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Brocas O processo de furação é um dos processos de usinagem mais utilizados na indústria manufatureira. A grande parte das peças de qualquer tipo de indústria tem pelo menos um furo, e somente uma parte muito pequena dessas peças já vem com o furo pronto do processo de obtenção da peça bruta (fundição, forjamento, etc.). (Ferraresi, 2003). Em geral, as peças necessitam ser furadas em cheio ou terem seus furos aumentados (pré-furo), como todo processo de usinagem a furação conta com a presença de um elemento destinado a remoção de na furação esta ferramenta é a broca, e como nos demais processos o material removido recebe o nome de cavaco. Apesar de ter uma importância muito grande no âmbito da indústria manufatureira o processo de furação conseqüentemente a ferramenta (broca) sofreu poucos avanços, ferramentas de outros processos como torneamento e fresamento progrediram rapidamente com a introdução de novos materiais, como o metal duro, cerâmico, nitreto de boro cúbico e diamante. Na furação no entanto a ferramenta mais utilizada é a broca helicoidal de aço rápido (Diniz, 2010). Esse aparente "atraso" deve-se a muitos fatores, o principal é o diâmetro dos furos , por exemplo uma broca de 10mm de diametro (que é um diametro bem comum na indústria), para ser utilizada de modo adequado com velocidades compatíveis com o metal duro teríamos que ter uma V c em torno de 200m/min, o que nos dá uma rotação de aproximadamente 6400rpm, esta que é muito grande para boa parte das máquinas ferramentas de uso comum na indústria, o escoamento do cavaco também é um percalço para o processo, pois o contato do mesmo com a ferramenta depois de desagregado da peça causa geração de calor e compromete a qualidade do furo. Com a crescente preocupação ambiental sobre o

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Brocas

O processo de furação é um dos processos de usinagem mais utilizados na indústria

manufatureira. A grande parte das peças de qualquer tipo de indústria tem pelo menos um furo,

e somente uma parte muito pequena dessas peças já vem com o furo pronto do processo de

obtenção da peça bruta (fundição, forjamento, etc.). (Ferraresi, 2003). Em geral, as peças

necessitam ser furadas em cheio ou terem seus furos aumentados (pré-furo), como todo

processo de usinagem a furação conta com a presença de um elemento destinado a remoção de

na furação esta ferramenta é a broca, e como nos demais processos o material removido recebe

o nome de cavaco.

Apesar de ter uma importância muito grande no âmbito da indústria manufatureira o

processo de furação conseqüentemente a ferramenta (broca) sofreu poucos avanços, ferramentas

de outros processos como torneamento e fresamento progrediram rapidamente com a introdução

de novos materiais, como o metal duro, cerâmico, nitreto de boro cúbico e diamante. Na furação

no entanto a ferramenta mais utilizada é a broca helicoidal de aço rápido (Diniz, 2010).

Esse aparente "atraso" deve-se a muitos fatores, o principal é o diâmetro dos furos , por

exemplo uma broca de 10mm de diametro (que é um diametro bem comum na indústria), para

ser utilizada de modo adequado com velocidades compatíveis com o metal duro teríamos que

ter uma Vc em torno de 200m/min, o que nos dá uma rotação de aproximadamente 6400rpm,

esta que é muito grande para boa parte das máquinas ferramentas de uso comum na indústria, o

escoamento do cavaco também é um percalço para o processo, pois o contato do mesmo com a

ferramenta depois de desagregado da peça causa geração de calor e compromete a qualidade do

furo. Com a crescente preocupação ambiental sobre o descarte do fluidos de corte aumenta

ainda mais a exigência de que ferramentas de corte no presente caso brocas tenham auto

rendimento, Braga 2002 usando brocas de metal duro classe k10 concluiu que uma liga de

Alumínio-Silício hipoeutéca (7,11% Silício) submetida ao processo de furação no sistema de

Mínima Quantidade de fluido (MQF) apresenta boas condições tanto em relação aos esforços

quanto a qualidade dos furos.

