Resumo - Psicologia Da Educação - Cumplicidade Ideológica [Ana Bock]

Embed Size (px)

Citation preview

  • Resumo - Psicologia da Educao: Cumplicidade Ideolgica.

    Disciplina Psicologia Escolar

    Autor(es) Ana Mercs Bahia Bock

    Ttulo Psicologia da Educao: Cumplicidade Ideolgica

    O que

    v Psicologia

    Educacional:encontro entre as reas do conhecimento da Psicologia e Educao.

    Movimento da Escola Nova: tornou necessria a presena da psicologia, construindo demandas

    especficas para a Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem.

    Objetivos

    Analisar por que a Psicologia se tornou necessria para a Educao;

    Como a psicologia respondeu as demandas que lhe foram feitas;

    Abordar criticamente a relao entre Psicologia e Educao;

    Apresentar a cumplicidade ideolgica que se estabeleceu entre as duas reas e que

    temcaracterizado prtica educativa atual.

    Inteno de contribuir para que esta relao possa se dar em outros termos e

    possamos superarconjuntamente as vises naturalizantes que temos desenvolvido.

    Histrico

    1. Escola Tradicional: rene experincias e concepes pedaggicas

    que caracterizam eorientam a educao desde o sc. XVIII at o incio do sc. XX.

    v So processos educativos que tiveram lugar, principalmente, em escolas religiosas.

    v Pensou a educao como um trabalho de desenraizamento do mal natural que

    caracterizava o ser humano.

    v O conhecimento era visto como o nico instrumento capaz de dar ao homem

    oautocontrole para controlar a parte m.

    v O aluno aparecia ao professor como naturalmente corrompido, assim, deveriam ser

    expostos ao modelo aperfeioado do humano, para poderem desenvolver

    anatureza humana essencial.

    v Este modelo estava dado aos professores e algum escolhido para dar nome escola e

    que deveria ser cultuado e seus feitos divulgados, para que os alunos pudessem

    conhecer o modelo a ser seguido.

    v Tambm estava fincada sobre outro princpio: disciplina e regras firmes para que

    os alunos pudessem corrigir os seus desvios.

    v Vigilantes disciplinares: eram agentes educacionais que asseguravam que

    osprincpios e cdigos morais construdos e repetidos exausto fossem

    garantidos.

    v Escola Tradicional: caracterizada por disciplina, regras, vigilncia e

    muitocontedo escolar.

    v Viso do aluno: dotado de uma natureza humana corrompida com a possibilidade

    de, sendo bem educado, desenvolver um lado bom desta natureza.

  • 2. Para que Psicologia?

    v J se conhecia a natureza humana corrompida e j se sabia de seu potencial, que

    ficava a cargo da educao promover por meio da disciplina e do conhecimento.

    v Assim no havia a necessidade de qualquer outro conhecimento sobre os seres humanos.

    3. Estrutura Social Escola Tradicional

    v Aristocrtica hierarquizada e cristalizada (nasce nobre, morre nobre).

    v Concepes de mundo cristalizadas: a Terra o centro do universo, a natureza

    sagrada, a verdade nica e dada por revelao divina.

    v Destino traado, no h escolha.

    v Tudo est pronto e acabado.

    4. A revoluo da Escola Nova

    v Sc. XX: trouxe muitas transformaes no mundo, a Grande Guerra trouxe

    avalorizao da infncia, tomada como o futuro.

    v Pedagogia da Escola Nova: ps no avesso as ideias da Escola Tradicional, a criana

    passou a ser vista como naturalmente boa.

    v A escola cabia manter na criana bondade e espontaneidade.

    v Passou a ser espao de liberdade e de comunicao. A criana poderia manifestar

    sua afetividade e criatividade. Todas manifestaes infantis foram tomadas

    comonaturais.

    v A escola manteve-se vigilante quanto ao desenvolvimento psicolgico da criana.

    v Vigilantes do desenvolvimento: composto por psiclogos e pedagogos.

    v Regras e disciplina: no havia regras, a no ser aquelas construdas pelo grupo

    escolar. Tambm no havia preocupao com a disciplina.

    v A comunicao entre as crianas era prioridade.

    v Professor: funo de organizador das condies

    de aprendizagem, devendoprover materiais e situaes de aprendizagem.

    v Tcnicas pedaggicas: se tornaram ativas, alunos em atividades permanentes,

    vivendo a situao do aprendizado e da descoberta.

    v As escolas no cultuam mais os grandes homens, mudando seus nomes para ideias ou

    smbolos de grupalizao e referncia a infncia.

    v A cultura como saber continuo a ser instrumento bsico de trabalho, era

    importanteestimular perguntas e no mais fornecer respostas.

    v Escola Nova: caracterizada por liberdade, comunicao,

    afetividade ecriatividade, com situaes de aprendizagem ativas.

    v Viso do aluno: vista como naturalmente boas, com vistas a desenvolver uma

    educao que as mantenham assim.

