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um breve resumo do livro doa-se lindos filhotes de poodle, esse ótimo livro que fala sobre preconceito linguístico.
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Doa-se Lindos Filhotes de Poodle; Variação Linguística, Mídia e Preconceito
Um livro de Maria Marta Pereira Scherre. Como o próprio titulo sugere, ela fala sobre
o preconceito linguístico, como que a língua não é somente um instrumento de
comunicação, como que a mídia tem uma participação de grande influência na
propagação deste preconceito. Marta acredita que preconceito linguístico deveria ser
tratado como preconceito étnico e religioso, e deveria existir uma lei contra este tipo
de preconceito, ou que, ao menos, a mídia não colaborasse nesta disseminação
preconceituosa.
Para muitas pessoas a língua é um instrumento de comunicação, o que de fato é,
porém, para ela é algo muito mais do que isso: “ As línguas humanas são, em
verdade, mais do que instrumentos de comunicação. São, também, reflexo da
cultura de um poco. São, além disso, parte da cultura de um povo. São ainda mais
do que isto: são mecanismos de identidade. Um povo se individualiza, se afirma e é
identificado em função de sua língua”. Como podemos ver para Marta a língua é um
representante de cultura, assim sendo deve ser respeitada.
Neste livro Marta cita vários “erros” de concordância verbal que revistas e jornais,
mesmo tendo pessoas para revisarem o texto, cometem. Ela também revela
números de pesquisas onde diversos falantes da língua portuguesa supostamente
“erram” ao falar alguma frase. Muitos gramáticos pensam que na linguística não
existe erro, ledo engano, existe sim, só que diferente do erro gramático. Como no
exemplo, uma frase perfeitamente compreensível “mim perder meu caneta” está
errado no sentido de: “ Se uma construção não está conforme às regras intuitivas ou
naturais de um determinado sistema linguístico, a construção não faz parte da língua
em questão, e neste sentido, é considerada errada”.
Marta assim como Marcos Bagno deixa claro que gramática e língua não são a
mesma coisa, a gramática é uma representação de diversos níveis de línguas
faladas pela elite, todos fundamentados em textos escritos por pessoas de ibope
que é a compilação da linguagem falada ou escrita dos que representam o poder
social, politico e econômico. O melhor argumento para esta ideia é que a língua se
adquire e a gramática sim se aprende com muitos exercícios e muito esforço. Em
síntese a língua materna se adquire com o convívio na sociedade, a gramática não.
A mídia tem uma grande parte na difusão do preconceito linguístico quando não
respeita as variedades linguísticas existentes. “ Diferença não é deficiência nem
inferioridade” (BAGNO, 2007). “Não existem línguas ou culturas pobres. Existem,
sim, línguas e dialetos diferentes, igualmente complexos e sistemáticos, bem como
culturas diferentes cada um ou cada uma com suas particularidades. A ideia
naturalizada da superioridade linguística ou da superioridade cultural não resiste a a
qualquer análise científica”. Com isso em mente, quais são as intenções de jornais,
como o Correio Brasiliense, e revistas como Veja, ao publicarem artigos como “Falar
e Escrever Bem”, “Pancadaria ao Som de Vivaldi”? A única intenção é a de difundir e
ensinar a marca gramatical predominante dos grupos sociais de prestígio, e o pior
de tudo, fazem isso desrespeitando a norma não prestigiada.
A conclusão que se pode tirar deste livro é que a língua muito mais que um mero
instrumento de comunicação é também cultura e por isso deve-se respeitar todas
representações culturais. Não só isso, a noção de erro é relativa, o que é erro pra
você não é pra mim. “Certo é tudo o que está conforme às regras ou princípios de de
um determinado grupo dentro dos limites do próprio grupo”. Assim sendo, dentro dos
limites determinados por um grupo, falar “nor vai” pode está certo, pois o grupo ou a
sociedade determinou isso, e para o meu grupo ou minha sociedade está errado.
A ideia mais importante do livro é que gramática não é língua. Isso fica muito mais
fácil de se perceber quando compreendemos que a língua se adquire simplesmente
com o convívio em sociedade, logo, como podemos ensinar português ao aluno que
chega na escola? Não se pode ensinar algo que já se sabe, portanto ao irmos à
escola não aprendemos a língua portuguesa, aprendemos sim algo diferente, a
gramática normativa, e é essa confusão entre a gramática normativa e língua que
gera todo preconceito linguístico.
Silva, André. Doa-se Lindos Filhotes de Poodle; Variação Linguística, Mídia e
Preconceito. São Paulo, Parábola, 2008.