Com a crescente preocupação de redução de custos e tempo de produção, o

desenvolvimento da usinagem, máquinas-ferramenta e das ferramentas de corte é inevitável,

com isso novas tecnologias surgiram e surgirão para que o processo obtenha o maior

rendimento possível, a seguir são apresentados os tipos de brocas disponíveis e mais comuns na

usinagem na indústria.

Broca com pastilhas intercambiáveis: brocas deste tipo possuem cavidades em que

colocam-se incertos de materiais mais tenazes, e geralmente possuem uma estrutura de metal

duro ,brocas deste tipo são inviáveis quando o diâmetro é pequeno, devido a dificuldade de

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fixação dos insertos. Porém para diâmetros médios, essa é uma boa opção desde que a máquina

propicie potência necessária.

Figura 1: Broca de Metal Duro com pastilhas intercambiáveis (Sandvik).

Figura 2: pastilhas utilizadas nas brocas de metal duro com pastilhas intercambiáveis (Sandvik).

Brocas canhão com remoção de externa de cavaco: são brocas destinadas a furos com

diâmetros de 3 a 20 mm. Normalmente são dotadas de pastilhas de metal duro em sua parte

cortante. Conseguem realizar furos muito compridos (L/D até 125) com qualidade IT9.

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Figura 3: Broca Canhão

Brocas canhão com remoção interna de cavaco ou brocas BTA: são brocas para furação

profunda com faixa entre 18 e 64 mm de diâmetro e aproximadamente 1 m de comprimento, e a

profundidade e determinada pelo equipamento e ferramental disponível, a qualidade que

consegue-se atingir com essas brocas é de IT10.

Brocas Ejector (patente Sandvik): a extremidade (cabeça) desta broca é idêntica a da broca

BTA, mas difere desta pelo sistema de retirada do cavaco. O sistema de condução do fluido de

corte sob pressão até a região de core é constituído de dois tubos concêntricos. O fluido de corte

que vai para esta região de corte usa o tubo mais externo. Nesta broca o tubo interno possui

alguns furos em sua parede que permitem que parte do óleo que está a caminho da cabeça da

broca pelo tubo externo, retorne pelo interno gerando uma pressão negativa nesse tubo que

ajuda na retirada de cavaco, a qualidade dos furos obtidos por essa broca são idênticas a da

broca BTA.

Figura 4: Alguns modelos de Brocas ejector (Sandvik)

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Brocas ocas de trepanação: quando o furo é muito grande acima de 120mm de diâmetro, e

não se tem um pré-furo realizado em operação anterior, a furação com broca helicoidal causaria

grande desperdício de material na forma de cavaco e agravaria bastante o processo devido a

perdas de energia como conseqüência da enorme área de contato cavaco/ferramenta e pela

grande potência que seria exigida da máquina-ferramenta e sem falar no aumento do tempo de

usinagem e sem dúvida no custo mais elevado do processo. Para esse caso tem como opção as

brocas ocas para trepanação, que somente usinam a periferia do furo, mantendo intacto o

material da parte central; mas este tipo de broca só pode ser usado em furos passantes.

Estes tipos de brocas até aqui citados não são brocas tão facilmente encontradas em

operações como a que a seguir será discutida, elas necessitam de máquinas especiais que

tenham potência elevada e de condições também muito especiais como: refrigeração, aplicação

de fluido cursos de avanços longos e altas pressões na bomba de fluido.

Broca Helicoidal

A broca helicoidal merece destaque porque mesmo com as evoluções que a usinagem vem

sofrendo a mesma continua sendo a ferramenta mais utilizada no processo de furação, isso não é

ao acaso a geometria bem definida da ferramenta faz com que ela acompanhe a evolução do

processo, mesmo que a geometria continue aproximadamente a mesma, a evolução e descoberta

de novos materiais vem aumentando o rendimento da mesma.

O processo de furação como já acima citado é muito severo e apresenta gargalos, mesmo

com os mesmo boa parte das operações de furação são realizadas com a broca helicoidal de aço

rápido sem revestimento. Isso torna o processo muito lento.

