sistema grande e complexo. Com isso, o EPC-P foi escolhido para os experimentos seguintes.

Experimento piloto com usuários reais

Uma vez que o módulo de sumarização estava completo, foi realizado um experimento com usuários de diferentes níveis de escolaridade.

Três estratégias de apresentação dos sumários foram testadas: mostrar apenas o sumário, mostrar a sentença principal em destaque no texto e mostrar o texto com o sumário em destaque.

Foram selecionados dois textos: um sobre um apresentador americano que morreu e um sobre problemas de fronteira entre Israel e Jordânia. O primeiro texto é naturalmente simples e acessível, enquanto o segundo é mais complexo pela própria natureza do

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assunto. Foram gerados sumários com 70% de compressão dos dois. É importante dizer que foram escolhidos textos cujos sumários foram considerados bons.

O experimento foi realizado com 19 sujeitos: 3 tinham até 2 anos de estudo; 5 tinham até 5 anos de estudo e estão no nível de letramento focado pelo sistema de simplificação (ou seja, são considerados analfabetos funcionais); 6 tinham até 8 anos de estudo e 5 tinham 10 ou mais anos de estudo. Os sujeitos foram selecionados por uma ficha que preencheram com seus dados básicos, como nome, idade, se tinham ou não alguma deficiência visual, nível de escolaridade, etc. O fato de ter alguma deficiência visual pode atrapalhar a realização do experimento, já que o mesmo se baseia em leitura e escrita. Nenhum sujeito do experimento apresentou deficiência visual.

O experimento foi planejado de modo que ao menos um usuário de cada faixa recebesse uma das estratégias de apresentação. Cada pessoa recebeu dois pares de textos, cada par contendo um texto original e sua versão simplificada. A versão simplificada poderia ser o sumário de 70%, o texto com as sentenças do sumário de 70% em negrito, ou o texto com sua sentença principal (proveniente do sumário de uma sentença) em negrito. Após ler cada par de textos, a pessoa teve que preencher um formulário (em papel) respondendo questões de múltipla escolha (opções de 'sim' ou 'não'): se cada texto foi difícil de ler, se a leitura de cada texto foi cansativa, e se a pessoa compreendeu o texto. Se a resposta fosse 'sim' para a última questão para algum texto, a pessoa deveria escrever algumas linhas (até 5) dizendo qual era a idéia principal do texto. Finalmente, após ler os dois textos do grupo e responder às perguntas acima para cada uma, a pessoa deveria dizer (por questões de múltipla escolha) qual texto foi mais difícil de ler, qual foi mais cansativo de se ler e qual foi mais fácil de entender.

Para realizar a avaliação, foram distribuímos os pares aos sujeitos de modo que cada par de textos tivesse a mesma quantidade de julgamentos e fosse julgado por pessoas de todos os níveis de escolaridade. O experimento foi conduzido em um laboratório de computadores. Decidiu-se fazê-lo usando computadores (em vez de usar papel) para simular a situação real em que a simplificação textual será realizada. A interface para acessar os textos foi desenvolvida por pesquisadores de Interação Humano-Computador, sendo uma interface muito simples e intuitiva. O usuário tinha o texto exibido em um browser e um botão para ir ao próximo texto (simplificado). Tomou-se o cuidado de se apresentar os textos com fonte de tamanho razoavelmente grande (para evitar que pessoas com deficiências visuais tivessem problemas) e evitando-se o uso da barra de rolagem (pois isso já exige um grau adicional de conhecimento sobre o uso de computador).

Como exemplo das interfaces, as Figuras 1 e 2 exibem interfaces com um texto original e sua versão com as sentenças principais em destaque.

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Figura 1. Interface com texto original

Figura 2. Interface com texto com sentenças principais em destaque

Antes de se executar o experimento, uma demonstração foi realizada com o intuito de se sanar possíveis dúvidas. O experimento tomou quase 40 minutos para ser conduzido (com todas as pessoas trabalhando em paralelo) e contou com diversos especialistas em computação para auxiliar às pessoas que não soubessem como usar um computador.

Das pessoas que tinham até 2 anos de estudo, 2 não conseguiram terminar o experimento: uma não podia ler e uma se cansou demasiadamente após ler o primeiro par de textos. A única pessoa que terminou o experimento considerou que as simplificações não ajudaram em nada.

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Sobre as pessoas com até 5 anos de estudo: 66% consideraram que o sumário foi mais fácil de entender; 100% consideraram que o texto original e o texto com as sentenças importantes em negrito foram igualmente inteligíveis; e 60% consideraram que o texto com a sentença principal em negrito foi mais difícil de entender. Estes resultados indicam que o sumário ajuda, mas que a informação em negrito não ajuda. Nossa hipótese para este fato é que a informação destacada é mais uma informação a ser processada, o que, para essas pessoas, pode ser uma carga extra em sua memória de trabalho.