    5. Para que a Psicologia?

    v Era preciso saber como se d o desenvolvimento natural das crianas para poder vigi-

    lasdeste ponto de vista.

    v Psicologia aparece como rea do saber capaz de fornecer respostas que se necessitava.

    v Muita coisa ser produzida sobre o desenvolvimento infantil: de seu pensamento e

  • inteligncia, de seus afetos e sua sociabilidade, oferecendo

    a educao um saberimprescindvel.

    v A psicologia tambm se desenvolve como prtica capaz de contribuir no processo

    educacional: instrumentos de Psicologia (testes), como, formar classes homogneas e

    avaliar o desenvolvimento; e a clnica comea a atender crianas com dificuldade

    deaprendizado.

    6. Estrutura Social Escola Nova

    v Capitalismo monopolista, sociedade em permanente movimento.

    v Nada sagrado que no possa ser transformado e vendido como mercadoria.

    v Movimento permanente: apenas o movimento da sociedade, do mercado e da produo

    garante a reproduo de capital e promete ascenso a todos.

    v Neste constante movimento necessita-se de pessoas inquietas, ativas e criativas homens e

    mulheres empreendedores.

    v A poltica educacional o resultado de disputa de interesses e negociaes entre

    gruposreligiosos, empresrios, trabalhadores.

    A Cumplicidade Ideolgica

    1. Devemos ser capazes de desvelar o que os discursos e concepes construdas ocultaram.

    2. A educao ficou concebida como processo cultural

    de desenvolvimento das potencialidadesdos indivduos.

    3. Todos os aspectos sociais que compem e educao ficaram ocultados.

    4. A educao um processo social, por meio da qual a sociedade adulta impe

    seusmodelos, valores e regras:

    v Responde s necessidades de grupos dominantes;

    v A educao mantida financeiramente;

    v cobrado dela responder s exigncias e funes atribudas;

    v Espera-se que prepare os indivduos para o trabalho e para a convivncia

    social(regras de conduta e valores morais dominantes);

    v Deve utilizar como instrumento bsico de interveno uma

    determinada cultura,tomada pelo conjunto social, que controla a educao, como

    a nica cultura vlida.

    v So esses parmetros sociais que so traduzidos em parmetros pedaggicos e

    servem para a programao de contedo escolares, regras, critrios e formas de

    avaliao.

    5. A psicologia dominante possui uma viso de homem que parte da noo de natureza

    humana.

    v Somos dotados de uma natureza que, ao se atualizar, produz capacidades que

    temos como humanos.

    v O mundo psicolgico faz parte desta natureza, portanto, est dado

    comopotencialidade.

    v A dinmica e estruturas do mundo psquico so universais, o contedo varia com

    a cultura.

  • v As crianas que por qualquer motivo no apresentam desenvolvimento sero

    tomadas como problemas.

    v Nossas noes isolaram o sujeito de seu mundo social.

    v A psicologia no integrou em seus conceitos a realidade social.

    v com esta noo que a Psicologia contribui, para que a educao e

    as instituiespossam sempre ficar ilesas e isentas da crtica ou do fracasso, e

    este ser sempredos sujeitos, nunca da didtica, estrutura autoritria da escola, de

    sua desatualizao, etc.

    v O pensamento cientfico vem com autoridade para explicar o que se

    quer esconder(pobreza, desestruturao familiar, violncia, moradia).

    6. Diagnstico psicolgico encaminhamento escolar

    v Muitos diagnsticos so feitos sem que se conhea a escola, a professora, o que est

    sendo ensinado, como est sendo ensinado;

    v Sem que se pergunte criana o que ela sabe sobre o seu encaminhamento, sobre suas

    dificuldades em aprender e suas ideias a respeito da escola;

    v como se o modelo de diagnstico de relatrio j estivessem dados e estas questes no

    coubessem nos instrumentos e formulrios;

    v A cumplicidade que se afirma, exatamente esta: a Psicologia se tornou cmplicede

    Pedagogia na acusao da vtima.

    v No analisou a educao como um processo social e a escola como uma

    instituio a servios de interesses sociais.

    a) Como estas questes interferem na sala de aula, nas formas de ensino, na avaliao

    e seus critrios, e como determinam seu currculo oculto.

