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Atualização e Prática RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL TEORIA E PRÁTICA Adriana Galvão Moura Abílio

RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL TEORIA E PRÁTICA · Atualização e Prática Código Civil (arts. 11 a 21) Tratado nos artigos 11 a 21 do Código Civil Brasileiro, a regra legal

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Atualização e Prática

RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL TEORIA E PRÁTICA

Adriana Galvão Moura Abílio

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Dignidade da pessoa humana e acesso a direitos de pessoas trans*

• Declaração Universal Direitos Humanos de 1948

• Princípio de Yogyakarta – 2006

• Artigo 1º, III CF – Princípio da Dignidade Humana

• Artigo 3º, IV CF - proíbe discriminações odiosas

• Artigo 5º, CF – Igualdade perante a lei

• Artigo 6º Direitos sociais - à saúde

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Aspecto Constitucional

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

• III - a dignidade da pessoa humana;

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

• IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

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Princípios de Yogyakarta

Os princípios foram apresentados como uma carta global paraos direitos LGBT em 26 de março de 2007 perante o Conselhode Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra. Areunião de especialistas foi realizada em Yogyakarta, naIndonésia, entre 06 e 09 de novembro de 2006. Estes princípiosnão foram adotadas pelos Estados em um tratado, e, portanto,não constituem , por si só, um instrumento vinculativo dedireito internacional.

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Princípio: DIREITO AO RECONHECIMENTO PERANTE A LEI

Toda pessoa tem o direito de ser reconhecida, em qualquerlugar,como pessoa perante a lei. As pessoas de orientaçõessexuais e identidades de gênero diversas devem gozar decapacidade jurídica em todos os aspectos da vida. Aorientação sexual e identidade de gênero auto definidas porcada pessoa constituem parte essencial de sua personalidadee um dos aspectos mais básicos de sua autodeterminação,dignidade e liberdade. Nenhuma pessoa deverá ser forçada ase submeter a procedimentos médicos, inclusive cirurgia demudança de sexo, esterilização ou terapia hormonal, comorequisito para o reconhecimento legal de sua identidade degênero. Nenhum status, como casamento ou status parental,pode ser invocado para evitar o reconhecimento legal daidentidade de gênero de uma pessoa. Nenhuma pessoa deveser submetida a pressões para esconder, reprimir ou negar suaorientação sexual ou identidade de gênero.

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Processo Transexualizador

Processo transexualizador: Processo pelo qual apessoa transgênero modifica seu corpo paraadquirir características físicas do gênero com o qualse identifica. Pode ou não incluir tratamentohormonal, procedimentos cirúrgicos variados(como mastectomia, para homens transexuais) ecirurgia de redesignação genital/sexual ou detransgenitalização. (JESUS, 2012, p. 41)

Cirurgia de redesignação genital/sexual ou detransgenitalização - Procedimento cirúrgico pormeio do qual se altera o órgão genital da pessoapara criar uma neovagina ou um neofalo.(implantação de uma prótese peniana)

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Regulamentação no Brasil

1997 - Conselho Federal de Medicina, em 10 de setembro de 1997,editou a Resolução nº1482/97;

Até 1997, cirurgias de mudança de sexo eram proibidas no Brasil. Pessoas que desejassempassar pela mesma eram obrigadas a recorrer a clínicas clandestinas ou, maisfreqüentemente, a médicos no exterior

2001 - Ação do Ministério Público Federal pela inclusão, na tabela de procedimentos doSUS, dos procedimentos de transgenitalização mencionados na Resolução nº 1.482/1997do CFM. A demanda era pelo custeio dos procedimentos médico–cirúrgicos no sistema desaúde público.

2002 - Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.652/2002, que autoriza a cirurgiade transgenitalização do tipo neocolpovulvoplastia como “tratamento” dos casos de“transexualismo”

2008 - Portaria n. 457/SAS, de 19 de agosto de 2008. Regulamenta o ProcessoTransexualizador no SUS.

2010 - Resolução CFM Nº 1.955/2010 - Dispõe sobre a cirurgia de transgenitalismo erevoga a Resolução CFM nº 1.652/02.

2013 - Portaria SUS 2.803, oficializa as cirurgias de redesignação sexual, implantando o"Processo Transexualizador" por meio do Sistema Único de Saúde.

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Direito ao nome – Ação de Retificação de Registro Civil

Possibilidade Jurídica

*Lei de Registro Públicos (Lei 6015/73)

A jurisprudência e a doutrina tem se posicionado favoravelmente a alteração doprenome do transexual, com base :

art. 55, parágrafo único exposição ao ridículo;

art. 57 , mudança de gênero e nome é caso excepcional e justifica a alteração;

art. 58 , apelidos públicos notórios, quando uma pessoa é reconhecidapublicamente por um prenome diverso ao que consta do seu Registro Civil.Possibilita a extensão para o caso do transexual.

O objetivo da norma é exatamente proteger esses indivíduos doconstrangimento, das humilhações e das discriminações que sofrem nasociedade, ao permitir a retificação do prenome e do sexo no documentoregistral.

