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1 RET-SUS jan/fev de 2005 Editorial Oi pessoal, adorei a revista! Vocês conseguiram mostrar o Brasil Sorridente de uma forma clara e objetiva, trazendo a formação dos trabalhadores de nível médio como um dos elementos essenciais para dar vida a essa política. Achei que matéria do Prêmio Rosália Moura traduziu a essência do que foi relatado no artigo. Obrigada! No mais, tudo muito legal: as ilustrações, a tirinha (o “oceano sorridente” foi o máximo), a entrevista. Tudo isso revela o carinho, o cuidado e o compromisso da equipe com a RET- SUS. Parabéns! Lêda Hansen Cefope, RN Gostei da entrevista com Mario Rovere, é muito importante o esforço de articulação horizontal em redes e muito oportuna a matéria sobre saúde bucal. Parabéns à editoria. Paulo Frazão São Paulo – SP É imensa a satisfação em receber essa Revista em casa. O seu conteúdo tem muita utilidade pra mim, que estou constantemente pesquisando. Lêda Maria Lima da Rocha Espírito Santo Recebi as revistas, parabéns, achei excelentes. Gostaria de continuar recebendo novas edições. Só tenho a agradecer. Marcos Souza Oskindô lêle, lelê, oskindô lalá...Opa, o Carnaval já passou. Que pena! Mas a vida continua e o trabalho também. Por isso, nesta edição, além de ficar sabendo o que os outros parceiros da Rede andam fazendo, depois de se recuperar da folia, você vai ler uma matéria sobre o Profae. Buscamos divulgar para vocês os resultados parciais de pesquisas de avaliação do programa que traz um balanço de suas ações. Na entrevista, você conhecerá melhor o que pensa o professor Gaudêncio Frigotto, um dos principais teóricos da educação profissional no país atualmente. Enquanto isso, continuamos a receber e-mails e correspondências de mais e mais pessoas querendo receber a nossa revista. Se você ainda não recebe, é muito fácil: basta enviar um pedido para o e-mail [email protected] , informando o endereço completo. Você será incluído na mala direta e receberá todas as edições gratuitamente. Renata Reis Secretaria Técnica da Rede de Escolas Técnicas do SUS

retsus revista 1 - bvsms.saude.gov.brbvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/retsus_revista_5.pdf · soas que tenham domínio teórico e prático sobre o seu fazer, que ... Fazer a leitura

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RET-SUS jan/fev de 2005

Editorial

Oi pessoal,adorei a revista! Vocês conseguirammostrar o Brasil Sorridente de umaforma clara e objetiva, trazendo aformação dos trabalhadores de nívelmédio como um dos elementosessenciais para dar vida a essa política.Achei que matéria do Prêmio RosáliaMoura traduziu a essência do que foirelatado no artigo. Obrigada!No mais, tudo muito legal: asilustrações, a tirinha (o “oceanosorridente” foi o máximo), a entrevista.Tudo isso revela o carinho, o cuidado eo compromisso da equipe com a RET-SUS. Parabéns!

Lêda HansenCefope, RN

Gostei da entrevista com Mario Rovere,é muito importante o esforço dearticulação horizontal em redes e muitooportuna a matéria sobre saúde bucal.Parabéns à editoria.

Paulo FrazãoSão Paulo – SP

É imensa a satisfação em receber essaRevista em casa. O seu conteúdo temmuita utilidade pra mim, que estouconstantemente pesquisando.

Lêda Maria Lima da RochaEspírito Santo

Recebi as revistas, parabéns, acheiexcelentes. Gostaria de continuarrecebendo novas edições.Só tenho a agradecer.

Marcos Souza

Oskindô lêle, lelê, oskindôlalá...Opa, o Carnaval já passou. Quepena! Mas a vida continua e o trabalhotambém. Por isso, nesta edição, alémde ficar sabendo o que os outrosparceiros da Rede andam fazendo,depois de se recuperar da folia, vocêvai ler uma matéria sobre o Profae.Buscamos divulgar para vocês osresultados parciais de pesquisas deavaliação do programa que traz umbalanço de suas ações. Na entrevista,você conhecerá melhor o que pensa oprofessor Gaudêncio Frigotto, um dosprincipais teóricos da educaçãoprofissional no país atualmente.

Enquanto isso, continuamos areceber e-mails e correspondências demais e mais pessoas querendo recebera nossa revista. Se você ainda nãorecebe, é muito fácil: basta enviar umpedido para o e-mail [email protected],informando o endereço completo. Vocêserá incluído na mala direta e receberátodas as edições gratuitamente.

Renata ReisSecretaria Técnica da Rede de

Escolas Técnicas do SUS

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EntrevistaGaudêncio Frigotto

‘Educação básica não é para o a felicidade, o sonho’

RET-SUS jan/fev de 2005

GGGGG rigotto é, atualmente, professor da Universidade Frigotto é, atualmente, professor da Universidade Frigotto é, atualmente, professor da Universidade Frigotto é, atualmente, professor da Universidade Federalederalederalederal

rofissional da Escola Profissional da Escola Profissional da Escola Profissional da Escola Politécnica deolitécnica deolitécnica deolitécnica deSaúde Joaquim VSaúde Joaquim VSaúde Joaquim VSaúde Joaquim Venâncio. Aenâncio. Aenâncio. Aenâncio. Autor de vários livros, Gaudêncio é formado emutor de vários livros, Gaudêncio é formado emutor de vários livros, Gaudêncio é formado emutor de vários livros, Gaudêncio é formado emFFFFilosofia e Pilosofia e Pilosofia e Pilosofia e Pedagogia, com mestrado e doutorado em Educação e é reconhecidoedagogia, com mestrado e doutorado em Educação e é reconhecidoedagogia, com mestrado e doutorado em Educação e é reconhecidoedagogia, com mestrado e doutorado em Educação e é reconhecidocomo um dos nomes mais importantes nas discussões sobre trabalho e educação.como um dos nomes mais importantes nas discussões sobre trabalho e educação.como um dos nomes mais importantes nas discussões sobre trabalho e educação.como um dos nomes mais importantes nas discussões sobre trabalho e educação.Nesta entrevista, ele fala sobre a pedagogia das competências, formação paraNesta entrevista, ele fala sobre a pedagogia das competências, formação paraNesta entrevista, ele fala sobre a pedagogia das competências, formação paraNesta entrevista, ele fala sobre a pedagogia das competências, formação parao mercado de trabalho e educação básica.o mercado de trabalho e educação básica.o mercado de trabalho e educação básica.o mercado de trabalho e educação básica.

audêncio Faudêncio Faudêncio Faudêncio Faudêncio Frigotto é, atualmente, professor da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, e professor convidado do curso de Fluminense, no Rio de Janeiro, e professor convidado do curso de Fluminense, no Rio de Janeiro, e professor convidado do curso de Fluminense, no Rio de Janeiro, e professor convidado do curso de Fluminense, no Rio de Janeiro, e professor convidado do curso deespecialização em Educação Pespecialização em Educação Pespecialização em Educação Pespecialização em Educação Pespecialização em Educação Profissional da Escola Politécnica de

Saúde Joaquim Venâncio. Autor de vários livros, Gaudêncio é formado emFilosofia e Pedagogia, com mestrado e doutorado em Educação e é reconhecidocomo um dos nomes mais importantes nas discussões sobre trabalho e educação.Nesta entrevista, ele fala sobre a pedagogia das competências, formação parao mercado de trabalho e educação básica.

O srO srO srO srO sr. se diz um crítico da pedago. se diz um crítico da pedago. se diz um crítico da pedago. se diz um crítico da pedago----gia das competências. Pgia das competências. Pgia das competências. Pgia das competências. Por quê?or quê?or quê?or quê?

. se diz um crítico da pedago-gia das competências. Por quê?

