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O PRAGMATISMO NO SERVIÇO SOCIAL: reflexões sobre teoria e prática do Assistente Social. Lilian de Souza Ribeiro 1 RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar o pragmatismo no Serviço Social fazendo um retorno histórico sobre o curso e suas influencias para a profissão na atualidade, buscando reflexões sobre a teoria e a prática profissional do Assistente Social. Para esta análise foi feita pesquisa bibliográfica do arcabouço teórico dos autores: Ana Elizabete Mota, Angela Amaral, Cézar Maranhão, José Paulo Neto, Jamerson Murilo Anunciação de Souza, Yolanda Guerra, Nobuco Kameyma, Raquel Raichelis. Palavras-chave: Serviço Social, Pragmatismo, Assistente Social. ABSTRACT: This article aims to analyze or pragmatism not Serviço Social fazendo a historical return on or course and its influences for a professão na atualidade, seeking reflection on theory and practical practice of Social Assistant. For this analysis foi feita bibliographic research do arcabouço theoretical two authors: Ana Elizabete Mota, Angela Amaral, Cézar Maranhão, José Paulo Neto, Jamerson Murilo Announcement of Souza, Yolanda Guerra, Nobuco Kameyma, Raquel Raichelis Keywords: Social Service, Pragmatism, Social Assistant. 1 Estudante de Pós. Universidade Federal do Pará. [email protected]

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O PRAGMATISMO NO SERVIÇO SOCIAL: reflexões sobre teoria e prática do

Assistente Social.

Lilian de Souza Ribeiro1

RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar o

pragmatismo no Serviço Social fazendo um retorno histórico sobre o curso e suas influencias para a profissão na atualidade, buscando reflexões sobre a teoria e a prática profissional do Assistente Social. Para esta análise foi feita pesquisa bibliográfica do arcabouço teórico dos autores: Ana Elizabete Mota, Angela Amaral, Cézar Maranhão, José Paulo Neto, Jamerson Murilo Anunciação de Souza, Yolanda Guerra, Nobuco Kameyma, Raquel Raichelis. Palavras-chave: Serviço Social, Pragmatismo,

Assistente Social. ABSTRACT: This article aims to analyze or pragmatism

not Serviço Social fazendo a historical return on or course and its influences for a professão na atualidade, seeking reflection on theory and practical practice of Social Assistant. For this analysis foi feita bibliographic research do arcabouço theoretical two authors: Ana Elizabete Mota, Angela Amaral, Cézar Maranhão, José Paulo Neto, Jamerson Murilo Announcement of Souza, Yolanda Guerra, Nobuco Kameyma, Raquel Raichelis Keywords: Social Service, Pragmatism, Social Assistant.

1 Estudante de Pós. Universidade Federal do Pará. [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho aborda o pragmatismo no Serviço Social e suas implicações na

atuação profissional de Assistentes Sociais, a busca pela imediaticidade2 que desde a

sua inscrição na divisão social e técnica do trabalho a profissão sofre fortes influencias

do mundo capitalista que cobra uma resposta imediata ao problema e não busca

compreender o real motivo dele dentro de um contexto mais amplo, uma prática

mecânica que não busca reflexões da realidade. Essa resposta imediata faz com que

a profissão perca a criticidade e impossibilita o profissional de acompanhar todo o

processo histórico da realidade a qual está inserido e sem a reflexão do contexto há

uma interpretação errônea, pois interpreta o problema exposto superficialmente como

uma verdade absoluta. E isso faz com que o significado das coisas, dos fenômenos

das práticas sociais resida neles próprios e rebate sobremaneira nas intervenções

sociais e profissionais.