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Código Civil (arts. 11 a 21)

Tratado nos artigos 11 a 21 do Código Civil Brasileiro, a regra legal impõe que osdireitos de personalidade são bens jurídicos especialíssimos que compõe ahumanidade do ser.

Para Nelson e Rosa Nery, (2009:225): “O fundamento constitucional dos direitosde personalidade é a dignidade da pessoa humana, que se constitui emfundamento da República brasileira (CF 1º III). O objeto dos direitos depersonalidade é tudo aquilo que disse respeito à natureza do ser humano, comopor exemplo, a vida, a liberdade, proteção de dados pessoais, integridade física emoral, honra imagem, vida privada, privacidade, intimidade, intangibilidade dafamília, autoestima, igualdade, segurança”.

Ele é intransponível, irrenunciável, ilimitado, imprescritível, impenhorável. O queindica que esses direitos estão estreitamente ligados à transformação dasociedade. Tanto que estão assegurados no título dos direitos fundamentais daCF

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STF - ADI 4275/09 – Julgamento em 01/03/2018• Reconhece o direito de transexuais alterarem seu nome e sexo no

registro civil mesmo para os que não fizeram a cirurgia para mudançanas características da genitália (transgenitalização).

• A ação foi ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) a fimde que fosse dada interpretação conforme a Constituição Federal aoartigo 58 da Lei 6.015/1973, que dispõe sobre os registros públicos, nosentido de ser possível a alteração de prenome e gênero no registrocivil mediante averbação no registro original, independentemente decirurgia de transgenitalização.

• Todos os ministros da Corte reconheceram o direito, e a maioriaentendeu que, para a alteração, não é necessária autorização judicial.Votaram nesse sentido os ministros Edson Fachin, Luiz Roberto Barroso,Rosa Weber, Luiz Fux, Celso de Mello e a presidente da Corte, CármenLúcia. Ficaram vencidos, nesse ponto, o ministro Marco Aurélio (relator),que considerou necessário procedimento de jurisdição voluntária (emque não há litigio) e, em menor extensão, os ministros Alexandre deMoraes, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, que exigiamautorização judicial para a alteração.

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Voto Ministro Relator – Marco Aurélio

• Julgo parcialmente procedente o pedido para assentar, comointerpretação do artigo 58 da Lei nº 6.015/1973 compatível com aConstituição Federal, a possibilidade de mudança de prenome e gênerono registro civil, mediante averbação no registro original, condicionandose a modificação, no caso de cidadão não submetido à cirurgia detransgenitalização, aos seguintes requisitos: (i) idade mínima de 21anos; e (ii) diagnóstico médico de transexualismo, presentes os critériosdo artigo 3º da Resolução nº 1.955/2010, do Conselho Federal deMedicina, por equipe multidisciplinar constituída por médico psiquiatra,cirurgião, endocrinologista, psicólogo e assistente social, após, nomínimo, dois anos de acompanhamento conjunto. Tenho comoinconstitucional interpretação do artigo que encerre a necessidade decirurgia para ter-se a alteração do registro quer em relação ao nome,quer no tocante ao sexo.

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Voto Ministro Luís Roberto Barroso

• O ministro Luís Roberto Barroso avaliou que oprocedimento de alteração no registro civil dependeapenas da autodeclaração, sem necessidade de decisãojudicial. Ele propôs a fixação da seguinte tese: “Apessoa transgênero que comprove a sua identidadede gênero dissonante daquela que lhe foi designadaao nascer, por autoidentificação firmada emdeclaração escrita dessa sua vontade, dispõe dodireito fundamental subjetivo à alteração do prenomee da classificação de gênero no registro civil pela viaadministrativa ou judicial, independentemente deprocedimento cirúrgico e laudos de terceiros, por setratar de tema relativo ao direito fundamental ao livredesenvolvimento da personalidade”.

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Voto Ministra Rosa Weber

• A ministra Rosa Weber também considerou que adecisão na ADI deve ser ampliada aos transgêneros,mas entendeu ser desnecessário um comandojudicial para a alteração do registro nos demaisórgãos estatais. “A via judicial pode resultar comouma via alternativa”,

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Voto Ministro Luiz Fux

• Possibilidade de adequação do registro público àrealidade e a desnecessidade de cirurgia. “O direitoà retificação do registro civil de modo a adequá-lo àidentidade de gênero concretiza a dignidade dapessoa humana na tríplice concepção da busca dafelicidade, do princípio da igualdade e do direito aoreconhecimento”. Para o ministro, a inserção social,a autoconfiança, o autorrespeito e a autoestimadecorrem dessa titularidade. Por fim, avaliou quenão deve haver nenhum tipo de obstáculo, e tudodeve se passar no campo notarial.

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Voto Ministro Fachim

• A alteração dos assentos no registro públicodepende apenas da livre manifestação de vontadeda pessoa que visa expressar sua identidade degênero. A pessoa não deve provar o que é e oEstado não deve condicionar a expressão daidentidade a qualquer tipo de modelo, ainda quemeramente procedimental.