Especialmente a partir da década de80, tem-se criado uma certa febre emtorno da idéia de que os cursos,principalmente de formação profis-sional, têm que desenvolver determi-nadas competências, do saber ser, saberfazer, que são jargões da Unesco.Precisamos entender que a linguagemcarrega sentidos e significados, é pro-duzida historicamente e quer expres-sar algo. Já se falou em formação parao emprego, capital humano, educaçãovoltada para objetivos. Por que come-çamos a falar de uma educação paracompetências? Claro que queremosformar profissionais competentes, pes-soas que tenham domínio teórico eprático sobre o seu fazer, que nunca écompleto. Outra coisa é a chamada pe-dagogia das competências, que vemseguida pelo termo ‘para a emprega-bilidade’. Porque essa idéia das compe-tências vem embutida na crise do de-semprego. Há o deslocamento de umcompromisso coletivo, social para umaperspectiva extremamente individua-lista. Passa-se para a sociedade a idéiade que se o trabalhador não consegueum emprego é porque ele não desen-

volveu as competências e habilidadesnecessárias. A vítima passa a ser o cul-pado. Eu também chamo atenção parao fato de que, muitas vezes, essas fór-mulas são um incentivo à preguiça. Emvez de irmos lá analisar quem são a-queles sujeitos, sua cultura, seus sabe-res, seus preconceitos, chegamos como pacotinho do saber fazer e do saberpensar pronto. Então, eu acho que apedagogia das competências tem queser analisada social e historicamente.

As competências fizeram maisAs competências fizeram maisAs competências fizeram maisAs competências fizeram maisAs competências fizeram maissucesso na educação profissional?sucesso na educação profissional?sucesso na educação profissional?sucesso na educação profissional?sucesso na educação profissional?

Sem dúvida. E isso é muito traiçoeiroporque, na verdade, não existe uma boaeducação profissional no mundo do tra-balho se a pessoa não tiver uma forma-ção cultural mais ampla. Para vende-rem seus produtos, as multinacionaisobrigam seus técnicos a estudarem ahistória da região, os costumes, a reli-giosidade. Só o saber prático é trai-çoeiro porque pode dar certo três vezese na quarta causar um erro brutal. Porisso é preciso articular a educação pro-fissional e a educação básica, princi-palmente nos programas de larga es-cala. Temos que lutar para que haja,concomitantemente, uma elevação de

escolaridade formal. Fazer a leitura deum bom texto ou ver um filme que ca-racterize um tempo às vezes desenvol-ve ‘competências’ que o esquema dascompetências não aufere.

Mas o que instituições como asMas o que instituições como asMas o que instituições como asMas o que instituições como asMas o que instituições como asETSUS, que só oferecem educa-ETSUS, que só oferecem educa-ETSUS, que só oferecem educa-ETSUS, que só oferecem educa-ção profissional, podem fazer pa-ção profissional, podem fazer pa-ção profissional, podem fazer pa-ção profissional, podem fazer pa-ra formar melhor?ra formar melhor?ra formar melhor?ra formar melhor?

ETSUS, que só oferecem educa-ção profissional, podem fazer pa-ra formar melhor?

O caminho, para mim, é estabeleceruma reação. Algo, por exemplo, comofez a EPSJV, que criou uma escola denível médio regular que fez convêniocom a Secretaria de Educação parareceber professores. Outro seria essasEscolas serem um veículo de indução,de orientação política desses alunoscom baixa escolaridade. Porque esse éum esforço de cidadania. Acho que éuma obrigação cidadã tentar garantiro direito constitucional à educaçãobásica e, ao mesmo tempo, enfrentar arealidade como ela se apresenta. Ouseja, eu não posso ter uma atitude abs-trata e eliminar um jovem ou adultoque só tem quatro anos de escola-ridade. Eu vejo isso como um pontonegativo do sistema S, principalmenteSenai, que praticamente abandonou aaprendizagem e só trabalha com aluno

Gaudêncio Frigotto defende a educação básica como direito cidadão e fala sobre

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mercado, é para a vida,

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que tem o ensino fundamental oumédio completo, dependendo do caso.E o que fazemos com uns 70 milhõesde jovens e adultos que só estudaramquatro anos? Com um bom nível mé-dio ou uma boa educação básica, o cus-to, o tempo e a qualidade do trabalhopara uma ação profissional são outros.Nossos filhos, de classe média, têmeducação básica. Eu sei que as pessoaspobres têm pressa e que quem estáatuando como as Escolas Técnicas doSUS também tem pressa nas so-luções. Mas o argumento de que bastaisso é falso. O esforço é trabalharmoscom o que é a realidade nos dá e nãosentarmos em cima dela.

O decreto 5154 foi um avançoO decreto 5154 foi um avançoO decreto 5154 foi um avançoO decreto 5154 foi um avançoO decreto 5154 foi um avançonessa direção?nessa direção?nessa direção?nessa direção?nessa direção?

Grandes amigos meus, como a profes-sora Acácia kuenzer e o José Rodrigues,dizem que o decreto, na verdade, nãoaltera nada. Eu acho que essa crítica éimportante porque eles estão traba-lhando no limite da radicalidade teó-rica. Como eu também estou interes-sado em dar o passo que a correlaçãode forças permite, acho que o decretoé um avanço, mínimo, mas que vaimostrar várias coisas. O avanço é dedois níveis: primeiro, ele não proíbenada. Quem quiser, pode fazer umaeducação mais integral. Isso é pouco,mas é diferente. A outra questão é queele sinaliza adequadamente que, emvez de fazer uma educação rápida, pul-verizada, para adestramento, o nívelmédio deve ser feito com mais horas,exatamente para que não prejudiquea educação básica. Concordo muitocom Florestan Fernandes, que diziaque, historicamente, se repete a mo-dernização do arcaico. Nossa sociedaderesiste aos direitos elementares. Aidade mínima para supletivo agora são

16 e não mais 18 anos. Então, muitagente, até de classe média, acaba oensino fundamental e fica esperandopara fazer o supletivo. Que loucura!Vivemos numa sociedade do atalho,que cresce para menos!

O srO srO srO srO sr. diz que a formação não deve. diz que a formação não deve. diz que a formação não deve. diz que a formação não deveser voltada para o mercado de tra-ser voltada para o mercado de tra-ser voltada para o mercado de tra-ser voltada para o mercado de tra-balho. As ETSUS formam traba-balho. As ETSUS formam traba-balho. As ETSUS formam traba-balho. As ETSUS formam traba-lhadores para melhorar a quali-lhadores para melhorar a quali-lhadores para melhorar a quali-lhadores para melhorar a quali-dade do sistema público de saú-dade do sistema público de saú-dade do sistema público de saú-dade do sistema público de saú-de. Qual a diferença entre formarde. Qual a diferença entre formarde. Qual a diferença entre formarde. Qual a diferença entre formarpara o trabalho e para o mercado?para o trabalho e para o mercado?para o trabalho e para o mercado?para o trabalho e para o mercado?

. diz que a formação não deveser voltada para o mercado de tra-balho. As ETSUS formam traba-lhadores para melhorar a quali-dade do sistema público de saú-de. Qual a diferença entre formarpara o trabalho e para o mercado?