A falta de uma reflexão teórica na perspectiva do movimento dialético contribui

para a manutenção da ordem burguesa o que implica em mudanças superficiais para

o cotidiano de usuários das políticas sociais, o profissional é inserido na divisão social

e técnica do trabalho como um trabalhador assalariado para desenvolver funções que

amenizem os conflitos sociais de forma que o profissional faça uma mediação para

conter esses conflitos. A anulação das mediações teóricas e ideopolíticas, própria da

compreensão da realidade em que o imediato é visto como verdade do cotidiano, e

leva a uma apropriação da realidade ao qual há carência destas mediações. A

abstração das mediações como resultado de uma apreensão da realidade na sua

imediaticidade sendo uma atuação influenciada pelo senso comum, própria do

cotidiano, sem questionamentos da realidade.

2 O padrão de comportamento próprio da cotidianidade é a relação direta entre pensamento e ação; a

conduta específica da vida cotidiana é a conduta imediata, na qual o espontaneísmo e o automatismo são as resposta adequadas ás demandas que surgem. (Maranhão, 2016,173)

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O Assistente Social nos espaços ocupacionais se depara com as varias

demandas sociais em ambientes institucionais influenciados pelo pragmatismo em que

o pensamento empirista está dentro da dinâmica das políticas sociais, e a burocracia

direciona a práxis nos espaços profissionais, não permitindo a construção de

alternativas críticas para que permeie o cotidano do Assistente Social. As instituições

fortalecem esse tipo de prática que se distancia da base teórica que norteia o

profissional não dando suporte para a atuação, e esta atuação tende a ter uma

aparência dicotômica da realidade onde se separa a teoria da pratica. A prática é a

materialização da teoria sendo que essa teoria deve ser compreendida e

fundamentada por uma construção histórica dialética indissociáveis.

I- O PRAGMATISMO NO SERVIÇO SOCIAL

Dentro do capitalismo monopolista podemos analisar as principais

consequências desse modelo de produção para a classe trabalhadora como a

acumulação de pobreza e miséria, situações precárias e subalternas da vida cotidiana

destes trabalhadores, o que tornam alvos de intervenções do Estado. Nesse contexto

nascem as políticas sociais impulsionadas pelas expressões ou refrações da “Questão

Social”, que se apresentam como a fome, miséria, desemprego, necessidade de

moradia, ausência de escolas e creches, o aumento da violência, ausência de

hospitais e outras.

Conforme Netto (1992) o aparato estatal burguês busca o enfrentamento dessas

refrações sociais por uma via privilegiada, através de políticas que atuam na coerção

de classes, a intervenção é aparente para solucionar a problemática que ameaça o

sistema, não vai além de regulações que mudam as condições da reprodução das

relações sociais burguesas. Desse modo a intervenção profissional do Assistente

Social na divisão social e técnica do trabalho tem a responsabilidade de buscar

soluções para as demandas que surgem de forma imediata para que não haja uma

desordem social.

“A funcionalidade histórico social do Serviço social aparece definida precisamente enquanto uma tecnologia de organização dos componentes heterogêneos de cotidianidade de grupos sociais determinados para ressituá- los no âmbito desta mesma estrutura do cotidiano ____ O disciplinamento da família operária, a ordenação de

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orçamentos domésticos, a recondução ás normas vigentes de comportamentos transgressores, a ocupação de tempos livres, processos compactos de ressocialização dirigida etc.” (NETTO, 1992, p. 92).

A profissão de Assistente Social se consolida dentro de uma composição de

organização social que atua dentro dos grupos sociais, operacionalizando diretamente

nas condições de reordenamento das práticas cotidianas, como forma de amenizar os

conflitos gerados pelo acirramento de lutas de classes e empobrecimento que são

consequências da acumulação do capital monopolista, esse fato não condiciona a

profissão ao status de profissão apenas por isso, mas há uma articulação na nova

dinâmica econômica e política que tende a reproduzir a sociabilidade burguesa e as

expressões ditas contraditórias existentes na sociedade.