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STF - ADI 4275/09 – Julgamento em 01/03/2018

• Em 01 de março de 2018, no julgamento da ADI 4275, o plenário doSupremo Tribunal Federal – STF, por maioria de votos, decidiu peloreconhecimento aos transgêneros que assim o desejarem,independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da realizaçãode tratamentos hormonais ou patologizantes, o direito à substituiçãode prenome e sexo, diretamente no registro civil.

• Aqueles favoráveis ao entendimento do STF comemoraram a decisão,sustentando que o julgado está em consonância com o princípio dadignidade da pessoa humana, na medida em que coíbe o preconceito ea discriminação à opção gênero, decorrente do direito fundamental deautodeterminação.

• Contrários defendem que a referida decisão apresenta incongruênciacom o ordenamento jurídico vigente e acarreta insegurança nas relaçõeshumanas. Apontam, por exemplo, que a pessoa cisgênero para poderalterar apenas o nome, como regra, necessita justificar as suas razões ebuscar a via judicial, ao passo que o transgênero consegue alterar o sexoe prenome, imotivadamente, diretamente no Registro Civil.

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PROVIMENTO N. 73, DE 28 DE JUNHO DE 2018

• Dispõe sobre a averbação da alteração do prenome e do gêneronos assentos de nascimento e casamento de pessoatransgênerono Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN). OCORREGEDOR NACIONAL DE JUSTIÇA, usando de suas atribuiçõesconstitucionais, legais e regimentais e CONSIDERANDO o poderde fiscalização e de normatização do Poder Judiciário dos atospraticados por seus órgãos [art. 103-B, § 4º, I, II e III, daConstituição Federal de 1988 (CF/88)]; CONSIDERANDO acompetência do Poder Judiciário de fiscalizar os serviços dosRCPNs (arts. 103-B, § 4º, I e III, e 236, § 1º, da CF/88);CONSIDERANDO a competência do Corregedor Nacional deJustiça de expedir provimentos e outros atos normativosdestinados ao aperfeiçoamento das atividades dos ofícios doRCPN (art. 8º, X, do Regimento Interno do Conselho Nacional deJustiça); CONSIDERANDO a obrigação dos registradores do RCPNde cumprir as normas técnicas estabelecidas pelo Poder Judiciário(arts. 37 e 38 da Lei n. 8.935, de 18 de novembro de 1994);

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• CONSIDERANDO a legislação internacional de direitos humanos, em especial, o Pacto de SanJose da Costa Rica, que impõe o respeito ao direito ao nome (art. 18), ao reconhecimento dapersonalidade jurídica (art. 3º), à liberdade pessoal (art. 7º.1) e à honra e à dignidade (art. 11.2);CONSIDERANDO a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, da qual a RepúblicaFederativa do Brasil é signatária e cujos dispositivos devem ser observados sob pena deresponsabilidade internacional; CONSIDERANDO a Opinião Consultiva n. 24/17 da CorteInteramericana de Direitos Humanos, que trata da identidade de gênero, igualdade e nãodiscriminação e define as obrigações dos Estados-Parte no que se refere à alteração do nome e àidentidade de gênero; CONSIDERANDO o direito constitucional à dignidade (art. 1º, III, daCF/88), à intimidade, à vida privada, à honra, à imagem (art. 5º, X, da CF/88), à igualdade (art. 5º,caput, da CF/88), à identidade ou expressão de gênero sem discriminações; CONSIDERANDO adecisão da Organização Mundial da Saúde de excluir a transexualidade do capítulo de doençasmentais da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde(CID); CONSIDERANDO a possibilidade de o Brasil, como Estado-Membro das Nações Unidas,adotar a nova CID a partir de maio de 2019, quando da apresentação do documento naAssembleia Mundial da Saúde, sendo permitidos, desde já, o planejamento e a adoção depolíticas e providências, inclusive normativas, adequadas à nova classificação; CONSIDERANDO adecisão do Supremo Tribunal Federal que conferiu ao art. 58 da Lei n. 6.015, de 31 de dezembrode 1973, interpretação conforme à Constituição Federal, reconhecendo o direito da pessoatransgênero que desejar, independentemente de cirurgia de redesignaçãoou da realização detratamentos hormonais ou patologizantes, à substituição de prenome e gênero diretamente noofício do RCPN (ADI n. 4.275/DF); CONSIDERANDO a decisão proferida nos autos do Pedido deProvidências n. 0005184-05.2016.2.00.0000, em trâmite no Conselho Nacional de Justiça,