    As Consequncias da Cumplicidade

    1. Os interesses das camadas dominantes ficam garantidos.

    2. Mas porque tanto interesse em acobertar o processo social que caracteriza a educao?

    v As relaes sociais e as formas de produo de vida, no Brasil, tm

    geradodesigualdades sociais de tamanha monta que somos campees de desigualdade no

    mundo.

    v A educao divulgada como um processo baseado e produtor de igualdade social;

    v As desigualdades sociais so compreendidas como falta de empenho ou dedicao

    educao.

    a) Este discurso sobre a educao garante o papel neutro do governo/Estado;

    b) Permite que a poltica de reduo de gastos com projetos sociais se desenvolva em

    surdina;

    c) Projetos de privatizao da educao so apresentados sempre como busca

    dequalidade;

    d) As escolas pblicas foram sucateadas com a poltica de reduo de gastos as

    camadas mdias e altas retiraram seus filhos destas escolas e os colocaram em

    particulares;

    e) Agora a privatizao oferecida como mesma oportunidade para todos

    restando a escola pblica como alternativa apenas para camadas muito pobres.

  • f) A situao da escola pblica lida como crise, quando na verdade uma poltica.

    v A concepo de educao como acesso a cultura continua a vigorar:

    a) As populaes pobres se sentem menos competentes e capazes porque no

    dominam a Cultura;

    b) Esforam-se para que seus filhos frequentem a escola e se apropriem da Cultura;

    c) Podendo concorrer no mercado em p de igualdade com todos os outros filhos;

    d) As camadas baixas desenvolvem uma autodesvalorizao: pois as condies

    foram dadas e seus filhos no souberam aproveitar.

    v O papel cumprido pela ideologia da educao como produtora de igualdade e

    decondies para se obter uma vida digna se torna fundamental:

    a) Para qualquer governo que no queira investir em projetos sociais;

    b) Que no queira entender a educao como um direito de todos;

    c) E investir nela como condio de qualificao da sociedade.

    3. Como a psicologia se torna cmplice desta ideologia?

    v O individualismo (responsabilizao do indivduo pelo seu prprio desenvolvimento) recebe

    enorme ajuda da psicologia para se instituir:

    a) A ideia de diferenas individuais, marcando que cada indivduo possui suas

    caractersticas e deve ser avaliado por isto, e que estas diferenas so

    daresponsabilidade de cada um.

    b) Ideia de sujeito isolado do mundo social, com desenvolvimento independente de

    foras ou condies sociais.

    c) Reduz a realidade educacional que tambm social, a uma realidade individual.

    Outras Consequncias da Cumplicidade Ideolgica

    1. Oposio entre discurso educativo e prtica escolar

    v O discurso educativo garantir a igualdade.

    v A prtica escolar trabalhar com experincias de currculo oculto (desigualdade,

    diferena, preconceitos e discriminaes).

    a) Situaes que fogem ao currculo planejado e organizado por rgos competentes,

    pela escola e professor;

    b) Como o professor lida com o aluno que apresenta dificuldades e com situaes

    deindisciplina;

    c) Situaes que fogem ao planejamento e ao discurso oficial da educao;

    v Falsidade permanente no processo educativo:

    a) Contradio vivida entre o discurso do professor e sua prtica com os alunos (fala

    de igualdade, mas trata alunos como desiguais; fala da relao da escola com a vida,

    mas no vincula o ensino vida dos alunos);

    b) Esta situao de contradio vivida e significada do ponto de vista

    dasubjetividade de cada aluno e prprio professor;

    c) Desenvolve a todos eles um descrdito na educao.

  • 2. Noo de naturalizao do homem

    v As diferenas entre as pessoas ficam tomadas como distintas produzidas no decorrer

    dotempo e desenvolvimento, geradas pelas formas como cada um

    se engaja e aproveitaas condies oferecidas pelo meio.

    v Garante a noo de igualdade natural entre os homens e diferenas

    individuaisproduzidas sob responsabilidade de cada um.

    v No processo educacional esta noo tem decorrncias importantes:

    a) Avaliao da produo: avaliar todos da mesma forma, porque so inicialmente

    iguais.