As contradições presentes na sociedade interferem diretamente na prática

profissional e isso não está somente ligado ao Assistente Social, mas em outras áreas

profissionais, pois as demandas surgem e são colocadas para que os profissionais

respondam mediante ao dinamismo imediato. A moralização da sociedade a

sinalização de individualidade dos problemas sociais com componentes teórico-

culturais, econômicos e sociais que se desenvolvem dentro da consolidação da ordem

monopólica. Guerra (2013) diz que:

“Na sociedade capitalista, cujas contradições convertem-se em conflitos individuais, e podem ameaçar o ordenamento social, impera o que as teorias positivistas denominam de anomia, de onde a necessidade de profissões que possam contemporizar as situações limites que ameaçam a reprodução social. O Serviço Social surge como uma das profissões chamadas a buscar o consenso para os supostos conflitos individuais, adequar comportamentos "desviantes" e anômicos e incidir em situações de tensionamento que ameaçam e colocam em "risco" o ordenamento social”.

O Estado é autoritário e seus interesses refletem os interesses das classes

dominantes diante das necessidades reais ele não busca uma intervenção para que

os problemas das massas sejam resolvidos em sua totalidade, e assim trabalha para o

controle e repressão das manifestações sociais populares, com uma aparência política

social de participação que faz com que o trabalhador seja hábil, alienando se da

criticidade, buscando apenas responder o seu cotidiano exigido pela sociedade, o que

interfere diretamente nas estruturas econômicas, sociais, políticas e ideológicas. As

demandas sociais que legitima a profissão do Assistente Social surgem das

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contradições do sistema capitalista como forma de amenizar estes conflitos individuais

e dos grupos com pensamentos que acompanham ações.

A emergência do Serviço Social tem suas bases nas políticas sociais essas

políticas são atraídas pelo Estado burguês, em sua intervenção é regido pelos

componentes estruturais do cotidiano e por sua relação com as demandas do estado.

O pensamento burguês se refere basicamente a feitichização da vida social,

reafirmando práticas e ideias conservadoras para que assim continue reproduzindo

respostas as necessidades de forma imediata, que coloca a profissão dentro desta

tendência socializando os interesses de uma minoria e generaliza para toda uma

sociedade. Portanto a profissão tem estratégias para enfrentar os problemas que

surgem para assim se articular com as lutas sociais.

Esse modo de tratar os problemas sociais como problemas morais ou de conduta,

da aparência que visa o empiricismo como forma de mudança no comportamento do

sujeito o que só reproduz a ordem social, reincidindo na atualidade a prática

profissional, os fenômenos que surgem levam o profissional a abandonar o método

que pode identificar o movimento real e uma visão da totalidade do problema. Para

solucionar ou responder o problema aplica se o pragmatismo onde às teorias para

serem comprovadas necessitam passar primeiramente pelas consequências da

aplicabilidade.

“Dados o quadro sócio-historico brasileiro, a particularidade do Serviço Social, a configuração das políticas sociais contemporâneas e as respostas que os profissionais tem dado no âmbito das políticas sociais, o pragmatismo se encontra com o traço sincrético do Serviço Social, constituindo-se no momento atual, em uma alternativa teórico profissional á perspectiva legatária da tradição marxista, que, a partir da intenção de ruptura, tem dinamizado a elaboração de sólidos fundamentos para compreender os processos sociais.”(MOTA &AMARAL, 2016.p.42)

O Serviço Social passou por um processo que precisou se reinventar através de

uma reflexão crítica sobre a sociedade capitalista na luta pelos direitos dentro de um

cenário contraditório que produz tensões sociais. Com a ruptura houve uma ampliação

e qualificação das problemáticas abordadas pelo Serviço Social e as contradições

contribuíram para o amadurecimento da profissão em relação ao conhecimento, com

um debate teórico problematizando assim a forma de intervir tendo um debate teórico

inédito tendo novas formas de intervenção e consolidando um terreno fértil para

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superar o ecletismo como cita (Souza, 2016), mas o Serviço Social contemporâneo

necessita assegurar o pluralismo mais ao mesmo tempo manter o pensamento

dialético numa conjuntura altamente conservadora.