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• RESOLVE: Art. 1º Dispor sobre a averbação da alteração do prenome e do gênero nos assentosde nascimento e casamento de pessoa transgênero no Registro Civil das Pessoas Naturais. Art. 2ºToda pessoa maior de 18 anos completos habilitada à prática de todos os atos da vida civilpoderá requerer ao ofício do RCPN a alteração e a averbação do prenome e do gênero, a fim deadequá-los à identidade autopercebida. § 1º A alteração referida no caput deste artigo poderáabranger a inclusão ou a exclusão de agnomes indicativos de gênero ou de descendência. § 2º Aalteração referida no caput não compreende a alteração dos nomes de família e não podeensejar a identidade de prenome com outro membro da família. § 3º A alteração referida nocaput poderá ser desconstituída na via administrativa, mediante autorização do juiz corregedorpermanente, ou na via judicial. Art. 3º A averbação do prenome, do gênero ou de ambos poderáser realizada diretamente no ofício do RCPN onde o assento foi lavrado. Parágrafo único. Opedido poderá ser formulado em ofício do RCPN diverso do que lavrou o assento; nesse caso,deverá o registrador encaminhar o procedimento ao oficial competente, às expensas da pessoarequerente, para a averbação pela Central de Informações do Registro Civil (CRC). Art. 4º Oprocedimento será realizado com base na autonomia da pessoa requerente, que deverádeclarar, perante o registrador do RCPN, a vontade de proceder à adequação da identidademediante a averbação do prenome, do gênero ou de ambos. § 1º O atendimento do pedidoapresentado ao registrador independe de prévia autorização judicial ou da comprovação derealização de cirurgia de redesignação sexual e/ou de tratamento hormonal ou patologizante,assim como de apresentação de laudo médico ou psicológico. § 2º O registrador deveráidentificar a pessoa requerente mediante coleta, em termo próprio, conforme modelo constantedo anexo deste provimento, de sua qualificação e assinatura, além de conferir os documentospessoais originais. § 3º O requerimento será assinado pela pessoa requerente na presença doregistrador do RCPN, indicando a alteração pretendida. § 4º A pessoa requerente deverádeclarar a inexistência de processo judicial que tenha por objeto a alteração pretendida.

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• § 5º A opção pela via administrativa na hipótese de tramitação anterior de processo judicial cujoobjeto tenha sido a alteração pretendida será condicionada à comprovação de arquivamento dofeito judicial. § 6º A pessoa requerente deverá apresentar ao ofício do RCPN, no ato dorequerimento, os seguintes documentos: I – certidão de nascimento atualizada; II – certidão decasamento atualizada, se for o caso; Este texto não substitui o publicado no Diário de JustiçaEletrônico do CNJ, 29 jun. 2018. III – cópia do registro geral de identidade (RG); IV – cópia daidentificação civil nacional (ICN), se for o caso; V – cópia do passaporte brasileiro, se for o caso;VI – cópia do cadastro de pessoa física (CPF) no Ministério da Fazenda; VII – cópia do título deeleitor; IX – cópia de carteira de identidade social, se for o caso; X – comprovante de endereço;XI – certidão do distribuidor cível do local de residência dos últimos cinco anos(estadual/federal); XII – certidão do distribuidor criminal do local de residência dos últimos cincoanos (estadual/federal); XIII – certidão de execução criminal do local de residência dos últimoscinco anos (estadual/federal); XIV – certidão dos tabelionatos de protestos do local de residênciados últimos cinco anos; XV – certidão da Justiça Eleitoral do local de residência dos últimos cincoanos; XVI – certidão da Justiça do Trabalho do local de residência dos últimos cinco anos; XVII –certidão da Justiça Militar, se for o caso. § 7º Além dos documentos listados no parágrafoanterior, é facultado à pessoa requerente juntar ao requerimento, para instrução doprocedimento previsto no presente provimento, os seguintes documentos: I – laudo médico queateste a transexualidade/travestilidade; II – parecer psicológico que ateste atransexualidade/travestilidade; III – laudo médico que ateste a realização de cirurgia deredesignação de sexo

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• § 8º A falta de documento listado no § 6º impede a alteração indicada no requerimento apresentado ao ofício do RCPN. § 9º Ações em andamento ou débitos pendentes, nas hipóteses dos incisos XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI e XVII do § 6º, não impedem a averbação da alteração pretendida, que deverá ser comunicada aos juízos e órgãos competentes pelo ofício do RCPN onde o requerimento foi formalizado. Art. 5º A alteração de que trata o presente provimento tem natureza sigilosa, razão pela qual a informação a seu respeito não pode constar das certidões dos assentos, salvo por solicitação da pessoa requerente ou por determinação judicial, hipóteses em que a certidão deverá dispor sobre todo o conteúdo registral. Art. 6º Suspeitando de fraude, falsidade, má-fé, vício de vontade ou simulação quanto ao desejo real da pessoa requerente, o registrador do RCPN fundamentará a recusa e encaminhará o pedido ao juiz corregedor permanente. Art. 7º Todos os documentos referidos no art. 4º deste provimento deverão permanecer arquivados indefinidamente, de forma física ou eletrônica, tanto no ofício do RCPN em que foi lavrado originalmente o registro civil quanto naquele em que foi lavrada a alteração, se diverso do ofício do assento original. Parágrafo único. O ofício do RCPN deverá manter índice em papel e/ou eletrônico de forma que permita a localização do registro tanto pelo nome original quanto pelo nome alterado. Art. 8º Finalizado o procedimento de alteração no assento, o ofício do RCPN no qual se processou a alteração, às expensas da pessoa requerente, comunicará o ato oficialmente aos órgãos expedidores do RG, ICN, CPF e passaporte, bem como ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). § 1º A pessoa requerente deverá providenciar a alteração nos demais registros que digam respeito, direta ou indiretamente, a sua identificação e nos documentos pessoais. § 2º A subsequente averbação da alteração do prenome e do gênero no registro de nascimento dos descendentes da pessoa requerente dependerá da anuência deles quando relativamente capazes ou maiores, bem como da de ambos os pais. § 3º A subsequente averbação da alteração do prenome e do gênero no registro de casamento dependerá da anuência do cônjuge. § 4º Havendo discordância dos pais ou do cônjuge quanto à averbação mencionada nos parágrafos anteriores, o consentimento deverá ser suprido judicialmente. Art. 9º Enquanto não editadas, no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, normas específicas relativas aos emolumentos, observadas as diretrizes previstas pela Lei n. 10.169, de 29 de dezembro de 2000, aplicar-se-á às averbações a tabela referente ao valor cobrado na averbação de atos do registro civil. Parágrafo único. O registrador do RCPN, para os fins do presente provimento, deverá observar as normas legais referentes à gratuidade de atos. Art. 10. Este provimento entra em vigor na data de sua publicação.

• Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA

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Requerimento Administrativo

• ANEXO SR. OFICIAL DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS DO MUNICÍPIO DE ....

• I - REQUERENTE: Nome civil completo, nacionalidade, naturalidade, data e local do nascimento,estado civil, profissão, RG, CPF, endereço completo, telefone, endereço eletrônico. II -REQUERIMENTO: Visto que o gênero que consta em meu registro de nascimento não coincidecom minha identidade autopercebida e vivida, solicito que seja averbada a alteração do sexopara (masculino ou feminino), bem como seja alterado o prenome para... III - DECLARAÇÕES SOBAS PENAS DA LEI Declaro que não possuo passaporte, identificação civil nacional (ICN) ouregistro geral de identidade (RG) emitido em outra unidade da Federação. OU Declaro quepossuo o Passaporte n. ...., ICN n. .... e RG n. ... Estou ciente de que não será admitida outraalteração de sexo e prenome por este procedimento diretamente no registro civil, resguardada avia administrativa perante o juiz corregedor permanente. Estou ciente de que devereiprovidenciar a alteração nos demais registros que digam respeito, direta ou indiretamente, aminha pessoa e nos documentos pessoais. Declaro que não sou parte em ação judicial emtrâmite sobre identidade de gênero (ou Declaro que o pedido que estava em trâmite na viajudicial foi arquivado, conforme certidão anexa.) IV - FUNDAMENTO JURÍDICO O presenterequerimento está fundamentado no princípio da dignidade da pessoa humana, no art. 58 da Lein. 6.015/1973, interpretado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI n. 4.275, e noProvimento CN-CNJ n. ......./2018. Por ser verdade, firmo o presente termo. Local e data.Assinatura do requerente CERTIFICO E DOU FÉ que a assinatura supra foi lançada em minhapresença. Local e data. Carimbo e assinatura do cartório Este texto não substitui o publicado noDiário de Justiça

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Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional.

• O direito de ação é um direito público subjetivo docidadão, expresso na Constituição Federal de 1988em seu art. 5º, XXXV.

• Em caso de processo em andamento, sugestão parapeticionar e requerer o julgamento antecipado domérito, nos termos do art. 355, I do CPC,independentemente da produção de provas, hajavista o reconhecimento por parte do STF do critérioda autodeclaração para o reconhecimento jurídicoda identidade de gênero nos assentos registrais dapessoa transgênera.

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Ação de Retificação de Registro CivilDocumentaçãoProcuração, RG, declaração hipossuficiência, certidão denascimento, Reservista, CNH, diploma escolar, notícia naimprensa, Laudos psiquiátrico(original), relatóriopsicológico, endócrino, correspondências e fotos, e-mail,Crachá, Correspondência correios, cartões -estudante/ônibus/sus/certidões: Cível – Criminal,Protestos, SPC, Receita Federal, Justiça Federal, QuitaçãoEleitoral.Art. 109 (Lei 6015/73). Quem pretender que serestaure, supra ou retifique assentamento no RegistroCivil, requererá, em petição fundamentada e instruídacom documentos ou com indicação de testemunhas,que o Juiz o ordene, ouvido o órgão do MinistérioPúblico e os interessados, no prazo de cinco dias, quecorrerá em cartório.

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Atualização e Prática

A ação de retificação/suprimento/ou restauração de

registro civil

Ingresso da ação Manifestação MP

Audiência ou não Perícia ou não

Sentença Procedência:Mandado de retificação em Cartório Recurso : Apelação

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CompetênciaDecreto-Lei Complementar nº 3/69 (Código Judiciário do Estado de SP):

Art. 37 - Aos Juízes das Varas da Família e Sucessões compete

I - processar e julgar:

a) as ações relativas a estado (...).

