UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍCURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS – CAMPUS SÃO JOSÉDISCIPLINA: HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS II

PROFESSOR: ANDRÉ LUIZ SANTOS

“FICHA DE DESTAQUE/ REFERENTE DE OBRA CIENTÍFICA”

01. NOME COMPLETO DA AUTORA DO FICHAMENTO Letícia Padilha Ribeiro

02. OBRA EM FICHAMENTOOrwell, George, 1903-1950, A revolução dos bichos; tradução: Heitor Aquino Ferreira, São Paulo, Globo, 2001.

03. ESPECIFICAÇÕES DO REFERENTE UTILIZADO A autora visa provocar no leitor uma análise do quadro sócio-político do mundo em que vivemos, apresentando como destaque alguns fatos hostis do conto sobre a Revolução dos Bichos.

04. DESTAQUES CONFORME O REFERENTE:

a. “Esses três haviam organizado os ensinamentos do Major num sistema de pensamento a que deram o nome de Animalismo. Várias noites por semana, depois que Jones dormia faziam reuniões secretas no celeiro e expunham aos outros os princípios do Animalismo”.

b. “... e os porcos tinham grande dificuldade em fazê-los ver que isso era contra o espírito do Animalismo.”

c. “Explicaram que, segundo os estudos que haviam feito nos últimos três messes, era possível resumir os princípios do Animalismo em Sete Mandamentos...”

d. “Com alguma dificuldade,Bola-de-neve subiu e começou a trabalhar, enquanto Garganta, alguns degraus abaixo segurava a lata de tinta.”

e. “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”. Aí se continha, segundo disse ele, o princípio essencial do Animalismo.”“.

f. “Ora, se algo havia sobre o que todos os animais estavam de acordo, era o fato de nenhum desejar a volta de Jones.”

g. “Todos os dias, Bola-de-neve e Napoleão enviavam formações de pombos com instrução de misturarem-se aos animais das granjas vizinhas, contar-lhes a história da rebelião e ensinar-lhes a melodia de “Bichos da Inglaterra””.

h. “Uma das vacas rebentou a chifradas a porta do celeiro e os bichos avançaram sobre as tulhas. Nesse momento Jones acordou. Num átimo, ele e seus quatro peões estavam no celeiro com os chicotes na mão, batendo a torto e a direito. Isso ultrapassou tudo quanto os animais famintos podiam suportar... A essa altura, os animais haviam posto Jones e os peões fora da granja... E assim, antes de se darem conta, a Rebelião vencera. Jones fora expulso, e a Granjado Solar era deles”

i. “Guerra é guerra- humano bom é humano morto...pondo em relevo a necessidade de todos os animais estarem prontos a morrer pela Granja dos Bichos, se necessário”

j. “Ficara acertado que os porcos, sendo manifestamente mais inteligentes do que os outros animais, decidiriam todas as questões referentes à política agrícola da granja, embora suas decisões devessem ser ratificadas pelo voto da maioria...

k. “Todos os animais são iguais mas alguns animais são mais iguais que os outros”

l. “Todos os domingos, às dez horas, os animais reuniam-se no grande celeiro para receber as ordens da semana.”

m. “Todo aquele ano, os bichos trabalharam feito escravos.. Mas trabalhavam felizes;não mediam esforço ou sacrifício, cientes de que tudo quanto fizessem reverteria em benefício deles próprios e dos de sua espécie...”

n. “ Um domingo de manhã, quando os bichos se reuniram para receber as ordens, Napoleão anunciou sua decisão em encetar uma nova política. A partir daquele dia a Granja dos Bichos passaria a comerciar com as da vizinhança”

o. “ Certa noite, por volta de meia-noite, ouviu-se um ruído de queda no pátio e os animais correram de suas baias para ver o que sucedera... Ao pé da parede do fundo do celeiro, na qual estavam escritos Os Sete Mandamentos, encontraram uma escada quebrada em dois pedaços. Garganta, momentaneamente aturdido, jazia estatelado junto a ela, tendo ao lado uma lanterna, uma broxa e uma lata de tinta branca...alguns dias mais tarde, Maricota,lendo Os Sete Mandamentos, notou que havia outro mandamento mal recordado pelos animais. Todos pensavam que o quinto mandamento era “Nenhum animal beberá álcool”, ...Na realidade, o mandamento dizia “Nenhum animal beberá álcool em excesso...Nenhum mostrou-se capaz de aprender o alfabeto além da letra B. Aceitavam tudo quanto lhes era dito sobre a Revolução e os princípios do Animalismo... De vez em quando os mais velhos rebuscavam a apagada memória e tentavam determinar se nos primeiros dias da Rebelião...as coisas

haviam sido melhores ou piores do que agora...não tinham em que basear-se, exceto as estatísticas de Garganta...”

p. “Depois disso, não foi de estranhar que no dia seguinte, os porcos que supervisionavam o trabalho da granja andassem com chicotes nas patas.Nem estranhou-se saber que os porcos haviam comprado um aparelho de rádio, que estavam tratando da instalação de um telefone e da assinatura de jornais e revistas, quando Napoleão foi visto

05. COMENTÁRIOS PESSOAIS DA AUTORA DO FICHAMENTO SOBRE OS DESTAQUES SELECIONADOS:

a. O animalismo é, bem como toda ideologia, um sistema de idéias que fundamenta uma doutrina política ou social, adotada por um grupo que a defende. Sob o conceito marxista, ideologia é um conjunto de idéias e conceitos que corresponde aos interesses de uma classe social; no caso do animalismo, a ideologia refere-se aos interesses da classe dos animais, que é a classe que adota e defende esta doutrina.