Eu acho que há uma distinção clara.Subordinar a escola, o currículo e asdisciplinas ao mercado de trabalho écriar um vínculo perverso. Primeiroporque ele unidimensionalisa o in-teresse de um setor como sendo de todaa sociedade. Segundo, porque estamosfalando de um direito: educação básicanão é para o mercado, é para a vida, afelicidade, o sonho, a criação, a contes-tação política, a crítica, enfim, paraentender-se como ser humano. É umdireito subjetivo. Esse vínculo é falsoaté economicamente porque as pes-quisas mostram que, com as mu-danças que acontecem, você prepararalguém que está em formação especi-ficamente para o mercado de trabalhoé um tiro no escuro. Está melhor prepa-rado quem tem uma base mais largaporque vai se adaptar mais facilmente.Formar para o trabalho é diferente.Uma empresa investe para que seu cor-po de trabalhadores faça um trabalhoadequado, se não, ela não vai competir.A briga dos trabalhadores nos paísesmais avançados é para que a formaçãono chão da fábrica não seja só do in-teresse do capital, que sejam criadostambém outros cursos, como literaturae canto, por exemplo. No caso do SUS,eu acho fantástico que exista a

preocupação de qualificar os traba-lhadores, dar mais elementos dedomínio teórico e prático para o queeles estão fazendo, principalmente nu-ma sociedade que tem uma tremendacarência de educação básica. Aí, aquestão é qual o conteúdo, o método,a forma de construir esse trabalho deformação profissional para gente queestá empregada. Eu diria que, mesmonão tendo a prerrogativa legal de dar aeducação básica, as escolas do SUS po-dem ter a prerrogativa do embate cida-dão para buscar isso.

A política de formação em saúdeA política de formação em saúdeA política de formação em saúdeA política de formação em saúdeA política de formação em saúdedo atual governo é baseada nado atual governo é baseada nado atual governo é baseada nado atual governo é baseada naidéia de educação permanente,idéia de educação permanente,idéia de educação permanente,idéia de educação permanente,envolvimento de outros atores,envolvimento de outros atores,envolvimento de outros atores,envolvimento de outros atores,além da escola, e articulaçõesalém da escola, e articulaçõesalém da escola, e articulaçõesalém da escola, e articulaçõeslocais. Plocais. Plocais. Plocais. Pela Educação, como o srela Educação, como o srela Educação, como o srela Educação, como o sr....vê esse modelo?vê esse modelo?vê esse modelo?vê esse modelo?

do atual governo é baseada naidéia de educação permanente,envolvimento de outros atores,além da escola, e articulaçõeslocais. Pela Educação, como o sr.vê esse modelo?

Eu não estou interado sobre o sistema.Primeiro, acho interessante a idéia deter um olhar local, regional, mas nãopodemos também cair numa frag-mentação, num localismo. É claro queos problemas da saúde pública têmespecificidades que estão ligadas àhistória, cultura, pobreza, educação,etc. Mas há dimensões mais universais.Acho que a descentralização é dadapela realidade, pelos problemas, masé preciso haver um elo de uma políticanacional. Se não houver uma socie-dade forte, o risco é uma disputa entreos vários interlocutores pelo seu qui-nhão. O ponto de partida e de chegadasempre é o local, mas tem que ser umponto de chegada diferente do pontode saída. Acho que nós precisamos teruma visibilidade de país. Quanto maisuniversais, mais humanizados.

formação para o trabalho

Capa

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A formação em saúde antes Pesquisas avaliam impacto do Profae nos serviços e comparam desempenho

Ana Paula Silva foi sendo atraídapara o mundo da saúde aos poucos. Primeiro, virou agente

comunitário de saúde da comunidadedo Mandela, no Rio de Janeiro, ondemora. E gostou. Pouco depois, ouviufalar de um programa pelo qual elapoderia se formar auxiliar de en-fermagem. E resolveu participar. Jáformada, soube de uma vaga de em-prego no Centro de Saúde da EscolaNacional de Saúde Pública, daFundação Oswaldo Cruz, se candida-tou e passou. Agora, cinco anos depoisde começar a trabalhar no SUS, ela vol-tou a estudar, pelo mesmo Programa, eestá concluindo a complementaçãopara se tornar técnica em enfermagem.

Histórias como essa apontamresultados práticos do Projeto de Pro-fissionalização dos Trabalhadores daÁrea de Enfermagem (Profae), maiorincentivo à formação profissional emSaúde que o Brasil já conheceu. Quan-do se pensa que a trajetória de AnaPaula pode ser multiplicada por cente-nas de milhares de pessoas que dei-xaram de trabalhar de forma leiga e re-ceberam formação, imagina-se que issojá seria suficiente. Mas pesquisas re-centes sobre o impacto do Profae vêmmostrando que ele foi mais do que isso.

Qualidade dos serviços

A pesquisa mais conhecida so-bre o Programa é a ‘Avaliação do im-pacto do Profae na qualidade dos ser-viços de saúde’, encomendada pela Se-cretaria de Gestão do Trabalho e da E-ducação na Saúde (SGTES) a pesqui-sadores da Universidade de São Paulo(USP) e desenvolvida nos estados que,na sua região, tinham mais traba-lhadores cadastrados no Projeto:

Paraná, São Paulo, Bahia, Goiás e Ama-zonas. Parte dos resultados desse tra-balho estão publicados em seis artigosda revista científica Formação nº 7, dejaneiro de 2003. Por trás de umainvestigação como essa, está a premissade que os investimentos em formaçãodevem ter reflexo até a ponta do sis-tema, nos serviços de saúde. Será?

Alguns dos indicadores uti-lizados nessa pesquisa apontaram umdesempenho melhor dos profissionaiscom qualificação e dos alunos do Pro-fae, se comparados com os outros. Sãoexemplos desses casos a técnica depunção venosa para aplicação de me-dicamentos, a comunicação e a inte-ração. Mas a avaliação não foi capazde verificar o impacto do Profae na qua-lidade dos serviços e não identificoudiferenças substanciais nos processosde trabalho. Isso significa que as rela-ções e mesmo as ações para evitar in-fecções, por exemplo, não melhoraramcom a qualificação. “O processo deeducação profissional dos trabalha-dores de enfermagem, de per si, im-plementado em contextos de trabalhoprecários em termos de quadro depessoal, supervisão de enfermagem eeducação continuada, não é capaz deimprimir mudanças positivas naqualidade do desempenho profis-sional”, diz o texto.

Segundo Leila Göttems,gerente-geral do Profae, eles concluí-ram que a formação perde força quandonão há boas condições de trabalho.“Nenhuma iniciativa é suficiente, senão conseguirmos alcançar as questõesque envolvem a gestão”, justifica, jáse aproximando dos princípios da novapolítica de educação permanente. Ecompleta: “Precisamos diminuir adistância entre a formação e os serviços

porque a articulação que existe hoje éformal, como campo de estágio, massem interferência”.

Ainda assim — e talvez por issomesmo — as conclusões do estudoapontam para a necessidade de se con-tinuar apostando na formação. “Tam-bém se destaca a necessidade de ex-pressivos investimentos tanto na edu-cação profissional quanto na educaçãopermanente em serviços, pois a pes-quisa evidenciou lacunas compro-metedoras da qualidade do cuidado deenfermagem, visto que, de uma parte,predomina uma concepção técnica deseu trabalho, esvaziada de conteúdosteóricos-científicos e, de outra, elepróprio, enquanto agente do trabalho,mantém-se distante do saber pro-duzido na área de Enfermagem, comose estivesse interditado a apropriar-sedo conhecimento que fundamentasuas ações”, diz o texto da revista, napágina 85.

ETSUS e outras instituições

Outra pesquisa cujos resultadosforam divulgados recentemente foi a‘avaliação institucional do Profae’,desenvolvida pelo Núcleo de Estudosde Políticas Públicas da Unicamp, comdados de 69 escolas que responderamos questionários. Os indicadores inves-tigados nesse estudo vão desde os nú-meros de demanda e acesso até a ava-liação qualitativa de todo o processo,incluindo metodologia, supervisão,material didático, dentre outros.