“Trata-se de matéria de estado, e não de mera retificação de registro masde alteração da identidade do indivíduo, portanto, de competência dasVaras da Família e Sucessões e, consequentemente, das Colendas Câmarasde Direito Privado”( 11ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO VOTO N.º 26.743 -APELAÇÃO CÍVEL N.º 4005985-37.2013.8.26.0482 - TJ-SP)”

“Ação de retificação de registro civil - pretensão de modificação deprenome e gênero - transexualidade - direitos da personalidade - dignidadeda pessoa humana - alterações complexas que refletem no estado depessoa, não se tratando de simples retificação de registro civil -competência do juízo suscitado - vara de família - conflito procedente.(TJPR - 12ª C.Cível - CC - 915453-2 - Foro Central da Comarca da Curitiba -Rel. Joeci Machado Camargo - Unânime - 07.11.2012)

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Competência para alteração apenas de prenome : Vara de Registros Públicos

Doutrina e a Jurisprudência tem entendido que quando se trata dealteração apenas de prenome, a competência da Vara Especializada deRegistros Públicos.

“Vistos. Trata-se de Ação de Retificação de Registro Civil quanto aoGênero movida por C. C. P. da S. , alegando, em síntese, que nasceucomo G. P. da S. Júnior, mas foi diagnosticada como transexual, játendo alterado o prenome em ação de retificação de registro civil quetramitou perante a 2ª Vara de Registros Públicos. “ (Proc. 1024830-48.2016.8.26.0100. 10ª Vara de Família Fórum Central SP).

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Competência posicionamento

TJ/SP

“Quanto ao pedido de retificação de registro civil para alteração de

prenome e gênero (sexo), acertadamente posicionou-se o C. Juízo de

primeiro grau, pois não se trata de alteração do registro em seu aspecto

meramente formal, mas de alteração da identidade do indivíduo, matéria

de estado, portanto, de competência das Varas da Família e Sucessões e,

consequentemente, das Colendas Câmaras de Direito Privado; assim,

determina o art. 37, inciso I, do Decreto-Lei Complementar nº 3/69”. 11ª

CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO TJ/SP - VOTO N.º 26.743 -

APELAÇÃO CÍVEL N.º 4005985-37.2013.8.26.0482

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Averbação

Art. 109 - ...§ 4º Julgado procedente o pedido, o Juiz ordenará que se expeça mandado para

que seja lavrado, restaurado e retificado o assentamento, indicando, com precisão,os fatos ou circunstâncias que devam ser retificados, e em que sentido, ou os quedevam ser objeto do novo assentamento.Art. 110 - ...§ 4o Deferido o pedido, o oficial averbará a retificação à margem do registro,mencionando o número do protocolo e a data da sentença e seu trânsito em julgado,quando for o caso.Quanto à averbação, a jurisprudência é pacífica no sentido de a de não dar publicidadeda situação anterior do requerente, salvo ao próprio interessado ou mediante decisãojudicial, sob pena de ser mantido o preconceito e a discriminação. Em outubro de2009, a 3ª turma STJ, determinou que o registro de que a designação do sexo alteradajudicialmente constasse apenas nos livros cartorários.

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JURISPRUDÊNCIA - Decisões favoráveis sem cirurgia de redesignaçãode gênero/sexo

Pernambuco - Constitucional. Civil. Processual Civil e Registro Público. Alteração denome e sexo em assento civil de nascimento sem a realização de cirurgia deredesignação sexual. Requerente portadora de transexualismo (CID-10 F 64.0),devidamente comprovado nos autos mediante atestado médico e fotografias.Desnecessidade e inviabilidade de realização de procedimento cirúrgico. Pedido comprecedente no artigo 109 da Lei nº 6.015/73 e na Jurisprudência. Feito de jurisdiçãovoluntária. Prova material incontroversa. Caráter social da ação. Adequação darealidade psicossocial da requerente à realidade jurídica. Efetivação do princípioconstitucional da dignidade da pessoa humana. Novo prenome proposto que seadequa a identificar a requerente sem dificuldade, ante a semelhança com o anterior.Utilização do nome anterior apenas para fins de nome de fantasia profissional, nostermos do artigo 57, § 1º, da Lei 6.015/73. Parecer favorável do Ministério Público.Procedência dos pedidos deduzidos na exordial. (TJPE, Proc. nº 0180-59.13, Rel. Juiz deDireito José Adelmo Barbosa da Costa, j. 08/04/2013).

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JURISPRUDÊNCIA - Decisões favoráveis sem cirurgia deredesignação de gênero/sexo

Rio de Janeiro - Agravo de instrumento. Ação em que se pleiteia a alteração denome e sexo em assento de nascimento. Insurgência contra a decisão quedeterminou a suspensão do processo até a data marcada para a realização dacirurgia de transgenitalização. Acerto da decisão recorrida quanto à modificaçãode sexo no registro. Possibilidade de antecipação da tutela no tocante à mudançado prenome, passando a se adotar no registro o nome social do requerente.Artigo 273, § 6º, do CPC. Parecer subscrito por dois peritos a confirmar que orequerente é social e profissionalmente reconhecido como mulher. Identidadesocial em conflito com o nome de registro. Alteração do nome que independeda realização da operação programada. Necessidade da modificação do nomeevidenciada. Decisões judiciais sobre a possibilidade de alteração de nome civil.Artigo 57 da Lei 6.015/73. Recurso parcialmente provido. Artigo 557, § 1º-A, doCPC. (TJRJ, AI 0060493-21.2012.8.19.0000, 6ª C. Cív., Rel. Des. Wagner Cinelli dePaula Freitas, j. 08/03/2013).