“Uma análise da trajetória da profissão e sua relação com as "teorias" permite afirmar que, no Serviço Social, o pragmatismo converte-se numa tendência, cuja orientação teórica é mais comum do que possamos supor, incidindo tanto sobre os profissionais que se localizam na academia como nos que se inserem na execução/planejamento/avaliação das políticas sociais.” (GUERRA, 2013, p.3).

As mudanças societárias produziram diversas demandas para os profissionais do

Serviço Social, fazendo com que ampliasse os espaços ocupacionais conquistados

pelos avanços do cotidiano profissional e enriqueceu o ensino superior com debates

críticos e efusivos dos problemas sociais da atualidade com respostas subsidiadas

pela teoria marxiana, mas sua base tem sofrido ataques por um ecletismo teórico que

acaba retrocedendo e colaborando com a lógica conservadora. Sendo necessária uma

reflexão de como tem sido a atuação profissional diante das condições históricas

dentro da realidade brasileira, onde a cada ano tem se constatado a retração dos

investimentos do Estado para as políticas sociais, em que o neoliberalismo favorece e

atua através do lucro do capital, defendendo cada vez mais o estado mínimo

culminando assim para os desmontes dos direitos sociais.

II- A CONSTRUÇÃO DO PROJETO ETICO POLITICO PROFISSIONAL

Dentro do contexto histórico brasileiro a preocupação com a profissão surge

como um componente forte para execução da Política Social, o que a coloca no

campo do debate dos interesses particulares da classe dominante interferindo, assim,

numa redefinição de estratégias para combater os problemas sociais, o Serviço Social

tem buscado enfrentar esses problemas através do projeto ético político profissional

que se iniciou na década de 70 com um grande avanço ideopolítico e teórico

metodológico, traçando assim uma nova direção social estratégica para a profissão, a

regulamentação do código de ética marca e consolida com fundamentação teórica

crítica, direcionando assim valores importantes para a atuação dos profissionais.

Na década de 70 com a vertente modernizadora caracterizada pela incorporação

de abordagens estruturalistas, funcionalistas e positivistas, imprimiram uma

modernização conservadora com viés ao desenvolvimento de comunidades para a

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obtenção de um desenvolvimento social e do enfrentamento da marginalidade e da

pobreza na perspectiva de integração da sociedade, dentro de um projeto tecnocrático

fundado na busca da eficácia e eficiência para direcionar a produção do conhecimento

e a intervenção do profissional, na década de 90 até meados de 2000 a pobreza

passa a ser diretamente relacionada à questão social, com ideário burguês projetado

para políticas de enfrentamento a pobreza.

“Ao considerar as conjunturas que emergiram a partir dos anos 1990 a década do desmonte da nação e dos anos 2000, as décadas da restauração ideopolítica e econômica do capital no campo do Serviço Social também é possível identificar os rebatimentos particulares desse movimento cultural e teórico que tem representatividade política de esquerda , mas epistemologia conservadora , desaguando no ecletismo político e teórico.” (MOTA & AMARAL, 2016,p.33)

O Serviço Social teve mudanças históricas que contribuíram para a consolidação

da profissão, em consequência dos debates sobre a intervenção profissional durante

todo o processo de organização e realização dos Congressos Brasileiros de

Assistentes Sociais, teóricos debateram sobre a prática do Assistente Social diante do

processo de ruptura com o conservadorismo, através destes debates da categoria

ouve grande repercussão que contribuiu para produção cientifica. Buscando uma

renovação para a profissão com a perspectiva histórica dialética dentro da tradição

marxista. Fazendo com que o projeto ético político direcione o profissional a uma

pratica comprometida com os interesses da classe trabalhadora através de um projeto

social igualitário.

