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CINEMA NA UNIVERSIDADE: PERSPECTIVAS E DEBATES Andressa Deflon Rickli (UNICENTRO) - [email protected] Christine Vargas Lima (UNICENTRO) - [email protected] Daiane Solange Stoeberl da Cunha (UNICENTRO) - [email protected] Elisa Ferreira Roseira Leonardi (UNICENTRO) - [email protected] Maria Aparecida Crissi Knüppel (UNICENTRO) - [email protected] Maria Rita Borodiak (UNICENTRO) - [email protected] RESUMO: A educação e o trabalho na educação devem sempre ser permeados com o contexto histórico da sociedade. Dentro dessa perspectiva, surge então o audiovisual como uma possibilidade interessante de trabalho no ambiente acadêmico, uma vez que o cenário tecnológico que se delineia hoje pressupõe comunicação, informação e interação. As experiências culturais dos indivíduos são, indistintamente, vivenciadas de maneira heterogênea, desigual – dada a possibilidade de acesso. O presente trabalho visa mostrar como a inserção do cinema no ambiente acadêmico pode proporcionar a experiência cultural do Anais do 3° Salão de Extensão e Cultura da UNICENTRO 20 a 25 de setembro de 2010

Resumo Expandido Projeto Cinema

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CINEMA NA UNIVERSIDADE: PERSPECTIVAS E DEBATES

Andressa Deflon Rickli (UNICENTRO) - [email protected] Vargas Lima (UNICENTRO) - [email protected]

Daiane Solange Stoeberl da Cunha (UNICENTRO) - [email protected] Ferreira Roseira Leonardi (UNICENTRO) - [email protected]

Maria Aparecida Crissi Knüppel (UNICENTRO) - [email protected] Rita Borodiak (UNICENTRO) - [email protected]

RESUMO: A educação e o trabalho na educação devem sempre ser permeados com o contexto histórico da sociedade. Dentro dessa perspectiva, surge então o audiovisual como uma possibilidade interessante de trabalho no ambiente acadêmico, uma vez que o cenário tecnológico que se delineia hoje pressupõe comunicação, informação e interação. As experiências culturais dos indivíduos são, indistintamente, vivenciadas de maneira heterogênea, desigual – dada a possibilidade de acesso. O presente trabalho visa mostrar como a inserção do cinema no ambiente acadêmico pode proporcionar a experiência cultural do cinema na universidade, apresentando qual é a proposta do projeto de extensão ‘Cinema na Universidade: perspectivas e debates’.

Palavras-chave: Cinema; Comunicação; Pluralidade Cultural; Desenvolvimento Social; Educação.

O cinema é um meio que traz consigo características próprias, bem delineadas e precisa ser encarado como uma arte que traz uma proposta diferenciada no que tange as formas de percepção, uma vez que possibilita a construção de subjetividades. Nesse panorama de percepções que cada indivíduo pode criar de maneira subjetiva, constitui-se cenário favorável à criação de

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ambientes que favoreçam a troca de idéias, de conceitos, de pontos de vista, fazendo com que essa troca seja enriquecedora para todos os sujeitos.

Em uma sessão de cinema o público constantemente se depara com cenas onde os personagens remetem não somente a situação da história, do enredo propriamente dito, mas outra história, outros personagens que fazem parte das recordações, das lembranças, do universo de imagem do próprio espectador. Através da ficção e realidade o cinema conduz a lugares muitas vezes desconhecidos, mas que traduzem significado a vida de quem assiste, produz sentido. A importância de se entender as contribuições que o cinema pode trazer para fica explícita no pensamento de Morin (1997) que coloca o cinema no cerne das questões fundamentais:

Considero o cinema não como objeto periférico, acessório ou mesmo risível (os meus colegas riam quando eu lhes dizia que iria trabalhar no cinema), mas como um objeto privilegiado para uma antropo-sociologia séria, porque coloca um nó górdio de questões fundamentais.

O cinema na Universidade agrega muitos significados. Não só com relação aos conteúdos que cada filme possa trazer, mas proporciona momentos de reflexão que transcendem os próprios filmes e inclinam o olhar de cada um à narrativa que o diretor propôs e ofereceu, em sons e imagens. Quando vai ao cinema, o público assiste passível a todo o enredo, sem muitas vezes questionar, analisar decifrar códigos que a linguagem nos permite. Na Universidade, quando o filme termina, é possível conversar, discutir, debater, analisar, construir novas histórias, sejam elas quantas forem possíveis. Para Walter Benjamin, quem busca uma nova leitura, uma nova tradução, pode encontrar sempre novos sentidos que não estão transparentes, explícitos nos textos, escritos, sonoros, imagéticos, fílmicos. Assim, o cinema no contexto universitário possibilita a busca desse mundo não revelado, não do sentido original, literal, mas da possibilidade de outros sentidos. O projeto de extensão ‘Cinema na Universidade: perspectivas e debates’ se propõe a essa tarefa: situar o filme conferindo a ele um sentido dentro do sentido maior da educação que deseja realizar, dentro das mais variadas temáticas. Diante disso, filmes na Universidade constituem uma importante ferramenta para vivificar o tempo de todos, e o de cada um, jamais para suprimir a opinião do outro. Insta salientar que o ambiente universitário é propício para reflexões, discussões, análise, possibilitando dentro projeto pesquisas científicas e extensionistas. Walter Benjamin, na década de 30, em seu artigo “Pequena história da fotografia”, escreveu que o analfabeto do futuro seria aquele que não soubesse ler imagens. Esse tempo chegou e não se pode ignorar o alerta que Benjamim fez, pois ele está materializado nesse tempo em que as imagens são passadas via satélite,