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JURISPRUDÊNCIA - Decisões favoráveis sem cirurgia de redesignação degênero/sexo

São Paulo - Registro civil. Alteração de prenome e sexo da requerenteem virtude de sua condição de transexual. Admissibilidade. Hipóteseem que provada, pela perícia multidisciplinar, a desconformidade entreo sexo biológico e o sexo psicológico da requerente. Registro civil quedeve, nos casos em que presente prova definitiva do transexualismo,dar prevalência ao sexo psicológico, vez que determinante docomportamento social do indivíduo. Aspecto secundário, ademais, daconformação biológica sexual, que torna despicienda a préviatransgenitalização. Observação, contudo, quanto à forma dasalterações que devem ser feitas mediante ato de averbação commenção à origem da retificação em sentença judicial. Ressalva que nãosó garante eventuais direitos de terceiros que mantiveramrelacionamento com a requerente antes da mudança, mas tambémpreserva a dignidade da autora, na medida em que os documentosusuais a isso não farão qualquer referência. Decisão de improcedênciaafastada. Recursos providos, com observação. (TJSP, AC 0008539-56.2004.8.26.0505, 6ª C. Dir. Priv., Rel. Des. Vitor Guglielmi j.18/10/2012).

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JURISPRUDÊNCIA - Decisões favoráveis sem cirurgia deredesignação de gênero/sexo

Apelação. Retificação de registro civil. Extinção do processo sem julgamento do mérito.Pedido de alteração de sexo em virtude de transexualismo. A cirurgia de transgenitalizaçãonão é requisito para a retificação de assento ante o seu caráter secundário. Oprocedimento cirúrgico tem natureza complementar, visando a conformação dascaracterísticas e anatomia ao sexo psicológico. Quanto à forma das alterações, devem serfeitas mediante ato de averbação com menção à origem da retificação em sentençajudicial. Aplicação do artigo 515, §3º, do Código de Processo Civil. Sentença reformada parapermitir a alteração do sexo civil do apelante. Recurso provido. “Incabível a extinção dofeito por carência de ação, por “prematuro o pedido”, por falta de cirurgia a conferircerteza à orientação sexual do promovente, pois, não entender juridicamente possível opedido formulado na exordial, significa postergar o exercício do direito à identidadepessoal e subtrair do autor a prerrogativa de adequar o registro do sexo civil à sua condiçãopsicossocial, violando o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (STJ, REspnº 737.993-MG, Relator Min. João Otávio de Noronha, julgado em 10/11/2009).”APELAÇÃO CÍVEL Nº 1027203-86.2015.8.26.0100 -Comarca: São Paulo Central Cível 11ªVara da Família e Sucessões - Apelante: T. C. da S. S. - 20 de setembro de 2016

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Decisão de 09/05/2017 do Superior Tribunal de JustiçaRelator: Luís Felipe Salomão (fonte STJ)

A 4ª Turma do (STJ) decidiu que os transexuais têm direito à alteração do gênero noregistro civil, mesmo sem realização de cirurgia de mudança de sexo. Na decisão, ocolegiado entendeu que a mudança do documento não pode ser condicionada apenas àrealização de cirurgia, mas que deve levar em conta aspectos físicos e psicológicos.

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) permitiu a mudança no nome do transexual,mas negou a alteração do gênero no registro civil de masculino para feminino.

“Se a mudança do prenome configura alteração de gênero [masculino para feminino ouvice-versa], a manutenção do sexo constante do registro civil preservará a incongruênciaentre os dados assentados e a identidade de gênero da pessoa, a qual continuará suscetívela toda sorte de constrangimentos na vida civil, configurando-se, a meu juízo, flagranteatentado a direito existencial inerente à personalidade”.

Pela decisão, os cartórios ficam proibido de incluir, ainda que de forma sigilosa, a expressão“transexual”, sexo biológico ou os motivos das modificações da carteira de identidade.

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Despatologização

Conceito introduzido por uma campanha internacional pelaexclusão da transexualidade, da travestilidade e dasmanifestações de gênero que escapam à noção bináriahomem/mulher da Classificação Diagnóstica e Estatística deDoenças – CID, da Organização Mundial de Saúde e do ManualDiagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais – DSM, daAssociação Psiquiátrica Americana (Cf. JESUS, 2012, p. 29)

Em âmbito nacional, discussão quanto à exigência de submissãoà diagnóstico psiquiátrico e/ou psicológico para oferta dos“tratamentos” gratuitos vinculados ao processo transexualizador.