O estudo mostra, por exemplo,que a demanda por cursos do Profaesubiu de 374.627, em setembro de2002, para 438.588, em julho de 2004.E que as Escolas Técnicas do SUS for-maram mais de 34 mil profissionais,

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e depois do P

rofae das Escolas Técnicas do SUS com outras instituições

Um dos pontos avaliados foi acapacidade institucional pré-exis-tente, que considerou vários fatores. Asinstituições mais antigas dentre asanalisadas são do sistema S e as outrasescolas públicas. Entre as ETSUS,38,5% têm um tempo médio deexistência, 38,5% têm mais de umadécada e apenas uma tinha menos decinco anos. Pouco mais de 92% dasETSUS tinham alta experiência naoferta de cursos profissionalizantes emsaúde; nas outras escolas públicas, esse

número subiu para 100%; nas privadas,97,6% e 90,9% do Sistema S.

Já quanto à qualificação pro-fissional do dirigente (diretor ou coor-denador pedagógico), que leva em con-ta se ele tem especialização, mestradoe doutorado, as ETSUS saíram nafrente de todas as outras instituições.Por outro lado, um terço dos dirigentescom baixo grau de experiência estãonas Escolas Técnicas do SUS, o queprovavelmente se explica, segundo apesquisa, pelo fato de esse ser um cargode indicação política das secretariasde saúde.

Comparadas com as outrasinstituições, as ETSUS são as que têmmaior capacidade de estabelecer arti-culações e parcerias com diferentesinstituições, mas o percentual de esco-

com variações que vão desde 130, naETSUS Blumenau até 4071, no Cefordo Paraná.

A pesquisa considerou quatrocategorias de instituições que partici-param do Profae para estudar o processode implementação e outros indica-dores. São elas: ETSUS, escolas priva-das, escolas públicas e Sistema S(Sesc/Senac e outros). Para se ter umaidéia do peso quantitativo de cadauma delas, em março de 2004, 52%das matrículas do Profae foram feitasem escolas privadas; 20% nas ETSUS;15% nas outras escolas públicas e 13%no Sistema S.

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las técnicas com baixa capacidadetambém foi alto.

Outro tópico analisado foi acapacitação docente. Em 46,2% dasEscolas Técnicas do SUS, mais de70% dos professores fizeram ouestavam fazendo o curso de formaçãopedagógica do Profae. Mas as escolaspúblicas e privadas ficaram com osmaiores percentuais nessa avaliação.Também foi considerada, na análise, aaproximação com os serviços. Segundoos dados, 38,5% das ETSUS tinham menosde um quarto dos seus professorestrabalhando nos serviços de saúde, mas61,5% delas tinham mais de 70% do seucorpo docente nessas condições. No casodas escolas privadas, esse número sobe para63%.

Um dos pontos baixos dasETSUS em relação a todos os outrostipos de instituição é a pouca variedadede estabelecimentos de estágio paraoferecer aos seus alunos. Mas, segundoo relatório, as Escolas Técnicas do SUSe o sistema S apresentaram uma visãomais crítica sobre o estágio, ressal-tando que é preciso rediscutir essa prá-tica na formação dos alunos. Além dis-so, os dados mostram que a maior partedos estágios dos alunos das ETSUSacontecem em unidades públicas desaúde, o que mostra um reconheci-mento da sua qualidade de formação.

O estudo chama atenção para ofato de que a maioria das ETSUS que

a autonomia gerencial e financeira des-sas Escolas, inclusive porque daíderivam alguns problemas apontadosna execução dos projetos de inves-timentos, como a dificuldade paracontratar consultoria, por exemplo.Dentre outras coisas, foram citadoscomo os principais pontos que pre-cisam ser melhorados: o apoio da man-tenedora para a implementação dasatividades; a troca de experiênciasentre as Escolas; a capacitação dos seusprofissionais; a regularidade no repas-se dos recursos; o monitoramento dasatividades e a redefinição de prazos deimplementação dos projetos deinvestimento nas ETSUS.

O melhor e o pior

A pesquisa do NEPP/Unicamptambém investigou o que merece des-taque positivo e o que gerou dificul-dades no Programa. Dentre o que pre-cisa ser aprimorado, destacam-se aregularização dos repasses financeiros;a melhora na capacitação de gestorese docentes; o apoio para obtenção deestágio; mais suporte técnico por parteda equipe do Profae; e a troca de expe-riência institucional — que remete aoesforço de articulação da RET-SUS.

O material didático e a mo-dalidade de educação a distância(EaD) foram tidos como adequados pe-la quase unanimidade dos coorde-nadores dos Núcleos de ApoioDocente. No entanto, os trabalhadoresdemandaram um maior número demomentos presenciais e 56,3% dostutores apontaram dificuldade deadaptação dos alunos à EaD.

Como aspectos mais positivosdo curso, foram citadas a gratuidade; aclareza da metodologia; a motivaçãopara a melhoria do desempenho profis-sional dos alunos; a oportunidade deestudo dos profissionais do interior ede locais mais distantes; e a valori-zação de toda a categoria de auxiliarese técnicos de enfermagem.

Sobre a certificação de com-petências, o estudo aponta algumasquestões para discussão, que talvezvalham para outros projetos, atuais efuturos. São perguntas como: o que fa-

responderam ao questionário restrin-giram sua missão institucional à for-mação de pessoal empregado nosserviços de saúde. Segundo o relatório,isso indica que, mesmo com o esforçodas oficinas do Profae, “as ETSUS nãose enxergam como instituições que de-vem assessorar e apoiar os órgãos go-vernamentais na formação da própriapolítica de recursos humanos nos ní-veis estadual e regional”.

Impacto e papel das ETSUS

Interpretando esses e muitosoutros dados da pesquisa da Unicamp,Simone Machado diz que o destaqueda avaliação do Profae vai mesmo paraas ETSUS: “Os dados mostram que,com a execução do Profae, as EscolasTécnicas, apesar de terem muita fra-gilidade administrativa, política e degestão, são muito superiores na qua-lidade da formação, se comparadascom outras, principalmente as priva-das. Com o Profae, foi possível elevar ostatus dessas Escolas, colocá-las numoutro patamar, o da potencialidade deser um formulador político nos pro-cessos de formação técnica em saúde.A pesquisa mostra, com evidência, acapacidade de debate, de formulaçãopedagógica inovadora, de construçãode currículos e de propostas alter-nativas e de um processo de formaçãoinserido no serviço”, diz.

Leila Göttems também chamaatenção para as profundas mudançaspor que as ETSUS passaram com oProfae — havia um subcomponente deinfra-estrutura educacional e quali-ficação das equipes técnicas e dos diri-gentes das ETSUS. Além disso, lembraque, embora as Escolas Técnicas doSUS fossem em menor número, elastiveram uma participação muito im-portante no projeto, principalmentecom a experiência de descentralização.“Se conseguimos interiorizar e dar ca-pilaridade ao Profae, chegando aos mu-nicípios mais distantes, devemos issoàs ETSUS”, explica.

O estudo da Unicamp analisoutambém o módulo de fortalecimentodas Escolas Técnicas do SUS. Umadas conclusões é que é preciso discutir

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zer com os egressos que não possuemas capacitações desejadas, no âmbitolegal, profissional e da formação? Osempregadores, privados ou públicos,estarão dispostos a abrir espaços paraesses novos trabalhadores melhor qua-lificados para o trabalho? Qual será apostura dos demais membros das equi-pes de saúde ainda não certificados?

O futuro do Profae

Concebido pela gestão anteriordo Ministério da Saúde, o Profae é an-terior à política de educação perma-nente. Com todas as novidades, sempresurgem algumas perguntas: o Programacontinua ou se encerra? Qual exata-mente a coerência entre o antigo e o novo?

Independentemente do destinodo Profae, é praticamente unânime aopinião de que foi ele que preparou oterreno para que outras coisas fossempensadas e feitas nesse campo. “OProfae foi um projeto de grandeabrangência e abriu caminhos para quehoje tenhamos a possibilidade deconstituir uma política de educaçãoprofissional. Ele trouxe a formaçãotécnica em saúde para o cenário”, dizSimone Machado.