A produção intelectual com viés marxista não fez com que acabasse com as

tendências conservadoras dentro da profissão, as outras correntes contrárias a este

pensamento sempre esteve presente embora por um tempo não foi exposto, mas em

meio às mudanças sociais sofridas pela contra reforma nos últimos anos, elas

ganharam força e se tornaram mais expressivas na fala e na atuação dos

profissionais do Serviço Social, o que historicamente aparece como uma profissão em

caráter caritativo sem comprometimento com a classe trabalhadora e sem caráter

crítico que desconsidera toda a dinâmica societária como a negação de luta de

classes.

Com a ruptura do conservadorismo o código de ética passa por uma mudança

na década de 80 responsabilizando o profissional a assumir uma nova postura ética

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que se opõe a neutralidade profissional. E, pelo fato da questão ética atingir

diretamente o cotidiano da vida profissional, esta discussão configurou-se como uma

das mediações entre o saber teórico-metodológico e as determinações da prática

profissional a partir de um novo entendimento sobre o individuo, considerando o seu

caráter histórico e social. Assim o profissional teria compromisso com as lutas de

classes, e não seria apenas um técnico das políticas sociais, mas passa a participar

dos espaços e das decisões dos espaços de intervenção.

“O trabalho do assistente social é, nesses termos, expressão de um movimento que articula conhecimentos e luta por espaços no mercado de trabalho; competências e atribuições privativas que têm reconhecimento legal nos seus estatutos normativos e reguladores (Lei de Regulamentação Profissional, Código de Ética, Diretrizes Curriculares da formação profissional), cujos sujeitos que a exercem, individual e coletivamente, se subordinam às normas de enquadramento institucional, mas também se organizam e se mobilizam no interior de um movimento dinâmico e dialético de trabalhadores que repensam a si mesmos e a sua intervenção no campo da ação profissional.” (RAICHELIS, 2011, p. 5)

Mesmo com a mudança na dimensão teórica e ética no Serviço Social, ainda

existiam lacunas na atuação profissional, em 1990 houve um debate acerca da

dimensão ideopolítica da intervenção profissional do Assistente Social. Apenas entre

os anos de 1992 e 1993 a questão ética aponta para uma direção sócio-política para a

profissão consolidando seu Projeto Ético-Político Profissional articulando com os

movimentos sociais, sindicais e político-partidários progressistas, tendo assim um

compromisso político com a classe trabalhadora, se rompendo com o caráter

filantrópico e assistencialista de base conservadora e empiricista que o sistema

capitalista impregnou na história do Serviço Social.

III - OS ESPAÇOS OCUPACIONAIS DO SERVIÇO SOCIAL E AS REFLEXÕES

SOBRE A TEORIA E A PRATICA.

Historicamente o Serviço Social teve sua trajetória marcada pela viabilização

do Estado e pela Doutrina social da igreja católica, com valores neotomistas que

justifica o modo de exploração capitalista e que muitas vezes foi considerada como

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vocação e uma pratica de ajudar aos pobres atuando de forma assistencialista

combatendo os conflitos sociais gerados pelo capital, e assume a função de

administrar a pobreza com posturas voluntaristas e messiânicas.Com as mudanças

de pensamento teórico pelo projeto ético político e avança no modo de refletir e ter

uma intervenção teórica dialética expondo as contradições e direcionando para uma

elaboração de mudanças societárias.

Dado esse modelo de Estado e de políticas sociais, as requisições socioprofissionais e políticas colocadas ás assistentes sociais são para atuarem em diversos programas de controle social, que incluem de remoções compulsórias (desalojamento), internação compulsória , depoimentos sem dano, testagem toxicológica , exame criminológico ao cumprimento de condicionalidades das próprias políticas, utilizando várias formas de intimidação e pressão , e dos Programas de Aceleração do Crescimento (PAC), do que decorre um conjunto de demandas de regras previstas nos manuais de operacionalização e conectadas com as exigências dos bancos multilaterais.(MOTA &AMARAL, 2016, p.100)

Os espaços ocupacionais do Serviço Social tiveram algumas mudanças dentro

dos seus espaços como na previdência social onde as competências interferem nas

relações de trabalho nas áreas urbanas e rurais onde há precarização do trabalho,

condições desfavoráveis para a saúde do trabalhador, gerando adoecimento do

trabalhador e isso interfere na atuação profissional. As Mudanças na legislação

trabalhista e previdenciária afetam as requisições no uso das regulações profissionais

e das condições institucionais e técnicas, também para o assistente social.