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em tempo “real”, através da internet, dos celulares. Nessa perspectiva, o projeto que envolve professores e acadêmicos possibilita a utilização dos filmes para enriquecer os conteúdos das disciplinas, introduzir novas linguagens a suas experiências profissionais e acadêmicas. Ramos (2003) contribui nesse sentido quando diz que:

O campo dos Estudos de Cinema deve, portanto, ser pensado em sua especificidade, dentro de uma relação ativa, e não estática, com a tradição narrativa sonoro-imagética que se conformou no século XX. Esta deve ser a referência estrutural para a definição de nosso horizonte de trabalho, mesmo quando trabalhamos nas franjas e nas intersecções desta tradição. (...) Estamos trabalhando com o principal universo narrativo do nosso século e do século XX, presente massivamente em nossa sociedade através do meio televisivo, das salas de cinema e, minoritariamente, por enquanto, da internet. Ver um filme é algo presente e disseminado em nossa sociedade e mostra uma inserção orgânica com o modo de nosso agir cotidiano, difícil de ser ignorada.

A observação cuidadosa das imagens dos filmes através de suas “entrelinhas” – cortes, intervalos de significação, buscando sentidos que não são imediatos para os espectadores convidam o público a participar da obra fílmica de uma forma nova, diferenciada, onde ele vê os espaços do cinema, os locais de memórias das imagens e a forma que se constituem em reminiscências, os tempos do cinema; cinema tempo presente (para o espectador), diegese, o tempo do filme, sentimentos e aprendizagens que podem ser construídas com as alegorias cinematográficas. O Projeto ‘Cinema na Universidade: perspectivas e debates’ se propõe a essa tarefa: introduzir o cinema como uma nova linguagem nos mais variados cursos, sendo executado no Campus Santa Cruz da Unicentro, auxiliando no ensino, pesquisa e extensão, pois desenvolve mostras temáticas relacionadas a diversas áreas, que contribuam para o processo de ensino-aprendizagem dos acadêmicos. O espaço educacional deve ser esse ambiente de diálogo entre as dualidades do cinema – ficção e realidade, imagem e palavra. Através dessa experiência é possível explorar os sentidos da ficção e da realização do cinema, de construção da memória imagética, e também romper com a falsa oposição entre imagem e palavra, entre cinema e literatura, entre o sensível e o inteligível. Paulo Freire contribui para esse pensamento quando pensa o papel político e cultural da escolarização, das escolas como arenas culturais onde uma heterogeneidade de formas ideológicas e sociais colidem, influenciam a formação do educador e que, dentro dessa perspectiva, delineiam o que atualmente se entende por educador crítico. A leitura crítica de imagens e filmes no âmbito educacional está ligada de forma estreita às práticas da pedagogia crítica iniciadas por Paulo Freire e demais teorias advindas desse pensamento, uma vez que proporcionam visões e

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possibilidades de uma pedagogia que se volte à vida. A arquitetura cenográfica que o filme traz não serve apenas para a compreensão da história que está sendo narrada. Não é meramente um arranjo fílmico é também didático, em que o espectador, ao concentrar-se na história, aprende a olhar para o mundo, criando com as imagens uma visão de mundo, do mundo, das coisas desse mundo e do que é importante para cada uma das coisas, ou seja, formas de valoração do mundo. A experiência extensionista que contempla a utilização desse recurso como ferramenta tem sido bastante positiva. O projeto aqui citado enseja debates profícuos entre a comunidade acadêmica e tem se mostrado, ao longo da execução, uma ferramenta bastante eficiente. A interdisciplinaridade possibilitada pelo trabalho de temas recorrentes às mais diversas áreas de formação do saber através da “sétima arte” fomenta debates muito interessantes a respeito dos temas propostos nas projeções, após as sessões. Discentes e docentes têm se envolvido de forma efetiva e enriquecido as discussões propostas na condução dos debates. Além disso, o projeto tem se estendido a outras instituições, como é o caso de mostras que são realizadas em parceria com o SESC, oferecendo à comunidade acadêmica e a todos os envolvidos pelo projeto acesso a produções de qualidade. Portanto, fica evidente que o projeto tem contemplado os objetivos propostos e, consequentemente, gera um aproveitamento positivo a todos os envolvidos na condução e execução do projeto.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.

FREIRE, P. Pedagogia de Esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

_________ Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

MORIN, E. O cinema ou o Homem Imaginário. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1997.

RAMOS, F. P. O Lugar do Cinema in Fabris, M. Reis e Silva (orgs.) Estudos Socine de Cinema, Porto Alegre: Sulina, 2003.

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