Machado 2009 afirma que o primeiro grande impulso na área dos materiais para

ferramentas de corte aconteceu com a descoberta do aço rápido quando Taylor e White

desenvolveram o primeira composição deste material, o segundo com metal duro; com a

descoberta deste último as velocidades de corte puderam ser elevadas em praticamente dez

vezes (250-300 m/min.) quando na Alemanha Schroter desenvolveu em laboratório WC em pó.

Não obstante o revestimento é muito importante e as vezes imprescindível sua presença,

pois os revestimentos implicam em maior vida da ferramenta, permitem a aplicação de maiores

velocidades. Viana 2005 comprovou que brocas revestidas com os seguintes revestimentos

TiN/TiCN, TiN/TiAlN/WCC, TiAlN e TiN/TiAlN apresentaram melhor rendimento se tratando

da vida das ferramentas do que as sem revestimento, na usinagem de uma liga Alumínio-Silício

ISO 3522 Al-Si8Cu3Fe de uso automobilístico. um empecilho na técnica de revestimento de

ferramentas de corte são as altas temperaturas de deposição dos materiais.

Uma das desvantagens da furação com brocas helicoidais é a sua imprecisão a tolerância

geométrica deste processo é sofrível e a dimensional normalmente é da ordem de IT11, e o

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comprimento do furo é limitado não podendo superar a relação L/D=3 correndo o risco de

excentricidade, portanto quando é necessário a confecção de furos com elevada exatidão

normalmente se aplica operações posteriores como o alargamento, brochamento, torneamento

interno, mandrilamento, retificação interna; para furos com diâmetro até 20 mm o mais

adequado é o alargamento.

Em se tratando de terminologia e definições a norma que rege as brocas helicoidais é a

NBR ISO 5419 de 2009, que tem por título: brocas helicoidais- termos definições e tipos, esta

que é uma atualização da antiga e hoje extinta norma ABNT NBR6176.

A seguir as figuras mostram a geometria e terminologia das partes de uma broca helicoidal a primeira segunda a norma regulamentadora, a segunda de um fabricante de ferramentas de corte.

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Figura 5: Partes de uma broca helicoidal (ABNT NBR ISO 5419)

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Figura 6: Nomenclatura Broca Helicoidal (DORMER, 2005)

Das diversas parte de uma broca helicoidal algumas merecem destaque pela sua importância e influência que exercem no processo de furação e segundo Diniz et. al 2010 tem as seguintes funções.

Haste : destina-se a fixação da broca na máquina-ferramenta . Em brocas de diâmetro pequeno (até 15 mm), em geral usa-se brocas de haste cilíndrica e a fixação a máquina se dá por meio de mandrins. Nos diâmetros maiores, prefere-se prender a broca a um cone morse, que por sua vez é preso a máquina, o que possibilita maior força de fixação.

Diâmetro (D): é medido entre as duas guias da broca. Normalmente tem tolerância dimensional h8.

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Núcleo: parte interior da broca de diâmetro igual a 0,6D. Serve para conferir rigidez a broca.

Guias: a superfície externa de uma broca helicoidal apresenta duas regiões (uma em cada aresta de corte) que têm diâmetro maior que o diâmetro das paredes da broca. Tais regiões são denominadas guias, as mesma tem duas funções básicas, a primeira como o próprio nome diz é guiar a broca dentro do furo; a segunda é a de evitar que toda parede externa da broca atrite com a parede interna do furo, diminuindo assim os esforços na furação.

Canais helicoidais: são as superfícies de saída da ferramenta. O ângulo de hélice de brocas que na periferia coicidem com o ângulo de saída, pode ser 28° para aplicações gerais, 15° para brocas destinadas a usinagem de materiais com cavacos curtos e 40° para brocas destinadas a usinagem de materiais com cavacos longos e/ou materiais "moles". O comprimento do canal helicoidal também pode variar dependendo do diâmetro da broca e do comprimento do furo que deseja usinar.