Outro ponto que precisa serconsiderado é o fato de que a demandade uma formação em larga escala naárea de enfermagem, que era evidentena época, não existe mais. Isso nãosignifica que não se precisa mais

formar auxiliares e técnicos de en-fermagem, mas que, com a casa em or-dem, as necessidades desses cursos jápodem ser discutidas localmente, nospólos de educação permanente, comoestá acontecendo com todos os outros.

Continuam surgindo deman-das de formação técnica em escala na-cional, só que voltadas para outras ca-tegorias profissionais. Com a nova po-lítica, o que muda em relação ao Profaeé, basicamente, o investimento em ou-tras áreas além da enfermagem e a des-centralização. Segundo Simone, a po-lítica de educação permanente não éincompatível com os processos de for-mação em larga escala. “É isso que es-tamos fazendo com o ACS, afinal,temos que formar 190 mil traba-lhadores. Mas agora a organização, oplanejamento, os pressupostos e a me-todologia dessa formação não são iguaispara todos. Há uma diversidade muitogrande de experiências, acúmulos erealidades e cada local vai propor econfigurar a formação dos agentes comofor mais adequado para sua região”, diz.

Em termos práticos, o Profae vaicontinuar existindo, pelo menos, até2006 porque o contrato com o BID foiprorrogado. Leila explica que essadecisão teve duas razões práticasprincipais. A primeira é que o Programanão conseguiu atingir a meta — formar225 mil auxiliares, 90 mil técnicos edesenvolver ainda outras ações emquatro anos. “Não queríamos deixar o

projeto no meio”, explica. O segundomotivo é que, feitas as contas, eleschegaram à conclusão de que havia umexcedente de recursos em virtude,principalmente, da diferença cambialentre o real e o dólar. E resolveram re-negociar para que o governo não pagassejuros sobre um valor maior do que omontante que o Ministério da Saúdeprecisava para atender a demanda.

Diante desse cenário, a per-gunta que fica é: que cara vai ter o Pro-fae inserido na política de educaçãopermanente? Leila responde: as açõesespecíficas de formação (no modelocentralizado do Programa) só conti-nuarão até julho ou agosto deste ano,quando a meta deve ser atingida. De-pois disso, o MS tem até 2006 parausar esse dinheiro para desenvolver ou-tras ações inteiramente coerentes coma atual política. Estão nessa lista deprioridades, por exemplo, a criação deum mestrado, um curso multipro-fissional de formação de docente, umprojeto piloto de certificação dosegressos do Profae e mais investimentona infra-estrutura das ETSUS. “Essasiniciativas não só são inteiramenteintegradas com a atual política de edu-cação profissional, como ajudam a darsustentação a ela”, diz. E ela indicaesse como um caminho quase natural:“Desde antes do novo governo, jádiscutíamos estratégias para que oProfae deixasse de ser um projeto epassasse a fazer parte de uma políticapermanente”.

De volta ao começobalhadores não tinham concluído oensino fundamental, que é pré-requisitopara o curso de auxiliar de enfermagem.

O Profae é um velhoconhecido das Escolas Técnicas doSUS. Mas, se você é novo na área deeducação profissional em saúde, nãocusta nada esclarecer. O personagemprincipal desta matéria é umprograma lançado pelo Ministério daSaúde, em 2000, com o objetivo deoferecer qualificação profissional paramilhares de trabalhadores queatuaram como auxiliares deenfermagem nos serviços semnenhuma formação. Pesquisasmostravam que 35% da força de tra-balho em enfermagem trabalhavamsem qualificação e 25% desses tra-

Participaram do Profae escolaspúblicas e privadas de todo o país, ofe-recendo curso a distância, com tuto-ria. Segundo o relatório da pesquisa deimpacto realizada pela USP, além daformação de auxiliares, o Profaeexecutou a complementação para téc-nico de enfermagem e teve ainda outroscomponentes, que englobavam aformação pedagógica para os profes-sores de educação profissional na áreade enfermagem; um sistema de certi-ficação de competências para os egres-

sos; a modernização das ETSUS; eum sistema de acompanhamento desinais dos mercados de trabalho eeducacional com foco nos auxiliaresde enfermagem.

O projeto contou com recur-sos financeiros do Banco Interameri-cano de Desenvolvimento (BID), doTesouro Nacional e do Fundo de Am-paro ao Trabalhador (FAT). O Profaee o Larga Escala, que o antecedeu, sãoconsiderados os pontapés iniciais parauma política de educação profissionalem saúde no Brasil.

Geral

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O trunfo mais valioso do SistemaÚnico de Saúde é seu capitalhumano. Respeitar e valorizar

o profissional da saúde, oferecer umacapacitação adequada e crescimentoprofissional é o caminho para se chegarao ‘SUS que queremos’. Com a edu-cação como ponto de partida, pode-sechegar a um serviço de saúde mais efi-ciente e humanizado. Em resumo,“Saúde se faz com gente”.

Essas são algumas observaçõesgerais contidas no relatório final da 12ªConferência Nacional de Saúde, quesaiu em dezembro passado, depois deum ano de espera. A Conferência, querecebeu o nome de Sérgio Arouca, emhomenagem ao sanitarista que estavaà frente da sua organização e morreupouco antes do evento, reuniu mais dequatro mil pessoas entre os dias 7 e 11de dezembro de 2003, em Brasília,para discutir o tema ‘Saúde: um direi-to de todos e dever do Estado – a Saúdeque temos, o SUS que queremos’. Osdebates foram divididos em dez eixostemáticos. O resultado das discussõessobre formação está no tópico ‘Otrabalho na saúde’.

FormaçãoDentre os comentários gerais

sobre formação, o relatório traz oprincípio de que a educação na saúdedeve formar profissionais que saibamtrabalhar em equipes multiprofis-sionais e lidar com as especificidadeslocais. Para isso, os Pólos de EducaçãoPermanente (PEP) aparecem com umpapel fundamental, já que levantamdiscussões sobre as reais necessidadesde cada região. O tópico que pede aimplantação e ampliação dos pólos nopaís cita, inclusive, as Escolas Técni-cas e as universidades como institui-ções que devem participar da gestãocolegiadas dos PEP.

A referência implícita à edu-cação permanente aparece também narecomendação para que os gestores das

Formação na 12ª Conferência Nacional de SaúdeVeja o que diz o relatório da CNS sobre trabalho e educação

três esferas de governo acompanhem aformação dos trabalhadores e para quea abertura de cursos da saúde sejaadequada às características sociais,econômicas, epidemiológicas edemográficas da localidade.

Outro ponto destacado que dizrespeito a todas as instituições de en-sino em saúde é a necessidade de refor-mulação dos currículos para que elesdeixem o foco na atenção à doença epassem a valorizar a promoção, a vigi-lância, a atenção integral à saúde, ocontrole social e a interdiscipli-naridade das práticas.

Algumas demandas apresen-tadas referem-se especificamente àeducação profissional e até às ETSUS.Uma das recomendações é, inclusive,“estabelecer como política do SUS aprofissionalização técnica, na qual asEscolas Técnicas de Saúde cumpramo papel fundamental de escolarização,qualificação, habilitação profissionale educação permanente para agentes,auxiliares e técnicos das várias áreasdo setor saúde”.

O relatório pede ainda coisascomo a continuidade do Profae e agarantia da complementação do auxi-liar para técnico de enfermagem; aabertura de cursos de formação deTHD, ACD, TPD e APD, envolvendoas Escolas Técnicas e as universidadespúblicas; e a qualificação profissionaldo ACS, dos agentes de endemias, dosagentes ambientais de saúde, e dosagentes indígenas de saúde esaneamento.

