Upload
wesley-melo
View
67
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1.1 A Ética Filosófica de Platão
Platão foi o primeiro a enfrentar filosoficamente, isto é, com rigor de método e profundidade de reflexão,
a questão do “Bem”. A interrogação platônica visará à questão do “Bem em si mesmo” e de como este
Bem se apresenta como bem-para-nós, ou seja, como bem na vida humana.
“Mito da Caverna” - Platão, para explicar sua concepção de Ética, inventou o Mundo Ideal, lugar abstrato
onde existe o Bem, a Verdade, a Justiça, o Belo e todas as noções perfeitas que existem. Em nosso mundo
real, só percebemos a sombra deste mundo ideal, onde existe a luz plena. Para alcançar o mundo ideal,
segundo Platão, precisamos de um método, a que ele chama de dialética (arte do diálogo).
Das palavras de Platão, sabemos que Sócrates fazia sua reflexão filosófica a partir do mundo vivido e
experimentado pelas pessoas. É nas praças (Ágora), na ruas, nos mercados que Sócrates interpela seus
interlocutores para buscar a verdade. Sob o lema “conhece-te a ti mesmo”, que ficou registrado na história
como emblemático em todos os tempos, Sócrates inaugurou o método da maiêutica.
Platão optou não pelo caminho da educação dos cidadãos da polis, e esta educação por meio do caminho
da dialética.
1.1.1 A Moral Ascética de Platão
Para Platão, o que nos destrói é a injustiça, a desmedida e a desrazão. A justiça é, na polis (cidade),
reflexo da ordem e da harmonia do universo; pela justiça nos assemelhamos ao que é invisível, divino,
imortal e sábio. Não peço que me mostres o exemplo de um ato justo, mas peço que me faças ver a
essência por força da qual todas as condutas são justas. (PEGORARO, 2006)
É a dialética, “ciência por excelência”, que nos dá acesso a essa transparência do ser em si mesmo (o ser
de todo ente na sua identidade), para além da transitoriedade e mudança a que está sujeito o mundo
sensível, objeto das ciências empíricas. Assim, aplicada ao problema moral, a dialética platônica será o
método que permite fundar a vida prática dos sujeitos empíricos na Idéia universal do Bem. A ética
platônica primará por uma articulação essencial entre ética e estética, entre o Belo e o Bom.
Visivelmente, na filosofia de Platão, a constituição do sujeito ético implica a compreensão e incorporação
por este de um Bem universal, o Bem enquanto Idéia, de tal modo que o sujeito, informado pela força
deste Bem, consegue suplantar, em si mesmo, o excesso que ameaçaria a existência bela, aquela regida
pelo equilíbrio (pela medida e pela proporção). Assim se conformam, na ética de Platão, o Belo e o Bom,
pois, “uma forma é bela se ela constitui em si mesma um todo perfeitamente harmonioso. O Belo é, pois,
a forma manifesta do Bem que, ele, informa os entes desde o interior” (GADAMER, 1994, p. 309.
Tradução nossa).
Para Platão, o sujeito moral será aquele capaz de tomar consciência do Bem que é, o Bem na sua
universalidade como Idéia, idêntico a si e constante, e de harmonizar-se internamente em consonância
com este Bem em-si. O ser ético, nesse sentido, concebe-se como projeto estético de si mesmo: tornar-se
um sujeito moral significa embelezar-se, buscar a beleza manifesta numa vida equilibrada, sem excessos.
A vida moral será, pois, para Platão, identificada a uma vida moderada.
Portanto, a Idéia de Bem apresenta três propriedades constitutivas: a proporção ou medida, a beleza e a
verdade. A unidade ontológica do Bem definirá, nesta tríplice perspectiva, o horizonte de realização da
existência moral:
A medida - não se refere a uma norma externa ao sujeito à qual ele deva se conformar, mas
“designa uma certa relação do sujeito a si mesmo, um modo de comportamento particular que
carrega um nome: a moderação” (GADAMER, 1994, p. 310. Tradução nossa).
A beleza - longe de ser um modelo estético fixo, ela aparece aqui como “forma aceitável na qual
seu ser poderá se manifestar, pelos seus atos, em toda a sua transparência” (GADAMER, 1994,
p. 310. Tradução nossa).
A verdade - caracteriza o modo como o sujeito se engaja no projeto de se forjar a si mesmo como
sujeito moral, de constituir para si uma existência digna do nome “boa”, reconhecida como
moral. Em outros termos, a verdade designa o caráter de autenticidade daquele que busca para si
uma existência moral. É, pois, a verdade aquilo que “associa o prazer e o intelecto a fim de que
sua união não seja abandonada ao acaso” (GADAMER, 1994, p. 310. Tradução nossa).