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Atualização e PráticaDecisões inéditas no Brasil

A Defensoria Pública da Bahia (DP-BA) - transexual sem necessidade de ajuizaruma ação. Averbação do documento, foi possível mudar o nome e o sexo dacertidão de nascimento de Palloma Oliveira de Almeida, de 32 anos, nascida emSimões Filho, a partir de ofício enviado pelos defensores públicos da comarca deCamaçari, o juiz Eldsamir da Silva Mascarenhas, da 1ª Vara de Feitos de Relaçõesde Consumo, Cível e Comercial de Simões Filho, autorizou a averbação.Dispositivoslegais invocados: arts. 58 e 110, da Lei de Registros Públicos e os Princípios deYogyakarta

Criança transexual, de 09 anos, do estado do Mato Grosso do Sul, Comarca deSorriso. A criança conseguiu a autorização para mudança de nome e redesignaçãogênero. O objetivo foi “garantir (...) como ela se vê na sua individualidade e na suaorientação feminina, ela seja respeitada e tratada da forma como é, (...)".Contudo, a regra médica, como o acompanhamento junto ao Hospital das Clínicasde São Paulo, foi preponderante para nortear o convencimento da ciência jurídica.

Caso Neon Cunha – Retificação de prenome e gênero independe de laudo

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Identidade de Gênero – Direito Comparado

• Lei Argentina de 2011, possibilita a retificação emcartório independente de laudo patologizante.

• Malta - basta auto declaração em cartório

• Bolívia – permite que transexuais e transgênerosportem uma identificação com a fotografia dapessoa que decidiram ser e não com a identidadeque nasceram.

• Colômbia – Decreto 1227/2015 – retificação emCartório.

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Recurso Extraordinário RE 845779 – STF (Uso dos banheiros)

O julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 845779 – sobre odireito de transexuais serem tratados socialmente de formacondizente com sua identidade de gênero – foi interrompido por umpedido de vista do ministro Luiz Fux, na sessão plenária desta quinta-feira (19). O recurso, interposto no Supremo Tribunal Federal (STF),discute a reparação de danos morais a transexual que teria sidoconstrangida por funcionário de um de shopping center emFlorianópolis (SC) ao tentar utilizar banheiro feminino.

O tema teve repercussão geral reconhecida pelo Plenário Virtual daCorte e a decisão atingirá, ao menos, 778 processos sobrestadosatualmente sobre o assunto. Até o momento, votaram os ministrosLuís Roberto Barroso (relator) e Edson Fachin, pelo provimento doRE, a fim de que seja restabelecida a sentença de primeiro grau quecondenou o shopping a pagar uma indenização de R$ 15 mil por terretirado a transexual do banheiro.Tramitação: Processo encontra-se com vista do Min Luiz Fux desde19/11/2015.

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Nome social – RDO – Registro de ocorrênciasDesde novembro de 2015, o R.D.O – Registro de Ocorrências – passou a ter dois novos

campos a serem preenchidos:

1) Campo para o Nome Social – segundo as diretrizes do Decreto nº 55.588/10, paratravestis, mulheres transexuais e homens trans;

2) Campo para ser colocado a “provável motivação do crime”: homofobia ou transfobia,permitindo um mapeamento efetivo dos casos no Estado de São Paulo.

Observações:1) a declaração do nome social da vítima e a orientação sexual serão facultativos;2) as mudanças também valem para o boletim eletrônico feito pela Internet;3) esse mapeamento não faz parte da Resolução 160 e não são de divulgação obrigatória, masirão garantir, futuramente, a divulgação desse tipo de crime de intolerância e diminuir asubnotificação.

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HC 152.491 – Transferência de duas travestis para estabelecimento prisional feminino 20/02/2018

• O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís RobertoBarroso determinou que duas detentas, que se identificam comotravestis, sejam transferidas para um estabelecimento prisionalfeminino.

• Em sua decisão, o ministro Barroso citou a resolução Conjunta 1,de 15/4/14, do Conselho Nacional de Combate à Discriminação,que trata do acolhimento de pessoas LGBT em privação deliberdade no Brasil e estabelece, entre outros direitos, que apessoa travesti ou transexual deve ser chamada pelo seu nomesocial, contar com espaços de vivência específicos, usar roupasfemininas ou masculinas, conforme o gênero, e manter os cabeloscompridos e demais características de acordo com sua identidadede gênero. A resolução também garante o direito à visita íntima.

• O ministro também citou a resolução SAP 11, de 30/1/14, doEstado de SP, que dispõe sobre a atenção a travestis e transexuaisno âmbito do sistema penitenciário paulista.

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Referências bibliográficas

BENTO, Berenice. O que é Transexualidade. Editora Brasiliense, 2008BITTAR, Carlos A. Os Direitos da Personalidade. 8ª Ed. São Paulo. Saraiva. 2015.DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias São Paulo: Revista dosTribunais, 2014.FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade v.1 Vontade de Saber, 20ª reimpressão,Edições Graal Ltda, 2010.FREIRE, Lucas. A Máquina da Cidadania: uma etnografia sobre a requalificação civilde pessoas transexuais. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, MuseuNacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.RIOS, Roger Raupp Direitos humanos, transexualidade e “direito dos banheiros”.Revista Direito & Práxis. Rio de Janeiro, Vol. 06, N.12, 2015, p. 196-227VENTURA, Miriam. A transexualidade no Tribunal: Saúde e Cidadania. EDUERJ. Rio deJaneiro. 2010VIEIRA, Tereza Rodrigues. Nome e sexo: mudanças no registro civil. São Paulo: Revistados Tribunais, 2009.