TrabalhoA luta pela desprecarização do

trabalho em saúde também aparece norelatório da 12ª Conferência. Entre asreivindicações incluídas nesse pacote,estão a implantação de um Plano deCarreira, Cargos e Salários e a rea-lização de concurso público para todosos trabalhadores do SUS. Comocontrapartida, o texto sugere a criação

de programas de avaliação de desem-penho do trabalho, analisando produti-vidade e qualidade.

A regulamentação de algumasprofissões de nível médio e a regula-rização de categorias de trabalhadoressão citadas explicitamente. Reco-menda-se, por exemplo, que sejadefinido um piso salarial para o ACS,o agente indígena de saúde, o agenteindígena de saneamento e os agentesde dengue. O relatório pede a contra-tação dos ACS por meio de processoseletivo público ou concurso públicoe não mais por vínculo precário,mexendo num tema polêmico quevem sendo muito discutido atual-mente, desde que o Ministério Públi-co Federal estabeleceu um prazo paraque os municípios regularizassem asituação desses profissionais.

Pesquisa

Além da educação e dotrabalho, o relatório reúne ainda asrecomendações de outros nove grupostemáticos: direito à saúde; a seguri-dade social e a saúde; a intersetoriali-dade das ações de saúde; as três esferasde governo e a construção do SUS; aorganização da atenção à saúde; con-trole social e gestão participativa;ciência e tecnologia e a saúde; ofinanciamento da saúde; comuni-cação e informação em saúde. No tó-pico de C&T, o texto destaca a impor-tância do investimento em pesquisa einclui as instituições de educação pro-fissional: “Garantir que os ministériosda Saúde, da Educação e de Ciência eTecnologia destinem recursos especí-ficos para estimular os grupos de pes-quisas, universidades e escolas técni-cas à produção de pesquisas de interes-se da saúde, prioritariamente as insti-tuições oficiais devidamente cadastra-das do poder público”.

O texto completo pode seracessado no site da BVS-EPS.

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Educação Profissional na ÁfricaReforma no ensino em saúde é pauta de cooperação internacional

“Chegamos à conclusão de que,sem a formação qualitativa dos pro-fissionais, nenhuma mudança seria su-ficiente para melhorar o quadro sani-tário do país”. Essa frase poderia tersido dita por alguém que quisesse ex-plicar, por exemplo, a criação da Se-cretaria de Gestão do Trabalho e daEducação na Saúde (SGTES), no iní-cio do governo Lula. Mas o autor da fra-se é Davi Domingos Luiz, diretor da Es-cola Técnica Profissional de Saúde daProvíncia de Lubango, em Angola, re-ferindo-se à reformulação do ensino emsaúde do país.

Angola veio parar na RevistaRET-SUS porque a Fundação OswaldoCruz participa de um Programa de A-poio à Capacitação de Recursos Huma-nos em Saúde nos Países Africanos deLíngua Oficial Portuguesa e, recente-mente, a Escola Politécnica de SaúdeJoaquim Venâncio (EPSJV) vem inse-rindo a educação profissional comopauta desse intercâmbio. “Como cen-tro colaborador da Organização Mun-dial de Saúde, uma das nossas funçõesé incorporar outras instituições compotencial de cooperação na formaçãode técnicos em saúde para que as rela-ções do Brasil com outros países se for-taleça nessa área. E isso, natural-mente, diz respeito principalmente àsETSUS”, explica Marise Ramos, coor-denadora de cooperação internacionalda EPSJV. Além disso, essa coor-denação trabalha também no projetode criação de uma rede sulamericanae mesmo uma rede internacional deescolas técnicas, tendo como refe-rência o conhecimento e a experiênciada RET-SUS.

De 25 de outubro a 7 de no-vembro, Albertina Mattos, professora-pesquisadora da EPSJV, José InácioMotta, da Escola Nacional de SaúdePública (ENSP) e Luiz EduardoFonseca, da Assessoria de CooperaçãoInternacional da Fiocruz foram a

Luanda, em Angola, dar um curso deatualização e desenvolvimento peda-gógico na área de gestão de saúde. Al-bertina aproveitou esse momento paraconhecer melhor a realidade do ensinotécnico no país e fortalecer contatos. Paraisso, fez entrevistas com quatro repre-sentantes de Escolas Técnicas locais,que serviram de fonte para esta matéria.

Ensino em transformação

A partir da primeira entrevista,realizada com Lino Silili e HenriquetaTavares, diretores da Escola Técnicaprofissional de Luanda, surgiu umaprimeira demanda, que a EPSJV bus-cará atender, relacionada à organizaçãoe estruturação de currículos a partirdas orientações da Reforma de Ensinoque vem se desenvolvendo em Angola.

Na Saúde, dois grandes compo-nentes da reforma do ensino são, se-gundo Davi, autor da frase lá de cima,a fusão entre as escolas técnicas profis-sionais e os institutos médios e a regio-nalização. Antes, as escolas técnicaseram responsáveis pelos cursos de nívelbásico, que formavam auxiliares, e osinstitutos ofereciam os cursos técnicosde nível médio. Da fusão entre essesdois tipos de instituições, nasceramas escolas técnicas profissionais. “Es-ses institutos davam um componentedo ensino geral e um componente pro-fissionalizante, mas constatou-se quea preparação dos egressos não erasuficiente. Eles apresentavam fracascondições técnicas, já que se interes-savam mais pela questão acadêmicapara depois continuarem os cursos nasuniversidades”, explicou Davi. O resul-tado, segundo ele, é que iam trabalhar nosistema de saúde apenas aqueles que nãoconseguiam entrar na universidade. Agora,eles ingressam no curso mais tarde e levammenos tempo para concluí-lo.

A partir dessa fala, Marise Ra-mos destaca a necessidade de a coope-

ração internacional ir além da reso-lução de demandas pontuais e ter umaparticipação mais profunda na concep-ção político-pedagógica. Ela lembraque a experiência brasileira pode con-tribuir para a reflexão sobre algumascrenças, como essa, de que a articula-ção entre uma formação geral e o ensi-no profissionalizante resulta numa máformação técnica. “No Brasil, isso ge-rou o decreto 2208, que separava o en-sino médio do técnico e teve conse-qüências desastrosas. Ele foi revogadoe, recentemente, substituído pelodecreto 5154, que incentiva a forma-ção integrada. Defendemos que a edu-cação é um direito e, portanto, a busca pelaampliação de escolaridade é legítima e nãoatrapalha o conhecimento técnico, aocontrário”, diz.

O segundo ponto principal dareforma é a redistribuição geográficadas instituições. Ao todo, Angola tinha18 escolas, pelo menos uma em cadaprovíncia. Agora, eles estão identifi-cando as reais necessidades de cadaregião e prevendo a reestruturação decinco segundo o novo modelo. “Asprovíncias que não forem contem-pladas com a fusão continuarão comas antigas escolas técnicas como cen-tros de treinamento e educação per-manente”, explicou Davi.

Segundo Abel Sunda, coorde-nador do curso de farmácia da EscolaTécnica de Saúde de Luanda, a priori-dade da reforma agora é a formação deformadores. “Só assim vamos chegar aum novo sistema, com resultados maispróximos dos desejados. Esperamos tertécnicos mais preparados para o mane-jo de equipamentos e para atender apopulação”, explica.

Agora em fevereiro, os pesquisa-dores José Paulo Vicente, da EPSJV, eCristina Figueiredo, da ENSP, foram aMoçambique desenvolver um curso se-melhante ao que já foi dado em Angola.É o trabalho que recomeça.

Aconteceu nas ETSUS

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Aconteceu nas ETSUS

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Ano novo...

A Escola de Tocantins está pron-ta para o início do ano letivo. É que osprofessores da ETSUS já concluíram aúltima etapa da primeira capacitação pe-dagógica da instituição, que começou emjunho do ano passado, assim que a Esco-la foi inaugurada.