Na Assistência Social dentro do Sistema único de Assistência Social (SUAS) teve um

crescimento dos serviços gerando modificações nos parâmetros de atuação e

gerenciamento. Na área sociojurídica surge novas frentes de trabalho nos Tribunais de

justiça, Ministérios Públicos e Defensorias Públicas onde o Assistente Social atua no

atendimento e emissão de pareceres, elaboração de plano individual de atendimento

de crianças e adolescentes dos espaços de acolhimento institucional atuando em

parceria com as instituições com demandas de articulação entre as instituições.

Um dos problemas com o aumento das novas áreas de trabalho para o

Assistente Social e a terceirização do trabalho como é feito na área jurídica, a falta de

profissionais nos tribunais e juízes fazem documentos solicitando estudos, relatórios e

pareceres sociais elaborados pelos profissionais alocados nas prefeituras. Com isso

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há uma precarização no trabalho destes profissionais que já possuem demandas do

município e recebem uma demanda que é responsabilidade do estado e pela falta de

concursos e contratações de profissionais para atuarem no judiciário, o conselho

federal de Assistência Social se pronunciou em relação a fatos como estes, onde

respalda o profissional para não executar tais funções sem vinculo empregatício, pois

existem os contratados que recebem um valor de hora técnica muito aquém da tabela

referencial de honorários do Serviço Social conforme as resoluções CFESS 418/2001e

467/2005.

Com as novas demandas na atual conjuntura brasileira o Assistente Social tem

que buscar não perder a identidade crítica e dialética da sua formação teórica e aplicar

na pratica, os desafios são muitos diante do cenário de desmonte de direitos sociais

que impulsiona o trabalhador para um trabalho mecanizado, burocrático com intuito de

monitorar as políticas sociais, ficando alheio da analise critica do processo ao qual a

sociedade vivencia no sistema capitalista. Quando o profissional se afasta do

pensamento dialético a sua interpretação da realidade é desfocada e recai na sua

pratica o que alguns profissionais afirmam que a teoria é diferente da pratica.

A teoria e a pratica constituem, portanto, aspectos inseparáveis do processo de conhecimento e devem ser consideradas na sua unidade, levando em conta que a teoria não se nutre na pratica social e histórica como também representa uma força transformadora que indica a pratica os caminhos da transformação. (KAMEYMA, 1989, p.99)

A prática fundamenta a teoria, ela sustenta o pensamento como resultado de

uma transformação da realidade de determinado conhecimento, pois o conhecimento

teórico se desenvolve através da percepção da veracidade ou negação, as ciências se

desenvolvem como respostas as necessidades da vida. Dizer que na teoria o Serviço

Social é diferente da prática é anular todo o processo histórico dialético do fenômeno a

ser estudado ou analisado pois o conhecimento teórico dá suporte para uma dimensão

da práxis na sua totalidade , não apenas na pratica profissional mais no sentido mais

amplo sendo uma atividade racional e social dos homens de acordo com Kameyma,

serve de transformação da natureza e da sociedade que vai interferir na produção

material , social e política da sociedade.

