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Resumo do texto da ética paulina
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José Cláudio Nunes Medeiros
São Paulo
2014
RESUMO DE LEITURA:
“Ética em Paulo”
RESUMO DE LEITURA:
“Ética em Paulo”
Resumo de leitura apresentado como requisito Parcial para obtenção de nota na Disciplina ÉTICA APLICADA E BIOÉTICA no curso de m Integralização de Créditos Livre em Teologia da Faculdade Teológica Batista de São Paulo.
Professor: Lourenço Stelio Rega
1. DADOS BIBLIOGRÁFICOS COMPLETOS DA OBRA:
REGA, Lourenço Stelio. “Ética em Paulo” in: REGA, Lourenço Stelio (org.).
Paulo e sua teologia. São Paulo: Vida, 2009. Pgs. 53-74, 358, 359.
2.RESUMO:
A Leitura do texto analisado trata da visão paulina da questão ética desde a
queda do homem até a sua redenção, as distinções dos parâmetros éticos
equivocados do salvacionismo tendo como norte a cruz em total confronto com a
ética redencionista, capitaneada pela ressurreição de Cristo, e o referencial
teológico com base na nova criatura da geração do último Adão, em oposição ao
velho homem representado pelo primeiro Adão, sendo o primeiro heteronômico
inclusivista e o último autônomo exclusivista, demonstrando a intenção de Paulo em
estabelecer princípios com base na graça divina e na ação do Espírito Santo como
motivadores do novo homem transformado e renovado na sua mente sem qualquer
legalismo, mas amparado pela ética da livre escolha do cristão sem temor do inferno
e sim pela plena liberdade que a graça e o dom do Espirito alça a nova criatura em
Cristo.
O autor inicia seu texto aclarando a análise paulina em suas epístolas, sobre a
queda humana não como um fato isolado no édem, mas de proporção generalística,
cuja natureza não é apenas teológica, mas essencialmente ética, pois como Adão
e Eva eram desconhecedores do bem e do mal no estado de inocência, dependiam
de um referencial externo para suas escolhas e decisões, mal que acomete a
humanidade até hoje sem negar o livre arbítrio. Assim, como o homem foi criado
para total dependência do criador, porém com o dom da livre escolha, escolheu sua
independência e com isso perdeu seu referencial e a essência da glorificação e
adoração a Deus.
Com este foco na adoração (prostração e reconhecimento) o Apóstolo Paulo
centraliza toda a sua doutrina e ensino ético no próprio Deus, enquanto que na
prática na maior parte das igrejas cristãs no Brasil, o aspecto principal não é Deus,
mas apenas a soteriologia, que é o aspecto salvacionista.
Com isto, há uma mudança de foco da visão paulina, cujo objetivo é uma nova
vida em Cristo agora substituída pela doutrina salvacionista pelo aspecto prático:
medo da pena do fogo do inferno.
No entanto, Paulo esclarece em todos os seus textos que o cerne do
evangelho não é a Cruz de Cristo, mas a ressurreição cujo objetivo é o de
restabelecer os valores perdidos na queda, qual seja, a total dependência do criador
em oposição a atual conjuntura e cosmovisão contemporânea que nutre uma ética
pautada no egocentrismo, e por conseguinte a doutrina da salvação atualmente é
erroneamente colocada como finalidade última com base apenas em um
antropocentrismo que busca apenas os interesses humanos (fugir do fogo do
inferno).
O autor faz um paralelo entre as duas visões e os resultados teológicos
e éticos de ambas, de um lado a visão salvacionista cuja cosmovisão é
antropocêntrica é baseada na cruz de Cristo e no primeiro homem (adão) e a
geração do gênero humano autônomo e a segunda é Teocêntrica e baseia-se na
pedra removida, na ressurreição e no último homem (Jesus Cristo) e a geração das
novas criaturas heterônomas. Esta última visão ética que sublinha todos os aspectos
da teologia paulina, não situa a salvação como ponto principal na escala de
prioridades, sendo a evangelização dos povos e as missões os pontos fortes do
salvacionismo apenas como objetivo da libertação do inferno e ir para o céu, pelo
contrário, a ética da teologia paulina e sua visão de reino é de restabelecer toda a
vida humana à dependência total a Deus e convergindo tudo em Cristo, ponto último
do cristianismo essencial e verdadeiro.