Dentre os temas abordados pelasfacilitadoras Zita Machado e Débora Massaro,estão a relação pedagógica como prática social,as tendências pedagógicas liberais eprogressivas, competência do professor emetodologia da problematização.

Com os professores preparados,a partir do dia 1º de março, a ETSUSdará continuidade às suas quatro turmasde técnico em higiene dental. A novida-de para este ano é o lançamento do cursotécnico de agente comunitário de saúde,que começará com 108 turmas em todoo estado.

ACD descentralizado

A ETSUS Blumenau vai formar,pela primeira vez, turmas descen-tralizadas do curso de atendente de con-sultório dentário (ACD). Os 127 alunosforam divididos em duas turmas no mu-nicípio de Blumenau, uma em Rio doSul e outra em São José. A formatura se-rá em abril deste ano.

Apesar da Decisão 61/2004 doConselho Federal de Odontologia, quediminuiu a carga horária mínima do ACDpara 300 horas, o curso da Escola Técnicade Saúde de Blumenau tem 800 horas.“A Escola trabalha com um conteúdo quebusca desenvolver um profissional comperfil adequado para o SUS. Achamosque 800 horas é o ideal para uma boaformação”, afirma Cláudia Lange, novadiretora da ETSUS.

Mais escolaridade

Aumentar o nível de escolaridadedo aluno-trabalhador para garantir umamelhor formação profissional. Essa é aproposta da ETSUS do Espírito Santo, queelaborou junto com os Centros Estaduais deEducação de Jovens e Adultos (CEEJA), umprojeto que propõe a complementação deescolaridade dos alunos.

A Rede Estadual de Ensino ofe-rece dois tipos de cursos: a InstruçãoPersonalizada, na qual o aluno segue mó-dulos e faz a prova quando se sentir pre-parado, podendo tirar dúvidas com osprofessores; e a Banca de Exames, naqual o estudante recebe os conteúdos,estuda sozinho e se submete ao examede avaliação.

O papel do Cefor é motivar osprofissionais do SUS e acompanhar seudesenvolvimento ao longo do curso.Além disso, após o término do EnsinoMédio, os alunos serão aconselhados acontinuar seu aprendizado nos cursostécnicos oferecidos pela ETSUS. “Oaumento da escolaridade dos traba-lhadores dará base para que eles façamnossos cursos técnicos. É o itinerárioque motiva o servidor a estudar”, diz Jú-nia Mattos, diretora da Escola.

Projeto Político Pedagógicounificado para o ACS

As instituições de ensino pú-blicas e privadas de Santa Catarina estãotentando montar um plano de curso úni-co para a formação do ACS no estado.Para isso, se reuniram, no dia 17 dejaneiro, a Escola de Formação em Saúdede Santa Catarina, Escola Técnica deSaúde de Blumenau, Centro Federal deEducação Tecnológica de Santa Catarina(CEFET-SC), Fundação Municipal Al-bano Schmidt (Fundamas) e ServiçoNacional de Aprendizagem Comercial(SENAC-SC).

Ainda não foi dessa vez que nas-ceu o consenso. Por isso, as escolas deci-diram se encontrar de novo no dia 1º defevereiro, na Univali-Itajaí. A idéia é quea ETSUS Blumenau encaminhe o pro-jeto único para o Ministério da Saúdeno dia 2 de fevereiro e que, no dia 17,ele seja apresentado no fórum dos Pólosde Educação Permanente.

Conhecendo o SUS

No dia 14 de fevereiro, a EscolaTécnica de Saúde do SUS em Roraimacomeçou o curso de capacitação emSistema Único de Saúde. A idéia é queos servidores estaduais recém-empos-sados conheçam os princípios e diretri-zes do SUS. “Queremos, com o curso,formar profissionais comprometidoscom a política do SUS e com embasa-mento para discutir melhorias na saúde”,diz Cecília Bessa, diretora da ETSUS.

Os professores do curso foramorientados a aproveitar o conhecimentoprévio do aluno e desenvolver habili-dades e competências, a fim de formarprofissionais participativos. Na primeiraetapa de capacitação, a Escola começacom três turmas – níveis fundamental,médio e superior – com 30 alunos cada.A segunda etapa deve ter início em abrildeste ano. Ao todo, a ETSUS pretendecapacitar os mais de 2 mil concursados.

Expandir o conhecimento sobre oSUS tem sido um desafio de todas asinstituições de saúde. A Escola Politécnicade Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), noRio de Janeiro, por exemplo, oferece,desde 1996, o curso de Atualização sobreo Sistema Único de Saúde, que tambémtem o objetivo de informar e debater aspolíticas do SUS.

Como um segundo passo, aETSUS Roraima vai criar um módulointrodutório sobre o SUS para todos os cursos.A EPSJV também inseriu na grade curricularde todas as habilitações a disciplina ‘Módulode Políticas de Saúde’.

ERRAMOSNa página 12, da edição nº4, na nota

“ETIS inaugura biblioteca e videoteca”, avideoteca tem o nome da pedagoga EnaGalvão e a biblioteca possui mais de 600títulos.

Na nota, “ETSUS Pernambuco formaauxiliares e técnicos de enfermagem”, omunicípio de Salgueiro formou três turmas,com um total de 80 alunos, e não 21 comofoi publicado.

Na matéria de capa da mesma edição,é o Conselho Federal de Odontologia queexigirá o certificado para a função deatendente de consultório dentário e não oConselho Estadual, como publicado. Alémdisso, a exigência refere-se ao Auxiliar deConsultório Dentário e não ao Técnico deHigiene Dental.

Turma de São José

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Perfil do aluno, do curso e do trabalhadorETSUS Bahia faz pesquisa de egressos com auxiliar de enfermagem e ACD

Um dos caminhos adotadospelas instituições de ensinomédio para saber se um curso

correspondeu às expectativas daescola e dos alunos é desenvolver umapesquisa de egressos. Essa prática éreconhecida por alguns estudiosos daEducação como um meio capaz deavaliar a eficácia do currículo, acompetência dos professores, o de-sempenho dos alunos e as mudançasem sua vida profissional, além doimpacto das políticas públicas deeducação profissional. Foi buscandodados como esses que a ETSUS Bahiafez sua primeira pesquisa de egressoscom os ex-alunos dos cursos de au-xiliar de consultório dentário (ACD)de Salvador e de auxiliar de enfer-magem de 30 municípios do estado.

A pesquisa, que foi concluídaem dezembro de 2003, traçou o perfildesses profissionais e mostrou comoo curso contribuiu para seu desem-penho nos serviços. A análise mostrouque a maior parte dos ACDs trabalhaem centros de saúde, postos, clínicase hospitais públicos e procuraram ocurso com o objetivo de ampliar seusconhecimentos e abrir novos camposde trabalho. Já os auxiliares de enfer-magem buscaram, com o curso, au-mentar sua qualificação profissional.

Quando perguntados sobre aeficácia das aulas, 75% dos ACDs e85% dos auxiliares de enfermagemafirmaram que tiveram todas as suasexpectativa atendidas. Para os ACDs,o destaque ficou por conta dos pro-fessores, que foram conceituados co-mo excelentes e indicados como o as-pecto mais positivo do curso. No mes-mo quesito, os auxiliares de enfer-magem apontaram o conhecimentoadquirido como fator de destaque, fi-cando os professores em terceiro lugarna escolha, mas também conside-rados excelentes por 72% dos egressos.“A avaliação positiva dos professoresé um indicativo de que a Escola está

desenvolvendo um bom trabalho”,diz Maria das Graças Tonhá, diretorada ETSUS.