b. Por algum motivo, este destaque me fez lembrar os sofistas gregos. Quando se fala que “os porcos tinham grande dificuldade em fazê-los ver...”, isso evidencia que as idéias eram insinuadas, pois ser contra ou a favor se trata de opinião e não de princípio coletivo. Agora, cabe ao leitor refletir se em nossa política atual não estamos rodeados de sofistas, ou seja, pessoas que privilegiam determinadas questões ou princípios não como forma de descobrir a verdade, e sim como forma de fazer prevalecer a argumentação própria em detrimento da contrária; em outras palavras, triunfar na vida política e social. Será que não possuímos nenhum “sofista” televisivo? Quantos Majores, Gargantas e Napoleões podemos identificar? E quantos ainda podemos conhecer e até mesmo virmos a ser? É utilmente necessário que sejamos críticos e não nos deixemos levr por ideais inexeqüíveis, pois estes podem nos afundar e nos ancorar, de forma que nossos ideais posam não se realizar.

c. Resumir os princípios em mandamentos não é uma tática muito nova para reforçar ideais. O exemplo mais visível é o dos 10 mandamentos da Bíblia, onde profetas prescreveram a expressão de seus princípios e ideais daquela época. “Não beber álcool”, que era mandamento do Animalismo, é semelhante a “Não matar” - mandamento do cristianismo- assim como outros mandamentos; o importante aqui é proporcionar ao leitor uma percepção de que os mandamentos são as expressões dos ideais e princípios de uma sociedade.

d. Como sabemos, Napoleão Bonaparte, após nomeado imperador, em sua auto coroação, estava alguns degraus abaixo do Papa Pio VII, entretanto, para surpresa do Papa, o próprio Napoleão coroou a imperatriz e se auto coroou

perante toda a sociedade da época. Será que não há aí uma coincidência com Garganta, que mais tarde veio a se tornar um intenso líder do Animalismo, já em sua fase corrompida?

e. O princípio essencial do Animalismo reflete o preconceito maniqueísta de quase todo o aparato ideológico que existe em nossa sociedade. Não nos é difícil imaginar isto, por exemplo, quando Hitler pregava com o nazismo – ideologia – a superioridade da raça alemã. Esse tipo de generalização em uma Revolução pode gerar preconceito e discriminação. Porém é uma boa tática de manipulação

f. Aqui, enfatizo a idéia de objetivo comum, por exemplo, o fato de nenhum animal desejar a volta de Jones. Maquiavelicamente pensando, poderia também insinuar o fato de “alguém” ter manipulado tanto seus pensamentos em momentos impulsivos, que todos já estavam em comum objetivo.

g. Esse referente expressa os ideais revolucionários em coro. O estrategista (futuro tirano) busca aproveitar os momentos de impulsividade ou comoção geral a fim de disseminar seus ideais. É como se “Bichos da Inglaterra” fosse um grito de guerra, uma força impulsória e motivadora que fazia com que seus idealizadores continuassem lutando.

h. Com relação a este destaque poderia referir ao leitor, o episódio do “Domingo Sangrento”, porém prefiro abordar o fato de os animais terem vencido a Revolução. Isto de fato era a exata “hora do bote”. Aí estava a oportunidade de começar a apresentar focos de tirania ao oportuno Napoleão, afinal o principal rival fora descartado.

i. Aqui vos deixo um alerta sobre o nacionalismo exagerado. É a melhor comparação a se fazer, pois neste destaque, mostro a vocês a capacidade que uma ideologia temde manipular ações e intenções. Impõr idéias de moral igualmente semelhante às do início da Revolução pode ser uma boa tática para obter forças aliadas.

j. Encontro-me oportuna á uma crítica às formas corrompidas da arte de governar. O voto da maioria ser o decisivo jamais se comprovou ser o mais correto. Tampouco porcos serem mais inteligentes que o restante dos animais. O ridículo desprezo pela minoria é o que torna, por exemplo, a democracia uma constituição imperfeita, mesmo respeitando a minoria – e respeitando a minoria, nesse caso, é uma forma covarde de citar a exclusão da minoria. Enfim, toda arte que não preze o bem comum é imperfeita, já dizia Aristóteles. Cabe aqui uma oportuna indagação: Por quê alguns animais são mais iguais que os outros?

k. Este referente é apenas para demonstrar a forma de domínio exercida pelo tirano para com seus “manipulados”.

l. O mais importante demonstrativo da ignorância e ingenuidade da sociedade idealitária, por exemplo: o povo. Esta tática napoleônica que consiste em deixar possíveis “intrusos” ativamente ocupados com suas preocupações subsistenciais já foi descoberta e comentada por Maquiavel, Bonaparte e Aristóteles.

m. Infringir a lei, tirar os resquícios do antigo regime político, desrespeitando os princípios básicos dos movimentos revolucionários é o primeiro passo para a colação da tirania no poder, ou melhor digamos, da fixação do poder em quaisquer sistema político. Napoleão que o diga...

n. Nesse destaque, meu principal objetivo é analisar a ignorância do povo e de toda sociedade comum, em geral, quando, por exemplo, já perderam todo o senso crítico sobre a situação. Aqui, a comodidade ocupou a mente dos animais que recebiam periodicamente as estatísticas da Revolução. O tempo já havia se passado e a memória foi dando espaço às novas verdades napoleônicas. A mentira se tornou verdade, e a verdade que lhes restava era a força-motriz que dava continuidade às suas vidas.

o. Cabe agora finalizar e proporcionar ao leitor apenas o senso crítico a lhe indagar se valeram a pena todas as revoluções ocorridas na história. Esta revolução findou-se assim, com civis mortos e uma boa história para contar. Um resultado onde nem homens nem porcos... E aí! Será que dá pra pensar?