Os destaques da teologia e da ética paulinas centralizam-se na
adoração privada e individual e não na pública e comunitária, em total oposição ao
pensamento teológico judaico que é interpretativo e legalista e na obediência cega
aos rituais mosaicos. Este conceito paulino se verifica com maior visibilidade na
divisão do livro de Romanos, que do cap. 1 ao 11 trata do evangelho propriamente
dito ao passo que no cap. 12 em diante trata da prática e resultado do evangelho na
vida humana, qual seja, do “viver em Cristo” e não mais “viver para si mesmo”,
transformador por excelência do ser humano adâmico na nova criatura cristã. Com
essa transformação da dependência total em Cristo, se retorna a uma nova
autonomia e liberdade em Cristo, não se questionando agora o que é certo ou
errado, apenas com a visão legalista como o faziam os judeus, mas agora sobre o
pilar da conveniência; ou é conveniente ou inconveniente certas atitudes cristãs e
sobre tais pauta-se o viver cristão. Aqui o autor centraliza seu tema: “trata-se de
uma abordagem ética paradoxal em que a autonomia é abandonada em favor de
uma teo-heteronomia, retornando voluntariamente a uma autonomia gerenciada”,
restringida pela autonomia alheia, que a denomina de mordomia. Aliás, tal
transformação só se deve à graça capacitadora de Cristo e na ação direta
mobilizadora do Espírito Santo, não tendo o ser humano qualquer tipo de
capacidade para tal mister por sí só, em razão da necessidade de renovação da
mente, a “mente de Cristo”, que altera os padrões de conduta, não sendo o pecado
apenas uma desobediência a um código de conduta, mas uma opção e escolha e
não de dever, e sendo a meditação na palavra de Deus como fonte de conduta e
conhecimento da boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Com essa alteração do padrão mental o cristão não pensa
individualmente, mas socialmente, de forma inclusiva e respeitando o pensamento
alheio, tornando a máxima de Cristo, do amor a Deus sobretudo e ao próximo como
a si mesmo, como plataforma cristã. Este segundo mandamento é muito explorado
por Paulo no campo social ético cristão, na medida em que a intensidade é a mesma
do amor próprio, que deve ser com equilíbrio sem distorções de inferioridade ou
superioridade, koinônica ou seja, comunitária e baseada no amor ágape, com
imperativos de reciprocidade.
Neste diapasão o autor então questiona a ética cultural e social
contemporânea em confronto com a ética bíblica e o possível surgimento de
situações críticas fronteiriças como resultado, o que às vezes deixa o cristão num
dilema, trazendo muitas vezes uma ética ou moral de duplo efeito. Com isto, Paulo
em suas epístolas teve que tratar de assuntos de difícil solução e confrontantes, tais
como incesto, poligamia e o dilema da escravidão. No primeiro caso determinou o
Apóstolo a expulsão do incestuoso, no segundo como era uma questão socialmente
aceitável na época, ele tratou de definir critérios para a escolha dos líderes como
sendo esposos monogâmicos e o terceiro ele tratou com parcimônia, considerando
que havia dois de seus amigos envolvidos (Onésimo e Filemon).
A questão da interpretação de “marido de uma só mulher” é
questionada por teólogos, que interpretam de várias formas, uns entendem que se
trata de digamia, que é o casamento após a viuvez, e que não é a melhor exegese
para o contexto. Outros entendem que se trata da “fidelidade e lealdade a uma só
esposa” e outros de que diz respeito a “num só tempo”. Contudo, se deduz que o
que o Apóstolo Paulo objetivava era um ideal ético da monogamia, como um modelo
a ser seguido pelas futuras gerações.
A escravidão também naquela época apostólica, apesar de tolerada,
não tinha lugar dentro do novo contexto do nascedouro do cristianismo, pois para
Deus todos são iguais entre si, sem distinção de pessoas, pois até mesmo a lei
mosaica protegia o escravo que não poderia ser escravizado por toda a vida, mas
no ano do jubileu todos deveriam ser libertados. Assim o padrão ético era a
liberdade, todavia em se tolerando a situação escravagista, Paulo adverte a forma
pela qual tal modo deveria ser utilizado: os servos deveriam obedecer seus
senhores como a Cristo e estes deveriam tratar seus serviçais com justiça e
equidade.
Havia assim um conflito entre os ideais éticos e a realidade moral vivida
na época em que a conduta provisória era alçada a uma atitude dinâmica
ascendente, elevando de um nível ético inferior até outro superior.
Por fim, conclui o autor que o Apóstolo Paulo se defrontou com
inúmeros questionamentos éticos e para solucionar tais impasse, não estabeleceu
um manual normativo, nem interpretou tais normas, mas baseou-se em princípios
que buscassem a vontade de Deus com fincas na Graça de Cristo e na ação do
Espirito Santo na vida do cristão. Preferiu a liberdade cristã ao legalismo e
demonstrou que há uma escolha a ser realizada de uma vida espiritual ou carnal
tendo como fiel da balança o amor que equilibra os pesos da consciência e da
vontade própria e a consciência do próximo, em uma ética libertária inclusiva.
De todos os pormenores deste texto, o que mais chama a atenção é a
releitura que o autor faz do pensamento paulino sob um ângulo totalmente inverso
do cotidiano evangelical tradicional, posto que o sistema interpretativo cotidiano bem
como as chaves hermenêuticas e as leituras éticas normativas hodiernas são
baseadas na cruz de Cristo e não em sua ressurreição trazendo ao cristão uma
visão salvacionista baseada em recompensa por puro interesse exclusivista da
libertação do inferno tendo a salvação como único objetivo, esquecendo-se de que a
vida cristã é muito mais do que apenas a salvação eterna nos céus. Esta visão do
autor faz lembrar de um poema antigo que diz: “SE EU TE ADORAR POR MEDO
DO INFERNO, QUEIMA-ME NO INFERNO, SE EU TE ADORAR PELO PARAÍSO,
EXCLUA-ME DO PARAÍSO, MAS SE EU TE ADORAR PELO QUE TU ÉS, NÃO
ESCONDA DE MIM A TUA FACE!” (Rabia, 800 d.C.)
No meu ministério essa nova visão demonstrada pelo autor influenciou
de forma profunda, uma vez que esta visão ética baseada na ressurreição e
inclusivista em oposição ao exclusivismo e legalismo me deu maiores argumentos e
fortalecimento para o ensino do que é verdadeiramente a liberdade cristã.