Sobre as pessoas com até 8 anos de estudo: 100% consideraram ler o sumário menos cansativo, mas ambos o texto original e o sumário igualmente inteligíveis; 75% consideraram que o texto com as sentenças importantes em negrito foram mais fáceis de entender; e 60% consideraram o texto com a sentença principal em destaque mais difícil de entender.

Sobre as pessoas com mais de 10 anos de estudo: 57% consideraram o texto mais fácil de entender do que o sumário, mas o sumário menos cansativo de ler; 100% consideraram o texto original mais fácil de entender do que o texto com todas as sentenças importantes em negrito; 80% consideraram o texto com a sentença principal em negrito mais fácil de entender.

Os resultados são interessantes, pois demonstram que a sumarização auxilia pessoas de diferentes níveis de escolaridade de diferentes modos: para pessoas com 2 anos de estudo, a simplificação foi irrelevante; textos mais curtos ajudam mais pessoas com 5 anos de estudo; para pessoas com 8 anos de estudo, o sumário em destaque ajuda; e apenas a sentença principal ajuda pessoas com 10 anos de estudo.

Várias lições puderam ser tiradas do experimento conduzido, lições estas que deverão guiar a realização de experimentos futuros na área.

Apesar dos resultados obtidos, acreditamos que um experimento maior, com mais sujeitos, deva ser realizado para confirmar as hipóteses levantadas. Em particular, o experimento deverá ser realizado com analfabetos funcionais, ou seja, pessoas com 4 ou 5 anos de estudo. Pensa-se em procurar sujeitos em programas de alfabetização de adultos, programas estes que em geral são mantidos pelos governos municipais.

A inclusão de pessoas com menor grau de escolaridade não foi proveitosa para o experimento. Tais sujeitos não foram capazes de terminar o experimento e, para preencher a ficha de seleção do experimento, pediram auxílio a colegas, pois se sentiram constrangidos em dizer que não podiam ler e escrever no nível mínimo pedido.

Uma questão importante que foi levantada pelo experimento piloto aqui relatado é a adequação do uso da tecnologia de simplificação para usuários com grandes dificuldades no manuseio de computadores. A questão central é se a tecnologia seria de fato utilizada no futuro, dada a falta de habilidade com computadores das pessoas que necessitariam de tal recurso. Interfaces ubíquas parecem ser a solução natural para isso, mas esta realidade é ainda muito distante dos usuários comuns visualizados para esta pesquisa.

Outra questão interessante na condução de futuros experimentos tem relação com o tipo de texto lido/julgado. Textos jornalísticos são fontes de conhecimento e de atualização para a maioria das pessoas, mas muitas vezes não são de fato necessários para analfabetos funcionais, o que pode causar certo desinteresse na realização dos experimentos. Por outro lado, textos instrucionais podem ser recursos importantes que despertem interesse nos usuários pretendidos. Por exemplo, texto com instruções para se obter um documento ou se

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chegar a um local. Nesta linha, a adequação da tecnologia proposta poderia ser medida diretamente pelo sucesso do usuário em realizar ou não a tarefa que pretende.

Futuramente, pretende-se investigar outras técnicas de sumarização aplicadas à simplificação. Por exemplo, outras estratégias consistem em adicionar um subtítulo significativo para cada parágrafo de um texto, remover informações redundantes e de senso comum de um texto (o que produz um texto mais curto, mas não necessariamente o que se chamaria de resumo), adicionar highlights ao texto , isto é, sentenças que expressam os fatos principais do texto, mas que não são coesas e coerentes de modo a formar o resumo, etc.

CONCLUSÃO

Estes experimentos constituem passos iniciais para um sistema de simplificação automática de textos para o português do Brasil. Até onde se sabe, esta é a primeira iniciativa nesse sentido. O projeto em que este trabalho se insere, chamado PorSimples (Simplificação Textual do Português para Inclusão e Acessibilidade Digital), visa produzir sistemas tanto para o escritor que escreve seu texto quanto para o usuário final.

Além do módulo de sumarização, as ferramentas produzidas pelo projeto PorSimples também incluirão módulos de simplificação, propriamente dita, e de explicitação da estrutura textual. O módulo de simplificação realizará transformações léxicas e sintáticas no texto, de forma a torná-lo mais inteligível. O módulo de explicitação da estrutura textual visa adicionar marcadores discursivos no texto, tornando-o mais coesivo, portanto, e indicar ao usuário o relacionamento entre as partes do texto (por exemplo, relações de causa-efeito e contraste).