Como a Escola Técnica doSUS se preocupa em preparar seusalunos para atender às necessidadesdos serviços de saúde, a pesquisaquestionou os egressos sobre a relaçãodos conteúdos abordados em sala deaula com a realidade que encontraramno trabalho. Para 75% dos ACDs e86% dos auxiliares de enfermagem oconteúdo foi adequado com a prática.Uma sugestão dos ACDs para ampliar arelação teoria-prática é a criação de umlaboratório equipado como um consultóriodentário dentro da Escola.

Sobre o profissional

A pesquisa de egressos tam-bém investiga as mudanças sociaisna vida do profissional, comparandosua situação antes e depois do curso.Os alunos da ETSUS Bahia, após umano de atuação em suas áreas, tra-çaram um perfil de suas condições detrabalho. O mercado de trabalho nasaúde bucal foi considerado bom para67% dos ACDs e excelente para 17%.Seu principal obstáculo é a dificul-dade de desempenhar um bom tra-balho em unidades de saúde mal ad-ministradas. Mesmo com essa e ou-tras dificuldades, como baixos saláriose mercado de trabalho escasso, 92%desejam continuar na profissão. Umaopção para 37% dos entrevistados se-ria continuar seus estudos na área deodontologia e 12 % desejam migrarpara a enfermagem.

Apesar de os auxiliares deenfermagem afirmarem que enfren-tam grande concorrência, eles nãopensam em trocar de profissão. Pelomenos 98% dos egressos pretendempermanecer na área de enfermagem e32% sonham continuar seus estudosaté a graduação.

O intercâmbio de conhecimentoentre a Escola Politécnica de SaúdeJoaquim Venâncio (ESPJV) e o CentroFormador de Recursos Humanos daParaíba trouxe bons frutos. O plano decurso para o curso técnico emhemoterapia – primeiro do estadoparaibano – já está pronto para seranalisado pelo Ministério da Saúde.

A idéia do novo curso partiu da vice-diretora do Cefor, Tânia de Lucena, queconstatou, por meio de uma pesquisarealizada no banco de sangue privado eno Hemocentro coordenador da capital,entre abril e dezembro do ano passado,a necessidade da formação emhemoterapia no estado. Como o cursonunca foi feito na Paraíba, a Escola, emparceria com o Hemocentro, elaborouum projeto de curso que foi discutido epactuado no Pólo de EducaçãoPermanente. “O estado da Paraíba temnecessidade de formar profissionaistécnicos em hemoterapia, porque, hoje,o trabalho é feito por auxiliares e técnicosem enfermagem”, explica Tânia.

Antes de encaminhar a proposta parao Ministério da Saúde, a vice-diretorapediu que a EPSJV analisasse o planode curso do Cefor. Para isso, a vice-diretora de ensino da Escola, IsabelBrasil, e o professor de hematologia,Marco Antônio Marques, foram no dia5 de janeiro à Paraíba. Durante dois dias,os professores da EPSJV promoveramuma oficina na qual discutiramconteúdos de educação profissional ede hemoterapia.

O projeto foi concluído e prevê, aolongo do ano, dez turmas, com 30 vagascada. A proposta da ETSUS é iniciar,ainda no primeiro semestre deste ano,cinco turmas nos municípios de JoãoPessoa, Campina Grande e Patos.

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Aprendendo enfermagem além da sala de aula

Alunos apliam seus conhecimentos trabalhando com a comunidade

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Ver na prática o que foiaprendido em sala de aula eainda contribuir com a

sociedade. A tão famosa associaçãoentre ensino, pesquisa e extensão setornou realidade para turmas doProfae de três municípios mineiros,que realizaram o curso no anopassado. Desafiados pela coorde-nadora geral do Profae do CentroFormador de Recursos Humanos paraa Saúde, da Escola Pública de MinasGerais (ESP-MG), Marlene Oliveira,alunos do curso de auxiliar de enfer-magem criaram um Projeto deIntervenção Comunitária, a partir daobservação das necessidades locais.“Lançamos uma proposta aos nossoscoordenadores locais, professores ealunos no sentido de melhorar aarticulação entre o conteúdo do cursoe a realidade da saúde de cadamunicípio”, explica Marlene.

O primeiro passo foi iden-tificar a demanda de cada município,por meio de uma análise do perfilepidemiológico da região. Em TrêsPontas, por exemplo, alunos e profes-sores, a partir de suas experiênciaspessoais, constataram que o alcoo-lismo é um dos grandes vilões dacidade e precisa ser tratado como umproblema de saúde pública. Os alunosforam a campo para identificar o perfildo alcoólatra da cidade, conhecer arede de assistência do município e,por fim, sugerir uma solução.

Durante a pesquisa, eles des-cobriram que a maioria dos alcoó-latras de Três Pontas é do sexo mas-culino, encontra-se na faixa etária de31 a 40 anos, está desempregada ecursou apenas até a 4ª série do EnsinoFundamental. A rede de assistência,por sua vez, não consegue dar conta

do problema. “O atendimento muni-cipal é tão abrangente que não con-segue atender um problema espe-cífico como o alcoolismo. O resultadoé que os necessitados ficam pelas ruasda cidade”, diz Eliza da Silva,coordenadora local do curso. Os a-lunos do Cefor concluíram que ocaminho para solucionar o problemaé concentrar o atendimento aoalcoólatra num único lugar, que devecontar com profissionais capacitadospara assistir e reintegrar o doente àsociedade. Além disso, o municípiodeveria investir na prevenção dadoença, utilizando a escola comoponto de partida. O projeto foi en-caminhado para a prefeitura naexpectativa de que algumaprovidência seja tomada.

Hora de conscientizar

Outra turma que aceitou odesafio foi a do município de TrêsMarias. Lá, os estudantes ­– todosagentes comunitários de saúde –, aopesquisarem nas Diretorias de AçõesDescentralizadas da Saúde, cons-tataram que o índice de vacinação dosbairros de Novo Horizonte e SãoGeraldo, onde eles atuam como ACS,é baixo. Com os conhecimentosadquiridos no curso de auxiliar deenfermagem, os alunos visitarammais de mil famílias e descobriramque o problema está na vacinação dosadultos, já que 90% das crianças têmo cartão de vacinação. “A faixa etáriaque vai de 21 a 59 anos não sabia quedeveria tomar a vacina contrahepatite, febre amarela e tétano. Amaioria nem tinha o cartão, contaMarluce Santana, coordenadora localdo curso.

Com o lema Cartão de vacina:um documento para todos. Tenha oseu, a Escola conseguiu apoio daprefeitura, das Secretarias Muni-cipais de Saúde e de Educação eCultura, do Centro de Saúde deEpidemiologia, das associações demoradores, das igrejas e da mídia local.Os alunos participaram ativamenteda campanha de vacinação de maio ejunho do ano passado, conseguindoque o número de adultos vacinadosaumentasse. Dos 1128 adultosconscientizados pelos estudantes,44% compareceram ao posto desaúde para receber as doses dehepatite B, dupla-adulto e anti-amarílica.

Nutrir para prevenir

O terceiro município que sedestacou nesse triângulo escola-aluno-sociedade foi Poté, que tem 15mil habitantes. Como a maioria dapopulação mora na zona rural, osalunos desenvolveram um trabalhosobre alimentação alternativa. Osauxiliares de enfermagem utilizaramuma amostragem pequena – 20 mãesde alunos da Creche Municipal deSucanga – para ensinar receitas dereaproveitamento dos alimentosplantados na região.

Para isso, a equipe da Escolaorganizou um almoço coletivo, noqual os alunos do curso prepararam,junto com as mães, uma farofa‘alternativa’. “Utilizamos alimentosnutritivos como casca de batata,folhas de mandioca e casca de ovo”,conta Elen Beloti, coordenadora localdo Profae. Além disso, os estudantesapresentaram uma peça de teatropara ajudar os pais a entenderem aimportância de cada nutriente.