    (1) Os critrios de avaliao so apresentados como naturais;

    (2) Fica fora do alcance do professor modific-los, eles se referem aos

    contedos ou habilidades naquela fase do desenvolvimento;

    (3) Avaliar compreendido como comparar um modelo, com um padro

    natural do desenvolvimento;

    (4) O professor nega seu papel ativo de avaliar, e torna-se um

    meroverificador do desenvolvimento do aluno.

    b) Desvalorizao do aluno: aluno no considerado como parceiro em um

    processo, no qual seus componentes esto em movimento e transformao.

    (1) Estabelece posio de: professor que sabe e aluno que aprende;

    (2) Deixa de perceber o processo dialtico de aprendizado, que reduz a distncia

    e a diferena entre professor e aluno (construo do conhecimento);

    c) O erro visto como um descaminho:

    (1) No como um momento de aprendizado;

    (2) Como etapa da experincia;

    (3) Como condio de desenvolvimento de um aluno autnomo;

    (4) A avaliao deveria ser um momento de compreenso dos acertos e

    erros;

    (5) O erro tomado como: desleixo, descaso, falta de ateno ou estudo.

    d) Dificuldade de aprendizagem:

    (1) No se pode pensar em adaptar o ensino ou suas condies para acolher a

    criana com sua vida vivida (problemas familiares, moradia, violncia,

    estmulo, afeto, alimentao, etc);

    (2) H uma neutralidade no ensino e as condies iguais a todos;

    (3) A escola ensina da mesma forma sempre, desconhecendo os alunos que

    esto aprendendo.

    e) Patologizao da pobreza:

    (1) Alunos so vistos com dificuldade de aprender;

    (2) Mecanismos so criados para corrigir as falhas: um deles

    apsicopedagogia;

    (3) Ensinam individualmente considerando a situao de cada criana

    eadaptam o ensino s condies da vida de cada um;

    (4) Os psiclogos so chamados para ajudar a superarem dificuldades, que so

    suas, individuais.

  • (5) E o problema que deveria ser lido como um problema da educao, do

    ensino, da sociedade, lido como um problema individual.

    v A Psicologia deveria ser capaz de denunciar pssimas condies de vida como

    geradoras de desigualdade que leva alunos desiguais escola.

    a) Escola esta que incrementa esta desigualdade e oferece uma ideologia que

    consegue fazer o aluno e sua famlia acreditarem que ele

    o responsvel pelasituao de fracasso.

    b) Assim silencia a pobreza, com a ajuda da Psicologia, destinada a ser lida comofalta

    de aproveitamento das oportunidades que o Estado oferece a todos para se

    desenvolverem.

    c) So tratados como pessoas preguiosas que no vem a importncia da

    educao, e devem ser responsabilizados pelo fracasso a que esto destinados.

    d) A psicologia deve romper com a cumplicidade que tem caracterizado sua relao

    com a educao, para se apresentar como um conhecimento capaz

    dedemonstrar e compreender a dimenso subjetiva da experincia vivida na

    escola pelas camadas pobres.

    v A Psicologia se institui em nossa sociedade moderna como uma cincia e

    uma profissoconservadoras que no constri, nem debate um projeto

    de transformao social.

    a) Pois se o estado de sade e psicolgico ideal natural, no h por que considerar

    necessrio um projeto de homem e sociedade que respalde a Psicologia e suas

    intervenes.

    b) O diferente torna-se patolgico, pois no segue a natureza humana.

    c) A psicologia se instalou na sociedade brasileira

    para diferenciar e categorizar,criando instrumentos adequados para isto e

    construiu-se um perfil profissional voltado para psicoterapias e para

    os consultrios de psicologia.

    v preciso adotar concepes que compreendam o sujeito como se constituindo ao atuar

    no mundo e nas relaes sociais.

    a) Pensar o homem, como ser histrico e

    social, que atua de formatransformadora sobre o mundo e, ao fazer isso, se

    transforma tambm;

    b) Possibilita que a Psicologia contribua para que o educador compreenda a

    importncia de seu papel na escola:

    (1) Planejamento das situaes educativas;

    (2) Enriquecer o ensino com contedos da realidade prxima aos educandos;

    (3) Estes elementos sero condies de construo de um mundo psicolgico

    saudvel;

    (4) Possibilitam ao aluno ampliar a sua compreenso do mundo que o cerca.