Mais detalhes sobre o projeto PorSimples podem ser obtidos tanto em [12], [13], [14] e [15] quanto na página oficial do projeto: caravelas.icmc.usp.br/wiki/index.php/Principal

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi possível graças ao apoio da FAPESP e da Microsoft Research (MSR). Além disso, agradecemos aos demais membros do projeto pelo auxílio ao desenvolvimento e aplicação dos experimentos relatados.

Referências [1] Ribeiro, V. M.: Analfabetismo e alfabetismo funcional no Brasil. Boletim INAF. São Paulo:

Instituto Paulo Montenegro (2006).

[2] Rino, L.H.M., Pardo, T.A.S., Silla Jr., C.N., Kaestner, C.A., Pombo, M.: A Comparison of Automatic Summarization Systems for Brazilian Portuguese Texts. SBIA 2004, LNAI, vol. 3171, pp. 235-244. Springer, Heidelberg (2004).

[3] Souza, C.F.R., Nunes, M.G.V.: Avaliação de Algoritmos de Sumarização Extrativa de Textos em Português. Relatório Técnico do ICMC-USP. NILC-TR-01-09 (2001).

[4] Pereira, M.B., Souza, C.F.R., Nunes, M.G.V.: Implementação, Avaliação e Validação de Algoritmos de Extração de Palavras-Chave de Textos Científicos em Português. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Ano II, Volume II, Número I (2002).

[5] Pardo, T.A.S., Rino, L.H.M., Nunes, M.G.V.: GistSumm: A Summarization Tool Based on a New Extractive Method. In N.J. Mamede, J. Baptista, I. Trancoso, M.G.V. Nunes (eds.), 6th Workshop on Computational Processing of the Portuguese Language - Written and Spoken - PROPOR (Lecture Notes in Artificial Intelligence 2721), pp. 210-218 (2003).

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[6] Leite, D.S., Rino, L.H.M., Pardo, T.A.S., Nunes, M.G.V.: Extractive Automatic Summarization: Does more linguistic knowledge make a difference? In C. Biemann, I. Matveeva, R. Mihalcea, and D. Radev (eds.), Proceedings of the HLT/NAACL Workshop on TextGraphs-2: Graph-Based Algorithms for Natural Language Processing, pp.17-24 (2007).

[7] Leite, D.S., Rino, L.H.M.: Selecting a Feature Set to Summarize Texts in Brazilian Portuguese. In J. S. Sichman et al. (eds.), Proceedings of 18th Brazilian Symposium on Artificial Intelligence (SBIA’06) and 10th Ibero-American Artificial Intelligence Conference (IB- ERAMIA’06). Lecture Notes on Artificial Intelligence, No. 4140, Springer-Verlag, pp. 462-471 (2006).

[8] Mihalcea, R., Tarau, P.: TextRank: Bringing Order into Texts. In Proceedings of the Conference on Empirical Methods in Natural Language Processing (2004).

[9] Brin, S., Page, L.: The anatomy of a large-scale hypertextual Web search engine. Computer Networks and ISDN Systems 30, pp. 1-7 (1998) Webengine.

[10] Lin, C., Hovy, E.H.: Automatic Evaluation of Summaries Using N-gram Co-occurrence Statistics. In Proceedings of Language Technology Conference (2003).

[11] Pardo, T.A.S., Rino, L.H.M.: TeMário: Um Corpus para Sumarização Automática de Textos. NILC Tech. Report NILC-TR-03-09 (2003).

[12] Aluísio, S.M., Specia, L., Pardo, T.A.S., Maziero, E.G., Caseli, H.M., Fortes, R.P.M.: A Corpus Analysis of Simple Account Texts and the Proposal of Simplification Strategies: First Steps towards Text Simplification Systems. In Proceedings of the 26th ACM International Conference on Design of Communication - SIGDOC. Lisboa, Portugal. September, 22-24. (2008).

[13] Aluísio, S.M.; Specia, L.; Pardo, T.A.S.; Maziero, E.G.; Fortes, R.P.M.: Towards Brazilian Portuguese Automatic Text Simplification Systems. In Proceedings of the 8th ACM Symposium on Document Engineering - DocEng, pp. 240-248. São Paulo-SP, Brazil. September, 16-19. (2008).

[14] Specia, L.; Aluísio, S.M.; Pardo, T.A.S.: Manual de Simplificação Sintática para o Português. Série de Relatórios do NILC. NILC-TR-08-06. São Carlos-SP, Junho, 27p. (2008).

[15] Maziero, E.G.; Pardo, T.A.S.; Aluísio, S.M.: Ferramenta de Análise Automática de Inteligibilidade de Córpus (AIC). Série de Relatórios Técnicos do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, USP, no. 328. São Carlos-SP, Julho, 14p. (2008).