Arestas de corte: numa broca helicoidal as duas arestas principais de corte não se encontram em um ponto, mas existe uma terceira aresta ligando-as, chamda de aresta transversal de corte esta por sua vez tem a finalidade de extrudar, ou seja, "empurrar" o material do cento já que nessa região não há corte pois a velocidade é zero. O ângulo formado entre as duas arestas principais, chamado de ângulo de ponta.

A denominação destes termos está associada a uma escolha correta de um sistema de referência, e esta escolha ditada pela antiga norma NBR 6163, sustituída pela em vigor ABNT NBR ISO 3002-1: 2013, que tem por título: Grandezas básicas em usinagem e retificação e este termos estão na Parte 1: Geometria da parte cortante das ferramentas de corte — Termos gerais, sistemas de referência, ângulos da ferramenta e de trabalho e quebra-cavacos.

É importante dar atenção especial para a classificação das brocas quanto ao ângulo de ponta, pois é um relevante quesito na seleção da melhor broca a ser utilizada no processo de furação, os mesmos variam de 118 a 140° para Stemmer, 1995 ângulos menores que 118º, as arestas tornam-se convexas, produzindo vibrações na usinagem.

Broca tipo W: são indicadas para materiais macios e/ou que produzem cavacos macios, a seguir a tabela mostra o ângulo característico além de materiais indicados para serem usinados com este tipo de broca.

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Tabela 1: Broca tipo W características.

Broca tipo N: São brocas de aplicações gerais, aços de baixo e médio teor de carbono, materiais que tenham baixa tenacidade e dureza, que produzem cavaco contínuos.

Tabela 2: Broca tipo N características.

Broca tipo H: São brocas em que se deseja usinar materiais de altas dureza e tenacidade, estes que produzem cavacos curtos e descontínuos,

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Tabela 3: Broca tipo H características.

Segundo o fabricante Dormer 2005, o primeiro passo para se obter furos de elevada exatidão é a seleção adequada da ferramenta de corte correta à aplicação, no caso a broca, alguns fabricantes mostram perfeitamente as características das brocas em seus catálogos, e um dado importante presente é a classificação da broca segundo o ângulo de ponta.

Figura 4: Dados de Brocas helicoidais contendo informações segundo o angulo de ponta (Guhring).

Referencias

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BRAGA, D. UCHÔAS, DINIZ, A. E.,MIRANDA, G, W, A., COPPINI, N. L., Aspectos negativos do uso de fluido emulsionável na furação de uma liga de alumínio-silício hipoeutética, Conem, 2002.

DINIZ, A. E., MARCONDES, F, C., COPPINI, N, L., Tecnologia da usinagem dos materiais,

7° edição, São Paulo, Artliber editora, 2010.

DORMER, 2005, Manual Técnico.

FERRARESI, D., Fundamentos da usinagem dos metais. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda., 2003.Gühring Brasil, the toll company, ediçao português 2012.

MACHADO, Á. , R.;  COELHO, T. R. ; Abrão, M. , A. ; DA SILVA, B. , M. ; Teoria da Usinagem dos Materiais, 1 Edição, São Paulo, Editora Blucher, 2009.

NBR ISO 3002-1: 2013 - Grandezas básicas em usinagem e retificação; Parte 1: Geometria da parte cortante das ferramentas de corte — Termos gerais, sistemas de referência, ângulos da ferramenta e de trabalho e quebra-cavacos.

NBR ISO 5419, 2009 - Brocas helicoidais - Termos, definições e tipos.

SANDVIK COROMANT, Furação profunda, produtos para usinagem.

STEMMER, C.E., 1995, Ferramentas de Corte II: brocas, alargadores, ferramentas de roscar,fresas, brochas, rebolos, abrasivos, 2ª. edição, Editora da UFSC, Florianópolis-SC, pp. 33-43.

VIANA. RHANDER; MACHADO, A. ROCHA, Furação de uma Liga Al-Si com brocas de aço rápido revestidas, 15° POSMEC, 2005.