A teoria marxiana tem uma especificidade na medida em que é a única teoria que resgata a totalidade e que também coloca a questão

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da transformação. O que vem a ser essa teoria? Pode se dizer que a teoria é a forma de organização do conhecimento cientifico que nos proporciona um quadro integral de leis, de conexões e de relações substanciais num determinado domínio de realidade. (KAMEYMA, 1989, p.100)

A argumentação que o Serviço social tem uma prática funcionalista e teoria

dialética é errônea, pois a teoria marxista está ligada ao método do conhecimento,

tendo uma função explicativa direcionando o pesquisador como ele deve abordar o

objeto ao qual pretende conhecer, atender e como deve realizar a sua prática para

chegar ao objetivo concreto. Compreendendo que o método cientifico reflete a pratica

e ele que faz com que se chegue ao concreto sendo um trabalho de mediação que é o

resultado do conhecimento. Dentro da perspectiva marxista o Serviço Social tem o

desafio de atuar com a as variáveis empíricas, pois seu cotidiano é diverso dentro dos

espaços ocupacionais e a práxis burocrática dificulta o entendimento da realidade

social. O profissional do necessita encontrar alternativas criticas para desenvolver sua

pratica profissional, analisando os processos sociais da vida cotidiana com a

perspectiva critico dialética que vai alem da aparência sendo que o Serviço Social

critico dependerá de todo um esforço coletivo e das condições sociais, políticas,

econômicas e culturais conforme diz Wellen & Carli (2016).

3 CONCLUSÃO

Dentro do contexto de atuação profissional onde as respostas para as diversas

problemáticas sociais surgem o profissional é cobrado uma atuação acrítica e

superficial, o Estado não da suporte para uma intervenção apropriada e se anula

diante do problema com neutralidade, sendo um instrumento a serviço do projeto do

capital, na concepção de prática de ajuda visando o sujeito, e ajustamento de conduta

e moral.

O Serviço Social como profissão vinculada as políticas sociais reproduz a

cotidianidade as políticas sociais funcionam como instrumento de preservação e

controle da força de trabalho pelo Estado capitalista, no sentido de assegurar

condições adequadas ao desenvolvimento do capital, conformando um sistema de

consensos, no sentido de adquirir legitimação das categorias e setores beneficiados.

O processo de construção da política de assistência social foi resultado da correlação

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de forças progressistas e conservadoras vivenciadas pela sociedade brasileira, a

política de assistência social assim como a profissão de Assistente Social tem um

protagonismo nos debates políticos e acadêmicos e nos espaços de gestão. O Estado

intervém sobre as expressões da questão social mas reproduz o arranjo liberal.

Diante da realidade das demandas impostas para o profissional é necessário

um entendimento e apropriação teórico do conhecimento dialético totalizante para

legitimar e dar suporte a sua prática profissional, não se distanciando da teoria e do

seu código de ética que norteia para que o profissional tenha um comprometimento

ético, político e um engajamento sócio político para compreender a totalidade através

de censo crítico e fomentando ideias e reflexões para a sociedade. Portanto, os

profissionais precisam conhecer a realidade social para superar a cotidianidade e para

isso precisa se de um trabalho que perceba o sujeito como ser social, com suas

demandas individuais, projetando ações, e construindo condições materiais e teóricas

para seu instrumental de trabalho analisando possíveis resultados, realizando uma

prática que caminhe para uma ação política e coletiva.

REFERÊNCIAS

________. Código de ética do Assistente Social. 3ª ed. Brasília. CFESS, 1993.

GUERRA, Yolanda Aparecida Demetrio. “Expressões do pragmatismo no Serviço

Social: Reflexões preliminares”. Revista Katálysis. Florianópolis v. 16 n. 1. 2013.

KAMEYAMA, Nobucco. Concepção de Teoria e Metodologia. A Metodologia em

Serviço Social. ABESS. São Paulo: Cortez (3), 1989. (p. 99-116)

MOTA, Ana Elizabete. AMARAL, Angela (org.). Cenários, contradições e pelejas do

serviço social brasileiro. São Paulo: Cortez, 2016.

NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez,

1992.

RAICHELIS, Raquel. O Assistente Social como trabalhador assalariado: desafios

frente às violações de seus direitos. Revista Serviço Social e Sociedade n107. 2011

ed. São Paulo: Cortez, 2011.